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ANDRÉ CESAR FURLANETO SAMPAIO PLANEJAMENTO URBANO E AMBIENTAL ACESSE AQUI ESTE MATERIAL DIGITAL! Coordenador(a) de Conteúdo Kátia Spinelli Projeto Gráfico e Capa Arthur Cantareli Silva Revisão Textual Carolina Guimarães Branco Fotos Shutterstock e Envato Impresso por: Bibliotecária: Leila Regina do Nascimento - CRB- 9/1722. Ficha catalográfica elaborada de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a). Núcleo de Educação a Distância. SAMPAIO, André Cesar Furlaneto Planejamento Urbano e Ambiental / André Cesar Furlaneto Sampaio. - Florianópolis, SC: Arqué, 2023. 300 p. ISBN papel 978-65-6083-379-1 ISBN digital 978-65-6083-380-7 1. Planejamento Urbano 2. Ambiental 3. . EaD. I. Título. CDD - 307.1216 EXPEDIENTE Centro Universitário Leonardo da Vinci.C397 FICHA CATALOGRÁFICA GPU07 RECURSOS DE IMERSÃO Utilizado para temas, assuntos ou con- ceitos avançados, levando ao aprofun- damento do que está sendo trabalhado naquele momento do texto. APROFUNDANDO Uma dose extra de conhecimento é sempre bem-vinda. Aqui você terá indicações de filmes que se conectam com o tema do conteúdo. INDICAÇÃO DE FILME Uma dose extra de conhecimento é sempre bem-vinda. Aqui você terá indicações de livros que agregarão muito na sua vida profissional. INDICAÇÃO DE LIVRO Utilizado para desmistificar pontos que possam gerar confusão sobre o tema. Após o texto trazer a explicação, essa interlocução pode trazer pontos adicionais que contribuam para que o estudante não fique com dúvidas sobre o tema. ZOOM NO CONHECIMENTO Este item corresponde a uma proposta de reflexão que pode ser apresentada por meio de uma frase, um trecho breve ou uma pergunta. PENSANDO JUNTOS Utilizado para aprofundar o conhecimento em conteúdos relevantes utilizando uma lingua- gem audiovisual. EM FOCO Utilizado para agregar um con- teúdo externo. EU INDICO Professores especialistas e con- vidados, ampliando as discus- sões sobre os temas por meio de fantásticos podcasts. PLAY NO CONHECIMENTO PRODUTOS AUDIOVISUAIS Os elementos abaixo possuem recursos audiovisuais. Recursos de mídia dispo- níveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem. 4 191U N I D A D E 3 ÁREAS VERDES URBANAS 192 PLANEJAMENTO URBANO: INSTRUMENTOS LEGISLATIVOS DE PLANEJAMENTO URBANO 220 PRINCIPAIS SETORES DA GESTÃO URBANA 262 7U N I D A D E 1 HISTÓRICO E ASPECTOS GERAIS DO PLANEJAMENTO URBANO 8 ESTUDO DOS AMBIENTES URBANOS 38 FUNDAMENTOS AMBIENTAIS PARA PLANEJAMENTO URBANO 70 107U N I D A D E 2 ANÁLISE DA PAISAGEM PARA PLANEJAMENTO URBANO 108 LEGISLAÇÃO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 128 PLANEJAMENTO URBANO: ETAPAS E DIMENSÕES 156 5 SUMÁRIO UNIDADE 1 MINHAS METAS HISTÓRICO E ASPECTOS GERAIS DO PLANEJAMENTO URBANO Conhecer o histórico do surgimento das cidades. Compreender a evolução e transformações das cidades ao longo do tempo. Conhecer o histórico do planejamento urbano no Brasil. T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 1 8 INICIE SUA JORNADA Atualmente vivemos em tempos históricos, pois acontece diante de nossos olhos, a maior onda de urbanização da história da humanidade. Pode-se dizer que esse processo iniciou-se em 2005 e a previsão é que se finalize em 2050. Passaremos de 3,2 bilhões de pessoas nas cidades para 6,3 bilhões. Para 2050, a previsão é que cerca de 64% a 70% da humanidade esteja concentrada nas zonas urbanas. A população mundial de 7,2 bilhões de pessoas poderá chegar a 9,6 bilhões em 2050. (LEITÃO, 2013; ONU, 2012). Em termos gerais, o grande crescimento populacional será especialmente na região do continente africano, pois no restante do mundo já existe uma diminui- ção do crescimento populacional. De toda forma, em todos os países a população cada vez mais se intensificará nas cidades (ONU, 2012). DESENVOLVA SEU POTENCIAL A HUMANIDADE E O SURGIMENTO DAS CIDADES A história do surgimento das cidades fica entrelaçada pela história da humanida- de, pois as cidades só surgiram por causa da existência de uma espécie específica o Homo sapiens (ser humano). Mas antes de focar nessa história, acho importante demonstrar que na escala de tempo do universo e da existência de nosso planeta a humanidade e as cidades existem por um tempo ínfimo, o que demonstra nossa insignificância diante da natureza em todo seu processo de transformações. UNIASSELVI 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 O universo tem cerca de 15 bilhões de anos, o planeta terra 4,6 bilhões de anos, a vida surgiu na terra entre 4,1 a 3,5 bilhões de anos. Já o homem, como Homo sapiens, tem sua existência fora da casa dos bilhões, muito menos da dos milhões, existe há apenas aproximadamente 400 mil anos. De todo esse minúsculo tempo que a humanidade existe, faz ridículos 10 mil anos que se vive em grandes comunida- des, o restante do tempo se viveu coletando e caçando alimento, como nômades, vivendo em pequenos grupos. Foi só após a descoberta da agricultura e da criação de animais que surgiram as cidades, a economia e as civilizações, pois só assim a humanidade conseguiu se aglomerar em grandes grupos. No final das contas foi a agropecuária que criou nossas sociedades (DIAMOND, 2010) Como vimos, a humanidade passou seu maior tempo de existência como nômade. Adaptavam-se à natureza não produzindo grandes alterações nas paisagens. A caça e a coleta de alimentos sustentavam apenas quatro pessoas por KM2, ou seja, não éramos numerosos ainda (MUMFORD, 1982). As cidades nasceram após a formação de aldeias, mas não se trata apenas do aumento de casas e do crescimento da população. Ela inicia sua existência quan- do serviços diferentes, não ligados à agropecuária, começam a existir, como: a fabricação de artefatos, serviços religiosos, medicinais e militares. Formou-se assim uma nova classe de trabalhadores, de início subalternos dos agricultores, mantidas pelo excedente do produto total. A sociedade assim caminhou para se tornar capaz de evoluir e de projetar a sua evolução . A cidade caracteriza-se como sendo o centro maior desta evolução (BENEVOLO, 1993). faz ridículos 10 mil anos que se vive em grandes comunidades 1 1 Por meio do contínuo aumento populacional, somado com a consolidação da prática da agricultura intensiva, surgiu um novo estilo de vida na qual a formação das cidades se tornou essencial. Essas alterações induziram mudanças fundamen- tais, na economia e nas ordens sociais, tecnológica e ideológica (ABIKO; ALMEI- DA; BARREIROS, 1995). O domínio da locomoção em cavalos, a invenção da roda, de utensílios como carroças e a metalurgia trouxeram grandes modificações na sociedade e a formação de cidades, cada vez mais complexas e grandes (CASI- LHA; CASILHA, 2009). Com o crescimento das cidades e de suas populações foram se formando re- gras para organização da sociedade, houve uma organização política e hierarqui- zação das classes de trabalhadores. Entra em cena a religião, uma característica importante nas cidades primitivas, em que as pessoas deviam servir a um deus poderoso, geralmente representado por um rei de carne e osso. Com o temor aos superiores políticos, a organização das cidades e seu avanço se deram de forma rápida e organizada (CA- SILHA; CASILHA, 2009). O desenvolvimento dentro desses moldes acabou por trazer bastante desigualda- de social e temos reflexos disso até hoje na sociedade. A evolução das cidades acompanha a evolução da humanidade e seus períodos históricos, dessa forma, é importante marcarmos a divisão desses períodos. Observe o Quadro 1,a seguir. Quadro 1 – Divisão dos períodos históricos da existência da humanidade PERÍODOS PRÉ-HISTÓ- RIA ANTIGUI- DADE IDADE MÉDIA IDADE MODERNA IDADE CONTEM- PORÂNEA (Das origens do homem até 4000 a.C) (De 4000 a.C. a 476) (De 476 a 1453) (De 1453 a 1789) (De 1789 aos dias atuais) Evento que marca o início de cada era Origem da espécie humana. Invenção da escrita. Que- da do Império Romano. Queda de Constantinopla. Revolução Fran- cesa. Fonte: o autor. as pessoas deviam servir a um deus poderoso, geralmente representado por um rei de carne e osso UNIASSELVI 1 1 http://pt.wikipedia.org/wiki/476 http://pt.wikipedia.org/wiki/1453 http://pt.wikipedia.org/wiki/1789 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS CIDADES Estudante, trataremos de aspectos históricos sobre o surgimento e evolução das cidades e como consequência vislumbraremos os problemas mais comuns da urbanização. Cidades da pré-história e antiguidade No fim do que se chama de período pré-histórico nascem as primeiras cidades. Seu surgimento fica estimado entre 5.000 a 3.000 a.C. na Mesopotâmia (planalto vulcânico entre dois rios - Tigre e Eufrates), região hoje dentro dos limites do Iraque (CASILHA; CASILHA, 2009). Figura 1: Mapa da região da Mesopotâmia / Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thum- b/1/16/N-Mesopotamia_and_Syria_Portuguese.svg/1024px-N-Mesopotamia_and_Syria_Portuguese.svg. png. Acesso em: 16 out. 2023. Descrição: a figura mostra o Mapa da região da Mesopotâmia que era uma região desértica entre os rios Tigre e Eufrates. Região que hoje pertence ao Iraque. Na figura, a região apresenta uma iluminação em verde claro. 1 1 A Mesopotâmia faz parte da região conhecida como Crescente Fértil, onde as primeiras civilizações como um todo se consolidaram. Local em que existia maior facilidade para o cultivo da terra, devido à fertilidade do solo propor- cionada pelas cheias dos rios. Além é claro, de água abundante para irrigação, consumo e transporte. Trata-se de uma região com cerca de 400.000 a 500.000 km² que hoje é povoada por 40 a 50 milhões de pessoas, englobando a Palestina, Israel, Jordânia, Kuwait, Líbano e Chipre, além de partes da Síria, do Iraque, do Egito, do sudeste da Turquia e sudoeste do Irã. Os rios que irrigam essa região são: Jordão, Eufrates, Tigre e o Nilo (ABIKO; ALMEIDA; BARREIROS, 1995). Podemos dizer que as primeiras cidades foram as constituídas na civi- lização dos Sumérios. Incrivelmente esse povo possuía grandes edificações, bairros especializados, ruas, sistemas de irrigação, grandes templos e grandes fortificações no entorno. Tinham conhecimento amplo principalmente sobre arquitetura, matemática e astronomia. Dentre suas construções destacam-se complexos sistemas de controle da água dos rios, canais de irrigação, barragens e diques. São considerados os inventores da escrita, que era chamada de cuneifor- me, pois os símbolos escritos em placas de argila eram feitos com instrumentos em formato de cunha (KRAMER, 1977; BOUZON, 1998). As construções de maior imponência das cidades dos sumérios eram os zigurates, se assemelhavam às pirâmides do Egito em grandiosidade, serviam para o armazenamento de produtos agrícolas e como templos religiosos. Os sumérios construíram muitas cidades importantes como: Ur (a maior que chegou a ter 25.000 habitantes), Nipur, Lagash e Eridu (KRAMER, 1977; BOUZON, 1998). UNIASSELVI 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 Figura 2: Zigurate da cidade de UR / Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/9/93/ Ancient_ziggurat_at_Ali_Air_Base_Iraq_2005.jpg/1024px-Ancient_ziggurat_at_Ali_Air_Base_Iraq_2005. jpg. Acesso em: 16 out. 2023. Descrição: uma fotografia, da fachada reconstruída do zigurate da cidade de UR. As ruínas da estrutura neo babilônica podem ser vistas no topo da estrutura. Nota-se um grupo de pessoas no topo do zigurate. A origem dos sumérios ainda é misteriosa, são muitos os estudos e dúvidas sobre a formação desse povo. Existem indícios que tenham sido um povo oriundo dos planaltos iranianos, mas também podem ter procedido das próprias planícies mesopotâmicas. De forma geral pode ter sido uma mistura de povos em que a língua predominante era a suméria (CARDOSO, 1998). As cidades da antiguidade eram chamadas de cidade-estado, devido a sua grande importância e independência. Existiram muitas disputas entre povos e a formação de impérios durante a antiguidade, e a conquista das cidades foi crucial. Um longo período histórico se consolidou, nele estão presentes os egípcios, acádios, babilôni- cos entre outros. Em todos os impérios e povos antigos as cidades se organizaram em torno da agricultura e da religião (ABIKO; ALMEIDA; BARREIROS, 1995). A maior cidade da antiguidade, que chegou a possuir mais de quinhentos mil habitantes e foi um grande centro religioso chama-se Babilônia. Possuía for- tificações, muralhas, fossos e baluartes ao seu redor, o que junto com o grande poder militar consolidava a segurança para os cidadãos. Havia praças agitadas além de edifícios públicos como teatros, estádios, ginásios, centros educacionais e culturais (CASILHA; CASILHA, 2009). 1 4 Outra civilização importante para o histórico das cidades foi a grega, que se iniciou aproximadamente em 2.500 a.C. Suas cidades beiravam o mar e iam até as encostas de montanhas. Existia uma preocupação com o desenho urbano, e a configuração usual era a ortogonal, tipo um tabuleiro de xadrez. As ruas tinham hierarquia e as casas seguiam alguns parâmetros urbanísticos como a necessi- dade de terraços. Os gregos já se preocupavam com o tamanho das cidades, pois sabiam que as cidades dependiam dos recursos mais próximos e de sua produção agropecuária, ou seja, uma população fora de limites traria grandes problemas sociais. O solo árido da Grécia não colaborava para a formação de grandes ci- dades, por isso quando a população chegava a cerca de 30 mil habitantes era habitual iniciar a construção de uma nova cidade. Não somente o problema de recursos naturais fazia a necessidade de controle de população nas cidades, mas também a democracia que se iniciava, em que os conflitos de ideias em grandes populações trariam distúrbios malvistos (BENEVOLO, 1993). Por volta de 2000 a.C Babilônia foi planificada. A cidade tinha um formato retangu- lar de 2500 por 1500 metros e era dividida pelo rio Eufrates. Foi traçada com regu- laridade geométrica tendo ruas largas e retas (largura constante), muros recorta- dos em ângulos retos e com a presença de prédios de três e quatro pavimentos (ABIKO; ALMEIDA; BARREIROS., 1995). APROFUNDANDO uma população fora de limites traria grandes problemas sociais UNIASSELVI 1 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 As principais cidades gregas foram: Atenas, Esparta e Tebas. Possuíam as ca- racterísticas das cidades-estados: eram independentes, com governo e padrões militares próprios. O que as unificava eram os aspectos culturais, como a língua, cujo alfabeto foi desenvolvido no Período Arcaico e um planejamento urbano, semelhante entre cidades, devido à troca de informações e comunicação que exis- tiam. Os povos que formaram essas cidades gregas vieram de migrações do Norte da Europa e eram chamados de povos indo-europeus. Algumas características de planejamento urbano e pensamentos dos gregos acabaram se difundindo em outros impérios (BENEVOLO, 1993). Os romanos foram outra grande civilização do período da antiguidade que se utilizou de padrões helênicos (gregos) para o planejamento de suas cidades. Devido à vastidão do império Romano por um período existiu paz entre os po- vos antigos e as cidades passaram a não possuir muros e apresentavam grande urbanização. As preocupações com a expansão urbana foram diminuindo ao ponto da cidade de Roma em cem anos saltar de 400 mil para 1,2 milhão de habitantes. Essa expansão se realizou devido a uma ênfase dada à infraestrutura de transportes, a formação de aquedutos que traziamágua de grandes distâncias, pelo início de uma preocupação com o esgotamento sanitário, que na época, em Roma, era feito por galerias subterrâneas (enormes e em perfeito estado até hoje); pela divisão do território em quadras (bairros) com distribuição de serviços e a exploração de territórios que abasteciam a cidade (CASILHA; CASILHA, 2009). Mesmo com todos os esforços e novas tecnologias, o crescimento da cidade de Roma e de sua população não foi harmonioso. Cerca de 25% da população de Roma não tinha o que fazer, faltavam serviços. A comida tinha que ser distribuída para que não houvesse enorme mortalidade por fome. 1 1 Figura 3: Ruínas do Fórum Romano / Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/5/5a/ Forum_Romanum_Rom.jpg/1024px-Forum_Romanum_Rom.jpg. Acesso em: 16 out. 2023. Descrição: uma fotografia das ruínas do fórum romano, em um dia de visita a céu limpo e ensolarado. Mais a frente notamos o Templo de Saturno, à sua esquerda a Igreja de São Lucas e Santa Martina. A comida tinha que ser distribuída para que não houvesse enorme mortalidade por fome. A lista de pessoas que precisavam de doação de alimentos chegou a ter 320 mil nomes no auge da expansão de Roma. Devido à vastidão do impé- rio havia muitos produtos importados (grande parte dos cereais), com isso, a agricultura no entorno de Roma se concentrou em vinhas, formou-se um tipo de monocultura, causando o declínio de muitos serviços (BENEVOLO, 1993). Além dessas civilizações antigas citadas, existiram outras com grandes ma- nifestações urbanísticas por volta de 2.500 a.C. no vale do rio Indo na Índia e por volta de 1.500 a.C. no vale dos rios Amarelo e Yang-Tsé-Kiang na China. Na América surgiram civilizações como os Incas, Maias e Astecas, também com grandes construções voltadas ao culto religioso e o armazenamento de alimentos e sementes. A antiguidade foi consolidando o planejamento das cidades e muito do que são as cidades atualmente tem ideias e conceitos vindos desses povos e épocas. UNIASSELVI 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 Cidades da idade média A partir da queda do império Romano houve uma grande mudança no modo de viver da humanidade. Ocorreram as invasões bárbaras e serviços e comércio tiveram estagnações nos centros urbanos. Grande parte da população migrou novamente para o campo. O cristianismo e a igreja católica se fortaleceram e assim se criou o sistema feudal. Os bispos exerciam a função de governantes e a agricultura se fortaleceu formando grande senhores feudais, que acabaram por formar e comandar novas cidades. Os senhores feudais trocavam o trabalho de habitantes por proteção e apoio militar. As cidades então voltaram a ser de ta- manho reduzido, a terem muralhas e grande nível de subsistência. Formaram-se as grandes praças centrais em que se localizavam as igrejas e os mercados e por consequência as ruas radiais (CASILHA; CASILHA, 2009). Figura 4: Castelo de Windsor / Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/b2/Windsor_Cas- tle_from_the_Air_wideangle.jpg. Acesso em: 16 out. 2023. Descrição: Fotografia aérea do castelo. Esquerda para direita: a Ala Inferior, a Ala Central e a Torre Redonda, e a Ala Superior, com o Longo Passeio no canto inferior direito. O rio Tâmisa está no canto superior esquerdo. No século XI o sistema feudal entrou em crise, começaram a surgir os elementos pré-capitalistas, como o desenvolvimento do comércio das cidades e a criação de uma nova classe social, o que acabou sendo a ruína dos senhores feudais. Novos interesses econômicos e políticos se consolidaram com o comércio intenso entre ocidente e oriente. As atividades nas cidades se ampliaram. Verifica-se então que o comércio foi um dos grandes fatores que ocasionaram a intensificação do meio 1 8 urbano, tendo, dessa forma, as grandes capitais europeias se beneficiado com seu crescimento que surgirá após a ascensão de uma economia transatlântica (GRECO, 2012 apud VARGAS; MIOLA; NASCIMENTO, 2014). Cidades da idade moderna A partir do século XII houve crescimento econômico e com isso maior desen- volvimento das chamadas cidades capitais. Os monarcas se consolidaram no poder. Com isso até o século XV grandes centros comerciais se concretizaram em cidades como Constantinopla e Veneza, Florença e Paris, porém, as cidades de forma geral raramente passavam de 50 mil habitantes. O sistema de coleta de imposto se formou de forma rígida para que existisse dinheiro para a construção e o crescimento das cidades. Porém, o planejamento era precário, ruas estreitas, falta de serviços de higiene o que acabava por acarretar disseminação de doenças, como a peste negra que chegou a dizimar um terço da população da Europa. Boa parte do comércio começou a se estabelecer para fora das muralhas e o cresci- mento das cidades foi ficando cada vez mais desordenado (BENEVOLO, 1993). A queda da cidade de Constantinopla (atualmente Turquia) consolidou o início da Idade Moderna (Renascentismo), pois o domínio da cidade para os Otomanos mudou o comércio mundial para o oceano Atlântico. Constantinopla era, até o momento de sua queda, uma das cidades mais importantes no mundo, pois sua localização funcionava como ponte para as rotas comerciais que ligavam a Europa à Ásia por terra (ABIKO; ALMEIDA; BARREIROS, 1995). O desenho urbano da época elaborava cidades com predominância de traçados regulares, com simetria de proporções rígidas na execução das vias e praças. Eram cidades que seguiam um modelo uniforme, como um tabuleiro de xadrez, No século XVI começaram as invasões e ocupações iniciais na América, com cida- des fundadas seguindo traçados pré-determinados, ou seja, embasados no pla- nejamento das cidades europeias, como por exemplo: Cidade do México, Filadél- fia, Washington, Lima e Buenos Aires (CASILHA; CASILHA, 2009). APROFUNDANDO UNIASSELVI 1 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 definindo quarteirões iguais, na maioria das vezes quadrados. Nas áreas centrais continuavam as praças com igrejas e edifícios de organização social (paço mu- nicipal, comércio e casa dos mais ricos) (BENEVOLO, 1993). Figura 5: Queda de Constantinopla em 1453 / Fonte: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/media/ uploads/ceda0e4e6771cceffca1ad12c0f40bfce4f539c6_hq.jpg. Acesso em: 16 out. 2023. Descrição: pintura retratando o momento da queda de Constantinopla; na imagem, soldados lutando e invadindo o castelo, usando artilharia de guerra, espadas, escudos e armaduras. Cidades da idade contemporânea Surgiu a revolução industrial e com ela grandes modificações econômicas, sociais e ambientais no mundo. As cidades sofreram alterações em seu planejamento de- vido a isso. Houve um explosivo crescimento demográfico nas cidades, iniciando na Inglaterra depois França e Alemanha. Após 1850 ocorreu a quadruplicação da população mundial e com isso a população urbana se multiplicou por dez (HAROUEL, 1990). Na Europa como nos Estados Unidos o uso dos trens colaborou muito para o crescimento e desenvolvimento das cidades, pois facilitou o comércio de impor- tação e exportação de produtos para longas distâncias. As fábricas começaram a ser construídas em proximidade das ferrovias e as habitações dos trabalhado- 1 1 res também, pois o transporte público ainda não existia. Viver nas cidades voltou a ser interessante para as pessoas e iniciou-se o êxodo rural. As con- dições sanitárias das cidades não haviam evoluído muito desde a idade média, porém, mesmo assim a oferta de trabalho nas indústrias atraiu as pes- soas para as cidades. Londres, o berço da revolução industrial, em 1810 passou de um milhão de habitantes, na época somente Roma havia chegado nesse nível de população (CORRÊA, 1995). Com o crescimento vertiginoso das cidades surgiram os urbanistas, pessoas que planejavam o desenho urbano para melhor adaptação da sociedade às ci- dades, tentando evitar os problemas urbanos. O termo foi cunhado em 1910, porém, em 1830 já havia um pensamento urbanista moderno,diferenciado do da antiguidade e idade média (BENEVOLO, 1971). As condições sanitárias e mesmo a qualidade de vida dos trabalhadores das indústrias nas cidades por volta de 1816 começaram a indignar uma considerável parte da sociedade e com isso foram surgindo pensamentos de reorganização das cidades. Figura 6: Indústria têxtil em Boston, Estados Unidos, 1910 / Fonte: https://s1.static.brasilescola.uol.com. br/be/2020/03/fabrica-textil.jpg. Acesso em: 16 out. 2023. Viver nas cidades voltou a ser interessante para as pessoas Descrição: fotografia em preto e branco, com mulheres sentadas trabalhando na produção de tecidos. UNIASSELVI 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 Em 1830 epidemias começaram a surgir nas prin- cipais cidades do mundo, como a cólera e o tifo, com isso, a partir de 1850 começaram adaptações amplas para melhorar as condições das princi- pais cidades do mundo, principalmente em ter- mos sanitários. O urbanismo predominante na época foi chamado de sanitarista. As muralhas foram derrubadas, as ampliações das cidades tiveram ruas mais largas entre outras ações. Paris foi uma das cida- des em que houve grandes modificações, bairros com epidemias foram demoli- dos, áreas foram limpas,bulevares foram construídos trazendo mais verde para a cidade. Outras cidades se estimularam para fazer modificações admirando o sucesso de Paris. Nesse período, Londres despejava a maior parte de seu esgoto e captava a sua água de uso comum no mesmo rio, chamado Tâmisa. Esse era um dos fatores que faziam aumentar a incidência de epidemias na cidade. Foi então, em 1848, aprovada a primeira lei sanitária, denominada Public Health Act, para sanar esse problema. Essa lei foi precursora dos Códigos Sanitários brasileiros. Aliás, foi base de todas as demais que procuram atuar no espaço urbano garantindo condições de salubridade (abastecimento de água e controle de sua potabilidade, canalização de esgotos, drenagem de áreas inundáveis, abertura de vias e vielas sanitárias). Seguindo essas premissas sanitárias outras cidades inglesas foram reurbanizadas: Manchester, Liverpool, Birmingham e Leeds (ABIKO; ALMEI- DA; BARREIROS, 1995). O urbanismo predominante na época foi chamado de sanitarista. 1 1 Figura 7: Cidade de Londres / Fonte: https://www.civitatis.com/f/reino-unido/londres/galeria/big/vistas- -the-shard-noche.jpg. Acesso em: 16 out. 2023. Descrição: vista da cidade de Londres ao anoitecer. O sistema capitalista se solidificou nos principais países do mundo e com isso o espaço urbano se modificou. A cidade tornou-se um lugar privilegiado para a ocorrência de uma série de processos sociais. De acordo com Corrêa (1995), esses processos têm sua distribuição espacial na própria organização espacial urbana, sendo eles: CENTRALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO • Centralização e área central. • Descentralização e os núcleos secundários. UNIASSELVI 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 As indústrias centralizaram as cidades, mas com o passar do tempo começou a não haver espaços centrais para as indústrias. Iniciou-se assim um processo de descentralização no começo do século XX. Indústrias mais poluentes e novas começaram a se instalar na periferia formando núcleos secundários na cidade, causando descentralização (CORRÊA, 1995). Aos poucos as indústrias se deslocaram, apenas as pequenas que consumiam pouco espaço e tinham ótimos lucros continuaram centrais, pois só assim era possível suportar os elevados preços dos imóveis do centro. A descentralização das cidades variava em função dos tipos de atividades realizadas na mesma e de suas tendências à descentralização e do tempo em sequência que essa leva para descentralizar, pela divisão territorial do trabalho e pela procura por outros se- tores da cidade (CORRÊA, 1997). O fenômeno da segregação social nas cidades, que sempre ocorreu, começa a ser acentuado com a revolução industrial. As determinações econômicas, políticas e ideológicas e a transformação das áreas centrais em áreas importantes de negó- cios, acabaram por dividir setores da cidade para cada classe social. A capacidade de renda e/ou nível cultural, involuntariamente imposta, acabava por definir a região da cidade que a pessoa iria habitar (CASTELL, 1976; LEFÉBVRE, 1991). COESÃO E SEGREGAÇÃO • Coesão e as áreas especializadas. • Segregação e as áreas sociais. DINÂMICA E INÉRCIA • Dinâmica social da segregação. • Inércia e as áreas cristalizadas. Acabou por se formar um padrão nas cidades de “Inércia e as áreas cristalizadas”, ou seja, regiões e edificações que se mantinham com o mesmo uso inicial, como: áreas centrais quase exclusivas ao comércio devido à alta valorização (CORRÊA, 1995). ZOOM NO CONHECIMENTO 1 4 O automóvel foi inventado e muitas adaptações nas cidades vieram. Os tra- balhadores não precisavam mais morar tão próximos das indústrias e comércio, novos arranjos urbanos ocorreram (ECCE HOMO 13, 2012, on-line). A EVOLUÇÃO DO URBANISMO E PLANEJAMENTO URBANO NO MUNDO E NO BRASIL Durante os séculos XVIII e XX (idade contemporânea) acabaram por se for- mar dois grupos de destaque no urbanismo, os de origem anti urbana (utópicos) e os técnicos-setoriais. Os antiurbanos tinham pensamentos voltados ao socialismo, contrários à in- dustrialização, pois seus idealizadores não queriam o desenvolvimento das indústrias, preconizavam uma organização mais comunitária, próxima da na- tureza. Planejavam cidades do início, gostavam de demolições e reconstruções grandiosas, por isso se encaixaram e foram chamados de utópicos (CAMPOS FILHO, 2001). A chamada cidade-jardim, proposta por Ebenezer Howard, pode ser descrita como uma adaptação da ideologia anti urbana, pois tenta unir uma produção agrícola com a industrial de pequena escala. O desejo de Howard era compor cidades de 30 mil habitantes, planejadas como antídoto para os males da indus- trialização selvagem (CAMPOS FILHO, 2001). UNIASSELVI 1 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 Três princípios fundamentam o trabalho de Howard: ELIMINAÇÃO DA ESPECULAÇÃO DOS TERRENOS Deveriam pertencer à comunidade, que os alugaria (ABIKO; ALMEIDA; BARREIROS, 1995). CONTROLE DO CRESCIMENTO E LIMITAÇÃO DA POPULAÇÃO A cidade deveria estar cercada por um cinturão agrícola que forneceria toda a subsis- tência da população (ABIKO; ALMEIDA; BARREIROS, 1995). EQUILÍBRIO FUNCIONAL Deveria existir um equilíbrio funcional entre cidade e campo, residência, comércio e indústrias (ABIKO; ALMEIDA; BARREIROS, 1995). A ideia de urbanismo de Howard tem até hoje boa aceitação, principalmente na Inglaterra e acabou por influenciar o desenho urbano de muitas cidades e bairros no Brasil como: Maringá, Goiânia, Jardim América e Barra da Tijuca. Os técnicos-setoriais se diferenciavam dos antiurbanos, pois procuravam resolver os problemas de forma pontual, faziam remediações isoladas, não possuíam visão global. Não tinham grandes planos utópicos (ABIKO; ALMEIDA; BARREIROS, 1995). Após a segunda guerra mundial houve uma tentativa de reduzir o crescimento de Londres. Foi implantado um cinturão verde de produção agrícola e uma rede de pequenas e médias cidades-satélites no seu entorno. Buscava-se subdividir o espaço urbano em unidades autossuficientes quanto possível. Essa solução apro- ximou urbanistas antiurbanos dos técnicos-setoriais (CAMPOS FILHO, 2001). Muitos trabalhos de cunho científico, voltados à economia e sociologia, aca- baram por ajudar na evolução do urbanismo. Podem-se destacar os trabalhos dos alemães Engels e Marx, que viveram nos anos de 1800 e solidificaram o pensamento socialista. Foram eles que trouxeram um pensamento sobre a terra 1 1 urbana (imóvel) como mercadoria, como fornecedora de renda, que atualmente são assuntos diretamente vinculados ao planejamento urbano e aos planos dire- tores. O problema da habitação de qualidade, com o mínimo de infraestrutura, foi assunto muito discutido na obra de Engels. O pensamento marxista acabou por colaborar para a construção de um urbanismomais sistemático e científico (CAMPOS FILHO, 2001). No início do século XIX surgiram vários urbanistas que seguiam ideias baseadas em unir os ideais antiurbanos e técnico-setoriais, que foram chamados de globalizantes utópicos pró-industriais e pró-urbanos. Destaca-se, nessa época, Le Corbusier, que visou combinar áreas verdes, edificações verticais e alta densidade urbana, a fim de reduzir custos da urbanização, um pensamento ainda atual e bastante interligado com o pensamento do desenvolvimento sustentável (CAMPOS FILHO, 2001). Em 1933, ocorreu o IV Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), cujo tema foi a ‘Cidade Funcional’. Foi um evento histórico com a par- ticipação de profissionais de renome do urbanismo e que solidificou o pensa- mento urbanista denominado racionalista ou funcionalista. As conclusões desse encontro foram reunidas em um documento denominado a Carta de Atenas, em que foram determinadas ações para o desenvolvimento de um urbanismo menos estético e mais funcional. Foram definidas quatro funções fundamentais para uma cidade: habitar, trabalhar; circular e cultivar o corpo e o espírito, sendo seus objetivos: a ocupação do solo, a organização da circulação e a legislação (ABIKO; ALMEIDA; BARREIROS, 1995). São exemplos de planejamentos baseados nessas premissas da Carta de Atenas: Rio de Janeiro e Brasília, além de várias cidades da França e Estados Unidos (ABI- KO; ALMEIDA; BARREIROS, 1995). APROFUNDANDO As grandes críticas ao urbanismo racionalista são devido a sua visão estreita em relação às diferentes classes sociais e suas expectativas dentro das cidades, assim como, o entendimento simplificado dos motivos que levam a expansão urbana. UNIASSELVI 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 Acreditava-se que o crescimento desmesurado de uma cidade seria fruto, quase que exclusivo, de ações de interesses privados e à displicência do poder público. Mecanismos econômicos e sociais acabaram por ficar subjugados (ABIKO; AL- MEIDA; BARREIROS, 1995; CAMPOS FILHO, 2001). Muito do que temos hoje no Brasil e no mundo em termos de planejamento urbano, principalmente em termos legislativos, vem das conclusões da Carta de Atenas (ABIKO; ALMEIDA; BARREIROS, 1995). As ideias sobre urbanismo vêm evoluindo e durante o século XX foram muito discutidas. Em 1952, em La Tourrete - França, em reunião do “Grupo Economia e Humanismo”, foram fixadas novas dimensões do Planejamento Territorial, por meio da “Carta do Planejamento Territorial” (BIRKHOLZ, 1967 apud ABIKO; ALMEIDA; BAR- REIROS, 1995). Posteriormente, em 1958, realizou-se em Bogotá - Colômbia, o “Seminário de Técnicos e Funcionários em Planejamento Urbano”, sob os aus- pícios do Centro Interamericano de Vivenda e Planejamento (CINVA), ocasião em que foi elaborada a Carta dos Andes que constituiu um documento sobre o Planejamento Territorial Contemporâneo (BIRKHOLZ, 1967 apud ABIKO; ALMEIDA; BARREIROS, 1995). 1) CARTA DE ATENAS Nela se propunha a obrigatoriedade do planejamento regional e intra urbano, a submissão da propriedade privada aos interesses coletivos, a industrialização dos componentes, a padronização das construções e a edificação como predominante no espaço urbano, mas relacionada com amplas áreas de vegetação. Ficou estabelecido o zoneamento funcional, ou seja, a separação da circulação de veículos e pedestres, a eliminação da rua corredor e uma estética geometrizante (ABIKO; ALMEIDA; BARREI- ROS, 1995). 2) CARTA DO PLANEJAMENTO TERRITORIAL Objetivo: criar pela organização racional do espaço e implantação de equipamentos apropriados, as condições ótimas de valorização da terra e as situações mais con- venientes ao desenvolvimento humano de seus habitantes. No documento ficaram estabelecidas as vinculações entre quatro ideias básicas do Planejamento Territorial: a organização do espaço, o apetrechamento do território, o seu aproveitamento econômico e o desenvolvimento do homem (BIRKHOLZ, 1967 apud ABIKO; ALMEIDA; BARREIROS, 1995). 1 8 Para Goitia (1992), em um pensamento ainda atual, existe lentidão de organismos oficiais, planificadores e urbanistas em seus diagnósticos, prognósticos, ações e gestão urbana, que não alcançam a velocidade dos problemas existentes, que se ampliam de forma vertiginosa e freiam o planejamento urbano eficiente. A cidade vai se transformando com um crescimento que acaba por não ser tecnicamente ordenado e que naturalmente é desorganizado. Forma-se assim um crescimento urbano que produz tanto problemas nos núcleos centrais, quanto nas periferias das cidades que sofrem com a falta de acessos e de transporte coletivo. Acaba que muito da ordenação espacial é vinculada a acessibilidade, meios de transporte público eficazes e uma rede viária capaz e inteligentemente planejada para aten- der toda a demanda necessária. Por meio da história o urbanismo foi sendo moldado, chegando hoje ao que chamamos de planejamento urbano. Hoje o urbanismo como conceito fica de- finido como aquele que trabalha (historicamente) com o desenho urbano e o projeto das cidades, sem especificamente considerar todos os processos sociais que ocorrem nas cidades. Colocou-se um termo mais abrangente para abarcar toda a complexidade de fazer funcionar uma cidade: planejamento urbano. 3) CARTA DOS ANDES Definição: planejamento é um processo de ordenamento e previsão para conseguir, mediante a fixação de objetivos e por meio de uma ação racional, a utilização ótima dos recursos de uma sociedade em uma determinada época. O Planejamento é, portanto, processo do pensamento, método de trabalho e um meio para propiciar o melhor uso da inteligência e das capacidades potenciais do homem para benefício próprio e comum (BIRKHOLZ, 1967 apud ABIKO; ALMEIDA; BARREIROS, 1995). UNIASSELVI 1 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 Temos dentro do planejamento urbano visão mais ampla, muito além do de- senho urbano, pois sabe-se que nas cidades temos problemáticas complexas, entremeadas entre fatores sociais, econômicos, ecológicos, culturais, éticos, políticos, geográficos e tantos outros. Por isso, ainda não existe uma ideia uni- ficadora que possa ser definida como a solução de todos os problemas urbanos, uma “receita de bolo” para se fazer todos os planejamentos urbanos. O que fica entendido é que apenas o planejamento urbano, sem o funcionamento de um ordenamento de cunho nacional e muitas vezes mundial, em termos de regras e legislação que busquem com eficiência bem comum, não é suficiente para con- trolar e absorver todos os problemas que se formam nas cidades. A busca pelo desenvolvimento sustentável vem sendo um caminho de liga- ção no mundo todo para a construção de cidades cada vez mais equilibradas em termos sociais, econômicos, culturais e ambientais. Historicamente fica clara a influência das tecnologias sobre as modificações urbanas, a humanidade vem conseguindo se adaptar e alterar o espaço urbano para melhor. Principalmente, devido ao surgimento de novas tecnologias, pois nos dias atuais a importância dessas evoluções científicas é cada vez maior. 1 1 O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO O processo de urbanização, principalmente nos países em desenvolvimento, é uma das mais agressivas formas de relacionamento entre o homem e o meio am- biente. As cidades antigas eram menores, mais harmônicas e, mesmo quando er- guidas em locais ambientalmente inadequados, agridem menos o meio ambiente. A partir da revolução industrial, o processo de crescimento das cidades se acele- rou pelas duas razões já apontadas: a necessidade de mão-de-obra nas indústrias e a redução do número de trabalhadores no campo. A industrialização promoveu de modo simultâneo os dois eventos, um de atração pela cidade, outro de expul- são do campo. Antes da revolução industrial não havia nenhum país onde a po- pulação urbana predominasse. No começo deste século, apenas a Grã-Bretanha possuía a maior parte de sua população vivendo em cidades (MUNFORD, 1982). Pode-se afirmar que o Século XX é oséculo da urbanização, pois nele se acentuou o predomínio da cidade sobre o campo. Fonte: adaptado de OEA (2016, on-line) APROFUNDANDO História do futuro - O horizonte do Brasil no século XXI – 2013 Autora: Miriam Leitão Sobre o livro: história do Futuro é um grandioso livro de repor- tagem em que a jornalista Miriam Leitão mapeia o território do que está por vir com base em entrevistas, viagens, análises de dados e depoimentos de especialistas, depois de três anos de pesquisas. Ela aponta tendências que não podem ser ignora- das em áreas como meio ambiente e clima, demografia, edu- cação, economia, política, saúde, energia, agricultura, tecnolo- gia, cidades e mundo. E adianta que o futuro será implacável para os países que não se prepararem para ele. INDICAÇÃO DE LIVRO UNIASSELVI 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 NOVOS DESAFIOS Assim sendo, foi possível compreender o processo do surgimento das cidades, o histórico do planejamento urbano e algumas problemáticas encontradas nos centros urbanos. Além disso, perceber que a população mundial está crescendo e se intensificando nas zonas urbanas, que o mundo fica cada vez mais tecnoló- gico e globalizado, que as cidades se expandem e fazem grandes aglomerados de pessoas. Como consequência, a demanda mundial por recursos naturais aumenta exponencialmente e as previsões para o futuro são amedrontadoras. Existe a ne- cessidade de modificações em termos de políticas e planejamento urbano para colaborar na redução dos impactos da humanidade sobre os recursos naturais. 1 1 1. As primeiras cidades são por vezes consideradas grandes assentamentos permanentes nos quais os seus habitantes não são mais simplesmente fazendeiros da área que cerca o assentamento, mas passaram a trabalhar em ocupações mais especializadas, em que o comércio, o estoque da produção agrícola e o poder foram centralizados. Sociedades que vivem em cidades são chamadas de civilizações. Dos eventos históricos citados a seguir, qual contribuiu de forma mais enfática para a criação das primeiras cidades? a) A descoberta do fogo. b) A criação da roda. c) A invenção da escrita cuneiforme. d) A descoberta da agricultura. e) O nascimento de Jesus Cristo. 2. Considere as seguintes afirmações sobre o histórico das cidades e da humanidade: I - As primeiras cidades ocorreram por volta de 2.500 a.C. no vale do rio Indo na Índia e por volta de 1.500 a.C. no vale dos rios Amarelo e Yang-Tsé-Kiang na China. II - Segundo históricos, a cidade de Roma possuía mais de um milhão de habitantes no século I a.C., sendo considerada por muitos como a única cidade a superar essa marca até o início da Revolução Industrial. III - A invenção da escrita é o evento que marca o início da era histórica da antiguidade, em que surgiram as primeiras cidades. IV - As primeiras cidades remetem seu surgimento entre 5.000 a 3.000 a.C., nos vales do rio Nilo no Egito e dos rios Tigre e Eufrates, na Mesopotâmia. a) Somente I, II e IV estão corretas. b) Somente IV está correta. c) Somente II e III estão corretas. d) Somente III e IV estão corretas. e) Todas estão corretas. 3. A cidade jardim é um modelo de cidade concebido por Ebenezer Howard, no final do século XIX, consistindo em uma comunidade autônoma cercada por um cinturão verde num meio- -termo entre campo e cidade. A ideia era aproveitar as vantagens do campo eliminando as desvantagens da grande cidade, mas nem sempre pode ser um sinônimo de ecocidade. AUTOATIVIDADE 1 1 Vários bairros e cidades brasileiras utilizaram conceitos da cidade jardim em seu planeja- mento. Qual cidade ou bairro a seguir não apresenta fundamentos das Cidades Jardins em seu planejamento: a) Maringá. b) Goiânia. c) Barra da Tijuca (RJ). d) Jardim América (SP). e) Salvador. AUTOATIVIDADE 1 4 REFERÊNCIAS ABIKO, A. K.; ALMEIDA, M. A. P.; BARREIROS, M. A. F. Urbanismo: história e desenvolvimento. São Paulo: Epusp, 1995. BENEVOLO, L. A história da cidade. São Paulo: Editora Perspectiva, 1993. BENEVOLO, L. Roma da ieri uma domani. Bari: Laterza, 1971. BOUZON, E. Ensaios Babilônicos: sociedade, economia e cultura na Babilônia pré-cristã. Porto Alegre: Edpucrs, 1998. CAMPOS FILHO, C. M. Cidades brasileiras: seu controle ou o caos: o que os cidadãos devem fazer para a humanização das cidades no Brasil. São Paulo: Nobel, 2001. CARDOSO, C. F. Deuses, múmias e ziguratts: um estudo comparado das religiões do Egito e Mesopotâmia. Porto Alegre: Edpucrs, 1998. CASILHA, G. A.; CASILHA, S. A. Planejamento urbano e meio ambiente. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2009. CASTELL, S. S. M. La cuestion urbana. Trad. de Irene C. Olivón Siglo Veinteuno. Buenos Ayres: Editores S.A., 1976. CORRÊA, R. L. O Espaço Urbano. Série Princípios. 3. ed. n. 174. São Paulo: Editora Ática, 1995. CORRÊA, R. L. Trajetórias geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. DIAMOND, J. O terceiro chimpancé: a evolução e o futuro do ser humano. Rio de Janeiro: Re- cord, 2010. ECCE HOMO 13: a cidade. [S. l.: s. n.], 2012. 1 video (52 min). Publicado pelo canal Tatiane Maria. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=2ZDdIyJFVZY. Acesso em: 28 out. 2016. GOITIA, F. C. Breve historio do urbanismo. Lisboa: Editorial Presença, 1992. HAROUEL, J.L. História do urbanismo. Campinas: Papirus, 1990. KRAMER, S. N. Os sumérios. 5. ed. Lisboa: Oficinas Gráficas de Livraria Bertrand, 1977. LEFÉBVRE, H. O direito à cidade. Trad. de Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Editora Moraes Ltda, 1991. LEITÃO, M. História do futuro: o horizonte do Brasil no século XXI. São Paulo: Intrínseca, 2013. MUMFORD, L. A cidade na história: suas origens, transformações e perspectivas. 2. ed. São Paulo, Livraria Martins Fontes Editora, 1982. OEA Portal Educativo. c2023. Disponível em: https://www.educoas.org/Portal/bdigital/conte- nido/interamer/BkIACD/Interamer/Interamerhtml/Mellohtml/MelloII.htm. Acesso em: 16 out. 2023. 1 5 REFERÊNCIAS ONU - ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. World population prospects: the 2012 revision, highlights and advance tables (perspectivas da população mundial: revisão de 2012). Nova York: Divisão de População do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais, 2012. VARGAS, K. B; MIOLA, D. T. B.; NASCIMENTO, P. B. do. Planejamento urbano e meio ambiente. Maringá: Centro Universitário de Maringá - EAD, 2014. 1 1 1. D. 2. D. 3. E. GABARITO 1 1 MINHAS METAS ESTUDO DOS AMBIENTES URBANOS Conhecer os principais problemas urbanos e seus impactos sobre o meio ambiente e a sociedade. Considerar informações que levem a uma reflexão ampla sobre a situação socioambien- tal mundial. Conhecer algumas possíveis soluções possíveis para reduzir ou mesmo sanar os proble- mas e impactos ambientais. T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 2 1 8 INICIE SUA JORNADA No Brasil e em outros países, onde a população não será tão grande quando com- parada ao território e a quantidade de recursos naturais, teremos inúmeros desa- fios, pois existe a tendência de imigrações dos povos subdesenvolvidos. Teremos de estar aptos a receber uma população carente e ter recursos para capacitá-los profissionalmente e evoluir em termos de qualidade de vida para todos. Estão previstos desafios mundiais extraordinários como: adequar às regiões costei- ras para as mudanças climáticas; modernizar a mobilidade urbana; melhorar a qualidade de vida; conseguir controlar e trabalhar melhor nossos resíduos só- lidos; construir sistemas eficientes de alerta de eventos catastróficos; conservar os recursos naturais de forma eficiente como a água, o solo e a biodiversidade. Teremos uma agenda de grandes tarefas que precisará da cooperação entre povos em detrimento da competição (LEITÃO, 2013). Diante de tantos desafios é muito importante entender o histórico que nos levou até o momento atual e traçar prognósticos sobre o futuro. Como disse Gandhi: “se quisermos progredir, não devemos repetir a história, mas sim, fazer uma história nova”. DESENVOLVA SEU POTENCIAL PRINCIPAIS PROBLEMÁTICASE IMPACTOS AMBIENTAIS URBANOS Com a maioria das pessoas vivendo nas cidades não é de se admirar que tenha- mos hoje um mundo de problemas a serem resolvidos nesses centros urbanos. Muitos problemas estão presentes desde as cidades mais antigas, fazem parte do histórico do planejamento urbano e até hoje não se conseguiu sobrepujálos totalmente. Logicamente a maioria desses problemas não serão resolvidos apenas com novas propostas de arranjo urbano, dependem de políticas eficientes mun- diais, nacionais e regionais, principalmente nas dimensões sociais, econômicas, ambientais e culturais. Vamos demonstrar as principais problemáticas urbanas mundiais e por consequência os impactos ambientais que são causados. UNIASSELVI 1 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 Considero importante, antes de analisarmos as problemáticas, esclarecer o concei- to legislativo de impacto ambiental. Segundo Sánchez (2006), o impacto ambiental é um desequilíbrio provocado pelo choque da relação do homem com o meio ambiente. O impacto ocorre quando se muda uma situação base, ou seja, situação ambiental existente ou uma condição na ausência de determinada atividade. Conforme a Resolução n° 1/1986 CONAMA, impacto ambiental pode ser definido como: “ [...] qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou ener- gia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam a saúde, a segurança e o bemestar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota e a qualidade dos recursos ambientais (BRASIL, 1986). Conforme o inciso II do artigo 6º dessa resolução, o impacto ambiental pode ser positivo (benéfico) ou negativo (adverso), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazos, temporários e permanentes, e pode proporcionar ônus ou benefícios sociais. O impacto pode possuir também seu grau de reversibi- lidade, e propriedades cumulativas e sinérgicas. São essas as características dos impactos ambientais estudados e analisadas nos licenciamentos ambientais de empreendimentos impactantes. Nos próximos capítulos falaremos mais sobre o licenciamento ambiental e sua importância para o planejamento urbano, por enquanto, é importante guardar bem a conceituação de impacto ambiental. 4 1 Importante ressaltar que o impacto ambiental dentro dessa concepção legal só existe por meio da atividade humana no contexto, ou seja, não pode ser resultante de fenômenos naturais. Sendo assim, mesmo grandes alterações do ambiente causadas por furacões, terremotos, chuvas intensas dentre outros não se enquadram como impactos ambientais, sendo considerados por muitos autores como efeitos ambientais (SILVA, 1999; MOREIRA, 1985). Para que ocorra um impacto ambiental sempre existe o que se chama de aspec- tos ambientais, que são as causas potenciais de impactos, ou seja, se concreti- zam como causas quando o impacto acontece. O “aspecto” é definido pela NBR ISO14001 como “elementos das atividades, produtos e serviços de uma organi- zação que podem interagir com o meio ambiente”. O aspecto tanto pode ser uma máquina ou um equipamento como atividade executada por ela ou por alguém que produzam (ou possam produzir) algum efeito sobre o meio ambiente. Cha- mamos de “aspecto ambiental significativo” aquele aspecto que tem um impacto ambiental significativo, podendo ser positivo ou negativo. Resumindo, estudante, aspecto ambiental seria qualquer intervenção indireta ou direta de atividades ou serviços de uma determinada empresa ou cidade sobre o meio ambiente, quer seja adversa ou benéfica. Para exemplificar podemos dizer que dentro de uma cidade pode ocorrer uma atividade administrativa (descarte de resíduos sólidos em lixão a céu aberto) que acarreta um aspecto ambiental (geração de poluentes chorume) e que por sua vez pode acarretar um impacto ambiental (poluição do lençol freático através de chorume). APROFUNDANDO O quadro a seguir mostra exemplos de atividades, aspectos e impactos am- bientais que podem ocorrer em uma cidade: UNIASSELVI 4 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 Quadro 2 – Atividades antrópicas, aspectos ambientais e impactos ambientais em centros urbanos ATIVIDADE ASPECTO AMBIENTAL IMPACTO AMBIENTAL Aplicação de políticas fiscais injustas. Geração de Desigualda- de Social e Favelização. Erosão, poluição de nas- centes, perda de área florestal entre outros. Descarte de Resíduos Sólidos em Aterro con- trolado. Geração de chorume e gases poluentes. Poluição da atmosfera e de recursos hídricos entre outros. Transporte Coletivo Ina- dequado e ineficiente. Geração de tráfego intenso de veículos. Poluição atmosférica, aumento de problemas de saúde entre outros. Fonte: o autor Quando existe planejamento urbano inadequado ou falho, os impactos am- bientais vão crescendo anualmente e, consequentemente, os danos causados por eles também. Assim forma-se o que chamamos de passivo ambiental. Tra- ta-se de um termo com foco na atuação de empresas, porém, é funcional para a administração de uma cidade. Passivo ambiental são os danos causados ao meio ambiente, as atividades e o custo de recuperação desses danos, representa a obrigação, a responsabilidade social da empresa ou administração pública com aspectos ambientais (RIBEIRO; GRATÃO, 2000). O que chamamos de problemáticas urbanas é o complexo conjunto de atividades, aspectos e impactos que ocorrem nas cidades, causando prejuízos à sociedade. Analisando o histórico do surgimento das cidades, é notável que o adensamento populacional nas cidades e seu crescimento vertiginoso são as causas (aspec- tos ambientais) de inúmeros impactos ambientais. Além disso, a forma como muitas cidades foram surgindo, sem nenhum planejamento ou com apenas ins- truções básicas, também colaboraram muito na formação de problemáticas urbanas. Essas chamadas cidades espontâneas, em que as áreas simplesmente eram ocupadas, criando-se ruas para a mobilidade da população, edificações habitacionais no entorno e uma área central destinada a comércio e serviços, 4 1 trouxeram visão estreita do que realmente é um planejamento urbano (VAR- GAS; MIOLA; NASCIMENTO, 2014). As problemáticas urbanas estão ligadas aos impactos ambientais, pois gran- de parte dos problemas que observamos nas cidades vem de alterações antró- picas (feitas pelo homem) não planejadas, ou com planejamentos ineficazes. Sendo assim, fica claro que as ações dos homens (humanidade) são os motores que geram problemas urbanos, aspectos ambientais e impactos ambientais. A seguir, abordaremos conceituações e caracterizações das principais pro- blemáticas urbanas e os impactos ambientais associados. Desigualdade e segregação social O conceito de desigualdade social pode ser amplo, englobando desde desigual- dade de escolaridade, gênero, oportunidade entre outras. Porém, de forma geral entende-se desigualdade social como desigualdade econômica (renda), pois como já disse Milton Santos (2000) (geógrafo brasileiro renomado): o dinheiro é o centro do mundo. Mesmo em uma cidade bem planejada e com recursos naturais e financei- ros abundantes é comum percebemos a existência de desigualdade social, esta sempre existirá. A igualdade plena para todos os cidadãos é realmente um sonho impossível de ser alcançado, porém, quanto mais perto conseguirmos estar dessa igualdade melhor será para a sociedade em geral, para o grande coletivo de pes- soas. Em termos gerais, a desigualdade não é ruim para a sociedade, em certos níveis ela pode estimular melhorias, o grande pro- blema está nas proporções dessa desigualdade que desde 1970 vem aumentando de forma preocupante no mundo todo (PIKETTI, 2013). De acordo com o Relatório do Fórum Econômico de Davos (2016) apenas 62 pessoas detêm tanta rique- za quanto a metade da população mundial. No Global Wealth Report (Relatório da Riqueza Global) do ano de 2015, elaborado pelo banco Credit Suisse, verifica-se que entre 2010 e 2015 ainda é notável ealarmante o crescimento da desigualdade mundial. Nesse relatório fica demonstrado que a concentração de renda mundial alcançou níveis críticos, semelhantes aqueles encontrados na época da industria- lização antes da Primeira Guerra Mundial. Incrivelmente os dados mostram que é comum percebemos a existência de desigualdade social UNIASSELVI 4 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 0,7% da população existente possui 45,2% de toda a riqueza monetária do mundo. Os dados são semelhantes aos demonstrados por Thomas Piketti (2013), no best seller sobre desigualdade Capital no Século XXI, em que o autor fez uma análise econômica profunda e detalhada da desigualdade social no mundo. O preocupante dessa aceleração da desigualdade é que se continuar teremos um colapso, pois existirá um fosso sem fim entre esses praticamente 1% da humani- dade e seu restante. Poderemos chegar ao momento em que a taxa de retorno do capital (taxa de lucro de investimentos e empreendimentos do mundo) passe a ser maior do que a taxa de crescimento da economia mundial, ou seja, os grandes empresários e acionistas ficarão mais poderosos que a economia mundial. Hoje, já estamos com um poder exacerbado nas mãos de poucos e a tendência é isso aumentar (PIKETTI, 2013). No Brasil, a desigualdade social historicamente é acentuada. Vem diminuin- do com oscilações nos últimos 20 anos, porém, ainda de forma tímida. Os dados de imposto de renda e índices associados à desigualdade são pouco divulgados e alguns não possuem boa confiabilidade, o que traz dificuldades para trazer resultados completos sobre a desigualdade social brasileira. Segundo dados da ONU, em 2005 o Brasil era a 8º nação mais desigual do mundo. O índice Gini, que mede a desigualdade de renda, divulgou em 2009 que a do Brasil caiu de 0,58 para 0,52 (quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade). Em 2015 o Global Wealth Report (Relatório da Riqueza Global) demonstrou que o Brasil teve queda da desigualdade, seguindo caminho inverso da maioria dos países. Apesar das reduções o Brasil continua fortemente desigual como confirma dados de 2012 das declarações de Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF), que demonstram que os 50% mais pobres possuem apenas 2% do patrimônio brasileiro, 8,13% das pessoas possuem 87,40% da riqueza e somente 0,9% detêm 59,90% da renda brasileira. Também são similares ao Relatório do Fórum Econômico de Davos (2016) que en- fatiza que entre 2010 e 2015 a desigualdade aumentou vertiginosamente, sendo demonstrado que 50% da população mundial diminuiu em 41% sua condição eco- nômica, em contraponto aqueles 62 mais ricos acresceram seu patrimônio em 500 bilhões de dólares, atingindo 1,76 trilhões de dólares. ZOOM NO CONHECIMENTO 4 4 A solução para desigualdade social se concentra na educação de qualidade bem distribuída no mundo, em políticas fiscais justas, salários justos e infra estrutura de saúde, mobilidade e saneamen- to (ONU, 2012). A diminuição da desigualdade só será possível por meio das instituições de um país, principalmente as educativas. Parte dessas soluções podem se enquadrar no planejamento urbano de uma cidade, outras dependem de outros setores e gestões políticas com planejamento de longo prazo. A desigualdade social é um problema que visualizamos nas cidades e que acaba por ter sinergia com outros problemas e que, por fim, acarretam impactos ambientais. Para exemplificar, vamos lembrar que as ocupações ilegais e favelas tem ligação direta com a desigualdade social. Como sabemos as áreas centrais ou com boas infraestruturas de uma cidade são mais valorizadas e essa valori- Nas cidades essa desigualdade brasileira pode ser observada na favelização, po- breza, miséria, desemprego, desnutrição, marginalização, violência e causa a cha- mada segregação, pois tamanha discordância de renda traz ocupação do espaço diferenciada, mesmo que o poder público faça o melhor zoneamento urbano e consiga boa infraestrutura para a cidade. A contradição que envergonha nossa nação nesses dados é que o Brasil possui o décimo maior PIB do mundo. APROFUNDANDO Apesar das reduções o Brasil continua fortemente desigual UNIASSELVI 4 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 zação dificilmente decai. O imóvel e terrenos no Brasil de modo geral são caros, sendo que para maioria da população brasileira se torna inviável adquirir um imóvel, mesmo com trabalho e dedicação durante uma vida inteira. Imóveis de qualidade e bem localizados acabam só sendo possíveis para pessoas afortunadas, que conquistaram boas oportunidades ou receberam herança de parentes ricos. Figura 1: Favela da Rocinha, Rio de Janeiro, Brasil / Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/com- mons/c/cb/Leszek_Wasilewski-rocinha.jpg. Acesso em: 16 out. 2023. Descrição: moradias construídas em morros e áreas ilegais, conhecida por Favela da Rocinha no Rio de Janeiro. Nota-se algumas árvores entre as construções na parte superior da imagem. Até mesmo o aluguel de um imóvel pode ser inviável, com isso, fica difícil evitar a favelização. Através das favelas surge o poder do crime organizado e gera-se aumento de violência. Em termos ambientais por essas favelas ou áreas de ocu- pação ilegal serem normalmente em áreas de morro ou naturais, ocorrem des- matamentos, erosão, desbarrancamentos entre outros impactos. Essas regiões acabam por não ter infraestrutura de esgoto ou água pluvial, até mesmo a coleta de lixo usualmente pode não ocorrer, sugere então a poluição de nascentes, rios, solo e lençol freático. As ocupações ilegais e a favelização são parte integrante do processo de ur- banização no Brasil, existindo como prática de mais de 100 anos atrás. A partir dos anos 1980 as invasões evoluíram de simples ocupações gradativas de famílias 4 1 carentes para enormes ocupações massivas e organizadas. Isso se deve em parte a crise econômica que se iniciou em 1979. Várias cidades brasileiras apre- sentam, a partir dessa data, a ocorrência de ocupações coletivas e organizadas de terra, mais raras nas décadas anteriores (MARICATO, 1999). Hoje temos ocu- pações massivas e gradativas ocorrendo, movimentos de sem teto se amplificam e o número e extensão de favelas ainda cresce nas principais cidades brasileiras. Carência de saneamento básico Saneamento básico envolve um conjunto de serviços e ações que tem o intuito de promover a salubridade ambiental, trazendo assim maior qualidade de vida tanto em zonas urbanas como rurais. Acaba sendo um arcabouço de medidas para mitigação (redução) de impactos ambientais, além de um instrumento da saúde pública que intervém sobre o meio físico do homem para eliminar as con- dições deletérias da saúde. Os serviços relacionados ao Saneamento Básico, são: 1. ABASTECIMENTO • Abastecimento de água. 2. COLETAS • Coleta, remoção, tratamento e disposição final dos esgotos. • Coleta, remoção, tratamento e disposição final de resíduos sólidos, lixos. 3. DRENAGEM • Drenagem das águas pluviais. 4. HIGIENE • Higiene dos locais de trabalho e de lazer, escolas e hospitais. • Higiene e saneamento de alimentos. UNIASSELVI 4 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 5. CONTROLE • Controle de artrópodes e de roedores (vetores de doenças). • Controle de poluição do solo, do ar e da água, poluição sonora e visual. 6. SANEAMENTO EM ÉPOCAS DE EMERGÊNCIA • Quando ocorrem calamidades ou desastres ambientais. O Brasil tem carência de todos esses serviços em muitas regiões, porém, de ma- neira geral é mais evidente os descasos com os resíduos sólidos, que trataremos em item específico devido suas particularidades; abastecimento de água; drena- gem das águas pluviais; e o que tange o esgoto sanitário. Focaremos então nos problemas envolvendo essas três últimas grandes áreas do saneamento. O Saneamento Básico de maneira geral, envolve o recurso natural denominado água, que possui algumas informações básicas. Trata-se de um recurso natural renovável, ou seja, sua quantidade não se altera no planeta (se mantém em um ciclo). O que podeser alterado é sua distribuição e qualidade. Segundo o Atlas da Água, dos especialistas norte-americanos Robin Clarke e Jannet King, a Terra dispõe de aproximadamente 1,39 bilhão de quilômetros cúbicos de água, e essa quantidade não vai mudar. A água encontra-se distribuída entre doce e salgada da seguinte forma 97,5% salgada (mares e oceanos) e apenas 2,5% doce. Dessa quantidade de água doce 68,9% encontra-se em forma de gelo (calotas polares, geleiras e no cume de montanhas); 29,9% são águas subterrâ- neas (aquíferos); 0,9% são de áreas brejosas e pântanos; e apenas cerca de 0,3% estão nos rios e lagos. Utilizamos essa água doce principalmente de rios e lagos, destinando 70% para a irrigação na agricultura; 20% para a indústria e cerca de 10% para uso humano e tratamento de animais. E se o tratamento e uso da água no mundo continuar degradante? PENSANDO JUNTOS 4 8 De acordo com o relatório trienal divulgado em 2009 pela Organização das Na- ções Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), se o tratamento e uso da água no mundo continuar degradante, em 2025, cerca de 3 bilhões de pessoas sofrerão com a escassez de água, devido à poluição desenfreada e das modificações em sua distribuição no planeta. O maior problema da água no mundo é sua distribuição: 60% em apenas 9 países, enquan- to 80 outros enfrentam escassez. Estima-se que menos de um bilhão de pessoas consome 86% da água existente; 1,4 bilhões sofrem de escassez e 2 bilhões não possuem água tratada, o que acarreta 85% das doenças segundo Organização Mundial da Saúde (2015). O descaso com o tratamento da água é enorme, pois se estima que mais de 80% da água usada no mundo não é coletada e nem tratada, isso ocorre principalmente nos países em desenvolvimento. Mesmo a água sendo um recurso renovável existe um tempo para que ocorra sua renovação (cerca de 43 mil km cúbicos por ano) para possibilitar o uso hu- mano, com isso, pode-se prever que seriam necessários 3,5 vezes a quantidade de água doce do mundo se toda a população mundial consumisse água como um europeu ou americano (OMS, 2015). No Brasil a água é um recurso abundante, possuímos os dois dos maiores aquíferos do mundo (Guarani e Alter do Chão), além de uma quantidade in- vejável de rios e lagos (cerca de 12% da água doce do mundo). Porém, o nível de poluição sobre nossas águas e desperdício é imenso, principalmente, devido à contaminação vinda de produtos químicos de origem agrícola (pesticidas), industrial (chumbo e outros metais pesados) e residencial (esgoto doméstico). Outro problema é que possuímos território vasto e a água acaba por ser desi- gualmente distribuída: 72% na região amazônica, 16% no Centro-Oeste, 8% no Sul e no Sudeste e 4% no Nordeste. A situação brasileira, em termos de abastecimento, é: ■ 82,5% dos brasileiros são atendidos com abastecimento de água trata- da. Porém, mais de 35 milhões de brasileiros ficam sem o acesso a este serviço básico. ■ A cada 100 litros de água coletados e tratados, em média, apenas 67 litros são consumidos. Perde-se 37% da água, seja com vazamentos, roubos e o nível de poluição sobre nossas águas e desperdício é imenso UNIASSELVI 4 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 ligações clandestinas, falta de medição ou medições incorretas no con- sumo de água. ■ A soma do volume de água perdida por ano nos sistemas de distribuição das cidades daria para encher 6 (seis) sistemas Cantareira. ■ A região Sudeste apresenta 91,7% de atendimento total de água; enquanto isso, o Norte apresenta índice de 54,51%. A região Norte é a que mais perde, com 47,90%; enquanto isso, o Sudeste apresenta o menor índice com 32,62%. ■ A média de consumo per capita de água no Brasil em três anos é de 165,3 li- tros por habitante ao dia. Em 2014, este valor foi 162 l/hab.dia. Em três anos, a região Sudeste apresentou o maior índice com 192 l/hab.dia e o menor foi o Nordeste com 125,3 l/hab.dia. Em 2014, o Sudeste continuou como maior índice 187,9 l/hab.dia e o Nordeste como o menor de 118,9 l/hab.dia. A drenagem das águas de uma cidade é outro requisito importante do Sanea- mento Básico, que influi na qualidade das águas. Quando mal implementado e gerenciado pode causar grandes prejuízos e impactos ambientais. Nas cidades ocorre uma grande impermeabilização do solo, as calçadas, ruas e edificações impedem que a água da chuva possa infiltrar no solo. Essa água da chuva é con- duzida pelas chamadas galerias pluviais para bacias hidrográficas do município (nascentes, córregos e rios). Figura 2: Galeria pluvial no Parque Municipal dos Xetá, Umuarama / Fonte: o autor. Descrição: entrada de uma galeria pluvial. O cenário está composto por água não potável preenchendo a galeria; ao redor percebe-se que a área está descuidada, aparentemente com lixos e matos. 5 1 A população de uma cidade raramente percebe os impactos que as águas pluviais acabam por fazer nas bacias hidrográficas, que normalmente estão em Áreas de Preservação Permanente (APP) (matas ciliares, parques, nascentes), pois os estragos ficam escondidos pelo mato. Figura 3: Saída de várias galerias pluviais em área de nascente do córrego principal do Parque dos Xetá. Fonte: o autor. Descrição: saída de várias galerias pluviais, em formato circular, em área de nascente do córrego principal do Parque dos Xetá; com vegetação densa sobre as saídas. Quando chove o lixo que a população descarta nas ruas acaba indo diretamente para essas áreas naturais contaminando rios e animais, além de condicionar o aparecimento de vetores de doenças. Além disso, as águas pluviais, na maioria dos casos, acabam adquirindo velocidades intensas dentro do sistema de drenagem e quando são descartadas causam erosões enormes deformando leitos de rios, podendo chegar a causar o aterramento do leito original. A seguir, seguem fotos dos municípios de Maringá e Umuarama, no Paraná, em que constata-se grandes impactos das águas pluviais em APP dessas cidades. UNIASSELVI 5 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 Figura 4: Erosão nas margens do Córrego Cleópatra no Bosque dos Pioneiros. / Fonte: o autor. Descrição: erosão nas margens do Córrego Cleópatra; na imagem, raízes da vegetação expostas devido ao buraco que se abriu. A infiltração é importante dentro do ciclo natural da água (ciclo hidrológico), pois regula a vazão dos rios, distribuindo-a ao longo de todo o ano, evitando, assim, os fluxos repentinos, que provocam inundações. A impermeabilização de grandes áreas como o que ocorre nas cidades traz graves problemas de infiltra- ção, justamente por isso é importante haver considerável porcentagem de áreas permeáveis nos lotes particulares e áreas de uso público. Voçoroca degradando leito de córrego do Parque Municipal dos Xetá. Fonte: o autor. 5 1 Voçoroca causada por descarga de água pluvial no Bosque dos Pioneiros, Maringá, Paraná. Fonte: o autor. Voçoroca causada por descarga de água pluvial no Bosque dos Pioneiros, Maringá, Paraná. Fonte: o autor. Estima-se que de toda água que se precipita sobre as áreas continentais do mun- do, a maior parte (60 a 70%) se infiltra, porém, uma significativa parte de 30 a 40% escoa diretamente para as bacias hidrográficas. Quanto maior for à impermeabi- lização de uma região menor será a porcentagem de água que se infiltra e isso é danoso para o sistema hidrológico. A água que se infiltra tem a função de manter os rios fluindo em uma vazão padronizada o ano todo, mesmo quando existem épocas de estiagem. Quando diminui a infiltração, necessariamente aumenta o escoamento superficial das águas das chuvas e teremos vazões desreguladas, mais erosão e mais poluição (HARTMAN, 1996). Grande concentração de lixo nas ruas associada à concentração de chuvas é a fórmula básica para a formação de inundações nas cidades. As bocas de lobo ficam entupidas, o que impede o fluxo das águas na galeria pluvial, levando acú- mulo de água para as ruas da cidade. Enorme grau de impermeabilização nascidades associado a níveis altos de precipitação levam a formação de enchentes, pois a vazão dos rios se eleva rapidamente fazendo estes transbordarem levando acúmulo de água para regiões urbanas e rurais. UNIASSELVI 5 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 Outra área importante do Saneamento Básico e diretamente associada ao recurso água é relacionada à coleta, tratamento e disposição final dos esgotos de uma cidade. A situação brasileira, em termos de coleta e tratamento de esgoto, é: ■ 48,6% da população têm acesso à coleta de esgoto. ■ Mais de 100 Milhões de brasileiros não têm acesso a este serviço. ■ Mais de 3,5 milhões de brasileiros, nas 100 maiores cidades do país, des- pejam esgoto irregularmente, mesmo tendo redes coletoras disponíveis. ■ Mais da metade das escolas brasileiras não têm acesso à coleta de esgotos. ■ 47% das obras de esgoto do PAC, monitoradas há seis anos, estão em situação inadequada. Apenas 39% foram concluídas e, hoje, 12% se en- contram em situação normal. ■ 40% do esgoto do Brasil não são tratados, sendo descartado in natura nas bacias hidrográficas. ■ A média das 100 maiores cidades brasileiras em tratamento dos esgotos foi de 50,26%. Apenas 10 delas tratam acima de 80% de seus esgotos. ■ As capitais brasileiras lançaram 1,2 bilhão de m³ de esgotos na natureza em 2013. 1. NA REGIÃO NORTE Na região Norte apenas 14,36% do esgoto é tratado, e o índice de atendimento total é de 7,88%. A pior situação entre todas as regiões. 2. NA REGIÃO NORDESTE Na região Nordeste apenas 28,8% do esgoto é tratado. 3. NA REGIÃO SUDESTE No Sudeste 43,9% do esgoto é tratado. O índice de atendimento total de esgoto é de 78,33%. 5 4 4. NA REGIÃO SUL Na região Sul 43,9% do esgoto é tratado. 5. NO CENTRO-OESTEE No Centro-Oeste 46,37% do esgoto é tratado. A região com melhor desempenho, po- rém a média de esgoto tratado não atinge nem a metade da população. Mesmo em casos de sucesso das melhores cidades brasileiras em saneamento bá- sico ranqueadas pelo Instituto Trata Brasil, vemos que não se alcança plenamente 100% dos serviços necessários. A cidade de Franca - SP ocupa há vários anos a primeira colocação como tendo o melhor saneamento básico do Brasil, mesmo assim, 22% do esgoto da cidade ainda não é tratado. A cidade de Maringá-PR ocupa a segunda colocação e seu índice de perda de água é considerado invejável, pois ela perde 22% da água para abastecimento. Em termos de desperdício 22% claramente é uma alta porcentagem, porém, para o nível brasileiro trata-se de um ótimo índice. Acúmulo de resíduo sólido (lixo) Podemos definir resíduos sólidos como toda e qualquer sobra da atividade huma- na que gere algum tipo de material sólido. Os resíduos sólidos podem ser classi- ficados em domésticos, hospitalares, comerciais, industriais e especiais (entulhos de construção civil ou matéria animal e vegetal). De acordo com sua composição química sua classificação se divide em duas classes: orgânicos (material natural, restos de seres que já foram vivos) e inorgânicos (material industrializado ou que não se originou diretamente de organismo vivo). UNIASSELVI 5 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 “ Os resíduos sólidos urbanos (RSU), nos termos da Lei Federal nº 12.305/10 que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, englobam os resíduos domiciliares, isto é, aqueles originários de atividades domésticas em residências urbanas e os resíduos de lim- peza urbana, quais sejam, os originários da varrição, limpeza de lo- gradouros e vias públicas, bem como de outros serviços de limpeza urbana (ABRELPE, 2015, p. 38). O lixo mundial saltará de uma média de 1,3 bilhão de toneladas para 2,2 bilhões de toneladas anuais até o ano de 2025. Existe um consenso em termos técnicos que a gestão e o descarte correto dos resíduos sólidos são imprescindíveis para que o mundo alcance o desenvolvimento sustentável. Existe no mundo todo, principalmente nos países mais desenvolvidos, um exagerado consumo de pro- dutos industrializados necessários ou supérfluos, com isso um problema de ge- ração de resíduos sólidos imensa, com destinação e usos bastante inadequados causando ou intensificando impactos socioambientais, tais como: degradação do solo, poluição de recursos hídricos (nascentes, rios, lençóis freáticos, aquíferos e oceanos), enchentes, poluição do ar, proliferação de vetores de doenças e a de- 5 1 gradação social de catadores de resíduos que acabam por trabalhar em condições insalubres nas ruas e nas áreas de disposição final (BESEN et al., 2010). Figura 5: Descarte de lixo eletrônico em Acra, Capital de Gana. / Fonte: https://www.ambientelegal.com. br/wp-content/uploads/lixoeletronicoemara-capitaldegana.jpg. Acesso em: 16 out. 2023. Descrição: a imagem retrata um cenário extremamente poluído; um imenso depósito de lixo eletrônico a céu aberto; é possível notar peças de computadores, celulares etc. Além dos problemas socioambientais existe grande desperdício de dinheiro dentro do que chamamos de problemática do lixo. De acordo com relatório do Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA), realizado em 2015, constatou-se que 90% do lixo eletrônico do mundo, com valor estimado em 19 bilhões de dólares, foi comercializado ilegalmente ou jogado no lixo a cada ano. A indústria eletrônica, uma das maiores do mundo, chega a gerar uma média por ano de 41 milhões de toneladas desse tipo de lixo, tudo vindo de produtos como computadores, impressoras, máquinas fotográficas, celulares e smartphones. Se- gundo previsões, este número pode chegar a 50 milhões de toneladas já em 2017. UNIASSELVI 5 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 Quando falamos em lixo orgânico também é possível constatar o imenso desperdício que existe no mundo, pois grande parte desse tipo de lixo é com- posto por restos de alimentos estragados por não terem sido consumidos. Um relatório da organização britânica Institution of Mechanical Engineers (IMechE), intitulado Global Food; Waste not, Want not (Alimentos Globais; Não Desper- dice, Não Sinta Falta), estimou que o equivalente entre 30% e 50% dos alimentos produzidos no mundo por ano, ou seja, entre 1,2 bilhão e 2 bilhões de toneladas, nunca são ingeridos (IMECHE, 2013). Se considerarmos que 795 milhões é o número de pessoas que passam fome no mundo atualmente, segundo dados do relatório anual sobre a fome “Estado da Insegurança Alimentar no Mundo 2015”, publicado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricul- tura (FAO), o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (IFAD) e o Programa Alimentar Mundial (PAM), seria possível sanar a fome do mundo com os alimentos desperdiçados (FAO, 2015). Para comprovar que o acúmulo de resíduos sólidos gerado pela humanida- de é imenso, nada melhor que analisar sua proporção nos oceanos, pois esses englobam a maior parte da área do planeta. Em um estudo divulgado no encon- tro anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência, no ano de 2015, elaborado por especialistas que analisaram dados de resíduos recolhidos nos oceanos em 192 países no ano de 2010, se estimou que uma média de 8 milhões de toneladas de lixo plástico são lançadas nos oceanos anualmente. As 20 nações que despejam as maiores quantidades seriam responsáveis por 83% do plástico descartado nos oceanos. A China encabeça essa lista de 20 nações, produzindo mais de um milhão de toneladas. Os Estados Unidos ficou em vigésimo lugar, isso devido a suas boas práticas de limpeza em regiões costeiras. Existe uma grande ameaça desse lixo à biodiversidade marinha, pois boa parte desse plástico acaba por ser consumida por animais podendo levar à morte, além de problemas de poluição em larga escala. Diante dessa problemática de acúmulo de resíduos sólidos o Brasil avançou em termos legislativos em 2010 com a instituição da Política Nacional de Resí- duos Sólidos (PNRS - A Lei nº 12.305/2010), que é considerada bastante atual e contém instrumentos importantes para permitir o avanço necessário