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Legislação Ambiental W B A 0 15 1_ V 1. 0 2/347 Legislação Ambiental Autor: Rafael Tocantins Maltez Como citar este documento: MALTEZ, Rafael Tocantins. Legislação Ambiental. Valinhos: 2015. Sumário Apresentação da Disciplina 03 Unidade 1: Teoria geral do direito ambiental 06 Assista a suas aulas 35 Unidade 2: A ordem constitucional do meio ambiente 43 Assista a suas aulas 74 Unidade 3: Competências Constitucionais em Matéria Ambiental 82 Assista a suas aulas 105 Unidade 4: Política e Sistema Nacional de Meio Ambiente 115 Assista a suas aulas 157 2/347 3/347 Unidade 5: Poder de Polícia Ambiental 172 Assista a suas aulas 209 Unidade 6: Infrações Administrativas 219 Assista a suas aulas 255 Unidade 7: Zoneamento 267 Assista a suas aulas 296 Unidade 8: Responsabilidades Ambientais 306 Assista a suas aulas 339 Sumário 3/347 4/347 Apresentação da Disciplina Poucas são as disciplinas de um MBA tão relevantes e empolgantes quanto a matéria Ambiental. O termo “ambiente” tem origem latina (ambiens, entis) que significa aquilo que rodeia, que cerca ou envolve, por todos os lados, entorno, espaço. Relaciona-se a tudo aquilo que nos circunda, podendo também significar “meio em que vivemos”. Depreende-se da própria origem do termo a importância da disciplina, pois vivemos no meio ambiente, o qual é pressuposto de tudo: lazer, moradia, trabalho, saúde, segurança, vida etc. A matéria ambiental está na ordem do dia e presente em todas as situações e contexto da existência humana. Podemos constatar que todo dia são veiculadas notícias relacionadas com o meio ambiente, principalmente sobre a crise ambiental (mudanças climáticas, organismos geneticamente modificados, desmatamento, extinção de espécies, crise hídrica, poluição, vazamentos etc.). Portanto, tudo o que você estudará aqui, embora contextualizado para a disciplina de legislação ambiental, poderá ser aplicado nas mais diversas circunstâncias da sua vida. Esta disciplina foi estruturada de forma a atender as necessidades de qualquer profissional, capacitando-o e formando-o para compreensão e entendimento das principais leis ambientais. Sabemos que no atual contexto de grave crise ambiental só vão se sobressair aqueles que tiverem conhecimento e domínio da legislação ambiental e é esta a proposta que esta disciplina traz a vocês. Não importa se você está à frente de uma pequena empresa ou de uma grande organização, o domínio da legislação ambiental sempre será necessário, notadamente 5/347 porque é condicionante de qualquer atividade, obra ou empreendimento que impacte no meio ambiente. Nesta disciplina, você terá acesso aos principais conceitos e aprendizados já desenvolvidos sobre o tema, pelos maiores especialistas da academia, de forma resumida e pronta para ser assimilada por você. Prepare-se para embarcar nesta aventura e desenvolver as competências básicas para se tornar um conhecedor da legislação ambiental. 6/347 Unidade 1 Teoria geral do direito ambiental Objetivos » Conhecer os conceitos fundamentais de Antropocentrismo, de Biocentrismo, de Meio Ambiente, de Direito Ambiental e de Bem Ambiental; » Entender a Classificação do Direito Ambiental; » Compreender os Princípios do Direito Ambiental. Unidade 1 • Teoria geral do direito ambiental7/347 Introdução Para a compreensão adequada da legislação ambiental, antes se faz necessário conhecimento das características do meio ambiente e da Teoria Geral do Direito Ambiental, as quais proporcionarão uma base sólida para o entendimento da legislação ambiental, constitucional e infraconstitucional. Nesse sentido, é importante que você conheça as seguintes características do ambiente: a) Interdependência de todas as formas de vida Todos os seres estão interconectados e são interdependentes, formando a teia da vida. Ao se afetar uma parte, outra parte e o todo são afetados. O que dá suporte à vida é a natureza, a biodiversidade. Todos os seres exercem uma função ecológica. É impossível a separação das cadeias construtivas de todas as estruturas orgânicas e inorgânicas, isto é, o ser humano é capaz de conhecer as estruturas de funcionamento do meio ambiente, mas é incapaz de prever quais poderão ser os efeitos do funcionamento conjunto destas estruturas ou dos efeitos se houver impactos na parte ou no todo. b) Autonomia O meio ambiente subsiste independentemente da presença do ser humano e é regido por Unidade 1 • Teoria geral do direito ambiental8/347 leis próprias. A natureza já existia antes do surgimento do ser humano surgir e muito provavelmente continuará a existir se houver a extinção da humanidade. c) Complexidade Trata-se do funcionamento conjunto de várias estruturas que fixam as relações internas inseparáveis. É representada por meio da diversidade dos ecossistemas que, naturalmente estabelecidos, mantém o equilíbrio ecológico, o qual, por sua vez, propicia a vida em todas as suas formas. O meio ambiente pode ser desestabilizado pela ação humana, seja por poluição ambiental, seja por eliminação ou introdução de espécies animais e vegetais, sendo impossível antecipar as consequências, pois a natureza se comporta de forma não linear e auto-organizável, não se podendo predizer ou controlar de que maneira os processos que iniciamos irão se desenvolver. d) Necessário Sem meio ambiente, não pode subsistir a vida, nem humana, nem não humana. O meio ambiente é indispensável à vida. Unidade 1 • Teoria geral do direito ambiental9/347 1. Antropocentrismo, biocen- trismo, meio ambiente, direito ambiental e bem ambiental. O termo antropocentrismo tem origem no grego anthropos (o homem) e do latim centrum (centro). Segundo esse conceito, o homem está no centro de todas as relações. A preocupação única e exclusiva é com o bem-estar dos seres humanos, podendo ele se apropriar dos recursos ambientais para o seu interesse exclusivo, sem preocupação com os demais seres vivos, que são apenas instrumentos. Assim, a natureza é um bem coletivo essencial que deve ser preservado somente como garantia de sobrevivência e bem-estar do homem. O homem é a referência máxima Para saber mais Teoria de Gaia: é uma visão da Terra apresentada nos anos 1980 que a considera um sistema autorregulador constituído pela totalidade de organismos, rochas de superfície, o oceano e atmosfera, firmemente acoplados como um sistema em evolução. Tal sistema tem um objetivo: a regulação das condições de superfície de maneira a ser sempre o máximo possível favorável à vida contemporânea (LOVELOCK, James. Gaia: alerta final. São Paulo: Intrínseca, 2010. p. 244). Unidade 1 • Teoria geral do direito ambiental10/347 e absoluta de valores. O mundo natural tem valor apenas quando atende aos interesses da espécie humana, vale dizer, a natureza tem valor instrumental. O antropocentrismo tem como desdobramento o antropocentrismo alargado. Nele, o homem continua sendo o centro das atenções e preocupações, contudo, apresenta uma visão que conjuga a interação da espécie humana com os demais seres vivos, sem uma relação de superioridade, como no antropocentrismo clássico, e estabelece uma relação ética com os demais seres vivos, uma vez que somente com a proteção dos animais e das plantas é possível legar às futuras gerações um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Mesmo mantendo as discussões a respeito de ambiente na figura do ser humano, defende novas visões do bem ambiental. Desse modo, centra a preservação ambiental na garantia da dignidade do próprio ser humano, contudo, sem uma visão estritamente econômica do ambiente. O “alargamento” dessa visão antropocêntrica está fundado em consideraçõesque imprimem ideia de valor dado ao ambiente como requisito para a garantia de sobrevivência da própria espécie humana. O intuito é alcançar maior equilíbrio na utilização dos recursos naturais, protegendo-se o meio ambiente em função dos interesses do ser humano. Unidade 1 • Teoria geral do direito ambiental11/347 No biocentrismo, o homem não é superior aos outros seres vivos, mas parte integrante da natureza, sendo mais um integrante do ecossistema, mantendo todos eles uma relação de interdependência. O centro das relações não é a humanidade, mas todos os seres vivos. A natureza pertence a todos e não apenas ao homem. Fauna, flora e biodiversidade são merecedores de especial proteção e devem ter direitos semelhantes aos dos seres humanos, possuem valor intrínseco e não meramente instrumental. A vida é considerada um fenômeno único, o que acarreta uma consideração e respeito também aos seres vivos não humanos. Para saber mais Especismo é o entendimento de que uma espécie, no caso a humana, tem o direito de explorar, escravizar e matar as demais espécies por serem elas inferiores. É a atribuição de valores ou direitos diferentes a seres dependendo da sua afiliação a determinada espécie. O termo é usado para se referir à discriminação que envolve atribuir a animais sencientes diferentes valores e direitos baseados na sua espécie (https://pt.wikipedia.org/wiki/Especismo, acesso em 20/07/2015). Unidade 1 • Teoria geral do direito ambiental12/347 - Conceito de Meio Ambiente O meio ambiente é considerado como “um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo” (art. 2º, I, da Lei 6.938/81). A Lei 6.938/81 conceituou o meio ambiente como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (art. 3º, I). É o conjunto de relações (físicas, químicas e biológicas) entre os elementos vivos (bióticos) e não vivos (abióticos) as quais são responsáveis pela manutenção, pelo abrigo e pela regência de todas as formas de vida nele existentes. O conceito da Lei 6.938/81 tem por finalidade a proteção, o abrigo e a preservação de todas as formas de vida, por meio do resguardo do equilíbrio do ecossistema, abrangendo, contudo, tão somente o conceito de meio ambiente natural, vale dizer, aspectos de ordem física, química e biológica, não cuidando de outros elementos. Entretanto, o conceito de meio ambiente deve ser amplo, aglutinador e totalizante, compreendendo aspectos bióticos (fauna e flora – seres vivos), abióticos (físicos e químicos – não vivos), bem como os econômicos, sociais e culturais, que permitem a vida em todas as suas Unidade 1 • Teoria geral do direito ambiental13/347 formas. A Resolução CONAMA 306/2002 apresenta a seguinte definição totalizante: meio ambiente é o “conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química, biológica, social, cultural e urbanística, que permite, abriga e rege a vida em todas suas formas” (Anexo I, XII). Para José Afonso da Silva, meio ambiente é “a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas A integração busca assumir uma concepção unitária do ambiente, compreensiva dos recursos naturais e culturais” (Direito ambiental constitucional, p. 20). Dessa forma, o meio ambiente é formado pela terra, a água, o ar, a flora e a fauna, as edificações, as obras de arte e os elementos subjetivos e evocativos (por exemplo, a beleza da paisagem, a beleza natural ou a recordação do passado), assim como as inscrições, marcas ou sinais de acontecimentos naturais ou da presença de antepassados, as belezas artificiais, o patrimônio histórico, paisagístico, monumental, arqueológico, bem como dos elementos urbanísticas. O meio ambiente, bem de uso comum do povo, é um bem jurídico autônomo, indisponível, indivisível, insuscetível de apropriação, de natureza difusa, que transcende a tradicional classificação dos bens em público (das pessoas jurídicas de Unidade 1 • Teoria geral do direito ambiental14/347 direito público) e privados, pois toda a coletividade é titular desse direito. Em suma, o meio ambiente é: Quanto ao objeto: indivisível. Quanto à titularidade: indeterminada. Quanto à forma: autônomo, necessário, complexo, interdependente. Quanto ao interesse: difuso. Quanto à finalidade: sadia qualidade de vida das presentes e futuras gerações; dignidade humana. - Conceito de Direito Ambiental O Direito Ambiental constitui um ramo do direito que estuda, protege e ordena o uso dos recursos naturais, artificiais, culturais e do trabalho com a finalidade de manutenção da sadia qualidade de vida das presentes e futuras gerações por meio da manutenção, preservação e recuperação do equilíbrio ecológico, vale dizer, é o ramo do direito positivo que regula as relações entre os indivíduos, os governos e as empresas com o meio ambiente, visando a Unidade 1 • Teoria geral do direito ambiental15/347 compatibilizar os aspectos econômicos, culturais, científicos, sociais e ecológicos, com a melhoria das condições ambientais e de bem-estar da população. É composto por princípios e regras que regulam as condutas humanas que afetam o meio ambiente. Possui um aspecto objetivo (conjunto de normas disciplinadoras do meio ambiente) e outro científico (conhecimento sistematizado das normas e princípios ordenadores e reguladores da qualidade do meio ambiente). Conforme ensinamento de Paulo Affonso Leme Machado, o “Direito Ambiental é um direito sistematizador, que faz a articulação da legislação, da doutrina e da jurisprudência concernentes aos elementos que integram o meio ambiente. Procura evitar o isolamento dos temas ambientais e sua abordagem antagônica. Não se trata mais de construir um direito das águas, um direto da atmosfera, um direito do solo, um direito florestal, um direito da fauna ou um direito da biodiversidade. O Direito Ambiental não ignora o que cada matéria tem de específico, mas busca interligar estes temas com a argamassa da identidade dos instrumentos jurídicos de prevenção e de reparação, de informações, de monitoramento e de participação” (Direito Ambiental Brasileiro, p. 54). O Direito ambiental tem como objeto maior a proteção de todas as formas de vida e a qualidade dessa mesma vida. Unidade 1 • Teoria geral do direito ambiental16/347 O Direito Ambiental é um dos ramos mais importantes do Direito, pois sem ele não existem os outros direitos. De fato, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito que constitui o ponto de partida, pressuposto e suporte para o exercício dos outros direitos, situando-se num degrau anterior e superior à maioria dos direitos subjetivos, os quais lhe devem obediência, pois sem o meio ambiente ecologicamente equilibrado não há vida, saúde, lazer, segurança, trabalho, moradia, mobilidade etc. É uma das disciplinas mais recentes do curso de direito e seu conhecimento envolve toda uma série de outras disciplinas jurídicas (direito penal, direito administrativo, direito processual, direito tributário, direito econômico, direito constitucional), bem como não jurídicas (biologia, economia, sociologia, engenharia, oceanografia, ecologia, geologia, genética). Também é um Direito de interações, pois as normas ambientais se imiscuem nas demais normas jurídicas, obrigando que se leve em consideração a proteção ambiental em cada um dos demais ramos do Direito e por isso tende a penetrar em todos os sistemas jurídicos existentes para os orientar num sentido ambientalista. No Brasil, o DireitoAmbiental nasce com a edição da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente em 1981 (Lei 6.938/81), com a incorporação de valores ecológicos e com a Unidade 1 • Teoria geral do direito ambiental17/347 sistematização da matéria ambiental no ordenamento jurídico brasileiro. Não havia Direito Ambiental na acepção moderna antes da década 1970, uma vez que foi a partir de tal momento que se deu a consagração dos valores e direitos ecológicos de forma autônoma e sistematizada. O paradigma é a Conferência da ONU, realizada em Estocolmo, sobre o Meio Ambiente em 1972. - Conceito de Bem Ambiental Bem ambiental é caracterizado por ser um bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, consistindo no equilíbrio ecológico (macrobem ambiental) e é o objeto do direito ambiental. O equilíbrio ecológico (macrobem ambiental) é constituído por partes (microbem ambiental), como a água, o ar, os animais, os vegetais etc., que em relação e interação permitem a abrigam todas as formas de vida. Dessa forma, o direito ambiental visa a proteger o equilíbrio da interação de diversos fatores bióticos e abióticos. Protegem-se os elementos bióticos e abióticos (microbens ambientais) e sua respectiva Unidade 1 • Teoria geral do direito ambiental18/347 interação, para se alcançar a proteção do meio ambienta ecologicamente equilibrado (macrobem ambiental), porque este bem é responsável por todas as formas de vida. Qualquer dano ao meio ambiente agride o equilíbrio ecológico. O equilíbrio ecológico não é estático, vale dizer, trata-se de um equilíbrio dinâmico e só existe porque ele é um produto da combinação (química, física e biológica) de diversos fatores, bióticos (fauna, flora e diversidade biológica) e abióticos (ar, água, terra, clima) que, interagindo entre si, nele resultam. Embora seu objeto de proteção seja o equilíbrio ecológico (macrobem ambiental), o direito ambiental cuida também da função ecológica exercida pelos fatores ambientais bióticos e abióticos. O bem ambiental pertence ao povo, estando atado em um liame que une cada pessoa. Não é possível identificar cada um dos componentes do povo que é titular desse bem, sendo seus titulares indetermináveis. 2. Classificação do direito ambiental O meio ambiente pode ser classificado em: Unidade 1 • Teoria geral do direito ambiental19/347 a) Meio ambiente físico ou natural b) meio ambiente cultural c) meio ambiente artificial d) meio ambiente do trabalho a) Meio ambiente natural ou físico: é aquele constituído por todos os elementos bióticos e abióticos que se encontram originalmente na natureza: fauna, flora, a atmosfera, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, a água, o ar, os recursos minerais, as florestas, o patrimônio genético, a biosfera. Representa as conformações físicas, químicas e biológicas interligadas às formas de vida (definição do art. 3º, I, da Lei 6.938/81). Nele se dá a correlação recíproca entre as espécies e as relações destas com o ambiente físico que ocupam. Não é fruto da racionalidade humana, mas efeito do surgimento espontâneo. Existe impendentemente de qualquer intervenção humana no meio natural. Encontra proteção mediata no art. 225, caput, da CF e imediata nos arts. 23, e VII 225, §1º, I, III e VII, da Constituição Federal. b) Meio ambiente artificial: é o espaço urbano construído pelo homem, as cidades, as edificações, os equipamentos públicos, com seus Unidade 1 • Teoria geral do direito ambiental20/347 espaços abertos, tais como ruas, pontes, praças e parques e espaços fechados, como as escolas, museus e teatros. Eram espaços naturais que foram modificados e adaptados para o atendimento dos interesses humanos. Possui proteção nos arts. 5º, XXIII; 21, XX; 170, III; 182; 183 e 225 da Constituição Federal e Lei 10.257/01 (Estatuto da Cidade). c) Meio ambiente cultural: são bens de natureza material ou imaterial, tomados individualmente ou sem conjunto, que refletem a identidade, a ação, a formação, a memória, bens e valores dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, constituindo-se pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico, turístico, etnográfico, folclóricas e populares brasileiras, que embora artificial como obra do ser humano, difere dele, pelo sentido de valor especial que adquiriu ou de que se impregnou. Traduz a história de um povo, sua formação e os próprios elementos identificadores de sua cidadania. Possui regulação nos arts. 215, 216 e 225 da Constituição Federal e no Decreto 25/37. d) Meio ambiente do trabalho: constitui o local onde as pessoas desempenham suas atividades laborais. Integra a proteção do Unidade 1 • Teoria geral do direito ambiental21/347 homem em seu local de trabalho, de sua saúde, segurança, prevenção de acidentes, salubridade, condições atmosféricas, ergonomia, higiene, incolumidade físico-psíquica. Tem previsão de tutela imediata no art. 200, VIII, e 7º, XXII, XXIII e XXXIII, da Constituição Federal e tutela mediata no art. 225 da Constituição Federal e art. 6º, III e V, da Lei 8.080/90. Link O IBAMA é o órgão executivo do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA). Disponível em <http://www.ibama.gov.br/> O CONAMA é o órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA). Disponível em <http://www.mma.gov.br/port/ conama/> Unidade 1 • Teoria geral do direito ambiental22/347 3. Princípios do direito ambiental - Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado O equilíbrio ambiental é o macrobem ambiental. Consubstancia-se na conservação das propriedades e das funções naturais do meio ambiente, de forma a permitir a existência, a evolução e o desenvolvimento dos seres vivos. Visa à capacidade de renovação da Natureza e a sadia qualidade de vida. - Função Socioambiental da Propriedade Consiste na obrigatoriedade imposta ao proprietário de utilizar os recursos naturais existentes em sua propriedade particular de forma racional e proporcional, para a manutenção da sadia qualidade de vida das presentes e futuras gerações. - Princípio da prevenção É o dever imposto a todos (Poder Público, coletividade e cidadão) em defender a sadia Unidade 1 • Teoria geral do direito ambiental23/347 qualidade de vida para as presentes e futuras gerações, enfatizando a prioridade que deve ser dada à medida que previnam (e não reparem) a degradação ambiental, evitando- se que o dano possa chegar a produzir-se. Aplica-se quando se tem base científica para prever os danos ambientais decorrentes de determinada atividade lesiva ao meio ambiente, quando o dano é conhecido, certo, quando existe perigo concreto. - Princípio da precaução Na ausência de certeza técnica ou científica quanto à potencialidade danosa de uma conduta ao meio ambiente, mesmo assim devem-se tomar as cautelas necessárias para impedir a degradação ambiental. Assim, no princípio da precaução o que se configura é a ausência de informações ou pesquisas científicas conclusivas sobre a potencialidade e os efeitos de uma intervenção no meio ambiente. Existe a incerteza científica, a incerteza sobre os efeitos do dano potencial e não obstante, faz-se necessária a adoção de medidas para afastar o perigo abstrato. Unidade 1 • Teoria geral do direito ambiental24/347 - Princípio do poluidor- pagador Deve o poluidor responder pelos custos sociais da degradação causada por sua atividade impactante, da poluição por ele causada, devendo-se agregar esse valor no custo produtivo da atividade, para evitar que se privatizem os lucros e se socializem os prejuízos. Caberá ao poluidor prevenir, ressarcir, compensar ou reparar o dano causado, não apenas a bens e pessoas, mas tambémà própria natureza. Tem como fundamento a internalização dos custos sociais da atividade produtiva, vale dizer a internalização das externalidades negativas. - Princípio do usuário-pagador O usuário de recursos naturais deve pagar por sua utilização, mesmo que não haja dano ambiental. Link “O princípio da precaução no Direito Ambiental”. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/ texto/5879/o-principio-da-precaucao-no- direito-ambiental>. Acesso em 21 jul. 2015. Unidade 1 • Teoria geral do direito ambiental25/347 - Princípio da informação e no- tificação O Princípio da Informação consiste na obtenção de dados sobre o meio ambiente, conferindo acesso às informações oficiais, bem como as notícias apresentadas nos meios de comunicação de massa. Pelo Princípio da notificação, impõe- se ao poluidor de cientificar o Poder Público e a coletividade no caso da ocorrência de danos ambientais. - Princípio da participação co- munitária (Princípio Democrá- tico) Consiste no direito das pessoas participarem ativamente do debate, da formulação, das decisões, da execução e da fiscalização das políticas ambientais, em observância à democracia participativa, uma vez que os danos ambientais são transindividuais. A participação comunitária se desdobra em três aspectos: a) esfera administrativa; b) esfera legislativa; c) esfera judicial. a) esfera administrativa: audiências e consultas públicas, participação em órgãos colegiados (conselhos de meio ambiente), direito de petição aos órgãos públicos ambientais, direito de informação, estudo prévio Unidade 1 • Teoria geral do direito ambiental26/347 de impacto ambiental. b) âmbito legislativo: plebiscito, referendo e iniciativa popular de projeto de lei, audiência pública. c) esfera judicial: mandado de segurança, ação popular e ação civil pública. d) outras esferas: associações, blogs, internet, ONGs, amicus curiae. - Princípio da cooperação A resolução dos problemas do ambiente depende da cooperação entre o Estado e a sociedade, por meio da participação dos diferentes grupos sociais na formulação e execução da política do ambiente, bem como a cooperação entre os países. - Princípio da ubiquidade Ubiquidade significa fato de estar ou existir em todos os lugares, pessoas, coisas; é a qualidade do que está em toda a parte, é o que está presente em todas as partes, onipresente. No direito ambiental, ubiquidade significa colocar as questões ambientais no epicentro dos direitos humanos. O bem ambiental é onipresente, de forma que uma agressão ao meio ambiente em determinada localidade é capaz de Unidade 1 • Teoria geral do direito ambiental27/347 trazer reflexos negativos em todo o planeta. Não existem fronteiras quando há impacto ambiental. Para saber mais O nosso planeta é indivisível. Na América do Norte, respiramos oxigênio gerado na floresta tropical brasileira. A chuva ácida das indústrias poluentes no meio-oeste-norte americano destrói florestas canadenses. A radioatividade de um acidente nuclear na Ucrânia compromete a economia e a cultura na Lapônia. A queima de carvão na China aquece a Argentina. Os clorofluorcarbonetos liberados por um ar condicionado na Terra- Nova ajudam a causar câncer de pele na Nova Zelândia. Doenças se espelham rapidamente até os pontos mais remotos do planeta e requerem um trabalho médico global para serem erradicadas. E, sem dúvida, a guerra nuclear e um impacto de asteroide representam um perigo para todo mundo. Gostando ou não, nós humanos, estamos ligados com nossos colegas humanos e com as outras plantas e animais em todo o mundo. As nossas vidas estão entrelaçadas (SAGAN, Carl. Bilhões e bilhões: reflexões sobre a vida e morte na virada do milênio. São Paulo: Companhia das Letras, 2008, p. 82) Unidade 1 • Teoria geral do direito ambiental28/347 - Princípio do acesso adequa- do/equitativo aos recursos na- turais Deve existir controle racional, razoável e proporcional na exploração dos recursos naturais, a fim de que estejam presentes para a manutenção da biodiversidade para as presentes e futuras gerações. Se a utilização não for razoável ou necessária, deve-se negar o uso, mesmo que os bens não sejam altamente escassos. Os bens que integram o meio ambiente planetário, como água, ar e solo, devem satisfazer as necessidades comuns de todos os habitantes da Terra. - Princípio do desenvolvimento sustentável O desenvolvimento sustentável é aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades (Relatório Brundtland). As gerações presentes devem buscar o seu bem-estar por meio do crescimento econômico e social, mas sem comprometer os recursos naturais fundamentais para a qualidade de vida das gerações subsequentes. Unidade 1 • Teoria geral do direito ambiental29/347 Tem como pilar a harmonização das seguintes vertentes: crescimento econômico, proteção do meio ambiente e equidade social (progresso social). Ausente qualquer um desses elementos, não se terá desenvolvimento sustentável. - Princípio da solidariedade in- tergeracional Trata-se da ética intergeracional. Compete à presente geração se utilizar dos recursos naturais disponíveis sem comprometer a capacidade de suporte e sobrevivência das gerações futuras. Devemos legar às futuras gerações um Planeta com recursos suficientes para permitir a manutenção e desenvolvimento da vida e uma igual capacidade de autodeterminação quanto à utilização dos recursos ambientais - Princípio da educação am- biental É o processo por meio do qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Unidade 1 • Teoria geral do direito ambiental30/347 Visa a esclarecer e envolver a comunidade no processo de responsabilidade com o meio ambiente, com a finalidade de desenvolver a percepção e a consciência da necessidade de defender e proteger o meio ambiente. - Princípio da Reparação Determina a obrigação do poluidor de reparar ou recuperar o dano ambiental, em decorrência de atividade prejudicial por ele realizada. - Princípio da vedação de re- trocesso ecológico Como o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é direito fundamental, as garantias de proteção ambiental, uma vez conquistadas, não podem recuar. Não é possível o recuo da salvaguarda ambiental para níveis de proteção inferiores ao já consagrados. Link Vídeo: https://www.youtube.com/ watch?v=3c88_Z0FF4k Unidade 1 • Teoria geral do direito ambiental31/347 Glossário Poluidor: é toda pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental (art. 3º, IV, da Lei 6.938/81). Poluição: é a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos (art. 3º III da Lei 6.938/81). Recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora (art. 3º, V, da Lei 6.938/81). Questão reflexão ? para 32/305Como você aprendeu, o Direito Ambiental é regido por diversos princípios. A legislação ambiental encaminhava-se para uma crescente proteção. Contudo, e uns anos para cá, houve certa flexibilização e retrocesso na legislação ambiental. Com base nos Princípios do Direito Ambiental, e principalmente no Princípio da Vedação de retrocesso, reflita sobre o conteúdo e alcance desse importante princípio, colhendo exemplos práticos na legislação ambiental brasileira. 33/347 Considerações Finais » A interpretação e aplicação do Direito Ambiental podem ser realizadas por meio de uma visão Antropocêntrica ou de uma visão Biocêntrica; » O objeto de seu estudo é o bem ambiental, bem de uso comum e essencial à sadia qualidade de vida, que corresponde ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (macrobem ambiental); » O Meio Ambiente pode ser classificado em meio ambiente natural, meio ambiente artificial, meio ambiente cultural e meio ambiente do trabalho; » Os Princípios do Direito Ambiental são vetores fundamentais de sua interpretação e aplicação. Unidade 1 • Teoria geral do direito ambiental34/347 Referências ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 14ª ed. São Paulo: Atlas, 2012. CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix, 2006. LOVELOCK, James. Gaia: alerta final. São Paulo: Intrínseca, 2010. MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 17ª ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Malheiros, 2009. RODRIGUES, Marcelo Abelha. Direito ambiental esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2013. SAGAN, Carl. Bilhões e bilhões: reflexões sobre a vida e morte na virada do milênio. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. SARLET. Ingo Wolfgang. Direito ambiental: introdução, fundamentos e teoria geral. Tiago Fensterseifer. São Paulo: Saraiva, 2014. SILVA, José Afonso. Direito Ambiental Constitucional. 10ª ed. São Paulo: Malheiros, 2013. SINGER, Peter. Libertação animal. São Paulo: Martins Fontes, 2010. THOMÉ, Romeu. Manual de direito ambiental. 4ª ed. Salvador: Juspodium, 2014. 35/347 Aula 1 - Tema: Teoria Geral do Direito Ambiental – Bloco I Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ ac4ff94b3d7959767fd2166c88995792>. Aula 1 - Tema: Teoria Geral do Direito Ambiental– Bloco II Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/pA- piv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/77e- d5757659e8540c9a4c496886fae87>. Assista a suas aulas 36/347 1. Podemos classificar o meio ambiente em: a) Natural, artificial, mineral e cultural. b) Natural, eletrônico, cultural, e do trabalho. c) Natural, artificial, cultural e do trabalho. d) Mineral, vegetal, animal e micro-organismos. e) Artificial, urbano, mineral, animal e vegetal. Questão 1 37/347 2. São princípios do Direito Ambiental: a) Prevenção, anterioridade, usuário-pagador e do contraditório. b) Cooperação, participação, informação e presunção de inocência. c) Vedação de retrocesso, desenvolvimento sustentável, boa-fé e igualdade. d) Poluidor-pagador, desenvolvimento sustentável, precaução e solidariedade intergeracional. e) Legalidade, poluidor-pagador, impessoalidade e moralidade. Questão 2 38/347 3. Caracteriza o bem ambiental: a) A fauna e a flora. b) O solo, o ar e a água. c) A biodiversidade. d) Os recursos ambientais econômicos. e) Bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida. Questão 3 39/347 4. O Princípio do Poluidor-Pagador se caracteriza da seguinte forma: a) É o direto de pagar para poluir. b) Consiste na internalização das externalidades negativas. c) Representa o dever de indenizar pelo dano ambiental. d) É a obrigação de pagar pelo impacto ambienta. e) É o dever de pagar pelo recurso natural utilizado economicamente. Questão 4 40/347 5. O princípio da ubiquidade significa: a) A obrigatoriedade de cooperação em duas esferas, seja no âmbito interno entre os estados-membros, municípios, Distrito Federal e União, seja no âmbito internacional, entre os Países. b) A solidariedade intergeracional, sendo que as gerações presentes deverão suprir suas necessidades sem comprometer o suprimento das necessidades das futuras gerações. c) O dever de indenizar por parte do poluidor, pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, pelos danos diretos ou diretos causados ao meio ambiente. d) Colocar as questões ambientais no epicentro dos direitos humanos, o meio ambiente é onipresente, de forma que uma agressão ao meio ambiente em determinada localidade é capaz de trazer reflexos em outras localidades. e) Aplicar a prevenção e a precaução, ou seja, não deixar de tomar medidas mitigadoras dos impactos ambientais, sejam eles já conhecidos pela ciência, sejam eles desconhecidos. Questão 5 41/347 Gabarito 1. Resposta: C. Conforme classificação doutrinária majoritária, o meio ambiente pode ser classificado em natural (ou físico), artificial, cultural e do trabalho. 2. Resposta: D. Os Princípios do Poluidor-pagador, do desenvolvimento sustentável, da precaução e da solidariedade intergeracional são essencialmente do Direito Ambiental. O Princípio da anterioridade é do Direito Processual, o Princípio do contraditório do processo civil, o Princípio da presunção de inocência do direito processual penal, o Princípio da boa-fé do direito civil e do consumidor, o Princípio da igualdade é do direito constitucional, os Princípios da impessoalidade e moralidade do direito administrativo. 3. Resposta: E. O bem ambiental é caracterizado por ser bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, sendo o objeto do Direito Ambiental. Trata-se do macrobem ambiental que consiste no equilíbrio ecológico. As outras respostas se referem ao microbem ambiental (fauna, flora, ar, água etc.). 4. Resposta: B. 42/347 Gabarito O Princípio do poluidor-pagador caracteriza-se pelos custos desde a extração até a venda dos produtos, os quais não entram nos custos internos da atividade, como por exemplo, a poluição, as doenças causadas pela atividade etc. Pelo princípio, o poluidor deverá arcar com esses custos, ou seja, internalizar as externalidades negativas. 5. Resposta: D. O princípio da ubiquidade é a característica do meio ambiente de estar em todos os lugares ao mesmo tempo, significando que para ele não há fronteiras, como por exemplo, no caso da poluição, que é transfronteiriça, por vazamento de usina nuclear, que pode ocorrer em um país, mas seus efeitos serem sentidos em outros. 43/347 Unidade 2 A Ordem Constitucional do Meio Ambiente Objetivos » Conhecer o Estado Socioambiental e Democrático de Direito; » Entender o Direito Ambiental como Direito Difuso e Fundamental; » Compreender o art. 225 da Constituição Federal. Unidade 2 • A Ordem Constitucional do Meio Ambiente44/347 Introdução O ordenamento jurídico se estrutura de forma piramidal. A Constituição Federal situa-se na cúspide da pirâmide, vale dizer, está acima de toda a legislação. Todas as leis, decretos, portarias, provimentos, resoluções devem guardar compatibilidade com a constituição e dela tiram seu fundamento de validade. Nesse sentido, para a adequada intepretação e aplicação de qualquer legislação, inclusive a ambiental, imprescindível você conhecer as respectivas regras constitucionais. No que tange ao direito ambiental, após a realização da Primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente em Estocolmo, no ano de 1972, houve uma crescente tendência mundial na positivação constitucional das normas protetivas do meio ambiente. Começarama nascer as constituições “verdes” ou o esverdeamento das constituições. Em decorrência, passaram a surgir os Estados Ambientais ou os Estados Socioambientais de Direito. No Brasil, a CF/88 foi a primeira Constituição Brasileira a utilizar expressão “meio ambiente”. É a primeira a dispor, em capítulo próprio, sobre a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais, como objeto de proteção. De fato, ela inovou em relação às Constituições anteriores, as quais apenas abordavam os recursos naturais sob o enfoque utilitarista e não protecionista. Unidade 2 • A Ordem Constitucional do Meio Ambiente45/347 As disposições sobre meio ambiente na CF/88 estão inseridas no Título VIII (Da ordem social), Capítulo VI. A Constituição Federal de 1988 inaugurou a fase da constitucionalização da proteção ambiental. A inovação trazida por esse período diz respeito à centralidade que os valores e direitos ecológicos passaram a ocupar no ordenamento jurídico brasileiro, o que representa uma “virada ecológica” de índole jurídico-constitucional. A proteção do ambiente – e, portanto, a qualidade, o equilíbrio e a segurança ambiental – passam a integrar a nossa estrutura normativa constitucional e, com isso, a assegurar um novo fundamento para toda a ordem jurídica interna. A consagração do objetivo e dos deveres de proteção ambiental e cargo do Estado brasileiro (em relação a todos os entes federados) e, sobretudo, a atribuição de status jurídico-constitucional de direito-dever fundamental ao ambiente ecologicamente equilibrado colocam os valores ecológicos no “coração” do Direito Brasileiro, influenciando todos os ramos jurídicos, inclusive a ponto de implicar limites a outros direitos (fundamentais ou não). Alinha-se a isso tudo também uma nova dimensão ecológica na conformação do conteúdo normativo do princípio da dignidade da pessoa humana (SARLET. Ingo Wolfgang. Direito ambiental: introdução, fundamentos e teoria geral. Tiago Fensterseifer. São Paulo: Saraiva, 2014). Dessa forma, ficou consagrada a proteção Unidade 2 • A Ordem Constitucional do Meio Ambiente46/347 ambiental como um dos objetivos ou tarefas fundamentais do Estado Socioambiental de Direito. É na Constituição Federal que se encontram enraizados os princípios fundamentais do Direito Ambiental, os quais se projetam para todo o ordenamento jurídico, que lhe deve obediência direta. Toda e qualquer norma que vise à tutela do entorno deve ser interpretada e aplicada de acordo com os valores constitucionais ambientais, possibilitando-se a existência de um sistema uniforme de proteção ao meio ambiente. Com a CF/88 é que o direito ambiental se consolidou definitivamente como ciência autônoma. Para saber mais A proteção direta do meio ambiente encontra-se em um único artigo, com seus parágrafos e incisos, na Constituição Federal (art. 225). A proteção indireta ou mediata do meio ambiente na Constituição Federal pode ser encontrada nos arts. 20, X; 23, VI; 24, VI e VIII; 129, III; 170, VI; 174, §3º; 182; 184; 186, II; 200, VIII; 216; 220, §3º. Unidade 2 • A Ordem Constitucional do Meio Ambiente47/347 1. Direito ambiental como direi- to difuso e fundamental O direito ambiental faz parte da 3ª Dimensão dos Direitos Fundamentais, integrando os Direitos Difusos (transindividual, indivisível, titulares indeterminados ou indetermináveis ligados por circunstância de fato) e de aplicação imediata. Trata-se de um dos mais importantes direitos fundamentais, intrinsecamente vinculado ao direito à vida. Lembre-se que os direitos fundamentais não são apenas aqueles previstos no art. 5º da Constituição Federal. Todos aqueles que repercutirem na estrutura básica do Estado e da Sociedade, caracterizando a chamada fundamentabilidade material, são direitos fundamentais. O art. 5º, §2º, da Constituição Federal, institui um sistema constitucional aberto de direitos fundamentais em sentido material. O meio ambiente foi reconhecido como direito fundamental na Conferência das Nações Unidas pelo Meio Ambiente de 1972 (Princípio 1) e reafirmado na Declaração do Rio de 1992 (Princípio 1), bem como em 1997, pela Carta da Terra (Princípio 4). Como o meio ambiente ecologicamente equilibrado é direito fundamental, todos os princípios, atributos, prerrogativas são dos direitos fundamentais são a ele aplicados, como por exemplo, o instituto da cláusula pétrea (art. 60, IV, da CF), o princípio da Unidade 2 • A Ordem Constitucional do Meio Ambiente48/347 vedação de retrocesso e a eficácia horizontal, gozando dos atributos da indisponibilidade, inalienabilidade, impenhorabilidade, irrenunciabilidade e imprescritibilidade. Para saber mais “O direito ao pedido de reparação de danos ambientais, dentro da logicidade hermenêutica, também está protegido pelo manto a imprescritibilidade, por se tratar de direito inerente à vida, fundamental e essencial à afirmação dos povos, independentemente de estar expresso ou não em texto legal. No conflito entre estabelecer um prazo prescricional em favor do causador do dano ambiental, a fim de lhe atribuir segurança jurídica e estabilidade com natureza eminentemente privada, e tutelar de forma mais benéfica bem jurídico coletivo, indisponível, fundamental, que antecede todos os demais direitos – pois sem ele não há vida, nem saúde, nem trabalho, nem lazer – o último prevalece, por óbvio, concluindo pela imprescritibilidade do direito à reparação do dano ambiental” (REsp 1.120.117-AC, Rel. Min. Eliana Calmon, j. 10.11.09). Unidade 2 • A Ordem Constitucional do Meio Ambiente49/347 2. O art. 225 O art. 225 da Constituição Federal divide-se em três conjuntos de normas: a) norma-princípio ou norma-matriz (caput); b) instrumentos de garantia da efetividade do caput (§1º); c) determinações particulares (demais parágrafos). 2.1 NORMA-PRINCÍPIO OU NORMA-MATRIZ Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Existem na Constituição Federal dois objetos de tutela ambiental: um imediato, que é a qualidade do meio ambiente, e outro mediato, que é a saúde, o bem-estar e a segurança da população, que vem sintetizado na expressão da sadia qualidade de vida. Unidade 2 • A Ordem Constitucional do Meio Ambiente50/347 TODOS TÊM O Direito ao Meio Ambiente é de cada um, independentemente de qualquer condição ou qualificação, não se excluindo quem quer que seja. Trata-se de direito público subjetivo, oponível contra todos (erga omnes) e não somente contra o Estado, aplicando-se a eficácia horizontal e vertical dos direitos fundamentais. O alcance constitucional do termo “todos” é controverso; se a qualquer pessoa, brasileiro ou estrangeiro residente no País ou a qualquer ser vivo, humano ou não. ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO É o macrobem ambiental, o qual passou a receber tutela jurídica imediata e autônoma, pelo valor que representa em si mesmo e para todas as formas de vida. É o bem ambiental. Equilíbrio ecológico é o estado de equilíbrio entre os diversos fatores que formam um ecossistema ou habitat, suas cadeias tróficas, vegetação, clima, microrganismos, solo, ar, água, que pode ser desestabilizado pela ação humana, seja por poluição ambiental, por eliminação ou introdução de espécies animais e vegetais. Unidade 2 • A Ordem Constitucional do Meio Ambiente51/347 A Constituição Federal revela a essencialidade do meio ambiente ecologicamente equilibrado. BEM DE USO COMUM DO POVO É um bem autônomo que não pertence ao domínio público ou privado, sendo insuscetível de apropriação, cabendoao Poder Público não a sua propriedade, mas sim o dever fundamental de gerenciá-los, sendo responsável por sua administração e por zelar pela sua adequada utilização e preservação, em benefício de toda a sociedade, presente e futura. O conceito de bem de uso comum do povo não se limita àquele do direito administrativo, mas sim o amplia. Ao atribuir a característica de “bem de uso comum do povo” ao meio ambiente, teve o legislador o intuito de reforçar a ideia de interesse transindividual no meio ambiente saudável, tendo em vista a titularidade coletiva dos bens naturais. ESSENCIAL À SADIA QUALIDADE DE VIDA O constituinte associou o meio ambiente à sadia qualidade de vida. Diz respeito à estrutura finalística do direito ambiental. Ter uma sadia qualidade de vida é ter um meio ambiente não Unidade 2 • A Ordem Constitucional do Meio Ambiente52/347 poluído. O constituinte foi além do direito à vida. É na somatória desses dois aspectos – bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida – que se estrutura constitucionalmente o bem ambiental. PODER PÚBLICO E A COLETIVIDADE Poder público se refere às três funções do art. 2º da Constituição Federal: legislativo, executivo e judiciário, em todas esferas e níveis, vale dizer, federal, estadual, municipal e distrital. Compete ao Poder Público garantir a incolumidade do meio ambiente e, no caso de degradação, recuperá-lo. O termo “coletividade” abrange as ONGs e as organizações da sociedade civil de interesse público e também cada pessoa. Não é papel isolado de o Estado cuidar sozinho do meio ambiente, pois não pode ser eficientemente executada a tarefa sem cooperação do corpo social. Trata-se do gerenciamento compartilhado, democrático, com a participação da coletividade em todos os órgãos públicos que administrem ou sejam responsáveis por recursos ambientais. Unidade 2 • A Ordem Constitucional do Meio Ambiente53/347 PRESENTES E FUTURAS GERAÇÕES Consagra o Princípio da solidariedade intergeracional e a ética entre as gerações. Veicula a responsabilidade entre as gerações. A Constituição Federal criou um sujeito de direitos que ainda não nasceu: as gerações vindouras. Protege-se não apenas a vida atual, mas também condições de vida e dignidade das próximas gerações. Assim, deve-se atender as necessidades das presentes gerações sem privar as futuras das suas parcelas dos recursos ambientais, a fim de manter a sua liberdade de escolha e deliberação quanto à utilização dos recursos ambientais. 2.2 Instrumentos de garantia de efetividade Para efetivação do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, o §1º do art. 225 previu uma série de instrumentos e deveres fundamentais, que são impostos ao Poder Público. São deveres gerais de proteção ambiental impostos ao Estado. Trata-se de rol exemplificativo. Preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas (art. 225, §1º, I). Unidade 2 • A Ordem Constitucional do Meio Ambiente54/347 Regulamentado pela Lei 9.985/2000 (Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza). Tais processos tutelados no âmbito constitucional são aqueles essenciais à sobrevivência da biodiversidade, a qual sustenta e viabiliza a vida, concepção que ultrapassa a fórmula tradicional da sobrevivência apenas do homem. Preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético (art. 225, §1º, II). Regulamentado pela Lei 11.105/2005 (Lei de Biossegurança) e pela Lei 9.985/2000 (Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza), Entende-se por patrimônio genético o conjunto de material genético, aí compreendido todo o material de origem vegetal, animal, microbiana ou outra que contenha unidades funcionais de hereditariedade, com valor real ou potencial, que possa ser importante para as gerações presentes e futuras (Paulo Affonso Leme Machado). A Medida Provisória n. 2.186-16/2001 define patrimônio genético: é qualquer informação de origem genética contida em amostras do todo ou de parte de espécime vegetal, fúngica, microbiana ou animal, na forma de moléculas e substâncias provenientes do metabolismo Unidade 2 • A Ordem Constitucional do Meio Ambiente55/347 desses seres vivos e de extratos obtidos a partir deles, vivos ou mortos, encontrados em condições in situ, inclusive domesticados, ou mantidos em condições ex situ, desde que coletados in situ no território nacional, na plataforma continental ou na zona econômica exclusiva”. Link Alimentos transgênicos: <http://www.greenpeace.org/brasil/ transgenicos/>. Acesso em 22 JUL. 2015. Definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais especialmente protegidos e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção (art. 225, §1º, III). Foi regulamentado pela Lei 9.985/2000 que criou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. São espaços (ou bolsões) que podem ser pequenas ou enormes áreas, reconhecidos e Unidade 2 • A Ordem Constitucional do Meio Ambiente56/347 delimitados pelo Poder Público como merecedores de especial proteção, em razão da importância ecológica que possuem e em função de seus atributos ambientais relevantes, devendo assegurar sua relativa imodificabilidade ou sua utilização sustentável. Não se protege um ou outro atributo, mas todos ao mesmo tempo e em conjunto. Integram o conceito, as unidades de conservação, as áreas de preservação permanente, a reserva legal, bem como o tombamento ambiental, a servidão ambiental e outras áreas ambientalmente protegidas. Poderão essas áreas ser criadas por lei, decreto, portaria ou resolução, mas somente poderão ser desafetadas, reduzidas os seus limites (alteração) ou a sua supressão total por meio de lei específica. Unidade 2 • A Ordem Constitucional do Meio Ambiente57/347 Os órgãos ambientais devem exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade (art. 225, §1º, IV). Regulamentado pelas Resoluções CONAMA ns. 1/86 e 237/97. O Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EPIA ou EIA) é uma modalidade de Avaliação de Para saber mais o inciso foi objeto de apreciação pelo STF na ADIn 3.540 (j. 1.0.2005), decidindo-se que somente a alteração e supressão do regime jurídico vinculam-se à reserva de lei em sentido formal, ao passo que a execução de obras ou serviços depende exclusivamente de procedimento administrativo próprio. Assim, é possível a supressão de árvores ou mesmo o licenciamento de atividades e obras em um espaço ambientalmente protegido sem a necessidade de lei em sentido formal, bastando um procedimento administrativo próprio. Com esse julgamento, houve diminuição do alcance da proteção dos espaços territoriais a serem protegidos, pois o Poder Executivo passou a ter o controle praticamente exclusivo da vida e da morte dos parques, reservas biológicas e áreas de preservação permanente. Unidade 2 • A Ordem Constitucional do Meio Ambiente58/347 Impacto Ambiental (AIA). Busca efetivar os Princípios da prevenção e da precaução. O EPIA é sempre prévio à localização, instalação e operação do empreendimento, atividade e é realizado para subsidiar o procedimento de licenciamento ambiental de atividades consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de significativa degradação do meio ambiente. A partir de seus resultados, pode o Poder Público autorizar (com limites e exigências)ou rejeitar o empreendimento. Não é possível a dispensa do EPIA pelo órgão ambiental quando se tratar de significativo impacto ambiental, devendo ser exigido sem qualquer exceção, não se tratando de discricionariedade da Administração. O EPIA é inexigível quando se tratar de empreendimento que não cause significativa degradação ambiental, submetendo-se o empreendedor a outros estudos ambientais mais simplificados. Trata-se de procedimento público, vale dizer, todo o conteúdo do EPIA é acessível ao público. Não basta deixar o estudo à disposição do público, devendo-se publicar o EPIA em órgão de comunicação, com o objetivo de se possibilitar aos interessados que tomem as providências administrativas/judiciais nos casos de irregularidade no licenciamento de atividades com significativo potencial degradador. Unidade 2 • A Ordem Constitucional do Meio Ambiente59/347 Controle da produção, da comercialização, de técnicas, de métodos e de substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente (art. 225, §1º, V). Trata-se da gestão dos riscos em matéria ambiental. É exercido por meio do Poder de Polícia, pelo Poder Público, o qual deverá fiscalizar e orientar quanto aos limites da exploração e utilização dos recursos ambientais. O Poder Público deve controlar a produção, comercialização, o emprego de técnicas e destinação de resíduos sólidos, gases e efluentes, vale dizer, substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida, saúde, a segurança e o meio ambiente, oriundos das atividades e empreendimentos, públicos ou privados. Para saber mais Para saber mais: o STF já declarou a inconstitucionalidade de artigo da Constituição Estadual do Estado de Santa Catarina que dispensava a realização do EIA no caso de florestamento ou reflorestamento para fins empresariais (STF, Pleno, ADI 1086/SC, j. 10.8.01, Rel. Min. Ilmar Galvão). Unidade 2 • A Ordem Constitucional do Meio Ambiente60/347 É obrigação do Poder Público promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente (art. 225, §1º, VI). Dispositivo regulamentado pela Lei 9.795/1999. Trata-se de um dos grandes instrumentos para esclarecer e envolver a comunidade no processo de responsabilidade com o meio ambiente, com a finalidade de desenvolver a percepção e a consciência da necessidade de defender e proteger o meio ambiente. A educação ambiental é concebida como um conjunto de processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente. A educação deve ser desenvolvida nos aspectos formal e informal. Impõe-se ao Poder Público proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade (art. 225, §1º, VII). Dispositivo regulamentado pela Lei 9.605/98 (Lei de crimes ambientais) e pela Lei 11.794/08 (Lei que regula a Utilização de Animais para fins Científicos e Educacionais). Unidade 2 • A Ordem Constitucional do Meio Ambiente61/347 A Constituição Federal ressaltou o papel desempenhado pelos animais e plantas na manutenção do equilíbrio ecológico, bem como o bem-estar dos animais. Os principais fatores que contribuem para a perda da biodiversidade e alteração dos serviços ambientais são: alteração e fragmentação nos hábitats, mudanças climáticas, espécies exóticas invasoras, superexploração, desmatamento e poluição. Para saber mais em relação à crueldade contra os animais, trata-se de abordagem recorrente no STF, que de forma reiterada tem declarado a inconstitucionalidade de leis estaduais que franqueiam a realização das brigas e rinhas de galo (ADI 1856 MC/RJ, j. 26.5.11) ou a farra do boi (RE 153.531 do STF). Encontra punição penal no art. 32 da Lei 9605/98. Por outro lado, o STF já decidiu mais de uma vez que a vedação à crueldade contra os animais tem aplicabilidade imediata, independentemente de lei regulamentadora (ADI 1.856 e RE 15.3531). O texto constitucional fala em “prática”, o que quer dizer que há atos cruéis que acabam tornando-se hábitos, muitas vezes chamados erroneamente de manifestações culturais. Unidade 2 • A Ordem Constitucional do Meio Ambiente62/347 Interpretação da expressão “na forma da lei”: a norma constitucional não fica inerte, sem aplicação, se a legislação infraconstitucional não lhe der forma. Toda norma constitucional possui alguma forma de eficácia. Omitindo-se o legislador ou o administrador público, aplica- se o comando constitucional, que é autoaplicável. Ao vedar a extinção de espécies ou submissão dos animais à crueldade, sinaliza-se o reconhecimento, por parte do constituinte, o valor intrínseco de outras formas de vida, vale dizer, não humanas, protegendo-as, inclusive, contra a ação humana, o que revela que não se está buscando proteger apenas o ser humano. O constituinte revelou uma preocupação com o bem-estar dos animais não humanos e a refutação de uma visão meramente instrumental da vida animal. Unidade 2 • A Ordem Constitucional do Meio Ambiente63/347 2.3 Determinações particulares Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei (art. 225, §2º). Trata da exploração de recursos minerais e recuperação do ambiente degradado As atividades de exploração mineral constituem uma das mais significativas Link Análise do projeto de Lei Estadual no 992, de 2011, o qual proíbe o uso e o sacrifício de animais em práticas de rituais religiosos no Estado de São Paulo <http://www.revistaseletronicas.fmu.br/index.php/FMUD/article/ view/248> “Terráqueos”. Fonte: <https://www.youtube.com/watch?v=wZHOW-HwLmQ> Unidade 2 • A Ordem Constitucional do Meio Ambiente64/347 intervenções no meio ambiente, com alto grau de degradação. A recuperação do meio ambiente passou, constitucionalmente, a fazer parte do processo de exploração de recursos minerais. Nenhum órgão público poderá autorizar qualquer pesquisa ou lavra mineral em que não esteja prevista a recuperação ambiental. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados (art. 225, §3º). Dispositivo regulamentado pela Lei 6.938/81 e pela Lei 9.605/98. Trata da tripla responsabilidade em matéria ambiental: civil, penal e administrativa, as quais são independentes e autônomas as respectivas sanções. A preocupação ambiental é essencialmente preventiva, já que os danos ambientais são, em regra, praticamente irreversíveis. No que se refere à responsabilidade penal, inovou a constituição com a possibilidade de responsabilização penal de pessoa jurídica. A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de Unidade 2 • A Ordem Constitucional do Meio Ambiente65/347 condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais (art. 225, §4º). Regulamentado pela Lei 11.428/06 que dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica e pela Lei 7.661/88 que institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro. Trata dos grandes biomas brasileiros São áreas frágeis e possuidoras de expressiva diversidade biológica. Trata- se de proteção genérica, inclusivepara a defesa de interesses do Brasil diante de ingerências estrangeiras, visando a impedir a internacionalização da Amazônia ou qualquer outra área protegida. A crítica apresentada é que o legislador constituinte não inseriu outros biomas igualmente importantes, como os campos sulinos (pampas), a caatinga e o cerrado e por isso o art. 225, §4º não torna permissiva a legislação ambiental nas áreas não contempladas no texto. O enquadramento como patrimônio nacional não significou que esses biomas foram convertidos em bens da União. Representa uma qualificadora da importância dessas áreas, com a imposição de regime especial de proteção, permanecendo sob domínio privado as áreas particulares. São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelo Estado, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais (art. 225, §5º, Unidade 2 • A Ordem Constitucional do Meio Ambiente66/347 da CF) Trata da indisponibilidade de terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados Terras devolutas são as terras que não se incorporaram legitimamente ao domínio particular, bem como as já incorporadas ao patrimônio público, mas não afetadas a qualquer uso público. As terras devolutas destinadas à conservação da natureza, indispensáveis à preservação ambiental, são bens da União (art. 20, II, Constituição Federal), e podem ser classificadas como bens públicos de uso especial, por possuírem destinação pública específica, qual seja, a proteção dos ecossistemas naturais. São bens públicos indisponíveis, por se tratar de bem público afetado a uma destinação pública. O dispositivo constitucional tornou indisponíveis as terras devolutas necessárias à proteção dos ecossistemas naturais. Da mesma forma, são indisponíveis as terras arrecadadas com a mesma importância na proteção ambiental. As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas (art. 225, §6º). Trata das usinas nucleares A instalação de usina nuclear representa sempre enorme risco a todas as formas de vida. Dessa forma, o local onde será Unidade 2 • A Ordem Constitucional do Meio Ambiente67/347 instalada uma usina nuclear é problema que interessa a toda a sociedade brasileira. Contudo, não representa o único requisito. É necessário, para instalação e operação de usina com reator nuclear, licenciamento ambiental, com realização de Estudo Prévio de Impacto Ambiental, entre outras medidas. Não é possível qualquer atividade nuclear militar. Link A sociedade de risco e o desenvolvimento sustentável: desafios à gestão ambiental no Brasil: <http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/ revistaceaju/article/view/3063>. Acesso em 22 jul. 2015. Unidade 2 • A Ordem Constitucional do Meio Ambiente68/347 Glossário Preservar: consiste no conjunto de métodos, procedimentos e políticas que visam à proteção, a longo prazo, das espécies, habitats e ecossistemas, além da manutenção dos processos ecológicos, prevenindo a degradação dos sistemas naturais (art. 2º, V, da Lei n. 9.985/2000). Restaurar: consiste na restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada o mais próximo possível de sua condição original (art. 2º, XIV, da Lei n. 9985/2000). Trata-se de uma dinâmica de restabelecimento; traduz a ideia de reencontrar a dinâmica que existia anteriormente. Processos ecológicos: consiste no conjunto de atos que tipificam os fenômenos ecológicos que sejam essenciais para a manutenção da vida e do ambiente. Processos ecológicos essenciais: visa à proteção dos processos vitais que tornam possíveis as inter-relações entre os seres vivos e o meio ambiente. Ex.: proteção das cadeias alimentares, dos ciclos das águas, do carbono, do oxigênio, do hidrogênio, do nitrogênio, dos minerais, a produção de alimentos, de energia e de materiais orgânicos, inorgânicos e sintéticos. A CF é clara no sentido de que todos os processos ecológicos de qualquer ambiente e qualquer ecossistema devem ser preservados e restaurados. Unidade 2 • A Ordem Constitucional do Meio Ambiente69/347 Glossário Manejo ecológico: consiste em todo e qualquer procedimento que vise a assegurar a conservação da diversidade biológica e dos ecossistemas (art. 2º, VIII, da Lei 9.985/2000). Utilização, administração, gerenciamento dos recursos naturais pelo homem, preservando a integridade dos ecossistemas, com redução da interferência do homem nos mecanismos de autorregulamentação dos seres vivos e do meio físico. Manejo das espécies e dos ecossistemas consiste na gestão, pelo Poder Público, da biodiversidade, ou seja, da variabilidade de organismos vivos de todas as origens. Deve ser empregado tanto sob uma perspectiva individual (envolvendo uma espécie) como sob uma perspectiva global (envolvendo todo um ecossistema). Ecossistema: é o conjunto de comunidades que vivem e interagem entre si com os fatores abióticos em uma determinada região. Questão reflexão ? para 70/305 Como você aprendeu, o Direito Constitucional Ambiental é o fundamento de validade de toda a legislação infraconstitucional. Com base nesse arcabouço constitucional ambiental e no conceito de especismo, reflita sobre a utilização de animais para fins científicos e educativos e fundamente seu entendimento sobre o assunto. 71/347 Considerações Finais » A partir a Constituição Federal de 1988, o Estado Brasileiro passou a ser caracterizado como Estado Socioambiental e Democrático de Direito, pois incorporou os valores ecológicos, os quais incidem sobre toda a legislação brasileira seja ela ambiental ou não; » Considerando que o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é direito fundamental (de 3ª dimensão – direitos difusos), ele incorpora todas as características dos direitos fundamentais com ele compatíveis, como, por exemplo, a vedação de retrocesso e a eficácia vertical e horizontal; » O art. 225 da Constituição Federal consiste na proteção direta do meio ambiente. É dividido doutrinariamente em três partes: a regra-matriz (caput do 225); os instrumentos de garantia de efetividade do caput (incisos do parágrafo 1º); as determinações particulares (demais parágrafos); » A regra-matriz e mais importante do direito ambiental é a seguinte: todos têm 72/347 direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Unidade 2 • A Ordem Constitucional do Meio Ambiente73/347 Referências ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 14ª ed. São Paulo: Atlas, 2012. MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 17ª ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Malheiros, 2009. RODRIGUES, Marcelo Abelha. Direito ambiental esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2013. SARLET. Ingo Wolfgang. Direito ambiental: introdução, fundamentos e teoria geral. Tiago Fensterseifer. São Paulo: Saraiva, 2014. SARLET. Ingo Wolfgang. Direito constitucional ambiental. Constituição, direitos fundamentais e proteção do ambiente. Tiago Fensterseifer. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013. SILVA, José Afonso. Direito Ambiental Constitucional. 10ª ed. São Paulo: Malheiros, 2013. SINGER, Peter. Libertação animal. São Paulo: Martins Fontes, 2010. THOMÉ, Romeu. Manual de direito ambiental. 4ª ed. Salvador: Juspodium, 2014. 74/347 Aula 2 - Tema: A Ordem Constitucional do Meio Ambiente – Bloco I Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- 1d/048a575818a8204f946436e193d2937c>. Aula 2 - Tema: A Ordem Constitucional do Meio Ambiente – Bloco II Disponívelem: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ e101f5fad44bf4c00cefdcb1e7de6667>. Assista a suas aulas 75/347 1. Assinale a alternativa correta acerca dos fundamentos do Direito Ambiental. a) O meio ambiente pode ter um significado de macrobem como um direito fundamental do homem, transformando-se em bem de interesse difuso, cuja proteção jurídica pertence a toda coletividade. b) O meio ambiente pode ter uma concepção de macrobem, relativamente à propriedade e a outros interesses a esta subjacentes, podendo pertencer ao setor público ou privado, inclusive à pessoa física ou jurídica. c) O macrobem, sendo direito fundamental e intercomunitário, é disponível, embora deva ser preservado para as gerações presentes e futuras, bem como para todos, na forma da Constituição. d) O macrobem ambiental é incorpóreo e imaterial e, em consequência, suscetível de apropriação exclusiva, pois divisível. e) O uso dos recursos naturais sempre deve ser gratuito. Como se trata de bem indisponível, nunca podem levar à cobrança do uso dos recursos naturais. Questão 1 76/347 2. A Constituição Federal/88 assevera que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida”. A esse respeito, é correto inferir que a concepção constitucional sobre meio ambiente é: a) holística b) panteísta c) pragmática d) antropocêntrica alargado e) antropocêntrico clássico Questão 2 77/347 3. Em decorrência de se considerar o direito ambiental como direito fundamental, goza dos atributos da: a) indisponibilidade, inalienabilidade, impenhorabilidade, irrenunciabilidade e prescritibilidade, incidindo o princípio da vedação de retrocesso. b) disponibilidade, inalienabilidade, impenhorabilidade, irrenunciabilidade e prescritibilidade, não incidindo o princípio da vedação de retrocesso. c) indisponibilidade, inalienabilidade, impenhorabilidade, irrenunciabilidade e imprescritibilidade, incidindo o princípio da vedação de retrocesso. d) indisponibilidade, inalienabilidade, impenhorabilidade, renunciabilidade e imprescritibilidade, incidindo o princípio da vedação de retrocesso. ´ e) indisponibilidade, alienabilidade, impenhorabilidade, irrenunciabilidade e prescritibilidade, incidindo o princípio da vedação de retrocesso. Questão 3 78/347 4. De acordo com as normas constitucionais e legais vigentes sobre a matéria, o EPIA apenas é obrigatório a) se houver possibilidade de significativa degradação ao meio ambiente, caso em que deverá ser dada publicidade ao Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EPIA). b) se houver possibilidade de significativa degradação ao meio ambiente, sendo opcional a publicidade do Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EPIA). c) nos casos em que as obras e atividades sejam consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, ainda que a degradação não seja significativa, devendo haver publicidade do Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EPIA). d) nos casos em que as obras e atividades sejam consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, devendo ser público o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EPIA). e) nos casos em que as obras e atividades sejam consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, cabendo ao órgão licenciador definir, discricionariamente, se o Estudo de Impacto Ambiental (EPIA) é público ou não. Questão 4 79/347 5.Assinale a alternativa correta quanto ao direito constitucional ambiental. a) não é possível a responsabilização criminal da pessoa jurídica b) o dever fundamental de proteção e defesa do meio ambiente cabe somente ao Poder Público c) a defesa e proteção do meio ambiente se fazem não somente para a presente geração, mas também para as futuras gerações d) é proibido o funcionamento de usinas nucleares e) nas atividades minerárias, dependendo do grau de impacto, poderá ser dispensada a recuperação da área degradada. Questão 5 80/347 Gabarito 1. Resposta: A. O marcobem ambiental, que corresponde ao equilíbrio ambiental, o todo, consistindo no bem ambiental é indivisível e indisponível. O equilíbrio ecológico (marcobem ambiental) é composto por elementos bióticos e abióticos (microbens ambientais) em interação. Essas partes (os microbens ambientais) são divisíveis e disponíveis, podendo haver cobrança em sua utilização. 2. Resposta: D. O art. 225 da CF tem fundamento antropocêntrico alargado, pois, embora colocando o ser humano como o centro dos interesses trata da proteção jurídica dos não humanos como valor intrínseco, como, por exemplo, no parágrafo 1º, VII, o qual veda a crueldade contra animais independentemente de existir interesse humano. 3. Resposta: C. Como o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é direito fundamental, todos os atributos deste valem para aquele, vale dizer a indisponibilidade, inalienabilidade, impenhorabilidade, irrenunciabilidade e imprescritibilidade, incidindo o princípio da vedação de retrocesso. 81/347 4. Resposta: A. O Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EPIA) é obrigatório sempre que houver possiblidade de significativo impacto ambiental da obra, atividade ou empreendimento, devendo-se, em regra, dar a ele a devida publicidade. 5. Resposta: C. A ética intergeracional impõe que a preservação e defesa do meio ambiente também se façam para as próximas gerações, conforme constou expressamente no Relatório Brundtland de 1987 (Nosso Futuro Gabarito Comum). É expressamente prevista a responsabilização criminal da pessoa jurídica. O dever fundamental de proteção e defesa do meio ambiente cabe ao Poder Público e à coletividade. É permitido o funcionamento de usinas nucleares, contudo sua localização deve ser definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas. Nas atividades minerárias, independentemente do grau de impacto, sempre será obrigatória a recuperação do meio ambiente degradado. 82/347 Unidade 3 Competências Constitucionais em Matéria Ambiental Objetivos » Entender os critérios de definição da competência constitucional ambiental; » Compreender o sistema de repartição de competências constitucionais ambientais; » Conhecer os critérios para resolução dos conflitos entre normas constitucionais ambientais; » O reconhecimento da competência legislativa concorrente do Município com base na interpretação sistemática dos arts. 18, 24, VI, VII e VIII, e 30, I e II, da CF. Unidade 3 • Competências Constitucionais em Matéria Ambiental83/347 Introdução Existem regras de competência ambiental na Constituição Federal e na legislação infraconstitucional. Contudo, a legislação que trata da competência é extremamente complexa e confusa, apta a gerar conflitos e dúvida na aplicação das respectivas normas. Esse emaranhado de normas prejudica a adequada defesa do meio ambiente, pois ante o excesso de normas a tendência não é a obtenção de mais efetividade (como por exemplo, no caso de competência atribuída a vários entes), a tendência não é todos abraçarem a competência para aplicar a legislação constitucional, mas sim é que cada ente competente espere que o outro ente cumpra sua atribuição, omitindo-se cada qual na aplicação de sua atribuição. Visando resolver essa situação, ou ao menos amenizá-la, foi editada a Lei Complementar 140/11, a qual fixa normas, nos termos dos incisos III, VI e VII do caput e do parágrafo único do art. 23 da Constituição Federal, para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis,
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