Buscar

Conteúdo aulas online 1 a 5 Ciências Sociais

Prévia do material em texto

1 
 
Aula 1: Os Conceitos Socioantropológicos de Indivíduo e Sociedade 
 
A sociedade faz o homem ou o homem faz a sociedade? A resposta dessa questão, bastante complexa, só é 
possível por meio do debate que as Ciências Sociais, ao longo de trajetória, vêm realizando. 
O primeiro passo para respondê-la é compreender os conceitos de indivíduo e sociedade na perspectiva das 
Ciências Sociais. 
É o que faremos a seguir. 
O objeto de estudo das Ciências Sociais é a sociedade em suas dimensões sociológicas, antropológicas e 
políticas. 
AS ÁREAS CONSTITUTIVAS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS 
Sociologia 
A Sociologia estuda o homem e o universo sociocultural, analisando as inter-relações entre os diversos fenômenos 
sociais. 
Neste campo de conhecimento, a vida social é analisada a partir de diferentes perspectivas teóricas, notadamente 
as que têm como base conceitual os estudos desenvolvidos por 
Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx. 
A partir dessas matrizes teóricas, estudam-se os fatos sociais, as ações sociais, as classes sociais, as relações sociais, 
as relações de trabalho, as relações econômicas, as instituições religiosas, os movimentos sociais etc. 
Ciência Política 
Como o próprio nome já diz, esta área analisa as questões ligadas às instituições políticas. Conceitos de poder, 
autoridade e dominação são estudados por esta ciência. 
Analisam-se assim as diferenças entre povo, nação e governo, bem como o papel do Estado como instituição 
legitimamente reconhecida como a detentora do monopólio da dominação e do controle de determinado 
território. 
A Antropologia 
Na Antropologia privilegiam-se os aspectos culturais do comportamento de grupos e comunidades. 
Questões cruciais para o entendimento da vida em grupo, como alteridade, diversidade cultural, etnocentrismo e 
relativismo cultural são tratadas por essa ciência, que em seus primórdios estudava povos e grupos geográfica e 
culturalmente distantes dos povos ocidentais. 
Ao longo de seu desenvolvimento, os antropólogos passaram a analisar grupos sociais relativamente próximos, 
buscando transformar o exótico, o distante, em familiar. 
Em sua história, a Antropologia revelou estudos notáveis sobre sociedades indígenas e sociedades camponesas, 
identificando suas diferentes visões de mundo, sistemas de parentesco, formas de classificação, cosmologias, 
linguagens etc. 
Também desenvolveu uma série de estudos sobre grupos sociais urbanos, enfatizando a diferenciação entre seus 
indivíduos, com base em critérios de raça, cor, etnia, gênero, orientação sexual, nacionalidade, regionalidade, 
afiliação religiosa, ideologia política, sistemas de crenças e valores, estilos de vida etc. 
 
2 
 
Qual a importância do estudo socioantropológico na compreensão da realidade? 
Ao contrário de outras ciências, as Ciências Sociais lidam não apenas com o que se chama de realidade, com fatos 
exteriores aos homens, mas igualmente com as interpretações que são feitas sobre a realidade. 
Por estudar a ação dos homens em sociedade, de seus símbolos, sua linguagem, seus valores e cultura, das 
aspirações que os animam e das alterações que sofrem, as Ciências Sociais constituem ferramenta importante para 
o desenvolvimento da compreensão crítico-reflexiva da realidade. 
Por essa razão, cada vez mais as Ciências Sociais são utilizadas em diversos campos da atividade humana. 
Campanhas publicitárias, campanhas eleitorais, elaboração de políticas públicas, até mesmo a programação de 
redes de rádio e televisão levam cada vez mais em conta resultados de investigações socioantropológicas, à medida 
que estas buscam entender as pessoas envolvidas em cada uma dessas atividades, suas crenças, valores e ideias. 
Com as mudanças cada vez mais rápidas e profundas dos padrões morais e culturais das sociedades 
contemporâneas, mais relevantes se tornam as análises que visam compreendê-las. 
Deslocamentos de pessoas e grupos motivados pelo processo de globalização da economia, que intensificou os 
fluxos migratórios em todo o planeta, trocas culturais proporcionadas pelo estabelecimento de uma “sociedade em 
rede”, novos modelos de família e conjugalidade, novas configurações no campo religioso, entre outros, 
constituem temas de trabalhos de cientistas sociais contemporâneos. 
Esses trabalhos são utilizados frequentemente como fonte de reflexão por governos, sociedade civil e indivíduos 
que buscam desenvolver sua capacidade de compreensão dos acontecimentos e planejamento de ações com vistas 
à atuação na vida social. 
O PAPEL DO INDIVÍDUO NA SOCIEDADE 
Como nos ensina Albert Einstein (em seu artigo “Porquê o Socialismo?”), o homem é, simultaneamente, um ser 
solitário e um ser social: 
Ser Solitário 
Enquanto ser solitário, tenta proteger a sua própria existência e a daqueles que lhe são próximos, satisfazer os seus 
desejos pessoais e desenvolver as suas capacidades inatas. 
Ser Social 
Enquanto ser social, procura ganhar o reconhecimento e afeição dos seus semelhantes, partilhar os seus prazeres, 
confortá-los nas suas tristezas e melhorar as suas condições de vida. 
 
O conceito abstrato de “sociedade” significa para o ser humano individual o conjunto das suas relações diretas e 
indiretas com os seus contemporâneos e com todas as pessoas de gerações anteriores. 
O indivíduo é capaz de pensar, sentir, lutar e trabalhar sozinho, mas depende tanto da sociedade – na sua 
existência física, intelectual e emocional – que é impossível pensar nele, ou compreendê-lo, fora da estrutura da 
sociedade. 
É a “sociedade” que lhe fornece comida, roupa, casa, instrumentos de trabalho, língua, formas de pensamento, e a 
maior parte do conteúdo do pensamento; a sua vida foi tornada possível através do trabalho e da concretização 
dos muitos milhões passados e presentes que estão todos escondidos atrás da pequena palavra “sociedade”. 
Conclusão 
Fica evidente, portanto, que a dependência do indivíduo em relação a sociedade é um fato da natureza que não 
pode ser abolido – tal como no caso das abelhas e das formigas. No entanto, enquanto todo o processo de vida das 
3 
 
abelhas e das formigas é reduzido ao menor pormenor por instintos hereditários rígidos, o padrão social e as inter-
relações dos seres humanos são muito variáveis e suscetíveis as mudanças. 
A memória, a capacidade de fazer novas combinações, o dom da comunicação oral tornaram possíveis os 
desenvolvimentos entre os seres humanos que não são ditados por necessidades biológicas. Esses 
desenvolvimentos manifestam-se nas tradições, instituições e organizações; na literatura; nas obras científicas e de 
engenharia, nas obras de arte. 
Isto explica a forma como, num determinado sentido, o homem pode influenciar sua vida através da sua própria 
conduta, e como neste processo o pensamento e a vontade consciente desempenham seu papel. 
 
Nesta aula, você: 
 Aprendeu quais são os ramos constitutivos das Ciências Sociais; 
 Atentou para a relação entre indivíduo e sociedade; 
 Deu-se conta da importância do conhecimento sociológico para a compreensão da realidade social. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
Aula 2: Objeto e Método das Ciências Sociais 
 
Em “Lição de Anatomia”, Rembrandt retrata uma aula na qual um cientista, junto ao corpo morto de um homem, 
ensina aos seus alunos a composição e a forma de um corpo humano. Tal atividade insere-se no campo do que se 
convencionou chamar de “ciências naturais”. 
Entretanto, a observação do quadro pode ir além disso: visões e interpretações sobre o corpo humano e sobre a 
morte, o processo de transmissão de conhecimento, todos fazem parte de reflexões desenvolvidas pelas chamadas“ciências humanas e sociais”. 
Nesta aula, iremos comparar os objetos e métodos desses dois campos de saberes, e demonstrar a abordagem 
específica das ciências sociais. 
Ciências Naturais 
As Ciências Naturais estudam fatos simples, eventos que presumivelmente têm causas simples e são facilmente 
isoláveis, recorrentes e sincrônicos. Tais fatos podem ser vistos, isolados e reproduzidos dentro de condições de 
controle razoáveis, num laboratório. Assim, nas Ciências Naturais há uma distância irremediável entre o cientista e 
seu objeto de pesquisa, o que torna o método objetivo o mais apropriado para a investigação de fenômenos dessa 
ordem. 
 
No âmbito das Ciências Sociais torna-se difícil desenvolver uma teoria capaz de transmitir com PRECISÃO uma 
causa única ou motivação exclusiva. 
Ao contrário de outras ciências, as Ciências Sociais lidam não apenas com o que se chama de realidade, com fatos 
exteriores aos homens, mas igualmente com as interpretações que são feitas sobre a realidade. 
As Ciências Sociais estudam fenômenos complexos. Seu objeto de investigação é o homem nas relações 
intersubjetivas, os fenômenos sociais, ou seja, eventos com determinações complicadas e que podem ocorrer em 
ambientes diferenciados, fazendo com que toda análise de fenômenos dessa natureza seja parcial, subjetiva. 
 
É possível reproduzir determinados acontecimentos? Podemos reproduzir a época do descobrimento? 
Bem, podemos ter os mesmos personagens, comidas vestes, música, assim como na cena de um filme. 
Mas, mesmo o filme sendo muito bem produzido, não será possível reproduzir o clima daquele momento, a 
atmosfera da época. 
Neste sentido: 
• Atitudes semelhantes têm significados diferentes. 
• Cada cultura constrói seu significado social. 
• Os fatos estudados pelo cientista social podem ser pretéritos ou serem reproduzidos em situações muito 
distintas. Mas não podem ser reproduzidos em condições controladas. 
 
 
 
 
5 
 
Resumindo... 
Nas ciências naturais 
Os fenômenos podem ser percebidos, divididos, classificados e explicados dentro de condições de relativo controle 
e em condições de laboratório. Alcança-se a objetividade científica. As descobertas possibilitam o desenvolvimento 
de novas tecnologias. 
Nas ciências humanas e sociais 
Os fenômenos são complexos. As percepções são variadas, porquanto históricas. O resultado prático é visto em 
livros, romances, arte, teatro, novelas, onde tais ideias podem ser aplicadas para produzir modificações no 
comportamento das pessoas – nos sistemas de valores. Os fatos sociais são irreproduzíveis em condições 
controladas e, por isso, quase sempre fazem parte do passado. São eventos a rigor históricos e apresentados de 
modo descritivo e narrativo, nunca na forma de uma experiência. 
 
COMO ESTUDAR FENÔMENOS SOCIAIS? 
Ao observar os fenômenos sociais, somos levados a enfrentar nossa própria posição, nossos valores, nossa visão de 
mundo que interfere na nossa pesquisa. Nossa fala, nossos gestos, nosso modo de ser e de agir revelam o tipo de 
socialização que tivemos e influencia em nossa visão de mundo. 
“Nasce, daí, um debate inovador, numa relação dialética entre investigador e investigado.” (DA MATTA, Roberto in 
Relativizando: uma introdução à antropologia social) 
Dessa forma, trabalhamos com fenômenos que estão bem perto de nós, temos a interação complexa entre o 
investigador e o investigado, pois ambos compartilham de um mesmo universo de experiências humanas. 
“ Cada sociedade humana conhecida é um espelho onde a nossa própria existência se reflete.” ( DA MATTA) 
Podemos assimilar um costume diferente do nosso, ou até mesmo perceber o melhor de nossas tradições quando 
estamos em contato com outras culturas. 
Neste âmbito, percebemos que podemos adotar costumes de outros povos, aprender seus credos, aprender novas 
leis. 
Nas Ciências Sociais temos a interação complexa entre o investigador e o investigado. Ambos compartilham de um 
mesmo universo de experiências humanas. 
 
 A charge ao lado apresenta, ironicamente, uma situação social 
comum nos centros urbanos. Analise-a de acordo com o método 
adequado à compreensão dos fenômenos sociais. 
Como bibliografia complementar, indicamos a leitura de: DA MATTA, 
Roberto. Relativizando: Uma introdução à antropologia Social. RJ. 
Rocco. 1993 p.p 17 a 27. 
 
Nesta aula, você: 
 Aprendeu quais são os objetos e métodos das ciências naturais e das ciências sociais; 
 Atentou para a especificidade da investigação de fenômenos sociais; 
 Aplicou os conhecimentos adquiridos na resolução de questões relacionadas ao tema da aula. 
6 
 
Aula 3: A Análise Antropológica da Cultura 
Fulano não tem cultura! Sicrano é muito culto! O governo não investe em cultura! 
A palavra cultura é de conhecimento geral. Mas seu significado varia de acordo com quem a utiliza. 
Entender os “usos e abusos” do conceito de cultura, objeto de estudo privilegiado da Antropologia, e suas 
implicações na vida social, é o objetivo desta aula. 
O que é cultura? 
O conceito de cultura é uma preocupação intensa atualmente em diversas áreas do pensamento humano, no 
entanto a Antropologia é a área por excelência de debate sobre esta questão. 
O primeiro antropólogo a sistematizar o conceito de cultura foi Edward Tylor que, em Primitive Culture, formulou 
a seguinte definição: “Cultura é todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e 
quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na condição de membro da sociedade.” 
Diversidade cultural 
Desde sempre os homens se preocuparam em entender por que os homens possuíam hábitos alimentares, formas 
de vestir, de formarem famílias, de acessarem o sagrado de maneiras diferentes das suas. A essa multiplicidade 
de formas de vida dá-se o nome de “diversidade cultural”. 
Foi a partir da descoberta do “Novo Mundo”, nos séculos XV e XVI, que os europeus se depararam com modos de 
vida completamente distintos dos seus, e passaram a elaborar mais intensamente interpretações sobre esses povos 
e seus costumes. 
É fundamental termos em mente que o impacto e a estranheza se deram dos dois lados. Os grupos não europeus 
também se espantavam com o ser diferente que chegava até eles desembarcando em suas praias e tomando posse 
de seu território. 
Infelizmente não temos muitos relatos dos povos não europeus para conhecermos a visão que eles tinham dos 
brancos. Existem relatos esparsos, como o de povos que, após a morte de um europeu em combate, colocavam 
seu corpo dentro de um rio e esperavam sua decomposição para ver se eram pessoas como eles. 
O olhar eurocêntrico sobre a cultura 
Mas de onde surge a preocupação com o tema da cultura? Vamos posicionar nosso olhar. Toda construção 
científica nasce na Europa. A reflexão teórico-científica sobre a humanidade se iniciou neste ambiente e nesta 
perspectiva. Logo, a noção de ser humano de referência para todas as Ciências Humanas e Sociais é a do homem 
europeu e da sociedade europeia. 
No entanto, a partir dos esforços de conquista de outros continentes, os europeus “encontraram-se” com “seres” 
diferentes o suficiente para causarem estranhamento, mas “parecidos” o suficiente para produzirem o seguinte 
incômodo: serão estes seres “humanos”? 
A relação com agrupamentos humanos de localidades até então desconhecidas como as que hoje denominamos 
África, América, Austrália, fizeram com que os europeus se questionassem sobre as características peculiares ao 
humano e as razões de tanta diferença entre os componentes de uma mesma espécie. 
7 
 
O movimento pré-científico, que domina o campo da diversidade cultural até o século XVIII, é aquele que oscilava 
entre conceber o“diferente” ora como humano, ora como não humano, provido ou desprovido de alma, bom ou 
mau selvagem, etc. 
Na ótica dos europeus, estes “maus selvagens” eram vistos como perigosos, mais próximos aos animais, brutos, 
imbuídos de uma sexualidade descontrolada, primitivos, com uma inteligência restrita, iludidos pela magia, 
enfim, seres limitados que precisavam ser “civilizados” pela cultura europeia. 
Você sabe o que significa o termo “antropologia de gabinete” 
Entramos no século XIX. Os antropólogos estudam culturas “exóticas” buscando descrever seus hábitos, costumes 
e sua forma de ver o mundo (cosmovisão). No entanto, eles não iam ao campo; não eram os antropólogos que 
experimentavam diretamente o dia a dia dos grupos “selvagens”. 
Eram enviados viajantes, pessoas comuns que eram deslocadas para essas “tribos” e ali ficavam por um certo 
tempo, registrando tudo que viam e ouviam, a fim de entregar este material aos antropólogos que aí sim 
analisavam estes relatos, desenvolvendo suas teorias sobre as diferentes culturas. Esta é a denominada 
“antropologia de gabinete”. 
A prática etnográfica 
Segundo François Laplantine, em Aprender Antropologia, a prática etnográfica consiste em “impregnar-se dos 
temas de uma sociedade, de seus ideais, de suas angústias. O etnógrafo é aquele que deve ser capaz de viver nele 
mesmo a tendência principal da cultura que estuda”. 
Na segunda metade do século XIX a “antropologia de gabinete” é questionada. Afinal, como falar sobre uma 
cultura que nunca se viu? Como descrever eventos que nunca se vivenciou? 
Assim, cunha-se a prática etnográfica, que é a metodologia característica da antropologia até os dias de hoje: o 
próprio antropólogo vai ao campo, entra no grupo, vivencia esta cultura diferente, deixa-se fazer parte deste dia 
a dia, registra esta vivência, retorna para sua própria cultura e finaliza seu trabalho de escrita que é o registro 
final desta experiência. 
No entanto, não é nada fácil vivenciar uma outra cultura diferente da nossa. Por quê? Não sentimos nossa cultura 
como uma construção específica de hábitos e costumes: pensamos que nossos hábitos e nossa forma de ver o 
mundo devem ser os mesmos para todos! 
Naturalizamos nossos costumes e achamos o do outro “diferente”. Diferente de quê? Qual é o padrão “normal” 
segundo o qual analisamos o “diferente”? 
Geralmente estabelecemos a nossa cultura como o padrão, a norma. Assim tudo que é diferente é concebido como 
estranho, e mesmo errado. Tal postura é o que denominamos etnocentrismo. 
Etnocentrismo 
Segundo Everardo Rocha, em O que é Etnocentrismo, trata-se da “visão do mundo onde o nosso próprio grupo é 
tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos 
modelos, nossas definições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de 
pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc. “. 
O autor nos alerta ainda para a questão do choque cultural. Como ele afirma, “de um lado conhecemos o "nosso" 
grupo, que come igual, veste igual, gosta de coisas parecidas, conhece problemas do mesmo tipo, acredita nos 
mesmos deuses, casa igual, mora no mesmo estilo, distribui o poder da mesma forma, empresta à vida significados 
8 
 
em comum e procede, por muitas maneiras, semelhantemente. Aí, então, de repente, nos deparamos com um 
"outro", o grupo do "diferente" que, às vezes, nem sequer faz coisas como as nossas ou quando as faz é de forma 
tal que não reconhecemos como possíveis. E, mais grave ainda, este “outro" também sobrevive à sua maneira, 
gosta dela, também está no mundo e, ainda que diferente, também existe. ”. 
Na sua opinião, o etnocentrismo é positivo ou negativo? E que benefícios a Antropologia pode trazer para esta 
visão? 
Roberto da Matta, no texto “Você tem cultura? ” demonstra que “antes de cogitar se “aceitamos” ou não esta 
outra forma de ver o mundo, a Antropologia nos convida a compreendê-la, e verificar que ao seu jeito uma outra 
vida é vivida, segundo outros modelos de pensamento e de costumes. O fato de que o homem vê o mundo através 
de sua cultura tem como consequência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o 
mais natural. 
O conceito de cultura, ou, a cultura como conceito, então, permite uma perspectiva mais consciente de nós 
mesmos. Precisamente diz que não há homens sem cultura e permite comparar culturas e configurações culturais 
como entidades iguais, deixando de estabelecer hierarquias em que inevitavelmente existiriam sociedades 
superiores e inferiores”. 
Relativismo Cultural 
É a postura, privilegiada pela Antropologia contemporânea de buscar compreender a lógica da vida do outro. 
Parte do pressuposto de cada cultura se expressa de forma diferente. Dessa forma, trata-se de pregar que a 
atividade humana individual deve ser interpretada em contexto, nos termos da cultura em que está inserida. 
Para finalizar, as palavras de uma das mais notáveis antropólogas conhecidas, a americana Margaret Mead, que no 
prefácio de sexo e comportamento afirmou: “toda diferença é preciosa e precisa ser tratada com carinho. ” 
 
Nesta aula, você: 
 Aprendeu a visão antropológica da cultura e o fenômeno da diversidade cultural; 
 Atentou para o fenômeno do etnocentrismo, que nos dificulta a compreensão de sistemas culturais 
diferentes dos nossos; 
 Deu-se conta da importância da postura relativista para o entendimento das diferentes expressões 
culturais. 
 Aprendeu que a diversidade étnico-cultural foi fundamental para a construção da identidade nacional 
brasileira, marcada pela interseção de diferentes tradições culturais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
Aula 4: A formação do pensamento político moderno e as questões básicas da 
Ciência Política 
Por mais que muitos de nós nos definamos como “apolíticos”, o homem é, como definiu Aristóteles, um animal político. Nesta 
aula, seremos apresentados aos pensadores políticos clássicos e aprenderemos as principais formas e sistemas de governo 
conhecidos. 
Conheceremos, também, a contribuição de dois pensadores clássicos, Max Weber e Karl Marx, em relação à questão da 
dominação e do papel do Estado na sociedade de classes. 
 
A formação do pensamento político moderno: Estado de Natureza, Contrato 
Social e Estado Civil na filosofia de Hobbes, Locke e Rousseau 
Segundo Marilena Chaui, em filosofia( São Paulo: Ática, 2000), o conceito de estado de natureza tem a função de 
explicar a situação pré-social, na qual os indivíduos existem isoladamente. Duas foram as principais concepções do 
estado de natureza: 
A concepção de Hobbes (no século XVII), segundo a qual, em estado de natureza, os indivíduos vivem isolados e 
em luta permanente, vigorando a guerra de todos contra todos ou “o homem lobo do homem”. Neste estado, 
reina o medo, e principalmente, o grande medo: o da morte violenta. Para se protegerem uns dos outros, os 
humanos inventaram as armas e cercaram as terras que ocupavam. Essas duas atitudes são inúteis, pois sempre 
haverá alguém mais forte que vencerá o mais fraco e ocupará as terras cercadas. A vida não tem garantias; a 
posse não tem reconhecimento e, portanto, não existe, a única lei que existe é a do mais forte, que pode tudo 
quanto tenha força para conquistar e conservar. 
O estado de natureza de Hobbes e o estado de sociedade de Rousseau evidenciam uma percepção do social como 
luta entre fracos e fortes, vigorando a lei da selva ou o poder da força. Para fazer cessar esse estado de vida 
ameaçador e ameaçado, os humanos decidem passar a sociedade civil, isto é, ao Estado Civil, criando o poder 
político e as leis. A passagem do estado de naturezaà sociedade civil se dá por meio de um contrato social, pelo 
qual os indivíduos renunciam a liberdade natural de bens, riquezas e de armas e concordam em transferir a um 
terceiro – o soberano – o poder para criar e aplicar as leis, tornando-se autoridade política. O contrato social 
funda a soberania. 
 
JOHN LOCKE E A TEORIA LIBERAL 
Para esse autor, o Estado existe a partir do contrato social. Tem as funções que Hobbes lhe atribui, mais sua 
principal finalidade é garantir o direito natural da propriedade. 
Dessa maneira, a burguesia se vê inteiramente legitimada perante a realeza e a nobreza e, mais do que isso, surge 
como superior a elas, uma vez que o burguês acredita que é proprietário graças a seu próprio trabalho, enquanto 
reis e nobres são parasitas da sociedade. 
O burguês não se reconhece apenas como superior social e moralmente aos nobres, mas também como superior 
aos pobres. De fato, se Deus fez todos os homens iguais, se a todos deu a missão de trabalhar e a todos concedeu 
o direito da propriedade privada, então, os pobres, isto é, os trabalhadores que não conseguem se tornar 
proprietários privados, são culpados por sua condição inferior. São pobres, não são proprietários e são obrigados a 
trabalhar para outros, seja porque são perdulários, gastando o salário em vez de acumula-lo para adquirir 
propriedades, seja porque são preguiçosos e não trabalham o suficiente para conseguir uma propriedade. 
 
Formas de dominação legítima em Max Weber 
A dominação deve ser entendida, segundo Weber, como uma probabilidade de mando e de legitimidade deste. A 
crença é a condição fundamental para que a relação entre aquele que manda (domina) e aquele que obedece 
(dominado) se realize. Portanto, não é toda e qualquer relação de poder que é legitimada, é preciso que aquele 
que obedece acredite voluntariamente naquele que tem poder de mando. 
10 
 
O poder é sempre uma probabilidade, pois depende de outro para ser exercido. Weber fornece o exemplo da 
relação de poder entre senhor e escravo que é carente de uma relação voluntária, não havendo, portanto, 
legitimidade e sim obrigação; a consequência é que na primeira oportunidade os indivíduos fogem desta relação, 
abandonam seus senhores. 
Weber define os três tipos puros de dominação como: 
Dominação racional-legal 
É exercida dentro de um quadro administrativo composto por regras e leis escritas que devem ser seguidas por 
todos, não havendo privilégios pessoais. Ela é apoiada na crença de uma “legitimidade de ordens estatuídas e nos 
direitos de mando dos chamados a exercer autoridade legal”. Esta é baseada em relações impessoais e os 
funcionários são incorporados ao quadro administrativo, através de um contrato, não por suas características 
pessoais, mas por sua competência técnica. Eles são livres, sendo que suas obrigações se limitam aos deveres e 
objetivos de seus cargos que estão dispostos dentro de uma hierarquia administrativa e suas competências são 
rigorosamente fixadas. Realizam seu trabalho e em troca recebem salário fixo e regular que varia conforme a 
responsabilidade do cargo, que é exercido em forma exclusiva ou como principal ocupação. Há possibilidade de 
fazer carreira, podendo subir na hierarquia da profissão, através do tempo de serviço ou por competência, ou 
ambos. Importante ressaltar que os funcionários trabalham em seus cargos sem a apropriação dos mesmos. A 
dominação burocrática é puramente técnica, com o objetivo de atingir o mais alto grau de eficiência e nesse 
sentido é, formalmente, o mais racional conhecido meio de exercer a dominação sobre os seres humanos. 
Dominação tradicional 
Esta repousa na crença das tradições, costumes que existem desde outros tempos. É a legitimidade na crença dos 
indivíduos nas ordens e poderes senhorais tradicionais. A autoridade é exercida e legitimada pela tradição e por 
normas escritas. O quadro administrativo, neste caso, pode ser recrutado não pela competência técnica, mas por 
vínculos pessoais e laços de fidelidade. As tarefas não são claramente definidas, como na dominação racional, e os 
privilégios e deveres encontram-se sujeitos a modificações de acordo com a vontade do governante. Há outros 
tipos de dominação tradicional que são: o patriarcalismo, onde o poder é exercido segundo regras fixas de 
sucessão; e o patrimonialismo ou gerontocracia, que é a autoridade exercida pelos mais velhos, em idade, sendo 
os melhores conhecedores da tradição sagrada. Em um corpo administrativo encontramos o patrimonialismo 
quando os funcionários ligam-se ao chefe por laços de fidelidade pessoais. 
Dominação carismática 
Pode ser caracterizada pelo seu caráter de tipo extraordinário e irracional. Weber define carisma como uma 
qualidade pessoal considerada extraordinária, atribuída a um indivíduo que possui poderes ou qualidades 
sobrenaturais. Esses indivíduos são enviados por Deus para o cumprimento de uma missão. Portanto, este 
indivíduo é reconhecido como líder por seus seguidores e, assim, a autoridade carismática é legitimada. Os 
carismáticos, geralmente, são profetas religiosos, políticos, demagogos, e apresentam, nas maiorias das vezes, 
provas de seu poder, fazendo milagres ou revelações divinas. Entretanto, Weber aponta para possibilidade de uma 
existência permanente de um líder carismático. Tal fenômeno foi chamado de rotinização do carisma. Para que 
isso ocorra são necessárias mudanças profundas, pois implicam a transformação da autoridade carismática em 
tradicional ou legal. Sendo assim as atividades de corpo administrativo passam a ser exercidas de forma regular, 
seja através da constituição de normas tradicionais, seja por promulgação de regras legais. Haverá um problema a 
ser resolvido, que é o da sucessão daquele que não será eleito, geralmente o líder carismático escolhe entre 
aqueles de sua confiança ou então por hereditariedade. 
 
A construção dos tipos ideais de autoridade é primordial para a compreensão do desenvolvimento das instituições, 
nas quais a burocracia é a mais importante, por ser a mais característica da sociedade moderna ocidental que tem 
em sua essência o pensamento racional. 
Esses três tipos de dominação não são encontrados isoladamente na realidade, eles coexistem. A sociedade 
brasileira é um exemplo dessa coexistência, pois as relações (lugar, em princípio exemplar da relação impessoal) 
são, ao contrário, pessoais e permeadas de privilégios. A seleção nem sempre atende aos critérios meritocráticos, 
competência comprovada para o cargo. Em muitos casos as relações pessoas valem muito mais do que um 
diploma. 
 
11 
 
Segundo Marx e Engels, em A ideologia Alemã – Feuerbach (São Paulo: Hucitec, 1987), o Estado é a forma na qual 
os indivíduos de uma classe dominante fazem valer seus interesses comuns e na qual se resume toda a sociedade 
civil de uma época. 
Segue-se que toda as instituições comuns são mediadas pelo Estado e adquirem através dele uma forma política. 
Daí a ilusão de que a lei se baseia na vontade e, mais ainda, na vontade destacada de sua base real – na vontade 
livre. Da mesma forma, o direito é reduzido novamente à lei. 
“ O direito privado desenvolve-se simultaneamente com a propriedade privada, a partir da desintegração da 
comunidade natural (...). Quando, mais tarde, a burguesia adquiriu poder suficiente para que os príncipes 
protegessem seus interesses com o fim de derrubar a nobreza feudal por meio da burguesia, o desenvolvimento 
propriamente dito do direito começou em todos os países – na França, no século XVI - e, em todos eles, à exceção 
da Inglaterra, tiveram que ser introduzidos princípios do direito romano para o posterior desenvolvimento do 
direito privado (em particular, no caso da propriedade mobiliária) ”. 
Marx afirmaque o aparelho jurídico do Estado, nesse tipo de sociedade, tem como objetivo: 
 Organizar e justificar a dominação da burguesia sobre o proletariado 
 Favorecer os negócios da classe dominante 
Dessa forma, para Marx, não existe Estado representativo do conjunto da sociedade. Seu papel é o representante 
dos interesses da burguesia. 
 
Nesta aula, você: 
 Aprendeu as principais contribuições dos pensadores políticos modernos; 
 Atentou para a importância da dominação legítima no exercício do poder; 
 Deu-se conta do papel de mantenedor dos privilégios da classe dominante exercido pelo Estado na concepção 
marxista. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
Aula 5: Contexto histórico da formação da Sociologia e da Antropologia 
 
A formação do pensamento sociológico e antropológico deu-se a partir da segunda metade do século XIX, em decorrência de 
uma série de transformações econômicas, sociais e políticas por que passou a Europa nesse período. 
Apresentar e analisar as primeiras formulações dessas ciências, bem como demonstrar a influência dessas concepções na 
sociedade brasileira é o que se pretende nesta aula. 
 
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E NEOCOLONIALISMO 
 
O século XIX foi marcado pela Revolução Industrial e pelo neocolonialismo, cujas consequências se projetaram 
para os séculos XX e XXI. No plano político e econômico o termo revolução é usado para expressar um movimento 
de transformação que, na visão dos seus protagonistas, traz transformações significativas, positivas e benéficas 
para a sociedade. De fato, as revoluções trazem grandes transformações e com a Revolução Industrial não poderia 
ser diferente. Tais transformações já se fizeram presentes na transição do feudalismo para o capitalismo. 
O desenvolvimento industrial se fez acompanhar pelo desenvolvimento científico, que por sua vez impulsionou 
ainda mais a indústria em função de descobertas invenções. Nos centros urbanos europeus respirava-se 
desenvolvimento e acreditava-se que a tecnologia e a máquina resolveriam todos os problemas do homem. A 
indústria cresceu e com esse crescimento vieram as crises de produção porque a superprodução não era 
acompanhada pelo consumo. A solução para a crise de consumo foi encontrada no neocolonialismo, ou 
imperialismo do século XIX. 
Diferente do colonialismo dos séculos XV e XVI, o neocolonialismo representou nova etapa do capitalismo, do 
momento em que as nações europeias saíram em busca de matérias-primas para sustentar as indústrias, de 
mercados consumidores para os produtos europeus e de mão de obra barata. Esse colonialismo se direcionou para 
a África e a Ásia, que foi partilhada entre as nações europeias. 
A América escapou desse colonialismo porque se tornara independente pouco antes. Porém, se não foi dominada 
politicamente pela Europa e pelos EUA, o foi economicamente, pois dependia dos banqueiros e do capital 
industrial europeu. Naquela época, por exemplo, grupos franceses e ingleses iniciaram a exploração da borracha 
na região amazônica, porque era mais barato produzir aqui e exportar para a Europa e para os EUA: afinal, aqui se 
encontrava matéria-prima, a mão de obra barata e o favorecimento governamental. 
A África e a Ásia foram o cenário onde atuou uma infinidade de cientistas e religiosos que assumiram o fardo do 
homem branco. Na Índia, por exemplo, qualquer membro da raça branca era tido como membro da classe dos 
amos e senhores, respeitado e reverenciado, Situações semelhantes fizeram o fundador da República do Quênia, 
na segunda metade do século XX, referir-se assim à dominação imperialista: “Quando os brancos chegaram, nós 
tínhamos as terras e eles as Bíblia; depois eles nos ensinaram a rezar; quando abrimos os olhos, nós tínhamos a 
Bíblia e eles as terras. ” 
Todas as tentativas de reação por parte das nações dominadas pelos impérios europeus foram enfrentadas com o 
uso das armas por parte das nações europeias. Nem a China ficou fora da corrida imperialista: foi dominada 
economicamente e teve territórios ocupados pelos japoneses. 
 
O CIENTIFICISMO E O DARWINISMO SOCIAL 
O cientificismo esteve presente em tudo. Foi também nessa época que se desenvolveu a teoria de Charles Darwin 
sobre a evolução e adaptação das espécies. O ator coloco em xeque as ideias da imutabilidade das espécies. 
Assim, a formação dos sistemas vivos começou a ser entendida não como criação simultânea, mas como 
decorrência de etapas sucessivas. Na sua obra A origem das espécies, publicada em 1859, em consonância com o 
espírito da época, Darwin defendeu a noção de variação gradual dos seres vivos graças ao acúmulo de 
modificações pequenas, sucessivas e favoráveis, e não por modificações extraordinárias, surgidas repentinamente. 
Nessa obra Darwin apresentou o núcleo da sua concepção evolutiva: a seleção natural, o a persistência do mais 
capaz; com o passar dos séculos, a seleção natural eliminaria as espécies antigas e produziria novas espécies. 
13 
 
Logo, as teses de Darwin estavam sendo discutidas em todo o meio científico e o próprio liberalismo econômico 
adotou o pressuposto da competição. Ao defender a propriedade privada, o liberalismo postula que todo homem 
compete em igualdade no acesso à propriedade privada. Aquele que não a conquista, não o faz porque é vicioso 
ou preguiçoso. É claro que essa tese, presente em nossas mentes até hoje, interessava e interessa à manutenção 
do domínio da classe burguesa. 
Se o liberalismo apropriou-se do conceito de competição, de Charles Darwin, não foi o único. Logo surgiu o 
Darwinismo Social. 
Segundo o Darwinismo Social, as sociedades se modificam e se desenvolvem como os seres vivos. As 
transformações nas sociedades representam a passagem de um estágio inferior para o superior, onde o organismo 
social se mostra mais evoluído, adaptado e complexo. Se na natureza a competição gera a sobrevivência do mais 
forte, também as sociedades favorecem a sobrevivência de sociedades e indivíduos mais fortes e evoluídos. 
As expressões: “luta pela existência” e “sobrevivência do mais capaz”, tomadas de Darwin, apoiaram o 
individualismo liberal e justificaram o lugar ocupado pelos bem-sucedidos nos negócios. Por outro lado, as 
sociedades foram divididas em raças superiores e inferiores, cabendo aos mais fortes dominar os mais fracos e, 
consequentemente, aos mais desenvolvidos levar o desenvolvimento aos não desenvolvidos. A civilização deveria 
ser levada a todos os homens. É claro que o Darwinismo Social serviu para justificar a ação imperialista das nações 
europeias. 
 
O DARWINISMO SOCIAL LEVADO ÀS ÚLTIMAS CONSEQUÊNCIAS 
 
Foi nesse cenário de constantes conflitos sociais, políticos, econômicos e religiosos, 
cenário marcado pela industrialização e pelo cientificismo, que a Antropologia e a 
Sociologia produziram suas primeiras explicações. 
 
 
 
 
 
O EVOLUCIONISMO SOCIAL 
Os evolucionistas formaram a primeira escola antropológica, temos como paradigma principal a sistematização do 
conhecimento acumulado sobre os “povos primitivos” e o predomínio do trabalho de gabinete. 
A análise desses antropólogos era feita a partir dos relatos de viajantes e colonizadores que lhes chegavam às 
mãos. 
Defendiam a ideia d que a história da Humanidade se dava através de um processo evolutivo que ia da selvageria à 
civilização, passando pela barbárie. Utilizavam o chamado método corporativo, em que tomavam como parâmetro 
a sociedade europeia do século XIX para descrever e classificar formas culturais de outros povos, em uma postura 
que, como vimos na aula 3, se mostrava extremamente etnocêntrica, tratando os povos não europeus como 
primitivos, exóticos e incivilizados. 
O positivismoFoi uma diretriz filosófica criada por Augusto Comte na segunda metade do século XIX. O tema central de sua obra 
é a lei dos Três Estados, em que ele divide a evolução histórica e cultural da humanidade em três fases, de acordo 
com seu desenvolvimento; a classificação e a hierarquização das ciências, da mais simples até a mais complexa, já 
que para ele a ordem é necessária ao processo; e a reforma da sociedade, com mudanças intelectuais, morais e 
políticas destinadas principalmente a restabelecer a ordem na sociedade capitalista industrial. 
A hostilidade dirigida ao pensamento tradicional foi especialmente forte em Comte, que negava a possibilidade do 
conhecimento metafísico, que ele considerava ser estagnante e uma forma de pesquisa desnecessária. Ele exigia 
14 
 
uma “sociocracia” dirigida por cientistas para a unificação, conformidade e progresso de toda a humanidade. 
Logo, o positivismo redefiniu o propósito da filosofia, limitando-a à análise e definição da linguagem científica. 
Comte devotou-se à Sociologia, uma palavra que ele elaborou para descrever a ciência da sociedade. 
Eles acreditavam que sua principal contribuição era a teoria de que a humanidade passou por três estágio de 
desenvolvimento intelectual: 
 O teológico – neste estágio, o universo era explicado em termo de deuses, demônios e seres mitológicos. 
 O metafísico – neste a realidade era explicada em termo de abstrações como a essência, existência, 
substancia e acidente. 
 O positivo - neste estágio final, explicações só poderiam ser explicadas em leis científicas descobertas 
através da experimentação, observação ou lógica. Matemática, astronomia, física, química e biologia, 
classificadas por ele na base crescente de complexidade, já eram científicas. 
Os traços mais marcantes do positivismo são, certamente, a excessiva valorização das ciências e dos métodos 
científicos, a exaltação do homem e suas capacidades e o otimismo em relação ao desenvolvimento e progresso da 
humanidade. 
Para reformar a sociedade, Comte propôs: 
1. Reconhecer a existência de princípios reguladores 
2. Estudar os processos e estrutura social 
3. Reconhecer a existência de dois movimentos: estático (fator de permanência e harmonia) e dinâmico 
(fator progressivo). 
Desta forma a análise comtiana propõe: 
 A negação da luta de classes – harmonia entre as classes sociais. 
 A necessidade de um Estado forte, centralizador, mantenedor da ordem. 
Essa corrente filosófica foi muito influente no pensamento da época. Prova disso é o lema da bandeira brasileira – 
“ordem e progresso” -, um dos principais preceitos do positivismo, que afirma que, para que haja progresso, é 
preciso que a sociedade esteja organizada. 
 
Nesta aula, você: 
 Aprendeu o contexto histórico do surgimento das primeiras análises antropológicas e sociológicas; 
 Atentou para a importância e para a influência do pensamento positivista no Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15

Continue navegando