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1 Aula 1: Os Conceitos Socioantropológicos de Indivíduo e Sociedade A sociedade faz o homem ou o homem faz a sociedade? A resposta dessa questão, bastante complexa, só é possível por meio do debate que as Ciências Sociais, ao longo de trajetória, vêm realizando. O primeiro passo para respondê-la é compreender os conceitos de indivíduo e sociedade na perspectiva das Ciências Sociais. É o que faremos a seguir. O objeto de estudo das Ciências Sociais é a sociedade em suas dimensões sociológicas, antropológicas e políticas. AS ÁREAS CONSTITUTIVAS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS Sociologia A Sociologia estuda o homem e o universo sociocultural, analisando as inter-relações entre os diversos fenômenos sociais. Neste campo de conhecimento, a vida social é analisada a partir de diferentes perspectivas teóricas, notadamente as que têm como base conceitual os estudos desenvolvidos por Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx. A partir dessas matrizes teóricas, estudam-se os fatos sociais, as ações sociais, as classes sociais, as relações sociais, as relações de trabalho, as relações econômicas, as instituições religiosas, os movimentos sociais etc. Ciência Política Como o próprio nome já diz, esta área analisa as questões ligadas às instituições políticas. Conceitos de poder, autoridade e dominação são estudados por esta ciência. Analisam-se assim as diferenças entre povo, nação e governo, bem como o papel do Estado como instituição legitimamente reconhecida como a detentora do monopólio da dominação e do controle de determinado território. A Antropologia Na Antropologia privilegiam-se os aspectos culturais do comportamento de grupos e comunidades. Questões cruciais para o entendimento da vida em grupo, como alteridade, diversidade cultural, etnocentrismo e relativismo cultural são tratadas por essa ciência, que em seus primórdios estudava povos e grupos geográfica e culturalmente distantes dos povos ocidentais. Ao longo de seu desenvolvimento, os antropólogos passaram a analisar grupos sociais relativamente próximos, buscando transformar o exótico, o distante, em familiar. Em sua história, a Antropologia revelou estudos notáveis sobre sociedades indígenas e sociedades camponesas, identificando suas diferentes visões de mundo, sistemas de parentesco, formas de classificação, cosmologias, linguagens etc. Também desenvolveu uma série de estudos sobre grupos sociais urbanos, enfatizando a diferenciação entre seus indivíduos, com base em critérios de raça, cor, etnia, gênero, orientação sexual, nacionalidade, regionalidade, afiliação religiosa, ideologia política, sistemas de crenças e valores, estilos de vida etc. 2 Qual a importância do estudo socioantropológico na compreensão da realidade? Ao contrário de outras ciências, as Ciências Sociais lidam não apenas com o que se chama de realidade, com fatos exteriores aos homens, mas igualmente com as interpretações que são feitas sobre a realidade. Por estudar a ação dos homens em sociedade, de seus símbolos, sua linguagem, seus valores e cultura, das aspirações que os animam e das alterações que sofrem, as Ciências Sociais constituem ferramenta importante para o desenvolvimento da compreensão crítico-reflexiva da realidade. Por essa razão, cada vez mais as Ciências Sociais são utilizadas em diversos campos da atividade humana. Campanhas publicitárias, campanhas eleitorais, elaboração de políticas públicas, até mesmo a programação de redes de rádio e televisão levam cada vez mais em conta resultados de investigações socioantropológicas, à medida que estas buscam entender as pessoas envolvidas em cada uma dessas atividades, suas crenças, valores e ideias. Com as mudanças cada vez mais rápidas e profundas dos padrões morais e culturais das sociedades contemporâneas, mais relevantes se tornam as análises que visam compreendê-las. Deslocamentos de pessoas e grupos motivados pelo processo de globalização da economia, que intensificou os fluxos migratórios em todo o planeta, trocas culturais proporcionadas pelo estabelecimento de uma “sociedade em rede”, novos modelos de família e conjugalidade, novas configurações no campo religioso, entre outros, constituem temas de trabalhos de cientistas sociais contemporâneos. Esses trabalhos são utilizados frequentemente como fonte de reflexão por governos, sociedade civil e indivíduos que buscam desenvolver sua capacidade de compreensão dos acontecimentos e planejamento de ações com vistas à atuação na vida social. O PAPEL DO INDIVÍDUO NA SOCIEDADE Como nos ensina Albert Einstein (em seu artigo “Porquê o Socialismo?”), o homem é, simultaneamente, um ser solitário e um ser social: Ser Solitário Enquanto ser solitário, tenta proteger a sua própria existência e a daqueles que lhe são próximos, satisfazer os seus desejos pessoais e desenvolver as suas capacidades inatas. Ser Social Enquanto ser social, procura ganhar o reconhecimento e afeição dos seus semelhantes, partilhar os seus prazeres, confortá-los nas suas tristezas e melhorar as suas condições de vida. O conceito abstrato de “sociedade” significa para o ser humano individual o conjunto das suas relações diretas e indiretas com os seus contemporâneos e com todas as pessoas de gerações anteriores. O indivíduo é capaz de pensar, sentir, lutar e trabalhar sozinho, mas depende tanto da sociedade – na sua existência física, intelectual e emocional – que é impossível pensar nele, ou compreendê-lo, fora da estrutura da sociedade. É a “sociedade” que lhe fornece comida, roupa, casa, instrumentos de trabalho, língua, formas de pensamento, e a maior parte do conteúdo do pensamento; a sua vida foi tornada possível através do trabalho e da concretização dos muitos milhões passados e presentes que estão todos escondidos atrás da pequena palavra “sociedade”. Conclusão Fica evidente, portanto, que a dependência do indivíduo em relação a sociedade é um fato da natureza que não pode ser abolido – tal como no caso das abelhas e das formigas. No entanto, enquanto todo o processo de vida das 3 abelhas e das formigas é reduzido ao menor pormenor por instintos hereditários rígidos, o padrão social e as inter- relações dos seres humanos são muito variáveis e suscetíveis as mudanças. A memória, a capacidade de fazer novas combinações, o dom da comunicação oral tornaram possíveis os desenvolvimentos entre os seres humanos que não são ditados por necessidades biológicas. Esses desenvolvimentos manifestam-se nas tradições, instituições e organizações; na literatura; nas obras científicas e de engenharia, nas obras de arte. Isto explica a forma como, num determinado sentido, o homem pode influenciar sua vida através da sua própria conduta, e como neste processo o pensamento e a vontade consciente desempenham seu papel. Nesta aula, você: Aprendeu quais são os ramos constitutivos das Ciências Sociais; Atentou para a relação entre indivíduo e sociedade; Deu-se conta da importância do conhecimento sociológico para a compreensão da realidade social. 4 Aula 2: Objeto e Método das Ciências Sociais Em “Lição de Anatomia”, Rembrandt retrata uma aula na qual um cientista, junto ao corpo morto de um homem, ensina aos seus alunos a composição e a forma de um corpo humano. Tal atividade insere-se no campo do que se convencionou chamar de “ciências naturais”. Entretanto, a observação do quadro pode ir além disso: visões e interpretações sobre o corpo humano e sobre a morte, o processo de transmissão de conhecimento, todos fazem parte de reflexões desenvolvidas pelas chamadas“ciências humanas e sociais”. Nesta aula, iremos comparar os objetos e métodos desses dois campos de saberes, e demonstrar a abordagem específica das ciências sociais. Ciências Naturais As Ciências Naturais estudam fatos simples, eventos que presumivelmente têm causas simples e são facilmente isoláveis, recorrentes e sincrônicos. Tais fatos podem ser vistos, isolados e reproduzidos dentro de condições de controle razoáveis, num laboratório. Assim, nas Ciências Naturais há uma distância irremediável entre o cientista e seu objeto de pesquisa, o que torna o método objetivo o mais apropriado para a investigação de fenômenos dessa ordem. No âmbito das Ciências Sociais torna-se difícil desenvolver uma teoria capaz de transmitir com PRECISÃO uma causa única ou motivação exclusiva. Ao contrário de outras ciências, as Ciências Sociais lidam não apenas com o que se chama de realidade, com fatos exteriores aos homens, mas igualmente com as interpretações que são feitas sobre a realidade. As Ciências Sociais estudam fenômenos complexos. Seu objeto de investigação é o homem nas relações intersubjetivas, os fenômenos sociais, ou seja, eventos com determinações complicadas e que podem ocorrer em ambientes diferenciados, fazendo com que toda análise de fenômenos dessa natureza seja parcial, subjetiva. É possível reproduzir determinados acontecimentos? Podemos reproduzir a época do descobrimento? Bem, podemos ter os mesmos personagens, comidas vestes, música, assim como na cena de um filme. Mas, mesmo o filme sendo muito bem produzido, não será possível reproduzir o clima daquele momento, a atmosfera da época. Neste sentido: • Atitudes semelhantes têm significados diferentes. • Cada cultura constrói seu significado social. • Os fatos estudados pelo cientista social podem ser pretéritos ou serem reproduzidos em situações muito distintas. Mas não podem ser reproduzidos em condições controladas. 5 Resumindo... Nas ciências naturais Os fenômenos podem ser percebidos, divididos, classificados e explicados dentro de condições de relativo controle e em condições de laboratório. Alcança-se a objetividade científica. As descobertas possibilitam o desenvolvimento de novas tecnologias. Nas ciências humanas e sociais Os fenômenos são complexos. As percepções são variadas, porquanto históricas. O resultado prático é visto em livros, romances, arte, teatro, novelas, onde tais ideias podem ser aplicadas para produzir modificações no comportamento das pessoas – nos sistemas de valores. Os fatos sociais são irreproduzíveis em condições controladas e, por isso, quase sempre fazem parte do passado. São eventos a rigor históricos e apresentados de modo descritivo e narrativo, nunca na forma de uma experiência. COMO ESTUDAR FENÔMENOS SOCIAIS? Ao observar os fenômenos sociais, somos levados a enfrentar nossa própria posição, nossos valores, nossa visão de mundo que interfere na nossa pesquisa. Nossa fala, nossos gestos, nosso modo de ser e de agir revelam o tipo de socialização que tivemos e influencia em nossa visão de mundo. “Nasce, daí, um debate inovador, numa relação dialética entre investigador e investigado.” (DA MATTA, Roberto in Relativizando: uma introdução à antropologia social) Dessa forma, trabalhamos com fenômenos que estão bem perto de nós, temos a interação complexa entre o investigador e o investigado, pois ambos compartilham de um mesmo universo de experiências humanas. “ Cada sociedade humana conhecida é um espelho onde a nossa própria existência se reflete.” ( DA MATTA) Podemos assimilar um costume diferente do nosso, ou até mesmo perceber o melhor de nossas tradições quando estamos em contato com outras culturas. Neste âmbito, percebemos que podemos adotar costumes de outros povos, aprender seus credos, aprender novas leis. Nas Ciências Sociais temos a interação complexa entre o investigador e o investigado. Ambos compartilham de um mesmo universo de experiências humanas. A charge ao lado apresenta, ironicamente, uma situação social comum nos centros urbanos. Analise-a de acordo com o método adequado à compreensão dos fenômenos sociais. Como bibliografia complementar, indicamos a leitura de: DA MATTA, Roberto. Relativizando: Uma introdução à antropologia Social. RJ. Rocco. 1993 p.p 17 a 27. Nesta aula, você: Aprendeu quais são os objetos e métodos das ciências naturais e das ciências sociais; Atentou para a especificidade da investigação de fenômenos sociais; Aplicou os conhecimentos adquiridos na resolução de questões relacionadas ao tema da aula. 6 Aula 3: A Análise Antropológica da Cultura Fulano não tem cultura! Sicrano é muito culto! O governo não investe em cultura! A palavra cultura é de conhecimento geral. Mas seu significado varia de acordo com quem a utiliza. Entender os “usos e abusos” do conceito de cultura, objeto de estudo privilegiado da Antropologia, e suas implicações na vida social, é o objetivo desta aula. O que é cultura? O conceito de cultura é uma preocupação intensa atualmente em diversas áreas do pensamento humano, no entanto a Antropologia é a área por excelência de debate sobre esta questão. O primeiro antropólogo a sistematizar o conceito de cultura foi Edward Tylor que, em Primitive Culture, formulou a seguinte definição: “Cultura é todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na condição de membro da sociedade.” Diversidade cultural Desde sempre os homens se preocuparam em entender por que os homens possuíam hábitos alimentares, formas de vestir, de formarem famílias, de acessarem o sagrado de maneiras diferentes das suas. A essa multiplicidade de formas de vida dá-se o nome de “diversidade cultural”. Foi a partir da descoberta do “Novo Mundo”, nos séculos XV e XVI, que os europeus se depararam com modos de vida completamente distintos dos seus, e passaram a elaborar mais intensamente interpretações sobre esses povos e seus costumes. É fundamental termos em mente que o impacto e a estranheza se deram dos dois lados. Os grupos não europeus também se espantavam com o ser diferente que chegava até eles desembarcando em suas praias e tomando posse de seu território. Infelizmente não temos muitos relatos dos povos não europeus para conhecermos a visão que eles tinham dos brancos. Existem relatos esparsos, como o de povos que, após a morte de um europeu em combate, colocavam seu corpo dentro de um rio e esperavam sua decomposição para ver se eram pessoas como eles. O olhar eurocêntrico sobre a cultura Mas de onde surge a preocupação com o tema da cultura? Vamos posicionar nosso olhar. Toda construção científica nasce na Europa. A reflexão teórico-científica sobre a humanidade se iniciou neste ambiente e nesta perspectiva. Logo, a noção de ser humano de referência para todas as Ciências Humanas e Sociais é a do homem europeu e da sociedade europeia. No entanto, a partir dos esforços de conquista de outros continentes, os europeus “encontraram-se” com “seres” diferentes o suficiente para causarem estranhamento, mas “parecidos” o suficiente para produzirem o seguinte incômodo: serão estes seres “humanos”? A relação com agrupamentos humanos de localidades até então desconhecidas como as que hoje denominamos África, América, Austrália, fizeram com que os europeus se questionassem sobre as características peculiares ao humano e as razões de tanta diferença entre os componentes de uma mesma espécie. 7 O movimento pré-científico, que domina o campo da diversidade cultural até o século XVIII, é aquele que oscilava entre conceber o“diferente” ora como humano, ora como não humano, provido ou desprovido de alma, bom ou mau selvagem, etc. Na ótica dos europeus, estes “maus selvagens” eram vistos como perigosos, mais próximos aos animais, brutos, imbuídos de uma sexualidade descontrolada, primitivos, com uma inteligência restrita, iludidos pela magia, enfim, seres limitados que precisavam ser “civilizados” pela cultura europeia. Você sabe o que significa o termo “antropologia de gabinete” Entramos no século XIX. Os antropólogos estudam culturas “exóticas” buscando descrever seus hábitos, costumes e sua forma de ver o mundo (cosmovisão). No entanto, eles não iam ao campo; não eram os antropólogos que experimentavam diretamente o dia a dia dos grupos “selvagens”. Eram enviados viajantes, pessoas comuns que eram deslocadas para essas “tribos” e ali ficavam por um certo tempo, registrando tudo que viam e ouviam, a fim de entregar este material aos antropólogos que aí sim analisavam estes relatos, desenvolvendo suas teorias sobre as diferentes culturas. Esta é a denominada “antropologia de gabinete”. A prática etnográfica Segundo François Laplantine, em Aprender Antropologia, a prática etnográfica consiste em “impregnar-se dos temas de uma sociedade, de seus ideais, de suas angústias. O etnógrafo é aquele que deve ser capaz de viver nele mesmo a tendência principal da cultura que estuda”. Na segunda metade do século XIX a “antropologia de gabinete” é questionada. Afinal, como falar sobre uma cultura que nunca se viu? Como descrever eventos que nunca se vivenciou? Assim, cunha-se a prática etnográfica, que é a metodologia característica da antropologia até os dias de hoje: o próprio antropólogo vai ao campo, entra no grupo, vivencia esta cultura diferente, deixa-se fazer parte deste dia a dia, registra esta vivência, retorna para sua própria cultura e finaliza seu trabalho de escrita que é o registro final desta experiência. No entanto, não é nada fácil vivenciar uma outra cultura diferente da nossa. Por quê? Não sentimos nossa cultura como uma construção específica de hábitos e costumes: pensamos que nossos hábitos e nossa forma de ver o mundo devem ser os mesmos para todos! Naturalizamos nossos costumes e achamos o do outro “diferente”. Diferente de quê? Qual é o padrão “normal” segundo o qual analisamos o “diferente”? Geralmente estabelecemos a nossa cultura como o padrão, a norma. Assim tudo que é diferente é concebido como estranho, e mesmo errado. Tal postura é o que denominamos etnocentrismo. Etnocentrismo Segundo Everardo Rocha, em O que é Etnocentrismo, trata-se da “visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc. “. O autor nos alerta ainda para a questão do choque cultural. Como ele afirma, “de um lado conhecemos o "nosso" grupo, que come igual, veste igual, gosta de coisas parecidas, conhece problemas do mesmo tipo, acredita nos mesmos deuses, casa igual, mora no mesmo estilo, distribui o poder da mesma forma, empresta à vida significados 8 em comum e procede, por muitas maneiras, semelhantemente. Aí, então, de repente, nos deparamos com um "outro", o grupo do "diferente" que, às vezes, nem sequer faz coisas como as nossas ou quando as faz é de forma tal que não reconhecemos como possíveis. E, mais grave ainda, este “outro" também sobrevive à sua maneira, gosta dela, também está no mundo e, ainda que diferente, também existe. ”. Na sua opinião, o etnocentrismo é positivo ou negativo? E que benefícios a Antropologia pode trazer para esta visão? Roberto da Matta, no texto “Você tem cultura? ” demonstra que “antes de cogitar se “aceitamos” ou não esta outra forma de ver o mundo, a Antropologia nos convida a compreendê-la, e verificar que ao seu jeito uma outra vida é vivida, segundo outros modelos de pensamento e de costumes. O fato de que o homem vê o mundo através de sua cultura tem como consequência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural. O conceito de cultura, ou, a cultura como conceito, então, permite uma perspectiva mais consciente de nós mesmos. Precisamente diz que não há homens sem cultura e permite comparar culturas e configurações culturais como entidades iguais, deixando de estabelecer hierarquias em que inevitavelmente existiriam sociedades superiores e inferiores”. Relativismo Cultural É a postura, privilegiada pela Antropologia contemporânea de buscar compreender a lógica da vida do outro. Parte do pressuposto de cada cultura se expressa de forma diferente. Dessa forma, trata-se de pregar que a atividade humana individual deve ser interpretada em contexto, nos termos da cultura em que está inserida. Para finalizar, as palavras de uma das mais notáveis antropólogas conhecidas, a americana Margaret Mead, que no prefácio de sexo e comportamento afirmou: “toda diferença é preciosa e precisa ser tratada com carinho. ” Nesta aula, você: Aprendeu a visão antropológica da cultura e o fenômeno da diversidade cultural; Atentou para o fenômeno do etnocentrismo, que nos dificulta a compreensão de sistemas culturais diferentes dos nossos; Deu-se conta da importância da postura relativista para o entendimento das diferentes expressões culturais. Aprendeu que a diversidade étnico-cultural foi fundamental para a construção da identidade nacional brasileira, marcada pela interseção de diferentes tradições culturais. 9 Aula 4: A formação do pensamento político moderno e as questões básicas da Ciência Política Por mais que muitos de nós nos definamos como “apolíticos”, o homem é, como definiu Aristóteles, um animal político. Nesta aula, seremos apresentados aos pensadores políticos clássicos e aprenderemos as principais formas e sistemas de governo conhecidos. Conheceremos, também, a contribuição de dois pensadores clássicos, Max Weber e Karl Marx, em relação à questão da dominação e do papel do Estado na sociedade de classes. A formação do pensamento político moderno: Estado de Natureza, Contrato Social e Estado Civil na filosofia de Hobbes, Locke e Rousseau Segundo Marilena Chaui, em filosofia( São Paulo: Ática, 2000), o conceito de estado de natureza tem a função de explicar a situação pré-social, na qual os indivíduos existem isoladamente. Duas foram as principais concepções do estado de natureza: A concepção de Hobbes (no século XVII), segundo a qual, em estado de natureza, os indivíduos vivem isolados e em luta permanente, vigorando a guerra de todos contra todos ou “o homem lobo do homem”. Neste estado, reina o medo, e principalmente, o grande medo: o da morte violenta. Para se protegerem uns dos outros, os humanos inventaram as armas e cercaram as terras que ocupavam. Essas duas atitudes são inúteis, pois sempre haverá alguém mais forte que vencerá o mais fraco e ocupará as terras cercadas. A vida não tem garantias; a posse não tem reconhecimento e, portanto, não existe, a única lei que existe é a do mais forte, que pode tudo quanto tenha força para conquistar e conservar. O estado de natureza de Hobbes e o estado de sociedade de Rousseau evidenciam uma percepção do social como luta entre fracos e fortes, vigorando a lei da selva ou o poder da força. Para fazer cessar esse estado de vida ameaçador e ameaçado, os humanos decidem passar a sociedade civil, isto é, ao Estado Civil, criando o poder político e as leis. A passagem do estado de naturezaà sociedade civil se dá por meio de um contrato social, pelo qual os indivíduos renunciam a liberdade natural de bens, riquezas e de armas e concordam em transferir a um terceiro – o soberano – o poder para criar e aplicar as leis, tornando-se autoridade política. O contrato social funda a soberania. JOHN LOCKE E A TEORIA LIBERAL Para esse autor, o Estado existe a partir do contrato social. Tem as funções que Hobbes lhe atribui, mais sua principal finalidade é garantir o direito natural da propriedade. Dessa maneira, a burguesia se vê inteiramente legitimada perante a realeza e a nobreza e, mais do que isso, surge como superior a elas, uma vez que o burguês acredita que é proprietário graças a seu próprio trabalho, enquanto reis e nobres são parasitas da sociedade. O burguês não se reconhece apenas como superior social e moralmente aos nobres, mas também como superior aos pobres. De fato, se Deus fez todos os homens iguais, se a todos deu a missão de trabalhar e a todos concedeu o direito da propriedade privada, então, os pobres, isto é, os trabalhadores que não conseguem se tornar proprietários privados, são culpados por sua condição inferior. São pobres, não são proprietários e são obrigados a trabalhar para outros, seja porque são perdulários, gastando o salário em vez de acumula-lo para adquirir propriedades, seja porque são preguiçosos e não trabalham o suficiente para conseguir uma propriedade. Formas de dominação legítima em Max Weber A dominação deve ser entendida, segundo Weber, como uma probabilidade de mando e de legitimidade deste. A crença é a condição fundamental para que a relação entre aquele que manda (domina) e aquele que obedece (dominado) se realize. Portanto, não é toda e qualquer relação de poder que é legitimada, é preciso que aquele que obedece acredite voluntariamente naquele que tem poder de mando. 10 O poder é sempre uma probabilidade, pois depende de outro para ser exercido. Weber fornece o exemplo da relação de poder entre senhor e escravo que é carente de uma relação voluntária, não havendo, portanto, legitimidade e sim obrigação; a consequência é que na primeira oportunidade os indivíduos fogem desta relação, abandonam seus senhores. Weber define os três tipos puros de dominação como: Dominação racional-legal É exercida dentro de um quadro administrativo composto por regras e leis escritas que devem ser seguidas por todos, não havendo privilégios pessoais. Ela é apoiada na crença de uma “legitimidade de ordens estatuídas e nos direitos de mando dos chamados a exercer autoridade legal”. Esta é baseada em relações impessoais e os funcionários são incorporados ao quadro administrativo, através de um contrato, não por suas características pessoais, mas por sua competência técnica. Eles são livres, sendo que suas obrigações se limitam aos deveres e objetivos de seus cargos que estão dispostos dentro de uma hierarquia administrativa e suas competências são rigorosamente fixadas. Realizam seu trabalho e em troca recebem salário fixo e regular que varia conforme a responsabilidade do cargo, que é exercido em forma exclusiva ou como principal ocupação. Há possibilidade de fazer carreira, podendo subir na hierarquia da profissão, através do tempo de serviço ou por competência, ou ambos. Importante ressaltar que os funcionários trabalham em seus cargos sem a apropriação dos mesmos. A dominação burocrática é puramente técnica, com o objetivo de atingir o mais alto grau de eficiência e nesse sentido é, formalmente, o mais racional conhecido meio de exercer a dominação sobre os seres humanos. Dominação tradicional Esta repousa na crença das tradições, costumes que existem desde outros tempos. É a legitimidade na crença dos indivíduos nas ordens e poderes senhorais tradicionais. A autoridade é exercida e legitimada pela tradição e por normas escritas. O quadro administrativo, neste caso, pode ser recrutado não pela competência técnica, mas por vínculos pessoais e laços de fidelidade. As tarefas não são claramente definidas, como na dominação racional, e os privilégios e deveres encontram-se sujeitos a modificações de acordo com a vontade do governante. Há outros tipos de dominação tradicional que são: o patriarcalismo, onde o poder é exercido segundo regras fixas de sucessão; e o patrimonialismo ou gerontocracia, que é a autoridade exercida pelos mais velhos, em idade, sendo os melhores conhecedores da tradição sagrada. Em um corpo administrativo encontramos o patrimonialismo quando os funcionários ligam-se ao chefe por laços de fidelidade pessoais. Dominação carismática Pode ser caracterizada pelo seu caráter de tipo extraordinário e irracional. Weber define carisma como uma qualidade pessoal considerada extraordinária, atribuída a um indivíduo que possui poderes ou qualidades sobrenaturais. Esses indivíduos são enviados por Deus para o cumprimento de uma missão. Portanto, este indivíduo é reconhecido como líder por seus seguidores e, assim, a autoridade carismática é legitimada. Os carismáticos, geralmente, são profetas religiosos, políticos, demagogos, e apresentam, nas maiorias das vezes, provas de seu poder, fazendo milagres ou revelações divinas. Entretanto, Weber aponta para possibilidade de uma existência permanente de um líder carismático. Tal fenômeno foi chamado de rotinização do carisma. Para que isso ocorra são necessárias mudanças profundas, pois implicam a transformação da autoridade carismática em tradicional ou legal. Sendo assim as atividades de corpo administrativo passam a ser exercidas de forma regular, seja através da constituição de normas tradicionais, seja por promulgação de regras legais. Haverá um problema a ser resolvido, que é o da sucessão daquele que não será eleito, geralmente o líder carismático escolhe entre aqueles de sua confiança ou então por hereditariedade. A construção dos tipos ideais de autoridade é primordial para a compreensão do desenvolvimento das instituições, nas quais a burocracia é a mais importante, por ser a mais característica da sociedade moderna ocidental que tem em sua essência o pensamento racional. Esses três tipos de dominação não são encontrados isoladamente na realidade, eles coexistem. A sociedade brasileira é um exemplo dessa coexistência, pois as relações (lugar, em princípio exemplar da relação impessoal) são, ao contrário, pessoais e permeadas de privilégios. A seleção nem sempre atende aos critérios meritocráticos, competência comprovada para o cargo. Em muitos casos as relações pessoas valem muito mais do que um diploma. 11 Segundo Marx e Engels, em A ideologia Alemã – Feuerbach (São Paulo: Hucitec, 1987), o Estado é a forma na qual os indivíduos de uma classe dominante fazem valer seus interesses comuns e na qual se resume toda a sociedade civil de uma época. Segue-se que toda as instituições comuns são mediadas pelo Estado e adquirem através dele uma forma política. Daí a ilusão de que a lei se baseia na vontade e, mais ainda, na vontade destacada de sua base real – na vontade livre. Da mesma forma, o direito é reduzido novamente à lei. “ O direito privado desenvolve-se simultaneamente com a propriedade privada, a partir da desintegração da comunidade natural (...). Quando, mais tarde, a burguesia adquiriu poder suficiente para que os príncipes protegessem seus interesses com o fim de derrubar a nobreza feudal por meio da burguesia, o desenvolvimento propriamente dito do direito começou em todos os países – na França, no século XVI - e, em todos eles, à exceção da Inglaterra, tiveram que ser introduzidos princípios do direito romano para o posterior desenvolvimento do direito privado (em particular, no caso da propriedade mobiliária) ”. Marx afirmaque o aparelho jurídico do Estado, nesse tipo de sociedade, tem como objetivo: Organizar e justificar a dominação da burguesia sobre o proletariado Favorecer os negócios da classe dominante Dessa forma, para Marx, não existe Estado representativo do conjunto da sociedade. Seu papel é o representante dos interesses da burguesia. Nesta aula, você: Aprendeu as principais contribuições dos pensadores políticos modernos; Atentou para a importância da dominação legítima no exercício do poder; Deu-se conta do papel de mantenedor dos privilégios da classe dominante exercido pelo Estado na concepção marxista. 12 Aula 5: Contexto histórico da formação da Sociologia e da Antropologia A formação do pensamento sociológico e antropológico deu-se a partir da segunda metade do século XIX, em decorrência de uma série de transformações econômicas, sociais e políticas por que passou a Europa nesse período. Apresentar e analisar as primeiras formulações dessas ciências, bem como demonstrar a influência dessas concepções na sociedade brasileira é o que se pretende nesta aula. REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E NEOCOLONIALISMO O século XIX foi marcado pela Revolução Industrial e pelo neocolonialismo, cujas consequências se projetaram para os séculos XX e XXI. No plano político e econômico o termo revolução é usado para expressar um movimento de transformação que, na visão dos seus protagonistas, traz transformações significativas, positivas e benéficas para a sociedade. De fato, as revoluções trazem grandes transformações e com a Revolução Industrial não poderia ser diferente. Tais transformações já se fizeram presentes na transição do feudalismo para o capitalismo. O desenvolvimento industrial se fez acompanhar pelo desenvolvimento científico, que por sua vez impulsionou ainda mais a indústria em função de descobertas invenções. Nos centros urbanos europeus respirava-se desenvolvimento e acreditava-se que a tecnologia e a máquina resolveriam todos os problemas do homem. A indústria cresceu e com esse crescimento vieram as crises de produção porque a superprodução não era acompanhada pelo consumo. A solução para a crise de consumo foi encontrada no neocolonialismo, ou imperialismo do século XIX. Diferente do colonialismo dos séculos XV e XVI, o neocolonialismo representou nova etapa do capitalismo, do momento em que as nações europeias saíram em busca de matérias-primas para sustentar as indústrias, de mercados consumidores para os produtos europeus e de mão de obra barata. Esse colonialismo se direcionou para a África e a Ásia, que foi partilhada entre as nações europeias. A América escapou desse colonialismo porque se tornara independente pouco antes. Porém, se não foi dominada politicamente pela Europa e pelos EUA, o foi economicamente, pois dependia dos banqueiros e do capital industrial europeu. Naquela época, por exemplo, grupos franceses e ingleses iniciaram a exploração da borracha na região amazônica, porque era mais barato produzir aqui e exportar para a Europa e para os EUA: afinal, aqui se encontrava matéria-prima, a mão de obra barata e o favorecimento governamental. A África e a Ásia foram o cenário onde atuou uma infinidade de cientistas e religiosos que assumiram o fardo do homem branco. Na Índia, por exemplo, qualquer membro da raça branca era tido como membro da classe dos amos e senhores, respeitado e reverenciado, Situações semelhantes fizeram o fundador da República do Quênia, na segunda metade do século XX, referir-se assim à dominação imperialista: “Quando os brancos chegaram, nós tínhamos as terras e eles as Bíblia; depois eles nos ensinaram a rezar; quando abrimos os olhos, nós tínhamos a Bíblia e eles as terras. ” Todas as tentativas de reação por parte das nações dominadas pelos impérios europeus foram enfrentadas com o uso das armas por parte das nações europeias. Nem a China ficou fora da corrida imperialista: foi dominada economicamente e teve territórios ocupados pelos japoneses. O CIENTIFICISMO E O DARWINISMO SOCIAL O cientificismo esteve presente em tudo. Foi também nessa época que se desenvolveu a teoria de Charles Darwin sobre a evolução e adaptação das espécies. O ator coloco em xeque as ideias da imutabilidade das espécies. Assim, a formação dos sistemas vivos começou a ser entendida não como criação simultânea, mas como decorrência de etapas sucessivas. Na sua obra A origem das espécies, publicada em 1859, em consonância com o espírito da época, Darwin defendeu a noção de variação gradual dos seres vivos graças ao acúmulo de modificações pequenas, sucessivas e favoráveis, e não por modificações extraordinárias, surgidas repentinamente. Nessa obra Darwin apresentou o núcleo da sua concepção evolutiva: a seleção natural, o a persistência do mais capaz; com o passar dos séculos, a seleção natural eliminaria as espécies antigas e produziria novas espécies. 13 Logo, as teses de Darwin estavam sendo discutidas em todo o meio científico e o próprio liberalismo econômico adotou o pressuposto da competição. Ao defender a propriedade privada, o liberalismo postula que todo homem compete em igualdade no acesso à propriedade privada. Aquele que não a conquista, não o faz porque é vicioso ou preguiçoso. É claro que essa tese, presente em nossas mentes até hoje, interessava e interessa à manutenção do domínio da classe burguesa. Se o liberalismo apropriou-se do conceito de competição, de Charles Darwin, não foi o único. Logo surgiu o Darwinismo Social. Segundo o Darwinismo Social, as sociedades se modificam e se desenvolvem como os seres vivos. As transformações nas sociedades representam a passagem de um estágio inferior para o superior, onde o organismo social se mostra mais evoluído, adaptado e complexo. Se na natureza a competição gera a sobrevivência do mais forte, também as sociedades favorecem a sobrevivência de sociedades e indivíduos mais fortes e evoluídos. As expressões: “luta pela existência” e “sobrevivência do mais capaz”, tomadas de Darwin, apoiaram o individualismo liberal e justificaram o lugar ocupado pelos bem-sucedidos nos negócios. Por outro lado, as sociedades foram divididas em raças superiores e inferiores, cabendo aos mais fortes dominar os mais fracos e, consequentemente, aos mais desenvolvidos levar o desenvolvimento aos não desenvolvidos. A civilização deveria ser levada a todos os homens. É claro que o Darwinismo Social serviu para justificar a ação imperialista das nações europeias. O DARWINISMO SOCIAL LEVADO ÀS ÚLTIMAS CONSEQUÊNCIAS Foi nesse cenário de constantes conflitos sociais, políticos, econômicos e religiosos, cenário marcado pela industrialização e pelo cientificismo, que a Antropologia e a Sociologia produziram suas primeiras explicações. O EVOLUCIONISMO SOCIAL Os evolucionistas formaram a primeira escola antropológica, temos como paradigma principal a sistematização do conhecimento acumulado sobre os “povos primitivos” e o predomínio do trabalho de gabinete. A análise desses antropólogos era feita a partir dos relatos de viajantes e colonizadores que lhes chegavam às mãos. Defendiam a ideia d que a história da Humanidade se dava através de um processo evolutivo que ia da selvageria à civilização, passando pela barbárie. Utilizavam o chamado método corporativo, em que tomavam como parâmetro a sociedade europeia do século XIX para descrever e classificar formas culturais de outros povos, em uma postura que, como vimos na aula 3, se mostrava extremamente etnocêntrica, tratando os povos não europeus como primitivos, exóticos e incivilizados. O positivismoFoi uma diretriz filosófica criada por Augusto Comte na segunda metade do século XIX. O tema central de sua obra é a lei dos Três Estados, em que ele divide a evolução histórica e cultural da humanidade em três fases, de acordo com seu desenvolvimento; a classificação e a hierarquização das ciências, da mais simples até a mais complexa, já que para ele a ordem é necessária ao processo; e a reforma da sociedade, com mudanças intelectuais, morais e políticas destinadas principalmente a restabelecer a ordem na sociedade capitalista industrial. A hostilidade dirigida ao pensamento tradicional foi especialmente forte em Comte, que negava a possibilidade do conhecimento metafísico, que ele considerava ser estagnante e uma forma de pesquisa desnecessária. Ele exigia 14 uma “sociocracia” dirigida por cientistas para a unificação, conformidade e progresso de toda a humanidade. Logo, o positivismo redefiniu o propósito da filosofia, limitando-a à análise e definição da linguagem científica. Comte devotou-se à Sociologia, uma palavra que ele elaborou para descrever a ciência da sociedade. Eles acreditavam que sua principal contribuição era a teoria de que a humanidade passou por três estágio de desenvolvimento intelectual: O teológico – neste estágio, o universo era explicado em termo de deuses, demônios e seres mitológicos. O metafísico – neste a realidade era explicada em termo de abstrações como a essência, existência, substancia e acidente. O positivo - neste estágio final, explicações só poderiam ser explicadas em leis científicas descobertas através da experimentação, observação ou lógica. Matemática, astronomia, física, química e biologia, classificadas por ele na base crescente de complexidade, já eram científicas. Os traços mais marcantes do positivismo são, certamente, a excessiva valorização das ciências e dos métodos científicos, a exaltação do homem e suas capacidades e o otimismo em relação ao desenvolvimento e progresso da humanidade. Para reformar a sociedade, Comte propôs: 1. Reconhecer a existência de princípios reguladores 2. Estudar os processos e estrutura social 3. Reconhecer a existência de dois movimentos: estático (fator de permanência e harmonia) e dinâmico (fator progressivo). Desta forma a análise comtiana propõe: A negação da luta de classes – harmonia entre as classes sociais. A necessidade de um Estado forte, centralizador, mantenedor da ordem. Essa corrente filosófica foi muito influente no pensamento da época. Prova disso é o lema da bandeira brasileira – “ordem e progresso” -, um dos principais preceitos do positivismo, que afirma que, para que haja progresso, é preciso que a sociedade esteja organizada. Nesta aula, você: Aprendeu o contexto histórico do surgimento das primeiras análises antropológicas e sociológicas; Atentou para a importância e para a influência do pensamento positivista no Brasil. 15
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