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56 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Unidade II 3 Teoria do Consumidor Apresentaremos aqui a Teoria Clássica da Demanda. A partir dela, os economistas modelam as preferências dos agentes econômicos e formulam suas restrições orçamentárias a fim de otimizar as escolhas do consumidor e, dessa forma, determinar a demanda no mercado. Assim, aprenderemos a questão central da microeconomia: como os consumidores tomam suas decisões de consumo. Além do problema central apontado, também procuraremos as respostas para as seguintes questões: qual cesta de bens que maximiza a satisfação de um consumidor (ponto de equilíbrio do consumidor), dado o seu poder aquisitivo? Se a renda do consumidor aumenta, qual será o impacto sobre sua satisfação? 3.1 Preferências do consumidor A Teoria Clássica do comportamento dos Consumidores inicia-se com três premissas básicas a respeito das preferências: • as preferências são completas; • o consumidor atua de forma racional (além de completas, suas preferências são reflexivas); • mais é melhor do que menos. Essas premissas indicam que os consumidores devem escolher os melhores bens pelos quais podem pagar. Para demonstrá-las, inicialmente, consideraremos que os objetos de escolha dos consumidores são as cestas de consumo, ou seja, uma lista completa de bens e serviços que o consumidor está disposto a adquirir, seja no presente, seja no futuro. Uma cesta de consumo demandada por um consumidor (Qd) pode ser composta por infinitas quantidades de bens e serviços (q1, q2, ... qn), ou seja: Qd = q1, q2, ... qn Além disso, apresentaremos três símbolos lógicos para formular a análise: • ≻ estritamente preferível; • ≽ fracamente preferível; e • ∼ indiferente. 57 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MicroeconoMia eM concorrência Perfeita Sejam duas cestas de consumo A e B composta por dois bens: 1 e 2. Um consumidor pode classificar essas cestas de acordo com suas preferências, hierarquizando uma como melhor que a outra ou sendo indiferente em relação às duas cestas. Quando o consumidor prefere a cesta A em relação a B, podemos denotar essa preferência da seguinte forma: A ≻ B Quando o consumidor se mostrar indiferente entre as duas cestas A e B, representamos da seguinte forma: A ∼ B Um consumidor também pode acreditar que uma cesta de consumo A é ao menos tão boa quanto a cesta B. Nesse caso, dizemos que a cesta A é fracamente preferível a B, cuja representação é: A ≽ B Axiomas da Teoria do Consumidor São três os axiomas básicos da Teoria do Consumidor: A1 – Preferências completas: as preferências são completas se o consumidor for capaz de comparar duas cestas de consumo quaisquer: A ≽ B ou B ≽ A A2 – Preferências reflexivas: as preferências são reflexivas quando todas as cestas de consumo forem pelo menos tão boas quanto elas mesmas: A ≽ A ou A ∼ A A3 – Preferências transitivas: as preferências são transitivas quando um consumidor que preferir a cesta de consumo A ao invés de B também preferir B a C, então ele também preferirá A a C. Ou seja: A ≽ B e B ≽ C ⇒ A ≽ C Quando tomamos em conjunto as hipóteses A1 e A2 podemos dizer que os consumidores agem de forma racional (ou hipótese da racionalidade dos agentes). Com A1, A2 e A3, os consumidores sempre irão preferir quantidades maiores de uma mercadoria (mais é melhor que menos), também conhecida como hipótese de monotonicidade. 58 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Curvas de indiferença Curva de indiferença é a representação gráfica de um conjunto de cestas de mercadorias que têm a propriedade de serem indiferentes entre si. É impossível ilustrar graficamente todas as possibilidades de consumo de um indivíduo. Por isso, avaliamos em um gráfico de suas dimensões, sempre, dois tipos de bens: na figura a seguir apresentamos combinações de consumo de vestuário e alimentação. Cada ponto representa uma possibilidade de consumo (cesta) que o consumidor poderá escolher – figura 20(a). A curva de indiferença é formada pela combinação de todas as cestas com o mesmo nível de preferência – figura 20(b). Vestuário Vestuário Alimentação Alimentação Cestas indiferentes a ”G” Cestas indiferentes a ”E” Cestas indiferentes a ”A” (a) (b) B BF F G G A A E E D D U3 U2 U1 H H Cesta E ≻ Cesta A ≻ Cesta G U3 ≻ U2 ≻ U1 Figura 20 – Mapa de indiferença para cestas de consumo de vestuário e alimentação Pode existir uma infinidade de curvas de indiferença. O conjunto de curvas de indiferença forma um mapa – o mapa de indiferença – que descreve as preferências do consumidor. Para se comparar preferências, é necessário que existam, pelo menos, duas curvas de indiferença. Na figura 20(b), ilustramos três curvas de indiferenças (U1, U2 e U3), em que as cestas que estão sobre U3 são preferíveis às demais cestas. No entanto, ao se comparar curvas de indiferença, é preciso estar claro que elas devem cumprir as seguintes hipóteses: • continuidade: a hipótese da continuidade das preferências descarta a existência de curvas de indiferença descontínuas que violariam a premissa da completude – figura 21(a); • curvas de indiferença não se interceptam: já que curvas de indiferença representam níveis distintos de preferência, elas não poderão se cruzar – figura 21(b). Se pudessem a premissa da transitividade seria violada: as cestas A, B e C teriam que ser indiferentes, e A e B não poderiam estar em curvas de indiferença distintas. 59 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MicroeconoMia eM concorrência Perfeita Vestuário Vestuário Alimentação Alimentação (a) (b) A B U2 U1 C Figura 21 – Violações às hipóteses sobre curvas de indiferença saiba mais A hipótese de convexidade da curva de indiferença relaciona-se com as três premissas relativas às preferências do consumidor: completude, racionalidade e monotonicidade. Mais informações a respeito são encontradas no capítulo 3 de: VARIAN, H. R. Microeconomia: uma abordagem moderna. 8. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2012. Taxa marginal de substituição A taxa marginal de substituição (TMS) é usada para medir a quantidade de determinada mercadoria na qual um consumidor estaria disposto a deixar de consumir para obter unidade adicional de outro bem. Também representa a inclinação da curva de indiferença num determinado ponto, ou seja, a taxa à qual o consumidor está propenso a substituir um bem pelo outro. Sendo q1 e q2 as quantidades consumidas dos bens 1 e 2, a TMS pode ser definida matematicamente como: TMS q q q q = - = - ∆ ∆ ∆ ∆ 2 1 2 1 (3.1) Ou seja, para permanecer na mesma curva de indiferença, deixando de consumir algumas quantidades do bem 2, -∆q2, o consumidor desejará compensar isso consumindo um pouco mais do bem 1, +∆q1. A TMS é um número negativo, devido à inclinação negativa das curvas de indiferença. Para variações muito pequenas (marginais), a TMS pode ser representada como: TMS q q = - ∂ ∂ 2 1 (3.2) 60 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II A TMS, expressa graficamente pela inclinação da curva de indiferença (figura 22), mede a taxaem que o consumidor se encontra na fronteira entre trocar ou não trocar uma determina cesta de consumo. Cestas melhores -∆q2/∆q1 = TMS Cestas piores A B q 1 q 2 q 2 q 2 q 1 q 1 0 1 0 1 ∆q2 ∆q1 Figura 22 – Curvas de indiferença e taxa marginal de substituição Exemplo de aplicação Suponha um indivíduo que consumia 10 unidades de um bem composto A (“alimentação”) e 15 unidades de um bem composto L (“lazer”). Entretanto, ocorreu uma mudança na sua postura de consumo e esse indivíduo passou a consumir 20 unidades de A e 10 de L. Pede-se para calcular a TMS desse consumidor. Resolução A TMS deve ser calculada com a equação (3.1): TMS q q L A = - = ∆ ∆ ∆ ∆ 2 1 onde ∆q2 refere-se à variação nas quantidades consumidas de L e ∆q1 refere-se à variação nas quantidade consumidas de A. Assim: ∆ ∆ ∆ ∆ ∆ ∆ q L q A TMS q q 2 1 2 1 10 15 5 20 10 10 5 10 0 5 = = - = - = = - = = - = - = - , O significado da TMS = -0,5 é o seguinte: o consumidor estaria disposto a trocar meia unidade de “lazer” por uma unidade de “alimentação” para manter o mesmo nível de preferência. 61 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MicroeconoMia eM concorrência Perfeita Exemplo de aplicação Seja a seguinte curva de indiferença descrita pela relação entre as quantidades consumidas de “alimentação” e “lazer”, respectivamente, A e L: L = A-1. a) determinar a TMS em um ponto F qualquer da curva de indiferença, tal que a quantidade de “alimentação” consumida seja A = 1. Resolução Inicialmente, é possível obter o par de A = 1 que compõe o ponto F a partir da equação da curva de indiferença: L = A-1 = 1-1 = 1. A TMS no ponto específico da curva de indiferença F(1,1) deve ser calculada com a equação (3.2): TMS L A = - ∂ ∂ Aplicando a fórmula à equação da curva de indiferença proposta no problema, obtemos: TMS L A A A = - ∂ ∂ = - -( ) =-2 21 Assim, se A = 1, então obtemos TMS =1/12 = 1. Logo, no ponto F(1,1), o consumidor está disposto a trocar uma unidade de L por uma unidade de A. b) determinar a TMS em um ponto H da curva de indiferença, tal que L = 5. Resolução De acordo com a curva de indiferença, se L = 5, então: L A A A= ⇒ = ⇒ =- -1 15 1 5 Dessa forma, a TMS no ponto H(5,1/5) será: TMS A = = ( ) = 1 1 1 5 252 2/ Portanto, no ponto H(5,1/5), o consumidor está disposto a abrir mão de 25 unidades de L por uma de A. c) determinar a TMS em um ponto D da curva de indiferença, tal que A = 5. 62 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Resolução O ponto D é definido como L = A-1 = 5-1 =1/5, ou seja, D(5,1/5). Aplicando a fórmula da TMS obtida anteriormente: TMS A = = ( ) = 1 1 5 0 042 2 , Portanto, no ponto D(5,1/5), o consumidor está disposto a abrir mão de apenas 0,04 unidade de L por uma unidade de A. O gráfico a seguir mostra que quando o consumidor possui uma quantidade elevada de um produto relativamente ao outro, como no caso do ponto H, ele admite perder uma grande quantidade desse produto para ser recompensado pelo ganho de uma unidade do outro. Além disso, observa-se que à medida que se caminha para baixo, ao longo da curva de indiferença, a TMS decresce, tendendo a zero. TMS = 25 TMS = 1 TMS = 0,04 H D F A L 5 1/5 1 1,5 1 5 Figura 23 – Diferentes TMSs em uma curva de indiferença bem-comportada Preferências monotônicas Vimos que a TMS é decrescente para certos tipos de curvas de indiferença. Essas preferências são também chamadas de monotônicas ou estritamente convexas. Nesse tipo de preferência, a inclinação da curva de indiferença diminuirá, em valor absoluto, quando o consumidor aumentar o consumo do bem 1. A TMS será decrescente, pois à medida que o consumidor aumentar q1, a taxa à qual ele deseja trocar o bem 1 pelo bem 2 diminuirá (vide figura 22). 63 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MicroeconoMia eM concorrência Perfeita observação Preferências monotônicas ou estritamente convexas também são conhecidas como preferências bem-comportadas. Com preferências monotônicas, portanto, quanto mais o consumidor tiver de um bem, mais ele estará propenso a abrir mão de um pouco dele em troca de outro. A característica principal de curvas de indiferença monotônicas é que o consumidor deseja consumir cestas mais diversificadas, ou seja, ele tem preferência pela diversidade. Logo, a especialização não deverá ser a regra para o consumidor. Curvas de indiferença típicas Há diversos formatos de curvas de indiferença que mostram distintas combinações de bens. A seguir apresentamos alguns exemplos típicos dessas preferências: • Bens substitutos perfeitos: dois bens são substitutos perfeitos quando o consumidor aceita diminuir o consumo de um bem por outro bem à mesma taxa, ou seja, substituir certa quantidade do bem 2 pela mesma quantidade do bem 1 (∆q1 = ∆q2). Assim, o consumidor só se importa com o número total de bens e as curvas de indiferença são linhas retas com inclinação constante igual a -1. -∆q2/∆q1 = -1 TMS = -1 A B q 1 q 2 q 2 q 2 q 1 q 1 0 1 0 1 ∆q2 = ∆q1 ∆q1 = ∆q2 Figura 24 – Curva de indiferença: preferência entre bens substitutos perfeitos • Bens complementares perfeitos: são bens consumidos sempre em conjunto, ou seja, eles se complementam. Nesse caso, os dois bens só geram benefício quando consumidos em uma dada proporção fixa. Qualquer bem consumido em excesso a essa proporção não gera nenhum benefício adicional. Isso faz com que as curvas de indiferença tenham forma de “L” e com possibilidade de TMS nula ou infinita dependendo do ponto da curva 64 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II A TMS = 0 B C q 1 q 2 q 2 q 2 q 1 q 1 0 1 0 1 TMS → ∞ Figura 25 – Curva de indiferença: preferência entre bens complementares perfeitos • Bens neutros: um bem é neutro quando a quantidade adquirida de um bem não afeta o grau de satisfação do consumidor relativamente ao outro bem. Em ouras palavras, o consumidor não se importa com um tipo de bem. A curva de indiferença, nesse caso, toma a forma da figura a seguir, com TMS infinita em qualquer ponto da curva. A B q 1 q 2 q 2 q 2 q 1 0 1 0 TMS → ∞ Figura 26 – Curva de indiferença: bens neutros • Males: são tipos de bens que os consumidores desejam sempre em menor quantidade, em vez de maiores quantidades. A curva de indiferença será positivamente inclinada e a TMS será sempre positiva, porque menos quantidades de um mal aumentam a satisfação do consumidor. 65 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MicroeconoMia eM concorrência Perfeita A TMS > 0B q 1 q 2 q 2 q 2 q 1 q 1 0 1 1 0 Figura 27 – Curva de indiferença: preferência entre males • Saciedade: nesse caso, há uma cesta de consumo melhor que todas as outras para o consumidor, e quanto mais perto ele estiver dela, melhor ele estará, de acordo com suas preferências. Na figura a seguir, há uma quantidade de bens 1 e 2 (ponto A)que representa a completa satisfação para o consumidor: nesse ponto ele não deseja nem mais nem menos dos dois bens. A Ponto de saciedade q 1 q 2 q 2 q 1 0 0 Figura 28 – Curva de indiferença: preferências com saciedade • Preferências côncavas: tipo de preferência que mostra a propensão do consumidor à especialização do consumo de uma mercadoria. Na figura a seguir, o consumidor prefere apenas um de cada bem das cestas extremas. Um exemplo desse tipo seria um bem que provoque vício. Nesse caso, o desejo de substituir qualquer outra mercadoria por uma droga viciante poderia tornar-se maior à medida que fosse aumentando o consumo da droga. Por isso, a TMS para preferências côncavas é crescente. 66 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II A TMS > 0 Cesta média B q 1 q 2 q 2 q 1 0 0 Figura 29 – Curva de indiferença: preferências côncavas 3.2 restrição orçamentária Os consumidores escolhem sempre a melhor cesta de bens que podem adquirir, mas nem sempre podem escolher o que eles julgam melhor. A restrição orçamentária do consumidor identifica quais combinações de bens e serviços o consumidor pode comprar com um orçamento limitado, a preços determinados. Supondo que podemos observar os preços de dois bens de consumo 1 e 2 (p1 e p2, respectivamente), a quantidade consumida desses bens (q1 e q2) e o montante de renda que o consumidor tem para gastar com eles (R), a restrição orçamentária do consumidor é dada por meio da fórmula: p q p q R1 1 2 2+ = (3.3) saiba mais Restrições orçamentárias não necessariamente devem ser lineares. Intervenções governamentais (impostos, subsídios ou transferências de renda) ou benefícios trabalhistas tornam a restrição orçamentária não linear. A esse respeito, ver o capítulo 2 de: VARIAN, H. R. Microeconomia: uma abordagem moderna. 8. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2012. A restrição orçamentária do consumidor pode ser visualizada graficamente na figura a seguir. Este gráfico mostra que a restrição orçamentária requer que a quantidade de dinheiro (R) gasta nos dois bens não exceda a quantidade total de dinheiro que o consumidor dispõe para gastar. As cestas de consumo que o consumidor pode adquirir, portanto, são aquelas cujo custo não é maior que R. Por esse 67 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MicroeconoMia eM concorrência Perfeita aspecto, a cesta A não pode ser adquirida pelo consumidor dada a sua renda. Apenas as cestas B e C estariam disponíveis. O conjunto de cestas que custam exatamente R situa-se sobre a reta orçamentária (ou linha do orçamento). São essas cestas de bens (por exemplo, a B na figura a seguir) que esgotam a renda do consumidor. As cestas abaixo da linha do orçamento compõem o conjunto de possibilidades de consumo ou conjunto orçamentário. A C Linha do orçamento: p1q1 + p2q2 = R Inclinação: -p1/p2 Conjunto orçamentário B q 1 q 2 R/p2 R/p1 Figura 30 – Restrição orçamentária do consumidor para dois bens Rearranjando a equação (3.3) em termos de q2, obtemos: q R P p p q2 2 1 2 1= - (3.3) A equação (3.3) mostra quantas unidades do bem 2 o consumidor precisa consumir para satisfazer exatamente a restrição orçamentária se consumir q1 unidades do bem 1. Assim: • a quantidade q2 que o consumidor poderia comprar se gastasse todo o seu dinheiro no bem 2 é dada por R/p2; • a quantidade q1 que o consumidor poderia comprar se gastasse todo o seu dinheiro no bem 1 é dada por R/p1. Os interceptos horizontal e vertical medem, portanto, quanto o consumidor poderia obter caso gastasse toda sua renda nos bens 1 e 2, respectivamente. Para traçar a reta orçamentária, basta unir esses dois pontos por uma linha reta. A inclinação da reta orçamentária (-p1/p2) mede a taxa pela qual o mercado está disposto a “substituir” o bem 2 pelo bem 1. Portanto, diferenciando (3.3) em relação à q1, obtemos: ∂ ∂ = - q q p p 2 1 1 2 68 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Dessa forma, a inclinação da reta orçamentária mede o custo de oportunidade de se consumir o bem 1 relativamente ao bem 2. Variação na renda Quando os preços e renda variam, o conjunto de bens que o consumidor pode adquirir – o conjunto orçamentário – também varia. Um aumento ou uma redução na renda (de R para R’ ou R’’, respectivamente) irá modificar o intercepto da reta orçamentária, mas não acontecerá nada com a inclinação da reta, como na figura a seguir. Assim, o aumento ou a redução da renda provoca um deslocamento paralelo da reta para fora (caso tenha sido um aumento) ou para dentro (caso tenha sido uma redução). q 1 q 2 R’/p2 R’’/p2 -p1/p2 -p1/p2 -p1/p2 -∆R +∆R R/p2 R’/p1R/p1R’’/p1 R’’ < R < R’ Figura 31 – Efeito da variação na renda sobre a linha de restrição orçamentária Variação nos preços Quando o preço do bem 1 aumenta e tanto o preço do bem 2 quanto a renda permanecem fixos, o aumento de p1 não alterará o intercepto vertical, mas diminuirá a inclinação da reta orçamentária, uma vez que a razão p1/p2 decrescerá. Por outro lado, quando o preço do bem 1 cai e as demais variáveis (p2 e R) permanecem constantes, a queda de p1 não alterará o intercepto vertical, mas aumentará a inclinação da reta orçamentária, uma vez que a razão p1/p2 crescerá. O gráfico da figura 32 mostra exatamente esses efeitos. A figura 33, por sua vez, mostra os efeitos na linha de orçamento devido a alterações no preço do bem 2. 69 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MicroeconoMia eM concorrência Perfeita q 1 q 2 -p’’1/p2 -p1/p2 -p’1/p2 +∆p1 -∆p1 R/p2 R/p’1R/p1R/p’’1 p’1 < p1 < p’’1 Figura 32 – Efeito da variação em p1 sobre a linha de restrição orçamentária q 1 q 2 +∆p2 -∆p2 R/p2 R/p1 p’2 < p2 < p’’2 Figura 33 – Efeito da variação em p2 sobre a linha de restrição orçamentária Exemplo de aplicação Suponha que determinado consumidor utilize toda sua renda disponível mensal de R$ 100 na aquisição de dois produtos quaisquer. O primeiro tem preço unitário de R$ 10 e o segundo de R$ 20. a) escreva a equação da restrição orçamentária do consumidor em termos do bem 2. Resolução A equação da restrição orçamentária pode ser definida igualando-se a renda total ao custo de aquisição dos dois produtos, como na equação (3.3): p q p q R q q1 1 2 2 1 210 20 100+ = ⇒ + = 70 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Para obtermos a restrição orçamentária em termos de q2: q R P p p q q q q q2 2 1 2 1 2 1 2 1 100 20 10 20 5 0 5= - ⇒ = - ⇒ = - , b) caso o preço do primeiro produto tenha um aumento de 20%, qual a nova equação da restrição orçamentária? Resolução Um aumento de 20% em p1 torna o preço igual a $12: 10(1 + 0,2) = R$12 Assim, a nova equação da restrição orçamentária será: 12 20 100 100 20 12 20 5 0 6 1 2 2 1 2 1 q q q q q q + = = - ⇒ = - , c) suponha que, além do aumento de preço em p1, a renda do consumidor se reduza em 30%. Qual a nova equação da restrição orçamentária? Resolução Uma redução de 30% em R torna a renda igual a $70: 100(1 - 0,3)= R$70 Dessa forma, a nova equação da restrição orçamentária será: 12 20 70 70 20 12 20 3 5 0 6 1 2 2 1 2 1 q q q q q q + = = - ⇒ = -, , O gráfico a seguir ilustra os deslocamentos da restrição orçamentária após as variações em p1 e R. Os efeitos combinados de redução na renda e aumento de preços provocam uma diminuição no conjunto orçamentário do consumidor. 71 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MicroeconoMia eM concorrência Perfeita q 1 q 2 -p’’1/p2 -p1/p2 -p’1/p2 +∆p1 -∆R R/p2 = 5 R’/p2 = 3,5 R’/p’1 = 5,8 R/p’1 = 8,3 R/p1 = 10 Figura 34 – Deslocamentos da restrição orçamentária Restrição orçamentária para n bens A restrição orçamentária mostrou ser uma limitação imposta ao consumo pelo poder de compra do consumidor. Logo, ele não pode gastar mais do que possui em termos de renda, mas não necessariamente ele precisa esgotar sua renda no consumo dos bens. Dessa forma, podemos descrever a versão geral da equação da restrição orçamentária para n bens: p q p q p q R p q R n n i n i i 1 1 2 2 1 + + + ≤ ≤ = ∑ � (3.4) A aplicação da equação (3.4) pode ser muito difícil, uma vez que existem infinitos bens na economia. Entretanto, se desejamos estudar a demanda do consumidor por um bem específico (por exemplo, gastos com saúde), podemos considerar q1 como seu consumo de litros de leite e q2 como tudo o mais que ele gostaria de consumir, ou seja, um bem composto. Podemos, também, imaginar que o bem composto 2 é a quantidade de dinheiro que pode ser gasta nos outros bens e, assim, p2 = 1, considerando o preço da unidade monetária fixo e igual a $1. A restrição orçamentária (3.4), nesse caso, fica sendo: p1 q1 + q2 < R (3.5) Ou seja, a quantidade de dinheiro gasta no bem 1, p1 q1 , mais a quantidade de dinheiro gasta nos outros bens, q2 , não pode ser maior do que R. 72 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II 3.3 utilidade Vimos, no início, que as curvas de indiferença permitem descrever graficamente as preferências do consumidor, com base na hipótese de que ele é capaz de classificar suas alternativas de consumo. Utilidade é um índice numérico que representa a satisfação que um consumidor obtém com cada cesta de consumo situada sobre uma curva de indiferença (figura a seguir). Vestuário Alimentação U3 = 100 U2 = 50 U1 = 25 C A B Cesta A ≻ Cesta B ≻ Cesta C U3 > U2 > U1 Figura 35 – Curvas de indiferença e níveis de utilidade No gráfico, observamos a seguinte relação para as cestas de consumo: A ≻ B ≻ C com isso temos que U3 > U2 > U1. A utilidade, portanto, refere-se a um valor numérico que representa o “benefício” ou “bem-estar”: quanto maior esse valor, maior o grau de satisfação. Para retratar essa relação, lançaremos mão do conceito de função de utilidade – ou função-utilidade. A função-utilidade U(·) é a relação matemática que associa níveis de utilidade a cada cesta consumida sobre uma curva de indiferença, de modo que as cestas preferidas recebem os maiores números. Para exemplificar, vejamos os dados da tabela a seguir, que consideram o nível de utilidade de três cestas calculado de acordo com a fórmula: U(A, V) = A + 2V Tabela 5 – Nível de utilidade para cestas de consumo de alimentos e vestuário Cesta de consumo Quantidades consumidas do bem composto “Alimentos” (A) Quantidades consumidas do bem composto “Vestuário” (V) Nível de utilidade: U(A,V) = A + 2V C 8 3 14 D 6 4 14 E 4 4 12 73 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MicroeconoMia eM concorrência Perfeita Observa-se que a função de utilidade U(A, V) apresenta para esse consumidor um peso maior (o dobro) no consumo de vestuários. De acordo com os dados da tabela apresentada, as cestas C e D contribuem com o mesmo nível de utilidade para o consumidor, mesmo com quantidades diferentes de consumo de A e V. Funções de utilidade típicas Substitutos perfeitos: para dois bens substitutos perfeitos, o que interessa é a quantidade total de bens consumidos e não a sua qualidade. A função utilidade para esses tipos de bens é dada por: U(q1,q2) = aq1 + bq2; a,b > 0 onde a e b são parâmetros positivos que medem a importância dada pelo consumidor aos bens 1 e 2, respectivamente. Complementares perfeitos: para dois bens complementares perfeitos, o que interessa é o consumo em conjunto e, dessa forma, o acréscimo de uma unidade de um bem não fará diferença para o consumidor. A função utilidade para esses tipos de bens é dada por: U(q1,q2) = min{a(q1;q2)}; a> 0 onde a é um parâmetro (positivo) que representa a proporção em que cada bem é consumido. observação O operador min significa “escolha o menor valor dos dois números correspondentes a q1 e q2.” Preferências quase-lineares: nesse caso, a função-utilidade é linear com relação ao bem 2, mas possivelmente não linear com relação ao bem 1. Exemplos: U q q q q U q q q q 1 2 1 2 1 2 1 2 , , ln ( ) = + ( ) = + Preferências bem-comportadas: as preferências são consideradas “bem-comportadas” se apresentarem, ao mesmo tempo, as características de monotonicidade e convexidade. A função- utilidade mais comum que descreve essas preferências é a Cobb-Douglas: U q q q qa b1 2 1 2,( ) = onde a e b são parâmetros (positivos) que descrevem as preferências dos consumidores. 74 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Utilidade marginal A utilidade marginal (UMg) mede a satisfação adicional obtida mediante o consumo de uma quantidade adicional de um bem. À medida que se consome mais de uma determinada mercadoria, a satisfação adicional será cada vez menor. Portanto, a utilidade marginal do consumo de dois bens é a razão que mede a taxa de variação na utilidade com relação a uma pequena variação na quantidade consumida do bem 1, ou seja: UMg U q ii i = ∂ ∂ =; ,12 (3.6) Se um consumidor consome uma cesta de bens (q1, q2), a taxa de variação da utilidade para esse consumidor quando lhe é fornecido um pouco mais do bem 1 é chamada de utilidade marginal com respeito ao bem 1. Quando observamos UMg > 0, a preferência do consumidor pelas cestas que compõem a mesma curva de indiferença é considerada monotônica, ou seja, ele prefere sempre consumir mais desses bens. observação O conceito de utilidade marginal, bem como o florescimento da ideia de que os consumidores tomam decisões em termos marginais, foi sistematizado e quantificado na já citada obra de Marshall (1881). Exemplo de aplicação Seja a função de utilidade Cobb-Douglas especificada para o consumo de dois bens (x e y), como: U(x,y) = x1/2y2, qual a utilidade marginal para cada um desses bens? As preferências podem ser classificadas como monotônicas? Resolução Aplicando-se (3.6), a utilidade marginal em relação ao bem x é calculada da seguinte forma: UMg U x x y y x x = ∂ ∂ = = - 1 2 1 2 1 2 2 2 1 2 / / A utilidade marginal em relação ao bem y, por sua vez, é dada por: UMg U y x yy = ∂ ∂ = 2 1 2/ Como o consumidor consome quantidades positivas dos bens x e y, então temos que UMgx > 0 e UMgy > 0. 75 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MicroeconoMiaeM concorrência Perfeita Utilidade marginal decrescente É o princípio segundo o qual, à medida que se consome mais de determinada mercadoria, as quantidades consumidas geram incrementos menores de utilidade: ∂ ∂ < ∂ ∂ < UMg q UMg q 1 1 2 2 0 0ou Desse modo, depois de certo ponto, à medida que o consumo de um bem aumenta, a utilidade marginal daquele bem começará a diminuir. Exemplo de aplicação Suponha que a preferência de um consumidor qualquer por hambúrgueres (H) e por cerveja (C) possa ser representada pela seguinte função-utilidade quase-linear: U H C H C( , ) = + . Dessa forma: a) calcule as utilidades marginais de H e C: Resolução UMg U H H H UMg U C H C = ∂ ∂ = = = ∂ ∂ = - 1 2 1 2 1 1 1 2/ b) esse consumidor realmente acredita que é melhor consumir mais unidades de cada bem? Resolução Nesse caso, precisamos averiguar se as preferências são monotônicas. Para tanto, avaliamos se, ao aumentar as quantidades consumidas de H e C, a utilidade total também cresce. Pelo exemplo: UMgH > 0 UMgC > 0 Então, a preferência desse consumidor é monotônica, ou seja, ele prefere sempre mais unidades de H e C. c) esse consumidor possui utilidade marginal decrescente por hambúrgueres e por cerveja? 76 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Resolução ∂ ∂ = - = - < ∂ ∂ = - UMg H H H UMg C H C 1 4 1 4 1 0 0 3 2 3 2 / / Portanto, a UMgH é decrescente, ou seja, o acréscimo de unidades de H, aumenta a utilidade total, mas a taxas decrescentes. A UMgC, por sua vez, é constante: aumentos nas unidades consumidas de C aumentam a utilidade total sempre a mesma taxa. Utilidade marginal e Taxa Marginal de Substituição Vimos que a TMS de q2 por q1 é a taxa que o consumidor está disposto a abrir mão do bem 2 para obter mais do bem 1, mantendo o mesmo nível de preferência, ou seja: TMS q q = - ∂ ∂ 2 1 (3.7) Podemos relacionar o conceito de utilidade marginal ao problema de escolha por parte do consumidor. Seja a função-utilidade U(q1,q2), na qual q1 e q2 são as quantidades consumidas dos bens 1 e 2 que um consumidor habitualmente adquire. Para buscarmos a variação da função-utilidade em relação a cada um dos produtos, devemos investigar as relações ∂ ∂U q q q( , ) /1 2 1 e ∂ ∂U q q q( , ) /1 2 2. Assim, podemos escrever: UMg U q q q UMg U q q qe1 1 2 1 2 1 2 2= ∂ ∂ = ∂ ∂( , ) / ( , ) / (3.8) Dessa forma, ao longo de uma curva de indiferença, o nível de satisfação é constante, ou seja, a variação da utilidade ao longo da curva de indiferença é zero. Assim, se o aumento no consumo do bem 1, ∆q1, for compensado com uma redução no consumo do bem 2, ∆q2, a utilidade ficará constante (∆U = 0) e o consumidor permanecerá na mesma curva de indiferença. Para variações muito pequenas podemos descrever essa relação da seguinte forma: ∂ = ∂( ) + ∂ = ∂( ) + ∂ ∂( ) = - U UMg q UMg q UMg q UMg q UMg q UMg 1 1 2 2 1 1 2 2 1 1 2 0 ( ) ( ) (( )∂ = - ∂ ∂ q Umg Umg q q 2 1 2 2 1 Considerando que -∂ ∂q q2 1/ representa a taxa marginal de substituição do bem 2 pelo bem 1, conforme (3.7), segue que: 77 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MicroeconoMia eM concorrência Perfeita TMS Umg Umg = 1 2 (3.9) Portanto, a relação entre as utilidades marginais dos bens 1 e 2 é própria TMS. À medida que o consumidor desistir de quantidades maiores do bem 2 para obter quantidades adicionais do bem 1, a utilidade marginal de 1 cairá e a de 2 aumentará. Exemplo de aplicação Suponha a seguinte função-utilidade Cobb-Douglas para os bens x e y: U(x,y) = xy. Assim: a) determine o nível de utilidade quando x = 20 unidades e y = 5 unidades. Resolução Com x = 20 e y = 5, substituindo esses valores na função-utilidade dada: U(20,5) = 20 x 5 =100 b) calcular a TMS no ponto em que x = 20 e y = 5. Resolução Calculando as utilidades marginais de x e y a partir das expressões em (3.8), chegamos a: UMg U x y UMg U y x x y = ∂ ∂ = = ∂ ∂ = Aplicando a equação (3.9) e substituindo os valores de x e y: TMS Umg Umg y x = = = = 1 2 20 10 2 c) calcular a TMS quando o nível de utilidade é 200 e o consumo de x = 10 unidades. Resolução Quando U(x,y) = 200 e x = 10: 200 200 10 20= ⇒ = ⇒ =xy y y 78 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Aplicando novamente a equação (3.9) e substituindo os novos valores de x e y: TMS Umg Umg y x = = = = 1 2 20 10 2 É importante ressaltar que a TMS para preferências do tipo Cobb-Douglas depende exclusivamente da relação entre as quantidades consumidas dos dois bens. 3.4 o problema da escolha do consumidor O objetivo do consumidor é maximizar seu grau de satisfação com a escolha de quantidades de itens que compõem uma cesta de consumo, considerando o orçamento limitado que dispõe. Para resolver o problema do consumidor – a maximização de sua satisfação ou bem-estar –, devemos estar atentos a algumas condições: • o consumidor é racional, ou seja, prefere mais do que menos; • o consumidor está sempre disposto a escolher uma cesta de consumo sob uma curva de indiferença mais à direita possível. Maximizando o bem-estar do consumidor Quando são combinados a linha do orçamento e o mapa de curvas de indiferença, os consumidores maximizam seu grau de satisfação por meio da escolha da cesta (q1, q2). Esse ponto deve ser a tangente entre a linha do orçamento e a curva de indiferença. A cesta básica maximizadora do bem-estar do consumidor deverá satisfazer pelos menos as duas condições a seguir: • deverá estar sobre a linha do orçamento, ou seja, ele esgota sua renda no consumo da cesta de consumo; • a cesta de consumo maximizadora da satisfação deverá dar ao consumidor uma única combinação preferida de bens e serviços. A solução gráfica do problema do consumidor pode ser verificada na figura a seguir e, com ela, podemos averiguar que: • o consumidor pode tomar a decisão de adquirir as cestas A ou B que representam diferentes quantidades dos bens 1 e 2, q q e q qA A B B1 2 1 2, ,( ) ( ) . Os pontos A e B estão sobre a linha de orçamento e o recurso disponível atende as necessidades do consumidor; • no entanto, A e B estão sobre a curva de indiferença U0, com nível de satisfação inferior às outras curvas de indiferença. Além disso, essas cestas não cumprem o requisito de que devem ser a única combinação escolhida; • a curva de indiferença mais à direita possível é U2. Entretanto, as cestas que estão sobre essa curva (C e D) não respeitam a restrição orçamentária; 79 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MicroeconoMia eM concorrência Perfeita • a curva de indiferença U1 apresenta três cestas (E, F e G). As cestas E e F não atendem a restrição orçamentária. Apenas uma cesta representa a solução ótima do consumidor: aquela situada na curva de indiferença mais à direita e que tangencia em apenas um ponto a linha de orçamento. Portanto, a cesta situada no ponto G, que representa as quantidades consumidas q qG G1 2,( ) , é a que maximiza o bem-estar do consumidor. q 1 q 2 U2 U1 U0 q 2 q 1 q 1 q 1 q 2 q 2 A B G A GB A E F G B C D Figura 36 – Maximização do bem-estar – solução gráfica Portanto, o objetivo do consumidor é encontrar, dentro do conjunto orçamentário, a cesta de bens de consumo que esteja na curva de indiferença mais elevada. Caso tenhamos uma escolha ótima, as inclinações da curva de indiferença e da reta orçamentária devem ser iguais. No caso de serem diferentes, com a curva da indiferença cruzando a reta orçamentária, não estará no ponto ótimo. Quando os preços e a renda variam, a escolha do consumidor também varia, como vemos na figura a seguir. q 1 q 2 U2 U1 U0 q 1 q 1 q 2 q 2 G C C G A E F +∆R G B C D Figura 37 – Maximização do bem-estar – aumento na renda 80 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II A figura traz como exemplo a solução do problema do consumidor após uma elevação na sua renda. Assim, somente com um aumento na renda do consumidor (+∆R) será possível alcançar a cesta de consumo C, que é preferível a G por estar situada sobre uma curva de indiferença superior. 3.5 solução analítica do problema do consumidor Para resolver o problema do consumidor analiticamente, devemos ter conhecimento tanto da sua função-utilidade quanto de sua restrição orçamentária. Suponhamos então um consumidor que tenha uma função-utilidade dada por U(q1,q2), onde q1 e q2 são as quantidades consumidas dos bens 1 e 2. Os preços dessas mercadorias são, respectivamente, p1 e p2. Por hipótese, toda a renda R desse consumidor é destinada para o consumo desses dois bens. O objetivo é encontrar as quantidades q1 e q2 que maximizam a função-utlidade do consumidor (bem-estar), sujeita às condições de sua restrição orçamentária, ou seja: max ( , ) . . ,q q U q q s a p p q Rq 1 2 1 2 1 2 21 + = (3.10) A solução do problema (3.10) – conhecido matematicamente como problema de otimização condicionada – passa pela montagem de uma função de Lagrange (ou lagrangeano) . saiba mais A técnica dos multiplicadores de Lagrange são extremamente poderosas para resolver problemas de máximos e mínimos de funções com restrição. Para maiores detalhes, ver o capítulo 12 de: CHIANG, A. C.; WAINWRIGHT, K. Matemática para economistas. 4. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2004. A função de Lagrange para o problema (3.10) pode ser descrita da seguinte forma: L q q U q q R p q p q1 2 1 2 1 1 2 2, , ,λ λ( ) = ( ) + - -( ) onde λ reprsenta o multiplicador de Lagrange. As condições de primeira ordem (CPO) para o máximo da função U(q1,q2) podem ser obtidas a partir da aplicação das derivadas parciais da função L( , , )q q1 2 λ em relação a q1, q2 e λ: 81 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MicroeconoMia eM concorrência Perfeita ∂ ∂ = ∂ ( ) ∂ - = ∂ ∂ = ∂ ( ) ∂ - = ∂ ∂ = - L L L q U q q q p q U q q q p R p q 1 1 2 1 1 2 1 2 2 2 1 0 0 , , λ λ λ 11 2 2 0- =p q (3.11) Pela equação (3.8), podemos substituir os valores de ∂U(q1,q2)/∂ q1 e ∂U(q1,q2)/∂ q2 em (3.11) pelas respectivas utilidades marginais. Fazendo essa substituição e resolvendo ambas as equações para UMg1 e UMg2, obtemos: ∂ ∂ = - = ⇒ = ∂ ∂ = - = ⇒ = ∂ ∂ = - L L L q Umg p Umg p q Umg p Umg p R p 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 0 0 λ λ λ λ λ 11 1 2 2 0q p q- = (3.12) Fazendo a divisão dos dois primeiros resultados obtidos em (3.12), teremos: UMg UMg p p 1 2 1 2 = (3.13) Vimos pela equação (3.10) que a TMS é a relação entre as utilidades marginais. Portanto, no ponto ótimo, a relação entre as utilidades marginais será a mesma relação entre os preços: TMS UMg UMg p p = = 1 2 1 2 Portanto, esse é o ponto em que a curva de indiferença tangencia a restrição orçamentária, ou seja, quando analisamos o problema do consumidor por meio da solução analítica, estabelecemos que a solução ótima ocorre quando a TMS é igual aos preços relativos (a relação entre p1 e p2). Logo, fica demonstrado que a inclinação da reta orçamentária é exatamente igual a TMS. 82 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II saiba mais Para assegurar que esse ponto encontrado é um máximo, deveríamos verificar as condições de segunda ordem (CSO). No entanto, a variável λ é diferente das variáveis q1 e q2. Dessa forma, o procedimento para a confirmação do máximo seria a montagem de uma matriz hessiana orlada. Se o determinante dessa matriz for negativo, teremos um máximo. Esse procedimento formal não precisa ser aplicado em nosso exemplo, pois temos certeza de que os valores de q1 e q2 são sempre positivos. Para uma prova, veja o capítulo 12 de: CHIANG, A. C.; WAINWRIGHT, K. Matemática para economistas. 4. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2004. As condições de primeira ordem encontradas em (3.12) para a maximização do bem-estar do consumidor permitem encontrar, ainda, a seguinte relação: UMg p UMg p 1 1 2 2 = = λ (3.14) Ou seja, as utilidades marginais por unidade de preço de cada produto devem ser iguais entre si. Já o multiplicador de Lagrange λ representa a utilidade marginal da renda, isto é, o quanto altera a satisfação do consumidor para cada unidade adicional de renda que ele auferir. Essa análise pode ser extendida para um número maior de produtos. Para o caso de n produtos, a condição de primeira ordem para maximização da utilidade do consumidor será: UMg p UMg p UMg p n n 1 1 2 2 = = = =� λ (3.15) Portanto, os resultados encontrados em (3.14) e (3.15) significam dizer que as utilidades marginais por unidade de preço de cada produto devem ser constantes e iguais entre si. Exemplo de aplicação Suponha que uma determinado consumidor deseja adquirir, com sua renda total disponível, quantidades de ingressos para assistir competições de basquetebol (x) e atletismo (y) nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. A função-utilidade dele é bem comportada – do tipo Cobb-Douglas – com o seguinte formato: U(x,y) = xy. O preço da entrada para o basquetebol (px) é R$ 14 e para o atletismo, (py), R$ 4. A renda disponível R de R$ 56 será toda empregada na compra dos ingressos. Qual a quantidade de ingressos esse consumidor irá adquirir? 83 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MicroeconoMia eM concorrência Perfeita Resolução A resolução do problema da escolha desse consumidor será feita analiticamente, ou seja: max ,x y xy s.a. 14x + 4y = 56 A maximização da função-utilidade pode ser feita por meio do multiplicador de Lagrange. O lagrangeano desse problema será: L x y xy x y, ,λ λ( ) = + - -( )56 14 4 As CPOs para o máximo dessa função serão: ∂ ∂ = - = ⇒ = ∂ ∂ = - = ⇒ = ∂ ∂ = - - = L L L x y y y x x x y 14 0 14 4 0 4 56 14 4 0 λ λ λ λ λ Substituindo na terceira CPO os resultados de y e x encontrados nas duas primeiras equações, teremos: 56 14 4 4 14 0 0 5 - ⋅ - ⋅ = = λ λ λ , Substituindo agora o valor de λ nas duas primeiras equações da CPO, podemos obter: y x = ⋅ = = ⋅ = 14 0 5 7 4 0 5 2 , , Portanto, o consumidor irá adquirir com a renda de R$ 56, 7 ingressos para o atletismo e 2 ingressos para o basquetebol. Exemplo de aplicação A função de utilidade de um consumidortípico no consumo dos bens x e y é U x y xy x y( , ) = + + 2 . Sabendo-se que os preços px e py desses bens são ambos positivos, podemos classificá-los como bens substitutos ou complementares? 84 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Resolução Ao invés de utilizarmos o lagrangeano, a resolução do problema poderá ser efetuada a partir da TMS expressa na equação (3.13). Para tanto, precisamos obter as utilidades marginais de x e y: UMg U x y UMg U y x x y = ∂ ∂ = + = ∂ ∂ = + 1 2 O preço relativo do bem x em relação ao bem y é px/py. Então, aplicando a equação (3.13): Umg Umg p p y x p p x y x y x y = ⇒ + + = 1 2 Adicionando a equação da restrição orçamentária, obtemos o seguinte sistema: y x p p p x p y R x y x y + + = + = 1 2 Resolvendo esse sistema para x e y, obtemos as seguintes resultados: x R p p p y R p p p x y x x y y = - + = - - 2 2 2 2 Essas equações são também chamadas de funções de demanda. Podemos verificar pelas funções que x aumenta quando py aumenta e y aumenta quando px cresce. Logo, os bens x e y são substitutos entre si. Soluções de canto Uma solução de canto ocorre quando o consumidor opta por soluções extremas, comprando apenas um tipo de bem (especialização no consumo). Isso ocorre quando as curvas de indiferença são tangentes ao eixo horizontal e/ou ao eixo vertical. Nesse caso, há apenas um ponto em que a linha de restrição orçamentária é tangenciada por uma curva de indiferença, ou seja, em que a TMS é igual aos preços relativos (p1/p2). Entretanto, esse ponto não pertence à curva de indiferença mais distante da origem que tangencia a restrição orçamentária, mas à curva de indiferença mais próxima da origem que tem ponto em comum com a restrição orçamentária, como vemos na figura a seguir. 85 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MicroeconoMia eM concorrência Perfeita q 2 q 1 U2U1 A U0 q 1 A Figura 38 – Maximização do bem-estar – solução de canto Exemplo de aplicação Natália planeja comprar artigos de beleza (x) e de vestuário (y) com sua renda disponível R de R$ 10. A função-utilidade dela é quase-linear, representada pela seguinte especificação: U(x,y) = xy +10x. Os preços unitários dos artigos de beleza e de vestuário são, respectivamente, px = 1 e py = 2. Qual a cesta ótima de consumo da Natália? Resolução O problema da escolha da consumidora pode ser representado como: max ,x y xy x+10 s.a. 1x + 2y = 10 As utilidades marginais dos bens x e y serão dadas por: UMg U x y UMg U y x x y = ∂ ∂ = + = ∂ ∂ = 10 O preço relativo do bem x em relação ao bem y é px/py = 1/2. Aplicando a equação (3.13): Umg Umg p p y x x yx y x y = ⇒ + = ⇒ = + 10 1 2 2 20 86 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Pela equação da restrição orçamentária sabemos que: 1 2 10 10 2x y x y+ = ⇒ = - Igualando os dois resultados obtidos para x, podemos encontrar a quantidade demandada de y: 2 20 10 2 2 5 y y y + = - = - , A quantidade demanda de x, por sua vez, será: x = - -( ) =10 2 2 5 15, Portanto, a solução algébrica sugere uma compra negativa para o bem y e isso não é possível! A solução então passa pelo consumo nulo de y. Observe na tabela a seguir a utilidade alcançada pela consumidora para diversas quantidades consumidas de x considerando y = 0. Tabela 6 – Possibilidades de consumo em um caso de solução de canto Quantidades de artigos de beleza (x) Quantidades de artigos de vestuário (y) Utilidade: U(x,y) = xy + 10x 8 0 80 10 0 100 12 0 120 Qual a quantidade de x que deve ser escolhida? Pela restrição orçamentária, quando y = 0, temos que toda a renda da consumidora passará a ser utilizada para consumo das seguintes quantidades de x: 1x + 2(0) = 10 ⇒ x = 10 Portanto, a solução ótima da consumidora será x = 10 e y = 0, representada pelo ponto A no gráfico a seguir. q2 q110 A 5 U0 = 80 U1 = 100 U2 = 120 Figura 39 – Solução de canto 87 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MicroeconoMia eM concorrência Perfeita Podemos observar, entretanto, que na cesta A(10,0): UMg y UMg x x y = + = + = = = 10 0 10 10 10 Calculando a TMS a partir de 3.13: TMS Umg Umg p p x y x y = = = > = 10 10 1 1 2 Logo, a curva de indiferença no ponto A é mais inclinada que a restrição orçamentária. Nesse caso, o consumidor gostaria de substituir artigos de vestuário por artigos de beleza. No entanto, nenhuma substituição extra é possível, pois nenhum artigo de vestuário é consumido em A. 4 Curva de demanda e exCedenTe do Consumidor Explicamos anteriormente: • como os consumidores escolhem a cesta de mercado na curva de indiferença mais alta que tangencia sua linha de orçamento; • como a linha de orçamento se desloca em resposta a mudanças na renda e no preço. Agora mostraremos como a curva de demanda de um consumidor individual é determinada a partir da análise de equilíbrio do consumidor, ou seja, de suas escolhas em face de suas preferências e a uma restrição orçamentária. 4.1 Funções de demanda Função de demanda é aquela que relaciona a escolha ótima do consumidor – as quantidades demandadas ótimas que maximizam seu bem-estar – com os diferentes valores de preços das mercadorias e renda. Assim, supondo-se que o consumidor tenha à disposição uma renda para adquirir os bens 1 e 2, pode-se dizer que as quantidades demandadas de cada bem (q1, q2) são funções (fd) dos preços (p1, p2) e da renda (R), ou seja: q f p p R e q f p p Rd d1 1 1 2 2 2 1 2= =( , , ) ( , , ) (4.1) As funções em (4.1) são as soluções para o sistema (3.10), proposto anteriormente, que resolve o problema de escolha do consumidor. Portanto, q1 e q2 são as funções de demanda pelos bens 1 e 2, respectivamente. 88 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II observação Essas funções são conhecidas, também, como funções de demanda marshalliana. Elas se diferenciam das funções de demanda hicksiana, que tomam a forma de q h p p Ud1 1 1 2 0= ( , , ) e q h p p U d 2 2 1 2 0= ( , , ). Função de demanda Cobb-Douglas Seja a função-utilidade Cobb-Douglas para os bens x e y dada por: U x y x ya b( , ) = (4.2) e a restrição orçamentária dada por: p x p y Rx y+ = (4.3) A função-utilidade Cobb-Douglas pode ser linearizada aplicando logaritmo natural dos dois lados de (4.2): observação Sempre que uma determinada função for passível de transformação monotônica, uma linearização dela será possível. Escolhemos aqui, como transformação monotônica, a extração do logaritmo de base natural (ln x) da função, mas também é possível a aplicação de logaritmos de qualquer base (loga x). ln ( , ) ln ln ( , ) ln ln log log log log U x y x y U x y a x b y x y x y a b a a a a = ( ) = + ⋅ = + xx y x y x m x a a a m a / log log log log = - = Assim, o problema de escolha do consumidor pode ser descrito da seguinte forma:maxln ( , ) ln ln . ,x y x y U x y a x b y s a p x p y R = + + = 89 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MicroeconoMia eM concorrência Perfeita Para resolver o sistema basta aplicar o lagrangeano, conforme visto anteriormente, e obter as condições de primeira ordem: L x y a x b y R p x p yx y, , ln lnλ λ( ) = +( ) + - -( ) As CPOs para o máximo dessa função serão: ∂ ∂ = - = ⇒ = ∂ ∂ = - = ⇒ = ∂ ∂ = - - = L L L x a x p x a p y b y p y b p R p x p y x x y y x y λ λ λ λ λ 0 0 0 Substituindo os resultados para x e y das duas primeiras CPOs na terceira equação, obtemos: R p a p p b p R a b a b R x x y y - - = = + = + λ λ λ λ λ 0 Substituindo o valor de λ nos resultados das duas primeiras CPOs e rearranjando os termos, chegamos à função de demanda Cobb-Douglas pelo bem x: x a a b R p x a a b R p x x = + ⇒ = + (4.4) onde a a b+ é a participação fixa de gasto com o bem x. Por sua vez, a função de demanda Cobb-Douglas pelo bem y é dada por: y b a b R p y b a b R p y y = + ⇒ = + (4.5) onde b a b+ é a participação fixa de gasto com o bem y. É possível demonstrar que a soma das participações nos gastos com os bens x e y deve ser igual a 1 (ou seja, 100%): a a b b a b a b a b+ + + = + + =1 90 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Portanto, nos casos de função-utilidade Cobb-Douglas, em suas funções de demanda – equações (4.4) e (4.5) –, a quantidade demandada de cada um dos bens depende da participação de cada item de consumo no orçamento do consumidor, definido pelos coeficientes a e b. Por outro lado, a parcela de renda despendida com a aquisição de um dos bens – R/px e R/py – independe do preço do outro bem. Exemplo de aplicação As preferências de um consumidor que adquire apenas dois bens, x e y, serão representadas pela seguinte função-utilidade-Cobb Douglas: U x y x y( , ) / /= 2 3 1 3 . Caso o consumidor possua renda total disponível de R$ 300, o preço do bem x seja R$ 5 e o preço do bem y igual a R$ 10, qual o equilíbrio ótimo desse consumidor? Resolução Para resolver esses problema, considerando a função-utilidade Cobb-Douglas, basta utilizar as funções de demanda demonstradas em (4.4) e (4.5): x a a b R p y b a b R p x y = + = + = = + = + = 2 3 2 3 1 3 300 5 40 1 3 2 3 1 3 300 10 10 Observe que as quantidades x = 40 e y = 10 atendem à restrição orçamentária do consumidor: p x p y Rx y+ = ⋅ + ⋅ =4 40 10 10 300 Outras funções de demanda típicas As funções de demandas mais conhecidas, derivadas das preferências do consumidor típicas vistas anteriormente, são as seguintes: • preferências quase-lineares: U(x,y) = x + v(y) Sempre que a função de utilidade for quase-linear, a quantidade demandada de um bem dependerá exclusivamente dos preços relativos, não sendo afetada pela renda do consumidor. Um exemplo é a função-utilidade especificada como: U(x,y) = x + ln(y) 91 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MicroeconoMia eM concorrência Perfeita Para esse caso, as funções de demanda para os bens x e y serão, respectivamente: x R p p x x= - (4.6) y p p x y = (4.7) • substitutos perfeitos: U(x,y) = x + y No caso de bens substitutos perfeitos existem dois casos possíveis para a função de demanda: Sep p x R p y x y x< ⇒ = = 0 (4.8) Sep p x y R p x y y > ⇒ = = 0 (4.9) Portanto, todas as quantidades dos bens x e y que satisfazem a restrição orçamentária serão uma escolha ótima, ou seja, o consumidor não se importará entre comprar um ou outro. Nesse caso, a curva de indiferença e a restrição orçamentária coincidem. • complementares perfeitos: U(x,y) = min{x,y} No caso dos bens complementares perfeitos, a escolha tem que se situar sempre na diagonal, em que o consumidor compra quantidades iguais de ambos os bens, não importando quais sejam os preços. Como os dois bens são consumidos sempre em conjunto, é como se o consumidor gastasse todo o seu dinheiro em um único bem cujo preço fosse px + py. Assim, a função de demanda torna-se: x y R p px y = = + (4.10) 4.2 Curva de demanda e suas propriedades A curva de demanda, como visto anteriormente, mostra a relação entre a quantidade de um bem que o consumidor adquire em função do preço desse bem. Quanto mais baixo o preço do produto maior será seu nível de utilidade. Desse modo, o poder aquisitivo do consumidor é aumentado. Variações de preço de um bem – por exemplo, do bem 1, mantido o preço do bem 2 constante, como na figura a seguir – provocam deslocamentos da restrição orçamentária. A partir dos diversos níveis de 92 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II utilidade do consumidor é possível obter uma curva de demanda. O consumidor maximiza sua utilidade em cada ponto da curva da demanda (pontos F, G e H da figura), ao satisfazer a condição de que a taxa marginal de substituição do bem 1 pelo bem 2 iguale a razão entre os preços desses produtos (pontos A, B e C da Figura 41). A linha preço-consumo na figura apresenta as combinações maximizadoras de utilidades de dois bens pelo consumidor, conforme o preço de um deles se modifica. Em virtude do consumidor estar maximizando a utilidade, a TMS cai à medida que o consumidor se move para baixo ao longo da curva de demanda. q1 q1 q2 p1 $2,00 $1,00 $0,50 U2 Queda de preço para $0,50 Aumento de preço para $2,00 Linha preço-consumo U1 U0 4 4 4 5 6 A F G H Curva de demanda individual 12 12 B C 16 16 Figura 40 – Maximização do bem-estar e curva de demanda individual – variação nos preços de um bem Lembrete Curva de demanda individual: curva que relaciona a quantidade de um bem que determinado consumidor comprará dado o preço desse bem. Se a renda do consumidor variar positivamente e os preços dos bens se manterem fixos, como na figura a seguir, a reta orçamentária se deslocará para a direita, paralelamente à reta original. Logo, se a renda aumenta, ele irá consumir mais unidades de cada produto. Caso a renda do consumidor diminua, ocorre o contrário, a reta orçamentária se desloca para a esquerda, paralelamente à reta original. Assim, se a renda está em queda, ele irá consumir menos unidades de cada produto. 93 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MicroeconoMia eM concorrência Perfeita q1 q1 q2 p1 $1,00 Aumento de renda Queda de renda Linha renda-consumo U1 U2 U0 4 4 3 5 7 A F G H Curva de demanda individual 10 10 B C 16 16 Figura 41 – Maximização do bem-estar e curva de demanda individual – variação na renda Variações na renda, portanto, mantidos constantes os preços dos bens, fazem com que os consumidores alterem suas escolhas de cestas de consumo (pontos A, B e C da figura anterior). A linha renda-consumo apresenta as combinaçõesque maximizam a utilidade dos dois bens, conforme se altera a renda do consumidor, mantidos os preços dos bens constantes. Dessa forma, podem ser provocados deslocamentos da curva de demanda para direita ou para a esquerda (pontos F, G e H da figura anterior) em resposta a variações na renda. Relações entre demanda e renda A linha renda-consumo vista acima representa a relação entre demanda e renda, mantidos os preços constantes. Em alguns casos, os bens podem ser classificados de acordo com a inclinação da linha renda-consumo. • bens normais: no caso de dois bens normais, a linha renda-consumo tem inclinação positiva, como vemos na figura a seguir. Nesse caso, a quantidade demandada dos dois bens aumenta quando há elevação na renda. 94 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II q1 q2 Linha renda-consumo > 0 U1 U2 A B +∆R q 2 q 2 q 1 q 1 B A A B ⦛ Figura 42 – Efeito de aumento na renda nas quantidades demandadas: bens 1 e 2 normais Quando a curva de renda-consumo apresenta uma inclinação positiva, portanto, a quantidade demandada aumenta com a renda, e a elasticidade-renda da demanda é positiva. Quanto maiores forem os deslocamentos para a direita, maior será a elasticidade-renda da demanda. Sendo assim, os bens podem ser descritos como normais: os consumidores desejam adquirir mais desses bens à medida que suas rendas aumentam. • bens inferiores: no caso de um dos bens ser inferior, a linha renda-consumo apresenta inclinação negativa, como vemos no gráfico a seguir. Desse modo, a demanda de um dos bens cai e do outro bem sobe com a elevação da renda. q 1 q 2 U2 U1 q 2 q 1 q 1 q 2 B B A A A +∆R B Linha renda-consumo > 0⦛ Figura 43 – Efeito de aumento na renda nas quantidades demandadas: bem 1 é inferior 95 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MicroeconoMia eM concorrência Perfeita Em alguns casos, a quantidade demandada cai à medida que a renda dos consumidores aumenta. Nesse caso, a elasticidade-renda da demanda é negativa. O termo “inferior” significa que o aumento da renda causa redução do consumo do outro bem. Assim, se for apresentada ao consumidor uma cesta de consumo de dois bens e ele gastar sempre toda a sua renda com apenas um deles, o outro bem será classificado como inferior. Os dois bens, contudo, não podem ser inferiores ao mesmo tempo. A classificação de um bem quanto à renda pode diferir em razão de outras variáveis como preferências, localização, características demográficas e nível de renda. Um bem como carne de segunda pode ser inferior para consumidores de nível de renda mais alto. Por outro lado, se esse consumidor estiver situado nos estratos mais baixos de renda, esse bem poderá ser classificado por ele como normal. Dessa forma, é possível traçar uma linha renda-consumo quando o bem 1 é inferior para determinados níveis de renda e normal para outros níveis de renda, como vemos na figura a seguir. q 1 q 2 Bem 1 é inferior Bem 1 é normal Linha renda- consumo Figura 44 – Linha renda-consumo: bem 1 é inferior ou normal dependendo do nível de renda Exemplo de aplicação João precisa decidir quais as quantidades que deve consumir entre dois bens: itens alimentícios (x) e artigos de vestuário (y). A função-utilidade dele é do tipo Cobb-Douglas, representada como U(x,y) = xy. As utilidades marginais são, respectivamente, UMgx = y e UMgy = x. O preço dos itens alimentícios é px; o preço dos artigos de vestuário, por sua vez, é py; e a renda é R. Mostre que a curva de demanda por alimentos é x = R/(2Px) e que x trata-se de um bem normal. Resolução Sabemos que a cesta de consumo ótima que representa a escolha do consumidor deve satisfazer duas condições. Em primeiro lugar, uma cesta ótima está localizada: pxx + pyy = R 96 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Em segundo lugar, a condição de tangência da curva de utilidade deve ser satisfeita. Sabemos, também, que o ponto de tangência é dado por: Umg Umg p p x y 1 2 = ou que dadas as utilidades marginais apresentadas no problema: y x p p y x p p x y x y = ⇒ = Substituindo o resultado no valor de y da restrição orçamentária, obteremos: p x p x p p Rx y x y + = Resolvendo a equação em termos da quantidade demandada de alimentos x, chegamos a: p x xp R xp R x R px x x x + = ⇒ = ⇒ =2 2 que é a equação da curva de demanda de itens alimentícios. Para averiguar se x é um bem normal, basta verificar se a demanda por esses bens varia no mesmo sentido da renda. Sendo assim, é fácil observar que a quantidade demandada de x aumenta com a elevação de R e diminui com a queda de R. Portanto, x é um bem normal. Curva de Engel A curva de Engel é a descrição gráfica que mostra a relação entre a renda e a quantidade demandada de determinado bem. Essa relação é demonstrada nos gráficos das figuras a seguir. Quando a curva de Engel apresenta uma inclinação positiva (figura 45), a quantidade demandada de um bem aumenta com a renda, e a elasticidade-renda da demanda é positiva. Quanto maior for o deslocamento para a direita, maior será a elasticidade-renda da demanda. Dessa forma, os dois bens constantes no painel superior da figura 45 são descritos como normais: o consumidor deseja adquirir mais desses bens à medida que sua renda aumenta. Por outro lado, quando a curva de Engel tem inclinação negativa (figura 46), a quantidade demandada do bem 1 cai à medida que a renda dos consumidores aumenta, e a elasticidade-renda da demanda é negativa. Nesse caso, o produto que apresenta queda na quantidade demandada é classificado como bem inferior. 97 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MicroeconoMia eM concorrência Perfeita q1 R0 R1 q1 q2 R Linha renda-consumo U1 U0 A A’ B’ B q 1 q 1 q 1 q 1 q 2 q 2 A A B B B A Curva de Engel > 0⦛ +∆R Figura 45 – Curva de Engel: bens normais q1 R0 R1 q1 q2 R Linha renda-consumo U1 U1 U0 A A’ B’ B q 1 q 1 q 1 q 1 q 2 q 2 A A B B B A Curva de Engel > 0⦛ +∆R Figura 46 – Curva de Engel: bem 1 inferior 4.3 efeito substituição e efeito renda Vimos anteriormente que a linha preço-consumo representa a união de todos os pontos de equilíbrio possíveis de se obter com diferentes preços para determinado bem. A inclinação da linha preço-consumo também permite classificar o bem em decorrência de variações no seu preço. O efeito de uma variação do preço sobre a quantidade demandada de uma mercadoria pode ser dividido em duas partes: o efeito- renda e o efeito-substituição. Efeito renda O efeito renda ocorre quando as variações na quantidade demandada de um determinado bem 2 são causadas exclusivamente por variações no poder aquisitivo dos consumidores decorrentes de uma variação no preço do bem 1. Em outras palavras, o fato de um dos bens ter se tornado barato ocasionar um aumento no poder de compra dos consumidores. O efeito renda pode ser positivo ou negativo. • Efeito renda positivo: neste caso, poder aquisitivo e quantidade demandada são diretamente relacionadas. Ou seja, uma variação no poder aquisitivodecorrente de uma alteração no 98 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II preço do bem 1 causa uma variação na quantidade demandada na mesma direção. Por exemplo, um aumento no poder aquisitivo devido a uma redução no preço do bem 1 causa um aumento da quantidade demandada do bem 2, e vice-versa, uma diminuição no poder aquisitivo devido a um aumento no preço do bem 1 causa uma diminuição da quantidade demandada do bem 2. • Efeito renda negativo: aqui, renda e quantidade demandada são inversamente relacionadas. Quando o efeito renda é negativo as variações no poder aquisitivo devidas a uma alteração no preço do bem 1 provocam variações na quantidade demandada do bem 2 em direção oposta. Por exemplo, um aumento no poder aquisitivo decorrente de uma redução no preço do bem 1 causa uma diminuição da quantidade demandada do bem 2, e vice-versa, uma diminuição no poder aquisitivo devida a um aumento no preço do bem 1 causa um aumento da quantidade demandada do bem 2. Efeito substituição O efeito substituição corresponde à modificação no consumo de um determinado bem associado à variação em seu preço, mantendo-se constante o nível de utilidade. Esse efeito, portanto, capta a modificação no consumo de um bem, em consequência da variação no seu preço que o torna relativamente mais caro (ou mais barato) que o outro bem. De modo geral, os consumidores tenderão a comprar mais do bem que se tornou mais barato e menos das mercadorias que se tornarão relativamente mais caras. Por isso, o efeito substituição é sempre positivo, isto é, qualquer que seja o bem, o efeito substituição implica uma relação direta entre preço de um bem e a quantidade demandada do outro bem. Portanto, é possível decompor a variação do poder aquisitivo, seja devido a uma variação no preço de um dos bens, seja devido a uma variação na renda real, em efeito substituição e efeito renda. saiba mais Utilizaremos neste livro-texto a abordagem de Hicks (gráfica e analítica) para apurar a compensação da demanda devido a uma variação no poder aquisitivo. No entanto, existe também a abordagem de Slustky. Para uma avaliação dessa técnica e a comparação com a abordagem de Hicks, ver o capítulo 6 de: VARIAN, H. R. Microeconomia: uma abordagem moderna. 8. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2012. 99 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MicroeconoMia eM concorrência Perfeita Lembrete Demanda compensada é aquela na qual só existe efeito substituição, não possui efeito renda. Portanto, toda demanda compensada é decrescente. O efeito preço total (EP) representa a soma do efeito-renda (ER) e do efeito-substituição (ES), ou seja: EP = ES + ER (4.11) Exemplo de aplicação Seja a função-utilidade de um consumidor dada pela expressão U(x,y) = x3y. Esse consumidor gasta toda a sua renda (R) de R$ 16 na compra de dois produtos x e y, cujos preços são px = $2 e py = $1. Determine: a) o nível de utilidade do consumidor quando ele maximiza seu bem-estar. Resolução O consumidor deverá maximizar sua utilidade sujeito à restrição orçamentária. Observe que a função-utilidade dada é Cobb-Douglas. Portanto, o problema de escolha é solucionado utilizando-se as funções de demanda demonstradas em (4.4) e (4.5): x a a b R p y b a b R p x y = + = + = = + = + = 3 3 1 16 2 6 1 3 1 16 1 4 Usando esses resultados na função-utilidade, o nível de utilidade do consumidor será: U 6 4 6 4 8643,( ) = ⋅ = b) o efeito-renda, o efeito-substituição e o efeito-preço total para queda de 50% no preço do produto x. Resolução Os efeitos-renda e substituição são obtidos a partir da separação da variação da quantidade demanda do bem x do aumento do poder aquisitivo decorrente da queda do preço do bem. Matematicamente, isso significa dizer que devemos buscar a renda mínima do consumidor no consumo dos bens x e y (pxx + pyy = R), que mantém o nível de satisfação de U(x,y) = 864 obtido 100 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II na parte a) do exercício. Essa é também a definição da função de demanda hicksiana. Desse modo, definimos esse problema como: minR = pxx + pyy = R s.a. U(x,y) = 864 Como o preço de x é 50% menor, ou seja, px = $1, e U(x,y) = x3y, então podemos reescrever o problema de minimização da renda da seguinte forma: minR = 1x + 1y s.a. x3y = 864 A solução de problemas de minimização com restrição tem o mesmo arcabouço da solução de problemas de maximização com restrição, ou seja, devemos desenvolver uma função de Lagrange. O lagrangeano para esse problema será: L x y x y x y, ,λ λ( ) = + + -( )1 1 864 3 As CPOs para o mínimo dessa função serão: ∂ ∂ = - = ⇒ = ∂ ∂ = - = ⇒ = ∂ ∂ = - = L L L x x y y x y x x x y 1 3 0 1 3 1 0 1 864 0 2 2 3 3 3 λ λ λ λ λ Substituindo na primeira CPO o resultado da segunda CPO, obteremos: y x x x y= ⇒ = 1 1 3 3 3 2 Usando esse resultado para x na última CPO, chegaremos a: 864 3 0 864 27 2 3784143 4- ( ) = ⇒ = ⇒ =y y y y , � Por sua vez, a quantidade demandada de x será: x y x x= ⇒ = ( )⇒ =3 3 2 378414 7 135243, ,� � 101 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a MicroeconoMia eM concorrência Perfeita Portanto, as quantidades demandadas de x e y são, aproximadamente: y = 2,38 e x = 7,14. Com isso, a renda mínima necessária para consumir essas quantidades será: R = ( ) + ( ) =1 7 14 1 2 38 9 52, , , Assim, o efeito renda será o resultado do ganho (variação) no poder aquisitivo devido à redução de 50% no preço do bem x. Logo: ER = ∆R = 16 - 9,52 = 6,48 O efeito-substituição do bem x, por sua vez, será a diferença entre o consumo de x calculado nos itens a) e b), ou seja: ESx = ∆x = 7,14 - 6 =1,14 Concluímos, assim, que: • o efeito renda é negativo, pois o aumento no poder aquisitivo decorrente da redução no preço de x causou uma diminuição da quantidade demandada de y; • o efeito-substituição para o bem x é positivo. Por fim, o efeito preço total será: EP = ES + ER = 1,14 + 6,48 = 7,62 4.4 Bem normal, bem inferior e bem de Giffen Vimos que o efeito renda (ER) ocorre quando após uma queda no preço de um bem (digamos do bem 1), o consumidor é beneficiado, pois seu poder aquisitivo em relação àquele produto (que ficou mais barato) aumenta. O efeito substituição (ES), por sua vez, ocorre quando após o preço do bem 1 diminuir em relação ao bem 2 – ou seja, em relação ao bem 1, o bem 2 ficou mais caro – o consumidor diminui a demanda pelo produto mais caro e aumenta o consumo do mais barato. Por fim, o efeito total ou efeito preço (EP) é a soma dos efeitos substituição e renda devido à variação na quantidade consumida do bem que teve alteração no preço, como vimos na equação (4.11). Essas definições permitem classificar os bens quanto às variações no poder aquisitivo devido a mudanças nos preços. A partir dessas alterações, os bens são habitualmente classificados como normais, inferiores e de Giffen. Bem normal Um bem é normal quando tanto o efeito substituição (ES) quanto o efeito renda (ER) têm sinais contrários ao da variação no preço. Por exemplo, se o preço do bem 1 cai (variação negativa) 102 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão
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