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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ – PUCPR CURSO DE DIREITO CÂMPUS TOLEDO ANA CAROLINA MÜLLER CREMONESE CONSUMAÇÃO E TENTATIVA JOSÉ ROBERTO MOREIRA TOLEDO 2015 Crime Consumado e Crime Tentativo 1. Crime consumado Crime consumado determina o momento consumativo do crime é operação que tem extra relevância, pois se reflete no termo inicial da prescrição e na competência territorial. Consuma-se o crime quando o a gente realiza todos os elementos que compõem a descrição do tipo legal. Segundo Damásio de Jesus, ´´expressa a total conformidade do fato praticado pelo agente com a hipótese abstrata descrita pela norma penal incriminadora. Na afirmação de Aníbal Bruno “a consumação é a fase última do atuar criminoso. É o momento em que o agente realiza em todos os seus termos o tipo legal da figura delituosa, e em que o bem jurídico penalmente protegido sofre a lesão efetiva ou a ameaça que se exprime no núcleo do tipo” Nos crimes materiais, a consumação ocorre com a produção do resultado de dano ou de perigo descrito no tipo penal. Nos crimes formais (para quem admite essa classificação) e de mera conduta comissivos a consumação ocorre com a própria ação, já que não se exige resultado material. No s crimes omissivos próprios (de mera conduta omissiva), a consumação ocorre no local e no momento em que o sujeito ativo deveria agir e não o fez. Tratando-se de crime omissivo impróprio, como a omissão é forma ou meio de se alcançar um resultado, pelo não impedimento, a consumação ocorre com o resultado de dano ou perigo e não com a simples inatividade do agente, como nos delitos omissivos puros ou próprios. 2. Tentativa 2.1 Conceito A tentativa é a realização incompleta do tipo penal, do modelo descrito na lei. Na tentativa há prática de ato de execução, mas o sujeito não chega à consumação por circunstâncias independentes de sua vontade. A relevância típica da tentativa é determinada expressamente pelo legislador através de uma norma de extensão, contida na Parte Geral do Código Penal. 2.2 Natureza Jurídica Trata-se de norma de extensão temporal da figura típica, causadora da adequação típica mediata ou indireta. Exemplos de normas de extensão são os artigos 29 e 13, §2º ambos do Código Penal. 2.3 Teorias fundamentadoras da punição da tentativa 2.3.1 Teoria Subjetiva Sobre a punibilidade da tentativa, existem quatro teorias, a começar pela Teoria Subjetiva, Voluntarística ou Monista que ocupa-se privativamente com a vontade criminosa, que pode aparecer tanto na fase dos atos preparatórios, como também durante a execução. Essa teoria é adotada pelo Código Penal, nos casos dos crimes de atentado ou de empreendimento, artigo 352 do Código Penal. 2.3.2 Teoria Objetiva A teoria é a Objetiva, Realística ou Dualista, em que a tentativa é punida em face do perigo proporcionado ao bem jurídico tutelado pela lei penal. A regra é o artigo 14 parágrafo único do Código Penal. 2.3.3 Teoria Subjetivo-objetiva A teoria da Impressão ou Objetivo-subjetiva, teoria esta mencionada pelo Zaffaroni que entende que a punibilidade da tentativa só é admissível quando a atuação da vontade ilícita do agente seja adequada para comover a confiança na vigência do ordenamento normativo e o sentimento de segurança jurídica dos que tenham conhecimento da conduta criminosa. 2.3.4 Teoria Sintomática A teoria Sintomática, essa teoria estende a possibilidade de aplicação de pena para a tentativa, pois possibilita a punição dos atos preparatórios, porque a mera manifestação de periculosidade já pode ser considerada como tentativa, em consonância com a finalidade preventiva da pena. Dolo e culpa de tentativa 2.4 Conceito e divisão de ´´inter criminis´ Como em todo ato humano voluntário, no crime a ideia antecede a ação. É no pensamento do homem que se inicia o movimento delituoso, e a sua primeira fase é a ideação e a resolução criminosa. Há um caminho que o crime percorre, desde o momento em que germina, como ideia, no espírito do agente, até aquele em que se consuma no ato final. A esse itinerário percorrido pelo crime, desde o momento da concepção até aquele em que ocorre a consumação, chama-se iter criminis e compõe-se de uma fase interna (cogitação) e de uma fase externa (atos preparatórios, executórios e consumação), ficando fora dele o exaurimento, quando se apresenta destacado da consumação. Mas nem todas as fases dessa evolução interessam ao Direito Penal, como é o caso da fase interna (cogitativo). E a questão é determinar exatamente em que ponto o agente penetra propriamente no campo da ilicitude, porque é a partir daí que o seu atuar constitui um perigo de violação ou violação efetiva de um bem jurídico e que começa a realizar-se a figura típica do crime. 2.5 Critérios para a diferenciação entre atos preparatórios e atos executórios A doutrina andou insistentemente em busca de regras gerais que distinguissem atos preparatórios e executórios com alguma precisão. Vários foram os critérios propostos para a diferenciação. O critério válido de delimitação entre atos preparatórios e atos executórios (início da execução) será aquele que permita identificar a tentativa como “início da execução da conduta típica”. Por outro lado, considerando que a Parte Especial é composta por uma multiplicidade de tipos de injusto, estruturalmente distintos (crimes de resultado, de mera conduta, comissivos, omissivos etc.), o critério de delimitação entre atos preparatórios e atos executórios (início da execução punível) deve ser capaz de abranger todas essas formas de manifestação do fenômeno criminoso. 2.5.1 Teoria Objetiva A teoria subjetiva tem como fundamento a previsibilidade da punição pela tentativa, pelo “tentar” do agente em conseguir um objetivo, que não o realiza, por circunstâncias alheias à sua vontade. Apesar desse fundamento, procura citada teoria defender que, tanto na tentativa como na consumação do crime, as penas devem ser as mesmas, pois deve ser punida a vontade do agente. Zaffaroni e Pierangeli, assim discorrem sobre essa teoria “Denomina- se teoria subjetiva a que fundamenta a punição da tentativa na vontade do autor contrária ou inimiga do Direito, ou seja, o legislador, com a fórmula da tentativa, almejou combater a vontade criminosa”. 2.5.2 Teoria Objetivo formal No critério objetivo formal, o começo da execução é marcado pelo início da realização do tipo, ou seja, quando se inicia a realização da conduta núcleo do tipo: matar, ofender, subtrair etc. É por demais conclusiva a lição do saudoso Aníbal Bruno, que pontificava: “Na realidade, o ataque ao bem jurídico para constituir movimento executivo de um crime tem de dirigir-se no sentido da realização de um tipo penal. O problema da determinação do início da fase executiva há de resolver-se em relação a cada tipo de crime, tomando-se em consideração sobretudo a expressão que a lei emprega para designar a ação típica. É em referência ao tipo penal considerado que se pode decidir se estamos diante da simples preparação ou já da execução iniciada. Para isso é preciso tomar em consideração o fim realmente visado pelo agente´´. Há entendimento de que a teoria objetivo-formal necessita de complementação, pois, apesar de tê-la adotado e de o Código afirmar que o crime se diz tentado “quando, iniciada a execução, não se consuma...”, existem atos tão próximos e quase indissociáveis do início do tipo que merecem ser tipificados, como, por exemplo, alguém que é surpreendidodentro de um apartamento, mesmo antes de ter subtraído qualquer coisa; poder-se-á imputar-lhe a tentativa de subtração? ? Mas pode-se afirmar que ele ria iniciado a subtração de coisa alheia? Por isso, tem se aceito a complementação proposta por Frank, que inclui na tentativa as ações que, por sua vinculação necessária com a ação típica, aparecem, como parte Integrante dela, segundo uma concepção natural, como é o caso do exemplo supra referido. Por último, pode acontecer que em determinados casos (nas hipóteses de conflito aparente de normas, especialmente nos casos de crimes complexos de resultado) nos deparemos com a dificuldade de distinguir entre a prática de um crime consumado menos grave e o início da execução de um crime mais grave, que pode ser punido na sua forma tentada. Para uma adequada valoração dos fatos, é necessário analisar a tentativa sob uma perspectiva global, levando em consideração o plano do autor e o contexto em que ele se desenvolve. O plano do autor deverá ser entendido no sentido do dolo, como decisão de realizar determinada conduta típica, e demonstrado, na prática, através de indicadores externos, relacionados com o contexto em que a conduta se desenvolve, para que, finalmente, se defina como deve ser valorada a conduta realizada. 2.5.3 Teoria Objetiva material O critério material vê o elemento diferencial no ataque direto ao objeto da proteção jurídica, ou seja, no momento em que o bem juridicamente protegido é posto realmente em perigo pelo atuar do agente. Assim, o crime define-se, materialmente, como lesão ou ameaça a um bem jurídico tutelado pela lei penal. O ato que não constitui ameaça ou ataque direto ao objeto da proteção legal é simples ato preparatório. 2.5.4 Teoria Objetiva Individual A teoria objetivo-individual permite maior aproximação do diferenciação da fase preparatória e da fase de execução. De acordo com essa teoria, para estabelecer a diferença deve-se considerar o plano concreto do autor, o seu querer em relação ao bem atingido ou a atingir. Por essa teoria não se pode diferenciar o ato de execução do ato preparatório, sem levar-se em conta o plano do agente. Para essa teoria segundo Damásio Evangelista de Jesus em sua obra que é defendida por Welzel e Zaffaroni os atos de cogitação e preparação imediatamente anteriores ao início da execução de uma conduta típica devem ser considerados também como atos executórios, se assim não fosse, não poderia haver punição para a tentativa. 2.6 Tentativa e dolo eventual ROBERTO DELMANTO, ROBERTO DELMANTO JUNIOR e FÁBIO M. DE ALMEIDA DELMANTO, são mais diretos quando afirma que “é inadmissível se ter como tentativa de homicídio o evento não desejado” . Defendendo o mesmo posicionamento, MIRABETE, colaciona casos semelhantes ao do denunciado, explicando sobre a incompatibilidade entre tentativa de homicídio e dolo eventual. Há hipóteses evidentes de impossibilidade da tentativa com dolo eventual nos crimes de homicídio e de lesões, pois quem põe em perigo a integridade corporal de alguém voluntariamente, sem desejar causar a lesão, pratica fato típico especial (art. 132); quem põe em risco a vida de alguém, causando-lhe lesão e não querendo sua morte, pratica o crime de lesão corporal de natureza grave (art. 129, §1º, II). Deve-se entender que, diante do texto legal, se punirá pelo crime menos grave quando o agente “assume o risco” de um resultado de lesão ou morte, respectivamente, que ao final não vem a ocorrer". 2.7 Tentativa e crime de ímpeto Tentativa de crime é a execução do conjunto de atos necessários para constituí-lo que, embora suficientes, não produzam o resultado esperado por motivos alheios à vontade do agente. Ou seja: é a execução, não intencionalmente falha, de todos os atos suficientes ao cometimento do crime. Segundo o código penal brasileiro, em seu artigo 14, diz-se do crime:"II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente." Crimes de ímpeto acontecem sem premediação, como decorrência de reação emocional repentina. Existem teorias no sentido de que o ímpeto do agente afasta a viabilidade de análise do iter criminis, porque a sua atuação repentina impossibilita o fracionamento dos atos executórios. Veja-se o exemplo do homem que, ao chegar em casa, encontra sua esposa mantendo relações sexuais com terceira pessoa. Revoltado, saca uma arma de fogo e efetua disparos contra a adúltera, não a acertando, embora desejasse matá-la. Para aqueles que não aceitam a tentativa nos crimes de ímpeto, seria impossível estabelecer, no plano concreto, se o traído não matou sua mulher por erro na pontaria ou pelo fato de não desejar alvejá-la efetivamente. Existem posições pela inadmissibilidade da tentativa nos crimes com dolo eventual, com fundamento na redação do artigo 14, II do Código Penal: se o legislador definiu o crime tentado como aquele em que, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias a vontade do agente, limitou o instituto ao dolo direto, para o qual adotou a teoria da vontade (artigo 18, I, 1° parte do Código Penal), excluindo-a do alcance do dolo eventual, em que se acolheu a teoria do consentimento ou do assentimento. 2.8 Crimes que não admitem tentativas Os crimes que não admitem tentativas são: Contravenções penais (art. 4º, da LCP) – que estabelece não ser punível a tentativa. Crimes culposos – nos tipos culposos, existe uma conduta negligente, mas não uma vontade finalisticamente dirigida ao resultado incriminado na lei. Não se pode tentar aquilo que não se tem vontade livre e consciente, ou seja, sem que haja dolo. Crimes habituais – são aqueles que exigem uma reiteração de condutas para que o crime seja consumado. Cada conduta isolada é um indiferente para o Direito Penal. Crimes omissivos próprios – o crime estará consumado no exato momento da omissão. Não se pode admitir um meio termo, ou seja, o sujeito se omite ou não se omite, mas não há como tentar omitir-se. No momento em que ele devia agir e não age, o crime estará consumado. Crimes uni subsistentes – são aqueles em que não se pode fracionar a conduta. Ou ela não é praticada ou é praticada em sua totalidade. Deve- se ter um grande cuidado para não confundir esses crimes com os formais e de mera conduta, os quais podem ou não admitir a tentativa, o que fará com que se afirme uma coisa ou outra é saber se eles são ou não uni subsistentes. Crimes preter dolosos – são aqueles em que há dolo no antecedente e culpa no consequente. Ex. lesão corporal seguida de morte. Havendo culpa no resultado mais grave, o crime não admite tentativa. Crimes de atentado – são aqueles em que a própria tentativa já é punida com a pena do crime consumado, pois ela está descrita no tipo penal. Ex. art. 352 do CP – “evadir-se ou tentar evadir-se”. 2.9 Critério para a diminuição da pena na tentativa As causas de aumento e diminuição podem tanto estar previstas na Parte Geral do Código Penal (ex.: a tentativa, prevista no artigo 14, inciso II, que poderá diminuir a pena de um a dois terços) quanto na Parte Especial (ex.: no crime de aborto a pena será aplicada em dobro se ocorrer a morte da gestante - artigo 127). Elas são causas que permitem ao magistrado diminuir aquém do mínimo legal bem como aumentar além do máximo legal. O parágrafo único do artigo 68, do CP, dispõe que se ocorrer o concurso de causas de diminuição e de aumento previstas na parte especial, deverá o juiz limitar-se a uma só diminuição e a um só aumento, prevalecendo a que mais aumente ou diminua, porém se ocorrer uma causa de aumento na parte especial e outra na parte geral, poderá o magistrado aplicar ambas,posto que a lei se refere somente ao concurso das causas previstas na parte especial do CP. Com relação a qualificadora é possível que o juiz reconheça duas ou mais em um mesmo crime e, segundo a doutrina, a primeira deverá servir como qualificadora e as demais como agravantes genéricas, senão vejamos: um indivíduo pratica homicídio qualificado mediante promessa de recompensa com o emprego de veneno - o juiz irá considerar a promessa de recompensa como qualificadora (artigo 121, § 2°, I do CP) e o emprego de veneno como agravante genérica (artigo 61, II, "d" do CP) ou vice-versa. Entretanto pode acontecer que em determinados casos a outra qualificadora não seja considerada como circunstância agravante, devendo então o magistrado aplicá-la como circunstância do crime (artigo 59, do CP - circunstâncias judiciais), como no caso de um furto qualificado praticado mediante escalada e rompimento de obstáculo, o juiz poderá qualificar o crime pela escalada (artigo 155, § 4°, II do CP) e, como o rompimento de obstáculo não é considerado como agravante, deverá considerá-lo na 1ª fase, como circunstância do crime. 2.10 Distinção: tentativa perfeita e imperfeita Na tentativa imperfeita - o agente não termina a execução por motivos alheios a sua vontade, por exemplo: alguém desarmar o agente. Já a tentativa perfeita - o agente termina a execução e mesmo assim o crime não se consuma por motivos alheios a sua vontade. Não foi perfeita porque deu certo, afinal o crime não se consumou, mas foi perfeita porque se perfez todo o caminho, todos os atos de execução dos quais o agente dispunha foram realizados. Ex: tinha seis tiros, deu os seis tiros, mas a vítima foi socorrida, ou os seis tiros pegaram na parede. Na tentativa perfeita a consumação não ocorre por circunstâncias alheias à vontade do agente. Se o agente acredita, por exemplo, que para matar seu desafeto são necessários apenas dois tiros e efetua os dois disparos, será o caso de tentativa perfeita, acabada ou crime falho. Note que de acordo com o plano do autor, todo o caminho de execução para o crime foi realizado. Situação diversa ocorre quando o agente acredita que para matar seu inimigo é preciso cinco tiros. Disposto a realizar tal empreitada, é interrompido quando executa o terceiro tiro. Trata-se de um exemplo de tentativa imperfeita ou inacabada. Na tentativa imperfeita ou inacabada o agente não consegue realizar todo o seu plano executório, pois é interrompido no desenrolar da ação. A relevância na distinção entre as duas formas de tentativa reside no momento de aplicação da pena. Quanto mais próximo de atingir o bem jurídico, maior será a pena a ser aplicada pelo magistrado. Escrevemos sobre o tema o seguinte ¹: “para efeito de pena, fundamental será não só constatar que o bem jurídico entrou no raio de ação da conduta perigosa, senão também qual foi o nível de perturbação ou turbação do bem jurídico (nível de perigo criado). Quanto mais a conduta perigosa do agente se aproximar da consumação, maior a pena (leia-se: menos a diminuição em razão da tentativa). 2.11 Distinção: Crime falho e tentativa falha O Crime falho é sinônimo de tentativa perfeita ou acabada. É uma forma de tentativa na qual o agente esgota todo o caminho executório para o crime, de acordo com seu planejamento, mas não ocorre a consumação. O sujeito realiza uma conduta que objetivamente poderia causar um resultado lesivo, ou seja, uma ação com efetiva potencialidade lesiva. A tentativa falha é a interrupção dos atos executórios por falha interna do agente, que acredita não poder prosseguir, quando, em verdade, poderia. Ex.: o autor da subtração, ouvindo o barulho da sirene de uma ambulância, acredita tratar-se da polícia, largando o furto em andamento. 3. Desistência voluntária e Arrependimento eficaz; São espécies de tentativa abandonada ou qualificada, ou seja, havia uma tentativa que foi abandonada, onde o agente pretendia produzir o resultado consumativo, mas acabou por mudar de ideia, vindo a ser impedido pela sua própria vontade. Sendo assim, a tentativa não se consumou por vontade do agente, ao contrário da tentativa, que não se consuma por fatores alheios à vontade do agente. 3.1 Desistência voluntária 3.1.1 Introdução; “Art. 14 - Diz-se o crime [...] II - Tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. ” Na desistência voluntária o agente interrompe voluntariamente a execução do crime, impedindo desse modo a consumação. Dá início à execução, porém o agente muda de ideia quanto ao resultado por vontade própria, evitando-o. 3.1.2. Desistência voluntária e política criminal; Com a desistência voluntária, o agente só responde pelos atos já praticados, ficando afastada sua punição pela tentativa da infração penal por ele pretendida inicialmente. Por razões de política criminal, prefere-se punir a desistência voluntária de forma menos gravosa que a tentativa, numa forma de incentivar o agente a desistir dos atos executórios já tomados a efeito. 3.1.3. A desistência deve ser voluntária, e não espontânea; Estes dois institutos não precisam ser instantâneos, bastando que sejam voluntários. Se o agente desiste ou se arrepende por sugestão de terceiro não é caracterizado como desistência voluntária e arrependimento eficaz. 3.1.4. Fórmula de Frank; Em consonância com o doutrinador alemão Hans Frank, na tentativa o agente quer praticar o crime, mas não pode, e, na desistência voluntária, o agente pode praticar o crime, mas não quer praticá-lo. 3.1.5. Responsabilidade do agente somente pelos atos já praticados; No art. 15 do CP está tipificado que “O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados. ” Se o sujeito interrompe a execução do tipo ou, já exaurida a atividade executiva, evita a produção de resultado, inexiste crime tentado. Se denominando tentativa abandonada, assim quando se tem o resultado evitado, não há consumação nem tentativa propriamente dita, logo o agente responde apenas pelos atos que cometeu até o momento. Verifica-se, após a cessação dos atos executórios, quais infrações penais o agente cometeu até o momento da desistência. O obejtivo do Instituto é impedir que o agente responda pela tentativa. 3.1.6. Agente que possui um único projétil em seu revólver; Se o agente que, possuindo um único projétil em sua arma, dispara-o, agindo com dolo de matar, e atinge o desafeto em região não letal. No caso, poderia ele sustentar a desistência voluntária para se eximir da pena de tentativa? Não. O agente, ao efetuar os disparos, exauriu todos os meios dos quais dispunha para causar o resultado morte. Tendo deixado a fase dos atos executórios, não mais se pode falar em desistência voluntária, devendo o agente responder, portanto, por tentativa de homicídio, e não por lesões corporais. 3.2. Arrependimento eficaz; O agente, após encerrar a execução do crime, impede a produção do resultado. A execução vai até o fim, mas o agente arrepende-se e impede o resultado. Ex: o autor descarrega sua arma contra a vítima e depois da fase de execução estar concluída, se arrepende e presta socorro à vítima. 3.3. Natureza jurídica da desistência voluntária e do arrependimento eficaz; Para Fernando Capez trata-se de uma causa geradora de atipicidade, provocada por uma adequação típica indireta, fazendo com que o autor não responda pela tentativa, mas sim pelos crimes praticados até então, salvo os que não configuramfato típico. O fato não deixa de ser um crime tentado: somente desaparece a possibilidade de aplicação de pena. Entretendo para Nelson Hungría, trata-se de causa de extinção de punibilidade, ou seja, circunstancias que sobrevindo a tentativa do crime, anulam a punibilidade do fato a esse título. 3.4. Diferença entre desistência voluntária e arrependimento eficaz; Na desistência voluntária, o agente interrompe a execução, e no arrependimento eficaz é realizada inteiramente e após o resultado é impedido. A desistência é equivalente à tentativa inacabada, uma vez que a execução não chegou ao fim. Enquanto o arrependimento eficaz é sucedâneo da tentativa perfeita ou crime falho, pois encerra-se em atividade executória. A diferença é que o resultado não se produz em razão da vontade do próprio agente. 3.5. Não impedimento da produção do resultado; Se, ainda que com a desistência voluntária ou com o arrependimento eficaz o resultado lesivo antes pretendido ocorrer, o agente não será beneficiado com os institutos, respondendo, portanto pelo crime consumado. 4. Arrependimento posterior 4.1 Disposição legal O arrependimento posterior, inovação trazida pela reforma na Parte Geral do Código Penal, vem previsto no artigo 16. 4.2 Natureza Jurídica O arrependimento posterior é considerado uma causa geral de diminuição de pena. Mas como chegar a essa conclusão? A resposta é simples. Toda vez que o legislador nos fornece em frações as diminuições ou os aumentos a serem aplicados, estaremos, respectivamente, diante de caudas de diminuição ou de aumento de pena. Se essas causas se encontrarem na Parte Geral do Código Penal, receberão a denominação de causas gerais de diminuição ou aumento de pena, ao contrário, se residirem na parte especial do Código Penal, serão conhecidas como a causas especiais de aumento ou diminuição de pena. 4.3 Política criminal Lembrou-se aqui o agente de elaborar um artigo que entendesse mais as necessidades da vítima que propriamente os anseios do indicado, pois uma vez reparado o dano ou restituída a coisa até o recebimento da denúncia por ato voluntário, do a gente, sua pena sofrerá uma redução de um a dois terços, amenizando, desta maneira, para a vítima, as consequências da infração penal. 4.4 Momentos para a reparação do dano ou restituição da coisa; a) Quando a reparação do dano ou a restituição da coisa é feita ainda na fase extrajudicial, isto é, enquanto estiverem em curso as investigações policiais b) Mesmo depois de encerrado o inquérito policial, com a sua consequente remessa a justiça, pode o a gente, ainda valer-se do arrependimento posterior, desde que restitua a coisa ou repare o dano por ele causado a vítima até o recebimento da denúncia. 4.5 Infrações penais que possibilitam a aplicação do arrependimento posterior; O arrependimento posterior só terá cabimento quando o agente praticar uma infração penal cujo o tipo não preveja com seus elementos a violência ou a grave ameaça. No furto por exemplo, é perfeitamente viável a aplicação do arrependimento posterior, mesmo que tenha sido ele qualificado pela destruição ou rompimento de obstáculos uma vez que a violência repelida pelo artigo 16 é aquela dirigida contra a pessoa, e não contra coisa. 4.6 Ato voluntário do agente; Contentou-se o artigo 16 do Código Penal em reprimir a aplicação de causa de diminuição de pena por ele prevista quando o arrependimento posterior for voluntário, não se exigindo, aqui, o requisito da espontaneidade. 4.7 Reparação ou restituição total, não parcial; Entende-se que a reparação do dano ou a restituição da coisa devam ser totais, e não somente parciais. Suponhamos que Joao tenha subtraído da residência de Antônio televisor e um vídeo cassete. Logo após praticado crime, João se desfaz do televisar, vendendo-o a um caminhoneiro. Ainda na fase policial, e logo depois de ser descoberta a autoria do furto, João resolve, voluntariamente, devolver o vídeo cassete que havia guardado para venda futura. Nessa hipótese, por não ter sido total a restituição da coisa, entendemos que seria aplicável a redação de pena prevista para o arrependimento posterior. 4.8 Diferença de arrependimento posterior e arrependimento eficaz; A diferença entre o arrependimento posterior e arrependimento eficaz ré que no fato de que naquele o resultado já foi produzido e neste último o agente impede a sua produção. 4.9 Reparação do dano após o recebimento da denúncia Se a reparação do dano ou a restituição da coisa é feita por ato voluntário do agente, até o recebimento da denúncia ou da queixa, nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça, aplica-se a causa geral de redução e pena do artigo 16 do Código Penal, se a reparação ou restituição da coisa é feita antes do julgamento, mas depois do recebimento da denúncia ou de queixa, embora não se posso falar na aplicação da causa de redução de pena prevista no artigo 16 do Código Penal, ao agente será aplicada a circunstância atenuante elencada a alínea do inciso III do artigo 66 do diploma repressivo. 4.10 Reparação do dano e a Lei n. 9.099/95; A reparação dos danos recebeu um tratamento muito especial pela lei n. 9099/95, na parte referente ao Juizado Especial Criminal. Diferentemente do que ocorreu no artigo 16 do Código Penal, que permite seja aplicada uma redução de pena ao agente que, nos crimes como tidos sem violência ou grave ameaça, repare o dano ou restitua a coisa até o recebimento da denúncia, nos crimes de competência do Juizado Especial Criminal, composição dos danos, nos crimes sem que ação penal seja de iniciativa privada ou publica condicionada a representação um efeito muito superior. Isso porque diz o parágrafo único do artigo 17 da Lei no 9.9099/95. 4.11 Arrependimento posterior e crime culposo; Merece ser observado, ainda, que, embora a lei penal proíba o reconhecimento do arrependimento posterior nos crimes tidos como violência ou grave ameaça a pessoa, isso não impede aplicação da mencionada causa geral de redução de pena quando estivermos diante de delitos de natureza culposa, a exemplo do que ocorre com as lesões corporais. 5. Crime impossível; 5.1. Dispositivo legal; Previsto no art. 17, que diz: “Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.” Não se trata de causa de isenção de pena, mas causa geradora de atipicidade, no crime impossível a consumação jamais ocorrera, logo, a ação não se configura como crime pois o fato típico jamais ocorrerá. 5.2. Introdução; É o crime que por ineficácia total do meio empregado ou impropriedade absoluta do objeto material, é impossível de se consumar. 5.3. Teorias sobre o crime impossível; a) Sintomática: deve ser punido o agente que demonstrar periculosidade; b) Subjetiva: o agente que revelar vontade de delinquir, deve ser punido; c) Objetiva: o agente não deve ser punido uma vez que não houve um perigo para a coletividade. Pode ser objetiva pura ou temperada: d) Objetiva pura: se caracteriza crime impossível quando a ineficácia e a impropriedade sejam absolutas ou relativas; e) Objetiva temperada: Adotada pelo CP – só é crime impossível quando forem absolutas, quando são relativas se caracteriza como tentativa. 5.4. Absoluta ineficácia do meio; Quando o meio empregado ou o objeto utilizado jamais levarão a consumação. Ex: tentar realizarcom homicídio com um palito de dente. 5.5. Meio relativamente ineficaz; Está, leva à tentativa e não ao crime impossível. Ex: Palito de dente é ineficaz para matar um adulto; mas é possível matar um bebe. 5.6. Absoluta impropriedade do objeto; A vítima, pessoa ou até mesmo a coisa, é totalmente idônea para a produção de algum resultado lesivo. Ex: matar um cadáver. 5.7. Objeto relativamente impróprio; A impropriedade quanto ao objeto não pode ser relativa, pois nesse caso se caracterizaria a tentativa. 5.8. Diferença entre crime impossível e crime putativo. O crime putativo acontece quando o agente acredita que a conduta por ele praticada constitui crime, porém, na verdade, é um fato atípico, não havendo qualquer consequência jurídica. Como exemplo pode-se citar a mulher que pratica o aborto sem estar grávida.
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