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Aula 2 - Simplificação da Linguagem Juridica

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Aula 2 - Simplificação da linguagem jurídica e qualidades da comunicação escrita
Linguagem jurídica simplificada: mediações de conflito e perícia criminal
O ato de escrever, além de ser uma exigência social, representa, para a área jurídica, uma exigência profissional específica.
Em outros termos, escrever com clareza, objetividade e simplicidade constitui um pré-requisito fundamental para o processo de formação em quaisquer carreiras jurídicas.
O próprio Ministério da Educação, em documento referente ao desenvolvimento das habilidades necessárias à formação jurídica, destaca como prioridade a leitura crítica, a interpretação e a escrita.
VOCÊ SABIA?
Desde a década de 1980, a Língua Portuguesa de uso jurídico está sendo posta em questão por seus próprios usuários. Muitos deles têm procurado conferir a essa modalidade de uso uma nova expressividade que recusa, entre outros aspectos, a retórica vazia, o vocabulário erudito e tortuoso à inteligibilidade ou o emprego de jargões e clichês envelhecidos e sem qualquer função, a não ser, é claro, a de acumular a poeira do tempo, defendendo, assim, a necessidade urgente da simplificação da linguagem jurídica.
O importante no texto não é a sofisticação da linguagem, mas a clareza, a concisão, a qualidade dos argumentos apresentados, organizados mediante um raciocínio lógico e coerente, originados de uma seleção madura de fatos relevantes que compõem o caso concreto.
Linguagem clara, portanto, é qualidade fundamental: um documento redigido sem omissão de qualquer palavra ou sem uso de sinais ou palavras que tragam sentido somente compreensível para determinado grupo de pessoas.
Os termos jurídicos são um desafio para o conhecimento dos leigos, que se veem obrigados a traduzir, literalmente, as expressões usadas pela Justiça.
Quem não for da área jurídica terá sérias dificuldades em entender termos técnicos, específicos, inclusive, na maioria das vezes, já ultrapassados, trazidos do Direito Romano, há séculos.
Esse estilo rebuscado, apelidado de juridiquês, em vez de permitir o entendimento sobre o assunto, bloqueia qualquer possibilidade de conhecimento.
Termos e expressões latinas, que não pertencem ao domínio comum, continuam sendo usados frequentemente, e o jovem advogado, que nunca estudou latim, muitas vezes os utiliza de forma equivocada, ou com erros de grafia, flexões ou declinações, justamente por confiar em determinados textos publicados.
Aliás, esses deslizes são até previsíveis, porque ninguém deve escrever em uma língua que não domine, ou seja, na qual não tenha a mínima noção gramatical.
A atual geração, realmente, quaisquer que sejam os seus talentos, não pode se esquivar das condições externas que determinam as mudanças necessárias ao uso da linguagem, para que não aconteça o que já nos pontuou Machado de Assis (1992), em D. Casmurro:
Os amigos que me restam são de data recente; todos os antigos foram estudar a geologia dos campos-santos. Quanto às amigas, algumas datam de quinze anos, outras de menos, e quase todas creem na mocidade. Duas ou três fariam crer nela aos outros, mas a língua que falam obriga muita vez a consultar os dicionários, e tal frequência é cansativa.
Com a intenção de aproximar o Poder Judiciário da sociedade brasileira devemos, portanto, primar pela simplificação da linguagem jurídica, evitando, principalmente, o formalismo e a retórica tradicional, repleta de expressões rebuscadas.
Entretanto, quando primamos pela simplificação da linguagem jurídica, não estamos defendendo a vulgarização dela, nem tampouco estimulando o desuso de termos técnicos necessários para o seu contexto, mas, sim, combatendo uma série de excessos que podem ser banidos sem prejuízo algum, para facilitar o entendimento do cidadão.
Qualidades da comunicação escrita
Antes de discorrermos acerca de um assunto tão importante, convidamos você a ler o poema do mestre João Cabral de Melo Neto que, por meio de uma metalinguagem, cumpre bem seu trabalho de lidar com as palavras e deixar claro para nós, leitores, quão grandioso é o exercício da escrita.
	
	Catar feijão
Catar feijão se limita com escrever:
jogam-se os grãos na água do alguidar 
e as palavras na da folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com risco.
MELO NETO, João Cabral de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995.
	
Agora observe:
	
	Graciliano Ramos sobre a arte de escrever
Deve-se escrever da mesma maneira com que as lavadeiras lá de Alagoas fazem em seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.
RAMOS, Graciliano. Linhas Tortas- Crônicas. 1962.
	
Você perceberá que, de uma forma bem concisa, sintética, seca, objetiva e precisa, os escritores João Cabral e Graciliano Ramos fazem a comparação do gesto de escolher feijão ou de ensaboar, lavar e torcer as roupas com o de escrever.
Esses dois textos literários, um na poesia, e outro, na prosa, equivalem a uma verdadeira aula sobre o cuidado na escolha das palavras para fazer a construção e a lapidação de um texto.
Qualidades da comunicação escrita: clareza, concisão (objetividade), adequação ou precisão vocabular, correção gramatical
A língua escrita, como a falada, compreende diferentes níveis, de acordo com o uso que dela se faça.
Nos dois casos, há um padrão de linguagem que atende ao uso que se faz da língua, a finalidade com que a empregamos.
A redação formal é orientada pelos princípios básicos da clareza, da correção, da coerência, da objetividade e da ordenação lógica.
Sabemos que o texto escrito requer algumas qualidades específicas e isso se justifica por várias razões:
1. Uma delas se refere ao fato de a escrita atravessar o tempo e o espaço, documentando fatos, registrando acontecimentos.
2. A outra é que a língua escrita tem uma organização específica, a qual irá se adequar ao gênero em que o texto é produzido, à situação de comunicação a que se vincula, à formalidade dessa situação, à interação que ele instaura.
Diante dessa complexidade de fatores, abordaremos, agora, as qualidades fundamentais da comunicação escrita, como:
Simplicidade;
Clareza;
Concisão (objetividade);
Adequação ou precisão vocabular;
Correção gramatical (Regência verbal e nominal, crase, concordância nominal e verbal, emprego de pronomes relativos).
Simplicidade
Escreva com simplicidade. Não empregue palavras complicadas ou supostamente bonitas. Escrever bem não é escrever difícil. O vocabulário deve adequar-se ao tipo de texto que pretendemos redigir.
No nosso caso, só trabalhamos com a linguagem padrão, aquela que a norma culta exige quando vamos tratar de algum problema de grande interesse para leitores de bom nível cultural. Dela deverão ser afastados erros gramaticais, ortográficos, termos chulos, gíria, que não condizem com a boa linguagem.
Analisemos as inadequações neste exemplo:
Os grevistas refutaram o aumento proposto pelo governo. Enquanto o líder da situação fazia na Câmara os prolegômenos dos novos índices,os trabalhadores faziam do lado de fora o maior auê, achando que o governo não estava com nada.
É preciso termos muito cuidado com as palavras. Nem sempre elas se substituem com precisão.
Empregar refutar por rejeitar, prolegômenos por exposição não torna o texto melhor. Não só palavras “bonitas” prejudicam esse texto, mas também a gíria (auê) e expressões coloquiais (não estava com nada).
O texto poderia ser reescrito da seguinte forma:
Os grevistas rejeitaram o aumento proposto pelo governo. Enquanto o líder da situação fazia na Câmara a exposição dos novos índices, os trabalhadores faziam do lado de fora uma grande manifestação.
Clareza
O primeiro passo para atingirmos a clareza é a utilização de palavras simples.
Escrever bem não significa escrever “bonito” ou escrever “difícil”. Escrever bem é escrever de forma que todos entendam.
Texto não se mede também pela sua extensão, mas sim pela sua qualidade escrita.
Ordem direta: sujeito + verbo + complementos
Se hoje o objetivo principal é a clareza da frase ou do enunciado, é preferível também o uso de frases curtas, em ordem direta:
Sujeito + verbo + complementos
Construir uma frase invertendo a posição natural dos termos da oração não é inadequado, mas dificulta a leitura e, consequentemente, o entendimento do texto.
Em nome da clareza, devemos, pois, fazer uso da ordem direta, ou seja, o sujeito deve ser colocado antes do predicado e, em outros casos, a oração principal antes da subordinada, pois as informações mais importantes devem vir no início da frase.
Períodos curtos ou frases curtas
Os períodos curtos são mais fáceis de ler e não cansam, enquanto o período longo é exaustivo, complicado e enfadonho.
Alguns períodos, de tão longos, se tornam ininteligíveis. O leitor tem de reler, voltando ao lido para entender a ideia central do texto, o que pode fazê-lo desistir da leitura.
Uma frase ou período de boa extensão evita que nós nos percamos na produção do nosso texto.
Exemplo
A crise de abastecimento de álcool não é apenas resultado da incompetência e irresponsabilidade das agências governamentais que deveriam tratar do assunto, pois ela também foi causada por outro vício de origem que foi no primeiro caso os organismos do governo encarregados de gerir os destinos do Proálcool que foram pouco a pouco sendo apropriados pelos setores que eles deveriam controlar, se transformando em instrumento de poder desses mesmos setores que por meio deles passaram a se apropriar de rendas que não lhe pertenciam.
Na realidade, nesse caso, quando chegamos ao final da frase, não lembramos o que estava no seu início. Por isso, antes de tudo, devemos ver quantas ideias existem no texto escrito e separá-las.
Questão 1
Sabendo disso, reescreva o parágrafo de forma a torna-lo mais conciso e/ou objetivo:
GABARITO
A crise no abastecimento do álcool não resulta apenas da incompetência e da irresponsabilidade do governo. Ela é também causada por certos vícios que rondam o poder. Os órgãos responsáveis pelo destino do Proálcool se eximem de controlá-lo com rigor. Disso resulta uma situação estranha: os órgãos do governo passam a ser dominados justamente pelos setores que deveriam controlar. Transformam-se assim em instrumentos de poder de usineiros que se apropriam do erário.
Emprego exaustivo de gerúndio
O contribuinte brasileiro está precisando receber um melhor tratamento das autoridades fiscais, sendo ele vítima constante de um Leão sempre descontente de sua mordida, não se sentindo a salvo e sendo sempre surpreendido por novas regras, novas alíquotas, assaltando, o seu bolso.
Observamos que, além de constituir um recurso estilístico inadequado, o gerúndio promove ambiguidade e defeitos de conexão, caso não seja empregado com propriedade.
Questão 2
Reescreva o período abaixo, eliminando o gerúndio em busca de maior clareza textual:
GABARITO
O contribuinte brasileiro precisa receber um melhor tratamento das autoridades fiscais. Ele é vítima constante de um Leão sempre descontente de sua mordida, não há ano em que se sinta a salvo. É sempre surpreendido por novas regras, novas alíquotas, novos assaltos ao seu bolso.
Evitar ambiguidades
A presença de passagens ambíguas frequentemente provoca dificuldades de compreensão de um texto, portanto elas devem ser evitadas.
A interpretação ambígua pode ser desencadeada pelo uso de uma palavra que não permite identificação precisa de seu referente no texto. Assim, o enunciado é ambíguo quando for susceptível de duas ou mais interpretações: é a dúvida sobre a intenção de significação do emissor por corresponder a várias proposições diante de valores de verdade diferentes.
Analisemos o exemplo a seguir:
A frase “Eu vi o desmoronamento do barracão” pode ser lida em dois sentidos, dependendo da relação que se estabeleça para a expressão “do barracão”:
Eu vi quando o barracão desmoronou - Nesse caso, “do barracão” refere-se a “desmoronamento”; ou
Eu estava no barracão e, de lá, vi o desmoronamento da casa, do prédio, do morro - Nesse caso, “do barracão” refere-se ao verbo “ver”.
VOCÊ SABIA?
Há algumas palavras propícias para gerar ambiguidade e o pronome relativo é uma delas, assim como o possessivo. A função do “que”, por exemplo, é retomar um termo ou expressão mencionada anteriormente na frase, mas o problema é que, às vezes, pode haver duas possibilidades de retomada.
Razão por que não é incomum o resultado de um mau uso desse pronome gerar interpretações problemáticas.
Analisemos o exemplo abaixo:
Pai de namorado de Diana, que também morreu no acidente em Paris, em 1997, rejeita o relatório.
O relatório, feito pela polícia britânica, concluiu que a princesa Diana morreu vítima de um acidente automobilístico. O texto descartou a possibilidade de assassinato (hipótese que era investigada até então).
Placa em homenagem a princesa de Gales no Memorial Walk, em Hyde Park, Londres.
O problema que a frase suscita é: quem morreu com Diana no acidente em Paris? O namorado ou o pai do namorado?
Percebemos que o trecho permite as duas leituras.
Às vezes, é difícil é reescrever orações desse tipo. A melhor alternativa é quebrar o enunciado em duas frases, nem que seja necessário repetir palavras em nome da clareza, e uma das possibilidades seria:
Pai do namorado de Diana rejeita o relatório que investiga a morte da princesa em Paris, em 1997. No acidente, morreram ela e o namorado.
Certamente há outras possibilidades de reescrita. Contudo, e importante é tomar cuidado para evitar o duplo sentido.
Veja outro exemplo:
Assim que se encontrou com Beatriz, Pedro fez comentários acerca de seus resultados no processo avaliativo.
Há uma falta de clareza em relação ao uso do pronome “seus”, já que os comentários feitos por Pedro podem estar se referindo aos resultados de Beatriz, aos resultados dele, ou até mesmo ao resultado de ambos.
Melhor seria dizer:
Assim que se encontrou com Beatriz, Pedro fez comentários acerca dos resultados dela no processo avaliativo.
Evitar orações intercaladas
Ainda em nome da clareza, devemos evitar a construção de orações intercaladas desnecessárias, porque alongam a frase e separam palavras que se complementam, dificultando o entendimento do texto.
As intercalações aceitáveis são sempre curtas com função de interação social com o leitor ou esclarecimentos, como nestes exemplos:
Podemos notar, pelos exemplos citados, que as orações intercaladas têm uma análise totalmente à parte, porque não mantêm nenhuma relação sintática no período.
Atenção!
Preferir frases longas não é “inadequado”. O problema é que as frases longas dificultam a compreensão imediata, são mais difíceis de ser pontuadas (principalmente quanto ao uso da vírgula) e exigem um cuidado maior com a concordância.
A frase construída em ordem direta (sujeito + verbo + complementos) facilita a compreensão do leitor.
Construir uma frase invertendo a posição natural dos termos não é “inadequação”, mas certamente dificultará a leitura. Logo, se o nosso objetivo principal é a clareza dafrase, devemos optar pelo uso de frases curtas, em ordem direta.
Precisão e adequação vocabular
Muitas palavras podem assumir significados diferentes, segundo o contexto em que estão inseridas.
Como dizia Carlos Drummond de Andrade em Procura da poesia: “cada uma (a palavra) tem mil faces sob a face neutra”.
Isso quer dizer que, por meio do contexto, podemos atribuir significados diferentes a uma mesma palavra.
Agostinho Dias Carneiro (2001, p. 66) descreve seis critérios de adequação vocabular, listados a seguir:
ADEQUAÇÃO AO REFERENTE
Esse critério baseia-se na utilização de vocábulos gerais em frente a vocábulos específicos.
O exemplo que o autor dá é a palavra “ver”, que tem emprego mais amplo que observar, contemplar, distinguir, espiar, fitar.
Ao se dizer, por exemplo, “Paulo estava muito triste com a separação, por isso, foi à praia, sentou-se na areia e viu o sol.”, certamente causaremos estranhamento no interlocutor.
Mas se dissermos “Pedro estava muito triste com a separação, por isso foi à praia, sentou-se na areia e contemplou o sol.”, não haverá nenhum problema na comunicação, pois houve adequação quanto ao uso do vocábulo.
ADEQUAÇÃO AO PONTO DE VISTA
Nesse elemento serão levados em consideração os vocábulos positivos, neutros e negativos.
Em “Você me deu um café gelado.”, a palavra “gelado” assume valor negativo.
Assume valor positivo, entretanto, em “Depois do trabalho vamos tomar uma cerveja gelada?”
ADEQUAÇÃO AOS INTERLOCUTORES
Há, nesse critério, quatro tipos de seleção vocabular:
- Quanto à atividade profissional, com o uso dos jargões;
- Quanto à imagem social de um dos interlocutores, ou seja, um chefe de Estado se expressa da forma que se espera de alguém que ocupa tal cargo;
- Quanto à idade, com o uso de vocábulos modernos (luminária) ou antigos (abajur);
- Quanto à origem dos interlocutores, com emprego do vocábulo regional (piá ― criança).
ADEQUAÇÃO À SITUAÇÃO DE COMUNICAÇÃO
Refere-se, esse critério, ao uso de vocábulos formais ou informais e ainda aos estrangeirismos.
Lembrando que palavras estrangeiras devem ser grafadas entre aspas nas redações e só devem ser usadas quando necessárias, ou melhor, quando forem importantes para o entendimento. Em uma situação de estilo ou quando não houver palavra equivalente na Língua Portuguesa.
ADEQUAÇÃO AO CÓDIGO
É relevante, para esse critério, a correção não só ortográfica, mas também semântica, respeitando os significados dicionarizados.
Em busca de maior precisão e adequação vocabular, devemos usar as palavras no seu sentido literal, respeitando as acepções registradas em nossos dicionários, evitando-se palavras em sentido figurado.
Sobre o uso de estrangeirismos, gírias e termos técnicos, destacamos que o ponto de partida para uma comunicação efetiva é a clareza. Portanto, se precisarmos de uma palavra que não seja de conhecimento da maioria, podemos até usá-la, mas não deixaremos de explicá-la, pondo sempre a clareza acima de tudo.
ADEQUAÇÃO AO CONTEXTO
As situações textuais revelam-se nas relações desenvolvidas entre as palavras do texto.
Por exemplo:
- Se há relação de causa e consequência – tropeçar/cair;
- Se há relação de finalidade – livro/estudar;
- Se há relação de parte e todo – rei/xadrez;
- Se há relação de sinonímia – aroma/perfume;
- Se há relação de antonímia – entrar/sair;
- Se há relação de unidade e coletivo – livro/biblioteca;
- Se há relação de objeto e ação – cadeira/sentar;
- Se há relação simbólica – pomba/paz.
O uso do vocábulo fora de um desses critérios e, até em critério inadequado à situação, será inadequado.
Na redação formal, as palavras têm, geralmente, conotações próprias.
A substituição de uma palavra por outra, aleatoriamente, pode comprometer o entendimento da mensagem. Devemos evitar, nesse tipo de redação, palavras e expressões vagas.
O problema surge quando, no momento da redação, temos a ideia, mas não a palavra exata para a sua expressão.
Atenção!
Toda ideia exige palavra própria. Portanto, na série de sinônimos e parônimos, por exemplo, podemos escolher a palavra ou grupo de palavras que melhor se ajuste àquilo que desejamos e precisamos exprimir.
Concisão (objetividade)
Ser conciso é dizer o necessário com o mínimo de palavras de forma objetiva e direta.
Concisão é, pois, antônimo de prolixidade (escrever o desnecessário).
Em nome da concisão, devemos evitar:
A repetição de palavras;
As redundâncias;
O desnecessário.
Trata-se exclusivamente de cortar palavras inúteis, redundâncias, passagens que nada acrescentem ao que já foi dito.
VOCÊ SABIA?
Percebemos certa hierarquia de ideias que existe em todo texto de alguma complexidade: ideias fundamentais e ideias secundárias.
As secundárias podem esclarecer o sentido das fundamentais, detalhá-las, exemplificá-las. Porém, existem também ideias secundárias que não acrescentam informação alguma ao texto, nem têm maior relação com as fundamentais, podendo, por isso, ser dispensadas.
Santa Teresa de Ávila (1515-1592) dizia: “Livra-me, Senhor, da tolice de querer contar todos os detalhes; dá-me asas para voar diretamente ao ponto que interessa”.
Desse modo, a concisão consiste em apresentar um texto que consiga transmitir um máximo de informações com um mínimo de palavras.
Ser conciso, no entanto, não significa que se vá eliminar passagens substanciais do texto, no intuito de reduzi-lo em tamanho, mas trata-se, exclusivamente, de evitarmos os circunlóquios ou perífrases, as palavras inúteis, redundâncias ou pleonasmos, passagens que nada acrescentam ao que já foi dito.
Conciso é o texto que consegue transmitir um máximo de informações com um mínimo de palavras.
Atenção!
Para que redijamos com essa qualidade, é fundamental que se tenha, além de conhecimento do assunto sobre o qual se escreve, o necessário tempo para revisar o texto depois de pronto. É nessa releitura que, muitas vezes, se percebem eventuais redundâncias ou repetições desnecessárias de ideias.
Acrescentamos, ainda, que devemos priorizar sempre as palavras com o menor número possível de sílabas em busca de um texto mais enxuto, conciso.
O estilo deve ser o mais objetivo possível (impessoal), evitando-se o subjetivismo (marcas pessoais) e tudo o que possa dificultar a progressão do pensamento.
Vamos analisar, agora, os três exemplos abaixo, reescrevendo-os de forma concisa e clara, selecionando apenas as informações essenciais.
Exemplo 1
É uma triste realidade — tradicional e costumeira ― que a diversão popular (e ela abrange várias modalidades circunscritas a épocas ou regiões diversas) geralmente é oferecida ao povo (podemos remontar à Roma Antiga), visando não ao objetivo precípuo da diversão — dar lazer a quem dele necessite —, mas sim visando a uma alienação dos seres pensantes em relação à situação política vigente, a fim de que eles não pensem na fome, na miséria e na injustiça, suas companheiras de infortúnio e dor.
Percebemos que o texto acima é prolixo, trazendo muitas informações desnecessárias, dificultando o entendimento textual. A prolixidade é uma característica muito negativa no texto escrito, deve, pois, ser evitada.
Melhor dizermos:
A diversão oferecida ao povo visa, em geral, à alienação política.
Exemplo 2
Os empregados pediram ao diretor que não ajudasse os empregados; mas o diretor não permitiu que os empregados elaborassem os projetos sozinhos.
Melhor dizermos:
Os empregados pediram ao diretor que não os ajudasse; mas ele não lhes permitiu que elaborassem os projetos sozinhos.
Exemplo 3
No caso de um grande número não ter a capacidade de chegar a uma decisão, é preferível que, em data posterior, um pequeno número leve a efeito a tentativa de resolução do problema.
Melhor dizermos:
Se muitos não decidirem, é preferível que, em data posterior (após, depois), poucos tentem resolver o problema.
Em síntese, afirmamos que o texto conciso é aquele que transmite o máximo de informações com o mínimo de palavras.
O esforço de concisão atende ao princípio da economia linguística,ou seja, ausência de palavras supérfluas, redundâncias, passagens que nada acrescentam ao que já foi dito.
Enfim, aqui fica uma sábia lição do jesuíta espanhol Baltasar Gracián y Morales, da obra A arte da prudência, escrita em 1647:
Correção gramatical
É fundamental escrever em linguagem correta, que observe as regras gramaticais básicas. Caso contrário, o leitor, se tiver razoável conhecimento do idioma, logo perceberá a insegurança do produtor do texto e não confiará no texto que está lendo.
Se o leitor não confia em quem escreve, fica incompleta a comunicação emissor-receptor e ambos perdem tempo.
Fonte: fatmawati achmad zaenuri / Shutterstock
Sendo assim, escrever com correção gramatical é ter domínio das normas gramaticais, a saber:
Concordância nominal e verbal;
Regência nominal e verbal;
Crase;
Pontuação;
Flexão de nomes e verbos;
Posicionamento de pronomes átonos;
Ortografia das palavras;
Uso de letras maiúsculas e minúsculas;
Acentuação gráfica.
Analise a sentença:
“Não sai de casa por estar chovendo e porque era ponto facultativo.”
Poderia ser adotada a forma:
Não saí de casa não só porque estava chovendo, mas também porque era ponto facultativo; ou
Não saí de casa por estar chovendo e também por ser ponto facultativo.
Emprego exaustivo do conectivo “que”
É indispensável que se conheça o critério que se adotou para que sejam corrigidas as provas que se realizaram ontem, a fim de que se tomem providências que forem julgadas necessárias.
Melhor dizermos:
É indispensável conhecer o critério adotado para a correção das provas realizadas ontem, a fim de se tomarem as providências (julgadas) necessárias.

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