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Formação Econômica e Social do Brasil - Livro-Texto Unidade II

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FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL
Unidade II
Nesta Unidade, apresentaremos as principais características dos ciclos de produção brasileira no 
período da economia colonial, compreendendo o período 1500‑1800, passando pela economia escravista, 
pelo ciclo do açúcar, pelo complexo canavieiro, além da pecuária e do ciclo da mineração. A unidade 
aborda o ciclo aurífero e os movimentos bandeirantes. As características das atividades econômicas do 
período 1775‑1850 também estão presentes, bem como a inserção da economia brasileira nos fluxos 
internacionais de comércio com a economia do café.
3 CICLOS DE PRODUÇÃO NA POLÍTICA DA PLANTATION
Na colonização brasileira pela metrópole portuguesa prevaleceu a política da plantation, entendida como 
um sistema de exploração colonial com a presença de grandes latifúndios, da monocultura, do trabalho escravo 
e da produção de bens que seriam exportados para a metrópole. Como a monocultura do latifúndio requer 
produção em larga escala, tal política no Brasil inicia‑se com a cana‑de‑açúcar e seus derivados e avança, tempos 
depois, para outros tipos de culturas características dos trópicos, a exemplo do algodão, do fumo e do café.
Tais produtos, além de serem favorecidos por clima e solo propícios oferecidos pelo território brasileiro, 
apresentavam excelente aceitação no mercado externo, em que a produção nacional abastecia o consumo 
da metrópole. Com um mercado cativo, a rede de comércio oferecia boas oportunidades lucrativas para os 
empresários que se dedicavam a tais atividades. Outro fator que favorecia os lucros no setor era o tipo de mão 
de obra utilizada, majoritariamente escrava, tanto indígena quanto negra africana, esta última com maior 
representatividade. Parte da produção deveria atender à demanda interna, ainda bastante incipiente.
A produção oferecida pela política da plantation proporcionava à colônia brasileira o comércio com 
a Europa, no qual se exportavam aqueles produtos que a região tropical permitia produzir e, em troca, 
recebiam‑se tecidos, armas e demais produtos que seriam utilizados para pagamento do tráfico de 
escravos negros africanos, reforçando a mão de obra em território nacional.
Tal sistema criava uma estrutura social em que a figura do proprietário do latifúndio se destacava, 
pois para ele ficava a incumbência de controlar a vida das pessoas que estavam ao seu redor. Falamos 
aqui da relação entre a casa grande, em que estava instalado o senhor, e a senzala, com seus escravos.
 Saiba mais
Sobre o assunto, convidamos à leitura do livro:
FREYRE, G. Casa grande e senzala. São Paulo: Global, 2006.
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Unidade II
Assim, a plantation se apresenta como uma forma de organização econômica nos primeiros tempos 
de colonização portuguesa. Sua implantação fez do Brasil um território de geração de riqueza para a 
metrópole, condição esta que desfavorecia o desenvolvimento de um mercado interno.
Porém, através do que se convenciona chamar de brecha camponesa, uma parcela do que era 
produzido pelos escravos pertencia ao latifúndio, e isso possibilitava condições para um pequeno 
comércio, que garantia algum vínculo com a terra. Daí que o incentivo a avançar para demais tipos de 
cultivo, tanto para abastecimento da metrópole quanto para tentativa de desenvolvimento de mercado 
interno, será importante.
3.1 Ciclos de produção
Produto que era objeto de exploração por portugueses em terras brasileiras, o pau‑brasil representou 
a primeira forma de geração de riqueza para a metrópole.
 Lembrete
Desde o período pré‑colonial, em que franceses já haviam 
explorado tal produto, era crescente o interesse da Coroa portuguesa 
na produção nacional.
A madeira explorada em território brasileiro tinha como destino a exportação para comércio na 
Europa. A região litorânea servia de apoio para o armazenamento e a exportação da madeira. A atividade 
era considerada relativamente fácil, pois a área de extrativismo localizava‑se em florestas próximas às 
áreas litorâneas e contava com a mão de obra indígena que, em troca de algumas mercadorias, ajudava 
na exploração e no transporte.
A madeira era bastante conhecida por sua coloração, que oferecia condições para tingir tecidos, 
e já era comercializada por árabes desde o século IX, que a chamavam de pau de tinta. No entanto, 
somente com a chegada dos portugueses sua exploração e seu uso ocorreriam com maior concentração. 
A partir de 1502, a extração do produto passou a ser arrendada a negociantes de Lisboa que detinham 
o direito de explorar a madeira, enquanto a Coroa portuguesa passava a receber recursos monetários 
pelos direitos de exploração cedido a esses negociantes portugueses.
Devido à facilidade de transporte e de armazenamento, a exploração madeireira avançava por todos 
os anos 1500 desde a Mata Atlântica; em Cabo Frio, na região do Rio de Janeiro; até Pernambuco e 
Baía de Todos os Santos. Esse ciclo se encerrou por volta dos 1660, quando os lucros já não eram tão 
convincentes como em períodos anteriores.
Após a exploração do pau‑brasil, outra cultura que mostrou importância foi a da cana‑de‑açúcar, 
alicerce econômico da colonização portuguesa no Brasil no período entre os séculos XVI e XVII. Conforme 
destaca o documento Análise da Expansão do Complexo Agroindustrial Canavieiro no Brasil:
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A cana‑de‑açúcar é uma gramínea originária da Índia, trazida para o 
ocidente pelos portugueses que, em primeiro lugar, a aclimataram no 
arquipélago português dos Açores, na costa africana. Também nos Açores, os 
portugueses desenvolveram a tecnologia de extração do caldo e produção 
de açúcar em engenhos. Somente em 1533 se dá o início do seu plantio 
na chamada “Costa do Pau‑Brasil”, na Capitania de São Vicente, mais 
precisamente no Engenho do Senhor Governador. Posteriormente a cana 
é levada para outras regiões do país, ocupando os vales férteis do Rio de 
Janeiro e do Nordeste, especialmente o Recôncavo Baiano e posteriormente 
os famosos solos de massapé da Zona da Mata Nordestina, especialmente de 
Pernambuco (FONSECA; KRUGLIANSKAS, 2008, p. 2).
A partir de 1530, em razão da queda do comércio dos produtos das Índias e atendendo à necessidade 
de defender sua colônia americana, o governo luso decidiu efetivar a colonização do Brasil. A base 
econômica do empreendimento seria a produção de gêneros tropicais, visando à demanda externa. 
O produto escolhido foi o açúcar, que era de grande aceitação na Europa e que os portugueses já 
vinham produzindo nas ilhas do Atlântico (Açores, Madeira e Cabo Verde). Alguns aspectos devem ser 
considerados quanto ao cultivo da cana de açúcar:
• Clima quente e úmido da costa.
• Mão de obra abundante.
• Qualidade do solo.
Do ponto de vista econômico, a produção de açúcar só era proveitosa se efetuada em larga escala. A 
necessidade de abrir cada vez mais campos para o cultivo de cana‑de‑açúcar gerava custos crescentes, 
além da necessidade de ampliação da mão de obra.
 Observação
No Brasil, as condições climáticas e o tipo de solo favoreceram a lavoura 
canavieira. De grande importância foi a participação flamenga no financiamento, 
transporte, refino e principalmente na comercialização do açúcar.
O cultivo da cana‑de‑açúcar será favorecido pelo clima quente e úmido de toda a costa litorânea, 
bem como pelas propriedades do solo e pelo uso de mão de obra abundante, notadamente a escrava.
 Lembrete
A introdução da cultura da cana‑de‑açúcar em território brasileirotinha como objetivo a produção do açúcar, que se apresentava como 
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um produto em franca expansão de consumo europeu, além de ser uma 
forma de ocupar o território brasileiro por intermédio de uma atividade 
extremamente rentável.
Até o século XVII, o Brasil será considerado como um dos maiores produtores mundiais de açúcar, 
notadamente nas regiões do Nordeste, compreendendo o espaço que vai do Recôncavo Baiano ao Rio 
Grande do Norte, estando predominantemente na Bahia e em Pernambuco, e com menor escala no Rio de 
Janeiro e Espírito Santo (PRADO JR., 2006). A ilustração que se segue apresenta a distribuição dos engenhos 
de açúcar no Brasil. As áreas destacadas em verde apresentam o cultivo de cana‑de‑açúcar.
Figura 5 – Distribuição dos engenhos de açúcar no Brasil
Contando com latifúndio, monocultura e trabalho escravo, a economia açucareira se estrutura na 
cultura da plantation, em que o engenho surge como grande empreendimento e necessita de vasta 
extensão territorial para avançar. Nesse aspecto, vale ressaltar que as terras eram concedidas aos que 
tinham algum tipo de relação com a Coroa portuguesa, principal interessada no bom desenvolvimento 
do setor. Sobre o assunto, Furtado (2000, p. 22) destaca que:
[...] a terra que o donatário recebia para transferir aos que a requeressem era 
concedida em sesmarias que correspondiam à área de 10 e 30 hectares cada uma, 
e estendiam‑se do litoral para o interior, em uma faixa de 30 a 60 quilômetros, 
do Rio Grande do Norte a São Vicente (SP), onde a colônia acabava, ao sul.
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A ilustração a seguir mostra um engenho da capitania de Pernambuco no século XVII, em que se 
destacam a moenda, a casa‑grande e a capela.
Figura 6 – Engenho no século XVII
 Lembrete
O engenho, unidade de produção do mundo açucareiro, constituiu a 
peça principal do mecanismo de plantation que Portugal desenvolveu na 
colonização brasileira.
Reforçando suas características de um Estado centralizador e burocrata, a metrópole portuguesa 
procurava criar regras de controle da atividade açucareira para a manutenção de seu fluxo de renda. 
Como consequência, boa parte da receita do governo era advinda dos impostos incidentes sobre as 
atividades relacionadas ao açúcar.
Além do açúcar, da cana também se extraía a aguardente, tanto para atendimento ao consumo 
interno quanto para exportação, frequentemente para Angola, onde se constituía um fluxo de pagamento 
pelo tráfico de escravos negros africanos. Como um subproduto da cana, a aguardente era produzida em 
engenhos que inicialmente contavam com máquinas de fabricar açúcar e que depois, devido à expansão 
produtiva, transformaram‑se num complexo agroindustrial em que se encontravam moendas, caldeiras, 
casa de purgar, bem como demais instalações complementares, como a casa‑grande, onde habitava o 
senhor do engenho, a senzala dos escravos, a engenhoca, o curral, a estrebaria e as oficinas (FURTADO, 
2000). Para o bom desenvolvimento do engenho, era necessário dispor de:
• Grandes canaviais, capazes de abastecê‑lo nas quantidades necessárias e na época prevista.
• Florestas próprias e próximas, de onde pudesse ser extraída a lenha para alimentar o fogo 
das caldeiras.
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• Recursos primários suficientes para assegurar o funcionamento das unidades produtivas.
• Rebanho de gado que satisfizesse as necessidades de transporte, bem como o funcionamento 
das moendas.
No que diz respeito à mão de obra utilizada na cultura, devido à dificuldade do colonizador português 
em adaptar‑se aos meios físicos, cada vez mais, a mentalidade escravista era ensejada. O indígena 
possibilitou o início da cultura de cana‑de‑açúcar e do funcionamento dos primeiros engenhos. Com a 
chegada de Tomé de Sousa, em 1549, há reforço de pessoal com os primeiros contingentes de escravos 
africanos de origem ocidental principalmente das regiões que, após o Tratado de Tordesilhas, passam 
a pertencer a Portugal. Por meio da ilustração seguinte, pode‑se verificar a importância da escravidão 
para a atividade, em que a área amarela representa a participação da mão de obra dos proprietários 
rurais, e a área azul, mão de obra escrava.
Figura 7 – Sociedade colonial açucareira: século XVII
Furtado (2000, p. 26) destaca a ascensão do ciclo do açúcar:
A implantação da agroindústria do açúcar estava intimamente ligada 
às instalações das donatarias (1534); pode‑se admitir que ambas se 
sobrepunham, uma vez que, nas capitanias onde houve efetivamente um 
sentido colonizador, ocorreu, pelo menos, a tentativa de implantação da 
agroindústria do açúcar. [...]. Os holandeses recolhiam o açúcar semiacabado, 
que era desembarcado em caixotes em Lisboa, e, depois de o refinarem, 
faziam a distribuição por toda a Europa. [...]. O lucro da comercialização 
foi, inicialmente, canalizado para a Antuérpia, depois para Amsterdã e, na 
segunda metade do século XVII, para Londres.
A ascensão do ciclo caminha pelo período 1530‑1670, tendo seu apogeu no período 1646‑54 
influenciada pela experiência holandesa, tanto no cultivo da cana quanto na fabricação do açúcar. 
A elevação contínua do preço do açúcar no mercado mundial, acrescida dos incentivos oferecidos 
pelos ingleses e franceses, e a crescente hostilidade luso‑brasileira, foram fatores determinantes no 
deslocamento dos holandeses para as Antilhas. Entretanto, a elevação da produção acarretou excesso 
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de oferta e, por consequência, queda de preços e lucros do setor, diminuindo o interesse em sua 
continuidade. A produção nas Antilhas era mantida para abastecimento da Europa, enquanto o Brasil 
apresentava trajetória de queda, tanto na produção quanto no preço de venda. Em seu declínio, não 
houve transferência de renda para outras atividades econômicas, e os proprietários dos engenhos 
apresentavam‑se indiferentes a qualquer possibilidade de novos investimentos em inovação.
A pecuária também teria destaque nos ciclos de produção brasileiros à época da colonização. 
Serviu de atividade subsidiária à grande lavoura de exportação e à mineração. Vinculada à economia 
de subsistência, acabava por fornecer carne e couro para consumo das grandes propriedades, 
iniciando um primeiro passo na comercialização interna da colônia. Para tanto, o povoamento 
de novas terras ao interior do território fazia‑se necessário, surgindo, a partir daí, o proprietário 
da fazenda do gado. Nessas novas grandes propriedades já era possível perceber a existência de 
trabalho livre e assalariado.
Pode‑se considerar que a cultura da pecuária acontece no Brasil praticamente no período em 
que se exploram minas de ouro. As primeiras fazendas surgem por volta do início do século XVIII, 
avançando com a oferta de carne, principalmente pela cultura do charque, mais conhecido como 
carne‑seca, presente nas colônias da região sudeste do território. A pecuária era importante para o 
fornecimento de alimento e ainda servia de força motriz e meio de transporte em complementaridade 
às atividades açucareiras.
 Observação
A introdução do gado no Brasil, desde o século XVI, apresentava dois 
objetivos: primeiro, sua utilização como força motriz, como animal de 
tração e transporte; secundariamente, destinava‑se à alimentação, por 
meio da produção das carnes em conserva.
Podem‑se destacaras principais regiões pecuaristas no Brasil:
• Sertão do Nordeste e Vale do São Francisco: nessas regiões prevalecia a mão de obra livre na 
pecuária extensiva, representada basicamente pelos vaqueiros e seus auxiliares que avançaram 
para o Maranhão e para o Piauí.
• Minas Gerais: aqui, já se encontram pastos cuidados em que a pecuária conta com técnicas mais 
aprimoradas, oferecendo condições para a diversificação além do gado, porém com o uso de mão 
de obra ainda escrava.
• Campos Gerais: cultivo da pecuária avançando para o interior de São Paulo e Paraná onde se 
encontram os tropeiros e sua mão de obra livre.
• Rio Grande do Sul: predomina a indústria do charque.
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O mapa a seguir apresenta a expansão territorial provocada pela pecuária no século XVIII:
Figura 8 – Expansão da pecuária no Brasil
Prado Jr. (2006, p. 45‑46), destaca características da pecuária:
Em meados do séc. XVIII o sertão do Nordeste alcança o apogeu do seu 
desenvolvimento. O gado nele produzido abastece, sem concorrência, todos 
os centros populosos do litoral, desde o Maranhão até a Bahia. O gado é 
conduzido através destas grandes distâncias em manadas de centenas de 
animais. Cruzando regiões inóspitas, onde até a água é escassa e não raro 
inexistente (contentando‑se então os homens e os animais com as reservas 
líquidas de certas plantas hidrófilas), o gado chega naturalmente estropiado 
a seu destino. A carne que produz, além de pouca, é de má qualidade. 
Assim, somente a falta de outras fontes de abastecimento alimentar explica 
a utilização para isto de tão afastadas e desfavoráveis regiões. Em fins 
do século elas ainda sofrerão golpes mais severos. As secas prolongadas, 
que sempre foram aí periódicas, se multiplicam e estendem ainda mais, 
dizimando consideravelmente os rebanhos que se tornarão de todo 
incapazes de satisfazerem às necessidades de seus mercados consumidores. 
Serão substituídos pela carne‑seca importada do sul da colônia.
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 Observação
Além dos ciclos de produção que estão aqui destacados, há o ciclo das 
drogas do sertão, da borracha, do algodão, do fumo e da erva‑mate.
4 DO CICLO AURÍFERO À ECONOMIA DO CAFÉ
De importância destacada, dentre todos os ciclos de produção no Brasil, está a mineração, ou seja, 
o ciclo do ouro, que ocorre após o declínio da produção açucareira no Brasil. Inicia‑se a partir das 
atividades dos bandeirantes, que encontram minas nas regiões de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso lá 
pelos idos de 1696. O processo de extração do ouro das minas onde é encontrado requer mão de obra 
especializada, bem como o uso de equipamentos específicos.
 Observação
Quanto ao destaque para a mão de obra especializada, entende‑se 
aquela negra africana escrava.
Quanto às bandeiras, uma delas foi a de Antônio Rodrigues Arzão que em 1693 parte do Vale do 
Paraíba dirigindo‑se à Serra da Mantiqueira na tentativa de alcançar a região dos cataguases, principal 
centro de mineração da colônia. No que diz respeito à descoberta de minas, Furtado (2000, p. 55) 
destaca que:
Embora haja divergência de datas, certamente as primeiras grandes jazidas 
foram descobertas pelos bandeirantes no fim do século XVII, destacando‑se 
as do arraial de Nossa Senhora do Carmo (1696), hoje Mariana, e a de Vila 
Rica (1698), depois Imperial Cidade de Ouro Preto. [...] A principal fonte 
de extração da região é a mina de Morro Velho, em Nova Lima, antiga 
Congonhas de Sabará, onde os bandeirantes Manoel Borba Gato e seu sogro 
Fernão Dias Pais exploravam ouro de aluvião, em 1674.
 Saiba mais
Sobre as bandeiras, leia:
SOUSA. M. B. O objetivo econômico da bandeira e sua natureza jurídica. 
Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, São Paulo, 
v. 50, 1955. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/
viewFile/66232/68842>. Acesso em: 6 out. 2015.
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De forma contrária à agricultura, as atividades de mineração estiveram, desde seu início, submetidas 
a um regime especial e disciplinador em que se estabelecia a livre exploração sob vigilância fiscalizadora 
da Coroa e que a esta caberia um tributo: o quinto, entendido como a quinta parte de todo o ouro 
extraído. Prado Jr. (2006, p. 38) esclarece:
Em resumo, o sistema estabelecido era o seguinte: para dirigir a mineração, 
fiscalizá‑la e cobrar tributo (o quinto, como ficou denominado), criava‑se 
uma administração especial, a Intendência de Minas, sob a direção de um 
superintendente; em cada capitania em que se descobrisse ouro, seria 
organizada uma destas intendências que independia inteiramente de 
governadores e quaisquer outras autoridades da colônia, e se subordinava 
única e diretamente ao governo metropolitano de Lisboa.
A figura a seguir demonstra as principais áreas de mineração brasileira.
Figura 9 – Áreas de mineração
Diante dos anúncios de novas descobertas de ouro, foi possível observar grande fluxo migratório 
para as regiões mineradoras, fato que preocupou a Coroa sobre possível despovoamento de Portugal. 
A mineração oferecia possibilidade de realização econômica autônoma e imediata, que na época se 
apresentava muito atraente. O grande afluxo populacional para a região de mineração intensiva nas 
mantiqueiras causa consequências negativas para a economia nordestina, que já passava por dificuldade, 
em função do declínio do açúcar.
Como forma de controle da atividade por parte do governo, uma série de impostos, bem como 
regras de exploração, foram criadas para garantir um montante de renda que fosse adequado para 
Portugal. Assim, o ouro transforma‑se em monopólio real, e a exploração somente pode ser efetuada 
por intermédio de arrendamento de lotes, dos quais poucos indivíduos tinham prioridade para escolher 
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a porção da área encontrada, tendo seu tamanho variado em função do número de escravos que o 
candidato ao espaço detinha.
Uma das medidas adotadas foi a da proibição da circulação de ouro em pó. Devia‑se convertê‑lo em 
barras, que somente poderiam circular após receber, da Casa de Fundição, o selo da Coroa portuguesa 
para que fosse garantida a taxação.
Um dos maiores problemas enfrentados pela fiscalização estava na extração clandestina que 
mantinha o contrabando. Para dirigir a exploração, bem como para fiscalizar e cobrar tributos, o governo 
estabeleceu a Intendência de Minas, compreendendo todas as capitanias em que houvesse mineração.
Dentre as medidas do governo, destacam‑se, conforme Furtado (2000):
• Recolhimento do quinto nas minas, por provedores nomeados.
• Proibição da exportação de ouro.
• Criação regular de casas de fundição, com o fim específico de fundir o ouro em pó ou em pepitas.
• Controle das vias de acesso à região mineradora para fiscalização do pagamento dos quintos.
Com efeito, nas áreas mineradoras criou‑se animosidade entre os cidadãos e o Estado, pois os 
produtores tentavam fugir aos impostos, enquanto a metrópole criava novos instrumentos de controle. 
No auge do ciclo, chegou a ser estipulada quantidade mínima de arrecadação tributária; quando não 
atingida, o governo se apropriaria do ouro existente como forma de compensação. Mesmo quando o 
ouro existente não fosse correspondente à tributação devida, o governo poderia instituir uma cobrança 
especial sobre a sociedade,a chamada derrama.
Sobre o assunto, vejamos o que destaca Prado Jr. (2006, p. 39):
Quando o quinto arrecadado não chegava a estas 100 arrobas, procedia‑se 
ao derrame, isto é, obrigava‑se a população a completar a soma. Os 
processos para consegui‑lo não tinham regulamento especial. Cada pessoa, 
minerador ou não, devia contribuir com alguma coisa, calculando‑se mais 
ou menos ao acaso suas possibilidades. Criavam‑se impostos especiais 
sobre o comércio, casas de negócio, escravos, trânsito pelas estradas, etc. 
Qualquer processo era lícito, contanto que se completassem as 100 arrobas 
do tributo. Pode‑se imaginar o que significava isto de violências e abusos. 
Cada vez que se decretava um derrame, a capitania atingida entrava em 
polvorosa. A força armada se mobilizava, a população vivia sob o terror; 
casas particulares eram violadas a qualquer hora do dia ou da noite, as 
prisões se multiplicavam. Isto durava não raro muitos meses, durante os 
quais desaparecia toda e qualquer garantia pessoal. Todo mundo estava 
sujeito a perder de uma hora para outra seus bens, sua liberdade, quando 
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não sua vida. Aliás, os derrames tomavam caráter de violência tão grande e 
subversão tão grave da ordem, que somente nos dias áureos da mineração 
se lançou mão deles. Quando começa a decadência, eles se tornam cada 
vez mais espaçados, embora nunca mais depois de 1762 o quinto atingisse 
as 100 arrobas fixadas.
Quanto aos seus efeitos sobre a economia colonial, o ciclo do ouro:
• Favoreceu o povoamento do interior do território.
• Deslocou o eixo colonial para o centro‑sul, inclusive da capital.
• Ativou demais atividades complementares.
• Favoreceu o surgimento do trabalho livre assalariado em substituição ao trabalho escravo.
Com o advento dos anos 1760 as jazidas apresentaram esgotamento, e, por consequência, a 
garimpagem tornou‑se menos atraente. Daí, a economia de mineração ingressou na trajetória de 
declínio. Mesmo com o esgotamento, havia possibilidade de elencar, de acordo com Furtado (2000, 
p. 66), mais efeitos positivos da economia aurífera:
• A entrada de imigrantes na região Sudeste e, em menor escala, na 
região Centro‑Oeste, apesar de o baixo nível cultural do imigrante não 
favorecer atividades econômicas mais estáveis, promoveu a ocupação 
de territórios até então despovoados, notadamente no interior da 
colônia, e houve maior divisão do trabalho.
• A formação dos primeiros povoados no interior que, embora muito 
isolados por falta de comunicações, constituíam embriões de centros 
urbanos no século imediato.
• A intensificação do comércio interno, principalmente da economia 
pecuária, alargou as fronteiras econômicas e possibilitou a integração 
de novas áreas à economia da colônia, além de propiciar maior 
mercado para produtos regionais.
• O deslocamento da sede do governo colonial para o Rio de Janeiro 
ofereceu condições para que a cidade ganhasse maiores dimensões 
como centro comercial urbano e permitiu que os problemas nacionais 
se sobrepusessem aos regionais.
• Uma certa acumulação de bens de capital favoreceu mais tarde a 
expansão das culturas de café no vale do Paraíba.
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• A instalação de pequenas forjas e de incipientes manufaturas têxteis, 
em nível artesanal, irradiou‑se da região das minas para toda a colônia, 
juntamente com a cultura de plantas fibrosas, notadamente algodão.
• A formação de um certo espírito empresarial nativo.
• A integração de parte da população escrava, até então totalmente 
marginalizada, no mercado interno.
De igual importância à economia do ouro, outro tipo de cultura fez‑se relevante à época da formação 
econômica do Brasil, qual seja, a economia cafeeira, ou, se preferir, o chamado ciclo do café.
O café chega ao Brasil na segunda década do século XVIII trazido por Francisco de Melo Palheta. 
As primeiras mudas são provenientes da Guiana Francesa. Quando as primeiras mudas chegam ao 
Brasil, as plantações acontecem majoritariamente nas regiões de São Paulo e Rio de Janeiro. A partir 
da segunda metade do século XIX, a atividade cafeeira apresenta‑se como atividade para exportação e 
abastecimento do mercado interno.
Podem‑se destacar alguns fatores que fizeram da economia cafeeira importante para a formação 
econômica do território. Um deles refere‑se aos interesses da elite agricultora brasileira no novo tipo 
de cultivo, que favorecia a ascensão social, tanto do ponto de vista econômico quanto político. Outro 
motivo reside no elevado volume de investimento requerido por esse tipo de cultura, o que era permitido 
apenas a uma parte da oligarquia, fortalecendo, então, essa classe. Porém, a cultura cafeeira somente 
pôde expandir‑se devido à participação intensiva do trabalho escravo e à demanda de mercados externos 
pelo produto.
Com isso, pôde‑se observar certa combinação de interesse político, terra, capital, trabalho e demanda, 
fazendo que o café fosse responsável por comandar econômica e politicamente por um longo período 
no Brasil.
O cultivo cafeeiro oferecia condições de progresso para a economia brasileira, a exemplo de estradas 
de ferro, bem como novos meios de transporte e comunicação, além de introdução da mecanização 
em indústrias rurais, com a instalação das primeiras manufaturas. Por intermédio do financiamento da 
produção, do desenvolvimento comercial via exportações e do abastecimento do mercado interno, a 
renda do café também é destinada ao desenvolvimento de novas atividades, a exemplo das industriais 
e das bancárias a fim de gerar progresso e bem‑estar material. Vale destacar o que apresenta Prado Jr. 
(2006, p. 116) acerca da economia do café à época:
É somente no correr do século XVIII que ele adquire importância nos 
mercados internacionais, tornando‑se então o principal alimento de luxo 
nos países do Ocidente. E é isto que estimulará largamente sua cultura nas 
colônias tropicais da América e Ásia. O Brasil entrará muito tarde para a lista 
dos grandes produtores; em princípios do século XIX ainda ocupa posição 
muito modesta. Explica‑se pelo fato de ter sido o séc. XVIII absorvido pela 
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mineração; a agricultura não despertava grande interesse, e muito menos 
uma cultura nova que não fizera ainda sua experiência. É o renascimento 
da agricultura em fins daquele século que despertará as atenções para o 
café. Pouco de início: a cana‑de‑açúcar e o algodão ainda estavam no seu 
apogeu. Mesmo nas regiões do Centro‑Sul do país onde o café se difundiria 
mais tarde tão largamente, ele será desprezado em benefício do açúcar.
A produção de café no país aumentou cerca de 20% entre os anos 1820‑40, atendendo ao aumento 
da demanda do produto no mercado internacional. Porém, a produção chega a triplicar no período 
1825‑50, transformando vários setores da vida social, marcando um novo ciclo de produção econômica 
brasileira e permitindo aos Estados Unidos maior participação nas relações de troca com a produção 
nacional. Nessa fase de gestação da economia cafeeira brasileira, forma‑se uma nova classe empresária 
que desempenhará papel fundamental para o período seguinte da economia (FURTADO, 2005).
A forte presença do café na região sudeste do país pode explicar a origem de um termo que ficou 
conhecido como uma das práticas que mais moldaram a política no Brasil: a política do café com leite, 
decorrente da influência de duas grandes oligarquias estaduais brasileiras representadas por São Paulo 
com o cafée por Minas Gerais com o leite.
Devido ao aumento do número de empresários no setor cafeeiro, não tardou a ocorrer crescimento 
exacerbado da produção e, por consequência ao excesso de oferta, queda de consumo, tanto interno 
quanto externo, influenciando negativamente os preços de venda do produto. Em fevereiro de 1906, 
uma série de medidas de valorização do café foi tomada, consubstanciada pelo Convênio de Taubaté. 
Tais medidas visavam à garantia de preços mínimos do café que se encontrava estocado, bem como 
daquele que seria recolhido do mercado pelo governo.
Tal política de valorização do café provocou algumas distorções na economia de mercado, pois 
os preços não mais atendiam às leis de demanda e oferta. Por seu turno, os produtores de café 
viam‑se acostumados a que o Estado sempre os protegesse, caso necessário, provocando, dessa forma, 
enriquecimento do modelo exportador, inibindo as possibilidades de melhorias noutros setores e, 
portanto, fazendo crescer as disparidades sociais.
Aos fins da Primeira Grande Guerra, surgiu nova safra expressiva da produção cafeeira, e nova 
intervenção governamental fez‑se necessária. Dessa vez, o governo, agindo diretamente no mercado, 
comprou quase a totalidade da produção de sacas de café e efetuou estocagem via compra da mercadoria. 
A nova política de valorização ficou conhecida como segundo plano de valorização do café e ocorreu 
em 1917.
Vale o que destaca Furtado (2000, p. 119‑120):
As safras pequenas eram sucedidas por outras bem maiores. Assim, surgiram 
novamente perspectivas de produção acima do mercado consumidor em 
1920‑21, o que faz baixar o preço do café em Nova Iorque, de 25,75 centavos 
de dólar por libra‑peso, em janeiro de 1920, para 9,5 centavos de dólar, no 
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início de 1921. O presidente Epitácio Pessoa submeteu então ao Congresso, 
naquele mesmo ano, um programa permanente para sustentar o preço do 
café no mercado mundial. Encetava o governo federal o terceiro plano de 
valorização do café (1921).
Após essas medidas, outras foram tomadas na tentativa de proporcionar a manutenção dos lucros 
do setor, bem como da renda da sociedade. Porém, quanto maior era a proteção oferecida pelo governo, 
maiores eram os investimentos que os homens de negócios efetuavam no setor, a fim de manter suas 
posições, até que a crise de 1929 encerra qualquer possibilidade de manutenção da atividade no que se 
refere a produção, lucratividade e geração de renda. Aqui, encerra‑se o ciclo do café, e novos rumos a 
economia encontrará.
 Resumo
Esta unidade apresentou os ciclos de produção da economia brasileira, 
bem como sua formação econômica. Foram destacadas as principais 
características dos ciclos de produção brasileira no período da economia 
colonial, compreendendo o período 1500‑1800, passando pela economia 
escravista, pelo ciclo do açúcar e pelo complexo canavieiro, além da pecuária e 
do ciclo da mineração. Vimos a importância do ciclo aurífero e os movimentos 
bandeirantes. As características das atividades econômicas do período 
1775‑1850 também estão presentes, bem como a inserção da economia 
brasileira nos fluxos internacionais de comércio com a economia do café.
É possível perceber que cada período representa importante 
momento na formação econômica do território, ora em favorecimento 
ao seu crescimento, ora em momento de estagnação econômica, o que é 
natural para uma economia nascente e sob os domínios da colonização 
portuguesa em que não se apresentavam condições de liberdade no que 
se refere a decisão empresarial.
O período compreendido se insere na estratégia da plantation, em que se 
configura a exploração, por organização econômica e política, daquilo que é 
permitido pelo solo, favorecendo a produção do setor primário da economia 
na fundamentação e no desenvolvimento da economia agroexportadora.
Quanto à evolução, a economia da plantation inicia‑se com o cultivo 
e exploração da cana‑de‑açúcar e seus derivados, a saber, açúcar e 
aguardente, depois avança para as demais culturas, a exemplo do algodão 
à época da Revolução Industrial, do fumo, da borracha e da pecuária.
No conjunto de evolução da extração e do cultivo, maior destaque 
obteve o setor da mineração, com o ciclo do ouro, bem como o do café, 
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fortalecendo a oligarquia e o poderio brasileiro, e, consequentemente, suas 
relações internacionais. Por fim, o ciclo do café encerra‑se, devido a várias 
circunstâncias, dentre elas a crise de superprodução e a crise internacional 
após 1929.
 Exercícios
Questão 1. Leia o texto com atenção:
Brasil: 500 anos de luta pela terra
Neste artigo apresento uma breve leitura da luta pela terra e da resistência camponesa 
nesses cinco séculos de história do Brasil. A luta pela terra é uma ação desenvolvida pelos 
camponeses para entrar na terra e resistir contra a expropriação. A resistência do campesinato 
brasileiro é uma lição admirável. Em todos os períodos da história, os camponeses lutaram 
para entrar na terra. Lutaram contra o cativeiro, pela liberdade humana. Lutaram pela terra 
das mais diferentes formas, construindo organizações históricas. Desde as lutas messiânicas 
ao cangaço. Desde as Ligas Camponesas ao MST, a luta nunca cessou, em nenhum momento. 
Lutaram e estão lutando até hoje e entrarão o século XXI lutando. Desde as capitanias 
hereditárias até os latifúndios modernos, a estrutura fundiária vem sendo mantida pelos 
mais altos índices de concentração do mundo. Esse modelo insustentável sempre se impôs 
por meio do poder e da violência. Agora, ou fazemos a reforma agrária ou continuaremos 
sendo devorados pela questão agrária. Na leitura desses cinco séculos é impossível dissociar 
as ocupações de terras da intensificação da concentração fundiária. Esses processos sempre 
se desenvolveram simultaneamente construindo um dos maiores problemas políticos do 
Brasil: a questão agrária. Neste século, a luta pela reforma agrária passou a fazer parte 
dessa questão, que possui a seguinte configuração: a ocupação da terra como forma e 
espaço de luta e resistência camponesa; a intensificação da concentração fundiária como 
resultado da exploração e das desigualdades geradas pelas políticas inerentes ao sistema 
socioeconômico; a reforma agrária como política pública possível de solucionar o problema 
fundiário, mas nunca implantada. No nosso país, a reforma agrária é uma política recente, 
comparada ao processo de formação do latifúndio e da luta pela terra. A luta pela reforma 
agrária ganhou força com o advento das organizações políticas camponesas, principalmente, 
desde a década de cinquenta, com o crescimento das Ligas Camponesas. Todavia, a luta pela 
terra é uma política que nasceu com o latifúndio. Portanto, é fundamental distinguir a luta 
pela terra da luta pela reforma agrária. Primeiro, porque a luta pela terra sempre aconteceu, 
com ou sem projetos de reforma agrária. Segundo, porque a luta pela terra é feita pelos 
trabalhadores e na luta pela reforma agrária participam diferentes instituições. Na realidade, 
a diferenciação da luta pela terra da luta pela reforma agrária é fundamental, porque a 
primeira acontece independentemente da segunda. Todavia as duas são interativas. Durante 
séculos, os camponeses desenvolveram a luta pela terra sem a existência de projeto de 
reforma agrária. O primeiro projeto de reforma agrária do Brasil é da década de sessenta – 
o Estatuto da Terra, elaborado no início da ditadura militar e que nunca foi implantado. A 
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luta pela reforma agrária é uma luta mais ampla, que envolve toda a sociedade. A luta pela 
terra é mais específica, desenvolvida pelos sujeitos interessados. A luta pela reforma agrária 
contém a luta pela terra. A luta pela terra promove a luta pela reforma agrária.
Fonte: Fernandes ([s.d.]).
Assinale a alternativa correta:
A) A colonização brasileira teve início com a distribuição de terras a todos os colonos portugueses 
que tivessem interesse em trabalhar na agricultura e que comprovassem condições técnicas 
para isso.
B) A reforma agrária é um projeto do século XIX que se inicia com a aprovação do Estatuto da 
Terra, instrumento legal por meio do qual tem sido possível destinar a terra a quem efetivamente 
trabalha nela.
C) No início do processo de colonização a terra era utilizada para a monocultura açucareira e, por 
isso, as terras eram concedidas aos que tinham alguma relação com a Coroa portuguesa, que 
tinha enorme interesse no desenvolvimento do setor.
D) A estrutura fundiária brasileira tem como característica um dos mais altos índices de concentração 
do mundo, porém isso não foi suficiente para motivar a organização de movimentos sociais para 
modificar essa realidade.
E) A questão agrária no Brasil é um problema econômico, e não político, porque aqueles que 
não têm recursos para investir em terras não podem ser favorecidos em detrimento dos 
que possuem recursos.
Resposta correta: alternativa C.
Análise das alternativas
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: a colonização brasileira teve como uma de suas características a distribuição da terra 
para aqueles que tinham boas relações com a Coroa Portuguesa, o que, evidentemente, não era o caso 
dos colonos mais pobres e desprovidos de relações sociais com a nobreza.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: o texto afirma claramente que o primeiro projeto de reforma agrária do Brasil, o 
Estatuto da Terra, foi concretizado na década de 1960, mas ele nunca chegou a ser integralmente 
implantado. O texto ressalta, também, que a luta pela reforma agrária é mais ampla e que 
envolve toda a sociedade. Já a luta pela terra é mais específica, desenvolvida pelos sujeitos 
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interessados. A luta pela reforma agrária contém a luta pela terra. Portanto, não é possível 
afirmar que a reforma agrária seja um projeto do século XIX e que o Estatuto da Terra tenha sido 
aprovado naquele tempo.
C) Alternativa correta.
Justificativa: a afirmativa é correta porque no início do processo de colonização do Brasil as terras 
agricultáveis eram utilizadas para a monocultura açucareira e, dado o grande interesse da Coroa 
Portuguesa nos bons resultados econômicos da produção para exportação para a Europa, as terras eram 
concedidas aos que tinham alguma relação com a Coroa. Dessa forma, os trabalhadores, os escravos e 
a população de menor renda não tinha estímulo político ou econômico para se tornar proprietários de 
terras na colônia.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: os movimentos sociais de luta pela terra e de luta pela implantação de políticas 
públicas de reforma agrária são consequência da estrutura fundiária brasileira, que tem como principal 
característica o alto índice de concentração da propriedade.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: a questão agrária no Brasil e em várias outras partes do planeta é resultado de 
problemas de ordem econômica, política e social, e todos são relevantes. Aqueles que não têm recursos 
financeiros para serem proprietários de terras devem ser financiados pelo Estado, ao qual pagarão com 
o resultado de seu trabalho, ou seja, com a produção. Essa é uma entre outras várias formas de subsidiar 
a aquisição de terras pelas camadas mais pobres da população e, com isso, implantar uma verdadeira 
política pública de distribuição de terras e de rendas.
Questão 2. Políticas equivocadas de protecionismo ocorridas ao longo da história explicam em 
parte os graves problemas de distribuição de renda que o Brasil enfrenta até hoje e que repercutem 
tanto nos aspectos sociais como nas práticas de alguns setores econômicos que sempre reivindicam 
junto ao Governo melhores condições para produção, precificação e distribuição de seus produtos. 
Recentemente, o Governo Federal praticou a redução de impostos para a indústria automobilística e 
para a indústria da chamada “linha branca”, ou seja, fogões, geladeiras, máquinas de lavar e secar, entre 
outros. Podemos afirmar que essa prática protecionista ocorreu, também, no período:
A) Do ciclo do ouro, quando a Coroa portuguesa deixou de cobrar impostos para favorecer os 
garimpeiros e, com isso, garantir a expansão da atividade econômica.
B) Do ciclo da cana‑de‑açúcar, porque a Coroa portuguesa doou terras sem cobrar nada em troca, 
de forma a favorecer aqueles que queriam trabalhar nesse setor econômico.
C) Do ciclo industrial no ABCD paulista, porque o governo federal permitiu a instalação das 
montadoras e as isentou de toda e qualquer carga tributária por longo período de tempo.
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D) Do ciclo do café, porque o governo federal comprava os estoques dos cafeicultores quando o 
valor da saca estava muito baixo no mercado, agindo como regulador de mercado em flagrante 
favorecimento de um setor econômico específico.
E) Do ciclo da expansão do consumo ocorrido há poucos anos, quando milhões de brasileiros 
expandiram sua capacidade de consumo e foram incentivados para isso pelo governo federal, que 
restringiu todas as formas de cobrança de juros e de correção monetária.
Resolução desta questão na plataforma.

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