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24 Unidade III Di ag ra m aç ão : B ru no - C or re çã o: F er na nd o - pa ra 2 ° Re vi sã o - Re vi so ra : A ng el a - 25 /0 1/ 20 08 C or re çã o: C la ria na - -| |- - Re vi sã o: A na : C or re çã o: L éo 2 1/ 05 /0 9 - Unidade III 5 10 15 20 5 GESTÃO DO TERCEIRO SETOR E SUAS FASES 5.1 Gestão do terceiro setor Segundo o Centro de Referência em Informação Ambiental (CRIA)1, As novas oportunidades exigem clareza gerencial. Responder aos novos desafios exige muito mais do que uma boa contabilidade. Implica definir a sua missão, estabelecendo objetivos e metas claras e mensuráveis, escolher os melhores meios e baixar os custos. O terceiro setor deve promover formas inovadoras de enfrentamento das questões sociais para se qualificar como interlocutor e parceiro do Estado, precisa ter uma gestão sustentável que assegure a sua sobrevivência e o cumprimento de seus objetivos e metas. É necessário, ainda, avaliar o seu desempenho e planejar o futuro. De acordo com Falconer (1999), existem quatro principais necessidades de desenvolvimento de gestão que podem ser generalizados para o setor: • transparência (stakeholder accountability); • sustentabilidade; • qualidade de serviços; • capacidade de articulação. 1 Disponível em: www.cria.org.br/about/CRIA_3oSetor.pdf 25 MARKETING SOCIAL E POLÍTICO Di ag ra m aç ão : B ru no - C or re çã o: F er na nd o - pa ra 2 ° Re vi sã o - Re vi so ra : A ng el a - 25 /0 1/ 20 08 C or re çã o: C la ria na - -| |- - Re vi sã o: A na : C or re çã o: L éo 2 1/ 05 /0 9 - 5.2 Transparência (stakeholder accountability) Refere-se à necessidade de transparência e ao cumprimento da responsabilidade da organização de prestar contas aos diversos públicos cujos interesses são legítimos. Organizações abertas, conhecidas do público, ganham legitimidade social. O “prestar contas” representa uma postura de responsabilidades que se exercita no cotidiano da gestão, frente a públicos internos e externos. A transparência, o “prestar contas”, reintegra a dimensão política à administração.2 Segundo Paulo Silveira3, “O Marketing Social tem como fator diferenciador a adoção de uma estratégia social como elemento aglutinador, elaborado especificamente para atender aos interesses dos envolvidos (empresas e seus stakeholders)”. Freeman (1984) define stakeholders como “(...) qualquer grupo, entidades, instituições ou indivíduo que possa afetar ou ser afetado pela realização dos objetivos de uma empresa”. Os stakeholders podem ser divididos em: • stakeholders econômicos: representados pelos que de alguma forma influenciam a cadeia de valor da organização, como os funcionários, os fornecedores e os clientes. • stakeholders sociais: ao contrário dos stakeholders econômicos, os stakeholders sociais não fazem parte da cadeia de valor das empresas, porém, sua influência é muito grande, podendo até ser responsável indireta de ganhos e perdas organizacionais. As ONGs, os sindicatos, o governo e as diferentes mídias podem ser classificados como stakeholders sociais. 5 10 15 20 25 30 2 Disponível em: www.cria.org.br/about/CRIA_3oSetor.pdf 3 Disponível em: www.mundodomarketing.com.br 26 Unidade III Di ag ra m aç ão : B ru no - C or re çã o: F er na nd o - pa ra 2 ° Re vi sã o - Re vi so ra : A ng el a - 25 /0 1/ 20 08 C or re çã o: C la ria na - -| |- - Re vi sã o: A na : C or re çã o: L éo 2 1/ 05 /0 9 - A tabela a seguir nos apresenta uma relação dos interesses dos stakeholders em suas organizações: Stakeholders econômicos Funcionários Bons salários, melhores benefícios, possibilidade de ascensão. Fornecedores Pagamentos e pedidos regulares. Clientes Bons produtos, preços justos, promoções e garantias. Stakeholders sociais ONGs Apoio institucional e doações. Sindicatos Garantia de cumprimento de acordos e permanência de direitos adquiridos. Governo Mais empregos, pagamento de impostos e tributos e serviços sociais. Observamos que todos têm interesse no comportamento social das organizações, e o marketing social permite que empresa e seus públicos (interno e externo) passem a caminhar em busca de objetivos coincidentes. Para isso, as empresas devem buscar deixar seus stakeholders sempre próximos e informados de suas ações realizadas, bem como de seus objetivos. Savage et al. (1991) aborda quatro tipos de stakeholders e, por consequência, quatro diferentes estratégias para gerenciá-los; a saber: 1. stakeholders de suporte: são representados pelos que estão sempre apoiando as ações das empresas. Como não apresentam nenhum risco à organização, já que nunca se opõem a ela, seu gerenciamento é quase inexistente. assim, a cooperação que os mesmos podem oferecer é sempre esquecida; 2. stakeholders marginais: têm bastante interesse nas questões organizacionais, porém, não cooperam nem se interessam pela maioria das questões. Vale ressaltar que, à medida que algum tipo de perigo se aproxima da organização, o seu comportamento é visivelmente alterado; 5 10 15 20 27 MARKETING SOCIAL E POLÍTICO Di ag ra m aç ão : B ru no - C or re çã o: F er na nd o - pa ra 2 ° Re vi sã o - Re vi so ra : A ng el a - 25 /0 1/ 20 08 C or re çã o: C la ria na - -| |- - Re vi sã o: A na : C or re çã o: L éo 2 1/ 05 /0 9 - 3. stakeholders que não apoiam: são considerados perigosos e preocupam os administradores, pois são sempre contrários às ações da empresa e nunca cooperam com a organização; 4. stakeholders mistos: são perigosos por serem, às vezes, cooperativos e, outras vezes, contrários. 5.3 Sustentabilidade Capacidade de captar recursos financeiros, materiais e humanos, de maneira suficiente e continuada e utilizá-los com competência, de maneira a perpetuar a organização e permitir que ela alcance os seus objetivos. Da mesma forma que os recursos financeiros, os recursos humanos devem ser identificados, formados, estimulados e mantidos com competência. 5.4 Qualidade de serviços Parece evidente que as organizações do terceiro setor devem assumir um papel cada vez mais preponderante na prestação de serviços de caráter público. A substituição da caridade ou da filantropia por serviços prestados a consumidores ou a cidadãos conscientes de seus direitos introduz a exigência do uso eficiente dos recursos e a necessidade de avaliação adequada do que deve ser priorizado em função dos recursos disponíveis, das necessidades do público e das alternativas existentes. Aprimorar a qualidade deve ser um objetivo contínuo das entidades, que não podem se acomodar em uma postura de satisfação de estar fazendo a sua pequena parte, ou de paralisia frente ao sentimento de impotência diante da grandeza dos déficits sociais. 5.5 Capacidade de articulação As organizações do terceiro setor não podem mais atuar de forma isolada se pretendem abordar seriamente os complexos 5 10 15 20 25 28 Unidade III Di ag ra m aç ão : B ru no - C or re çã o: F er na nd o - pa ra 2 ° Re vi sã o - Re vi so ra : A ng el a - 25 /0 1/20 08 C or re çã o: C la ria na - -| |- - Re vi sã o: A na : C or re çã o: L éo 2 1/ 05 /0 9 - problemas sociais para os quais são, geralmente, criadas. A solução dos problemas públicos passa pela articulação cada vez maior de segmentos diversos da sociedade. Vale salientar que iniciativas “virtuais” de articulação e intercâmbio de informações são formadas progressivamente. A capacidade de articulação depende da existência de interesses compartilhados, dos recursos necessários para promovê-la, mas também de uma competência gerencial. Essa inclui técnicas e habilidades interpessoais, que devem ser desenvolvidas nos gestores de organizações do terceiro setor. Via de regra, o terceiro setor é forte no voluntarismo e fraca no aspecto profissional, ou seja, o imenso esforço acumulado pelas boas intenções produz resultados muito aquém do que seria possível. 5.6 O terceiro setor e suas fases O terceiro setor é uma mistura de princípios públicos e privados e, portanto, constitui um outro mecanismo redistribuidor de riqueza. Sebrae/MG O terceiro setor no Brasil passa, a partir dos anos 90, a ganhar bastante força no cenário econômico do país. De um lado, as empresas despertam para a responsabilidade que possuem para com a sociedade na qual e para qual atuam. Por outro lado, aflora um senso de cidadania e responsabilidade na sociedade civil que se transforma em ações de solidariedade e voluntariado. Tal comportamento é cobrado das empresas privadas, uma vez que o setor público não dava conta de suas obrigações, mas, até chegarmos a esse nível, passamos por uma grande evolução. A seguir, dividiremos em fases a serem detalhadas. 5 10 15 20 25 29 MARKETING SOCIAL E POLÍTICO Di ag ra m aç ão : B ru no - C or re çã o: F er na nd o - pa ra 2 ° Re vi sã o - Re vi so ra : A ng el a - 25 /0 1/ 20 08 C or re çã o: C la ria na - -| |- - Re vi sã o: A na : C or re çã o: L éo 2 1/ 05 /0 9 - • A 1ª fase Como já mencionado em módulos anteriores, a maioria dos historiadores concordam que o nascimento do terceiro setor no Brasil se deu com a inauguração da Santa Casa de Misericórdia, primeira instituição filantrópica do país, instalada na antiga capitania de São Vicente, hoje cidade de São Paulo. Essa instituição era administrada pela igreja católica, que recebia as doações oriundas principalmente de Portugal e Espanha. Toda e qualquer doação era fiscalizada pela própria igreja, que também as administrava. A rigor, as doações se limitavam à área da saúde. Vale ressaltar também a contribuição social das ordens religiosas das Carmelitas e dos Padres Beneditinos, principalmente no cuidado a crianças órfãs, idosos e doentes. Nessa época, contribuição social era totalmente confundida com caridade, e as doações eram chamadas de esmolas. • A 2ª fase Compreendida entre a década de 30 até a década de 60, coincide com o momento em que o país entrou na era da industrialização, cujas mudanças foram sentidas em todas as esferas sociais. As principais mudanças ocorreram em relação ao comportamento e ao estilo de vida das classes sociais mais elitizadas, já que, com a chegada dos produtos industrializados, passaram a experimentar o consumismo, tornando, assim, o Estado mais rico, bem como a classe de industriais. O governo do presidente Getúlio Vargas torna o Estado o único detentor do interesse público, quando edita, em 1935, a “Lei Brasileira de Regulamentação das Regras para Declaração de Utilidade Pública Federal”. Esta regulamentava os trabalhos das associações e fundações em exclusivamente sociais e desvinculados de qualquer tipo de interesse político ou econômico. Mas a relação Estado versus assistência 5 10 15 20 25 30 30 Unidade III Di ag ra m aç ão : B ru no - C or re çã o: F er na nd o - pa ra 2 ° Re vi sã o - Re vi so ra : A ng el a - 25 /0 1/ 20 08 C or re çã o: C la ria na - -| |- - Re vi sã o: A na : C or re çã o: L éo 2 1/ 05 /0 9 - social somente foi consolidada em 1938, com a criação de um Conselho Nacional do Serviço Social. Nessa época, cresce a atuação filantrópica da sociedade economicamente mais abastada, representada pelos grandes comerciantes e industriais, que destinavam parte de seus lucros às instituições dirigidas, na maioria das vezes, por suas esposas. • A 3ª fase As décadas de 60 e 70 são marcadas por uma sociedade amedrontada com o cenário político repressor trazido pela ditadura militar. Muitas instituições sociais, principalmente as de trabalhos educacionais, foram fechadas por serem caracterizadas como subversivas. Com medo da repressão, muitas fecharam suas portas, deixando desamparada uma parte representativa da sociedade. Por outro lado, alguns movimentos se aproveitam da sua condição de filantropia para organizar movimentos de luta por direitos, cidadania e liberdade. Nota-se uma luta que mescla a busca por melhores condições de vida com a busca por uma liberdade política. • A 4ª fase A partir dos anos 70, vemos nascer o período que muitos autores chamam de “embrião do terceiro setor”. A sociedade civil, agora fortalecida, une-se para se opor ao autoritarismo do Estado e começa a multiplicar o número de organizações não governamentais. A sociedade queria não somente reaver seus direitos suspensos no período militar, mas também exercer sua cidadania de forma plena, com ações de representações sociais mais abrangentes. • A 5ª fase A partir dos anos 90, os três setores da sociedade, privado, público e terceiro setor, passam a desenvolver um tipo de 5 10 15 20 25 30 31 MARKETING SOCIAL E POLÍTICO Di ag ra m aç ão : B ru no - C or re çã o: F er na nd o - pa ra 2 ° Re vi sã o - Re vi so ra : A ng el a - 25 /0 1/ 20 08 C or re çã o: C la ria na - -| |- - Re vi sã o: A na : C or re çã o: L éo 2 1/ 05 /0 9 - relacionamento mais aproximado e até então inédito. Pela primeira vez, o Estado reconhece as forças econômica e social do terceiro setor. O Estado passa a perceber que o terceiro setor desenvolveu um número significativo e interessante de estratégias diferenciadas para resolver velhos problemas sociais como fome, desemprego e analfabetismo e começa a atuar “copiando” tais estratégias. O setor privado enxerga o terceiro setor, agora, não somente como um canal promissor e merecedor de seus investimentos. As doações deixam de ser esmolas e passam a representar um capital investido, cujo retorno é líquido e certo. Os problemas ambientais passam a configurar um novo meio de atuação social das empresas privadas, que, pressionadas pela sociedade civil, utilizam o terceiro setor para prestar contas da sua atuação à sociedade. É nessa época que indústrias de celulose, implementos agrícolas, indústrias químicas e refinarias fazem questão de explicitar seus balanços, dando destaque ao montante destinado às ações de preservação da natureza, como o replantio de árvores, limpeza de rios e lagoas, criação e preservação de áreas de preservação ambiental, dentre outras. O encontro desses três setores é marcado por expressões hoje bastante conhecidas por nós como responsabilidade social, responsabilidade socioambiental, parceria, ética e cidadania. Com a Lei do Voluntariado, editada em1998 no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, as ações dos trabalhos sociais passam a ser articuladas com os diversos ministérios da República, consolidando, assim, a integração das ações das instituições do terceiro setor com os setores públicos do país. 5 10 15 20 25 30 32 Unidade III Di ag ra m aç ão : B ru no - C or re çã o: F er na nd o - pa ra 2 ° Re vi sã o - Re vi so ra : A ng el a - 25 /0 1/ 20 08 C or re çã o: C la ria na - -| |- - Re vi sã o: A na : C or re çã o: L éo 2 1/ 05 /0 9 - • A 6ª fase O ano de 2001 é decretado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o ano internacional do voluntariado. Esse fato serve como inspiração para muitos movimentos de caráter socialmente responsável, como o desenvolvimento de inúmeros projetos autossustentáveis e não mais as antigas ações geradoras de dependência entre as esferas da sociedade. As instituições passam a gerar seus próprios recursos com a fabricação e/ ou venda de seus próprios produtos, não dependendo mais exclusivamente da boa vontade dos doadores. Passam a oferecer importantes serviços de excelente qualidade à sociedade em troca de apoio às suas causas. Em muitos países, acontecem fóruns sociais para apresentar as ações desenvolvidas para o terceiro setor, bem como para apresentar para a sociedade os animadores números gerados pelo setor. Diversas causas são agora defendidas e sustentadas pelas instituições sociais, como a preservação ambiental, cultura, identidade racial e opção sexual. Seja qual for a causa, o importante é que haja uma ética solidária. 5 10 15 20
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