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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
 
 
 
 
 
Página 2 de 38 
 
LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
EXPEDIENTE 
 
Uníntese | Uníntese Virtual 
 
Pedro Stieler 
Diretor 
 
Maria Bernardete Bechler 
Vice-Diretora 
 
Carmem Regina dos Santos Ferreira 
Gestora de Marketing 
 
Roberto de Oliveira 
 Gestor Administrativo 
 
Wiltom Dourado 
Gestor Acadêmico 
 
 
Maria Bernardete Becheler 
 Texto 
 
 
Aline Madrid 
Flávia Burdzinski de Souza 
 Designers Educacionais 
 
LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
- 2016 - 
Direitos Autorais reservados à UNÍNTESE 
 
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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
 
 
 
 
I LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
 
Maria Bernardete Bechler 1 
 
 
 
1.1- Sobre as Origens dos Estudos Linguísticos 
 
Da antiguidade ao mundo contemporâneo, a origem da linguagem 
sempre suscitou o interesse e o fascínio de pensadores nos diferentes períodos 
da história da humanidade. As primeiras explicações foram de cunho religioso, 
mítico, presentes também em rituais de feitiçaria, em lendas, fábulas. 
Em tempos remotos, as tentativas de explicar a origem do mundo por 
diversas sociedades já relacionavam a palavra - o uso da linguagem verbal - ao 
poder sobrenatural, fantástico, milagroso de criar. Segundo Marilena Chaui 
(2000), os mitos e as religiões revelam a força criadora e realizadora da 
linguagem, exemplificada ao citar a passagem da Bíblia judaico-cristã, quando, na 
abertura do livro de Gênesis, Deus cria o mundo pronunciando as palavras: “E 
Deus disse: faça-se! E foi feito. Porque Ele disse, foi feito”. Naquela situação, a 
palavra divina tem o poder de criar. Outro exemplo foi quando Deus teria dado a 
Adão uma língua e o poder de nomear tudo o que existia. 
 
1
Possui especialização em Supervisão Escolar, em Filosofia da Educação e em Coordenação de Práticas e 
Processos Pedagógicos. Graduação em Letras pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio 
Grande do Sul e graduação em Letras pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões. 
Atualmente é professora visitante da Universidade Tuiuti do Paraná e vice-diretora da UNÍNTESE. Tem 
experiência na área de Educação, com ênfase em educação, ensino e aprendizagem e elaboração de 
projetos. 
 
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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
 
Também no livro de Gênesis da Bíblia, é narrada a legendária história da 
Torre de Babel. Conta o mito que os homens do mundo inteiro falavam uma 
mesma língua. Resolveram construir uma torre tão alta que chegaria a tocar no 
céu e eles ficariam tão poderosos quanto o divino. Então Deus, para castigá-los, 
fez com que os homens passassem a falar línguas diferentes e a partir daí, 
ninguém mais se entenderia. E assim foi feito. Era tanto desentendimento que os 
trabalhadores da construção foram embora, se espalharam por toda a terra e a 
torre ficou inacabada. Assim, a diversidade das línguas impediu que houvesse 
uma obra em comum, dando início a desavenças e guerras. A cidade dessa 
história bíblica se chamou BABEL, palavra que significa confusão, 
desentendimento. 
Segundo Margarida Petter (2003), o encantamento que a linguagem 
verbal sempre exerceu sobre o homem tem sua origem não só no poder que 
permite nomear, criar e transformar a realidade, mas também por possibilitar 
falar, trocar ideias e informações sobre situações presentes, passadas e projetar 
o que poderá existir. A linguagem é expressão do pensamento e veículo de 
comunicação social. A existência de uma linguagem é condição para a vida em 
sociedade, pois não há sociedade sem comunicação. 
As sociedades humanas somente foram possíveis quando o homem 
deixou de expressar-se através de grunhidos, passando a usar a fala através de 
um sistema formado por palavras que se combinam entre si, facilitando não só a 
comunicação entre as pessoas, mas entre os povos, originando a formação de 
sociedades complexas. Para o filósofo americano George Herbert Mead (1967), a 
linguagem gestual antecedeu a linguagem falada, considerando que os homens 
estabeleceram gestos para executarem ações durante as caçadas, nas lutas, nas 
indicações de rumos. À medida que os gestos passaram a ser compreendidos, 
remetendo o seu significado para uma situação já vivenciada pelos indivíduos, 
converteram-se numa linguagem, onde o gesto constitui um símbolo significante 
e o sentido do gesto o seu significado. 
Os primeiros registros sobre estudos da língua remontam da 
antiguidade, na Índia. Os povos Hindus, por temerem que os escritos sagrados 
reunidos no Vedas2 sofressem modificações no momento em que fossem 
usados, passaram a estudar e descrever sua língua. Assim, os estudiosos da 
língua procuravam demonstrar de modo perfeito os sons que deveriam ser 
 
2 Vedas: escrituras sagradas associadas à religião hindu, também consideradas a espinha dorsal da cultura hindu, 
conhecida como a tradição védica. “Há cerca de 3 500 anos, as comunidades na região do vale do Indo, atual norte da 
Índia, começaram a organizar um dos sistemas religiosos mais antigos de que temos notícia: o hinduísmo. Suas crenças 
foram transmitidas oralmente de geração em geração por muitos séculos até serem transcritas nos Vedas, compilação 
de hinos e preces considerada como o primeiro livro sagrado da história”. (André Santoro e André Victor Sartorelli) 
Disponível em: <http://super.abril.com.br/historia/os-vedas-um-livro-aberto>. 
 
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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
 
emitidos nos cantos e rituais religiosos, levando a uma rigorosa descrição dos 
sons da língua, criando modelos de análise que resultaram na produção da 
primeira gramática, conhecida como a gramática de Pãnini, no século IV a.C. Os 
estudos gramaticais de Pãnini foram profundos, resultaram na descrição do 
sânscrito constituindo um tratado de quatro mil regras ou <sutras>. 
Com base nos fundamentos da filosofia, os gregos em muito 
contribuíram para o desenvolvimento dos estudos da linguagem, abrangendo as 
áreas da morfologia, sintaxe, semântica, fonologia, destacando-se nos estudos 
direcionados para explicações acerca das relações entre as palavras e o seu 
significado. Os estudos de Platão (428-347 a.C.) produziram a primeira 
classificação das palavras, chegando a conclusão de que as palavras pertencem a 
duas classes: nomes e verbos. Mais tarde, também na Grécia, Aristóteles (384 – 
322 a.C) direcionou estudos sobre a frase e ampliou os estudos sobre a 
classificação das palavras: nomes, verbos e partículas, conjunções. As escolas 
gregas de filosofia continuaram desenvolvendo importantes estudos sobre a 
língua, a exemplo dos estóicos (corrente filosófica da Grécia Antiga) que 
deixaram um legado significativo, pois além de avançarem na análise das classes 
gramaticais, fizeram a distinção entre a forma e o significado das palavras. 
Na antiguidade, a Biblioteca da Alexandria, localizada numa ilha grega, 
notabilizou-se como o mais importante centro do conhecimento da antiguidade, 
reunindo intelectuais de todo o mundo. Na Escola da Alexandria, estudiosos da 
linguagem seguiram as pesquisas desenvolvidas pelos estoicos, fase que resultou 
no que hoje se chama de gramática grega. Nesse período desenvolveram 
análises de textos poéticos, valorizando a língua literária, afirmando que era mais 
correta que a língua falada, concepção que, de certa forma, permanece até 
nossos dias: a ideia de que a linguagem literária é mais correta do que a 
linguagem coloquial. Segundo Lyons (1979) essa valorização tinha por objetivo 
explicar a língua dos autores clássicos e preservar o grego da corrupçãopraticada 
por ignorantes e iletrados. 
Segundo os registros históricos, entre as contribuições dos latinos para 
os estudos das línguas, merece destaque especial o gramático Marcos Terêncio 
Varrão, filósofo que viveu entre os anos de 116 e 27 a.C. e desenvolveu estudos 
acerca de diferentes áreas do conhecimento com destaque para as teorias da 
linguagem, tendo produzido a mais antiga gramática latina. 
Na Idade Média, os Modistas, como eram chamados os gramáticos, 
acreditavam que a estrutura da linguagem estava diretamente relacionada com a 
representação do pensamento, com a representação icônica das coisas do 
mundo. Assim sendo, uma vez que a iconicidade dependia das coisas do mundo, 
 
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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
 
todas as linguagens teriam a mesma estrutura profunda, concepção que motivou 
a tentativa de criar uma gramática universal ou especulativa. Concluíram que 
todas as línguas têm uma estrutura gramatical uma, universal, independente de 
qual língua está sendo realizada. 
No século XVI, os movimentos religiosos que culminaram na grande 
Reforma religiosa demandaram a circulação de textos e livros sagrados para 
inúmeras nações, determinando a sua tradução em diversas línguas, 
possibilitando que cristãos e não-cristãos tivessem acesso a conhecimentos 
sobre o cristianismo e assim pudessem interpretá-los. Mesmo com toda a 
movimentação ocasionada pela circulação de viajantes, comerciantes, 
funcionários do governo, e do aumento da distribuição de livros e textos em 
diversas línguas, o latim conseguiu manter-se como língua universal. 
O lançamento, no ano de 1502, do Dictionárium Poliglota, do italiano 
Ambrósio Calepino, representou uma referência para os estudiosos do léxico 
moderno, uma vez que foi reeditado e ampliado no decorrer dos séculos XVII, 
XVIII, contando com importantes contribuições de eruditos europeus. 
A Gramaire Génerale et Raisonnée de Port Royal, ou Gramática de Port 
Royal, de Lancelot e Arnaud, no ano de 1660, serviu de base para importantes 
estudos e publicações de inúmeras gramáticas no século XVII, a qual 
demonstrava que a linguagem se baseia na razão, reflete o pensamento e que 
os princípios para analisar uma língua em particular servem para analisar todas 
as línguas (Margarida Petter, 2003). 
No século XIX, o estudo comparativo entre as línguas vivas dá início ao 
surgimento das gramáticas comparadas, cuja metodologia tinha por base a 
análise dos fatos observados. As gramáticas comparadas em muito contribuíram 
para o surgimento da Linguística Histórica. O lançamento do livro do linguista 
alemão Franz Bopp, em 1816, “Sobre o sistema de conjugação da língua 
sânscrita, em comparação com a do grego, latim, persa e germânico” pode ser 
considerado um marco no surgimento da Linguística Histórica, uma vez que no 
referido livro foram demonstradas as relações morfológicas existentes entre o 
sânscrito, o latim, o grego, o persa e o germânico. A constatação das 
semelhanças entre essas e outras línguas europeias vai evidenciar que existe um 
parentesco entre elas, formando a família indo-europeia. 
No século XIX, a compreensão de que as mudanças observadas nos 
textos escritos teriam ocorrido depois de mudanças na língua falada 
correspondente, representou um marco para os avanços dos estudos 
linguísticos. Assim, compreendeu-se que as mudanças sofridas pelo latim no 
 
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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
 
decorrer dos séculos deram origem a outras línguas como o português, espanhol, 
italiano, francês. A linguística moderna considera a língua falada como objeto de 
estudo prioritário, diferentemente de períodos anteriores de supervalorização da 
expressão escrita. 
No século XX, em 1916, com a publicação da obra contendo os estudos 
de Ferdinand de Saussure “Curso de Linguística Geral” a Linguística passa a ser 
reconhecida como uma nova ciência, inaugurando um novo período em que os 
estudos da língua não mais estarão submetidos às necessidades da filosofia, da 
história, ou da crítica literária. A partir desse novo marco, os estudos da 
linguística serão descritos embasados em referenciais teóricos específicos da 
Linguística, a ciência da língua. 
 
 
1.2- Linguagem 
 
Linguagem é a capacidade humana de expressar pensamentos, ideias, 
opiniões e sentimentos por meio de signos convencionais, respondendo às 
necessidades próprias do ser humano de comunicar-se com o outro. Os atos de 
comunicação podem ser estabelecidos através de inúmeras linguagens, tais 
como sinais, símbolos, sons, gestos e regras com sinais convencionais 
constituindo a linguagem verbal oral e escrita. Assim sendo, a palavra linguagem 
abrange diferentes sistemas de comunicação, desde a linguagem animal até 
outras formas de linguagem como a música, a dança, a pintura, a mímica, a 
informática, a matemática. 
Na citação de Louis Hjelmslev (1975), é apresentada, com brilhantismo, 
uma concepção da linguagem como capacidade de expressar sentidos, e por isso 
mesmo, integrar um vasto campo de análise, sendo objeto de estudo de diversas 
áreas do conhecimento como a linguística, a filosofia, a antropologia, a biologia, 
a psicologia, a sociologia. 
A linguagem [...] é uma inesgotável riqueza de múltiplos valores. A 
linguagem é inseparável do homem e segue-o em todos os seus atos. A 
linguagem é o instrumento graças ao qual o homem modela seu 
pensamento. Seus sentimentos, suas emoções, seus esforços, sua vontade e 
seus atos, o instrumento graças ao qual ele influencia e é influenciado, a 
base última e mais profunda da sociedade humana. Mas é também o 
recurso último e indispensável do homem, seu refúgio nas horas solitárias 
 
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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
 
em que o espírito luta com a existência, e quando o conflito se resolve no 
monólogo do poeta e na meditação do pensador. Antes de o primeiro 
despertar de nossa consciência, as palavras já ressoavam à nossa volta, 
prontas para envolver os primeiros germes frágeis de nosso pensamento e a 
nos acompanhar inseparavelmente através da vida, desde as mais humildes 
ocupações da vida cotidiana até os momentos mais sublimes e mais íntimos 
dos quais a vida de todos os dias retira, graças às lembranças encarnadas 
pela linguagem, força e calor. A linguagem não é um simples acompanhante, 
mas sim um fio profundamente tecido na trama do pensamento: para o 
indivíduo, ela é o tesouro da memória e a consciência vigilante transmitida 
de pai para filho. Para o bem e para o mal, a fala é a marca da 
personalidade, da terra natal e da nação, o título de nobreza da 
humanidade. O desenvolvimento da linguagem está tão inextricavelmente 
ligado ao da personalidade de cada indivíduo, da terra natal, da nação, da 
humanidade, da própria vida, que é possível indagar-se se ela não passa de 
um simples reflexo ou se ela não é tudo isso: a própria fonte de 
desenvolvimento dessas coisas (1975, p. 1-2). 
Para a filósofa Marilena Chaui, em seu livro “Convite à Filosofia” (2000, 
p.1173), a linguagem é a forma exclusivamente humana da comunicação, da 
relação com o mundo e com os outros, da vida social e política, do pensamento e 
das artes. A linguagem permite ao ser humano organizar seus pensamentos, 
expressar seus sentimentos, falar sobre suas reações, discernir sobre diferentes 
pontos de vista, incorporar valores, compreender normas sociais, assumir 
condutas, enfim, segundo Marilena Chaui (2000, p.185) 
[...] a linguagem é nossa via de acesso ao mundo e ao pensamento, ela nos 
envolve e nos habita, assim como a envolvemos e habitamos. Ter 
experiência da linguagem é ter uma experiência espantosa: emitimos e 
ouvimos sons, escrevemos e lemos letras, mas, sem que saibamos como, 
experimentamos sentidos, significações, emoções, desejos, ideias. 
 
1.2.1 Semiologia 
Todas aslinguagens verbais e não verbais (as quais exemplificaremos 
posteriormente) possuem características que as identificam - são sistemas de 
signos usados na comunicação. A ciência que analisa sistemas, códigos, 
convenções de sinais, enfim, todos os sistemas de signos no seio da vida social 
chama-se Semiologia. A língua é um sistema de signos linguísticos, portanto, a 
língua também é estudada pela Semiologia. A Linguística é uma ciência que 
pertence ao campo da Semiologia. 
 
 
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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
 
Revisando: a Linguística estuda as línguas humanas; as línguas humanas 
são os signos mais avançados entre outros, como a dança, a música, a pintura, a 
fotografia, etc. que constituem a linguagem; a ciência mais ampla que estuda 
todos os signos da vida social se chama Semiologia. 
A Linguística é uma parte da Semiologia. Quando dizemos que a língua 
humana é o mais avançado sistema de comunicação dentre os outros signos que 
compõem a linguagem, é porque precisamos da língua para compreender e 
interpretar cada um desses outros signos. 
 
1.2.2 Linguagem verbal e não verbal 
Desde os tempos mais remotos as pessoas usam a linguagem verbal e a 
não verbal para a comunicação na vida cotidiana. A linguagem verbal é 
concretizada pela língua, compreende a fala e a escrita usadas em diálogos, 
informações transmitidas através do rádio, televisão, vídeos falados ou 
legendados, jornais, revistas, livros, documentos, e todas as situações 
envolvendo a fala e a escrita. A linguagem não verbal engloba toda e qualquer 
comunicação em que não se faz uso da palavra para transmitir a mensagem 
desejada, mas se utiliza de outros meios comunicativos, como gestos, figuras, 
objetos, cores, ou seja, os signos visuais. 
As representações da linguagem não verbal, de forma resumida, podem 
acontecer através de signos não verbais. Signo é a representação de algo a que 
atribuímos significado, sentido, valor. Podemos classificar em ícones, índices e 
símbolos. Ícone - representa por força de semelhança - estátua, desenho, 
fotografia; índice- indica ou sugere algo - fumaça, rastros, nuvem escura; símbolo 
(representa algo abstrato, é uma convenção como cruz, bandeira). 
A linguagem corporal é um tipo de linguagem não verbal, muito 
expressiva e fundamental para a comunicação, pois determinados movimentos 
corporais podem transmitir aspectos essenciais das mensagens e intenções. 
Dentro dessa categoria existe a linguagem gestual, um sistema de gestos e 
movimentos cujo significado se fixa por convenção. 
Em muitas situações usamos a linguagem mista, empregando a 
linguagem verbal e não verbal ao mesmo tempo. Por exemplo, uma história em 
quadrinhos integra, simultaneamente, imagens, símbolos e diálogos. 
Vimos que as representações da linguagem podem ser através de 
ícones, índices e símbolos. Porém, para que estes outros códigos sejam 
 
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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
 
compreendidos e aconteça a interação entre interlocutores, as pessoas utilizam 
signos verbais ou de sinais, traduzindo os códigos mentalmente, tornando 
possível a sua significação. 
 
1.2.3 Linguagem Formal e Informal 
Dependendo da situação em que a linguagem é usada, o falante pode 
usar a linguagem formal - empregada em situações que exigem o uso da 
linguagem padrão, por exemplo, salas de aula, reuniões de trabalho, palestras, 
na escrita, na produção de correspondências oficiais, de trabalhos acadêmicos, 
técnicos, científicos, etc. E a linguagem informal, usada quando existe intimidade 
entre os falantes como a família, amigos. 
As linguagens artificiais também são formais, surgem para servirem a 
um fim específico, por exemplo, a lógica matemática ou a informática. A 
linguagem de programação de computadores é uma linguagem formal que 
consiste na criação de códigos e regras específicas que processam instruções 
para computadores. 
 
1.2.4 Linguagem simbólica e a linguagem conceitual 
Com muita frequência, em nossas leituras nos deparamos com as 
expressões “linguagem simbólica” ou “linguagem conceitual”. O não 
entendimento do seu significado poderá dificultar inúmeras possibilidades de 
comunicação. 
A linguagem simbólica - expressa uma mensagem de apelo mais 
emotivo, afetivo, possibilitando interpretações subjetivas, evocando 
sentimentos, sensibilidades, possibilita a criação de situações imaginárias. É a 
linguagem das lendas, dos romances, da poesia, do teatro, das letras de música, 
entre outras expressões. No campo da psicologia, a linguagem simbólica é uma 
forma de expressão do inconsciente, realiza-se, principalmente, como 
imaginação; oferece sínteses imediatas (imagens); é fortemente emotiva e 
afetiva; as palavras têm múltiplos significados simultâneos e diferentes; oferece-
nos um mundo a ser conhecido mais belo ou mais terrível que o nosso. 
A linguagem conceitual - procura dar às palavras o sentido direto, 
próprio, não figurado, é objetiva. É a linguagem dos argumentos, raciocínios, 
provas, textos informativos, técnicos, acadêmicos. 
 
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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
 
1.2.5 As Funções da Linguagem 
A principal função da linguagem é comunicar. O estudo das diferentes 
funções da linguagem está intimamente relacionado à teoria da comunicação e 
da informação, que exerceu forte influência na linguística na década de 1950. A 
teoria da informação trata de questões relacionadas à melhoria das 
comunicações e da eliminação de problemas vinculados a telecomunicação, 
entre outros. Diana Luz Pessoa de Barros (2003) descreve o esquema do 
processo de comunicação, o qual, resumidamente, será apresentado a seguir: 
emissor (que transmite a mensagem); receptor (o que recebe a mensagem); 
mensagem (conjunto das informações transmitidas); canal - por onde as 
informações são transmitidas: ondas sonoras, cordas vocais; TV; rádio; jornal; 
código- combinações de signos utilizados na transmissão de uma mensagem; 
contexto- a situação a que a mensagem se refere, também chamado de 
referente. Importante lembrar que a comunicação somente acontece se o 
receptor entender o código que está sendo usado pelo emissor da mensagem. 
 Segundo Barros (2003), Roman Jakobson (1963) expandiu o modelo da 
teoria da informação, trazendo importantes contribuições aos estudos da 
linguagem, sendo a mais conhecida relacionada à questão da variedade de 
funções da linguagem. Na comunicação com o outro, a linguagem é usada de 
diferentes formas, dependendo das necessidades e intenções: informar, 
persuadir, emitir ordens, declarar emoções e tantas outras. 
 Assim, demonstraremos que a comunicação envolve diferentes 
recursos conhecidos como funções da linguagem. As funções da linguagem são 
as seguintes: 
Função denotativa ou referencial: Está centrada no contexto do 
referente, no assunto. Linguagem objetiva, encontrada nos textos técnicos, 
científicos, jornalísticos, acadêmicos, escolares. 
Função Emotiva: Centrada no emissor. Quando o falante expressa seus 
sentimentos e emoções. Comumente encontrada em biografias, memórias, 
declarações de amor, ódio, ressentimentos, medos, poesias líricas e outros. 
Função apelativa ou conativa: Centrada no receptor. Quando o emissor 
de uma mensagem tenta influenciar o ouvinte a mudanças de comportamento, 
convencer ou emitir ordens. Função empregada em textos publicitários, nos 
sermões, nos discursos e propagandas políticas. 
Função Fática: Centrada no contato ou canal. A língua tem uma função 
social chamada de comunicação fática, uma estratégia para manter contato 
 
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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
 
social e um nível amigável. A função fática busca aproximar o ouvinte do falante, 
demonstrar interesse pelo ouvinte. Por exemplo: ao falarmos com alguém, às 
vezes empregamos a expressão“Você entende?” ou “Tudo bem com você?” 
Também no intuito de deixar um ambiente mais agradável ou iniciar uma 
comunicação com alguém: “Será que chove?”. 
Função poética: Centrada na mensagem. O falante preocupa-se com a 
forma de expressão da mensagem, procura atrair pela beleza, pela estética. 
Usada na literatura, na poesia, com valorização das rimas, combinações de 
palavras. 
Função Metalinguística: Centrada no código. É um recurso de 
linguagem usado para explicar a própria língua. O estudo da língua na escola 
através da leitura, interpretação, vocabulário, conhecimentos gramaticais, 
pesquisa em dicionários, são exemplos do emprego da função metalinguística. A 
criança quando pergunta: “Mãe, o que quer dizer missioneiro?” Quando a mãe 
explicar o que se entende por missioneiro, estará empregando a função 
metalinguística. Na interpretação de uma poesia, de uma crônica ou de um texto 
qualquer, também há o emprego da função metalinguística porque está 
utilizando palavras para explicar outras palavras. Existem textos literários cuja 
temática aborda o próprio ato de escrever, o que também constitui mais um 
exemplo do emprego da função metalinguística. 
 
 
1.3- Linguagem e Língua 
 
No decorrer da história da humanidade, a língua serviu não só para a 
comunicação e a interação entre as pessoas, mas também constituiu poderoso 
instrumento de poder, de domínio de um grupo social sobre o outro. Nesse 
sentido, é importante lembrar a todos nós brasileiros, usuários da Língua 
Portuguesa, que muitas outras línguas eram faladas em nosso território quando 
os portugueses aqui chegaram, como o Nagô, Quimbundo, Congoesa, Yorubá, 
mais tarde as línguas africanas, ou mesmo a língua espanhola, por exemplo. 
Evidencia-se, então, que nas disputas pelo território, hoje terras brasileiras, os 
portugueses dominaram e impuseram a sua língua, sua cultura, apesar da 
histórica presença de outros povos em nossa terra. 
 
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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
 
Todos os seres humanos têm a capacidade de se comunicar através da 
fala ou de sinais, independente de sua condição social ou de sua escolaridade, 
salvo àqueles que apresentam problemas psíquicos ou que tenham problemas 
neurológicas que atinjam áreas da fala. A manifestação da linguagem na espécie 
humana não acontece de maneira natural como a fome, o sono, a dor, o prazer. 
Mesmo sendo uma aptidão genética, a linguagem precisa ser aprendida. A 
linguagem verbal (a fala e a escrita) será aprendida sob forma de uma linguagem 
em situações comunicativas, na interação com pessoas que usam o mesmo 
sistema de signos. 
Para Quadros (2004), linguagem significa o sistema linguístico que é 
geneticamente determinado para desenvolver-se nos humanos. Os seres 
humanos podem usar uma língua de acordo com a modalidade de percepção e 
produção desta: modalidade oral-auditiva (português, inglês, italiano, etc.) ou 
modalidade viso-espacial (Língua de Sinais Brasileira, Língua de Sinais Americana, 
Língua de Sinais Francesa, etc.). 
Em português o vocábulo linguagem é mais abrangente que o vocábulo 
língua, não só porque é usado para se referir às linguagens em geral, mas 
também porque é aplicado aos sistemas de comunicação, sejam naturais ou 
artificiais, humanos ou não. 
Para Lyons (1987) refletir sobre o que é língua e linguagem traz em si a 
pressuposição de que cada uma dentre as milhares de línguas naturais, 
reconhecidamente distintas, é um caso específico de algo mais geral. O que o 
linguista quer saber é se as línguas naturais, todas, possuem em comum algo que 
não pertença a outros sistemas de comunicação, de tal forma que seja correto 
aplicar a cada uma delas a palavra “língua”, negando-se a aplicação deste termo 
a outros sistemas de comunicação. 
Uma breve revisão da literatura contemplando alguns pesquisadores 
permite apresentar diferentes definições de língua. Tais definições fornecem 
subsídios para a indicação de propriedades consideradas pela linguística 
essenciais às línguas naturais. 
Segundo Saussure (1995, p.17), 
[...] língua não se confunde com linguagem: é um conjunto de convenções 
necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa 
faculdade nos indivíduos, é, portanto, um produto social da faculdade de 
linguagem. 
 
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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
 
Bloch e Trager (apud JIMENEZ, 2013) afirmam que “uma língua é um 
sistema de símbolos vocais arbitrários por meio do qual um grupo social 
coopera”. Para Hall (1968, p.5), a língua (gem) é “a instituição pela qual os 
humanos se comunicam e interagem uns com os outros por meio de símbolos 
arbitrários”. Chomsky (apud Quadros & Karnopp, 2004, p.25), considera que uma 
língua “é um conjunto (finito ou infinito) de sentenças, cada uma finita em 
comprimento e construída a partir de um conjunto finito de elementos”, 
considera ainda duas perspectivas a língua externa e a língua interna, sendo a 
primeira associando som à palavra ao seu significado, a segunda a língua interna 
define a “noção de estrutura” como parte estável, livre das expressões que 
podem variar de falante para falante. 
Fernandes (2002, p.16) dá a definição da Linguagem como sendo tudo 
que envolve significação, que pode ser humano (pintura, música, cinema), animal 
(abelhas, golfinhos, baleias) ou artificial (linguagem de computador, código 
Morse, código internacional de bandeiras). Ou seja, “sistema de comunicação 
natural ou artificial, humana ou não e “Língua” um conjunto de palavras, sinais e 
expressões organizados a partir de regras, sendo utilizado por um povo para sua 
interação”. Sendo assim a língua seria uma forma de linguagem: a linguagem 
verbal. As línguas estariam em uma posição de destaque entre todas as 
linguagens, ou seja, podemos falar de todas as outras linguagens utilizando as 
palavras ou os sinais. 
Na seção a seguir apresentaremos as principais propriedades da 
linguagem humana conforme análise de Hocket, Lyons e Lobato (apud Quadros 
& Karnopp, 2004, p 25-28). 
 
1.3.1 Propriedades das Línguas Humanas 
Entendemos por propriedades das línguas os traços comuns, 
características presentes em todas as línguas naturais humanas em relação aos 
outros sistemas de línguas (animais, matemática, tecnológicos). 
No quadro abaixo, junto às propriedades das línguas naturais orais 
apresentamos como essas propriedades se expressam nas línguas de sinais, 
comprovando que as línguas de sinais são línguas naturais. A coluna à esquerda 
apresenta as propriedades nas línguas – elaboradas com base na publicação de 
Quadros & Karnopp (2004) e a coluna à direita reproduz o trabalho de Ronice M. 
Quadros, Aline L. Pizzio e Patrícia F. Rezende (2009): 
 
 
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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
 
Propriedade das Línguas Humanas e nas Línguas de Sinais 
Flexibilidade e versatilidade 
Segundo Lyons (1981), nenhum 
outro sistema de comunicação 
parece ter o mesmo grau de 
flexibilidade e versatilidade que o 
humano, pode-se usar a língua 
para dar vazão às emoções e 
sentimentos; para solicitar a 
cooperação de companheiros; 
para ameaçar ou prometer; para 
dar ordens, fazer perguntas ou 
afirmações. É possível fazer 
referência ao passado, presente e 
futuro; a realidades remotas em 
relação à situação de enunciação 
e até mesmo a coisas que não 
existem. 
As línguas de sinais são usadas para 
pensar, são usadas para desempenhar 
diferentes funções. 
Você pode argumentar em sinais, pode 
fazer poesia em sinais, pode 
simplesmente informar, pode persuadir, 
pode dar ordens, fazer perguntas em 
sinais. 
 
Glosas em LIBRAS: 
VOCÊ GOSTAR MAÇÃ. 
VOCÊ <GOSTAR MAÇÃ>sn 
IX CASA DEFEITO EU PRECISO ARRUMAR 
< PROJETO> to AULA EU APRESENTAR 
Arbitrariedade 
As palavras e os sinais são 
arbitrários entre a formae o 
significado, visto que, dada a 
forma, é impossível prever o 
significado, e dado o significado é 
impossível prever a forma. 
 
As línguas de sinais apresentam 
palavras em que não há relação direta 
entre a forma e o significado. 
Glosas em LIBRAS: 
CONHECER 
AMIGO 
TRABALHO 
Descontinuidade 
As palavras que diferem de 
maneira mínima na forma, 
normalmente apresentam uma 
considerável diferença no 
significado. Por exemplo, a 
palavra fada e faca diferem 
minimamente na forma, tanto na 
língua escrita como na falada. 
Esse fato tem por efeito mostrar o 
caráter descontínuo da diferença 
formal entre forma e significado. 
Na língua de sinais verificamos o caráter 
descontínuo da diferença formal entre a 
forma e o significado. Há vários 
exemplos: o sinal de MORENO e de 
SURDO são realizados na mesma 
locação, com a mesma configuração de 
mão, mas com uma pequena mudança 
no movimento, mesmo assim nunca são 
confundidos ao serem produzidos em 
um enunciado. Tais sinais apresentam 
uma distribuição semântica que não 
permite a confusão entre os significados 
apresentados dentro de um 
 
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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
 
determinado contexto. 
Glosas em LIBRAS: 
TRABALHO 
VIDEO-CASSETE 
TV 
MORENO-SURDO 
Criatividade/produtividade 
Todos os sistemas linguísticos 
possibilitam a seus usuários 
construir e compreender um 
número indefinido de enunciados. 
A estrutura gramatical na 
produtividade é extremamente 
complexa e heterogênea seguindo 
os princípios que as mantêm e 
constituem. Chomsky coloca 
ainda, que tanto a complexidade 
como a heterogeneidade é regida 
por regras, dentro dos limites 
estabelecidos pela regra da 
gramática. 
As línguas de sinais são produtivas 
assim como quaisquer outras línguas. 
 
Glosas em LIBRAS: 
 
EU AMAR GISELE PORQUE ELA BONITA, 
LEGAL, ESPECIAL, 1AJUDAR2, GOSTAR 
TRABALHAR, INTELIGENTE .... 
Dupla Articulação 
A organização da língua em duas 
camadas – a camada dos sons que 
se combinam em uma segunda 
camada de unidades maiores é 
conhecida como dualidade ou 
dupla articulação. Por exemplo, os 
sons f, g, d, o, nada significam 
separadamente, já quando 
combinados eles adquirem um 
significado, como em fogo, gado, 
dado, fado etc. As línguas 
humanas têm em torno de trinta a 
quarenta fonemas ou unidades. 
 
As línguas de sinais também 
apresentam o nível da forma e o nível 
do significado. Por exemplo, as 
configurações por si só não apresentam 
significado, mas ao serem combinadas 
formam sinais que significam alguma 
coisa. 
Exemplos em LIBRAS: 
CM sem significado 
L sem significado 
M sem significado 
CM+L+M=significado (L + bochecha + 
semicírculo para trás) 
Padrão 
Cada item lexical apresenta um 
padrão de colocação na 
combinação ou substituição por 
outros itens, conforme ilustram os 
As línguas de sinais são altamente 
restringidas por regras. Você não pode 
produzir os sinais de qualquer jeito ao 
usar a língua de sinais brasileira, por 
 
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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
 
exemplos abaixo: O rapaz 
caminhou rapidamente; 
Rapidamente, caminhou o rapaz; 
O rapaz rapidamente caminhou. 
As outras combinações são 
agramaticais. Na palavra sal, por 
exemplo, a vogal a poderia ser 
substituída por o ou u, mas não 
por z ou h. Em síntese o português 
apresenta restrições na maneira 
em que itens podem ocorrer 
juntos e na ordem em que eles 
aparecem. 
exemplo. Você deve observar suas 
regras. 
Exemplo em LIBRAS: 
Obedecer às regras de formação de 
sinais e de sentenças. 
(ajudar com CM S – mostrar exemplos 
de sinais com CM errada, ou L errada, 
ou M errado) 
Dependência Estrutural 
Uma língua contém estruturas 
dependentes que possibilitam 
entendimento da estrutura 
interna de uma sentença, 
independente do número de 
elementos linguísticos envolvidos. 
 
Também é observada uma dependência 
estrutural entre os termos produzidos 
nas línguas de sinais. 
Glosas em LIBRAS: 
PAULO TRABALHAR+asp 
*TRABALHAR+asp PAULO 
SINAL BRASIL 
*BRASIL SINAL 
 
 
1.3.2 Linguagem humana versus comunicação animal 
Algumas características que estão presentes em todas as línguas 
naturais, tais como as propriedades de dependência estrutural, padrão, 
dualidade, deslocamento, criatividade constituem traços únicos das línguas 
humanas. Até o presente, os sistemas das línguas animais não apresentam essas 
características. 
 
 
 
 
 
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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
 
 
1.4- Sobre a Linguística 
 
Nesta seção, inicialmente faremos uma breve apresentação da 
Linguística como área de estudo; a seguir o trabalho estará direcionado para as 
concepções de dois linguistas que marcaram os estudos científicos da língua no 
século XX: Ferdinand de Saussure e Avram Noam Chomsky. 
A Linguística é considerada uma ciência da linguagem humana que tem 
como objeto de estudo a língua natural humana. Analisa e descreve as línguas 
como se apresentam, não tendo a preocupação em emitir juízos de valor, não 
determina se é correta ou incorreta, não privilegia as formas mais cultas em 
detrimento das formas mais populares. A Linguística procura explicar a 
capacidade que as pessoas possuem para compreender uma língua, formar 
palavras, frases, textos, produzir sons, gestos, sinais. 
Considerada uma ciência descritiva, a linguística de Saussure não leva 
em conta o aspecto histórico, as modificações da língua no decorrer do tempo. 
Há muitos séculos a linguagem já era objeto de estudo de outras 
ciências, como a filosofia, a filologia, a lógica. Foi, porém, com o mestre 
Ferdinand de Saussure, nascido 1857 em Genebra, na Suíça, que a Linguística 
passou a ser considerada uma ciência. Em 1916, três anos após a morte de 
Saussure, seus discípulos lançaram o “Curso de Linguística Geral”, livro que 
marca o início da Linguística como ciência, a partir do qual possibilitou novos 
estudos sobre a linguagem e a língua, servindo de embasamento para outras 
correntes da Linguística surgidas no decorrer do século XX. 
 Para Saussure (1995), todas as manifestações da linguagem humana 
são matéria de interesse da Linguística, sejam manifestações de povos 
primitivos, selvagens ou de povos civilizados, independente do período histórico, 
sejam elas contextualizadas da antiguidade, medievo, moderno ou 
contemporâneo. 
Saussure (1995) distingue linguagem e língua. Explica a linguagem como 
sendo uma capacidade humana natural, que nasce com o ser humano, porém as 
línguas são aprendidas, convencionais, surgem pela necessidade de comunicação 
entre as pessoas e se desenvolvem conforme o contexto cultural, geográfico, 
econômico, tecnológico, de um povo. A linguagem é mais ampla que a língua, é 
 
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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
 
uma capacidade humana que permite que o homem produza e compreenda 
todas as manifestações simbólicas como a pintura, a música, a dança, sendo a 
língua uma dessas manifestações. 
Para Saussure (1995) a língua é a parte essencial da linguagem, 
constitui-se num sistema de signos, um conjunto de unidades que se relacionam 
de forma organizada dentro de um todo. É social e convencional. 
Saussure também distingue língua e fala. Desde o seu surgimento, a 
análise linguística não abrangia a fala, pois a considerava muito variável. A fala é 
o sistema da língua em uso, é um ato individual em que cada falante escolhe o 
vocabulário, trazendo para sua fala as marcas da cultura. Para o lingüista, no 
amplo campo de estudo que envolve linguagem / língua / fala, a língua é o objeto 
de estudo da Linguística. A partir dessa concepção, os estudos da linguagem 
dividem-se em duas áreas: a Linguística da língua e a Linguística da fala. 
Saussure, no livro Curso de LinguísticaGeral, focalizou a sua teoria na Linguística 
da Língua. Para Saussure, a língua é eminentemente social. Ao referir-se ao 
aspecto social da língua, assim se pronuncia. 
Trata-se de um tesouro depositado pela prática da fala em 
todos os indivíduos pertencentes à mesma comunidade, um sistema 
gramatical que existe virtualmente em cada cérebro ou, mais 
exatamente, nos cérebros de um conjunto de indivíduos, pois a 
língua não está completa em nenhum, e só na massa ela existe por 
completo (SAUSSURE, 1969, p. 21). 
A Linguística moderna partiu dos estudos descritivos e comparativos das 
línguas históricas realizados por linguistas dos anos de 1800. Esses estudos 
possibilitaram a análise das transformações e da evolução das línguas, 
fundamentando conhecimentos dos linguistas do século seguinte, anos 1900. 
Assim, nos nossos dias, considerando os estudos comparativos e evolutivos, a 
Linguística está subdividida na Linguística Histórica e na Linguística Geral. 
Saussure realiza um corte nos estudos comparativos e inaugura um 
novo momento para os estudos dos fenômenos da língua. Segundo a sua teoria, 
a língua deve ser estudada tal como ela se apresenta, não sendo objeto de 
preocupação os seus aspectos históricos e evolutivos. 
A Linguística é a ciência da linguagem. É uma ciência por ser descritiva e 
explicativa (explica o que a língua é e por que é assim). Ela se diferencia da 
gramática normativa, que se preocupa em prescrever como se deve dizer. Um 
linguista não condena certas maneiras de falar, não as declara certas ou erradas, 
 
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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
 
preocupa-se em descrever e explicar as construções e as formas da língua em 
uso (FIORIN, 2015, p.37). 
No final da década de 1950, com a publicação do livro Syntatic 
Stuctures, outra teoria linguística muito importante foi apresentada pelo 
linguista e pensador americano Avran Noam Chomsky, nascido em 1928, na 
Filadélfia, Pensilvânia, autor de mais de 70 livros, traduzidos em dez línguas. Essa 
teoria, hoje vastamente conhecida como “Gramática Gerativa”, mudou o objeto 
de estudo da linguística. Segundo a sua teoria a língua não é social, para ele, a 
língua é um objeto mental. Chomsky definiu língua como 
[...] um sistema de princípios conhecidos intuitivamente por qualquer 
falante, princípios esses que integram, juntamente com outras capacidades 
cognitivas, a mente humana, essa teoria aproximou a Linguística dos 
estudos biológicos e das ciências cognitivas. A língua não é mais um objeto 
social, ela é um componente central da natureza humana (apud NEGRÃO, 
2015, p.76-77). 
A seguir, no decorrer deste trabalho, vamos apresentar aspectos 
significativos das teorias linguísticas de Ferdinand de Saussure e Noam Chomsky, 
importantes para a compreensão do fenômeno linguístico. 
 
1.4.1 Ferdinand Saussure 
A língua, segundo Saussure, “é, ao mesmo tempo, um produto social da 
faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas 
pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos” (1969, 
p.17). 
Para explicar o que significa “produto social”, podemos dizer que a 
língua é produzida e usada por toda uma comunidade, não sendo propriedade 
de ninguém individualmente. Uma língua não existe individualmente, ela se 
constitui no meio social e é no meio social que ela se realiza, se transforma e 
evolui. Vimos, então, que a língua é social e convencional, isto é, as palavras, os 
signos, devem ser conhecidos e compreendidos por todos os seus usuários. 
Para Saussure a língua é um sistema formado por um conjunto 
organizado de elementos; esses elementos se definem por sua relação com o 
sistema e por sua relação com os demais elementos. Cada elemento da língua se 
define pela diferença existente em relação a outro elemento. Para exemplificar a 
questão da diferença vamos observar a palavra /bola/, se substituirmos o 
fonema /b/ pelo fonema /m/, teremos outra palavra: mola. Relacionando as 
 
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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
 
duas palavras, veremos que a diferença entre elas são os fonemas /b/ e /m/. 
Como poderemos definir o que é o fonema /b/ que aparece no início da palavra 
/bola/? Não tem como definir, só dizer que o /b/ não é o /m. 
 
Saussure
3
 
Assim sendo, para Saussure (1995), a língua é um sistema de signos – 
um conjunto de elementos que se relacionam organizadamente dentro de um 
todo. É importante lembrar que para o autor, a linguagem é uma faculdade inata 
no indivíduo ao passo que a língua constitui algo adquirido e convencional. 
Ao definir o objeto dos estudos da Linguística, Saussure entende que 
não pode ser a linguagem, tendo em vista que ela tem características da física, da 
antropologia, da fisiologia. Define então que o objeto da linguística é a língua, 
que é um produto da faculdade da linguagem e que é um produto social. A 
língua é social, se realiza entre pessoas de uma comunidade que conhecem os 
significados dos signos. 
Dicotomia Saussuriana 
Na obra de Saussure encontramos a palavra dicotomia, usada na lógica, 
que no novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (FERREIRA, 2009, p.675), 
significa “divisão lógica de um conceito em dois outros conceitos em geral 
contrários, que lhe esgotam a extensão”, exemplo: animais vertebrados e 
invertebrados; direito público e privado. Essa é a compreensão que devemos ter 
 
3 Disponível em: http://newlearningonline.com/literacies/chapter-8/saussure-on-signs 
 
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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
 
da dicotomia saussuriana. Os conceitos dicotômicos se opõem, um só pode ser 
compreendido se comparado ao outro, e juntando os dois formam um conceito 
maior, muito importante para entendermos o que é a língua. 
Passaremos a apresentar os quatro pares de conceitos que formam as 
dicotomias saussurianas: 
• língua e fala; 
• significante e significado; 
• sincronia e diacronia; 
• paradigma e sintagma. 
Língua e fala 
A língua é social, um sistema de signos convencionais, não pode ser 
mudado. A fala é individual, é a manifestação oral, é o sujeito falante usando o 
código da língua. A fala traz muitas marcas da cultura, do modo de viver do 
falante, de tal forma que uma mesma língua pode ser falada de diferentes 
maneiras, dependendo do lugar, das influências a que o falante está exposto. 
Enfim, a fala é a expressão individual, própria de cada pessoa. Porém, 
independente do jeito de cada indivíduo falar, a língua é a mesma: no nosso caso 
o português. 
Significante e Significado 
Para compreendermos a dicotomia “significante e significado,” 
precisamos entender muito bem o que se entende por signo linguístico. 
Signos linguísticos são unidades linguísticas que significam alguma coisa. 
Por exemplo: livro é um signo em português. Se eu uso esse signo, todas as 
pessoas que conhecem a língua portuguesa sabem a que eu me refiro. A palavra 
livraria também é um signo, porém é composta por dois signos menores que têm 
significação: livr (livro) mais aria (indica um estabelecimento comercial que 
vende livros) forma o novo signo livraria. Frases ou textos também são signos 
porque significam alguma coisa. Por exemplo: o livro A Moreninha, de José de 
Alencar, é um signo. 
Assim, tudo que é existente e conhecido é representado por um signo. 
O signo é a associação indissolúvel de um significante e de um significado. 
 
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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
 
Por exemplo, árvore: o significado corresponde não ao objeto, a coisa 
em si, mas a ideia, o conceito que temos de árvore (galhos, tronco, raiz). O 
significante de árvore é a imagem acústica, que é a representação psíquica do 
som /a/r/v/o/r/e. 
O significante é a imagem acústica, ou seja,quando se pensa em algo 
conhecido, é como se o som ressoasse no cérebro é um som não articulado. 
 
 
 
Significado / Significante4 
 
 
 
 Signo5 
Ex: Signo bicicleta. Significado: a ideia, o conceito, as características, o 
que a bicicleta significa para o sujeito. Significante é a imagem acústica, a 
representação psíquica do som. 
 
Para resumir: Signo linguístico compreende dois termos psíquicos 
unidos em nosso cérebro = significado (ideia, conceito) + significante 
(representação psíquica do som). 
 
 
 
 Conceito/Imagem6 
 
4 Disponível em: https://letransfert.wordpress.com/2013/05/15/sintoma-e-desejo-psicanalitico-uma-perspectiva-linguistica/ 
5 Disponível em: Referência: http://comunicacionparaadultos.blogspot.com.br/ 
 
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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
 
 
Características do Signo 
O signo possui duas características: a arbitrariedade e linearidade. 
O que quer dizer o princípio da arbitrariedade? 
Para explicar, vamos analisar o termo “mar” – o conceito de mar, a ideia 
que cada um de nós tem do mar, poderia ser representado por qualquer outra 
imagem acústica com “bar”, “fogão”, “cadeira”. Não existe relação entre o 
significado e o significante. Assim, podemos dizer que o que une o significante ao 
significado é arbitrário. Também como exemplo, para o referencial “cão” em 
português, em inglês é “dog”, em espanhol é “perro”. O significado, o conceito, a 
ideia de cão é o mesmo nas diferentes línguas, porém, o significante não é o 
mesmo, o significante é arbitrário. 
As línguas de sinais, bem mais recentes, possuem um número 
significativo de sinais que representam a forma ou o modelo dos objetos ou 
indivíduos a que se referem, são os chamados sinais icônicos, comprovando que 
o princípio da arbitrariedade do signo não é absoluto, embora, para a maioria 
dos sinais, não seja impossível compreender o significado apenas pela 
representação. 
O que se entende por linearidade do signo? 
As palavras em um texto sempre são apresentadas em forma linear, 
uma após a outra; elas não podem ficar sobrepostas, não ocorrem 
simultaneamente. Também as letras na palavra sempre virão uma após a outra, 
este é o princípio da linearidade. Vamos observar a frase: “O inverno chegou 
trazendo as chuvas frias, provocando enchentes, obrigando muitas famílias a 
abandonarem as suas casas.” Todas as palavras estão em linha, uma após a 
outra, cada uma ocupando um lugar específico para constituir o significado da 
mensagem. Cada palavra se relaciona com a outra, constituindo uma unidade, 
um sentido. 
Hoje em dia, muitos linguistas já questionam esse princípio da 
linearidade porque ele não se aplica totalmente às Línguas de Sinais. 
Nas línguas de sinais, a simultaneidade é um fato bastante comum: é 
possível se realizar um signo com uma mão, e outro com a outra, ao mesmo 
tempo. Além disso, enquanto as mãos estão realizando sinais lexicais, a 
 
6 Disponível em: http://4.bp.blogspot.com/_zO7e6hJaq8A/Su8ahAkq6zI/AAAAAAAAAEU/VlGJlbJF0EE/s320/clip_image002.jpg 
 
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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
 
posição do tronco e da cabeça, a direção do olhar, as expressões faciais 
estão fornecendo informações discursivas e gramaticais (VIOTTI, 2008, 
p.25). 
Ainda assim, segundo a autora, a linearidade se aplica nas Línguas de 
Sinais em todos os níveis de análise, do fonológico ao discursivo. 
Sincronia e diacronia 
 Para Saussure (1969), o estudo sincrônico da língua é a observação da 
língua num momento delimitado, num determinado ponto do tempo, num 
período, não interessando o que aconteceu antes, nem o que poderá acontecer 
depois. Esta forma de analisar a língua se chama de sincronia, não se atém às 
transformações históricas da língua e nem a sua possível evolução. 
Na análise sincrônica, descrevem-se as relações entre os fatos existentes 
em um determinado tempo do sistema linguístico. 
 Diacronia são as observações das ocorrências que aconteceram com a 
língua através do tempo, engloba as mudanças e transformações. Para 
exemplificar uma observação diacrônica podemos observar as transformações 
históricas: “vossa mercê”; “vosmicê”; “você”. 
Paradigma e sintagma 
Vamos explicar as relações sintagmáticas e as relações paradigmáticas 
ou associativas, que se referem às relações e que se estabelecem entre os 
elementos que constituem o sistema da língua. Essas relações podem ser 
separadas em dois grupos. Cada grupo corresponde a uma atividade mental e 
são muito importantes para a língua. 
O que se entende por sintagma? Sintagmas são as combinações que 
acontecem dentro do contexto discursivo, uma palavra, um grupo de palavras ou 
uma frase. O sintagma acontece a partir do princípio da linearidade: são 
combinações consecutivas, se alinham uma após a outra, como acontece na fala. 
O sintagma tem duas ou mais unidades, como por exemplo: pato= pa-to; Paulo 
chegou; Se fizer tempo bom, sairemos. Vimos que num sintagma cada termo 
linguístico tem um valor porque se opõe ao termo que vem antes e ao que vem 
após. 
Exemplo: Na palavra “parede”- pa-re-de , se deslocarmos uma sílaba, 
mudará o sentido: depare – de-pa-re. Mudando uma sílaba, não comunicamos 
o signo parede, é preciso que as combinações sejam lineares e consecutivas, 
mantendo o significante. 
 
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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
 
O sintagma exige ordem de sucessão, onde cada termo linguístico tem 
um valor, desde que dentro de um contexto discursivo. Usando um exemplo do 
próprio Saussure (1969) com a frase: “Se fizer bom tempo, sairemos.” Todos os 
termos estão alinhados, respeitando a linearidade, estão alinhados 
horizontalmente, numa situação comunicativa verbal, sendo possível comunicar 
a mensagem,temos um sintagma. Observe o valor de cada termo, pois o 
contexto discursivo perderia o significado se a ordem fosse alterada: Tempo se 
sairemos bom fizer. São as relações sintagmáticas. 
Paradigma ou Relações Associativas 
São associações que acontecem em nossa memória com as palavras que 
têm alguma coisa em comum: ou o significado, ou a imagem acústica, a 
sonorização. Exemplo: quando lemos ou ouvimos a palavra “livraria”, a essa 
palavra se associam muitas outras que estão na nossa memória, como livro, 
papel, arquivos, cadernos, lápis, enfim, um universo de palavras que poderão 
estar associadas ao significado de livraria. Outras palavras poderão ser 
associadas à sonorização de livraria: portaria, papelaria, pescaria. O eixo 
paradigmático ou eixo vertical é o eixo das relações associativas. 
 
 
 
, 
 
Exemplo de paradigma ou relações associativas: 
 
 
 
 
 
Nessa primeira parte do trabalho apresentamos, resumidamente, 
aspectos da Linguística, segundo Ferdinad de Saussure. 
 
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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 
 
A seguir, apresentaremos brevemente outra teoria Linguística criada por 
Noam Chomsky, chamada de Gerativismo. As teorias de Saussure e de Chomsky 
são importantes para a compreensão do funcionamento da língua. 
 
1.4.2 Noam Chomsky 
Pensador e linguista americano, Avram Noam Chomsky é o principal 
teórico do Gerativismo. Quando estudamos a teoria de Saussure, vimos que a 
língua é predominantemente social. Para Chomsky, na Gramática Gerativa, a 
língua é um objeto mental. Para ele, a mente humana é o local onde a língua - 
um sistema de princípios - está radicada. É esse sistema de princípios mentais 
que é o objetode estudo da Gramática Gerativa (Viotti, 2008). 
Para Chomsky (1996), existe na nossa mente um módulo cognitivo 
independente, exclusivamente associado à língua e não a outras linguagens 
como a dança, a música, a pintura, etc., que permite às pessoas a compreensão e 
formulação de palavras, frases, discursos. Assim sendo, a linguagem é uma 
capacidade inata, transmitida geneticamente e própria da espécie humana. 
Segundo Viotti (2008), a faculdade da linguagem já está formada 
quando a criança nasce, é comum a toda a espécie humana, é igual para todas as 
crianças, sejam surdas ou ouvintes. A faculdade da linguagem é um estado inicial 
a toda a pessoa quando nasce, é inata, faz parte da genética humana, chama-se 
gramática universal. A língua “é o resultado da interação de dois fatores: o 
estado inicial e o curso da experiência” (Chomsky, 1996, p. 74). 
 
Chomsky
7
 
 
 
7
 Disponível em: Fonte:http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.virtual.ufc.br/ 
 
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Assim sendo, se uma criança, ao nascer, passar a conviver com pessoas 
que falam português, o seu estado inicial da faculdade da linguagem, em 
interação com as informações linguísticas, vai se modificando e ela passará a 
falar português e não outra língua. Da mesma forma, se a criança for surda e os 
seus pais ou cuidadores usam a língua de sinais, a criança vai desenvolver a 
língua de sinais. Evani Viotti assim explica a gramática universal: 
 
[...] para a Gramática Gerativa, a língua pode ser comparada a um ser vivo: 
ao nascer, esse ser traz em seus genes a capacidade de crescer, de se 
desenvolver, de amadurecer. Se esse ser vivo recebe nutrientes, ele cresce e 
se desenvolve. Se não, ele não sobrevive. O mesmo acontece com a 
informação genética da faculdade da linguagem: em seu estado inicial, que 
é a gramática universal, ela tem uma pré-disposição genética para crescer e 
se desenvolver e se tornar uma gramática estável, como a do português, do 
japonês, da Libras, da ASL. Mas, para isso, ela precisa receber nutrientes, ou 
seja, ela precisa ser exposta a um ambiente linguístico; se isso não 
acontecer, essa informação linguística inata não vai sobreviver (2008, p.34). 
 
Ao referir-se à faculdade da linguagem, Chomsky a considera como um 
“órgão linguístico”, como outros órgãos do corpo tais como o sistema visual, o 
sistema circulatório, dado o seu caráter fundamental em todos os aspectos da 
vida e da interação humana. 
 
O Que se Entende por Gerativismo? 
Segundo a teoria de Chomsky, todas as pessoas têm os mesmos 
mecanismos mentais destinados à produção e compreensão da linguagem. 
Vamos retomar a noção já mencionada, de que para ele 
[...] existe em nossa mente um módulo linguístico constituído de princípios 
responsáveis pela formação e compreensão das expressões linguísticas e 
exclusivamente dedicado a língua. Esse módulo linguístico é chamado de 
faculdade da linguagem. Essa faculdade da linguagem é inata, ou seja, 
todos os seres humanos nascem dotados dela. “A faculdade da linguagem 
é parte da dotação genética da espécie humana” (Viotti, 2008, p.33, grifo 
nosso). 
A essa faculdade da linguagem que é parte da dotação genética 
humana, esse módulo especial, associado especificamente à língua e não às 
 
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outras linguagens como a dança, a música, que se constitui o centro dos estudos 
da sua teoria, é chamada de GRAMÁTICA UNIVERSAL. 
A Gramática Universal é o estado inicial, uma competência que toda a 
criança já traz quando nasce e está presente em todas as pessoas, sejam 
ouvintes ou surdas. 
Todas as pessoas são portadoras da faculdade da linguagem. Logo, 
todas possuem uma Gramática Universal. Porém, esse estado inicial da faculdade 
da linguagem, à medida que a criança passa a conviver num ambiente linguístico, 
com qualquer língua humana verbal ou a língua de sinais, a Gramática Universal 
vai se desenvolver e se tornar uma gramática constante, como a espanhol, o 
português, a LIBRAS. 
A preocupação da Gramática Universal são os mecanismos mentais 
dedicados à produção e compreensão da linguagem, em que os falantes de uma 
língua têm intuições sobre como devem ser as formas das sentenças. 
O se entende por intuição? Vamos observar os exemplos: 
1. Todos participaram da construção do ginásio da comunidade. 
2. Da construção do ginásio da comunidade todos participaram. 
3. Da comunidade participaram ginásio todos construção da. 
Percebe-se que a última sentença não tem sentido. Por intuição, pelos 
conhecimentos que temos da língua, sabemos que a sentença nº 3 está incorreta 
e que as sentenças 1 e 2 são sentenças possíveis. 
O conhecimento intuitivo inicialmente era chamado de competência 
linguística. É o conhecimento que o falante possui sobre a sua própria língua, é o 
conhecimento interiorizado. Desempenho linguístico é o uso do conhecimento 
intuitivo, chamado de conhecimento exteriorizado. 
Mais tarde, o conhecimento interiorizado foi denominado Língua – I. 
Para a Gramática Gerativa o que é investigado é a Língua-I (interiorizada), 
capacidades mentais que nos capacitam a produzir e a compreender a 
linguagem. Segundo a Gramática Gerativa, nascemos com a capacidade para a 
linguagem, pois temos uma constituição biológica que permite compreender e 
produzir linguagem. Essa abordagem é legitimada pelos seguintes argumentos: 
 
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a) Argumento da pobreza de estímulo - As informações linguísticas a 
que as crianças são expostas no período de aquisição da linguagem, sozinhas, 
não são suficientes para que elas criem um sistema altamente complexo como é 
a linguagem humana. Os estímulos são pouco informativos sobre as 
propriedades gerais da linguagem. Como conseguem desenvolver o sistema 
complexo? Para Chomsky, os dados linguísticos a que uma criança está exposta 
são sempre pobres, independente do grupo social a que ela pertence. Pessoas 
ricas e pobres, todas são expostas a ambientes linguísticos insuficientes, 
incapazes para explicar todo o conhecimento linguístico que ela tem de sua 
língua (apud VIOTTI, 2008). 
b) Criatividade Linguística - a linguagem é um meio finito que gera um 
número infinito de sentenças. Uma criança pode produzir sozinha, uma frase que 
nunca ouviu antes. Isso mostra a nossa capacidade da linguagem. 
Segundo a Gramática Gerativa, a linguagem é constituída por um 
número infinito de sentenças e não existe limite para o término de uma 
sentença. Porém, os elementos mínimos com os quais se constrói uma sentença 
são finitos, isto é, os sons distintivos de uma língua são finitos, o conjunto de 
unidades significativas é finito; o conjunto de princípios que regem a construção 
de uma sentença é finito (NEGRÃO, 2015). 
No decorrer da história, a Gramática Gerativa tem sido revista, 
adaptando-se às novas descobertas. A versão mais recente é a chamada de 
Princípios e Parâmetros. Segundo Viotti (2008), esse modelo apresenta 
inovações nos seguintes aspectos: 
a. Propõe a divisão da gramática em módulos, cada um deles com 
organização própria mas que se articulam entre si. 
b. A Gramática Universal deve ser composta de dois princípios: alguns 
são rígidos e invariáveis, e que são incorporados por todas as línguas; outros que 
são abertos, oferecendo geralmente duas possibilidades de valores, que vão se 
integrando ao longo do processo de aquisição, conforme o meio linguístico em 
que a criança se desenvolve. Esses princípios abertos são chamados de 
Parâmetros. 
Nota: Nesta disciplina de Aspectos Linguísticos e Gramaticais de Libras o 
nosso propósito é trazer para os alunos algumas informações da Linguística 
Geral, visando sempreum melhor entendimento do funcionamento da língua. 
 
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A Teoria Gerativa constitui-se num amplo projeto de investigação da 
língua. Assim sendo, os aspectos aqui abordados representam uma breve 
introdução para posterior aprofundamento 
 
1.4.3 Relações de interface da Linguística com as outras áreas do 
conhecimento 
Muitos avanços científicos resultam da convergência da Linguística com 
as outras áreas do conhecimento, constituindo o que se denomina de relações 
de interface. Assim, a sociologia também estuda a linguagem, uma vez que a vida 
em sociedade só é possível se houver comunicação entre os indivíduos, 
precisando da língua com suas normas, com seu caráter convencional, que 
possibilita a convivência social. A filosofia cada vez mais se interessa pelas 
relações entre linguagem, pensamento e realidade. A psicologia busca na 
linguagem humana a compreensão do funcionamento da mente. Assim, a 
linguística mantém relações interdisciplinares, ora contribuindo com seus 
conhecimentos, ora usufruindo dos conhecimentos das outras áreas. 
 A linguista Evani de Carvalho Viotti (2008) aponta algumas relações de 
interface entre a linguística e outras áreas, que passaremos a apresentá-las 
resumidamente por auxiliarem na compreensão de alguns aspectos em que 
ocorrem relações interdisciplinares. 
 Entre os conhecimentos trazidos pela biologia para a compreensão e o 
desenvolvimento da linguagem, encontram-se aqueles que tornam possível 
conhecer o funcionamento biológico; as modificações genéticas ocorridas 
através do tempo e que possibilitaram o surgimento da língua, as projeções de 
possíveis mutações futuras; as dotações genéticas da espécie humana para a 
linguagem. 
Através dos estudos da neurofisiologia, a Linguística tem 
importantíssimos estudos sobre as partes do cérebro envolvidas na produção e 
compreensão da fala, bem como estudos sobre as partes atingidas por 
traumatismos cranianos, acidentes vasculares cerebrais. Estuda a estrutura do 
aparelho fonador, responsável pela produção dos sons; as características e 
funcionamento dos ouvidos. Quanto à língua de sinais, estudos linguísticos já 
investigam a articulação das mãos na produção dos sinais. 
Os estudos da Psicolinguística apresentam relações entre língua e 
cognição e procuram entender o aprendizado de línguas. Estudos nessa área têm 
mostrado a importância das crianças surdas estabelecerem contato com a língua 
 
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de sinais desde recém-nascidas. Demonstram, também, a importância da 
fluência na língua de sinais para a aprendizagem da escrita em português. 
A Sociolinguística analisa as relações entre língua e cultura, as variações 
linguísticas, as transformações da língua. Percebe a língua como um fenômeno 
social, que nasce e emerge através do contato entre as pessoas, que começa de 
forma rudimentar e vai evoluindo até formar um sistema complexo, a exemplo 
das línguas de sinais, que nasceram com o uso de poucos sinais e foram 
evoluindo, criando suas regras e sua gramática, até atingirem o reconhecimento 
de língua de sinais. 
 
 
1.5- A Linguística e as Línguas de Sinais 
 
A Linguística como ciência procura entender e descrever as línguas, bem 
como as teorias que possam explicar a fantástica possibilidade de uma pessoa se 
comunicar com a outra através das línguas orais ou de sinais. 
Os estudos linguísticos das Línguas de Sinais iniciaram com o Dr. William 
C. Stokoe, Jr. (1919-2000), um linguista escocês que vivia nos Estados Unidos. Em 
1955, assumiu o departamento de inglês e literatura inglesa numa escola para 
surdos, chamada de Gallauddet College, hoje conhecida como Gallauddet 
University, importante centro acadêmico de pesquisas e ensino para surdos. Ele 
era ouvinte e desconhecia o mundo das pessoas surdas. Na escola empregava-se 
a oralização, a leitura labial. Através das suas observações sistemáticas, percebeu 
que nas situações informais, no pátio e nos corredores, os alunos usavam um 
conjunto de sinais para se comunicarem entre si, bem diferentes dos sinais de 
instrução usados nas aulas. Procurou aproximar-se dos alunos para conhecer os 
sinais que tinham maior força comunicativa, pois, na época, nem a língua de 
sinais americana era ensinada na escola. A partir das suas observações, passou a 
constatar que a sinalização usada pelos surdos era uma língua autônoma, com 
uma gramática própria. Apresentou uma análise descritiva da Língua de Sinais 
Americana, revolucionando a linguística da época, período em que todos os 
linguistas se dedicavam aos estudos da língua oral. Pela primeira vez um linguista 
estava apresentando elementos linguísticos de uma língua de sinais. Hoje, ainda 
temos poucos linguistas surdos pesquisando as línguas de sinais. 
 
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Assim, os estudos linguísticos das línguas de sinais partem dos mesmos 
pressupostos básicos, válidos tanto para as línguas orais como para as línguas 
visuoespaciais: as línguas são constituídas por um conjunto de princípios que 
fazem parte do conhecimento humano e determinam a produção oral ou viso- 
espacial, dependendo da modalidade das línguas, se faladas ou sinalizadas, da 
formação das palavras, da construção das sentenças e da construção dos textos. 
Para o entendimento dos diferentes aspectos da linguagem humana, os 
estudos linguísticos de todas as línguas abrangem as seguintes áreas: a fonologia, 
a morfologia, a sintaxe, a semântica e a pragmática. Cada uma dessas áreas será 
estudada na última unidade. 
A LIBRAS, por ser uma língua natural, possui os mesmos fenômenos 
linguísticos comuns a todas as línguas orais, podendo ser analisada nos níveis 
fonológico, morfológico, sintático, semântico e paradigmático. Por sua 
característica espacial, os níveis fonológico, morfológico e sintático se realizam 
espacialmente, uma vez que o espaço é um importante canal de constituição da 
língua de sinais. 
 
 
1.6- As Variações Linguísticas 
 
A expressão “variações linguísticas” remete à existência de uma língua 
viva, pulsante, que revela os diferentes sentidos e formas com que os falantes 
percebem o mundo. O Brasil não é um país de uma única língua. Embora a Língua 
Portuguesa seja o idioma oficial no país, há manifestações de muitos outros 
idiomas e variações da própria Língua Portuguesa no nosso território. Segundo 
Oliveira, os dados demonstram que o plurilinguismo está presente nas diferentes 
regiões do país. 
[...] no Brasil de hoje são falados por volta de 200 idiomas. As nações 
indígenas do país falam cerca de 170 línguas (chamadas de autóctones), e as 
comunidades de descendentes de imigrantes outras 30 línguas (chamadas 
de línguas alóctones). Somos, portanto, como a maioria dos países do 
mundo - em 94% dos países do mundo é falada mais de uma língua - um 
país de muitas línguas, plurilíngue (2009, p.83-84). 
A língua é social e se realiza num determinado momento histórico e 
geográfico. Assim como a sociedade muda, a língua que usamos também sofre 
 
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transformações. É muito comum, num mesmo país, as pessoas falarem a mesma 
língua de formas diversas, múltiplas. As variações são ocasionadas por diferentes 
fatores tais como a época, as condições econômicas, os ambientes sociais, a 
região geográfica, o uso das tecnologias e das redes sociais. Essas diversidades 
linguísticas normalmente iniciam na fala, aparecendo depois na escrita. 
As línguas naturais nascem espontaneamente da necessidade de 
comunicação e interação entre as pessoas, são dinâmicas e estão sempre se 
modificando. Essa capacidade de transformação da língua chama-se variação 
linguística. As variações linguísticas refletem asdiferentes formas das pessoas se 
comunicarem, muitas vezes o uso de gírias e regionalismos cumprem muito bem 
a função de comunicar, outras vezes há a necessidade de optar pela norma 
padrão da língua. 
As línguas de sinais também apresentam as mesmas variações que a 
Língua Portuguesa e as demais línguas orais. A seguir, veremos alguns tipos de 
variações que a língua sofre no decorrer do seu uso: 
Variação Histórica – São as modificações da língua no decorrer do 
tempo, por exemplo: as palavras antes escritas com ph como pharmácia - 
farmácia; as reduções: vosmece – você; etc. 
Variação Regional (os chamados dialetos) - São as variações ocorridas de 
acordo com a cultura de uma determinada região, diferentes Estados e 
diferentes áreas geográficas dentro de um mesmo Estado, como por exemplo, a 
palavra mandioca, que em certas regiões é tratada por macaxeira ou aipim. 
Outro fator importante para a variação linguística é a origem rural ou urbana da 
pessoa usuária da língua. 
Variação Social - É aquela pertencente a um grupo específico de 
pessoas. Neste caso, destacam-se as gírias, originadas em grupos de surfistas, ou 
adolescentes. Os jargões, que pertencem a uma classe profissional mais 
específica, como é o caso dos médicos, profissionais da informática, dentre 
outros. O grau de escolarização: o acesso maior ou menor à educação formal e, 
com ele, à cultura letrada, à prática da leitura e aos usos da escrita, é um fator 
muito importante na configuração dos usos linguísticos dos diferentes 
indivíduos. 
 
 
 
 
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1.7 Uma reflexão sobre a Gramática e a Linguística no ensino da língua 
Por estarem intimamente associados aos estudos da língua, muitos 
confundem a Gramática normativa, tradicional com a Linguística. Por outro lado, 
a Linguística ainda é pouco conhecida nos meios acadêmicos, gerando 
insegurança ou mesmo rejeição, fruto do desconhecimento e também por 
distorções veiculadas de que a Linguística pode representar uma ameaça ao 
padrão culto da língua. Assim sendo, é oportuna uma abordagem sobre 
Gramática e Linguística. 
Inicialmente, é interessante deixar claro que toda a língua tem uma 
gramática. A Gramática tem como objetivo regular o uso da língua, constituindo 
um conjunto de normas que orientam o uso padrão-culto da língua, contribuindo 
para a constituição de uma identidade. 
 A origem da Gramática remonta do século IV a.C. com os gregos da 
Escola de Alexandria. Nessa época, os sábios gregos desenvolveram estudos no 
sentido de que as línguas passam por três fases em seu desenvolvimento: um 
período em que a língua está em formação, usada por pessoas simples, 
camponeses e pastores; o segundo período é marcado pelo surgimento dos 
primeiros autores, até chegar ao seu apogeu, revelando seus cientistas e 
escritores clássicos; o terceiro período é marcado pela decadência, quando a 
língua começa a empobrecer e a produção de seus escritores e intelectuais tem 
sua qualidade reduzida. Seguindo essas fases, toda língua passaria por três 
estágios: arcaico, clássico e tardio. Por seu caráter social, o apogeu de uma 
língua, o seu período clássico, normalmente está relacionado ao ápice do 
desenvolvimento do Estado em que a língua é usada. Seguindo essa lógica, no 
século V a.C., a Grécia vivia um momento de progresso econômico e de prestígio 
político, a língua usada pelos escritores clássicos, passou a ser o modelo de 
língua a ser seguido. A Gramática passou a ser concebida como a “arte de 
escrever com elegância” e constituía um conjunto regras que normatizavam 
como a língua deveria ser usada. 
Assim sendo, os primeiros estudos da Gramática tinham o objetivo de 
estudar e preservar a língua escrita grega, preservando as formas consideradas 
elegantes, corretas, usadas por escritores clássicos, tornando-os padrões que 
seguiam a risca a linguagem grega (LIMA, 2006). 
A regularização da Gramática que iniciou pela língua escrita, com a 
literatura, com o tempo atingiu a língua falada. Como o uso do modelo padrão da 
língua escrita era restrito a uma minoria, aos considerados respeitáveis e cultos 
da época, o uso da língua pela grande maioria dos usuários não correspondia à 
 
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norma culta estabelecida. A língua falada passou então a distinguir as pessoas, 
refletindo as diferenças de sua classe social. A Gramática surgiu e passou a 
controlar e difundir uma linguagem formal, aristocrática, usada por poucos, a 
exemplo de escritores como Homero, Camões. 
O entendimento das origens da Gramática tradicional é muito 
importante porque vem daí a dificuldade de as escolas aceitarem a linguagem 
trazida pelo aluno, a linguagem os jovens, mais popular, a linguagem de quem 
vive no meio rural e em diferentes regiões, vem desde os gregos e romanos as 
concepções puristas, ainda presentes nas escolas onde se cultiva o 
distanciamento, que poderíamos chamar de preconceito de linguagem. 
 Até as últimas décadas do século XX, os estudos da língua que 
predominavam nas escolas, principais instituições de difusão da língua escrita e 
oral, ainda eram baseados nos fundamentos da Gramática tradicional. Luiz 
Fernando Fischer assim se refere ao ensino da língua nesse período: 
Quer dizer: o que importava não era saber como funcionava a linguagem, e 
sim estabelecer e perpetuar as formas tidas como corretas, socialmente 
prestigiadas. O exemplo brasileiro mais saliente dessa visão é o de Ruy 
Barbosa, o jurista e político cujos textos, até a metade do século passado, 
foram tidos como um exemplo de português culto (2003, p.5). 
Arraigado às concepções da Gramática normativa, o ensino da língua 
nas escolas brasileiras esteve, ou ainda está, guiado pela separação do que é 
certo ou do que é errado, em relação ao uso da língua oral ou da escrita. Na 
escola impera o predomínio do estudo das classes gramaticais em detrimento de 
trabalho com a apropriação da língua através da leitura, da compreensão, da 
produção e escrita do texto. 
No final do século XX, a Linguística trouxe novos ares, revolucionando os 
estudos da língua. Nos círculos acadêmicos veicula-se que a língua deverá ser 
estudada como se apresenta, sem os julgamentos de certo e errado. A partir dos 
estudos de Saussure, todas as manifestações linguísticas passaram a ser 
reconhecidas, as diferenças linguísticas trazidas pelos alunos para a sala de aula 
deveriam ser entendidas como as variações que a língua sofre, não constituindo 
erro em relação ao padrão culto da língua. 
A língua passa ser entendida como social, viva, múltipla, valorizando os 
diferentes falares, entendidos como expressões dos ambientes e dos acessos de 
circulação a que os falantes estão expostos. Como consequência, no ensino 
escolar, iniciam as discussões sobre as necessidades de mudança no ensino da 
língua, desencadeando também um processo de insegurança, quase uma 
 
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rejeição ao ensino da língua alicerçado na Gramática tradicional, sem, no 
entanto, uma sustentação teórica que instrumentalizasse uma prática 
pedagógica diferenciada. 
Esse período é marcado por certa confusão no ensino da língua nas 
escolas. Se a Gramática tradicional deixou de ser o centro das preocupações no 
ensino da língua, ficou o vazio sobre o que deveria ser trabalhado em 
substituição à gramática normativa. Esse período foi caracterizado por 
interpretações equivocadas, originadas na falta de formação teórica dos 
professores, dificultando o entendimento das novas concepções de língua e 
linguagem, resultando em propostas de ensino improvisadas e baseadas em 
modismos pouco consistentes. Essa falta de formação teórica relacionada às 
novas concepções de linguagem e língua era agravada por dificuldades na 
escolhade material didático adequado, até porque as publicações disponíveis 
eram reduzidas. 
Desde o final do século XX até esta segunda década do século XXI, 
diferentes concepções fundamentam o ensino da língua, repercutindo nas 
Diretrizes Curriculares que orientam as práticas pedagógicas no País, na busca 
por uma unidade nacional que privilegie o estudo da língua numa perspectiva 
contextualizada. O nosso ponto de vista não é pelo abandono da Gramática, mas 
pela busca de estratégias de como ensiná-la. Na prática da análise Linguística, 
importa é respeitar e valorizar o sujeito que aprende, considerando as suas 
relações sociointeracionistas, pois o “(...) domínio de uma língua é o resultado de 
práticas significativas, contextualizadas” (POSSENTI, 1996, p. 47). 
Para demonstrar alguns aspectos do trabalho com a língua a partir da 
Gramática Tradicional em relação à análise Linguística, apresentamos o quadro 
organizado por Mendonça (2006, p. 207): 
Análise da Gramática 
Tradicional 
Análise Linguística 
Concepção de língua como 
sistema, estrutura inflexível e 
invariável. 
Concepção de língua como ação 
interlocutiva situada, sujeita a 
interferências dos falantes 
Ensino de gramática Prática de análise linguística 
Concepção de língua como 
sistema, estrutura inflexível e 
invariável. 
Concepção de língua como ação 
interlocutiva situada, sujeita a 
interferências dos falantes. 
Fragmentação entre eixos de 
ensino: as aulas de gramática 
Integração entre os eixos de ensino: é 
ferramenta para a leitura e a produção 
 
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não relacionam 
necessariamente com as de 
leitura. 
de textos. 
Metodologia Transmissiva, 
baseada na exposição dedutiva 
(do geral para o particular, isto 
é, das regras para o exemplo) + 
treinamento. 
Metodologia reflexiva, baseada na 
indução (observação dos casos 
particulares para a conclusão das 
regularidades/ regras). 
 
Ênfase nos conteúdos 
gramaticais como objetos de 
ensino, abordando 
isoladamente e em sequência 
mais ou menos fixa 
 
Ênfase nos usos como objetos de ensino 
(habilidades de leitura e escrita), que 
remetem a vários outros objetos de 
ensino (estruturais, textuais, discursivos, 
normativos), apresentados e retomados 
sempre que necessário. 
Centralidade na norma padrão Centralidade dos efeitos de sentido 
Ausência de relação com as 
especificidades dos gêneros, 
uma vez que a análise é mais de 
cunho estrutural e, quando 
normativa, desconsidera o 
funcionamento desses gêneros 
nos contextos de interação 
verbal. 
Fusão com o trabalho com os gêneros, 
na medida em que contempla 
justamente a intersecção das condições 
de produção dos textos e as escolhas 
linguísticas. 
 
 
 
Ausência de relação com as 
especificidades dos gêneros, 
uma vez que a análise é mais de 
cunho estrutural e, quando 
normativa, desconsidera o 
funcionamento desses gêneros 
nos contextos de interação 
verbal. 
Fusão com o trabalho com os gêneros, 
na medida em que contempla 
justamente a intersecção das condições 
de produção dos textos e as escolhas 
linguísticas. 
 
Preferência pelos exercícios 
estruturais, de identificação e 
classificação de 
unidades/função 
morfossintáticas e correção. 
Preferência por questões abertas e 
atividades de pesquisa, que exigem 
comparação e reflexão sobre adequação 
e efeitos de sentido. 
A partir desta seção, passaremos a estudar aspectos das áreas da 
Linguística. As áreas da Linguística são as seguintes: Fonética e Fonologia, 
Morfologia, Sintaxe, Semântica e Pragmática. Iniciaremos pela Fonética e pela 
Fonologia.

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