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Psicologia_3

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( 3 )
A construção social do ser humano: 
subjetividade e identidades
À duração da minha existência 
dou uma significação oculta que 
me ultrapassa. Sou um ser conco-
mitante: reúno em mim o tempo 
passado, o presente e o futuro, o 
tempo que lateja no tique-taque 
dos relógios. 
Clarice Linspector
Nesta unidade, analisaremos os aspectos 
da construção da subjetividade, das identidades e sua impor-
tância nas relações sociais.
A	identidade	é	um	tema	multidisciplinar	da	Filosofia,	
Antropologia, Sociologia, Psicologia e outras áreas. Apre-
ende-se o conceito através da análise das condições de vida 
historicamente construídas de um sujeito e não através do es-
tudo das singularidades da alma ou no arcabouço biológico. 
Propomos,	nesta	unidade,	algumas	reflexões	acerca	da	
construção do conceito das subjetividades e identidades do 
ser humano e, em especial, as motivações psicológicas que 
ensejam a realização das suas ações. 
Vamos	refletir	sobre	as	questões:	
 ‚ Como homens e mulheres investem continuamente 
em assumir características e traços considerados ine-
rentes à constituição do ser?
 ‚ Por que este tema é importante para o estudo das re-
lações sociais? 
Cláudia Vaz Torres
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 ‚ Importa, para você, a identidade do outro?
 ‚ Você sabe conceituar identidade? E subjetividade?
Existe uma tensão constante do termo identidade com 
o termo subjetividade. Woodward (2000, p. 55) esclarece que 
os termos “identidade” e “subjetividade” são, às vezes, utili-
zados de forma intercambiável.
 
Existe, na verdade, uma considerável 
sobreposição entre os dois. Subjetivi-
dade sugere a compreensão que temos 
sobre o nosso eu. O termo envolve os 
pensamentos e as emoções inconscien-
tes que constituem nossas concepções 
sobre ‘quem somos nós’. A subjetivida-
de envolve nossos sentimentos e pensa-
mentos mais pessoais. Entretanto, nós 
vivemos nossa subjetividade em um 
contexto social no qual a linguagem e 
a cultura fornecem elementos para a 
construção do significado sobre a ex-
periência que temos de nós mesmos e 
no qual nós construímos e adotamos 
identidades.
Depreendemos que os conceitos de identidade e sub-
jetividade tencionam entre si porque envolvem discussões 
sobre a subjetividade individual e coletiva, a historicidade, as 
interações sociais, a dependência do outro como constituinte 
da subjetividade e os processos de individuação. As tensões, 
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também,	revelam	a	dificuldade	de	exprimir	conceitualmente	
as suas complexidades. 
A subjetividade pode ser compreendida como o que 
constitui o nosso modo de ser, envolve a maneira de pensar, 
sentir, agir, etc. E a identidade é o modo como nos apresenta-
mos ao mundo e somos reconhecidos. As pessoas vão se cons-
tituindo umas às outras, ao mesmo tempo em que constituem 
um	universo	de	significações	que	as	constitui.	As	identidades	
envolvem a articulação de várias personagens, articulação de 
igualdades e diferenças atravessada por uma história pessoal.
(3.1)
Construindo um conceito de 
identidade
Como se constroem as nossas identidades? 
Reflita	sobre	a	questão	a	partir	dos	vídeos:
Identidade de Fernando Meireles disponível em http://www.youtube.
com/watch?v=yKG8no8OKDg
e Identidade cultural na pós- modernidade disponível em http://www.
youtube.com/watch?v=x4mwIWTEdC8
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Para construir o conceito de identidade, é necessário 
que se façam opções epistemológicas, metodológicas e políti-
cas, pois existem diferentes formas de pensar sobre qualquer 
conceito. Para os propósitos deste estudo, constitui-se pressu-
posto fundamental a ideia de identidade como uma constru-
ção social, superando aquele que a apresenta como uma enti-
dade	fixa	e	imutável,	destacando	o	caráter	ativo	do	indivíduo	
no contexto sócio-histórico de sua vida.
Nesse sentido, fazemos uma incursão pelos trabalhos 
de Ciampa (1987), Hall (2001), Woodward (2000), entre outros, 
que permitem a construção de saberes necessários para a 
compreensão do processo de constituição da identidade.
O termo identidade remete ao que é idêntico, ao que 
torna os indivíduos iguais aos demais, mas também ao 
conjunto de caracteres que possuem e que os tornam di-
ferentes e únicos. Ao mesmo tempo em que se representa 
semelhante ao outro por pertencer à determinada classe, 
raça ou categoria, o indivíduo percebe-se como um ser úni-
co a partir de um conjunto de traços que o diferenciam e o 
distinguem por algo que ele não é.
Para Ciampa (1986), a criança antes de nascer já é repre-
sentada	como	filho	de	alguém	e	essa	representação	prévia	a	
constitui	efetivamente	e	objetivamente	como	filho	e	membro	
de uma determinada família. Posteriormente, essa represen-
tação	é	interiorizada	pelo	indivíduo	e	reafirma-se	à	medida	
que	as	relações	nas	quais	estiver	envolvido	confirmarem	essa	
representação, através de comportamentos e discursos que 
reforcem	a	sua	 identificação	com	o	 fazer	do	pai	e/ou	mãe	e	
com tudo que envolve a dinâmica familiar. 
A	identidade	de	um	sujeito	não	é	fixa,	permanente,	es-
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tável, ela está em constante processo de transformação. 
Confere-se, ainda, importância ao conceito de identi-
dade ao longo da história.
(3.2)
O conceito de identidade 
 na história
Em diferentes períodos históricos, o conceito de iden-
tidade tem variado de importância. Segundo Gaarder (1995), 
um	dos	maiores	filósofos	da	Antiguidade,	Sócrates	(469-399	
a.C.), acreditava que a identidade humana busca o saber es-
sencial da realidade e não apenas o conhecimento do que 
pode ser útil às suas necessidades. O acesso ao que é essen-
cial, na realidade, para Sócrates, não poderia ser conseguido 
sem a busca do conhecimento e o reconhecimento de que o 
homem é capaz de realizar o desejo de conhecer e de se asso-
ciar às diferentes realidades de seu dia a dia. Para Sócrates, 
explica Gaarder (1995), era importante encontrar um alicerce 
seguro para o conhecimento. Ele acreditava que esse alicerce 
estava na razão humana. Através da razão, do ato de conhe-
cer, a identidade humana experimentava um comum-perten-
cer à realidade. A realidade, assim, era compreendida pelo 
homem através das sensações. Estas conformam um saber útil, 
constituído pelos sentidos e também pelo conhecimento e pelo 
discurso, com a função de entrelaçar o homem à sua realidade.
Posteriormente, o homem passou a incumbir-se da ta-
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refa de construir sistemas de ideias com os quais julgaria e 
atribuiria um valor à realidade. Para Platão (427-347 a.C.), o 
mundo material torna-se compreensível através das hipóte-
ses das ideias, realidades invisíveis, incorpóreas, perfeitas e 
imutáveis. As ideias são modelos ideais a serem buscados e 
copiados	de	modo	imperfeito	e	transitório.	Para	o	filósofo,	a	
identidade humana sempre esteve e está na clareira das ideias, 
o que a torna capaz de recordá-las, através das sensações do 
corpo. Assim, em Fédon, Platão (1983, p. 115) explicava:
Uma vez evidenciado que a alma é 
imortal, não existirá para ela nenhuma 
fuga possível a seus males, nenhuma 
salvação, a não ser tornando-se melhor 
e mais sábia. A alma, com efeito, nada 
tem consigo, quando chega ao Hades, 
do que sua formação moral e seu regi-
me de vida. 
A alma, neste sentido, é a possibilidadeda relação en-
tre a natureza e a sociedade, e a identidade humana passa a 
ser associada ao Ser.
Na Idade Média, a identidade humana já não era mais 
entendida à luz das ideias, mas de acordo com os preceitos da 
fé cristã. Para os teólogos, o que importava era unir o homem 
a Deus através da crença.
A fé cristã referida era, então, enunciada através de um 
discurso	teológico	que	se	servia	do	conhecimento	filosófico	
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da época e praticada para assegurar ao homem o seu perten-
cimento a Deus. A existência, os desejos e as necessidades do 
homem não interessavam à teologia medieval; o importante 
era que o homem se aproximasse do divino. Santo Agostinho 
(354-430), um dos maiores teólogos da Idade Média, acredi-
tava que toda a existência humana é de natureza divina. No 
cerne da antropologia agostiniana, Deus é a bondade absolu-
ta, e o homem, um miserável condenado ao inferno, só obten-
do salvação mediante a graça divina. 
No	fim	da	Idade	Média	e	no	início	do	Renascimento	e	
da Reforma, importantes transformações ocorridas nos sécu-
los XV e XVI marcam uma mudança na concepção da identi-
dade, que passou a ser compreendida não mais ancorada nas 
sensações ou na fé, mas na autonomia e liberdade de pensa-
mento e crença. Assim, o início da Modernidade é geralmente 
interpretado dentro de um pensar cartesiano: “Penso, logo 
existo!”, principalmente no que tange ao exercício da razão. 
Deste modo, o homem tomou para si a necessidade de estabe-
lecer o eixo da sua existência e elevar-se a um nível superior 
para tornar-se ser humano. O distanciamento das concepções 
reinantes da Idade Média, em que todos os aspectos da vida 
humana estavam atrelados a Deus, possibilitou que o homem 
voltasse a ocupar o centro de tudo. A égide deste movimento, 
segundo Gaarder (1995, p. 216), era a seguinte: “De volta às 
fontes”. E a principal fonte era o humanismo da Antiguida-
de. Deste modo, a maior contribuição do Renascimento foi a 
abertura para uma nova visão de homem, cuja existência não 
estava presa ao divino. 
Sobre a posição ocupada pelo homem nesse momento, 
Gaarder (1995, p. 219) declara:
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O homem não existia apenas para ser-
vir a Deus, mas também para ser ele 
próprio. Por esta razão, o homem podia 
desfrutar aqui e agora de sua própria 
vida. E se o homem podia se desenvol-
ver livremente, ele tinha possibilidades 
ilimitadas. Seu objetivo era ultrapassar 
todas as fronteiras.
O famoso homem vitruviano
Fonte: Banco de dados ThinkStock
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Conhecer não era compreender a essência, mas as re-
lações do objeto com o contexto através de estruturas mate-
máticas quantitativas. A contemplação cedeu lugar à mani-
pulação; os sistemas hierárquicos sucumbiram à relatividade; 
o mundo empírico abriu espaço para o conhecimento prove-
niente	da	razão.	Deste	modo,	não	se	pode	refletir	sobre	o	con-
ceito	de	identidade	sem	o	apoio	da	Filosofia,	da	Antropologia,	
da Sociologia e da Psicologia. Expressões distintas – como 
imagem, representação e conceito de si, que se referem a um 
conjunto de traços, imagens e sentimentos que o indivíduo 
reconhece como fazendo parte dele próprio – são empre-
gadas, fazendo referência ao conceito de identidade. Como 
enuncia Jacques (1998, p. 160): 
A identidade pode ser representada 
pelo nome, pelo prenome eu ou por 
outras predicações como aquelas refe-
rentes ao papel social. No entanto, a re-
presentação de si através da qual é pos-
sível apreender a identidade é sempre 
a representação de um objeto ausente 
(o si mesmo). Sob este ponto de vista, 
a identidade se refere a um conjunto de 
representações que responde a pergun-
ta ‘quem és’.
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(3.3)
“Quem eu sou?”
 
Responder à pergunta “quem eu sou” implica, para o 
indivíduo, tornar claro o modo como está inserido no mundo 
social,	a	atividade	produtiva	que	se	presentifica	como	atribu-
to do eu e as relações sociais estabelecidas.
Percebe o quanto estas questões são importantes?
Então: Quem és? O que faz?
Para a Psicologia Sócio-Histórica, que tem como re-
ferência a Psicologia Histórica Cultural, o entendimento de 
como as identidades se constituem não pode prescindir de 
levar em conta as condições históricas, sociais e econômicas 
nas quais o homem está inserido, a compreensão de que a 
identidade não é preexistente ao homem e que a análise do 
“mundo interno” exige a análise do “mundo externo”, que es-
tão em movimento contínuo de construção e desconstrução. 
O mundo interno dos seres humanos não pode ser en-
tendido descolado da realidade, que inclui aspectos impor-
tantes, como o trabalho social e a atividade humana, carac-
terística que promove a divisão das funções e origina novas 
formas de comportamento, bem como o uso de ferramentas e 
o aparecimento da linguagem.
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A linguagem é um sistema de códigos e um recurso 
que permite a abstração, a generalização, o pensamento, a 
imaginação, a criatividade, a reestruturação emocional e a 
construção da subjetividade. Não se pode estudar o mundo 
interno do ser humano sem levar em conta esses aspectos: 
o trabalho, o uso de ferramentas, a linguagem e a atividade 
consciente entendidos não de modos justapostos, mas como 
presenças que caracterizam uma unidade.
Antônio Ciampa (1987), psicólogo social que desenvol-
veu uma concepção psicossocial da identidade, explica que 
ela aparece como um processo, sem características de perma-
nência ou independência entre os elementos biológicos, psi-
cológicos e sociais que a constituem. 
Para Ciampa (1987, p. 152): “A identidade de uma pes-
soa é um fenômeno social e não natural.” É, então, um pro-
cesso em constante movimento dialético, construído pela 
atividade e ação do sujeito. O autor citado emprega o termo 
“metamorfose” como possibilidade de transformação e supe-
ração da identidade pressuposta, para expressar este movi-
mento em que é preciso articular estabilidade/transformação, 
como também a dicotomia do igual e do diferente. 
Uma identidade nos aparece como 
uma articulação de várias persona-
gens, articulação de igualdades e di-
ferenças, constituindo, e constituída 
por uma história pessoal. (CIAMPA, 
1987, p.157).
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A identidade que um indivíduo assume em determi-
nado momento da sua existência é o desdobramento das 
múltiplas determinações a que está sujeito. Há, como diz 
Ciampa (1987), uma rede intricada de relações, em que cada 
identidade	reflete	outra	identidade,	sem	que	se	possa	esta-
belecer	 um	fio	 condutor	para	 se	 alcançar	um	 fundamento	
originário para cada uma delas.
O conceito de identidade proposto por Bock, Furta-
do e Teixeira (1993) tem que ser pensado na sua implica-
ção com a realidade social, que constitui a história de vida 
do sujeito e lhe dá sentido. As experiências concretas que 
o sujeito vivencia em determinada época, cultura, classe 
social, grupo étnico, grupo religioso, etc., exercem grande 
influência	sobre	a	formação	do	ser.	
A identidade é resultante de toda uma vida real e de 
todo um conjunto de condições materiais experienciadas. “A 
identidade é a síntese pessoal sobre si mesmo, incluindo da-
dos	pessoais,	 biografia	e	 atributos	que	os	outroslhe	 confe-
rem” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1993, p. 145). Nesse con-
ceito está implícita a ideia de singularidade, da construção de 
uma representação de si no confronto com o outro, através 
da dinâmica das relações. Há, então, um processar contínuo 
na	construção	e	definição	de	si	mesmo.	Do	mesmo	modo,	na	
sociedade moderna, não há espaço para uma identidade bem 
definida	 e	 localizada	no	mundo	 social	 e	 cultural	 em	que	o	
homem possa ser pensado como um conjunto de papéis, ati-
tudes, valores, etc., distanciado da sua realidade.
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Leia o poema de Carlos Drummond de Andrade e 
reflita	sobre	o	que	estamos	tratando: 
Eu, etiqueta 
Em minha calça está grudado um nome 
Que não é meu de batismo ou de cartório 
Um nome... estranho 
Meu blusão traz lembrete de bebida 
Que jamais pus na boca, nessa vida, 
Em minha camiseta, a marca de cigarro 
Que não fumo, até hoje não fumei. 
Minhas meias falam de produtos 
Que nunca experimentei 
Mas são comunicados a meus pés. 
Meu tênis é proclama colorido 
De alguma coisa não provada 
Por este provador de longa idade. 
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, 
Minha gravata e cinto e escova e pente, 
Meu copo, minha xícara, 
Minha toalha de banho e sabonete, 
Meu isso, meu aquilo. 
Desde a cabeça ao bico dos sapatos, 
São mensagens, 
Letras falantes, 
Gritos visuais, 
Ordens de uso, abuso, reincidências. 
Costume, hábito, premência, 
Indispensabilidade, 
E fazem de mim home 
-anúncio itinerante, 
Escravo da matéria anunciada. 
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Estou, estou na moda. 
É duro andar na moda, ainda que a moda 
Seja negar minha identidade, 
Trocá-lo por mil, açambarcando 
Todas as marcas registradas, 
Todos os logotipos do mercado 
Com que inocência demito-me de ser 
Eu que antes era e me sabia 
Tão diverso de outros, tão mim mesmo 
[...] 
Onde terei jogado fora 
meu gosto e capacidade de escolher, 
Minhas idiossincrasias tão pessoais, 
Tão minhas que no rosto se espelhavam 
E cada gesto, cada olhar, 
Cada vinco da roupa 
Sou gravado de forma universal, 
[...] 
Por me ostentar assim, tão orgulhoso 
De ser não eu, mar artigo industrial, 
Peço que meu nome retifiquem. 
Já não me convém o título de homem. 
Meu nome novo é Coisa. 
Eu sou a Coisa, coisamente.
.
Fonte:	http://www.pensador.info/p/eu_etiqueta_-_carlos_drumond_de_andrade/1/
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(3.4)
Identidade...mais contribuições
Outro	 teórico	 que	 desenvolve	 uma	 reflexão	 sobre	 a	
questão da identidade cultural na modernidade é Stuart Hall 
(2001). Para ele, as identidades existentes num mundo que se 
intitula pós-moderno, que tem como base uma sociedade in-
formatizada e pós-industrial, em que não existem “grandes 
narrativas” como o discurso iluminista, que pregava a eman-
cipação pela revolução ou pelo saber para fundar a ciência, se 
inserem em sociedades que têm como preocupação central a 
extinção de fronteiras, nas quais predominam o hedonismo, 
o consumismo exagerado e estruturas psíquicas narcisistas 
que valorizam a estética e encontram-se distanciadas ou es-
vaziadas das demais subjetividades. Estas características pro-
movem o descentramento, o deslocamento e a fragmentação 
pela perda de um sentido de si estável e permanente. Neste 
sentido, Hall (2001) propõe a distinção de diferentes concep-
ções de identidade: a do sujeito do Iluminismo, a da Sociolo-
gia e a que enfatiza o caráter de mudança na construção da 
identidade do sujeito pós-moderno.
Segundo esse autor, de acordo com a concepção de su-
jeito, centrado na racionalidade e libertado dos dogmas reli-
giosos, própria do sujeito do Iluminismo, o indivíduo nascia 
e permanecia idêntico ao longo de toda a existência. A razão, 
a	consciência	e	a	ação	predominavam.	A	identidade	era	fixa,	
havia uma identidade verdadeira que era um apelo à existên-
cia do sujeito. Para o Iluminismo, o homem era um ser perfec-
tível, com condições de libertar-se dos medos e preconceitos 
através do conhecimento que advém das ciências, da políti-
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ca, das artes e da doutrina jurídica, áreas que expressavam 
o grau de progresso de uma civilização. O instrumento do 
Iluminismo era a consciência individual e autônoma que pos-
sibilitava ao homem a libertação da ignorância e dos medos. 
Também o controle sobre si mesmo, que advém da racionali-
dade, era condição de fundamental importância para a for-
mação pessoal (TORRES, 2003).
Do ponto vista sociológico, a identidade tem um núcleo 
ou essência interior que é o “eu real”. Este núcleo forma-se e se 
modifica	num	diálogo	contínuo	com	o	outro	e	com	o	mundo.	
“A identidade, então, costura o sujeito à estrutura. Estabiliza 
tanto os sujeitos quanto os mundos culturais que eles habitam, 
tornando	 ambos	 reciprocamente	 mais	 unificados	 e	 predizí-
veis” (HALL, 2001, p. 12). Para a Sociologia, tudo o que está 
ocorrendo com o sujeito, num dado momento, como a sua his-
tória,	os	tencionamentos,	os	conflitos	e	as	crises	existentes	no	
mundo, está presente na construção da sua identidade.
Para	refletir:
Há possibilidade de existirem identidades contraditórias? Há 
uma identidade mestra? É possível ser “isso” e “aquilo”?
Mudanças estruturais e institucionais ocasionaram 
a	perda	da	estabilidade,	do	centramento	e	da	unificação	da	
identidade com as “necessidades” objetivas da cultura, pro-
duzindo o sujeito pós-moderno que não tem uma identidade 
fixa,	essencial	ou	permanente.	
Os sujeitos passam a assumir identidades conforme 
são representados ou interpelados pela família, pela escola, 
pelo trabalho e pelos diversos sistemas sociais e culturais em 
que estão inseridos. Não há garantia da posição de identidade 
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que o sujeito quer assumir, em consequência dos diversos ape-
los feitos por outras identidades envolvidas e das negociações 
e	conflitos	que	são	travados.	Assim,	Hall	(2001,	p.	13)	explica	
que há possibilidade de existirem identidades contraditórias, 
que se cruzam e se deslocam mutuamente. Não há uma “iden-
tidade mestra”. Por conseguinte, a análise dos determinantes 
centrais	das	posições	sociais	não	pode	ser	simplificada,	toman-
do como causa, apenas, os fatores socioeconômicos. É preciso 
levar em conta, também, a raça, o gênero e a sexualidade, as-
suntos que serão discutidos na próxima aula. 
Todos esses aspectos, assim como as representações 
simbólicas e a linguagem, fornecem as condições para que 
as identidades existam e lhes conferem um sentido. Através 
das relações sociais e da apropriação da cultura, o homem de-
senvolve um sentido pessoal, compreende as coisas que estão 
ao seu redor, compreende a si mesmo e aos outros. O caráter 
de mudança presente nas situações sociais, nas relações e na 
história	de	vida	de	cada	um	promove	um	ressignificar	contí-
nuo sobre a consciência que se tem de si mesmo. Desse modo, 
entende-se que o mundo social e as representações simbóli-
cas referem-se a processos necessários para a construção e a 
manutenção das identidades.
(3.5)
“Somos sujeitos de muitas 
identidades”
A análise do posicionamento do sujeito frente a con-
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dições fundamentalmente diferentes e das motivações que 
determinama preferência por algumas representações, em 
detrimento de outras, deve levar em conta os estudos da Psi-
cologia	Social,	da	Filosofia	e	da	Psicanálise.	Estas	explicam	
que as identidades são produzidas em locais históricos, emer-
gem	de	conflitos	e	negociações,	resultam	da	marcação	da	di-
ferença, da exclusão e distanciam-se da homogeneidade e da 
unificação.	Conforme	diz	Louro	(1999,	p.	12):	“Somos	sujeitos	
de muitas identidades”. Essas identidades se apresentam de 
modo	transitório	e	refletem	os	resultados	das	relações	e	em-
bates entre o sujeito e os grupos. 
Nesta	análise,	precisamos	refletir,	ainda,	sobre	os	atri-
butos sociais que são conferidos a uma pessoa, grupo ou 
povo, e que marca, cria lugares e posições cujo valor pode 
ser negativo ou positivo. Esses atributos são os estigmas que 
revelam	a	dificuldade	do	outro	de	lidar	com	as	diferenças	e	
que são perpetuadas na convivência social (BOCK; FURTA-
DO; TEIXEIRA, 2008). 
Portanto, na nossa sociedade, não há espaço para uma 
identidade	bem	definida	e	localizada	no	mundo	social	e	cul-
tural, em que o homem possa ser pensado como um conjunto 
de papéis, atitudes, valores, etc., e distanciado da sua realida-
de. Peculiar é a paixão pelo efêmero, pela satisfação-insatis-
fação com a imagem, pelas novas tecnologias, pelo consumo, 
pelo descartável. Sobre isso, concorda-se com Chauí (2001) ao 
admitir que o pós-modernismo é a ideologia que acompanha 
a nova forma de acumulação do capital, relega os conceitos 
que fundaram e orientaram a modernidade, como as ideias 
de racionalidade e universalidade, contrapõe necessidade 
com contingência e despreza as discussões sobre a relação 
entre sujeito e objeto. 
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Portanto, na sociedade contemporânea, o individualis-
mo e a fragmentação caracterizam a construção das identida-
des de homens e mulheres, valorizando-se a imagem de pres-
tígio, poder, sucesso, juventude e beleza e sua possibilidade 
de ser substituída a qualquer tempo para acompanhar os ru-
mos do mercado como, também, privilegia-se a subjetividade 
fragmentada,	conflituosa	e	insatisfeita.	
De qualquer modo, é importante lembrar que a identi-
dade permite uma relação com o outro, propicia o reconhe-
cimento de si, cria e demarca lugares e posições que não são 
fixos,	estão	em	constante	mudança.	
SÍNTESE
Nesta aula, analisamos os aspectos da construção da 
subjetividade, das identidades e sua importância nas relações 
sociais. Analisamos que a identidade de uma pessoa é um fe-
nômeno social e não natural, é um processo em constante mo-
vimento dialético, construído pela atividade e ação do sujeito. 
Na	próxima	aula,	você	continuará	refletindo	a	dimensão	sub-
jetiva a partir de conceitos como raça, gênero e sexualidade.
QUESTÃO PARA REFLEXÃO
O que é subjetividade? Qual a importância do “outro” 
na construção da identidade?
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LEITURA INDICADA 
EWALD, A.; SOARES, J. Identidade e subjetividade numa 
era de incertezas: estudos da Psicologia. Disponível em: 
<http://www.scielo.br/pdf/epsic/v12n1/a03v12n1.pdf>.	 Acesso	
em: 16 jul. 2012.
SITES INDICADOS
Assista aos vídeos que evidenciam as dimensões subjetivas 
no	cotidiano	e	reflita	sobre	o	conteúdo	estudado.
Que beleza!
Ser bonito. Isso faz diferença? Alguém já disse que a beleza 
é fundamental. [...] Diariamente julgamos e somos julgados 
pela aparência. Os valores e sentimentos que dividem o 
mundo entre feios e belos são o tema desse programa.
Assista ao vídeo disponível em:
http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/publicacoes/videos/
videos_081030_0001.html
Preto no branco
Todos os brasileiros são iguais perante a lei. Mas será que 
todos os brasileiros se sentem iguais?
Assista ao vídeo disponível em: 
http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/publicacoes/videos/
videos_081030_0001.html
Lugar comum
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Ter	uma	casa	própria.	Esse	é	o	sonho	de	muita	gente.	Afinal,	
todo mundo quer ocupar um lugar no espaço. Mas de quanto 
espaço a gente realmente precisa?
Esse episódio mostra que a forma de criar e ocupar espaços 
faz parte da dimensão subjetiva.
Assista ao vídeo disponível em:
http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/publicacoes/videos/
videos_081030_0001.html
REFERÊNCIAS
BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. de L. T. Psico-
logias: uma introdução ao estudo de Psicologia. São Paulo: 
Saraiva, 1993.
BUZZI, A. A identidade humana: modos de realização. Pe-
trópolis: Vozes, 2002.
CHAUI, M. Escritos sobre a universidade. São Paulo: 
UNESP, 2001.
CIAMPA, A. A estória do Severino e a história da Severina. 
São Paulo: Brasiliense, 1987.
FURTADO, O. O psiquismo e a subjetividade social. In: 
BOCK, A. M. B.; GONCALVES, M. da G. M.; FURTADO, O. 
(Org.). Psicologia sócio-histórica: uma perspectiva crítica em 
Psicologia. São Paulo: Cortez, 2001. p. 75-93.
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GAARDER, J. O mundo de Sofia: romance da história da Fi-
losofia.	São	Paulo:	Companhia	das	Letras,	1995.	
HALL, S. A identidade cultural na pós modernidade. Tradu-
ção de Tomaz Tadeu da Silva, Guacira Lopes Louro. 6. ed. Rio 
de Janeiro: DP&A, 2001.
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Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. 
Petrópolis: Vozes, 2000. p. 103-133.
JACQUES, M. da G. Identidade. In: STREY, M. et al. Psicolo-
gia social contemporânea. Petrópolis: Vozes, 1998. p. 159-167.
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corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: 
Autêntica, 1999. p. 7-34.,0
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WOODWARD, K. Identidade e diferença: uma introdução te-
órica e conceitual. In: SILVA, T. T (Org.). Identidade e diferen-
ça. Petrópolis: Vozes, 2000. p.7-72.

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