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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA Página 2 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA EXPEDIENTE Uníntese | Uníntese Virtual Pedro Stieler Diretor Maria Bernardete Bechler Vice-Diretora Carmem Regina dos Santos Ferreira Gestora de Marketing Roberto de Oliveira Gestor Administrativo Wiltom Dourado Gestor Acadêmico Maria Bernardete Becheler Texto Aline Madrid Flávia Burdzinski de Souza Designers Educacionais LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA - 2016 - Direitos Autorais reservados à UNÍNTESE Página 3 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA I LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA Maria Bernardete Bechler 1 1.1- Sobre as Origens dos Estudos Linguísticos Da antiguidade ao mundo contemporâneo, a origem da linguagem sempre suscitou o interesse e o fascínio de pensadores nos diferentes períodos da história da humanidade. As primeiras explicações foram de cunho religioso, mítico, presentes também em rituais de feitiçaria, em lendas, fábulas. Em tempos remotos, as tentativas de explicar a origem do mundo por diversas sociedades já relacionavam a palavra - o uso da linguagem verbal - ao poder sobrenatural, fantástico, milagroso de criar. Segundo Marilena Chaui (2000), os mitos e as religiões revelam a força criadora e realizadora da linguagem, exemplificada ao citar a passagem da Bíblia judaico-cristã, quando, na abertura do livro de Gênesis, Deus cria o mundo pronunciando as palavras: “E Deus disse: faça-se! E foi feito. Porque Ele disse, foi feito”. Naquela situação, a palavra divina tem o poder de criar. Outro exemplo foi quando Deus teria dado a Adão uma língua e o poder de nomear tudo o que existia. 1 Possui especialização em Supervisão Escolar, em Filosofia da Educação e em Coordenação de Práticas e Processos Pedagógicos. Graduação em Letras pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul e graduação em Letras pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões. Atualmente é professora visitante da Universidade Tuiuti do Paraná e vice-diretora da UNÍNTESE. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em educação, ensino e aprendizagem e elaboração de projetos. Página 4 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA Também no livro de Gênesis da Bíblia, é narrada a legendária história da Torre de Babel. Conta o mito que os homens do mundo inteiro falavam uma mesma língua. Resolveram construir uma torre tão alta que chegaria a tocar no céu e eles ficariam tão poderosos quanto o divino. Então Deus, para castigá-los, fez com que os homens passassem a falar línguas diferentes e a partir daí, ninguém mais se entenderia. E assim foi feito. Era tanto desentendimento que os trabalhadores da construção foram embora, se espalharam por toda a terra e a torre ficou inacabada. Assim, a diversidade das línguas impediu que houvesse uma obra em comum, dando início a desavenças e guerras. A cidade dessa história bíblica se chamou BABEL, palavra que significa confusão, desentendimento. Segundo Margarida Petter (2003), o encantamento que a linguagem verbal sempre exerceu sobre o homem tem sua origem não só no poder que permite nomear, criar e transformar a realidade, mas também por possibilitar falar, trocar ideias e informações sobre situações presentes, passadas e projetar o que poderá existir. A linguagem é expressão do pensamento e veículo de comunicação social. A existência de uma linguagem é condição para a vida em sociedade, pois não há sociedade sem comunicação. As sociedades humanas somente foram possíveis quando o homem deixou de expressar-se através de grunhidos, passando a usar a fala através de um sistema formado por palavras que se combinam entre si, facilitando não só a comunicação entre as pessoas, mas entre os povos, originando a formação de sociedades complexas. Para o filósofo americano George Herbert Mead (1967), a linguagem gestual antecedeu a linguagem falada, considerando que os homens estabeleceram gestos para executarem ações durante as caçadas, nas lutas, nas indicações de rumos. À medida que os gestos passaram a ser compreendidos, remetendo o seu significado para uma situação já vivenciada pelos indivíduos, converteram-se numa linguagem, onde o gesto constitui um símbolo significante e o sentido do gesto o seu significado. Os primeiros registros sobre estudos da língua remontam da antiguidade, na Índia. Os povos Hindus, por temerem que os escritos sagrados reunidos no Vedas2 sofressem modificações no momento em que fossem usados, passaram a estudar e descrever sua língua. Assim, os estudiosos da língua procuravam demonstrar de modo perfeito os sons que deveriam ser 2 Vedas: escrituras sagradas associadas à religião hindu, também consideradas a espinha dorsal da cultura hindu, conhecida como a tradição védica. “Há cerca de 3 500 anos, as comunidades na região do vale do Indo, atual norte da Índia, começaram a organizar um dos sistemas religiosos mais antigos de que temos notícia: o hinduísmo. Suas crenças foram transmitidas oralmente de geração em geração por muitos séculos até serem transcritas nos Vedas, compilação de hinos e preces considerada como o primeiro livro sagrado da história”. (André Santoro e André Victor Sartorelli) Disponível em: <http://super.abril.com.br/historia/os-vedas-um-livro-aberto>. Página 5 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA emitidos nos cantos e rituais religiosos, levando a uma rigorosa descrição dos sons da língua, criando modelos de análise que resultaram na produção da primeira gramática, conhecida como a gramática de Pãnini, no século IV a.C. Os estudos gramaticais de Pãnini foram profundos, resultaram na descrição do sânscrito constituindo um tratado de quatro mil regras ou <sutras>. Com base nos fundamentos da filosofia, os gregos em muito contribuíram para o desenvolvimento dos estudos da linguagem, abrangendo as áreas da morfologia, sintaxe, semântica, fonologia, destacando-se nos estudos direcionados para explicações acerca das relações entre as palavras e o seu significado. Os estudos de Platão (428-347 a.C.) produziram a primeira classificação das palavras, chegando a conclusão de que as palavras pertencem a duas classes: nomes e verbos. Mais tarde, também na Grécia, Aristóteles (384 – 322 a.C) direcionou estudos sobre a frase e ampliou os estudos sobre a classificação das palavras: nomes, verbos e partículas, conjunções. As escolas gregas de filosofia continuaram desenvolvendo importantes estudos sobre a língua, a exemplo dos estóicos (corrente filosófica da Grécia Antiga) que deixaram um legado significativo, pois além de avançarem na análise das classes gramaticais, fizeram a distinção entre a forma e o significado das palavras. Na antiguidade, a Biblioteca da Alexandria, localizada numa ilha grega, notabilizou-se como o mais importante centro do conhecimento da antiguidade, reunindo intelectuais de todo o mundo. Na Escola da Alexandria, estudiosos da linguagem seguiram as pesquisas desenvolvidas pelos estoicos, fase que resultou no que hoje se chama de gramática grega. Nesse período desenvolveram análises de textos poéticos, valorizando a língua literária, afirmando que era mais correta que a língua falada, concepção que, de certa forma, permanece até nossos dias: a ideia de que a linguagem literária é mais correta do que a linguagem coloquial. Segundo Lyons (1979) essa valorização tinha por objetivo explicar a língua dos autores clássicos e preservar o grego da corrupçãopraticada por ignorantes e iletrados. Segundo os registros históricos, entre as contribuições dos latinos para os estudos das línguas, merece destaque especial o gramático Marcos Terêncio Varrão, filósofo que viveu entre os anos de 116 e 27 a.C. e desenvolveu estudos acerca de diferentes áreas do conhecimento com destaque para as teorias da linguagem, tendo produzido a mais antiga gramática latina. Na Idade Média, os Modistas, como eram chamados os gramáticos, acreditavam que a estrutura da linguagem estava diretamente relacionada com a representação do pensamento, com a representação icônica das coisas do mundo. Assim sendo, uma vez que a iconicidade dependia das coisas do mundo, Página 6 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA todas as linguagens teriam a mesma estrutura profunda, concepção que motivou a tentativa de criar uma gramática universal ou especulativa. Concluíram que todas as línguas têm uma estrutura gramatical uma, universal, independente de qual língua está sendo realizada. No século XVI, os movimentos religiosos que culminaram na grande Reforma religiosa demandaram a circulação de textos e livros sagrados para inúmeras nações, determinando a sua tradução em diversas línguas, possibilitando que cristãos e não-cristãos tivessem acesso a conhecimentos sobre o cristianismo e assim pudessem interpretá-los. Mesmo com toda a movimentação ocasionada pela circulação de viajantes, comerciantes, funcionários do governo, e do aumento da distribuição de livros e textos em diversas línguas, o latim conseguiu manter-se como língua universal. O lançamento, no ano de 1502, do Dictionárium Poliglota, do italiano Ambrósio Calepino, representou uma referência para os estudiosos do léxico moderno, uma vez que foi reeditado e ampliado no decorrer dos séculos XVII, XVIII, contando com importantes contribuições de eruditos europeus. A Gramaire Génerale et Raisonnée de Port Royal, ou Gramática de Port Royal, de Lancelot e Arnaud, no ano de 1660, serviu de base para importantes estudos e publicações de inúmeras gramáticas no século XVII, a qual demonstrava que a linguagem se baseia na razão, reflete o pensamento e que os princípios para analisar uma língua em particular servem para analisar todas as línguas (Margarida Petter, 2003). No século XIX, o estudo comparativo entre as línguas vivas dá início ao surgimento das gramáticas comparadas, cuja metodologia tinha por base a análise dos fatos observados. As gramáticas comparadas em muito contribuíram para o surgimento da Linguística Histórica. O lançamento do livro do linguista alemão Franz Bopp, em 1816, “Sobre o sistema de conjugação da língua sânscrita, em comparação com a do grego, latim, persa e germânico” pode ser considerado um marco no surgimento da Linguística Histórica, uma vez que no referido livro foram demonstradas as relações morfológicas existentes entre o sânscrito, o latim, o grego, o persa e o germânico. A constatação das semelhanças entre essas e outras línguas europeias vai evidenciar que existe um parentesco entre elas, formando a família indo-europeia. No século XIX, a compreensão de que as mudanças observadas nos textos escritos teriam ocorrido depois de mudanças na língua falada correspondente, representou um marco para os avanços dos estudos linguísticos. Assim, compreendeu-se que as mudanças sofridas pelo latim no Página 7 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA decorrer dos séculos deram origem a outras línguas como o português, espanhol, italiano, francês. A linguística moderna considera a língua falada como objeto de estudo prioritário, diferentemente de períodos anteriores de supervalorização da expressão escrita. No século XX, em 1916, com a publicação da obra contendo os estudos de Ferdinand de Saussure “Curso de Linguística Geral” a Linguística passa a ser reconhecida como uma nova ciência, inaugurando um novo período em que os estudos da língua não mais estarão submetidos às necessidades da filosofia, da história, ou da crítica literária. A partir desse novo marco, os estudos da linguística serão descritos embasados em referenciais teóricos específicos da Linguística, a ciência da língua. 1.2- Linguagem Linguagem é a capacidade humana de expressar pensamentos, ideias, opiniões e sentimentos por meio de signos convencionais, respondendo às necessidades próprias do ser humano de comunicar-se com o outro. Os atos de comunicação podem ser estabelecidos através de inúmeras linguagens, tais como sinais, símbolos, sons, gestos e regras com sinais convencionais constituindo a linguagem verbal oral e escrita. Assim sendo, a palavra linguagem abrange diferentes sistemas de comunicação, desde a linguagem animal até outras formas de linguagem como a música, a dança, a pintura, a mímica, a informática, a matemática. Na citação de Louis Hjelmslev (1975), é apresentada, com brilhantismo, uma concepção da linguagem como capacidade de expressar sentidos, e por isso mesmo, integrar um vasto campo de análise, sendo objeto de estudo de diversas áreas do conhecimento como a linguística, a filosofia, a antropologia, a biologia, a psicologia, a sociologia. A linguagem [...] é uma inesgotável riqueza de múltiplos valores. A linguagem é inseparável do homem e segue-o em todos os seus atos. A linguagem é o instrumento graças ao qual o homem modela seu pensamento. Seus sentimentos, suas emoções, seus esforços, sua vontade e seus atos, o instrumento graças ao qual ele influencia e é influenciado, a base última e mais profunda da sociedade humana. Mas é também o recurso último e indispensável do homem, seu refúgio nas horas solitárias Página 8 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA em que o espírito luta com a existência, e quando o conflito se resolve no monólogo do poeta e na meditação do pensador. Antes de o primeiro despertar de nossa consciência, as palavras já ressoavam à nossa volta, prontas para envolver os primeiros germes frágeis de nosso pensamento e a nos acompanhar inseparavelmente através da vida, desde as mais humildes ocupações da vida cotidiana até os momentos mais sublimes e mais íntimos dos quais a vida de todos os dias retira, graças às lembranças encarnadas pela linguagem, força e calor. A linguagem não é um simples acompanhante, mas sim um fio profundamente tecido na trama do pensamento: para o indivíduo, ela é o tesouro da memória e a consciência vigilante transmitida de pai para filho. Para o bem e para o mal, a fala é a marca da personalidade, da terra natal e da nação, o título de nobreza da humanidade. O desenvolvimento da linguagem está tão inextricavelmente ligado ao da personalidade de cada indivíduo, da terra natal, da nação, da humanidade, da própria vida, que é possível indagar-se se ela não passa de um simples reflexo ou se ela não é tudo isso: a própria fonte de desenvolvimento dessas coisas (1975, p. 1-2). Para a filósofa Marilena Chaui, em seu livro “Convite à Filosofia” (2000, p.1173), a linguagem é a forma exclusivamente humana da comunicação, da relação com o mundo e com os outros, da vida social e política, do pensamento e das artes. A linguagem permite ao ser humano organizar seus pensamentos, expressar seus sentimentos, falar sobre suas reações, discernir sobre diferentes pontos de vista, incorporar valores, compreender normas sociais, assumir condutas, enfim, segundo Marilena Chaui (2000, p.185) [...] a linguagem é nossa via de acesso ao mundo e ao pensamento, ela nos envolve e nos habita, assim como a envolvemos e habitamos. Ter experiência da linguagem é ter uma experiência espantosa: emitimos e ouvimos sons, escrevemos e lemos letras, mas, sem que saibamos como, experimentamos sentidos, significações, emoções, desejos, ideias. 1.2.1 Semiologia Todas aslinguagens verbais e não verbais (as quais exemplificaremos posteriormente) possuem características que as identificam - são sistemas de signos usados na comunicação. A ciência que analisa sistemas, códigos, convenções de sinais, enfim, todos os sistemas de signos no seio da vida social chama-se Semiologia. A língua é um sistema de signos linguísticos, portanto, a língua também é estudada pela Semiologia. A Linguística é uma ciência que pertence ao campo da Semiologia. Página 9 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA Revisando: a Linguística estuda as línguas humanas; as línguas humanas são os signos mais avançados entre outros, como a dança, a música, a pintura, a fotografia, etc. que constituem a linguagem; a ciência mais ampla que estuda todos os signos da vida social se chama Semiologia. A Linguística é uma parte da Semiologia. Quando dizemos que a língua humana é o mais avançado sistema de comunicação dentre os outros signos que compõem a linguagem, é porque precisamos da língua para compreender e interpretar cada um desses outros signos. 1.2.2 Linguagem verbal e não verbal Desde os tempos mais remotos as pessoas usam a linguagem verbal e a não verbal para a comunicação na vida cotidiana. A linguagem verbal é concretizada pela língua, compreende a fala e a escrita usadas em diálogos, informações transmitidas através do rádio, televisão, vídeos falados ou legendados, jornais, revistas, livros, documentos, e todas as situações envolvendo a fala e a escrita. A linguagem não verbal engloba toda e qualquer comunicação em que não se faz uso da palavra para transmitir a mensagem desejada, mas se utiliza de outros meios comunicativos, como gestos, figuras, objetos, cores, ou seja, os signos visuais. As representações da linguagem não verbal, de forma resumida, podem acontecer através de signos não verbais. Signo é a representação de algo a que atribuímos significado, sentido, valor. Podemos classificar em ícones, índices e símbolos. Ícone - representa por força de semelhança - estátua, desenho, fotografia; índice- indica ou sugere algo - fumaça, rastros, nuvem escura; símbolo (representa algo abstrato, é uma convenção como cruz, bandeira). A linguagem corporal é um tipo de linguagem não verbal, muito expressiva e fundamental para a comunicação, pois determinados movimentos corporais podem transmitir aspectos essenciais das mensagens e intenções. Dentro dessa categoria existe a linguagem gestual, um sistema de gestos e movimentos cujo significado se fixa por convenção. Em muitas situações usamos a linguagem mista, empregando a linguagem verbal e não verbal ao mesmo tempo. Por exemplo, uma história em quadrinhos integra, simultaneamente, imagens, símbolos e diálogos. Vimos que as representações da linguagem podem ser através de ícones, índices e símbolos. Porém, para que estes outros códigos sejam Página 10 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA compreendidos e aconteça a interação entre interlocutores, as pessoas utilizam signos verbais ou de sinais, traduzindo os códigos mentalmente, tornando possível a sua significação. 1.2.3 Linguagem Formal e Informal Dependendo da situação em que a linguagem é usada, o falante pode usar a linguagem formal - empregada em situações que exigem o uso da linguagem padrão, por exemplo, salas de aula, reuniões de trabalho, palestras, na escrita, na produção de correspondências oficiais, de trabalhos acadêmicos, técnicos, científicos, etc. E a linguagem informal, usada quando existe intimidade entre os falantes como a família, amigos. As linguagens artificiais também são formais, surgem para servirem a um fim específico, por exemplo, a lógica matemática ou a informática. A linguagem de programação de computadores é uma linguagem formal que consiste na criação de códigos e regras específicas que processam instruções para computadores. 1.2.4 Linguagem simbólica e a linguagem conceitual Com muita frequência, em nossas leituras nos deparamos com as expressões “linguagem simbólica” ou “linguagem conceitual”. O não entendimento do seu significado poderá dificultar inúmeras possibilidades de comunicação. A linguagem simbólica - expressa uma mensagem de apelo mais emotivo, afetivo, possibilitando interpretações subjetivas, evocando sentimentos, sensibilidades, possibilita a criação de situações imaginárias. É a linguagem das lendas, dos romances, da poesia, do teatro, das letras de música, entre outras expressões. No campo da psicologia, a linguagem simbólica é uma forma de expressão do inconsciente, realiza-se, principalmente, como imaginação; oferece sínteses imediatas (imagens); é fortemente emotiva e afetiva; as palavras têm múltiplos significados simultâneos e diferentes; oferece- nos um mundo a ser conhecido mais belo ou mais terrível que o nosso. A linguagem conceitual - procura dar às palavras o sentido direto, próprio, não figurado, é objetiva. É a linguagem dos argumentos, raciocínios, provas, textos informativos, técnicos, acadêmicos. Página 11 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 1.2.5 As Funções da Linguagem A principal função da linguagem é comunicar. O estudo das diferentes funções da linguagem está intimamente relacionado à teoria da comunicação e da informação, que exerceu forte influência na linguística na década de 1950. A teoria da informação trata de questões relacionadas à melhoria das comunicações e da eliminação de problemas vinculados a telecomunicação, entre outros. Diana Luz Pessoa de Barros (2003) descreve o esquema do processo de comunicação, o qual, resumidamente, será apresentado a seguir: emissor (que transmite a mensagem); receptor (o que recebe a mensagem); mensagem (conjunto das informações transmitidas); canal - por onde as informações são transmitidas: ondas sonoras, cordas vocais; TV; rádio; jornal; código- combinações de signos utilizados na transmissão de uma mensagem; contexto- a situação a que a mensagem se refere, também chamado de referente. Importante lembrar que a comunicação somente acontece se o receptor entender o código que está sendo usado pelo emissor da mensagem. Segundo Barros (2003), Roman Jakobson (1963) expandiu o modelo da teoria da informação, trazendo importantes contribuições aos estudos da linguagem, sendo a mais conhecida relacionada à questão da variedade de funções da linguagem. Na comunicação com o outro, a linguagem é usada de diferentes formas, dependendo das necessidades e intenções: informar, persuadir, emitir ordens, declarar emoções e tantas outras. Assim, demonstraremos que a comunicação envolve diferentes recursos conhecidos como funções da linguagem. As funções da linguagem são as seguintes: Função denotativa ou referencial: Está centrada no contexto do referente, no assunto. Linguagem objetiva, encontrada nos textos técnicos, científicos, jornalísticos, acadêmicos, escolares. Função Emotiva: Centrada no emissor. Quando o falante expressa seus sentimentos e emoções. Comumente encontrada em biografias, memórias, declarações de amor, ódio, ressentimentos, medos, poesias líricas e outros. Função apelativa ou conativa: Centrada no receptor. Quando o emissor de uma mensagem tenta influenciar o ouvinte a mudanças de comportamento, convencer ou emitir ordens. Função empregada em textos publicitários, nos sermões, nos discursos e propagandas políticas. Função Fática: Centrada no contato ou canal. A língua tem uma função social chamada de comunicação fática, uma estratégia para manter contato Página 12 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA social e um nível amigável. A função fática busca aproximar o ouvinte do falante, demonstrar interesse pelo ouvinte. Por exemplo: ao falarmos com alguém, às vezes empregamos a expressão“Você entende?” ou “Tudo bem com você?” Também no intuito de deixar um ambiente mais agradável ou iniciar uma comunicação com alguém: “Será que chove?”. Função poética: Centrada na mensagem. O falante preocupa-se com a forma de expressão da mensagem, procura atrair pela beleza, pela estética. Usada na literatura, na poesia, com valorização das rimas, combinações de palavras. Função Metalinguística: Centrada no código. É um recurso de linguagem usado para explicar a própria língua. O estudo da língua na escola através da leitura, interpretação, vocabulário, conhecimentos gramaticais, pesquisa em dicionários, são exemplos do emprego da função metalinguística. A criança quando pergunta: “Mãe, o que quer dizer missioneiro?” Quando a mãe explicar o que se entende por missioneiro, estará empregando a função metalinguística. Na interpretação de uma poesia, de uma crônica ou de um texto qualquer, também há o emprego da função metalinguística porque está utilizando palavras para explicar outras palavras. Existem textos literários cuja temática aborda o próprio ato de escrever, o que também constitui mais um exemplo do emprego da função metalinguística. 1.3- Linguagem e Língua No decorrer da história da humanidade, a língua serviu não só para a comunicação e a interação entre as pessoas, mas também constituiu poderoso instrumento de poder, de domínio de um grupo social sobre o outro. Nesse sentido, é importante lembrar a todos nós brasileiros, usuários da Língua Portuguesa, que muitas outras línguas eram faladas em nosso território quando os portugueses aqui chegaram, como o Nagô, Quimbundo, Congoesa, Yorubá, mais tarde as línguas africanas, ou mesmo a língua espanhola, por exemplo. Evidencia-se, então, que nas disputas pelo território, hoje terras brasileiras, os portugueses dominaram e impuseram a sua língua, sua cultura, apesar da histórica presença de outros povos em nossa terra. Página 13 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA Todos os seres humanos têm a capacidade de se comunicar através da fala ou de sinais, independente de sua condição social ou de sua escolaridade, salvo àqueles que apresentam problemas psíquicos ou que tenham problemas neurológicas que atinjam áreas da fala. A manifestação da linguagem na espécie humana não acontece de maneira natural como a fome, o sono, a dor, o prazer. Mesmo sendo uma aptidão genética, a linguagem precisa ser aprendida. A linguagem verbal (a fala e a escrita) será aprendida sob forma de uma linguagem em situações comunicativas, na interação com pessoas que usam o mesmo sistema de signos. Para Quadros (2004), linguagem significa o sistema linguístico que é geneticamente determinado para desenvolver-se nos humanos. Os seres humanos podem usar uma língua de acordo com a modalidade de percepção e produção desta: modalidade oral-auditiva (português, inglês, italiano, etc.) ou modalidade viso-espacial (Língua de Sinais Brasileira, Língua de Sinais Americana, Língua de Sinais Francesa, etc.). Em português o vocábulo linguagem é mais abrangente que o vocábulo língua, não só porque é usado para se referir às linguagens em geral, mas também porque é aplicado aos sistemas de comunicação, sejam naturais ou artificiais, humanos ou não. Para Lyons (1987) refletir sobre o que é língua e linguagem traz em si a pressuposição de que cada uma dentre as milhares de línguas naturais, reconhecidamente distintas, é um caso específico de algo mais geral. O que o linguista quer saber é se as línguas naturais, todas, possuem em comum algo que não pertença a outros sistemas de comunicação, de tal forma que seja correto aplicar a cada uma delas a palavra “língua”, negando-se a aplicação deste termo a outros sistemas de comunicação. Uma breve revisão da literatura contemplando alguns pesquisadores permite apresentar diferentes definições de língua. Tais definições fornecem subsídios para a indicação de propriedades consideradas pela linguística essenciais às línguas naturais. Segundo Saussure (1995, p.17), [...] língua não se confunde com linguagem: é um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos, é, portanto, um produto social da faculdade de linguagem. Página 14 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA Bloch e Trager (apud JIMENEZ, 2013) afirmam que “uma língua é um sistema de símbolos vocais arbitrários por meio do qual um grupo social coopera”. Para Hall (1968, p.5), a língua (gem) é “a instituição pela qual os humanos se comunicam e interagem uns com os outros por meio de símbolos arbitrários”. Chomsky (apud Quadros & Karnopp, 2004, p.25), considera que uma língua “é um conjunto (finito ou infinito) de sentenças, cada uma finita em comprimento e construída a partir de um conjunto finito de elementos”, considera ainda duas perspectivas a língua externa e a língua interna, sendo a primeira associando som à palavra ao seu significado, a segunda a língua interna define a “noção de estrutura” como parte estável, livre das expressões que podem variar de falante para falante. Fernandes (2002, p.16) dá a definição da Linguagem como sendo tudo que envolve significação, que pode ser humano (pintura, música, cinema), animal (abelhas, golfinhos, baleias) ou artificial (linguagem de computador, código Morse, código internacional de bandeiras). Ou seja, “sistema de comunicação natural ou artificial, humana ou não e “Língua” um conjunto de palavras, sinais e expressões organizados a partir de regras, sendo utilizado por um povo para sua interação”. Sendo assim a língua seria uma forma de linguagem: a linguagem verbal. As línguas estariam em uma posição de destaque entre todas as linguagens, ou seja, podemos falar de todas as outras linguagens utilizando as palavras ou os sinais. Na seção a seguir apresentaremos as principais propriedades da linguagem humana conforme análise de Hocket, Lyons e Lobato (apud Quadros & Karnopp, 2004, p 25-28). 1.3.1 Propriedades das Línguas Humanas Entendemos por propriedades das línguas os traços comuns, características presentes em todas as línguas naturais humanas em relação aos outros sistemas de línguas (animais, matemática, tecnológicos). No quadro abaixo, junto às propriedades das línguas naturais orais apresentamos como essas propriedades se expressam nas línguas de sinais, comprovando que as línguas de sinais são línguas naturais. A coluna à esquerda apresenta as propriedades nas línguas – elaboradas com base na publicação de Quadros & Karnopp (2004) e a coluna à direita reproduz o trabalho de Ronice M. Quadros, Aline L. Pizzio e Patrícia F. Rezende (2009): Página 15 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA Propriedade das Línguas Humanas e nas Línguas de Sinais Flexibilidade e versatilidade Segundo Lyons (1981), nenhum outro sistema de comunicação parece ter o mesmo grau de flexibilidade e versatilidade que o humano, pode-se usar a língua para dar vazão às emoções e sentimentos; para solicitar a cooperação de companheiros; para ameaçar ou prometer; para dar ordens, fazer perguntas ou afirmações. É possível fazer referência ao passado, presente e futuro; a realidades remotas em relação à situação de enunciação e até mesmo a coisas que não existem. As línguas de sinais são usadas para pensar, são usadas para desempenhar diferentes funções. Você pode argumentar em sinais, pode fazer poesia em sinais, pode simplesmente informar, pode persuadir, pode dar ordens, fazer perguntas em sinais. Glosas em LIBRAS: VOCÊ GOSTAR MAÇÃ. VOCÊ <GOSTAR MAÇÃ>sn IX CASA DEFEITO EU PRECISO ARRUMAR < PROJETO> to AULA EU APRESENTAR Arbitrariedade As palavras e os sinais são arbitrários entre a formae o significado, visto que, dada a forma, é impossível prever o significado, e dado o significado é impossível prever a forma. As línguas de sinais apresentam palavras em que não há relação direta entre a forma e o significado. Glosas em LIBRAS: CONHECER AMIGO TRABALHO Descontinuidade As palavras que diferem de maneira mínima na forma, normalmente apresentam uma considerável diferença no significado. Por exemplo, a palavra fada e faca diferem minimamente na forma, tanto na língua escrita como na falada. Esse fato tem por efeito mostrar o caráter descontínuo da diferença formal entre forma e significado. Na língua de sinais verificamos o caráter descontínuo da diferença formal entre a forma e o significado. Há vários exemplos: o sinal de MORENO e de SURDO são realizados na mesma locação, com a mesma configuração de mão, mas com uma pequena mudança no movimento, mesmo assim nunca são confundidos ao serem produzidos em um enunciado. Tais sinais apresentam uma distribuição semântica que não permite a confusão entre os significados apresentados dentro de um Página 16 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA determinado contexto. Glosas em LIBRAS: TRABALHO VIDEO-CASSETE TV MORENO-SURDO Criatividade/produtividade Todos os sistemas linguísticos possibilitam a seus usuários construir e compreender um número indefinido de enunciados. A estrutura gramatical na produtividade é extremamente complexa e heterogênea seguindo os princípios que as mantêm e constituem. Chomsky coloca ainda, que tanto a complexidade como a heterogeneidade é regida por regras, dentro dos limites estabelecidos pela regra da gramática. As línguas de sinais são produtivas assim como quaisquer outras línguas. Glosas em LIBRAS: EU AMAR GISELE PORQUE ELA BONITA, LEGAL, ESPECIAL, 1AJUDAR2, GOSTAR TRABALHAR, INTELIGENTE .... Dupla Articulação A organização da língua em duas camadas – a camada dos sons que se combinam em uma segunda camada de unidades maiores é conhecida como dualidade ou dupla articulação. Por exemplo, os sons f, g, d, o, nada significam separadamente, já quando combinados eles adquirem um significado, como em fogo, gado, dado, fado etc. As línguas humanas têm em torno de trinta a quarenta fonemas ou unidades. As línguas de sinais também apresentam o nível da forma e o nível do significado. Por exemplo, as configurações por si só não apresentam significado, mas ao serem combinadas formam sinais que significam alguma coisa. Exemplos em LIBRAS: CM sem significado L sem significado M sem significado CM+L+M=significado (L + bochecha + semicírculo para trás) Padrão Cada item lexical apresenta um padrão de colocação na combinação ou substituição por outros itens, conforme ilustram os As línguas de sinais são altamente restringidas por regras. Você não pode produzir os sinais de qualquer jeito ao usar a língua de sinais brasileira, por Página 17 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA exemplos abaixo: O rapaz caminhou rapidamente; Rapidamente, caminhou o rapaz; O rapaz rapidamente caminhou. As outras combinações são agramaticais. Na palavra sal, por exemplo, a vogal a poderia ser substituída por o ou u, mas não por z ou h. Em síntese o português apresenta restrições na maneira em que itens podem ocorrer juntos e na ordem em que eles aparecem. exemplo. Você deve observar suas regras. Exemplo em LIBRAS: Obedecer às regras de formação de sinais e de sentenças. (ajudar com CM S – mostrar exemplos de sinais com CM errada, ou L errada, ou M errado) Dependência Estrutural Uma língua contém estruturas dependentes que possibilitam entendimento da estrutura interna de uma sentença, independente do número de elementos linguísticos envolvidos. Também é observada uma dependência estrutural entre os termos produzidos nas línguas de sinais. Glosas em LIBRAS: PAULO TRABALHAR+asp *TRABALHAR+asp PAULO SINAL BRASIL *BRASIL SINAL 1.3.2 Linguagem humana versus comunicação animal Algumas características que estão presentes em todas as línguas naturais, tais como as propriedades de dependência estrutural, padrão, dualidade, deslocamento, criatividade constituem traços únicos das línguas humanas. Até o presente, os sistemas das línguas animais não apresentam essas características. Página 18 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 1.4- Sobre a Linguística Nesta seção, inicialmente faremos uma breve apresentação da Linguística como área de estudo; a seguir o trabalho estará direcionado para as concepções de dois linguistas que marcaram os estudos científicos da língua no século XX: Ferdinand de Saussure e Avram Noam Chomsky. A Linguística é considerada uma ciência da linguagem humana que tem como objeto de estudo a língua natural humana. Analisa e descreve as línguas como se apresentam, não tendo a preocupação em emitir juízos de valor, não determina se é correta ou incorreta, não privilegia as formas mais cultas em detrimento das formas mais populares. A Linguística procura explicar a capacidade que as pessoas possuem para compreender uma língua, formar palavras, frases, textos, produzir sons, gestos, sinais. Considerada uma ciência descritiva, a linguística de Saussure não leva em conta o aspecto histórico, as modificações da língua no decorrer do tempo. Há muitos séculos a linguagem já era objeto de estudo de outras ciências, como a filosofia, a filologia, a lógica. Foi, porém, com o mestre Ferdinand de Saussure, nascido 1857 em Genebra, na Suíça, que a Linguística passou a ser considerada uma ciência. Em 1916, três anos após a morte de Saussure, seus discípulos lançaram o “Curso de Linguística Geral”, livro que marca o início da Linguística como ciência, a partir do qual possibilitou novos estudos sobre a linguagem e a língua, servindo de embasamento para outras correntes da Linguística surgidas no decorrer do século XX. Para Saussure (1995), todas as manifestações da linguagem humana são matéria de interesse da Linguística, sejam manifestações de povos primitivos, selvagens ou de povos civilizados, independente do período histórico, sejam elas contextualizadas da antiguidade, medievo, moderno ou contemporâneo. Saussure (1995) distingue linguagem e língua. Explica a linguagem como sendo uma capacidade humana natural, que nasce com o ser humano, porém as línguas são aprendidas, convencionais, surgem pela necessidade de comunicação entre as pessoas e se desenvolvem conforme o contexto cultural, geográfico, econômico, tecnológico, de um povo. A linguagem é mais ampla que a língua, é Página 19 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA uma capacidade humana que permite que o homem produza e compreenda todas as manifestações simbólicas como a pintura, a música, a dança, sendo a língua uma dessas manifestações. Para Saussure (1995) a língua é a parte essencial da linguagem, constitui-se num sistema de signos, um conjunto de unidades que se relacionam de forma organizada dentro de um todo. É social e convencional. Saussure também distingue língua e fala. Desde o seu surgimento, a análise linguística não abrangia a fala, pois a considerava muito variável. A fala é o sistema da língua em uso, é um ato individual em que cada falante escolhe o vocabulário, trazendo para sua fala as marcas da cultura. Para o lingüista, no amplo campo de estudo que envolve linguagem / língua / fala, a língua é o objeto de estudo da Linguística. A partir dessa concepção, os estudos da linguagem dividem-se em duas áreas: a Linguística da língua e a Linguística da fala. Saussure, no livro Curso de LinguísticaGeral, focalizou a sua teoria na Linguística da Língua. Para Saussure, a língua é eminentemente social. Ao referir-se ao aspecto social da língua, assim se pronuncia. Trata-se de um tesouro depositado pela prática da fala em todos os indivíduos pertencentes à mesma comunidade, um sistema gramatical que existe virtualmente em cada cérebro ou, mais exatamente, nos cérebros de um conjunto de indivíduos, pois a língua não está completa em nenhum, e só na massa ela existe por completo (SAUSSURE, 1969, p. 21). A Linguística moderna partiu dos estudos descritivos e comparativos das línguas históricas realizados por linguistas dos anos de 1800. Esses estudos possibilitaram a análise das transformações e da evolução das línguas, fundamentando conhecimentos dos linguistas do século seguinte, anos 1900. Assim, nos nossos dias, considerando os estudos comparativos e evolutivos, a Linguística está subdividida na Linguística Histórica e na Linguística Geral. Saussure realiza um corte nos estudos comparativos e inaugura um novo momento para os estudos dos fenômenos da língua. Segundo a sua teoria, a língua deve ser estudada tal como ela se apresenta, não sendo objeto de preocupação os seus aspectos históricos e evolutivos. A Linguística é a ciência da linguagem. É uma ciência por ser descritiva e explicativa (explica o que a língua é e por que é assim). Ela se diferencia da gramática normativa, que se preocupa em prescrever como se deve dizer. Um linguista não condena certas maneiras de falar, não as declara certas ou erradas, Página 20 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA preocupa-se em descrever e explicar as construções e as formas da língua em uso (FIORIN, 2015, p.37). No final da década de 1950, com a publicação do livro Syntatic Stuctures, outra teoria linguística muito importante foi apresentada pelo linguista e pensador americano Avran Noam Chomsky, nascido em 1928, na Filadélfia, Pensilvânia, autor de mais de 70 livros, traduzidos em dez línguas. Essa teoria, hoje vastamente conhecida como “Gramática Gerativa”, mudou o objeto de estudo da linguística. Segundo a sua teoria a língua não é social, para ele, a língua é um objeto mental. Chomsky definiu língua como [...] um sistema de princípios conhecidos intuitivamente por qualquer falante, princípios esses que integram, juntamente com outras capacidades cognitivas, a mente humana, essa teoria aproximou a Linguística dos estudos biológicos e das ciências cognitivas. A língua não é mais um objeto social, ela é um componente central da natureza humana (apud NEGRÃO, 2015, p.76-77). A seguir, no decorrer deste trabalho, vamos apresentar aspectos significativos das teorias linguísticas de Ferdinand de Saussure e Noam Chomsky, importantes para a compreensão do fenômeno linguístico. 1.4.1 Ferdinand Saussure A língua, segundo Saussure, “é, ao mesmo tempo, um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos” (1969, p.17). Para explicar o que significa “produto social”, podemos dizer que a língua é produzida e usada por toda uma comunidade, não sendo propriedade de ninguém individualmente. Uma língua não existe individualmente, ela se constitui no meio social e é no meio social que ela se realiza, se transforma e evolui. Vimos, então, que a língua é social e convencional, isto é, as palavras, os signos, devem ser conhecidos e compreendidos por todos os seus usuários. Para Saussure a língua é um sistema formado por um conjunto organizado de elementos; esses elementos se definem por sua relação com o sistema e por sua relação com os demais elementos. Cada elemento da língua se define pela diferença existente em relação a outro elemento. Para exemplificar a questão da diferença vamos observar a palavra /bola/, se substituirmos o fonema /b/ pelo fonema /m/, teremos outra palavra: mola. Relacionando as Página 21 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA duas palavras, veremos que a diferença entre elas são os fonemas /b/ e /m/. Como poderemos definir o que é o fonema /b/ que aparece no início da palavra /bola/? Não tem como definir, só dizer que o /b/ não é o /m. Saussure 3 Assim sendo, para Saussure (1995), a língua é um sistema de signos – um conjunto de elementos que se relacionam organizadamente dentro de um todo. É importante lembrar que para o autor, a linguagem é uma faculdade inata no indivíduo ao passo que a língua constitui algo adquirido e convencional. Ao definir o objeto dos estudos da Linguística, Saussure entende que não pode ser a linguagem, tendo em vista que ela tem características da física, da antropologia, da fisiologia. Define então que o objeto da linguística é a língua, que é um produto da faculdade da linguagem e que é um produto social. A língua é social, se realiza entre pessoas de uma comunidade que conhecem os significados dos signos. Dicotomia Saussuriana Na obra de Saussure encontramos a palavra dicotomia, usada na lógica, que no novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (FERREIRA, 2009, p.675), significa “divisão lógica de um conceito em dois outros conceitos em geral contrários, que lhe esgotam a extensão”, exemplo: animais vertebrados e invertebrados; direito público e privado. Essa é a compreensão que devemos ter 3 Disponível em: http://newlearningonline.com/literacies/chapter-8/saussure-on-signs Página 22 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA da dicotomia saussuriana. Os conceitos dicotômicos se opõem, um só pode ser compreendido se comparado ao outro, e juntando os dois formam um conceito maior, muito importante para entendermos o que é a língua. Passaremos a apresentar os quatro pares de conceitos que formam as dicotomias saussurianas: • língua e fala; • significante e significado; • sincronia e diacronia; • paradigma e sintagma. Língua e fala A língua é social, um sistema de signos convencionais, não pode ser mudado. A fala é individual, é a manifestação oral, é o sujeito falante usando o código da língua. A fala traz muitas marcas da cultura, do modo de viver do falante, de tal forma que uma mesma língua pode ser falada de diferentes maneiras, dependendo do lugar, das influências a que o falante está exposto. Enfim, a fala é a expressão individual, própria de cada pessoa. Porém, independente do jeito de cada indivíduo falar, a língua é a mesma: no nosso caso o português. Significante e Significado Para compreendermos a dicotomia “significante e significado,” precisamos entender muito bem o que se entende por signo linguístico. Signos linguísticos são unidades linguísticas que significam alguma coisa. Por exemplo: livro é um signo em português. Se eu uso esse signo, todas as pessoas que conhecem a língua portuguesa sabem a que eu me refiro. A palavra livraria também é um signo, porém é composta por dois signos menores que têm significação: livr (livro) mais aria (indica um estabelecimento comercial que vende livros) forma o novo signo livraria. Frases ou textos também são signos porque significam alguma coisa. Por exemplo: o livro A Moreninha, de José de Alencar, é um signo. Assim, tudo que é existente e conhecido é representado por um signo. O signo é a associação indissolúvel de um significante e de um significado. Página 23 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA Por exemplo, árvore: o significado corresponde não ao objeto, a coisa em si, mas a ideia, o conceito que temos de árvore (galhos, tronco, raiz). O significante de árvore é a imagem acústica, que é a representação psíquica do som /a/r/v/o/r/e. O significante é a imagem acústica, ou seja,quando se pensa em algo conhecido, é como se o som ressoasse no cérebro é um som não articulado. Significado / Significante4 Signo5 Ex: Signo bicicleta. Significado: a ideia, o conceito, as características, o que a bicicleta significa para o sujeito. Significante é a imagem acústica, a representação psíquica do som. Para resumir: Signo linguístico compreende dois termos psíquicos unidos em nosso cérebro = significado (ideia, conceito) + significante (representação psíquica do som). Conceito/Imagem6 4 Disponível em: https://letransfert.wordpress.com/2013/05/15/sintoma-e-desejo-psicanalitico-uma-perspectiva-linguistica/ 5 Disponível em: Referência: http://comunicacionparaadultos.blogspot.com.br/ Página 24 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA Características do Signo O signo possui duas características: a arbitrariedade e linearidade. O que quer dizer o princípio da arbitrariedade? Para explicar, vamos analisar o termo “mar” – o conceito de mar, a ideia que cada um de nós tem do mar, poderia ser representado por qualquer outra imagem acústica com “bar”, “fogão”, “cadeira”. Não existe relação entre o significado e o significante. Assim, podemos dizer que o que une o significante ao significado é arbitrário. Também como exemplo, para o referencial “cão” em português, em inglês é “dog”, em espanhol é “perro”. O significado, o conceito, a ideia de cão é o mesmo nas diferentes línguas, porém, o significante não é o mesmo, o significante é arbitrário. As línguas de sinais, bem mais recentes, possuem um número significativo de sinais que representam a forma ou o modelo dos objetos ou indivíduos a que se referem, são os chamados sinais icônicos, comprovando que o princípio da arbitrariedade do signo não é absoluto, embora, para a maioria dos sinais, não seja impossível compreender o significado apenas pela representação. O que se entende por linearidade do signo? As palavras em um texto sempre são apresentadas em forma linear, uma após a outra; elas não podem ficar sobrepostas, não ocorrem simultaneamente. Também as letras na palavra sempre virão uma após a outra, este é o princípio da linearidade. Vamos observar a frase: “O inverno chegou trazendo as chuvas frias, provocando enchentes, obrigando muitas famílias a abandonarem as suas casas.” Todas as palavras estão em linha, uma após a outra, cada uma ocupando um lugar específico para constituir o significado da mensagem. Cada palavra se relaciona com a outra, constituindo uma unidade, um sentido. Hoje em dia, muitos linguistas já questionam esse princípio da linearidade porque ele não se aplica totalmente às Línguas de Sinais. Nas línguas de sinais, a simultaneidade é um fato bastante comum: é possível se realizar um signo com uma mão, e outro com a outra, ao mesmo tempo. Além disso, enquanto as mãos estão realizando sinais lexicais, a 6 Disponível em: http://4.bp.blogspot.com/_zO7e6hJaq8A/Su8ahAkq6zI/AAAAAAAAAEU/VlGJlbJF0EE/s320/clip_image002.jpg Página 25 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA posição do tronco e da cabeça, a direção do olhar, as expressões faciais estão fornecendo informações discursivas e gramaticais (VIOTTI, 2008, p.25). Ainda assim, segundo a autora, a linearidade se aplica nas Línguas de Sinais em todos os níveis de análise, do fonológico ao discursivo. Sincronia e diacronia Para Saussure (1969), o estudo sincrônico da língua é a observação da língua num momento delimitado, num determinado ponto do tempo, num período, não interessando o que aconteceu antes, nem o que poderá acontecer depois. Esta forma de analisar a língua se chama de sincronia, não se atém às transformações históricas da língua e nem a sua possível evolução. Na análise sincrônica, descrevem-se as relações entre os fatos existentes em um determinado tempo do sistema linguístico. Diacronia são as observações das ocorrências que aconteceram com a língua através do tempo, engloba as mudanças e transformações. Para exemplificar uma observação diacrônica podemos observar as transformações históricas: “vossa mercê”; “vosmicê”; “você”. Paradigma e sintagma Vamos explicar as relações sintagmáticas e as relações paradigmáticas ou associativas, que se referem às relações e que se estabelecem entre os elementos que constituem o sistema da língua. Essas relações podem ser separadas em dois grupos. Cada grupo corresponde a uma atividade mental e são muito importantes para a língua. O que se entende por sintagma? Sintagmas são as combinações que acontecem dentro do contexto discursivo, uma palavra, um grupo de palavras ou uma frase. O sintagma acontece a partir do princípio da linearidade: são combinações consecutivas, se alinham uma após a outra, como acontece na fala. O sintagma tem duas ou mais unidades, como por exemplo: pato= pa-to; Paulo chegou; Se fizer tempo bom, sairemos. Vimos que num sintagma cada termo linguístico tem um valor porque se opõe ao termo que vem antes e ao que vem após. Exemplo: Na palavra “parede”- pa-re-de , se deslocarmos uma sílaba, mudará o sentido: depare – de-pa-re. Mudando uma sílaba, não comunicamos o signo parede, é preciso que as combinações sejam lineares e consecutivas, mantendo o significante. Página 26 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA O sintagma exige ordem de sucessão, onde cada termo linguístico tem um valor, desde que dentro de um contexto discursivo. Usando um exemplo do próprio Saussure (1969) com a frase: “Se fizer bom tempo, sairemos.” Todos os termos estão alinhados, respeitando a linearidade, estão alinhados horizontalmente, numa situação comunicativa verbal, sendo possível comunicar a mensagem,temos um sintagma. Observe o valor de cada termo, pois o contexto discursivo perderia o significado se a ordem fosse alterada: Tempo se sairemos bom fizer. São as relações sintagmáticas. Paradigma ou Relações Associativas São associações que acontecem em nossa memória com as palavras que têm alguma coisa em comum: ou o significado, ou a imagem acústica, a sonorização. Exemplo: quando lemos ou ouvimos a palavra “livraria”, a essa palavra se associam muitas outras que estão na nossa memória, como livro, papel, arquivos, cadernos, lápis, enfim, um universo de palavras que poderão estar associadas ao significado de livraria. Outras palavras poderão ser associadas à sonorização de livraria: portaria, papelaria, pescaria. O eixo paradigmático ou eixo vertical é o eixo das relações associativas. , Exemplo de paradigma ou relações associativas: Nessa primeira parte do trabalho apresentamos, resumidamente, aspectos da Linguística, segundo Ferdinad de Saussure. Página 27 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA A seguir, apresentaremos brevemente outra teoria Linguística criada por Noam Chomsky, chamada de Gerativismo. As teorias de Saussure e de Chomsky são importantes para a compreensão do funcionamento da língua. 1.4.2 Noam Chomsky Pensador e linguista americano, Avram Noam Chomsky é o principal teórico do Gerativismo. Quando estudamos a teoria de Saussure, vimos que a língua é predominantemente social. Para Chomsky, na Gramática Gerativa, a língua é um objeto mental. Para ele, a mente humana é o local onde a língua - um sistema de princípios - está radicada. É esse sistema de princípios mentais que é o objetode estudo da Gramática Gerativa (Viotti, 2008). Para Chomsky (1996), existe na nossa mente um módulo cognitivo independente, exclusivamente associado à língua e não a outras linguagens como a dança, a música, a pintura, etc., que permite às pessoas a compreensão e formulação de palavras, frases, discursos. Assim sendo, a linguagem é uma capacidade inata, transmitida geneticamente e própria da espécie humana. Segundo Viotti (2008), a faculdade da linguagem já está formada quando a criança nasce, é comum a toda a espécie humana, é igual para todas as crianças, sejam surdas ou ouvintes. A faculdade da linguagem é um estado inicial a toda a pessoa quando nasce, é inata, faz parte da genética humana, chama-se gramática universal. A língua “é o resultado da interação de dois fatores: o estado inicial e o curso da experiência” (Chomsky, 1996, p. 74). Chomsky 7 7 Disponível em: Fonte:http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.virtual.ufc.br/ Página 28 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA Assim sendo, se uma criança, ao nascer, passar a conviver com pessoas que falam português, o seu estado inicial da faculdade da linguagem, em interação com as informações linguísticas, vai se modificando e ela passará a falar português e não outra língua. Da mesma forma, se a criança for surda e os seus pais ou cuidadores usam a língua de sinais, a criança vai desenvolver a língua de sinais. Evani Viotti assim explica a gramática universal: [...] para a Gramática Gerativa, a língua pode ser comparada a um ser vivo: ao nascer, esse ser traz em seus genes a capacidade de crescer, de se desenvolver, de amadurecer. Se esse ser vivo recebe nutrientes, ele cresce e se desenvolve. Se não, ele não sobrevive. O mesmo acontece com a informação genética da faculdade da linguagem: em seu estado inicial, que é a gramática universal, ela tem uma pré-disposição genética para crescer e se desenvolver e se tornar uma gramática estável, como a do português, do japonês, da Libras, da ASL. Mas, para isso, ela precisa receber nutrientes, ou seja, ela precisa ser exposta a um ambiente linguístico; se isso não acontecer, essa informação linguística inata não vai sobreviver (2008, p.34). Ao referir-se à faculdade da linguagem, Chomsky a considera como um “órgão linguístico”, como outros órgãos do corpo tais como o sistema visual, o sistema circulatório, dado o seu caráter fundamental em todos os aspectos da vida e da interação humana. O Que se Entende por Gerativismo? Segundo a teoria de Chomsky, todas as pessoas têm os mesmos mecanismos mentais destinados à produção e compreensão da linguagem. Vamos retomar a noção já mencionada, de que para ele [...] existe em nossa mente um módulo linguístico constituído de princípios responsáveis pela formação e compreensão das expressões linguísticas e exclusivamente dedicado a língua. Esse módulo linguístico é chamado de faculdade da linguagem. Essa faculdade da linguagem é inata, ou seja, todos os seres humanos nascem dotados dela. “A faculdade da linguagem é parte da dotação genética da espécie humana” (Viotti, 2008, p.33, grifo nosso). A essa faculdade da linguagem que é parte da dotação genética humana, esse módulo especial, associado especificamente à língua e não às Página 29 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA outras linguagens como a dança, a música, que se constitui o centro dos estudos da sua teoria, é chamada de GRAMÁTICA UNIVERSAL. A Gramática Universal é o estado inicial, uma competência que toda a criança já traz quando nasce e está presente em todas as pessoas, sejam ouvintes ou surdas. Todas as pessoas são portadoras da faculdade da linguagem. Logo, todas possuem uma Gramática Universal. Porém, esse estado inicial da faculdade da linguagem, à medida que a criança passa a conviver num ambiente linguístico, com qualquer língua humana verbal ou a língua de sinais, a Gramática Universal vai se desenvolver e se tornar uma gramática constante, como a espanhol, o português, a LIBRAS. A preocupação da Gramática Universal são os mecanismos mentais dedicados à produção e compreensão da linguagem, em que os falantes de uma língua têm intuições sobre como devem ser as formas das sentenças. O se entende por intuição? Vamos observar os exemplos: 1. Todos participaram da construção do ginásio da comunidade. 2. Da construção do ginásio da comunidade todos participaram. 3. Da comunidade participaram ginásio todos construção da. Percebe-se que a última sentença não tem sentido. Por intuição, pelos conhecimentos que temos da língua, sabemos que a sentença nº 3 está incorreta e que as sentenças 1 e 2 são sentenças possíveis. O conhecimento intuitivo inicialmente era chamado de competência linguística. É o conhecimento que o falante possui sobre a sua própria língua, é o conhecimento interiorizado. Desempenho linguístico é o uso do conhecimento intuitivo, chamado de conhecimento exteriorizado. Mais tarde, o conhecimento interiorizado foi denominado Língua – I. Para a Gramática Gerativa o que é investigado é a Língua-I (interiorizada), capacidades mentais que nos capacitam a produzir e a compreender a linguagem. Segundo a Gramática Gerativa, nascemos com a capacidade para a linguagem, pois temos uma constituição biológica que permite compreender e produzir linguagem. Essa abordagem é legitimada pelos seguintes argumentos: Página 30 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA a) Argumento da pobreza de estímulo - As informações linguísticas a que as crianças são expostas no período de aquisição da linguagem, sozinhas, não são suficientes para que elas criem um sistema altamente complexo como é a linguagem humana. Os estímulos são pouco informativos sobre as propriedades gerais da linguagem. Como conseguem desenvolver o sistema complexo? Para Chomsky, os dados linguísticos a que uma criança está exposta são sempre pobres, independente do grupo social a que ela pertence. Pessoas ricas e pobres, todas são expostas a ambientes linguísticos insuficientes, incapazes para explicar todo o conhecimento linguístico que ela tem de sua língua (apud VIOTTI, 2008). b) Criatividade Linguística - a linguagem é um meio finito que gera um número infinito de sentenças. Uma criança pode produzir sozinha, uma frase que nunca ouviu antes. Isso mostra a nossa capacidade da linguagem. Segundo a Gramática Gerativa, a linguagem é constituída por um número infinito de sentenças e não existe limite para o término de uma sentença. Porém, os elementos mínimos com os quais se constrói uma sentença são finitos, isto é, os sons distintivos de uma língua são finitos, o conjunto de unidades significativas é finito; o conjunto de princípios que regem a construção de uma sentença é finito (NEGRÃO, 2015). No decorrer da história, a Gramática Gerativa tem sido revista, adaptando-se às novas descobertas. A versão mais recente é a chamada de Princípios e Parâmetros. Segundo Viotti (2008), esse modelo apresenta inovações nos seguintes aspectos: a. Propõe a divisão da gramática em módulos, cada um deles com organização própria mas que se articulam entre si. b. A Gramática Universal deve ser composta de dois princípios: alguns são rígidos e invariáveis, e que são incorporados por todas as línguas; outros que são abertos, oferecendo geralmente duas possibilidades de valores, que vão se integrando ao longo do processo de aquisição, conforme o meio linguístico em que a criança se desenvolve. Esses princípios abertos são chamados de Parâmetros. Nota: Nesta disciplina de Aspectos Linguísticos e Gramaticais de Libras o nosso propósito é trazer para os alunos algumas informações da Linguística Geral, visando sempreum melhor entendimento do funcionamento da língua. Página 31 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA A Teoria Gerativa constitui-se num amplo projeto de investigação da língua. Assim sendo, os aspectos aqui abordados representam uma breve introdução para posterior aprofundamento 1.4.3 Relações de interface da Linguística com as outras áreas do conhecimento Muitos avanços científicos resultam da convergência da Linguística com as outras áreas do conhecimento, constituindo o que se denomina de relações de interface. Assim, a sociologia também estuda a linguagem, uma vez que a vida em sociedade só é possível se houver comunicação entre os indivíduos, precisando da língua com suas normas, com seu caráter convencional, que possibilita a convivência social. A filosofia cada vez mais se interessa pelas relações entre linguagem, pensamento e realidade. A psicologia busca na linguagem humana a compreensão do funcionamento da mente. Assim, a linguística mantém relações interdisciplinares, ora contribuindo com seus conhecimentos, ora usufruindo dos conhecimentos das outras áreas. A linguista Evani de Carvalho Viotti (2008) aponta algumas relações de interface entre a linguística e outras áreas, que passaremos a apresentá-las resumidamente por auxiliarem na compreensão de alguns aspectos em que ocorrem relações interdisciplinares. Entre os conhecimentos trazidos pela biologia para a compreensão e o desenvolvimento da linguagem, encontram-se aqueles que tornam possível conhecer o funcionamento biológico; as modificações genéticas ocorridas através do tempo e que possibilitaram o surgimento da língua, as projeções de possíveis mutações futuras; as dotações genéticas da espécie humana para a linguagem. Através dos estudos da neurofisiologia, a Linguística tem importantíssimos estudos sobre as partes do cérebro envolvidas na produção e compreensão da fala, bem como estudos sobre as partes atingidas por traumatismos cranianos, acidentes vasculares cerebrais. Estuda a estrutura do aparelho fonador, responsável pela produção dos sons; as características e funcionamento dos ouvidos. Quanto à língua de sinais, estudos linguísticos já investigam a articulação das mãos na produção dos sinais. Os estudos da Psicolinguística apresentam relações entre língua e cognição e procuram entender o aprendizado de línguas. Estudos nessa área têm mostrado a importância das crianças surdas estabelecerem contato com a língua Página 32 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA de sinais desde recém-nascidas. Demonstram, também, a importância da fluência na língua de sinais para a aprendizagem da escrita em português. A Sociolinguística analisa as relações entre língua e cultura, as variações linguísticas, as transformações da língua. Percebe a língua como um fenômeno social, que nasce e emerge através do contato entre as pessoas, que começa de forma rudimentar e vai evoluindo até formar um sistema complexo, a exemplo das línguas de sinais, que nasceram com o uso de poucos sinais e foram evoluindo, criando suas regras e sua gramática, até atingirem o reconhecimento de língua de sinais. 1.5- A Linguística e as Línguas de Sinais A Linguística como ciência procura entender e descrever as línguas, bem como as teorias que possam explicar a fantástica possibilidade de uma pessoa se comunicar com a outra através das línguas orais ou de sinais. Os estudos linguísticos das Línguas de Sinais iniciaram com o Dr. William C. Stokoe, Jr. (1919-2000), um linguista escocês que vivia nos Estados Unidos. Em 1955, assumiu o departamento de inglês e literatura inglesa numa escola para surdos, chamada de Gallauddet College, hoje conhecida como Gallauddet University, importante centro acadêmico de pesquisas e ensino para surdos. Ele era ouvinte e desconhecia o mundo das pessoas surdas. Na escola empregava-se a oralização, a leitura labial. Através das suas observações sistemáticas, percebeu que nas situações informais, no pátio e nos corredores, os alunos usavam um conjunto de sinais para se comunicarem entre si, bem diferentes dos sinais de instrução usados nas aulas. Procurou aproximar-se dos alunos para conhecer os sinais que tinham maior força comunicativa, pois, na época, nem a língua de sinais americana era ensinada na escola. A partir das suas observações, passou a constatar que a sinalização usada pelos surdos era uma língua autônoma, com uma gramática própria. Apresentou uma análise descritiva da Língua de Sinais Americana, revolucionando a linguística da época, período em que todos os linguistas se dedicavam aos estudos da língua oral. Pela primeira vez um linguista estava apresentando elementos linguísticos de uma língua de sinais. Hoje, ainda temos poucos linguistas surdos pesquisando as línguas de sinais. Página 33 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA Assim, os estudos linguísticos das línguas de sinais partem dos mesmos pressupostos básicos, válidos tanto para as línguas orais como para as línguas visuoespaciais: as línguas são constituídas por um conjunto de princípios que fazem parte do conhecimento humano e determinam a produção oral ou viso- espacial, dependendo da modalidade das línguas, se faladas ou sinalizadas, da formação das palavras, da construção das sentenças e da construção dos textos. Para o entendimento dos diferentes aspectos da linguagem humana, os estudos linguísticos de todas as línguas abrangem as seguintes áreas: a fonologia, a morfologia, a sintaxe, a semântica e a pragmática. Cada uma dessas áreas será estudada na última unidade. A LIBRAS, por ser uma língua natural, possui os mesmos fenômenos linguísticos comuns a todas as línguas orais, podendo ser analisada nos níveis fonológico, morfológico, sintático, semântico e paradigmático. Por sua característica espacial, os níveis fonológico, morfológico e sintático se realizam espacialmente, uma vez que o espaço é um importante canal de constituição da língua de sinais. 1.6- As Variações Linguísticas A expressão “variações linguísticas” remete à existência de uma língua viva, pulsante, que revela os diferentes sentidos e formas com que os falantes percebem o mundo. O Brasil não é um país de uma única língua. Embora a Língua Portuguesa seja o idioma oficial no país, há manifestações de muitos outros idiomas e variações da própria Língua Portuguesa no nosso território. Segundo Oliveira, os dados demonstram que o plurilinguismo está presente nas diferentes regiões do país. [...] no Brasil de hoje são falados por volta de 200 idiomas. As nações indígenas do país falam cerca de 170 línguas (chamadas de autóctones), e as comunidades de descendentes de imigrantes outras 30 línguas (chamadas de línguas alóctones). Somos, portanto, como a maioria dos países do mundo - em 94% dos países do mundo é falada mais de uma língua - um país de muitas línguas, plurilíngue (2009, p.83-84). A língua é social e se realiza num determinado momento histórico e geográfico. Assim como a sociedade muda, a língua que usamos também sofre Página 34 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA transformações. É muito comum, num mesmo país, as pessoas falarem a mesma língua de formas diversas, múltiplas. As variações são ocasionadas por diferentes fatores tais como a época, as condições econômicas, os ambientes sociais, a região geográfica, o uso das tecnologias e das redes sociais. Essas diversidades linguísticas normalmente iniciam na fala, aparecendo depois na escrita. As línguas naturais nascem espontaneamente da necessidade de comunicação e interação entre as pessoas, são dinâmicas e estão sempre se modificando. Essa capacidade de transformação da língua chama-se variação linguística. As variações linguísticas refletem asdiferentes formas das pessoas se comunicarem, muitas vezes o uso de gírias e regionalismos cumprem muito bem a função de comunicar, outras vezes há a necessidade de optar pela norma padrão da língua. As línguas de sinais também apresentam as mesmas variações que a Língua Portuguesa e as demais línguas orais. A seguir, veremos alguns tipos de variações que a língua sofre no decorrer do seu uso: Variação Histórica – São as modificações da língua no decorrer do tempo, por exemplo: as palavras antes escritas com ph como pharmácia - farmácia; as reduções: vosmece – você; etc. Variação Regional (os chamados dialetos) - São as variações ocorridas de acordo com a cultura de uma determinada região, diferentes Estados e diferentes áreas geográficas dentro de um mesmo Estado, como por exemplo, a palavra mandioca, que em certas regiões é tratada por macaxeira ou aipim. Outro fator importante para a variação linguística é a origem rural ou urbana da pessoa usuária da língua. Variação Social - É aquela pertencente a um grupo específico de pessoas. Neste caso, destacam-se as gírias, originadas em grupos de surfistas, ou adolescentes. Os jargões, que pertencem a uma classe profissional mais específica, como é o caso dos médicos, profissionais da informática, dentre outros. O grau de escolarização: o acesso maior ou menor à educação formal e, com ele, à cultura letrada, à prática da leitura e aos usos da escrita, é um fator muito importante na configuração dos usos linguísticos dos diferentes indivíduos. Página 35 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA 1.7 Uma reflexão sobre a Gramática e a Linguística no ensino da língua Por estarem intimamente associados aos estudos da língua, muitos confundem a Gramática normativa, tradicional com a Linguística. Por outro lado, a Linguística ainda é pouco conhecida nos meios acadêmicos, gerando insegurança ou mesmo rejeição, fruto do desconhecimento e também por distorções veiculadas de que a Linguística pode representar uma ameaça ao padrão culto da língua. Assim sendo, é oportuna uma abordagem sobre Gramática e Linguística. Inicialmente, é interessante deixar claro que toda a língua tem uma gramática. A Gramática tem como objetivo regular o uso da língua, constituindo um conjunto de normas que orientam o uso padrão-culto da língua, contribuindo para a constituição de uma identidade. A origem da Gramática remonta do século IV a.C. com os gregos da Escola de Alexandria. Nessa época, os sábios gregos desenvolveram estudos no sentido de que as línguas passam por três fases em seu desenvolvimento: um período em que a língua está em formação, usada por pessoas simples, camponeses e pastores; o segundo período é marcado pelo surgimento dos primeiros autores, até chegar ao seu apogeu, revelando seus cientistas e escritores clássicos; o terceiro período é marcado pela decadência, quando a língua começa a empobrecer e a produção de seus escritores e intelectuais tem sua qualidade reduzida. Seguindo essas fases, toda língua passaria por três estágios: arcaico, clássico e tardio. Por seu caráter social, o apogeu de uma língua, o seu período clássico, normalmente está relacionado ao ápice do desenvolvimento do Estado em que a língua é usada. Seguindo essa lógica, no século V a.C., a Grécia vivia um momento de progresso econômico e de prestígio político, a língua usada pelos escritores clássicos, passou a ser o modelo de língua a ser seguido. A Gramática passou a ser concebida como a “arte de escrever com elegância” e constituía um conjunto regras que normatizavam como a língua deveria ser usada. Assim sendo, os primeiros estudos da Gramática tinham o objetivo de estudar e preservar a língua escrita grega, preservando as formas consideradas elegantes, corretas, usadas por escritores clássicos, tornando-os padrões que seguiam a risca a linguagem grega (LIMA, 2006). A regularização da Gramática que iniciou pela língua escrita, com a literatura, com o tempo atingiu a língua falada. Como o uso do modelo padrão da língua escrita era restrito a uma minoria, aos considerados respeitáveis e cultos da época, o uso da língua pela grande maioria dos usuários não correspondia à Página 36 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA norma culta estabelecida. A língua falada passou então a distinguir as pessoas, refletindo as diferenças de sua classe social. A Gramática surgiu e passou a controlar e difundir uma linguagem formal, aristocrática, usada por poucos, a exemplo de escritores como Homero, Camões. O entendimento das origens da Gramática tradicional é muito importante porque vem daí a dificuldade de as escolas aceitarem a linguagem trazida pelo aluno, a linguagem os jovens, mais popular, a linguagem de quem vive no meio rural e em diferentes regiões, vem desde os gregos e romanos as concepções puristas, ainda presentes nas escolas onde se cultiva o distanciamento, que poderíamos chamar de preconceito de linguagem. Até as últimas décadas do século XX, os estudos da língua que predominavam nas escolas, principais instituições de difusão da língua escrita e oral, ainda eram baseados nos fundamentos da Gramática tradicional. Luiz Fernando Fischer assim se refere ao ensino da língua nesse período: Quer dizer: o que importava não era saber como funcionava a linguagem, e sim estabelecer e perpetuar as formas tidas como corretas, socialmente prestigiadas. O exemplo brasileiro mais saliente dessa visão é o de Ruy Barbosa, o jurista e político cujos textos, até a metade do século passado, foram tidos como um exemplo de português culto (2003, p.5). Arraigado às concepções da Gramática normativa, o ensino da língua nas escolas brasileiras esteve, ou ainda está, guiado pela separação do que é certo ou do que é errado, em relação ao uso da língua oral ou da escrita. Na escola impera o predomínio do estudo das classes gramaticais em detrimento de trabalho com a apropriação da língua através da leitura, da compreensão, da produção e escrita do texto. No final do século XX, a Linguística trouxe novos ares, revolucionando os estudos da língua. Nos círculos acadêmicos veicula-se que a língua deverá ser estudada como se apresenta, sem os julgamentos de certo e errado. A partir dos estudos de Saussure, todas as manifestações linguísticas passaram a ser reconhecidas, as diferenças linguísticas trazidas pelos alunos para a sala de aula deveriam ser entendidas como as variações que a língua sofre, não constituindo erro em relação ao padrão culto da língua. A língua passa ser entendida como social, viva, múltipla, valorizando os diferentes falares, entendidos como expressões dos ambientes e dos acessos de circulação a que os falantes estão expostos. Como consequência, no ensino escolar, iniciam as discussões sobre as necessidades de mudança no ensino da língua, desencadeando também um processo de insegurança, quase uma Página 37 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA rejeição ao ensino da língua alicerçado na Gramática tradicional, sem, no entanto, uma sustentação teórica que instrumentalizasse uma prática pedagógica diferenciada. Esse período é marcado por certa confusão no ensino da língua nas escolas. Se a Gramática tradicional deixou de ser o centro das preocupações no ensino da língua, ficou o vazio sobre o que deveria ser trabalhado em substituição à gramática normativa. Esse período foi caracterizado por interpretações equivocadas, originadas na falta de formação teórica dos professores, dificultando o entendimento das novas concepções de língua e linguagem, resultando em propostas de ensino improvisadas e baseadas em modismos pouco consistentes. Essa falta de formação teórica relacionada às novas concepções de linguagem e língua era agravada por dificuldades na escolhade material didático adequado, até porque as publicações disponíveis eram reduzidas. Desde o final do século XX até esta segunda década do século XXI, diferentes concepções fundamentam o ensino da língua, repercutindo nas Diretrizes Curriculares que orientam as práticas pedagógicas no País, na busca por uma unidade nacional que privilegie o estudo da língua numa perspectiva contextualizada. O nosso ponto de vista não é pelo abandono da Gramática, mas pela busca de estratégias de como ensiná-la. Na prática da análise Linguística, importa é respeitar e valorizar o sujeito que aprende, considerando as suas relações sociointeracionistas, pois o “(...) domínio de uma língua é o resultado de práticas significativas, contextualizadas” (POSSENTI, 1996, p. 47). Para demonstrar alguns aspectos do trabalho com a língua a partir da Gramática Tradicional em relação à análise Linguística, apresentamos o quadro organizado por Mendonça (2006, p. 207): Análise da Gramática Tradicional Análise Linguística Concepção de língua como sistema, estrutura inflexível e invariável. Concepção de língua como ação interlocutiva situada, sujeita a interferências dos falantes Ensino de gramática Prática de análise linguística Concepção de língua como sistema, estrutura inflexível e invariável. Concepção de língua como ação interlocutiva situada, sujeita a interferências dos falantes. Fragmentação entre eixos de ensino: as aulas de gramática Integração entre os eixos de ensino: é ferramenta para a leitura e a produção Página 38 de 38 LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA não relacionam necessariamente com as de leitura. de textos. Metodologia Transmissiva, baseada na exposição dedutiva (do geral para o particular, isto é, das regras para o exemplo) + treinamento. Metodologia reflexiva, baseada na indução (observação dos casos particulares para a conclusão das regularidades/ regras). Ênfase nos conteúdos gramaticais como objetos de ensino, abordando isoladamente e em sequência mais ou menos fixa Ênfase nos usos como objetos de ensino (habilidades de leitura e escrita), que remetem a vários outros objetos de ensino (estruturais, textuais, discursivos, normativos), apresentados e retomados sempre que necessário. Centralidade na norma padrão Centralidade dos efeitos de sentido Ausência de relação com as especificidades dos gêneros, uma vez que a análise é mais de cunho estrutural e, quando normativa, desconsidera o funcionamento desses gêneros nos contextos de interação verbal. Fusão com o trabalho com os gêneros, na medida em que contempla justamente a intersecção das condições de produção dos textos e as escolhas linguísticas. Ausência de relação com as especificidades dos gêneros, uma vez que a análise é mais de cunho estrutural e, quando normativa, desconsidera o funcionamento desses gêneros nos contextos de interação verbal. Fusão com o trabalho com os gêneros, na medida em que contempla justamente a intersecção das condições de produção dos textos e as escolhas linguísticas. Preferência pelos exercícios estruturais, de identificação e classificação de unidades/função morfossintáticas e correção. Preferência por questões abertas e atividades de pesquisa, que exigem comparação e reflexão sobre adequação e efeitos de sentido. A partir desta seção, passaremos a estudar aspectos das áreas da Linguística. As áreas da Linguística são as seguintes: Fonética e Fonologia, Morfologia, Sintaxe, Semântica e Pragmática. Iniciaremos pela Fonética e pela Fonologia.