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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA PARA CIRURGIA DE REDESIGNAÇÃO SEXUAL EM POPULAÇÃO TRANSEXUAL NO BRASIL

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA PARA CIRURGIA DE REDESIGNAÇÃO SEXUAL EM POPULAÇÃO TRANSEXUAL NO BRASIL
Bruna Medeiros Freitas
Ritaline Silva Pereira
Hudson Eygo
	A Cirurgia de Redesignação Sexual é direito assistido pelo Sistema Único de Saúde Brasileiro - SUS, a partir da Portaria Ministerial Nº 457 de agosto de 2008. Ao amparar as pessoas transexuais, a portaria garante acesso à assistência em saúde por equipe multiprofissional, abrangendo aspectos constitutivos da subjetividade humanas, tais como: fatores biológicos, sociais e psicológicos. Diante dos dilemas enfrentados por pessoas transexuais no que tange à sua sexualidade e constituição subjetiva, o papel do profissional da psicologia no atendimento dessas demandas deve se pautar na promoção de cuidado e atenção em saúde, primando pela legitimação destes sujeitos em sua igualdade de direitos e potencialidades, visando assegurar a dignidade da pessoa humana.
	Caso deseje a alteração de características físicas e sexuais, a população trans no Brasil pode ser assistida pelo SUS que oferece, entre outros serviços: tratamento hormonal, psicoterapêutico e intervenção cirúrgica (BRASIL, 2008). Um dos requisitos para realização da cirurgia de redesignação sexual é a emissão de laudo psicológico/psiquiátrico favorável e diagnóstico de transexualidade. Contudo, movimentos de resistência tem defendido a inexistência de um transtorno transexual. Estas militâncias entendem que a realização de uma Avaliação Psicológica como pré-requisito para realização da cirurgia de redesignação sexual não seja ético, uma vez que – neste cenário – fica a critério de um terceiro legitimar a capacidade do outro em decidir sobre seu próprio corpo. Este trabalho tem como objetivo pautar uma discussão reflexiva a respeito do conceito de Avaliação Psicológica no que tange à cirurgia de redesignação sexual em população transexual no Brasil.
	Trata-se de uma pesquisa pura ou básica, de natureza qualitativa, bibliográfica de cunho explicativo. Como afirma Gil (1999), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado e publicado, constituído principalmente de livros, revistas e artigos científicos. Quanto a sua abordagem qualitativo-explicativa, Marconi e Lakatos (2004) trazem que este método ao descrever a complexidade dos aspectos comportamentais humanos, preocupa-se com suas análises e interpretações. Inicialmente, fez-se um levantamento sistematizado do material coletado com o objetivo de fundamentar teoricamente o trabalho e subsidiar a análise e discussões do estudo. Por se tratar de uma pesquisa bibliográfica as análises foram feitas através da integração dos principais subsídios teóricos disponíveis sobre o tema estudado, e por revisão metódica de literatura, onde a apresentação dos dados da pesquisa dar-se- á através da elaboração de textos reflexivos. A integração e coleta dos dados referentes a esta pesquisa foi feita manualmente, em fontes diversas, com o intuito de encontrar respostas para o problema de pesquisa e seus objetivos.
	A avaliação psicológica utiliza-se de conjecturas científicas para a compreensão de um fenômeno que é validado de acordo com um arcabouço teórico, embasando-se cientificamente, e é assegurada por lei como uma atividade exercida exclusivamente por psicólogos. Dessa forma é compreendida como sendo um processo técnico-científico de coleta de dados, estudo e análise de informações acerca dos fenômenos de ordem psicológica, que são decorrentes da vinculação do sujeito com a sociedade (CFP, 2016). O processo de avaliação psicológica para redesignação sexual é realizado pelo psicólogo, entretanto o mesmo faz parte de uma equipe multidisciplinar que é composta por outros profissionais. 
	O indivíduo que será submetido a avaliação é acompanhado por toda essa rede de cuidado, contudo, no que concerne a patologização do processo, o profissional da psicologia está designado a empenhar-se para investigar e intervir no potencial sofrimento psíquico que consiste no adoecimento psíquico (CFP, 2016). Segundo o Conselho Federal de Medicina (2010, art. 3ª), é a partir do trabalho multidisciplinar de amparo ao indivíduo que o diagnóstico de Disforia de Gênero é imputado, com a finalidade de dar celeridade ao processo para fila de espera da cirurgia de redesignação sexual no SUS. 
	Segundo o DSM V (2014), a Disforia de Gênero é caracterizada com a inadequação demasiada entre o gênero que foi designado do indivíduo e o gênero expresso, ou seja, há um inconsonância acentuada entre o gênero que foi atribuído ao nascer, e o gênero que o indivíduo se identifica ao decorrer da sua vida, aquele no qual ele se configura. Ainda segundo o Manual, é corriqueiro que sujeitos caracterizados com disforia de gênero encontrem-se insatisfeitos com seu gênero designado e, para amenizar tal desconforto, utilizam-se de algumas alternativas para burlar tais características, como por exemplo: usar roupas mais folgadas que disfarcem os seios; vestir-se com roupas do gênero desejado; evitar o uso da sua genitália e sentir-se desconfortável ao ser tocado por nela seus parceiros; recorrer ao tratamento hormonal para reforçar características e traços do gênero expresso visando bloquear características do gênero designado; e a cirurgia de redesignação sexual (DSM-5, 2014). A redesignação sexual é uma cirurgia destinada a transexuais que não conciliam seus atributos físicos de nascença à sua identidade de gênero. 
	O tempo estimado do processo é de 2 (dois) anos de duração, onde o sujeito é assistido por uma equipe multidisciplinar, devendo atender aos critérios: idade mínima de vinte e um anos; possuir o diagnóstico de transgenitalismo e não possuir características físicas inapropriadas (CFM, 2010, art. 4º). Neste processo, o papel do psicólogo é o de assegurar os direitos do sujeito à saúde mental e contribuir para que todo o processo se torne mais humanizado, assegurando respeito à história do indivíduo e para que sua subjetividade seja preservada. Cabe ao psicólogo realizar um acompanhamento mais próximo e voltado às questões mais singulares do sujeito, visando empoderar o sujeito para enfrentamento dos desafios a serem enfrentados (CRP-SP, 2004). 
	Segundo o Código de Ética do Profissional Psicólogo (2005), ele deve trabalhar para promover a saúde e a qualidade de vida do indivíduo, contribuindo para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Diante do exposto entende-se que a avaliação psicológica dentro do processo de redesignação sexual, não é só legítima como também necessária. É ela que vai elencar demandas a serem trabalhadas pela equipe multidisciplinar, que vão além da intervenção cirúrgica. Com base em informações colhidas durante o processo avaliativo, a equipe pode traçar um plano terapêutico que trabalhe a adaptação do indivíduo à sua nova configuração corporal, bem como sua singularidades, medos e anseios existentes e possam surgir no/em decorrente do processo. O CFM (2010, art. 3º) entende que a disforia de gênero, uma vez identificada, deve ser acompanhada e tratada por equipes multiprofissionais. 
	A disforia de gênero precisa de um diagnóstico e de um acompanhamento psicossocial, por isso este indivíduo é sim ressarcido de acompanhamento antes da intervenção cirúrgica, durante e após para que sua integridade física e mental sejam resguardadas. Segundo Rodrigues Júnior (2014), o profissional psicólogo deve auxiliar o indivíduo a enfrentar e superar as novas frustrações e dificuldades que serão encontradas no ambiente social e pessoal quanto à cirurgia de redesignação sexual, aprender a desenvolver novas formas de enfrentamento social e emocional. O trabalho será focado no auxílio ao indivíduo em se adaptar à identidade desejada, desenvolver comportamento e atitudes coerentes, auxiliar a desenvolver novas habilidades sociais, preparar-se para os possíveis relacionamentos afetivo-sexuais e em cuidar para que não se desenvolvam qualidades e psicopatologias negativas.O papel do psicólogo por meio da avaliação psicológica é colher dados e informações acerca do sujeito que visem suavizar todo o processo de redesignação. Não somente o processo que antecede a cirurgia, mas principalmente o processo pós cirúrgico, como a readaptação não obstante a ordem física e anatômica do corpo, bem como em questões de cunho social que abrangem a vida desse sujeito no contexto social. O sujeito que se propõe a realizar o processo para a redesignação sexual passará a ter seu corpo de acordo com sua identidade de gênero, com a forma como ele próprio se vê e existe no mundo. Entretanto cabe ao psicólogo garantir que esse sujeito perceba e lide com questões que tangem à sua inserção social como um todo, conscientizando-o de qua cirurgia não é em si, a solução dos problemas oriundos da inadequação ao gênero. 
	Cabe também ao profissional psicólogo avaliar dentro do processo se o sujeito de fato se sente pertencente ao gênero oposto e se sente preso a um corpo que não condiz com gênero expresso, mas não somente no contexto físico, e sim no contexto psíquico, pois é fundamental que ele se sinta pertencente ao gênero oposto de uma maneira total e não somente uma insatisfação anatômica. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
American Psychiatric Association. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais . Porto Alegre: ArtMed, 2014.
ANDRADE, Daniela. Sobre a obrigatoriedade de terapia psicológica para pessoas trans* mudarem de sexo. 2013. Disponível em: <http://consciencia.blog.br/2013/06/daniela-andrade-sobre-a-obrigatoriedade-de-terapia-psicologica-para-pessoas-trans-mudarem-de-sexo.html#.WaIyqD6GO00>. Acesso em: 26 ago. 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 457 de 19 de agosto de 2008. Diário Oficial da União. Poder Executivo, Brasília, DF, 20 ago. 2008. Seção 1, p. 69. Aprova a regulamentação do processo transexualizador no âmbito do SUS.
CFM. Resolução nº1.955/2010. Brasília: CFM, 2010. Disponível em: < http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/2010/1955_2010.htm> Acesso em: 26 ago. 2017.
CFP. Avaliação Psicológica: dimensões, campos de atuação e pesquisa. Curitiba - PR: CFP, 2016. Disponivel em: <http://portal.crppr.org.br/uploads/ckfinder/files/AF_CRP_Caderno_AvaliacaoPsicologica_pdf.pdf>. Acesso em: 26 ago. 2017.
CFP. Código de Ética Profissional do Psicólogo. Brasília- DF: CFP, 2005. Dísponivel em: <https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/codigo-de-etica-psicologia.pdf> Acesso em: 26 ago. 2017. 
CRP-SP. Conversando com o psicólogo: cirurgias definitivas exigem acompanhamento terapêutico. Jornal CRP., São Paulo , n. 141, set. 2004 . Disponível em<http://www.crpsp.org.br/portal/comunicacao/jornal_crp/141/frames/fr_conversando_psicologo.aspx>. acessos em 26 ago. 2017.
GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
MARCONI, M. A; LAKATOS, E. M. Metodologia Científica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000.
MENDES, Lorena Samara et al . Conceitos de avaliação psicológica: conhecimento de estudantes e profissionais. Psicol. cienc. prof., Brasília , v. 33, n. 2, p. 428-445, 2013 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932013000200013&lng=en&nrm=iso>. access on 27 Aug. 2017. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932013000200013.
RODRIGUES JUNIOR, Oswaldo M.. Transgenitalização: o papel do psicólogo. 2014. Disponível em: <http://psicologia.inpasex.com.br/index.php/2014/07/transgenitalizacao-o-papel-do-psicologo/>. Acesso em: 25 ago. 2017.
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