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Historiografia do Brasil (Livro-Texto Unidade III) - UNIP

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HISTORIOGRAFIA DO BRASIL
Unidade III
7 A PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA ENTRE OS AUTORITARISMOS E A 
DEMOCRACIA
Quem controla o passado, controla o presente.
George Orwell 
Ao longo do período que se estende da década de 1930 a 1960, o Brasil viveu sob regimes ditatoriais 
com breve intervalo democrático. O pensamento social e, nele, o historiográfico repercutiu essa condição, 
nem sempre da mesma forma. Na fase da ditadura de Getúlio, com o nacionalismo impregnando tudo, 
predominaram as versões afinadas com essa matriz ideológica do regime, ainda que se mantivessem 
latentes as dissidências e já contássemos com as novas visões oferecidas pela tríade dos “intérpretes do 
Brasil”, como estudamos anteriormente. 
O avanço da historiografia acadêmica, visível em meados desse período, foi aos poucos abrindo 
espaço para produções mais contestadoras e menos afinadas com o status quo. É certo que a produção 
intelectual é fenômeno complexo e não se pode tratar do assunto como se não houvesse pensamentos 
divergentes em meio a tendências predominantes. Só para ficar com um exemplo disso, a produção 
historiográfica de cunho factual, conservadora ou dedicada aos interesses de governos e grupos elitistas, 
continuou a existir ao longo do século XX e até os nossos dias.
7.1 O pensamento autoritário e a historiografia nas décadas de 1930 e 1940
A década de 1930 foi marcada pela intensificação das correntes políticas autoritárias no Brasil que 
desembocaram na implantação do Estado Novo a partir de 1937. Esse momento histórico foi marcado 
pelo autoritarismo do Estado, pelo nacionalismo e pelo corporativismo. O regime implantado impregnou 
o ambiente cultural de uma ideologia nacionalista, que encontrou forte ressonância na produção 
intelectual da época.
A chamada Revolução de 1930 e o Estado Novo colocaram na pauta dos historiadores questões 
teóricas associadas às relações entre Estado e interesses de classe, e entre o autoritarismo político e o 
descrédito do Estado liberal no contexto da época. 
A censura rígida e a forte repressão intimidaram opiniões divergentes, que ficaram latentes até 
que novos ares soprassem no País, no contexto do final da Segunda Guerra Mundial. O governo 
de Getúlio Vargas não resistiu às pressões que exigiam uma adequação política do País à onda 
democrática dali advinda. 
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Unidade III
Com a redemocratização do País em 1945 e o processo desenvolvimentista em curso na década 
seguinte, novos temas passaram a exigir a atenção dos historiadores e intelectuais. 
7.2 Oliveira Viana e o pensamento autoritário
Nos anos 1920, as críticas ao Estado Liberal foram muitas e vieram de diferentes direções. Nessa 
década, destacou-se a visão teórico-interpretativa de cunho racista e aristocratizante de Francisco 
José de Oliveira Viana (1883-1951). Na década seguinte ele se tornou um dos principais teóricos do 
autoritarismo estadonovista. 
Esse advogado e historiador nascido em Saquarema, no Rio de Janeiro, foi um dos intérpretes 
da nossa realidade mais lidos no País entre as duas guerras mundiais, tornando-se um clássico do 
pensamento social brasileiro. Com posicionamento racista declarado, deu curso às formulações de 
décadas anteriores. Esse conceitual teórico já estava sendo bastante questionado, mas continuava 
presente. Mesmo após a divulgação das ideias de Freyre e do avanço de uma perspectiva que 
conferia mais peso a questões socioculturais nas análises sobre o Brasil, Oliveira Vianna continuava 
a falar em “raças primitivas”, indivíduos “inferiores e superiores” e “branqueamento”, além de 
repercutir as ideias eugênicas.
Sua obra de estreia, Populações Meridionais do Brasil (1920), é um estudo psicossociológico da 
Região Sul do País. Nesse trabalho, aponta diferenças entre “raças superiores” e “raças inferiores”, 
defendendo que mais imigrantes viessem ao País para aumentar o número de arianos puros, bem como 
a arianização de nosso sangue. A supremacia da raça branca é celebrada e somente se misturando 
a ela brancos e índios alcançariam um estágio de civilização. A tônica racista continua no seu livro 
lançado em 1932, Raça e Assimilação, no qual Oliveira Vianna confirma suas ideias arianistas e de 
seleção eugênica da população.
 Observação
A Eugenia foi criada por Francis Galton (1822 – 1911) como uma ciência 
destinada ao aperfeiçoamento das raças humanas por meio da seleção das 
suas melhores características. A estratégia seria promover o cruzamento 
de indivíduos portadores de boas características e inibir o daqueles que 
poderiam comprometer a descendência. No limite, se chegaria a eliminar 
exemplares indesejados, o que fez da Eugenia um fundamento da política 
de extermínio nazista. 
A obra de Oliveira Vianna vinculava-se a uma proposta de estado autoritário. Seu pensamento o 
conduziu ao engajamento político no Estado Novo no qual deu o suporte científico, por assim dizer, 
à legislação trabalhista promulgada nesse governo. Atuando como consultor jurídico do Ministério do 
Trabalho, Indústria e Comércio (MTIC), especializou-se nas teorias do corporativismo, fornecendo os 
fundamentos teóricos para a sua implantação. Sobre a importância de sua obra no período, a historiadora 
Ângela de Castro Gomes afirma:
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A década de 1930 registra, dessa forma, uma espécie de desdobramento 
do pensamento do autor, que, da formulação de diagnósticos sobre os 
problemas do País, passa a se dedicar à implementação de políticas públicas 
que visavam enfrentá-los, pela via da intervenção de um Estado autoritário 
de tipo corporativo. Esses foram os anos em que alcançou maior prestígio, 
pela ação no MTIC, pelas polêmicas que travou em defesa de suas ideias, pela 
publicação de novos livros e pela reedição de trabalhos anteriores (GOMES 
apud BOTELHO; SCHWARCZ, 2009, p. 150).
Essa autora nos ajudará a percorrer o pensamento de Oliveira Vianna e compreendê-lo. O seu 
conceito chave foi o insolidarismo, em oposição ao solidarismo, teoria filosófica que vincula indivíduo 
e comunidade na organização social. Em contexto no qual se investigavam as mazelas sociais, políticas 
e culturais brasileiras, Vianna atribuía à nossa incapacidade de construir formas de solidariedade 
social modernas autônomas a impossibilidade de fazer surgir uma sociedade urbano-industrial. Daí a 
necessidade de o Estado assumir o papel de construir o povo e suas formas associativas de expressar 
a solidariedade social. Isso se consubstanciaria no estado autoritário corporativista. 
Na contramão de versões otimistas sobre o futuro brasileiro, Vianna ofereceu uma visão mais “realista” 
do País, cujos males estariam na inexistência de uma sociedade e de um governo modernos. Solucionar 
essa condição exigia a instauração de um governo forte, autoritário. Dessa forma, o Brasil engrossava 
a corrente dos países de “modernização retardatária” que no período entre guerras desacreditavam do 
Estado liberal e se encaminhavam para governos interventores e autoritários. O projeto de organização 
corporativa do Estado e da sociedade brasileira proposto por Vianna situa-se nesse contexto.
Para esse teórico do Estado Novo, o mundo do trabalho era particularmente propício à 
“organização do povo” na forma de corporativismo de Estado. Sua visão sobre as corporações, como 
forma de regular e coordenar setores econômicos e sociais das sociedades modernas, considerava 
que os interesses do Estado-nação se combinassem com os empregadores e empregados. Como 
explica Ângelade Castro Gomes:
Em sua proposta, o sindicato precisava ser único e por ofício (e não 
empresa), exercendo prerrogativas de autoridade pública, o que o 
tornava sujeito à tutela estatal. Devido a tais características, seus podres 
representativos iam além de seu corpo de associados, garantindo-lhe, por 
exemplo, a capacidade de firmar acordos coletivos, de atuar como ator 
coletivo no espaço público. Esse monopólio de representação e o poder 
de regulamentação davam-lhe um “direito” de tributação, que também 
ia além de seu corpo de associados, o que foi entendido como crucial 
para deslanchar a proposta, consolidando uma elite dirigente e atraindo 
trabalhadores para o sindicato. O sucesso desse modelo de sindicalismo 
corporativista, assim, era visto como tarefa precípua e condição básica 
para o próprio exercício das funções de um Estado moderno no Brasil 
(GOMES apud BOTELHO; SCHWARCZ, 2009, p. 157-58).
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Essas ideias estiveram nas bases da organização sindical brasileira formulada durante o Estado Novo 
e que se prolonga em nossos dias. Isso demonstra o alcance do pensamento de Oliveira Vianna que se 
insere em um determinado modo de pensar dessa época. 
Em meados da década de 1940, com os fracassos militares políticos e ideológicos dos regimes 
autoritários europeus no contexto do final da Segunda Guerra Mundial, novas formas de pensamento 
começam a se firmar no panorama internacional e também no Brasil. Nesse momento Oliveira Vianna 
publica Instituições Políticas Brasileiras (1949), livro no qual demonstra um abandono progressivo de suas 
teses deterministas, biológicas ou climáticas e um direcionamento para perspectivas mais culturalistas 
e de valorização do ambiente social. 
Antes de aprofundar as formas de pensamento então surgidas, vamos nos deter um pouco mais no 
contexto intelectual do Estado Novo buscando ampliar nossa visão sobre as formas de se compreender 
a História nesse período. 
7.3 O Estado Novo, os intelectuais e a cultura
A defesa do estado autoritário que se fortalecera nos anos 1920 encontrava ressonância na escalada 
europeia dos regimes nazifascistas que causavam admiração em diversos intelectuais no Brasil, assim 
como em outros países, no período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial. A Crise de 1929 e seus 
efeitos no Brasil tornaram mais intensa a ideia de um Estado forte como solução para conduzir a 
modernização econômica do País. 
A década de 1930, iniciada com o movimento que colocou Getúlio Vargas no poder, trouxe 
radicalização política crescente tanto à direita, com o Integralismo, quanto à esquerda. Neste último 
caso, chegou-se a assistir à Intentona Comunista (1934) organizada pela Aliança Nacional Libertadora 
(ANL) do Partido Comunista. A perseguição às manifestações operárias e as perseguições políticas 
indicavam a intensificação das tensões e abriam caminho para o surgimento de um regime autoritário. 
Isso acabou por acontecer em 1937 com a instalação da ditadura do Estado Novo.
O regime político implantado assumiu a forma de um autoritarismo corporativista que indicou 
os rumos da modernização econômica. Conduziu-se o avanço do processo de industrialização com 
forte contenção e controle do operariado, configurando-se uma “modernização conservadora”. 
Modernizava-se a economia no rumo da industrialização e mantinham-se as estruturas políticas 
e sociais conservadoras que afastavam a participação popular do poder. A regulação do mercado 
de trabalho passou a contar com o corporativismo sindical – cujas bases estudamos na parte 
anterior desta unidade – e com uma legislação trabalhista. Esta consolidou leis promulgadas antes, 
atendendo reivindicações do movimento operário e, ao mesmo tempo, promovendo a regulação e 
o controle do mercado de trabalho. 
A economia organizou-se em bases nacionalistas, com ênfase na indústria de base. Procurou-se 
romper a extrema dependência da exportação agrícola. A intervenção econômica do Estado foi o modelo 
econômico criado. 
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Assistimos também nessa época a um forte aparelhamento e a uma intensa burocratização do 
Estado, com a criação de ministérios, institutos e outros organismos oficiais. Avançava-se no sentido da 
unificação da administração pública e do mercado nacional. 
Defendia-se a ditadura como a forma de se alcançar o desenvolvimento econômico e social. Na 
verdade, do ponto de vista da retórica oficial do regime, estaríamos vivendo uma “democracia social” 
na qual o governo assumiria a tarefa de garantir esse avanço para a nação. Havia, nisso, uma intensa 
identificação entre Estado e Nação que nos aproximava do fascismo que se consolidava na Europa. 
A inexistência de partidos políticos e de representação social se justificava pelo fato de que o Estado 
teria o papel de traduzir diretamente os interesses e as necessidades do povo, sem intermediação da 
classe política. O corporativismo, instaurando a “colaboração entre as classes”, seria a maneira de se 
alcançar a “harmonização social”. Certamente, esse discurso servia para justificar o Estado de exceção 
vigente que se valia da repressão intensa exercida pelo governo e da forte censura para manter as 
oposições e dissidências amordaçadas. A intensa propaganda ideológica feita pelo Estado Novo a partir 
do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), responsável também pela censura, visava garantir 
uma ampla adesão ao regime.
O Estado Novo se anunciava também como o Estado Nacional. A ideologia nacionalista permeou 
todas as suas realizações. A nacionalidade brasileira, antes apenas um projeto, agora já se estaria 
consolidando. O Estado Novo iria retomar a construção da nacionalidade e sedimentar a “raça brasileira” 
a partir do amálgama das três raças fundadoras. Não por acaso, tivemos nesse período uma grande 
aceitação de Casa-Grande & Senzala, cuja interpretação servia de sustentáculo para essa ideia.
No escopo da nacionalidade a ser forjada, o Estado Novo visava construir o homem-novo brasileiro 
transmudando as características que comprometiam nossa condição como povo. Nossa composição 
racial deficiente havia nos tornado um povo mestiço, indolente e preguiçoso. A imagem do Jeca-Tatu 
criada por Monteiro Lobato em Urupês (1918) era um triste retrato do brasileiro. Na década de 1930 
não foram poucas as propostas de mudar essa condição do brasileiro de forma que o tornasse forte, 
vigoroso e até mesmo eugenizado. Cumpre lembrar o discurso da Educação Física da época. Tornada 
obrigatória em todos os níveis de ensino pela Constituição de 1937, sua prática deveria auxiliar 
a “construção de indivíduos fortes, sadios, robustos e cheios de vigor” (BERCITO, 1991, p. 115). Sua 
disseminação pelo conjunto da sociedade conduziria à superação de nossa condição racial deficiente, 
produto da miscigenação, encaminhando a construção de uma nação vigorosa. Interessava ao Estado 
Novo, preocupado com a construção do cidadão trabalhador no escopo de uma ideologia do trabalho, 
fazer do brasileiro um trabalhador eficiente, saudável, produtivo e disciplinado. 
O Estado Novo criou diversos órgãos e instituições de educação e cultura que abrigaram vários 
intelectuais em seus quadros, alguns provenientes do modernismo. O Ministro da Educação, Gustavo 
Capanema, cercou-se de vários deles, tendo, por exemplo, Carlos Drummond de Andrade como seu 
chefe de gabinete. Mário de Andrade trabalhou no Instituto Nacional do Livro e colaborou no Serviço 
do Patrimônio Histórico Nacional (Sphan), órgão então dirigido por Rodrigo Melo Franco Andrade. 
Nem todos, no entanto, atuaram próximos ao governo. Graciliano Ramos, Mário Pedrosa ouCaio 
Prado Junior, por exemplo, mantiveram-se distantes e engajados em correntes de oposição que 
resistiam durante a ditadura.
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Para entender a participação dos intelectuais nos quadros culturais institucionais do Estado Novo, 
mesmo daqueles que não comungavam com a política do regime, é preciso ir além da ideia de cooptação. 
Na verdade, havia um terreno comum no reconhecimento da existência de uma cultura nacional latente 
a ser identificada, missão para a qual os intelectuais julgavam-se destinados, ou seja:
A participação de intelectuais de peso na administração pública e na 
realização de trabalhos patrocinados pelo governo durante o Estado 
Novo é fenômeno complexo. Sua explicação não conduz diretamente 
à existência de mecanismos de cooptação e envolvimento orgânico 
desses intelectuais no regime implantado. Algumas vezes, as relações 
pessoais facilitaram as aproximações, como por exemplo, a amizade 
entre Capanema e Melo Franco e Carlos Drummond de Andrade, todos 
mineiros. Mas há que se considerar também que, de alguma forma, havia 
um terreno comum de identificação que possibilitava a aproximação entre 
os intelectuais e o Estado naquela época. Isso ia além de uma possível 
crença na superioridade das atividades intelectuais e artísticas em relação 
às questões políticas conjunturais. É possível encontrar uma convergência 
na concepção comum a ambos, de que havia uma necessidade premente 
de empreender a construção nacional, tarefa que deveria caber às elites. 
Nesta fórmula, em que a construção nacional se faria “por cima”, à nossa 
elite intelectual seria reservado o papel de traduzir a expressão cultural 
inscrita na sociedade brasileira e interpretá-la como cultura nacional. 
Tendo como horizonte comum a construção da nacionalidade brasileira, 
os projetos dos intelectuais se imbricavam nos institucionais que muitas 
vezes ajudavam a formular (BERCITO, 1999, p. 85-6).
Daniel Pécaut (1990) considera que entre as décadas de 1920 e 1940 uma geração de 
intelectuais brasileiros acreditava que lhes caberia grande responsabilidade na construção nacional, 
institucionalmente, e no reconhecimento da nacionalidade que já existia inscrita na realidade. Em 
face da realidade brasileira, cujo povo seria ignorante de seu destino, com as classes sociais ainda em 
formação, os intelectuais teriam o papel de formular um “projeto nacional” para o País. Caberia à elite 
intelectual interpretar os sinais dessa nação subjacente ao qual o locus principal seria a cultura popular 
a ser transformada em nacional. Mário de Andrade é citado como exemplo desse movimento, com 
sua busca das raízes da brasilidade no folclore, nas modinhas, no patrimônio histórico e nas tradições 
populares em geral, como foi visto anteriormente (PÉCAUT, 1990, p. 38).
Os intelectuais, de acordo com Pécaut, projetavam-se acima do social e assumiam uma vocação 
dirigente. Aproximavam-se do Estado, com o qual assumiram conjuntamente a construção nacional 
“pelo alto”. Se o Estado constrói a nação, os intelectuais no Brasil aliaram-se a essa tarefa colocando-se 
perante a sociedade em posição homóloga à do Estado. A recíproca era verdadeira. O Estado apresentava-
se como responsável por identificar e trabalhar em prol da identidade cultural brasileira e, para isso, 
recorria aos intelectuais. A ideia da existência de uma cultura nacional a ser desvendada foi o ponto de 
aproximação de intelectuais, entre matizes diversos, e o Estado Novo (PÉCAUT,1990, p. 57).
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7.4 O nacional e a formação de uma cultura histórica
Eric Hobsbawn, em Nações e Nacionalismos desde 1780, classifica em três fases os momentos de 
surgimento de ideias nacionais nos países e do reconhecimento da existência de uma cultura nacional. 
De início, o sentimento nacional se expressaria em uma cultura literária e folclórica. Na sequência, 
surgiriam pioneiros e militantes da ideia nacional. Por fim, surgiriam programas nacionalistas com 
sustentação de massa (HOBSBAWN, 1990, p. 20-2). 
Seguindo essa análise, podemos considerar que estaríamos no Estado Novo nesse terceiro momento. 
Nessa fase, em que estava em curso a modernização dos aparelhos de Estado, seria necessária a produção 
de uma nova legitimidade para garantir a identificação do povo com a Nação. A fim de produzir uma 
“consciência nacional”, o Estado Novo empenhou-se na comunicação de massa para a propaganda 
ideológica do regime e formulou um projeto educacional alinhado com esses propósitos. A produção de 
um “passado comum” estava também relacionada a esses objetivos.
Na verdade, de acordo com Ângela de Castro Gomes (1996), nação e nacionalismo se configuram como 
construções políticas estatais para as quais concorrem de forma fundamental os componentes culturais. 
Nessa visão, a nação se define internamente a partir de “elementos integradores” e externamente por meio 
de “elementos diferenciadores”. Esses elementos podem ser encontrados não apenas em componentes 
culturais comuns como a língua mas também na consciência étnica, em tradições religiosas ou em um 
“passado histórico comum” (GOMES, 1996a, p. 18). É nesse último aspecto que se fixam as reflexões da 
autora que iremos acompanhar.
Para essa historiadora, na política cultural do Estado Novo tivemos o estabelecimento de uma cultura 
histórica com reflexos até hoje. Até esse momento os historiadores estavam integrados numa categoria 
mais ampla de intelectuais do pensamento social brasileiro. Até a década de 1940, médicos, literatos, 
sociólogos ou engenheiros estavam envolvidos da mesma forma nos dilemas da realidade brasileira. 
Nesse momento, assiste-se a uma especialização da história como área diferenciada. Para Ângela de 
Castro Gomes, “a história lutava para demarcar sua especificidade, distinguindo-se e aproximando-se 
ao mesmo tempo da literatura e dos ensaios político-sociais” (GOMES, 1996a, p. 22).
Na verdade, a ligação entre historiografia e Estado já marcara a atuação do Instituto Histórico e 
Geográfico Brasileiro (IHGB). Ângela destaca que, assim como D. Pedro II, Getúlio Vargas visava lograr a 
legitimação de seu poder chegando mesmo a exercer a mesma função de mecenato que seu antecessor. 
Mas o momento histórico era outro. Não se tratava mais de um esforço pioneiro do Estado, pois já existia 
uma acumulação de representação e memória coletiva, que já definiam uma nação. Tratava-se, agora, 
sobretudo, da “recriação de uma tradição coletiva entendida como nacional” (GOMES, 1996a, p. 17).
Para delinear os contornos dessa cultura histórica e as representações construídas sobre a existência 
de um passado comum dos brasileiros, Ângela de Castro Gomes analisou dois periódicos da época. 
Acompanhou artigos publicados de 1941 a 1945 no Suplemento Literário do jornal A Manhã e na 
Cultura Política, revista mensal de estudos brasileiros do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), 
dois veículos oficiais de divulgação da ideologia do regime.
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A política cultural do Estado Novo visava à produção do apoio de massas para o nacionalismo 
estatal. Não se tratava exatamente de “manipulação de massas” em uma aproximação simplista, 
mas, como alerta Ângela de Castro Gomes, os elementos simbólicos utilizados pela política estatal 
estariam vinculados a tradições e valores preexistentes, o que facilitava sua aceitação. A busca de 
uma “origem comum”, em um “passado único” no contexto de uma história nacional, auxiliaria na 
construção de uma homogeneidade política(GOMES, 1996a, p. 21). Dessa forma, como nos deixa 
claro a autora:
Projetar o Estado nacional significa construir uma “nova” nação, o que 
se faz através de um “novo” modelo técnico administrativo de Estado. É 
exatamente nesses períodos que a atenção dos que dirigem o aparelho de 
Estado busca uma “nova” legitimidade, voltando-se para a mobilização de 
recursos simbólicos considerados essenciais, e de forma alguma secundários 
ou reflexos da realização de seus projetos, sobretudo, quando estes 
assumem uma perspectiva de longo prazo. Era o que ocorria no Estado 
Novo, que, buscando demarcar “seu” lugar na história, precisava refazer o 
próprio sentido da história do País. Para tanto, tornava-se imprescindível 
a ação de especialistas capazes de recuperá-la e divulgá-la não só através 
do sistema de educação formal, que então se ampliava enormemente para 
os parâmetros da época, como também através de uma política cultural 
destinada a um público muito mais amplo, e em princípio fora do alcance 
desse sistema escolar. Projetar um novo Estado era, assim, investir na 
produção de lealdade-legitimidade, que englobaria os futuros cidadãos e, 
sem dúvida, aqueles já definidos (ou ao menos potencialmente definidos) 
como tais. O futuro não se faz sem o passado, e este é um ato humano de 
rememoração. Seria básica a realização de um processo de “narração” da 
história, que identificasse os acontecimentos, os personagens e os “sentidos” 
e seus atos.
Postulamos que o Estado Novo foi um momento particularmente rico 
para a delimitação de uma construção intelectual da história do Brasil, 
o qual, por sua competência e pelo volume de recursos investidos, foi 
capaz de deixar marcas profundas em nossa tradição historiográfica 
(GOMES, 1996a, p. 22-3).
Podemos considerar que, se nos momentos de implementação de grandes projetos políticos 
há uma tendência a se voltar ao passado para se “reescrever” a história, isso também se observou 
no Estado Novo. Nesse momento, em que se pretendia construir uma “nova” nação, com a criação 
de uma consciência cívica, capaz de conferir legitimidade e adesão coletiva ao regime instalado, 
visava-se investir na constituição de uma narrativa da história do Brasil bastante específica lançando-se 
os fundamentos de uma cultura histórica nesse período.
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 Lembrete
O regime implantado por Getúlio Vargas a partir de 1937, ao ser chamado 
de Estado Novo ou Estado Nacional, já deixava claros os fundamentos de 
seu escopo ideológico. Anunciava um novo tempo procurando se vincular 
ao que era novo, moderno. Sublinhava, com isso, a ruptura com o passado 
político do País e com a forma econômica tradicional. Ao mesmo tempo, 
buscava na tradição e nos valores nacionais sua legitimação.
Se o Estado Novo apregoava que encaminharia o progresso social do País sob a tutela do Estado 
sem a intermediação entre o povo e o regime, prescindindo de partidos políticos, isso não se faria 
sem bases sociais. Estas seriam encontradas nas tradições profundas da sociedade. Para trazê-las à luz, 
seria necessária a existência de “intérpretes”, ou seja, intelectuais, como literatos, filósofos, historiadores 
ou artistas. Na explicação de Ângela de Castro Gomes, mais uma vez, a figura do intelectual aparece 
vinculada ao aparelho de estado na tradução das características definidoras da nossa nacionalidade. 
O esforço de recuperação do passado empreendido pelo Estado Novo tinha coloração conservadora. 
Tratava-se de buscar no passado explicações para o presente, dando-lhe significado e justificativa. 
Isso levou a algumas iniciativas governamentais que ressaltaram a presença da História no panorama 
cultural e educacional do período. 
Na Lei Orgânica do Ensino Secundário (1942), elaborada sob o comando do ministro Gustavo 
Capanema, manteve-se a separação entre História Geral e História do Brasil que havia sido criada na 
Reforma Francisco Campos de 1931. Foi estabelecido o ensino cíclico pelo qual, no Secundário, seriam 
aprofundados os temas tratados no Ensino Elementar. Nas primeiras séries desse nível, as biografias 
seriam privilegiadas para auxiliar a formação da consciência cívica dos alunos por meio de exemplos. 
 Observação
A História, como disciplina escolar, surgiu no Brasil relacionada à 
produção do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), que exercia 
influência nos programas de ensino do Colégio D. Pedro II, no Rio de Janeiro. 
Esses programas balizavam o que se ensinava em todas as províncias do 
Império. A Reforma Francisco Campos (1931) procedeu a uma tentativa de 
organização dos programas de ensino em nível nacional.
Órgãos relacionados à História e vinculados ao Estado foram criados dando curso à oficialização de 
uma narrativa histórica. É o caso de museus como o de Petrópolis e do Serviço do Patrimônio Histórico 
Nacional (Sphan). Subsídios foram oferecidos a 23 associações históricas que deles se beneficiaram. 
As comemorações oficiais de cunho histórico se multiplicaram em meio aos frequentes eventos de 
massa, organizados para demonstrar a adesão coletiva ao regime. Como exemplos, podemos destacar: 
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Centenário de Morte de José Bonifácio; 100 anos de Fundação do Colégio D. Pedro II; Centenário da 
Maioridade de D. Pedro II; e 4º Centenário da Fundação da Companhia de Jesus (GOMES, 1996a, p. 146).
Ao longo das décadas de 1930 e 1940, o mercado editorial se expandiu, sob os auspícios do governo, 
com a Imprensa Nacional, por exemplo, ou de forma independente. No âmbito da historiografia, alguns 
historiadores e intelectuais que se aproximaram de temas históricos se destacaram. Na revista Cultura 
Política encontramos alguns deles, como Nelson Werneck Sodré, Gilberto Freyre, Câmara Cascudo ou 
Hélio Viana. A eles podemos acrescentar Afonso Taunay, Sérgio Milliet, Basílio de Magalhães, Cassiano 
Ricardo e Alfredo Ellis. Em seu conjunto, como nos indica Ângela de Castro Gomes, os principais temas 
tratados foram o pacto colonial, as missões religiosas, a atividade bandeirante, as questões de fronteiras, 
os movimentos separatistas do período imperial, e começaram a aparecer estudos sobre o café. Chama 
a atenção nessa listagem de temas a ênfase no processo de consolidação do território nacional como 
lastro para a construção de uma narrativa histórica para o País. 
No longo percurso de construção da nacionalidade brasileira, com a frequente recorrência à história, 
chegava-se a um importante ponto de inflexão. De acordo com o discurso estadonovista, a “nação já 
fora criada, possuindo referências geográficas, históricas e culturais” (GOMES, 1996a, p. 208). A própria 
identidade brasileira já não estava projetada para o futuro, para o branqueamento da raça. A mestiçagem 
seria a partir daí nossa marca singular como povo e nação. 
 No escopo do projeto estadonovista, a recuperação do passado seria feita a partir da história do 
povo brasileiro. Esta seria encontrada com o estudo das tradições e do folclore desse povo. Caberia aos 
especialistas reunir esses elementos para dotar o povo brasileiro de uma história única, nacional. Com 
esse discurso que apontava para aspectos que remetiam à unidade do povo e da nação, dissolviam-se 
as desigualdades existentes, o que se ajustava perfeitamente à ideologia de harmonia social apregoada 
pelo Estado Novo.
Da mesma forma, nesse período, consolidaram-se duas ideias relacionadas igualmente diluidoras 
das diferenças reais encontradas na sociedade brasileira. São elas a ideia das três raças formadoras do 
povo brasileiro e a da existência de uma democracia racial no País. A mestiçagem seria a traduçãode 
uma sociedade sem conflitos expressa na democracia racial. Confirmava-se, com isso, que o Estado 
Novo teria uma forma peculiar de democracia. Se não vivêssemos sob uma democracia política, 
teríamos, em contrapartida, uma forma mais desejável: a democracia social. Esse período foi crucial 
para a consolidação da ideia da existência de uma democracia racial no Brasil. 
Com efeito, Casa-Grande & Senzala invertera radicalmente a visão sobre a mestiçagem como 
causadora de danos irreparáveis à formação da nacionalidade brasileira. Ao contrário, a partir dessa 
obra, os brasileiros poderiam se orgulhar de sua original civilização tropical e mestiça, daí deduzindo 
nossa singularidade como povo. Não se tratava, é certo, de promover sentimentos igualitários quanto 
às raças formadoras, mas de equacionar a composição étnica e racial, de acordo com os parâmetros 
da época, como características singulares do povo brasileiro. De toda forma, nessa visão, a elite 
branca ainda estava no centro de tudo e teria absorvido traços culturais dos outros dois grupos, do 
africano em especial.
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Para deixarmos clara de que forma a visão de história produzida no Estado Novo marcou a 
historiografia brasileira, podemos, mais uma vez, acompanhar Ângela de Castro Gomes, que diz:
[...] vale a pena ressaltar a versão de história do Brasil que o Estado Novo sanciona 
e propaga. Tratando-se de um Estado autoritário, centralizador e estranho aos 
procedimentos eleitorais, nada mais congruente do que uma leitura de nossa 
história que privilegiasse todos esses aspectos e denunciasse as experiências 
liberais da Primeira República ou os arroubos “demagógicos”, ainda que fossem 
os da princesa Isabel. Nada mais natural também do que uma grande ênfase 
em nossas tradições de luta – nunca de conquista – no momento em que o 
mundo era abalado por uma Segunda Guerra Mundial. Uma história do Brasil 
semelhante a uma epopeia, encenada por um povo “bom e pacífico”.
O interessante é de que forma essa história tem como ator principal uma 
“raça mestiça”, ela mesma fonte de resistência e coragem para a luta, e 
explicação para uma igualdade “despolitizada”, pois realizada no chão 
da mestiçagem dos corpos e das almas: das cores que matizavam nossa 
sociedade, tornando-a “democrática”. Democracia, por conseguinte, social e 
não política, mas que se realizava por meio de um regime político que era a 
República. Essa raça mestiça, lutadora e pacífica era, portanto, democrática 
e republicana. 
Jesuítas, índios, negros escravos ou não, bandeirantes, soldados, brancos 
senhores, literatos, imperadores, presidentes e deputados, todos integravam-se 
no enredo que culminava na grandeza e na unidade da pátria. Esta era uma 
história gloriosa, sem diversidades ou desigualdades, que glorificava os 
heróis e não se esquecia do povo comum. Era, nesse sentido, uma história 
político-militar e uma história econômico-social, abarcando aspectos até da 
vida cotidiana dos brasileiros. 
Mais interessante ainda, entretanto, é refletir sobre como essa história 
continua. Ela foi solidamente cultivada e ainda hoje não é tarefa fácil narrar 
uma “outra” história. Uma história onde o Brasil não tenha uma cara, mas 
muitas, diversas e desiguais (GOMES, 1996a, p. 209-10).
7.5 O Serviço do Patrimônio Histórico Nacional
A criação do Serviço do Patrimônio Histórico Nacional (Sphan), em 1937, é um caso emblemático que 
mostra como um projeto de intelectuais ligados ao Modernismo se materializou durante o Estado Novo. 
O surgimento desse órgão conjugou a relação de intelectuais com o Estado, nem sempre alinhados politicamente, 
mas tendo em comum o reconhecimento da existência de uma tradição histórica nacional a ser preservada. 
Interessante notar a ambiguidade do Estado Novo na questão cultural, que era semelhante ao 
posicionamento dos intelectuais da geração modernista. Ao mesmo tempo que esse regime anunciava 
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o novo e o moderno, dedicava-se ao reconhecimento das raízes da cultura brasileira. Assim, tivemos no 
mesmo momento histórico a implantação de um edifício icônico da arquitetura modernista, a sede do 
Ministério da Educação e Saúde (MES), o mesmo ministério criador do Sphan, que se dedicou fortemente 
a preservar obras arquitetônicas do passado. 
O edifício Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro, inaugurado em 1945, originalmente como sede 
do Ministério da Educação e Saúde (MES). Projeto de Lucio Costa, à frente de equipe que incluiu, entre 
outros, Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, os dois em início de carreira, com assessoria de Le Corbusier. 
Conforme a lei que o criou, a finalidade do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional seria 
“promover, em todo o País e de modo permanente, o tombamento, a conservação, o enriquecimento e o 
conhecimento do patrimônio histórico e artístico nacional”. Nesse documento, esse patrimônio se definia 
como “o conjunto de bens móveis e imóveis existentes no País cuja conservação seja de interesse público, 
quer por sua vinculação a fatos memoráveis da História do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico 
ou etnográfico, bibliográfico ou artístico”. Incluíam-se, também, nessa definição “monumentos naturais, 
bem como sítios e paisagens que importe conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido 
dotados pela natureza ou agenciados pela indústria humana” (BRASIL, 1937).
A iniciativa pela criação de um órgão nacional de defesa do patrimônio histórico apoiou-se em 
estudos anteriores feitos na década de 1920, por Mário de Andrade, quando este esteve à frente do 
Departamento de Cultura de São Paulo. Após sua criação no Ministério de Gustavo Capanema, o 
Sphan foi dirigido durante décadas por Rodrigo Melo Franco de Andrade, que traçou os rumos do 
órgão norteados pelos valores de tradição e de civilização, com ênfase em sua relação com o passado. 
Nessa visão, os bens culturais classificados como patrimônio deveriam fazer a mediação entre os heróis 
nacionais, os personagens históricos, os brasileiros de ontem e os de hoje. Essa apropriação do passado 
era concebida como um instrumento para educar a população a respeito da unidade e da permanência 
da nação (FGV – CPDOC, 2016).
Cumpre lembrar que, historicamente, a noção da existência de um patrimônio histórico surgiu relacionada 
à ideia de pertencimento a uma nação, o que tornava a sua valorização com a criação do Sphan no contexto 
do Estado Novo – ou Estado Nacional – especialmente significativa. Como nos esclarece um verbete da página 
do Centro de Pesquisa e Documentação da Fundação Getulio Vargas (CPDOC):
Os chamados patrimônios históricos e artísticos têm nas modernas 
sociedades a função de representar simbolicamente a identidade e a 
memória da nação. O pertencimento a uma comunidade nacional é 
produzido com a ideia de propriedade (daí a palavra “patrimônio”) sobre 
um conjunto de bens, relíquias, monumentos, cidades históricas, entre 
outros (FGV – CPDOC, 2016).
Dessa forma, a primeira instituição oficial criada para proteger o patrimônio histórico brasileiro 
se concretizou em momento singular da construção da nacionalidade brasileira. No âmbito do Estado 
Novo, a memória do passado e seu legado passavam a figurar no escopo da nacionalidade pretendida. A 
política do órgão levada a efeito nas décadas seguintes vai deixar clara a visão predominante, que será 
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a valorização de exemplares de valor artístico excepcional e de obrasque servissem para fazer perdurar 
a memória das elites.
Em seus primeiros anos, o Sphan contou com a colaboração de intelectuais ligados ao modernismo 
para realização de inventários e pesquisas de bens a serem protegidos pelo tombamento. Dentre eles 
podemos destacar Lucio Costa, Gilberto Freyre e Oscar Niemeyer. Durante o período em que o Sphan foi 
dirigido por Rodrigo Melo Franco, os tombamentos incidiram, acima de tudo, sobre o Barroco mineiro, 
destacando exemplares de arte e arquitetura barrocos, especialmente os religiosos. Isso correspondia, 
sobretudo, à ideia do barroco como uma manifestação artística que, adaptada em nosso País, traduzia 
uma identidade brasileira que se anunciava na colônia. 
Nos primeiros tempos do Sphan também foram tombados edifícios de “pedra e cal”, como diversos 
fortes e igrejas litorâneas. Além desses exemplares coloniais que foram o maior número tombado por 
décadas, a política inicial de tombamento selecionou remanescentes bandeiristas paulistas construídos 
em taipa de pilão. 
A política empreendida pelo Sphan nos primeiros tempos anunciou muito do que seria a prática 
classista desse serviço por décadas. Este conduziu um inventário das grandes obras relacionadas aos 
feitos e ao modo de vida das elites brasileiras. A hegemonia dos arquitetos na formulação da política de 
preservação conduziu à predominância dos bens arquitetônicos entre os tombados, em detrimento dos 
arquivos, bibliotecas e outros lugares de memória. O patrimônio tombado resultante foi um conjunto 
de bens representativo de “todas as frações da classe dirigentes brasileira, em seus ramos público e 
privado, leigo e eclesiástico, rural e urbano, afluente e decadente”. Essa política produziu o seu reverso: a 
amnésia da experiência dos grupos populares e das populações negra e indígena (MICELI, 2001, p. 360). 
Mais recentemente tem havido uma maior preocupação com a inserção de outros momentos históricos 
e grupos sociais, e com a preservação de bens imateriais, atualizando a perspectiva tradicional do órgão 
às novas demandas sociais. 
 Saiba mais
O Sphan, desde sua criação, foi transformado em Secretaria, 
Departamento e, atualmente, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico 
Nacional (Iphan) é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da 
Cultura que responde pela preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro. 
No endereço digital você encontra muitas informações sobre processos de 
tombamento e conceitos relacionados ao patrimônio histórico material 
e imaterial. Esse portal define que: “cabe ao Iphan proteger e promover 
os bens culturais do País, assegurando sua permanência e usufruto para as 
gerações presentes e futuras”. Para saber mais acerca do assunto, acesse:
<http://portal.iphan.gov.br/>.
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7.6 A História na universidade
O Brasil, diferentemente de outros países latino-americanos, não tinha até essa altura uma tradição 
universitária. Alguns poucos e prestigiosos cursos de direito, medicina ou engenharia funcionavam 
como celeiros de intelectuais que se juntavam e, muitas vezes, se confundiam com “homens de cultura” 
provenientes das elites ilustradas. Isso começou a mudar na década de 1930 com a criação da Universidade 
de São Paulo (1934), na capital paulista, e da Universidade Federal (1937), no Rio de Janeiro. 
Na área da História, a Universidade de São Paulo (USP) merece destaque. Criada sob o impulso de 
Armando de Salles Oliveira, interventor do estado, com importante articulação de Júlio de Mesquita, 
reuniu os cursos já existentes de Farmácia e Odontologia, a Faculdade de Direito do Largo São Francisco, 
a de Medicina e a Escola Politécnica. A esses cursos foi agregada a nova Faculdade de Filosofia, Letras 
e Ciências Humanas (FFLCH). Para a formação dessa faculdade, foi patrocinada a vinda de professores 
europeus em início de carreira, especialmente franceses, que vieram a se tornar nas décadas seguintes 
intelectuais de grande importância mundial. Foi o caso do historiador Fernand Braudel, do antropólogo 
Claude Lévi-Strauss, do geógrafo Pierre Monbeig, do sociólogo Roger Bastide e do poeta Giuseppe 
Ungaretti, que ministrou aulas de literatura italiana.
Com a contribuição dos mestres franceses e seus discípulos, a História teve condições de assumir 
um comportamento acadêmico e científico. A contribuição desses intelectuais foi fundamental para 
o modelo de universidade então criado e para a introdução de novas maneiras de se pensar e exercer 
a atividade intelectual. Deu-se início, na área das Ciências Humanas e Sociais, ao estabelecimento de 
um instrumental conceitual e metodológico específico. A formação de uma mentalidade universitária 
caminhou junto com a profissionalização de especialistas nessas áreas. 
Os primeiros frutos de uma metodologia aplicada às Ciências Humanas começam a surgir inicialmente 
na Antropologia, na Geografia e na Sociologia. Ainda que na História isso tenha demorado ainda um 
pouco para aparecer, em 1950 foi criada pela FFLCH-USP a Revista de História, uma das primeiras do 
gênero. Essa revista divulgou inúmeras pesquisas acadêmicas realizadas pelos historiadores egressos 
da universidade. Em seu primeiro número, trouxe a conferência proferida por Lucien Febvre, naquela 
universidade, em 1949, “O homem do século XVI”. Manifestando caráter interdisciplinar, a revista tornava 
clara sua inspiração na congênere francesa Annales (GUIMARÃES, 2011, p. 28).
Importante ressaltar que a fundação da Universidade de São Paulo não pode ser entendida de forma 
isolada, como nos lembra Heloísa Pontes no trecho a seguir que reproduz uma frase de Antonio Candido, 
no qual dá conta do afã renovado de se estudar o País:
A fundação da Universidade de São Paulo, em 1934, ocorreu no interior de 
um contexto intelectual mais amplo de interesse renovado pelo Brasil que 
se expressou nos mais variados setores da vida cultural do País: na instrução 
pública, nas reformas do ensino primário e secundário, na produção artística 
e literária, nos meios de difusão cultural e, sobretudo, na ênfase posta no 
conhecimento do País. “O Brasil começou a se apalpar”. A realidade brasileira 
tornou-se o conceito-chave do período, encarnando-se nos estudos 
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histórico-sociológicos, políticos, geográficos, econômicos e antropológicos. 
Pautados por um frenesi de reinterpretar o passado nacional, interpretar e 
diagnosticar o presente, tais estudos foram veiculados principalmente através 
das coleções Brasiliana e Documentos Brasileiros (PONTES, 1998, p. 145). 
7.7 Ressurgem as dissidências e emerge um pensamento radical
No final do Estado Novo assistimos a um ressurgimento das dissidências silenciadas pela repressão e 
pela censura durante o período ditatorial. Sabemos que nem todos os intelectuais se alinharam com o 
Estado Novo. Nesse momento, aqueles que se mantiveram distantes do regime voltaram a se manifestar, 
engrossando o coro dos que se colocavam politicamente contra o regime. 
Dentre as primeiras manifestações contrárias à permanência de Getúlio no poder, tivemos a realização 
do Primeiro Congresso Brasileiro de Escritores. Esse congresso foi organizado pela Associação Brasileira de 
Escritores (ABDE), entidade que desde sua formação, três anos antes, já se colocava contra a ditadura. Os 
participantes do congresso deram ao encontro um tom político e destacaram o papel do intelectual como 
agente da redemocratização. Ao seu final, divulgaram uma Declaração de Princípios, documento que foi 
distribuído de mão em mão, pois nenhum jornal quis publicá-lo. Nele defendiam a legalidade democrática, 
a liberdade deexpressão e a realização de eleições. Assinaram esse documento diversos intelectuais de peso, 
como Caio Prado Jr., Dionélio Machado, Paulo Emilio Salles Gomes, Jorge Amado, Moacir Werneck de Castro, 
Antonio Candido de Melo e Sousa, Aníbal Machado, Sérgio Milliet e Abguar Bastos (BERCITO, 1999, p. 56).
Durante o congresso, formulou-se um manifesto-proposta sobre o que os intelectuais ali reunidos 
entendiam por uma política democrática de educação e cultura. O documento foi apresentado por 
Fernando de Azevedo, tendo sido assinado por Astrojildo Pereira, Antonio Candido, Carlos Lacerda e 
João Cruz Costa, entre outros. Nesse documento se definia um papel intelectual e uma visão de cultura 
popular, emanando do povo, que obteve longo alcance nas décadas posteriores. Nele, os intelectuais 
se comprometiam a proceder “de acordo com a ciência” para diagnosticar os problemas da população 
brasileira” e contribuir no processo de democratização da cultura pela:
Força interna de criação e de renovação, de uma cultura de mandato social, 
enraizada na vida do povo, e alimentada nas suas tradições e lembranças, 
nas suas necessidades e nos seus problemas, nos seus sofrimentos e nas suas 
aspirações (MOTA, 1978, p. 146). 
Ao poucos as oposições intensificam as pressões sobre Getúlio, que acabou por se afastar do poder. O 
cenário político mundial relacionado à Segunda Guerra e as questões colocadas no País pela experiência 
da ditadura exigiam esforço de reflexão dos intelectuais. A crise política fazia o Brasil se repensar. 
Renovava-se o interesse pelo exame da realidade brasileira, que passava a contar com o instrumental 
teórico acadêmico. 
A radicalização política se manifestava também na produção intelectual, pela qual emergiu um 
“pensamento radical”, não propriamente revolucionário, na acepção de Carlos Guilherme Mota, tendo 
como expoente Antonio Candido. Este seria um representante de um novo tipo de intelectual que 
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emergia, desvinculado das visões senhoriais predominantes e mais próximo de um pensamento de 
classe média vinculado ao processo de urbanização e industrialização que se vivia em São Paulo. Ele 
pertenceria a um grupo portador de uma visão crítica tributária dos meios intelectuais acadêmicos 
recém-formados – com elementos da Antropologia, da Sociologia e da Linguística – na qual não se 
pensava a produção cultural desvinculada da política (MOTA, 1978, p. 126).
Heloísa Pontes analisou a Revista Clima, veículo de divulgação das ideias de um grupo de intelectuais, 
que se situavam nesse mesmo campo e atuavam como críticos de cultura, como Paulo Emílio Salles 
Gomes, Décio Prado Lourival Gomes Machado, Antonio Candido e Gilda de Melo e Souza. Publicada 
na década de 1940, essa revista trazia contribuições que expressavam a função de ponte que o “grupo 
Clima” exercia entre a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP e as instâncias de produção e 
difusão cultural da cidade (PONTES, 1998, p. 2).
Para Carlos Guilherme Mota, a conjuntura do final do Estado Novo tinha sabor de fin-de-siécle. 
Prenunciava-se uma nova etapa em que despontava a ideia do desenvolvimento planejado da economia 
liberal. Os intelectuais começavam a se empenhar na construção de modelos de desenvolvimento 
nacional em uma linha de reformismo desenvolvimentista que se consolidaria na década seguinte. 
Tratava-se de um pensamento progressista, mas não revolucionário. Nesse contexto, o intelectual se 
distanciava do burocrata do Estado Novo para se definir como ideólogo do desenvolvimentismo (MOTA, 
1978, p. 152-3).
7.8 Novos parâmetros para se entender o Brasil 
Após anos de ditadura, com a queda do Estado Novo, entramos em um período de normalidade 
constitucional e com governos escolhidos em pleitos eleitorais. Entretanto, isso não ocorreu sem tensões. 
Embarcamos em um projeto de desenvolvimento econômico que não considerou as profundas 
desigualdades sociais existentes no País. A vida política conheceu pressões dos movimentos de esquerda 
ao provocarem reações que se intensificaram até que mergulhássemos novamente em regime de exceção 
com um golpe civil-militar que trouxe de volta a ditadura ao País em 1964. 
Nesse período, foram muitas as mudanças no modo de viver. O cenário urbano, cada vez mais, dava 
os parâmetros de modernidade, em um país cuja população ainda vivia majoritariamente no campo. O 
projeto desenvolvimentista desencadeado por Juscelino Kubitschek estendia a industrialização nacional 
com participação do capital estrangeiro considerando de maneira pragmática que importava mais onde 
as indústrias estavam que a origem do capital. Eletrodomésticos de todo tipo, automóveis e a nova 
capital em Brasília figuravam como os símbolos da época. As inquietações sociais e a concepção de que 
o povo brasileiro seria o agente de sua própria história produziam um teatro vigoroso e os primeiros 
tempos do Cinema Novo, embalados ao som da Bossa Nova. 
Em meio a tudo isso, pensava-se o Brasil de muitas formas. Nos anos de 1950 e 1960, os frutos de 
um saber acadêmico já eram reconhecidos com facilidade. A problemática política e social ocupava o 
centro das preocupações. Surgiam autores que iriam se colocar à frente no processo político e social 
elaborando trabalhos que influenciariam discípulos e outros depois deles.
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As preocupações da época exigiam um diálogo com as teses econômicas e sociológicas que se 
ofereciam para ajudar a compreender o País no passado e naquele momento em diálogo com a produção 
historiográfica do período. Ao lado disso, tinha continuidade a historiografia de cunho laudatório e 
tradicional ligada ou não aos institutos históricos. 
7.9 O nacionalismo desenvolvimentista
A ideia de se construir um Brasil moderno, que foi pano de fundo de muitos debates intelectuais 
em nosso País, teve novas angulações nas décadas de 1950 e 1960, repercutindo nas explicações sobre 
o passado brasileiro. O nacionalismo foi a corrente de pensamento de maior influência na época. A 
nação já se tinha como constituída. O esforço se daria em outra direção: promover o desenvolvimento 
econômico nacional. 
Figura 10 – Juscelino Kubistchek (JK) em Brasília, 1957
Juscelino Kubitschek (1955-1960), o presidente “bossa-nova”, com o lema de “50 anos em 5” colocava 
em cena a possibilidade de um Brasil moderno e desenvolvido economicamente a partir de uma política 
em que preponderavam a ideologia nacionalista e a defesa do rápido crescimento econômico a partir 
de um acelerado crescimento industrial. Presidente carismático com alto poder de negociação, ele 
conquistou significativa adesão a seu projeto desenvolvimentista pelo significado do que anunciava, 
como nos explicam as historiadoras Lilia Schwarcz e Heloísa Starling:
O estilo fazia a diferença na hora de Kubitschek abordar problemas e 
conquistar a máxima simpatia de cada grupo social, mas não explica tudo. A 
outra parte do segredo de Juscelino está provavelmente no fato de que ele 
conseguiu transformar o Plano de Metas no projeto de um Brasil possível. 
Seu programa de governo dava voz a uma nova e entusiástica condição de 
ser brasileiro que poderia contribuir pra reparar as injustiças de uma herança 
histórica de miséria e desigualdades profundas, e serviria para abrir as 
portas da modernidade. A chave para construir esse novo país chamava-se 
“desenvolvimentismo” e defendia a ideia de que nossa sociedade, defasada 
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e dependente dos países mais avançados,repartia-se em duas: uma parte do 
Brasil ainda era atrasada e tradicional; a outra já seria moderna, e estava em 
franco desenvolvimento. Ambas, o centro e a periferia, conviveriam no mesmo 
país, e essa era uma dualidade que se devia resolver pela industrialização 
e pela urbanização. A confiança que Juscelino depositou nesse projeto de 
Brasil foi contagiosa, e não é muito difícil entender o porquê. O projeto de 
JK sustentava-se na crença de que a construção de uma nova sociedade 
dependia da vontade do Estado e do desejo coletivo de um povo que, enfim, 
teria encontrado seu lugar e destino (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 417).
É de se notar que, por essa época, e sob a influência dos trabalhos efetuados pela Comissão 
Econômica para a América Latina (Cepal) da Organização das Nações Unidas (ONU), difundiam-se 
explicações que inseriam os países então chamados de subdesenvolvidos em princípios dualistas. Nessa 
visão, esses países conviviam com realidades opostas, já que neles haveria regiões industrializadas 
desenvolvidas e outras agrárias muito atrasadas. No caso brasileiro, entendia-se que os interesses 
da burguesia industrial se colocariam em oposição aos dos latifundiários defensores da agricultura 
de exportação. As razões do subdesenvolvimento estavam relacionadas à dependência dos países 
periféricos, dentre os quais estaríamos com o centro do sistema capitalista. Centro e periferia seriam 
as duas faces da mesma moeda. 
Essas ideias influenciaram economistas e demais intelectuais que pensavam o Brasil à época, em 
amplo espectro ideológico. Para comunistas, por exemplo, justificavam a luta contra o imperialismo. Para 
nacionalistas em geral, serviam como fundamentação para convicções industrialistas e de intervenção 
do Estado na economia.
 Saiba mais
A Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) foi estabelecida 
em 1948 e, a partir de 1984, passou a se chamar Comissão Econômica para 
a América Latina e o Caribe. Sua sede fica no Chile, e sua fundação visava 
contribuir para o desenvolvimento econômico da América Latina e reforçar 
as relações econômicas dos países que a compunham. Acesse o endereço 
digital e veja publicações e informações atualizadas sobre os países 
latino-americanos:
<http://www.cepal.org/pt-br>. 
Um exemplo de obra que teve grande impacto nesse momento foi o livro Os dois Brasis (1959), 
de Jacques Lambert. Nele, o autor atribui a essa condição dual a dificuldade em se alcançar um 
desenvolvimento harmônico da sociedade brasileira, e o caminho para alcançá-lo seria a modernização 
da agricultura (GUIMARÃES, 2011, p. 29).
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 Algum tempo depois, a implantação da ditadura militar, que recebeu apoio de setores da burguesia 
industrial e agrária, mostrou que os interesses desses dois grupos sociais não eram tão diferentes. 
A teoria dualista foi revista na década de 1970 de maneira contundente por Francisco de Oliveira em 
A Economia Brasileira: Crítica à Razão Dualista, que ressaltou a complementaridade dos setores agrário 
(regressivo) e industrial (moderno) (OLIVEIRA, 1975).
O nacionalismo dos anos 1950 tinha como tese central a possibilidade de haver um desenvolvimento 
independente no Brasil, por meio de uma industrialização comandada pela burguesia e pelo capital 
nacionais. A participação do capital estrangeiro se aceitava na medida de seu controle pelo capital 
brasileiro. Esse modelo se desdobrava na ideia de ser necessário o desenvolvimento de uma cultura 
autenticamente nacional (RODRIGUES, 1992, p. 20).
7.10 Pensar o Brasil em novos termos 
Para compreender as raízes da formação econômico-social brasileira, os pensadores nacionais 
contavam com as matrizes teóricas oferecidas pela Cepal em torno das teorias dualistas e das questões 
acerca da inserção do Brasil nas definições do capitalismo dependente. Alguns se reuniram no Instituto 
Superior de Estudos Brasileiros (Iseb) produzindo teses e argumentos que influenciaram debates e 
medidas governamentais, tendo o Iseb sido extinto no governo militar.
O Iseb foi uma instituição cultural ligada ao Ministério da Educação e Cultura com sede no Rio de 
Janeiro. De acordo com a historiadora Marly Rodrigues (1992):
O Iseb gozava de autonomia de opinião. Destinava-se ao estudo, ensino 
e divulgação das Ciências Sociais aplicadas à compreensão da realidade 
brasileira, e à elaboração dos suportes teóricos para o desenvolvimento 
do capitalismo nacional. Por meio de publicações, seminários, cursos e 
conferências, inicialmente voltados para um público envolvido com o trato 
de problemas nacionais em instituições públicas ou privadas, o Iseb difundiu 
suas propostas de desenvolvimento nacional. 
Com algumas variantes, relativas à posição nacionalista radical ou moderada 
dos estudiosos, as propostas baseavam-se no desenvolvimento industrial 
autônomo, apoiado politicamente por uma “frente única” composta 
pela burguesia nacional, pelo proletariado, por grupos de técnicos da 
administração intelectuais – setores da sociedade interessados na superação 
do desenvolvimento capazes de enfrentar os opositores da industrialização, 
isto é, a burguesia latifundiária e mercantil e o imperialismo (RODRIGUES, 
1992, p. 22).
Hélio Jaguaribe foi um dos principais ideólogos do Iseb. Em 1958 as polêmicas em torno de seu livro 
O Nacionalismo na Sociedade Brasileira dividiram o grupo, o que culminou na saída dos moderados. A 
partir daí, o Iseb foi se tornando um “instrumento da esquerda para proteção da indústria nacional e de 
nacionalização das empresas estrangeiras”. Cumpre lembrar que seus conceitos:
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Difundiram-se pela sociedade e serviram de paradigma para a apreensão 
da “realidade brasileira” durante as décadas de 1950 e 1960. Sua influência 
foi particularmente notável na formação de intelectuais e artistas, além da 
produção cultural, em destaque o teatro e o cinema.
A concepção de cultura como um dos instrumentos de transformação social, 
conscientizador, e da intelectualidade como vanguarda dessa transformação, 
implicou incorporação de temas sociais nas manifestações artísticas e ampla 
polêmica sobre o que era cultura popular e seu papel na elaboração da 
cultura nacional. O caráter revolucionário da cultura, absorvido por grande 
parte da esquerda, marcou a produção dos anos 60, em especial dos grupos 
de teatro Arena e Oficina, do Cinema Novo e a ação do CPC (Centro Popular 
de Cultura), da UNE (RODRIGUES, 1992, p. 23).
Na verdade, nessa visão, o subdesenvolvimento econômico estaria implicado na situação cultural 
dependente. A superação da condição econômica deveria ser acompanhada do mesmo movimento com 
relação à cultura. Defender a cultura brasileira seria também uma forma de afirmação nacional.
Cumpre ressaltar que nas décadas de 1950 e 1960 o debate sobre cultura popular e seu papel 
na cultura nacional tiveram grande destaque no cenário intelectual. Da mesma forma, a função do 
intelectual como vanguarda e impulsionador de mudanças sociais foi sublinhada, conferindo-lhe o 
papel de agir para promover a consciência social do povo por meio de seu trabalho. 
Assim, temos que no período em estudo os principais temas que ocuparam as discussões giravam em 
torno do nacionalismo desenvolvimentista e da planificação econômica, por um lado, e, por outro, da 
importância da cultura popular nacional, ainda que houvesse entendimentos diferentes quanto a esses 
assuntos. Questões sobre a formação de uma consciência nacional que nos encaminhasse para uma 
situação de independência e sobre uma possível revolução burguesa no Brasil despertavam polêmicas 
entre ospensadores da esquerda.
O Iseb congregava intelectuais de diferentes orientações, como Roland Corbisier, Álvaro Vieira Pinto, 
Roberto Campos, Cândido Mendes de Almeida, Hélio Jaguaribe, Miguel Reale e Nelson Werneck Sodré. 
Este último era o responsável pelo Departamento de História do Instituto.
O militar Nelson Werneck Sodré (1911-1999), dos historiadores de esquerda da época, foi o mais 
identificado com o PCB, o que lhe valeu muitas críticas na avaliação de sua obra em décadas posteriores. 
Comungou com o partido a ideia de conciliação entre as classes para fazer avançar a revolução burguesa 
como etapa para se chegar ao comunismo, o que foi considerado por alguns como tendo contribuído 
para o golpe civil-militar em 1964. 
Enxergava a contradição entre a nação e o imperialismo como a principal existente em nosso País, 
suplantando a do capital e do trabalho, por isso propunha a mediação à luta de classes como uma solução 
para o momento que se vivia e a mobilização de todo o povo brasileiro, composto por proletariado, 
campesinato, pequena burguesia e burguesia nacional, em torno da nação. 
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Com essa percepção, teria se alinhado aos propósitos da burguesia assumindo a bandeira do 
anti-imperialismo e a defesa do nacional, desenvolvimentismo, apoiando o “erro histórico” do PCB. 
Em sua visão da História do Brasil, contestada em décadas seguintes, reconhecia a existência de traços 
feudais no País que teriam dificultado sua industrialização. 
Somente em 1930, em que haveria iniciado nossa revolução burguesa, teria começado um verdadeiro 
surto industrial no qual a burguesia, incapaz de fazer frente ao imperialismo, teria necessitado se aliar 
aos trabalhadores urbanos e camponeses, já que os latifundiários não teriam interesse no avanço 
industrial. Escreveu vários livros, dentre eles: Raízes Históricas do Nacionalismo Brasileiro (1958), 
Formação Histórica do Brasil (1962) e História da Imprensa no Brasil (1966).
Em meio à preocupação dos meios intelectuais de esquerda quanto aos debates nacionalistas 
e às propostas de desenvolvimento econômico, assume destaque a discussão sobre “revolução 
burguesa” na historiografia.
De fato, a discussão sobre a existência de uma revolução brasileira e os moldes em que esta se daria, 
na perspectiva de uma revolução burguesa ou não, fez-se presente no cenário intelectual da época. 
No âmbito dos historiadores marxistas, o já estabelecido Caio Prado Jr. também se ocupou da questão 
defendendo que se levasse em conta o processo histórico real e não se tentasse adaptar o esquema 
europeu ao nosso País. 
Na verdade, Caio Prado divergia de Nelson Werneck Sodré, voz autorizada do PCB, também 
na questão da existência de um passado feudal no Brasil colonial. Considerava que desde 
o início a América Portuguesa estava inserida em relações capitalistas com o continente 
europeu. Outro importante ponto de divergência de Caio Prado que o afastava da tônica 
nacional-desenvolvimentista da época era a consideração de que não haveria verdadeira oposição 
entre a burguesia agrária e a industrial, já que o capital que havia impulsionado a indústria era 
proveniente do café. Considerava também que os dois segmentos da burguesia se dirigiriam, em 
última instância, para uma submissão ao imperialismo. 
Nem todos os intelectuais que partilhavam do ideal do desenvolvimento nacional estavam ligados ao 
Iseb. O economista Celso Furtado (1920 – 2004), por exemplo, trilhou caminho independente, embora de 
forma paralela aos integrados ao Instituto. Seu livro Formação Econômica do Brasil (1956) teve grande 
repercussão, para muito além da época em que foi escrito. Analisando os movimentos da economia 
brasileira, destacava a importância do Estado nesse setor, defendendo uma política econômica apoiada 
na intervenção governamental.
7.11 Outras possibilidades para pensar o País
Se a tônica da década de 1950 foi dada pelo nacional-desenvolvimentismo, nem todos os intelectuais 
comungaram dessa ideia mestra. Podemos citar, como exemplo, Antonio Candido e Florestan Fernandes, 
os dois vinculados aos desdobramentos da implantação da Universidade de São Paulo e à instalação de 
metodologias de trabalho acadêmico.
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Antonio Candido (1918), em Parceiros do Rio Bonito (1964), sua tese de doutorado defendida em 
1954 na área de Sociologia, dedicou-se ao estudo da formação histórica e social dos trabalhadores 
rurais pobres e do mundo caipira resultante. 
Já em A Formação da Literatura Brasileira: Momentos Decisivos (1959), produziu crítica 
literária com teor histórico. Essa obra acompanhou o movimento de progressiva autonomização 
da literatura brasileira em relação à portuguesa remetendo-a à sua dimensão social e histórica e 
conferindo-lhe valor equivalente. Trata o fenômeno literário em dupla direção: como obra literária 
com realidade própria e em seu contexto histórico de produção. Esse trabalho inovador exerceu 
grande influência em historiadores e cientistas sociais.
Florestan Fernandes (1920-1995), sociólogo de orientação marxista, teve grande importância na 
instauração da linguagem e da metodologia das Ciências Sociais no Brasil. A análise que empreendeu 
sobre a escravidão no País revelava impasses da formação da sociedade brasileira que funcionavam 
como entraves ao desenvolvimento ao mesmo tempo que colocavam em evidência mecanismos do 
preconceito racial. Em A Integração do Negro na Sociedade de Classes (1964), de acordo com Maria 
Arminda do Nascimento Arruda: 
Situando a problemática do negro na passagem da sociedade escravista 
para a sociedade de classes, o sociólogo analisa as relações raciais no prisma 
da dinâmica global da modernização brasileira, acentuada na cidade de 
São Paulo. A rápida transformação urbana, ocorrida entre o final do século 
XIX e o começo do século XX, impossibilitou a inserção do negro e do 
mulato no estilo urbano de vida, por não possuir recursos para enfrentar 
a concorrência dos imigrantes. Ou, para acompanhar as suas categorias, a 
heteronomia presente na “situação de castas” impediu aos negros assimilar 
as potencialidades oferecidas pela “situação de classes”. Resulta desse 
processo o desajustamento estrutural e a desorganização social típicas da 
condição dos descendentes de africanos, relegados a viver um estado de 
marginalidade social, verdadeiros proscritos das conquistas civilizadas. O 
preconceito e outras expressões de discriminação exerceram a função de 
manter a distância social e reproduzir o isolamento sociocultural, tendo 
em vista a preservação das estruturas sociais arcaicas (apud BOTELHO; 
SCHWARCZ, 2009, p. 317-8). 
O propósito de estudar as relações escravistas na constituição da sociedade brasileira teve 
continuidade em trabalhos produzidos por assistentes de Florestan Fernandes, como Fernando Henrique 
Cardoso, Maria Sylvia de Carvalho Franco e Octavio Ianni.
É preciso ressaltar que no final dos anos 1950 crescia na universidade um interesse pelo marxismo 
distanciado da vinculação direta com o Partido Comunista e depurado de esquematizações doutrinárias 
ou reducionistas. Intelectuais se propunham a fazer uma leitura independente de Marx como recurso 
instrumental para produzir análises sobre a sociedade brasileira e sua história. Como comenta Leandro 
Konder, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP):
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Formou-se um grupo de estudos para a leitura de O Capital,de Marx, 
integrado pelo filósofo José Arthur Gianotti, pelos sociólogos Octavio 
Ianni e Fernando Henrique Cardoso (discípulos de Florestan Fernandes), 
pela antropóloga Ruth Cardoso, pelo economista Paul Singer e pelo 
historiador Fernando Novais. Outros intelectuais mais jovens também 
foram envolvidos pela atividade do grupo, como Bento Prado, Francisco 
Weffort, Roberto Schwarz, Gabriel Bolaffi e Michael Löwy. Entre os 
integrantes desse círculo, predominava claramente a disposição de 
primeiro entender bem Marx para que depois cada um resolvesse em 
que condições poderia adotar (ou não) a perspectiva do pensador 
alemão (apud FREITAS, 1998, p. 372).
O grande interesse despertado entre os intelectuais da época pelas ideias de Marx, ou delas tributárias, 
teve grande repercussão. Vale lembrar que vivíamos um período de forte militância de esquerda e 
entusiasmo pelos sucessos havidos com a Revolução Cubana em 1959. Dessa forma, na década de 
1960 e na seguinte, apesar da intensa perseguição aos intelectuais que ocasionou o exílio de muitos e a 
aposentadoria compulsória de vários professores universitários, o marxismo ocupou posição destacada 
na produção historiográfica, especialmente a acadêmica, sobre o Brasil.
7.12 Em tempos de radicalização
Com o golpe de 1964, os intelectuais brasileiros tiveram de se defrontar com um gradativo cerceamento 
da liberdade de expressão à medida que a ditadura se consolidava. Foram tempos difíceis, e embora a 
insegurança fosse grande, as produções intelectual, artística e acadêmica tiveram continuidade nas 
brechas deixadas pela forte repressão. 
Na verdade, durante as décadas de 1960 e 1970 há uma quase hegemonia da produção marxista na 
historiografia brasileira. Temas como revolução burguesa, características do modo de produção escravista 
brasileiro, luta de classes e movimentos revolucionários no período colonial recebem atenção de muitos 
pesquisadores. Cumpre ressaltar que alguns desses temas são comuns também a trabalhos realizados no 
campo das Ciências Sociais, pois estavam no centro das discussões políticas da época. De verdade, há uma 
fronteira, por vezes, imperceptível entre os estudos de historiadores e cientistas sociais nesse momento. 
Discutir rupturas ou continuidades, conciliação ou radicalização das posições, saber se a revolução e 
o socialismo estavam por vir e com que velocidade, todas essas questões figuravam nos debates de 
intelectuais engajados à esquerda na luta política daqueles anos de ditadura, independentemente de 
sua área acadêmica. 
 Debates econômicos e políticos ocuparam a cena. O golpe de 1964 e o populismo trouxeram 
consigo questões relativas ao desenvolvimento e à ampliação do poder do capitalismo industrial 
e financeiro, ao crescimento da classe média e do operariado, além da presença norte-americana 
na América Latina.
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 Lembrete
Na década de 1960, cresce o interesse dos Estados Unidos pela 
América Latina no contexto da Guerra Fria. Os chamados brasilianistas – 
historiadores estrangeiros, especialmente americanos, que se dedicaram ao 
estudo da História do nosso País – tiveram intensa atuação nessa época. 
Sua produção foi bastante significativa e intensa nas décadas que se 
seguiram. Esses historiadores tiveram acesso a arquivos e documentos que 
não estavam disponíveis ao seu colegas brasileiros na época. Alguns deles: 
Charles Boxer, Waren Dean, John W. F. Dulles, Richard Graham, Keneth 
Maxwell, Richard Morse, Thomas Skidmore e Stanley Stein.
No campo da história política, os temas de preferência eram o capitalismo, a escravidão, os 
movimentos sociais, os sindicatos, entre outros. Conforme destaca Fernando Novais:
O Golpe de 1964 e os desdobramentos do regime militar-autoritário levaram 
a uma espécie de exame de consciência da intelectualidade brasileira e 
dos historiadores – daí as constantes reavaliações, as variações dos focos 
de preocupação, por exemplo, o reestudo do significado do tenentismo; 
daí a preocupação com a história mais recente na sua dimensão política 
(NOVAIS, 2005, p. 299-300).
Também a esse contexto se relaciona o debate que orientou diversos estudos de cunho marxista 
sobre a revolução burguesa no Brasil. É o caso de Estado e Planejamento Econômico (1975), de Otávio 
Ianni, e A Revolução Burguesa no Brasil (1975), de Florestan Fernandes.
De acordo com Maria de Lourdes Janotti, para os historiadores das décadas de 1960 e 1970, 
importava compreender “os limites da proposta ideológica da revolução burguesa e dos insucessos dos 
movimentos revolucionários do operariado”: 
Nos anos 1960, descobriu-se um novo campo para a pesquisa histórica – 
o período republicano – a partir do trabalho de brasilianistas. O interesse 
crescente dos círculos acadêmicos dos Estados Unidos tinha relação com 
o aumento da importância da América Latina para o conjunto da política 
exterior americana naquela época. O modelo de Cuba ameaçava transformar 
em barril de pólvora o continente americano ao sul do Rio Grande, colocando 
em risco os interesses dos Estados Unidos nesse território (GUIMARÃES, 
2011, p. 54-5).
Nessa época, a politização do tema da cultura popular se intensificou e se ampliou muito, reforçando 
o entendimento da cultura como objeto de ação política. Vale lembrar que as discussões sobre a cultura 
brasileira estiveram sempre relacionadas às preocupações com os destinos do País e sua vinculação com 
as influências culturais estrangeiras, uma forma de se tomar consciência de nossa condição e nosso 
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destino. Nesse campo de discussões, insere-se o debate sobre o nacional e o popular que assumiram 
contornos diferentes de acordo com o contexto em que se vivia. Nos anos 1960, esse debate assumia 
coloração revolucionária para os grupos de esquerda. 
Depois disso, o debate sobre o nacional na cultura popular vai ceder lugar para o tema da cultura 
de massas. Questões relativas à indústria cultural e ao imperialismo nessa área foram colocadas 
na centralidade das discussões. De lá para cá, esse debate incluiu a cultura na problemática 
trazida pela globalização.
8 A HISTORIOGRAFIA RECENTE
Em história, não pode haver nunca a obra definitiva; tudo a que podemos 
aspirar são explicações mais ou menos felizes.
Fernando Novais
Acompanhamos neste livro-texto a formação da historiografia brasileira desde seus primeiros tempos 
e chegamos agora à situação mais recente. Ao longo de mais de um século, a produção historiográfica 
no Brasil amadureceu e se encorpou. Contou para isso com o entusiasmo de muitos historiadores 
que abriram trilhas por onde outros seguiram. Pioneiros inauguraram metodologias e procedimentos, 
reuniram documentação e informações que servem de base, ainda, para muitos trabalhos. A formação 
específica veio a seguir, e chegamos ao século XXI com uma produção intensa e variada proveniente, 
especialmente, das diversas universidades existentes por todo o País. 
Após uma discussão inicial sobre questões recentes que têm influenciado a produção 
historiográfica atual, apresentaremos um breve panorama das possibilidades que se abrem para o 
historiador em nossos dias.
8.1 As principais influências e questões a enfrentar
Os historiadores dos tempos mais recentes tiveram de se defrontar com questões externas e 
internas que repercutiram em sua produção. É digno de destaque, com certeza, o intenso processo de 
profissionalização na área como resultado da multiplicação dos cursos de pós-graduação e dos esforços 
de muitos pesquisadores. Com isso, no cenário atual, assistimos ao predomínio de uma produção 
acadêmica majoritária oriunda

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