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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA - PPGEQ TERMODINÂMICA DE SOLUÇÕES (ENQ702) Prof. Marcos L. Corazza Curitiba, Pr. Nota 1: O material a seguir apresentado refere-se a partes retiradas de uma apostila do Professor Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP (“Termodinâmica do Equilíbrio de Fases”), conforme indicações no rodapé das páginas. Na referida apostila o autor apresenta a seguinte nota de prefácio: Este trabalho foi escrito originalmente como notas de aula para o curso de Termodinâmica, no Mestrado em Engenharia Química do PEQ/COPPE/UFRJ, durante o primeiro semestre de 1995. Sem pretender ser uma contribuição original, este trabalho é, na maior parte, uma tradução informal de alguns capítulos do livro “Molecular Thermodynamics of Fluid-Phase Equilibria”, (J.M. Prausnitz, R.N. Lichtentaler e E.G. Azevedo, Prentice Hall, 1986), com algumas partes tiradas da tese de doutorado “Equilíbrio Líquido-Vapor de Sistemas com Eletrólitos via Contribuição de Grupo”, (M. Aznar, PEQ/COPPE/UFRJ, maio, 1996). 3 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP Capítulo 1: Introdução e Revisão de Conceitos Básicos O problema do equilíbrio de fases: Vivemos num mundo cheio de misturas de diferentes substâncias: ar, comida, gasolina, etc. Nas atividades diárias de nossa vida, efetuamos uma série de ações que incluem a transferência de substâncias de uma mistura a outra: quando respiramos, o oxigênio do ar dissolve no sangue, e o CO2 deixa o sangue e passa para o ar; no tradicional cafezinho, uma série de materiais solúveis em água são extraídos do pó de café. Em cada uma dessas experiências existe uma transferência de massa de uma fase à outra. Isto só acontece porque, quando duas fases são colocadas em contato, elas tendem a trocar seus componentes até que a composição de cada fase atinja um valor constante. Quando isto acontece, dizemos que foi atingido o estado de equilíbrio. A composição de equilíbrio de cada fase pode ser muito diferente, e é esta diferença que nos permite separar misturas por extração, destilação e outras operações de contato de fases. Estas composições de equilíbrio dependem de muitas variáveis, temperatura, pressão, natureza química e concentração inicial das substâncias na mistura. A termodinâmica do equilíbrio de fases procura estabelecer relações entre essas propriedades. Equilíbrio de fases é então um tópico de fundamental importância para várias ciências, tanto físicas quanto biológicas; para a engenharia química é de especial interesse, já que a maior parte das operações de manufatura de produtos químicos é de contato entre fases. Extração, destilação, absorção, adsorção, lixiviação, são essenciais para a indústria química, e estão baseadas, pelo menos em parte, no equilíbrio de fases. Na figura 1 podemos apreciar por que as operações de separação são tão importantes: Preparação Reação Purificação Produtos Produtos secundários Reagentes não desejados Reciclo de reagentes não consumidos Matéria prima 4 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP Se bem a parte central é a reação química, antes dela os reagentes devem ser preparados; freqüentemente é necessário separar os reagentes desejados daqueles que não são necessários ou que podem interferir na reação. Nos produtos, o produto principal deve ser separado dos secundários, e já que raramente uma reação é completa, os reagentes não consumidos devem ser separados também, para serem reciclados ao reator. Numa escala industrial, quase 50% dos investimentos numa planta química vão para as operações de separação. O tipo de problema que a termodinâmica do equilíbrio de fases tenta resolver é exemplificado na figura 2: P T 1 x x 1 x 2 x 2 , , ... ... e são duas fases homogêneas diferentes em equilíbrio, entendendo por fase homogênea em equilíbrio uma região do espaço onde as propriedades intensivas, isto é, aquelas que não dependem da massa, tamanho ou forma da fase, são uniformes. Efeitos tais como campos gravitacionais, elétricos ou magnéticos, assim como efeitos de superfície são desprezados. Propriedades intensivas importantes no equilíbrio de fases são pressão, temperatura, densidade e composição (geralmente expressa como fração molar). Dadas algumas destas propriedades, queremos predizer as restantes. Se, por exemplo, a temperatura T e as frações molares x1, x2... da fase são conhecidas, o objetivo é encontrar as frações molares x1, x2... da fase e a pressão P. Outras combinações de quantidades conhecidas e desconhecidas também são possíveis. O número de propriedades intensivas que devem ser conhecidas para poder encontrar as restantes, e que define o estado de equilíbrio de um sistema é dado pela regra das fases de Gibbs, que, na ausência de reação química, pode ser expressa como: Propriedades intensivas independentes = componentes - fases + 2 5 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP Por exemplo, para um sistema de dois componentes e duas fases, o número de variáveis necessárias é 2. Nesse sistema, as variáveis de interesse geralmente são x1, x1, P e T. Duas dessas variáveis, quaisquer duas, devem ser especificadas antes que as outras possam ser encontradas. Como a soma das frações molares deve ser igual à unidade, x2 e x2 não são variáveis independentes. Antes de partir para a resolução do problema do equilíbrio de fases, será apresentada uma breve revisão da termodinâmica clássica. Sistemas homogêneos fechados: Um sistema homogêneo fechado é aquele sistema homogêneo (cujas propriedades intensivas são uniformes) que não pode trocar matéria com as vizinhanças, podendo, no entanto, trocar energia, na forma de calor ou trabalho. Deste modo, o número de moles dentro do sistema será constante, ou dni = 0 (i = 1, ..., m). Representemos um sistema fechado como uma porção do espaço que pode trocar energia com as vizinhanças, considerando as vizinhanças como dois corpos separados: - um banho térmico a temperatura constante TB, com o qual o sistema está em contato térmico - um corpo externo a pressão constante PE. com o qual o sistema está em contato volumétrico através de um êmbolo-pistão termicamente isolado V P E T B Q W = PdV 6 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP Para esse sistema, podemos escrever a 1 e 2 leis da termodinâmica: dU Q W (1.1) "a mudança na energia interna é igual à diferença entre o calor fornecido ou retirado e o trabalho realizado por ou sobre o sistema" dS Q T (1.2) "a mudança na entropia é maior ou igual ao calor fornecido ou retirado do sistema dividido pela temperatura" A 1 lei é uma generalização da lei de conservação da energia, e introduz uma nova propriedade, a energia interna U. A energia interna é a forma na qual o sistema armazena energia, que lhe for fornecida ou retirada através das funções calor e trabalho. Calor e trabalho são formas de energia em trânsito, não armazenáveis, e que só fazem sentido nos limites do sistema e no momento da mudança. A energia interna, pelo contrário, é uma função de estado, quer dizer, depende apenas dos estados de equilíbrio inicial e final do sistema. Estado de equilíbrio é aquele no qual o sistema não apresenta uma tendência espontânea à mudança, e o passo do sistema de um estadode equilíbrio inicial a um outro final é chamado de processo, podendo ser reversível ou irreversível. Processo reversível é aquele no qual o sistema é mantido num estado de equilíbrio virtual durante todo o processo. Isto requer que a força motriz do processo (o potencial, ou a função potencial) seja infinitesimal, de modo que a direção do processo possa ser invertida a qualquer momento, por um aumento ou uma diminuição infinitesimal da função potencial. Processos irreversíveis são todos os processos reais que acontecem naturalmente, e que não são passíveis de uma inversão no seu sentido. O rio que desce pela montanha não costuma subir de volta. Podemos considerar o processo reversível como um limite ideal a ser aproximado, mas nunca atingido. O sinal de 7 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP desigualdade na 2 lei da termodinâmica refere-se, precisamente, aos processos irreversíveis. A 2 lei introduz também uma nova função de estado: a entropia S. A entropia aparece quando se analisa a troca de calor entre um sistema e as vizinhanças num processo reversível, de modo que Qrev=TdS. Quando o processo é irreversível Q TdS, e o sinal de desigualdade se aplica. Juntando a 1 e 2 leis, dU T dS P dVB E (1.3) Se o processo é reversível, TB=T e PE=P, a temperatura e a pressão do sistema, dU TdS PdV (1.4) onde TdS é o calor reversível Qrev, e PdV é o trabalho reversível Wrev. Se o processo é irreversível, dU T dS P dVB E (1.5) e PEP, TBT. No entanto, como a energia interna é função de estado, a equação (1.4) pode ser aplicada tanto aos processos reversíveis quanto aos irreversíveis, só que no último caso, os termos TdS e PdV não podem ser identificados com calor ou trabalho. Para obter a variação finita de uma propriedade termodinâmica durante um processo entre um estado de equilíbrio 1 e um estado de equilíbrio 2, uma equação como a (1.4) deve ser integrada sobre uma trajetória reversível, para poder usar as propriedades do sistema, que são uniformes nos estados de equilíbrio inicial e final. 8 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP U U U TdS PdV S S V V 2 1 1 2 1 2 (1.6) Já que U é uma função de estado, este resultado é independente da trajetória de integração, e é também independente do processo ser reversível ou irreversível; requer apenas que os estados inicial e final sejam estados de equilíbrio. Esta é a essência da termodinâmica reversível, onde se pode substituir uma trajetória irreversível real, usualmente de difícil descrição exata, por uma trajetória convenientemente reversível. A equação (1.4) representa também uma relação termodinâmica fundamental. Se U é considerada uma função de duas variáveis, S e V, e se essa função U é conhecida, então todas as outras propriedades termodinâmicas podem ser obtidas por manipulação matemática. Por exemplo, T U S V e P U S S e podemos chamar U, S, V de um grupo fundamental. Um outro aspecto importante é que U é uma função de potencial, quer dizer, é uma força motriz para um processo. Se rescrevemos a equação (1.3) com a restrição de volume e entropia constantes, dUS V, 0 (1.7) Segundo a equação (1.7), a S e V constantes, U tende a um mínimo num processo irreversível e permanece constante num processo reversível. Já que todos os processos tendem naturalmente a um estado de equilíbrio, pode-se dizer que uma aproximação ao equilíbrio a S e V constantes é acompanhado por uma diminuição em U. A equação (1.7) nos fornece, então, um critério de equilíbrio para um sistema fechado. Outras funções de potencial para sistemas fechados e outros grupos fundamentais podem ser obtidos usando diferentes pares das variáveis P, T, S e V como variáveis independentes na equação (1.4). O uso de transformadas de Legendre Sabrina Realce 9 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP permite usar outros três pares de variáveis e manter as propriedades de uma equação fundamental. Se pretendemos trocar os papéis das variáveis V e P na equação (1.4), de modo que P seja uma das variáveis independentes, definimos uma nova função, H, como sendo U mais o produto das quantidades a serem trocadas: H U PV (1.8) onde H, a entalpia, é também uma função de estado, já que foi definida em termos de funções de estado. Derivando a equação (1.8) temos: dH dU d PV ( ) dH TdS PdV PdV VdP dH TdS VdP (1.9) onde as variáveis independentes são agora S e P, formando um novo grupo fundamental: H, S, P. A entalpia H também é uma função de potencial: se restringimos as condições a S e P constantes, a equação (1.9) vira: dHS P, 0 (1.10) Exatamente da mesma forma, se as variáveis de interesse são T e V, definimos a energia livre de Helmholtz: A U TS (1.11) que resulta em: 10 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP dA SdT PdV (1.12) Agora T e V são as variáveis independentes, e A, T, V são um outro grupo fundamental: A é uma função de potencial a T e V constante: dAT V, 0 (1.13) Finalmente, trocando T, S e V na equação (1.4), de modo a usar T e P como variáveis independentes, definimos a energia livre de Gibbs: G H TS (1.14) que resulta em: dG SdT VdP (1.15) e dGT P, 0 (1.16) Na tabela 1 aparece um resumo das quatro equações fundamentais, o papel das quatro funções de estado U, H, A e G, como funções de potencial, um conjunto de equações conhecidas como relações de Maxwell e um conjunto de identidades que resultam das equações fundamentais. As relações de Maxwell são particularmente importantes, já que permitem relacionar as derivadas das propriedades, algumas difíceis de integrar, com outras, mais fáceis. 11 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP Tabela 1 Relações Termodinâmicas Importantes para um Sistema Homogêneo Fechado _____________________________________________________________________ Definições de H, A e G H U PV A U TS G U PV TS H TS A PV Equações Fundamentais dU TdS PdV dA SdT PdV dH TdS VdP dG SdT VdP Funções de Potencial dUS V, 0 dAT V, 0 dHS P, 0 dGT P, 0 Relações de Maxwell T V P SS V S V P TT V S P V TT P T P V SS P 12 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP Identidades U V T P T P T V H P V T V TT P U S T H SV P H P V G PS T U V P A VS T A T S G TV P Capacidades caloríficas e coeficientes de expansão e compressibilidade U T C V v S T C TV v 1 V V T P H T C P p S T C TP p 1 V V P T _____________________________________________________________________ 13 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP Sistemas homogêneos abertos: Um sistema homogêneo aberto é aquele que pode trocar com as vizinhanças, além de energia na forma de calor e trabalho, matéria. Consideremos como as leis da termodinâmica se aplicam a um tal sistema. Para um sistema fechado, consideramos U como sendo função de apenas duas variáveis, S e V, isto é: U U S V ( , ) (1.17) No entanto, num sistema aberto, existem outras variáveis adicionais, o número de moles dos vários componentes do sistema: U U S V n n n m ( , , , ,..., )1 2 (1.18) onde m é o número de componentes. O diferencial total é: dU U S dS U V dV U n dn V n S n ii S V n i i i j , , , , (1.19) onde ni refere-se a todos os números de moles e nj a todos os números de moles com exceção do i-ésimo. As duas primeiras derivadas referem-se ao sistema fechado, e aparecem na tabela 1. O último termo pode ser rescrito, definindo uma nova função i como: i i S V n U n j , , (1.20) Desta maneira, a equação (1.19) pode ser rescrita: 14 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP dU TdS PdV dni i i (1.21) que é uma equação fundamental para um sistema aberto, do mesmo modo que a equação (1.4) para um sistema fechado. A função i é uma propriedade intensiva, que depende da temperatura, pressão e composição do sistema. Mais importante ainda, é uma função de potencial, mas um potencial mássico, do mesmo modo que T é um potencial térmico e P é um potencial mecânico. Usando as definições de H, A e G, equações (1.8), (1.11) e (1.14) e substituindo na equação (1.21), podemos obter: dH TdS VdP dni i i (1.22) dA SdT PdV dni i i (1.23) dG SdT VdP dni i i (1.24) Da definição de i, equação (1.20), e das equações (1.21), (1.22), (1.23) e (1.24), segue-se que: i i S V n i S P n i T V n i T P n U n H n A n G n j j j j , , , , , , , , (1.25) Temos então quatro expressões para i, cada uma sendo a derivada de uma propriedade extensiva em relação à quantidade do componente em questão, e cada uma envolvendo um grupo fundamental de variáveis. i é a energia livre de Gibbs parcial molar, mas não é a energia interna, entalpia ou energia livre de Helmholtz parcial molar, já que as variáveis T e P, escolhidas arbitrariamente na definição das quantidades molares parciais, são as variáveis fundamentais para a energia livre de Gibbs, mas não para a energia interna, entalpia ou energia livre de Helmholtz. Sistemas heterogêneos fechados e o equilíbrio: 15 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP Um sistema heterogêneo fechado é composto de duas ou mais fases, considerando cada fase como um sistema homogêneo aberto dentro do sistema total fechado. Consideremos as condições nas quais um sistema deste tipo estará em equilíbrio em relação aos três processos de transferência de calor, deslocamento da fronteira e transferência de massa. Já temos quatro critérios de equilíbrio com diferentes restrições para um sistema fechado, como dados pelas equações (1.7), (1.10), (1.13) e (1.16). No entanto, esses critérios estão em termos dos quatro potenciais termodinâmicos extensivos, U, H, A e G. Podemos obter critérios mais úteis em termos das quantidades intensivas T, P e i. Para que exista equilíbrio mecânico e térmico, a pressão e a temperatura dentro do sistema deve ser uniforme através de todas as fases. Se i é um potencial intensivo mássico, espera-se que também tenha um valor uniforme através de todas as fases que compõem o sistema heterogêneo. Isto foi provado por Gibbs em 1875, e o resultado para um sistema heterogêneo fechado em equilíbrio com relação aos processos mencionados é: T T T( ) ( ) ( )..........1 2 (1.26) P P P( ) ( ) ( )..........1 2 (1.27) 1 1 1 2 1( ) ( ) ( ).......... . . . . . . (1.28) . . . m m m ( ) ( ) ( ) .......... 1 2 onde os sobrescritos representam as fases e os subscritos representam os componentes. Este conjunto de equações fornece os critérios básicos do equilíbrio de fases para sistemas heterogêneos fechados, que englobam todos os casos de equilíbrio de nosso interesse. A equação de Gibbs-Duhem e a regra das fases: 16 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP Podemos caracterizar completamente o estado intensivo de cada fase de um sistema em estado de equilíbrio interno com m+2 variáveis: a pressão, a temperatura e o potencial químico de cada um dos m componentes na fase. No entanto, nem todas essas variáveis são independentes; entretanto, a equação de Gibbs-Duhem nos diz como essas variáveis estão relacionadas. Consideremos uma fase qualquer dentro do sistema heterogêneo fechado como se fosse um sistema homogêneo. A equação fundamental em termos de U é a equação (1.21): dU TdS PdV dni i i Podemos integrar esta equação de um estado de massa zero (U=S=V=n1=....=nm=0) até um estado de massa finita (U,S,V,n1,....nm) a temperatura, pressão e composição constante: dU T dS P dV dn SU V i i n i i 00 0 0 (1.29) que resulta em: U TS PV ni i i (1.30) Se adicionamos uma pequena quantidade de fase com a mesma temperatura, pressão e composição, obtemos um aumento finito da fase, o que leva a um aumento finito dos coeficientes da equação (1.30). Isto se expressa derivando a equação (1.30) para obter uma expressão geral: dU TdS SdT PdV VdP dn n di i i i i i (1.31) Substituindo a equação (1.21) no lugar de dU e cancelando os termos correspondentes: 17 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP SdT VdP n di i i 0 (1.32) que é a equação de Gibbs-Duhem. Esta equação é fundamental para a termodinâmica de soluções líquidas, e será amplamente utilizada mais adiante. Por enquanto devemos notar que esta equação introduz uma restrição na variação simultânea de T, P e i para uma fase simples. Daqui, das m+2 variáveis intensivas que podem ser usadas para caracterizar uma fase, apenas m+1 são independentes. A restrição introduzida pela equação de Gibbs-Duhem faz com que uma das variáveis seja dependente. Portanto, diz-se que uma fase tem m+1 graus de liberdade. Se cada uma das fases do sistema está em equilíbrio, o número total de variáveis independentes é (m+1), já que para cada fase há (m+1) graus de liberdade, aplicando Gibbs-Duhem a cada fase. Se o sistema heterogêneo como um todo está em estado de equilíbrio, então existem (-1)(m+2) relações de equilíbrio entre as (m+1) variáveis, dadas pelas equações (1.26), (1.27) e (1.28). Então o número de graus de liberdade, que é o número de variáveis intensivas menos o número de relações ou restrições, é: F m m ( ) ( )( )1 1 2 ou F m 2 (1.33) O potencial químico: Com a introdução do potencial químico por Gibbs, o problema do equilíbrio de fases foi completamente solucionado, numa base teórica. No entanto, o potencial químico é uma quantidade eminentemente abstrata, que não possui muita utilidade para cálculos práticos em engenharia química. Nosso objetivo deve ser relacionar o potencial químico com quantidades fisicamente mensuráveis, tais como temperatura, pressão e composição. Para estabelecer essa relação, encontramos uma dificuldade aparente: não é possível calcular valores absolutos do potencial químico, mas apenas variações, que acompanham qualquer mudança arbitrária nas variáveis independentes. Isto se deve ao fato que as relações entre potencial químico e variáveis independentes estão na forma de equações diferenciais, que ao serem 18 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP integradas dão origem às diferenças. Vejamos um exemplo: para uma substância pura i, a aplicação da equação de Gibbs-Duhem dá: d s dT v dPi i i (1.34) onde si e vi são a entropia e o volume molares. Integrando desde algum estado de referência (Tr, Pr) até um estado qualquer (T, P): i T, P T P s dT v dPi r r i T T i P P r r ( ) ( , ) (1.35) Nesta equação as duas integrais podem ser avaliadas a partir de dados térmicos e volumétricos ao longo do intervalo de temperatura e pressão entre Tr e T, e entre Pr e P. Mas o potencial químico i(Tr, Pr) é desconhecido. Daqui que o potencial químico num estado qualquer (T, P) pode ser expresso apenas relativo ao seu valor num estado arbitrário de referência (Tr, Pr). Nossa inabilidade para computar valores absolutos do potencial químico introduz os estados de referência, comumente chamados de estados padrão ("standard states"). Os estados de referência introduzem uma constante nas nossas equações, mas o valor dessa constante não precisa ser conhecido, já que ao calcular a variação do potencial químico para o sistema, será cancelada. Fugacidade e Atividade: O potencial químico não é uma quantidade mensurável, e não tem equivalência no mundo físico real. Portanto, é desejável expressá-lo em termos de alguma função auxiliar que possa ser facilmente identificada com a realidade física. Esta função auxiliar foi desenvolvida por Lewis, e é conhecida como fugacidade. Lewis considerou primeiro o potencial químico para um gás ideal puro, e depois generalizou seus resultados para todos os sistemas. Da equação (1.34) pode-se ver que: 19 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP i T iP v (1.36) Substituindo vi pela equação dos gases ideais: v RT Pi (1.37) e integrando a temperatura constante: i io oRT PP ln (1.38) A equação (1.38) diz que, para um gás ideal, a variação do potencial químico num processo isotérmico de Po até P, é igual ao produto de RT pelo logaritmo da razão das pressões Po/P. Ou seja, a temperatura constante, a variação da quantidade termodinâmica abstrata i é uma simples função logarítmica de uma quantidade fisicamente real e facilmente mensurável, a pressão. No entanto, vale lembrar que a equação (1.38) é válida apenas para um gás ideal puro. Para generalizar este resultado, Lewis definiu uma função f chamada de fugacidade, de modo tal que, para um processo isotérmico de qualquer componente em qualquer sistema, sólido, liquido ou gasoso, puro ou misturado, ideal ou não ideal, a variação do potencial químico é: i io i i o RT f f ln (1.39) Um ou outro, io ou fio, é arbitrário, mas não podem ser escolhidos independentemente; quando um é escolhido, o outro é fixo. Para um gás ideal puro, a fugacidade é igual à pressão, e para um componente i numa mistura de gases ideais, é igual à pressão parcial yiP, onde yi é a fração molar do componente i na mistura gasosa. Já que todos os sistemas, puros ou misturas, aproximam-se do comportamento de gás ideal a pressões muito baixas, a definição de fugacidade é completada pelo limite: f y P Pi i 1 0 quando (1.40) 20 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP Lewis designou a razão f/fo como atividade, denotada pelo símbolo 'a'. A atividade de uma substância nos dá uma indicação de quão "ativa" ela é em relação ao seu estado de referência, já que dá uma medida da diferença entre o seu potencial químico no estado de interesse e no seu estado de referência. Como a equação (1.39) foi obtida para um processo isotérmico, a temperatura do estado de referência deve ser a mesma no estado de interesse; no entanto, as pressões e composições dos dois estados não precisam ser (e frequentemente não são) iguais. A fugacidade é, então, uma "pressão corrigida", onde essas correções são devidas às não idealidades dos sistemas reais. O gás ideal não é apenas um caso limite para conveniência termodinâmica, mas corresponde a um modelo físico muito bem desenvolvido e baseado na teoria cinética da matéria. Outra forma de abordar a definição de fugacidade é analisar a relação da energia livre de Gibbs com a temperatura e a pressão: dg s dT v dPi i i (1.41) e com a restrição a temperatura constante: dg v dPi i (1.42) Para um gás ideal: dg RT P dPid (1.43) ou dg RTd Pid ln (1.44) que é uma relação extremamente simples e conveniente para relacionar o efeito da pressão sobre a energia livre de Gibbs. Infelizmente, é válida apenas para um gás 21 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP ideal; no entanto, se a pressão P é substituída por uma "pressão corrigida", que leve em conta as desviações do comportamento de gás ideal, (1.44) pode ser aplicada a qualquer substância. Esta pressão corrigida não é outra coisa que a fugacidade, definida de modo tal que faça (1.44) universalmente válida: dg RTd fi i ln (1.45) A fugacidade fornece uma transformação muito conveniente da equação fundamental do equilíbrio de fases, a igualdade entre os potenciais químicos das fases, equações (1.28). Para as fases e , respectivamente, a equação (1.39) vira: i i o i i o RT f f ln (1.46) i i o i i o RT f f ln (1.47) Substituindo (1.46) e (1.47) nas relações de equilíbrio (1.28): i o i i o i o i i o RT f f RT f f ln ln (1.48) Consideremos agora dois casos. Primeiro, suponhamos que o estado de referência das duas fases é o mesmo, isto é: io io (1.49) e f fi o i o (1.50) Esse conjunto de equações proporciona uma nova forma do critério de equilíbrio de fases em termos das fugacidades das fases no lugar dos potenciais químicos: 22 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP f fi i (1.51) Segundo, suponhamos que o estado de referência para as duas fases tenha a mesma temperatura mas não a mesma pressão nem composição. Nesse caso, relacionando os dois estados de referência através da equação (1.39): i o i o i o i o RT f f ln (1.52) e substituindo (1.52) em (1.483), temos de novo a equação (1.51): f fi i A equação (1.51) nos diz que a condição de equilíbrio em termos de potenciais químicos pode ser substituída, sem perda de generalidade,por uma relação idêntica em termos de fugacidades. A equação (1.51) é exatamente análoga à equação (1.28), e, de um ponto de vista estritamente termodinâmico, tanto faz usar uma quanto a outra; entretanto, de um ponto de vista prático, uma equação com fugacidades é preferível a uma contendo potenciais químicos. Daqui para frente, este será o único critério de equilíbrio. Nosso problema daqui para frente, e o objetivo deste curso, será estabelecer relações entre a fugacidade de um componente e as quantidades fisicamente mensuráveis, tais como temperatura, pressão e composição. Um exemplo simplificado deste trabalho é o estabelecimento da conhecida lei de Raoult. Consideremos a distribuição de equilíbrio de um componente numa mistura binária entre as fases líquida e vapor. Procuramos uma relação simples que descreva a relação da fração molar na fase líquida x, com a fração molar na fase vapor y. Para o componente 1, a condição de equilíbrio nos diz: f fV L1 1 (1.53) 23 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP Para relacionar as fugacidades com as frações molares, começamos com duas suposições, uma para cada fase: - Suposição 1. A fugacidade f1V, a pressão e temperatura constantes, é proporcional à fração molar y1: f y fV1 1 1 puroV (1.54) onde f1Vpuro é a fugacidade do componente 1 puro no estado de vapor, à mesma temperatura e pressão da mistura. - Suposição 2. A fugacidade f1L, a pressão e temperatura constantes, é proporcional à fração molar x1: f x fL1 1 1 puroL (1.55) onde f1Lpuro é a fugacidade do componente 1 puro no estado de líquido, à mesma temperatura e pressão da mistura. As suposições 1 e 2 equivalem a dizer que tanto a fase vapor quanto a líquida tem comportamento de solução ideal. Essas suposições são válidas apenas para condições muito limitadas, mas para misturas com componentes semelhantes (p.e., benzeno-tolueno) são aproximações razoáveis. Substituindo (1.54) e (1.55) em (1.53), a relação de equilíbrio vira: y f x f1 1 1 1 puro V puro L (1.56) que é uma relação tipo solução ideal, usando apenas frações molares e fugacidades de componentes puros. Esta relação pode ainda ser simplificada por outras duas suposições. 24 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP - Suposição 3. O componente 1 vapor puro à mesma pressão e temperatura da mistura é um gás ideal. Portanto: f P1 puro V (1.57) - Suposição 3. Os efeitos da pressão sobre a fugacidade da fase líquida são desprezíveis a pressões moderadas. Portanto, o vapor em equilíbrio com o componente 1 líquido puro à mesma temperatura T da mistura é um gás ideal: f Psat1 1 puro L (1.58) onde P1sat é a pressão de vapor do componente 1 líquido puro à temperatura T. Substituindo (1.57) e (1.58) em (1.56), obtemos uma nova relação de equilíbrio: y P x Psat 1 1 1 (1.59) que é a expressão conhecida como lei de Raoult. Esta é uma equação de utilidade muito limitada, devido às suposições altamente simplificatórias que foram introduzidas, mas a sua derivação ilustra o procedimento geral mediante o qual, as equações em variáveis termodinâmicas abstratas podem ser traduzidas em equações fisicamente significativas. 25 Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP Capítulo 2: Fugacidades em Misturas Líquidas: Funções de Excesso O cálculo de fugacidades em misturas líquidas segue uma técnica simples: primeiro é definida uma solução ideal, e depois são calculados os desvios em termos das chamadas funções de excesso. Estas funções proporcionam expressões para o cálculo de fugacidades via os chamados coeficientes de atividade. Deste modo, a fugacidade de um componente i numa solução líquida segue a forma: 0 iii L i fxf (2.1) onde i é o coeficiente de atividade e fi0 é a fugacidade de i em algum estado arbitrário conhecido usado como referência. A qualquer composição, o coeficiente de atividade depende da escolha do estado de referência, que é arbitrário. Por tanto, é conveniente escolher o estado de referência de forma tal que o coeficiente de atividade esteja sempre perto da unidade, e quando, para uma condição dada, i é exatamente 1, dizemos que a solução é ideal. No entanto, esta definição de idealidade (i = 1) não está completa até especificar claramente o estado escolhido como referência. Dois estados de referência são freqüentemente usados, sendo que um conduz à solução ideal no sentido da lei de Raoult e outro conduz à solução ideal no sentido da lei de Henry. A solução ideal: Uma solução ideal é aquela onde, a temperatura e pressão constantes, a fugacidade de todos os componentes é proporcional a alguma medida da concentração (usualmente a fração molar). Quer dizer, ii L i xf (2.2) onde i é uma constante de proporcionalidade que depende da temperatura e da pressão, mas não da composição. 26 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP Notemos da equação (2.1), que se fazemos fi0 = i, então i =1. Se (2.2) vale para todo o intervalo de composição (de xi = 0 até xi = 1), dizemos que a solução é ideal no sentido da lei de Raoult. Da condição limite vemos que, quando xi = 1, i é igual à fugacidade do líquido puro à temperatura e pressão da solução. Se o estado de referência escolhido é o liquido puro à temperatura T e à pressão de saturação Pisat, as fugacidades são iguais às pressões parciais, como na lei de Raoult. Em outros casos, (2.2) não é válida em todo o intervalo de composição, mas apenas numa pequena parte. Se xi é quase zero, ainda é possível ter uma solução ideal de acordo com (2.2), mas i não pode mais ser identificada com a fugacidade do líquido puro. Este tipo de solução é uma solução ideal no sentido da lei de Henry, ou solução ideal diluída, e a constante de proporcionalidade i é chamada de constante de Henry. Estas duas leis serão estudadas mais adiante, no capítulo sobre solubilidade de gases. Misturas ideais no sentido da lei de Raoult apresentam como particularidade que: h hi i (2.3) v vi i (2.4) A entalpia e o volume parciais molares do componente i na mistura são iguais à entalpia e o volume molares do componente i puro à mesma temperatura e pressão, quer dizer, a formação de uma solução ideal acontece sem absorção ou emissão de calor, e sem mudanças no volume da mistura. Misturas de fluidos reais não formam soluções ideais, embora misturas de líquidos similares possam exibir um comportamento próxima à idealidade. Os termos de correção que relacionam as propriedades da solução real às da solução ideal são chamadas funções de excesso. Funções de excesso: Funções de excesso são as propriedades termodinâmicas das soluções que excedem aquelas da solução ideal às mesmas condições de pressão, temperatura e composição. Para uma solução ideal, todas as propriedades de excesso são zero. Por exemplo, GE, a energia livre de Gibbs de excesso, é definida como: 27 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP G G GE ( (solução real a T, P, x) solução ideal a T, P, x) (2.5) Definições similares podem ser escritas para o volume de excesso, VE, a entalpia de excesso, HE, a energia interna de excesso, UE, a entropia de excesso, SE, e a energia livre de Helmholtz de excesso, AE. As relações entre as funções de excesso são as mesmas que entre as funções totais: H U PVE E E (2.6) G H TSE E E (2.7) A U TSE E E (2.8) Da mesma maneira, asderivadas parciais das funções extensivas de excesso são análogas às das funções totais, como por exemplo: E xT E V P G , , E xP E S V G , , etc Relações completamente equivalentes podem escrever-se também para as propriedades em base molar, representadas por letras minúsculas. Funções de excesso podem ser positivas ou negativas, representando desvios positivos ou negativos do comportamento da solução ideal. Funções de excesso parciais molares também são definidas numa maneira análoga à usada nas propriedades termodinâmicas parciais molares. Se M é uma propriedade extensiva, então, mi, que é a M parcial molar de i, é definida como: ijnTPi i n M m ,, (2.9) e, do teorema de reciprocidade de Euler, sabemos que: M m ni i i (2.10) 28 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP Da mesma maneira: m M n i E E i T P n j i , , (2.11) e M m nE i E i i (2.12) Para a termodinâmica do equilíbrio de fases, a função de excesso parcial molar mais útil é a energia livre de Gibbs de excesso, que está ligada diretamente ao coeficiente de atividade. A entalpia e entropia parciais molares estão relacionadas às derivadas do coeficiente de atividade com a temperatura e a pressão, respectivamente. Atividade e coeficientes de atividade: A atividade de um componente i numa mistura a uma dada pressão, temperatura e composição é definida como a razão entre a fugacidade do componente i nas mesmas condições e a fugacidade de i no estado de referência, que é um estado com a mesma temperatura da mistura e com uma dada condição específica de pressão e composição: a i i i T P x f T P x f T P x ( , , ) ( , , )( , , ) 0 0 (2.13) onde P0 e x0 são as condições arbitrárias, mas especificadas, de pressão e composição, respectivamente. O coeficiente de atividade i aparece quando se integra a equação (1.45) para uma solução real, de um estado i puro a T e P até um estado em solução às mesmas T e P: g g RT f fi i i i puro puro ln (2.14) 29 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP Adicionando e subtraindo o termo RT ln xi no lado direito de (2.14): g g RT f x f RT xi i i i i i puro puro ln ln (2.15) onde a razão fi/(xi fi puro) é a definição do coeficiente de atividade: i i i i i i f x f x a puro (2.16) se consideramos o estado de referência como o componente puro. Para uma solução ideal, (2.14) se escreve: g g RT xi id i i puro ln (2.17) Se subtraímos (2.17) de (2.15) para eliminar o termo RT ln xi, temos: g g RTi i id i ln (2.18) mas o lado esquerdo não é outra coisa que a definição da energia livre de Gibbs de excesso parcial molar, de modo que: g RTi E i ln (2.19) Substituindo (2.19) em (2.12), obtemos a expressão para a energia livre de Gibbs de excesso molar: g RT xE i i i ln (2.20) ou total: G RT nE i i i ln (2.21) 30 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP Consideremos agora uma solução ideal diluída (lei de Henry). É útil definir funções de excesso relativas a uma solução ideal diluída quando a mistura líquida não pode existir ao longo do intervalo de composição completo, como por exemplo, quando temos um soluto gasoso. Se a temperatura crítica do soluto 2 é mais baixa que a temperatura da mistura, então não existirá uma fase líquida quando x2 1. Nestes casos, as relações baseadas na solução ideal de Raoult não podem ser aplicadas, a menos que seja usado um estado hipotético de referência para o soluto 2. No entanto, isto pode ser evitado usando a solução ideal diluída. No caso, a constante de proporcionalidade 2 não é determinada da condição limite do soluto, x2 = 1, mas da condição limite da solução a diluição infinita, x2 0. Então: 2 0 2 2 2 1 2 lim ,x f x H (2.27) onde H2,1 é a constante de Henry para o soluto 2 no solvente 1. No entanto, para o solvente 1, o resultado é o mesmo obtido anteriormente: 1 0 1 1 1 2 limx f x f líquido puro (2.28) Para o soluto, o coeficiente de atividade: 2 2 2 2 1 f x H , que, derivado em relação à temperatura, origina a mesma equação (2.25): ln , 2 2 2T h RTP x E (2.29) mas com um novo significado para h E2 : h h hE 2 2 2 (2.30) 31 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP onde h2 é a entalpia molar parcial do soluto 2 numa solução a diluição infinita. A derivada em relação à pressão depende da constante de Henry. Se a constante de Henry é conhecida à pressão de saturação do solvente, então: ln , 2 2 P v RTT x (2.31) mas se a constante de Henry é conhecida à pressão do sistema, então: ln , 2 2 2 2 P v v RT v RTT x E (2.32) As derivadas do coeficiente de atividade em relação à pressão e à temperatura para o componente 1 (solvente) são as mesmas expressões (2.25) e (2.26). Normalização de coeficientes de atividade: Como já foi dito, é conveniente definir a atividade numa forma tal que, para uma solução ideal, ela seja igual 'à fração molar, ou, de forma equivalente, que o coeficiente de atividade seja igual à unidade. Já que definimos dois tipos de idealidade, segundo a lei de Raoult ou segundo a lei de Henry, os coeficientes de atividade precisam ser normalizados (isto é, transformados na unidade) de duas diferentes maneiras. Se os coeficientes de atividade são definidos para uma solução ideal de Raoult, então, para cada componente, a normalização é: i ix 1 1 quando (2.33) Já que esta normalização é válida para ambos os componentes, soluto e solvente, é chamada de normalização simétrica. No entanto, se os coeficientes de atividade são definidos para uma solução ideal de Henry, ou solução ideal diluída, a normalização é: 32 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP 1 11 1 quando (solvente)x (2.34) 2 21 0 quando (soluto)x Como o soluto e o solvente são normalizados de maneira distinta, esta é chamada de normalização assimétrica. Para distinguir entre os coeficientes de atividade normalizados simétrica e assimetricamente, é útil denotar com um asterisco aquele coeficiente de atividade que se aproxima a 1 quando a sua fração molar se aproxima a zero. Com esta notação, (2.34) se escreve: 1 11 1 quando (solvente)x (2.35) 2 21 0* quando (soluto)x Os dois métodos são ilustrados na figura abaixo. Na região diluída (x2 << 1) 2* = 1 e a solução é ideal; no entanto, 2 1, e portanto, a solução diluída é ideal no sentido de Henry, e não no de Raoult. 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 f2 puro Solução real Solução ideal (Raoult) Solução ideal (Henry) H2,1 f 2 x2 Em misturas binárias, coeficientes de atividade normalizados simetricamente podem ser relacionados com aqueles normalizados assimetricamente. As definições de ambos são: 33 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. MartinAznar/FEQ/UNICAMP 2 2 2 2 f x f puro (2.36) 2 2 2 2 1 * , f x H (2.37) Portanto: 2 2 2 1 2 * , H f puro (2.38) Mas, do limite lim * x2 0 2 1 (2.39) podemos obter lim , x H f2 0 2 2 1 2 puro (2.40) Substituindo (2.40) em (2.38), 2 2 0 2 2 * lim x (2.41) Por um raciocínio similar: 2 2 0 2 2 * *lim x (2.42) (2.41) e (2.42) relacionam os coeficientes de atividade do soluto um ao outro. No entanto, (2.41) é muito mais útil que (2.42), porque o limite em (2.41) corresponde a uma situação física real, enquanto que o limite em (2.42) corresponde a uma situação hipotética, já que o componente 2 não pode existir como líquido puro à temperatura da solução. 34 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP Coeficientes de atividade através de funções de excesso em misturas binárias: A uma dada temperatura fixa, a energia livre de Gibbs molar em excesso gE de uma mistura depende da composição da mistura, e, em menor grau, da pressão. A pressões baixas ou moderadas, longe das condições críticas, o efeito da pressão é o suficientemente pequeno como para ser desprezado, e não será considerado na nossa análise. Consideremos uma mistura binária na qual as propriedades de excesso sejam tomadas em relação a uma solução ideal cujo estado de referência é o líquido puro à temperatura e pressão da mistura. Nesse caso, qualquer expressão para gE deve obedecer as condições limite: g xE 0 01 quando g xE 0 02 quando a) Equação de Margules de dois sufixos. A expressão mais simples que satisfaz as condições dadas é: g Ax xE 1 2 (2.43) onde A é uma constante empírica com unidades de energia, característica do par de componentes 1 e 2, e que depende da temperatura mas não da composição. A equação (2.43) imediatamente pode fornecer expressões para os coeficientes de atividade por substituição em (2.19): RT g n g n i i E T E i T P n j i ln , , (2.44) originando: 35 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP ln 1 22 ART x (2.45) ln 2 12 ART x (2.46) As equações (2.45) e (2.46) são chamadas de equações de Margules de dois sufixos, e fornecem uma boa representação para muitas misturas líquidas simples, quer dizer, para misturas de moléculas similares em tamanho, forma e natureza química. As duas equações são simétricas: quando ln1 e ln2 são plotados em função de x1 (ou x2), as duas curvas são imagens especulares uma da outra. A diluição infinita, os coeficientes de atividade dos dois componentes são iguais: 1 0 11 lim expx A RT (2.47) 2 0 22 lim expx A RT (2.48) A constante A pode ser positiva ou negativa, e embora em geral seja função da temperatura, freqüentemente é constante para um pequeno intervalo da mesma, em sistemas simples. Equações de Van Laar: Consideremos o caso de uma solução binária cujos componentes não são muito diferentes em natureza química, mas que tem diferentes tamanhos de molécula, como benzeno e isooctano, por exemplo. Admitamos como suposição que os coeficientes de interação a112, a122,... e superiores podem ser desprezados, isto é, a expansão de Wohl é truncada depois do primeiro termo. Neste caso, tem-se: g RT a x x q q x q x q E 2 12 1 2 1 2 1 1 2 2 (2.55) que é a equação de Van Laar. As expressões para o coeficiente de atividade podem ser encontradas de (2.19) ou de (2.44): 36 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP ln ' ' ' 1 1 2 2 1 A A B x x (2.56) ln ' ' ' 2 2 1 2 1 B B A x x (2.57) onde A' = 2q1a12 e B' = 2q2a12, são parâmetros adimensionais. A razão entre A' e B' é a mesma que entre os volumes efetivos q1 e q2, e também é igual à razão entre ln1 e ln2. Enquanto (2.56) e (2.57) contêm apenas dois parâmetros, (2.55) parece ser uma equação de três parâmetros. No entanto, dos valores empiricamente determinados de A' e B', não é possível encontrar o valor do coeficiente de interação a12, a não ser que alguma suposição adicional seja feita em relação ao valor de q1 ou de q2. Para aplicações práticas, não é necessário conhecer os valores independentes de q1 e q2, já que apenas a razão deles é importante. As suposições embutidas na derivação das equações de Van Laar sugerem que elas devem ser aplicadas para soluções de líquidos relativamente simples, preferivelmente não polares. No entanto, tem sido constatado empiricamente que estas equações são frequentemente capazes de representar os coeficientes de atividade de misturas bastante mais complexas. Em tais misturas, A' e B' deixam de ter um significado físico preciso, e se tornam apenas parâmetros empíricos. No caso especial onde as constantes de Van Laar A' e B' são iguais, as equações de Van Laar são idênticas às equações de Margules de dois sufixos. Equações de Margules: Consideremos agora uma solução binária cujos componentes não são muito diferentes em tamanho. Neste caso, temos: ln ' ' ' 1 22 23 24 A x B x C x (2.58) ln ( ' ' ' ) ( ' ' ) ' 2 12 13 1432 2 8 3 A B C x B C x C x (2.59) Para efeitos de simplificação, e também porque os dados experimentais são geralmente limitados, é comum truncar a expansão depois dos termos cúbicos, quer dizer, fazendo C' = 0. Neste caso a equação é chamada de equação de Margules de três sufixos, e tem dois 37 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP parâmetros. Apenas naqueles casos onde os dados são suficientemente precisos e extensos, a expansão é truncada depois dos termos quárticos, e então temos a equação de Margules de quatro sufixos, com três parâmetros. Por outro lado, se a solução é simples, frequentemente é suficiente reter apenas os termos quadráticos, e ficar com a equação de Margules de dois sufixos e apenas um parâmetro. Embora a suposição q1 = q2 sugere que as equações de Margules devem ser usadas apenas para misturas cujos componentes tenham volumes molares similares, elas são usadas frequentemente para todo tipo de misturas, sem levar em conta o tamanho relativo das moléculas. d) Equação de Wilson: Wilson apresentou em 1964 um modelo relacionando gE com as frações molares baseado parcialmente em considerações moleculares, usando o conceito de composição local. Basicamente, o conceito de composição local estabelece que a composição do sistema nas vizinhanças de uma molécula dada não é igual à composição 'bulk', por causa das forças intermoleculares. A figura abaixo expressa este conceito. x21 + x11 = 1 x12 + x22 = 1 x11 ~ 3/8 x21 ~ 5/8 15 de tipo 1 15 de tipo 2 Fração molar global: x1=x2=1/2 Frações molares locais: x21= Moléculas de 2 em torno a uma molécula central 1 Moléculas totais em torno a uma molécula central 1 38 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP O modelo, um clássico na literatura sobre o tema, e que continua sendo usado, tem a forma: g RT x x x x x x E 1 1 12 2 2 2 21 1ln( ) ln( ) (2.62) Os coeficientes de atividade podem ser calculados de (2.44): ln ln( ) 1 1 12 2 2 12 112 2 21 21 1 2 x x x x x x x (2.63) ln ln( ) 2 2 21 1 1 12 1 12 2 21 21 1 2 x x x x x x x (2.64) Em (2.62) gE é definida em relação a uma solução ideal de Raoult; portanto, esta equação obedece a condição limite de gE = 0 quando x1 ou x2 são zero. A equação de Wilson tem dois parâmetros ajustáveis, 12 e 21, que estão relacionados aos volumes molares dos líquidos puros e às diferenças de energia características: 12 1 2 12 11 v v RT exp (2.65) 21 2 1 12 22 v v RT exp (2.66) onde os 's são energias de interação entre as moléculas designadas nos subscritos. Num sentido estrito, as diferenças entre as energias devem ser consideradas como dependentes da temperatura, mas em muitos casos esta dependência pode ser desprezada sem introduzir erros muito significativos. Se essas diferenças são consideradas independentes da temperatura, pelo menos ao longo de pequenos intervalos, a equação de Wilson proporciona não apenas uma expressão para os coeficientes de atividade em função da composição, mas também uma estimativa da variação dos coeficientes de atividade com a temperatura. Isto é uma grande vantagem em cálculos isobáricos, onde a temperatura varia com a composição. 39 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP A equação de Wilson fornece uma boa representação da energia livre de Gibbs em excesso para uma variedade de misturas, e é particularmente útil para soluções de compostos polares ou com tendência à associação em solventes não polares, onde equações como Van Laar ou Margules não são suficientes. A equação de Wilson apresenta também como vantagem o fato de ser facilmente estendida para soluções multicomponentes, mas apresenta também duas desvantagens: a primeira, menos importante, é que as equações (2.63) e (2.64) não são aplicáveis aos sistemas onde os logaritmos dos coeficientes de atividade, quando plotados em função de x, exibem um máximo ou um mínimo. No entanto, esses sistemas não são comuns. A segunda, um pouco mais séria, é que o modelo de Wilson não é capaz de predizer miscibilidade limitada, ou seja, não é útil para cálculos de equilíbrio líquido-líquido. Parâmetros para o modelo de Wilson têm sido apresentados para uma ampla variedade de misturas por Gmehling et al., nos volumes de DECHEMA Chemistry Data Series relativos ao equilíbrio líquido-vapor. e) Equação NRTL: Renon e Prausnitz desenvolveram a equação NRTL (non-random, two-liquid) baseados também no conceito de composição local, mas, a diferença do modelo de Wilson, o modelo NRTL é aplicável a sistemas de miscibilidade parcial. O modelo é: 1212 1212 2121 2121 21 Gxx G Gxx G xx RT g E (2.67) onde: 12 12 22 g gRT , 21 21 11 g gRT G12 12 12 exp( ) , G21 12 21 exp( ) O significado dos gij é similar aos ij da equação de Wilson, ou seja, são parâmetros de energia característicos das interações i-j. O parâmetro 12 está relacionado com a não- randomicidade (ou não-aleatoriedade) da mistura, quer dizer, que os componentes na mistura não se distribuem aleatoriamente (ou seja, uniformemente), mas que seguem um padrão ditado pela 40 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP composição local. Quando 12 é zero, a mistura é completamente aleatória, e a equação se reduz à equação de Margules de dois sufixos. Os coeficientes de atividade podem ser expressos como: ln ( ) 1 2 2 21 21 1 2 21 2 12 12 2 1 12 2 x G x x G G x x G (2.68) ln ( ) 2 1 2 12 12 2 1 12 2 21 21 1 2 21 2 x G x x G G x x G (2.69) Para sistemas ideais ou moderadamente ideais, NRTL não oferece muita vantagem sobre Van Laar ou Margules-três sufixos, mas, para sistemas fortemente não ideais, esta equação pode fornecer uma boa representação dos dados experimentais, embora sejam necessários dados de boa qualidade para estimar os três parâmetros. NRTL também pode ser facilmente estendido para misturas multicomponentes. f) Equação UNIQUAC: Já que os dados experimentais geralmente não são suficientemente precisos para garantir um bom resultado na estimação dos três parâmetros de NRTL, alguns intentos têm sido feitos para desenvolver uma equação de dois parâmetros para gE que retenha as vantagens da equação de Wilson, sem, no entanto, estar limitada aos sistemas de miscibilidade total. Abrams e Prausnitz (1975) desenvolveram uma equação que, de alguma maneira, é uma extensão da teoria quase-química de Guggenheim para moléculas não-randómicas a misturas contendo componentes de diferente tamanho. Esta extensão foi chamada de Teoria Quase-química Universal, ou, pelas siglas em inglês, UNIQUAC. A equação UNIQUAC para gE consiste em duas partes: uma parte combinatorial, que descreve as contribuições entrópicas dos componentes, e uma parte residual, que expressa as forças intermoleculares que são responsáveis pela entalpia de mistura. A parte combinatorial depende apenas da composição e do tamanho e forma das moléculas, pelo que necessita apenas de dados do componente puro; no entanto, a parte residual depende das forças intermoleculares, de onde aparecem os dois parâmetros ajustáveis. A equação tem a forma: g g gE E combinatorial E residual ( ) ( ) (2.70) Para uma mistura binária: 41 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP g RT x x x x z q x q xcomb E 1 1 1 2 2 2 1 1 1 1 2 2 2 22 ln ln ln ln * * * * (2.71) g RT q x q xres E ' ln( ' ' ) ' ln( ' ' )1 1 1 2 21 2 2 2 1 12 (2.72) onde o número de coordenação z é igual a 10. As frações de segmentos, i*, e as frações de área, i i e ' estão dadas por: 1 1 1 1 1 2 2 * x r x r x r , 2 2 2 1 1 2 2 * x r x r x r (2.73) 1 1 1 1 1 2 2 x q x q x q , 2 2 2 1 1 2 2 x q x q x q (2.74) ' ' ' ' 1 1 1 1 1 2 2 x q x q x q , ' ' ' ' 2 2 2 1 1 2 2 x q x q x q (2.75) Os parâmetros r, q e q' são constantes da estrutura molecular dos componentes puros, e dependem do tamanho da molécula e da área superficial externa da mesma. Na formulação original do método, q = q'. Para água, valores de q' foram ajustados empiricamente, enquanto que para álcoois, foi determinado que a superfície de interação q' é menor que a superfície geométrica externa. Para outros fluidos, geralmente considera-se q = q'. Para cada mistura binária existem dois parâmetros ajustáveis 12 e 21, que, pela sua vez, estão dados por: 12 12 12 exp exp u RT a T (2.76) 21 21 21 exp exp u RT a T (2.77) onde u12 e u21 são as energias características de interação, que são fracamente dependentes da temperatura. 42 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP Os coeficientes de atividade vêm dados por: ln ln ln ' ln( ' ' ) ' ' ' ' ' ' * * * 1 1 1 1 1 1 2 1 1 2 2 1 1 2 21 2 1 21 1 2 21 12 2 1 12 2 x z q r r q q l l (2.78) ln ln ln ' ln( ' ' ) ' ' ' ' ' ' * * * 2 2 2 2 2 2 1 2 2 1 1 2 2 1 12 1 2 12 2 1 12 21 1 2 21 2 x z q r r q q l l (2.79) onde: l1 1 1 12 1 z r q r( ) ( ) , l2 2 2 22 1 z r q r( ) ( ) (2.80) UNIQUAC é aplicável a uma ampla variedade de misturas líquidas não-eletrolíticas, contendo componentes polares e não polares, incluindo sistemas de miscibilidade parcial. Parâmetros para UNIQUAC aparecem reportados para uma grande quantidade de sistemas em DECHEMA Chemistry Data Series. Funções de excesso para misturas multicomponentes: Para propósitos práticos, o uso mais importante das funções de excesso está na sua extensão a misturas multicomponentes. Os métodos analisados até agora para misturas binárias podem ser facilmente estendidos para o caso multicomponente, sem precisar suposições adicionais e sem introduzir constantes que não possam ser obtidas a partir dos dados binários. a) Equação de Wilson: Para uma solução de m componentes, a equação de Wilson é: 43 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP - g RT x x E i i j ij j ln (2.81) onde RTv v iiij i j ij exp (2.82) RTv v jjij j i ji exp (2.83) O coeficiente de atividade para qualquer componente k é dado por: i j ijj iki j kjjk x x x 1lnln (2.84) b) Equação NRTL: Para uma solução de m componentes, a equação NRTL é: g RT x G x G x E i i ji ji j j ki k k (2.85) ji ji ii g g RT (2.86) G ji ji ji ji exp( ) ( ) = ij (2.87) O coeficiente de atividade para o componente i é dado por: 44 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP k kkj r rjrjr ij j k kkj ijj k kki jji j ji i xG Gx xG Gx xG xG ln (2.88) c) Equação UNIQUAC: Para um sistema multicomponente, a equação UNIQUAC é a soma das duas parcelas: g RT x x z q xcomb E i i i i i i i i i ln ln* * 2 (2.89) j jiji i i E res xq RT g 'ln' (2.90) onde as frações de segmento e as frações de área estão dadas por: i i i j j j r x r x * (2.91) i i i j j j q x q x (2.92) ' ' ' i i i j j j q x q x (2.93) O número de coordenação z é fixado como 10, e, para qualquer componente i, o coeficiente de atividade é dado por: j k kjk j ii j jiji j jj i i i i i i i i i qqqlx x lqz x ' ' '''ln'ln 2 lnln * * * (2.94) 45 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP onde l j j j j z r q r 2 1( ) ( ) (2.95) Em princípio, esses modelos são praticamente equivalentes. A utilização de um no lugar do outro justifica-se apenas pela disponibilidade de parâmetros binários, com a salvedade que a equação de Wilson não é aplicável a sistemas parcialmente miscíveis. 46 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP Capítulo 3: Fugacidades em Misturas Gasosas: Equações de Estado No capítulo 3 vimos como calcular fugacidades para misturas líquidas, e foram introduzidos os coeficientes de atividade, que expressam os desvios da solução do comportamento ideal através das funções de excesso. Nesse capítulo veremos como calcular fugacidades em misturas gasosas, introduzindo o conceito de equação de estado. Do capítulo 2 vimos que as expressões chaves para calcular fugacidades usando T e P ou T e V como variáveis independentes eram (2.15) e (2.55), respectivamente: RT v RT P dPi i P ln 0 (2.15) RT P n RT V dV RT zi i T V n j iV ln ln , , (2.55) onde o coeficiente de fugacidade é: i i i f y P e o fator de compressibilidade da mistura é: z PV RT A equação (2.15) é usada sempre que os dados volumétricos estejam dados numa forma explícita no volume, isto é: V T P nV ( , , ,...)1 (3.1a) 47 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP enquanto (2.55) é usada sempre que os dados volumétricos estejam dados numa forma explícita na pressão, quer dizer: P T V nP ( , , ,...)1 (3.1b) (3.1a) e (3.1b) são relações matemáticas entre volume, pressão, temperatura e composição, e são chamadas de equações de estado. Normalmente, a maioria das equações de estado são do tipo explícito na pressão, quer dizer, seguem a forma de (3.1b). Ambas as equações são exatas, e, se a informação necessária para avaliar as integrais do lado direito estiver disponível, então as fugacidades podem ser calculadas exatamente. No entanto, existe uma forma genérica de calcular coeficientes de fugacidade para equações de estado, sejam elas explícitas na pressão ou no volume. Se escrevemos a equação de estado em função do fator de compressibilidade, poderemos sempre achar o valor do coeficiente de fugacidade através de: lni P z P dP 1 0 (3.2) como veremos mais adiante. Equação do Virial: Muitas equações de estado têm sido propostas, e cada ano mais e mais aparecem na literatura, mas a maior parte delas é total ou parcialmente empírica. Todas as equações de estado empíricas estão baseadas em suposições mais ou menos arbitrárias, que não são válidas para o caso geral, mas para casos pontuais. Como as constantes neste tipo de equações de estado não costumam ter um significado físico definido, é difícil justificar regras de mistura para expressar as constantes da mistura como função apenas das constantes dos componentes puros. Como resultado, as regras de mistura introduzem suposições arbitrárias adicionais, que podem conduzir a excelentes resultados para um tipo de misturas, mas a resultados muito inferiores para outras. Por esses motivos, é desejável ter uma equação de estado com uma base teórica que permita atribuir um significado físico às constantes, de modo a poder relacionar as propriedades da mistura às dos componentes puros com um mínimo de arbitrariedade. Uma equação deste tipo é a equação do virial, que expressa o fator de compressibilidade como potências na variável 48 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP independente V ou P. Consideremos primeiro a variável independente V. Se z é considerado como uma função analítica de V, podemos expressa-lo por uma expansão em série de Taylor: n n n vv Bzz 0 0 11 (3.3) onde Bn n n T x v n z 1 0 ! , , (3.4) 1 v (3.5) Nestas equações o subscrito 0 se refere ao estado de referência em torno do qual a expansão da série é feita. A temperaturae a composição do estado de referência são aquelas da mistura, enquanto o volume v0 é o valor a alguma pressão de referência P0. O valor de referência do fator de compressibilidade z0 está relacionado com P0 e v0 através da definição: z P v RT0 0 0 (3.6) (3.4) fornece uma equação geral para o coeficiente Bn em termos das derivadas de z em relação à densidade (ou volume) avaliados no estado de referência. Se escolhemos o estado de referência como aquele do gás ideal a pressão zero, então P0=0, z0=1, e v0=. Então (3.3) e (3.4) viram: z v n n n 1 B (3.7) Bn n n T x v n z 1 0 ! , , (3.8) A equação (3.7) é a equação do virial em volume (ou densidade), e (3.8) proporciona as definições para os coeficientes do virial da série de volume: 49 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP B n z T x v B1 0 1 ! , , (3.9a) C n z T x v B2 2 2 0 1 ! , , (3.9b) D n z T x v B3 3 3 0 1 ! , , (3.9c) etc. onde por convenção B é chamado de segundo coeficiente do virial, C de terceiro coeficiente do virial, D de quarto, e assim por diante. Por essa convenção, o "primeiro coeficiente do virial" é a unidade. De acordo à definição geral (3.8), os coeficientes do virial são função apenas da temperatura e composição. Com essas definições, (3.7) pode ser escrita: z Pv RT B v C v D v 1 2 3 ... (3.10) Se pelo contrário, a variável independente escolhida for a pressão P, e a série de Taylor for expandida em torno da diferença (P-P0), onde P0 é a pressão de referência, obtemos: z z P Pn n n 0 0B' ( ) (3.11) B' ! , , n n n T x P n z P 1 0 (3.12) Novamente tomando como estado de referência o gás ideal a pressão zero, obtemos a equação do virial em pressão: z Pn n n 1 B' (3.13) 50 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP com os coeficientes do virial na série de pressão dados por: B' ! , , n n n T x P n z P 1 0 (3.14) Daqui: B n z P T x P ' ! , , B'1 0 1 (3.15a) C n z P T x P ' ! , , B'2 2 2 0 1 (3.15b) D n z P T x P ' ! , , B'3 3 3 0 1 (3.15c) etc. onde novamente B' é chamado de segundo coeficiente do virial, C' de terceiro, D' de quarto, e assim por diante. Novamente, segundo a definição geral (3.14), os coeficientes do virial são função apenas da temperatura e a composição. A equação (3.13) pode então ser rescrita como: z Pv RT B P C P D P 1 2 3' ' ' ... (3.16) A equação (3.10) é geralmente superior à (3.16), no sentido em que, quando a série é truncada após o terceiro termo, os dados experimentais são reproduzidos por (3.10) ao longo de um intervalo de densidades (ou pressões) maior que por (3.16). É obvio que ambas as séries, tomadas até o infinito, são exatamente equivalentes. As expressões (3.10) e (3.16) proporcionam expressões gerais para z, uma em função de T, x e v, e a outra em função de T, x e P. Como P e v estão relacionados pela definição do fator de compressibilidade, os coeficientes do virial de uma e outra série estão relacionados também. Essas relações estão dadas por: 51 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP B B RT ' (3.17) C C B RT ' ( ) 2 2 (3.18) D D BC B RT ' ( ) 3 2 2 3 (3.19) Para altas densidades, a equação do virial é de pouco interesse prático no momento. Tanto os métodos experimentais como os teóricos ainda não estão suficientemente desenvolvidos para obter resultados confiáveis para o quarto coeficiente do virial e superiores. No entanto, é aplicável a densidades moderadas, como os problemas freqüentemente encontrados no equilíbrio líquido-vapor ou sólido-vapor. O significado físico dos coeficientes do virial radica na sua relação direta com as forças intermoleculares. Num gás ideal, as moléculas não interagem umas com as outras. No mundo real, não existem gases ideais, mas, quando as densidades são baixas, e a distância entre as moléculas é maior, todos os gases tendem a assemelhar o seu comportamento ao do gás ideal, porque as forças intermoleculares são proporcionais à distância que separa as moléculas. No entanto, quando as densidades começam a aumentar, as moléculas ficam mais próximas umas das outras, e as forças intermoleculares começam a provocar interações entre as moléculas. Os coeficientes do virial levam em conta essas interações; assim, o segundo coeficiente do virial representa os desvios do comportamento de gás ideal provocados por interações entre duas moléculas. O terceiro coeficiente do virial expressa os desvios causados por interações entre três moléculas, e assim por diante. A equação do virial é estendida para misturas sem suposições adicionais. Consideremos primeiro o segundo coeficiente do virial, que leva em conta as interações entre dois moléculas. Num gás puro, todas as moléculas são iguais, e, logicamente, as interações também. Numa mistura, porém, existem vários tipos de combinações entre duas moléculas, e, consequentemente, vários tipos de interação. No caso específico de uma mistura binária contendo as espécies i e j, existem três tipos de interações entre pares de moléculas, que podem ser denotadas como i-i, j-j e i-j. Para cada uma dessas interações existe um segundo coeficiente do virial correspondente, que depende das forças intermoleculares entre as moléculas i-i, j-j ou i-j. Então Bii e Bjj são os segundos coeficientes do virial dos componentes i e j puros, enquanto Bij é o segundo coeficiente do virial cruzado. Os três coeficientes são independentes da composição, mas dependentes da temperatura, sendo que Bij é característico para a mistura binária i-j. Já que o segundo coeficiente do virial se refere a interações entre duas moléculas, pode ser demostrado que o segundo coeficiente do virial de uma mistura é uma função quadrática das frações molares yi e yj. Para uma mistura binária, então: 52 ____________________________________________________________________________________ Material retirado de apostila elaborada por Prof. Dr. Martin Aznar/FEQ/UNICAMP B y B y y B y Bi ii i i ij j jj 2 22 (3.20) que pode ser estendida para uma mistura de m componentes: B y y Bi j m i m j ij (3.21) O terceiro coeficiente do virial, C, pode ser analisado de maneira semelhante. Numa mistura binária existem quatro coeficientes C, dois dos quais são dos componentes puros e os outros dois são cruzados. Como C leva em conta as interações entre três moléculas, a dependência dele com a composição é cúbica: C y C y y C y y C y Ci iii i j iij i j ijj j jjj 3 2 2 33 3 (3.22) que pode ser estendida para m componentes: C y y y Ci k m j m i m j k ijk (3.23) O quarto, quinto e superiores coeficientes do virial estão relacionados à composição numa maneira completamente análoga; o n-ésimo coeficiente do virial é uma função polinomial de grau n na composição. As equações (3.21) e (3.23) são resultados rigorosos vindos da Mecânica Estatística, e não estão sujeitos a nenhuma suposição adicional àquelas em que os coeficientes individuais do virial estão baseados. A prova dessas
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