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Chomsky para Entender o Poder

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Para Entender o Poder – Understanding Power
Noam Chomsky
Os eletracas que prestaram atenção à aula de fundamentos de engeharia de computação 
devem se lembrar (ou não) da hierarquia de Chomsky. Essa teoria aplicada às linguagens de 
computação é na verdade uma teoria geral de linguistica formulada por Avram Noam Chomsky, 
professor do MIT (Mass... Institute of Tecnology), um dos mais brilhantes intelectuais vivos 
atualmente que desenvolveu outras teorias que revolucionaram os estudos no domínio da linguística 
teórica.
Mas Chomsky não é apenas linguística, é antes um pensador dentro da linha anarquista­
libertária e ativista político que constantemente tem se oposto às políticas de Washington.
Um de seus livros políticos, Para Entender o Poder, é uma compilação de algumas de suas 
palestras, que realiza constantemente, organizada por dois jornalistas.
 Um dos fatos mais diferenciam o discurso de Chomsky dos intelectuais tradicionais de áreas 
como política e sociologia, é a simplicidade com que ele expõe o óbvio que vai contra o que é 
exposto na grande mídia e aceito pela maioria da população. Na verdade isso se deve porque ele está 
constantemente através de fontes variadas, como jornais de todo mundo, além de fontes originais, 
como os próprios arquivos do pentágono, que liberam segredos de estado após algumas décadas 
passadas do acontecido.
Dessa forma podemos testemunhar denúncias contra a hipocrisia da nação mais poderosa do 
planeta, que é capaz de juntamente com poucos comparsas, como Inglaterra e Israel, votar contra o 
resto do mundo na assembléia da ONU quando o assunto é proliferação de armas nucleares, e antes 
que você entenda errado, os EUA foram contra a não­proliferação de armas nucleares. 
Outra denûncia constante é o contrasenso dos grandes defensores morais da liberdade em 
tomar medidas autoritárias como a Lei de Sedição feita em 1798 e revogada somente em 1964, que 
poibia críticas escritas ou faladas ao Congresso ou ao presidente. Outro fato marcante relativo a esta 
questão é todo o bafafá provocado pelo escândalo de Watergate, quando pessoas ligadas ao partido 
republicano invadiram um escrtório do partido democrata e se apoderaram de alguns documentos. 
Ora, até hoje isso é tido como um dos maiores trunfos do jornalismo investigativo e a celebração da 
mídia denunciadora dos excessos ocorridos nos bastidores do poder, mas o que Chomsky revela é 
que essa visão é totalmente falsa, uma vez que na mesma época de Watergate havia casos como a 
total destruição de escritórios do partido comunista, que existia até então, planejada e executada por 
agente oficiais.
Um ponto central na visão de mundo de Chomsky é encarar as coorporações como 
organizações fascistas que não tem o direito natural de existirem e que são uma ameça à experiência 
democrática quando se apoderam do poder político, como já havia advertido o patriarca da 
indpendência Thomas Jefferson. Um esclarecimento importante é a forma como o sistema incorpora 
as pessoas que tme os valores corretos para mantes estas instituições funcionando. Isso quer dizer 
que se algum importante empresário resolver ser “bonzinho”, e se preocupar com algo além do 
lucro imediato de amanhã, ele simplesmete estará fora da jogada. Exemplo prático disto podemos 
citar donos de empresas que são postos fora de cenas por acionistas descontentes que julgam não 
estar tendo lucro suficiente com suas ações.
Mas ao mesmo tempo em que há toda essa crítica profunda existente ao sistema de poder, há 
também espaços reservados para crítica à esquerda tradicional, que se apega ao marxismo de uma 
forma canônica, quase religiosa. Além disso também insiste na visão de que o regima vigente na 
União Soviética não era um socialismo, mas antes um capitalismo fortemente controla pelo Estado 
(embora também alegue que a ecnonomia norte­americana é controlado pelo governo), e mais: 
Comsky defende a tese de que após uma revolução popular na Rússia, os bolcheviques (partido 
comunista de Lênin) tomaram o poder e rapidamente acabaram com as experiências socialista, que 
consistiam em assembléias populares e os próprio sovietes.
Para quem já teve contatos com obras como os documentários de Michel Moore, esta será 
certamente uma deliciosa leitura, e de qualquer forma muito proveitosa para qualquer pessoa que se 
preocupe em entender o mundo de uma forma mais crítica, sem o miopismo constante da mídia 
dominante (acreditem, a norte americana é ainda pior que a brasileira neste quisito!) ou sem a visão 
condiciona dos tradicionais grupos de esquerda, cheio de chavões e desprovida de crítica real, no 
sentido em usar as mesmas fórmulas de sempre para todos os casos, sem a devida reflexão sobre o 
que quer que seja preciso.
Sem tempo para ler o livro? Pois bem... fiz questão de disponibilizar na minha página do 
Stoa um arquivo com algumas frases que fui destacando conforme a leitura do livro. Estes trechos 
constituem, na minha opnião, os trechos mais marcantes e reveladores de todos o livro, que po si só 
já valem a pena serem lidas e retransmitidas, com direito inclusive de comentários sobre o Brasil!
Leonardo Leite
3o ano, Comp
Citações
Foi só em 1964 que a Suprema corte revogou a Lei de Sedição de 1798 [que proibia críticas faladas 
ou por escrito ao governo, ao congresso ou ao presidente].
Falando sobre o GATT [acordo comercial tipo NAFTA]:
Vão aumentar a duração das patentes. Em outras palavras, se o Merck bola um meio de criar uma 
droga, o processo para fabricar a droga é patenteado, mas não a própria droga; mas agora, o produto 
é que será patenteado, o que quer dizer que outras indústrias farmacêuticas não podem nem mais 
tentar bolar um meio mais inteligente de produzir a mesma droga pela metade do custo. Essas não 
são apenas medidas altamente protecionistas, são um golpe contra a eficiência econômica e o 
progresso tecnológico – isso simplesmente lhes mostra quanto “livre comércio” existe realmente 
envolvido em tudo isso.
A distribuição de riqueza em um país de primeiro mundo, como os EUA, sempre diferirá 
significativamente da distribuição de um país profundamente empobrecido, como o Brasil, por 
exemplo (profundamente empobrecido por estar há séculos subjugado pelo Ocidente).
E 1993, a OMS (Organização Mundial de Saúde) requereu à Corte Internacional de Justiça que 
ponderasse sobre a legalidade do uso de armas nucleares. EUA e UK ficaram completamente 
furiosos, uma vez que era os principais produtores, vendedores e possuidores de armas nucleares. 
O genocídio em Timor Leste, as potências ocidentais podem apoiar, mas o endosse de uma 
requisição de opinião sobre a legalidade das armas nucleares é uma atrocidade que simplesmente 
não podemos tolerar.
O Direito Internacional só funcionará se as potências a ele sujeitas estiverem dispostas a aceita­lo, e 
os EUA não estão dispostos a isso. Se a Corte Internacional de Justiça os condenar e eles 
simplesmente desconsiderar “não é um problema deles – porque eles estão acima da lei, eles são 
Estado fora­da­lei”.
As pessoas que especulam sobre moedas têm medo de inflação  ­ porque ela reduz o valor de seu 
dinheiro; portanto, é uma grande ameaça para eles. E qualquer tipo de crescimento, qualquer 
estímulo à economia, qualquer declínio de desemprego, tudo isso ameaça aumentar a inflação.
Eu acho que os EUA estiveram por alguns anos em um tipo de estado de ânimo pré­fascista – e 
tivemos muita sorte de cada líder que apareceu ter sido um pilantra. Vejam, as pessoa deveriam 
sempre ser muito favoráveis à corrupção – não, não estou de brincadeira. A corrupção é uma coisa 
muito boa, porque solapa o poder. Isto é, se nos aparecer algum Jim Bakker – vocês sabem, o tal 
pregador que foi pego dormindo com todo mundo e defraldando seus seguidores – estes sujeitos são 
ótimos: só o que eles querem é dinheiro, sexo e depenar as pessoas, então nunca vão causar muito 
problema.Ou, digamos, peguem Nixon: um rematado scrokue, que em última análise não irá causar 
nem tanto problema assim, mas se aparecer alguém que seja um tipo assim, meio Hitler – só quer 
poder, não corrupção, faz tudo para ser uma beleza, e diz: “Nós queremos poder”, bem, então 
estaremos todos em uma encrenca muito feita. Ora, ainda não tivemos a pessoa certa nos EUA, 
porém mais cedo ou mais tarde, alguém vai preencher essa posição – e, então, seá altamente 
perigoso.
E você  sabe, sou do MIT; portanto, estou sempre conversando com cientistas que trabalham em 
mísseis para o pentágono.
Se você examinar o período da Guerra da Independência, descobrirá que os líderes da Guerra da 
Independência, como Thomas Jefferson (que é encarado como grande defensor da liberdade e com 
algum motivo), diziam que as pessoas deviam ser castigadas se fossem, em suas palavras, ¨traidoras 
no pensamento, mas não nos atos¨.
Bem, pelos princípios do juramento de Nuremberg, cada um dos presidentes americanos,  desde 
então, deveria ter sido enforcado.
Olhem o Brasil: potencialmente, um país extremamente rico, com tremendos recursos naturais, só 
que teve a maldição de ser parte do sistema ocidental de subordinação. Portanto, no NE do Brasil, 
por  exemplo,  que  é  uma área  bastante   fértil,   com muita   terra   rica,   só  que  é   tudo  tomado por 
fazendas ou plantações coloniais, os médicos pesquisadores brasileiros hoje identificam a população 
como uma nova espécie, com cerca de 40% do volume cerebral dos seres humanos, resultado de 
gerações de profunda desnutrição e profundo abandono. 
Na Coréia do Sul, eles têm pena de morte para remessa de capitais.
Qualquer Estado tem um inimigo básico: sua própria população.
A Assembléia Geral da ONU passou uma decisão, pedindo a abolição de todas as armas no espaço 
cósmico: o ¨Guerra nas Estrelas¨ ­ foi aprovado por 154 a 1, os EUA foram esse 1. Passou uma 
decisão contra o desenvolvimento de novas armas de destruição em massa; foi 135 a 1. Fizeram 
passar uma pedindo uma interrupção de testes nucleares, foi 137 a 3 (EUA, Inglaterra e França).
A Revolução dos Bichos (Animal Farm) é uma sátira ao totalitarismo soviético, obviamente, e é um 
livro muito famoso que todo mundo lê. Mas o que as pessoas geralmente não lêem é sua introdução, 
que fala sobre censura na Inglaterra – e o principal motivo pelo qual não lêem esta introdução é que 
ela foi censurada, numa boa; simplesmente não foi publicada com o livro.
A história de violação de tratados pelos EUA é  simplesmente grotesca:  tratados com as nações 
indígenas, pela lei, tem um status semelhante ao de tratados entre os Estados soberanos, mas ao 
longo de nossa história, ninguém deu a eles a mínima atenção – assim que se queria mais terra, 
simplesmente esqueciam­se os tratados e roubava a terra que se queria.
Num parque nacional nos deparamos com uma lápide que diz: ¨Aqui jaz um índia Wampanoag, cuja 
família e cuja tribo se sacrificaram, a si mesmos e a sua terra, para que esta grande nação pudesse 
nascer   e   crescer¨.   Tudo   bem   ¨se   sacrificar   a   si  mesmo   e   a   sua   terra¨   ­   na   verdade,   foram 
massacrados, dispersados e roubamos a terra deles e é em cima disto que nós estamos. Não pode 
haver nada mais ilegítimo: a história toda deste país é ilegítima.
A literatura latino­americana é uma das mais férteis do mundo mesmo com os seus povos estando 
entre os mais pobres do mundo. 
Suponho que  fizéssemos  uma pergunta   racional  ao   invés  de  perguntar  uma  insanidade do  tipo 
¨como saiu­se a União Soviética em comparação com a Europa Ocidental¨. Se quisermos avaliar 
modos alternativos de desenvolvimento econômico, o que deveríamos perguntar é como se saíram 
sociedades  que eram como a  URSS em 1910,  comparadas  a  ela  em 1990? O Brasil  seria  uma 
comparação razoável, considere ainda que o Brasil teria todas as condições para se tornar um país 
super rico, enquanto a URSS sofreu perdas imensas, como nas duas guerras mundiais. Mas há um 
bom motivo porque ninguém faz essa comparação e só fazemos comparações idiotas – porque se 
compararmos o Brasil e a Rússia, chegaríamos a respostas indesejáveis. De fato, para provavelmente 
80% da população brasileira, a Rússia soviética teria parecido um céu. Atualmente na Rússia, os 
partidos comunistas estão conseguindo votos, mas não é  uma questão de nostalgia como dizem 
algumas   pessoas   aqui.   Eles   podem   ver  muito   bem   o   que   vem   pela   frente,   a   saber:  Brasil   e 
Guatemala e, por pior que o sistema deles fosse, isso é pior. Muito pior.
Os ataques contra o povo muçulmano não são simplesmente por serem muçulmanos, são porque 
eles não estão suficientemente sob controle. Peguemos o exemplo da chamada “opção preferencial 
dos pobres”, política da Igreja Católica na América Latina, que se tornou principal alvo dos ataques 
americanos na América Central, porque houve uma mudança radical e muito consciente em setores 
importantes da Igreja,  a  qual  reconheceu que por  centenas  de anos,   foi  uma igreja  dos ricos  e 
opressores e de repente resolveu finalmente virar uma igreja dedicada em parte à libertação dos 
pobres – viram­se imediatamente sob ataque, como por exemplo no assassinato do arcebispo em 
1980 e seis intelectuais jesuítas em 1989 em El Salvador.
A Argentina estava então sendo governada por aqueles generais neonazistas e mandaram­me um 
exemplar de ¨La Prensa¨, o maior jornal da Argentina – e trazia um artigo enorme dizendo: ¨não se 
deve ler a obra lingüística deste sujeito, porque é marxista e subversiva¨. Na mesma semana recebi 
um artigo do Izvestia, da URSS, que dizia: ¨não se deve ler a obra lingüística deste sujeito, porque 
ele é idealista e contra­revolucionário¨; achei essa muito boa.
Ao contrário de sua versão contemporânea, o liberalismo clássico (o qual era pré­capitalista e, de 
fato, anti­capitalista) concentrava­se no direito das pessoas controlarem seu próprio trabalho, na 
necessidade  de  um  trabalho   criativo,   livre   e   sob   seu  próprio   controle.  Então,   para   um  liberal 
clássico, o trabalho assalariado sobre o capitalismo seria considerado totalmente imoral, porque ele 
frustra a necessidade fundamental das pessoas controlarem seu próprio trabalho: você é escravo de 
alguém.
Como autêntico liberal clássico, Adam Smith opunha­se fortemente a toda essa idiotice que hoje se 
diz em seu nome.
O anarcosindicalismo é uma forma de socialismo libertário que foi praticada por um breve período 
em  regiões  da  Espanha,  durante   sua   revolução  e  guerra   civil  de  1936,   até   ser  destruída  pelos 
esforços simultâneos da URSS, das potências ocidentais e dos fascistas. 
Nos   estágios   que   levaram   até   o   golpe   Bolchevique,   em   outubro   de   1917,   havia   incipientes 
instituições socialistas em desenvolvimento na Rússia – conselhos operários, organizações coletivas, 
coisas assim [isto é, depois que uma revolução popular primeiro derrubou o czar, em fevereiro de 
1917]. E elas, em certa medida, sobreviveram quando os bolcheviques tomaram o poder – mas não 
por muito tempo; Lênin e Trotsky as eliminaram em boa parte a medida em que foram consolidando 
seu  poder.   Isto  é,   pode­se  discutir   sobre   a   justificativa  para   eliminá­las,  mas  o   fato  é   que   as 
iniciativas socialistas foram eliminadas rapidamente.
Na verdade, em meu ponto de vista, esta é, exatamente, a analogia certa: noções como marxismo e 
freudianismo pertencem à história da religião organizada, isto é, assim que se estabelece a idéia de 
¨marxismo¨, ¨freudianismo¨, ou algo do gênero, já se abandonou o racionalismo.
Não há nada sobre  socialismo e Marx, ele não era um filósofo socialista – há por volta de umas 5 
frases em toda obra de Marx que se referem ao socialismo. Ele foi um teórico do capitalismo. Acho 
que ele, pelo menos, introduziu algunsconceitos interessantes, os quais qualquer pessoa sensível 
deveria dominar e empregar; noções como classe e relações de produção...
Quando eu olho para uma página de eletrodinâmica quântica, não entendo uma palavra, mas sei o 
que teria que fazer para entender e acho que conseguiria – já entendi outras coisas complicadas. Eu 
poderia   fazer  essa disciplina e estudar  os  primeiros princípios,  até  que eu pudesse chegar  para 
alguém do departamento de física e essa pessoa poderia adaptar o tal negócio para o meu nível e me 
explicar como fazer para ir mais adiante. Por outro lado, quando olho para uma página de filosofia 
marxista ou teoria literária,  tenho a sensação de que poderia ficar olhando aquilo pelo resto da 
minha vida sem jamais entender – e nem sei como proceder para chegar a entender um pouco 
melhor.
Nas ciências, pelo menos, as pessoas têm que ser educadas para a criatividade e a desobediências – 
porque não há outro meio com o qual se possa fazer ciência. Mas nas humanidades, nas ciências 
sociais e em campos como jornalismo e economia, e assim por diante, isso é muito menos verdade – 
as  pessoas   têm que  ser  educadas  para   serem gerentes   e   controladoras,  aceitar   as   coisas   e  não 
questionar demais

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