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29 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 1/ 20 16 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL Unidade II Nesta Unidade, apresentaremos as principais características dos ciclos de produção brasileira no período da economia colonial, compreendendo o período 1500‑1800, passando pela economia escravista, pelo ciclo do açúcar, pelo complexo canavieiro, além da pecuária e do ciclo da mineração. A unidade aborda o ciclo aurífero e os movimentos bandeirantes. As características das atividades econômicas do período 1775‑1850 também estão presentes, bem como a inserção da economia brasileira nos fluxos internacionais de comércio com a economia do café. 3 CICLOS DE PRODUÇÃO NA POLÍTICA DA PLANTATION Na colonização brasileira pela metrópole portuguesa prevaleceu a política da plantation, entendida como um sistema de exploração colonial com a presença de grandes latifúndios, da monocultura, do trabalho escravo e da produção de bens que seriam exportados para a metrópole. Como a monocultura do latifúndio requer produção em larga escala, tal política no Brasil inicia‑se com a cana‑de‑açúcar e seus derivados e avança, tempos depois, para outros tipos de culturas características dos trópicos, a exemplo do algodão, do fumo e do café. Tais produtos, além de serem favorecidos por clima e solo propícios oferecidos pelo território brasileiro, apresentavam excelente aceitação no mercado externo, em que a produção nacional abastecia o consumo da metrópole. Com um mercado cativo, a rede de comércio oferecia boas oportunidades lucrativas para os empresários que se dedicavam a tais atividades. Outro fator que favorecia os lucros no setor era o tipo de mão de obra utilizada, majoritariamente escrava, tanto indígena quanto negra africana, esta última com maior representatividade. Parte da produção deveria atender à demanda interna, ainda bastante incipiente. A produção oferecida pela política da plantation proporcionava à colônia brasileira o comércio com a Europa, no qual se exportavam aqueles produtos que a região tropical permitia produzir e, em troca, recebiam‑se tecidos, armas e demais produtos que seriam utilizados para pagamento do tráfico de escravos negros africanos, reforçando a mão de obra em território nacional. Tal sistema criava uma estrutura social em que a figura do proprietário do latifúndio se destacava, pois para ele ficava a incumbência de controlar a vida das pessoas que estavam ao seu redor. Falamos aqui da relação entre a casa grande, em que estava instalado o senhor, e a senzala, com seus escravos. Saiba mais Sobre o assunto, convidamos à leitura do livro: FREYRE, G. Casa grande e senzala. São Paulo: Global, 2006. 30 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 1/ 20 16 Unidade II Assim, a plantation se apresenta como uma forma de organização econômica nos primeiros tempos de colonização portuguesa. Sua implantação fez do Brasil um território de geração de riqueza para a metrópole, condição esta que desfavorecia o desenvolvimento de um mercado interno. Porém, através do que se convenciona chamar de brecha camponesa, uma parcela do que era produzido pelos escravos pertencia ao latifúndio, e isso possibilitava condições para um pequeno comércio, que garantia algum vínculo com a terra. Daí que o incentivo a avançar para demais tipos de cultivo, tanto para abastecimento da metrópole quanto para tentativa de desenvolvimento de mercado interno, será importante. 3.1 Ciclos de produção Produto que era objeto de exploração por portugueses em terras brasileiras, o pau‑brasil representou a primeira forma de geração de riqueza para a metrópole. Lembrete Desde o período pré‑colonial, em que franceses já haviam explorado tal produto, era crescente o interesse da Coroa portuguesa na produção nacional. A madeira explorada em território brasileiro tinha como destino a exportação para comércio na Europa. A região litorânea servia de apoio para o armazenamento e a exportação da madeira. A atividade era considerada relativamente fácil, pois a área de extrativismo localizava‑se em florestas próximas às áreas litorâneas e contava com a mão de obra indígena que, em troca de algumas mercadorias, ajudava na exploração e no transporte. A madeira era bastante conhecida por sua coloração, que oferecia condições para tingir tecidos, e já era comercializada por árabes desde o século IX, que a chamavam de pau de tinta. No entanto, somente com a chegada dos portugueses sua exploração e seu uso ocorreriam com maior concentração. A partir de 1502, a extração do produto passou a ser arrendada a negociantes de Lisboa que detinham o direito de explorar a madeira, enquanto a Coroa portuguesa passava a receber recursos monetários pelos direitos de exploração cedido a esses negociantes portugueses. Devido à facilidade de transporte e de armazenamento, a exploração madeireira avançava por todos os anos 1500 desde a Mata Atlântica; em Cabo Frio, na região do Rio de Janeiro; até Pernambuco e Baía de Todos os Santos. Esse ciclo se encerrou por volta dos 1660, quando os lucros já não eram tão convincentes como em períodos anteriores. Após a exploração do pau‑brasil, outra cultura que mostrou importância foi a da cana‑de‑açúcar, alicerce econômico da colonização portuguesa no Brasil no período entre os séculos XVI e XVII. Conforme destaca o documento Análise da Expansão do Complexo Agroindustrial Canavieiro no Brasil: 31 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 1/ 20 16 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL A cana‑de‑açúcar é uma gramínea originária da Índia, trazida para o ocidente pelos portugueses que, em primeiro lugar, a aclimataram no arquipélago português dos Açores, na costa africana. Também nos Açores, os portugueses desenvolveram a tecnologia de extração do caldo e produção de açúcar em engenhos. Somente em 1533 se dá o início do seu plantio na chamada “Costa do Pau‑Brasil”, na Capitania de São Vicente, mais precisamente no Engenho do Senhor Governador. Posteriormente a cana é levada para outras regiões do país, ocupando os vales férteis do Rio de Janeiro e do Nordeste, especialmente o Recôncavo Baiano e posteriormente os famosos solos de massapé da Zona da Mata Nordestina, especialmente de Pernambuco (FONSECA; KRUGLIANSKAS, 2008, p. 2). A partir de 1530, em razão da queda do comércio dos produtos das Índias e atendendo à necessidade de defender sua colônia americana, o governo luso decidiu efetivar a colonização do Brasil. A base econômica do empreendimento seria a produção de gêneros tropicais, visando à demanda externa. O produto escolhido foi o açúcar, que era de grande aceitação na Europa e que os portugueses já vinham produzindo nas ilhas do Atlântico (Açores, Madeira e Cabo Verde). Alguns aspectos devem ser considerados quanto ao cultivo da cana de açúcar: • Clima quente e úmido da costa. • Mão de obra abundante. • Qualidade do solo. Do ponto de vista econômico, a produção de açúcar só era proveitosa se efetuada em larga escala. A necessidade de abrir cada vez mais campos para o cultivo de cana‑de‑açúcar gerava custos crescentes, além da necessidade de ampliação da mão de obra. Observação No Brasil, as condições climáticas e o tipo de solo favoreceram a lavoura canavieira. De grande importância foi a participação flamenga no financiamento, transporte, refino e principalmente na comercialização do açúcar. O cultivo da cana‑de‑açúcar será favorecido pelo clima quente e úmido de toda a costa litorânea, bem como pelas propriedades do solo e pelo uso de mão de obra abundante, notadamente a escrava. Lembrete A introdução da cultura da cana‑de‑açúcar em território brasileirotinha como objetivo a produção do açúcar, que se apresentava como 32 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 1/ 20 16 Unidade II um produto em franca expansão de consumo europeu, além de ser uma forma de ocupar o território brasileiro por intermédio de uma atividade extremamente rentável. Até o século XVII, o Brasil será considerado como um dos maiores produtores mundiais de açúcar, notadamente nas regiões do Nordeste, compreendendo o espaço que vai do Recôncavo Baiano ao Rio Grande do Norte, estando predominantemente na Bahia e em Pernambuco, e com menor escala no Rio de Janeiro e Espírito Santo (PRADO JR., 2006). A ilustração que se segue apresenta a distribuição dos engenhos de açúcar no Brasil. As áreas destacadas em verde apresentam o cultivo de cana‑de‑açúcar. Figura 5 – Distribuição dos engenhos de açúcar no Brasil Contando com latifúndio, monocultura e trabalho escravo, a economia açucareira se estrutura na cultura da plantation, em que o engenho surge como grande empreendimento e necessita de vasta extensão territorial para avançar. Nesse aspecto, vale ressaltar que as terras eram concedidas aos que tinham algum tipo de relação com a Coroa portuguesa, principal interessada no bom desenvolvimento do setor. Sobre o assunto, Furtado (2000, p. 22) destaca que: [...] a terra que o donatário recebia para transferir aos que a requeressem era concedida em sesmarias que correspondiam à área de 10 e 30 hectares cada uma, e estendiam‑se do litoral para o interior, em uma faixa de 30 a 60 quilômetros, do Rio Grande do Norte a São Vicente (SP), onde a colônia acabava, ao sul. 33 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 1/ 20 16 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL A ilustração a seguir mostra um engenho da capitania de Pernambuco no século XVII, em que se destacam a moenda, a casa‑grande e a capela. Figura 6 – Engenho no século XVII Lembrete O engenho, unidade de produção do mundo açucareiro, constituiu a peça principal do mecanismo de plantation que Portugal desenvolveu na colonização brasileira. Reforçando suas características de um Estado centralizador e burocrata, a metrópole portuguesa procurava criar regras de controle da atividade açucareira para a manutenção de seu fluxo de renda. Como consequência, boa parte da receita do governo era advinda dos impostos incidentes sobre as atividades relacionadas ao açúcar. Além do açúcar, da cana também se extraía a aguardente, tanto para atendimento ao consumo interno quanto para exportação, frequentemente para Angola, onde se constituía um fluxo de pagamento pelo tráfico de escravos negros africanos. Como um subproduto da cana, a aguardente era produzida em engenhos que inicialmente contavam com máquinas de fabricar açúcar e que depois, devido à expansão produtiva, transformaram‑se num complexo agroindustrial em que se encontravam moendas, caldeiras, casa de purgar, bem como demais instalações complementares, como a casa‑grande, onde habitava o senhor do engenho, a senzala dos escravos, a engenhoca, o curral, a estrebaria e as oficinas (FURTADO, 2000). Para o bom desenvolvimento do engenho, era necessário dispor de: • Grandes canaviais, capazes de abastecê‑lo nas quantidades necessárias e na época prevista. • Florestas próprias e próximas, de onde pudesse ser extraída a lenha para alimentar o fogo das caldeiras. 34 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 1/ 20 16 Unidade II • Recursos primários suficientes para assegurar o funcionamento das unidades produtivas. • Rebanho de gado que satisfizesse as necessidades de transporte, bem como o funcionamento das moendas. No que diz respeito à mão de obra utilizada na cultura, devido à dificuldade do colonizador português em adaptar‑se aos meios físicos, cada vez mais, a mentalidade escravista era ensejada. O indígena possibilitou o início da cultura de cana‑de‑açúcar e do funcionamento dos primeiros engenhos. Com a chegada de Tomé de Sousa, em 1549, há reforço de pessoal com os primeiros contingentes de escravos africanos de origem ocidental principalmente das regiões que, após o Tratado de Tordesilhas, passam a pertencer a Portugal. Por meio da ilustração seguinte, pode‑se verificar a importância da escravidão para a atividade, em que a área amarela representa a participação da mão de obra dos proprietários rurais, e a área azul, mão de obra escrava. Figura 7 – Sociedade colonial açucareira: século XVII Furtado (2000, p. 26) destaca a ascensão do ciclo do açúcar: A implantação da agroindústria do açúcar estava intimamente ligada às instalações das donatarias (1534); pode‑se admitir que ambas se sobrepunham, uma vez que, nas capitanias onde houve efetivamente um sentido colonizador, ocorreu, pelo menos, a tentativa de implantação da agroindústria do açúcar. [...]. Os holandeses recolhiam o açúcar semiacabado, que era desembarcado em caixotes em Lisboa, e, depois de o refinarem, faziam a distribuição por toda a Europa. [...]. O lucro da comercialização foi, inicialmente, canalizado para a Antuérpia, depois para Amsterdã e, na segunda metade do século XVII, para Londres. A ascensão do ciclo caminha pelo período 1530‑1670, tendo seu apogeu no período 1646‑54 influenciada pela experiência holandesa, tanto no cultivo da cana quanto na fabricação do açúcar. A elevação contínua do preço do açúcar no mercado mundial, acrescida dos incentivos oferecidos pelos ingleses e franceses, e a crescente hostilidade luso‑brasileira, foram fatores determinantes no deslocamento dos holandeses para as Antilhas. Entretanto, a elevação da produção acarretou excesso 35 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 1/ 20 16 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL de oferta e, por consequência, queda de preços e lucros do setor, diminuindo o interesse em sua continuidade. A produção nas Antilhas era mantida para abastecimento da Europa, enquanto o Brasil apresentava trajetória de queda, tanto na produção quanto no preço de venda. Em seu declínio, não houve transferência de renda para outras atividades econômicas, e os proprietários dos engenhos apresentavam‑se indiferentes a qualquer possibilidade de novos investimentos em inovação. A pecuária também teria destaque nos ciclos de produção brasileiros à época da colonização. Serviu de atividade subsidiária à grande lavoura de exportação e à mineração. Vinculada à economia de subsistência, acabava por fornecer carne e couro para consumo das grandes propriedades, iniciando um primeiro passo na comercialização interna da colônia. Para tanto, o povoamento de novas terras ao interior do território fazia‑se necessário, surgindo, a partir daí, o proprietário da fazenda do gado. Nessas novas grandes propriedades já era possível perceber a existência de trabalho livre e assalariado. Pode‑se considerar que a cultura da pecuária acontece no Brasil praticamente no período em que se exploram minas de ouro. As primeiras fazendas surgem por volta do início do século XVIII, avançando com a oferta de carne, principalmente pela cultura do charque, mais conhecido como carne‑seca, presente nas colônias da região sudeste do território. A pecuária era importante para o fornecimento de alimento e ainda servia de força motriz e meio de transporte em complementaridade às atividades açucareiras. Observação A introdução do gado no Brasil, desde o século XVI, apresentava dois objetivos: primeiro, sua utilização como força motriz, como animal de tração e transporte; secundariamente, destinava‑se à alimentação, por meio da produção das carnes em conserva. Podem‑se destacaras principais regiões pecuaristas no Brasil: • Sertão do Nordeste e Vale do São Francisco: nessas regiões prevalecia a mão de obra livre na pecuária extensiva, representada basicamente pelos vaqueiros e seus auxiliares que avançaram para o Maranhão e para o Piauí. • Minas Gerais: aqui, já se encontram pastos cuidados em que a pecuária conta com técnicas mais aprimoradas, oferecendo condições para a diversificação além do gado, porém com o uso de mão de obra ainda escrava. • Campos Gerais: cultivo da pecuária avançando para o interior de São Paulo e Paraná onde se encontram os tropeiros e sua mão de obra livre. • Rio Grande do Sul: predomina a indústria do charque. 36 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 1/ 20 16 Unidade II O mapa a seguir apresenta a expansão territorial provocada pela pecuária no século XVIII: Figura 8 – Expansão da pecuária no Brasil Prado Jr. (2006, p. 45‑46), destaca características da pecuária: Em meados do séc. XVIII o sertão do Nordeste alcança o apogeu do seu desenvolvimento. O gado nele produzido abastece, sem concorrência, todos os centros populosos do litoral, desde o Maranhão até a Bahia. O gado é conduzido através destas grandes distâncias em manadas de centenas de animais. Cruzando regiões inóspitas, onde até a água é escassa e não raro inexistente (contentando‑se então os homens e os animais com as reservas líquidas de certas plantas hidrófilas), o gado chega naturalmente estropiado a seu destino. A carne que produz, além de pouca, é de má qualidade. Assim, somente a falta de outras fontes de abastecimento alimentar explica a utilização para isto de tão afastadas e desfavoráveis regiões. Em fins do século elas ainda sofrerão golpes mais severos. As secas prolongadas, que sempre foram aí periódicas, se multiplicam e estendem ainda mais, dizimando consideravelmente os rebanhos que se tornarão de todo incapazes de satisfazerem às necessidades de seus mercados consumidores. Serão substituídos pela carne‑seca importada do sul da colônia. 37 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 1/ 20 16 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL Observação Além dos ciclos de produção que estão aqui destacados, há o ciclo das drogas do sertão, da borracha, do algodão, do fumo e da erva‑mate. 4 DO CICLO AURÍFERO À ECONOMIA DO CAFÉ De importância destacada, dentre todos os ciclos de produção no Brasil, está a mineração, ou seja, o ciclo do ouro, que ocorre após o declínio da produção açucareira no Brasil. Inicia‑se a partir das atividades dos bandeirantes, que encontram minas nas regiões de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso lá pelos idos de 1696. O processo de extração do ouro das minas onde é encontrado requer mão de obra especializada, bem como o uso de equipamentos específicos. Observação Quanto ao destaque para a mão de obra especializada, entende‑se aquela negra africana escrava. Quanto às bandeiras, uma delas foi a de Antônio Rodrigues Arzão que em 1693 parte do Vale do Paraíba dirigindo‑se à Serra da Mantiqueira na tentativa de alcançar a região dos cataguases, principal centro de mineração da colônia. No que diz respeito à descoberta de minas, Furtado (2000, p. 55) destaca que: Embora haja divergência de datas, certamente as primeiras grandes jazidas foram descobertas pelos bandeirantes no fim do século XVII, destacando‑se as do arraial de Nossa Senhora do Carmo (1696), hoje Mariana, e a de Vila Rica (1698), depois Imperial Cidade de Ouro Preto. [...] A principal fonte de extração da região é a mina de Morro Velho, em Nova Lima, antiga Congonhas de Sabará, onde os bandeirantes Manoel Borba Gato e seu sogro Fernão Dias Pais exploravam ouro de aluvião, em 1674. Saiba mais Sobre as bandeiras, leia: SOUSA. M. B. O objetivo econômico da bandeira e sua natureza jurídica. Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 50, 1955. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/ viewFile/66232/68842>. Acesso em: 6 out. 2015. 38 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 1/ 20 16 Unidade II De forma contrária à agricultura, as atividades de mineração estiveram, desde seu início, submetidas a um regime especial e disciplinador em que se estabelecia a livre exploração sob vigilância fiscalizadora da Coroa e que a esta caberia um tributo: o quinto, entendido como a quinta parte de todo o ouro extraído. Prado Jr. (2006, p. 38) esclarece: Em resumo, o sistema estabelecido era o seguinte: para dirigir a mineração, fiscalizá‑la e cobrar tributo (o quinto, como ficou denominado), criava‑se uma administração especial, a Intendência de Minas, sob a direção de um superintendente; em cada capitania em que se descobrisse ouro, seria organizada uma destas intendências que independia inteiramente de governadores e quaisquer outras autoridades da colônia, e se subordinava única e diretamente ao governo metropolitano de Lisboa. A figura a seguir demonstra as principais áreas de mineração brasileira. Figura 9 – Áreas de mineração Diante dos anúncios de novas descobertas de ouro, foi possível observar grande fluxo migratório para as regiões mineradoras, fato que preocupou a Coroa sobre possível despovoamento de Portugal. A mineração oferecia possibilidade de realização econômica autônoma e imediata, que na época se apresentava muito atraente. O grande afluxo populacional para a região de mineração intensiva nas mantiqueiras causa consequências negativas para a economia nordestina, que já passava por dificuldade, em função do declínio do açúcar. Como forma de controle da atividade por parte do governo, uma série de impostos, bem como regras de exploração, foram criadas para garantir um montante de renda que fosse adequado para Portugal. Assim, o ouro transforma‑se em monopólio real, e a exploração somente pode ser efetuada por intermédio de arrendamento de lotes, dos quais poucos indivíduos tinham prioridade para escolher 39 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 1/ 20 16 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL a porção da área encontrada, tendo seu tamanho variado em função do número de escravos que o candidato ao espaço detinha. Uma das medidas adotadas foi a da proibição da circulação de ouro em pó. Devia‑se convertê‑lo em barras, que somente poderiam circular após receber, da Casa de Fundição, o selo da Coroa portuguesa para que fosse garantida a taxação. Um dos maiores problemas enfrentados pela fiscalização estava na extração clandestina que mantinha o contrabando. Para dirigir a exploração, bem como para fiscalizar e cobrar tributos, o governo estabeleceu a Intendência de Minas, compreendendo todas as capitanias em que houvesse mineração. Dentre as medidas do governo, destacam‑se, conforme Furtado (2000): • Recolhimento do quinto nas minas, por provedores nomeados. • Proibição da exportação de ouro. • Criação regular de casas de fundição, com o fim específico de fundir o ouro em pó ou em pepitas. • Controle das vias de acesso à região mineradora para fiscalização do pagamento dos quintos. Com efeito, nas áreas mineradoras criou‑se animosidade entre os cidadãos e o Estado, pois os produtores tentavam fugir aos impostos, enquanto a metrópole criava novos instrumentos de controle. No auge do ciclo, chegou a ser estipulada quantidade mínima de arrecadação tributária; quando não atingida, o governo se apropriaria do ouro existente como forma de compensação. Mesmo quando o ouro existente não fosse correspondente à tributação devida, o governo poderia instituir uma cobrança especial sobre a sociedade,a chamada derrama. Sobre o assunto, vejamos o que destaca Prado Jr. (2006, p. 39): Quando o quinto arrecadado não chegava a estas 100 arrobas, procedia‑se ao derrame, isto é, obrigava‑se a população a completar a soma. Os processos para consegui‑lo não tinham regulamento especial. Cada pessoa, minerador ou não, devia contribuir com alguma coisa, calculando‑se mais ou menos ao acaso suas possibilidades. Criavam‑se impostos especiais sobre o comércio, casas de negócio, escravos, trânsito pelas estradas, etc. Qualquer processo era lícito, contanto que se completassem as 100 arrobas do tributo. Pode‑se imaginar o que significava isto de violências e abusos. Cada vez que se decretava um derrame, a capitania atingida entrava em polvorosa. A força armada se mobilizava, a população vivia sob o terror; casas particulares eram violadas a qualquer hora do dia ou da noite, as prisões se multiplicavam. Isto durava não raro muitos meses, durante os quais desaparecia toda e qualquer garantia pessoal. Todo mundo estava sujeito a perder de uma hora para outra seus bens, sua liberdade, quando 40 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 1/ 20 16 Unidade II não sua vida. Aliás, os derrames tomavam caráter de violência tão grande e subversão tão grave da ordem, que somente nos dias áureos da mineração se lançou mão deles. Quando começa a decadência, eles se tornam cada vez mais espaçados, embora nunca mais depois de 1762 o quinto atingisse as 100 arrobas fixadas. Quanto aos seus efeitos sobre a economia colonial, o ciclo do ouro: • Favoreceu o povoamento do interior do território. • Deslocou o eixo colonial para o centro‑sul, inclusive da capital. • Ativou demais atividades complementares. • Favoreceu o surgimento do trabalho livre assalariado em substituição ao trabalho escravo. Com o advento dos anos 1760 as jazidas apresentaram esgotamento, e, por consequência, a garimpagem tornou‑se menos atraente. Daí, a economia de mineração ingressou na trajetória de declínio. Mesmo com o esgotamento, havia possibilidade de elencar, de acordo com Furtado (2000, p. 66), mais efeitos positivos da economia aurífera: • A entrada de imigrantes na região Sudeste e, em menor escala, na região Centro‑Oeste, apesar de o baixo nível cultural do imigrante não favorecer atividades econômicas mais estáveis, promoveu a ocupação de territórios até então despovoados, notadamente no interior da colônia, e houve maior divisão do trabalho. • A formação dos primeiros povoados no interior que, embora muito isolados por falta de comunicações, constituíam embriões de centros urbanos no século imediato. • A intensificação do comércio interno, principalmente da economia pecuária, alargou as fronteiras econômicas e possibilitou a integração de novas áreas à economia da colônia, além de propiciar maior mercado para produtos regionais. • O deslocamento da sede do governo colonial para o Rio de Janeiro ofereceu condições para que a cidade ganhasse maiores dimensões como centro comercial urbano e permitiu que os problemas nacionais se sobrepusessem aos regionais. • Uma certa acumulação de bens de capital favoreceu mais tarde a expansão das culturas de café no vale do Paraíba. 41 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 1/ 20 16 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL • A instalação de pequenas forjas e de incipientes manufaturas têxteis, em nível artesanal, irradiou‑se da região das minas para toda a colônia, juntamente com a cultura de plantas fibrosas, notadamente algodão. • A formação de um certo espírito empresarial nativo. • A integração de parte da população escrava, até então totalmente marginalizada, no mercado interno. De igual importância à economia do ouro, outro tipo de cultura fez‑se relevante à época da formação econômica do Brasil, qual seja, a economia cafeeira, ou, se preferir, o chamado ciclo do café. O café chega ao Brasil na segunda década do século XVIII trazido por Francisco de Melo Palheta. As primeiras mudas são provenientes da Guiana Francesa. Quando as primeiras mudas chegam ao Brasil, as plantações acontecem majoritariamente nas regiões de São Paulo e Rio de Janeiro. A partir da segunda metade do século XIX, a atividade cafeeira apresenta‑se como atividade para exportação e abastecimento do mercado interno. Podem‑se destacar alguns fatores que fizeram da economia cafeeira importante para a formação econômica do território. Um deles refere‑se aos interesses da elite agricultora brasileira no novo tipo de cultivo, que favorecia a ascensão social, tanto do ponto de vista econômico quanto político. Outro motivo reside no elevado volume de investimento requerido por esse tipo de cultura, o que era permitido apenas a uma parte da oligarquia, fortalecendo, então, essa classe. Porém, a cultura cafeeira somente pôde expandir‑se devido à participação intensiva do trabalho escravo e à demanda de mercados externos pelo produto. Com isso, pôde‑se observar certa combinação de interesse político, terra, capital, trabalho e demanda, fazendo que o café fosse responsável por comandar econômica e politicamente por um longo período no Brasil. O cultivo cafeeiro oferecia condições de progresso para a economia brasileira, a exemplo de estradas de ferro, bem como novos meios de transporte e comunicação, além de introdução da mecanização em indústrias rurais, com a instalação das primeiras manufaturas. Por intermédio do financiamento da produção, do desenvolvimento comercial via exportações e do abastecimento do mercado interno, a renda do café também é destinada ao desenvolvimento de novas atividades, a exemplo das industriais e das bancárias a fim de gerar progresso e bem‑estar material. Vale destacar o que apresenta Prado Jr. (2006, p. 116) acerca da economia do café à época: É somente no correr do século XVIII que ele adquire importância nos mercados internacionais, tornando‑se então o principal alimento de luxo nos países do Ocidente. E é isto que estimulará largamente sua cultura nas colônias tropicais da América e Ásia. O Brasil entrará muito tarde para a lista dos grandes produtores; em princípios do século XIX ainda ocupa posição muito modesta. Explica‑se pelo fato de ter sido o séc. XVIII absorvido pela 42 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 1/ 20 16 Unidade II mineração; a agricultura não despertava grande interesse, e muito menos uma cultura nova que não fizera ainda sua experiência. É o renascimento da agricultura em fins daquele século que despertará as atenções para o café. Pouco de início: a cana‑de‑açúcar e o algodão ainda estavam no seu apogeu. Mesmo nas regiões do Centro‑Sul do país onde o café se difundiria mais tarde tão largamente, ele será desprezado em benefício do açúcar. A produção de café no país aumentou cerca de 20% entre os anos 1820‑40, atendendo ao aumento da demanda do produto no mercado internacional. Porém, a produção chega a triplicar no período 1825‑50, transformando vários setores da vida social, marcando um novo ciclo de produção econômica brasileira e permitindo aos Estados Unidos maior participação nas relações de troca com a produção nacional. Nessa fase de gestação da economia cafeeira brasileira, forma‑se uma nova classe empresária que desempenhará papel fundamental para o período seguinte da economia (FURTADO, 2005). A forte presença do café na região sudeste do país pode explicar a origem de um termo que ficou conhecido como uma das práticas que mais moldaram a política no Brasil: a política do café com leite, decorrente da influência de duas grandes oligarquias estaduais brasileiras representadas por São Paulo com o cafée por Minas Gerais com o leite. Devido ao aumento do número de empresários no setor cafeeiro, não tardou a ocorrer crescimento exacerbado da produção e, por consequência ao excesso de oferta, queda de consumo, tanto interno quanto externo, influenciando negativamente os preços de venda do produto. Em fevereiro de 1906, uma série de medidas de valorização do café foi tomada, consubstanciada pelo Convênio de Taubaté. Tais medidas visavam à garantia de preços mínimos do café que se encontrava estocado, bem como daquele que seria recolhido do mercado pelo governo. Tal política de valorização do café provocou algumas distorções na economia de mercado, pois os preços não mais atendiam às leis de demanda e oferta. Por seu turno, os produtores de café viam‑se acostumados a que o Estado sempre os protegesse, caso necessário, provocando, dessa forma, enriquecimento do modelo exportador, inibindo as possibilidades de melhorias noutros setores e, portanto, fazendo crescer as disparidades sociais. Aos fins da Primeira Grande Guerra, surgiu nova safra expressiva da produção cafeeira, e nova intervenção governamental fez‑se necessária. Dessa vez, o governo, agindo diretamente no mercado, comprou quase a totalidade da produção de sacas de café e efetuou estocagem via compra da mercadoria. A nova política de valorização ficou conhecida como segundo plano de valorização do café e ocorreu em 1917. Vale o que destaca Furtado (2000, p. 119‑120): As safras pequenas eram sucedidas por outras bem maiores. Assim, surgiram novamente perspectivas de produção acima do mercado consumidor em 1920‑21, o que faz baixar o preço do café em Nova Iorque, de 25,75 centavos de dólar por libra‑peso, em janeiro de 1920, para 9,5 centavos de dólar, no 43 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 1/ 20 16 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL início de 1921. O presidente Epitácio Pessoa submeteu então ao Congresso, naquele mesmo ano, um programa permanente para sustentar o preço do café no mercado mundial. Encetava o governo federal o terceiro plano de valorização do café (1921). Após essas medidas, outras foram tomadas na tentativa de proporcionar a manutenção dos lucros do setor, bem como da renda da sociedade. Porém, quanto maior era a proteção oferecida pelo governo, maiores eram os investimentos que os homens de negócios efetuavam no setor, a fim de manter suas posições, até que a crise de 1929 encerra qualquer possibilidade de manutenção da atividade no que se refere a produção, lucratividade e geração de renda. Aqui, encerra‑se o ciclo do café, e novos rumos a economia encontrará. Resumo Esta unidade apresentou os ciclos de produção da economia brasileira, bem como sua formação econômica. Foram destacadas as principais características dos ciclos de produção brasileira no período da economia colonial, compreendendo o período 1500‑1800, passando pela economia escravista, pelo ciclo do açúcar e pelo complexo canavieiro, além da pecuária e do ciclo da mineração. Vimos a importância do ciclo aurífero e os movimentos bandeirantes. As características das atividades econômicas do período 1775‑1850 também estão presentes, bem como a inserção da economia brasileira nos fluxos internacionais de comércio com a economia do café. É possível perceber que cada período representa importante momento na formação econômica do território, ora em favorecimento ao seu crescimento, ora em momento de estagnação econômica, o que é natural para uma economia nascente e sob os domínios da colonização portuguesa em que não se apresentavam condições de liberdade no que se refere a decisão empresarial. O período compreendido se insere na estratégia da plantation, em que se configura a exploração, por organização econômica e política, daquilo que é permitido pelo solo, favorecendo a produção do setor primário da economia na fundamentação e no desenvolvimento da economia agroexportadora. Quanto à evolução, a economia da plantation inicia‑se com o cultivo e exploração da cana‑de‑açúcar e seus derivados, a saber, açúcar e aguardente, depois avança para as demais culturas, a exemplo do algodão à época da Revolução Industrial, do fumo, da borracha e da pecuária. No conjunto de evolução da extração e do cultivo, maior destaque obteve o setor da mineração, com o ciclo do ouro, bem como o do café, 44 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 1/ 20 16 Unidade II fortalecendo a oligarquia e o poderio brasileiro, e, consequentemente, suas relações internacionais. Por fim, o ciclo do café encerra‑se, devido a várias circunstâncias, dentre elas a crise de superprodução e a crise internacional após 1929. Exercícios Questão 1. Leia o texto com atenção: Brasil: 500 anos de luta pela terra Neste artigo apresento uma breve leitura da luta pela terra e da resistência camponesa nesses cinco séculos de história do Brasil. A luta pela terra é uma ação desenvolvida pelos camponeses para entrar na terra e resistir contra a expropriação. A resistência do campesinato brasileiro é uma lição admirável. Em todos os períodos da história, os camponeses lutaram para entrar na terra. Lutaram contra o cativeiro, pela liberdade humana. Lutaram pela terra das mais diferentes formas, construindo organizações históricas. Desde as lutas messiânicas ao cangaço. Desde as Ligas Camponesas ao MST, a luta nunca cessou, em nenhum momento. Lutaram e estão lutando até hoje e entrarão o século XXI lutando. Desde as capitanias hereditárias até os latifúndios modernos, a estrutura fundiária vem sendo mantida pelos mais altos índices de concentração do mundo. Esse modelo insustentável sempre se impôs por meio do poder e da violência. Agora, ou fazemos a reforma agrária ou continuaremos sendo devorados pela questão agrária. Na leitura desses cinco séculos é impossível dissociar as ocupações de terras da intensificação da concentração fundiária. Esses processos sempre se desenvolveram simultaneamente construindo um dos maiores problemas políticos do Brasil: a questão agrária. Neste século, a luta pela reforma agrária passou a fazer parte dessa questão, que possui a seguinte configuração: a ocupação da terra como forma e espaço de luta e resistência camponesa; a intensificação da concentração fundiária como resultado da exploração e das desigualdades geradas pelas políticas inerentes ao sistema socioeconômico; a reforma agrária como política pública possível de solucionar o problema fundiário, mas nunca implantada. No nosso país, a reforma agrária é uma política recente, comparada ao processo de formação do latifúndio e da luta pela terra. A luta pela reforma agrária ganhou força com o advento das organizações políticas camponesas, principalmente, desde a década de cinquenta, com o crescimento das Ligas Camponesas. Todavia, a luta pela terra é uma política que nasceu com o latifúndio. Portanto, é fundamental distinguir a luta pela terra da luta pela reforma agrária. Primeiro, porque a luta pela terra sempre aconteceu, com ou sem projetos de reforma agrária. Segundo, porque a luta pela terra é feita pelos trabalhadores e na luta pela reforma agrária participam diferentes instituições. Na realidade, a diferenciação da luta pela terra da luta pela reforma agrária é fundamental, porque a primeira acontece independentemente da segunda. Todavia as duas são interativas. Durante séculos, os camponeses desenvolveram a luta pela terra sem a existência de projeto de reforma agrária. O primeiro projeto de reforma agrária do Brasil é da década de sessenta – o Estatuto da Terra, elaborado no início da ditadura militar e que nunca foi implantado. A 45 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár cio - 19 /0 1/ 20 16 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL luta pela reforma agrária é uma luta mais ampla, que envolve toda a sociedade. A luta pela terra é mais específica, desenvolvida pelos sujeitos interessados. A luta pela reforma agrária contém a luta pela terra. A luta pela terra promove a luta pela reforma agrária. Fonte: Fernandes ([s.d.]). Assinale a alternativa correta: A) A colonização brasileira teve início com a distribuição de terras a todos os colonos portugueses que tivessem interesse em trabalhar na agricultura e que comprovassem condições técnicas para isso. B) A reforma agrária é um projeto do século XIX que se inicia com a aprovação do Estatuto da Terra, instrumento legal por meio do qual tem sido possível destinar a terra a quem efetivamente trabalha nela. C) No início do processo de colonização a terra era utilizada para a monocultura açucareira e, por isso, as terras eram concedidas aos que tinham alguma relação com a Coroa portuguesa, que tinha enorme interesse no desenvolvimento do setor. D) A estrutura fundiária brasileira tem como característica um dos mais altos índices de concentração do mundo, porém isso não foi suficiente para motivar a organização de movimentos sociais para modificar essa realidade. E) A questão agrária no Brasil é um problema econômico, e não político, porque aqueles que não têm recursos para investir em terras não podem ser favorecidos em detrimento dos que possuem recursos. Resposta correta: alternativa C. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: a colonização brasileira teve como uma de suas características a distribuição da terra para aqueles que tinham boas relações com a Coroa Portuguesa, o que, evidentemente, não era o caso dos colonos mais pobres e desprovidos de relações sociais com a nobreza. B) Alternativa incorreta. Justificativa: o texto afirma claramente que o primeiro projeto de reforma agrária do Brasil, o Estatuto da Terra, foi concretizado na década de 1960, mas ele nunca chegou a ser integralmente implantado. O texto ressalta, também, que a luta pela reforma agrária é mais ampla e que envolve toda a sociedade. Já a luta pela terra é mais específica, desenvolvida pelos sujeitos 46 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 1/ 20 16 Unidade II interessados. A luta pela reforma agrária contém a luta pela terra. Portanto, não é possível afirmar que a reforma agrária seja um projeto do século XIX e que o Estatuto da Terra tenha sido aprovado naquele tempo. C) Alternativa correta. Justificativa: a afirmativa é correta porque no início do processo de colonização do Brasil as terras agricultáveis eram utilizadas para a monocultura açucareira e, dado o grande interesse da Coroa Portuguesa nos bons resultados econômicos da produção para exportação para a Europa, as terras eram concedidas aos que tinham alguma relação com a Coroa. Dessa forma, os trabalhadores, os escravos e a população de menor renda não tinha estímulo político ou econômico para se tornar proprietários de terras na colônia. D) Alternativa incorreta. Justificativa: os movimentos sociais de luta pela terra e de luta pela implantação de políticas públicas de reforma agrária são consequência da estrutura fundiária brasileira, que tem como principal característica o alto índice de concentração da propriedade. E) Alternativa incorreta. Justificativa: a questão agrária no Brasil e em várias outras partes do planeta é resultado de problemas de ordem econômica, política e social, e todos são relevantes. Aqueles que não têm recursos financeiros para serem proprietários de terras devem ser financiados pelo Estado, ao qual pagarão com o resultado de seu trabalho, ou seja, com a produção. Essa é uma entre outras várias formas de subsidiar a aquisição de terras pelas camadas mais pobres da população e, com isso, implantar uma verdadeira política pública de distribuição de terras e de rendas. Questão 2. Políticas equivocadas de protecionismo ocorridas ao longo da história explicam em parte os graves problemas de distribuição de renda que o Brasil enfrenta até hoje e que repercutem tanto nos aspectos sociais como nas práticas de alguns setores econômicos que sempre reivindicam junto ao Governo melhores condições para produção, precificação e distribuição de seus produtos. Recentemente, o Governo Federal praticou a redução de impostos para a indústria automobilística e para a indústria da chamada “linha branca”, ou seja, fogões, geladeiras, máquinas de lavar e secar, entre outros. Podemos afirmar que essa prática protecionista ocorreu, também, no período: A) Do ciclo do ouro, quando a Coroa portuguesa deixou de cobrar impostos para favorecer os garimpeiros e, com isso, garantir a expansão da atividade econômica. B) Do ciclo da cana‑de‑açúcar, porque a Coroa portuguesa doou terras sem cobrar nada em troca, de forma a favorecer aqueles que queriam trabalhar nesse setor econômico. C) Do ciclo industrial no ABCD paulista, porque o governo federal permitiu a instalação das montadoras e as isentou de toda e qualquer carga tributária por longo período de tempo. 47 Re vi sã o: M ar ci lia - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 19 /0 1/ 20 16 FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL D) Do ciclo do café, porque o governo federal comprava os estoques dos cafeicultores quando o valor da saca estava muito baixo no mercado, agindo como regulador de mercado em flagrante favorecimento de um setor econômico específico. E) Do ciclo da expansão do consumo ocorrido há poucos anos, quando milhões de brasileiros expandiram sua capacidade de consumo e foram incentivados para isso pelo governo federal, que restringiu todas as formas de cobrança de juros e de correção monetária. Resolução desta questão na plataforma.
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