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Fundamentos das Ciências Sociais 2

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Fundamentos das Ciências Sociais
Introdução: O estudo dessa disciplina pretende abordar os principais aspectos da realidade social com base nas teorias e métodos desenvolvidos pelas Ciências Sociais, conjunto de disciplinas formado pela Antropologia, pela Sociologia e pela Ciência Política.
Todos sabem da importância do conhecimento crítico da realidade que nos cerca no que tange à formação humanística dos profissionais dos diversos campos do saber.
Ao longo das dez aulas que compõem o conteúdo da disciplina, serão abordados temas relevantes da vida social, buscando-se sempre articular o referencial teórico da disciplina com o estudo de casos concretos envolvendo os diversos domínios do social - econômico, político, cultural etc.
Objetivos
Compreender os elementos básicos das Ciências Sociais que permitam a análise da realidade social, refletindo sobre as questões contemporâneas da sociedade brasileira e mundial;
Possibilitar ao aluno a compreensão e o debate dos vários processos sociais que propiciam a criação, manutenção, reprodução, crise, revolução e/ou inovação dos diversos fenômenos sociais;
Possibilitar ao aluno o desenvolvimento de uma visão crítico-analítica, através da metodologia do estudo de casos, visando a aplicabilidade desse olhar crítico-analítico em momentos mais avançados do processo acadêmico e depois na sua vida profissional;
Compreender criticamente as diferentes concepções de sociedade e visões de mundo, a partir do conhecimento da dinâmica das relações existentes entre as diversas formas de organização social e sua importância para a formação profissional.
Aula1 - Os Conceitos Socioantropológicos de Indivíduo e Sociedade
Introdução
A sociedade faz o homem ou o homem faz a sociedade?
A resposta dessa questão, bastante complexa, só é possível por meio do debate que as Ciências Sociais, ao longo de trajetória, vêm realizando.
O primeiro passo para respondê-la é compreender os conceitos de indivíduo e sociedade na perspectiva das Ciências Sociais. É o que faremos a seguir.
	
Objetivos
Estabelecer a importância da disciplina para a formação humanística, crítica e ampla sobre a realidade social.
Avaliar a contribuição da disciplina na sua capacitação para a vida profissional e acadêmica, em especial no que se refere aos exames da OAB e do Enade.
Definir as Ciências Sociais e descrever as áreas de conhecimento que a constituem.
Estabelecer as interfaces entre as Ciências Sociais e os demais campos do conhecimento.
Identificar a relação indivíduo/sociedade e sua importância para a vida social.
O objeto das Ciências Sociais: As Ciências Sociais fazem parte do grupo de saberes intitulado Ciências Humanas e apresentam métodos próprios de investigação dos fenômenos que analisam.
Você saberia dizer quais são as três áreas que formam o conjunto de saberes das Ciências Sociais?
Filosofia
Ciências Políticas
Geografia
Sociologia
Biologia
Antropologia
Marque a opção correta:
Resposta correta: Ciências políticas, Sociologia e Antropologia.
*GABARITO: O objeto de estudo das Ciências Sociais é a sociedade em suas dimensões sociológicas, antropológicas e políticas. Estudaremos cada uma dessas dimensões mais detalhadamente no decorrer desta aula.
As áreas constitutivas das Ciências Sociais
Sociologia: A Sociologia estuda o homem e o universo sociocultural, analisando as inter-relações entre os diversos fenômenos sociais.
Neste campo de conhecimento, a vida social é analisada a partir de diferentes perspectivas teóricas, notadamente as que têm como base conceitual os estudos desenvolvidos por Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx.
A partir dessas matrizes teóricas, estudam-se os fatos sociais, as ações sociais, as classes sociais, as relações sociais, as relações de trabalho, as relações econômicas, as instituições religiosas, os movimentos sociais etc.
Obs.:
Émile Durkheim: Émile Durkheim é considerado um dos pais da Sociologia moderna, tendo sido o fundador da escola francesa, que combinava a pesquisa empírica com a teoria sociológica.
Max Weber: Max Weber é considerado um dos fundadores da Sociologia e do estudo moderno, autor de "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo“.
Karl Marx: Karl Heinrich Marx foi um intelectual e revolucionário alemão, fundador da doutrina comunista moderna, que atuou como economista, filósofo, historiador, teórico político e jornalista.
Antropologia: Na Antropologia privilegiam-se os aspectos culturais do comportamento de grupos e comunidades. Questões cruciais para o entendimento da vida em grupo, como alteridade, diversidade cultural, etnocentrismo e relativismo cultural são tratadas por essa ciência, que em seus primórdios estudava povos e grupos geográfica e culturalmente distantes dos povos ocidentais. Ao longo de seu desenvolvimento, os antropólogos passaram a analisar grupos sociais relativamente próximos, buscando transformar o exótico, o distante, em familiar.
Em sua história, a Antropologia revelou estudos notáveis sobre sociedades indígenas e sociedades camponesas, também desenvolveu uma série de estudos sobre grupos sociais urbanos.
Obs.:
Alteridade: Alteridade (ou outridade) é a concepção que parte do pressuposto básico de que todo homem social interage e interdepende do outro. Assim, como muitos antropólogos e cientistas sociais afirmam a existência do "eu individual" só é permitida mediante um contato com o outro (que em uma visão expandida se torna o Outro - a própria sociedade diferente do indivíduo).
Diversidade cultural: A diversidade cultural refere-se aos diferentes costumes de uma sociedade, entre os quais podemos citar: vestimenta, culinária, manifestações religiosas, tradições, entre outros aspectos.
Etnocentrismo: Etnocentrismo é um conceito antropológico, que ocorre quando um determinado individuo ou grupo de pessoas, que têm os mesmos hábitos e caráter social, discrimina outro, julgando-se melhor, seja pela sua condição social, pelos diferentes hábitos ou manias, ou até mesmo por uma diferente forma de se vestir.
Relativismo Cultural: O relativismo cultural é um método de se observar sistemas culturais, sem os avaliar com conceitos ocidentais-modernos de moral e ética. Ele parte do pressuposto de que cada cultura se expressa de forma diferente. Dessa forma, trata-se de pregar que a atividade humana individual deve ser interpretada em contexto, nos termos de sua própria cultura.
Sociedades Indígenas e Sociedades Camponesas: Tais estudos identificaram as diferentes visões de mundo dessas sociedades, assim como seus sistemas de parentesco, formas de classificação, cosmologias, linguagens etc.
Grupos Sociais Urbanos: Esses estudos enfatizaram a diferenciação entre seus indivíduos, com base em critérios de raça, cor, etnia, gênero, orientação sexual, nacionalidade, regionalidade, afiliação religiosa, ideologia política, sistemas de crenças e valores, estilos de vida etc.
Ciência Política: Como o próprio nome já diz, esta área analisa as questões ligadas às instituições políticas. Conceitos de poder, autoridade e dominação são estudados por esta ciência. Analisam-se assim as diferenças entre povo, nação e governo, bem como o papel do Estado como instituição legitimamente reconhecida como a detentora do monopólio da dominação e do controle de determinado território.
Qual a importância do estudo socioantropológico na compreensão da realidade?
Ao contrário de outras ciências, as Ciências Sociais lidam não apenas com o que se chama de realidade, com fatos exteriores aos homens, mas igualmente com as interpretações que são feitas sobre a realidade.
Por estudar a ação dos homens em sociedade, de seus símbolos, sua linguagem, seus valores e cultura, das aspirações que os animam e das alterações que sofrem, as Ciências Sociais constituem ferramenta importante para o desenvolvimento da compreensão crítico-reflexiva da realidade.
Por essa razão, cada vez mais as Ciências Sociais são utilizadas em diversos campos da atividade humana. Campanhas publicitárias,campanhas eleitorais, elaboração de políticas públicas, até mesmo a programação de redes de rádio e televisão levam cada vez mais em conta resultados de investigações socioantropológicas, à medida que estas buscam entender as pessoas envolvidas em cada uma dessas atividades, suas crenças, valores e ideias.
Obs.:
Investigações Socioantropológicas: Com as mudanças cada vez mais rápidas e profundas dos padrões morais e culturais das sociedades contemporâneas, mais relevantes se tornam as análises que visam compreendê-las.
Deslocamentos de pessoas e grupos motivados pelo processo de globalização da economia, que intensificou os fluxos migratórios em todo o planeta, trocas culturais proporcionadas pelo estabelecimento de uma “sociedade em rede”, novos modelos de família e conjugalidade, novas configurações no campo religioso, entre outros, constituem temas de trabalhos de cientistas sociais contemporâneos.
Você saberia definir a importância desses trabalhos atuais?
R: Esses trabalhos são utilizados frequentemente como fonte de reflexão por governos, sociedade civil e indivíduos que buscam desenvolver sua capacidade de compreensão dos acontecimentos e planejamento de ações com vistas à atuação na vida social.
Qual é o seu papel como indivíduo na sociedade?
A perspectiva socioantropológica aponta para uma relação dialógica entre indivíduo e sociedade. Não existem sociedades sem indivíduos e os indivíduos só se tornam verdadeiramente humanos por meio da socialização, processo pelo qual você se torna um membro ativo da sociedade em que nasceu, isto é, comporta-se de acordo com determinados atributos preconcebidos.
O indivíduo, assim, desempenha na realidade um papel duplo em relação à cultura. Segundo Ralph Linton (“O indivíduo, a cultura e a sociedade”), em circunstâncias normais, quanto mais perfeito seu condicionamento e consequente integração na estrutura social, tanto mais efetiva sua contribuição para o funcionamento uniforme do todo e mais segura sua recompensa.
Entretanto, as sociedades existem e funcionam num mundo em perpétua mudança. Como uma simples unidade no organismo social, o indivíduo perpetua o status quo, mas também ajuda a transformá-lo quando há necessidade. Desde que nenhum ambiente se apresente completamente estacionário, nenhuma sociedade pode sobreviver sem o inventor ocasional e sem sua capacidade para encontrar soluções para novos problemas.
O papel do indivíduo na sociedade	
Como nos ensina Albert Einstein (em seu artigo “Porquê o Socialismo?”), o homem é, simultaneamente, um ser solitário e um ser social:
O conceito abstrato de “sociedade” significa para o ser humano individual o conjunto das suas relações diretas e indiretas com os seus contemporâneos e com todas as pessoas de gerações anteriores.
O indivíduo é capaz de pensar, sentir, lutar e trabalhar sozinho, mas depende tanto da sociedade – na sua existência física, intelectual e emocional – que é impossível pensar nele, ou compreendê-lo, fora da estrutura da sociedade.
É a “sociedade” que lhe fornece comida, roupa, casa, instrumentos de trabalho, língua, formas de pensamento, e a maior parte do conteúdo do pensamento; a sua vida foi tornada possível através do trabalho e da concretização dos muitos milhões passados e presentes que estão todos escondidos atrás da pequena palavra “sociedade”.
Conclusão
Fica evidente que a dependência do indivíduo em relação à sociedade é um fato da natureza que não pode ser abolido – tal como no caso das formigas e das abelhas. No entanto, enquanto todo o processo de vida das formigas e abelhas é reduzido ao menor pormenor por instintos hereditários rígidos, o padrão social e as inter-relações dos seres humanos são muito variáveis e susceptíveis de mudança.
A memória, a capacidade de fazer novas combinações, o dom da comunicação oral tornaram possíveis os desenvolvimentos entre os seres humanos que não são ditados por necessidades biológicas. Estes desenvolvimentos manifestam-se nas tradições, instituições e organizações; na literatura; nas obras científicas e de engenharia; nas obras de artes.
Insto explica a forma como, num determinado sentido, o homem pode influenciar sua vida através de sua própria conduta, e como neste processo o pensamento e a vontade consciente desempenham o seu papel.	
Aula 2- Objeto e Método das Ciências Sociais
Introdução: Em “Lição de Anatomia”, Rembrandt retrata uma aula na qual um cientista, junto ao corpo morto de um homem, ensina aos seus alunos a composição e a forma de um corpo humano. Tal atividade insere-se no campo do que se convencionou chamar de “ciências naturais”.
Entretanto, a observação do quadro pode ir além disso: visões e interpretações sobre o corpo humano e sobre a morte, o processo de transmissão de conhecimento, todos fazem parte de reflexões desenvolvidas pelas chamadas “ciências humanas e sociais”.
Nesta aula, iremos comparar os objetos e métodos desses dois campos de saberes, e demonstrar a abordagem específica das ciências sociais.
Objetivos
Comparar os objetos das ciências naturais e das ciências sociais, bem como seus métodos de investigação científica.
Demonstrar o enfoque específico utilizado pelas ciências sociais na análise da sociedade.
Investigar as possíveis interpretações e ocorrências na atualidade sobre a diferença entre o campo do saber das ciências da natureza e das ciências sociais.
A partir do que vimos na introdução da aula, reflita e responda:
O que estudam as Ciências Naturais?
R=As Ciências Naturais estudam fatos simples, eventos que presumivelmente têm causas simples e são facilmente isoláveis, recorrentes e sincrônicos. Tais fatos podem ser vistos, isolados e reproduzidos dentro de condições de controle razoáveis, num laboratório.
Assim, nas Ciências Naturais há uma distância irremediável entre o cientista e seu objeto de pesquisa, o que torna o método objetivo o mais apropriado para a investigação de fenômenos dessa ordem.
No âmbito das Ciências Sociais torna-se difícil desenvolver uma teoria capaz de transmitir com PRECISÃO uma causa única ou motivação exclusiva.
Ao contrário de outras ciências, as Ciências Sociais lidam não apenas com o que se chama de realidade, com fatos exteriores aos homens, mas igualmente com as interpretações que são feitas sobre a realidade. As Ciências Sociais estudam fenômenos complexos. Seu objeto de investigação é o homem nas relações intersubjetivas, os fenômenos sociais, ou seja, eventos com determinações complicadas e que podem ocorrer em ambientes diferenciados, fazendo com que toda análise de fenômenos dessa natureza seja parcial, subjetiva.
Bem, podemos reunir os mesmos personagens, músicas, comidas, vestes, mobiliário, animais, assim como nas cenas do filme Danton. Veja no vídeo: (vídeo- Danton-O Processo da Revolução)
No trecho, vimos a qualidade da produção do filme. Mas, mesmo o filme sendo muito bem produzido, não será possível reproduzir o clima daquele momento, a atmosfera da época. Estaremos criando outro significado.
Neste sentido:
• Atitudes semelhantes têm significados diferentes.
• Cada cultura constrói seu significado social.
• Os fatos estudados pelo cientista social podem ser pretéritos ou serem reproduzidos em situações muito distintas. Mas não podem ser reproduzidos em condições controladas.
Ciências naturais X ciências humanas e sociais	
Assista ao vídeo da música "Comida", composta e interpretada pelos Titãs.
A letra da música fala de comida como uma forma de alimento, mas também de outro tipo de comida que sacia a "fome da alma".
A partir dessa visão podemos identificar algumas diferenças entre ciências sociais e ciências naturais:
Como estudar fenômenos sociais?
Ao observar os fenômenos sociais, somos levados a enfrentar nossa própria posição, nossos valores, nossa visão de mundo que interfere na nossa pesquisa. Nossa fala, nossos gestos, nossa modo de ser e de agir revelam o tipo de socialização que tivemos e influencia em nossa visão de mundo.
“Nasce, daí, um debateinovador, numa relação dialética entre investigador e investigado.”
Dessa forma, trabalhamos com fenômenos que estão bem perto de nós, temos a interação complexa entre o investigador e o investigado, pois ambos compartilham de um mesmo universo de experiências humanas.
“Cada Sociedade humana conhecida é um espelho onde nossa própria existência se reflete.”
Podemos assimilar um costume diferente do nosso, ou até mesmo perceber o melhor de nossas tradições quando estamos em contato com outras culturas.
Neste âmbito, percebemos que podemos adotar costumes de outros povos, aprender seus credos, modificar nossas leis.
Nas Ciências Sociais temos a interação COMPLEXA entre o investigador e o investigado. Ambos compartilham de um mesmo universo de experiências humanas.
A charge, a seguir, apresenta, ironicamente, uma situação social comum nos centros urbanos. Analise-a de acordo com o método adequado à compreensão dos fenômenos sociais.
Aula 3-A Análise Antropológica da cultura
Introdução:
Fulano não tem cultura! Sicrano é muito culto! O governo não investe em cultura!
Acima temos exemplos da maneira que utilizamos a palavra cultura no nosso dia a dia, enquanto instrução, saber, estudo. Mas esta é apenas uma maneira de utilizar a palavra cultura.
Portanto, o objeto de investigação da Antropologia constitui-se nos "usos e abusos" do conceito de cultura e suas implicações na vida social. Compreender estes "usos e abusos" é o objetivo desta aula.
Objetivos:
Explicar o conceito de cultura como objeto de estudo privilegiado da análise antropológica.
Analisar a cultura como elemento condicionador da visão de mundo.
Descrever as práticas antropológicas utilizadas para categorizar comportamentos culturais.
Demonstrar a importância do princípio de relativismo cultural, em contraposição ao etnocentrismo.
Vamos iniciar nossos estudos com uma reflexão: O que é cultura pra você?
R=O conceito de cultura é uma preocupação intensa atualmente em diversas áreas do pensamento humano, no entanto, a Antropologia é a área por excelência de debate sobre esta questão.
O primeiro antropólogo a sistematizar o conceito de cultura foi Edward Tylor que, em Primitive Culture, formulou a seguinte definição: "Cultura é todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na condição de membro da sociedade".
Uma definição mais contemporânea do termo cultura foi dada por Clifford Geertz em 1989 em "A Interpretação das Culturas". Segundo ele, cultura pode ser entendida como um sistema simbólico, ou seja, seria: "um conjunto de mecanismos de controle - planos, receitas, regras, instruções - para governar o comportamento. 
“O que é cultura?”(vídeo+pesquisa)
Diversidade Cultural
Lembra que na aula 1 tratamos brevemente sobre diversidade cultural? Agora, iremos explorar um pouco mais esse conceito.
Primeiramente vamos relembrar o seu significado: desde sempre os homens se preocuparam em entender por que outros homens possuíam hábitos alimentares, formas de se vestir, de formarem famílias, de acessarem o sagrado de maneiras diferentes das suas. A essa multiplicidade de formas de vida dá-se o nome de "diversidade cultural".
Foi a partir da descoberta do “Novo Mundo”, nos séculos XV e XVI, que os europeus se depararam com modos de vida completamente distintos dos seus, e passaram a elaborar mais intensamente interpretações sobre esses povos e seus costumes.
É fundamental termos em mente que o impacto e a estranheza se deram dos dois lados. Os grupos não europeus também se espantavam com o ser diferente que chegava até eles desembarcando em suas praias e tomando posse de seu território.
Infelizmente não temos muitos relatos dos povos não europeus para conhecermos a visão que eles tinham dos brancos. Existem relatos esparsos, como o de povos que, após a morte de um europeu em combate, colocavam seu corpo dentro de um rio e esperavam sua decomposição para ver se eram pessoas como eles.
O Olhar Eurocêntrico Sobre a Cultura
De onde surge a preocupação com o tema da cultura?
Vamos posicionar nosso olhar. Toda construção científica nasce na Europa. A reflexão teórico-científica sobre a humanidade se iniciou neste ambiente e nesta perspectiva. Logo, a noção de ser humano de referência para todas as Ciências Humanas e Sociais é a do homem europeu e da sociedade europeia. No entanto, a partir dos esforços de conquista de outros continentes, os europeus “encontraram-se” com “seres” diferentes o suficiente para causarem estranhamento, mas “parecidos” o suficiente para produzirem o seguinte incômodo: serão estes seres “humanos”?
A relação com agrupamentos humanos de localidades até então desconhecidas como as que hoje denominamos África, América, Austrália, fizeram com que os europeus se questionassem sobre as características peculiares ao humano e as razões de tanta diferença entre os componentes de uma mesma espécie.
O movimento pré-científico, que domina o campo da diversidade cultural até o século XVIII, é aquele que oscilava entre conceber o “diferente” ora como humano, ora como não humano, provido ou desprovido de alma, bom ou mau selvagem, etc. Na ótica dos europeus, estes “maus selvagens” eram vistos como perigosos, mais próximos aos animais, brutos, imbuídos de uma sexualidade descontrolada, primitivos, com uma inteligência restrita, iludidos pela magia, enfim, seres limitados que precisavam ser “civilizados” pela cultura europeia.
Veja, a seguir, o trailer do filme "Hans Staden", sobre um imigrante alemão que naufragou no litoral de Santa Catarina, sendo encontrado por índios Tupinambás, que o prendem com o intuito de matá-lo e devorá-lo. Ele então precisa arranjar meios para convencer os índios a não devorá-lo e permanecer vivo:
Alteridade
Observe a charge. Em seguida responda: Você sabe o que significa o termo "alteridade"?
R=Alteridade é o resultado de um processo de diferenciação que acontece entre o "eu", interior e particular de cada um, e o "outro", diferente. Isto é, quando nos confrontamos com o estranho, o não familiar. Estranhar o "outro" é reconhecer em outro indivíduo, ou em um conjunto deles, as suas peculiaridades, diferenças e equivalências. Desta maneira o "outro" ou "outros" se tornam identificáveis, possibilitando consequentemente hierarquizar, separar, classificar, normalizar, dominá-los. Tal como na situação que vimos anteriormente, na qual pela perspectiva dos europeus ("eu"), os povos da África, das Américas e da Oceania (outros) eram vistos ora como: não humanos, providos ou desprovidos de alma. bom ou mau, selvagem, que precisavam ser "civilizados".
A alteridade não é possível sem o etnocentrismo...
Porém, a alteridade é também a condição fundamental para compreender o "outro", os outros grupos e a si mesmo. Por isso, a antropologia configura-se como a ciência da alteridade, pois busca a compreensão do "outro" em seu contexto cultural, para então elaborar teorias que possam ser úteis na compreensão não apenas daquele contexto, mas também de outros contextos culturais, inclusive o do próprio pesquisador.
Antropologia de gabinete
Entramos no século XIX. Os antropólogos estudam culturas "exóticas" buscando descrever seus hábitos, costumes e sua forma de ver o mundo (cosmovisão). No entanto, eles não iam ao campo; não eram os antropólogos que experimentavam diretamente o dia a dia dos grupos "selvagens".
Eram enviados viajantes, pessoas comuns que eram deslocadas para essas "tribos" e ali ficavam por um certo tempo, registrando tudo que viam e ouviam, a fim de entregar este material aos antropólogos que aí sim analisavam estes relatos, desenvolvendo suas teorias sobre as diferentes culturas. Esta é a denominada "antropologia de gabinete".
Etnocentrismo
Segundo Everardo Rocha, em “O que é Etnocentrismo”, trata-se da “visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossosvalores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc.”.
Podemos observar essa ideia nas ilustrações a seguir:
O autor nos alerta ainda para a questão do choque cultural. Como ele afirma, “de um lado conhecemos o "nosso" grupo, que come igual, veste igual, gosta de coisas parecidas, conhece problemas do mesmo tipo, acredita nos mesmos deuses, casa igual, mora no mesmo estilo, distribui o poder da mesma forma, empresta à vida significados em comum e procede, por muitas maneiras, semelhantemente. Aí, então, de repente, nos deparamos com um "outro", o grupo do "diferente" que, às vezes, nem sequer faz coisas como as nossas ou quando as faz é de forma tal que não reconhecemos como possíveis. E, mais grave ainda, este “outro" também sobrevive à sua maneira, gosta dela, também está no mundo e, ainda que diferente, também existe.”
Na sua opinião, o etnocentrismo é positivo ou negativo? E que benefícios a Antropologia pode trazer para esta visão?
R=Roberto da Matta, no texto “Você tem cultura?” demonstra que “antes de cogitar se “aceitamos” ou não esta outra forma de ver o mundo, a Antropologia nos convida a compreendê-la, e verificar que ao seu jeito uma outra vida é vivida, segundo outros modelos de pensamento e de costumes. O fato de que o homem vê o mundo através de sua cultura tem como consequência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural. O conceito de cultura, ou, a cultura como conceito, então, permite uma perspectiva mais consciente de nós mesmos. Precisamente diz que não há homens sem cultura e permite comparar culturas e configurações culturais como entidades iguais, deixando de estabelecer hierarquias em que inevitavelmente existiriam sociedades superiores e inferiores”.
Darcy Ribeiro (Montes Claros, 26 de outubro de 1922 — Brasília, 17 de fevereiro de 1997) foi um antropólogo, escritor e político brasileiro, conhecido por seu foco em relação aos índios e à educação no país.
Relativismo cultural
É a postura, privilegiada pela Antropologia contemporânea, de buscar compreender a lógica da vida do outro. Parte do pressuposto de que cada cultura se expressa de forma diferente. Dessa forma, trata-se de pregar que a atividade humana individual deve ser interpretada em contexto, nos termos da cultura em que está inserida.
As palavras de uma das mais notáveis antropólogas conhecidas, a americana Margaret Mead, que no prefácio de Sexo e Temperamento afirmou: "toda diferença é preciosa e precisa ser tratada com muito carinho".
E como nos diz Roberto da Matta em seu artigo "Você tem cultura?“:
“O conceito de cultura permite uma perspectiva mais consciente de nós mesmos. Precisamente diz que não há homens sem cultura e permite comparar culturas e configurações culturais como entidades iguais, deixando de estabelecer hierarquias em que inevitavelmente existiriam sociedades superiores e inferiores".
Leia a tirinha abaixo:
A partir do conhecimento adquirido nesta aula, responda se, de acordo com a história em quadrinhos protagonizada por Hagar e seu filho Hamlet, a postura de Hagar é etnocêntrica ou relativista? Justifique.
R=É uma postura etnocêntrica, pois o personagem classifica o mundo e as pessoas apenas a partir dos valores de seu grupo.
Aula 4- A Formação do Pensamento Político Moderno e as Questões Básicas da Ciência
Introdução: A Ciência Política é o estudo da política, ou seja, dos sistemas, das organizações e dos processos de governos, ou de qualquer sistema equivalente de organização humana que tente assegurar segurança, justiça e direitos civis. Nicolau Maquiavel (1469-1527) é reconhecido como precursor da Ciência Política moderna pelo fato de haver escrito sobre o Estado e as formas de manter o poder, separando os interesses estatais dos dogmas e interesses da Igreja.
Objetivos
Descrever as contribuições dos teóricos formadores do pensamento político moderno.
Descrever a concepção weberiana de dominação e poder.
Avaliar a visão marxista do papel do Estado na sociedade de classes.
A formação do pensamento político moderno: Estado de Natureza, Contrato Social e Estado Civil na filosofia de Hobbes, Locke e Rousseau
Com a derrocada do Feudalismo e a ascensão da burguesia, na Europa, surgiu o Iluminismo: um movimento intelectual que rompeu definitivamente com qualquer herança medieval, buscando compreender a sociedade e suas relações como fenômenos sujeitos a leis naturais. Essa nova visão possibilitou a construção de modelos sociais, políticos e econômicos centrados na ideia do Estado como um "contrato social", que permitiria aos homens passar de um "estado de natureza" - em que predominava a barbárie - para um "estado civil" - em que predominam as leis.
O termo contratualismo indica uma classe abrangente de teorias que tentam explicar os caminhos que levam as sociedades a formarem Estados, com o objetivo de manter a ordem social. Essa noção de contrato indica que as pessoas abrem mão de certos direitos para um governo ou uma autoridade, a fim de obter as vantagens da paz social e da ordem. Na origem do processo de reflexão sobre o modelo de organização política que emerge do feudalismo para o capitalismo, ganham destaque quatro autores que estabeleceram as bases do contratualismo:
Thomas Hobbes ( 1588-1679), com O Leviatã: Thomas Hobbes foi um filósofo inglês que, em 1951, publicou sua principal obra, denominada O Leviatã. Nesse trabalho, o autor afirma que a sociedade precisa de uma autoridade à qual todos os membros devem se render, mesmo com prejuízo de sua liberdade individual – aquela que possa assegurar a paz interna e a defesa do bem comum. Esse soberano – quer seja um monarca, quer seja uma assembleia – deveria ser o Leviatã, que possuiria uma autoridade inquestionável.
Jean – Jacques Rousseau(1712-1778), com O Contrato Social:Considerando as desigualdades sociais um fato lastimável, Jean – Jacques Rousseau tenta responder a questão que obriga um homem a obedecer a outro ou indicar com que direito um homem exerce autoridade sobre outro. Ele conclui que somente um contrato tácito e livremente aceito por qualquer indivíduo permite a cada um “ligar-se a todos enquanto retém sua vontade livre”. A liberdade está inerente à lei livremente aceita. “Seguir o impulso de alguém é escravidão, mas obedecer a uma lei auto imposta é liberdade”.
Ao considerar que todos os homens nascem livres e iguais, o contrato social encara o Estado como o resultado de um pacto, no qual os indivíduos não renunciam a seus direitos naturais, mas, ao contrário, entram em acordo para a proteção desses direitos. Cabe ao Estado o exercício dessa tarefa.
John Locke(1632-1704), com o Segundo Tratado Sobre o Governo: John Locke pode ser considerado o precursor do liberalismo político. Em suas obras, são feitas críticas à teoria do direito divino dos reis, ao princípio da afirmação com base na autoridade inata. Para Locke, a soberania não reside no Estado, e sim na população. Embora admitisse a supremacia estatal, Locke dizia que o Estado deve respeitar as leis natural e civil. Ele também defendeu a separação da Igreja e do Estado, e a liberdade religiosa, recebendo por essas ideias forte oposição da Igreja Catolica.
Montesquieu(1689-1755), com O espírito das Leis: Conhecido como Montesquieu, Charles Louis de Secondat estabeleceu uma condição para o bom funcionamento do Estado de Direito: a separação dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, e a independência entre eles. A ideia de equivalência indica que essas três funções deveriam ser dotadas de igual poder. Na teoria de Montesquieu, a separação de Poderes busca assegurar a existência de um poder que seja capaz de contrariar outro poder. 
Em outras palavras, trata-se de encontrar uma instância independente apta a moderar o poder do rei ( do Executivo). Isso é um problemapolítico – de correlação de forças-, e não um problema jurídico – administrativo – de organização de funções.
 
Os teóricos do contratualismo influenciaram as várias revoluções burguesas que transformaram o cenário político no final do século XVIII - como a Guerra de Independência dos Estados Unidos (1776) e a Revolução Francesa (1789). Esses eventos históricos criaram as bases das modernas repúblicas e do Estado de Direito, cujo documento que representa a ideia do contrato social é a Constituição.
O Iluminismo: A Base Filosófica da Criação do Estado Burguês
Com o surgimento do Iluminismo, no século XVIII, a sociedade passou a ser cada vez mais abordada como uma problemática maior para os adeptos da “filosofia das luzes”. A partir desse momento, estabeleceu-se uma importante discussão sobre a compreensão da vida em sociedade: a passagem do “estado de natureza” para o “contrato social”. De acordo com Marilena Chauí, o conceito de estado de natureza tem a função de explicar a situação pré-social na qual os indivíduos existem isoladamente.
Agora, vamos conhecer a concepção dos autores sobre o estado de natureza.
Thomas Hobbes: As principais concepções do estado de natureza foram a de Thomas Hobbes e a de Jean-Jacques Rousseau.
Na concepção de Hobbes (século XVII), os indivíduos vivem isolados e em luta permanente, vigorando a guerra de todos contra todos – “o homem lobo do homem”. Nesse estado, reina o medo e, principalmente, o grande medo: o da morte violenta. Para se protegerem uns dos outros, os humanos inventaram as armas e cercaram as terras que ocupavam. Essas duas atitudes são inúteis, pois sempre haverá alguém mais forte que vencerá o mais fraco e ocupará as terras cercadas. A vida não tem garantias. A posse não tem reconhecimento e, portanto, não existe. A única lei é a força do mais forte, que pode tudo enquanto tiver força para conquistar e conservar.
Jean-Jacques Rousseau: Já na concepção de Rousseau (século XVIII), os indivíduos vivem isolados pelas florestas, sobrevivendo com o que a natureza lhes dá, desconhecendo lutas e comunicando-se pelo gesto, pelo grito e pelo canto, numa língua generosa e benevolente. Esse estado de felicidade original, no qual os humanos existem sob a forma do bom selvagem inocente, termina quando alguém cerca um terreno e diz: “É meu”. A divisão entre o “meu” e o “teu”, isto é, a propriedade privada, dá origem ao estado de sociedade, que corresponde, agora, ao estado de natureza hobbesiano da guerra de todos contra todos.
O estado de natureza de Hobbes e o estado de sociedade de Rousseau evidenciam uma percepção do social como luta entre fracos e fortes, vigorando a lei da selva ou o poder da força.
*Lei da selva: Para cessar esse estado de vida ameaçador e ameaçado, os humanos decidiram passar à sociedade civil, isto é, ao estado civil, criando o poder político e as leis. Essa passagem ocorreu por meio de um contrato social, pelo qual os indivíduos renunciaram à liberdade natural e à posse natural de bens, riquezas e armas, e concordaram em transferir a um terceiro – o soberano – o poder para criar e aplicar as leis, tornando-se autoridade política. O contrato social fundou, portanto, a soberania.
John Locke: Outro autor importante para a formação da ideologia burguesa foi John Locke, pioneiro do pensamento político liberal. Para esse autor, o Estado existe a partir do contrato social e tem as funções que Hobbes lhe atribui, mas sua principal finalidade é garantir o direito natural da propriedade. Dessa forma, a burguesia se vê inteiramente legitimada perante a realeza e a nobreza e, mais do que isso, surge como superior a elas, uma vez que o burguês acredita que é proprietário graças a seu próprio trabalho, enquanto reis e nobres são parasitas da sociedade.
O problema, então, é garantir o direito à propriedade e impedir que algum tirano com poderes absolutos negue esse direito. A solução para esse problema seria apresentada por Charles-Louis de Secondat.
**Charles-Louis de Secondat: Mais conhecido como Montesquieu, em O espírito das leis (1748), mostra, claramente, a imbricação de funções e a interdependência entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.**
Montesquieu: A estabilidade do regime ideal implica que a correlação entre as forças reais da sociedade possa se expressar, também, nas instituições políticas. Em outras palavras, o funcionamento das instituições deveria permitir que o poder das forças sociais contrariasse e, portanto, moderasse o poder das demais. Entendida dessa forma, a teoria dos poderes de Montesquieu se torna vertiginosamente contemporânea. Ela se inscreve na linha direta das teorias democráticas – aquelas que apontam a necessidade de arranjos institucionais para impedir que alguma força política possa, a priori, prevalecer sobre as demais, reservando-se a capacidade de alterar as regras depois de completado o jogo político.
Nesse contexto, a Europa presenciou muitas e importantes mudanças no cenário político, econômico e social.
**Mudanças no cenário político, econômico e social: Como as Revoluções Francesa e Industrial, que formaram a base do Estado moderno. Por isso, o que se chama, normalmente, de Revolução Burguesa é o processo pelo qual o sistema capitalista passou a dominar a vida humana, que se estendeu pelo mundo inteiro. Embora países como Holanda e Portugal tenham vivenciado o capitalismo mercantil antes, Inglaterra e, depois, França mergulharam nessa sucessão de transformações que marcaram a mudança radical da sociedade.
Formas de Dominação Legítima em Max Weber
A dominação deve ser entendida, segundo Weber, como uma probabilidade de mando e de legitimidade deste. A crença é condição fundamental para que a relação entre aquele que manda (domina) e aquele que obedece (dominado) se realize. Portanto, não é toda e qualquer relação de poder que é legitimada, é preciso que aquele que obedece acredite voluntariamente naquele que tem poder de mando.
O poder é sempre uma probabilidade, pois depende de outro para ser exercido. Weber fornece o exemplo da relação de poder entre senhor e escravo que é carente de uma relação voluntária, não havendo, portanto, legitimidade e sim obrigação; a consequência é que na primeira oportunidade os indivíduos fogem desta relação, abandonam seus senhores.
OBS:Para Max Weber, a legitimidade é a crença social em determinado regime, que visa obter a obediência mais pela adesão do que pela coação, o que acontece sempre que os respectivos participantes representam o regime como válido. Nesse caso, a legitimidade se torna a fonte do respeito e da obediência consentida. Sua teoria trata dos tipos ideais de dominação legítimos.
Weber define os três tipos puros de dominação como:
Racional – Legal ou Burocrática: A dominação racional-legal é exercida dentro de um quadro administrativo composto de regras e leis escritas que devem ser seguidas por todos, não havendo privilégios pessoais. Ela é apoiada na crença de uma "legitimidade de ordens estatuídas e nos direitos de mando dos chamados a exercer autoridade legal". Esta é baseada em relações impessoais e os funcionários são incorporados ao quadro administrativo, através de um contrato, não por suas características pessoais, mas por sua competência técnica. Eles são livres, sendo que suas obrigações se limitam aos deveres e objetivos de seus cargos que estão dispostos dentro de uma hierarquia administrativa e suas competências são rigorosamente fixadas. Realizam seu trabalho e em troca recebem um salário fixo e regular que varia conforme a responsabilidade do cargo, que é exercido em forma exclusiva ou como principal ocupação. Há possibilidade de fazer carreira, podendo subir na hierarquia da profissão, através do tempo de serviço ou por competência, ou ambos. Importante ressaltar que os funcionários trabalham em seus cargos sem a apropriação dos mesmos. A dominação burocrática é puramente técnica, com o objetivo de atingir o mais alto grau de eficiência e nesse sentido é, formalmente, o maisracional conhecido meio de exercer a dominação sobre os seres humanos.
Dominação tradicional: A dominação tradicional repousa na crença das tradições, costumes que existem desde outros tempos. É a legitimidade na crença dos indivíduos nas ordens e poderes senhorias tradicionais. A autoridade é exercida e legitimada pela tradição e por normas escritas. O quadro administrativo, neste caso, pode ser recrutado não pela competência técnica, mas por vínculos pessoais e laços de fidelidade. As tarefas não estão claramente definidas, como na dominação racional, e os privilégios e deveres encontram-se sujeitos a modificações de acordo com a vontade de governante. Há outros tipos de dominação tradicional que são: o patriarcalismo, onde o poder é exercido segundo regras fixas de sucessão; e o patrimonialismo ou gerontocracia, que é a autoridade exercida pelos mais velhos, em idade, sendo os melhores conhecedores da tradição sagrada. Em um corpo administrativo encontramos o patrimonialismo quando os funcionários ligam-se ao chefe por laços de fidelidade pessoais.
Carismática: A dominação carismática pode ser caracterizada pelo seu caráter de tipo extraordinário e irracional. Weber define carisma como uma qualidade pessoal considerada extraordinária atribuída a um indivíduo que possui poderes ou qualidades sobrenaturais. Esses indivíduos são enviados por Deus para o cumprimento de uma "missão". Portanto, este indivíduo é reconhecido como um líder por seus seguidores e, assim, a autoridade carismática é legitimada. Os carismáticos, geralmente, são profetas religiosos, políticos, demagogos, e apresentam, na maioria das vezes, provas de seu poder, fazendo milagres ou revelações divinas. Entretanto, Weber aponta para possibilidade de uma existência permanente de um líder carismático. Tal fenômeno foi chamado de rotinização do carisma. Para que isso ocorra são necessárias mudanças profundas, pois implicam a transformação da autoridade carismática em tradicional ou legal. Sendo assim, as atividades do corpo administrativo passam a ser exercidas de forma regular, seja através da constituição de normas tradicionais, seja por promulgação de regras legais. Haverá um problema a ser resolvido, que é o da sucessão daquele que não será eleito, geralmente o líder carismático escolhe entre aqueles de sua confiança ou então por hereditariedade.
A construção dos tipos ideais de autoridade é primordial para a compreensão do desenvolvimento das instituições, nas quais a burocracia é a mais importante, por ser a mais característica da sociedade moderna ocidental que tem em sua essência o pensamento racional.
Esses três tipos de dominação não são encontrados isoladamente, na realidade, eles coexistem. A sociedade brasileira é um bom exemplo dessa coexistência, pois as relações de trabalho nas organizações (lugar, em princípio, exemplar da relação impessoal) são, ao contrário, pessoais e permeadas de privilégios. A seleção nem sempre atende aos critérios meritocráticos, competência comprovada para o cargo. Em muitos casos as relações pessoais valem muito mais do que um diploma.
A relação Estado-sociedade na concepção marxista
Engels 
Marx 
Segundo Marx e Engels, em A ideologia Alemã - Feuerbach (São Paulo: Hucitec, 1987), o Estado é a forma na qual os indivíduos de uma classe dominante fazem valer seus interesses comuns e na qual se resume toda a sociedade civil de uma época.
Segue-se que todas as instituições comuns são mediadas pelo Estado e adquirem através dele uma forma política. Daí a ilusão de que a lei se baseia na vontade e, mais ainda, na vontade destacada de sua base real - na vontade livre da mesma forma, o direito é reduzido novamente à lei.
Fruto de décadas de colaboração entre Karl Marx e Friedrich Engels, o marxismo é o conjunto de ideias filosóficas, econômicas, políticas e sociais baseadas na concepção materialista e dialética da História. O marxismo interpreta a vida social conforme a dinâmica da base produtiva das sociedades e das lutas de classes daí consequentes.
**Marxismo= O marxismo compreende o homem como um ser social histórico e que possui a capacidade de trabalhar e desenvolver a produtividade do trabalho. Esse fato diferencia os homens dos outros animais e possibilita o progresso de sua emancipação da escassez da natureza, o que proporciona o desenvolvimento das potencialidades humanas.**
Críticos do Liberalismo, Marx e Engels distinguem os conceitos de:
A emancipação social ocorreria mediante a revolução comandada pelo proletariado.
Marx e Engels não eram favoráveis à revolução exclusivamente por razões "altruístas", a lógica da Revolução estaria embutida na própria lógica das contradições do sistema capitalista.
O marxismo influenciou os mais diversos setores da atividade humana ao longo do século XX, desde a política e a prática sindical até a análise e interpretação de fatos sociais, morais, artísticos, históricos e econômicos. Ultrapassou as ideias dos seus precursores, tornando-se uma corrente político-teórica que abrange uma ampla gama de pensadores e militantes, nem sempre coincidentes, e assumindo posições teóricas e políticas por vezes antagônicas.
**contradições do sistema capitalista=Tais contradições engendrariam a crise que culminaria na revolução:
"A revolução, portanto, vai além das manifestações de vontade dos revolucionários. Ela está inscrita na própria história real, e por isso, está também na lógica (dialética) que a desvenda".
E isso se deve ao fato de que a ascensão burguesa acaba por produzir seus próprios "coveiros" – o proletariado – segundo as palavras de Marx e Engels no Manifesto Comunista.**
O direito privado desenvolve-se simultaneamente com a propriedade privada, a partir da desintegração da comunidade natural (...).
Quando, mais tarde, a burguesia adquiriu poder suficiente para que os príncipes protegessem seus interesses com o fim de derrubar a nobreza feudal por meio da burguesia, o desenvolvimento propriamente dito do direito começou em todos os países - na França, no século XVI - e, em todos eles, à exceção da Inglaterra, tiveram que ser introduzidos princípios do direito romano para o posterior desenvolvimento do direito privado (em particular, no caso da propriedade mobiliária)". Karl Marx – A Ideologia Alemã
Marx afirma que o aparelho jurídico do Estado, nesse tipo de sociedade, tem como objetivos:
• Organizar e justificar a dominação da burguesia sobre o proletariado;
• Favorecer os negócios da classe dominante.
Dessa forma, para Marx, não existe Estado representativo do conjunto da sociedade. Seu papel é o representante dos interesses da burguesia.
Atividade
Veja o discurso de Martin Luther King e faça uma análise do tipo de dominação, na perspectiva weberiana, expressa por esse líder religioso.
R= Trata-se da dominação carismática, baseada nas qualidades extraordinárias de um indivíduo legitimadas pelo grupo social que reconhece essa dominação.
Aula 5 – Contexto Histórico da Formação da Sociologia e Antropologia 
Introdução: A formação do pensamento sociológico e antropológico deu-se a partir da segunda metade do século XIX, em decorrência de uma série de transformações econômicas, sociais e políticas por que passou a Europa nesse período.
Apresentar e analisar as primeiras formulações dessas ciências, bem como demonstrar a influência dessas concepções na sociedade brasileira é o que se pretende nesta aula.
Objetivos
Reconhecer as influências da Revolução Francesa e da Revolução Industrial na formação da sociedade capitalista/industrial do século XIX.
Relacionar o Neocolonialismo ao surgimento das primeiras correntes sócio-antropológicas.
Distinguir as principais características do Darwinismo Social, do Evolucionismo Social e do Positivismo.
Identificar algumas influências do Positivismo no Brasil.
Revolução Industrial e neocolonialismo
O Iluminismo foi um movimento intelectual que surgiu durante o século XVII na Europa, e pregava maior liberdade econômica epolítica. Foi apoiado pela burguesia, pois os pensadores e os burgueses tinham interesses comuns. Consistia em críticas ao Antigo Regime:
Iluminismo: "Defendia a liberdade econômica, ou seja, a economia sem a intervenção do Estado; o avanço da ciência e da razão e o predomínio da burguesia e seus ideias. No século XVIII, esta nova corrente de pensamento começou a tomar conta da Europa, defendendo novas formas de conceber o mundo, a sociedade e as instituições.
Tratou de aspectos filosóficos, políticos, sociais, econômicos e culturais. Este defendia o uso da razão como o melhor caminho para alcançar a liberdade, a autonomia e a emancipação."
Mercantilismo: a intervenção na economia;
Absolutismo Monárquico: a proteção à nobreza;
Poder da igreja: as verdades reveladas pela fé.
 
Vários aspectos do Iluminismo preparam o surgimento das Ciências Sociais no século XIX. Este foi o fundamento filosófico da criação do Estado burguês, tal como foi promovido pela Revolução Francesa e pela Revolução Industrial. Essas revoluções formaram a base do Estado moderno. O desenvolvimento do pensamento científico propiciou a Revolução Industrial. Esta foi a transição para novos processos de manufaturas no final do século XVIII, primeiramente na Inglaterra.
No século XIX, a indústria cresceu e o capital financeiro se fortaleceu. O que desencadeou crises de superprodução, pois a produção não era acompanhada pelo consumo. A solução seria crescer para fora do continente europeu, o que foi denominado neocolonialismo ou imperialismo do século XIX.
No mapa, veremos como neocolonialismo se expandiu pelo mundo.
O Cientificismo
Os efeitos dos novos inventos, devido ao desenvolvimento científico, tais como: o para-raios e as vacinas, os desenvolvimentos da mecânica, da química e da farmácia, eram amplamente verificáveis e pareciam coroar de êxitos as atividades científicas. Aos olhos dos homens da época, as conquistas do conhecimento do humano eram vitoriosas, abrindo caminho para o controle sobre as leis da natureza. As ideias de progresso,racionalismo e cientificismo exerceram todo um encanto sobre a mentalidade da época.
Transformar esse mundo conquistado em colônias que se submetessem aos valores capitalistas era uma tarefa de grande magnitude. Dessa maneira, a dominação precisava apresentar justificativas que ultrapassassem os interesses econômicos imediatos. Por isso, a conquista europeia esteve revestida de um discurso humanitário de “missão civilizadora”. O Darwinismo Social, o Evolucionismo Social e o Positivismo foram as primeiras elaborações ditas científicas da sociedade. Foram inspiradas nas teorias de Charles Darwin, apropriadas e manipuladas pelos pensadores sociais e que serviram para justificar a dominação europeia do neocolonialismo.
 Foi, também, nessa época, que se desenvolveu a teoria de Charles Darwin (1809-1822), naturalista inglês, sobre a evolução, adaptação e seleção das espécies. O princípio da evolução estaria na transformação contínua das espécies de seres vivos com finalidade de selecionar os mais aptos e determinar quais membros da espécie tem mais chance de sobrevivência. Consequentemente, os organismos tendem a se adaptar cada vez melhor ao ambiente, criando formas mais complexas de existência, que possibilitam, pela competição natural, a sobrevivência dos seres mais aptos e evoluídos.
Logo, as teses de Darwin estavam sendo discutidas em todo o meio científico e o próprio liberalismo econômico adotou o pressuposto da competição. Ao defender a propriedade privada, o liberalismo postula que todo homem compete em igualdade no acesso à propriedade privada. Aquele que não a conquista, não o faz porque é vicioso ou preguiçoso. É claro que essa tese, presente em nossas mentes até hoje, interessava à manutenção do domínio da classe burguesa.
Darwinismo Social
Se o pensamento racional e científico parecia válido para explicar a natureza, intervir sobre ela e transformá-la, este poderia explicar também a sociedade vista como um elemento da natureza. O Darwinismo Social explica a sociedade como se ela fosse um objeto de estudo da natureza. O determinismo biológico e o determinismo geográfico foram explicações comumente utilizadas sobre a capacidade de cada individuo e cada sociedade.
Segundo o Darwinismo Social, as sociedades se modificam e se desenvolvem como os seres vivos. As transformações nas sociedades representam a passagem de um estágio inferior para outro superior, onde o organismo social se mostra mais evoluído, adaptado e complexo. Se na natureza a competição gera a sobrevivência do mais forte, também na sociedade favorece a sobrevivência de sociedade e indivíduos mais fortes e evoluídos.
As expressões: "luta pela existência" e "sobrevivência do mais apto", tomadas de Darwin, apoiaram o individualismo liberal e justificaram o lugar ocupado pelos bem-sucedidos nos negócios. Por outro lado, as sociedades foram divididas em raças superiores e inferiores, cabendo aos mais fortes dominar os mais fracos e, consequentemente, aos mais desenvolvidos levar o desenvolvimento aos não desenvolvidos. A civilização deveria ser levada a todos os homens.
Determinismo biológico: São as teorias que atribuem capacidades específicas inatas a "raças" ou a outros grupos humanos. Contudo, os antropólogos hoje em dia estão totalmente convencidos de que as diferenças genéticas não são determinantes das diferenças culturais.
Determinismo geográfico: O determinismo geográfico considera que as diferenças do ambiente físico como o clima, a altitude, a umidade do ar, entre outras variáveis do meio ambiente condicionam a cultura local e as diferenças culturais.
Darwinismo Social no Brasil
Conde de Gobineau: O conde de Gobineau tornou-se embaixador da França no Brasil entre 1869 e 1870. Para ele, a mestiçagem criava um povo degenerado, porque não conservaria, nas suas veias, o mesmo sangue original. E as sucessivas misturas teriam enfraquecido o seu valor. A apreciação das qualidades físicas ou morais dos brasileiros, para Gobineau, não poupava observações pejorativas. "A miscigenação havia resultado no Brasil em compleições raquíticas, que se nem sempre repugnantes, são sempre desagradáveis aos olhos".
A única relação que ele estabeleceu no Brasil foi com o D. Pedro II. A visão pessimista de Gobineau, em relação ao país, partia do pressuposto da inviabilidade de uma nação composta por raças mistas. As nações miscigenadas como o Brasil seriam instáveis, desequilibradas e decaídas. A degeneração, segundo ele, era inevitável e conduziria ao fim da existência do Brasil.
Nina Rodrigues: No final do século XIX, muitos intelectuais e pensadores, tais como Nina Rodrigues e Sílvio Romero, acabaram por adotar a tese da existência de uma raça superior. Defendiam o branqueamento da população como uma forma de superar a mistura de "cores" que caracteriza o povo brasileiro. A aplicação prática dessa concepção traduziu-se no incentivo à imigração maciça de trabalhadores europeus: italianos, alemães, espanhóis, poloneses, ucranianos, que, ao longo do tempo, branqueariam a sociedade do país.
O Evolucionismo Social
Os evolucionistas formaram a primeira escola antropológica, tendo como paradigma principal a sistematização do conhecimento acumulado sobre os "povos primitivos" e o predomínio do trabalho de gabinete.
A análise desses antropólogos era feita a partir dos relatos de viajantes e colonizadores que lhes chegavam às mãos.
Defendiam a ideia de que a história da Humanidade se dava através de um processo evolutivo que ia da selvageria à civilização, passando pela barbárie. Utilizavam o chamado método comparativo, em que tomavam como parâmetro a sociedade europeia do século XIX para descrever e classificar formas culturais de outros povos, em uma postura que, como vimos na aula 3, se mostrava extremamente etnocêntrica, tratando os povos não europeus como primitivos, exóticos e incivilizados.
O POSITIVISMO
Augusto Comte: O positivismo foi uma diretriz filosóficacriada por Augusto Comte na segunda metade do século XIX. O tema central de sua obra é a Lei dos Três Estados, em que ele divide a evolução histórica e cultural da humanidade em três fases, de acordo com seu desenvolvimento; a classificação e a hierarquização das ciências, da mais simples até a mais complexa, que pra ele a ordem é necessária ao progresso; e a reforma da sociedade, com mudanças intelectuais, morais e políticas destinadas, principalmente, a restabelecer a ordem na sociedade capitalista industrial.
A hostilidade dirigida ao pensamento tradicional foi especialmente forte em Comte, que negava a possibilidade do conhecimento metafísico, que ele considerava ser estagnante e uma forma de pesquisa desnecessária. Ele exigia uma "sociocracia" dirigida por cientistas para a unificação, conformidade e progresso de toda a humanidade. Logo, o positivismo redefiniu o propósito da filosofia, limitando-a à análise e definição da linguagem científica.
Comte devotou-se à sociologia, uma palavra que ele elaborou para descrever a ciência da sociedade. Ele acreditava que sua principal contribuição era a teoria de que a humanidade passou por três estágios de desenvolvimento intelectual:
Teológico: neste estado a realidade era explicada pela imaginação, a partir de deuses, demônios e seres mitológicos. 
Metafísico: no segundo estágio a realidade era explicada através de abstrações filosóficas, tais como: essência, existência, substância, acidente.
Positivo: neste estágio final, as explicações da realidade eram dadas baseadas em leis científicas, descobertas através da experimentação,observação e lógica.
Na sua classificação das ciências os critérios eram a generalidade de cada ciência e a crescente complexidade das mesmas. A origem da menos complexa a mais complexa estabelecida pelo autor foi: Matemática, Astronomia, Física, Química, Biologia. Ao criar a Sociologia, Comte criava a ciência mais Positiva.
Os traços mais marcantes do positivismo são, certamente, a excessiva valorização das ciências e dos métodos científicos, a exaltação do homem e suas capacidades e o otimismo em relação ao desenvolvimento e progresso da humanidade.
Para reformar a sociedade, Comte propôs:
Atenção: Esta corrente filosófica foi muito influente no pensamento brasileiro. O movimento republicano, o lema da bandeira brasileira "ordem e progresso", a primeira constituição republicana de 1891, as leis trabalhistas, o governo militar e o ensino brasileiro.
Leia a citação a seguir:
Causar incômodos é intrínseco à verdade (O Globo, 2/5/2008)
O coordenador do curso de medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA) atribuiu aos alunos a responsabilidade pela nota baixa que o curso atingiu no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) de 2007. O curso integra a lista de 17 instituições do país que serão supervisionadas pelo Ministério da Educação (MEC).
Na opinião do coordenador, o professor Antonio Natalino Manta Dantas, o resultado ruim é por causa do “baixo QI [coeficiente de inteligência] dos alunos”.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo desta quarta-feira (30), Dantas, que é baiano, disse também que:
- “O baiano toca berimbau porque só tem uma corda. Se tivesse mais [cordas], não conseguiria”.Procurado pelo G1, o coordenador reafirmou as declarações sobre o desempenho dos estudantes.
- “O QI dos alunos de medicina é baixo sim. Como vou dizer que eles têm QI alto se eles foram mal em uma prova que o resto do Brasil foi bem? Que eu saiba, não houve boicote à prova do Enade. Então eles [os alunos] mesmos se submeteram à vergonha nacional”, diz o professor Dantas.
Questionado sobre quais medidas pretende tomar a partir de agora, o coordenador do curso foi enfático:
- “O que a gente pode fazer para melhorar a capacidade cognitiva das pessoas? Não tenho como mudar a genética. A prova do Enade não foi ruim. Ruins são os nossos alunos”, diz o coordenador, que acrescenta que os estudantes do curso de direito da UFBA tiraram nota 5 (nota máxima) no Enade de 2006. “Realmente eu não entendo por que os alunos de medicina não conseguem esse desempenho”, diz.
Agora, responda: O coordenador do curso de medicina da UFBA estaria se inspirando nas concepções do Darwinismo social para explicar as diferenças cognitivas entre os estudantes? Justifique.
R= Sim, porque trabalha com a ideia de superioridade intelectual baseada em critérios biológicos, atribuindo à composição genética dos baianos uma suposta inferioridade intelectual.
Resumo do conteúdo
O contexto do surgimento das primeiras correntes sócio-antropológicas no século XIX;
As principais características do Darwinismo Social, do Evolucionismo Social e do Positivismo;
A importância e influência do pensamento positivista no Brasil.
Aula 6 – Modelos Clássicos da Análise Sociológica: a Contribuição de Émile Durkheim
Introdução: Como vimos na aula anterior, Augusto Comte formulou a primeira tentativa de criação de uma "ciência do social".
Contudo, foi com Émile Durkheim que a Sociologia se constitui como uma disciplina rigorosamente científica, ao definir seu objeto e estudo e consagrar-lhe um método de investigação.
Nesta aula vamos estudar a contribuição desse autor para a compreensão dos fenômenos sociais, especialmente no que tange aos fenômenos coletivos.
Objetivos
Definir o que é fato social e suas características.
Listar a classificação dos fatos sociais como normais e patológicos.
Identificar o crime como fato social e, através do método proposto por Durkheim.
Reconhecer a noção de consciência coletiva enquanto fenômeno associado às formas de solidariedade social.
Avaliar a influência da sociedade sobre comportamentos.
Analisar a evolução das formas de organização social (simples e complexa) do ponto de vista dos laços existentes entre o indivíduo e a sociedade (solidariedade social).
Descrever os mecanismos pelos quais a consciência coletiva nas modernas sociedades constrói a gradação dos níveis de patologia social presentes nas sociedades.
Émile Durkheim
Você sabe quem foi Émile Durkheim?
É o criador da Escola Sociológica Francesa.
Com ele, a sociologia se constitui como uma disciplina rigorosamente científica.
Èmile Durkheim define o objeto da sociologia como fatos sociais e atribui-lhe um método de investigação: a análise objetiva dos fatos sociais, que deveriam ser estudados como “coisas”, ou seja, o investigador deveria manter uma relação de objetividade com o objeto estudado,desfazendo-se de qualquer pré-noção em relação a eles.
Fatos sociais
Em seu livro As Regras do Método Sociológico, Durkheim define os fatos sociais como:
Estes tipos de conduta ou de pensamento não são apenas exteriores aos indivíduos, são também gerais na extensão de toda sociedade conhecida e dada, são dotados de um poder imperativo e coercitivo que constitui características intrínsecas de tais fatos.
Para Durkheim, a sociedade, como todo organismo, apresenta estados normais e patológicos (saudáveis e doentios).
Fato social normal
É normal o fato que não extrapola os limites dos acontecimentos
mais gerais de uma determinada sociedade e que refletem os
valores e as condutas aceitas pela maior parte da população.
Por isso, em sua concepção, o crime é considerado um fato social
normal, porque pode ser entendido como necessário (útil) para uma
sociedade, pois, se a consciência coletiva (moral) fosse excessiva,
se cristalizaria e a consciência individual inovadora não se manifestaria.
Desse modo, onde o crime existe os sentimentos coletivos estão
no estado de maleabilidade necessária para tomar nova forma:
ele representa um fato social que integra as pessoas em torno
de uma conduta valorativa, que pune o comportado considerado
nocivo, que fere a consciência coletiva.
Quando os sentimentos coletivos são fortemente atingidos, algumas ofensas passam de faltas morais para delitos e crimes. É por essa lógica que ele irá avaliar o castigo imposto não como forma de acabar com o crime, mas sim paramantê-lo na taxa social “média”.
De perto ninguém é normal...
Ouça o trecho da música “Vaca Profana” de Caetano Veloso:
“Mas eu também sei ser careta
De perto ninguém é normal
Às vezes segue em linha reta
A vida, que é meu bem, meu mal.”
Caetano Veloso, em “Vaca Profana”
Profeta Gentileza:
Louco? Visionário? Vejam a referência ao uso (irracional)
da natureza pelos normais”.
Fato social patológico
Você já ouviu falar em “fato social patológico”? Descreva no campo, a seguir, o que você entende por esse termo.
R=É todo fato que extrapola os limites aceitos pela consciência coletiva vigente em uma sociedade, é o comportamento tido com desviante. São fatos que põem em risco a harmonia e o consenso representa um estado mórbido da sociedade. Eles são transitórios e excepcionais, assim como as doenças.
Normalidade x Patologia
O que é normal? Quais os parâmetros estabelecidos para diferenciar o “normal” do “anormal”?
É importante que você tenha em mente que o conceito de normalidade é discutível. O que chamamos de “normal” varia de sociedade para sociedade.
Segundo Richard Miskolci:
Em seu livro Da divisão do trabalho social, Durkheim definiu consciência coletiva ou consciência comum como...
 “conjunto de crenças e de sentimentos comuns entre os membros de uma mesma sociedade”.
Ele afirma que ela forma um sistema determinado que tem sua vida própria:
"Sem dúvida, ela não tem como substrato um órgão único; é, por definição, difusa, ocupando toda a extensão da sociedade; mas nem por isso deixa de ter características específicas, que a tornam uma realidade distinta. Com efeito, ela é independente das condições particulares em que se situam os indivíduos. Estes passam, ela fica. É a mesma no Norte e no Sul, nas grandes e nas pequenas cidades, nas diferentes profissões. Por outro lado, não muda em cada geração, mas, ao contrário, liga as gerações que se sucedem. Portanto, não se confunde com as consciências particulares, embora se realize apenas nos indivíduos. É o tipo psíquico da sociedade, tipo que tem suas propriedades, condições de existência, seu modo de desenvolvimento, exatamente como os tipos individuais, embora de outra maneira."
Pode ser verificada em fenômenos coletivos típicos, expressos através de uma forma de consciência que contrapõe indivíduo/sociedade. As torcidas organizadas e os grandes festivais de música, por exemplo, representam fenômenos coletivos típicos, expressos através de uma forma de consciência que contrapõe indivíduo/sociedade.
Anomia
É a ausência, desintegração ou inversão das normas vigentes em uma sociedade, neste caso, a consciência “perde” os parâmetros de julgamento da realidade.
Ela vai acontecer em momentos extremos, tais como guerras, desastres ecológicos, econômicos etc.
Divisão do trabalho social
É a organização da sociedade em diferentes funções, exercidas pelos indivíduos ou grupos de indivíduos. Nas sociedades mais simples predomina a divisão social do trabalho, baseada principalmente em critérios biológicos de sexo e idade. Essa divisão parece decorrer de uma extensão analógica das diferenças naturais de funções entre membros de um grupo. Durkheim classifica a forma de solidariedade social deste tipo de sociedade como solidariedade mecânica.
Nas sociedades mais complexas, em especial quando tem início o desenvolvimento da agricultura, a sedentarização e o sistema de propriedade privada, surge uma divisão social mais complexa, com a criação de novas funções sociais. A indústria foi o sistema produtivo que mais desenvolveu a divisão social do trabalho, criando uma imensa gama de funções e atribuições diferenciadas. Durkheim classifica a forma de solidariedade social deste tipo de sociedade como solidariedade orgânica.
*Atenção: A divisão social do trabalho envolve sempre uma divisão não só de funções, mas também de privilégios, regalias e poder.
Atividade
Leia a citação abaixo e responda à proposta:
“Crime contra índio Pataxó comove o país (...). Em mais um triste ‘Dia do Índio’, Galdino saiu à noite com outros indígenas para uma confraternização na Funai. Ao voltar, perdeu-se nas ruas de Brasília (...). Cansado, sentou-se num banco de parada de ônibus e adormeceu. Às 5 horas da manhã, Galdino acordou ardendo numa grande labareda de fogo. Um grupo “insuspeito” de cinco jovens de classe média alta, entre eles um menor de idade, (...) parou o veículo na avenida W/2 Sul e, enquanto um manteve-se ao volante, os outros quatro dirigiram-se até a avenida W/3 Sul, local onde se encontrava a vítima. Logo após jogar combustível, atearam fogo no corpo. Foram flagrados por outros jovens corajosos, ocupantes de veículos que passavam no local e prestaram socorro à vítima. Os criminosos foram presos e conduzidos à 1ª Delegacia de Polícia do DF onde confessaram o ato monstruoso. Aí, a estupefação: ‘os jovens queriam apenas se divertir’ e ‘pensavam tratar-se de um mendigo, não de um índio’ o HRAN, Galdino, homem a quem incendiaram. Levado ainda consciente para o Hospital Regional da Asa Norte − com 95% do corpo com queimaduras de 3º grau ---, faleceu às 2 horas da madrugada de hoje.” Conselho Indigenista Missionário - Cimi, Brasília-DF, 21 abr. 1997. (Questão adaptada da parte geral do Enade 2004.)
A partir da perspectiva sociológica de Durkheim, como você analisaria o crime cometido por estes jovens? Deve-se interpretar, nessa perspectiva, a transgressão da juventude como um dado natural?
R= Para Durkheim, o crime, enquanto acontecimento que se repete, é um fato social normal. Contudo, crimes dessa natureza excedem o limite do tolerável pela sociedade e são vistos como patológicos pela coletividade. A transgressão da juventude é um dado socialmente construído.
Aula 7 – Modelos Clássicos da Análise Sociológica: a Contribuição de Max Weber 
Introdução: Por que os indivíduos, em uma situação específica, tomam determinadas decisões? Quais as razões/motivações para esses atos?
Entender o sentido das ações empreendidas pelos indivíduos é o ponto de partida da sociologia de Max Weber, que estudaremos nesta aula.
Objetivos 
Definir o objeto e o método de investigação da sociologia weberiana.
Estabelecer o conceito de ação social.
Distinguir ação social e relação social.
Identificar os tipos de ação social.
Reconhecer a importância da sociologia weberiana para a análise da sociedade brasileira.
O Método Compreensivo de Max Weber
De acordo com Adriana Loche, Max Weber procura compreender a sociedade como um agregado de indivíduos que possuem suas motivações próprias. Ao mesmo tempo, o estatuto de realidade objetiva é mudado para uma concepção menos determinista de sociedade, segundo a qual a realidade é um fenômeno compósito.
Por isso, o cientista não conhece a sociedade de antemão, nem consegue abarcá-la totalmente. Para compreender a sociedade, é preciso entender as redes de significações estabelecidas pelos indivíduos em suas ações e relações sociais. Para criar uma imagem, como a que Durkheim via a sociedade como uma coisa, Weber a compreendia como um conjunto de ações parciais que precariamente se totalizavam.
Assim, somente podemos compreender pequenos “pedaços” dessa realidade. Como cada indivíduo tem sua própria visão parcial do mundo, há um conflito permanente entre os indivíduos que compõem a sociedade. Por este motivo, Weber propõe a reconstrução do sentido subjetivo original da ação e o reconhecimento da parcialidade da visão do observador.
**Adriana Loche: LOCHE, Adriana et al. Sociologia Jurídica. Porto Alegre: Síntese, 1999. p. 32.**
Ação Social: Uma Ação Dotada de Sentido
O objeto da sociologia para Weber é o sentido da ação social, que deve ser buscado pela apreensão da totalidade de significados e valores atribuídos pelos indivíduos. Nesse sentido, ele procura mostrar que não há apenas uma causa dos fenômenos sociais; através da ideia de “adequação de sentido”, Weber mostra a convergência da ação em duas ou mais esferas que compõem o todo social (a economia, a política, a religiosaetc.), ou seja, a ação social é determinada por mais de uma causa, sendo que cada causa tem importância variada sobre a determinada ação.
Para ele, a tarefa do sociólogo é “pesquisar os sentidos e os significados recíprocos que orientam os indivíduos na maioria de suas ações e que configuram as relações sociais”. A análise sociológica deve, assim, compreender e interpretar o sentido e os efeitos das ações humanas.
Tipos de ação
Weber, preocupado com o valor que cada indivíduo atribui à sua ação, procurou elaborar uma tipologia para compreender as características particulares, definindo quatro tipos de ação:
Ação Racional com Relação a Afins: Motivada por fins objetivos, ou seja, para atingir seus fins, o indivíduo planeja e executa seus planos, utilizando-se dos meios que considera mais adequados para atingir seus objetivos. A racionalidade econômica capitalista é exemplo desse tipo de ação. Nesta perspectiva, para Weber, o individualismo e a racionalização de condutas são elementos centrais da modernidade.
Ação Racional com Relação a Valores: Motivada por crenças em valores morais, religiosos, políticos etc. Neste tipo de ação o que importa para o indivíduo é seguir os princípios que mais lhe são caros, não importando o resultado de sua conduta; o que lhes impele é a lealdade aos valores que orientam sua conduta. É o caso dos agentes que abrem mão de vantagens financeiras em função da preservação ambiental, por exemplo.
Ação Afetiva: Guiada por uma conduta emocional. Sentimentos como raiva, ódio, paixão, desejo, ciúme orientam sua conduta. Muitas vezes, o resultado dessas ações não é o esperado pelo agente, em virtude da irracionalidade de seu ato. Os crimes passionais são exemplos típicos deste tipo de ação social.
Ação Tradicional: Guiada pela tradição, costumes arraigados que fazem com que os indivíduos ajam em função deles. É uma espécie de reação a estímulos habituais. Exemplo disso é o hábito de saudarmos as pessoas com expressões como “bom dia”, “boa noite”, “fique com Deus”, independentemente de termos grande afinidade com elas ou mesmo alguma fé. Para Weber é difícil perceber até que ponto o agente age conscientemente ao empreender este tipo de ação.
Relação social
A relação social estabelece-se quando os agentes partilham o sentido de suas ações e agem reciprocamente de acordo com certas expectativas que possuem do outro. Como mostra Quintaneiro, em Um toque de clássico, são exemplos de relações sociais a amizade, relações de hostilidade, trocas comerciais, relações políticas etc.
“Tanto mais racionais sejam as relações sociais, mais facilmente poderão ser expressas sob a forma de normas, seja por meio de um contrato ou de um acordo, como no caso das relações de conteúdo econômico ou jurídico, da regulamentação das ações de governo, de sócios etc.”.
QUINTANEIRO et al. Um Toque de Clássico. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2009.
Patrimonialismo: a permanência do arcaico
Na aula 4, estudamos as formas de dominação legítima preconizadas por Max Weber, a saber:
  Dominação tradicional;
  Dominação racional-legal;
  Dominação carismática.
Vimos que a dominação racional-legal expressaria a forma mais moderna de dominação, visto que este tipo de dominação se assenta nas formas impessoais de concessão e reconhecimento da autoridade legitimamente constituída.
Roberto da Matta discute a permanência de práticas tradicionais na sociedade brasileira em seu livro “O que faz o Brasil, Brasil?“:
“O dilema brasileiro residiria na oscilação, ou seja, no que existe de liminar, entre "um esqueleto nacional feito de leis universais cujo sujeito era o indivíduo e situações onde cada qual se salvava e se despachava como podia, utilizando para isso seu sistema de relações pessoais’.”
Nesse sentido, o brasileiro oscilava entre uma série de leis que, teoricamente, todos os indivíduos da sociedade deveriam cumprir, e uma série de expedientes passíveis de serem utilizados para burlar estas normas com bases em uma rede de contatos pessoais facilitados pelo nosso próprio sistema burocrático e hierárquico.
Deste conflito nasceriam situações que todos nós estamos acostumados a vivenciar, como o jeitinho, que sempre está ao nosso alcance (pra tudo tem um jeito), e o famoso ‘“você sabe com quem está falando?”.
Roberto da Matta, em O que faz o Brasil, Brasil? (Rio de Janeiro: Ed. Sala, 1984)”
Veja na tirinha um exemplo do que hoje chamamos de “jeitinho brasileiro”:
Segundo Sérgio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil:
“No Brasil onde imperou, desde tempos remotos, o tipo primitivo de família patriarcal (o pai é o chefe supremo, o homem possui um status de soberano, senhor total de todos e todas as coisas), o desenvolvimento da urbanização que não resulta unicamente do crescimento das cidades, mas também do crescimento dos meios de comunicação, atraindo vastas áreas rurais para a esfera de influência das cidades, ia acarretar um desequilíbrio social, cujos efeitos permanecem vivos ainda hoje.”
Não era fácil aos detentores das posições públicas de responsabilidade, formados por tal ambiente, compreenderem a distinção fundamental entre os domínios do privado e público. Assim, eles se caracterizam justamente pelo que separa o funcionário “patrimonial” do puro burocrata, conforme a definição de Max Weber.
Como se sabe, a prática do patrimonialismo ainda é bastante arraigada na sociedade brasileira. Apesar de o ordenamento jurídico brasileiro consagrar o princípio da igualdade entre os cidadãos, verifica-se a permanência de relações hierarquizada que permitem que alguns indivíduos sejam “mais iguais que outros”, como irônica e argutamente demonstra Roberto da Matta, em “O que faz o Brasil, Brasil?” sobre o qual comentamos anteriormente.
É o caso de homens públicos que se utilizam de recursos públicos para fins privados, seja utilizando-se de funcionários públicos para serviços domésticos, seja pleiteando vistos diplomáticos a parentes sem alegadas razões de Estado.
Cabe ressaltar que essas práticas vem sendo contestadas e combatidas, como se pode perceber na proibição do nepotismo (contratação de parentes para ocupar cargos públicos) nas três esferas do poder (Executivo, Legislativo e Judiciário), como preconiza a Súmula Vinculante nº 13 do Supremo Tribunal Federal, de 29 de agosto de 2008, que ressalta o princípio da impessoalidade no trato da coisa pública.
Atividade
Leia o caso abaixo e responda às questões propostas:	
O capítulo 63 da novela mexicana Rebelde, produzida pela rede Televisa e transmitida/dublada pelo SBT, trouxe o seguinte diálogo:
Mia: Tipo assim, eu gosto muito de comprar. Bolsas, sapatos, maquiagem...tudo para ficar bem linda.
Miguel: Ah, meu amor, você deve fazer o que gosta. Tem que pensar em você. Só tenha cuidado para que suas amigas não se aproveitem de você.
Mia: Ah! Mas isto é claro para mim, na hora que a gente precisa é cada um por si, não tem ninguém para ajudar. É por isso que eu penso primeiro em mim, segundo em mim e depois em mim...
Miguel: E em mim você não pensa?
Mia: Só para carregar meus embrulhos!!!!
Roberta: Essa barbie descerebrada não faz outra coisa senão comprar, comprar! É uma egoísta, uma individualista que só pensa em si.
Segundo a teoria da ação social de Weber, que tipo de ação está presente nesses diálogos? Justifique.
 R=A ação social que vemos no texto é a ação social com relação a fins, motivada pelo cálculo preciso do objetivo de benefício pessoal, obtenção de vantagens, lucro individual.
Aula 8 – Modelos Clássicos da Análise Sociológica: a contribuição de Karl Marx 
Introdução: Nesta aula você será apresentado a mais um modelo clássico de compreensão da realidade social. Trata-se da contribuição de Karl Marx, um dos autores mais estudados pelos analistas sociais.
Conceitos fundamentais da teoria marxista serão trabalhados, com vistas à sua utilização na análise de situações sociais concretas.
Objetivos
Avaliar a concepção marxista de análise da sociedade.

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