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Princípios fundantes do Código Civil (Miguel Reale) *Socialidade: o interesse social é maior que o interesse individual, mas não despersonaliza uma pessoa em favor de outra. Utiliza o individualismo democrático, não o liberal libertário (egoísta). *Eticidade: exige um comportamento probo, leal, ver no outro eu mesmo, “o outro sou eu”. *Operabilidade: a lei tem que ser operativa, clara, valer no caso concreto. Direito das Obrigações É o ramo do direito que conjuga normas que disciplinam as relações jurídicas patrimoniais, tendo por objeto uma prestação de um sujeito para outro. Obrigação É a relação jurídica de caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor, tendo por objeto uma prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, devida pelo devedor em proveito do credor, garantindo-lhe o adimplemento por meio de seu patrimônio. Elementos da estrutura da obrigação *Subjetivo/pessoal: devedor e credor *Objetivo/material: prestação -> objeto imediato: conduta – objeto mediato: o bem da vida *Espiritual/vínculo jurídico: débito, debitum, shuld = momento originário responsabilidade, obligatio, haftung = momento secundário Princípios do Direito das Obrigações *Princípio do exato adimplemento: a prestação deve ser cumprida no tempo, lugar e forma contratados. É um processo que colima um fim, que é o centro da obrigação (adimplemento). *Princípio da autonomia privada: as partes podem criar regras próprias dentro da obrigação que celebram por meio das cláusulas contratuais, desde que acordadas com o ordenamento jurídico. *Princípio da função social: o contrato não deve contrariar o interesse público; destinação que se dá à coisa em favor da sociedade. *Princípio da boa-fé objetiva: ética, conduta conforme o caso concreto. - Fase pré-contratual: tratativas iniciais, deve haver informação e aconselhamento. - Fase da conclusão do contrato: dever de negociar, devido às tratativas iniciais, pois não se pode frustrar a legítima expectativa criada. - Fase da execução do contrato: cooperação entre as partes (baseada no princ da solidariedade). - Fase pós-contratual: extingue-se a obrigação, mas permanece um dever acessório. *Princípio da responsabilidade patrimonial: “lex poetelia papira” = garante ao credor o patrimônio do devedor. Figuras que atentam contra a boa-fé objetiva *“Venire contra factum proprium” = vir contra a própria conduta: não se pode contrariar a própria conduta, sob pena de surpreender a outra parte; não se pode frustrar a justa expectativa. *“Tu quoque” = até tu: valer-se da própria torpeza; quem descumpre a lei em momento anterior não pode utilizá-la em seu favor em momento posterior. *“Aemulatio”: conduta dirigida dolosamente a produzir dano a outrem. CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES 1 – Quanto ao vínculo jurídico *Civil ou perfeita (exigível): conjuga todos os elementos da relação jurídica obrigacional (objetivo, subjetivo e vínculo jurídico em seus dois momentos). *Natural ou imperfeita (inexigível): possui os elementos objetivo e subjetivo, mas apenas o 1º momento do vínculo jurídico, não tendo, assim, ação correspondente junto ao Judiciário. Se o devedor pagou, o credor tem o direito de retenção, ou seja, o devedor não pode pedir a repetição do indébito. *Moral: não tem nenhum elemento da relação obrigacional, é um ato de mera liberalidade, solidário. Surte um único efeito jurídico, que é o direito de retenção. 2- Quanto ao objeto *Dar: implica na tradição de uma coisa móvel ou imóvel do devedor em favor do credor. - Coisa certa: o devedor faz a tradição ao credor de uma coisa individualizada, determinada pelo gênero, qualidade e quantidade. - Restituir: é própria de todo contrato animado por uma obrigação em que o dono transfere-lhe apenas a posse ou detenção. A propriedade não é transferida. Pelo decurso do prazo, aquele que tem a posse ou detenção da coisa tem que restituí-la. - Coisa incerta: é individualizada pelo gênero e pela quantidade. A coisa não é indeterminada, mas determinável, pois se convola em determinada no momento da entrega. - Pecuniária: o objeto da prestação é representado em dinheiro. É a tutela genérica das perdas e danos. Atende ao princípio do nominalismo = a dívida deve ser paga em dinheiro, no dia do vencimento, conforme o valor nominal contratado. *Fazer: conduta comissiva em que o devedor presta um serviço ou ato em benefício do credor. - Fungível: o serviço pode ser prestado pelo contratado ou por qualquer terceiro em seu nome e às suas custas. Objeto imediato: pintor pintando. Objeto mediato: a parede pintada. - Infungível: a pessoa do devedor é determinante na obrigação. Objeto imediato: médico fazendo a cirurgia. Objeto mediato: a saúde recomposta. Obrigações de fazer não referentes a serviços, mas a simples atos úteis ao credor: assinatura de um aval, fiança, procuração, escritura pública, etc. *Não fazer: exige do devedor uma conduta omissiva, que pode ser uma abstenção ou uma tolerância. O “animus solvendi” do devedor não é (ou é pouco) aparente. 3 – Quanto à liquidez *Líquida (coisa certa): certa quanto à existência, determinada quanto ao objeto, exigível no plano jurídico. *Ilíquida (coisa incerta): certa quanto à existência, indeterminada quanto ao objeto (mas determinável), inexigível no plano jurídico (só se torna exigível quando liquidada). É uma obrigação transitória, pois convola-se em líquida antes do pagamento. - Liquidação convencional: quando contratada pelas partes. - Liquidação legal: a lei determina. - Liquidação judicial: cálculo (apresentação de uma planilha), artigos (casos em que, para apurar o valor da coisa, precisa-se de novas provas) e arbitramento (quando se nomeia um perito). 4- Quanto à presença de elementos obrigacionais *Simples: singularidade de objetos: 1 credor, 1 devedor, 1 prestação. *Compostas: pela multiplicidade de objetos – cumulativas/conjuntivas e alternativas/disjuntivas pela multiplicidade de sujeitos – solidárias (ativa, passiva e mista) 4.1- Das obrigações compostas objetivas: 2 ou mais prestações - Cumulativa ou conjuntiva: o devedor deve cumprir todas as prestações previstas, sob pena de inadimplemento total ou parcial. A inexecução de somente 1 das prestações já caracteriza o descumprimento obrigacional. Utiliza-se a expressão “e”, conjunção aditiva=cumulativa. - Alternativa ou disjuntiva: o devedor se alforria cumprindo apenas uma das prestações. Essa classificação é da doutrina do Tartuce. O Bianco trocou a “cumulativa” por “facultativa”, que é a faculdade de substituição do objeto da prestação. 4.2- Das obrigações compostas subjetivas: 2 ou mais credores e/ou devedores - Solidária ativa: qualquer um dos credores pode exigir do devedor o cumprimento da obrigação por inteiro, como se fosse um só credor. O devedor pode pagar a qualquer um dos credores que a obrigação se extingue, porque o receptor deverá repassar a quota parte dos demais. - Solidária passiva: o credor tem o direito de exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum. Se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto do valor devido. Se tiver sido total, o devedor que pagou tem direito à ação de regresso. - Solidariedade mista: multiplicidade de credores e devedores no mesmo contrato. Quando se fala em multiplicidade de sujeitos, há que se falar na divisibilidade da prestação. - Divisível: objeto mediato da prestação admite fracionamento. - Indivisível: objeto mediato da prestação não admite fracionamento. 5- Quanto aos elementos acidentais *Pura ou simples: não está sujeita a condição, termo ou encargo. *Condicional: contém cláusula que subordina o seu efeito a um evento futuro e incerto (condição). A condição deve ser lícita, ter utilidade e ser possível material e juridicamente. Utilizam-se as expressões “se” (condição suspensiva – se ela não for implementada, o negócio jurídico deexonera) e “enquanto” (condição resolutiva – o negócio jurídico já gera direitos). - Puramente potestativa: não conjuga a licitude. - Simplesmente potestativa: refere-se a uma condição lícita, atrelada a 1 circunstância do fato. - Promíscua: nasce simplesmente potestativa, mas sua implementação se torna impossível. - Mista: não depende apenas das partes contratantes. *Modal/encargo: é onerada por um encargo, um ônus à pessoa contemplada pela relação jurídica. É identificada pela expressão “para que”. *A termo: contém uma cláusula que subordina seu efeito a um evento futuro e certo (termo). É identificada pela expressão “quando”. 6- Quanto ao conteúdo *Meio: o resultado colimado nem sempre depende APENAS da vontade do devedor, mas ele deve se portar com o “onus pater família”, ou seja, de maneira leal e honesta. Na obrigação de meio, o devedor se porta da maneira mais hábil e apta para com o resultado pretendido pelo credor, mas não garante seu pleno alcance. Ex: cirurgia plástica reparadora. *Resultado: aqui, igualmente na obrigação de meio, o devedor deve exercer seu trabalho da melhor maneira possível. No entanto, aqui o resultado pretendido pelo credor é obrigação de ser alcançado. Deriva do próprio contrato ou da lei. Ex: cirurgia plástica embelezadora. *Garantia - Fidejussória/pessoal: confia na pessoa do fiador/avalista que tenha patrimônio que garante o recebimento do credor. Não tem débito, mas tem responsabilidade. - Real: hipoteca (imóvel)/penhor (móvel); entrega do bem para que o credor usufrua, pagando assim o débito 7- Quanto ao tempo do adimplemento *Momentânea/instantânea: a conclusão e a extinção acontecem no mesmo ato, são próximas, sem que entre estas duas fases exista um prazo. Ex: compra e venda a vista. *Continuada/periódica/de trato sucessivo: compra de um carro em 40 prestações; entre a conclusão e a extinção existe um prazo, um arco de tempo. Cabe a obrigação acessória de garantia. *Diferida: o pagamento é feito de uma só vez, mas no futuro. Cabe a obrigação acessória de garantia. 8- Consideradas em si mesmas ou reciprocamente consideradas *Principal: independente, autônoma, dotada de existência própria. *Acessória: depende da principal. Ex: compra e venda de um celular com garantia de 1 ano. Principal: compra e venda – Acessória: garantia.
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