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40 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 Unidade II Unidade II 5 PROGRAMAS DE CONCESSÃO DE CRÉDITO PARA O AGRONEGÓCIO 5.1 Considerações iniciais Abordaremos agora as principais modalidades utilizadas para o financiamento da agropecuária. Serão consideradas as alternativas de crédito regulamentadas no Manual do Crédito Rural (MCR). Serão destacados os financiamentos que podem ser obtidos via linhas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), outros bancos públicos, como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, e instituições privadas que compõem o Sistema Financeiro Nacional (SFN). Em seguida, abordaremos os empréstimos que podem ser conseguidos nos próprios mercados financeiros e as linhas obtidas junto ao exterior. Veremos, também, as possibilidades de financiamentos com recursos dos próprios produtores ou de suas cooperativas. Lembrete Observamos anteriormente que existiram momentos de maior e de menor concessão de créditos (às vezes até esquecimento) para o setor, dependendo da política econômica em voga em cada ocasião, como as que tinham o objetivo mais direcionado para o apoio à industrialização. O Brasil, como vários países emergentes, estabeleceu, desde os anos 1930 até o final da década de 1970, políticas de substituição de importações, visando desenvolver suas atividades industriais. André Pessoa (apud MACHADO; SOUZA; BRUM, 2005) aponta as razões invocadas para a instituição do regime de substituição de importações no Brasil: Durante as décadas de 1950 a 1960, a Comissão Econômica para América Latina e Caribe – Cepal, preconizava que o desenvolvimento dos países do terceiro mundo passava por um amplo programa de substituição de importações. Esse programa tinha o intuito de possibilitar o surgimento de um setor industrial, produtor de manufaturados, que permitisse uma acumulação de capital suficiente para desencadear um processo de desenvolvimento econômico autossustentável e duradouro. No Brasil, o setor mais capitalizado da economia era a agricultura. O programa cepalino pressupunha que o setor agrícola exportador gerasse divisas que permitissem a importação de bens de capital para a indústria nascente, 41 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 LINHAS DE FINANCIAMENTOS E CRÉDITOS fosse produtor de alimentos a preços baixos, para não pressionar os salários urbano/industriais, fosse, também, fornecedor de mão de obra barata, para atender à demanda do setor industrial; e, ainda, que servisse de mercado consumidor para os produtos da incipiente agroindústria nacional de insumos modernos. Os livros sobre economia brasileira sempre trazem variadas informações sobre essa tentativa de incentivo ao setor industrial, mostrando os seus resultados até o final da década de 1970. Saiba mais Mais informações sobre esse processo de incentivo ao desenvolvimento industrial podem ser obtidas na obra: CORRÊA, V. P.; SIMIONI, M. (Org.). Desenvolvimento e igualdade. Rio de Janeiro: Ipea, 2011. Edição especial. Disponível em: <http://www.ipea.gov. br/portal/images/stories/PDFs/livros/livros/livro_desenvigualdade_80anos. pdf>. Acesso em: 25 set. 2015. O livro foi elaborado em homenagem aos 80 anos da economista Maria da Conceição Tavares e traz informações detalhadas sobre o processo de substituição de importações. Voltando ao setor agropecuário, é apresentado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), com periodicidade anual, um documento com as propostas do setor privado, consolidadas pelo Conselho Superior de Agricultura e Pecuária do Brasil. Assim, é elaborado o Plano Agrícola e Pecuário para cada safra, com base nas normas e nos encargos financeiros e outras especificações e limites, fixados pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e descritas no Manual do Crédito Rural (MCR), publicado pelo Banco Central do Brasil, objetivando: • Criar um ambiente favorável aos investimentos no segmento rural. • Gerar empregos no setor. • Agregar renda ao meio rural. • Aumentar a competitividade dos produtos brasileiros. • Incrementar e diversificar a pauta de exportações brasileiras. 42 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 Unidade II Saiba mais Veja, por exemplo, o Plano Safra para o Agronegócio, no período 2014/2015, apresentado na reportagem: PLANO Safra 2014/2015 disponibiliza R$ 156 bi para produtores. Portal Brasil, Brasília, 19 maio 2014. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/ economia-e-emprego/2014/05/plano-safra-2014-2015-dispobiliza-r- 1560-bi-para-produtores/>. Acesso em: 25 set. 2015. No seguinte endereço, é possível ter acesso ao Plano Safra mais atual: <http://www.mda.gov.br/plano_safra/>. 5.2 Atividades financiadas pelo crédito rural Considera-se crédito rural o suprimento de recursos financeiros por instituições do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR). Conforme as Disposições Preliminares do MCR, o crédito rural pode ser identificado como: • Corrente: não há a prestação de assistência técnica em nível de empresa. • Educativo: o suprimento de recursos é fornecido somado à prestação de assistência técnica, incluindo a elaboração de projeto ou plano e a orientação ao produtor. Cabe ao produtor decidir a necessidade de assistência técnica para elaboração de projeto e orientação, salvo quando considerados indispensáveis pelo financiador ou quando exigidos em operações com recursos oficiais. Como indicado nos artigos 1º e 2º do MCR (Seção 5, Capítulo 1): 1 – A assistência técnica e extensão rural buscarão viabilizar, com o produtor rural, suas famílias e organizações, soluções adequadas para os problemas de produção, gerência, beneficiamento, armazenamento, comercialização, industrialização, eletrificação, consumo, bem-estar e preservação do meio ambiente (Res. 3.239). 2 – A ação da assistência técnica e extensão rural deve estar integrada à pesquisa agrícola, aos produtores rurais e suas entidades representativas e às comunidades rurais (BACEN, 2015, p. 16). • Especial: é conceituado como especial o crédito rural destinado a: — Cooperativas de produtores rurais, para aplicações próprias ou dos associados. — Programas de colonização ou reforma agrária, na forma da Lei nº 4.504, de 30/11/1964. 43 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 LINHAS DE FINANCIAMENTOS E CRÉDITOS Saiba mais Conforme indicado no seu artigo 1º, a Lei nº 4.504, de 30/11/1964, regulamenta os direitos e obrigações concernentes aos bens imóveis rurais para os fins de execução da Reforma Agrária e promoção da Política Agrícola: BRASIL. Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964. Dispõe sobre o Estatuto da Terra, e dá outras providências. Brasília, 1964. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4504.htm>. Acesso em: 21 set. 2015. De forma geral, entre o grupo de atividades possíveis de serem financiadas, podemos relacionar: • Custeio das despesas e custos (agrícola, pecuário, de beneficiamento ou industrialização) de cada ciclo produtivo. • Investimento em bens ou serviços cujo aproveitamento se estenda por vários ciclos produtivos. • Comercialização da produção. Podem ser atendidos pelo Crédito Rural: • O produtor rural e suas associações (cooperativas, condomínios, parcerias etc.). • As cooperativas de produtores rurais. • Pessoa física ou jurídica que, embora não seja produtor rural, é envolvida com a pesquisa ou a produção de: — mudas ou sementes fiscalizadas ou certificadas; — sêmen para inseminaçãoartificial; — prestação de serviços mecanizados de natureza agropecuária, em imóveis rurais, inclusive para a proteção do solo; — prestação de serviços de inseminação artificial, em imóveis rurais; — Exploração de pesca, com fins comerciais. 44 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 Unidade II 5.3 Exigências essenciais para concessão de crédito rural São consideradas para a formulação de crédito: • A idoneidade do tomador. • A apresentação de orçamento, plano ou projeto, exceto em operações de desconto de Nota Promissória Rural ou de Duplicata Rural. Observação A Nota Promissória Rural e a Duplicata Rural são títulos de crédito rural utilizados nas vendas a prazo de bens de natureza agrícola, extrativa ou pastoril, quando efetuadas diretamente por produtores rurais ou por suas cooperativas. Ambas serão posteriormente detalhadas neste livro-texto. • Oportunidade, suficiência e adequação de recursos. • Observância de cronograma de utilização e de reembolso. • Condições de fiscalização pelo financiador. Periodicamente, em torno de 60 dias, devem ser fiscalizados: • Correta aplicação dos recursos orçamentários. • Desenvolvimento das atividades financiadas. • Situação das garantias fornecidas na operação. 5.4 Garantias para o crédito rural As garantias são livremente acordadas entre o financiado e o financiador, variando conforme a natureza e o prazo do crédito, sendo representadas por: • Penhor agrícola, pecuário, mercantil ou cedular. • Alienação fiduciária. • Hipoteca comum ou cedular. • Aval ou fiança. • Outros bens ou direitos aceitos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). 45 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 LINHAS DE FINANCIAMENTOS E CRÉDITOS 6 LINHAS DE CRÉDITO DO GOVERNO FEDERAL 6.1 Empréstimos do Governo Federal (EGF) Os EGFs são identificados como créditos voltados para o apoio à comercialização dos produtos agropecuários, subdividindo-se em dois grupos, que veremos a seguir. 6.1.1 EGF/COV Trata-se do EGF com opção de venda, que objetiva dotar o produtor rural de condições para comercializar seus produtos em situação de preços mais favoráveis diretamente à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Conab A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) está presente em todas as regiões brasileiras, acompanhando a trajetória da produção agrícola, desde o planejamento do plantio até chegar à mesa do consumidor. A atuação da Companhia contribui com a decisão do agricultor na hora de plantar, colher e armazenar e segue até a distribuição do produto no mercado, fase em que a garantia dos preços mínimos oferecidos pelo governo é traduzida em abundância no abastecimento e estímulo à produção. As operações realizadas pela Conab são coordenadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Para essas ações, a Companhia realiza estudos e estatística dos preços, assim como os levantamentos de custos de produção da agropecuária, a expectativa de plantio e de colheita de grãos, além do volume e localização de estoques públicos e privados de uma gama de produtos. A estimativa da produção sucroalcooleira e outras informações pertinentes são estendidas também à safra de café e de cana-de-açúcar. No que diz respeito à definição das políticas públicas para o abastecimento alimentar no país, no âmbito da Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), a Companhia é responsável por sua execução. A atuação se faz por meio da Aquisição do Governo Federal (AGF), instrumento capaz de equilibrar a renda do produtor rural, do agricultor familiar e de suas cooperativas, frente a oscilação do preço no mercado. Na prática, isso significa comprar produtos agrícolas, formar estoques e vendê-los na hora certa para regularização do mercado consumidor. 46 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 Unidade II Nas economias em que a agricultura tem papel relevante, como, por exemplo, na agricultura familiar, existe a preocupação em estabelecer políticas de sustentação de renda para o setor. O governo brasileiro conta com mecanismos para corrigir as distorções próprias da atividade. Isso ocorre ao se reduzir o excesso eventual de oferta, num período crítico para o produtor, ou devolver esse excedente ao mercado na entressafra, atenuando, assim, o impacto da elevação dos preços ao consumidor. Esse conjunto de ações que traduzem a prática da PGPM é uma importante ferramenta para impulsionar a agricultura, além de regularizar o abastecimento alimentar do País. Fonte: Conab ([s.d.]). 6.1.2 EGF/SOB É o EGF sem a opção de venda, destinado ao apoio ao produtor rural para o suporte às atividades de armazenamento e conservação do produto para que possa ser comercializado no futuro, em momentos mais adequados no que se refere a mercado/preços. Os EGFs são fortemente relacionados com a Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), referendada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Lembrete A PGPM sofreu muitas alterações a partir do processo de abertura comercial do País, iniciado sob os auspícios das ideias neoliberais a partir do início dos anos 1990. Outro fator de que determinou uma menor ênfase nessa política foi a crescente carência de recursos financeiros pelo governo central, que os subsidiava. Menciona Fortuna (2008, p. 244): O processo de abertura da economia brasileira esvaziou a função tradicional da PGPM, pensada para proteger o produto agrícola nacional, por conta dos cofres públicos. Com a abertura, mudou a participação do governo, representado pelos EGF e os AGF, ou seja, começaram a surgir instrumentos mais modernos que regulam o mercado, sem depender dos cofres do Tesouro. Assim, praticamente, eliminaram-se os EGF/COV, o que alterou de forma radical a relação entre o produtor e o armazenador. No que tange ao AGF, a tendência é do governo comprar cada vez menos, pois parece claro que seu objetivo é manter no mínimo o estoque da Conab. 47 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 LINHAS DE FINANCIAMENTOS E CRÉDITOS Observação As Aquisições do Governo Federal (AGF) serão tratadas de forma mais detalhada a seguir. Saiba mais Os empréstimos EGF/COV estão regulamentados pela Resolução nº 3.208, de 24/6/2004: BACEN (BANCO CENTRAL DO BRASIL). Resolução nº 3.208, de 24 de junho de 2004. Dispõe sobre direcionamento dos recursos controlados do crédito rural, sobre prazos e vencimentos dos Empréstimos do Governo Federal (EGF) e sobre outras condições para o crédito rural. Brasília, 2004. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo. asp?arquivo=/Lists/Normativos/Attachments/46383/Res_3208_v1_O.pdf>. Acesso em: 27 out. 2015. 6.2 Novos mecanismos para escoamento da safra, com a limitação da atuação do governo nos tipos EGF/SOB 6.2.1 Prêmio de Escoamento do Produto (PEP) Neste caso, são realizados leilões dessa modalidade, quando o governo suporta a diferença entre o preço mínimo do produto e aquele que é subsidiado com base na emissão de bônus, leiloados no mercado. O preço desse bônus será menor conforme for maior a procura pelo respectivo produto. O objetivo desse leilão de prêmios [é] garantir o preço mínimo aos produtores de uma região e, ao mesmo tempo, evitar que o governo carregue em estoque o produto. Assim, o PEP permite uma economia para o governo, há vista, por exemplo, o estoque envolvido na securitização da dívida agrícola resultante de uma longa negociaçãoentre governo, produtores, bancos e lideranças rurais, que tornou possível a rolagem de R$ 7 bilhões em dívidas acumuladas até 1995 (FORTUNA, 2008, p. 245). 48 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 Unidade II 6.2.2 Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (Pepro) É concedido ao produtor rural ou à cooperativa da qual participa, desde que se disponham a vender o produto pelo valor correspondente à diferença entre o Valor de Referência definido pelo Governo Central e o do prêmio equalizador arrematado em leilão. Isso deve ser feito de acordo com a legislação do ICMS vigente em cada Estado da Federação. Desta forma, o objetivo do Pepro é o de garantir uma remuneração aos produtores em situação de baixa de preços do produto, no mercado. O leilão do prêmio será realizado quando o preço de mercado for inferior ao Valor de Referência. Há a necessidade de participação de corretor vinculado à Bolsa de Cereais, de Mercadorias e/ou de Futuros. O valor do prêmio pago corresponde ao apurado no fechamento do respectivo leilão. 6.2.3 Contrato de Opções de Venda Consiste em alternativa ao EGF/AGF, sendo o contrato registrado na Cetip. A Cetip é a integradora do mercado financeiro. É uma companhia de capital aberto que oferece serviços de registro, central depositária, negociação e liquidação de ativos e títulos. Por meio de soluções de tecnologia e infraestrutura, proporciona liquidez, segurança e transparência para as operações financeiras, contribuindo para o desenvolvimento sustentável do mercado e da sociedade brasileira. A empresa é, também, a maior depositária de títulos privados de renda fixa da América Latina e a maior câmara de ativos privados do País. Mais de 15 mil instituições participantes utilizam os serviços da Cetip. Entre elas, fundos de investimento; bancos comerciais, múltiplos e de investimento; corretoras e distribuidoras; financeiras, consórcios, empresas de leasing e crédito imobiliário; cooperativas de crédito e investidores estrangeiros; e empresas não financeiras, como fundações, concessionárias de veículos e seguradoras. Milhões de pessoas físicas são beneficiadas todos os dias por produtos e serviços prestados pela companhia, como processamento de TEDs e liquidação de DOCs, além de registro de CDBs e títulos de Renda Fixa, e serviço de entrega eletrônica das informações necessárias para o registro de contratos e anotações dos gravames pelos órgãos de trânsito (CETIP, 2012b). Esse contrato permite que o produtor, atuando como titular (ou seja, comprador) de uma opção de venda, adquira o direito de efetuar a venda para o governo em determinada data futura, por um preço previamente determinado, se não conseguir obter a mesma remuneração no mercado de seu produto. 49 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 LINHAS DE FINANCIAMENTOS E CRÉDITOS Com isso, o governo propicia garantia ao produtor ou à sua cooperativa sem a obrigatoriedade de compra da produção. Caberá à Conab o papel de vendedor da mencionada opção, podendo, se for o caso, promover leilões para a recompra do contrato. Verifica-se, aqui, nova providência para evitar a manutenção (e, consequentemente, os custos) de armazenagem da produção pelo governo. 6.2.4 Prêmio de Risco para Aquisição de Produto Agrícola (Prop) Neste caso, o prêmio, definido em leilão público, é de responsabilidade do setor consumidor que se dispõe a adquirir, no futuro, determinado produto diretamente de seus produtores ou cooperativas. Essa aquisição é feita pelo preço de exercício que tenha sido previamente estabelecido e nas unidades da Federação estabelecidas pelo governo. Essa alternativa é adotada quando o preço praticado no mercado é inferior ao mínimo. Neste caso, o Governo pretende sinalizar o preço futuro para o mercado, de forma a garantir renda ao produtor rural. Entre os objetivos dessa opção, podem ser indicados: • Aproximação entre consumidor e produtor rural. • Estímulo à produção de produtos agrícolas para o atendimento ao mercado interno consumidor e às exportações. • Neste tipo de leilão, vencem os que cotarem o menor valor. • O prêmio de risco será ajustado conforme as flutuações verificadas no mercado, tendo como teto o valor de fechamento do leilão. 6.2.5 Contrato de Opção de Venda Trata-se de um instrumento alternativo, no qual os adquirentes são representados por quaisquer agentes econômicos interessados em obter o produto ofertado, como criadores, agroindústrias, cooperativas agropecuárias, exportadores e comerciantes. Os produtos ofertados são os dos estoques adquiridos na esfera da Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) até a data do lançamento dos contratos, cujos valores devem ser mantidos até o vencimento das opções. O período de contratação e de vencimento das opções é estabelecido, para cada produto, de acordo com o calendário agrícola anual, que é definido em aviso específico de venda de contrato de opção de compra, divulgado pelo governo. Esse contrato de opção também pode ter sua titularidade transferida para terceiros. 50 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 Unidade II Saiba mais Veja a Resolução nº 3.214, de 30 de junho de 2014, que apresenta informações mais detalhadas a respeito do Contrato de Opção de Compra como instrumento de venda dos estoques públicos: BACEN (BANCO CENTRAL DO BRASIL). Resolução nº 3.214, de 30 junho de 2014. Dispõe sobre Contrato de Opção de Compra como instrumento de venda dos estoques públicos. . Brasília, 2014. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo. asp?arquivo=/Lists/Normativos/Attachments/46376/Res_3214_v1_O. pdf>. Acesso em: 6 nov. 2015. 6.3 Empréstimos do Governo Federal (EGF) Fortuna (2008, p. 249) indica: Trata-se de uma alternativa para o produtor rural que deseja garantir o preço mínimo de seu produto agrícola, desde que o produto esteja amparado pela PGPM. Os preços mínimos são fixados por decreto da Presidência da República e atuam como um seguro de preço, de forma a garantir ao produtor rural uma renda mínima para a sua produção. Podem participar do EGF, até o limite da sua produção: • Produtores rurais: pessoa física ou jurídica. • Cooperativas ou associações formais de produtores. Os produtos devem estar livres e desembaraçados de quaisquer ônus e depositados em armazém credenciado, acondicionados em embalagens aprovadas pela Conab. Observação Essa alternativa vem sendo desestimulada, dado o interesse do governo em reduzir os custos de armazenagem dos estoques públicos, incentivando o uso de Pepro, PEP etc., indicados anteriormente. 51 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 LINHAS DE FINANCIAMENTOS E CRÉDITOS Como lembra Fortuna (2008, p. 249): Quando subsidia preços em vez de adquirir produtos, a armazenagem [...] fica a cargo das empresas ou de produtores. Além desses mecanismos [do tipo EGF], o governo passa [cada vez mais] a interferir menos no mercado e o ajuste de preços passa a ser feito pelo mercado. 6.4 Linha Especial de Comercialização (LEC) Essa alternativa de financiamento foi criada em 2003 com o objetivo de estimular a produção de milho e sorgo na chamada 2ª safra. Complementa o EGF e visa ao aumento da liquidez na comercialização, dado que: • Oferece maior flexibilidade operacional. • Permite o financiamento a preços com valor superior ao mínimo de garantia. • Não contém a exigência de incorporação do penhor dos produtos estocados. A utilização da LECé determinada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e pelo Ministério da Fazenda, levando em conta a situação específica do mercado de cada produto e da economia em geral. Saiba mais Essa linha de crédito é regulamentada no Manual de Crédito Rural, na seção “Financiamento para proteção de preços em operações no mercado futuro e de opções”: BACEN (BANCO CENTRAL DO BRASIL). Finalidades especiais. In: ___. Manual de crédito rural. Brasília, 2015. Disponível em: <http://www3.bcb. gov.br/mcr/Manual/MCR.pdf>. Acesso em: 28 set. 2015. 52 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 Unidade II 7 OUTRAS LINHAS DE CRÉDITO: BNDES, BANCOS PÚBLICOS E INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS DO SETOR PRIVADO 7.1 Considerações iniciais Segundo Savoia (2009, p. 42): O crédito rural é um dos tradicionais mecanismos de apoio à agropecuária. Porém, grande parte do capital de giro necessário ao custeio da produção vegetal e animal ainda é oriunda de recursos próprios dos produtores e dos demais agentes do agronegócio (empresas de insumos, trading e indústrias de processamento e outros mecanismos de mercado, como as Cédulas de Produto Rural (CPR)). Tabela 8 – Alternativas globais de financiamento da produção Fontes de financiamento da produção (% em relação ao total) Mercado 30 Crédito rural 30 Recursos próprios 30 Adaptada de: Savoia (2009). O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) disponibiliza estatísticas e dados globais sobre os financiamentos rurais, totalizados por: • Agricultura empresarial. • Agricultura familiar (Pronaf). • Agricultura total. Esses dados são compilados, revelando, para vários anos/períodos, dados relacionados com os aspectos apontados no quadro a seguir. Quadro 1 – Financiamento rural: fontes de recursos ou programas Fontes de recursos ou programas 1. Custeio e Comercialização 1.1 Juros controlados 1.1.1 Rec. Obrigatório MCR 6-2 (5,5% a.a.) 1.1.2 Poupança Rural MCR 6-4 (5,5% a.a.) 1.1.3 Recursos Próprios (5,5% a.a.) 1.1.4 Funcafe (5,5% a.a.) 53 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 LINHAS DE FINANCIAMENTOS E CRÉDITOS 1.1.5 Pronamp Rural (4,5% a.a.) - Banco do Brasil - Bancos Cooperativos e Basa - Sistema BNDES - Rec. Obrigatório MCR 6-2 - Outros Bancos 1.1.6 Fundos Constitucionais (3,5% a.a) 1.1.7 Estocagem de Álcool (7,7% a.a.) 1.2 Juros livres 1.2.1 Poupança Rural (MCR 6-4) 1.2.2 Recursos Livres 1.2.3 CPR Aval/Compra 1.2.4 BB-Agroindustrial (MCR 6-4 e LCA) 1.2.5 Recursos Externos - 63 Rural 2. Investimento 2.1 Programas do BNDES 2.1.1 Moderfrota (5,5% a.a.) 2.1.2 Moderagro (5,5% a.a.) 2.1.3 Moderinfra (3,5% e 5,5% a.a.) 2.1.4 Pograma ABC - (5,0% a.a.) - BNDES - Banco do Brasil 2.1.5 Prodecoop (5,5% a.a.) 2.1.6 Moderfrota Pronamp (5,0% a.a.) 2.1.7 Procap - Agro (5,5% a.a e 6,5% a.a.) 2.1.8 PSI-BK (4,5% e 6,0% a.a.) - Rural - Cerealistas 2.1.9 PCA (Construção e Ampliação de Armazens) (3,5% a.a.) - BNDES - Banco do Brasil 2.1.10 Inovagro (3,5% a.a.) 2.1.11 Prorenova/Setor Sucro-alcoleiro (5,5% a.a) 2.2 Demais fontes/programas 2.2.1 Fundos Constitucionais (3,5% a.a.) 2.2.2 Pronamp (4,5% a.a.) - Banco do Brasil - Bancos Cooperativos e Basa - Rec. Obrigatório MCR 6-2 - Outros Bancos - BNDES 54 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 Unidade II 2.2.3 Recursos Externos - 63 Rural 2.2.4 Rec. Obrigatório MCR 6-2 (5,5% a.a.) 2.2.5 Poupança Rural (MCR 6-4) Livre 2.2.6 Recursos Livres 2.2.7 Recursos Próprios - Bancoob (5,5% a.a.) 3. Agricultura Empresarial (1+2+3) 4. Agricultura Familiar (Pronaf) 5. Agricultura Total (3+4) Adaptado de: Brasil (2014). Saiba mais Você pode encontrar as estatísticas e dados do Mapa, divididos por segmento, no site: <http://www.agricultura.gov.br/vegetal/estatisticas>. 7.2 Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) Visa permitir o acesso dos pequenos produtores aos financiamentos rurais. Um de seus objetivos principais é a geração de emprego e de renda, notadamente nos pequenos municípios. O Pronaf é visto, também, como um forte gerador de estímulos para o desenvolvimento de políticas públicas para o meio rural relacionadas com: • Assistência técnica. • Pesquisa, educação e formação profissional. • Infraestrutura (estradas, comunicação e armazenamento). • Acesso à terra aos agricultores que não a possuem. Espera-se, também, que o Pronaf possa financiar atividades que sejam economicamente viáveis e ecologicamente sustentáveis. São incluídos entre os beneficiários do Pronaf os produtores rurais (inclusive aqueles que sejam remanescentes de quilombos) e os indígenas, que cumpram os seguintes requisitos: • Sejam proprietários, posseiros, arrendatários, parceiros ou concessionários de reforma agrária. • Residam na propriedade ou em local próximo. 55 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 LINHAS DE FINANCIAMENTOS E CRÉDITOS • Detenham, sob qualquer forma, no máximo quatro módulos fiscais de terra, quantificados conforme a legislação em vigor, ou no máximo seis módulos fiscais, quando se tratar de pecuarista familiar. • O trabalho familiar seja a base da exploração do estabelecimento. Saiba mais Obtenha mais informações sobre os conceitos relacionados com módulos fiscais, que constituem uma unidade de medida rural, consultando o artigo a seguir: O QUE são módulos fiscais. ((o))eco, Rio de Janeiro, 29 jul. 2013. Disponível em: <http://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/27421-o- que-sao-modulos-fiscais/>. Acesso em: 12 nov. 2015. As autoridades governamentais e as associações de classe têm procurado incentivar a opção pelo Pronaf, dada a importância estratégica representada pela agricultura familiar no desenvolvimento sustentável do País. “O Pronaf é, essencialmente, um programa de apoio ao desenvolvimento rural, com base em uma rede de agências bancárias que reúne o BB, BNB, BASA, Bancos Estaduais e Bancos Cooperativos” (FORTUNA, 2008, p. 259). Figura 9 – Capa da Cartilha de Acesso ao Pronaf 56 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 Unidade II O Pronaf ainda apresenta outro objetivo: a inclusão de mais produtores rurais na relação dos que são beneficiados pelo crédito agropecuário. Afinal, sempre foi mais difícil a obtenção de crédito pelos pequenos produtores comparativamente aos empreendimentos patronais e agroindústrias. Como derivados do Pronaf, podem ser mencionados os programas: Pronaf Agroindústria Atendimento à agroindústria de cunho familiar. Agregar (projeto de agregação de renda da agricultura familiar) Entre os benefícios trazidos pela agricultura familiar, podemos mencionar, substancialmente, a definição de uma política de crédito específica, com medidas que, além da disponibilização de recursos, simplificaram e agilizaram todo o processo de concessão dos empréstimos. Entre os beneficiários do Pronaf, podem ser identificados quatro grupos (A, B, C e D) de agricultoresfamiliares, familiares e trabalhadores rurais que explorem parcelas de terra como proprietários, arrendatários, parceiros, posseiros ou beneficiários da reforma agrária. Lembrete Esses beneficiários devem residir na propriedade ou em povoado urbano ou rural próximo e não podem possuir área superior a quatro módulos fiscais. O adequado enquadramento em determinado grupo está relacionado à faixa de renda familiar anual, originária ou não da exploração agropecuária. Observação Devem ser consultados os agentes financeiros nas ocasiões de solicitação de créditos para a constatação do grupo em que se enquadra o beneficiário e, consequentemente, a propósito das taxas e condições específicas para o financiamento. São também beneficiários do Pronaf e se enquadram nos Grupos B, C ou D de acordo com a renda e a caracterização da mão de obra utilizada: • Pescadores artesanais: “dedicam-se à pesca artesanal, com fins comerciais, explorando a atividade como autônomos, com meios de produção próprios ou em regime de parceria com outros pescadores igualmente artesanais” (BACEN, 2015, p. 111). Formalizam contrato de garantia de compra do pescado com cooperativas, colônias de pescadores ou empresas que beneficiam o produto. 57 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 LINHAS DE FINANCIAMENTOS E CRÉDITOS • Extrativistas: dedicam-se à exploração extrativista vegetal ecologicamente sustentável. • Aquicultores: os que se dedicam ao cultivo de “organismos que tenham na água seu normal ou mais frequente meio de vida e que explorem área não superior a dois hectares de lâmina d’água ou ocupem até 500 m3 de água, quando a exploração se efetivar em tanque-rede” (BACEN, 2015, p. 111). A linha de crédito aberta pelo Pronaf aos estabelecimentos familiares tem a finalidade de suprir as necessidades de: • Capital requerido durante o ciclo produtivo, chamado de custeio da produção. • Capital para o investimento necessário na terra, que tenha como função viabilizar a manutenção, a expansão e a competitividade dos produtos objetos da exploração agropecuária pela unidade familiar. A assistência técnica é facultativa no crédito Pronaf, raramente exigida nas operações de custeio, mas frequente em operações de investimento. Os agentes financeiros, bancos e cooperativas, poderão, sempre que julgarem necessário, requerer a prestação de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) como condição para o financiamento do projeto. Os serviços de Ater no crédito via Pronaf devem compreender “o estudo técnico, representado pelo plano simples, projeto ou projeto integrado e a orientação técnica em nível de imóvel ou agroindústria” (BACEN, 2015, p. 103). Devem ainda contemplar, no mínimo, o tempo necessário à fase de implantação do projeto, limitado ao máximo de 4 (quatro) anos e, no caso das agroindústrias, os aspectos gerenciais, tecnológicos, contábeis e de planejamento. 7.3 Pronaf Infraestrutura Municipal (Pronaf-M) Trata-se de uma linha de apoio financeiro do Governo Federal com recursos não reembolsáveis. Conduzida em parceria com os governos municipais responsáveis pela implementação das prioridades do Plano Municipal de Desenvolvimento Rural, aprovadas pelo Conselho Municipal, nas áreas de: • Infraestrutura coletiva e/ou pública • Serviços de apoio ao desenvolvimento da agricultura familiar. O objetivo do Pronaf-M é financiar a implantação, ampliação, modernização e realocação de infraestrutura necessária ao fortalecimento da agricultura familiar, de forma a dinamizar o setor produtivo e assegurar sustentação ao desenvolvimento rural, como: • Recuperação de solos. • Manutenção de estradas vicinais e caminhos de acessos. 58 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 Unidade II • Armazenamento de produtos agropecuários. • Disponibilização de energia. • Dispêndios e investimento em comunicação e transporte. • Manutenção de obras hidro-hidráulicas. • Atendimentos a pequenas e médias agroindústrias em atividades não agrícolas. • Ampliação e cobertura de serviços de apoio, como pesquisa agropecuária e assistência técnica. • Instalação de postos telefônicos comunitários ou serviços de telefonia rural. • Construção, ampliação ou reaparelhamento de armazéns e silos. • Promoção de obras relacionadas com saneamento rural. • Execução de práticas conservacionistas. • Construção e manutenção de mercados do produtor. • Construção, ampliação ou recuperação de poços e açudes de uso comunitário. • Construção ou recuperação de escolas rurais. • Construção ou recuperação de postos de saúde na área rural. A aplicação dos recursos no Pronaf-M será pela via indireta, com os recursos repassados às Prefeituras Municipais ou às organizações de agricultores familiares para que procedam a suas aplicações. Os repassadores são os órgãos governamentais ou agentes financeiros, desde que se trate, nessa ordem, de recursos aplicados a fundo perdido ou que exijam reembolso. Ainda coberta pelo Pronaf-M, há a destinação de recursos visando à capacitação e profissionalização de Agricultores Familiares e Técnicos. Por meio dessa linha de ação, o programa se propõe a: • Proporcionar aos agricultores familiares e suas organizações conhecimentos necessários à elaboração de Planos Municipais de Desenvolvimento Rural. • Proporcionar aos agricultores familiares os conhecimentos, habilidades e tecnologia indispensáveis aos processos de produção, beneficiamento, agroindustrialização e comercialização. • Ampliar as atividades de informação, disseminação e transferência de novas tecnologias. • Promover intercâmbio e difusão de experiências inovadoras em educação, profissionalização e de tecnologias coerentes com as atividades do homem do campo. 59 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 LINHAS DE FINANCIAMENTOS E CRÉDITOS Saiba mais Obtenha mais informações em seu município acerca da estruturação do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural. Ele é responsável pela gestão social do Programa e pela concreta atuação dos principais beneficiários. Além disso, é importante conhecer o Plano Municipal de Desenvolvimento Rural. De forma mais geral, você pode consultar a legislação que dispõe sobre o Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CNDRS): BRASIL. Decreto n° 3.508, de 14 de junho de 2000. Dispõe sobre o Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável – CNDRS, e dá outras providências. Brasília, 2000. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/decreto/D3508.htm>. Acesso em: 13 nov. 2015. 7.4 Programa Nacional de Crédito Fundiário Trata-se de um importante instrumento de acesso à terra e uma das ações complementares do Plano Nacional de Reforma Agrária, contribuindo para a ampliação e a consolidação da agricultura familiar. O programa tem como objetivos a criação de ocupações produtivas permanentes para as famílias beneficiadas, bem como o aumento da renda e a melhoria das condições de vida da população rural. O programa funciona com três diferentes linhas de financiamento, que vão beneficiar: • Trabalhadores rurais mais pobres. • Trabalhadores jovens, entre 18 e 24 anos de idade. • Familiares sem-terra ou com pouca terra. • Públicos prioritários das políticas de combate à fome e de inclusão social do Governo Federal. Todos os investimentos são gerenciados pelas próprias comunidades e podem servir tanto para a compra de terras como para o aumento da produção ou, ainda, para realização de projetos que visem à melhoria da qualidade de vida da população e ao desenvolvimento local sustentável. A estimativaé criar, para cada família, mais de três ocupações produtivas permanentes, estimulando indiretamente outros setores da economia. Com esse programa, há a descentralização das ações para os Estados e o incentivo e o fortalecimento da participação das comunidades, que detêm o maior poder de decisão. 60 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 Unidade II A implantação do programa visa assegurar a participação efetiva e o controle social, com grande poder de decisão dos Conselhos de Desenvolvimento Rural. As associações terão ampla autonomia, desde a seleção dos participantes até a escolha e negociação de terras. Aos governos estaduais caberá prover todo o apoio técnico. A descentralização na execução do programa se dará por meio de assinaturas de parcerias entre Estados e associações dos municípios participantes. Caberá ao Estado a elaboração e a aprovação do Plano Estadual de Implementação do Programa, em que serão definidos os objetivos, as diretrizes, as metas, as regiões prioritárias, o público e a estratégia de ação. Esse plano e a estratégia de ordenamento territorial implementada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) nos Estados deverão estar articulados. É também na esfera estadual que serão avaliadas e aprovadas as propostas de financiamento dos beneficiários potenciais. A descentralização e a participação efetiva da sociedade civil devem contribuir decisivamente para uma maior sinergia com as ações de programas locais de desenvolvimento, como os de: infraestrutura; educação; saúde; saneamento; combate à pobreza; e ação social. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (Condraf) estabelece, no âmbito nacional, as diretrizes globais e as metas do programa, além de aprovar seu Regulamento Operativo e os Manuais de Operações, assegurando a harmonia entre estes e os demais programas de reforma agrária e de desenvolvimento rural, enquanto avalia sua execução de modo geral. Os investimentos com recursos do programa poderão ser realizados pelos próprios beneficiários. Assim, os recursos para mão de obra dos projetos servirão ao sustento das famílias durante a implantação dos projetos. A verificação da elegibilidade dos imóveis selecionados para aquisição pelos beneficiários e dos preços acordados entre as partes envolvidas no negócio cabe aos Estados. Saiba mais Obtenha mais informações em seu município acerca das parcerias entre as entidades governamentais relacionadas com esse programa de crédito. Acesse a legislação nacional sobre o assunto: BRASIL. Norma de Execução – NE/PNCF nº 01/2004. Dispõe sobre as Diretrizes e Normas para a Prestação de Serviços de Capacitação e Assistência Técnica aos Beneficiários do Programa. Brasília, 2004b. Disponível em: 61 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 LINHAS DE FINANCIAMENTOS E CRÉDITOS <http://www.agricultura.pr.gov.br/arquivos/File/deagro/ne_01_2004. pdf>. Acesso em: 13 nov. 2015. BRASIL. Portaria nº 10, de 17 de dezembro de 2004. Brasília, 2004c. Disponível em: <http://www.agricultura.pr.gov.br/arquivos/File/deagro/ ne_03_2004.pdf>. Acesso em: 13 nov. 2015. Sintetizando, entre os tipos de financiamento relacionados com o Programa Nacional de Crédito Fundiário, podem ser mencionados: • Financiamento para a aquisição de terras. • Combate à pobreza rural. • Nossa Primeira Terra. • Consolidação da Agricultura Familiar. 7.5 Linhas de Financiamento apoiadas pelo BNDES O Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) oferece mecanismos de apoio à agricultura e à pecuária. Alguns projetos financiáveis dentro do agronegócio são bovinocultura de corte, formação ou reforma de pastos, gastos e tratos culturais até a primeira colheita/safra, entre outros. A concessão do apoio financeiro é condicionada à avaliação dos impactos ambientais, segundo as diretrizes da Política Socioambiental do BNDES. Em articulação com outros órgãos governamentais, o BNDES também desenvolve instrumentos de apoio específico à agropecuária. Estes programas apresentam condições especiais para investimentos, como, por exemplo, aquisição de tratores agrícolas e incentivos à irrigação (BNDES, [s.d.]). O BNDES é a principal instituição voltada aos financiamentos de longo prazo aos agentes econômicos, incluindo, naturalmente, os componentes do setor agropecuário. Ele pode, também, subscrever títulos e valores mobiliários e prestar garantias com base nos seus diferentes fundos. Entre os programas do BNDES voltados ao atendimento à agropecuária, podem ser citados: • BNDES Finem: permite a obtenção de financiamentos de valores superiores a R$ 20 milhões voltados a: 62 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 Unidade II — implantação, modernização e expansão de empresas do setor agropecuário; — desenvolvimento de projetos de eficiência energética que contribuam para o aumento da eficiência global do sistema energético ou que promovam a substituição de combustíveis de origem fóssil pelos produzidos com base em fontes renováveis; — aquisição de bens de capital associada a planos de investimentos apresentados ao BNDES; — importação de máquinas e equipamentos sem similar nacional, associada a planos de investimentos apresentados ao BNDES. • BNDES Automático: propicia que se tomem financiamentos de até R$ 20 milhões direcionados ao desenvolvimento de projetos de implantação, expansão e modernização de empreendimento. • BNDES Finame Agrícola: sem limite de valor, a modalidade admite financiamentos para a compra isolada de máquinas e equipamentos agrícolas novos, de fabricação nacional, credenciados no BNDES. • BNDES Finame Leasing: opera com financiamentos à aquisição isolada de máquinas e equipamentos novos em operações de arrendamento mercantil (leasing). • BNDES Limite de Crédito: oferece crédito rotativo para o apoio a empresas ou grupos econômicos já clientes do BNDES e com baixo risco de crédito. • BNDES Empréstimo-Ponte: para a obtenção de financiamentos para projetos, concedidos em casos específicos, para agilizar a realização de investimentos por meio da concessão de recursos no período de estruturação da operação de longo prazo. • BNDES Project Finance: oferece engenharia financeira com suporte contratual do fluxo de caixa de um projeto, tendo como garantia os ativos e recebíveis desse mesmo empreendimento. • BNDES Fianças e Avais: possibilita a prestação de fiança e avais pelo BNDES com o objetivo de diminuir o nível de participação nos projetos financiados. • BNDES Proaquicultura: fornece apoio aos investimentos para a construção, com finalidade de: — expansão e modernização de capacidade produtiva dos produtores de pescados e da indústria processadora de pescados; — obtenção do capital de giro; — adoção de iniciativas direcionadas para modernização ou implementação de melhorias na estrutura organizacional, administrativa, de gestão, comercialização, distribuição e de logística das sociedades atuantes no setor aquícola. 63 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 LINHAS DE FINANCIAMENTOS E CRÉDITOS • BNDES Cerealistas: concede apoio ao desenvolvimento e à modernização do setor de armazenagem nacional efetuados por empresas comerciais cerealistas nacionais. • BNDES Prorenova: apoia o aumento da produção de cana-de-açúcar no País, por meio do financiamento à renovação e implantação de novos canaviais. • BNDES PASS: destinado a financiamento da estocagem de álcool etílico combustível pelas empresas do setor sucroalcooleiro.Saiba mais Para a atualização dos programas, criados periodicamente, com o fito de incentivar o desenvolvimento agropecuário de regiões do País, consulte o site do BNDES: <http://www.bndes.gov.br/>. 7.6 Linhas de financiamento apoiadas pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal Essas duas instituições financeiras públicas atuam de forma importante nas concessões de financiamentos para os diferentes setores do agronegócio, em consonância com as políticas e orientações governamentais. Tradicionalmente, o Banco do Brasil (BB) sempre foi conhecido como o Banco da Agricultura, por ter sido a primeira instituição fortemente envolvida com os negócios da área. Atualmente, a Caixa Econômica Federal (CEF) também vem divulgando programas especiais voltados ao crédito para os agentes do agronegócio. Com o intuito de exemplificar as variadas alternativas de créditos e de linhas de financiamentos disponibilizados pelas instituições públicas, o quadro a seguir apresenta alternativas de linhas de financiamento do Banco do Brasil voltadas ao agronegócio, empresarial e familiar: Quadro 2 – Linhas de crédito Financiamento Características Pronaf O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), criado em 1995 pelo Governo Federal, destina-se ao apoio financeiro das atividades agropecuárias e não agropecuárias exploradas mediante emprego direto da força de trabalho da família produtora rural. Por meio desta, visa à profissionalização dos produtores e familiares e à modernização do sistema produtivo e valorização do produtor rural familiar. 64 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 Unidade II BB – Agronegócio Investimento MCR 6-4 – Controlado e BNDES - Moderagro O produto é uma linha de crédito fixo, destinada a investimentos agropecuários com recursos do BNDES. Entre os objetivos, estão: apoiar e fomentar os setores de produção, beneficiamento, industrialização e armazenamento de produtos da apicultura, aquicultura, avicultura, chinchilicultura, cunicultura, floricultura, fruticultura, horticultura, ovinocaprinocultura, pecuária leiteira, pesca, ranicultura, sericultura e suinocultura; fomentar ações relacionadas à defesa animal e à implementação de sistemas de rastreabilidade animal para alimentação humana; apoiar a recuperação dos solos. Investimento agropecuário BB – Investimento agropecuário tradicional MCR 6-4 – Poupança Ouro Não Equalizável • Apoiar a recuperação dos solos por meio do financiamento para aquisição, transporte, aplicação e incorporação de corretivos (calcário, gesso agrícola e adubos para correção). • Apoiar a recuperação de pastagem por intermédio do financiamento para aquisição de insumos, serviços e benfeitorias necessárias. • Florestamento e reflorestamento. • Formação de lavouras permanentes. BB Florestal – BB FCO Rural – Pronatureza - ABC FCO Rural – Linha de Financiamento para Redução da Emissão de Gases de Efeito Estufa na Agropecuária (Programa ABC) que, entre outros, objetiva: incentivar projetos que visem à conservação e à proteção do meio ambiente, à recuperação de áreas degradadas ou alteradas e ao desenvolvimento de atividades sustentáveis; propiciar condições para expansão de atividade orgânica; disponibilizar recursos para investimentos necessários à implantação de sistemas de integração de lavoura-pecuária, lavou-floresta, pecuária-floresta ou lavoura-pecuária-floresta. BB Florestal – Pronaf Florestal Investimentos em projetos que preencham os requisitos definidos pela Secretaria da agricultura Familiar/MDA, para: sistemas agroflorestais; exploração extrativista ecologicamente sustentável; plano de manejo e manejo florestal, incluindo-se os custos relativos a implantação e manutenção do empreendimento; e enriquecimento de áreas que já apresentam cobertura florestal diversificada, com o plantio de uma ou mais espécies florestais, nativas do bioma. BNDES – ABC e BB – Agronegócios Investimento MCR 6-4 - Controlado - ABC BNDES – ABC – Programa de Redução da Emissão de Gases de Efeito Estufa na Agropecuária. Este produto tem como principais objetivos: reduzir as emissões de Gases de Efeito Estufa oriundas das atividades agropecuárias; reduzir o desmatamento; e estimular a recuperação de áreas degradadas. Investimento agropecuário BB – Investimento agropecuário tradicional – MCR 6-2 Linha de crédito destinada ao financiamento de máquinas, equipamentos, implementos, caminhões, carrocerias, lavouras de cana-de-açúcar, animais, obras de irrigação, açudagem, recuperação do solo, formação de pastagens, construção, reformas ou ampliação de armazéns, silos, galpões, entre outros itens. Ourocard Agronegócio Permite aos seus portadores que acessem suas linhas de crédito rural (custeio e investimento) previamente contratadas. O pagamento é feito diretamente ao fornecedor conveniado, de forma que garanta a correta aplicação do recurso. Adaptado de: Banco do Brasil ([s.d.]). 7.7 Financiamentos obtidos junto a terceiros e por meio das instituições do Sistema Financeiro Nacional Além dos programas e recursos possíveis de serem obtidos com o governo ou seus bancos oficiais, o produtor e as cooperativas podem recorrer às instituições financeiras operativas do Sistema Financeiro Nacional (SFN). As instituições podem concretizar as operações com base em seus recursos livres (RL) ou obrigatórios (RO). Os recursos obrigatórios são calculados com base em percentual sobre o total de depósitos à vista confiados pelos clientes às respectivas instituições financeiras, com custos e juros determinados pelo Bacen. Os recursos livres são os decorrentes das próprias captações dos bancos, e os juros e custos são determinados pelo banco. 65 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 LINHAS DE FINANCIAMENTOS E CRÉDITOS Os agentes do setor agropecuário vêm, gradativamente, aumentando a sua busca por operações transacionadas na BM&F. Essas operações objetivam a constituição de hedge (proteção) contra variações bruscas de preços dos produtos agrícolas, verificados entre os períodos de plantio e de colheita/comercialização. A respeito de hedge, Sandroni (1999, p. 279) esclarece: É um mecanismo utilizado por operadores do mercado financeiro e de commodities para se resguardarem de uma flutuação de preços. É comum, por exemplo, que operadores do mercado de commodities atuem também no mercado a termo, de tal forma que a baixa de preços num destes mercados atue no sentido negativo numa das operações, mas positivo em outra. 7.8 Captação de recursos do exterior Essa modalidade de obtenção de recursos é regulamentada, atualmente, pela Resolução nº 3.844, de 23 de março de 2010, do Banco Central do Brasil (BACEN, 2010). Essa captação pode ser feita pelas instituições financeiras integrantes do Sistema Nacional de Crédito Rural (SCR) e os recursos são repassados do País para o financiamento de produtores rurais e suas cooperativas, para custeio, investimento ou comercialização agropecuária. Esses recursos podem, também, ser repassados às empresas, agroindústrias e exportadores para que adquiram produtos agropecuários diretamente de produtores rurais. Conforme indica Fortuna (2008, p. 287): Os recursos captados no exterior, enquanto não aplicados nas finalidades previstas, podem ser utilizados na constituição de depósito em moeda nacional ou estrangeira ao BC [Bacen], bem como ser objeto de repasse interbancário e aplicação em NTN-D ou NBC-E, ambos os títulos vinculados ao dólar [norte-americano]. 7.9 Seguro Rural O Seguro Rural cobre não só atividades agrícolas, mas também as relacionadas com a pecuária,o patrimônio do produtor rural, seus produtos, o crédito para comercialização desses produtos, além do seguro temporário de vida dos produtores. Protege, também, o investimento realizado no plantio e na manutenção da lavoura. Cobre danos causados por eventos climáticos, como granizo, geada, chuva excessiva, ventos fortes e seca. A cobertura também se estende à lavoura, contra incêndio, inundação e não germinação/não emergência. 66 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 Unidade II Vale ressaltar, no entanto, que ainda são muito pequenos os percentuais de empreendimentos brasileiros atendidos pelo Seguro Rural. Entre as modalidades cobertas pelo Seguro Rural, podemos considerar: • Seguro agrícola: faz a cobertura contra perdas decorrentes de fenômenos meteorológicos, doenças e pragas. • Seguro pecuário: garante indenização por morte de animais por acidentes e doenças. • Seguro de benfeitorias e produtos agropecuários: garante construções, instalações ou equipamentos fixos, safras removidas do campo de colheita, produtos pecuários, veículos rurais mistos ou de carga, máquinas agrícolas e seus implementos. • Seguro de crédito para comercialização de produtos agropecuários: prevê coberturas das perdas líquidas do segurado. • Seguro temporário de vida: garante liquidação do saldo devedor financiado em decorrência de operações de crédito rural ou de compra de terras para colonização própria no caso de morte do produtor rural. Ainda com relação a esse tema, é importante considerar o Seguro da Agricultura Familiar, exclusivo para os agricultores familiares que realizam financiamentos de custeio agrícola no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). 8 TÍTULOS UTILIZADOS NO FINANCIAMENTO DO AGRONEGÓCIO Nota Promissória Rural Este título de crédito é utilizado em: • Vendas a prazo de bens de natureza agrícola. • Atividades extrativas ou pastoris, quando efetuadas diretamente por produtores rurais ou por suas cooperativas. • Recebimentos, pelas cooperativas, de produtos da mesma natureza, entregues pelos seus cooperados. • Entregas de bens de produção ou de consumo feitas pelas cooperativas aos seus associados. O devedor que utiliza esse tipo de título é, geralmente, pessoa física. A Nota Promissória Rural deve prever os seguintes itens: 67 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 LINHAS DE FINANCIAMENTOS E CRÉDITOS Quadro 3 – Modelo de Nota Promissória Rural Vencimento: Valor (R$): Relação de itens ou mercadorias, que são objeto da comercialização: Dados da nota fiscal de entrada – número e local de emissão: _________________________ Assinatura do emitente da nota Duplicata Rural Semelhante à Nota Promissória Rural, esse título é emitido pelo vendedor. O vendedor entregará o título ao comprador, que o devolverá, após assiná-lo (aceitá-lo). Neste caso, o devedor é, geralmente, pessoa jurídica. A Duplicata Rural deve prever os seguintes itens: Quadro 4 – Duplicata Rural Vencimento: Valor (R$): Relação de itens ou mercadorias, que são objeto da comercialização: Dados da nota fiscal de entrada – número e local de emissão: ____________________ Assinatura do comprador Cédula Rural Pignoratícia (CRP) Segundo a Cetip (2012a), a CRP possui larga utilização na concessão de crédito rural, principalmente pelas instituições financeiras oficiais. A CRP é uma modalidade de cédula de crédito rural com promessa de pagamento em dinheiro. É emitida por pessoa física ou jurídica tomadora do financiamento rural. É extraída com base no penhor rural e passa a valer como título de crédito autônomo e negociável (CETIP, 2012a). 68 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 Unidade II A CRP deve prever os seguintes itens: Quadro 5 – Cédula Rural Pignoratícia Vencimento: Valor (R$): Juros devidos pela operação: Dados da nota fiscal de entrada – número e local de emissão: ____________________ Assinatura do comprador Cédula Rural Hipotecária (CRH) Esse título, como os indicados anteriormente, é regulamentado pelo Decreto-Lei nº 167: “Art. 21. São abrangidos pela hipoteca constituída as construções, respectivos terrenos, maquinismos, instalações e benfeitorias”. (BRASIL, 1967) O modelo da Cédula Rural Hipotecária deve prever: Quadro 6 – Cédula Rural Hipotecária Vencimento: Valor (R$): Juros devidos pela operação: Dados da nota fiscal de entrada – número e local de emissão: ____________________ Assinatura do comprador Cédula de Produto Rural (CPR) Segundo Savoia (2009, p. 80): O crédito tornou-se escasso [pela menor intervenção direta do governo, devido à abertura da economia e às dificuldades de cunho fiscal] e com taxas positivas de juros, forçando os agentes do agribusiness a buscar alternativas que propiciassem o financiamento privado das safras. 69 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 LINHAS DE FINANCIAMENTOS E CRÉDITOS Foi nesse contexto que, por meio da Lei nº 8.929, publicada em 22 de agosto de 1994, criou-se a Cédula de produto Rural, comumente conhecida por CPR. A CPR é um ativo financeiro e foi definida pelo Banco do Brasil e pelo Mapa, visando: • Comercialização antecipada da safra. • Troca de insumos por produtos, que era uma prática de mercado na ocasião de criação do título. • Incorporação do Certificado de Mercadoria com Emissão Garantida (CMG), negociado entre 1993 e 1995 na Bolsa de Cereais de São Paulo. Entre os objetivos de criação do título, podem ser indicados: • Aumentar os recursos para o financiamento agropecuário. • Tornar mais simples os procedimentos das operações de financiamento. • Reduzir os custos operacionais das operações de financiamento. • Arregimentar recursos de outros setores econômicos para o agropecuário. Fundamentalmente, a CPR, de emissão exclusiva do produtor rural, é uma promessa de entrega do produto, observadas as suas condições de qualidade e quantidade. Outra importante característica é tratar-se de um título que pode ser negociado tanto em bolsa quanto em balcão. Podem ser caracterizadas as modalidades: • CPR Física. • CPR Financeira. • CPR Exportação. 70 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 Unidade II Quadro 7 – Exemplo de Cédula de Produto Rural com liquidação física N. ......................................... Vencimento: ..../..../..... Aos..........dias do mês de ...................., entregarei(emos) ao .......................................... CNPJ/ CPF n. ............................, ou à sua ordem, nos termos da Lei n. 8929, de 22.08.1994 e do regulamento da Cédula de Produto Rural avalizada pelo Banco ......................, registrado no Cartório de Registro de Títulos e Documentos, em (local) ..........................., sob o n. ..............., que fica fazendo parte integrante deste título, para fins e efeitos do art. 3º, parágrafo 1º da lei n. 8929, o seguinte: Produto: ........................................................... Safra: .................................................................... Padrão: ........................................................................................................................................... Quantidade: ..................................................... UF da produção: .................................................. Especificação e condições de entrega: ...........................................................................................Local de entrega: ............................................................................................................................ Imóvel: ............................................................. Município: ........................................... UF: .......... Garantias: (descrever) .................................................................................................................... Inadimplência: (cláusula) ................................................................................................................ Foro: é da praça de emissão deste título. Local da emissão: .............................................Data da emissão: .................................................. Nome do emitente/coobrigado: ..................................................................................................... Qualificação: ................................................................................................................................... Assinatura: ...................................................................................................................................... Fonte: Savoia (2009, p. 117). 71 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 LINHAS DE FINANCIAMENTOS E CRÉDITOS Quadro 8 – Exemplo de Cédula de Produto Rural com liquidação física N. ......................................... Vencimento: ....../....../...... Valor de resgate R$: ........................ Aos..........dias do mês de .............., entregarei(emos) ao ........................................ CNPJ/CPF n. ....................., ou à sua ordem, nos termos da Lei n. 8929, de 22.08.1994 e do regulamento da Cédula de Produto Rural avalizada pelo Banco ......................, registrado no Cartório de Registro de Títulos e Documentos, em (local) ....................., sob o n ..............., que fica fazendo parte integrante deste título, para fins e efeitos do art. 3º, parágrafo 1º da lei n. 8929, em moeda corrente, o valor de resgate acima especificado, corresponde à multiplicação do preço unitário pela quantidade do produto abaixo descrito: Produto: ........................................................... Safra: .................................................................... Padrão: ........................................................................................................................................... Quantidade: ...................................................... UF da produção: ................................................. Preço unitário: ................................................................................................................................ Especificação e condições de entrega: .......................................................................................... Local de entrega: ............................................................................................................................ Imóvel: ............................................................... Município: ........................................ UF: ........... Garantias: (descrever) .................................................................................................................... Inadimplência: (cláusula) ................................................................................................................ Inadimplência: (cláusula) ................................................................................................................ Foro: é da praça de emissão deste título. Local da emissão: ...............................................Data da emissão: ................................................ Nome do emitente/coobrigado: ..................................................................................................... Qualificação: ................................................................................................................................... Assinatura: ...................................................................................................................................... Fonte: Savoia (2009, p. 118). Trata-se de financiamentos para a geração de produtos que, necessariamente, serão exportados para compradores externos. 72 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 Unidade II Apoia, pois, os produtores rurais e as respectivas cooperativas nos processos de venda antecipada de produtos voltados à exportação. Produtor rural Investidor* 1. Emite CPR 2. Entrega recursos financeiros 3. Devolve recursos financeiros corrigidos e liquida a CPR *A figura do investidor pode ser: banco, empresa de insumo, trading, ou um investidor tradicional Figura 10 – Fluxo da CPR com liquidação financeira A operacionalização da CPR pode obedecer a vários modelos, mais ou menos complexos, conforme o número de intervenientes no processo e derivações. As figuras a seguir ilustram três alternativas de modelos, desde o mais simplificado até o mais complexo, que leva em consideração a existência de mercado secundário para o título. C u s t ó d i a A v a l Produto Recursos Título Instituição financeira Produtor ou cooperativa Exportador Beneficiador Atacadista Figura 11 – Diagrama de Negociação de CPR – Modelo simplificado C u s t ó d i a A v a l Instituição financeira Produtor ou cooperativa Indústria de insumos ou máquinas Investidor ou fundo de investimento Exportador/Comerciante Figura 12 – Diagrama de Negociação de CPR 73 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 LINHAS DE FINANCIAMENTOS E CRÉDITOS RecursosRecursos Recursos RecursosRecursos CPRCPR CPR CPRCPR Produto Produto C u s t ó d i a C u s t ó d i a R e c u r s o s C o o p e r a t i v a P r o d u t o r e s A v a l A v a l C P R Instituição financeira Instituição financeira Exportador comerciante Indústria de insumos e máquinas Beneficiador Atacadista Investidor ou fundo de investimento Figura 13 – Diagrama de Negociação de CPR – Modelo mais complexo De acordo com Savoia (2009, p. 96): A CPR [ainda] não conseguiu atingir o mercado de capitais de forma significativa, pois sua negociação, quando registrada, ainda se concentra em poucos bancos, sendo o Banco do Brasil o principal. Outro fator que limita a ampla negociação da CPR é a restrição de sua emissão ao produtor rural ou à Cooperativa. Os agentes que participam da cadeia produtiva do agronegócio (fornecedores e tradings) estão familiarizados com esses emissores e seu risco de crédito, porém isso não acontece com o mercado investidor em geral. Certificado de Mercadoria Garantido (CMG) Título emitido por um produtor agrícola, com emissão garantida por instituição financeira. Trata-se do compromisso físico de compra ou venda futura, que será feito com entrega mercantil. É transacionado em Bolsa de Mercadorias e Futuros. 74 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 Unidade II Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) São títulos emitidos por empresas especializadas, possuindo como garantia valores a receber de empresas do setor. Como indica Fortuna (2008, p. 255): “As empresas compram os recebíveis e emitem os CRAs, que podem ser adquiridos por empresas do setor rural, investidores e fundos de investimento.” Os Certificados de Recebíveis do Agronegócioforam criados com a Lei n° 11.076, de 30 de dezembro de 2004, que diz: “O Certificado de Recebíveis do Agronegócio – CRA é título de crédito nominativo, de livre negociação, representativo de promessa de pagamento em dinheiro e constitui título executivo extrajudicial.” (BRASIL, 2004a) Certificado de Depósito Agropecuário (CDA) Esses papéis são lastreados por produtos e emitidos por armazéns no instante em que o produtor entrega as mercadorias. Representam, pois, a promessa de entrega dos produtos e podem ser negociados ou usados como garantias de empréstimos pelo produtor. Também foi criado com a Lei n° 11.076. Certificados de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA) São emitidos por agroindústrias e fabricantes de máquinas agrícolas. Podem ser emitidos também por cooperativas e outros que participem da cadeia produtiva do agronegócio e oferecem garantias às vendas a prazo. Este certificado também foi criado pela Lei n° 11.076/2004. Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) São emitidos exclusivamente por instituições financeiras autorizadas, com garantias de empréstimos concedidos ao setor rural. Saiba mais Você pode consultar, por exemplo, o regulamento do Programa de Emissão da Letra de Crédito do Agronegócio do Sicoob, um sistema financeiro cooperativo: SICOOB. Regulamento do Programa de Emissão da Letra de Crédito do Agronegócio: LCA Sicoob. Brasília, [s.d.]. Disponível em: <http://www. sicoob.com.br/documents/10180/9502808/RegulamentoLCA21x28cm. pdf/5bb3340e-7742-43c3-acaa-2a50ea8c6857>. Acesso em: 17 nov. 2015. Estudos estão sendo conduzidos pelas autoridades financeiras e governamentais visando alterar ou até eliminar a isenção tributária sobre as LCA. Com essa isenção, tais títulos, lastreados em financiamentos 75 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 LINHAS DE FINANCIAMENTOS E CRÉDITOS imobiliários, revelam excelente apelo para os investidores, notadamente quando são restritas às outras opções nos mercados de títulos e valores mobiliários. Resumo Tratamos das várias alternativas de realização de empréstimos e financiamentos pelos agentes da extensa cadeia do agronegócio. Além dos subsídios governamentais, do apoio de entidades nacionais e do exterior, das operações junto às instituições financeiras dos mercados monetários e de crédito, cada vez mais o agricultor, pecuarista ou qualquer outro agente que participa do Agronegócio têm recorrido às transações nas Bolsas de Valores e de Mercadorias, comprando e vendendo contratos futuros de compra e venda de commodities, principalmente. O que o agente procura é realizar um hedge de suas operações, de forma a poder cobrir as incertezas e os riscos da atividade agropecuária. Uma operação de hedge (proteção) visa salvaguardar os pagamentos de dívidas e manutenção da capacidade de solvência dos agricultores, pecuaristas e outros agentes agropecuários. A chamada venda a futuro de um contrato de comercialização de soja, por exemplo, sob a ótica do produtor, propicia a garantia de preços capazes de lhe gerar resultado positivo com o seu empreendimento. Essa proteção se justifica, no meio rural, dados os grandes riscos de “intempéries”, não só pelas ocorrências da natureza como de comportamentos não favoráveis dos preços nos mercados e os reflexos de políticas públicas internas ou eventos e crises internacionais. Vimos também as especificidades do crédito à agricultura familiar, de grande importância para o desenvolvimento do País, econômica e socialmente. Destacamos os aspectos relacionados com o Seguro Rural, ainda incipiente no Brasil, mas que vem se desenvolvendo à medida que aumenta a importância do agronegócio no PIB brasileiro. Por fim, abordamos as características de vários títulos que suportam as operações de financiamentos e de créditos, tanto para o lado empresarial quanto familiar do agronegócio. 76 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 Unidade II Exercícios Questão 1. Você é consultor e estuda o mercado de esmagamento de soja no Brasil. Os produtos comercializados nesse mercado são farelo de soja e óleo vegetal. As plantações de soja estão espalhadas por todo o interior do País. A margem de lucro dos produtos é muito pequena e a logística é um custo significativo da operação. O transporte é feito via modal rodoviário e o volume de soja colhida é muito superior ao volume somado de farelo e óleo. Para ter um desempenho sustentável em longo prazo, é necessário que as empresas tenham: I – Grande volume de esmagamento. II – Proximidade de centros de plantação de soja. III – Frota de transporte próprio. IV – Localização perto de uma grande capital metropolitana. Estão corretas somente as afirmativas: A) I e III. B) II e III. C) I e II. D) III e IV. E) I e IV. Resposta correta: alternativa C. Análise das alternativas: I – Afirmativa correta. Justificativa: a operação de esmagamento de soja é de baixa variedade e de alto volume: ela teria sustentabilidade somente com grandes volumes de esmagamento. O processo de esmagamento de soja é uma operação contínua, característica de altos volumes. Com margens de lucro pequenas, é necessário alto volume para a empresa ter desempenho sustentável. II – Afirmativa correta. Justificativa: o beneficiamento de produtos agrícolas é típica operação que deve estar próxima das fontes de suprimento. O volume do insumo tende a ser muito maior do que do produto final, como está 77 AG R - Re vi sã o: R os e - Di ag ra m aç ão : F ab io - 2 2/ 12 /2 01 5 LINHAS DE FINANCIAMENTOS E CRÉDITOS explicitado na questão. Transportar soja implicaria um custo muito maior do que transportar o farelo e o óleo vegetal, devido ao volume e à natureza do transporte. O transporte de grãos é muito mais trabalhoso e dispendioso do que o transporte de farelo e óleo, pela própria natureza das embalagens. III – Afirmativa incorreta. Justificativa: a opção de se ter transporte próprio seria justificada no caso em que se agregasse valor à compra de transporte. Ocorre que, para empresas de esmagamento de soja, ou similares, a sua competência central não é o transporte. Empresas especializadas em transporte provavelmente acrescentarão maior valor ao processo. Além disso, como as plantações estão espalhadas pelo País, uma operação de transporte próprio não permitiria ganhos de escala. O custo de transporte, parte importante do custo com a logística e vital nesse negócio, tenderá a ser mais baixo se terceirizado. IV – Afirmativa incorreta. Justificativa: a localização próxima do mercado consumidor, uma grande capital metropolitana, é adequada quando se gera conveniência para o cliente, coisa que dificilmente ocorre em operações de manufatura, na qual os produtos podem ser ofertados aos consumidores sem que haja necessidade de alto contato ou de visibilidade. Questão 2. A Cia. Laranja Paulista, seguindo seu planejamento estratégico, terceiriza os serviços de limpeza e segurança de suas unidades administrativas e comerciais. No início do ano, após minuciosa cotação de preços e realização de um empréstimo bancário, contrata a empresa Serviços Fazenda Segura Ltda., por 3 anos, pagando, na ocasião da assinatura do contrato, o valor de R$1.200.000,00 correspondente ao montante total dos serviços contratados. Na empresa prestadora de serviços, no momento da assinatura e do recebimento total do contrato, qual o procedimento contábil para o registro dessa operação? A) Reconhecer como Receita Operacional do período o valor total recebido. B) Registrar como conta de Passivo o valor contratado. C) Lançar o valor
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