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Direito Processual Civil 1 
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1. COMPETÊNCIA 
 
1.1 Conceito 
 
 É clássica a lição de que a competência é medida da jurisdição. É a quantidade 
de jurisdição, de poder jurisdicional, cujo exercício é atribuído a cada órgão. 
 Critérios para distribuir entre vários órgãos as atribuições relativas ao 
desempenho da jurisdição. 
 É o poder de exercer a jurisdição nos limites estabelecidos por lei. 
 
 
1.2 Limites da Jurisdição Nacional 
 
 Só deve haver jurisdição até onde o Estado efetivamente consiga executar 
soberanamente suas sentenças - princípio da efetividade. 
 
 
a) Competência Concorrente 
 
 Artigos 21 e 22. 
 Competência internacional tecnicamente não existe. A jurisdição, como 
manifestação de soberania, limita-se a um Estado e seu território (princípio jurisdicional 
da aderência ao território). Logo, entre Estados soberanos, não se fala em competências, 
mas em jurisdições. 
 O art. 21 indica os casos em que o Poder Judiciário nacional tem jurisdição, mas 
não refuta a existência de processos perante órgãos jurisdicionais estrangeiros 
(litispendência e/ou coisa julgada). Juízo brasileiro e juízo estrangeiro têm competência 
para o julgamento do processo envolvendo as matérias e situações previstas no 
dispositivo legal. 
 O art. 22 complementa as hipóteses do art. 21. 
 Os órgãos jurisdicionais brasileiros têm jurisdição, sem prejuízo de outros 
órgãos estrangeiros. O Brasil não deixa de reconhecer sentenças estrangeiras nas 
hipóteses aqui elencadas. 
 Eventual existência de uma ação ajuizada, sobre a mesma lide, perante um 
tribunal estrangeiro, não obsta a que a autoridade judiciária 
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brasileira conheça da mesma causa, e das que lhe são conexas, salvo se já ocorreu a res 
iudicata (sentença devidamente homologada). 
 
b) Competência Nacional Exclusiva 
 
 Art. 23. 
 Disciplina os casos em que o ordenamento jurídico brasileiro não aceita a 
manifestação de órgãos jurisdicionais estrangeiros (competência 
„privativa‟ ou „exclusiva‟). 
 Mesmo que um Tribunal estrangeiro manifeste-se a respeito, não haverá como 
pretender que aquela decisão seja cumprida no Brasil. Não poderá gerar efeitos no 
território brasileiro, nem tampouco ser passível de homologação pelo Superior Tribunal 
de Justiça. 
 Reserva exclusiva de jurisdição à autoridade judiciária nacional. 
 
 
c) Pressuposto negativo: trânsito em julgado de processo de jurisdição interna ou da 
homologação de sentença estrangeira 
 
 Art. 24. 
 Antes da homologação da sentença estrangeira, é indiferente para a 
 justiça brasileira a existência de idêntica „ação‟ em curso („litispendência‟) ou já 
julgada („coisa julgada‟) perante o órgão jurisdicional estrangeiro. 
 Do mesmo modo, não é óbice para a homologação a existência, no Brasil, de 
pendência de demanda idêntica àquela cuja sentença se pretende cumprir em território 
nacional. 
 Para a lei brasileira, a partir do trânsito em julgado do processo de jurisdição 
interna ou da homologação da sentença estrangeira, o processo que ainda estiver em 
curso deverá ser extinto em função do pressuposto processual negativo (art. 485, inciso 
V, do CPC). 
 Transitada em julgado a homologação da sentença estrangeira, o processo 
nacional deverá ser extinto sem a resolução de mérito por ofensa superveniente à coisa 
julgada material (art. 485, V). De outro lado, transitada em julgado a decisão proferida 
no processo nacional, o Superior Tribunal de Justiça não poderá homologar a sentença 
estrangeira, que homologada nessas circunstâncias agrediria a coisa julgada e, por 
consequência, a soberania nacional. 
 Conexão. Reunião dos processos perante o juízo prevento – impossibilidade 
desse efeito entre ação estrangeira e ação nacional – processos deverão ser julgados 
normalmente. 
 
d) Cláusula de Eleição de Foro em Contrato Internacional 
 
 Não compete à autoridade judiciária brasileira o processamento e o julgamento 
da ação quando houver cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro em contrato 
internacional, arguida pelo réu na contestação (art. 25). 
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 O texto de lei inova ao admitir a cláusula de eleição de foro em contrato 
internacional, para fins de afastar a competência da autoridade judiciária nacional _ 
negócio jurídico processual. 
 Em caso de descumprimento por parte do autor, caberá ao réu suscitá-la em sede 
preliminar de contestação, sob pena de prorrogação da competência. 
 As partes poderão excluir a competência judiciária nacional, por meio de 
cláusula de eleição de foro, escrita, apenas nas hipóteses de competência nacional 
concorrente. 
 A cláusula de eleição de foro poderá ser declarada ineficaz de ofício pelo juiz, na 
hipótese de abusividade aparente. 
 
 
1.3 Competência Interna 
 
a) Considerações Iniciais 
 
 Disciplina o campo de atuação da jurisdição nacional. 
 Embora a jurisdição seja „uma‟ e „indivisível‟, isto não quer significar que ela 
não pode ser compartimentada, com vistas ao seu melhor desempenho. 
 É o resultado de critérios para distribuir entre vários órgãos as atribuições 
relativas ao desempenho da jurisdição; é o poder de exercer a jurisdição nos limites 
estabelecidos por lei. 
 Seu estudo deve partir da Constituição Federal, porque é ela que cria os órgãos 
jurisdicionais (art. 92), prevê a possibilidade e os princípios determinantes de sua 
criação (art. 125), determina quais matérias serão julgadas por cada um dos tribunais por 
ela criados ou as matérias que, por autorização expressa da Constituição Federal, 
poderão ser atribuídas por lei aos Tribunais. 
 Exame de diversas regras insertas na Constituição Federal: - art. 102 (Supremo 
Tribunal Federal); – art. 105 (Superior Tribunal de Justiça); - arts. 108 e 109 (Tribunais 
Regionais e Juízes Federais); – art. 114 (Justiça do Trabalho); – arts. 125 e 126 
(Tribunais de Justiça e juízes Estaduais) etc. 
 Exames de outras regras previstas: - no Código de Processo Civil (arts. 42-66 e 
960-965); - nas normas de organização judiciária da justiça federal e de cada Estado-
membro; - nas Constituições estaduais (lei de organização judiciária de iniciativa do 
Tribunal de Justiça) - (art. 125, §1º, da CF). 
 As Constituições dos Estados podem reservar competência originária a seus 
respectivos Tribunais de Justiça. 
 De acordo com Didier, a “distribuição da competência faz-se por meio de 
normas constitucionais (inclusive de constituições estaduais), legais, regimentais 
(distribuição interna da competência nos tribunais, feita pelos seus regimentos internos) 
e até mesmo negociais (no caso de foro de eleição)”. 
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b) Distribuição da Competência 
 
 Normas constitucionais, processuais e organização judiciária - além da 
distribuição interna da competência dos tribunais (regimentos internos). 
 A competência da justiça local, ou estadual, assume feição residual. Tudo o que 
não toca à Justiça Federal ou às Especiais é da competência dos órgãos judiciários dos 
Estados. 
 O STF entende existir a chamada competência implícita, ou seja, quando não 
houver regra expressa, mesmo assim algum órgão jurisdicional terá competência para 
processar e julgar o feito. Isso porque não existe vácuo de competência, pois feriria de 
morte a imprescindível completude do ordenamento jurídico. 
 De outro lado, todo juízo tem competência para julgar a sua própria competência 
(competência mínima). 
 Perpetuação da Jurisdição.Determina-se a competência no momento do registro 
ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de 
fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário 
ou alterarem a competência absoluta (art. 43). 
 No entanto, não basta que as regras de competência sejam fixadas por normas 
jurídicas gerais, mas que se saiba qual, dentre os vários igualmente concorrentes 
(competência concorrente), será o juízo responsável concretamente pelo processamento 
e julgamento da demanda (juiz natural). 
 
c) Competência por Distribuição 
 
 Juiz legal – prévia fixação de regras. 
 Existência de mais de um juízo (vara) competente. 
 Sorteados abstrativamente dentre os competentes - forma alternada. 
 Atenção ao princípio da igualdade - melhor distribuição da carga de trabalho – 
impessoalidade. 
 Burla: - violação ao princípio do juiz natural; – violação às regras processuais de 
distribuição (arts. 284 a 290). 
 O magistrado corrigirá o erro ou a falta de distribuição, de ofício ou a 
requerimento do interessado. 
 De acordo com Didier, “fraude à distribuição significa violação ao princípio do 
juiz natural (art. 5º, LIII e LIV da CF) e às normas relativas à distribuição; por 
consequência, levará à incompetência absoluta”. 
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d) Classificações da Competência 
 
d.1) Competência do foro (territorial) e competência do juízo (vara) 
 
 Foro (território) é o local onde o órgão jurisdicional exerce as suas funções; é a 
unidade territorial na qual se exerce o poder jurisdicional (comarca ou distrito). 
 Juízo (vara) é a unidade jurisdicional e administrativa competente para exercer 
as suas funções em determinado território. Sua competência define-se pela distribuição 
ou pelo registro, caso tenha ou não mais de juízo competente abstrativamente para o 
processamento e julgamento do feito (art. 43). 
 As leis de organização judiciária definem a competência do juízo, enquanto o 
Código de Processo Civil define a competência territorial. 
 
d.2) Competência Originária e Competência Derivada 
 
 A competência originária é aquela atribuída, tanto ao juízo singular (primeiro 
grau), como ao tribunal, excepcionalmente, para conhecer da causa em primeiro lugar. 
 A competência derivada ou recursal, normalmente atribuída ao tribunal, define o 
órgão jurisdicional responsável por rever a decisão. 
 São espécies de competência funcional e absoluta. 
 
d.3) Competência Relativa e Competência Absoluta 
 
 São regimes jurídicos de competência diversos, que levam em conta se tratar de 
regras fixadas, principalmente, para atender ao interesse público (absoluta), ou para 
atender, preponderantemente, ao interesse particular (relativa). 
 
e) Semelhanças entre os regimes das competências absoluta e relativa 
 
 A incompetência (absoluta ou relativa) é defeito processual que não proporciona 
a extinção do processo, mas sim sua remessa ao juízo competente (art. 64, §3º), salvo 
situações excepcionais, como nas hipóteses de incompetência nos Juizados Especiais 
(art. 51, inciso III, da Lei 
n. 9.099/95) e de incompetência internacional (arts. 21 e 23). 
 A incompetência, absoluta ou relativa, será alegada como questão preliminar de 
contestação (art. 64, caput). 
 Após manifestação da parte contrária, o juiz decidirá imediatamente a alegação 
de incompetência (art. 64, §2º). 
 Salvo decisão judicial em sentido contrário, conservar-se-ão os efeitos de 
decisão proferida pelo juízo incompetente (absoluta ou relativa) até que outra seja 
proferida, se for o caso, pelo juízo competente (art. 64, 
§4º). 
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 A citação válida, ainda quando ordenada por juízo incompetente (relativa ou 
absoluta), induz litispendência para o réu, faz litigiosa a coisa e constitui em mora o 
devedor (art. 240, caput). 
 A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena a citação, ainda 
que proferido por juízo incompetente, retroagirá à data de propositura da ação (art. 240, 
§1º). 
 
f) Distinções entre os regimes das competências absoluta e relativa 
 
 Tabela proposta por DIDIER. 
 
Absoluta Relativa 
Regra de competência criada para atender a 
interesse público. 
Regra de competência criada para atender 
precipuamente a interesse particular 
A incompetência absoluta pode ser alegada a 
qualquer momento, por qualquer das partes, 
podendo ser reconhecida ex officio pelo órgão 
julgador (art. 64, §1º). Pode, inclusive, ser alegada 
como preliminar de 
contestação pelo réu (art. 64, caput). 
A incompetência relativa somente pode ser arguida 
pelo réu, na contestação, sob pena de preclusão e 
prorrogação da competência do juízo, não podendo 
o magistrado reconhecê-la de ofício (enunciado n. 
33 da súmula da jurisprudência do STJ). O 
Ministério Público pode alegar incompetência 
relativa nas causas em que atuar (como fiscal da 
ordem jurídica, esclareça-se, a despeito do 
laconismo do texto legal – art. 65, parágrafo 
único). O assistente simples não pode alegar 
incompetência relativa em 
favor do assistido (aplicação do art. 122). 
Trata-se de defeito grave; uma vez transitada em 
julgado a última decisão, ainda será possível, no 
prazo de dois anos, desconstituí-la por ação 
rescisória, com base no art. 966, II. 
A regra de competência absoluta não pode ser 
alterada pela vontade das partes. Não se admite 
negócio processual que altere competência 
absoluta. 
As partes podem modificar voluntariamente a 
regra de competência relativa, quer pelo foro de 
eleição (art. 63), quer pela não alegação da 
incompetência relativa (art. 65, 
caput). 
A regra de competência absoluta não pode ser 
alterada por conexão ou continência. 
A regra de competência relativa pode ser 
modificada por conexão ou continência. 
Competência em razão da matéria, da pessoa e 
funcional são exemplos de competência absoluta. 
A competência em razão do valor da causa 
também pode ser absoluta, quando extrapolar os 
limites estabelecidos pelo legislador. Em alguns 
casos, a competência territorial também é absoluta. 
Competência territorial é, em regra, relativa. Além 
disso, também é relativa a competência pelo valor 
da causa, quando ficar aquém do limite 
estabelecido pela lei. 
Mudança superveniente de competência absoluta 
impõe o deslocamento da causa para outro juízo, 
excetuando a perpetuação da jurisdição. 
Mudança superveniente de competência relativa é 
irrelevante para o processo, mantida a perpetuação 
da competência. 
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g) Métodos para identificar o juízo competente 
 
 A doutrina oferece alguns métodos para identificação do juízo competente, 
merecendo aqui destaque o roteiro elaborado por Nelson Nery Jr. e Rosa Nery: 
 
o a) verificar se a justiça brasileira é competente para julgar a causa (arts. 
21-23); 
 
o b) se for, investigar se é o caso de competência originária de tribunal ou 
de órgão jurisdicional atípico (Senado Federal: art. 52, I e II, CF/88; 
Câmara dos Deputados: art. 51, I, CF/88; Assembleia Legislativa 
estadual para julgar governador de Estado); 
 
o c) não sendo o caso, verificar se é afeto à justiça especial (eleitoral, 
trabalhista ou militar) ou justiça comum; 
 
o d) sendo competência da justiça comum, verificar se é da justiça federal 
(arts. 108-109, CF/88), pois, não sendo, será residualmente da estadual; 
 
o e) sendo da justiça estadual, deve-se buscar o foro competente, segundo 
os critérios do CPC (competênciaabsoluta e relativa, material, funcional, 
valor da causa e territorial); 
 
o f) determinado o foro competente, verifica-se o juízo competente, de 
acordo com o sistema do CPC (prevenção, p. ex.) e das normas de 
organização judiciária. 
 
h) Repartição Tríplice da Competência (critérios determinativos de 
distribuição da competência) 
 
h.1) Consideração introdutória 
 
 A competência é distribuída, de acordo com a doutrina, por três critérios: 
objetivo, funcional e territorial. 
 Esses três critérios encontram-se presentes em todas as causas. 
 
h.2) Objetivo 
 
 É pela natureza da relação jurídica substancial deduzida em juízo que se faz a 
distribuição da competência pelo critério objetivo. 
 Natureza da relação jurídica substancial deduzida em juízo 
(elementos da ação): qualidade da parte, matéria e valor da causa. 
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 Conhecidos os elementos da demanda, têm-se os subcritérios objetivos para 
distribuir a competência entre órgãos de tipos diferentes. 
 Partes (competência em razão da pessoa). Fixa-se a competência em virtude das 
partes envolvidas (rationae personae). Tem-se como principal exemplo o caso da vara 
da Fazenda Pública, destinada ao processamento de causas em face de entes públicos. 
 Matéria (competência em razão do objeto da causa). Determina-se a 
competência pela natureza da relação jurídica controvertida (causa de pedir), que 
contém a afirmação do direito em litígio, definindo-se, a partir daí, as varas 
especializadas competentes (v.g., família, cível, penal, etc.). 
 Valor da causa (competência em razão do valor dos pedidos). A título de 
exemplo, cita-se a competência em razão do valor da causa dos Juizados Especiais. 
 As partes podem modificar a competência em razão do valor da causa (art. 63, 
caput), por isso permite-se ao sujeito demandar ou não perante o Juizado Especial, nas 
hipóteses cujo valor da causa é inferior ao teto deste procedimento especial. 
 No entanto, tratando-se de competência em razão do valor da causa dos Juizados 
Especiais Federais (art. 3º, §3º, Lei n. 10.259/2001) e dos Juizados Especiais Estaduais 
da Fazenda Pública (art. 2º, §4º, Lei n. 12.153/2009), têm-se hipóteses de competência 
absoluta. 
 É ineficaz a sentença condenatória na parte que exceder a alçada estabelecida 
nesta Lei (art. 39, da Lei n. 9.099/95). 
 De acordo com DIDIER, “quando há competência em razão do valor da causa, o 
juízo é absolutamente incompetente para conhecer das causas que extrapolem o limite 
estabelecido”. 
 Previsão legal (em razão das partes, da matéria e do valor): Constituição Federal, 
Constituição Estadual, Código de Processo Civil, normas de organização judiciária - 
estadual ou federal etc. 
 
h.3) Competência Funcional 
 
 Justificativa: em um mesmo processo, faz-se necessário o desenvolvimento de 
atividades jurisdicionais de mais de um juízo. 
 Relaciona-se com a distribuição (repartição) das funções (atribuições) que 
devem ser desenvolvidas em um mesmo processo (endoprocessuais) por diferentes 
personagens da jurisdição. 
 Vicente Greco Filho apresenta a seguinte classificação: 
 
o a) por graus de jurisdição (originária ou recursal); 
o b) por fases do processo (cognição e execução, p. ex.); 
 
o c) por objeto do juízo: assunção de competência (art. 947), arguição de 
inconstitucionalidade em tribunal (art. 948). 
 
 Pode se apresentar numa perspectiva horizontal (mesma instância) ou numa 
perspectiva vertical (competência derivada). 
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h.4) Competência Territorial 
 
 Foro é o local onde o juiz exerce as suas funções; é a unidade territorial sobre a 
qual se exerce o poder jurisdicional. 
 No mesmo local, conforme as leis de organização judiciária podem funcionar 
vários juízes com atribuições iguais ou diversas. Assim, para uma mesma causa, 
verifica-se primeiro qual o foro competente, depois o juízo, que é a vara, o cartório, a 
unidade administrativa. 
 A competência do juízo é matéria pertinente às leis de organização judiciária, já 
a competência do foro é regulada pelo CPC. 
 A competência territorial é a regra que distribui a competência em razão do 
lugar; que define os limites das circunscrições territoriais dos órgãos jurisdicionais; que 
define o território em que a causa deve ser processada. 
 Classifica-se em competência comum ou geral, e competências especiais. A 
primeira se determina pelo domicílio do réu (art. 46). E as especiais levam em conta, 
para certas causas determinadas pelo Código, as pessoas, as coisas e os fatos envolvidos 
no litígio (arts. 47 a 53). 
 Na esfera penal, a competência territorial geral é ditada pelo local da infração 
(forum delicti commissi), porque aí se tem maior interesse na persecução do crime, que 
será mais eficaz, e, por outro lado, aí haverá maior interesse na produção da prova. 
 No âmbito trabalhista, a competência territorial geral é da localidade onde o 
empregado presta serviço ao empregador, ainda que tenha sido contratado noutro local 
ou no estrangeiro (art. 651, CLT). Contudo, a lei consagra algumas exceções. 
 
h.5) Principais Regras Cíveis de Competência Territorial 
 
 Competência comum ou geral. A ação fundada em direito pessoal ou em direito 
real sobre bens móveis será proposta, em regra, no foro do domicílio do réu (art. 46, 
caput). 
 Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles 
(art. 46, §1º; art. 71 do CC). 
 Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele poderá ser demandado 
onde for encontrado ou no foro de domicílio do autor (art. 46, 
§2º). 
 Havendo 2 (dois) ou mais réus com diferentes domicílios, serão demandados no 
foro de qualquer deles, à escolha do autor (art. 46, §4º). 
 Competência especial. O CDC estabelece que o foro competente para as relações 
de consumo é o do domicílio do autor-consumidor (art. 101, I). 
 A ação em que o incapaz for réu será proposta no foro do domicílio de seu 
representante ou assistente (art. 50; art. 76, parágrafo único, CC). 
 É competente o foro para a ação de divórcio, separação, anulação de casamento 
e reconhecimento ou dissolução de união estável (art. 53, I): 
 
o a) de domicílio do guardião de filho incapaz; 
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o b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz; 
 
o c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio 
do casal. 
 
 Não são foros concorrentes, mas sim preferenciais: o primeiro é preferencial ao 
segundo, que é preferencial ao terceiro. Se houver guarda compartilhada, o foro deve ser 
o de domicílio do réu, pois ambos são guardiões do incapaz. 
 É competente o foro de domicílio ou residência do alimentando, para a ação em 
que se pedem alimentos (art. 53, II). 
 É competente o foro do lugar de residência do idoso, para a causa que verse 
sobre direito previsto no respectivo estatuto (art. 53, III, „e‟). 
 É competente o foro do lugar da sede da serventia notarial ou de registro, para a 
ação de reparação de dano por ato praticado em razão do ofício (art. 53, III, „f‟). 
 É competente o foro de domicílio do autor ou do local do fato, para a ação de 
reparação de dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, inclusive 
aeronaves (art. 53, V). 
 As demandas cíveis de competência da Lei n. 11.340/2006 (combate à violência 
contra a mulher) podem tramitar, por opção da ofendida: 
 
o a) em seu domicílio ou de sua residência; 
o b) no lugar do fato em que se baseou a demanda; 
o c) no domicílio do agressor. 
 Trata-sede hipótese de foros concorrentes, de escolha exclusiva da demandante. 
 
i) Modificação da Competência 
 
 Para análise desse ponto, deve-se ter em mente a classificação da competência 
absoluta e relativa. 
 Apenas a competência relativa pode ser modificada (legais _ conexão e 
continência _ art. 54; voluntárias _ foro de eleição _ art. 63 _ e não arguição de 
incompetência relativa _ art. 65). 
 A eleição de foro só produz efeito quando constar de instrumento escrito e aludir 
expressamente a determinado negócio jurídico (art. 63, 
§1º). 
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j) Ineficácia da Cláusula de Foro de Eleição 
 
 Antes da citação, a cláusula de eleição de foro, se abusiva, pode ser reputada 
ineficaz pelo juiz, que determinará a remessa dos autos ao juízo do foro do domicílio do 
réu (art. 63, §3º). 
 O STJ (Resp. 56.711-SP) já teve oportunidade de se posicionar sobre o assunto, 
considerando abusiva a cláusula de eleição de foro em contratos de consumo nas 
seguintes hipóteses: 
 
o a) se, no momento da celebração, a parte aderente não dispunha de 
intelecção suficiente para compreender o sentido e as consequências da 
estipulação contratual; 
 
o b) se da prevalência de tal estipulação resultar inviabilidade ou especial 
dificuldade de acesso ao Judiciário; 
 
o c) se se tratar de contrato de obrigatória adesão, assim entendido o que 
tenha por objeto produto ou serviço fornecido com exclusividade por 
determinada empresa. 
 
 O STJ também já se posicionou pela validade de cláusula de eleição de foro 
prevista em contrato de adesão, desde que não tenha sido reconhecida a hipossuficiência 
de uma das partes ou embaraça ao acesso à justiça (AgRg no Ag n. 1.386.969/BA e 
REsp n. 1.073.962/PR). 
 A abusividade de cláusula de eleição de foro pode decorrer de contrato de 
adesão ou não, não fazendo a lei qualquer distinção. 
 Com arrimo no art. 10, não será possível ao juiz tomar a decisão do art. 63, §3º, 
sem que antes ouça o autor sobre a suposta abusividade da cláusula de eleição de foro. 
 É importante destacar que o foro de eleição (territorial) diz respeito à 
incompetência relativa, a princípio, dependente de provocação dos interessados. Nesse 
ponto, excepcionalmente, o legislador cria um “regime especial de incompetência 
relativa”, o qual permite o controle de validade (abusividade) da Cláusula de Eleição de 
Foro, antes da citação, por parte do juiz. 
 A competência determinada em razão da matéria, da pessoa e da função é 
inderrogável por convenção das partes (art. 62). 
 
k) Conexão e Continência 
 
 Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou 
a causa de pedir (art. 55). 
 Os processos de ações conexas serão reunidos para decisão conjunta, salvo se 
um deles já houver sido sentenciado (art. 55, §1º). 
 Por relação de prejudicialidade. Serão reunidos para julgamento conjunto os 
processos que possam gerar risco de prolação de decisões conflitantes ou contraditórias 
caso decididos separadamente, mesmo sem conexão entre eles (art. 55, §3º). 
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 Caso não seja possível a reunião, a conexão pode gerar a suspensão do processo. 
 Dá-se a continência entre 2 (duas) ou mais ações quando houver identidade 
quanto às partes e à causa de pedir, mas o pedido de uma, por mais amplo, abrange o 
das demais (art. 56). 
 Quando houver continência e a ação continente tiver sido proposta 
anteriormente, no processo relativo à ação contida será proferida sentença sem 
resolução de mérito, caso contrário, as ações serão necessariamente reunidas (art. 57). 
 
l) Forma de Alegação de modificação da competência e a alegação de incompetência 
relativa 
 
 Não se pode confundir modificação da competência com alegação de 
incompetência relativa. 
 Caberá ao réu alegar a incompetência relativa e a modificação da competência 
em preliminar de contestação, com fulcro nos incisos II e VIII, do art. 317, 
respectivamente. 
 Serão distribuídas por dependência as causas de qualquer natureza, quando se 
relacionarem, por conexão ou continência, com outra já ajuizada (art. 286, I) _ hipótese 
de alegação por parte do autor. 
 O órgão julgador poderá conhecer ex officio da modificação legal da 
competência, mas dependerá de provação para conhecer da incompetência relativa. 
 
Quadro distintivo proposto por Didier: 
 
 Alegação de modificação de 
competência relativa 
Alegação de 
incompetência relativa 
Legitimidade Qualquer das partes pode 
suscitar a questão, além de o 
órgão jurisdicional poder 
conhecê-la ex officio. 
Somente o réu pode suscitar a 
questão. O Ministério Público 
pode alegar incompetência 
relativa nas causas em que 
intervenha. 
Efeito do acolhimento Remessa dos autos ao juízo 
prevento. 
Remessa dos autos ao juízo 
competente. 
Forma de alegação No bojo da petição inicial ou 
contestação, por simples petição 
ou até mesmo 
oralmente. 
Na contestação. 
Momento Enquanto o processo estiver 
pendente. 
No primeiro momento que 
couber ao réu falar nos autos, 
sob pena de 
preclusão. 
 
m) Prevenção 
 
 A reunião das ações propostas em separado far-se-á no juízo prevento, onde 
serão decididas simultaneamente (art. 58). 
 Direito Processual Civil 1 
Aracaju (SE), fevereiro de 2019 Página 13 
 
 
 
 O registro ou a distribuição da petição inicial torna prevento o juízo (art. 59). 
 A análise do tema pressupõe a identidade das demandas ou, quando menos, que 
elas se relacionem de alguma maneira (conexão – art. 55; continência – art. 56). 
 Finalidade: evitar a prolação de decisões incompatíveis em alguma medida sobre 
uma mesma situação de direito material. 
 A palavra „prevenção‟ e as locuções „prevenção do juízo‟ e „juízo prevento‟ 
devem ser entendidas como a fixação concreta da competência de um entre outros juízos 
competentes em abstrato. 
 Naqueles casos em que há competência concorrente é possível verificar que um 
– e apenas um – dos juízos é o competente, com exclusão dos demais. 
 
n) (In) Recorribilidade Imediata da Decisão sobre Competência 
 
 Não há previsão expressa para o manuseio de agravo de instrumento contra 
decisões que versam sobre competência (art. 1.015). 
 No entanto, para Didier, malgrado tratar-se de rol taxativo, pode-se lançar mão 
de uma interpretação extensiva, a fim de se admitir o cabimento de agravo de 
instrumento para tais hipóteses. 
 
o) Conflito de Competência 
 
 Há conflito de competência: 
 
o a) quando 2 (dois) ou mais juízes se declararem competentes (positiva, 
art. 66, I); 
 
o b) quando 2 (dois) ou mais juízes se considerarem incompetentes, 
atribuindo um ao outro a competência (negativa, art. 66, II); e 
 
o c) quando entre 2 (dois) ou mais juízes surge controvérsia acerca da 
reunião ou separação de processos (art. 66, III). 
 
 O juiz que não acolher a competência declinada deverá suscitar o conflito, salvo 
se a atribuir a outro juízo (art. 66, parágrafo único). 
 O conflito precisará ser resolvido, para que apenas um juízo seja declarado 
competente. 
 Não se permite suscitar conflito, se uma das causas já houver sido julgada 
(Súmula n. 59 do STJ). 
 Também não se admite conflito se houver diferença hierárquica entre os órgãos 
jurisdicionais, devendo nesse caso prevalecer o posicionamento do hierarquicamente 
superior. 
 O conflito de competência pode ser suscitado por qualquer das partes, pelo 
Ministério Público ou pelo juiz (art. 951, caput). 
 Direito Processual Civil 1 
Aracaju (SE), fevereiro de 2019 Página 14 
 
 
 
 Nãopode suscitar o conflito a parte que, no processo, arguiu incompetência 
relativa (art. 952, caput). 
 O conflito de competência não obsta, porém, a que a parte que não o arguiu 
suscita a incompetência (art. 952, parágrafo único). 
 Ao decidir o conflito, o tribunal declarará qual o juízo competente, pronunciando 
também sobre a validade dos atos do juízo incompetente (art. 957, caput). 
 O STF tem competência para solucionar conflito quando estiver envolvido um 
tribunal superior. Os Tribunais de Justiça e os Tribunais Regionais Federais processam 
os conflitos entre juízes a eles vinculados. Se o conflito envolver diferentes Tribunais, a 
competência será do STJ. 
 
Bibliografia: 
 
1. ALVIM, J. E. CARREIRA. Teoria Geral do Processo. 12. ed. Gen/Forense: 
Rio de Janeiro, 2009. 
2. . Novo Código de Processo Civil Anotado. São Paulo: Saraiva, 2015. 
3. CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; 
DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. 25. ed. São Paulo: 
Malheiros, 2009. 
4. DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil: introdução ao direito 
processual civil, parte geral e processo de conhecimento. 20. ed. Salvador: Jus Podivm, 
2018, v. I. 
5. MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. 
Curso de Processo Civil: tutela dos direitos mediante procedimento comum. São 
Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, v. II. 
6. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil: 
comentado artigo por artigo. Salvador: Jus Podivm, 2016. 
7. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 
59. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018, v. I.

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