Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
APONTAMENTOS DE REGIMES E SISTEMAS POLÍTICOS PROGRAMA: Matéria para a frequência: 9. Sistemas eleitorais - distinguir os dois grandes tipos de sistemas eleitorais e as suas diferenças; - Perceber as consequências políticas; 11. Partidos e sistemas eleitorais (quase tudo) - origem dos partidos - evolução dos partidos - partidos de elite, de massas … - 4 famílias político-partidárias com duas importantes: a socialista e a democrata cristã 12. Sistemas parlamentares - distinguir os tipos de sistemas parlamentares - distinguir os tipos de parlamento (arena…) - (o parlamento português não foi muito abordado) 13. Sistemas de governo - distinguir os tipos de sistema; - sistema britânico → importante - sistemas de governos mistos → importante também - o semi-presidencialismo português não é utilizado como tema autónomo, mas pode ser sustentado como exemplo na resposta ii. O ESTADO 2.ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO ESTADO A EVOLUÇÃO DA CIDADANIA O moderno conceito liberal de cidadania provém da Revolução Francesa contrasta com o conceito de cidadania da antiguidade clássica. O conceito de cidadania sofreu uma evolução ao longo dos tempos contrastando se assim com o que era de antigamente. O conceito de cidadania na antiguidade clássica (conceção romana e grega) reservava apenas a uma pequena elite. Segundo Marshall, no seu texto Citizenship and Social Class, foi no século XVII que, na Europa Ocidental, surgiram condições históricas que levaram à conquista de direitos civis, garantindo aos cidadãos, a capacidade jurídica de lutar pelos seus direitos, aqueles necessário a liberdade individual. Na verdade, isso corresponde na igualdade de todos os cidadãos perante a lei e traduz se em primeiro lugar na liberdade (consciência, livre opinião, expressão) de propriedade e de segurança onde o cidadão e o sujeito de direito e deveres que foram concebidos e traduzidos como direito do indivíduo face ao estado, contra ele. Estes primeiro conjunto/geração de direitos serviam para defender o indivíduo da invasão do estado. Na transição do século XIX para o século XX cidadania de passou a significar para além do valor de liberdade, o valor de participação - através de escolaridade obrigatória tanto em termos económico sociais como políticos. Com a escolarização é possível uma democratização da democracia porque promove a emancipação e autonomia intelectual das grandes massas. De acordo com Marshall, a consolidação desse primeiro grupo de direitos contribuiu para o surgimento, por volta do século XIX, da segunda geração de direitos, chamados direitos políticos. Esses direitos permitiam a possibilidade de participação na vida política onde o cidadão podia votar como também podia candidatar se e ser eleito. Marshall afirma que a participação política somente se estruturou em Inglaterra após a consolidação dos direitos civis. Com a crise do liberalismo, ocorrida no início do século XX fez com que aparecesse uma terceira geração de direitos - direitos sociais. Além da liberdade e participação, a cidadania agora também corresponde ao valor de solidariedade social. O cidadão, sujeito ativo de direitos passa a ser também um sujeito passivo a que se deve direitos. Os direitos sociais se referem ao direito mínimo de bem estar social e a sua consolidação só seria alcançada quando todos os cidadãos tivessem acesso a esse mínimo. ------------------------------------------------------------//----------------------------------------------------- Evolução da Cidadania Texto do Marshall Moderna concepção liberal de cidadania que remonta à Revolução Francesa e à Declaração dos direitos do Homem e do Cidadão de 1789 contrasta com a concepção de cidadania da antiguidade clássica. Noção grega de cidadania: antítese entre o cidadão e o súbdito, desigualdade entre homens e primazia clara entre o cidadão e o súbdito, reservando a cidadania prerrogativas de participação na vida da cidade e da elegibilidade para cargos públicos excluindo os escravos e estrangeiros. Conceção romana: cidadania significava inclusividade no império e pertencia ao Estado. O cidadão era sujeito de direitos , gozava de prerrogativas especiais de privilégio. No dealbar da época moderna, a cidadania passou a ser o reverso da soberania, cidadãos estavam sob a alçada de uma soberania- implicar uma proteção dessa soberania. Sob proteção de um príncipe, estatuto de cidadania pressupunha como princípio unificador a subordinação à soberania do príncipe. Cidadania traduzia sujeição. Moderna concepção liberal: igualdade de todos os homens perante a lei e traduz-se em primeiro lugar na liberdade- o cidadão do primeiro liberalismo é o sujeito de direitos e deveres que foram concebidos e traduzidos como direito do indivíduo em face do Estado, contra ele. Cidadania cívica: direitos cívicos ou direitos liberais. Estes direitos eram afirmados para defender o indivíduo da invasão do Estado, contra a publicidade invasora do Estado, afirmava-se a privacidade cívica do indivíduo , possuidor dos direitos de liberdade (consciência, livre opinião, expressão), de propriedade e de segurança. A cidadania como afirmação da liberdade individual, como cidadania da liberdade, era contudo e sobretudo uma cidadania para o mercado e não ainda para o Estado. dizia tão só respeito à sociedade civil e não ainda à sociedade política- não era ainda por isso, democrática. contudo o exercício dessa liberdade confiava-se aos proprietários à burguesia, sociedade dos cidadãos era justamente a sociedade burguesa. Mas ao longo do séc.XIX assistiu-se a democratização da cidadania. Cidadania democrática: com a crescente afirmação dos direitos políticos democráticos , chamados os direitos de segunda geração, acima de todos os direitos o direito de sufrágio, cada vez mais alargado e universalizado, o direito de associação profissional e sindical, o direito de petição e demonstração política e social, o direito de igual acesso a cargos políticos. Este alargamento fez-se com prestações do cidadão ao Estado, como fisco, conscrição militar e a escolaridade obrigatória-cresceu na proporção dessas prestações. O alargamento do sufrágio foi feito primeiro com base censitária e capacitaria e assumiu formas ponderadas e estratificadas, consoante a capacidade económica e intelectual- voto ponderado e estratificado. Do entendimento elitista da cidadania feita de direitos vividos apenas por alguns privilegiados, passou se gradualmente à cidadania de massas integradas na política moderna, através das organizações sindicais e dos grandes partidos. Na transição do séc. XIX para o sec. XX cidadania passou a significar para além do valor de liberdade, o valor de participação-através da escolaridade obrigatória e tanto em termos económico-sociais como políticos. Escolarização da sociedade:condição de possibilidade da democratização da cidadania , porque promotora de liberdade e de autonomia dos indivíduos, promotorade emancipação e autonomia intelectual e social das grandes massas. Conscrição militar: maior mobilidade geográfica e ocupacional, forma decisiva para construção da identidade nacional integrando setores sociais. (até aí confinados a horizontes paroquiais). Associativismo laboral contribuiu para maior organização e também para maior autonomia social das grandes massas. Todos esses fenómenos foram fatores da democratização da cidadania, ampliando exercício de participação e a correspondente prestação de deveres. Cidadão passou a ser todo o votante ou eleitor, passou a ser também todo o soldado. Cidadão soldado faz parte do Estado nação, serviço militar obrigatório e universal fundado na dívida para com o estado , reforça o controlo cívico, contrabalança os interesses políticos locais com os centrais. A crise do liberalismos no primeiro quartel do séc. XX, e a crise económica financeira nos anos 20, alterou significativamente o papel e a colocação do Estado em relação à sociedade, a cidadania vai conhecer nova evolução sobretudo com a formulação dos novos direitos sociais. Introduziu-se o valor da solidariedade social, de meramente cívica ou política, torna-se numa cidadania social. Os direitos sociais são prestações que passaram impender sobre o estado, alterando desse modo a sua função. O estado deixa de ser um simples árbitro para passar a ser interventor curador dos direitos do cidadão. Que passou a ser trabalhador ou produtor. Nova antítese: a que separa o cidadão do estranho ou do estrangeiro, porque a cidadania desenvolve-se no quadro dos Estados Nações, traduziu-se juridicamente em nacionalidade. A cidadania moderna repousou assim sobre uma demarcação de identidades nacionais, sobre a afirmação de uma pertença a uma determinada comunidade cívica, política e social: às sociedades nacionais. Por isso a quem não eram nacionais, com os estrangeiros. Tal como não se partilhavam nacionalidades também não se partilhavam cidadanias. Não se podia ser cidadão de dois países, nem de duas realidades sobrepostas. 6. A CRISE DO ESTADO O Estado Nação está hoje atravessado por uma crise interna e por uma crise externa. A nível interno, nos assuntos domésticos o Estado está em expansão, devido sobretudo aos programas de bem estar. Por isso se fala de pervasividade interna do Estado. Simultaneamente, ao nível externo, no domínio dos negócios internacionais, o Estado está em regressão ou contração, revelando-se cada vez mais fraco e impotente.Por isso se reclama a redução da dimensão do Estado e , ao mesmo tempo, o seu revigoramento. Enquanto se defende que se deve cortar em certas áreas de intervenção e da despesa do Estado, defende-se ao mesmo o reforço de outras áreas. A redução da dimensão do Estado vai a par com a exigência de reconstrução do poder do Estado. Limitar o Estado tornou-se um objetivo para o tornar mais capaz e implementar políticas e legislar. 1. A CRISE DO ESTADO NAÇÃO O Estado Nação tem vindo a sofrer uma erosão por cima e por baixo da sua soberania, pela globalização e pelo desenvolvimento do localismo político, revelando-se demasiado pequeno para enfrentar os grandes desafios e demasiado grande para intervir na resolução dos pequenos problemas. Assistimos a uma progressiva desidentificação do Estado com a Nação. Esta não coincidência de Estados e Nação levou a fragmentação de Estados, mediante a decomposição dos seus elementos constitutivos, ou à fragmentação política de Nações. Por outro lado assistimos também a uma tendência para a perda de soberania do Estado-Nação, por via da crescente internacionalização da vida económica, político-militar e sócio-cultural. → GLOBALIZAÇÃO: Fenómeno económico e financeiro, traduzido na mundialização dos mercados, na internacionalização da divisão do trabalho, na multinacionalização das empresas, acompanhados pela circulação de pessoas, bens e capitais. A intensificação das trocas comerciais, mundialização dos investimentos, a articulação crescente dos sistemas produtivos, a destruição das barreiras alfandegárias, a planetarização das interdependências, têm provocado uma substituição da dimensão estadual-nacional dos mercados, por uma mais vasta dimensão transnacional e transcontinental. Os mecanismos económicos há muito que se tornaram mundiais, não havendo capacidade dos governos nacionais para impedir ou evitar a repercussão em cadeia dos processos de recessão ou para um controlo exclusivo sobre as economias dos próprios países. Há, a este nível, uma clara diminuição da autonomia interna e da dependência externa. A concentração económica gerou, por seu lado, o aparecimento de grandes empresas multinacionais, que se tornaram relevantes atores da vida económica internacional, muitas das quais com orçamentos superiores aos de muitos Estados, que atuam por cima da capacidade interventora dos governos, condicionando-lhes a atuação. Em suma, o Estado-Nação e a sua soberania estão hoje a ser postos em causa por todos estes processos que lhes provoca uma erosão “a partir de cima”. Por isso se vai falando de corrosão do Estado e do seu enfraquecimento como escalão pertinente do governo, da sua crise de legitimidade. → LOCALISMO POLÍTICO: A globalização fez desenvolver simultaneamente com a grande dimensão, também, a pequena dimensão. A necessidade de proximidade dos cidadãos e dos seus problemas desenvolveu os níveis elementares de poder e de organização política, ou seja, localismo político. O que se passas é uma diferentes estratificação do espaço, numa base de concentricidade. O global e o local deixam de ser incompatíveis para passar a ser concomitantes e coexistentes. Um pede o outro. E quanto maior a afirmação do global, mais o local é valorizado. Uma é a consequência do outro. O Estado-Nação, apesar de ver a sua soberania corroída, não desaparece, pelo contrário, continua a ser um ator decisivo na cena internacional, é mesmo um fator imprescindível da globalização e da localização. Verifica-se um reescalamento da soberania. Há uma hierarquia de escalas: o global está parcialmente inserido no nacional, e este no local. Há uma interação de forças globais e nacionais. O que muda é a função do Estado, com a redução da sua autoridade, e com o surgimento de nova legalidade. 2. A CRISE DO WELFARE STATE (ESTADO NAÇÃO) Entre as dimensões mais sublinhadas da crise do Estado está a crise do Estado social. → ORIGENS DO ESTADO SOCIAL Não foram os países que primeiro admitiram a liberdade de associação sindical os primeiros a admitir o Estado Social. A fazê-lo, não foram os países de mais precoceindustrialização, o que permite igualmente concluir o que a introdução da proteção social não é uma reação a novas formas de industrialização. A primeira metade do século.XX generalizou e alargou os sistemas de proteção social, em quase todos os países da Europa. Com o aparecimento dos direitos sociais, chamados direitos de terceira geração, a par com o reforço da autoridade do Estado, formulam-se novas exigências sociais e atribui-se ao Estado cada vez mais o papel de prestador desses direitos. O pós-guerra viu nascer em muitos países o Welfare State, com promulgação dos direitos sociais da terceira geração. Nos países mais desenvolvidos o Estado tornava-se prestador fundamental dos novos proclamados direitos sociais. A cidadania, construída para libertar o cidadão do Estado, era agora garantida pelo Estado. O Estado foi assim sobrecarregado de funções sociais. Passou a entender-se que a solidariedade acima de tudo, era da competência do Estado, passando a sociedade a desempenhar um papel meramente supletivo. Perverteu-se desse modo a função do Estado, cujo papel, em relação à sociedade deveria ser de respeito pelo princípio da solidariedade. A função de solidariedade social, primariamente da sociedade, e só supletivamente do Estado, acabou a ser conferida ao Estado, como se ele fosse capaz de realizar a justiça social, reconhecendo-se à sociedade uma mera atuação de suporte ou de reforço da intervenção social. Desse modo se desresponsabilizou a sociedade dos deveres de solidariedade que sobre ela impendem. → MODELOS DE ESTADO SOCIAL Três tipos distintos de Estado-social na Europa: - Estado Social Liberal: o que primeiro foi instituído por liberais, e hoje prevalece em países de forte tradição liberal (USA, UK), e que assenta sobretudo em soluções de mercado. Encoraja provisões privadas, limitando as responsabilidades públicas às falhas graves do mercado. Encoraja os cidadãos a optar pelo mercado privado de Welfare, enquanto o governo procura reforçar testes de rendimento. Os benefícios tendem a ser condicionados pelo trabalho, constituindo por isso um incentivo ao trabalho e ao crescimento do emprego. - Estado Social Conservador: também apelidado de continental, a que mais certamente poderíamos chamar Estado-social subsidiário, por ser devedor da Doutrina Social da Igreja, e prevalece em países católicos (Alemanha, França) e que atribui particulares responsabilidades as famílias. A família absorve muitos dos riscos da exclusão social. É um Welfare mais familiarista, onde a segurança assume particular importância. A segurança social protege particularmente os que têm emprego segura, com impacto na rigidificação do mercado de trabalho, com prejuízo para os que estão fora do mercado de trabalho, dificultando o ingresso nele, sendo também menos favorável à emancipação da mulher. - Estado Socialista ou Social Democrata: fortemente estatista, que prevalece nos países nórdicos, que faz o Estado o prestador por excelência ou exclusivo dos direitos sociais, e põe ênfase no pilar governamental. Favorece o indivíduo mais do que a família, e a sua independência, diminuindo as obrigações da família. Diminui a sua dependência do mercado e aumenta a do Estado. Assenta em rendimentos universais garantidos, procurando fazer face a desempregos de longa duração, e atendendo em particular crianças, doentes e idosos. É mais custoso, e procura maximizar o emprego e a emancipação da mulher. → CONSEQUÊNCIAS DO ESTADO SOCIAL A primeira consequência do desenvolvimento do Welfare State foi o crescimento do aparelho do Estado, o gigantismo organizativo e burocrático, que se traduziu em: aumento da produção legislativa, da regulação social; aumento dos impostos e da intervenção fiscal do Estado; crescimento do funcionalismo público; aumento da burocracia estatal. Este aparelho de Estado motivou uma crise do poder, quer em termos de eficácia, quer em termos de legitimidade. Crise de eficácia, porque o Estado, aumentando nas suas funções, estruturas, recursos e despesas, perdeu mobilidade e agilidade, vendo-se progressivamente incapaz de responder cabalmente aos problemas da complexificação e diferenciação da sociedade, a todas as exigências que lhe foram sendo sucessivamente formuladas. O aumento das despesas sociais acabou a comprometer o desenvolvimento económico, com o aumento dos impostos e o crescimento da dívida pública, inibindo o investimento. Crise de Legitimidade: a par desta crise de eficácia, outra crise de legitimidade se produziu. A evolução das expetativas e das reivindicações sociais em relação ao Estado, fez aumentar a decepção do seu não cumprimento, afetando a sua credibilidade e autoridade política. A visão demiúrgica da política sobrecarregou o Estado de procura social. → A CRISE DO ESTADO SOCIAL EM PORTUGAL O modelo de Estado Social plasmado na Constituição é um modelo fortemente estadualizado, pois que, segundo ele, aos direitos sociais proclamados correspondem a ações ou prestações do Estado, verdadeiras obrigações do Estado. É um modelo, inicialmente, de tendência coletivista, que decorreu das nacionalizações de inúmeras instituições privadas de solidariedade social, que secundariza a sociedade e o seu papel, entendida como supletiva do Estado. A evolução económico-social tem vindo porém a pôr em causa a sustentabilidade deste modelo. → CRISE DA CIDADANIA Assistimos mais recentemente a uma nova reformulação da cidadania, com a emergência de novos direitos , que não poderão ser satisfeitos mais no quadro demasiado estreito do Estado-Nação, e novos e exigem um mais vasto enquadramento global, por um lado, e novos e mais exíguos enquadramento global, por um lado, e novos e mais exíguos enquadramentos subnacionais ou locais, por outro. A cidadania traduz, nas sociedades de consumo de hoje, cada vez mais, o valor de qualidade de vida, direitos de 4ªgeração, do respeito por si próprio, pelos outros, e pela natureza. O sujeito destes novos direitos da vida e do ambiente, de qualidade, de participação mais intensa, de excelência, é agora sobretudo o consumidor. Ora estes novos direitos do consumidor não encontram satisfação no simples quadro nacional. Problemas como o da segurança nuclear, o da segurançados oceanos contra os derrames petrolíferos, o do buraco do ozono,, e outros, não são resolúveis por um só Estado - Nação, mas num quadro global e mundial. Por outro lado, a cidadania, ao deixar de ser apenas nacional, está a deixar de ser exclusiva e incompatível com outras cidadanias. A multiculturalidade das sociedades ocidentais desliga definitivamente também cidadania de nacionalidade, pluralizando as cidadanias, ou seja, configurando, por um lado, cidadanias plurinacional e pluriculturais e, por outro lado, cidadanias múltiplas. A cidadania é pois um conceito polissémico e uma realidade plurifacetada. Cidadania quer dizer liberdade, participação igualitária, solidariedade social, qualidade de vida. Cidadania quer também dizer nacionalismo e patriotismo, enquanto pressupõe Estado-Nação e a sua defesa, identificação com a comunidade nacional, com a sua tradição cultural e o seus valores sociais. → CRISE DAS RELAÇÕES ESTADO-SOCIEDADE: O Welfare State gerou a socialização da política e a estadualização da sociedade, a mercantilização da política e a politização da economia, provocando alterações na demarcação entre esfera pública e esfera privada, originou o aparecimento de uma economia mista e de uma política mista, com a desprivatização da economia e a despublicização do Estado. O princípio político da direção foi introduzido na vida económica e a lógica do mercado do Estado. O Welfare State significou um contrato social, um compromisso entre liberdade económica e igualdade social, entre a economia de mercado e dirigismo estatal, entre capital e trabalho. Ora dá-se hoje a erosão social das partes, com a complexificação e diversificação dos interesses do trabalho e do capital, pela crise de representação e de mediação de interesses, quer social quer política. A crise do sindicalismo de indústria é, simultaneamente, uma crise de agregação de interesses, uma crise de mobilização, e uma crise de identidade das subculturas profissionais e laborais. III. REGIMES POLÍTICOS TEORIAS DO TOTALITARISMO E AUTORITARISMO Destacando a comparação estrutural, diferenciam politologicamente regimes independente das suas ideologias, agregando de um lado as ditaduras estalitinistas e nazis, e do outro as ditaduras que não conseguiram idênticos níveis de dominação. Apesar do nazismo e bolchevismo terem posições diferentes perante a Revolução Francesa, partilham da mesma filosofia iluminista da história: o triunfo da Racionalidade e da Ciência sobre o obscurantismo. Aquilo que diferencia as ditaduras contemporâneas das do passado é o facto de serem ditaduras de partido. Daí que para a sua caracterização, seja indispensável analisar esta diferença constitutiva, nomeadamente em certos aspetos: relação partido-estado; formas de dominação e repressão; concentração do poder e competitividade; ideologia e mobilização política; condições de possibilidade do totalitarismo. → RELAÇÃO PARTIDO-ESTADO: As ditaduras totalitaristas são ditaduras de movimento, que visam destruir o Estado, criando para isso um dualismo de estruturas, mas em que as do Estado se subordinam às do partido. O partido, entendido como movimento é a fonte originária do poder e assume uma função de direção. O totalitarismo é o contrário à divinização do Estado é a absolutização do seu poder, logo é anti hegeliano. As ditaduras autoritárias são ditaduras de partido que visam assumir o poder de Estado, ocupar as suas estruturas. O partido subordina-se ao Estado, que se absolutiza. O partido tem apenas um poder derivado e desempenha uma função de suporte. → FORMAS DE DOMINAÇÃO E REPRESSÃO: A dominação totalitária é mais vasta, mais intensa e é a maior repressão. O totalitarismo é um regime de terror indistinto, que visa cidadãos indefesos e inofensivos, e não apenas opositores. O monopólio do poder não é apenas político mas também social. A dominação autoritária é mais reduzida e menos intensa. Por isso a repressão é menos forte, mais seletiva, atingindo apenas os que se manifestam contra, a oposição organizada, a crítica pública. Visa tão só reprimir, colocar liberdade, mas não eliminá-la. O monopólio do poder pretende-se apenas político. → CONCENTRAÇÃO DO PODER E COMPETITIVIDADE: Nos regimes totalitários, a concentração do poder é maior. Existe um único centro do poder e total ausência de competitividade. A situação é de monismo político e social. Nos regimes autoritários, conhece-se algum pluralismo, vários centros de poder, alguma competição simulada ou controlada. → IDEOLOGIA E MOBILIZAÇÃO POLÍTICA: Os regimes totalitários são fortemente ideologizados, de grande e intensa mobilização política. Conhecem a apoteose da política, que tudo invade. Tudo se politiza. O totalitarismo significa a invasão da sociedade civil pela sociedade política, a destruição da fronteira entre a Sociedade e a Política, entre o poder administrativo e o poder político. Em vez de funcionários públicos existem comissários políticos. O totalitarismo militariza a política e subordina as Forças Armadas à política. Os autoritarismos têm uma ideologia conservadora de contenção de massas, visam o seu enquadramento mais do que a sua mobilização. Querem a sociedade organizada e despolitizada. Separam o político do social. Pretendem a mera fiscalização de comportamentos e não a sua estandardização. São regimes mais pragmáticos e pouco ideológicos. O autoritarismo politiza as Forças Armadas, confere-lhes poder político. → CONDIÇÕES DE POSSIBILIDADE DO TOTALITARISMO: O totalitarismo só é possível em sociedade de massas. Só a massificação das sociedades as atomiza e desintegra,a ponto de tornar possível a sua mobilização intensa. Por outro lado, o totalitarismo exige massas dispensáveis, que tornem possível a estratégia de terror em que se baseia. O totalitarismo exige também novas técnicas de destruição. Não é fácil exterminar multidões, o que exige tecnologia de extermínio eficiente. MODELOS DE AUTORITARISMO: AUTORITARISMO CONSERVADOR E AUTORITARISMO MODERNO (FASCISMO) Gino Germani contrapõe o autoritarismo conservador e tradicionalista ao autoritarismo moderno/modernização e mobilização (participação). O processo de modernização traduzir-se-ia numa crescente secularização (passagem de umasociedade com predomínio de comportamentos prescritivos a comportamentos eletivos). numa mobilização social, traduzida em amplo processo de participação, em ordem a uma mudança económica, no sentido da industrialização. → FASCISMO, AUTORITARISMO MODERNO: O fascismo italiano teria modernização como propósito, a mobilização como estratégia. E visaria o expansionismo das nações proletárias, em termos internacionais. O que motiva a emergência de formas autoritárias modernas é a tensão estrutural entre o processo de secularização e a necessidade de núcleos mínimos de natureza prescritiva para manter a integração nacional. Essencial no autoritarismo moderno é o facto de que o objetivo da socialização e da ressocialização planificada é a transformação de toda a população em militante ideológico, em participante ativa, porque a industrialização moderna requer esta participação generalizada. O nacionalismo autoritário moderno surge em países de débil nation-building, por via da recente e incompleta unificação. → AUTORITARISMO CONSERVADOR: É reacionário, seria recuperador do tradicionalismo, procura integrar a nação na tradição e visaria em termos externos, o integracionismo defensivo do seu património histórico. 8. TEORIAS DA DEMOCRACIA 5 teorias que deram contributos importantes para conseguir definir as condições necessárias para avaliarmos se estamos perante uma democracia ou não. 1. A DEMOCRACIA SEGUNDO TOCQUEVILLE: REGIME DE LIBERDADE E IGUALDADE DE CONDIÇÕES Define democracia como um regime de liberdade política e de igualdade de condições ou de oportunidades, oposto por isso à aristocracia. Utilizando um método indutivo, a partir da observação, e comparativo, conclui pela formulação de modelos tipo de sociedades, caracterizadas não apenas por características sociais políticas, mas também morais. A democracia pressupõe uma sociedade mais igualitária, com maior igualdade de oportunidades, e um governo fundado na soberania popular e na liberdade política. A democracia é favorecida por relações sociais menos hierarquizadas e por costumes brandos, porque nela os cidadãos se assemelham na maneira de viver e de encarar o mundo. Os democratas têm um gosto pela liberdade e uma paixão pela igualdade. Governo democrático é aquele em que o povo tem maior parte nele, mas também um sistema de maior autorregulação. Papel importante na separação e no controlo do poder joga a liberdade de imprensa, tal como a religião contribui para o auto-controle da sociedade. Desligando do poder, a religião é um poderoso aliado da liberdade. É a autorregulação democrática que impede a Revolução e a ausência dela que a favorece. 2. A TEORIA DO MANDATO CONCORRENCIAL DE J.SCHUMPTER Democracia é o sistema institucional de tomada de decisões políticas, em que os indivíduos adquirem poder de estatuir sobre as decisões na sequência de uma luta concorrencial por votos do povo. O que implica: - Possibilidade de respeitar a escolha dos governantes feita pelo povo em eleições. A monarquia parlamentar é democrática. - Consagra e não ignora o papel da liderança e a possibilidade de a substituir - Não despreza as vontades colectivas automaticamente expressas - Competição pela direção política: livres candidaturas em competição por votos livres - Regime de liberdade: cada um se pode candidatar contra o poder, �com liberdade de discussão e de imprensa - Poder de gerar um governo e de o derrubar, pelo eleitorado - Vontade da maioria e não vontade do povo – as rédeas do governo �confiadas aos que forem mais votados �A democracia não significa que o povo governe efetivamente, mas, que o povo aceita ou afasta os homens chamados a governar, através da livre concorrência entre candidatos aos postos de comando, pelos votos dos eleitores. Subordinação do governo aos votos do parlamento e do corpo eleitoral. Cria profissionais da política, que converte em “homens de Estado”. ❖ Condições de sucesso da democracia: • Material humano de qualidade: uma classe política selecionada,experiente, treinada • O domínio efetivo das decisões politicas não deve ser exageradamente vasto, mas limitado as questões que o grande publico pode compreender e sobre os quais pode ter opinião • Um processo democrático deve dispor dos serviços de uma burocracia bem treinada, gozando de boa reputação, apoiada em sólidas tradições, dotada de sentido vigoroso do dever e de espírito de corpo: uma burocracia forte para guiar e instruir os ministros políticos • Auto-controlo democrático – enquadramento de opiniões, disciplina de partido, respeito pelas legislaturas 3. OS PRESSUPOSTOS ECONÓMICO-SOCIAIS DA ORDEM DEMOCRÁTICA DE S.LIPSET Para Lipset a democracia é o sistema político que oferece oportunidades constitucionais regulares para a mudança dos funcionários governantes, e um mecanismo social que permita a maioria da população influir nas principais decisões mediante a escolha entre contendores para cargos políticos. Exige pois: • Uma fórmula política • Um conjunto de líderes políticos • Uma oposição ➢ Pré-requisitos económico-sociais da democracia: • Uma sociedade igualitária • Modernização�: A estabilidade das democracias depende da legitimidade e da eficácia; condição avaliativa e instrumental. As crises de legitimidade dão-se nas mudanças de estrutura social e com as crises de ingresso na política de novos estratos sociais. 4. TEORIA POLIÁRQUICA DA DEMOCRACIA DE ROBERT DAHAL A principal característica da democracia é a contínua responsabilidade do governo perante as preferências dos seus cidadãos, considerados politicamente iguais. Para haver responsabilidade, os cidadãos devem ter oportunidade de: - Formular as suas preferências - Manifestá-las ao governo por ações individuais e colectivas�- Ver as suas preferências igualmente consideradas no �comportamento do governo, sem discriminação por causa do �conteúdo ou fonte dessa preferência � ➢ Condições da democracia: • Liberdade para formar e entrar em organizações • Liberdade de expressão • Direito de voto • Elegibilidade para cargos políticos • Direito para os líderes políticos competirem em votações • Fontes de informação alternativa • Eleições livres e isentas • Instituições governamentais dependentes do voto e de outras � expressões de preferência� Regimes políticos: dependem da inclusividade e da contestação pública, ou seja, da participação e da liberalização. � ➢ Teoria da poliarquia: O poder não é soma-zero, algo que uns têm e outro não. Aspoliarquias seriam regimes onde o poder estaria disseminado(difuso). Todos temos poder, o poder está disseminado na sociedade, o poder está distribuído de forma desigual, mas todos tempo poder.O estrato político não é homogéneo, mas pluralista e diversificado nas sociedades industriais.. As poliarquias são de elevada participação e oposição, inclusão e competição. ➢ As modernas democracias representativas são uma poliarquia porque são: • Governos de representação • De extensão ilimitada • Com limites a participação democrática • Diversidade política dos seus habitantes • Multiplicam-se as clivagens e os conflitos políticos • Pluralismo de grupos sociais e organizações • Expansão dos direitos individuais� ➢ Poliarquia distingue-se por duas características: - A cidadania entende-se a uma alta proporção de adultos - Os direitos de cidadania incluem o de se opor e votar os mais altos cargos do governo (oposição) ➢ Instituições da poliarquia: - Cargos eleitos. Controlo sobre o governo e suas decisões através de �eleições - Eleições livres e justas, sem coerção - Sufrágio inclusivo, alargado a todos os adultos - Direito de candidatura aos lugares - Liberdade de expressão sem repressão - Informação alternativa: outras fontes - Autonomia de criar associações �Poliarquia é um sistema político que em que existem as seguintes condições: ➢ Durante o período eleitoral: - Todos os membros da organização realizam os actos que se considera serem uma expressão de preferência entre as alternativas - Ao ordenar as preferências, o valor atribuído à escolha de cada indivíduo é idêntico - A alternativa com maior número de votos é declarada vencedora ➢ No período pré-eleitoral: - Qualquer membro que apreende um conjunto de alternativas, uma das quais é encarada como preferível às outras, pode inserir a sua preferência entre as alternativas postas à votação - Todos os indivíduos possuem idêntica informação acerca das alternativas � ➢ No período pós-eleitoral:� • As alternativas com o maior número de votos destituem as �alternativas com menos votos • As ordens dos eleitos são executadas ➢ Durante o período entre eleições: - Todas as decisões entre eleições são subordinadas às chegadas durante o período eleitoral, isto é, as eleições estão controlando; ou novas decisões durante este período são governadas pelas precedentes 7 condições, operando contudo sob circunstâncias institucionais bem diferentes. IV. SISTEMAS POLÍTICOS 9.SISTEMAS ELEITORAIS PÁGINA 147 À 201 DA POLÍTICA COMPARADA 1. O estudo científico dos fenómenos eleitorais a) Origens e evolução da sociologia eleitoral 2. Alargamento e democratização do sufrágio a) Modelos de evolução 3. Sistemas Eleitorais A escolha de um sistema eleitoral é uma das decisões institucionais mais importantes para qualquer democracia.Na maioria dos casos, a escolha de um sistema eleitoral em particular tem um profundo efeito na futura vida política do país em questão. A escolha de um sistema político é um processo fundamentalmente político e por isso é considerada a base de todo o sistema político. Assim tem um impacto significativo no enquadramento político e institucional mais amplo : é importante ver os sistemas eleitorais não isoladamente. A sua conceção e os seus efeitos dependem grandemente de outras estruturas dentro e fora da constituição. Os sistemas eleitorais são atualmente vistos como uma das mais influentes instituições políticas, e de importância crucial para questões mais amplas de governação. Sistemas eleitorais: Os sistemas eleitorais expressam os votos de uma eleição geral em assentos conquistados pelos partidos e candidatos, ou seja, de forma mais simples é o mecanismo de transformação de votos em mandatos. Possuem 2 objetivos: ● Eleição de representantes → função espelho ● Escolha de governantes → função de seleção Os sistemas eleitorais têm pois uma função legislativa - eleições legislativas e uma função política - eleições políticas. Ora estas duas funções dos sistemas eleitorais que são: assegurar a governabilidade e a eficácias, por um lado, e a representatividade e legitimidade, por outro, são de difícil compatibilização. Sistemas que servem bem para escolher governantes não servem tão bem para escolher representantes, e vice-versa. Não há pois resposta para a questão de saber qual é o melhor sistema eleitoral. As três variáveis que permite distinguir os diferentes sistemas são: ● a fórmula eleitoral usada: isto é, se é usado um sistema de maioritário, representação proporcional, misto ou outro e qual é a fórmula matemática aplicada para calcular a atribuição dos assentos; ● fórmula matemática: método do resto maior (Método de hamilton) Método da maior média (Hondt) ● estrutura do boletim de voto: se o eleitor vota num candidato ou num partido, e se o eleitor faz uma escolha única ou expressa uma série de preferências; ● magnitude do círculo eleitoral: não quantos eleitores vivem no círculo eleitoral, mas quantos representantes da legislatura esse círculo eleitoral elege. Uninominal → um único lugar a preencher Plurinominal → pede-se aos eleitores que designem vários eleitores ao mesmo tempo Os sistemas maioritários são seguramente melhores para garantir a governabilidade e a estabilidade, e os sistemas de representação proporcional para obter representatividade. O sistema maioritário é mais eficaz , o sistema proporcional mais justo. Mas um sistema democrático não é apenas o que bem representa, mas também o que proporciona um bom sistema de tomada de decisões. Não existe um sistema perfeito, cada sistema vai ter as suas vantagens e defeitos, o que devemos buscar é o aperfeiçoamento para que se escolha um modelo onde as vantagens superem os defeitos, de acordo com a questão cultural, com os problemas do país , com as vantagens e os defeitos medidos de acordo com a realidade desse país. --------------------------------------------//----------------------------------------- No mundo, existem duas grandes famílias de sistemas eleitorais: maioritário e proporcional. Eles refletem duas visões diferentes do que a representação dos cidadãos. Nos sistemas maioritários prevalece a relação direta entre um pequeno conjunto de eleitores e o seu deputado, enquanto que os sistemas proporcionais dão mais importância aos partidos: num sistema proporcional os eleitores geralmente sentem-se representados pelos membros do partido que votaram. No entanto, há que ter em conta que os efeitos do sistema eleitoral dependem em grande parte da cultura política do país em que se aplica. O sistema maioritário, que produziu grandesresultados no Reino Unido, pode não funcionar tão bem aplicada à política dos países do Sul da Europa, por exemplo. Além disso, os sistemas proporcionais são usados em toda a Europa e há claras diferenças na qualidade de cada democracia de países que usam o mesmo sistema eleitoral. A) SISTEMAS MAIORITÁRIOS TEXTO → “Os Processos de Escrutínio” de Jean Marie Cotteret e Claude Emeri Sistema maioritário: trata-se de um processo de eleição/votação em que o candidato que obtiver maior número de votos é proclamado eleito. O escrutínio maioritário pode ser uninominal e plurinominal. Esse processo pode ser de uma ou de duas voltas. O sistema maioritário uninominal a uma só volta corresponde aquele em que o candidato fica à frente quando ganha por maioria simples. O sistema maioritário mais antigo é o inglês. O sistema maioritário uninominal a duas voltas exige a obtenção de maioria absoluta para se ser eleito. Se essa maioria for conseguida na primeira volta, o candidato é eleito. Caso contrário, processa-se uma segunda volta, à qual concorrem apenas do dois candidatos mais votados. É o sistema vigorado em França. O sistema maioritário é, regra geral, um sistema de single-member constituency ou circunscrição uninominal, muito embora com o tempo tivesse adotado também a modalidade de circunscrição plurinominal, em duas versões: - ou de lista completa ou lista bloqueada plurinominal, ou maioritário de lista → em que cada circunscrição distrital era eleita toda a lista vencedora (Portugal em 1885 e no Estado Novo) - ou ainda de lista incompleta plurinominal → destinado a proteger as minorias, permitia às minorias, que não conseguissem representação em nenhum círculo, juntar os votos dispersos, para obter representação própria (Inglaterra em 1867, Espanha em 1878, Itália em 1882, e Portugal em 1884). - voto alternativo → o eleitor manifesta preferências gradativas, de primeira, segunda ou terceira escolha - voto único não transferível → cada eleitor tem um único voto mas em circunscrições plurinominais, ou seja escolhe, entre um certo número de nomes, apenas um desses nomes. (Japão) - voto limitado → as circunscrições se elegiam por vários deputados O que caracteriza os sistemas maioritários é precisamente, como o nome indica, o favorecimento de maiorias parlamentares e governamentais, contribuindo para a governabilidade e para a estabilidade governamental. Por isso se diz que são bons para escolher governantes. Os sistemas maioritários concentram o voto em menos partidos, favorecendo claramente os mais votados. Promovem o bipartidarismo, em detrimento dos menores partidos. Em segundo lugar, os sistemas maioritários, porque baseados, na sua maioria, em circunscrições uninominais, são sistemas de voto em pessoas e não em listas ou partidos, apesar de esses nomes serem apresentados em ligação a partidos. Pessoalizam a candidatura e o voto, o que permite uma maior identificação e proximidade dos eleitores com os seus eleitos, dos cidadãos com as instituições, e um controlo muito maior dos eleitores sobre os seus deputados. Desse modo, o controlo do partido sobre os deputados é muito menor. O deputado tem uma autonomia muito maior sobre o partido. O partido não consegue tão grande influência sobre os deputados, e faz crescer a dos deputados no partidos, fazendo ressaltar as suas qualidades, e elegendo os melhores. O sistema maioritário diminui a partidocracia. Por outro lado, o sistema maioritário valoriza o centro político, pragmatiza os partidos, exerce pressão centrípeta sobre eles, porque ganha as eleições quem mais se posicionar ao centro. O maioritário desencoraja a extremação ou polarização ideológica dos partidos, convida-os à moderação das suas propostas, e a pragmatização dos seus programas. Nesse sentido, o sistema maioritário valoriza os votos dos indecisos que estão ao centro, e oscilam em dar o seu voto a um dos dois partidos que alternadamente disputam a vitória eleitoral. Por último, o sistema maioritário proporciona maior turnover, ou substituição dos deputados, e por conseguinte favorece maior rejuvenescimento dos parlamentos. SÍNTESE: No sistema eleitoral maioritário deputado é eleito num círculo uninominal. Isto significa que um número relativamente pequeno de eleitores, normalmente alguns milhares, escolhem só a um deputado para representá-los no Parlamento. Os candidatos de diferentes partidos (ou incluso independentes) participam das eleições. Ganha a cadeira que recebe mais votos, de modo que torna-se o único representan- te desse eleitorado. Isso tem implicações importantes para os partidos. Primeiro, os grandes partidos tendem a obter uma quantidade percentual muito maior de deputados que a percentagem de votos obtidos. Isso ajuda a facilitar a maioria parlamentar para formar o Governo. Na verdade, daqui vem o nome: num sistema maioritário é provável que um partido obtenha a maioria para governar. Mas isso muitas vezes impede que partidos menores alcancem representação parlamentar. A consequência de tudo isso é que, nos sistemas majoritários tendem a ser dois grandes partidos que se alternam no governo. Além disso, o facto de que o mérito de ter sido eleito seja do deputado, pois trabalhou individualmente para sua eleição, faz com que os deputados tenham uma grande força no partido. Isto significa que os partidos são mais abertos e, neles, a direção do partido tem menos poder. Os sistemas maioritários mais conhecidos estão no Reino Unido (Câmara dos Com) e nos Estados Unidos (Congresso). Há muitos outros países que usam variantes do sistema majoritário: França, Canadá, Argentina, etc. B) SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO PROPORCIONAL TEXTO → “Os Processos de Escrutínio”, de Jean Marie Cotteret e Claude Emeri; “II. Da Democracia Verdadeira e Falsa: Representação de Todos ou Somente da Maioria”, de John Stuart Mill Sistema de Representação Proporcional: No sistema de representação proporcional não ganha apenas o que fica à frente, mas todos ganham, na proporção dos votos obtidos. Há uma maior, e mais equitativa distribuição dos lugares. Este sistema é, necessariamente, plurinominal, ou seja, vota-se numa lista partidária. O eleitor, em vez de votar num só candidato, distribui os candidatos da sua preferência numa lista, por ordem de preferência. Um candidato é eleito quando atinge o número correspondente ao quociente eleitoral de Andrae, traduzidopela divisão do número de votantes pelo número de deputados. Os votos sobrantes desse deputado eleito transitavam para o segundo nome das preferências. Foi introduzido na Dinamarca e, tambºem em inglaterra. Assim, é uma alternativa ao sistema maioritário, pelo qual haveria vários deputados a eleger (uma lista) numa única circunscrição nacional, dispondo o eleitor apenas de um voto, no qual ordena as suas preferências (voto ordinal). O apuramento far-se-ia pela divisão de todos os sufrágios validamente expressos pelo número de lugares a concurso e, pela divisão dos resultados obtidos pela lista de cada partido por esse quociente, fazendo eleger tantos deputados quantos o quociente dessa segunda divisão. Se o candidato obtiver mais votos que os necessários para ser eleito, os votos excedentários são distribuídos na proporção das segundas preferências. → voto único transferível, é um sistema muito semelhante ao do voto alternativo, pois equivale a um sistema de votações sucessivas numa circunscrição unipessoal, mas de uma só vez. Só que, em vez de um só eleito, este método permite a eleição de vários. Cada eleitor tem um voto, independentemente do número de lugares. Os sistemas de representação proporcional distribuem melhor a representação parlamentar pelas várias forças políticas. Os parlamentos proporcionais espelham mais fielmente a diversidade de opiniões num país Nesse sentido, a representação proporcional é um sistema mais justo e equitativo. A proporcional aumenta a representatividade e, por conseguinte, a legitimidade. Por isso se diz que servem melhor para escolher representantes, embora à custa da obtenção de maiorias, o que dificulta a governabilidade. O sistema proporcional leva mais forças políticas ao parlamento, fraciona mais a representação, permitindo que um maior número de partidos tenham assento parlamentar. Desse modo, é um sistema que permite mais facilmente a representação de minorias, e de minorias extremas ou muito radicais. Da mesma maneira é um sistema que ideologiza o sistema partidário, favorece a extremação de posição, ou a polarização do espectro partidário, e reduz a maleabilidade negocial dos partidos, rigidifica o sistema de partidos, e enfraquece o pragmatismo. Sendo necessariamente sistemas de listas, são sistemas que valorizam os partidos que apresentam essas listas, aumentando assim a partidocracia. Os eleitores votam em partidos, em listas e não em pessoas. O voto é partidarizado e impessoalizado. Os eleitores não escolhem deputados mas limitam-se a homologar as escolhas de nomes feitas pelos partidos, operação que alguém já apelidou de “secret garden of politics”, que resulta de difícil negociação entre o centro e a periferia partidária, entre a direção nacional e as “distritais” dos partidos. Esta prevalência dos partidos, faz com que os deputados sejam meros “títulos em carteira” dos partidos, e gozem de muito menor autonomia. Regista-se um muito maior controlo dos deputados pelos partidos. Os próprios partidos são pulverizados e enfraquecidos, até internamente (sobretudo quando vigora o sistema de preferências em lista aberta ou não bloqueada). Os partidos vÊm enfraquecida a sua responsabilidade, e tornam-se muito mais ideológicos e dogmáticos, e por conseguinte menos coligacionáveis. Os círculos tendem a ser maiores, o que também afasta mais os cidadãos dos seus eleitos, tornando muito difícil que os eleitores saibam quem foram os que elegeram, sobretudo nas grandes circunscrições e, não consigam desse modo exercer controlo sobre a sua atividade parlamentar. A proporcional afasta cidadãos de deputados. Ao reforçar os partidos e a partidocracia, a proporcional promove a oligarquização interna dos partidos, e a sua rigidez organizativa, deteriorando desse modo a sua democracia interna. Existem diversos modos de temperar, moderar ou corrigir os efeitos nefastos da proporcionalidade, sobretudo a excessiva dispersão da representação . Em primeiro lugar, a cláusula de barreira (5% na Alemanha e Rússia, 4% Ucrânia e Bulgária, 3% em Espanha), que impede as mais pequenas formações políticas de aceder ao Parlamento, evitando o efeito fraccionalizador e polarizador da proporcionalidade. Em segundo lugar, a “moção de censura construtiva” Distribui proporcionalmente, ou seja, um partido que tenha por exemplo, 10% dos votos tenha assim 10% das cadeiras (um partido que tenha 10%, elega 10% dos deputados) Garante que haja uma proporção entre os partidos, protege as minorias partidárias O sistema eleitoral mais utilizado no mundo. SÍNTESE: O sistema eleitoral proporcional, que usamos em Portugal e Espanha, está caracterizado pela representação parlamentar com base na relação que os eleitores podem estabelecer com os membros do partido da sua escolha. Os deputados são apresentados em listas de partidos, que podem ser fechadas ou desbloqueadas, e são eleitos por um círculo eleitoral, mas é tão ampla e há tantos deputados eleitos que a representação directa própria dos sistemas majoritários esvaece-se. A grande vantagem do sistema proporcional é a garantia que adquirem os partidos concorrentes nas eleições pela que a percentagem de deputados obtidos será semelhante à porcentagem de voto. Isso resulta em parlamentos ideologicamente muito equilibrados, com vários partidos representados neles. Num sistema proporcional são escassos os eleitores que não encontram um partido no Parlamento que não se adapte às suas preferências ideológicas. O problema é que os sistemas proporcionais tendem a gerar partidos fechados cuja direcção tem um grande poder. Este facto anula o papel da maioria dos deputados. O sistema eleitoral proporcional é utilizado em muitos países da Europa continental. Alguns exemplos são a Itália, Espanha, Portugal, Holanda, etc. C)SISTEMAS MISTOS Sistemas Mistos: São sistemas mistos os que tentam conciliar as vantagens dos anteriores, minorando os correspondentes defeitos. “Empregam pelo menos duas diferentes fórmulas - maioritário e proporcional - simultaneamente numa mesma eleição, na condição de os representantes eleitos graças a uma delas serem pelo menos 5% dos eleitos graças à outra (Chiaromonte). Têm vindo a crescer em todo o mundo, sobretudo nas novas democracias. Na maioria dos casos, sobrepõem dois níveis de atribuição de lugares, sendo um nominal ou pessoal e outro delista (Shugart & Wattemberg), territorialmente distintos. Se essas duas fórmulas agem independentemente uma da outra, temos “sistemas mistos de combinação dependente” (Chiaromonte). Temos ainda sistemas mistos de correção, quando os lugares proporcionais são atribuídos para corrigir as distorções provocadas pelo maioritário, e sistemas mistos condicionais, em que uma fórmula só entra em jogo se os resultados da aplicação da outra não respeitam as condições pré- estabelecidas. O mais conhecido é o sistema alemão. O SISTEMA PROPORCIONAL PERSONALIZADO DA ALEMANHA Considerado por muitos como os dos mais conseguidos sistemas do mundo, e por isso imitado por muitas reformas, que nele se inspiram, o sistema alemão é “maioritário nas premissas, mas proporcional nos seus feitos”. SÍNTESE: Um terceiro tipo de sistema eleitoral, o sistema misto. Neste sistema, os deputados são eleitos de duas maneiras diferentes: em círculos uninominales e círculos amplos que garantem um resultado proporcional para os partidos. Os dois tipos de deputados coexistem no Parlamento e podem acolher ao eleitores de diferentes maneiras. Dependendo se há mecanismos que garantam a proporcionalidade, falamos de ou de . O primeiro tipo, o proporcional, é usado na Alemanha. Ela é usada tanto para o Parlamento Federal (Bundestag) como nos parlamentos dos estados federais. Ele foi recentemente introduzido no Reino Unido (parlamentos da Escócia e País de Gales). Os politólogos consideram frequentemente o sistema misto proporcional como uma fusão num só sistema das vantagens dos sistemas proporcionais e majoritários: proximidade entre eleitores e eleitos e variedade de partidos com representação parlamentária. SISTEMA ELEITORAL EM PORTUGAL O sistema eleitoral para a Assembleia da República é proporcional. Criam-se listas eleitorais fechadas que os partidos e coligações de partidos apresentam nos círculos eleitorais. A distribuição de cadeiras é feito de acordo com um método matemático chamado "Regra de Hondt". 4. Sistemas Eleitorais e Sistemas Partidários a) Crítica da proporcionalidade A representação proporcional foi avançando em muitos países europeus, à medida que a democracia de massas ia alastrando por virtude da universalização e da igualitarização do sufrágio. Ao não exigir a maioria para se vencer uma eleição, a representação proporcional facilita a multiplicação dos partidos, ao contrário do sistema maioritário que promove a sua concentração. Para além disso, a representação proporcional radicaliza os partidos, enquanto o sistema maioritário os modera, obrigando os extremismos ao compromisso, e destruindo desse modo os radicalismos. Esta moderação do maioritário tende a lubrificar o aparelho da democracia, levando a partidos a colaborar entre si, fomentando a homogeneidade de opiniões e interesses, indispensável ao governo democrático, contrariando os efeitos desagregadores da sociedade. A representação proporcional alimenta o extremismo, debilita a própria oposição, e dificulta a formação de governos estáveis. A representação proporcional dá aos partidos uma estrutura rígida doutrinária, ideologiza-os, enquanto o sistema maioritário os pragmatiza, tornando-os semelhante, e pessoalizando a disputa eleitoral. A proporcional contribui contribui para a desresponsabilização governativa dos partidos, pois permite que alguns deles nunca tenham a experiência de governar. Por outro lado a representação proporcional permite o agrupamento de partidos em torno de interesses económicos, o que raramente acontece no sistema maioritário, sacrificando com facilidade a esses interesses particulares os interesses nacionais. Para além de que deteriora a elite política, sacrificando a qualidade do pessoal político à qualidade do ideário ou do programa. A representação proporcional tende a multiplicar o número de partidos. Estimulando a criação de novos partidos. Mas, para além desta influência sobre o número dos partidos, os sistemas eleitorais também influem sobre a estrutura interna dos partidos e sobre a sua dependência recíproca, ou seja, sobre o sistema de alianças. 5. Sistemas Eleitorais e Sistemas Políticos Os sistemas políticos têm influência não apenas sobre os sistemas de partido mas também sobre todo o sistema político, e mais precisamente sobre as formas de governo. No entanto, a adoção de um determinado sistema eleitoral depende do estado de homogeneidade ou de fracturação da sociedade civil. a) Impacto dos sistemas eleitorais nos sistemas parlamentares Os sistemas eleitorais que geram sistemas de partidos fortes ou fracos tenderão a configurar os parlamentos. Assim os sistemas eleitorais de representação proporcional, que favorecem a partidocracia e fortes influências dos partidos nos sistemas políticos, proponderão a criar parlamentos arenas, onde se privilegia a função política de debate. Por seu lado, os sistemas maioritários, que tendem a reforçar o poder dos deputados, enfraquecendo os partidos, produzirão mais facilmente parlamentos transformadores, em que a função legislativa é sobrevalorizada. b) Formas de governo e sistemas eleitorais Os sistemas de governo condicionam a opção de sistemas eleitorais. Os sistemas presidenciais ou semi presidenciais exigem sistemas maioritários uninominais para escolha direta do chefe de Estado ou de governo e, com eles, democracias maioritárias. Nos sistemas semi-presidenciais, a par da eleição direta do Chefe de Estado está também a eleição direta do parlamento, que aponta para outras possibilidades. Já os sistemas de governo parlamentares, onde os executivos são designados indiretamente, coexistem tanto com os sistemas de representação proporcional como com sistemas maioritário. 11. PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS Os partidos são condição indispensável da democracia, que se organiza através deles.A democracia do Estado moderno é por isso uma democracia indireta, de partidos, ou parlamentar. Os partidos nasceram com o governo representativo, ou seja, com o pluralismo do parlamentarismo liberal, quando se começaram a formar frações nos parlamentos. Outrora haviam existido fações, mas não propriamente partidos. O que distingue partidos do liberalismo das anteriores fações tradicionais, ou dos clubes e comités, é o seu carácter permanente, a sua estrutura organizativa rígida, e não flexível. Os partidos do parlamentarismo são formas de mediação estrutural e duradoura entre os parlamentares e os eleitores, entre a sociedade civil e o Estado. A estatização dos partidos, a sua transformação em órgãos do Estado, ocorre apenas mais tarde, com o aparecimento do “Estado de partidos”, resultante da interaçãoentre o sistema de partidos e o Estado, e com a constitucionalização dos partidos. Natureza de mediação dos partidos O pluralismo da representação política começou por se traduzir no aparecimento de fações e, só mais tarde estas evoluíram para a forma de partidos. Partidos políticos : Organizações políticas que estabelecem a mediação entre a sociedade e o Estado, entre a sociedade civil e a sociedade política, que apresentam e traduzem as mensagens sociais ao Estado, em termos políticos e, reapresentam e traduzem as mensagens políticas do Estado a sociedade em termos sociais. Conformam politicamente a sociedade e configuram socialmente o Estado. São instituições de mediação política e social, que agregam, combinam e representam os interesses e as opiniões políticas numa dada sociedade. Os partidos são uma expressão da modernidade, que concretizam uma das suas dimensões, que é a da mobilização política e da participação política. b) Funções dos partidos - Função de agregação e combinação política - Função de representação - Função de seleção de candidatos e recrutamento de pessoal político - Funções de educação e socialização política - Função de regulação de conflitos - Função tribunícia - Função de legitimação-estabilização - Função de revezamento político de autoridades de substituição c) Organização de partidos São organizações que tendem a institucionalizar-se para além dos seus fundadores, dotando-se de autonomia própria. 12. SISTEMAS PARLAMENTARES Funções e tipos de parlamentos Parlamentos – o órgão do poder legislativo, onde se reúnem, para esse efeito, os representantes eleitos do povo. Funções: o Função legislativa – consiste na transformação em leis as propostas de lei e os projectos de lei do governo e dos vários grupos parlamentares representados no parlamento. o Função de representação política do povo – diversamente de outras formas de representação (corporativa; geográfica – regional, estadual), a representação parlamentar é estritamente política. o Função de controlo político do governo e da administração pública. Consoante desempenhem mais acentuadamente a função política ou a função legislativa, segundo Nelson Polsby, constituem-se assim parlamentos arenas ou parlamentos transformadores. Arenas – o método principal é a discussão; pressupõem partidos fortes, que fazem do plenário o seu centro, pois são parlamentos de discussão política. Parlamentos transformadores – o método principal é a negociação; pressupõem partidos fracos, valorizam o espaço das comissões onde se desenrola o principal trabalho da função legislativa, através da negociação. Parlamentos Arenas e Parlamentos Transformadores Dentro dos parlamentos, podemos distinguir entre parlamentos arenas e parlamentos de transformação, consoante o grau de independência de influências exteriores. Os parlamentos são arenas ou transformadores consoante desempenham mais acentuadamente a função política ou a função legislativa. Parlamentos transformadores serão aqueles que possuem uma capacidade independente para transformar proposta por leis. Adotam como método principal a negociação. Este tipo de parlamento pressupõe partidos fracos, valorizam sobretudo o espaço das comissões onde se desenrola o principal trabalho da produção legislativa, através da negociação. Nos partidos transformadores, as formas de deliberação são mais baseadas na consulta e na negociação, a ter lugar nas comissões. Para estes são mais relevantes a estrutura interna e as normas de funcionamento. A análise destes partidos pede o estudo das estruturas das comissões e os processos de nomeação, os processos de socialização institucional e a percepção e regulação dos interesses pelas legislaturas e a disposição dos grupos informais legislativos. O que mais influi na independência e na capacidade transformativa dos parlamentos tem a ver com os partidos parlamentares, tomando em consideração três variáveis: quanto mais ampla a coligação abraçada pelos grupos parlamentares dominantes, mais transformativos são os parlamentos; quanto menos centralizada e hierárquica for a gestão dos partidos parlamentares, mais transformativos são os parlamentos; quanto menos fixa e assegurada for a composição das maiorias parlamentares em sucessivas questões específicas, mais transformativos são os parlamentos. Por sua vez, as arenas são mais abertas à interferência das forças políticas significativas na vida do sistema política. Os parlamentos arenas adotam como método principal a discussão. Este tipo de parlamentos pressupõem partidos fortes, que fazem de plenário o seu centro, porque são parlamentos de discussão política. As arenas caracterizam-se por comissões parlamentares truncadas e pela importância da composição social dos parlamentos. Nestes parlamentos, o impacto das forças externas é decisivo para o resultado legislativo. Por fim, para compreender as arenas é fundamental a base social dos legisladores, o recrutamento parlamentar, os grupos de pressão, os partidos extra- parlamentares, a organização dos partidos e o debate. Sistemas parlamentares: monocamaralismo e bicamaralismo Monocamaralismo – particularmente usado em países de pequena extensão territorial e de reduzida dimensão demográfica, e de acentuada homogeneidade étnica e cultural, funcionando como substituto da segunda Câmara, o Conselho de Estado ou as direcções partidárias. Principalmente adoptado pelos estados unitários e não federais. Defendido como sendo mais democrático, e porque a divisão do legislativo é vista como um obstáculo ao progresso e ás reformas, os conflitos entre câmaras enfraquecem os Patrícia Lemos parlamentos; atacado por ser mais típico de situações revolucionárias por permitir decisões imponderadas; facilitar a tirania e o despotismo. Bicamaralismo - mais frequente em países de grande extensão ou de maior heterogeneidade, sobretudo pelos estados federais. Defendido por corrigir excessos e abusos da primeira câmara, por emprestar ao processo legislativo maior competência e experiência, e evitar a precipitação de decisões em matéria legislativa Pode ter várias modalidades: Bicamaralismo assimétrico: a câmara alta difere de sistema de formação ou constituição, e de competências. Bicamaralismo desigual: a câmara alta é igualmente eleita, mas com desigualdade de competências. Bicamaralismo integral ou simétrico ou congruente: as duas câmaras com igual processo de formação e idênticas competências. Partidos e grupos parlamentares 1. Génese dos grupos parlamentares: meados do
Compartilhar