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Conjuntura Econômica - Inflação

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Aula 3 – Inflação
 Apesar de a inflação ser um dos principais problemas da macroeconomia, seu combate pode significar um aumento na taxa de desemprego e a diminuição no crescimento econômico, o que aumenta o desafio desses profissionais.
 Segundo Sandroni, inflação é o aumento persistente dos preços em geral, de que resulta uma contínua perda do poder aquisitivo da moeda. O autor deixa claro que esse aumento no índice de preços deve ser generalizado e contínuo, ou seja, os movimentos inflacionários não podem ser confundidos com altas ocasionais de preços, em função de fatores sazonais ou outros que acontecem em períodos limitados.
 Outro autor, Lanzana destaca que a inflação:
 - é um processo e não um fato isolado;
 - envolve aumentos contínuos e não esporádicos de preços;
 - diz respeito a aumentos generalizados de preços e não isolados.
 De um modo geral, não se pode padronizar as fontes que ocasionam a ocorrência de um processo inflacionário em um pais. Isso vai depender das condições do momento econômico e de outros fatores que envolvem:
 O tipo de estrutura de mercado que condiciona a capacidades dos vários setores repassarem aumentos de custos aos preços dos produtos;
 O grau de abertura da economia ao comércio exterior – quanto mais aberta a economia à competição externa, maior a concorrência interna entre fabricantes e menores os preços dos produtos;
 A estrutura das organizações trabalhistas – quanto maior o poder de barganha dos sindicatos, maior a capacidade de obter reajustes salariais acima dos índices de produtividades e maior a pressão sobre os preços.
 É fundamental, porém, estabelecer a diferença entre inflação e alta de preços decorrente de ajuste de mercado.
 - Inflação: Alta persistente e generalizada dos preços na economia. A alta dos preços deve ser generalizada, ou seja, todos os produtos da economia devem sofrer acréscimos em seus preços;
 - Ajuste de Mercado: Apenas alguns dos bens e serviços produzidos na economia apresentam elevações de preços, enquanto outros apresentam redução. O ajuste dos respectivos mercados ocorre em virtude de alterações da demanda ou da oferta.
 São diversos os efeitos da inflação na economia do país: efeitos sobre a distribuição de renda; sobre a balança de pagamentos; sobre o mercado de capitais; etc.
 Efeitos da inflação sobre a distribuição de renda
 O processo inflacionário, especialmente aquele caracterizado por elevadas taxas, promove profundas distorções na estrutura produtiva de um país como, por exemplo, a diminuição relativa do poder aquisitivo das pessoas.
 Esse efeito ocorre principalmente nas classes de assalariados cujos rendimentos são fixos e tem reajustes estabelecidos por meio da política salarial instituída pelo governo. Assim, quanto maior for o intervalo de reajuste, maior é a redução do seu poder de compra. 
 Como os empresários podem reajustar os preços de venda de seus produtos e, consequentemente, seus lucros, eles tem melhores condições de se proteger do efeito danoso da inflação.
 Efeitos da inflação sobre a balança de pagamentos
 Balança de pagamentos é o registro de todas as transações que um país realiza com outros do mundo. Mede o fluxo global das exportações de bens e serviços e as importações que o país realiza.
 Um país que tenha inflação significativamente maior do que a dos seus parceiros poderá ter seus fluxos de comércio exterior seriamente prejudicados, pois a elevação contínua dos preços internos diminui a competitividade e o volume das exportações.
 A diminuição das exportações e o aumento das importações geram um déficit nas relação externas do país que podem comprometer suas políticas públicas.
 Efeitos da inflação sobre o mercado de capitais
 Em um processo inflacionário intenso, o valor da moeda se deteriora rapidamente e ocorre um desestímulo à aplicação de recursos no mercado de capitais financeiros. A inflação, por outro lado, estimula a aplicação de recursos em bens de raiz, como terrar e imóveis, que costumam se valorizar.
 No Brasil, essa distorção foi bastante minimizada pela instituição da correção monetária, pelo qual alguns papeis passaram a ser reajustados (ou indexados) por índices que refletem aproximadamente o crescimento da inflação.
 Quando a inflação está em alta, porém, isso contribui para que ocorra um desvio de recursos de investimentos no setor produtivo, para aplicação no mercado financeiro.
 Outros efeitos da inflação
 Efeitos sobre as expectativas do futuro: O setor empresarial é, particularmente, bastante sensível a esse tipo de situação, dada a relativa instabilidade e imprevisibilidade de seus lucros. O empresário fica num compasso de espera. Enquanto a conjuntura inflacionária perdurra, ele dificilmente aumentará seus investimentos na expansão da capacidade produtiva. Assim, a produção futura e, consequentemente, o nível de emprego podem ser afetados pelo processo inflacionário.
 Embora os trabalhadores sejam os maiores prejudicados, as perdas salariais farão com que os capitalistas também percam, porque venderão menos, além do governo, que, com as quedas de renda dos trabalhadores e das vendas, terá a arrecadação de impostos reduzida.
 Efeitos no âmbito do poder público: As altas taxas de inflação tem forte influência sobre as finanças públicas. De acordo com o chamado Efeito Oliveira Tanzi, a inflação tende a diminuir o valor real da arrecadação fiscal do governo, pelo hiato de tempo existente entre o fato gerador e o recolhimento efetivo do imposto. Nesse caso, quanto maior a inflação, menor a arrecadação real do governo.
 Inflação é um termo bem conhecido, pois aparece, com frequência, em todo tipo de mídia. Mas, você sabia que existem diferentes tipos de inflação?
 Os economistas falam de inflação de demanda, de custos, inercial e de lucros. Essa diferenciação, porém, se dá apenas no plano teórico, pois, na realidade, ocorre um entrelaçamento variado entre todos esses tipos de inflação.
 Inflação de demanda
 Essa inflação refere-se ao excesso de demanda em relação à produção e oferta de bens e serviços na economia. Ocorre quando a economia está próxima de sua capacidade máxima, ou seja, não pode aumentar substancialmente a oferta de bens e serviços em curto prazo para acompanhar o crescimento da demanda. É considerado o tipo mais clássico de inflação.
 Normalmente, a inflação de demanda tem a sua origem em três fatores:
 - Aumento da renda disponível em decorrência de reajustes salariais ou de redução de carga tributária. Isso ocasiona um aumento no poder aquisitivo e pressiona o consumo para níveis maiores do que a capacidade de expansão da produção, gerando um desequilíbrio no mercado e induzindo os preços a se elevarem;
 - Expansão do crédito ao consumidor que, mesmo com limitações na sua renda disponível, passa a dispor de um mecanismo de compra;
 - Diminuição das taxas de juros, que impulsiona as compras, principalmente a prazo, o que estimula a inflação.
 Inflação de custos
 Esse tipo de inflação ocorre quando o nível de demanda permanece o mesmo, mas aumenta o custo dos fatores de produção: trabalho, recursos naturais e capital.
 As principais causas da inflação de custos, também conhecida como inflação de oferta, são:
 - Aumento do custo da mão de obra;
 - Aumento do custo das matérias-primas e matérias secundários;
 - Aumento da taxa de juros (que ocorre quando as empresas utilizam capital de terceiros sobre o qual pagam remuneração);
 - Aumento da carga tributária.
 Inflação inercial
 A inflação inercial ocorre em função da indexação da economia, portanto, de forma independente das pressões de demanda ou de custos. Um dos grandes responsáveis é a indexação da economia. Os salários dos trabalhadores, os aluguéis de imóveis, a taxa de cambio da economia, o capital emprestado pelo poupador, os títulos da dívida pública emitidos pelo Governo, entre outros, são reajustados periodicamente com base na inflação passada.
 Assim, a indexação acaba perpetuando a inflação:os agentes econômicos criam expectativas acerca do nível dos preços e sempre tenderão a reajustar os rendimentos pela inflação passada, impedindo que essa taxa venha a cair no futuro.
 Inflação de lucros
 Neste tipo de inflação, é importante considerar a inserção da empresa no mercado. Aquelas que tem força de mercado podem elevar o preço de suas mercadorias sem enfrentar maiores obstáculos, pois possuem o poder de estabelecer preços (principalmente nos casos dos monopólios e oligopólios).
 Caso exista um grande número de empresas com essas características, surgem os chamados cartéis econômicos em que as empresas entram em acordo para a elevação conjunta dos preços, com o intuito deliberado de aumentar a taxa de lucro.
 Como você viu até aqui, com a inflação, todos perdem: trabalhadores (perdas salariais, desemprego); capitalistas (perdas nos lucros, diminuição das vendas); e o governo (redução na arrecadação dos impostos devido à queda de renda dos trabalhadores e das vendas).
 O crescimento econômico é inversamente proporcional à inflação, ou seja, à medida que a inflação aumenta, ocorre uma desaceleração do crescimento econômico e vice-versa. Uma inflação baixa estimula a estabilidade no setor financeiro e a combinação dos dois promove o crescimento.
 Com o aumento nos preços das principais commodities agrícolas e do petróleo no mercado internacional, porém, há expectativa em relação ao retorno da inflação a patamares indesejáveis, o que poderá ocasionar desaceleração no desempenho da economia brasileira para os próximos anos. Essa discussão é muito importante e muito rica na história econômica do Brasil.
 De acordo com Wood, a inflação afeta o crescimento de três maneiras:
 - Quando a inflação passa a ser alta, cresce junto à opinião pública a impopularidade do governo – se o país é uma democracia – e da elite rica – no poder em países não democráticos. Em ambos os casos, os governantes tentam deter a inflação promovendo um aperto monetário, provocando pelo menos um desaquecimento econômico e, possivelmente, uma recessão. Essa perspectiva se constitui em obstáculo aos investimentos, o que compromete o crescimento;
 - A inflação gera confusão em torno do significado das variações nos preços. A mudança de preço de uma mercadoria em relação a outras, ou seja, uma alteração de preços relativos, afeta a alocação de recursos. Se o preço de uma mercadoria sobe em relação ao de uma mercadoria substituta, então, os consumidores provavelmente comprarão a alternativa mais barata, ao passo que os produtores incrementarão a produção da mercadoria cujo preço aumentou. Os consumidores gastam suas rendas de modo a maximizar seu bem-estar, ao passo que os produtores buscam aumentar a eficiência com que empregam seus recursos. Essas ações conjuntas melhoram a economia e o bem-estar das pessoas que vivem e trabalham nelas;
 - Inflação baixa estimula a estabilidade financeira. A estabilidade financeira, por sua vez, estimula o crescimento. Se as instituições financeiras ficam vulneráveis ou perdem sua vitalidade, não funcionam bem na transmissão de capital de poupadores para investidores. Com isso, não se concretizam muitos investimentos em projetos perfeitamente viáveis e o crescimento deixa de acontecer.
 Quando sobe o nível geral de preços, a maior parte da população perde muito dinheiro e a diminuição do poder de compra dos seus ativos provoca retrações nos negócios que são realizados na economia. Mesmo os investidores perdem, pois praticamente não conseguem fazer com que seus lucros sejam suficientes para honrar todos os compromissos como, por exemplo, os empréstimos bancários e os salários de seus funcionários, que precisam ser aumentados para que estes possam adquirir produtos que o próprio empresário coloca à disposição no mercado.
 Além disso, a inflação provoca efeitos nocivos sobre a arrecadação pública, o balando de pagamentos e a distribuição de renda e, portanto, provoca distorções em todos os setores produtivos, pois prejudica o funcionamento de inter-relações entre os agentes econômicos – famílias, empresas, governo e resto do mundo.
 As dificuldades de interação entre esses agentes provocam distorções sobre a demanda e oferta da economia, levando a uma diminuição nos negócios realizados e uma paralisação na atividade econômica, desestimulando o crescimento. Com inflação em alta e lucros menores, certamente, os empresários vão ofertar menores postos de trabalho, gerando desemprego. As pressões sobre o governo também serão maiores e este, ao invés de investir em uma política de desenvolvimento nacional, terá que se preocupar com programas emergenciais e assistenciais. Assim, todos perdem com a inflação.
 Se as medidas de combate, muitas vezes, são dolorosas, o seu descontrole significa a morte do paciente, pois, no Brasil, quem mais perde com a inflação é a classe trabalhadora, que depende, basicamente, de um salário mínimo. Incluem-se aqui, também, os trabalhadores informais, que, invariavelmente, nem chegam a este patamar. E isso vale para qualquer país do mundo, não só para o Brasil.
 Muitos foram os fenômenos que assolaram a nossa economia – e que estão por trás da grande inflação que enfrentamos. Tais fenômenos estão relacionados às conjunturas interna e externa como, por exemplo, a crise da dívida externa e os choques do petróleo, entre outros. 
 E a inflação sempre preocupou muito as autoridades brasileiras ao longo da nossa história econômica. Particularmente na década de 80, isto é, no pós segundo choque do petróleo, foram instituídos vários planos econômicos, que estavam mais comprometidos com a estabilização macroeconômica dos preços do que com o crescimento econômico propriamente dito.
 Visão geral da economia brasileira: estudar no campus virtual (muito grande pra digitar).
 Hoje em dia, o patamar de inflação é determinado pelo Banco Central dentro de um determinado intervalo, normalmente situado em um mínimo de 4,5% ao ano até no máximo 6,5%. Com toda turbulência ocorrida em 2002, quando houve a troca do governo FHC pelo governo Lula e a possibilidade de descontinuidade da política econômica, a inflação se descontrolou um pouco e atingiu 9,8%. Mas mesmo este índice pode ser considerado um verdadeiro alento se nos lembrarmos dos 2000% registrados no governo Collor.
 Concluímos que, a inflação causou muitos males para nossa história econômica. Vimos, nesta aula, que a inflação é um fenômeno relacionado ao aumento generalizado dos preços dos diversos produtos de uma economia. Suas consequências são extremamente prejudiciais para o funcionamento do sistema econômico e podem barrar ou mesmo impedir o crescimento econômico.
 Uma inflação descontrolada pode, inclusive, prejudicar as relações de uma país com o resto do mundo, ao tornar caras as exportações e baratas as importações. É por essa razão que, a partir da década de 80, quando o nível de preços no Brasil atingiu o status de hiperinflação, começaram a ser desenvolvidos planos e programas de combate à inflação.
 Nenhum deles logrou sucesso, até que, em 1994, o Plano Real, no final do governo Itamar Franco, conseguiu reduzir os níveis inflacionários para patamares jamais observados na história econômica do Brasil.

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