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Prof. Marco Barros UNIDADE II Rousseau e o Contrato Social Programa de Aula Contrato Social • Visão Geral • Livro I do Contrato Social Conceitos Centrais • Pacto Social • Vontade Geral • Lei • Estado e Governo • A morte e manutenção do corpo político Repercussões do Contrato Social • Crítica de Gerard Lebrun • Obra de Luiz Roberto Salinas Fortes • A questão histórica • Modernidade Visão Geral Conclusão do Segundo Discurso: como assegurar a liberdade do homem civil? Impossibilidade de retorno ao estado de natureza. Ação política e via um contrato social entre os homens Contrato Social. Texto organizado em quatro partes (“livros”), editado em 1762. Obra inacabada, deveria ser incluída em tratado sobre política. Na época o livro foi proibido na França! Contrato Social Visão Geral “Quero indagar se pode existir, na ordem civil, alguma regra de administração legítima e segura, considerando os homens tais como são e as leis tais como podem ser. Procurarei sempre, nesta investigação, aliar o que o direito permite ao que o interesse prescreve, a fim de que a justiça e a utilidade não se encontrem divididas” (Rousseau, Contrato Social). Trata-se de uma ordem civil idealizada? Não, trata-se de uma ordem viável e que justificou uma série de revoluções em defesa da soberania popular! Importância da educação civil! Contrato Social Principal Livro do Contrato Social, apresenta os conceitos base da sociedade civil. Organizado em nove capítulos. “O homem nasceu livre e por toda parte ele está agrilhoado” (Rousseau, Contrato Social) Livro I Fonte: Eugène Delacroix, La Liberté guidant le peuple. 1830. Museu Louvre, Paris. Por qual motivo Rousseau é um contratualista? “A ordem social é um direito sagrado, que serve de base para todos os demais. Tal direito, entretanto, não advém da natureza; funda-se, pois, em convenções. Trata-se de saber quais são essas convenções” (Rousseau, Contrato Social). Livro I Fonte: Eugène Delacroix, La Liberté guidant le peuple. 1830. Museu Louvre, Paris. Convenções Sociais pressupõe um acordo de vontades (direito) Livro I Família Estado Sociedade Civil Família Estado Pai Chefe Filho Povo Amor do pai pelos filhos Prazer de comandar O contrato não se constitui como um direito do mais forte! É um ato de vontade! “(...) a força não faz o direito, e que só se é obrigado a obedecer aos poderes legítimos” (Rousseau, Contrato Social) Livro I Força Direito Ato de necessidade Ato de vontade Obediência Dever Convenções sociais Há duas etapas na construção do Estado: primeiro os indivíduos se associam em uma sociedade, para só depois a sociedade se constituir em um Estado. Livro I Primeira Convenção (Povo) Contrato Social (Estado) Sociedade Civil (Povo se submete a um governo) Sobre o conceito de legitimidade em relação ao Estado é correto afirmar: a) É o que impede a permanência de um grupo político específico na estrutura de poder do Estado por um longo período, mesmo que se trate de regimes autoritários e totalitários. b) Trata-se da possibilidade da sociedade civil rejeitar a dominação estatal toda vez que os preceitos constitucionais são desobedecidos. c) Refere-se ao elemento desestabilizador do poder estatal que emerge a cada crise econômica e afeta todo o sistema político vigente. d) É a crença segundo a qual a única fonte de poder do Estado encontra-se no uso legal e unilateral da força. e) Consiste em um certo grau de consenso político que assegure a obediência de parte significativa da população ao poder legalmente constituído, sem o uso necessário da força, exceto em ocasiões eventuais. Interatividade Pacto Social (Capítulo VI do Livro I) “Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja com toda a força comum a pessoa e os bens de cada associado, e pela qual cada um, unindo-se a todos, só obedeça, contudo, a si mesmo e permaneça tão livre quanto antes” (Rousseau, Contrato Social). Equilibrar a liberdade e a igualdade Paradoxo. Conceitos centrais Pacto Social (Capítulo VI do Livro I) Dado que todos alienam todos os seus direitos, não sobra um que tenha mais direito que os demais (todos são iguais). Assim, não há o que reclamar (todos são livres). Contrato é justo para todos (igualdade e liberdade são equivalentes via contrato). “cada um de nós põe em comum sua pessoa e todo o seu poder sob a suprema direção da vontade geral; e recebemos, coletivamente, cada membro como parte indivisível do todo” (Rousseau, Contrato Social). Conceitos centrais Pacto Social (Capítulo VI do Livro I) Atenção! O contrato é estipulado em favor da vontade geral. Vontade geral não é a vontade da maioria, mas o denominador comum de todos os contratantes. Rousseau se diferencia frontalmente de Hobbes nesse ponto! Vontade geral é a base da soberania do Estado (soberania popular). Conceitos centrais Vontade Geral (Capítulo VI do Livro I) EX.: Art. 1º, Parágrafo único, CF/88: Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Rousseau justificará o movimento do constitucionalismo império da lei (rule of law). Conceitos centrais Fonte: https://ufmg.br/comunicacao /noticias/constituicao- brasileira-completa-30-anos Vontade Geral (Capítulo VI do Livro I) Povo controla e limita a atuação da autoridade. Autoridade passa a ser compreendida como um meio de realização do interesse público. Interesse da autoridade deve sempre coincidir com a vontade geral. Conceitos centrais Vontade Geral (Capítulo VI do Livro I) Características da vontade geral: É suprema, pois é uma regra que deve prevalecer em quaisquer circunstâncias. É una e indivisível, não delegável (função não se confunde com poder); É irrevogável e perpétua historicamente, já que vigora em um certo território e em uma determinada população sobre as demais ordens sociais ao longo do tempo. Conceitos centrais Comparação entre Estado de Natureza e Estado Civil Natureza Artifício Apetite Moral Necessidade/ Liberdade natural Igualdade/ Liberdade civil Vontade particular/ Indivíduo Vontade geral/ Soberano Força Direito Posse Propriedade Estado de Natureza Estado Civil Rousseau define o contrato social como: a) O pacto corresponde às vontades individuais do corpo coletivo, sem obedecer a nenhuma lei. b) O contrato corresponde ao modo de associação, onde, com base na união, todos obedecem a todos. c) Uma livre associação do gênero humano, que decide compor uma determinada forma de sociedade política, com base na vontade geral, com vistas ao pacto social. d) A expressão da permanência da desigualdade formal e da injustiça entre os homens, resolvidas sem que haja necessidade da alienação de cada componente do pacto social. e) Mera soma das vontades individuais. Interatividade Lei (Capítulo VI do Livro II) Para que o corpo social permaneça vivo é necessário que tenha uma legislação. “Pelo pacto social demos existência e vida ao corpo político. Trata-se agora de dar-lhe o movimento e a vontade pela legislação” (Rousseau, Contrato Social). Atenção! Lei é a expressão da vontade geral, enquanto norma jurídica e ordenamento jurídico. Conceitos centrais Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image- vector/scales-justice-sign-icon-court-law- 243981613?src=Ah6P6CeJkM01D_92nJBbVQ-1-15 Lei (Capítulo VI do Livro II) Conceito de império da lei (ou estado de direito), que assegura queninguém esteja acima da lei. Tal desdobramento é observável por meio do princípio da legalidade, que se opõe a toda e qualquer forma de abuso de poder. “o povo, por si, quer sempre o bem, mas nem sempre o reconhece por si só. A vontade geral é sempre reta, mas o julgamento que a guia nem sempre é esclarecido” (Rousseau, Contrato Social) LEGISLADOR Conceitos centrais Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image- vector/scales-justice-sign-icon-court-law- 243981613?src=Ah6P6CeJkM01D_92nJBbVQ-1-15 Rousseau admite a tese que, para se criar uma boa lei, é necessária uma inteligência superior. Rousseau adota o princípio da separação dos poderes, ainda que atribua um papel especial para o legislador! Atenção! Montesquieu já distinguiu a separação de três poderes (Legislativo, Executivo e o Judiciário). Cada um desses poderes corresponde a determinadas funções. A garantia da estabilidade do pacto reside justamente no equilíbrio e na execução dessa funções. Atenção! A separação não é rígida em nome da fiscalização da implementação de um sistema compensatório, excepcionalmente cada poder pode exercer função atípica. Conceitos centrais Conceitos centrais ÓRGÃO FUNÇÃO TÍPICA FUNÇÃO ATÍPICA Legislativo Legislar. Fiscalização contábil, financeira, orçamentária e patrimonial do Executivo. Natureza Executiva: ao dispor sua organização, provendo cargos, concedendo férias, licenças a servidores etc. Natureza jurisdicional: o Senado julga o Presidente da República nos crimes de responsabilidade (exemplo: art. 52, I, CF). Executivo Prática de atos de chefia de Estado, chefia de governo e atos de administração. Natureza legislativa: o Presidente da República adota medida provisória (exemplo: art. 62, CF). Natureza jurisdicional: o Executivo julga, apreciando defesas e recursos administrativos. Judiciário Julgar (função jurisdicional), dizendo o direito no caso concreto, quando da aplicação da lei. Natureza legislativa: regimento interno de seus tribunais (exemplo: art. 96, I, “a”). Natureza executiva: administra, ao conceder férias aos magistrados e serventuários (exemplo: art. 96, I, “f”). Estado e Governo Para Rousseau, Estado (soberania popular) não se confunde com o governo! O governo é fixado por lei posterior ao contrato e que cumpre uma anterior lei que fixa suas competências! “De mais a mais, é evidente que o contrato do povo com determinadas pessoas seria um ato particular. Donde se conclui que esse contrato não poderia constituir nem uma lei nem um ato de soberania e que, por conseguinte, seria ilegítimo” (Rousseau, Contrato Social). Conceitos centrais A morte e manutenção do corpo político Para Rousseau do mesmo modo que o corpo humano está fadado a degenerar, o corpo político também acaba necessariamente morrendo. “O princípio da vida política repousa na autoridade soberana. O poder legislativo é o coração do Estado; o poder executivo, o cérebro, que dá movimento a todas as partes. O cérebro pode paralisar-se e o indivíduo continuar a viver. Um indivíduo torna-se imbecil e vive, mas, tão logo o coração deixa de funcionar, o animal morre” (Rousseau, Contrato Social). Conceitos centrais Para evitar a morte precoce e manter o poder soberano, Rousseau defende o modelo de representação direta do poder por meio do sufrágio e da realização de assembleias. “A soberania não pode ser representada pela mesma razão que não pode ser alienada; consiste essencialmente na vontade geral, e a vontade não se representa: ou é a mesma, ou é outra – não existe meio-termo. Os deputados do povo não são, pois, nem podem ser ou seus representantes; são simples comissário, e nada podem concluir definitivamente” (Rousseau, Contrato Social) Conceitos centrais O problema da representação e o jogo das vontades! Como preservar a vontade geral quando existem intermediários que controlam sua manifestação? Riscos da intermediação em transformar a vontade geral em vontade particular! Conceitos centrais Fonte: https://mdelsewhere.com/category/financas/ Fonte: https://www.shu tterstock.com/i mage- vector/line-art- illustration- crowd-protest- blank- 608218046 Surgida originalmente nas cidades da Grécia antiga, a ideia de cidadania ganhou força no século XVIII, como resultado das revoluções liberais que puseram abaixo o mundo do Antigo Regime. É correto afirmar que nas sociedades modernas: a) A cidadania prevê o direito de os cidadãos participarem diretamente das decisões de Estado. b) Os cidadãos são, classicamente, as pessoas que vivem dentro da mesma comunidade nacional. c) A igualdade de status político e civil, estabelecida via cidadania, sobrepujou as desigualdades materiais de classe social. d) A condição de cidadão confere aos indivíduos direitos (civis, políticos e sociais) e não deveres. e) Os direitos culturais figuram entre os direitos de cidadania observados pelo filósofo Rousseau. Interatividade A crítica de Gerard Lebrun Texto: Contrato social ou negócio de otário? Subjacente aos interesses envolvidos no contrato, o homem é ainda um ser egoísta? O contrato social só existe por razões individualistas? No contrato social o indivíduo é parcialmente o soberano, mas integralmente súdito! Repercussões do Contrato Social A crítica de Gerard Lebrun Para Lebrun prevalece uma alienação da liberdade em benefício de um soberano, que está acima de qualquer um e ao mesmo tempo livre de todos. Solução? Rousseau defende uma visão de um sujeito comprometido eticamente com a cidade a ponto de coincidir as vontades individuais com a vontade geral, derivado de uma rígida e espartana educação cívica. Repercussões do Contrato Social A obra de Luiz Roberto Salinas Fortes Importante filósofo e estudioso brasileiro sobre a obra de Rousseau. Discutiu as contradições que permeiam a obra de Rousseau. Repercussões do Contrato Social SER PARECER AGIR FALAR NATUREZA ARTIFÍCIO POLÍTICA TEATRO A questão da história Qual é o papel da história em Rousseau? Existe uma superação dos problemas descritos após a implementação da propriedade privada via formulação do pacto? História não é sinônimo de progresso! Papel formador da história caráter pedagógico dos “grandes feitos” da Antiguidade. Repercussões do Contrato Social A questão da história Crítica da história moderna, pois ela uniformizou a narrativa ao desconsiderar a diferenciação entre ações humanas. Início da desigualdade entre os homens marcou também o começo da indiferenciação entre eles! Aproximação conduzida por Rousseau entre a moralidade e os princípios políticos a solução dos problemas deve ocorrer via ação política! Repercussões do Contrato Social Modernidade “O pensamento das Luzes não era revolucionário de modo algum; o pensamento de Rousseau de certa maneira, já o era. De um lado, uma filosofia cega, por princípio, ao sentido e à possibilidade de uma revolução; de outro, uma filosofia que – desde que levada às últimas consequências, para além das escolhidas e do estilo do autor – antecipa, ao mesmo tempo, a Revolução Francesa e um outro pensamento político, que só emergiria dos escombros da Idade Clássica ou do Antigo Regime” (PRADO JR., 2008). Repercussões do Contrato Social Modernidade Inegável reconhecer o impacto de Rousseau na Revolução Francesa e, inclusive, como um pensador que consagra a modernidade. Na modernidade observa-se que há uma aposta na racionalização da sociedade e dos cidadãos via educação. Rousseau antecipa os fundamentos da vida moderna, em especial na conduçãoda vida política! Repercussões do Contrato Social Síntese da obra de Rousseau Estado de Natureza Homens em um estado de natureza são livres e iguais. Em um estado de natureza, os homens são "bons selvagens". É a civilização quem o corrompe e provoca desigualdade. Propósito do acordo Restaurar a liberdade civil e estabelecer a igualdade. Representação Representação não é suficiente. Os cidadãos não podem delegar os seus deveres cívicos. Eles devem estar ativamente envolvidos. Rousseau é favorável a uma democracia direta. É uma alienação parcial. Liberdade Liberdade natural não existe, é necessário um pacto para reconstituir a liberdade civil (“retorno” ao estado de natureza). Propriedade Privada A propriedade privada é o fundamento da desigualdade entre os homens. Elemento-chave Igualdade. Comparação entre os contratualistas Estado absolutista - Hobbes Estado liberal - Locke Estado social - Rousseau Considerando as distinções teóricas entre Locke e Rousseau, assinale a alternativa correta: a) Tanto para Locke quanto para Rousseau, o estado de natureza não é necessariamente bom ou ruim. b) Locke defende um pacto social para restaurar a liberdade civil e estabelecer a igualdade, enquanto para Rousseau o pacto é uma soma das vontades individuais dos membros. c) As bases lançadas por Locke justificam a conformação de um Estado liberal, preocupado com as proteções dos direitos individuais. Em contrapartida a filosofia rousseauísta, por enfatizar a igualdade e rechaçar a propriedade privada como fundamento da desigualdade entre os homens, serve como fundamento do modelo de Estado social. Interatividade Considerando as distinções teóricas entre Locke e Rousseau, assinale a alternativa correta: d) Ambos sustentam a propriedade privada como um direito natural e inviolável. e) Para Rousseau a propriedade privada é o fundamento da desigualdade entre os homens, ainda que seja possível também atribuir às artes e ciências as causas degenerativas da desigualdade metafísica. Este último em relação ao plano metafísico também foi declarado por Locke. Interatividade ATÉ A PRÓXIMA!
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