Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Texto Complementar Disciplina: Monitoramento e Controle da poluição Ambiental Professor: Claudia Ferreira dos Santos Ruiz Figueiredo A trajetória de Cubatão – Do Vale da Morte à exemplo de controle ambiental O Brasil passou por dois fenômenos que merecem destaque quando se fala de ambientes urbanos: a rápida industrialização, experimentada a partir do pós-guerra, e a urbanização acelerada que se seguiu. No curso desse processo, reflexo das políticas desenvolvimentistas então vigentes, uma série de regras de proteção ao meio ambiente e ao cidadão foram desrespeitadas ou mesmo desconsideradas. Entre as décadas de 50 e 90, a parcela da população brasileira que vivia em cidades cresceu de 36% para 75%. Não obstante os evidentes desequilíbrios ambientais decorrentes desse processo, os espaços urbanos não receberam, na mesma proporção, a devida atenção por parte da mídia e dos governantes. Quando se trata do urbano, a complexidade do que se denominam problemas ambientais exige tratamento especial e transdisciplinar. As cidades não são apenas espaços onde se evidenciam problemas sociais. O próprio ambiente construído desempenha papel preponderante na constituição do problema, que transcende ao meio físico e envolve questões culturais, econômicas e históricas. Os grandes assentamentos urbanos concentram também os maiores problemas ambientais, tais como poluição do ar, sonora, visual e hídrica; destruição dos recursos naturais; desintegração social; desemprego; perda de identidade cultural e de produtividade econômica. Muitas vezes, as formas de ocupação do solo, o provimento de áreas verdes e de lazer, o gerenciamento de áreas de risco, o tratamento dos esgotos e a destinação final do lixo coletado deixam de ser tratados com a prioridade que merecem. Como centros de produção, essas cidades mostram saturação de indústrias em áreas restritas, trazendo diversos problemas a seus habitantes, provocados pelos elevados índices de poluição que apresentam. Localizado a 40 Km da capital do estado de São Paulo, o município de Cubatão, que atualmente é visto como exemplo de planejamento e consciência socioambiental, já teve grandes problemas relacionados a poluição do meio ambiente. Durante o início da década de 80 a cidade era mundialmente conhecida como “Vale da Morte”, sendo apontada pela ONU como o município mais poluído do mundo. O boom industrial que fez de Cubatão um dos polos industriais mais ricos do país, pagou um alto preço por não se preocupar e nem se resguardar quanto aos danos causados por toneladas de poluentes lançados no meio ambiente. História Durante o governo de Juscelino Kubitschek, década de 50, deu-se início a um processo acelerado de industrialização do Brasil e Cubatão, até então, era um paraíso verde. Cercada pela Mata Atlântica, a cidade era rica em recursos naturais e estava estrategicamente localizada: a apenas 40 km de São Paulo, maior berço econômico do país; e do Porto de Santos, o maior porto da América Latina, e por onde entram e saem grandes quantidades de mercadorias. Ou seja, um local perfeito para dar início ao grandioso centro industrial paulista. Na década de 1960, Cubatão contava com 18 grandes indústrias, sendo uma refinaria, uma siderúrgica, sete de fertilizantes e nove de produtos químicos. A construção delas aconteceu de forma indevida e invasiva ao meio ambiente. Em 15 anos cerca de 60 Km² de Mata Atlântica havia sofrido a degradação, formando uma clareira que podia ser vista por quem descesse a Serra do mar. Contudo, os governantes da cidade, assim como os empresários, não se preocupavam em reverter a situação, uma vez que a poluição de Cubatão rendia bilhões ao ano, levando a cidade a ser uma das cinco maiores arrecadadoras de impostos do estado, cerca de 76 bilhões de cruzeiros. O município representava 2% de toda a exportação do país. Vale da Morte Morador de Cubatão observando a poluição em 1980. Foto: valor O intenso volume que as indústrias trabalhavam, eliminando quantidades enormes de poluentes no ar e nos rios de forma descontrolada, começou a ter consequências catastróficas visíveis e preocupantes. Vale lembrar que a industrialização aconteceu antes da Lei de Controle de Poluição do Estado de São Paulo entrar em vigor (1976). O ar de Cubatão no início dos anos 80 era denso, possuía cheiro e cor. Segundo dados da CETESB (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo), 30 mil toneladas de poluentes eram lançadas por mês no ar da cidade, peixes e pássaros sumiram da poluição de Cubatão, pois não havia condições naturais para sobreviverem e nem para se reproduzirem, mas o estado só começou a intervir quando os danos à saúde da população começaram a demonstrar números alarmantes. Entre outubro de 1981, e abril de 1982, cerca 1.800 crianças nasceram na cidade, destas, 37 já nasceram mortas, outras apresentavam graves problemas neurológicos e anencefalia. Cubatão era líder em casos de problemas respiratórios no país. A três décadas atrás, Cubatão ficou conhecida como a cidade dos "bebês sem cérebro". Era tida também como uma das cidades mais poluídas do país. A relação foi quase imediata: especialistas apontaram as emissões das indústrias como o principal fator para o boom de casos de anencefalia. De 1978 a 1984, foram registrados 18 nascimentos de crianças anencéfalas. O problema era principalmente na Vila Parisi. O bairro era totalmente poluído. E alguma substância impedia o aproveitamento do ácido fólico (uma vitamina do complexo B que reduz riscos de malformações congênitas em bebês)" Medidas antipoluição foram tomadas. Em 1983, a Cetesb (agência ambiental de SP) implantou um programa de controle de poluição ambiental, que fixou um cronograma de redução de poluentes para as indústrias da cidade. Hoje, a cidade ainda não tem qualidade do ar considerada "excelente", sobretudo em razão da emissão de gases por caminhões, mas tem 98% menos materiais particulados (poeira e fumaça) provenientes de indústrias, segundo estudo do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo). Os casos de anencefalia também voltaram à normalidade. Segundo a Secretaria Municipal da Saúde, desde 2000 não são registrados mais de dois casos por ano --quando há cerca de 2.000 nascimentos em Cubatão. Em média, são considerados normais até dois casos para mil nascimentos. A ONU alarmou o mundo sobre os problemas e consequências causados pela poluição do polo industrial, usando a cidade como exemplo a não ser seguido. Recomeço O governo do estado convocou a CETESB para que fizesse um mapeamento e estudo das causas da poluição na cidade litorânea, com isso, a partir de 1983 foi implantado um plano de recuperação ambiental. Governantes, industriais e população passaram a trabalhar em conjunto pela recuperação da saúde local. Em 1989, as 320 fontes poluentes que existiam na época já estavam controladas. O plano de controle ambiental foi feito com medições constantes das emissões de poluentes no ar e do controle da despoluição dos rios, causados pelo despejo de substâncias tóxicas indevidas em grande escala, gerenciamento por conta do estado e investimento em maquinário moderno por conta das indústrias. Metas a serem seguidas e um planejamento rigoroso foram essenciais para que a situação fosse controlada, segundo arquivo da secretaria do meio ambiente do estado de São Paulo. Além do controle das emissões de poluentes, também foram feitos planos de recuperação da Mata Atlântica com o replantio da vegetação nativa. Guarás-vermelhos em mangue de Cubatão. Foto: Divulgação/Prefeiturade Cubatão A volta do guará-vermelho, pássaro típico da região, foi o marco de que a qualidade de vida voltava à cidade. Em 1992, durante a Eco 92, Cubatão foi apontada pela ONU como Símbolo de Recuperação Ambiental, tendo 98% do nível de poluentes controlados, e passou a ser exemplo em todo o mundo como a cidade que renasceu das sombras da poluição. A cidade, no final dos anos 80, utilizou da Agenda 21 para recuperar a qualidade de vida socioambiental perdida com a poluição causada pelo polo industrial. A Agenda 21 é um método de planejamento que tem por objetivo construir sociedades sustentáveis, nela é possível mesclar a proteção ambiental, a justiça social e eficiência econômica. Por essa razão, mesmo hoje, livre da poluição, Cubatão consegue manter uma linha de produção acentuada e que gera milhões de reais todos os anos. Em 2011, Cubatão apresentou 100% de controle de poluentes. Segundo o relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), atualmente, o continente asiático totaliza 16 das 17 milhões de crianças com menos de um ano que estão expostas a níveis críticos de poluição, ao menos seis vezes acima dos níveis considerados salubres. Os vínculos da poluição do ar com a asma, bronquite e outras doenças respiratórias são conhecidos há bastante tempo. Mas um número crescente de pesquisas científicas destaca um novo risco potencial representado pela contaminação do ar para a vida e o futuro das crianças: o impacto no cérebro em desenvolvimento. A contaminação do ar tem um impacto no aprendizado das crianças, de sua memória, sua capacidade linguística e motora, o QI (quociente de inteligência) verbal e não verbal, e outros problemas neurológicos. Fonte: 1) A história da poluição em Cubatão e como a cidade deixou de ser o “Vale da Morte”. Disponível em: < http://www.pensamentoverde.com.br/sustentabilidade/historia-poluicao-cubatao-cidade-deixou-vale-morte/ > 2) Leal, GCS, FARIAS, MSS, ARAÚJO, AF. O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO E SEUS IMPACTOS NO MEIO AMBIENTE URBANO. QUALIT@S Revista Eletrônica. V7.n.1. Ano 2008. 3) 30 anos após boom de anencéfalos, Cubatão (SP) registra poucos casos. JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO. Disponível em: < < https://m.folha.uol.com.br/cotidiano/2008/09/440328-30-anos-apos-boom-de-anencefalos-cubatao-sp-registra-poucos- casos.shtml > 4) JORNAL DE SANTA CATARINA. Unicef: poluição é perigosa para cérebro do bebê. Disponível em: < http://jornaldesantacatarina.clicrbs.com.br/sc/mundo/noticia/2017/12/unicef-poluicao-e-perigosa-para-o-cerebro-do-bebe- 10055149.html > Questões para reflexão: 1) Como a cidade de Cubatão se tornou o “Vale da Morte”? Na década de 1960, Cubatão contava com 18 grandes indústrias, sendo uma refinaria, uma siderúrgica, sete de fertilizantes e nove de produtos químicos. A construção delas aconteceu de forma indevida e invasiva ao meio ambiente. Em 15 anos cerca de 60 Km² de Mata Atlântica havia sofrido a degradação, formando uma clareira que podia ser vista por quem descesse a Serra do mar. O município representava 2% de toda a exportação do país. Segundo dados da CETESB (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo), 30 mil toneladas de poluentes eram lançadas por mês no ar da cidade, peixes e pássaros sumiram da poluição de Cubatão, pois não havia condições naturais para sobreviverem e nem para se reproduzirem 2) Qual a relação de Cubatão com a anencefalia? Especialistas apontaram as emissões das indústrias como o principal fator para o boom de casos de anencefalia em Cubatão. De 1978 a 1984, foram registrados 18 nascimentos de crianças anencéfalas. O problema era principalmente na Vila Parisi. O bairro era totalmente poluído. E alguma substância impedia o aproveitamento do ácido fólico na gestação. ( uma vitamina do complexo B que reduz riscos de malformações congênitas em bebês)" 3) Como Cubatão passou a ser modelo de controle de poluição ambiental? Governantes, industriais e população passaram a trabalhar em conjunto pela recuperação da saúde local. Em 1989, as 320 fontes poluentes que existiam na época já estavam controladas. Além do controle das emissões de poluentes, também foram feitos planos de recuperação da Mata Atlântica com o replantio da vegetação nativa.
Compartilhar