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fUNDAMENTOS DA EPIDEMIOLOGIA

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FACULDADE SEAMA/ESTÁCIO
CAMILA ABREU BATISTA
FUNDAMENTOS DA EPIDEMIOLOGIA
AMAPÁ
2019
INTRODUÇÃO
Esse trabalho visa entender como o conceito da epidemiologia foi visto durante a história, sua importância e como é utilizado.
Conceitos Básicos em Epidemiologia
1. Retrospectivas Conceituais e Históricas da Epidemiologia
No século XVII, a “epidemiologia” era o estudo das epidemias, porém na época em que surgiu esse conceito, ele era usado especificamente para doenças de natureza que afetava bastante a população da épocana.
Após terem criado diversos conceitos para epidemiologia atualmente a que é aceita é criada por John Last (2008, p. 77), que a refere como “o estudo da distribuição e dos determinantes dos estados de saúde ou eventos em populações específicas, e a aplicação deste estudo ao controle dos problemas de saúde”.
Desde então, a Epidemiologia é vista como a área de estudos que analisa as epidemias, a frequência na população, os fatores que influenciam ou determinam a mesma e dos métodos utilizados para o controle das doenças.
Assim, a Epidemiologia não é só entendida como o estudo da ocorrência de determinada doença ou estado de saúde nas populações, mas também como o estudo dos fatores que influenciam ou determinam essa distribuição e das estratégias dispendidas para o controle dos problemas de saúde.
Graças ao aprofundamento deste campo de estudo, hoje em dia há subdivisões da epidemiologia, dentre essas há uma separação de grupos por critérios classificatórios baseados em causas, população de risco e áreas de atuação, como se pode referir: Epidemiologia Hospitalar; Epidemiologia Ambiental; Epidemiologia Social; Epidemiologia Clínica; Epidemiologia Nutricional; Epidemiologia Comportamental; Epidemiologia Genética e Molecular; entre outras.
Dessa forma, a epidemiologia ampliou a sua área clássica de intervenção, deixando de lidar unicamente com doenças transmissíveis/infecciosas, mas agora permitindo também emergir as preocupações com as doenças crônicas não infecciosas e/ou degenerativas, podendo abranger, presentemente, todos os fenômenos relacionados com a saúde das populações.
Sendo considerada como a ciência da saúde pública, a epidemiologia tem contribuído para a promoção da saúde pública das comunidades através do desenvolvimento de inúmeras medidas como a implementação da vigilância epidemiológica, a investigação da distribuição das doenças e monitorização das estratégias de intervenção em saúde.
Supõe-se que os conceitos epidemiológicos e os estudos de epidemias e enfermidades tenham surgido junto com Hipócrates (a.C. 460 a 377 a.C.), que ensinava e praticava a tradição Higéica, valorizando as ações preventivistas de cunho coletivo com o propósito da obtenção do equilíbrio entre os elementos fundamentais: fogo, terra, água e ar. Ele foi o pioneiro em relacionar os males que acometiam os humanos e o meio ambiente. Hipócrates não se limitava a analisar o paciente em si, mas possuía uma visão holística demonstrando antecipadamente um raciocínio epidemiológico. Com a sua morte, seus discípulos restabeleceram a hegemonia da tradição panacéica valorizando mais as ações individuais. Galeno (201-130 a.c.), seguidor dos ensinamentos de Hipócrates levo-os para o acidente, mais precisamente para a Roma antiga. A qual deixou como legado para a epidemiologia a realização de censos periódicos e o registro compulsório de nascimentos e óbitos. Na idade média, a saúde basicamente era tratada como um caráter mágico-religioso devido a supremacia da religião católica no período, onde os cuidados eram realizados por ordens religiosas.
Nos séculos XVII e XVIII destaca-se a presença da Revolução Científica, evidenciada principalmente nos estudos de Galileu e Newton, que apresentavam mudanças profundas de mentalidade e transformação do mundo, em diversos aspetos. Nesse período, os cientistas acreditavam que o comportamento do universo físico era ordenado e expresso em leis que se baseavam em observações. Esta revolução deu suporte para as bases lógicas do pensamento epidemiológico moderno.
No século XIX, uma sucessão de acontecimentos influenciava profundamente a ciência epidemiológica. Na França, com a Revolução Francesa, desenvolveu-se uma Medicina Urbana, com a finalidade de sanear espaços das cidades, ventilando as ruas e as construções públicas e isolando áreas consideradas miasmáticas. Dava-se início um movimento pela politização da saúde, o qual Guérin cunhou como “Medicina Social”.
Na Inglaterra, em meio a revolução industrial e o deterioramento da classe trabalhadora imergiu a medicina da força trabalhadora, que se baseia na teoria social onde a doença seria o resultado da relação entre o homem e o processo de trabalho. 
O médico sanitarista Rudolf Virchow (1821-1902), após constatar que um processo epidêmico de tifo era determinado por questões de cunho social e político, liderou o movimento médico-social na Alemanha. Em 1850 foram realizados os censos e decretou-se uma reforma sanitária em que as estatísticas vitais foram usadas para apoiar deduções acerca do crescimento populacional, os padrões de saúde e de doenças, bem como das políticas de saúde. 
A era da epidemiologia das doenças infecciosas durou até à Segunda Guerra Mundial, acontecimento que marcou uma transição epidemiológica, surgindo um novo período denominado epidemiologia das doenças crônicas. Após a guerra, alteraram-se rapidamente os padrões de distribuição de determinadas doenças.
A disciplina foi crescendo de uma forma autônoma e alargou o seu âmbito das doenças infecciosas às mais diversas áreas da saúde e aos variados aspectos das doenças. Esta transição da era das doenças infecciosas para a era das doenças crônicas acompanhou-se nos anos 40-50 deste século por uma nova mudança de paradigma, conhecido como a teoria da caixa negra (black box theory: as exposições relacionam-se com as consequências sem a necessidade de factores intervenientes ou do conhecimento da patogénese) 
Surgiu então uma nova proposta, o paradigma da Eco-epidemiologia, que passou a sugerir que os determinantes das doenças estão estruturados em diferentes níveis hierárquicos ou sistemas: individual, comunidades locais, cidades e sociedades. Além disso, o modelo eco-epidemiológico considera a interrelação entre fatores genéticos e ambientais, além da análise de exposições a diferentes fatores de risco ao longo da vida, incluindo os determinantes sociais da saúde, que foi denominada de epidemiologia do curso de vida.
No Brasil, com a evolução da epidemiologia, no século XX, houve marcos históricos tais como: a descoberta do protozoário Trypanosoma cruzi, causador da tripanossomíase, por Carlos Chagas em 1909, levando à denominação posterior de Doença de Chagas; as campanhas de erradicação da varíola na década de 60 e da poliomielite na década de 70.
1.2 - Saúde e Doença
O conceito de saúde acompanha a história da humanidade começando a milhares de anos e se estendendo até os dias atuais. A Organização Mundial da Saúde (OMS), define saúde como uma condição de bem-estar biopsicossocial.
História Natural das Doenças.
Período Pré-Patogênico: ocorre previamente à instalação do agente patogênico; Ausência da doença; Medidas de Atenção Primária à saúde. 
Período Patogênico: momento em que o agente patogênico instalou-se; Presença da doença. 
Período Pós-Patogênico: momento após a instalação do agente patogênico; Presença ou ausência de incapacidades ou invalidez conforme a doença que se instalou. 
Níveis de Atenção Primária à Saúde
Realizada no período pré - patogênico. Compreende aplicação de medidas dirigidas a determinado agravo à saúde. 
Objetivos:
• Promoção da saúde e prevenção de doenças; 
• Interceptar as causas patológicas antes mesmo que atinjam o indivíduo. 
 
Exemplos de medidas de proteção específica:Imunização, quimioprofilaxia para certas doenças, proteção contra acidentes, controle de vetores, aconselhamento genético, o autocuidado em saúde (alimentação adequada, prática regular de exercícios físicos, higiene). 
Atenção Secundária à Saúde 
Realizada no indivíduo sob ação do agente patogênico, isto é, quando o período pré-patogênico já foi ultrapassado e o processo patológico foi desencadeado. 
As medidas preventivas nesse nível incluem: Diagnóstico precoce, tratamento imediato e limitação da incapacidade. 
Atenção Terciária à saúde 
Corresponde às medidas adotadas após as consequências da doença, representadas pela instalação de deficiências funcionais.
Objetivo: Consiste em alcançar a recuperação total ou parcial, através dos processos de reabilitação e de aproveitamento da capacidade funcional remanescente.
 
As medidas mais utilizadas nesse nível são: A prática de exercício físico realizado através dos profissionais de educação física e fisioterapia, a reeducação alimentar, a terapia ocupacional e a readaptação à vida normal. Paradigmas Explicativos dos Modelos Saúde-Doença no Âmbito das Sociedades 
1.3 – Causalidade e inferência casual
A causalidade foi trabalhada na epidemiologia, a partir da busca da causa verdadeira e específica da doença. Essa abordagem ganhou legitimidade com a identificação de agentes específicos responsáveis pela transmissão de doenças infecciosas. No entanto, a partir da necessidade de contornar a "ignorância" a respeito dos processos causais das chamadas doenças não transmissíveis ou crônico-degenerativas, o tratamento conceitual e metodológico da causalidade deslocou-se para a quantificação do risco. A busca da identificação de fatores de risco numa rede de múltiplas causas ampliou o desenvolvimento metodológico da epidemiologia.
Esse processo vem ocorrendo através de uma crescente utilização de recursos estatísticos cada vez mais sofisticados. O conceito de risco e suas implicações na epidemiologia têm sido estudados por vários autores. As questões debatidas, em geral, são as reduções que se operam ao separar-se da realidade complexa e mutável, cadeias causais independentes quantificadas através de relações lineares.
1.4 – Medidas de ocorrência de doenças
De acordo com Rouquayrol (1999), indicadores são parâmetros utilizados internacionalmente com o objetivo de avaliar, sob o ponto de vista sanitário, a higidez de agregados humanos, bem como fornecer subsídios aos planejamentos de saúde, permitindo o acompanhamento das flutuações e tendências históricas do padrão sanitário de diferentes coletividades consideradas à mesma época ou da mesma coletividade em diversos períodos de tempo. Segundo o documento, Indicadores básicos de saúde no Brasil: análise do período 1996 a 1999, o grau de excelência de um indicador deve ser definido por sua validade (capacidade de medir o que se pretende) e confiabilidade (reproduzir os mesmos resultados quando aplicado em condições similares). Outros atributos de qualidade de um indicador são sua mensurabilidade (basear-se em dados disponíveis ou fáceis de conseguir), relevância (responder a prioridades de saúde) e custo-efetividade (os resultados justificam o investimento de tempo e recursos).
Os indicadores são apresentados como: 
Indicadores de Morbidade e fatores de risco; 
Indicadores de Mortalidade; 
Indicadores Demográficos; 
Indicadores Socioeconômicos;
Componentes de uma cadeia de transmissão de doenças:
Agente casual: agente responsável pela infecção. Penetra, aloja-se e multiplica-se no hospedeiro. No caso de doenças não infecciosas e muitos fatores de riscos, o agente infeccioso é de natureza inanimada (abiótico): radiações, poluentes químicos do ar, da água, do solo e dos alimentos, drogas, álcool, fumo e outros.
Reservatório – é um animal ou local que mantém um agente infeccioso na natureza.
Porta de saída do agente – é o caminho pelo qual um agente infeccioso sai do seu hospedeiro.
As seguintes portas de saída seriam: respiratória, geniturinária, digestiva, pele, e placentária.
Modo de transmissão – é a forma em que o agente infeccioso se transporta. Pode ser de maneira direta através do contato pessoa-pessoa (por vias aéreas, de contato pele a pele, ou por via sanguínea) ou de maneira indireta mediante veículos tais como objetos ou materiais contaminados, e vetores apresentados na forma de insetos.
Características do Hospedeiro: o hospedeiro pode ser considerado como todo e qualquer ser vivo que tenha um agente em seu organismo, ou ainda o or- ganismo que propicia alimento ou abrigo a organismo de outra espécie. 
São conhecidos três tipos de hospedeiros:
Hospedeiro definitivo: é aquele onde o parasita atinge a maturidade, reproduzindo-se de forma sexuada.
Hospedeiro intermediário: é o hospedeiro, no qual o parasito desen- volve suas formas imaturas ou, para alguns, se reproduz assexuadamente.
2.0 – Epidemiologia descritiva: distribuição das doenças no espaço e no tempo
A epidemiologia descritiva estuda o comportamento das doenças em uma comunidade, em função de variáveis ligadas ao tempo (quando), ao espaço físico ou lugar (onde) e à pessoa (quem).
O seu objetivo é responder onde, quando e sobre quem ocorre determinado problema de saúde, fornecendo elementos importantes para se decidir quais medidas de prevenção e controle são mais indicadas, além de avaliar se as estratégias utilizadas diminuiram ou controlaram a ocorrência de determinada doença.
Quem?
- Características pessoais: idade, sexo, raça, condição econômica.
Onde?
- Analisa a probabilidade de haver padrões espaciais na distribuição de doenças.
- Velocidade da ocorrência
- Evolução temporal pode predizer sua ocorrência futura
Epidemiologia das doenças infecciosas: 
Presença de um agente infeccioso 
A perpetuação do agente necessita da contínua transmissão de um hospedeiro infectante a um hospedeiro suscetível 
Ocorrência da doença em um indivíduo depende da ocorrência nos outros membros da população
 
3.0 – Indicadores de saúde
Após os cuidados a serem observados quanto à qualidade e cobertura dos dados de saúde, é preciso transformar esses dados em indicadores que possam servir para comparar o observado em determinado local com o observado em outros locais ou com o observado em diferentes tempos. Portanto, a construção de indicadores de saúde é necessária para:
• analisar a situação atual de saúde;
• fazer comparações;
• avaliar mudanças ao longo do tempo.
Conclusão
A epidemiologia é uma área de estudos que está evoluindo junto com a humanidade e seus avanços. É essencial para entender todos os fatores causadores de doenças.

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