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Sociologia Rural E Urbana - Livro-Texto Unidade III

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SOCIOLOGIA RURAL E URBANA
Unidade III
5 POPULAÇÃO E PRODUÇÃO DO CAMPO E DA CIDADE: NOVAS FIGURAS 
TRABALHISTAS E LOCALIZAÇÕES DE ATIVIDADES – GRUPOS ECONÔMICOS.
A Cerca
Fazendo cerca na Fazenda do Rosário
Resto de toco velho mandado pelo vigário
Meu camarada, eu moro aqui do lado
O terreno que tu cerca já tá cercado
Não entendi a assertiva do compadre
Se é lei chama o doutor
Se é milagre chama o padre
É muito simples, tu veja ali na frente
Tá vendo o laranjal, minha cerca passa rente
Que dia quente, tem feito muito calor
Daqui a pouco meu vizinho vê um disco voador
Se visse até pedia para descer
Quem sabe se um marciano
Consegue te esclarecer
Ô meu compadre, cê tá vendo assombração
Cê num é advogado, cê num é tabelião
Nem por isso eu deixei de fazer o justo
Se o sujeito enxerga torto
O direito dá um susto
Tu cerca a terra, tu cerca até o mundo
Então cerca a tua filha, toda noite aqui no fundo
Pois te conto um segredo
Cê não conta pra ninguém
Andam vendo tua mulher
com o dono do armazém
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Unidade III
Maledicência, eu já tô acostumado
Até dizem que o senhor é incapacitado
Eu tomo chuva, tomo ar puro de manhã
Minha saúde é de ferro, pergunte para sua irmã
Nunca se está a salvo da falação alheia
Eis que um tipo parvo vem falar na minha oreia
Martelo prego, torniqueto com serrote
Acerca do homem cego, quem tem vista dá o mote
Terequitem, ô pra cá você não vem
Terequitem, que eu conserto a ti também
(Te prego um prego também) 
Fonte: Rosa, Furtado e Amaral, (1994).
Da estrutura social estática, passamos à sociedade em movimento. A vida torna‑se possível com 
o exercício do prazer, da amizade, fraternidade, e com o trabalho (nosso destaque) das pessoas nos 
lugares, nos campos e nas cidades, representado ou regulado pelas figuras jurídicas. Contudo, nesse 
nível da regulação, o trabalho adquire valor e dimensões abstratas, legais e econômicas.
Olhemos com atenção a música do grupo Skank, em epígrafe, em que há duas visões de mundo. 
Duas visões conflitantes e tratando do acesso e demarcação da terra de modos diferentes.
Agora, também como grupos econômicos, Estado e demais agentes sociais, jogam conforme regras 
chanceladas pelo poder público, embora o caráter público de um Estado não seja natural, mas conquistado, 
construído pelo trabalho coletivo, de um lado, e o ser social privado, corporativo, de outro; que formam a 
própria configuração econômica do Estado‑territorial/nacional. Resumindo a ideia: a quem esse aparato 
público atende, de fato, com suas portarias, leis, sentenças e decretos, considerados os três poderes?
Williams fala das transformações sofridas pela vida rural, com impossibilidade, porém, de identificar 
evolução linear, do tipo “o que passou, passou”; pois ela reaparece de várias maneiras, mantêm‑se e 
pode até parecer que deixou de existir; porém, estará sempre lá. Segue citação do autor:
Mas a mudança é tão ampla e complexa, mesmo sem levarmos em conta 
as importantes variações regionais, que parece não haver um ponto onde 
possamos situar com firmeza a transição entre épocas nitidamente diferentes.
Os relatos historiográficos mais detalhados indicam que em toda a parte muitas 
formas, práticas e sensibilidades antigas sobreviveram em períodos nos quais o 
sentido geral das novas tendências já era claro e decisivo. E então o que parece 
ser uma velha ordem, uma sociedade tradicional, começa a aparecer, a ressurgir, 
numa profusão desconcertante de datas diversas: na prática como uma ideia, 
até certo ponto baseada na experiência, que pode ser tomada como padrão 
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para a avaliação das mudanças contemporâneas. A estrutura de sentimentos 
dentro da qual esta referência ao passado deve ser entendida, portanto, não é 
basicamente uma questão de explicação e análise histórica. O que é realmente 
importante é este tipo específico de reação à mudança, e isso tem causas sociais 
mais concretas e mais interessantes (WILLIAMS, 1989, p. 56).
O que o autor encontra no material de sua pesquisa é uma idealização dos valores feudais e 
imediatamente pós‑feudais, de uma ordem de relações sociais estáveis e recíprocas, com características 
assumidamente totalizantes. Reflete sobre os impactos da nova ordem da agricultura capitalista, imposta 
com sucesso às antigas estruturas.
As transformações de que nos fala Raymond Williams (1989) e também Margarida Maria Moura 
(1988, 1986, 1978), envolvem dois mundos antagônicos que passam a se chocar e interpenetrar‑se, 
até que um pareçam sucumbir soterrados pelas novas formas sociais, em geral (costumes e atividades 
produtivas), e jurídicas e econômicas, em particular (títulos de propriedade, equivalências monetárias 
em lugar de compromisso e favores).
São imensos contingentes de pessoas que devem ceder suas moradias (e boa parte de pertences) de 
agregados às terras e famílias de senhores de terras para empregarem‑se sob as novas leis trabalhistas e 
procurar lugares onde morar em novas condições (MOURA, 1988). E como diz Williams:
A ênfase dada à obrigação, à caridade, à porta aberta aos pobres da vizinhança 
é contrastada, numa forma bem conhecida de radicalismo retrospectivo, 
com a investida capitalista, a redução utilitarista de todas as relações sociais 
a uma ordem impiedosa baseada no dinheiro (WILLIAMS, 1989, p. 56).
Williams (1989) adverte para os perigos de dirigirmos as críticas ao sistema presente para relações 
que não existem mais, adotando parâmetros, portanto, falsos. Afirma o autor que privilegiar relações que 
não mais existem, virtudes de um mundo rural que não mais existe do modo idealizado por “movimentos 
intelectuais do século XX” que transferem os valores e padrões do campo de outras épocas tornando‑se 
“valores de uma posição explicitamente reacionária: em defesa dos padrões tradicionais de propriedade, 
ou no ataque à democracia em nome do sangue e da terra” (WILLIAMS, 1989, p. 57‑8).
Trata, também, de um projeto cujo ideal proposto é a associação de
um poder local paternal com uma legislação nacional que vise proteger certas 
formas de propriedade e trabalho surgidas recentemente – parece fundamentar‑se 
com pesos quase iguais, na rejeição da arbitrariedade do feudalismo, numa 
rejeição categórica da nova arbitrariedade do dinheiro e na tentativa de estabilizar 
urna ordem transitória, na qual os pequenos proprietários devem ser protegidos 
dos cercamentos, mas também da ociosidade de seus trabalhadores. Assim, uma 
ordem moral é abstraída do legado feudal e da dissolução do feudalismo, buscando 
impor‑se do modo ideal com condições inerentemente instáveis. A santidade da 
propriedade tem de coexistir com violentas mudanças de relações de propriedade, 
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e um ideal de caridade deve conviver com relações de trabalho rigorosas tanto no 
velho sistema quanto no novo (WILLIAMS, 1989, p. 68).
E como esse trabalho abstrato promove certo desenvolvimento exógeno, voltado para fora das 
regiões que recebem investimentos e mudanças, para fora, vai o grosso dos benefícios e a riqueza; 
dentro, ficam os problemas.
O peso das normas começa por aí e passam pelas mudanças ambientais não negociadas pelas 
comunidades, impostas àqueles que têm suas atividades nativas, autóctones, originais da ocupação do 
lugar, também chamadas vernáculas. Na cidade, os procedimentos são parecidos, pois tudo se passacomo movimento inexorável da história, modernização contra a qual não se pode opor.
O ambiente é moldado para atender aos interesses externos, então, faremos as seguintes análises 
teórico‑metodológicas sobre a avaliação de impacto socioambiental ligada à ocupação e apropriação 
social dos recursos naturais.
Estamos tratando dos problemas ambientais desde o início do texto, porém, neste momento, eles 
devem ficar mais evidentes. Poluição, envenenamento, toxidade, são eventos com possibilidades de 
diagnósticos sistêmicos, a partir de uma ótica de gerenciamento ambiental de recursos tomados como 
elementos dos sistemas e cadeias produtivas convencionais. Entretanto, o tema da disciplina requer que 
sejamos radicais já nas concepções do problema em suas causas. Sendo, então, mais incisivos, somos 
levados às visões alternativas de organização do espaço rural, com revisões alternativas e participativas 
nos modelos de gestão e de planejamento ambiental.
A construção do conhecimento agroecológico, como diz Ehlers (1998), ocorre com base em utopias, 
no melhor sentido da palavra.
Todos os debates sobre os transgênicos dividem os contendores em basicamente dois lados: aqueles que se 
alinham a favor de uma saída tecnológica para especialização e fortalecimento de espécies contra tudo aquilo 
que veem como obstáculos ao desenvolvimento, além dos problemas de produtividade (estão pensando em 
escala); e, de outro, aqueles que temem efeitos indesejáveis ou impactos do uso à saúde, não previstos pelas 
pesquisas com tempo ainda insuficiente para avaliação da eficiência ambiental (não econômica).
 Saiba mais
Sobre essa questão da tecnologia, muito interessantes são as declarações 
de Carlo Petrini. Leia o artigo na íntegra em:
PETRINI, C. O direito ao alimento. Tradução Moisés Sbardelotto. Revista 
IHU‑Online, Rio Grande do Sul, 12 dez. 2013. Disponível em: <http://www.ihu.
unisinos.br/noticias/526576‑o‑direito‑ao‑alimento‑artigo‑de‑carlo‑petrini>. 
Acesso em: 19 maio 2015.
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É necessário nos perguntarmos sobre os caminhos que tomamos para podermos discutir outros, e o 
que nos interessa produzir e consumir.
É preciso, assim, ir além de modos e exotismos. Crosby (1993) expõe de modo interessante a irradiação 
dos padrões alimentares de boa parte do mundo a partir da Europa, o que explicaria também os circuitos 
produtivos de alimentos, insumos, cardápios inteiros baseados em regiões que milhões de pessoas 
nunca viram, forçando ecossistemas de modo artificial a produzirem espécies exóticas. O agravante 
desse processo de séculos é a visão que se adquiriu de “solos pobres”, quando na verdade os solos não 
deveriam ter eficiência com cultivares estrangeiros; é o caso dos solos de nossas florestas tropicais, 
que não são adequados ao plantio de espécies do gosto do colonizador europeu. Esse processo moldou 
a estrutura fundiária e as bases agropecuárias dos povos subjugados pelas armadas e pelo comércio 
português, espanhol e britânico.
Uma lista sem fim de situações mostrando a negação da complexidade alimentar poderia ser citada, 
como lanchonetes, restaurantes, supermercados vendendo reduções simplificadas de pratos anteriormente 
comuns, habitualmente mais complexos e preparados em casa; trata‑se do reino do funcional, do prazer 
fácil, quase sempre solitário, do comer apressado. Não há lugar para pratos complexos, pois a experiência 
tanto para o preparo quanto para comê‑los não estará disponível. Claro que estamos num terreno perigoso 
para se achar o verdadeiro hábito em meio às imposições de povos conquistadores e as consequentes 
transformações de estruturas milenares. Os “problemas com a revolução verde” na forma de envenenamento 
dos rios e dos solos também são descritos por Standage (2010).
Comemos o que nos dizem as grandes empresas agroalimentares, influenciados por modismos e 
propaganda. No Brasil, a legislação ambiental básica é da década de 1980.
É somente em 2000 que se chega à lei que instaura o Sistema Nacional de Unidades de Conservação 
(SNUC), que define as áreas de preservação em unidades de proteção integrais e com permissões graduais 
e funcionais de usos. É um instrumento de política ambiental que pode ser muito útil, mas também 
apenas mais uma lei.
 Lembrete
Outro exemplo é a já citada entrevista sobre movimento internacional, 
com vistas à qualificação da saúde, que combate a modificação genética 
dos organismo.
No coro das acusações às inovações tecnológicas abstratas (desvinculadas das regiões e populações 
reais), segue o trecho de Lima (2004):
Diante desse diagnóstico (de que a crise fora gerada, em grande medida, 
em decorrência do próprio padrão científico‑tecnológico, o que, segundo 
alguns pensadores, exigiria uma nova configuração do conhecimento 
socialmente produzido sobre o mundo – social e natural), a atual relação 
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entre sociedade e natureza parece ter por base uma nova escassez. Não 
mais uma relação fundadora do que é irredutivelmente humano como a 
categoria trabalho em Marx (1975). Pelo contrário, a principal clivagem que 
a sociedade contemporânea parece ter construído, na sua relação com o 
seu substrato natural, é uma “escassez limitante” do texto humano. Não é 
mais a natureza do ambiente local (a intempérie, os fenômenos naturais, 
a sazonalidade, os desastres naturais) que está a desafiar a capacidade e 
criatividade cultural de um grupo humano em particular. Hoje são os limites 
de regeneração da Terra como um todo, que parecem se impor ao texto 
colocado em marcha pela moderna sociedade industrial: suas relações de 
produção, seus padrões de consumo; seu padrão tecnológico; sua densidade 
demográfica; sua hierarquização e desqualificação de saberes e culturas 
(LIMA, 2004, p. 5).
Na lista de problemas, devemos assinalar que a desigualdade social em todos os níveis está na base 
de todos eles, perpetuando‑os. Assim, a questão da propriedade deve ser discutida quando se considera 
o desenvolvimento sustentável e as formas de produção sustentáveis.
Ladislau Dowbor (2010a) faz algumas considerações sobre a questão da propriedade que o modelo 
convencional enrijeceu e não parece ceder facilmente aos apelos da razão. Não é abrir mão da propriedade, 
mas repensá‑la de acordo com os princípios da sustentabilidade real. Segue trecho de artigo do autor.
Para dar um exemplo trazido pelos autores (Gar Alperovitz e Lew Daly, do 
livro ”Apropriação indébita: como os ricos estão tomando a nossa herança 
comum”, Editora SENAC), quando a Monsanto adquire controle exclusivo 
sobre determinada semente, como se a inovação tecnológica fosse um aporte 
apenas dela, esquece o processo que sustentou estes avanços? “O que eles 
nunca levam em consideração, é o imenso investimento coletivo que carregou 
a ciência genética dos seus primeiros passos até o momento em que a empresa 
toma a sua decisão. Todo o conhecimento biológico, estatístico e de outras 
áreas sem o qual nenhuma das sementes altamente produtivas e resistentes 
a doenças poderia ter sido desenvolvida – todas as publicações, pesquisas, 
educação, treinamento e ferramentas técnicas relacionadas sem os quais 
a aprendizagem e o conhecimento não poderiam ter sido comunicados e 
fomentados em cada estágio particular de desenvolvimento, e então passados 
adiante e incorporados, também, por uma força de trabalho de técnicos e 
cientistas – tudo isto chega à empresa sem custo, um presente do passado. 
Ao apropriar‑se do direito sobre o produto final, e ao travar desenvolvimentos 
paralelos, a empresa canaliza para si gigantescos lucros da totalidade do 
esforço social, que ela nãoteve de financiar. Trata‑se de um pedágio sobre o 
esforço dos outros”.
Se não é legítimo, pelo menos funciona? A compreensão do caráter particular 
do conhecimento como fator de produção já é antiga (DOWBOR, 2010a, p. 55).
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Uma joia a respeito da propriedade, comenta Dowbor, é um texto de 1813, de Thomas Jefferson, cujo 
mote está nesta citação:
Se há uma coisa que a natureza fez que é menos suscetível que todas as 
outras de propriedade exclusiva, esta coisa é a ação do poder de pensamento 
que chamamos de ideia. Que as ideias devam se expandir livremente de 
uma pessoa para outra, por todo o globo, para a instrução moral e mútua 
do homem, e o avanço de sua condição, parece ter sido particularmente e 
benevolente desenhada pela natureza, quando ela as tornou, como o fogo, 
passíveis de expansão por todo o espaço, sem reduzir a sua densidade em 
nenhum ponto, e como o ar no qual respiramos, nos movemos e existimos 
fisicamente, incapazes de confinamento, ou de apropriação exclusiva. 
Invenções não podem, por natureza, ser objeto de propriedade (JEFFERSON 
apud DOWBOR, 2010a, p. 55).
 Saiba mais
Ladislau Dowbor é uma importante referência sobre o assunto da 
propriedade:
DOWBOR, L. Economia global e gestão: da propriedade intelectual à 
economia do conhecimento (Primeira Parte). Lisboa, v. 15, n. 1, 2010. 
Disponível em: <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?pid=S0873‑7444201
0000100002&script=sci_arttext>. Acesso em: 31 jul. 2015.
DOWBOR, L. Economia global e gestão: da propriedade intelectual à 
economia do conhecimento (Segunda parte). Lisboa, v. 15, n. 2, set. 2010. 
Disponível em: <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S0873‑74442010000200002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 31 jul. 2015.
A ocupação é ligada à topografia (relevo, solos) e à hidrografia (cursos d’água) e as paisagens são 
basicamente caracterizadas pelo relevo, tanto original quanto aquele que já foi transformado. “Se é 
alto ou baixo”, “subida ou descida”, “se o rio é veloz ou lento”; eis os altos e baixos do terreno que todo 
mundo, se não vê, sente.
As sociedades estabelecem‑se nos lugares adaptando‑se, interferindo de muitas maneiras, 
solucionando problemas e satisfazendo necessidades; a isso se dá o nome de territorialização dos 
processos sociais. É gênese mais ou menos comum dos bairros e aldeamentos urbanos.
Tal reflexão torna‑se fundamental, dado que planejadores e projetistas, quase sempre tão afeitos 
a critérios essencialmente econômicos, costumam modelar geometricamente essa estrutura original, 
vendo linhas retas, quadrados e círculos (formas perfeitas) onde não existem, originalmente. É mais 
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difícil lidar (gerenciar) com a realidade diversa do que inventar uma outra, iludindo‑se com a aparente 
facilidade das matemáticas. O técnico, como o gestor, tem horror ao variado, nesse caso o não geométrico 
é tido como irregular, acidentado, numa desvalorização da natureza, daí o urbanismo a serviço da 
racionalização da natureza.
Nasce, assim, um mundo tecnicamente distanciado das tais formas originais (um meio técnico 
científico informacional, segundo Milton Santos (1996): uma colina vira uma ladeira; um vale vira uma 
avenida; um rio vira canal; o ar vira atmosfera; uma várzea vira área de risco quando alaga; uma 
árvore em frente a uma loja vira estorvo. Ah, também tem aquela de que folhas no chão são sujeira – 
verdadeiro, no caso da cimentação generalizada dos pisos da cidade.
É importante que se diga que a consideração sistêmica da natureza leva ao tratamento das coisas 
como unidades planetárias; assim é, resumidamente, com as estruturas geológicas (cadeias, placas 
tectônicas), com o sistema atmosférico (circulação de ar, ventos e correntes continentais) e com as 
correntes marinhas que, para serem compreendidas/entendidas, torna‑se necessário estudar os oceanos, 
além dos ecossistemas em sua biodiversidade não serem estritamente locais, posto que todos esses 
sistemas sejam abertos.
Temos, assim, o uso da ecologia subordinada aos interesses dos investidores, não do humano de 
modo geral. É o negócio com o ambiente, sem preocupação ambiental, que anima os modelos trazidos 
no tópico anterior, bem como as metodologias de diagnóstico ambiental e seus instrumentos (Avaliações 
de Impacto Ambiental, a reciclagem como negócio, a ideia de pegadas ecológicas). Os sistemas e cadeias 
produtivas uniformizadoras e concentradoras, convencionais, com sua economia e tecnologia “duras” 
derivam dessa concepção.
5.1 Metodologias de diagnóstico e prognóstico socioambiental
5.1.1 Avaliação de Impacto Ambiental – AIA
Instrumento de política ambiental, formada por um conjunto de 
procedimentos capaz de assegurar, desde o início do processo, que se faça 
um exame sistemático dos impactos ambientais de uma ação proposta 
(projeto, programa, plano ou política) e de suas alternativas, e que os 
resultados sejam apresentados de forma adequada ao público e aos 
responsáveis pela tomada de decisão, e por eles considerados. Além disso, 
os procedimentos devem garantir a adoção das medidas de proteção do 
meio ambiente determinadas, no caso de decisão sobre a implantação do 
projeto (BARBIERI, 2010, p. 98).
5.1.2 Metodologias de Diagnóstico Socioambiental
A avaliação de impacto ambiental é um dos instrumentos da Política 
Nacional de Meio Ambiente, cuja implementação, sem dúvida, implicará livre 
acesso às informações sobre o empreendimento, quanto ao envolvimento 
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e à participação da comunidade nas decisões governamentais. A AIA, de 
caráter preventivo, tem como objetivo principal subsidiar a decisão do órgão 
público como instrumento de gestão ambiental (SEIFFERT, 2007, p. 161).
5.1.3 Componentes e objetivos da AIA
Dentre os componentes da AIA, há de se destacar o EIA (Estudo de Impacto 
Ambiental), instrumento de decisão técnica, que no Brasil visa subsidiar o 
licenciamento ambiental. Está incluído no EIA que este deve discriminar 
todos os aspectos técnicos da atividade que se quer licenciar, é, portanto, 
onde este deve estar inserida a análise de risco. O segundo componente 
neste processo, que também tem o amparo legal e formal é o Rima (Relatório 
de Impacto Ambiental). Este tem objetivo claro e explícito; é o documento 
escrito ao qual a população tem acesso, para entender a razão da atividade 
a ser implantada. O teor do EIA e Rima deve ser substancialmente o mesmo, 
mas a linguagem pode ser diferente (BARBIERI, 2007, p. 281).
5.1.4 Estudo de Impacto Ambiental – EIA
É um dos elementos do processo de avaliação de impacto ambiental.
É o instrumento constitucional da política ambiental. É obrigatório para 
todas obras e atividades cuja instalação possa provocar significativo impacto 
ambiental. No país, o EIA não é exigido para planos programas e a própria 
ordenação do território. Apenas estão sendo elaborados individualmente 
de acordo com cada empreendimento. O EIA deve conter no mínimo 
o diagnóstico ambiental da área, a descrição da ação proposta e suas 
alternativas, a identificação, análise e previsão dos impactos significativos, 
positivos e negativos. O resultado do estudo constitui o Relatório de Impacto 
do Meio Ambiente, acessível ao público e custeado pelo proponente do 
projeto (BARBIERI, 2007, p. 281).
5.1.5 Roteiro básico para a elaboração do EIA
Para a elaboração do EIA, devem ser observados:
• Informações gerais.
• Caracterização do empreendimento.
• Área deinfluência.
• Diagnóstico ambiental da área de influência.
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• Qualidade ambiental.
• Fatores ambientais: meios físico, biológico, antrópico.
• Análise dos impactos ambientais (descrição e síntese).
• Proposição de medidas mitigadoras.
• Programa de monitoramento dos impactos ambientais.
5.1.6 Relatório de Impacto Ambiental – Rima
Relatório de Impacto Ambietal – Rima é o documento que apresenta resultados dos estudos técnicos 
e científicos de avaliação de impacto ambiental.
O Rima deve conter os objetivos e justificativas do projeto e sua relação e compatibilidade com as 
políticas setoriais; a descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais; a síntese dos 
resultados dos estudos de diagnóstico ambiental; a descrição dos prováveis impactos da implantação 
e operação da atividades; a caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência do 
projeto; a descrição dos efeitos esperados das medidas mitigadoras em relação aos impactos negativos; o 
programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos e a recomendações quanto à alternativa 
mais favorável (BARBIERI, 2007, p 297).
5.1.7 Diagnóstico ambiental e prognóstico
O diagnóstico ambiental é a descrição e análise dos recursos ambientais e suas interações, tal 
como existem, de modo a caracterizar a situação ambiental da área, antes da implantação do projeto 
(CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE, 1986).
Já o prognóstico é:
O conjunto de ações que servirão na análise dos impactos ambientais 
do projeto e suas alternativas, através da identificação da magnitude 
e interpretação da importância dos prováveis impactos relevantes, 
discriminando: os impactos positivos e negativos (benéficos e adversos), 
diretos e indiretos, imediatos e a médio e longos prazos, temporários e 
permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades cumulativas e 
sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios sociais (CONSELHO NACIONAL 
DO MEIO AMBIENTE, 1986).
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5.1.8 Impactos
Os tipos de impactos ambientais são os seguintes:
• Positivo – melhoria da qualidade de um fator ou parâmetro ambiental.
• Negativo – dano à qualidade de um fator ou parâmetro ambiental.
• Direto – relação simples de causa e efeito.
• Indireto – resultante de ação secundária em relação à ação ou quando parte de uma cadeia de reações.
• Local – no próprio sítio e imediações.
• Regional – impacto se faz sentir além do sítio da ação.
• Estratégico – componente ambiental tem relevante interesse coletivo ou nacional.
• Imediato – efeito no instante em que se dá a ação.
• Médio ou longo prazo – Impacto manifestando‑se certo tempo após a ação.
5.1.9 Metodologias de diagnóstico socioambiental
Os impactos são:
• desmatamento;
• danos à fauna;
• destruição de ecossistemas importantes;
• modificação na topografia;
• erosão do solo;
• impermeabilização do solo;
• alterações hidrológicas;
• lançamentos de resíduos sólidos, líquidos e gasosos na forma de energia;
• emissão de ruídos;
• mudanças globais: efeito estufa, destruição da camada de ozônio.
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5.1.10 Metodologia GUT
A metodologia GUT foi desenvolvida para orientar decisões mais complexas e que envolvam muitas 
questões, já que a mistura de problemas geralmente gera confusão e, neste caso, é necessário separar 
cada impacto observado que tenha sua causa própria.
Num primeiro momento, a palavra “urgência” pode ser confundida com “prioridade”, assim é preciso 
separar os problemas que tenham causa própria para depois aplicar três perguntas básicas da matriz 
para cada um deles. Para qualificar os impactos, atribuem‑se notas às perguntas que variam de 1 a 5. 
O resultado final é obtido multiplicando‑se as notas. Assim, o máximo de pontos ou a prioridade maior 
equivaleria a 125 pontos (tabela a seguir). Evidentemente, este método encerra certa subjetividade, mas 
pode ser aplicado em situações emergenciais.
Perguntas a serem elaboradas para a construção da matriz GUT:
• Qual é a gravidade do impacto?
• Qual é a urgência de se eliminar o problema?
• Qual é a tendência do impacto e seu potencial de crescimento?
Tabela 4 – Matriz GUT
Valor Gravidade Urgência Tendência G x T x U
5 Os prejuízos e as dificuldades são extremamente graves
É necessária uma ação 
imediata
Se nada for feito a situação 
irá piorar rapidamente 125
4 Muito graves Com alguma urgência Vai piorar em pouco tempo 64
3 Graves O mais cedo possível Vai piorar a médio prazo 27
2 Pouco graves Pode esperar um pouco Vai piorar a longo prazo 8
1 Sem gravidade Não tem pressa Não vai piorar e pode até melhorar 1
Fonte: Bastos (2014).
5.1.11 Metodologia GEO Cidades
Indicadores: mensuram a informação, de maneira que seu significado torna‑se mais imediatamente 
aparente, e simplificam a informação sobre fenômenos complexos, de maneira a facilitar a comunicação.
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Pressão
Atividades 
humanas, 
comércio, 
turismo...
Impacto
O efeito disso 
sobre o meio 
ambiente e a 
vida humana
Resposta
Respostas 
individuais e/
ou coletivas
Estado
Estado ou 
condições do 
meio ambiente
Figura 10 – Matriz PEIR de análise do fenômeno ambiental
Critérios para a seleção de indicadores:
• consistência política – utilidade para o usuário;
• consistência analítica;
• mensurabilidade;
• fácil compreensão;
• confiabilidade;
• disponibilidade;
• transversalidade/universalidade.
5.1.12 Modelo de trabalho de levantamento de dados para diagnóstico e prognóstico 
socioambiental de áreas urbanas e rurais – Junção das Ciências Sociais e Ambientais
O Instrumento didático de diagnóstico e prognóstico ambientais tem como escopo captar o estado 
de degradação socioespacial dos lugares, o que requer caracterização dos usos territoriais (história 
do envolvimento do ser humano com o ambiente) e do sentido socioespacial da ocupação humana, 
considerando suas consequências nas áreas estudadas.
Os aspectos físicos e biológicos do território, como relevo, cursos d’água, fauna e vegetação, em linhas 
gerais, são os recursos às atividades; já os aspectos culturais do território são a história da conformação 
das paisagens.
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Os objetivos na descrição da área de estudo são as escalas metropolitana e intraurbana (cartografia 
de base e temática).
Deve‑se observar, sentir e perceber os lugares visitados como conjuntos, e suas formas e funções 
dinâmicas como ambientes naturais culturalmente transformados pelas atividades sociais.
Alguns dos aspectos geográficos são: topografia (formas de relevo e associações), hidrografia 
(formações d’água), pedologia (solos), além da vegetação, e fauna eventual, entre outros, 
bem como as interações entre o meio e os grupos sociais, baseados no conceito de território 
(organização do espaço).
É necessário enfatizar a conexão, a interação entre os todos os elementos, vistos ou apenas 
inferidos em sua história como paisagens (seres vivos, objetos técnicos, obras de saneamento básico e 
ambiental, por exemplo; qualquer coisa que pareça merecer atenção!). Políticas, leis e decretos estão 
presentes nas paisagens observadas; portanto, deve‑se procurarsinais, indícios de sua presença na 
organização da ocupação.
É preciso exercitar, então, a decomposição e a recomposição das paisagens em unidades com certas 
identidades com vistas à análise e intervenção, cartografando‑as, de modo a espacializar, classificar e 
enumerar os elementos vistos.
Descrição das relações entre processos sociais de ocupação do ambiente, organização do território e 
paisagens – temas de pesquisa dos grupos.
5.1.13 Abordagem estrutural com registro cartográfico
Quanto à abordagem estrutural, apresentamos a seguinte classificação:
• Aspectos físicos:
— Relevo, córregos, rios e canais (geomorfologia, topografia e relevo) e (hidrografia, cursos d’água 
em geral). Aqui, deve‑se definir, representar e descrever as características físicas básicas das 
áreas, de modo a relacionar os planos de análise e percepção e os territórios no momento atual 
(GEO Cidades: Pressão – momento da Matriz PEIR).
— O ar na cidade (climatologia, condições atmosféricas em geral, matéria particulada e 
“audiometria regional”, além das características visuais, sonoras, palatais e olfativas). Deve‑se 
definir, representar e descrever as características básicas da área, de modo a relacioná‑las ao 
território no momento atual (GEO Cidades Pressão – momento da Matriz PEIR)
• Aspectos biológicos:
— “Organismos na cidade” (distribuição da vegetação, da fauna eventual, vida micro e 
macroscópicas). Aqui, deve‑se descrever e representar a vida do ponto de vista da biologia 
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básica da área, de modo a relacioná‑las ao território. Estão incluídas as áreas de uso coletivo, 
como ruas, parques, praças, largos etc. (GEO Cidades Pressão – momento da Matriz PEIR).
• Aspectos culturais:
— Descrição geral da paisagem: a relação da sociedade com o ambiente, com ênfase na história 
da ocupação da área (história da ocupação da região e problemas socioambientais provindos 
dessa relação). Problemas da ocupação da região, na forma e no conteúdo, como distribuição 
de resíduos sólidos, habitação, circulação de pessoas e coisas, sem‑teto etc. (GEO Cidades: 
Pressão e estado – momento da Matriz PEIR).
— Impactos de grandes empreendimentos. Aqui, deve‑se definir, representar e descrever a 
noção de impactos ambientais, sua incidência na região, além da visão dos afetados direta ou 
indiretamente por eles. (GEO Cidades: estado e impactos – momento da Matriz PEIR).
— Projetos e programas públicos (e privados) para a área, com vistas à consecução de urbanização 
sustentável. Aqui, deve‑se definir, representar e descrever alguns dados sobre programas 
disciplinadores do uso do espaço, sobre a espacialização da legislação e diretrizes gerais e 
atividades permitidas, zoneamento e equipamento (GEO Cidades: respostas – momento da 
Matriz PEIR).
Na elaboração do trabalho, atenção com os vestígios históricos e os processos geoecológicos.
5.1.14 Recomendações para o trabalho de campo e de compilação
No trabalho de campo e de compilação, deve‑se:
• Observar todo o ambiente, as paisagens e seus movimentos!
• Anotar tudo, para permitir contextualizar elementos e dados, e não deixá‑los soltos.
• Localizar os lugares e os fatos marcantes mediante o uso de croquis e mapas.
• Relacionar entre si todos os elementos vistos.
• Associar os objetos e as ações percebidos com tudo aquilo que já conheça, referenciando‑os.
5.1.15 Bibliografia sugerida como apoio (anexos)
Citamos:
• Projetos, programas institucionais, além da legislação ambiental pertinente.
• Bibliografia sobre o sistema hidrográfico, especificamente sobre a bacia local.
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• Textos sobre ecologia urbana, geografia, biologia, urbanismo.
• Atividades propostas pelos demais docentes do curso
5.1.16 Recomendações para a apresentação em xx/xx/20xx
Apresentação dos trabalhos: levantamento de campo e pesquisa em fontes secundárias – organização 
dos grupos, cronograma de apresentação dos trabalhos.
5.1.17 Apêndice
Confeccionar “Caderno de Campo” do grupo com as seguintes características:
• tamanho adequado às representações cartográficas, iconográficas, dos dados em geral;
• objetivos e justificativa da coleta de material, por página ou tema;
• articulação entre as linguagens/mídias (presentes, resumidas, citadas etc.);
• variação escalar: ensaios sobre a escala ideal de análise e representação dos processos;
• registro do desenvolvimento do trabalho, com vistas das atividades parciais (podendo liberar o 
grupo da prova individual).
Exemplo de aplicação
Seguindo as diretrizes do modelo de levantamento de dados para diagnóstico e prognóstico 
socioambiental, reflita sobre o exercício a seguir, cuja finalidade é nos colocar em uma situação de 
pesquisa profissional.
Questão para debater em pequenos grupos e registrar os resultados:
Um exercício bastante didático por contrastar duas percepções: a do técnico, especialista e mesmo 
a do cientista que estuda, planeja e gerencia os problemas; e aquela do morador, do habitante que as 
vivencia. O principal aqui é a sensibilização, principalmente para o que é novo, para o que é desconhecido. 
Os alunos são estimulados a observarem o quadro a seguir acompanhado por um excerto do texto.
É muito simples o que devemos fazer: no quadro a seguir, há duas colunas que nos interessam – a 
primeira e a terceira – elas apresentam numerações discrepantes entre a hierarquização inicial das 
variáveis. A primeira coluna foi estabelecida pelos técnicos e pesquisadores, e a segunda é resultante de 
discussão em plenária (com os envolvidos, além dos técnicos e pesquisadores), ou seja, as duas colunas 
são diferentes. Então, com base na análise do quadro e na leitura do trecho do texto de Akerman, reflita 
sobre as asserções a seguir:
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Deve‑se dirigir as observações e os comentários para as constatações de que:
• a primeira coluna do quadro a seguir é prevista pela equipe técnica e tudo indica seu 
desconhecimento e falta de experiência pessoal das carências das áreas estudadas;
• enquanto a segunda coluna apresenta a síntese das discussões entre os técnicos e os habitantes 
(senso comum fundamental por levar vida à ciência), hierarquiza os números de modo que os 
valores das variáveis mudam conforme se vivenciam os problemas e a carência não é apenas 
estudada, mas vivida.
O trecho a seguir ampara o raciocínio:
A fim de se decidir quais variáveis deveriam ser incluídas no índice de 
carência a ser usado no município de São Paulo, organizou‑se um 
seminário com a participação de planejadores de doze instituições públicas 
municipais e estaduais.
Foram formados dois grupos de trabalho e utilizando o método “técnica de 
Delfos”, procedeu‑se a escolha de cinco variáveis. Estas foram escolhidas 
a partir de uma lista de variáveis obtidas dos documentos e estudos 
disponíveis em São Paulo, as quais têm sido associadas em estudos 
internacionais e locais como indicadores de carência social e de ambiente.
Esta lista, que não se pretendeu que fosse completa, representava um 
amplo espectro de possibilidades tendo como critério a disponibilidade 
da informação. Cada participante, baseando‑se nas discussões de grupo, 
ordenou essas variáveis de acordo com sua própria opinião sobre quais 
seriam as melhores preditoras de carência social.
Dois critérios foram sugeridos para a escolha das variáveis. O primeiro, a 
validade da variável, isto é, a sua relevância ou importância como medida 
de carência em São Paulo;e o segundo, a confiabilidade da variável, que 
poderia ser definida como uma medida de qualidade do dado, ou em outras 
palavras, “se podemos confiar na informação gerada pelo indicador”.
Uma vez completado este exercício, todos os formulários foram computados, 
e foi produzida uma classificação geral das variáveis. Discutiu‑se em 
plenária esta classificação, e foi facultada aos participantes a revisão da 
lista preliminar.
Terminado este exercício, foram apresentadas as cinco variáveis que 
irão compor o índice de carência a ser usado pelo projeto. A tabela 
apresenta a classificação final de todas as variáveis (AKERMAN et al, 
1994, p. 323‑4).
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Quadro da classificação de todas as variáveis:
Quadro 2 
Nº Indicadores Classificação
1 Renda familiar per capita ‑> 1
2 Acessibilidade ao emprego 8
3 Proporção de população não economicamente ativa 11
4 Abastecimento de água 6
5 Consumo de água per capita ‑> 4
6 Rede de esgoto ‑> 3
7 Percentagem de população analfabeta e com primário incompleto ‑> 2
8 Padrão da área construída 9
9 Erosão e inundação 12
10 Sexo do chefe da família 10
11 Número de pessoas por domicílio ‑> 5
12 Metros quadrados de construção per capita 7
13 Proporção de migrantes 13
Fonte: Akerman (1994).
 Observação
É muito importante entrar no espírito do exercício proposto 
anteriormente, pois sua principal característica é promover uma revisão de 
posições unilaterais, quando confrontadas com aquelas do público que se 
está estudando e em cuja realidade se vai interferir. É uma ótima lição para o 
jovem pesquisador tomar consciência do respeito acadêmico e profissional.
6 CIDADANIA SELETIVA PARA OS HABITANTES DOS ESPAÇOS RURAL E 
URBANO: O PESO DA NORMA E AS SAÍDAS PELA CULTURA
A taberna. Ponto nevrálgico de vida social. O que você acha da taverna? 
Se esta pergunta fosse dirigida a uma centena de pessoas selecionadas 
aleatoriamente, não seria certamente pejorativa uma enorme percentagem 
de respostas. A taberna? Para a maioria das pessoas, incluindo aqueles que 
a frequentam, é um lugar enfumaçado, muito pouco recomendável, onde 
as pessoas vão para fugir na bebida. A palavra tem mau aspecto e o lugar, 
reputação insalubre. No entanto, a experiência dos novos bairros urbanos 
nos obriga a reconsiderar a questão. Na maior parte dos novos bairros, 
grandes ou pequenos, os técnicos de boa vontade fizeram desaparecer, como 
inúteis e supérfluos, o café e também a rua. Estes técnicos obedeceram, 
sem saber bem, imperativos morais ou filosóficos que os fatos terminariam 
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por refutar. O remédio para os males que queriam combater – contra 
o alcoolismo, perda de tempo – revelou‑se pior do que a doença. Nestes 
novos bairros, a vida social apequenou‑se e deteriorou‑se singularmente. As 
pessoas mergulharam em sua privacidade, não sem reclamar do incômodo 
no seio da própria vida familiar, pelo ruído e pelo quase desaparecimento 
das tradicionais relações de vizinhança, vizinhança de imóveis algumas 
vezes demasiado homogêneos, outros demasiado heterogêneos. Em suma, 
apesar do relativo conforto das acomodações, esses homens e mulheres não 
são felizes. Aborrecem‑se sem admitir ou confessar (LÉFÈBVRE, 1978, p. 135, 
tradução nossa).
Há uma cidadania formal e real para os habitantes dos espaços rural e urbano. Há expectativa de 
acesso ao consumo e uma idealização de cidadania na base da socialização e das demais relações entre 
os agentes concretos, com o agravante do terrivelmente veloz envelhecimento direcionado, seletivo dos 
objetos e das ideias.
O conceito de lugar presente no segundo tópico veio com a vivência, que é uma certa consciência 
da existência, e com a pesquisa, transformando‑se, na passagem do mundo indeterminado para o 
determinado, em objeto empobrecido da ciência; transição da totalidade de possíveis para a totalidade 
ao modo do meio técnico‑científico informacional, de Milton Santos, totalidade considerada no seu 
movimento estrutural e nas intencionalidades; também da vida cotidiana normatizada, estudada 
por Henri Léfèbvre (1981). Tal normatização é importante quando se tenta entender os labirintos de 
verdadeiras experiências comportamentais a que somos lançados pela educação de modo geral, pelo 
marketing, pelas campanhas publicitárias.
Claro que a vida cotidiana dá‑se em meio a atavismos, entretanto, é, também, lugar de evidências. 
Para H. Léfèbvre (1981), considerando toda a turbulência factual e cognitiva dos primeiros anos do 
século XX, e a despeito de todas as mudanças da modernidade, haveria continuidades, e o cotidiano 
é tido por ele como lugar das permanências, que reforçariam nossa ênfase na atitude natural ou 
mundana da vida.
Indo mais longe, pondo a utopia em perspectiva, poderia‑se propor a 
construção de uma cidade lúdica, uma cidade modelo, cujo centro, o núcleo 
essencial, seria dedicado a jogos de todos os tipos, sendo também a cultura 
vista como um grande jogo. No centro, tudo que é próprio ao esporte, ao 
jogo, desde jogos de azar até jogos sérios, teatro dramático naturalmente, 
realizando uma realidade que existia na cidade velha. Em torno deste núcleo, 
poderia ter elementos residenciais, divertimento, trabalho, as empresas. 
Uma cidade da ficção científica. Ainda se pode ir mais longe. Tente imaginar 
uma cidade onde a vida diária seria completamente transformada, onde 
os homens seriam donos da sua vida quotidiana que transformariam à sua 
vontade, seriam livres no que diz respeito à cotidianidade, dominando‑a 
completamente (LÉFÈBVRE, 1978, p. 145, tradução nossa).
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6.1 Cidadania seletiva para os habitantes dos espaços rural e urbano: o 
peso da norma
As práticas socioespaciais e percepções dirigidas pelo cotidiano normalizado envolvem tensão, e 
posteriormente veremos as reações dos afetados, que ocorrem por meio de movimentos e organizações 
sociais e manifestações políticas: multiplicidade de projetos. Isto, tanto no campo com a agricultura 
familiar diante das novas ruralidades e a reconstrução dos espaços rurais planificados para a produção 
extrovertida, quanto na cidade com a industrialização e, depois, com a imensa complexidade da oferta 
de serviços, como já foi apresentado com as referências ao trabalho de R. L. Corrêa.
Nesse cenário, Santos (1978), em texto intitulado “A totalidade do diabo” ajuda‑nos a entender 
criticamente os núcleos difusores das transformações sociais ou modernizações, os motores das inovações.
Temos que nos perguntar: o que aconteceu com os vínculos homem‑natureza? Vínculos e 
geograficidades... No campo, tais vínculos sempre foram estereotipados e representados em tons de 
idílio e de engessamento da dinâmica histórica das relações e dos papéis sociais dos agentes (arte e 
senso comum).
É um percurso geográfico e sociológico que vai do mito, da labuta mítica ou labor contínuo, às 
técnicas de distanciamento das coisas nas cidades, mais ou menos como vimos olhando para essa 
relação com Raymond Williams (apud SANTOS, 1978).
A questão posta logo na introdução do texto (SANTOS, 1978, p. 53) é se “podem os objetos geográficos 
desempenhar um papel instrumental, levando a efeito transformações na sociedade”? Ao que o autor 
passa à argumentação de que as tais transformações são algo como inovações de estilo dos processos 
capitalistas de dominação de territórios; uma espécie de metamorfose do planejamento da década de 
1950, subordinador das formações socioeconômicas.
Para tanto,Milton Santos (1978), na mesma obra, recorre ao arcabouço teórico da geografia 
nova que vinha formulando junto aos fatos vivenciados nos países em que estava trabalhando, mais 
especificamente, Venezuela e Tanzânia.
Aponta a reificação dos objetos, como aquela realizada por Schumpeter (apud SANTOS, 1978), 
para quem estes/os mesmos seriam, eles próprios, os difusores de mudanças. Mostra o equívoco da 
interpretação da realidade a partir da consideração das categorias de estrutura, processo, função e 
forma, que permitiriam tratar dos tais objetos como portadores de seu contexto e conteúdo social; 
estes, sim, difusores das inovações. Seu raciocínio, no artigo, é apresentado da seguinte maneira: as 
formas como ferramenta do capital.
As classificações são elas mesmas instrumentos de dominação, demonstrações de poder – o que é 
patente já nas denominações de subdesenvolvimento e atraso, maquiadas de atributos de cientificidade.
Fica claro de que planejamento se está tratando: aquele a serviço das forças dominantes/hegemônicas 
do capitalismo. Daí, que suas estratégias carreguem seus desígnios, através das formas espaciais, por 
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exemplo. Refere‑se a elas, em sua potencialidade, como “cavalos de Tróia”, e, como tais, intentam mudar 
as estruturas das formações socioeconômicas em que são implantadas. É este o ardil que suplanta a 
visibilidade explícita do planejamento que substitui.
Dois seriam os atributos principais dessas formas, vislumbradas no momento em que escreve o 
trabalho (meados da década de 1970): um valor agregado crescente, além de maior especialização, o 
que resulta, parece, em certa fixidez no território, no caso do primeiro, dificultando sua apropriação por 
outros sujeitos e ações, que não as projetadas, da parte do segundo. Isso (a instalação dos objetos) se 
daria de modo mais sutil com relação aos resultados, quando comparado ao planejamento antecedente 
e, também, não necessitaria tocar na estrutura socioespacial dos países.
 Saiba mais
Pode‑se perceber tais processos no filme a seguir:
ADEUS, Lênin! Dir. Wolfgang Becker. Alemanha. 2003, 121 minutos.
São três os mecanismos viabilizadores dessas mudanças:
• Novas formas, geradoras de novas funções.
• Substituição e alterações das formas para responderem mais velozmente aos processos necessários 
à reprodução ampliada do capital.
• Projetos.
Descreve o processo que virá a denominar “verticalidades” (de uma temporalidade e totalidade para outra).
Este tema, o das formas espaciais instaladas no território, será pormenorizado por Milton Santos em 
seu último trabalho Brasil: Território e Sociedade no Século XXI, de 2002.
6.2 A ação sobre o mundo rural
Milton Santos deixa clara sua posição sobre a Reforma Agrária, tantas vezes reiterada, alertando para 
sua finalidade verdadeira. Lembra que a propriedade da terra é forma e que agregar capital à agricultura 
é a verdadeira razão dos programas de ajuda. As duas estratégias de planejamento envolvendo a 
tecnologia são:
• integração da produção agrária ao capitalismo global;
• da reprodução simples e ampliada do capital à intensificação da concentração de capital 
(SANTOS, 2002).
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6.3 A ação sobre o meio urbano
Ao tratar das ingerências do Banco Mundial na realidade desrespeitada dos povos, interessante 
considerar os comentários de H. M. Enzensberger em seu livro Mediocridade e Loucura, de 1995, no 
capítulo “Bilhões de todo mundo, uni‑vos”. Alguns elementos nesse processo de desorganização para 
reorganização modernizante são, conforme o autor, projetos habitacionais, estruturas montadas para 
“extrair sobrevalor gerado pelos pobres”.
A grande crítica é dirigida ao uso das formas como instrumentos dessa acumulação e dominação 
(SANTOS, 2002).
6.4 A fenomenologia do espaço, a totalidade do diabo e a sensação das 
perdas
Milton Santos (2002) também expõe sua argumentação sobre o movimento espacial da história (e 
das categorias na história) para explicar as formas‑conteúdo e, com essa noção, explicar o movimento 
aludido (SANTOS, 2002).
Quanto à sensação das perdas, o autor apresenta:
• Movimentos culturais e ocupação de espaços por diferentes grupos (agregados por idades, renda, 
representações, procura por lazeres, entre outros motivos).
• A expectativa de consumo e ideal de/sombra da cidadania na base das relações entre os agentes 
concretos; o envelhecimento direcionado dos objetos e das ideias.
• Fragmentação do fazer, de sua inteligência e do conhecimento do corpo todo.
• Relações sociotécnicas e cultura: mudanças nas relações sociais globais/do conjunto social, na 
relação com a terra, nos vínculos sociais a ela e ao produto do trabalho, transformando‑se os 
rituais.
 Saiba mais
As imagens e o imaginário interferem na visão que se tem de si, 
individualmente, em grupos, de modos diferentes, e de quem vê o lugar de 
fora. É assim que o texto de Hobsbawm trabalha a ideia do tipo, do caubói 
como personagem “americano” (estadunidense) em sua universalidade.
HOBSBAWM, E. O caubói americano: um mito internacional? In: 
___. Tempos fraturados. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
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6.5 Movimentos diferentes, contrariedades ao modelo único do capitalismo 
global
Italo Calvino (1994), em Marcovaldo ou As Estações na Cidade, mostra a fruição e os usos que a 
personagem Marcovaldo faz da cidade, em geral, e da praça, em particular, que é sempre possível ver 
além do texto imposto, da ordem imposta como norma. Ele vê coisas em todos os lugares por onde 
passa, coisas que ninguém vê! É um belo exercício de percepção e lirismo. Segue trecho do posfácio 
sobre o curioso personagem em sua busca incessante de migrante no lugar atual (uma grande cidade) 
por elementos que ficaram para trás (as coisas do campo).
As estações da cidade
O livro Marcovaldo ou As Estações na Cidade se compõe de vinte contos. Cada conto 
é dedicado a uma estação; o ciclo das quatro estações se repete, portanto, cinco vezes no 
livro. Todos os contos têm o mesmo protagonista, Marcovaldo, e seguem mais ou menos o 
mesmo esquema.
O volume foi publicado pela primeira vez em 1963, em Turim, pela editora Einaudi, com 
ilustrações de Sergio Tofano. O texto de apresentação (escrito provavelmente pelo autor) dizia: 
“Dentro da cidade de concreto e asfalto, Marcovaldo vai em busca da Natureza. Mas ainda 
existe a Natureza? A que encontra é uma Natureza ardilosa, falsificada, comprometida com 
a vida artificial. Personagem engraçada e melancólica, Marcovaldo é o protagonista de uma 
série de fábulas modernas” que – dizia mais adiante a mesma apresentação – “se mantêm fiéis 
a uma estrutura narrativa clássica: a das histórias em quadrinhos das revistas infantis”.
O perfil do protagonista é apenas esboçado: é uma alma simples, um pai de família 
numerosa, trabalha como ajudante de pedreiro ou carregador numa firma, é a derradeira 
encarnação de uma série de cândidos heróis joão‑ninguém, ao estilo de Charlie Chaplin. 
Com uma particularidade: a de ser um “Homem da Natureza”, um “Bom Selvagem” exilado 
na cidade industrial. De onde ele veio, de que lugar sente saudade, isso não é dito; poderiam 
defini‑lo como um “imigrado”, embora essa palavra nunca apareça no texto; mas a definição 
talvez seja imprópria, porque todos nesses contos parecem “imigrados” num mundo estranho 
do qual não se pode fugir.
A melhor apresentação da personagem está no primeiro conto: “Esse Marcovaldo 
tinha um olhopouco adequado para a vida da cidade: avisos, semáforos, vitrines, letreiros 
luminosos, cartazes, por mais estudados que fossem para atrair a atenção, jamais detinham 
seu olhar, que parecia perder‑se nas areias do deserto. Já uma folha amarelando num ramo, 
uma pena que se deixasse prender numa telha não lhe escapavam nunca: não havia mosca 
no dorso de um cavalo, buraco de cupim numa mesa, casca de figo se desfazendo na calçada 
que Marcovaldo não observasse e comentasse, descobrindo as mudanças da estação, seus 
desejos mais íntimos e as misérias da existência”.
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Unidade III
Essas palavras podem servir de apresentação tanto da personagem quanto da situação 
comum a todos os contos, situação que poderia ser sintetizada da seguinte maneira: no 
meio da grande cidade, Marcovaldo 1) procura o revelar‑se das estações nas alterações 
atmosféricas e nos mínimos sinais de vida animal e vegetal, 2) sonha a volta a um estado de 
natureza, 3) enfrenta uma decepção inevitável.
Os contos às vezes seguem esse esquema na forma mais simples, justamente como 
histórias em quadrinhos (assim os mais breves: “Cogumelos na cidade”, “O pombo municipal”, 
“O tratamento com vespas” etc.), com a surpresa no quadrinho final (aliás, surpresa ruim, 
porque esses contos se parecem com aquelas historinhas cômicas “sem palavras” que 
inevitavelmente acabam mal), às vezes como pequenos contos amargos, quase realísticos 
(como “A marmita”, “Ar puro”, “Uma viagem com as vacas”), e finalmente como contos 
em que estado de alma e paisagem prevalecem (como a solidão do animal em “O coelho 
venenoso” ou o desnorteamento na neblina em “O ponto errado”).
Talvez para salientar o caráter de fábula, as personagens dessas pequenas cenas de vida 
contemporânea – sejam elas varredores, guardas‑noturnos, desempregados, carregadores – 
possuem nomes pomposos, medievais, quase de heróis de poemas de cavalaria, começando 
pelo protagonista. Apenas as crianças têm nomes normais, talvez porque apenas elas são 
mostradas como são, e não como caricaturas.
A cidade não é nomeada nunca; por alguns aspectos poderia ser Milão, por outros (o 
rio, os morros) pode‑se reconhecer Turim (a cidade onde o autor passou grande parte da 
sua vida). Sem dúvida, essa indeterminação é procurada pelo autor para significar que não 
se trata de uma cidade, mas da cidade, uma metrópole industrial qualquer, abstrata e típica 
como abstratas e típicas são as histórias contadas.
Mais indeterminada ainda é a firma, a fábrica onde Marcovaldo trabalha: nunca 
conseguimos saber o que é fabricado ali, o que é vendido sob a misteriosa sigla SBAV, o 
que contêm as caixas que Marcovaldo carrega e descarrega oito horas por dia. É a firma, a 
fábrica, símbolo de todas as firmas, todas as fábricas, as sociedades anônimas, os logotipos 
que reinam sobre as pessoas e as coisas do nosso tempo.
Em contraste com a simplicidade quase infantil do enredo de cada conto, a postura 
estilística se baseia na alternância de um tom poético‑rarefeito, quase precioso (a que a frase 
tende, sobretudo quando alude a fatos da natureza), e do contraponto prosaico‑irônico da 
vida urbana contemporânea, das misérias pequenas e grandes da vida. Diríamos, aliás, que 
o espírito do livro está essencialmente nesse contraponto estilístico: ele está presente até 
nos contos com enredo mais breve e elementar, concentrando‑se às vezes na primeira frase, 
que tem a função de introduzir o tema da estação (“O vento, vindo de longe para a cidade, 
oferece a ela dons insólitos, dos quais se dão conta somente poucas almas sensíveis, como 
quem sofre de febre de feno e espirra por causa do pólen de flores de outras terras”). Em 
outros contos, ao contrário, ainda que o enredo não seja nada mais que a série habitual de 
quadrinhos, cada detalhe é pretexto para um trecho de elaboração estilística requintada 
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(por exemplo, em “Férias num banco de praça” a comparação entre a cor da lua e a do 
semáforo amarelo). Chega‑se assim aos contos em que o requinte da prosa corresponde a 
uma invenção narrativa quase igualmente elaborada, como na multicolorida visão final de 
“A chuva e as folhas”, ou, resultado ainda mais complexo, no início de “O jardim dos gatos 
obstinados”, em que vemos a cidade das empreiteiras engolir a “cidade dos gatos”, que 
constituía também para os homens o verdadeiro espaço vital.
Um fundo de melancolia tinge o livro do começo ao fim. Poderíamos dizer que, 
para o autor, o esquema das historinhas cômicas é apenas o ponto de partida e que, ao 
desenvolvê‑las, ele se entregou a uma sua veia lírica amarga e dolorida. Mas Marcovaldo, 
apesar de todas as derrotas, nunca é um pessimista; está sempre pronto a redescobrir, 
dentro do mundo que lhe é hostil, a fresta de um mundo feito à sua medida; ele nunca 
se rende, está sempre pronto a recomeçar. Sem dúvida, o livro não convida a uma 
postura de otimismo superficial: o homem contemporâneo perdeu a harmonia entre ele 
e o ambiente onde vive, e superar essa desarmonia é uma tarefa árdua; as esperanças 
fáceis demais, idílicas, sempre se revelam ilusórias. Mas a postura que domina é a da 
obstinação, da não resignação.
Podemos agora definir melhor a posição deste livro frente ao mundo que nos cerca. É 
a nostalgia, a saudade de um idílico mundo perdido? Uma leitura nessa chave, comum a 
tanta literatura contemporânea que condena a desumanização da “civilização industrial” 
em nome de um sentimento nostálgico do passado, certamente é a mais fácil. Mas, 
observando com maior atenção, vemos que aqui a crítica à “civilização industrial” é 
acompanhada de uma crítica igualmente decidida a todo sonho de “paraíso perdido”. O 
idílio “industrial” é alvejado tanto quanto o idílio “campestre”; não apenas uma “volta 
atrás” na história é impossível, mas também aquele “atrás” nunca existiu, é uma ilusão. 
O amor de Marcovaldo pela natureza é aquele que pode nascer apenas num homem da 
cidade; por isso não podemos saber nada da sua origem extraurbana; esse estranho à 
cidade é o cidadão por excelência.
[...]
Fonte: Calvino (1994, p. 137‑40).
 Saiba mais
Dentre os inúmeros trabalhos sobre cidades sustentáveis, destacamos o 
texto de Cecília Polacow pelo espectro de países com que trabalha.
HERZOG, C. P. Cidades para todos: (re)aprendendo a conviver com a 
natureza. Rio de Janeiro: Mauad X: Inverde, 2013.
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Sobre o tema, leia a seguir uma entrevista com o arquiteto Roberto Pompéia:
Donos do lugar
Cuidar da cidade começa com a boa vizinhança
Quando era estudante de arquitetura, Roberto Pompéia ouviu de um dono de 
construtora uma frase que jamais esqueceria: “É um absurdo pensar em se dedicar 
aos pobres, pois os pobres não têm como te pagar”. A sentença surtiu efeito contrário. 
Roberto tornou‑se um representante da arquitetura popular no Brasil. Foi integrante do 
Laboratório de Habitação da Unicamp (LabHab), que se especializou em projetar mutirões 
para erguer casas na periferia, durante 13 anos. Quando o Laboratório foi extinto, em 
1999, trabalhou sozinho para terminar um mutirão no sul de Minas Gerais. Ao todo foram 
mais de 15 comunidades em estados como Alagoas, São Paulo e Rio Grande do Sul. 
Roberto acaba de defender, na USP, a tese de doutorado em que conta a história do 
LabHab e dos mutirões em que esteve envolvido. “A vivência nas favelas e na periferia me 
trouxe a certeza de que a preservação e a qualidade do espaço público dependem de uma 
identidade coletiva que zela pelo seu lugar”,diz. E para se criar essa identidade coletiva é 
preciso antes voltar os olhos para a história de cada morador. E nisso não importa classe 
social, raça, credo, religião.
Como surgiu a questão da identidade em seus trabalhos?
A maior parte das pessoas que moravam nas periferias, onde realizávamos os mutirões, 
vinha de fora, pois quando a pessoa não vê futuro em sua cidade natal parte para a 
metrópole. Contrapor‑se à sua história original é a primeira quebra de identidade. Quando 
a pessoa chega à cidade grande, vem a segunda. Quem era Zezinho ou Mariazinha lá 
no interior vira um zé‑ninguém. Estranha à cidade, a tendência da pessoa é se voltar 
para dentro. É muito comum a pessoa construir um barraco e, na parte interna, botar 
azulejos da melhor marca, mas não se preocupar com o acabamento externo, pois não 
quer mostrar nada de bom para fora, quer mais é se cercar. Daí vêm os cacos de vidro 
nos muros, as cercas. Primeiro, porque as pessoas se sentem seguras, obviamente, mas 
também porque a rua, que na cidade de origem era o lugar que agregava, na cidade 
grande, é o lugar que desagrega.
Como isso se revertia?
Quando comecei a trabalhar nos mutirões, notei a importância da cozinha coletiva 
na obra. O momento da refeição parecia uma comunhão: todo mundo em volta da mesa 
comendo a mesma comida e trocando histórias. Havia pessoas absolutamente tímidas que, 
quando alguém perguntava “e aí, você veio de onde?”, começavam a contar sua história, 
e parecia que começavam a crescer, a ficar importantes dentro do grupo. Todos ficavam 
absolutamente em silêncio ouvindo. Aí essa pessoa, que aparentemente não era nada, 
passava a ser alguma coisa. É como se ela “re‑significasse” seu papel dentro da comunidade.
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É o primeiro passo para a identidade coletiva?
Sim. Não existe possibilidade de se construir uma identidade coletiva sem o reforço da 
identidade individual. Você só forma a identidade coletiva quando se reconhece como um 
ser importante dentro da comunidade, diferente e único. Na hora em que você resgata 
sua história, mesmo com os erros e fracassos, você cria uma estrutura, que é você mesmo, 
e passa a ser respeitado. A palavra respeito vem de re‑spectare: olhar muitas vezes para 
trás. E a história do coletivo é formada por um grande número de histórias individuais, 
a partir do momento em que você tem uma relação franca com o outro, em que você 
respeita o outro porque conhece sua história. Você não está vinculado ao vizinho pelo 
espaço físico simplesmente.
Como isso contribui para a preservação do espaço público?
Quando você sente que o espaço é seu, você cuida e quer interferir, você limpa, não 
deixa abandonado. Então, o limite entre o público e o privado é muito menos hostil, as 
cercas são mais baixas, as pessoas convivem mais. Mas às vezes ocorre o contrário. Espaços 
comuns são tratados como privados.
Teoricamente, o hall do apartamento, por exemplo, pertence tanto a você quanto ao seu 
vizinho. Muitas vezes, entretanto, acabamos estabelecendo uma fração do hall como nosso 
e, se a plantinha da vizinha cresceu demais e saiu dos limites, já nos sentimos agredidos.
O que fazer para melhorar a situação?
Manter o habitar na dimensão humana, que é o contato direto entre as pessoas. 
Um estudo feito na Universidade de Harvard, em 2001, concluiu que, quanto mais 
fortes são os laços sociais entre as pessoas de uma comunidade, maior é a qualidade 
de vida e o nível de satisfação. Tive a oportunidade de conhecer, em Paris, um bairro 
que foi construído no fim da Segunda Guerra. Na rua que me mostraram havia prédios 
de quatro andares, de um lado, e de 12, do outro. O grupo que prestava assessoria 
técnica à periferia de Paris constatou que a vida dos que moravam nos edifícios mais 
baixos (onde foram criados espaços comunitários como áreas de recreação e clube 
de idosos) era muito melhor que a dos que moravam nos apartamentos mais altos 
(onde não havia nenhuma iniciativa para agregar seus moradores). O diagnóstico 
foi preciso: a diferença entre eles estava principalmente na escada. As pessoas dos 
prédios baixos, sem elevador, tinham de se encontrar pela escada. Os que subiam 
cruzavam com os que desciam; ao se passar pelos andares, era inevitável “sentir” os 
apartamentos, ouvir barulhos mais íntimos, sentir o cheiro de uma comida apetitosa 
ou, até mesmo, dar uma olhadela pela porta de um apartamento, aberta por descuido 
ou generosidade; ajudar alguém a carregar as compras e logo depois ser convidado 
para um cafezinho. Nos prédios com elevador, o isolamento é muito maior, as pessoas 
mal se conhecem.
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Unidade III
Como fomentar esse contato direto nos prédios altos?
Crie um projeto coletivo. Se você tem um projeto comum, que seja botar uma luminária 
legal no hall, já vale. Pode ser que saia uma coisa horrível, que as pessoas queiram colocar 
um lustre de cristal, mas é uma discussão saudável. Se há um salão de festas no prédio, 
vamos fazer uma festa lá?
Projetos coletivos se contrapõem ao espaço que tenta ser o menos coletivo possível. 
Agora, é difícil, você tem que enfrentar um monte de coisas chatas.
Mas, às vezes, é preciso passar pela chateação para resolver as questões da coletividade. 
Quanto mais relações houver entre as pessoas, melhor. Mesmo que seja para criticar, para 
xingar, pois isso é menos solitário do que a não convivência. Por que é tão encantador andar 
nas ruas de Nápoles, de Veneza?
Não só porque são estreitas e cheias de história, mas porque sempre tem aquela gritaria, 
o varal na janela. Cria‑se essa quase promiscuidade urbana que até certo ponto é saudável.
Fonte: Santos (2007).
Exemplo de aplicação
O texto anterior é uma entrevista com o arquiteto Roberto Pompeia. Este é um exercício de percepção 
ambiental com base no fortalecimento dos vínculos com o outro cultural, e nosso objetivo é o de qualificar 
as relações socioambientais em oposição ao “massacre” normativo da criatividade na vida cotidiana.
A entrevista torna‑se interessante para nós à medida que traz um conjunto de questões diferentes 
daquelas feitas comumente, pois considera as dimensões da sociabilidade, da afetividade, da memória, 
da amizade, do respeito, e do fortalecimento dos vínculos no presente. Meu argumento é de que tais 
elementos fortalecem laços para a defesa do entorno como lugar dos sentidos e, assim, de si mesmos no 
mundo inóspito para o migrante. Porém, o raciocínio pode ser estendido às territorializações de todos nós.
Questões com base no texto e nas propostas de qualificação ambiental:
• Quais são os principais problemas identificados pelo entrevistado e as “soluções gerais” por ele 
apontadas?
• Qual é o foco dessas propostas e o que permite ao autor acreditar nesse caminho de enfrentamento 
dos tais problemas?
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 Saiba mais
Muito próximo dessa linha de atuação, de qualificação socioambiental 
do entorno, porém de dentro da academia, segue sugestão do texto sobre 
projeto coordenado pelo antropólogo e educador Carlos R. Brandão.
BRANDÃO, C. R. Aqui é onde eu moro, aqui nós vivemos: escritos para 
conhecer, pensar e praticar o município educador sustentável. 2. ed. Brasília: 
MMA, 2005. (Programa Nacional de Educação Ambiental).
Agora, vamos observar as imagens satíricas que brincam com nossas mazelas urbanas dos artistas 
Say Weinfeld e Marcio Kogan, elas são muito interessantes.
Assim anunciam seu trabalho:
As propostas arquitetônicas e urbanísticas apresentadasnesta exposição 
procuram traduzir antigos anseios de nossa sociedade através de uma visão 
crítica e realista.
Esta cidade é constantemente forçada a civilizar‑se, muitas vezes, chegando 
aferir a própria natureza de seus habitantes.
Soluções importadas do Primeiro Mundo não encontram respaldo entre a 
população.
A implantação das faixas de pedestres é um ato de pura provocação.
[...]
Até quando durará o cinismo de nossos dirigentes que insistem na despoluição 
do Rio Tietê? Daqui a alguns anos, com um pouco de sorte, talvez possamos 
encontrar, dentro do novo rio, um robusto salmão constrangido ao ver, 
através das águas cristalinas, as velhas favelas que o rodeiam.
Qual é o sentido de tudo isso?
Estamos aqui para tentar colaborar, humildemente, com pequenas sugestões 
que aperfeiçoarão a verdadeira vocação desta cidade: o caos (LOBO, 2001, p. 21).
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Unidade III
A figura a seguir representa nossa gana em andar de carro, sujando a cidade:
Figura 11
A proposta do projeto de lixovia, feito para São Paulo, é a instalação de cestos de lixo contínuos nas 
avenidas. Com eles, o ato tão corriqueiro de jogar lixo pela janela do carro viraria um gesto civilizado 
(LOBO, 2001, p. 20).
Nossos emaranhados anéis viários são representados na figura a seguir. Trata‑se de uma “Solução 
para facilitar o trânsito de veículos em Paris. Uma aplicação inconfundível do know‑how – e, no caso, 
do savoir‑faire – paulistano” (LOBO, 2001, p. 21).
Figura 12 – “O Arco do Triunfo Viário”
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Veja agora nossos ex‑rios, sujos ou enterrados, na figura a seguir, “aproveitados”:
Figura 13 – Bateaux mouches blindados.
Mesmo que o Rio Tietê venha a ser despoluído, que paisagem as pessoas que navegarem nele vão 
ver? Adotando barcos sem janelas, este projeto é econômico, pois dispensa a reurbanização das avenidas 
marginais (LOBO, 2001).
A figura seguinte mostra uma comparação entre a Casa de Detenção e as mansões espalhadas por 
São Paulo. “Com seus enormes muros, pesadas grades, cercas eletrificadas e imponentes guaritas, a Casa 
de Detenção de São Paulo influenciou toda uma geração de arquitetos, cujos projetos de mansões estão 
espalhados pelos mais elegantes bairros da cidade. Uma foi concebida para não deixar sair; a outra, para 
não deixar entrar” (LOBO, 2001, p. 23).
Figura 14 – Casa de detenção, detenção em casa
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Unidade III
 Resumo
Nesta unidade, discutimos os aspectos populacionais nos lugares 
classificados como rurais e urbanos (viver e trabalhar nos lugares), assim 
como as experiências daí advindas (percepção e padrões culturais), além do 
plano normativo, da cidadania pelo trabalho social (teórico). Há paradoxos 
desafiadores, como o trabalhador agregado ter maior margem de manobra 
que aquele registrado como trabalhador rural.
Consideramos também as ações e consciência críticas sobre a vida rural 
e urbana. 
 Exercícios
Questão 1. Veja a figura e leia o texto:
Figura 15
Maçã ou laranja? Ou um alimento geneticamente modificado? Segundo o Ministério da Agricultura:
Organismos geneticamente modificados são definidos como toda entidade biológica cujo material 
genético (ADN/ARN) foi alterado por meio de qualquer técnica de engenharia genética, de uma maneira 
que não ocorreria naturalmente. A tecnologia permite que genes individuais selecionados sejam 
transferidos de um organismo para outro, inclusive entre espécies não relacionadas. Estes métodos são 
usados para criar plantas geneticamente modificadas para o cultivo de matérias‑primas e alimentos.
Essas culturas são direcionadas para maior nível de proteção das plantações por meio da introdução 
de códigos genéticos resistentes a doenças causadas por insetos ou vírus, ou por um aumento da 
tolerância aos herbicidas.
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Nesta categoria, não se incluem culturas resultantes de técnicas que impliquem a introdução direta, 
em um organismo, de material hereditário, desde que não envolvam a utilização de moléculas de ADN/
ARN recombinante, inclusive fecundação in vitro, conjugação, transdução, transformação, indução 
poliploide e qualquer outro processo natural. Nesse contexto, também é importante salientar a definição 
de termos comumente utilizados nessa área:
• Engenharia Genética: atividade de produção e manipulação de moléculas de ADN/ARN recombinante;
• Ácido desoxirribonucleico (ADN), ácido ribonucleico (ARN): material genético que contêm 
informações determinantes dos caracteres hereditários transmissíveis à descendência;
• Derivado de OGM: produto obtido de OGM e que não possui capacidade autônoma de replicação 
ou que não contenha forma viável de OGM. Não se inclui na categoria de derivado a substância 
pura, quimicamente definida, obtida por meio de processos biotecnológicos e que não contenha 
OGM, proteína heteróloga ou ADN recombinante;
De acordo com a legislação, após manifestação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança 
(CTNBio), compete ao Ministério da Agricultura a emissão de autorizações e registros, bem como 
a fiscalização de produtos e atividades que utilizem organismos geneticamente modificados e seus 
derivados destinados ao uso animal, na agricultura, na pecuária, na agroindústria e em áreas afins. 
Essas atividades estão sob responsabilidade da Coordenação de Biossegurança, vinculada à Secretaria 
de Desenvolvimento Agropecuário (SDA). 
Fonte: BRASIL. Ministério da Agricultura. Vegetal: organismos geneticamente modificados. 
Disponível em: http://www.agricultura.gov.br/vegetal/organismos‑geneticamente‑modificados. Acesso em: 25 de ago. de 2015.
A leitura do texto permite afirmar que:
I – Alimentos geneticamente modificados são mais resistentes e, portanto, menos suscetíveis a 
perdas, o que garantirá o aumento da produção de alimentos.
II – O Estado brasileiro permite a produção de alimentos geneticamente modificados porque garante 
que eles não causam prejuízos à população.
III – As sementes geneticamente modificadas pertencem àquele que as criou, o que significa que 
para plantá‑las será preciso autorização ou pagamento de royalties. Isso poderá encarecer a produção 
agrícola e criar dificuldades de consumo para as camadas sociais de baixa renda.
IV – Os alimentos geneticamente modificados, por não serem naturais, sempre representam um risco 
maior para os consumidores e, nessa medida, o papel principal do Estado é impedir que se alastrem em 
território nacional.
V – A atuação do Estado é essencial na autorização para a produção de sementes geneticamente 
modificadas e na fiscalização para que sejam utilizadas exatamente da forma como foram aprovadas.
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Unidade III
A) I, II e IV.
B) I, III e IV.
C) II, III e IV.
D) III, IV e V.
E) I, III e V.
Resposta correta: alternativa E.
Análise das alternativas
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: a afirmativa I está correta porque as sementes geneticamente modificadas foram 
criadas pelos cientistas em razão da necessidade de maior resistência às pragas e insetos, e até maior 
resistência em relação aos defensivos agrícolas pulverizados nas plantações contra pragas e insetos. 
Com isso, garantem‑se sementes mais resistentes, e consequentemente maior produção agrícola. A 
afirmativa

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