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Introdução No presente capítulo, serão apresentadas duas das mais importantes religiões monoteístas que exercem predominância no Oriente Médio e que encontram representação em praticamente todos os continentes do nosso planeta. Trata-se das religiões consideradas como “proféticas” ou “reveladas”, ou seja, que teriam surgido a partir de uma profecia ou de uma revelação especial de seu deus. Falamos do Judaísmo e Islamismo, religiões que também são importantes para a compreensão da história do Cristianismo no Ocidente. Ronaldo Steffen JUDAÍSMO Fundador: Abraão e seus descendentes, Isaque e Jacó. Data de nascimento: por volta de 1700 AEC (antes da era comum; é assim que os judeus preferem identificar a cronologia antes de Cristo). Local de nascimento: provavelmente Ur, na Caldéia. Textos sagrados e reverenciados: a Torah, que descreve a criação do mundo e a fundação do reino de Israel, além de contar as leis divinas; o Talmude, um conjunto de escritos jurídicos, éticos e litúrgicos, bem como de histórias e lendas judaicas. Estatísticas: fala-se em 15 milhões de adeptos, dos quais 6 milhões estão fora de Israel. No Brasil, estima-se em 130 mil adeptos. História O judaísmo é uma religião inteiramente ligada à história. As narrativas bíblicas começam com Adão e Eva e os relatos que descrevem a origem e as consequências do pecado, manifestadas no desejo humano de rebelar-se contra Elohim (Deus). Segue-se a expulsão do paraíso. Mais tarde, o mundo inteiro é destruído pelo dilúvio, salvando-se apenas Noé e sua família, além dos animais que embarcaram na sua conhecida Arca. Em seguida, há os relatos da destruição de Sodoma e Gomorra, cidades sem Elohim, e da construção e derrubada da torre de Babel, destruída por representar a tentativa humana de chegar até o céu por conta própria. De Abraão a Moisés A fase histórica seguinte tem seu ponto de partida com Abraão, quando este sai da cidade de Ur, localizada no atual Sul do Iraque, por volta de 1700 AEC. Seguindo orientação divina, Abraão saiu de sua terra e foi em direção à terra indicada por Elohim, a fim de formar um grande povo. Esse povo ganhou um nome após uma dramática luta entre um anjo de Elohim e Jacó, neto de Abraão. Ao ser derrotado, o anjo dá a Jacó o nome de Israel (o que venceu a Elohim). Os filhos de Jacó, mais tarde, vieram a ser identificados como as doze tribos de Israel. Com José, um dos filhos de Jacó, as narrativas bíblicas mostram como os israelitas foram parar no Egito. Após serem escravizados, foram retirados do Egito com a ajuda de Moisés, em uma jornada de 40 anos pelo deserto antes de chegarem à Canaã, a terra prometida. Confira esses relatos no Livro de Êxodo, disponível em www.sbb.org.br. Fato marcante da travessia ocorre no monte Sinai quando Elohim dá a Moisés as duas tábuas da Lei, que passaram a ser conhecidas como os Dez Mandamentos. Por volta de 1.200 AEC, os israelitas conquistaram parte de Canaã, convivendo com povos não israelitas. Foi a época dos juízes que cuidavam para que o povo respeitasse as leis dadas por Elohim. A luta com os filisteus, nesse período, foi o episódio determinante da necessidade da criação de um poder político centralizado. O reino de Israel O ano 1.000 AEC marca a introdução da monarquia através do rei Saul. Davi e Salomão são os expoentes desse período. Com Davi, nascido em Belém, dá-se a unificação das tribos de Israel. Com Salomão, dá-se a construção do Templo de Jerusalém no século X AEC. A prática de sacrifícios no templo, espécie de oferendas, passou a ser a forma mecânica de adoração. Surgem daí os profetas. Destaca-se Amós, que viveu por volta de 750 AEC. Amós condenava os males sociais, como a opressão dos pobres pelos ricos. O exílio na Babilônia Advertidos pelos profetas do juízo e sofrendo punição em razão do descumprimento das leis divinas, os israelitas, sem retroceder, viram o seu reino dividido em dois: o reino do Norte (Israel) e o do Sul (Judá). Em 722 AEC, os assírios invadiram e devastaram o reino do Norte, que deixa de ter importância política e religiosa. O reino do Sul foi conquistado pelos babilônios em 587 AEC, deixando como marca da ocupação a destruição do Templo de Jerusalém. Os habitantes do reino do Sul tiveram a permissão de voltar a sua terra em 539 AEC. Daí em diante, passaram a se tornar conhecidos como judeus. O Templo de Jerusalém foi reerguido em 516 AEC. Ocupação estrangeira Seguidas vezes, após o retorno da Babilônia, os judeus caíram sob o domínio político estrangeiro. Foi assim que, em 70 EC (Era Comum), uma revolta contra os romanos levou ao saque de Jerusalém. O Templo, que recentemente havia sido ampliado pelo rei Herodes, foi outra vez arrasado. Dessa época em diante, tem- se um novo formato do judaísmo, desvinculado do templo e centrado na sinagoga. Muitos judeus estavam agora dispersos pelas terras do Mar Mediterrâneo, no que foi chamado de Diáspora judaica. História mais recente A dispersão dos judeus, provocada pelas diversas ocupações, permitiu-lhes, em muitas ocasiões e em diferentes lugares, assumir papel de grande importância e destaque, tanto nas letras como na economia (a religião permitia-lhes ganhar juros emprestando dinheiro). No entanto, o que mais tem marcado a dispersão dos judeus é a constante campanha que diferentes países e culturas têm desencadeado com o fim de afastar os judeus de seus limites geográficos, em especial a partir da Baixa Idade Média. Por muito tempo, o cristianismo encabeçou a perseguição aos judeus, sob a alegação de terem sido os judeus os culpados pela morte de Jesus. Nos séculos XIII e XIV, os judeus foram deportados da França e da Inglaterra; na Espanha, a perseguição se deu no século XV, com a expulsão em 1492. Na Noruega, em 1687, os judeus foram proibidos de entrar em seu território. Culmina o cenário de perseguição, na história recente próxima, com o avanço nazista na Europa, entre 1933 e 1945,onde ocorreu o maior genocídio judeu da história. Os números normalmente falam de seis milhões de judeus mortos no holocausto da guerra, apesar de que correntes revisionistas da história considerem esse número exagerado, falando de cerca de dois milhões de mortos. Mesmo em épocas em que as perseguições explícitas não ocorriam, os judeus continuavam sofrendo restrições: eram tratados como párias sociais; eram obrigados a adotar nomes de fácil identificação e a residirem em lugares específicos (os famosos guetos); eram proibidos de possuir terras e assim por diante. Apenas em 1948 veio o reconhecimento mundial de Israel como nação, por meio do ato pelo qual a ONU criou o Estado de Israel. Os primeiros passos foram dados no fim do século XIX. Muitos judeus consideraram a possibilidade de voltar para sua antiga pátria e, assim, fugirem das constantes perseguições de que eram alvos. Essa ideia foi chamada de sionismo. A princípio, muitos sionistas desejavam criar um Estado laico, secular, mas os judeus ortodoxos conseguiram realizar o seu desejo de que o país fosse fundado com base na religião judaica. Esse novo Estado tem vivido em contínuo conflito com o mundo árabe, também por causa dos milhares de palestinos que foram deslocados de suas propriedades na época da fundação de Israel. Hoje, as terras israelenses abrigam apenas cinco dos quinze milhões de judeus. Apesar de estarem espalhados em diversas nações do mundo, outra grande parte reside nos Estados Unidos da América. Ensinamentos Deus O judaísmo é uma religião monoteísta. Elohim, o deus único, é o criador do mundo e o senhor da história. Toda vida depende dele e tudo o que é bom flui dele. É um deus pessoal, que tem preocupação com as coisas que criou e nelas intervém. Elohim é algo que não pode ser expresso empalavras. O nome de deus é representado pelas letras IHVH, um acrônimo que significa "eu sou o que sou" em hebraico. Esse acrônimo costuma ser lido como Jeová ou Javé, porém o nome real é tão sagrado que sempre se usa algum sinônimo, como "o Senhor" ou "o nome". Jeová é o criador e o sustentador do mundo. A ideia de que Elohim possa não existir é totalmente alheia a um judeu, pois ele é o centro da vida judaica. Particularmente específica na concepção de Elohim, é a expectativa nutrida pela vinda de um messias ("o ungido") que virá criar um reino de paz na Terra. Historicamente, a expectativa remonta à época do rei Davi, quando os reis eram ungidos ao subir ao trono. Desde o exílio babilônico, os judeus alimentam a expectativa da chegada de um messias, saído da linhagem de Davi. Esse rei ideal restabeleceria Israel como uma grande potência e seu povo passaria a desfrutar de eterna felicidade. MESSIAS - Alguns esperam a vinda de uma pessoa; - Outros esperam uma era messiânica; - Outros identificam que essa era já chegou com a criação do Estado de Israel em 1948. Até hoje, essa expectativa continua viva. Nem todos os judeus, porém, identificam o Messias como uma pessoa; alguns falam em uma "era messiânica", que seria um estado de paz na Terra, com destaque especial para Israel. Há alguns judeus que identificam a criação do Estado de Israel, em 1948, como o cumprimento dessa expectativa. Ser humano O fato de que Elohim é um, e apenas um, reflete-se na existência humana. Toda a vida do ser humano deve ser consagrada a Deus. Não há linha divisória que separe o sagrado do profano. Enquanto ser biológico, o ser humano faz parte do cosmo. No entanto, de tudo o que há no cosmo, o ser humano foi escolhido como parte da essência divina, criado à imagem e semelhança de Deus, ultrapassando os limites biológicos. Por isso, faz parte da missão divina no cosmo, realizando a mediação entre o criador e a sua criação. A tarefa mais importante do ser humano é cumprir todos os seus deveres para com Elohim e para com seus semelhantes. O ser humano, embora biológico, faz parte da essência divina e deve cumprir a missão de Elohim aqui na Terra. Vida e morte Com relação à vida após a morte, os judeus não estabelecem um dogma rígido ou fechado, sendo este tema da teologia judaica sujeito a diversas interpretações. Porém, os judeus, de modo geral, creem na imortalidade da alma. Para os judeus ortodoxos, a noção de “vida após a morte” é uma declaração da crença na vinda do Messias, que ressuscitará fisicamente os mortos. Para os judeus liberais, por outro lado, a ideia é mais figurativa do que literal, existindo "a terra dos vivos" e “a terra dos mortos”, sendo que a ponte entre elas é o amor. Os escritos sagrados O chamado cânone judaico foi fixado por um concílio em Jabne, por volta de 100 EC. São 24 livros divididos em três grupos: • Torah (a Lei): os cinco livros de Moisés; • Nevim (os Profetas): os livros históricos e proféticos; • Ketuvim (os Escritos): os demais livros. Além da Torah (ou Torá), os judeus obedeciam a regras transmitidas oralmente. Conforme a tradição, no monte Sinai Moisés teria recebido a "Lei Escrita", bem como a "Lei Falada". A Lei Falada era proibida de ser escrita, pois deveria adaptar-se às condições reais da vida em diferentes lugares e épocas. Após a dispersão dos judeus, com o risco de se perder a tradição oral, decidiu-se registrar as orientações. Esse material chama-se Talmude. Não é em si um livro de ensinamentos, e sim um texto usado pelos rabinos em seus ensinamentos, para orientação dos fiéis em situações concretas. A sinagoga e o sábado Desde o exílio, a sinagoga tem desempenhado papel primordial na preservação das práticas religiosas dos judeus. É nesse espaço que se encontra a Arca da Aliança, uma espécie de armário colocado sistematicamente na direção de Jerusalém, onde são guardados os rolos da Torah. Nas manhãs dos sábados (shabat), das segundas e quintas-feiras, os rolos são lidos de tal forma que todo livro é lido no decurso de um ano. A sinagoga pode abrir suas portas para os serviços religiosos três vezes por dia, desde que dez homens estejam presentes. As mulheres não desempenham parte ativa no serviço religioso, pelo menos nos grupos ortodoxos. No entanto, encontram seu espaço nos rituais do shabat. O shabat dura do pôr do sol de sexta-feira até o pôr do sol de sábado. É uma relembrança do ato criador de Jeová, que descansou no sétimo dia. O sábado tornou-se uma festa semanal de renovação que ocorre em família. A esposa abençoa as velas do shabat na mesa já posta. O marido abençoa o vinho e o pão. É um importante momento para a união familiar judaica. As regras alimentares É responsabilidade da mulher zelar pela alimentação da família, devendo ser respeitadas as regras definidas nos livros sagrados. O judaísmo possui o que se chama de dieta kasher (ou kosher). Kasher significa correto, justo, bom. Aplicado à comida, refere-se apropriada ao consumo, isto é, que preenche todos os requisitos da dieta judaica. A carne só pode provir de animais que ruminam e que têm o casco partido, o que exclui o porco, o camelo, a lebre, o coelho e outros. Das aves, podem-se comer as não predatórias. Dos peixes, podem-se comer os que possuem escamas e barbatanas, excluindo-se polvos, lagostas, mariscos, caranguejos, camarões etc. Toda comida feita de sangue também é proibida, já que, para os judeus, a vida está no sangue. Os animais com sangue, e permitidos para alimentação, devem ser abatidos de forma que o máximo possível de sangue seja extraído. Há ainda outras restrições alimentares, como comer derivados de carne juntamente com derivados de leite. As frutas, verduras, bebidas alcoólicas e não alcoólicas são permitidas. A ética O religioso e o ético se fundem na vida de um judeu. Tudo pertence à Lei de Elohim. Além das 248 ordens afirmativas e das 365 proibições, a vida do judeu ainda deve respeitar os costumes e as práticas que se consolidaram ao longo de sua história. Entre as qualidades éticas recomendadas, estão a generosidade, a hospitalidade, a boa vontade para ajudar, a honestidade e o respeito pelos pais. O dízimo (10%) faz parte do comportamento de muitos judeus. Com relação aos pobres e necessitados, é curioso notar que o ato de dar esmolas não é considerado caridade, mas justiça. O dever de combater a pobreza é preceito bíblico a fim de cumprir-se a palavra de que jamais haverá pobre no povo escolhido. A mesma concepção é mantida em relação às viúvas, órfãos e estrangeiros. Refletir: Dar esmola não é caridade, mas ato de justiça. Quando, em determinada situação, não houver clareza sobre o que fazer, ou se a atitude gerar conflito, diante desse dilema ético deve sempre prevalecer a vida humana sobre os demais valores. As fases da vida Nascimento, juventude, casamento e morte são fases da vida, marcadas por costumes antigos e ainda mantidos. • Circuncisão: oito dias após o nascimento, os meninos são circuncidados e recebem formalmente seu nome. Na circuncisão, o prepúcio dos recém-nascidos é cortado ao oitavo dia como símbolo da aliança entre Deus e o povo de Israel. A menina, mesmo que não possa receber a circuncisão, também recebe seu nome na sinagoga uma semana após o nascimento. • Bar mitsvá e bat mitsvá: no primeiro sábado após completar 13 anos, o menino é recebido como "filho do mandamento" (bar mitsvá). No ano precedente, ele é instruído nas leis e nos costumes judaicos, bem como aprende a ler o trecho da leitura da Torah que fará no sábado de sua recepção. Já a menina, torna-se "filha do mandamento" (bat mitsvá) automaticamente, ao completar 12 anos. Por volta dos 15 anos, ela aprende o principal da história e os costumesjudaicos e, particularmente, empenha-se em aprender as regras alimentares, que é sua responsabilidade doméstica. • Casamento: a família tem papel primordial na manutenção da cultura e da educação judaica. O casamento é o modo de vida ideal e o único tipo de coabitação permitido. Por princípio, judeu deve casar com judeu. O divórcio é permitido, mas, para que seja legítimo, deve ser sancionado por um tribunal rabínico e selado pelo marido, que dá à esposa a carta de divórcio. • Enterro: o enterro deve ocorrer o mais rápido possível depois da morte. A cremação não é permitida. No cerimonial de sepultamento, não se usam flores e nem música. O cemitério é sempre muito bem cuidado em razão de ser o lugar onde os mortos descansam até a ressurreição. Os festivais As festas judaicas marcam não apenas momentos de alegria. Elas trazem consigo uma forte conotação histórica e religiosa, servindo para marcar eventos que ressaltam a intervenção divina na vida do povo judaico, tanto no passado como no presente. • Rosh há-shaná (Ano-Novo): celebrado em setembro ou outubro, rememora Jeová como criador e rei, conduzindo as pessoas a se concentrarem na autoanálise e no arrependimento. • Iom Kippur (Dia do Perdão): é o fim do período de dez dias de arrependimento, iniciado no Ano novo. • Sukot (Festa dos Tabernáculos): ocorre alguns dias após o Dia do Perdão e procura relembrar o período em que os judeus, durante sua peregrinação pelo deserto, residiam em tendas. • Chanuká (Festa da Inauguração): realizada em novembro ou dezembro por oito dias, comemora a reinauguração do Templo de Jerusalém, ocorrida em 165 AEC. • Pessach (Páscoa): Celebrada em março ou abril, relembra a passagem da dez pragas do Egito, quando na décima praga o anjo do Senhor passou "por cima" das casas dos israelitas, poupando os filhos judeus e matando todos os demais primogênitos da terra do Egito. Tem a duração de oito dias e só se come pão sem fermento. • Shavuot (Festa das Semanas): ocorre em maio ou junho e comemora a ocasião em que a Torah foi dada ao povo no monte Sinai. Mundo Registra o texto sagrado em Gênesis, capítulo 1, que Elohim criou o "céu e a Terra" (o Universo), sendo o ápice da criação o ser humano. Tendo concluído sua obra criadora, emanada exclusivamente de sua inexplicável vontade, constata que o Universo é bom. A força da qual flui o ato criador é sua ordem, a partir do nada e concretizada por suas palavras. A soberania divina está realçada. Ele é o Criador. Uma vez criado, o Universo continua a existir por vontade divina e não por motivo próprio. A força vem de fora, não de forma impessoal, mas pessoal. Ainda que o Universo possua características materiais evolutivas, percebe-se, nesse processo, a vontade divina presente no ato criador que lhe deu essa característica. Principais tendências O judaísmo é tanto uma identidade hereditária e um modo de vida quanto um sistema religioso. Essa colocação faz perceber a existência de uma diversidade de entendimentos. • A partir do século XIX, três comunidades religiosas distintas desenvolveram-se, com opiniões divergentes acerca da importância da tradição e da teologia judaica. • Judaísmo Ortodoxo: mantém as crenças tradicionais, inclusive a doutrina de que tanto a lei bíblica quanto a lei oral são de inspiração divina e obedece aos costumes e rituais tradicionais com a rígida observância do shabat e das leis de alimentação. • Judaísmo Reformista: surgiu no período do Iluminismo. Menosprezando a autoridade talmúdica, realiza cultos simplificados no vernáculo, dando maior importância aos padrês éticos do que às leis rituais, grande parte das quais considera irrelevantes no mundo moderno. • Judaísmo Conservador: situa-se entre a aceitação da autoridade das Escrituras e a permissão de adaptação às mudanças dos tempos e das situações. • No século XX, acentuaram-se outras tendências, como a corrente Liberal da Reforma Judaica e o Movimento Reconstrucionista, fundado por Mordecai Kaplan, que entende o judaísmo como uma "civilização religiosa". • Não há como também deixar de citar o movimento místico judaico conhecido como Cabala, que seria capaz de esclarecer os mistérios que cercam a humanidade. Islamismo Fundador: profeta Muhammad (Maomé). Data de nascimento : 570.d.C. local de nascimento: Meca, atual Arábia Saudita. Ano de fundação: 622 d.C., em Meca. Textos sagrados e reverenciados: Qu´ran (Corão), coleção das escrituras divinas como reveladas ao profeta Maomé pelo arcanjo Gabriel; e Hadith, coleção de ditos de Maomé e seus seguidores e que se perpetuaram com o decorrer do tempo. Estatísticas: estima-se hoje em cerca de 1 bilhão e trezentos milhões de adeptos distribuídos pela Turquia, Oeste da África, Sul da Ásia, Filipinas, Indonésia, Índia, Oriente Médio, Europa e as Três Américas. No Brasil, fala-se em um milhão de adeptos. História Com origem na Arábia, o islã está profundamente relacionado com a cultura árabe. Ressalte-se, no entanto, que hoje apenas uma minoria de seus seguidores é árabe. O islã está difundido por regiões da África e Ásia, além de outros continentes, sendo seguido por cerca de 15% da população mundial. A palavra árabe islam significa submissão. É pertinente ao seu conteúdo que o ser humano deve se entregar a Deus e se submeter a Sua vontade em todas as áreas da vida. Esse entendimento sugere que, enquanto religião, o islã abrange todas as áreas da vida humana, pessoal e social. É a terceira e última das religiões originadas com Abraão, após o judaísmo e cristianismo. Fruto de um "segundo casamento" de Abraão (visto que sua esposa Sara não lhe dava filhos), Hagar gerou o filho primogênito de Abraão, chamado de Ismael, cuja descendência gerou o povo árabe de onde nascem os muçulmanos. De importância capital para a compreensão do islã é a figura de Muhammad, ou Mohammed, ou, ainda, Maomé. Maomé (Biografia) Nasceu em MEca, na Arábia, por volta de 570 d.C. Nascido numa das principais famílias da cidade, ficou órfão ainda criança. Criado por um tio, Abu Talib, foi trabalhar como condutor de camelos para Khadidi, viúva de um ricomercador. Quinze anos mais velha que Maomé, veio a ser sua esposa e exerceu grande influência no desenvolvimento religioso do marido, que não teve outra esposa. A formação religiosa de Maomé Meca era um importante centro comercial e religioso da Arábia. Tribos nômades já adoravam, bem antes de Maomé, a pedra preta, objeto de muitas peregrinações de beduínos e conhecida hoje como kaaba. Era também prática comum na região cultuarem-se muitos deuses e seres sobrenaturais, quase sempre ligados a práticas animistas. Em geral, os cultos eram tribais. Aliás, a tribo e a família eram estruturas centrais para o modo de vida dos nômades. Todo o sistema legal estava vinculado à tribo, originada e mantida pelos laços de sangue. Era recorrente a prática da lei do "olho por olho", quando um dos membros de uma tribo era assassinado por membro de outra. Um cenário de constantes e sangrentas rixas fixou-se como prática comum. Já à época de Maomé, apresentava-se um quadro de transição. A sociedade beduína nômade começava a dar lugar a uma sociedade urbana mais fixa. Com isso, a religião e as práticas tradicionais passaram a ser revistas. Nesse hiato, aumentou em muito a influência do judaísmo e do cristianismo. Com toda certeza, Maomé foi fortemente influenciado pelo monoteísmo e pela noção de fim de mundo acompanhado de juízo final. O judaísmo havia se estabelecido em toda a Arábia depois da queda de Jerusalém em 70 d.C. Aos poucos, os judeus incorporaram a língua e o estilo de vida dos árabes, mantendo, porém, sua própria crença e seu culto mosaico. O cristianismo, por sua vez, também havia avançadopor muitas regiões do Oriente Médio. Estados tornaram-se cristãos, como a Abissínia (atual Etiópia), bem como muitas tribos beduínas. Com certeza, o grupo que mais influenciou Maomé em sua formação religiosa foram os monges e eremitas cristãos, que viviam isolados nos desertos da Arábia. Devotos e generosos, eram pródigos na ajuda aos viajantes. Alá se revela a Maomé Era costume de Maomé se retirar todos os anos para uma caverna aos arredores de Meca com o fim de meditar. Este hábito também era prática corrente dos eremitas cristãos que, diferentemente de Maomé, fundamentavam sua meditação em algum texto sagrado, em geral os evangelhos da tradição cristã. Aos 40 anos, Maomé teria tido uma revelação, na qual lhe aparecera o arcanjo Gabriel com um pergaminho, ordenando-lhe que o lesse. Maomé não sabia ler e, em vista disso, o arcanjo incitou-lhe a recitar o que ouvia. As recitações transmitidas por Maomé foram reunidas em um livro, o Qu´ran, o Corão, coligido apenas após a sua morte. Assim como no judaísmo e no cristianismo, o islamismo também passa a ter seu livro sagrado, considerado a revelação de Alá aos seres humanos. De Meca a Medina Após a revelação, Maomé começa sua pregação em Meca. Proclama-se profeta e mensageiro de Deus. As famílias abastadas entenderam essa pregação como manobra para usurpar o poder político da cidade. As famílias assentadas no tradicionalismo religioso também se lhe opuseram por entender que se abandonassem suas antigas crenças, estariam reconhecendo que seus antepassados foram pagãos. A crise estava instalada. A situação de Maomé piora após a morte de seu tio e sua esposa. Alguns de seus seguidores, residentes em Medina, mostraram-se dispostos a aceitá-lo na cidade. Assim, em 622, Maomé sai de Meca e vai para Medina. Esse episódio é conhecido como hégira, que significa rompimento ou partida, mas jamais fuga. Líder religioso e político Em Medina, Maomé se torna um líder religioso e político. Sem perder de vista seu futuro retorno a Meca, procura se estabelecer financeiramente por meio de assaltos a caravanas pertencentes às famílias ricas de Meca. O conjunto das atividades desenvolvidas por Maomé com vistas ao retorno a Meca é conhecido como jihad, um termo que hoje também é empregado para designar a guerra santa. Jihad atribui-se ao conjunto das ações que Maomé desenvolveu para voltar a Meca. Na década seguinte, ele toma a cidade de Meca por meios militares e diplomáticos. Conquistou, a seguir, grande parte da Arábia. Antes de morrer, em 632, tinha conseguido unir o país e transformá-lo em um só domínio, onde a religião se tornara mais importante que os antigos laços familiares e tribais. O cisma no Islã após Maomé Após a morte de Maomé, a liderança do movimento foi assumida pelos califas, ou sucessores. Os três primeiros califas eram parentes de Maomé. O quarto califa, Ali, genro de Maomé, casado com sua filha Fátima, era filho de seu tio, Abu Talib, que o havia criado. O cisma no mundo islâmico começa na época de Ali, cuja liderança foi repleta de controvérsias. Ali acabou sendo assassinado por seus adversários. Seus seguidores defendiam e acreditavam que, por ser o parente mais próximo de Maomé, ele era o seu sucessor natural. Esses seguidores eram identificados como sendo os Shiat Ali (o partido de Ali), ou xiitas, que formam a base da religião oficial do Irã de hoje. Surgem os xiitas e os sunitas Os xiitas defendiam que a liderança do movimento deveria ser concedida a um descendente direto de Maomé, enquanto o grupo divergente, facção bem maior que os xiitas, identificados como sunitas, julgava que a liderança cabia ao indivíduo que de fato controlava o poder. Após a morte de Ali, o califado teve sede em Damasco por algum tempo. A seguir, instalou-se em Bagdá, onde permaneceu por 500 anos. Depois disso a liderança passou para o sultão turco de Istambul. O último sultão foi derrubado em 1924. Desde então, o mundo islâmico deixou de ter um califa como líder. Ensinamentos Não há Deus senão Alá, e Maomé é seu profeta. Esse é o resumo da fé islâmica: o monoteísmo e a revelação dada a Maomé. Monoteísmo Alá não se trata de um nome pessoal, mas é a palavra árabe que significa Deus. Etimologicamente, a palavra alah relaciona-se com a palavra hebraica el, que é utilizada na Bíblia para nomear o Deus dos hebreus. O termo alah, árabe, e o termo el, hebraico, referem-se a Deus. O politeísmo é atacado com veemência no Islã, ressaltando a crença em um só Deus, que é criador e juiz. Ele criou o mundo e tudo o que há nele. No último dia irá trazer todos os mortos de volta à vida para julgá-los. Há também uma forte ênfase no amor e na compaixão divinas. Embora Deus seja aquele a quem todos devem submeter-se, também é o que perdoa e auxilia o ser humano. O ser humano não merece nada de Deus e nem pode invocar direitos sobre nada. A salvação e a fé brotam somente da graça de Deus e são coisas que os seres humanos podem apenas ter esperança de conseguir. Revelação Deus falou ao ser humano por intermédio de seu profeta Maomé. Ele é o último dos profetas enviado por Deus à humanidade. Embora de início Maomé estivesse próximo às tradições judaico- cristãs, delas se distancia em razão de controvérsias tidas com os judeus sobre narrativas do Antigo Testamento. O fundo histórico do movimento desencadeado por Maomé é encontrado em Abraão e seu filho Ismael, antepassado dos árabes. Maomé ensinou que Abraão e Ismael tinham reconstruído a sagrada Kaaba, que fora erigida por Adão e destruída pelo dilúvio. Para Maomé, tanto os judeus como os cristãos distanciaram-se do monoteísmo de Abraão. Quando em Medina, Maomé ensinara que, ao se orar, o rosto deveria estar voltado para Jerusalém. Depois de rompidas as relações com os judeus a orientação mudou: o fiel, agora, deve estar de frente para Meca ao orar. Por essa época, também se designou a sexta-feira como dia sagrado da semana. Em relação ao cristianismo, a diferença se acentuou na questão da trindade. Além disso, houve divergência no papel de Jesus que, para o cristianismo, é o Verbo (Palavra) revelado, enquanto para o islamismo a revelação é o próprio Qu´ran (Corão). Ser humano O ser humano possui um estatuto especial e uma posição privilegiada no Universo. A vida é dádiva divina. O ser humano é criatura divina perfeita e possuidora de uma alma que perdura após a morte. A bondade lhe é inata por graça divina e não se perde por qualquer meio ou motivo. Não há a noção de um pecado herdado. O ser humano é sempre bom. Quando muito, ele se esquece de sua origem divina e da bondade que lhe é inerente. Para que isso não ocorra, o ser humano necessita constantemente reavivar suas origens e qualidades divinas. O fato de ter sido escolhido por Deus para se revelar dá a dimensão exata dos grandes valores e das qualidades humanas. Vida e morte Os Cinco Pilares A vida de um seguidor do islamismo está marcada por cinco passos bem definidos, denominados de Os Cinco Pilares. • Credo: "Não há outro Deus senão Alá, e Maomé é seu Profeta". É a primeira coisa que se deve sussurrar ao ouvido da criança recém-nascida e a última a ser sussurrada no ouvido do moribundo. • Oração: deve ser feita cinco vezes ao dia. O pressuposto é estar ritualmente limpo das impurezas causadas pelas funções corporais, o que é obtido pelo banho em água corrente. • Caridade: é uma espécie de taxa sobre a riqueza e propriedade, fixada em cerca de 2,5% sobre o montante. Ela é destinada a usos sociais, objetivando diminuir as desigualdades entre ricos e pobres, sem interferir no princípio da propriedade privada. O Islã não proíbe que se desfrute a vida na terra, mas lembra de que se deve ter sempre em mente o fato deque esta não passa de uma preparação para a vida que começará depois do julgamento divino. • Jejum: o Corão proíbe comer carne de porco e beber álcool. De resto, nada se proíbe. A exceção é o jejum durante o Ramadan, mês em que Maomé teve sua primeira revelação. Nesse período, entre o nascer do sol e o pôr do sol, é proibido comer, beber, fumar ou ter relações sexuais. Os viajantes, os doentes, as crianças e as mulheres grávidas ou que estão amamentando são liberados dessa restrição, mas são exortados a cumprir o jejum em uma data posterior. • Peregrinação a Meca: todo muçulmano adulto que dispõe de meios financeiros deve realizar, pelo menos uma vez na vida, uma peregrinação a Meca. Os peregrinos que para lá se dirigem passam a usar vestes brancas e caminham em torno da Kaaba por sete vezes. Outro momento importante é quando os peregrinos vão ao monte Arafat e lá ficam, sem cobrir a cabeça, do meio-dia até o pôr do sol. Foi no monte Arafat que Adão e Eva se encontraram de novo, depois que foram expulsos do jardim do Éden. O ponto alto das festividades é o sacrifício de algum animal (carneiro, bode, camelo, boi etc.). A finalidade é relembrar que Abraão foi tão obediente a Deus que se dispôs a sacrificar seu próprio filho, Ismael. Deus foi misericordioso com Abraão e lhe enviou um animal para que ele o sacrificasse em lugar do filho. Relações humanas - ética e política Não há, no Islã, distinção entre religião e política, tampouco entre fé e moral. O Corão é suficiente para resolver todas as questões que envolvem os relacionamentos humanos. Quando as instruções do Livro não forem suficientes, recorre-se a dois princípios: • princípio da similaridade ou analogia: busca-se no Corão um exemplo semelhante e capaz de sugerir uma decisão; • princípio do consenso: uma decisão de consenso pode ser vista como lei a ser observada. Os xiitas adotam um terceiro princípio: o da revelação. Acreditam que a revelação não está concluída e que seus líderes são os instrumentos divinos para as novas interpretações. Essa posição contraria a dos sunitas, que afirmam que a revelação veio apenas uma vez, em sua forma final. As mulheres no islã Há profundos contrastes no tratamento de homens e mulheres na vida social e nas leis relativas ao casamento. Deve-se, no entanto, afirmar que o Corão, em relação às mulheres, tanto determina obrigações ("os homens têm autoridade sobre as mulheres") quanto direitos (o dote pago pelo marido por ocasião do casamento é propriedade da mulher e não pode ser usado sem o consentimento dela). A mulher só pode ter um marido. Já o homem pode ter até quatro esposas, desde que as possa sustentar. A poligamia é proibida na Turquia e na Tunísia. Outra particularidade, com relação ao casamento e pouco conhecida, embora bastante difundida, é o casamento por contrato com tempo determinado. É utilizado, em especial, quando o marido fica por muito tempo fora de casa e tem por fim preservar a sustentabilidade da mulher. O divórcio é possível, mas apenas quando iniciado pelo marido, que é o responsável pelo lado financeiro do casamento. O marido tem o direito de punir fisicamente a mulher se ela for desobediente. A excisão do clitóris (mutilação genital feminina) não é obrigatória, mas, mesmo assim, é praticada com frequência no Norte da África. Não há, no Corão, menção a essa prática, bem como não se menciona a tradição de usar o chador, o véu. São questões muito mais ligadas à cultura que à religião. A morte Após a morte, a alma do fiel muçulmano vai a um paraíso desfrutar dos seus deleites e contemplar o rosto de Alá. A alma do infiel, por seu turno, vai ao inferno. Aguardar-se-á o dia do juízo, quando as ações dos seres humanos serão definitivamente julgadas e receberão a devida paga. As almas dos mártires e dos profetas não passarão pelo juízo final, pois já estão no paraíso. O ato final será a proclamação do Islã como religião mundial, liderada por Jesus. A crença emum julgamento final após a morte é necessária, segundo muitos muçulmanos, para que o ser humano assuma a responsabilidade sobre seus atos. A ideia de um julgamento cria um senso moral de dever que é relevante para a comunidade. Mundo O mundo foi criado por um ato deliberativo de Alá. Dois aspectos emergem em decorrência: o mundo da matéria é real e importante e por ser obra de Alá, que é perfeito em bondade e poder, o mundo material também o é. GAARDER, J.; NOTAKER, H.;HELLERN, V. O livro das Religiões. Petrópolis: Vozes, 1998. LUCCHESI, Marco (coord.). Caminhos do Islã. Rio de Janeiro: Editora Record, 2002. SIAT, Jeannine. Religiões Monoteístas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000. SMITH, Huston. As Religiões do Mundo. São Paulo: Editora Cultrix, [s.d.].
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