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Brasília-DF. PsicoPatologia Elaboração Aline Freire Bezerra Vilela Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 5 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 6 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8 UNIDADE I PSICOPATOLOGIA – O QUE É? ............................................................................................................. 11 CAPÍTULO 1 CONHECENDO A HISTÓRIA DA PSICOPATOLOGIA ................................................................... 11 CAPÍTULO 2 CONCEITUANDO E COMPREENDENDO O TERMO .................................................................. 16 CAPÍTULO 3 O NORMAL E O PATOLÓGICO ................................................................................................ 20 UNIDADE II DIAGNÓSTICOS PSICOPATOLÓGICOS – VISÃO GERAL .......................................................................... 24 CAPÍTULO 1 DIAGNÓSTICO PARA QUÊ? ..................................................................................................... 26 CAPÍTULO 2 DIAGNÓSTICO PSICOPATOLÓGICO E PSICODIAGNÓSTICO .................................................... 36 CAPÍTULO 3 AVALIAÇÃO PSICODINÂMICA DO PACIENTE ........................................................................... 40 UNIDADE III FUNÇÕES PSÍQUICAS ALTERADAS ......................................................................................................... 58 CAPÍTULO 1 AS FUNÇÕES PSÍQUICAS NO EEM ........................................................................................... 59 CAPÍTULO 2 SEMIOLOGIA MÉDICA E ESTUDO DOS SINTOMAS E SINAIS NAS SÍNDROMES ............................. 64 CAPÍTULO 3 TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS ............................................................................................... 68 UNIDADE IV CRISE, MORTE POR SUICÍDIO E LUTO .................................................................................................... 74 CAPÍTULO 1 COMPREENDENDO A CRISE E O SUICÍDIO NOS TRANSTORNOS MENTAIS ................................. 74 CAPÍTULO 2 FALANDO DE LUTO E MORTE .................................................................................................. 91 CAPÍTULO 3 ALGUMAS ALTERAÇÕES MENTAIS DE URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NA CRISE .......................... 97 PARA (NÃO) FINALIZAR ................................................................................................................... 102 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 103 ANEXOS ........................................................................................................................................ 110 ANEXO I ........................................................................................................................................ 111 ANEXO II ....................................................................................................................................... 119 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 7 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 Introdução Esta disciplina foi desenvolvida com o objetivo de oferecer recursos para uma melhor capacitação no âmbito profissional dentro do curso de Saúde Mental, bem como enriquecer seus conhecimentos sobre o presente tema. Cada unidade pretende abordar aspectos relevantes à Psicopatologia, adentrando no mundo da Psicologia Clínica e permeando o imaginário acerca do uso das práticas psicodiagnósticas e suas ferramentas. Com base nisso, a disciplina visa estabelecer a compreensão da Psicopatologia, apresentar as técnicas e as ferramentas de avaliação do sujeito fundamentadas no psicodiagnóstico psicodinâmico, no julgamento clínico e no conceito de transtorno mental e suas nuances, conforme o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5. Salientamos, porém, que a apostila com os textos e sugestões de leitura serve meramente para colaborar no processo de aprendizagem, não tendo por objetivo suprimir a vasta extensão de conceitos e literaturas pertinentes ao tema. Destarte, o nosso objetivo está na pretensão de despertar no aluno o interesse pelo aprofundamento dos seus conhecimentos relativos às questões aqui apresentadas, juntamente com um ajustamento do seu lado crítico para implantação ou discussão do assunto na práxis. É a partir do desejo de fornecer ferramentas para o seu crescimento profissional e desenvolvimento da sua carreira que elaboramos esta disciplina, que transcorre desde a importância da compreensão da psicopatologia até a sua aplicação na área da saúde mental e os resultados que podem ser influenciados a partir dos recursos, técnicas e ferramentas que colaboram, no sentido de criar condições, para uma maior compreensão do ser humano e sua doença.Objetivos » Definir psicopatologia demarcando os termos relevantes para sua compreensão. » Problematizar atitudes relativas ao normal e ao patológico. 9 » Proporcionar ao aluno o conhecimento de elementos teóricos necessários para o reconhecimento, aproximações e exames diagnósticos dos principais problemas psiquiátricos. » Apresentar técnicas e procedimentos que contribuem para o psicodiagnóstico. » Capacitá-los a identificar e avaliar criticamente os sinais. » Reconhecer a relação entre psicopatologia, sintoma e psicodiagnóstico. » Verificar a importância da prevenção em casos de crise e risco de suicídio. » Preparar o processo de intervenção em casos de crise, luto e risco de suicídio. 10 11 UNIDADE IPSICOPATOLOGIA – O QUE É? CAPÍTULO 1 Conhecendo a História da Psicopatologia Figura 1. Psicopatologia. O que é? Fonte: https://image.shutterstock.com/image-illustration/psychopathology-digital-technology-medical-concept- 260nw-627129026.jpg. Acesso em: 24/08/2020. O termo psicopatologia, antes de sua total definição, nos remete – considerando o profissional da área da saúde – a diversas reflexões, que vão além da etimologia e vagueiam para o significado individual do que ele produz em nós, do seu sentido social, do que pensamos e em que posição nos colocamos quando pretendemos nos situar nesse contexto que permeia a diferenciação entre o normal e o patológico. Conforme mostra Ceccarelli (2005, p. 471): a palavra ‘Psicopatologia’ é composta de três palavras gregas: psychê, que produziu ‘psique’, ‘psiquismo’, ‘psíquico’, ‘alma’; pathos, que resultou em ‘paixão’, ‘excesso’, ‘passagem’, ‘passividade’, ‘sofrimento’, 12 UNIDADE I │ PSICOPATOLOGIA – O QUE É? ‘assujeitamento’, ‘patológico’; e logos, que resultou em ‘lógica’, ‘discurso’, ‘narrativa’, ‘conhecimento’. Conforme pudemos perceber, Psicopatologia seria, então, um discurso, um saber (logos) sobre a paixão, o sofrimento (pathos) da mente, da alma (psiquê). Ou seja, um discurso representativo a respeito do pathos psíquico; um discurso sobre o sofrimento psíquico; sobre o padecer psíquico. Assim, verificamos que houve uma evolução no modo como a própria Psicopatologia vem sendo percebida. É possível desmembrar o termo e estudá-lo desde os apanhados filosóficos em sua origem1; perpassando no contexto social de uma época marcada pelo misticismo referente a tudo o que não se concebia explicação; até o apanhado médico com as teorias advindas da racionalidade e do pensamento lógico do homem. Tendo em vista que os precursores da Psicopatologia se destacam pela origem do pensamento filosófico grego e romano, bem como com pelo desenvolvimento da Medicina e do desdobramento da relevância dada à vida emocional do homem, Gauer (s/d, apud GOMES; GAUER; SOUZA, 2007) afirma que o encontro entre Psicologia e Medicina se deu a partir do século XIX por meio de três vertentes de pensamentos que incluíam a psiquiatria, sendo: uma tendência a humanizar os tratamentos; uma forma de pensar doença mental por causas orgânicas e outra por causas funcionais ou dinâmicas. Portanto, se pensarmos a partir de um viés psicológico, o termo ‘Psicopatologia’ pode ser compreendido conforme vertente dinâmica advinda da Psicologia Clínica, que pretende enfatizar a relação do sujeito que sofre com o que lhe causa o sofrimento, ou seja, visa valorizar a experiência vivida pelo sujeito que sofre, tratando-o a partir de sua própria percepção e interpretação do sofrimento, e dos sintomas, bem como, utilizando-se de ferramentas como o DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), um manual útil que: Propõe-se a servir como um guia prático, funcional e flexível para organizar informações que podem auxiliar o diagnóstico preciso e o tratamento de transtornos mentais. Trata-se de uma ferramenta para clínicos, o recurso essencial para formação de estudantes e profissionais e uma referência para pesquisadores da área. (APA, 2014, p. XLI) É possível perceber a partir da literatura que várias áreas do conhecimento se utilizam do termo ‘psicopatologia’ para tentar definir um conjunto de comportamentos, falas e estilos de personalidade, a fim de uma melhor compreensão daquilo que se pretende 1 Conforme diversos autores, dentre eles Berlinck (1997), Fédida (1988), Platão (apud FÉDIDA, 1988), que vislumbraram o termo à luz da filosofia, conforme veremos. 13 PSICOPATOLOGIA – O QUE É? │ UNIDADE I verificar, atestar e diferenciar dos aspectos considerados normais e patológicos (doentes) no ser humano. A Filosofia, a Sociologia, a História, a Medicina e a Psicologia abordaram a temática em prismas divergentes dentro do paradigma reflexivo-dedutivo, convergindo a um mesmo ponto, o de considerar a psicopatologia como a confluência de características pessoais internas e externas que levam o homem a apresentar sintomas característicos de um estado mental alterado. Conforme aponta Pozo (1988, p. 43) em História da loucura, e Nascimento da clínica, Foucault reconheceu que ao longo do tempo conseguiu verificar que por meio de diferentes estudos – a partir das ciências humanas e das análises da psicopatologia – ocorreram transformações e ascendeu um novo tipo de olhar médico, que coadunou com a emergência dos discursos científicos sobre Psicologia, Sociologia e análise dos mitos. Portanto, no que diz respeito à trajetória da Psicopatologia, surgiram os estudos dos processos mentais, vistos a partir da realidade de uma mente derivada da desrazão2, contextualizando ou separando épocas a partir do olhar social e científico dado à loucura. O que se pretende dizer é que a constituição da doença mental antecede a própria Psiquiatria e a Psicopatologia em geral, ainda, tanto a Psiquiatria quanto a Psicopatologia surgiram porque historicamente o louco já havia sido concebido como um ser individualizado e cindido da sociedade (NALLI, 2006, p. 120). Sem deixar de, em momento algum, manter-nos radicalmente tributários de uma tradição, pensamos que, para observação psicopatológica, vigora o mesmo princípio que rege a psicopatologia nos pacientes. Nestes, o indivíduo surge como síntese e arranjo únicos das possibilidades contidas na espécie biológica e na coletividade social. Nada indica que uma ciência da mente possa prescindir das concepções individuais. O indivíduo, retomando a tradição em que se insere, renova-a, dando vazão à inviolável condição de transformação e expansão contínuas que singulariza o existir humano. (CALDERÓN, apud MESSAS, 2004. p. 13) Messas (2004) nos traz uma excelente reflexão sobre aspectos de extrema importância quando pensamos nas psicopatologias, por exemplo, sobre sua pluralidade versus a tentativa incessante que temos de emoldurar as doenças mentais em busca de uma classificação perfeita. No entanto, assim como podemos ver no DSM-5, as informações reunidas em um manual são úteis para todos os profissionais ligados aos diversos aspectos dos cuidados com a saúde mental, dentre eles os psiquiatras, médicos, 2 Desrazão: termo utilizado pelo autor para situar a loucura na Idade Clássica como estando “no amálgama semântico da desrazão”. A loucura, pois, era a expressão mais inumana que havia no humano”. (NALLI; Marcos, 2006. p. 119) 14 UNIDADE I │ PSICOPATOLOGIA – O QUE É? psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, consultores, especialistas da área forense e legal, terapeutas ocupacionais e de reabilitação, pesquisadores e outros profissionais da área da saúde. São úteis, não porque engessam a doença mental em um conceito ou classificação sem fundamentos, mas porque apresentam critérios concisos e claros a fim de facilitar uma avaliação objetiva das apresentações de sintomas em diversos contextos clínicos (internação, ambulatório, hospital dia, consultoria/interconsulta, clínica, consultório particular e atenção primária) e, ainda, levantar estudos epidemiológicos de base comunitária sobre os transtornos mentais.No decorrer de nossas leituras poderemos nos perguntar sobre a necessidade de buscar uma psicopatologia “verdadeira”, portanto, abordaremos até mesmo a necessidade que encontraremos, por vezes, de posicioná-la sobre o olhar reflexivo fenomenológico. Decerto que trabalharemos versando sobre os paradigmas da estabilidade versus o da transformação, esse último, cujo pensamento de que uma psicopatologia “verdadeira” não pode ser vista com exatidão uma vez que tanto o pensamento como a própria forma de processar as informações, por meio do pensamento, não são imutáveis e não se bastam, dentro de um contexto de finitude. Conforme Jasper (1963), em seu aforismo sobre psicopatologia geral, dentro das psicopatologias, os delírios são distinções clínicas fundamentais nos sujeitos. Pois, as ideias delirantes verdadeiras são aquelas que trazem em sua base uma vivência delirante primária (sic), ou seja, aspectos incompreensíveis do pensamento que só se encontram nos processos psíquicos ou psicoses – revelados a partir das falas delirantes. O autor revela que as vivências delirantes primárias são uma forma de vivência completamente estranha para nós, pois consistem na irrupção de inexplicáveis significações no psiquismo do paciente. A exemplo dessa revelação, poderíamos citar falas desconexas aos ouvidos de fora da realidade delirante do paciente. Numa destas noites, se impôs a mim de repente e de modo muito natural e evidente que a senhorita L é a causa provável destas coisas simplesmente horríveis que tive de sofrer nos últimos anos, como a influência telepática… (LOBOSQUE, 2001. p. 48) Indo em busca de uma contextualização no tempo sobre o pensamento da Psicopatologia e o seu desenvolvimento, citaremos o artigo de Schleder e Holanda (2015) que traz, a partir de um levantamento bibliográfico, um olhar fenomenológico sobre a Psiquiatria até chegar ao pensamento contemporâneo sobre psicopatologias em Nise da Silveira. Os autores trazem aspectos dessa visão psicopatológica a partir de Mello, o principal estudioso das obras de Nise da Silveira no Brasil. Para Melo (2010 apud SCHLEDER; HOLANDA, 2015), Nise da Silveira contrapôs a psiquiatria clássica valorizando o conteúdo mental do paciente em oposição ao resultado do conteúdo expresso na 15 PSICOPATOLOGIA – O QUE É? │ UNIDADE I composição artística de seus pacientes, dessa forma ela mantinha uma visão do que eles experienciavam por meio da arte. “Mas eu não examinava as pinturas dos doentes que frequentavam nosso atelier sentada no meu gabinete. Eu os via pintar. Via suas faces crispadas, via o ímpeto que movia suas mãos” (Nise da Silveira, citada por Melo, 2010a, p. 639). Foi nesta direção que a psiquiatra propunha as atividades do museu, como um “museu vivo”. (MELO, 2001B; FRAYZE-PEREIRA, 2003 apud SCHLEDER; HOLANDA, 2015. p. 51) Contudo, as sensações, pensamentos, emoções e todo tipo de turbilhão interno, representados nas expressões artísticas, eram vistos como uma tentativa do paciente de reorganizar seu mundo interno em relação ao mundo externo. Sendo assim, podemos concluir que Nise da Silveira percebia as psicopatologias como modos diferentes de expressão da existência dos sujeitos, ou seja, suas expressões artísticas, falas e comportamentos traduziam a forma como eles poderiam estar no mundo. Então, como os outros frequentadores desse mundo externo, a pessoa que está esquizofrênica merece a mesma dignidade e afeto que dirigimos aos outros pacientes. Para a psiquiatra, a meta do tratamento psiquiátrico não deveria ser a remoção de sintomas, mas a recuperação do indivíduo para a comunidade e, desse modo, a terapêutica ocupacional seria reconhecida como método terapêutico legítimo, não mais como uma prática auxiliar. (SILVEIRA, 1966, apud SCHLEDER; HOLANDA, 2015. p. 54) Figura 2. Nise da Silveira. Fonte: https://blogdaboitempo.com.br/2016/03/02/desencontro-com-nise-da-silveira/. Acesso em: 24/08/2020. 16 CAPÍTULO 2 Conceituando e compreendendo o termo A Psicopatologia está enraizada na Medicina e daí vem a base, proporcionada por observações e tratamento de uma gama de doentes nos últimos dois séculos. Estando, pois, respaldada na tradição humanística de vertentes filosóficas, sociais, artísticas, literárias e psicológicas. A Psicopatologia se rebelou a partir do sofrimento, do pathos humano, e, portanto, do que fora considerado sofrimento mental. Conforme Campbell (1986 apud DALGALARRONDO, 2008, p. 27), a Psicopatologia pode ser vista como “o ramo da ciência que trata da natureza essencial da doença mental – suas causas, as mudanças estruturais e funcionais associadas a ela e suas formas de manifestação”. Entretanto, para uma compreensão mais clara, a Psicopatologia pode ser compreendida como um conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser humano, cujo objeto de estudo é o homem em sua totalidade, o homem que não deve ser reduzido por e pela sua doença. Miranda-Sá Jr. (2001, p.11) propõe que a psicopatologia seja vista como uma disciplina baseada em métodos científicos que visam ao estudo das alterações mórbidas, ou seja, dos aspectos concernentes a doença ou transtornos mentais que afetam o comportamento. Para Jarne e Talarn (2009, p. 34), Psicopatologia sugere o estudo de influências de variáveis psicológicas sobre a doença. Ainda, segundo outro autor, o termo Psicopatologia vem de psic(o)- + patologia, como patologia das doenças mentais ou como o estudo das causas e natureza das doenças mentais. Psic(o)- vem do grego psyché e significa alento, sopro de vida, alma. Patologia, afecção, dor, que também provém do grego pathos significa doença, paixão, sentimento (CUNHA, 1997, apud MOREIRA 2004, p. 449). O pensamento clássico e mais conhecido pelos psicopatólogos acerca do termo fora levantado por Karl Jasper (1963) que abordava a psicopatologia a partir dos fenômenos psíquicos anormais, exatamente como se apresentam à experiência, ou seja, aqui podemos verificar que a psicopatologia está voltada para aquilo que constitui a experiência vivenciada por quem sofre, aquele que apresenta em sua vivência comportamentos e expressões verbais diferenciadas e perceptíveis que conduzem a investigação à percepção do pathos. 17 PSICOPATOLOGIA – O QUE É? │ UNIDADE I A Psicopatologia Fundamental é um discurso (logos) sobre o pathos psíquico, que leva em consideração a subjetividade. Como tal, ela se distingue da Psicopatologia Geral, escrita em 1913 por Carl Jaspers (1987), que leva em consideração as manifestações psicopatológicas conscientes. (BERLINCK, M. T., 2010, p. 551) Figura 3. Sofrimento mental. Fonte: https://image.freepik.com/free-photo/portrait-young-woman-who-with-horror-fear-is-trying-escape-from-many-hands- pulling-her-back-tearing-her-apart-concept-loneliness-loss-fear-scary-terrible-portrait_116124-673.jpg. Acesso em: 24/08/2020. A Psicopatologia, portanto, deve ser vista como uma ciência autônoma e não como um prolongamento da Neurologia ou da Psicologia, diz Dalgalarrondo (2008, p. 28). Destarte, “a ciência psicopatológica é tida como uma das abordagens possíveis do homem mentalmente doente, mas não a única” (Idem). Isso posto, cabe ao profissional utilizar as medidas diagnósticas de observação, análise, interpretação e ferramentas diagnósticas, deixando fora o julgamento moral e substituindo-o pelo julgamento clínico, respaldado pelas referências da observação e dos sinais e sintomas revelados, para então, identificar e compreender os inúmeros e possíveis elementos presentes e constituintes da doença mental. O método fenomenológico é atualmente amplamente utilizado no âmbito da pesquisa qualitativa em psicologia e psicopatologia […] a metodologia fenomenológica de pesquisa em psicologia e psicopatologia também sofre variações, segundo o pensamento filosófico que a sustenta [...]. (DALGALARRONDO, 2008, p. 28). A Psicopatologia é um campo da área do conhecimento que requer debates por apresentarvertentes que divergem em vários aspectos, chamadas correntes ideológicas, 18 UNIDADE I │ PSICOPATOLOGIA – O QUE É? que vis-à-vis nos levam ao aprofundamento e esclarecimento daquilo que formulam como múltiplas abordagens. A psicopatologia clínica difundida é uma espécie de enfant terrible da sua mãe, a medicina. Encantadora e infernizadora de que dela se aproxima. Ela provoca um encantamento por ser ainda uma criança: sua complexidade e constante rebeldia em obedecer aos ditames lógicos adotados pela mãe garantem sua importância e alteridade. Infernizadora por provocar agressividade: ‘com a morte e a violência não se pode fazer jogos intelectuais, minha filha!’, diria a medicina [...] (MARTINS, 2003, p. 12) No Brasil o primeiro Laboratório do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica da PUC de São Paulo foi criado em 1997 por Manuel Berlink, que fora inspirado pela criação do Laboratório de Psicopatologia Fundamental que surgiu na Universidade Paris VII, criado por Pierre Fédida. Desse modo, com a busca de profissionais interessados da área, ele criou a Rede Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental, de modo a expandir a Psicopatologia e seus estudos por todo o Brasil (FERREIRA, 2002, p. 24). Em se tratando de fenomenologia e subjetividade podemos avançar até a teoria cognitivo-comportamental que propõe um conceito de psicopatologia como sendo o resultado de pensamentos negativos distorcidos. Embora esses pensamentos façam parte do ciclo vicioso da doença mental, eles não são os únicos dentro de um grau de importância. Pois, além dos pensamentos distorcidos, os desequilíbrios bioquímicos, as relações interpessoais e os eventos de vida contribuem como elementos que agem conjuntamente, desenvolvendo o transtorno psicopatológico. A partir do início dos transtornos, a terapia cognitivo-comportamental começa a atuar, utilizando dos processos cognitivos que têm um papel importante e exercem influência no que concerne a intervenção (KNAPP et al., 2007, p. 37). Como sabemos a Psicopatologia é vista de modo diferente dentro das áreas da Psicologia, portanto, em se tratando da Psicologia Dinâmica veremos que os conteúdos internos que movimentam os afetos, desejos e medos, dentro da experiência de vida individual e não necessariamente dentro de uma classificação predefinida, resultam em uma combinação equilibrada de uma abordagem descritiva, diagnóstica e objetiva com uma abordagem dinâmica, pessoal e subjetiva do sujeito e sua doença. Já na Psicopatologia Existencial o homem é visto como ser individual cuja doença mental não é vista como disfunção biológica ou psicológica, mas como modo particular de existência, uma forma do homem existir no mundo. Na Psicopatologia Psicanalítica 19 PSICOPATOLOGIA – O QUE É? │ UNIDADE I o homem é visto como ser determinado por forças, desejos e conflitos inconscientes. Para ela os afetos dominam o psiquismo e o homem racional autocontrolado e dono dos seus desejos não é levado em consideração, pois são dominados por conflitos predominantemente inconscientes de desejos que não são revelados e temores em sua grande parte inacessíveis. Na psicanálise, a psicopatologia é o resultado de forças, conflitos e forças inconscientes que se identificam por meio dos sintomas (DALGALARRONDO, 2008, pp. 35-37). Leiam os seguintes artigos e façam resumos concisos e coerentes sobre as principais correntes da psicopatologia. Vale levantar mais pesquisas e citar outros artigos e autores. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-98931997000200003&script=sci_ arttext. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-79722004000300016&script=sci_ arttext. 20 CAPÍTULO 3 O normal e o patológico Figura 4. Normal e patológico. Fonte: https://gerentesinteligentesyemocionales.wordpress.com/category/opinion/. Acesso em: 24/08/2020. Considerar a diferença entre o normal e o patológico é algo que se faz presente quando tratamos de aspectos relacionados à saúde mental e, quando abordamos os transtornos, pensamos na prática clínica e na necessidade de diagnósticos para nortear o tipo de tratamento. Portanto, embora seja um assunto polêmico e que gera bastante controvérsia entre os pesquisadores, justamente por não se conseguir esgotar em uma única definição o que é normal do que é patológico, podemos nos validar da contribuição da cuidadosa observação clínica do comportamento, bem como das ferramentas investigativas que nos conduzem a um direcionamento, tais como as avaliações psicológicas, a anamnese, o exame do estado mental, dentre tantas outras. Alguns autores se arriscam a delimitar o tema a partir de referenciais que pretendem fazer essa distinção. Para Coon (2006, p. 487) o parâmetro de normalidade é passível de verificação por meio do comportamento social, assim sendo, os comportamentos atípicos, chamados inadequados, irão distinguir os normais dos patológicos. Nesse caso, o comportamento inadequado é aquele que se refere à típica indisciplina em conformidade com os padrões aceitáveis de conduta social. É notório que os padrões de normalidade, mesmo se vistos pelo prisma social, não parecem ser bem definidos, devido à relatividade e influência cultural. Coon (2006, p. 487), Stein e Cutler (2002, p. 8) afirmam que o relativismo cultural sugere que é inapropriado aplicar o conceito de normalidade a todas as pessoas e em qualquer momento ou situação. Nesse caso, o que parece consenso entre os autores 21 PSICOPATOLOGIA – O QUE É? │ UNIDADE I é que as culturas classificam as pessoas conforme sua capacidade de comunicar-se e atitudes previsíveis. Para Muchinsky (2006, pp. 349-350), as pessoas consideradas normais aparentam sentir-se bem consigo mesmas, com a vida que levam, despertam prazer na convivência, são bem-sucedidas, se relacionam de modo fluído e constante, adaptam-se às mudanças, têm bons empregos, demonstram autonomia e se sentem capazes para escolher seus próprios caminhos, expressam suas opiniões, se arriscam, possuem aspirações próprias. Enfim, são pessoas que se comportam de maneira socialmente aceitável e funcionam de modo integrado. Conceituar o normal e o patológico em psicopatologia nos parece fundamental e, portanto, para termos algum direcionamento, podemos nos valer de algumas contribuições na área da saúde mental: » Se pensarmos na área do planejamento em saúde mental e políticas de saúde veremos que seria preciso estabelecer critérios para definir a normalidade, principalmente no que concerne às demandas assistenciais de determinado grupo populacional, as necessidades de serviço etc. » Na prática clínica a capacidade de discernir entre o normal e o patológico será imprescindível no processo de avaliação e intervenção clínica, para um diagnóstico diretivo e tratamento assertivo. » Implicação social do termo para distinção de atos legislativos e para uso de alusão legal, criminal e ética. » Para orientação profissional na definição das capacidades e habilidades a fim de verificar a adequação do profissional em seus cargos e ambientes de trabalho. Conforme Dalgalarrondo (2008, p. 32) existem alguns critérios de normalidade utilizados em psicopatologia, dos quais iremos destacar quatro: » Normalidade como ausência de doença: a partir da visão de saúde como “ausência de sintomas, de sinais ou de doenças”, o sujeito que não apresenta características de sintomas que configurem transtorno mental é tido como normal. » Normalidade como bem-estar: esse critério está respaldado na definição de saúde da OMS, “saúde é o completo bem-estar físico, mental e social, e não somente ausência de doença”. 22 UNIDADE I │ PSICOPATOLOGIA – O QUE É? » Normalidade como processo: esse critério sugere a normalidade dentro da visão dinâmica do desenvolvimento humano, ou seja, há diversas fases da vida em que haverá complicações, crises, referentes à mudança, aos momentos vividos, portanto, se o critério para normalidade estiver respaldadoem algum aspecto do desenvolvimento humano, o sujeito é considerado normal. » Normalidade subjetiva: o critério permeia a subjetividade do indivíduo, ou seja, ele é o termômetro do seu estado de saúde. Para uma melhor avaliação, é salutar que o profissional envolvido com a psicopatologia esteja constantemente atualizado com seus conhecimentos e também se mantenha sempre habilitado para conduzir o processo, bem como para manter a mente voltada para o pensamento crítico e reflexivo. A psicopatologia alinhada com o pensador analítico poderá permitir uma maior precisão nas interpretações e nas fundamentações conceituais. Ainda, é conveniente salientar que as definições de normalidade de aspectos patológicos podem ser relacionadas às próprias percepções sociais do profissional, por isso, desenvolver o pensamento crítico é fundamental para a lisura processual. Definições dos aspectos patológicos devem estar dissociados de conceitos de normalidade tradicionais. Para Canguillem (2002), todo indivíduo possui sua especificidade, por isso, deve ser analisado de maneira única e segundo normas específicas e especiais, que possam ressaltar o processo de adoecimento do paciente. O autor salienta que o indivíduo deve ser analisado como um processo sistêmico – ou seja, com sua relação com o ambiente em que ele vive e está exposto – pois isso será essencial para uma correta avaliação do comportamento patológico. Conforme Coon (2006), a definição de normalidade em um tratamento pode ser dificultada por se tratarem de percepções do observador, mas que também pode ser contornado esse problema com a observação de sinais comportamentais durante o diagnóstico. Como citado anteriormente, o comportamento de normalidade em uma sociedade representa poder de atração social para as outras pessoas dessa mesma sociedade, pois facilita os relacionamentos interpessoais. Esses indivíduos são mais seguros, confiantes e possuem maior capacidade de obterem sucesso em suas áreas de atuação, assim como contribuem para a produção de redes sociais estabilizadas. Para Muchinsky (2006, p. 350), as pessoas conceituadas como normais apresentam um sistema funcional mental e psicológico estruturado e coerente. 23 PSICOPATOLOGIA – O QUE É? │ UNIDADE I Entretanto, Berger (1997, apud STEIN; CUTLER, 2002) destaca que mesmo os indivíduos considerados saudáveis estão suscetíveis a comportamentos imperfeitos e passiveis de erros, podendo, ainda, vivenciar conflitos que afetarão seu comportamento e suas atitudes fora da faixa da normalidade. Em detrimento dessa classificação, Coon (2006) salienta que os critérios estabelecidos para conceituar normalidade social e a própria fuga dessa linha balizadora de comportamento tido como normal pode ser de difícil percepção e também serem diferentes para cada cultura. Por tudo isso mencionado, os conceitos e as interpretações não se esgotam, devendo ser acrescidos de análises comportamentais, culturais e sociais, como forma de aumentar a compreensão dos processos mentais que compõem o cenário da psicopatologia. Para aprofundar seu conhecimento e aumentar a sua visão sobre o assunto, seguem sugestões: CANGUILHEM, Georges. O normal e o patológico. 6a ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009. Disponível em: <http://pt.slideshare.net/jonathanfao/ canguilhem-georges-o-normal-e-o-patolgico-6-ed-dig>. Acesso em 18 jul. 2016. Bergeret, Jean. A Personalidade Normal e Patológica. 3a ed. São Paulo: Artmed, 2006. Filmes: “Um estranho no ninho”. “Bicho de 7 cabeças”. 24 UNIDADE II DIAGNÓSTICOS PSICOPATOLÓGICOS – VISÃO GERAL Figura 5. Funcionamento da Mente. Fonte: https://www.elconfidencial.com/alma-corazon-vida/2008-08-30/medicamentos-antipsicoticos-cuando-el-remedio-es- peor-que-la-enfermedad_304849/. Acesso em: 24/08/2020. Diagnóstico Palavra originada do grego original (διαγvοσις, cujo prefixo δια [dia = através] e γvοσις [gnosis = conhecimento]); a palavra grega diagnõstikós, que significa discernimento, faculdade de conhecer, de ver através de; na atualidade, é utilizada como estudo aprofundado, realizado com objetivo de conhecer determinado fenômeno ou realidade a partir do conjunto de procedimentos teóricos, técnicos ou metodológicos. Ou ainda, é visto como um substantivo referente à discriminação do conhecimento de forma racional, lúcida, elaborada, realizando tarefa de discernimento (ARAÚJO, 2007; MARTINS, 2003). Diagnóstico também pode ser entendido, conforme a APA (2014), que nos situa em termos de diagnóstico principal e diagnóstico provisório, como: » Diagnóstico principal: é a condição responsável pela primeira consulta, quando o motivo da consulta do paciente está relacionado a uma condição principal, que o faz ir em busca do serviço médico ambulatorial. O diagnóstico é o motivo pelo qual o paciente busca consulta, ou seja, o 25 DIAGNÓSTICOS PSICOPATOLÓGICOS – VISÃO GERAL │ UNIDADE II foco de atenção ou tratamento. Está relacionado a um grupo de sintomas e sinais que são descritos e observados durante a consulta. » Diagnóstico provisório: é utilizado na psiquiatria e psicologia quando existir forte suspeita de que todos os critérios serão satisfeitos para um transtorno, mas não houver informações suficientes disponíveis para estabelecer um diagnóstico definitivo. Outro uso do termo “provisório” é para sugerir situações em que o diagnóstico diferencial depende exclusivamente da duração da doença. » Diagnóstico diferencial: o termo diagnóstico diferencial determina os diagnósticos diferentes daqueles pensados inicialmente devido aos sintomas diversos apresentados pelo paciente. Esse combina os conhecimentos teóricos e práticos alcançados ao longo dos estudos da vida do profissional, do exame clínico, sintomas do paciente e os exames complementares, biológicos ou radiográficos. O médico analisa esses diferentes elementos reunidos para determinar a patologia e aplicar um tratamento. Etimologicamente, o termo diagnóstico tem origem no adjetivo grego diagnóstikós, que significa capaz de distinguir, de discernir (HOUAISS, 2001, verbete diagnóstico). Substantivo na locução grega hédiagnóstikê tékhné arte de distinguir (doenças) (Oxford Advanced Learners Compass, 2005, verbete diagnostic, tradução nossa). Sinônimo de diagnose, do grego diágnósis discernimento, ação e faculdade de discernir (HOUAISS, 2001, verbete diagnose). Derivado do verbo grego diagignôskó, distinguir, formado de diá- através e gignôskó conhecer (Dicionário Etimológico, verbete diagnóstico). (ABEL, 2013, p. 18) 26 CAPÍTULO 1 Diagnóstico para quê? Tanto a Medicina quanto a Psicologia se utilizam do termo psicopatologia, pois ambas, em suas práticas clínicas, reconhecem a psicopatologia como um constructo, uma ciência que auxilia na análise do homem. Tanto a Medicina Psiquiátrica quanto a Psicologia trabalham com diagnósticos clínicos, que nada mais são do que um processo de conhecimento pelo qual irá se investigar alguém de modo médico ou psicológico. Diagnóstico em Psiquiatria, conforme Dalgalarrondo (2008), é visto sob dois prismas opostos: um define o diagnóstico como modo de rotular as pessoas diferentes, excêntricas, permitindo e legitimando um controle social e poder médico sobre o indivíduo; o outro como elemento principal da prática psiquiátrica. O autor, por sua vez, corrobora com a importância do diagnóstico psicopatológico em termo de considerar os aspectos pessoais e individuais do sujeito como forma de se compreender o paciente e o seu sofrimento a partir de técnicas e estratégias adequadas a cada paciente. Recursos básicos utilizados para o diagnóstico Figura 6. Rapport. Fonte: https://www.gleauty.com/ES/Alcobendas/306968863549028/Audimed-Farma. Acesso em: 24/08/2020. A técnica de psicopatologia mais conhecida de avaliação, seja ela médica ou psicológica, é a entrevista. Juntamente com uma minuciosa observação do paciente é possível conhecer a dinâmica e a vivência doseu sofrimento e se chegar até a patologia a fim de se obter um planejamento terapêutico mais apropriado à situação decorrente. 27 DIAGNÓSTICOS PSICOPATOLÓGICOS – VISÃO GERAL │ UNIDADE II A entrevista psicopatológica, assim como é chamada, permite a realização de duas práticas da avaliação: a anamnese e o exame psíquico. Na anamnese há uma investigação acerca do histórico do paciente de doenças e principalmente de sintomas e sinais, assim como seus antecedentes pessoais, familiares e detalhes relevantes relacionados ao(s) episódio(s) de doença(s). Já o exame psíquico, também chamado de Exame do Estado Mental (EEM), conforme Kaplan, Sadock e Grebb (1997, p. 267), é a “descrição da aparência, fala, ações e pensamentos do paciente durante a entrevista” Nesses dois casos, tanto psiquiatras quanto psicólogos podem se utilizar desse instrumento de avaliação. Entrevista clínica com o paciente Harry, Stack e Sullivan (1983, apud DALGALARRONDO 2008, p. 66) comentam que o domínio da técnica de entrevista é o grande diferencial e se faz de modo mais eficaz com um profissional treinado e capacitado, para tal, ele sugere para o exercício dessa função o próprio psiquiatra, o psicólogo ou o enfermeiro em saúde mental que tenham habilidade para exercer relações interpessoais com perícia. Para o autor, é imprescindível que o profissional seja um expert em realizar entrevistas que estejam focadas a fornecer importantes informações acerca da condição do paciente, assim como tenha igualmente habilidade para acolher o paciente em sua angústia, sensibilidade para ouvir e calar no momento certo, paciência, respeito e habilidade para manter os limites necessários a certo tipo de paciente, como os invasivos e agressivos, assegurando o contexto da entrevista. Figura 7. Entrevista Clínica Fonte: <https://franciscagonzalezr.wixsite.com/franciscagonzalezr/single-post/2015/08/08/La-labor-del-Psic%C3%B3logo/>. Acesso em: 24/08/2020. Em psicologia, a entrevista clínica é um conjunto de técnicas de investigação, de tempo delimitado, dirigido por um entrevistador 28 UNIDADE II │ DIAGNÓSTICOS PSICOPATOLÓGICOS – VISÃO GERAL treinado, que utiliza conhecimentos psicológicos, em uma relação profissional, com o objetivo de descrever e avaliar aspectos pessoais, relacionais ou sistêmicos (indivíduo, casal, família, rede social), em um processo que visa fazer recomendações, encaminhamentos ou propor algum tipo de intervenção em benefício das pessoas entrevistadas. (TAVARES apud CUNHA et al., 2003, p. 45) As técnicas de entrevistas são muitas e são destacadas por diversos autores. Ainda conforme Dalgalarrondo (ibidem), a entrevista poderá exigir do profissional habilidade para medir sua própria postura, se mais ativa ou passiva, mais acolhedora ou incentivadora, enfim, isso dependerá muito: » do paciente – suas características pessoais, como ele chega até o entrevistador, sua estrutura de personalidade, seu estado mental, suas condições físicas, capacidades cognitivas; » do objetivo da entrevista – se é de uma entrevista informal com objetivo apenas de triagem para encaminhamento do paciente, se pretende um diagnóstico clínico, estabelecimento de vínculo terapêutico, entrevista psicopatológica, tratamento farmacológico, orientação familiar, conjugal, pesquisa, forense, trabalhista; » do contexto institucional e do ambiente – o próprio ambiente e as características da entrevista previstas pela instituição, se a mesma está sendo realizada num pronto-socorro, enfermaria, ambulatório, centro de saúde, CAPS, consultório, numa sala especial, num ambiente mais favorável ao paciente; » da personalidade do entrevistador – a flexibilidade do entrevistador para atuar conforme as situações forem se apresentando sem perder sua eficácia no ato da entrevista, isso porque pacientes introvertidos muitas vezes precisarão de maior atenção, respeito e acolhimento, além de serem estimulados a falar; outros serão mais verborrágicos (falantes) e necessitados de direcionamento, e ou apenas de alguma escuta mais paciente e idônea. Como foi visto, entrevistar o paciente é uma tarefa que não ruma a um objetivo único, porém o objetivo preestabelecido é essencial para que se realize adequadamente a entrevista. No entanto, sabemos que dentro das áreas médicas o uso da entrevista pode ter prismas diferentes, como abordam Bertoldi, Braga e Mendes (2003, apud NETO; GAUER; FURTADO, 2003) que definem a entrevista médica como um 29 DIAGNÓSTICOS PSICOPATOLÓGICOS – VISÃO GERAL │ UNIDADE II encontro combinado para obtenção de esclarecimentos, sendo o ponto de partida da relação médico-paciente e que visa ao entendimento dos males do paciente, a base do diagnóstico clínico, do encaminhamento a exames ou investigações mais elaboradas. Já a entrevista clínica, para os psicólogos, segundo Tavares (apud CUNHA, 2003) é um compilado de técnicas que agem de modo objetivo em tempo determinado como técnica de investigação, dirigida por um entrevistador treinado e utilizando-se de conhecimentos psicológicos para descrever e avaliar aspectos pessoais, relacionais ou sistêmicos para então nortear o encaminhamento e proposição de intervenções para o paciente. Tabela 1. Técnicas comuns de entrevista. 1. Estabeleça rapport tão logo seja possível, na entrevista. 2. Determine a queixa principal do paciente. 3. Use a queixa principal para desenvolver um diagnóstico diferencial provisório. 4. Selecione as várias possibilidades diagnósticas mediante perguntas focalizadas e detalhadas. 5. Seja persistente o bastante nas respostas vagas ou obscuras, até determinar corretamente a resposta ao que perguntou. 6. Deixe que o paciente fale livremente, o suficiente para observar o grau de conexão dos seus pensamentos. 7. Use uma mistura de perguntas fechadas e abertas. 8. Não tema indagar sobre tópicos que você ou o paciente possam considerar difíceis ou constrangedores. 9. Pergunte sobre pensamentos suicidas. 10. Dê ao paciente uma chance para fazer perguntas ao final da entrevista. 11. Conclua a entrevista inicial transmitindo um senso de confiança e, se possível, de esperança. Fonte: Kaplan; Sadock; Grebb,1997, p. 259. Consideremos os seguintes aspectos relacionados aos procedimentos da entrevista ao psicodiagnóstico, adaptando alguns aspectos trazidos por Kaplan, Sadock e Grebb (1997) para os procedimentos com pacientes psiquiátricos e dando vazão aos procedimentos psicológicos e que podem ser adaptados às diversas outras áreas, conforme cada critério apresentado se adeque à função do profissional. Manejo clínico do tempo A consulta inicial deve durar entre 30 minutos e uma hora, dependendo das circunstâncias em que o paciente se apresenta no local do atendimento. As seguintes consultas e complemento da entrevista terapêutica também variam em relação ao tempo. É importante que o profissional esteja bastante atento, uma vez que a relação com o tempo também revela traços importantes da personalidade do paciente, como se ele se apresenta ansioso, chega atrasado, chega cedo demais, chama a atenção do profissional para o término do seu horário, dentre outras. A regulação do tempo na relação clínica entre profissional e paciente é sempre de muita relevância para o tratamento, uma vez que o descuido do tempo em relação ao profissional pode transmitir uma ideia 30 UNIDADE II │ DIAGNÓSTICOS PSICOPATOLÓGICOS – VISÃO GERAL inconsciente ao paciente de relaxamento, incapacidade, desorganização, e liberdade por parte do profissional para com o paciente, induzindo inclusive o paciente a ser descompromissado igualmente com o horário de suas consultas. Considerações quanto à disposição das cadeiras Tanto as cadeiras quanto a sala devem estar preparadas para receber o paciente. As cadeiras devem estar organizadas conforme o tipo de dinâmica a ser realizada ou o tipo de perspectiva psicológica com a qual o profissional trabalha. Caso o setting estabelecido para a entrevista disponhade vários ambientes para sentar-se como cadeiras, almofadas, sofás e tapetes, o profissional escolhe o seu lugar para se sentar e oferece ao paciente a oportunidade de escolher o lugar onde ele se sinta mais cômodo. A decoração do ambiente Assim como a aparência do profissional pode dizer muito dele, a aparência do ambiente em que trabalha o psicólogo também pode induzir o paciente a recorrentes pensamentos sobre a personalidade do psicólogo ou profissional da saúde que o atende. Todos os aspectos ditos pessoais do profissional, tais como livros, fotografias e diplomas nas paredes, revelam algo sobre o profissional e podem comunicar-se com o inconsciente do paciente. Não estamos aqui discutindo sobre a impossibilidade de ter esses objetos, mas alertando os profissionais para que fiquem atentos caso esses objetos revelem muito de sua vida pessoal ao paciente. Caso ainda estejam trabalhando com pacientes de alta periculosidade, ou ainda, se os objetos remetem algo ao paciente e há uma percepção por parte do profissional, é preciso trabalhar em sessão. Anotações As anotações são requisições da profissão uma vez que servem como registro, e se tornam uma obrigação moral e legal, adequadas para que se converse sobre diagnóstico, prognóstico, tratamento, de cada paciente. Além de auxiliar o profissional, as anotações podem resguardar não só a memória do profissional, mas também servir como proteção em casos burocráticos, como processos. Entrevista subsequente Essa entrevista, que ocorre após a primeira entrevista, pode ser iniciada com o profissional oferecendo espaço ao entrevistado ou paciente para falar sobre o que ocorreu durante a sessão anterior, assim como, serve para retirar dúvidas da primeira entrevista. Algo interessante que pode ser dito: geralmente as pessoas ao sair da primeira 31 DIAGNÓSTICOS PSICOPATOLÓGICOS – VISÃO GERAL │ UNIDADE II entrevista ficam pensando em coisas que gostariam de ter dito e não disseram, ou ficam pensando no que foi dito. O que você pensou a esse respeito? Esse procedimento ainda é importante para manutenção do rapport, fazendo o paciente ficar mais à vontade e sentir que há um espaço no profissional para preocupar-se com ele e seus sentimentos/ pensamentos. Condução das entrevistas O modo como a entrevista é conduzida, assim como o tipo de técnicas utilizadas dentro de um consultório, são dependentes da formação do profissional, da linha psicológica a qual o profissional segue. O profissional deve se preocupar com a finalidade da entrevista e o setting. Por setting compreendemos o local onde a entrevista está sendo realizada, que pode ser num ambiente clínico particular, ambulatorial, hospital público, hospital privado, sala de um presídio, dentre tantas outras possibilidades. O paciente deprimido e potencialmente suicida É importante que o profissional seja capacitado e treinado para atuar junto a esse tipo de paciente. O paciente deprimido geralmente apresenta letargia, fala pouco, tem dificuldade para responder, apresenta-se desesperançoso e até com retardo psicomotor. É importante que o profissional observe o paciente desde os aspectos corporais, até o ponto de saber conduzir a entrevista de modo a mobilizar o paciente à resposta. No caso de pacientes deprimidos, o profissional deve manter-se cuidadoso a fim de não criar expectativas em relação à melhora, no entanto, é de grande importância nesses casos que o psiquiatra esteja disposto a falar sobre a sintomatologia assim como a cura. Uma vez que o profissional lida com sinceridade com o paciente, transmitindo a esperança da cura de modo honesto e verdadeiro, o paciente com transtorno depressivo muitas vezes se sente aliviado, por pensar que os seus sentimentos de desesperança e vazio podem sumir. Nesse momento, é importante que o profissional ainda estabeleça um contrato com o paciente, um contrato informal, explicando que a cura depende também do esforço do paciente na trajetória terapêutica, ou seja, explicando ao paciente a importância da constância no processo terapêutico, da não desistência e da manutenção da esperança a cada consulta realizada. Em relação ao risco de suicídio, é imperativo que o profissional não se abstenha de indagar de forma estruturada e até certo ponto detalhada sobre a existência de pensamentos suicidas. Caso haja risco de vida, histórico familiar de suicídio, comportamento anterior suicida por parte do paciente, evidências de impulsividade, ou pessimismo generalizado sobre o futuro, o profissional terá de decidir entre a hospitalização ou não, como forma de proteção ao paciente. 32 UNIDADE II │ DIAGNÓSTICOS PSICOPATOLÓGICOS – VISÃO GERAL A internação, muitas vezes, irá depender do fato de o paciente ter uma rede de apoio bem estruturada, geralmente a família, ou cuidadores; assim como uma rede de profissionais que o apoiem no tratamento. Em caso de tentativas, planejamento, ou impulsividade, o paciente só poderá retornar a casa caso decida assegurar ao médico a sua disponibilidade em manter-se vivo e telefonar em qualquer momento, caso surja a pressão para o suicídio, assim como tentar informar aos pais/cuidadores. Os pais ou cuidadores também devem responsabilizar-se por acompanhar o paciente em nível de atenção, observando os sinais que podem demonstrar piora ao paciente, assim como, estar com o controle da medicação e do meio em que se encontra o paciente (retirada de objetos cortantes, armamentos, ou qualquer objeto que apresente risco ao paciente). O profissional deve resguardar-se com um documento que certifique de que tanto o paciente quanto os familiares estão de acordo com o tratamento e cientes de suas funções e obrigações, destacadas no documento, e com assinatura dos envolvidos (contrato de vida3). Nesses casos, o profissional tem que estar disponível para o paciente, uma vez que às suas mãos chegou a responsabilidade de trabalhar com pessoas em crise ou algum tipo de transtorno mental. Em casos de profissionais não preparados para lidar com esse tipo de paciente, o encaminhamento deve ser realizado. O encaminhamento nesse caso deverá ser responsivo. O paciente violento Esse tipo de paciente deve ser abordado com algumas técnicas e atitudes usadas com os pacientes suicidas. É importante sinalizar ao paciente a sua capacidade para lidar com os sentimentos violentos do paciente, e resguardar sua integridade evitando que ele realize algum ato que possa vir a prejudicar a ele ou a terceiros. O paciente não pode sentir que profissional não está preparado, ou que se sente desconfortável na presença dele. Porém, parte do trabalho do profissional é ajudar o paciente a compreender que está no controle dos seus sentimentos agressivos, garantindo a segurança dele e da outra pessoa, demonstrando a possibilidade desse fato, mantendo também a sua integridade mental, e não apenas física. A remoção das contenções físicas do paciente só poderá ocorrer caso o teste de realidade do paciente não esteja comprometido, sobre isso, o entrevistador pode abordar diretamente o paciente, expressando preocupação por sua segurança e de outras pessoas na área. Paciente com delírio Não se pode pensar que, porque o paciente é delirante, não se pode acessá-lo. Devemos pensar nos delírios como estratégia de defesa e autoproteção do paciente. Embora esses 3 Ver anexo “Contrato de vida” baseado no modelo de Fremouw, 1990. 33 DIAGNÓSTICOS PSICOPATOLÓGICOS – VISÃO GERAL │ UNIDADE II mecanismos sejam respostas mal adaptadas contra a ansiedade esmagadora, baixa autoestima e confusão mental do paciente, é algo que gera angústia e sofrimento, assim como ansiedade; e que pretendem ser eliminados. O enfoque mais útil para lidar com esse tipo de paciente é que o entrevistador compreenda e faça o paciente perceber que é compreendido, que tem a sua crença da realidade do delírio igualmente compreendidas, mas que não compactua com a mesma crença do delírio. É importante que o paciente sesinta respeitado, compreendido e escutado pelo entrevistador, assim, terá maior probabilidade de falar sobre si mesmo e menos sobre o delírio. No entanto, é preciso que o profissional incentive o paciente a falar sobre os seus temores, sentimentos e esperanças, a fim de compreender melhor que função determinada o delírio preenche para o paciente. Entrevista com familiares Embora sejam úteis, esse tipo de entrevista pode apresentar algumas dificuldades, por exemplo, em relação ao cônjuge, ele pode se sentir intimidado, pode se sentir identificado com o paciente, ou pode se sentir sem força e sem esperança. Os membros da família podem não perceber que certos tipos de informação são melhor oferecidos por um observador do que pelo próprio paciente. Os familiares podem ser importantes porque são mais capazes de descrever as atividades sociais do paciente, mas apenas esse pode descrever o que está pensando ou sentindo. A entrevista com suas milhares de nuances deve ser apropriadamente manejada pelo entrevistador, uma vez que uma entrevista desestruturada, mal planejada ou mal realizada pode ameaçar o relacionamento entre o paciente e o entrevistador ou profissional. Um dos aspectos mais importantes da entrevista com a família tem a ver com o sigilo, ou seja, o paciente deve estar seguro de que os membros da família não irão ser informados sobre qualquer tipo de comentários discutidos nas entrevistas, a não ser questões que envolvam risco de vida a ele mesmo e a terceiros. O mesmo deverá ser mantido com os membros da família, que irão destacar os pontos que não devem ser revelados. O EEM (Exame do Estado Mental) O exame do estado mental nem sempre é utilizado pelos profissionais, mas é bastante discutido e de suma importância, desde que a Constituição Federal, em seu artigo 5o, inciso V (BRASIL, 1988) e o artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, 1997), promulgou como prudente ao profissional liberal, ter provas documentais e registros clínicos do estado de saúde, segundo critérios avaliativos, das pessoas que buscam assistência profissional na área de saúde. No entanto, segundo Erné (apud CUNHA, 2003, p. 67), “o ato de fazer ou não fazer um exame acurado poderá ter 34 UNIDADE II │ DIAGNÓSTICOS PSICOPATOLÓGICOS – VISÃO GERAL consequências inimagináveis para a vida econômica e a imagem social do profissional liberal”. Ainda segundo o autor, além desses aspectos legais que passaram a vigorar no Brasil [...] é impossível cientificidade sem apreensão e fixação de alguns conceitos que disciplinem e organizem as nossas observações. Para os que endossarem essa tese, o exame detalhado do estado do examinando, ou do paciente, será sempre importante, independentemente dos riscos jurídicos. Kaplan, Sadock e Grebb (1997, p. 267) revelam que o EEM é: a parte da avaliação clínica que descreve a soma total das observações do examinador e suas impressões sobre o paciente psiquiátrico no momento da entrevista. Enquanto a história do paciente permanece estável, seu estado mental pode mudar de um dia para o outro, ou de uma hora para outra. O EEM é a descrição da aparência, fala, ações e pensamentos do paciente durante a entrevista. Tabela 2. Esboço do Exame do Estado Mental. I - Descrição geral a - aparência; b - comportamento e atividade psicomotora; c - atitude acerca do examinador. II - Humor e Afeto a - humor; b - afeto; c - adequação. III - Fala IV - Perturbações da percepção V - Pensamento a - processo ou forma do pensamento; b - conteúdo do pensamento. VI - Sensório e cognição a - alerta e nível da consciência; b - orientação; c - memória; d - concentração; e - pensamento abstrato; f - fundo de informações e inteligência. VII - Controle dos impulsos VIII - Julgamento e insight IX - Confiabilidade Fonte: Kaplan; Sadoc; Grebb, 1997, p. 267. 35 DIAGNÓSTICOS PSICOPATOLÓGICOS – VISÃO GERAL │ UNIDADE II Após o EEM, os autores apresentam o “Registro Psiquiátrico” (p. 270) para que sejam redigidos todos os tópicos do roteiro da entrevista. Diversas abordagens psicológicas trabalham de acordo com as suas técnicas de diagnóstico psicológico, isso pode ser visto e pesquisado por você. LOPES, Ederaldo José; LOPES, Renata Ferrarez Fernandes; LOBATO, Gledson Régis. Algumas considerações sobre o uso do diagnóstico classificatório nas abordagens comportamental, cognitiva e sistêmica. Psicol. estud., Maringá, v. 11, n. 1, abr. 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S1413-73722006000100006&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 30 de outubro de 2012. 36 CAPÍTULO 2 Diagnóstico psicopatológico e psicodiagnóstico Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana. Carl Jung Figura 8. Diagnóstico Psicológico. Fonte: https://easyhealthoptions.com/surest-way-nimble-brain/. Acesso em: 24/08/2020. Diagnóstico psicopatológico Trata-se de um modo de diagnosticar, a partir de sintomas e sinais, as possibilidades patológicas de ordem mental de um sujeito. Portanto, não podemos nos esquecer dos exames complementares, igualmente importantes para auxiliar um diagnóstico, sendo os exames laboratoriais, neurológicos, de avaliação física e de neuroimagem. Duero e Shapoff (2013) relatam que em Medicina o diagnóstico de qualquer patologia depende da avaliação/exame das funções biológicas e sua comparação com aspectos da normalidade, baseados na noção de homeostase orgânica. No entanto, o autor acredita que a especificidade do discurso psicopatológico difere desse outro, uma vez que o diagnóstico psicopatológico é um tipo de fenômeno com características intrínsecas e peculiares que merecem atenção e estudo aprofundado. Em psiquiatria, por exemplo, um conjunto de sintomas permitiria estabelecer um diagnóstico e, portanto, prever um prognóstico juntamente a um tratamento efetivo, com a introdução de medicamentos e técnicas que ajudem na reorganização do sistema nervoso. 37 DIAGNÓSTICOS PSICOPATOLÓGICOS – VISÃO GERAL │ UNIDADE II Em contrapartida, quando lidamos com os transtornos mentais, devemos resolver as questões referentes ao normal e patológico que se sobrepõem aos casos em formas de nível cultural, regional etc., uma vez que o paciente não é um ser provido apenas de funções orgânicas, mas um sujeito individual composto de características de personalidade, com um sistema de significados únicos e disposições globais que o diferencia em nível de interpretação e sentido de suas ações. Canguilhem (1979), Duero e Shapoff (2009) ressaltam que a pretensão da universalidade dos sintomas e transtornos psiquiátricos são resultados menores do que presumem escritos médicos, visto que o olhar médico imposto ao doente mental distancia o paciente da sua realidade, que é de ordem social e não biológica tão somente. Como vimos, em Psicopatologia, para que cheguemos a um diagnóstico, é preciso alocarmos em pauta, além das observações, o uso de ferramentas diagnósticas de observação, identificação e transcrição dos sintomas e sinais revelados pelo paciente. Mas o que são sintomas e sinais? Para definir o sintoma podemos destacar como: a forma pela qual a doença se apresenta, é a realidade aparente de uma determinada enfermidade. É a experiência sentida e vivida pelo paciente que anuncia a ele o quanto o seu corpo está mudado, portanto, podemos dizer que o sintoma é aquilo pertencente ao paciente a partir da percepção e observação do seu próprio funcionamento. Ainda, segundo Martins (2003, p. 22) o sintoma “é um acontecimento doloroso e/ou perturbador, conforme a etimologia da palavra em grego original já apontava: acidente que cai, ocorre com (alguém)”. Enquanto o sinal, ainda segundo Martins (2003), é aquilo que pode ser apontado pelo outro, via de regra o clínico. A distinção entre sintoma e sinal pode então ser estabelecida em termos daquele que aprecia e evidencia o signo clínico: o paciente, no caso do sintoma,e o médico, no caso do sinal. A Medicina, portanto, tornou-se especialista em identificar sinais para facilitar o diagnóstico. Para a Psicologia não seria diferente. Os sintomas seriam, portanto, aquilo que faz parte da vivência subjetiva relatada pelo paciente, suas queixas, narrativa, aquilo que ele experimenta e comunica a alguém de algum modo. Já os sinais seriam verificáveis pela observação direta do paciente, seriam os “dados elementares das doenças que são provocados (ativamente evocados) pelo examinador” (DALGALARRONDO, 2008, p. 24). Ainda conforme Dalgalarrondo (2008, p. 41), do ponto de vista clínico e específico da psicopatologia, embora o processo de diagnóstico em psiquiatria siga os princípios 38 UNIDADE II │ DIAGNÓSTICOS PSICOPATOLÓGICOS – VISÃO GERAL gerais das ciências médicas, há certamente alguns aspectos particulares que devem ser aqui apresentados: » O diagnóstico de um transtorno psiquiátrico é quase sempre baseado preponderantemente nos dados clínicos. » O diagnóstico psicopatológico com exceção dos quadros psicorgânicos (delirium, demências, síndromes focais etc.) não é, de modo geral, baseado em possíveis mecanismos etiológicos supostos pelo entrevistador, ou seja, baseia-se principalmente no perfil de sinais e sintomas apresentados pelo paciente na história da doença e no momento da entrevista. » Não existem sinais ou sintomas psicopatológicos totalmente específicos de determinado transtorno mental. » O diagnóstico psicopatológico é, em inúmeros casos, apenas possível com a observação do curso da doença. » O diagnóstico psiquiátrico deve ser sempre pluridimensional, ou seja, conter várias dimensões clínicas e psicossociais para uma formulação diagnóstica completa. » Confiabilidade e validade do diagnóstico em psiquiatria dizem respeito a esse procedimento produzir, em pacientes de um mesmo grupo diagnóstico, um mesmo padrão diagnóstico (DALGALARRONDO, 2008, pp. 41-42). Psicodiagnóstico O psicodiagnóstico é uma atividade que veio se aperfeiçoando dentro da Psicologia e se utiliza do conceito psicopatológico para realizar uma prática diagnóstica no contexto da Psicologia. Embora os profissionais da área tenham a opção de se utilizar de técnicas mais amplas como de entrevistas e exames do estado mental, é ainda disponibilizada ao profissional psicólogo outra gama de ferramentas que o ajudam no diagnóstico, tais como os testes psicológicos. O psicodiagnóstico geralmente é conduzido de modo tradicional e estruturado em etapas que são previamente estabelecidas a fim de um objetivo que é “conhecer, investigar e compreender o paciente por meio de técnicas de entrevistas, observações dirigidas e aplicações de testes” (ANCONA-LOPEZ, 2002, p. 9). Ocampo e Garcia Arzeno (apud ANCONA-LOPEZ, 2002, p. 9) consideram o psicodiagnóstico como uma prática bem delimitada, cujo objetivo é “obter uma 39 DIAGNÓSTICOS PSICOPATOLÓGICOS – VISÃO GERAL │ UNIDADE II descrição e compreensão o mais profunda e completa possível da personalidade total do paciente ou do grupo familiar”. Já Dalgalarrondo (2008, p. 64) diz que “a área desenvolvida pela Psicologia Clínica, denominada ‘psicodiagnóstico’, representa, de fato, um importante meio de auxílio ao diagnóstico psicopatológico”. Para contribuir ainda com a compreensão desta distinção diagnóstica destacamos Cunha (2003, p. 23) que explica: psicodiagnóstico é uma avaliação psicológica, feita com propósitos clínicos, portanto, não abrange todos os modelos de avaliação psicológica de diferenças individuais. É um processo que visa identificar forças e fraquezas no funcionamento psicológico, com foco na existência ou não de psicopatologia. Ainda em se tratando de psicodiagnóstico, é relevante citar que há uma diferença entre um psicodiagnóstico informal – quando esse não tem uma finalidade maior, não visa um objetivo, e tende a triar o paciente – do psicodiagnóstico formal que tem por objetivo avaliar, além das condições psicológicas do paciente, a sua capacidade de encarar algum tipo de processo psicoterapêutico. Cunha (2003) aponta que geralmente um paciente passa por esse processo devido a um encaminhamento, que pretende averiguar alguma característica em destaque e que pressupõe que o paciente apresenta algum tipo de problema psicológico, a exemplo de uma professora que indica o aluno para esse tipo de avaliação com o seguinte questionamento: “será que meu aluno não aprende por algum tipo de problema psicológico?”. A partir dessa questão o psicólogo deverá trabalhar primeiro no desdobramento da pergunta que será fundamentada com base no encaminhamento e na observação do paciente e de seu histórico de vida; em seguida, no estabelecimento de um plano de avaliação. O plano de avaliação nada mais é do que “um processo pelo qual se procura identificar recursos que permitam estabelecer uma relação entre as perguntas iniciais e suas possíveis respostas” (CUNHA, 2003, p. 107). Para esse tipo de diagnóstico, o psicólogo poderá fazer uso das técnicas que achar necessárias, de acordo com o objetivo do que pretende ser examinado e nesse momento indicar o número de sessões previstas para o diagnóstico e comunicação clínica, que nada mais é do que a devolutiva do processo realizado com comunicação verbal para o paciente e encaminhamento de laudo ou parecer psicológico a quem encaminhou o paciente (instituição, justiça, professor, médico etc.). 40 CAPÍTULO 3 Avaliação psicodinâmica do paciente Figura 9. Avaliação Psicodinâmica. Fonte: <http://hijodelaluna-mphisto.blogspot.com/2016/>. Acesso em: 24/08/2020. Segundo Gabbard (1998), a abordagem psicodinâmica tem por objetivo abordar as questões relacionadas ao diagnóstico e ao tratamento a partir das relações dinâmicas entre médico e paciente e o estabelecimento do rapport (técnica de abordagem para com o paciente), visando um entendimento do modo como essa relação afeta o paciente em seu comportamento e o quanto influencia em sua personalidade e relações. Para tanto, o autor é enfático ao relatar que a tarefa primordial do entrevistador é transmitir ao paciente a sua própria aceitabilidade e valor individual, bem como os seus conflitos. Ainda segundo ele, a postura psicodinâmica de empatia privilegia a relação pelo modo como o paciente pode se sentir participativo e desse modo vir a colaborar no processo da entrevista. Gabbard (1998, p. 60) transcorre dizendo que “a avaliação psicodinâmica pode ser considerada como uma extensão significativa da avaliação médico-psiquiátrica descritiva”. 41 DIAGNÓSTICOS PSICOPATOLÓGICOS – VISÃO GERAL │ UNIDADE II Tabela 3. Tabela de Avaliação Psicodinâmica. 1. Dados históricos: a - doença atual com atenção às ligações associativas e com os estressores do eixo IV; b - história pregressa com ênfase sobre como o passado vem se repetindo no presente (história do desenvolvimento – evolutiva, história familiar, formação cultural/religiosa); 2. Exame do Estado Mental: a - orientação e percepção, cognição, afeto, ação etc. 3. Testes psicológicos projetivos; 4. Exame físico e neurológico; 5. O diagnóstico psicodinâmico: a - diagnóstico descritivo pelo DSM-IV, interações entre os eixos I-IV, características do ego (pontos fortes e fraquezas, mecanismos de defesa e conflitos, relação com o superego); b - qualidade das relações objetais (relacionamentos familiares, padrões transferenciais-contratransferenciais, inferência acerca das relações objetais internas); c - características do self (autoestima e coesão do self, continuidade do self, fronteiras do self, relação mente/corpo); d - formulação explicativa utilizando os dados anteriores. 6. Recursos Básicos para o Diagnóstico: a - Entrevista Clínica; b - História do paciente; c - Exame do estado mental do paciente. Fonte: Adaptada de Gabbard, 1998, p. 72. Sugere-se que o profissional de saúde mental deve evitar relações engessadas em que o paciente é mero coadjuvante e se conforme em apenas responderàs perguntas médicas, pois para essa teoria o paciente deve ser um colaborador envolvido em seu processo. Essa visão pretende minimizar o distanciamento da relação médico/paciente, de modo a permitir que venham à tona as questões relevantes que estejam na base do pensamento, afeto e percepção. Ou seja, a abordagem dinâmica significa um novo sentido para o diagnóstico, não a mera aplicação de um rótulo [...]. É o diagnóstico no sentido da compreensão de como o paciente adoeceu e de quão enfermo se encontra e de como a doença lhe serve. (GABBARD, 1998, p. 68) Por fim podemos destacar que, dentro dessa visão, o paciente é humanizado, visto como singular, detentor de sua própria história e sujeito do seu próprio processo de cura. Processos da avaliação psicodinâmica O processo psicodiagnóstico depende inicialmente de formulações de perguntas básicas ou estruturação de hipóteses para que o profissional psicólogo possa trabalhar. Sendo assim, falaremos do encaminhamento que é um processo pelo qual um profissional 42 UNIDADE II │ DIAGNÓSTICOS PSICOPATOLÓGICOS – VISÃO GERAL sugere ao paciente, cliente, colaborador, réu, aluno etc., a necessidade de uma avaliação psicológica. O encaminhamento deve vir com alguma pergunta formulada em termos psicológicos, com isso, queremos dizer que o objetivo do processo psicodiagnóstico é chegar a alternativas de algum tipo de resposta que justifiquem as perguntas iniciais. Além das perguntas, o psicólogo necessita de dados, para que as questões iniciais sejam mais precisas e que ele mesmo possa formular hipóteses. É responsabilidade do psicólogo esclarecer e organizar as questões pressupostas do encaminhamento. Cunha (2003, p. 106) levanta perguntas que podem auxiliar o profissional no processo de construção de hipóteses. Usando seu exemplo veremos: O médico, por exemplo, pode telefonar, dizendo que tem uma paciente com patologia de coluna e que suspeita que os sintomas sejam, pelo menos parcialmente, de fundo psicológico. Poderia ser indicada uma intervenção cirúrgica, para alívio da dor e da restrição da motilidade, mas lhe é de importância fundamental saber como a paciente reagiria à cirurgia. Aqui por certo, temos algumas questões: Há fatores psicológicos associados à condição médica? Como a paciente reagiria à situação cirúrgica e à longa recuperação? Qual é o prognóstico do caso? Delineiam-se, portanto, três objetivos para o exame. Por outro lado, as questões colocadas pelo médico já começam a ser traduzidas em termos psicológicos. Contrato de trabalho avaliativo O psicodiagnóstico é um processo que requer tempo. De certa forma é preciso que as questões iniciais sejam desenvolvidas, as hipóteses definidas, e os objetivos do processo sejam esclarecidos. A partir daí o psicólogo começa a traçar um planejamento que inclui o tipo de exame adequado, as condições de aplicação e tempo para tal. Deve ficar claro para o paciente que o psicodiagnóstico é um processo que leva tempo, inclusive para comunicação do resultado. Nesse ínterim o contrato de trabalho é apresentado. Esse informa qual é o papel do profissional quanto à realização dos exames e procedimentos de devolutiva; fala sobre o número de sessões, a duração prevista, o horário estabelecido para o encontro, assim como sobre a previsão ou dia exato da devolutiva. Sobre as horas de trabalho, o psicólogo deve considerar a duração do processo de relato, que geralmente leva 2 horas para laudos mais simples, ou mais tempo quando 43 DIAGNÓSTICOS PSICOPATOLÓGICOS – VISÃO GERAL │ UNIDADE II os relatórios são mais complexos e a confecção dos laudos mais elaborada. Estipular um prazo maior que condiga com o tempo de trabalho do profissional é algo que pode parecer difícil aos iniciantes. É relevante a informação de que o contrato deve manter-se flexível, uma vez que alguns imprevistos possam acontecer. Caso no contrato haja uma nota sobre a necessidade de se aplicar testes extras, no decorrer do processo, o psicólogo necessita apenas informar ao paciente; no entanto, caso na fase de levantamento de dados ele veja que é necessário administrar mais um instrumento e não apareça no contrato, o contrato não precisa ser refeito, apenas o profissional informa ao paciente sobre a necessidade dele submeter-se a mais um teste, sem qualquer ônus. Ainda, veremos que o paciente também tem a sua responsabilidade dentro do contrato, uma delas é comparecer nos horários e dias previstos e colaborar para que o plano de avaliação seja realizado sem problema. Nesse momento o avaliador deve abrir espaço para que o paciente possa retirar suas dúvidas acerca do processo. Nessa fase é importante levantar a possibilidade de que o paciente venha não apenas com dúvidas, mas com expectativas, fantasias e temores acerca do psicodiagnóstico, portanto, cabe ao profissional trabalhar essas questões que poderão, ainda, ajudá-lo no processo. Plano de avaliação O plano de avaliação deve ser traçado com o encaminhamento e o tipo de dados que são enviados por meio dele, tendo em vista o objetivo do psicodiagnóstico. Ainda, o profissional deve delimitar as técnicas que serão utilizadas, estabelecendo todas as questões voltadas para aplicação dessas. Uma vez selecionadas as técnicas e os testes psicológicos adequados e relacionados a cada caso, deve-se contar com o tempo de administração e com as características específicas do paciente; como se pode supor, o plano de avaliação nada mais é do que um plano que envolve a organização da bateria de testes elegidos. Bateria de testes A bateria de testes nada mais é do que o conjunto de testes ou técnicas envolvidas no processo psicodiagnóstico a fim de oferecer subsídios suficientes para corroborar ou refutar as hipóteses iniciais, focando sempre no objetivo da avaliação. Geralmente, mais de um teste é aplicado no processo psicodiagnóstico, possibilitando a compreensão do sujeito e seus aspectos globais. Além do que, o conjunto de técnicas 44 UNIDADE II │ DIAGNÓSTICOS PSICOPATOLÓGICOS – VISÃO GERAL valida os dados obtidos e faz com que a avaliação se torne mais eficaz, com menos margem de erro e menos inferência clínica. Podemos nos assegurar nas técnicas projetivas ou técnicas psicométricas. As técnicas projetivas são aconselháveis, mas no caso de crianças são escassos os números de estudos, no entanto, são utilizados, uma vez que há o uso de outros testes e técnicas. As técnicas projetivas em crianças não devem ser aplicadas no primeiro contato, uma vez que podem induzir a criança a querer realizar apenas testes lúdicos. As técnicas psicométricas baseadas em normas brasileiras são igualmente utilizadas nas baterias de testes, que podem ser padronizados ou não padronizados. Uma bateria padronizada é aquela baseada em pesquisas, a priori, que foram realizadas com tipos de pacientes e recomendada para exames bem específicos. Contudo, o psicólogo tem a liberdade de acrescentar testes para se adequar à especificidade do caso individual. Frequentemente, a bateria de testes inclui testes psicométricos e técnicas projetivas. Nas técnicas projetivas temos vários tipos de testes como os gráficos, HTP, MMPI, ou técnicas projetivas perceptivas como o Rorschach, TAT, CAT. Questões importantes que devem ser observadas na realização da aplicação dos testes são os fatores ansiogênicos por parte do paciente. De um modo geral, os testes não devem ser interrompidos, por isso, é importante pensar no tempo da aplicação dos testes. Alguns testes devem ser aplicados em sua íntegra, outros podem ser divididos por sessões, porém, cada caso deve ser avaliado, inclusive relacionando com os fatores ansiogênicos. A sugestão é que o avaliador no momento do planejamento opte por intercalar testes projetivos com os psicométricos. A importância do tempo no plano da avaliação para aplicação dos testes remete à organização da escolha da bateria de testes, modo de aplicação e organização do profissional, uma
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