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MarianaCardoso-EscoladaPonte

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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA EM MATEMÁTICA
MARIANA HELENA CARDOSO COSTA
a ESCOLA DA PONTE
Um modelo inovador de ensino
Mateus Leme
2019
mariana helena cardoso costa
a escola da ponte
Um Modelo Inovador de Ensino
Trabalho apresentado ao Curso de Formação Pedagógica em Matemática para a disciplina de Atividades Interdisciplinares.
Mateus Leme
2019
INTRODUÇÃO
O período atual em que se vive na educação brasileira requer uma busca por novos ideais sobre a aprendizagem realizada nas escolas, porque o conhecimento e a informação estão cada vez mais acessíveis ao aluno, porém, os mesmos percebem que a escola já não satisfaz mais aos seus anseios e ainda o frustra com mecanismos ultrapassados como quadro e giz. E mesmo que os profissionais da educação tentem enfatizar mudanças no cenário educacional e destaquem o diálogo, onde falem que a escola prepara o aluno para o futuro, esta fala já não convence, demonstrando que algo permanece desconexo entre a teoria e a prática.
Tendo em vista que a autonomia é um tópico que tem sido desenvolvido por diversos educadores que a consideram fundamental para a formação de cidadãos aptos a exercer sua cidadania e direitos democráticos, a Escola da Ponte, que é o centro deste trabalho, traz uma nova visão totalmente diferente da escola tradicional. A Escola da Ponte é um modelo de ensino onde os estudantes tem plena autonomia para escolherem o que querem, quando querem, e porque querem estudar. Porém, o aluno deverá escolher o seu próprio caminho escolar, mas não pode confundir liberdade com falta de responsabilidade ou com desresponsabilização. Deve ter autonomia com responsabilidade.
Este novo modelo de escola ainda inova quando o assunto é inclusão e diversidade, pois para a Escola da Ponte todos os alunos são especiais e únicos, não colocando, portanto, diferença entre os alunos, dessa forma é implantada a cultura do respeito de um para com o outro.
O desafio maior fica na transformação dos professores e de alunos que são transferidos da escola tradicional e se veem de frente com um modelo completamente novo, precisando muitas vezes dar alguns passos para trás para conseguir se adaptarem.
DESENVOLVIMENTO
O modelo de educação brasileira, e de muitos outros países estão passando por transformações. A melhor maneira de compreender esse processo é considerar que a nova geração de alunos já não possui mais a mesma forma de pensar e de agir daquela geração que deu origem a escola disciplinada que temos hoje. Não se trata de desinteresse dos alunos pelo conhecimento, mas sim um desinteresse pela forma maneira com que esse conhecimento está sendo passado. 
Como bem nos assegura Alves (2000), pode-se dizer que um dos modelos de ensino que pode modificar este cenário é a Escola da Ponte, que traz uma ideia totalmente inovadora em aprender, buscando o respeito pelas escolhas de cada aluno, fazendo com que eles se sintam como membros pertencentes à escola e com plena autonomia para buscar o conhecimento da forma que desejam. 
A autonomia é uma ferramenta fundamental no desenvolvimento da aprendizagem e as ações que são decididas partem sempre da decisão coletiva. Nada é imposto e todas as ações são tomadas de maneira democrática (SILVA, 2018). Essa escola com uma concepção pedagógica radicalmente diferente da concepção tradicional, ao invés de produzir um aluno repetidor, formatado e sem iniciativa acaba por formar alunos criativos, ousados e, em suma, autônomos (HONAISER, 2016).
Na escola regular de ensino, os alunos são colocados em salas de aulas e se veem obrigados a assistir cada horário uma matéria diferente, com um professor diferente, e muitos dizem estar aprendendo quando na verdade ou não absorvem nada, ou decoram o conteúdo apenas para as provas e em pouco tempo já não se lembram mais de nada. Já na Escola da Ponte é diferente, neste novo modelo proposto, os alunos estudam o que estão interessados em aprender naquele momento, exercem assim, a autonomia através do desenvolvimento de seu próprio planejamento de horários e disciplinas de estudo, e se sentem realmente como alunos e pertencentes àquele meio, e não apenas como um coadjuvante. 
O autor Rubem Alves (2000) em suas crônicas, compara a escola regular de hoje com os processos de linha de montagem de grandes fábricas, onde são produzidos "objetos", que são os alunos, no mesmo molde e modelo, no intuito de que todos atinjam o mesmo nível de aprendizado e saiam da escola capazes de exercer atividades em qualquer campo do conhecimento. Porém, o ser humano não é um objeto e cada um tem seu tempo para aprender, absorver um conteúdo, uns tem mais facilidade em português outros em matemática, e, portanto, buscarão por áreas diferente no futuro. 
Assim, esses alunos, que são seres humanos diferentes, devem ser respeitados em suas individualidades, o que ocorre na Escola da Ponte. Pois, eles são incentivados a buscar o conhecimento através da curiosidade e da pesquisa de assuntos que os interessam. Eles formam grupos de afinidade de assuntos, estudam, aprendem, se dissolvem e formam outros grupos, e assim eles adquirem todo o conhecimento que necessitam. E tudo isso é feito pelos próprios alunos, apenas com acompanhamento de tutores e professores. 
Na Ponte não existe um professor para cada turma, não há uma divisão de alunos por faixa etária ou anos de escolaridade. Os grupos não são homogêneos, os graus de dificuldade e os níveis de desenvolvimento são distintos e refazem-se quando novos grupos surgem. Os grupos mudam o tempo todo em função das aprendizagens e dos planos de ação que tem como apoio os professores (HONAISER, 2016).
A inclusão de alunos com necessidades especiais nas escolas regulares é um tema muito complexo, pois envolve diversas questões, como a aceitação dos outros alunos, a preparação dos professores, o desenvolvimento do conteúdo em sala de aula, o nível de aprendizagem, e até mesmo os pais, tantos dos alunos portadores de necessidades que ficam preocupados se os filhos serão aceitos e se irão aprender tudo que precisam, como também os pais dos alunos regulares, que julgam que os filhos não terão o mesmo nível de ensinamento com um aluno especial em sala de aula. 
Com o modelo de ensino da Escola da Ponte mais uma vez pode-se observar uma evolução. Conforme nos assegura Pacheco (2000), a educação de alunos com necessidades educacionais especiais, seguindo uma perspectiva inclusiva, passa por uma gestão diferente de um mesmo programa, para que os alunos não interiorizem incapacidades e possam ganhar consciência de si como ser social com os outros. 
Segundo Pacheco (2018), apesar das diferenças, e respeitando a individualidade de cada um, todos se regem por um referencial comum de Direitos e Deveres elaborado/reformulado no início de cada ano letivo pelos alunos em Assembléia de Escola. Aqui reside parte do sucesso do projeto: são as próprias crianças que têm o papel mais ativo na gestão do seu conhecimento e dos seus próprios conflitos, regendo-se por um sistema de regras complexo que nenhum dos alunos fica ilibado de cumprir.
Assim, na Escola da Ponte, o aluno com necessidade educacional especial ocupa o mesmo espaço que as demais e seu status dentro da sala é o mesmo que dos demais alunos, pois todos estão lá para aprender e ocupar um papel em sua comunidade, assim, todos partilham de um mesmo mundo. 
Na Escola da Ponte, todos os alunos são considerados especiais, porque seus conhecimentos são guiados por experiências pessoais específicas e, assim, dificuldades são pertinentes no caminho acadêmico de todos. Neste contexto, a Escola da Ponte pode ser considerada uma escola inclusiva, pois a essência que lá se respira, diariamente, é construída no respeito e ajuda mútua entre aluno-aluno, aluno-professor, professor-aluno e professor-professor, no respeito por todos os saberes, valores e atitudes, de todos, igualmente (GUARDA e OLIVEIRA, 2007). 
A Escola da Ponte nos faz refletir que não é precisomanter as coisas do jeito que sempre foram nas nossas escolas brasileiras. E assim, surgiu o Projeto Âncora, inspirado no modelo da Escola de Portugal idealizada por José Pacheco. Este projeto é baseado em três grandes valores: a liberdade, a responsabilidade e a solidariedade. 
Localizada em Cotia, São Paulo, assim como a portuguesa, a Escola Projeto Âncora não tem séries, alunos de 6 a 10 anos estudam juntos, desenvolvem projetos de pesquisa de acordo com suas afinidades e são orientados por professores e pedagogos. Na escola, os alunos são colocados em contato com diferentes atividades: música, informática, esportes, circo, artes e culinária. 
O conhecimento é desenvolvido por meio de projetos de pesquisa e como a busca pelo conhecimento parte das próprias crianças, de um interesse genuíno, segundo os organizadores da escola, a aprendizagem é mais eficiente e melhor absorvida (PORVIR, 2012). Em uma região na qual luxuosos condomínios fechados contrastam com inúmeras favelas, o projeto busca oferecer às comunidades próximas uma educação para o exercício da cidadania de forma ativa. 
Além da mudança no aprendizado dos alunos, tem-se também a mudança para os professores. Na escola brasileira de hoje, encontra-se uma realidade difícil para os docentes, onde não são valorizados como deveria, não possuem estrutura física adequada para ministrar as aulas, enfrentam salas com mais de 60 alunos, e muitas vezes são desrespeitados e até mesmo ameaçados. 
O respeito é algo muito estimado, e quando há algum problema, é chamado a todos os presentes daquele espaço para solucionar os desafios que estão surgindo. De forma sincera, incluindo a afetividade e a solidariedade, começam a refletir sobre o assunto a ser abordado. Num gesto de levantar o braço, todos silenciam e o professor-tutor coloca o problema em questão (SILVA, 2018).
Na Escola da Ponte não são os professores que escolhem os alunos e sim os alunos que escolhem os professores, por afinidade e por conteúdo. Eles têm a mesma formação que os de outras instituições. O diferencial é que sentem uma inquietação quanto à educação e admitem existir outras lógicas (MARANGON, 2004). Há profissionais que estiveram sozinhos em sala durante anos e quando chegam constatam que sua formação e experiência servem para nada. A Escola da Ponte não precisa de professores que sabem dar aulas e de estudantes que sabem fazer cópia, o perfil que eles buscam é outro completamente diferente. 
Os professores atuam como Professor Tutor, um dos dispositivos da Escola, que assegura o acompanhamento dos estudantes e os vínculos com as famílias. Cada professor tem cerca de seis alunos que se reúnem uma vez na semana, para conversar sobre o desempenho de cada um, em relação ao cumprimento dos seus planos de trabalho e o avanço dos objetivos. É o tutor quem dialoga com os responsáveis a respeito de todas as questões, estreitando assim a relação escola- família (HONAISER, 2016).
É preciso pensar nos princípios da democracia dentro da escola, o princípio da equidade, da igualdade, o direito de ser diferente. Não é fácil, mas é perfeitamente possível. É preciso estudar o que é ensinar para a democracia, o que é promover vivências política no ambiente escolar. De ensinar "na cidadania" e não "para a cidadania" e acabar com autoritarismo dentro das salas de aula (PACHECO, 2018).
CONCLUSÃO
A partir deste trabalho foi possível conhecer sobre a metodologia de ensino utilizada pela Escola da Ponte, a qual serviu de inspiração para o que no Brasil é chamado de Projeto Âncora. Com o modelo inovador da Escola da Ponte os alunos conseguem ter autonomia para aprender o que mais os interessam, participando de todas as etapas do aprendizado, desde o planejamento até a avaliação, o que faz com que se sintam membros da escola e não apenas mais um objeto nas mãos dos professores. Além disso, os professores também são mais respeitados e trabalham com mais vontade e dignidade, e atuam na orientação dos alunos, sem ter que enfrentar as salas de aulas lotadas e sem estrutura física.
O que se espera deste projeto é que ele possa inspirar, através dos resultados positivos, outras escolas e assim seja possível a criação de um novo modelo de ensino onde os estudantes aprendam de verdade e não apenas para passar de ano ou ser aprovado em uma avaliação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, RUBEM. A Escola da Ponte. Crônicas “Quero uma escola retrógada...”, 2000. Disponível em: <http://servicos.educacao.rs.gov.br/dados/edcampo_texto_rubem_alves_a_escola_com_que_---_existir.pdf> Acesso em: 07/05/2019.
GUARDA, N. S.; OLIVEIRA, A. A. S. Escola da Ponte – Um exemplo de escola inclusiva. IV Congresso Brasileiro Multidisciplinar de educação especial. UEL. 2007. Disponível em: <http://www.uel.br/eventos/congressomultidisciplinar/pages/arquivos/anais/2007/195.pdf> Acesso em: 07/05/2019.
HONAISER, S. B. M. B. A Escola da Ponte como espaço para a formação da autonomia. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2016.
MARANGON, C. Jose Pacheco e a Escola da Ponte, 2004. Reportagem Revista Nova Escola. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/335/jose-pacheco-e-a-escola-da-ponte> Acesso em: 07/05/2019.
PACHECO, J. Quando eu for grande, quero ir à Primavera. São Paulo: Didática Suplegraf, 2000.
PACHECO, J; PACHECO, M. F. Escola da Ponte: Uma escola pública em Debate. 2018. Disponível em: < https://www.urantiagaia.org/educacional/escola/escola_ponte_sob_multiplos_olhares.pdf> Acesso em: 07/05/2019
PORVIR, Projeto Âncora se inspira na Escola da Ponte, 2012. Reportagem Revista Porvir. Disponível em: <http://porvir.org/projeto-ancora-se-inspira-na-escola-da-ponte/> Acesso em: 07/05/2019.
SILVA, J. T. Escola Projeto Âncora – Um novo jeito de fazer educação. Revista Administração Educacional – DAEPE- CE - UFPE Recife-PE, V.9 N. 1 p. 147-170, jan/jun. 2018.

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