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79 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 SOCIOLOGIA RURAL E URBANA Unidade III 5 POPULAÇÃO E PRODUÇÃO DO CAMPO E DA CIDADE: NOVAS FIGURAS TRABALHISTAS E LOCALIZAÇÕES DE ATIVIDADES – GRUPOS ECONÔMICOS. A Cerca Fazendo cerca na Fazenda do Rosário Resto de toco velho mandado pelo vigário Meu camarada, eu moro aqui do lado O terreno que tu cerca já tá cercado Não entendi a assertiva do compadre Se é lei chama o doutor Se é milagre chama o padre É muito simples, tu veja ali na frente Tá vendo o laranjal, minha cerca passa rente Que dia quente, tem feito muito calor Daqui a pouco meu vizinho vê um disco voador Se visse até pedia para descer Quem sabe se um marciano Consegue te esclarecer Ô meu compadre, cê tá vendo assombração Cê num é advogado, cê num é tabelião Nem por isso eu deixei de fazer o justo Se o sujeito enxerga torto O direito dá um susto Tu cerca a terra, tu cerca até o mundo Então cerca a tua filha, toda noite aqui no fundo Pois te conto um segredo Cê não conta pra ninguém Andam vendo tua mulher com o dono do armazém 80 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 Unidade III Maledicência, eu já tô acostumado Até dizem que o senhor é incapacitado Eu tomo chuva, tomo ar puro de manhã Minha saúde é de ferro, pergunte para sua irmã Nunca se está a salvo da falação alheia Eis que um tipo parvo vem falar na minha oreia Martelo prego, torniqueto com serrote Acerca do homem cego, quem tem vista dá o mote Terequitem, ô pra cá você não vem Terequitem, que eu conserto a ti também (Te prego um prego também) Fonte: Rosa, Furtado e Amaral, (1994). Da estrutura social estática, passamos à sociedade em movimento. A vida torna‑se possível com o exercício do prazer, da amizade, fraternidade, e com o trabalho (nosso destaque) das pessoas nos lugares, nos campos e nas cidades, representado ou regulado pelas figuras jurídicas. Contudo, nesse nível da regulação, o trabalho adquire valor e dimensões abstratas, legais e econômicas. Olhemos com atenção a música do grupo Skank, em epígrafe, em que há duas visões de mundo. Duas visões conflitantes e tratando do acesso e demarcação da terra de modos diferentes. Agora, também como grupos econômicos, Estado e demais agentes sociais, jogam conforme regras chanceladas pelo poder público, embora o caráter público de um Estado não seja natural, mas conquistado, construído pelo trabalho coletivo, de um lado, e o ser social privado, corporativo, de outro; que formam a própria configuração econômica do Estado‑territorial/nacional. Resumindo a ideia: a quem esse aparato público atende, de fato, com suas portarias, leis, sentenças e decretos, considerados os três poderes? Williams fala das transformações sofridas pela vida rural, com impossibilidade, porém, de identificar evolução linear, do tipo “o que passou, passou”; pois ela reaparece de várias maneiras, mantêm‑se e pode até parecer que deixou de existir; porém, estará sempre lá. Segue citação do autor: Mas a mudança é tão ampla e complexa, mesmo sem levarmos em conta as importantes variações regionais, que parece não haver um ponto onde possamos situar com firmeza a transição entre épocas nitidamente diferentes. Os relatos historiográficos mais detalhados indicam que em toda a parte muitas formas, práticas e sensibilidades antigas sobreviveram em períodos nos quais o sentido geral das novas tendências já era claro e decisivo. E então o que parece ser uma velha ordem, uma sociedade tradicional, começa a aparecer, a ressurgir, numa profusão desconcertante de datas diversas: na prática como uma ideia, até certo ponto baseada na experiência, que pode ser tomada como padrão 81 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 SOCIOLOGIA RURAL E URBANA para a avaliação das mudanças contemporâneas. A estrutura de sentimentos dentro da qual esta referência ao passado deve ser entendida, portanto, não é basicamente uma questão de explicação e análise histórica. O que é realmente importante é este tipo específico de reação à mudança, e isso tem causas sociais mais concretas e mais interessantes (WILLIAMS, 1989, p. 56). O que o autor encontra no material de sua pesquisa é uma idealização dos valores feudais e imediatamente pós‑feudais, de uma ordem de relações sociais estáveis e recíprocas, com características assumidamente totalizantes. Reflete sobre os impactos da nova ordem da agricultura capitalista, imposta com sucesso às antigas estruturas. As transformações de que nos fala Raymond Williams (1989) e também Margarida Maria Moura (1988, 1986, 1978), envolvem dois mundos antagônicos que passam a se chocar e interpenetrar‑se, até que um pareçam sucumbir soterrados pelas novas formas sociais, em geral (costumes e atividades produtivas), e jurídicas e econômicas, em particular (títulos de propriedade, equivalências monetárias em lugar de compromisso e favores). São imensos contingentes de pessoas que devem ceder suas moradias (e boa parte de pertences) de agregados às terras e famílias de senhores de terras para empregarem‑se sob as novas leis trabalhistas e procurar lugares onde morar em novas condições (MOURA, 1988). E como diz Williams: A ênfase dada à obrigação, à caridade, à porta aberta aos pobres da vizinhança é contrastada, numa forma bem conhecida de radicalismo retrospectivo, com a investida capitalista, a redução utilitarista de todas as relações sociais a uma ordem impiedosa baseada no dinheiro (WILLIAMS, 1989, p. 56). Williams (1989) adverte para os perigos de dirigirmos as críticas ao sistema presente para relações que não existem mais, adotando parâmetros, portanto, falsos. Afirma o autor que privilegiar relações que não mais existem, virtudes de um mundo rural que não mais existe do modo idealizado por “movimentos intelectuais do século XX” que transferem os valores e padrões do campo de outras épocas tornando‑se “valores de uma posição explicitamente reacionária: em defesa dos padrões tradicionais de propriedade, ou no ataque à democracia em nome do sangue e da terra” (WILLIAMS, 1989, p. 57‑8). Trata, também, de um projeto cujo ideal proposto é a associação de um poder local paternal com uma legislação nacional que vise proteger certas formas de propriedade e trabalho surgidas recentemente – parece fundamentar‑se com pesos quase iguais, na rejeição da arbitrariedade do feudalismo, numa rejeição categórica da nova arbitrariedade do dinheiro e na tentativa de estabilizar urna ordem transitória, na qual os pequenos proprietários devem ser protegidos dos cercamentos, mas também da ociosidade de seus trabalhadores. Assim, uma ordem moral é abstraída do legado feudal e da dissolução do feudalismo, buscando impor‑se do modo ideal com condições inerentemente instáveis. A santidade da propriedade tem de coexistir com violentas mudanças de relações de propriedade, 82 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 Unidade III e um ideal de caridade deve conviver com relações de trabalho rigorosas tanto no velho sistema quanto no novo (WILLIAMS, 1989, p. 68). E como esse trabalho abstrato promove certo desenvolvimento exógeno, voltado para fora das regiões que recebem investimentos e mudanças, para fora, vai o grosso dos benefícios e a riqueza; dentro, ficam os problemas. O peso das normas começa por aí e passam pelas mudanças ambientais não negociadas pelas comunidades, impostas àqueles que têm suas atividades nativas, autóctones, originais da ocupação do lugar, também chamadas vernáculas. Na cidade, os procedimentos são parecidos, pois tudo se passacomo movimento inexorável da história, modernização contra a qual não se pode opor. O ambiente é moldado para atender aos interesses externos, então, faremos as seguintes análises teórico‑metodológicas sobre a avaliação de impacto socioambiental ligada à ocupação e apropriação social dos recursos naturais. Estamos tratando dos problemas ambientais desde o início do texto, porém, neste momento, eles devem ficar mais evidentes. Poluição, envenenamento, toxidade, são eventos com possibilidades de diagnósticos sistêmicos, a partir de uma ótica de gerenciamento ambiental de recursos tomados como elementos dos sistemas e cadeias produtivas convencionais. Entretanto, o tema da disciplina requer que sejamos radicais já nas concepções do problema em suas causas. Sendo, então, mais incisivos, somos levados às visões alternativas de organização do espaço rural, com revisões alternativas e participativas nos modelos de gestão e de planejamento ambiental. A construção do conhecimento agroecológico, como diz Ehlers (1998), ocorre com base em utopias, no melhor sentido da palavra. Todos os debates sobre os transgênicos dividem os contendores em basicamente dois lados: aqueles que se alinham a favor de uma saída tecnológica para especialização e fortalecimento de espécies contra tudo aquilo que veem como obstáculos ao desenvolvimento, além dos problemas de produtividade (estão pensando em escala); e, de outro, aqueles que temem efeitos indesejáveis ou impactos do uso à saúde, não previstos pelas pesquisas com tempo ainda insuficiente para avaliação da eficiência ambiental (não econômica). Saiba mais Sobre essa questão da tecnologia, muito interessantes são as declarações de Carlo Petrini. Leia o artigo na íntegra em: PETRINI, C. O direito ao alimento. Tradução Moisés Sbardelotto. Revista IHU‑Online, Rio Grande do Sul, 12 dez. 2013. Disponível em: <http://www.ihu. unisinos.br/noticias/526576‑o‑direito‑ao‑alimento‑artigo‑de‑carlo‑petrini>. Acesso em: 19 maio 2015. 83 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 SOCIOLOGIA RURAL E URBANA É necessário nos perguntarmos sobre os caminhos que tomamos para podermos discutir outros, e o que nos interessa produzir e consumir. É preciso, assim, ir além de modos e exotismos. Crosby (1993) expõe de modo interessante a irradiação dos padrões alimentares de boa parte do mundo a partir da Europa, o que explicaria também os circuitos produtivos de alimentos, insumos, cardápios inteiros baseados em regiões que milhões de pessoas nunca viram, forçando ecossistemas de modo artificial a produzirem espécies exóticas. O agravante desse processo de séculos é a visão que se adquiriu de “solos pobres”, quando na verdade os solos não deveriam ter eficiência com cultivares estrangeiros; é o caso dos solos de nossas florestas tropicais, que não são adequados ao plantio de espécies do gosto do colonizador europeu. Esse processo moldou a estrutura fundiária e as bases agropecuárias dos povos subjugados pelas armadas e pelo comércio português, espanhol e britânico. Uma lista sem fim de situações mostrando a negação da complexidade alimentar poderia ser citada, como lanchonetes, restaurantes, supermercados vendendo reduções simplificadas de pratos anteriormente comuns, habitualmente mais complexos e preparados em casa; trata‑se do reino do funcional, do prazer fácil, quase sempre solitário, do comer apressado. Não há lugar para pratos complexos, pois a experiência tanto para o preparo quanto para comê‑los não estará disponível. Claro que estamos num terreno perigoso para se achar o verdadeiro hábito em meio às imposições de povos conquistadores e as consequentes transformações de estruturas milenares. Os “problemas com a revolução verde” na forma de envenenamento dos rios e dos solos também são descritos por Standage (2010). Comemos o que nos dizem as grandes empresas agroalimentares, influenciados por modismos e propaganda. No Brasil, a legislação ambiental básica é da década de 1980. É somente em 2000 que se chega à lei que instaura o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), que define as áreas de preservação em unidades de proteção integrais e com permissões graduais e funcionais de usos. É um instrumento de política ambiental que pode ser muito útil, mas também apenas mais uma lei. Lembrete Outro exemplo é a já citada entrevista sobre movimento internacional, com vistas à qualificação da saúde, que combate a modificação genética dos organismo. No coro das acusações às inovações tecnológicas abstratas (desvinculadas das regiões e populações reais), segue o trecho de Lima (2004): Diante desse diagnóstico (de que a crise fora gerada, em grande medida, em decorrência do próprio padrão científico‑tecnológico, o que, segundo alguns pensadores, exigiria uma nova configuração do conhecimento socialmente produzido sobre o mundo – social e natural), a atual relação 84 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 Unidade III entre sociedade e natureza parece ter por base uma nova escassez. Não mais uma relação fundadora do que é irredutivelmente humano como a categoria trabalho em Marx (1975). Pelo contrário, a principal clivagem que a sociedade contemporânea parece ter construído, na sua relação com o seu substrato natural, é uma “escassez limitante” do texto humano. Não é mais a natureza do ambiente local (a intempérie, os fenômenos naturais, a sazonalidade, os desastres naturais) que está a desafiar a capacidade e criatividade cultural de um grupo humano em particular. Hoje são os limites de regeneração da Terra como um todo, que parecem se impor ao texto colocado em marcha pela moderna sociedade industrial: suas relações de produção, seus padrões de consumo; seu padrão tecnológico; sua densidade demográfica; sua hierarquização e desqualificação de saberes e culturas (LIMA, 2004, p. 5). Na lista de problemas, devemos assinalar que a desigualdade social em todos os níveis está na base de todos eles, perpetuando‑os. Assim, a questão da propriedade deve ser discutida quando se considera o desenvolvimento sustentável e as formas de produção sustentáveis. Ladislau Dowbor (2010a) faz algumas considerações sobre a questão da propriedade que o modelo convencional enrijeceu e não parece ceder facilmente aos apelos da razão. Não é abrir mão da propriedade, mas repensá‑la de acordo com os princípios da sustentabilidade real. Segue trecho de artigo do autor. Para dar um exemplo trazido pelos autores (Gar Alperovitz e Lew Daly, do livro ”Apropriação indébita: como os ricos estão tomando a nossa herança comum”, Editora SENAC), quando a Monsanto adquire controle exclusivo sobre determinada semente, como se a inovação tecnológica fosse um aporte apenas dela, esquece o processo que sustentou estes avanços? “O que eles nunca levam em consideração, é o imenso investimento coletivo que carregou a ciência genética dos seus primeiros passos até o momento em que a empresa toma a sua decisão. Todo o conhecimento biológico, estatístico e de outras áreas sem o qual nenhuma das sementes altamente produtivas e resistentes a doenças poderia ter sido desenvolvida – todas as publicações, pesquisas, educação, treinamento e ferramentas técnicas relacionadas sem os quais a aprendizagem e o conhecimento não poderiam ter sido comunicados e fomentados em cada estágio particular de desenvolvimento, e então passados adiante e incorporados, também, por uma força de trabalho de técnicos e cientistas – tudo isto chega à empresa sem custo, um presente do passado. Ao apropriar‑se do direito sobre o produto final, e ao travar desenvolvimentos paralelos, a empresa canaliza para si gigantescos lucros da totalidade do esforço social, que ela nãoteve de financiar. Trata‑se de um pedágio sobre o esforço dos outros”. Se não é legítimo, pelo menos funciona? A compreensão do caráter particular do conhecimento como fator de produção já é antiga (DOWBOR, 2010a, p. 55). 85 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 SOCIOLOGIA RURAL E URBANA Uma joia a respeito da propriedade, comenta Dowbor, é um texto de 1813, de Thomas Jefferson, cujo mote está nesta citação: Se há uma coisa que a natureza fez que é menos suscetível que todas as outras de propriedade exclusiva, esta coisa é a ação do poder de pensamento que chamamos de ideia. Que as ideias devam se expandir livremente de uma pessoa para outra, por todo o globo, para a instrução moral e mútua do homem, e o avanço de sua condição, parece ter sido particularmente e benevolente desenhada pela natureza, quando ela as tornou, como o fogo, passíveis de expansão por todo o espaço, sem reduzir a sua densidade em nenhum ponto, e como o ar no qual respiramos, nos movemos e existimos fisicamente, incapazes de confinamento, ou de apropriação exclusiva. Invenções não podem, por natureza, ser objeto de propriedade (JEFFERSON apud DOWBOR, 2010a, p. 55). Saiba mais Ladislau Dowbor é uma importante referência sobre o assunto da propriedade: DOWBOR, L. Economia global e gestão: da propriedade intelectual à economia do conhecimento (Primeira Parte). Lisboa, v. 15, n. 1, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?pid=S0873‑7444201 0000100002&script=sci_arttext>. Acesso em: 31 jul. 2015. DOWBOR, L. Economia global e gestão: da propriedade intelectual à economia do conhecimento (Segunda parte). Lisboa, v. 15, n. 2, set. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid =S0873‑74442010000200002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 31 jul. 2015. A ocupação é ligada à topografia (relevo, solos) e à hidrografia (cursos d’água) e as paisagens são basicamente caracterizadas pelo relevo, tanto original quanto aquele que já foi transformado. “Se é alto ou baixo”, “subida ou descida”, “se o rio é veloz ou lento”; eis os altos e baixos do terreno que todo mundo, se não vê, sente. As sociedades estabelecem‑se nos lugares adaptando‑se, interferindo de muitas maneiras, solucionando problemas e satisfazendo necessidades; a isso se dá o nome de territorialização dos processos sociais. É gênese mais ou menos comum dos bairros e aldeamentos urbanos. Tal reflexão torna‑se fundamental, dado que planejadores e projetistas, quase sempre tão afeitos a critérios essencialmente econômicos, costumam modelar geometricamente essa estrutura original, vendo linhas retas, quadrados e círculos (formas perfeitas) onde não existem, originalmente. É mais 86 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 Unidade III difícil lidar (gerenciar) com a realidade diversa do que inventar uma outra, iludindo‑se com a aparente facilidade das matemáticas. O técnico, como o gestor, tem horror ao variado, nesse caso o não geométrico é tido como irregular, acidentado, numa desvalorização da natureza, daí o urbanismo a serviço da racionalização da natureza. Nasce, assim, um mundo tecnicamente distanciado das tais formas originais (um meio técnico científico informacional, segundo Milton Santos (1996): uma colina vira uma ladeira; um vale vira uma avenida; um rio vira canal; o ar vira atmosfera; uma várzea vira área de risco quando alaga; uma árvore em frente a uma loja vira estorvo. Ah, também tem aquela de que folhas no chão são sujeira – verdadeiro, no caso da cimentação generalizada dos pisos da cidade. É importante que se diga que a consideração sistêmica da natureza leva ao tratamento das coisas como unidades planetárias; assim é, resumidamente, com as estruturas geológicas (cadeias, placas tectônicas), com o sistema atmosférico (circulação de ar, ventos e correntes continentais) e com as correntes marinhas que, para serem compreendidas/entendidas, torna‑se necessário estudar os oceanos, além dos ecossistemas em sua biodiversidade não serem estritamente locais, posto que todos esses sistemas sejam abertos. Temos, assim, o uso da ecologia subordinada aos interesses dos investidores, não do humano de modo geral. É o negócio com o ambiente, sem preocupação ambiental, que anima os modelos trazidos no tópico anterior, bem como as metodologias de diagnóstico ambiental e seus instrumentos (Avaliações de Impacto Ambiental, a reciclagem como negócio, a ideia de pegadas ecológicas). Os sistemas e cadeias produtivas uniformizadoras e concentradoras, convencionais, com sua economia e tecnologia “duras” derivam dessa concepção. 5.1 Metodologias de diagnóstico e prognóstico socioambiental 5.1.1 Avaliação de Impacto Ambiental – AIA Instrumento de política ambiental, formada por um conjunto de procedimentos capaz de assegurar, desde o início do processo, que se faça um exame sistemático dos impactos ambientais de uma ação proposta (projeto, programa, plano ou política) e de suas alternativas, e que os resultados sejam apresentados de forma adequada ao público e aos responsáveis pela tomada de decisão, e por eles considerados. Além disso, os procedimentos devem garantir a adoção das medidas de proteção do meio ambiente determinadas, no caso de decisão sobre a implantação do projeto (BARBIERI, 2010, p. 98). 5.1.2 Metodologias de Diagnóstico Socioambiental A avaliação de impacto ambiental é um dos instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente, cuja implementação, sem dúvida, implicará livre acesso às informações sobre o empreendimento, quanto ao envolvimento 87 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 SOCIOLOGIA RURAL E URBANA e à participação da comunidade nas decisões governamentais. A AIA, de caráter preventivo, tem como objetivo principal subsidiar a decisão do órgão público como instrumento de gestão ambiental (SEIFFERT, 2007, p. 161). 5.1.3 Componentes e objetivos da AIA Dentre os componentes da AIA, há de se destacar o EIA (Estudo de Impacto Ambiental), instrumento de decisão técnica, que no Brasil visa subsidiar o licenciamento ambiental. Está incluído no EIA que este deve discriminar todos os aspectos técnicos da atividade que se quer licenciar, é, portanto, onde este deve estar inserida a análise de risco. O segundo componente neste processo, que também tem o amparo legal e formal é o Rima (Relatório de Impacto Ambiental). Este tem objetivo claro e explícito; é o documento escrito ao qual a população tem acesso, para entender a razão da atividade a ser implantada. O teor do EIA e Rima deve ser substancialmente o mesmo, mas a linguagem pode ser diferente (BARBIERI, 2007, p. 281). 5.1.4 Estudo de Impacto Ambiental – EIA É um dos elementos do processo de avaliação de impacto ambiental. É o instrumento constitucional da política ambiental. É obrigatório para todas obras e atividades cuja instalação possa provocar significativo impacto ambiental. No país, o EIA não é exigido para planos programas e a própria ordenação do território. Apenas estão sendo elaborados individualmente de acordo com cada empreendimento. O EIA deve conter no mínimo o diagnóstico ambiental da área, a descrição da ação proposta e suas alternativas, a identificação, análise e previsão dos impactos significativos, positivos e negativos. O resultado do estudo constitui o Relatório de Impacto do Meio Ambiente, acessível ao público e custeado pelo proponente do projeto (BARBIERI, 2007, p. 281). 5.1.5 Roteiro básico para a elaboração do EIA Para a elaboração do EIA, devem ser observados: • Informações gerais. • Caracterização do empreendimento. • Área deinfluência. • Diagnóstico ambiental da área de influência. 88 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 Unidade III • Qualidade ambiental. • Fatores ambientais: meios físico, biológico, antrópico. • Análise dos impactos ambientais (descrição e síntese). • Proposição de medidas mitigadoras. • Programa de monitoramento dos impactos ambientais. 5.1.6 Relatório de Impacto Ambiental – Rima Relatório de Impacto Ambietal – Rima é o documento que apresenta resultados dos estudos técnicos e científicos de avaliação de impacto ambiental. O Rima deve conter os objetivos e justificativas do projeto e sua relação e compatibilidade com as políticas setoriais; a descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais; a síntese dos resultados dos estudos de diagnóstico ambiental; a descrição dos prováveis impactos da implantação e operação da atividades; a caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência do projeto; a descrição dos efeitos esperados das medidas mitigadoras em relação aos impactos negativos; o programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos e a recomendações quanto à alternativa mais favorável (BARBIERI, 2007, p 297). 5.1.7 Diagnóstico ambiental e prognóstico O diagnóstico ambiental é a descrição e análise dos recursos ambientais e suas interações, tal como existem, de modo a caracterizar a situação ambiental da área, antes da implantação do projeto (CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE, 1986). Já o prognóstico é: O conjunto de ações que servirão na análise dos impactos ambientais do projeto e suas alternativas, através da identificação da magnitude e interpretação da importância dos prováveis impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos (benéficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longos prazos, temporários e permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades cumulativas e sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios sociais (CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE, 1986). 89 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 SOCIOLOGIA RURAL E URBANA 5.1.8 Impactos Os tipos de impactos ambientais são os seguintes: • Positivo – melhoria da qualidade de um fator ou parâmetro ambiental. • Negativo – dano à qualidade de um fator ou parâmetro ambiental. • Direto – relação simples de causa e efeito. • Indireto – resultante de ação secundária em relação à ação ou quando parte de uma cadeia de reações. • Local – no próprio sítio e imediações. • Regional – impacto se faz sentir além do sítio da ação. • Estratégico – componente ambiental tem relevante interesse coletivo ou nacional. • Imediato – efeito no instante em que se dá a ação. • Médio ou longo prazo – Impacto manifestando‑se certo tempo após a ação. 5.1.9 Metodologias de diagnóstico socioambiental Os impactos são: • desmatamento; • danos à fauna; • destruição de ecossistemas importantes; • modificação na topografia; • erosão do solo; • impermeabilização do solo; • alterações hidrológicas; • lançamentos de resíduos sólidos, líquidos e gasosos na forma de energia; • emissão de ruídos; • mudanças globais: efeito estufa, destruição da camada de ozônio. 90 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 Unidade III 5.1.10 Metodologia GUT A metodologia GUT foi desenvolvida para orientar decisões mais complexas e que envolvam muitas questões, já que a mistura de problemas geralmente gera confusão e, neste caso, é necessário separar cada impacto observado que tenha sua causa própria. Num primeiro momento, a palavra “urgência” pode ser confundida com “prioridade”, assim é preciso separar os problemas que tenham causa própria para depois aplicar três perguntas básicas da matriz para cada um deles. Para qualificar os impactos, atribuem‑se notas às perguntas que variam de 1 a 5. O resultado final é obtido multiplicando‑se as notas. Assim, o máximo de pontos ou a prioridade maior equivaleria a 125 pontos (tabela a seguir). Evidentemente, este método encerra certa subjetividade, mas pode ser aplicado em situações emergenciais. Perguntas a serem elaboradas para a construção da matriz GUT: • Qual é a gravidade do impacto? • Qual é a urgência de se eliminar o problema? • Qual é a tendência do impacto e seu potencial de crescimento? Tabela 4 – Matriz GUT Valor Gravidade Urgência Tendência G x T x U 5 Os prejuízos e as dificuldades são extremamente graves É necessária uma ação imediata Se nada for feito a situação irá piorar rapidamente 125 4 Muito graves Com alguma urgência Vai piorar em pouco tempo 64 3 Graves O mais cedo possível Vai piorar a médio prazo 27 2 Pouco graves Pode esperar um pouco Vai piorar a longo prazo 8 1 Sem gravidade Não tem pressa Não vai piorar e pode até melhorar 1 Fonte: Bastos (2014). 5.1.11 Metodologia GEO Cidades Indicadores: mensuram a informação, de maneira que seu significado torna‑se mais imediatamente aparente, e simplificam a informação sobre fenômenos complexos, de maneira a facilitar a comunicação. 91 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 SOCIOLOGIA RURAL E URBANA Pressão Atividades humanas, comércio, turismo... Impacto O efeito disso sobre o meio ambiente e a vida humana Resposta Respostas individuais e/ ou coletivas Estado Estado ou condições do meio ambiente Figura 10 – Matriz PEIR de análise do fenômeno ambiental Critérios para a seleção de indicadores: • consistência política – utilidade para o usuário; • consistência analítica; • mensurabilidade; • fácil compreensão; • confiabilidade; • disponibilidade; • transversalidade/universalidade. 5.1.12 Modelo de trabalho de levantamento de dados para diagnóstico e prognóstico socioambiental de áreas urbanas e rurais – Junção das Ciências Sociais e Ambientais O Instrumento didático de diagnóstico e prognóstico ambientais tem como escopo captar o estado de degradação socioespacial dos lugares, o que requer caracterização dos usos territoriais (história do envolvimento do ser humano com o ambiente) e do sentido socioespacial da ocupação humana, considerando suas consequências nas áreas estudadas. Os aspectos físicos e biológicos do território, como relevo, cursos d’água, fauna e vegetação, em linhas gerais, são os recursos às atividades; já os aspectos culturais do território são a história da conformação das paisagens. 92 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 Unidade III Os objetivos na descrição da área de estudo são as escalas metropolitana e intraurbana (cartografia de base e temática). Deve‑se observar, sentir e perceber os lugares visitados como conjuntos, e suas formas e funções dinâmicas como ambientes naturais culturalmente transformados pelas atividades sociais. Alguns dos aspectos geográficos são: topografia (formas de relevo e associações), hidrografia (formações d’água), pedologia (solos), além da vegetação, e fauna eventual, entre outros, bem como as interações entre o meio e os grupos sociais, baseados no conceito de território (organização do espaço). É necessário enfatizar a conexão, a interação entre os todos os elementos, vistos ou apenas inferidos em sua história como paisagens (seres vivos, objetos técnicos, obras de saneamento básico e ambiental, por exemplo; qualquer coisa que pareça merecer atenção!). Políticas, leis e decretos estão presentes nas paisagens observadas; portanto, deve‑se procurarsinais, indícios de sua presença na organização da ocupação. É preciso exercitar, então, a decomposição e a recomposição das paisagens em unidades com certas identidades com vistas à análise e intervenção, cartografando‑as, de modo a espacializar, classificar e enumerar os elementos vistos. Descrição das relações entre processos sociais de ocupação do ambiente, organização do território e paisagens – temas de pesquisa dos grupos. 5.1.13 Abordagem estrutural com registro cartográfico Quanto à abordagem estrutural, apresentamos a seguinte classificação: • Aspectos físicos: — Relevo, córregos, rios e canais (geomorfologia, topografia e relevo) e (hidrografia, cursos d’água em geral). Aqui, deve‑se definir, representar e descrever as características físicas básicas das áreas, de modo a relacionar os planos de análise e percepção e os territórios no momento atual (GEO Cidades: Pressão – momento da Matriz PEIR). — O ar na cidade (climatologia, condições atmosféricas em geral, matéria particulada e “audiometria regional”, além das características visuais, sonoras, palatais e olfativas). Deve‑se definir, representar e descrever as características básicas da área, de modo a relacioná‑las ao território no momento atual (GEO Cidades Pressão – momento da Matriz PEIR) • Aspectos biológicos: — “Organismos na cidade” (distribuição da vegetação, da fauna eventual, vida micro e macroscópicas). Aqui, deve‑se descrever e representar a vida do ponto de vista da biologia 93 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 SOCIOLOGIA RURAL E URBANA básica da área, de modo a relacioná‑las ao território. Estão incluídas as áreas de uso coletivo, como ruas, parques, praças, largos etc. (GEO Cidades Pressão – momento da Matriz PEIR). • Aspectos culturais: — Descrição geral da paisagem: a relação da sociedade com o ambiente, com ênfase na história da ocupação da área (história da ocupação da região e problemas socioambientais provindos dessa relação). Problemas da ocupação da região, na forma e no conteúdo, como distribuição de resíduos sólidos, habitação, circulação de pessoas e coisas, sem‑teto etc. (GEO Cidades: Pressão e estado – momento da Matriz PEIR). — Impactos de grandes empreendimentos. Aqui, deve‑se definir, representar e descrever a noção de impactos ambientais, sua incidência na região, além da visão dos afetados direta ou indiretamente por eles. (GEO Cidades: estado e impactos – momento da Matriz PEIR). — Projetos e programas públicos (e privados) para a área, com vistas à consecução de urbanização sustentável. Aqui, deve‑se definir, representar e descrever alguns dados sobre programas disciplinadores do uso do espaço, sobre a espacialização da legislação e diretrizes gerais e atividades permitidas, zoneamento e equipamento (GEO Cidades: respostas – momento da Matriz PEIR). Na elaboração do trabalho, atenção com os vestígios históricos e os processos geoecológicos. 5.1.14 Recomendações para o trabalho de campo e de compilação No trabalho de campo e de compilação, deve‑se: • Observar todo o ambiente, as paisagens e seus movimentos! • Anotar tudo, para permitir contextualizar elementos e dados, e não deixá‑los soltos. • Localizar os lugares e os fatos marcantes mediante o uso de croquis e mapas. • Relacionar entre si todos os elementos vistos. • Associar os objetos e as ações percebidos com tudo aquilo que já conheça, referenciando‑os. 5.1.15 Bibliografia sugerida como apoio (anexos) Citamos: • Projetos, programas institucionais, além da legislação ambiental pertinente. • Bibliografia sobre o sistema hidrográfico, especificamente sobre a bacia local. 94 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 Unidade III • Textos sobre ecologia urbana, geografia, biologia, urbanismo. • Atividades propostas pelos demais docentes do curso 5.1.16 Recomendações para a apresentação em xx/xx/20xx Apresentação dos trabalhos: levantamento de campo e pesquisa em fontes secundárias – organização dos grupos, cronograma de apresentação dos trabalhos. 5.1.17 Apêndice Confeccionar “Caderno de Campo” do grupo com as seguintes características: • tamanho adequado às representações cartográficas, iconográficas, dos dados em geral; • objetivos e justificativa da coleta de material, por página ou tema; • articulação entre as linguagens/mídias (presentes, resumidas, citadas etc.); • variação escalar: ensaios sobre a escala ideal de análise e representação dos processos; • registro do desenvolvimento do trabalho, com vistas das atividades parciais (podendo liberar o grupo da prova individual). Exemplo de aplicação Seguindo as diretrizes do modelo de levantamento de dados para diagnóstico e prognóstico socioambiental, reflita sobre o exercício a seguir, cuja finalidade é nos colocar em uma situação de pesquisa profissional. Questão para debater em pequenos grupos e registrar os resultados: Um exercício bastante didático por contrastar duas percepções: a do técnico, especialista e mesmo a do cientista que estuda, planeja e gerencia os problemas; e aquela do morador, do habitante que as vivencia. O principal aqui é a sensibilização, principalmente para o que é novo, para o que é desconhecido. Os alunos são estimulados a observarem o quadro a seguir acompanhado por um excerto do texto. É muito simples o que devemos fazer: no quadro a seguir, há duas colunas que nos interessam – a primeira e a terceira – elas apresentam numerações discrepantes entre a hierarquização inicial das variáveis. A primeira coluna foi estabelecida pelos técnicos e pesquisadores, e a segunda é resultante de discussão em plenária (com os envolvidos, além dos técnicos e pesquisadores), ou seja, as duas colunas são diferentes. Então, com base na análise do quadro e na leitura do trecho do texto de Akerman, reflita sobre as asserções a seguir: 95 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 SOCIOLOGIA RURAL E URBANA Deve‑se dirigir as observações e os comentários para as constatações de que: • a primeira coluna do quadro a seguir é prevista pela equipe técnica e tudo indica seu desconhecimento e falta de experiência pessoal das carências das áreas estudadas; • enquanto a segunda coluna apresenta a síntese das discussões entre os técnicos e os habitantes (senso comum fundamental por levar vida à ciência), hierarquiza os números de modo que os valores das variáveis mudam conforme se vivenciam os problemas e a carência não é apenas estudada, mas vivida. O trecho a seguir ampara o raciocínio: A fim de se decidir quais variáveis deveriam ser incluídas no índice de carência a ser usado no município de São Paulo, organizou‑se um seminário com a participação de planejadores de doze instituições públicas municipais e estaduais. Foram formados dois grupos de trabalho e utilizando o método “técnica de Delfos”, procedeu‑se a escolha de cinco variáveis. Estas foram escolhidas a partir de uma lista de variáveis obtidas dos documentos e estudos disponíveis em São Paulo, as quais têm sido associadas em estudos internacionais e locais como indicadores de carência social e de ambiente. Esta lista, que não se pretendeu que fosse completa, representava um amplo espectro de possibilidades tendo como critério a disponibilidade da informação. Cada participante, baseando‑se nas discussões de grupo, ordenou essas variáveis de acordo com sua própria opinião sobre quais seriam as melhores preditoras de carência social. Dois critérios foram sugeridos para a escolha das variáveis. O primeiro, a validade da variável, isto é, a sua relevância ou importância como medida de carência em São Paulo;e o segundo, a confiabilidade da variável, que poderia ser definida como uma medida de qualidade do dado, ou em outras palavras, “se podemos confiar na informação gerada pelo indicador”. Uma vez completado este exercício, todos os formulários foram computados, e foi produzida uma classificação geral das variáveis. Discutiu‑se em plenária esta classificação, e foi facultada aos participantes a revisão da lista preliminar. Terminado este exercício, foram apresentadas as cinco variáveis que irão compor o índice de carência a ser usado pelo projeto. A tabela apresenta a classificação final de todas as variáveis (AKERMAN et al, 1994, p. 323‑4). 96 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 Unidade III Quadro da classificação de todas as variáveis: Quadro 2 Nº Indicadores Classificação 1 Renda familiar per capita ‑> 1 2 Acessibilidade ao emprego 8 3 Proporção de população não economicamente ativa 11 4 Abastecimento de água 6 5 Consumo de água per capita ‑> 4 6 Rede de esgoto ‑> 3 7 Percentagem de população analfabeta e com primário incompleto ‑> 2 8 Padrão da área construída 9 9 Erosão e inundação 12 10 Sexo do chefe da família 10 11 Número de pessoas por domicílio ‑> 5 12 Metros quadrados de construção per capita 7 13 Proporção de migrantes 13 Fonte: Akerman (1994). Observação É muito importante entrar no espírito do exercício proposto anteriormente, pois sua principal característica é promover uma revisão de posições unilaterais, quando confrontadas com aquelas do público que se está estudando e em cuja realidade se vai interferir. É uma ótima lição para o jovem pesquisador tomar consciência do respeito acadêmico e profissional. 6 CIDADANIA SELETIVA PARA OS HABITANTES DOS ESPAÇOS RURAL E URBANO: O PESO DA NORMA E AS SAÍDAS PELA CULTURA A taberna. Ponto nevrálgico de vida social. O que você acha da taverna? Se esta pergunta fosse dirigida a uma centena de pessoas selecionadas aleatoriamente, não seria certamente pejorativa uma enorme percentagem de respostas. A taberna? Para a maioria das pessoas, incluindo aqueles que a frequentam, é um lugar enfumaçado, muito pouco recomendável, onde as pessoas vão para fugir na bebida. A palavra tem mau aspecto e o lugar, reputação insalubre. No entanto, a experiência dos novos bairros urbanos nos obriga a reconsiderar a questão. Na maior parte dos novos bairros, grandes ou pequenos, os técnicos de boa vontade fizeram desaparecer, como inúteis e supérfluos, o café e também a rua. Estes técnicos obedeceram, sem saber bem, imperativos morais ou filosóficos que os fatos terminariam 97 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 SOCIOLOGIA RURAL E URBANA por refutar. O remédio para os males que queriam combater – contra o alcoolismo, perda de tempo – revelou‑se pior do que a doença. Nestes novos bairros, a vida social apequenou‑se e deteriorou‑se singularmente. As pessoas mergulharam em sua privacidade, não sem reclamar do incômodo no seio da própria vida familiar, pelo ruído e pelo quase desaparecimento das tradicionais relações de vizinhança, vizinhança de imóveis algumas vezes demasiado homogêneos, outros demasiado heterogêneos. Em suma, apesar do relativo conforto das acomodações, esses homens e mulheres não são felizes. Aborrecem‑se sem admitir ou confessar (LÉFÈBVRE, 1978, p. 135, tradução nossa). Há uma cidadania formal e real para os habitantes dos espaços rural e urbano. Há expectativa de acesso ao consumo e uma idealização de cidadania na base da socialização e das demais relações entre os agentes concretos, com o agravante do terrivelmente veloz envelhecimento direcionado, seletivo dos objetos e das ideias. O conceito de lugar presente no segundo tópico veio com a vivência, que é uma certa consciência da existência, e com a pesquisa, transformando‑se, na passagem do mundo indeterminado para o determinado, em objeto empobrecido da ciência; transição da totalidade de possíveis para a totalidade ao modo do meio técnico‑científico informacional, de Milton Santos, totalidade considerada no seu movimento estrutural e nas intencionalidades; também da vida cotidiana normatizada, estudada por Henri Léfèbvre (1981). Tal normatização é importante quando se tenta entender os labirintos de verdadeiras experiências comportamentais a que somos lançados pela educação de modo geral, pelo marketing, pelas campanhas publicitárias. Claro que a vida cotidiana dá‑se em meio a atavismos, entretanto, é, também, lugar de evidências. Para H. Léfèbvre (1981), considerando toda a turbulência factual e cognitiva dos primeiros anos do século XX, e a despeito de todas as mudanças da modernidade, haveria continuidades, e o cotidiano é tido por ele como lugar das permanências, que reforçariam nossa ênfase na atitude natural ou mundana da vida. Indo mais longe, pondo a utopia em perspectiva, poderia‑se propor a construção de uma cidade lúdica, uma cidade modelo, cujo centro, o núcleo essencial, seria dedicado a jogos de todos os tipos, sendo também a cultura vista como um grande jogo. No centro, tudo que é próprio ao esporte, ao jogo, desde jogos de azar até jogos sérios, teatro dramático naturalmente, realizando uma realidade que existia na cidade velha. Em torno deste núcleo, poderia ter elementos residenciais, divertimento, trabalho, as empresas. Uma cidade da ficção científica. Ainda se pode ir mais longe. Tente imaginar uma cidade onde a vida diária seria completamente transformada, onde os homens seriam donos da sua vida quotidiana que transformariam à sua vontade, seriam livres no que diz respeito à cotidianidade, dominando‑a completamente (LÉFÈBVRE, 1978, p. 145, tradução nossa). 98 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 Unidade III 6.1 Cidadania seletiva para os habitantes dos espaços rural e urbano: o peso da norma As práticas socioespaciais e percepções dirigidas pelo cotidiano normalizado envolvem tensão, e posteriormente veremos as reações dos afetados, que ocorrem por meio de movimentos e organizações sociais e manifestações políticas: multiplicidade de projetos. Isto, tanto no campo com a agricultura familiar diante das novas ruralidades e a reconstrução dos espaços rurais planificados para a produção extrovertida, quanto na cidade com a industrialização e, depois, com a imensa complexidade da oferta de serviços, como já foi apresentado com as referências ao trabalho de R. L. Corrêa. Nesse cenário, Santos (1978), em texto intitulado “A totalidade do diabo” ajuda‑nos a entender criticamente os núcleos difusores das transformações sociais ou modernizações, os motores das inovações. Temos que nos perguntar: o que aconteceu com os vínculos homem‑natureza? Vínculos e geograficidades... No campo, tais vínculos sempre foram estereotipados e representados em tons de idílio e de engessamento da dinâmica histórica das relações e dos papéis sociais dos agentes (arte e senso comum). É um percurso geográfico e sociológico que vai do mito, da labuta mítica ou labor contínuo, às técnicas de distanciamento das coisas nas cidades, mais ou menos como vimos olhando para essa relação com Raymond Williams (apud SANTOS, 1978). A questão posta logo na introdução do texto (SANTOS, 1978, p. 53) é se “podem os objetos geográficos desempenhar um papel instrumental, levando a efeito transformações na sociedade”? Ao que o autor passa à argumentação de que as tais transformações são algo como inovações de estilo dos processos capitalistas de dominação de territórios; uma espécie de metamorfose do planejamento da década de 1950, subordinador das formações socioeconômicas. Para tanto,Milton Santos (1978), na mesma obra, recorre ao arcabouço teórico da geografia nova que vinha formulando junto aos fatos vivenciados nos países em que estava trabalhando, mais especificamente, Venezuela e Tanzânia. Aponta a reificação dos objetos, como aquela realizada por Schumpeter (apud SANTOS, 1978), para quem estes/os mesmos seriam, eles próprios, os difusores de mudanças. Mostra o equívoco da interpretação da realidade a partir da consideração das categorias de estrutura, processo, função e forma, que permitiriam tratar dos tais objetos como portadores de seu contexto e conteúdo social; estes, sim, difusores das inovações. Seu raciocínio, no artigo, é apresentado da seguinte maneira: as formas como ferramenta do capital. As classificações são elas mesmas instrumentos de dominação, demonstrações de poder – o que é patente já nas denominações de subdesenvolvimento e atraso, maquiadas de atributos de cientificidade. Fica claro de que planejamento se está tratando: aquele a serviço das forças dominantes/hegemônicas do capitalismo. Daí, que suas estratégias carreguem seus desígnios, através das formas espaciais, por 99 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 SOCIOLOGIA RURAL E URBANA exemplo. Refere‑se a elas, em sua potencialidade, como “cavalos de Tróia”, e, como tais, intentam mudar as estruturas das formações socioeconômicas em que são implantadas. É este o ardil que suplanta a visibilidade explícita do planejamento que substitui. Dois seriam os atributos principais dessas formas, vislumbradas no momento em que escreve o trabalho (meados da década de 1970): um valor agregado crescente, além de maior especialização, o que resulta, parece, em certa fixidez no território, no caso do primeiro, dificultando sua apropriação por outros sujeitos e ações, que não as projetadas, da parte do segundo. Isso (a instalação dos objetos) se daria de modo mais sutil com relação aos resultados, quando comparado ao planejamento antecedente e, também, não necessitaria tocar na estrutura socioespacial dos países. Saiba mais Pode‑se perceber tais processos no filme a seguir: ADEUS, Lênin! Dir. Wolfgang Becker. Alemanha. 2003, 121 minutos. São três os mecanismos viabilizadores dessas mudanças: • Novas formas, geradoras de novas funções. • Substituição e alterações das formas para responderem mais velozmente aos processos necessários à reprodução ampliada do capital. • Projetos. Descreve o processo que virá a denominar “verticalidades” (de uma temporalidade e totalidade para outra). Este tema, o das formas espaciais instaladas no território, será pormenorizado por Milton Santos em seu último trabalho Brasil: Território e Sociedade no Século XXI, de 2002. 6.2 A ação sobre o mundo rural Milton Santos deixa clara sua posição sobre a Reforma Agrária, tantas vezes reiterada, alertando para sua finalidade verdadeira. Lembra que a propriedade da terra é forma e que agregar capital à agricultura é a verdadeira razão dos programas de ajuda. As duas estratégias de planejamento envolvendo a tecnologia são: • integração da produção agrária ao capitalismo global; • da reprodução simples e ampliada do capital à intensificação da concentração de capital (SANTOS, 2002). 100 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 Unidade III 6.3 A ação sobre o meio urbano Ao tratar das ingerências do Banco Mundial na realidade desrespeitada dos povos, interessante considerar os comentários de H. M. Enzensberger em seu livro Mediocridade e Loucura, de 1995, no capítulo “Bilhões de todo mundo, uni‑vos”. Alguns elementos nesse processo de desorganização para reorganização modernizante são, conforme o autor, projetos habitacionais, estruturas montadas para “extrair sobrevalor gerado pelos pobres”. A grande crítica é dirigida ao uso das formas como instrumentos dessa acumulação e dominação (SANTOS, 2002). 6.4 A fenomenologia do espaço, a totalidade do diabo e a sensação das perdas Milton Santos (2002) também expõe sua argumentação sobre o movimento espacial da história (e das categorias na história) para explicar as formas‑conteúdo e, com essa noção, explicar o movimento aludido (SANTOS, 2002). Quanto à sensação das perdas, o autor apresenta: • Movimentos culturais e ocupação de espaços por diferentes grupos (agregados por idades, renda, representações, procura por lazeres, entre outros motivos). • A expectativa de consumo e ideal de/sombra da cidadania na base das relações entre os agentes concretos; o envelhecimento direcionado dos objetos e das ideias. • Fragmentação do fazer, de sua inteligência e do conhecimento do corpo todo. • Relações sociotécnicas e cultura: mudanças nas relações sociais globais/do conjunto social, na relação com a terra, nos vínculos sociais a ela e ao produto do trabalho, transformando‑se os rituais. Saiba mais As imagens e o imaginário interferem na visão que se tem de si, individualmente, em grupos, de modos diferentes, e de quem vê o lugar de fora. É assim que o texto de Hobsbawm trabalha a ideia do tipo, do caubói como personagem “americano” (estadunidense) em sua universalidade. HOBSBAWM, E. O caubói americano: um mito internacional? In: ___. Tempos fraturados. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. 101 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 SOCIOLOGIA RURAL E URBANA 6.5 Movimentos diferentes, contrariedades ao modelo único do capitalismo global Italo Calvino (1994), em Marcovaldo ou As Estações na Cidade, mostra a fruição e os usos que a personagem Marcovaldo faz da cidade, em geral, e da praça, em particular, que é sempre possível ver além do texto imposto, da ordem imposta como norma. Ele vê coisas em todos os lugares por onde passa, coisas que ninguém vê! É um belo exercício de percepção e lirismo. Segue trecho do posfácio sobre o curioso personagem em sua busca incessante de migrante no lugar atual (uma grande cidade) por elementos que ficaram para trás (as coisas do campo). As estações da cidade O livro Marcovaldo ou As Estações na Cidade se compõe de vinte contos. Cada conto é dedicado a uma estação; o ciclo das quatro estações se repete, portanto, cinco vezes no livro. Todos os contos têm o mesmo protagonista, Marcovaldo, e seguem mais ou menos o mesmo esquema. O volume foi publicado pela primeira vez em 1963, em Turim, pela editora Einaudi, com ilustrações de Sergio Tofano. O texto de apresentação (escrito provavelmente pelo autor) dizia: “Dentro da cidade de concreto e asfalto, Marcovaldo vai em busca da Natureza. Mas ainda existe a Natureza? A que encontra é uma Natureza ardilosa, falsificada, comprometida com a vida artificial. Personagem engraçada e melancólica, Marcovaldo é o protagonista de uma série de fábulas modernas” que – dizia mais adiante a mesma apresentação – “se mantêm fiéis a uma estrutura narrativa clássica: a das histórias em quadrinhos das revistas infantis”. O perfil do protagonista é apenas esboçado: é uma alma simples, um pai de família numerosa, trabalha como ajudante de pedreiro ou carregador numa firma, é a derradeira encarnação de uma série de cândidos heróis joão‑ninguém, ao estilo de Charlie Chaplin. Com uma particularidade: a de ser um “Homem da Natureza”, um “Bom Selvagem” exilado na cidade industrial. De onde ele veio, de que lugar sente saudade, isso não é dito; poderiam defini‑lo como um “imigrado”, embora essa palavra nunca apareça no texto; mas a definição talvez seja imprópria, porque todos nesses contos parecem “imigrados” num mundo estranho do qual não se pode fugir. A melhor apresentação da personagem está no primeiro conto: “Esse Marcovaldo tinha um olhopouco adequado para a vida da cidade: avisos, semáforos, vitrines, letreiros luminosos, cartazes, por mais estudados que fossem para atrair a atenção, jamais detinham seu olhar, que parecia perder‑se nas areias do deserto. Já uma folha amarelando num ramo, uma pena que se deixasse prender numa telha não lhe escapavam nunca: não havia mosca no dorso de um cavalo, buraco de cupim numa mesa, casca de figo se desfazendo na calçada que Marcovaldo não observasse e comentasse, descobrindo as mudanças da estação, seus desejos mais íntimos e as misérias da existência”. 102 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 Unidade III Essas palavras podem servir de apresentação tanto da personagem quanto da situação comum a todos os contos, situação que poderia ser sintetizada da seguinte maneira: no meio da grande cidade, Marcovaldo 1) procura o revelar‑se das estações nas alterações atmosféricas e nos mínimos sinais de vida animal e vegetal, 2) sonha a volta a um estado de natureza, 3) enfrenta uma decepção inevitável. Os contos às vezes seguem esse esquema na forma mais simples, justamente como histórias em quadrinhos (assim os mais breves: “Cogumelos na cidade”, “O pombo municipal”, “O tratamento com vespas” etc.), com a surpresa no quadrinho final (aliás, surpresa ruim, porque esses contos se parecem com aquelas historinhas cômicas “sem palavras” que inevitavelmente acabam mal), às vezes como pequenos contos amargos, quase realísticos (como “A marmita”, “Ar puro”, “Uma viagem com as vacas”), e finalmente como contos em que estado de alma e paisagem prevalecem (como a solidão do animal em “O coelho venenoso” ou o desnorteamento na neblina em “O ponto errado”). Talvez para salientar o caráter de fábula, as personagens dessas pequenas cenas de vida contemporânea – sejam elas varredores, guardas‑noturnos, desempregados, carregadores – possuem nomes pomposos, medievais, quase de heróis de poemas de cavalaria, começando pelo protagonista. Apenas as crianças têm nomes normais, talvez porque apenas elas são mostradas como são, e não como caricaturas. A cidade não é nomeada nunca; por alguns aspectos poderia ser Milão, por outros (o rio, os morros) pode‑se reconhecer Turim (a cidade onde o autor passou grande parte da sua vida). Sem dúvida, essa indeterminação é procurada pelo autor para significar que não se trata de uma cidade, mas da cidade, uma metrópole industrial qualquer, abstrata e típica como abstratas e típicas são as histórias contadas. Mais indeterminada ainda é a firma, a fábrica onde Marcovaldo trabalha: nunca conseguimos saber o que é fabricado ali, o que é vendido sob a misteriosa sigla SBAV, o que contêm as caixas que Marcovaldo carrega e descarrega oito horas por dia. É a firma, a fábrica, símbolo de todas as firmas, todas as fábricas, as sociedades anônimas, os logotipos que reinam sobre as pessoas e as coisas do nosso tempo. Em contraste com a simplicidade quase infantil do enredo de cada conto, a postura estilística se baseia na alternância de um tom poético‑rarefeito, quase precioso (a que a frase tende, sobretudo quando alude a fatos da natureza), e do contraponto prosaico‑irônico da vida urbana contemporânea, das misérias pequenas e grandes da vida. Diríamos, aliás, que o espírito do livro está essencialmente nesse contraponto estilístico: ele está presente até nos contos com enredo mais breve e elementar, concentrando‑se às vezes na primeira frase, que tem a função de introduzir o tema da estação (“O vento, vindo de longe para a cidade, oferece a ela dons insólitos, dos quais se dão conta somente poucas almas sensíveis, como quem sofre de febre de feno e espirra por causa do pólen de flores de outras terras”). Em outros contos, ao contrário, ainda que o enredo não seja nada mais que a série habitual de quadrinhos, cada detalhe é pretexto para um trecho de elaboração estilística requintada 103 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 SOCIOLOGIA RURAL E URBANA (por exemplo, em “Férias num banco de praça” a comparação entre a cor da lua e a do semáforo amarelo). Chega‑se assim aos contos em que o requinte da prosa corresponde a uma invenção narrativa quase igualmente elaborada, como na multicolorida visão final de “A chuva e as folhas”, ou, resultado ainda mais complexo, no início de “O jardim dos gatos obstinados”, em que vemos a cidade das empreiteiras engolir a “cidade dos gatos”, que constituía também para os homens o verdadeiro espaço vital. Um fundo de melancolia tinge o livro do começo ao fim. Poderíamos dizer que, para o autor, o esquema das historinhas cômicas é apenas o ponto de partida e que, ao desenvolvê‑las, ele se entregou a uma sua veia lírica amarga e dolorida. Mas Marcovaldo, apesar de todas as derrotas, nunca é um pessimista; está sempre pronto a redescobrir, dentro do mundo que lhe é hostil, a fresta de um mundo feito à sua medida; ele nunca se rende, está sempre pronto a recomeçar. Sem dúvida, o livro não convida a uma postura de otimismo superficial: o homem contemporâneo perdeu a harmonia entre ele e o ambiente onde vive, e superar essa desarmonia é uma tarefa árdua; as esperanças fáceis demais, idílicas, sempre se revelam ilusórias. Mas a postura que domina é a da obstinação, da não resignação. Podemos agora definir melhor a posição deste livro frente ao mundo que nos cerca. É a nostalgia, a saudade de um idílico mundo perdido? Uma leitura nessa chave, comum a tanta literatura contemporânea que condena a desumanização da “civilização industrial” em nome de um sentimento nostálgico do passado, certamente é a mais fácil. Mas, observando com maior atenção, vemos que aqui a crítica à “civilização industrial” é acompanhada de uma crítica igualmente decidida a todo sonho de “paraíso perdido”. O idílio “industrial” é alvejado tanto quanto o idílio “campestre”; não apenas uma “volta atrás” na história é impossível, mas também aquele “atrás” nunca existiu, é uma ilusão. O amor de Marcovaldo pela natureza é aquele que pode nascer apenas num homem da cidade; por isso não podemos saber nada da sua origem extraurbana; esse estranho à cidade é o cidadão por excelência. [...] Fonte: Calvino (1994, p. 137‑40). Saiba mais Dentre os inúmeros trabalhos sobre cidades sustentáveis, destacamos o texto de Cecília Polacow pelo espectro de países com que trabalha. HERZOG, C. P. Cidades para todos: (re)aprendendo a conviver com a natureza. Rio de Janeiro: Mauad X: Inverde, 2013. 104 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 Unidade III Sobre o tema, leia a seguir uma entrevista com o arquiteto Roberto Pompéia: Donos do lugar Cuidar da cidade começa com a boa vizinhança Quando era estudante de arquitetura, Roberto Pompéia ouviu de um dono de construtora uma frase que jamais esqueceria: “É um absurdo pensar em se dedicar aos pobres, pois os pobres não têm como te pagar”. A sentença surtiu efeito contrário. Roberto tornou‑se um representante da arquitetura popular no Brasil. Foi integrante do Laboratório de Habitação da Unicamp (LabHab), que se especializou em projetar mutirões para erguer casas na periferia, durante 13 anos. Quando o Laboratório foi extinto, em 1999, trabalhou sozinho para terminar um mutirão no sul de Minas Gerais. Ao todo foram mais de 15 comunidades em estados como Alagoas, São Paulo e Rio Grande do Sul. Roberto acaba de defender, na USP, a tese de doutorado em que conta a história do LabHab e dos mutirões em que esteve envolvido. “A vivência nas favelas e na periferia me trouxe a certeza de que a preservação e a qualidade do espaço público dependem de uma identidade coletiva que zela pelo seu lugar”,diz. E para se criar essa identidade coletiva é preciso antes voltar os olhos para a história de cada morador. E nisso não importa classe social, raça, credo, religião. Como surgiu a questão da identidade em seus trabalhos? A maior parte das pessoas que moravam nas periferias, onde realizávamos os mutirões, vinha de fora, pois quando a pessoa não vê futuro em sua cidade natal parte para a metrópole. Contrapor‑se à sua história original é a primeira quebra de identidade. Quando a pessoa chega à cidade grande, vem a segunda. Quem era Zezinho ou Mariazinha lá no interior vira um zé‑ninguém. Estranha à cidade, a tendência da pessoa é se voltar para dentro. É muito comum a pessoa construir um barraco e, na parte interna, botar azulejos da melhor marca, mas não se preocupar com o acabamento externo, pois não quer mostrar nada de bom para fora, quer mais é se cercar. Daí vêm os cacos de vidro nos muros, as cercas. Primeiro, porque as pessoas se sentem seguras, obviamente, mas também porque a rua, que na cidade de origem era o lugar que agregava, na cidade grande, é o lugar que desagrega. Como isso se revertia? Quando comecei a trabalhar nos mutirões, notei a importância da cozinha coletiva na obra. O momento da refeição parecia uma comunhão: todo mundo em volta da mesa comendo a mesma comida e trocando histórias. Havia pessoas absolutamente tímidas que, quando alguém perguntava “e aí, você veio de onde?”, começavam a contar sua história, e parecia que começavam a crescer, a ficar importantes dentro do grupo. Todos ficavam absolutamente em silêncio ouvindo. Aí essa pessoa, que aparentemente não era nada, passava a ser alguma coisa. É como se ela “re‑significasse” seu papel dentro da comunidade. 105 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 SOCIOLOGIA RURAL E URBANA É o primeiro passo para a identidade coletiva? Sim. Não existe possibilidade de se construir uma identidade coletiva sem o reforço da identidade individual. Você só forma a identidade coletiva quando se reconhece como um ser importante dentro da comunidade, diferente e único. Na hora em que você resgata sua história, mesmo com os erros e fracassos, você cria uma estrutura, que é você mesmo, e passa a ser respeitado. A palavra respeito vem de re‑spectare: olhar muitas vezes para trás. E a história do coletivo é formada por um grande número de histórias individuais, a partir do momento em que você tem uma relação franca com o outro, em que você respeita o outro porque conhece sua história. Você não está vinculado ao vizinho pelo espaço físico simplesmente. Como isso contribui para a preservação do espaço público? Quando você sente que o espaço é seu, você cuida e quer interferir, você limpa, não deixa abandonado. Então, o limite entre o público e o privado é muito menos hostil, as cercas são mais baixas, as pessoas convivem mais. Mas às vezes ocorre o contrário. Espaços comuns são tratados como privados. Teoricamente, o hall do apartamento, por exemplo, pertence tanto a você quanto ao seu vizinho. Muitas vezes, entretanto, acabamos estabelecendo uma fração do hall como nosso e, se a plantinha da vizinha cresceu demais e saiu dos limites, já nos sentimos agredidos. O que fazer para melhorar a situação? Manter o habitar na dimensão humana, que é o contato direto entre as pessoas. Um estudo feito na Universidade de Harvard, em 2001, concluiu que, quanto mais fortes são os laços sociais entre as pessoas de uma comunidade, maior é a qualidade de vida e o nível de satisfação. Tive a oportunidade de conhecer, em Paris, um bairro que foi construído no fim da Segunda Guerra. Na rua que me mostraram havia prédios de quatro andares, de um lado, e de 12, do outro. O grupo que prestava assessoria técnica à periferia de Paris constatou que a vida dos que moravam nos edifícios mais baixos (onde foram criados espaços comunitários como áreas de recreação e clube de idosos) era muito melhor que a dos que moravam nos apartamentos mais altos (onde não havia nenhuma iniciativa para agregar seus moradores). O diagnóstico foi preciso: a diferença entre eles estava principalmente na escada. As pessoas dos prédios baixos, sem elevador, tinham de se encontrar pela escada. Os que subiam cruzavam com os que desciam; ao se passar pelos andares, era inevitável “sentir” os apartamentos, ouvir barulhos mais íntimos, sentir o cheiro de uma comida apetitosa ou, até mesmo, dar uma olhadela pela porta de um apartamento, aberta por descuido ou generosidade; ajudar alguém a carregar as compras e logo depois ser convidado para um cafezinho. Nos prédios com elevador, o isolamento é muito maior, as pessoas mal se conhecem. 106 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 Unidade III Como fomentar esse contato direto nos prédios altos? Crie um projeto coletivo. Se você tem um projeto comum, que seja botar uma luminária legal no hall, já vale. Pode ser que saia uma coisa horrível, que as pessoas queiram colocar um lustre de cristal, mas é uma discussão saudável. Se há um salão de festas no prédio, vamos fazer uma festa lá? Projetos coletivos se contrapõem ao espaço que tenta ser o menos coletivo possível. Agora, é difícil, você tem que enfrentar um monte de coisas chatas. Mas, às vezes, é preciso passar pela chateação para resolver as questões da coletividade. Quanto mais relações houver entre as pessoas, melhor. Mesmo que seja para criticar, para xingar, pois isso é menos solitário do que a não convivência. Por que é tão encantador andar nas ruas de Nápoles, de Veneza? Não só porque são estreitas e cheias de história, mas porque sempre tem aquela gritaria, o varal na janela. Cria‑se essa quase promiscuidade urbana que até certo ponto é saudável. Fonte: Santos (2007). Exemplo de aplicação O texto anterior é uma entrevista com o arquiteto Roberto Pompeia. Este é um exercício de percepção ambiental com base no fortalecimento dos vínculos com o outro cultural, e nosso objetivo é o de qualificar as relações socioambientais em oposição ao “massacre” normativo da criatividade na vida cotidiana. A entrevista torna‑se interessante para nós à medida que traz um conjunto de questões diferentes daquelas feitas comumente, pois considera as dimensões da sociabilidade, da afetividade, da memória, da amizade, do respeito, e do fortalecimento dos vínculos no presente. Meu argumento é de que tais elementos fortalecem laços para a defesa do entorno como lugar dos sentidos e, assim, de si mesmos no mundo inóspito para o migrante. Porém, o raciocínio pode ser estendido às territorializações de todos nós. Questões com base no texto e nas propostas de qualificação ambiental: • Quais são os principais problemas identificados pelo entrevistado e as “soluções gerais” por ele apontadas? • Qual é o foco dessas propostas e o que permite ao autor acreditar nesse caminho de enfrentamento dos tais problemas? 107 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 SOCIOLOGIA RURAL E URBANA Saiba mais Muito próximo dessa linha de atuação, de qualificação socioambiental do entorno, porém de dentro da academia, segue sugestão do texto sobre projeto coordenado pelo antropólogo e educador Carlos R. Brandão. BRANDÃO, C. R. Aqui é onde eu moro, aqui nós vivemos: escritos para conhecer, pensar e praticar o município educador sustentável. 2. ed. Brasília: MMA, 2005. (Programa Nacional de Educação Ambiental). Agora, vamos observar as imagens satíricas que brincam com nossas mazelas urbanas dos artistas Say Weinfeld e Marcio Kogan, elas são muito interessantes. Assim anunciam seu trabalho: As propostas arquitetônicas e urbanísticas apresentadasnesta exposição procuram traduzir antigos anseios de nossa sociedade através de uma visão crítica e realista. Esta cidade é constantemente forçada a civilizar‑se, muitas vezes, chegando aferir a própria natureza de seus habitantes. Soluções importadas do Primeiro Mundo não encontram respaldo entre a população. A implantação das faixas de pedestres é um ato de pura provocação. [...] Até quando durará o cinismo de nossos dirigentes que insistem na despoluição do Rio Tietê? Daqui a alguns anos, com um pouco de sorte, talvez possamos encontrar, dentro do novo rio, um robusto salmão constrangido ao ver, através das águas cristalinas, as velhas favelas que o rodeiam. Qual é o sentido de tudo isso? Estamos aqui para tentar colaborar, humildemente, com pequenas sugestões que aperfeiçoarão a verdadeira vocação desta cidade: o caos (LOBO, 2001, p. 21). 108 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 Unidade III A figura a seguir representa nossa gana em andar de carro, sujando a cidade: Figura 11 A proposta do projeto de lixovia, feito para São Paulo, é a instalação de cestos de lixo contínuos nas avenidas. Com eles, o ato tão corriqueiro de jogar lixo pela janela do carro viraria um gesto civilizado (LOBO, 2001, p. 20). Nossos emaranhados anéis viários são representados na figura a seguir. Trata‑se de uma “Solução para facilitar o trânsito de veículos em Paris. Uma aplicação inconfundível do know‑how – e, no caso, do savoir‑faire – paulistano” (LOBO, 2001, p. 21). Figura 12 – “O Arco do Triunfo Viário” 109 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 SOCIOLOGIA RURAL E URBANA Veja agora nossos ex‑rios, sujos ou enterrados, na figura a seguir, “aproveitados”: Figura 13 – Bateaux mouches blindados. Mesmo que o Rio Tietê venha a ser despoluído, que paisagem as pessoas que navegarem nele vão ver? Adotando barcos sem janelas, este projeto é econômico, pois dispensa a reurbanização das avenidas marginais (LOBO, 2001). A figura seguinte mostra uma comparação entre a Casa de Detenção e as mansões espalhadas por São Paulo. “Com seus enormes muros, pesadas grades, cercas eletrificadas e imponentes guaritas, a Casa de Detenção de São Paulo influenciou toda uma geração de arquitetos, cujos projetos de mansões estão espalhados pelos mais elegantes bairros da cidade. Uma foi concebida para não deixar sair; a outra, para não deixar entrar” (LOBO, 2001, p. 23). Figura 14 – Casa de detenção, detenção em casa 110 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 Unidade III Resumo Nesta unidade, discutimos os aspectos populacionais nos lugares classificados como rurais e urbanos (viver e trabalhar nos lugares), assim como as experiências daí advindas (percepção e padrões culturais), além do plano normativo, da cidadania pelo trabalho social (teórico). Há paradoxos desafiadores, como o trabalhador agregado ter maior margem de manobra que aquele registrado como trabalhador rural. Consideramos também as ações e consciência críticas sobre a vida rural e urbana. Exercícios Questão 1. Veja a figura e leia o texto: Figura 15 Maçã ou laranja? Ou um alimento geneticamente modificado? Segundo o Ministério da Agricultura: Organismos geneticamente modificados são definidos como toda entidade biológica cujo material genético (ADN/ARN) foi alterado por meio de qualquer técnica de engenharia genética, de uma maneira que não ocorreria naturalmente. A tecnologia permite que genes individuais selecionados sejam transferidos de um organismo para outro, inclusive entre espécies não relacionadas. Estes métodos são usados para criar plantas geneticamente modificadas para o cultivo de matérias‑primas e alimentos. Essas culturas são direcionadas para maior nível de proteção das plantações por meio da introdução de códigos genéticos resistentes a doenças causadas por insetos ou vírus, ou por um aumento da tolerância aos herbicidas. 111 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 SOCIOLOGIA RURAL E URBANA Nesta categoria, não se incluem culturas resultantes de técnicas que impliquem a introdução direta, em um organismo, de material hereditário, desde que não envolvam a utilização de moléculas de ADN/ ARN recombinante, inclusive fecundação in vitro, conjugação, transdução, transformação, indução poliploide e qualquer outro processo natural. Nesse contexto, também é importante salientar a definição de termos comumente utilizados nessa área: • Engenharia Genética: atividade de produção e manipulação de moléculas de ADN/ARN recombinante; • Ácido desoxirribonucleico (ADN), ácido ribonucleico (ARN): material genético que contêm informações determinantes dos caracteres hereditários transmissíveis à descendência; • Derivado de OGM: produto obtido de OGM e que não possui capacidade autônoma de replicação ou que não contenha forma viável de OGM. Não se inclui na categoria de derivado a substância pura, quimicamente definida, obtida por meio de processos biotecnológicos e que não contenha OGM, proteína heteróloga ou ADN recombinante; De acordo com a legislação, após manifestação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), compete ao Ministério da Agricultura a emissão de autorizações e registros, bem como a fiscalização de produtos e atividades que utilizem organismos geneticamente modificados e seus derivados destinados ao uso animal, na agricultura, na pecuária, na agroindústria e em áreas afins. Essas atividades estão sob responsabilidade da Coordenação de Biossegurança, vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário (SDA). Fonte: BRASIL. Ministério da Agricultura. Vegetal: organismos geneticamente modificados. Disponível em: http://www.agricultura.gov.br/vegetal/organismos‑geneticamente‑modificados. Acesso em: 25 de ago. de 2015. A leitura do texto permite afirmar que: I – Alimentos geneticamente modificados são mais resistentes e, portanto, menos suscetíveis a perdas, o que garantirá o aumento da produção de alimentos. II – O Estado brasileiro permite a produção de alimentos geneticamente modificados porque garante que eles não causam prejuízos à população. III – As sementes geneticamente modificadas pertencem àquele que as criou, o que significa que para plantá‑las será preciso autorização ou pagamento de royalties. Isso poderá encarecer a produção agrícola e criar dificuldades de consumo para as camadas sociais de baixa renda. IV – Os alimentos geneticamente modificados, por não serem naturais, sempre representam um risco maior para os consumidores e, nessa medida, o papel principal do Estado é impedir que se alastrem em território nacional. V – A atuação do Estado é essencial na autorização para a produção de sementes geneticamente modificadas e na fiscalização para que sejam utilizadas exatamente da forma como foram aprovadas. 112 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : J ef fe rs on - 0 6/ 08 /1 5 Unidade III A) I, II e IV. B) I, III e IV. C) II, III e IV. D) III, IV e V. E) I, III e V. Resposta correta: alternativa E. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: a afirmativa I está correta porque as sementes geneticamente modificadas foram criadas pelos cientistas em razão da necessidade de maior resistência às pragas e insetos, e até maior resistência em relação aos defensivos agrícolas pulverizados nas plantações contra pragas e insetos. Com isso, garantem‑se sementes mais resistentes, e consequentemente maior produção agrícola. A afirmativa
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