Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ÉTICA, RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL AULA 3 Prof.a Olívia Resende 2 CONVERSA INICIAL Você já parou para refletir o que seria viver em uma sociedade em que as empresas agissem única e exclusivamente em busca de benefício dos acionistas, ou seja, em benefício próprio, agindo de tal forma que seu processo produtivo beneficiasse apenas a produtividade, deixando de lado, a comunidade, o meio ambiente, dentre outros? Ou numa sociedade em que todas as empresas sem exceção levassem em consideração em suas decisões os stakeholders (partes interessadas pelas práticas de determinada empresa), o meio ambiente, antes de realizar algo? Nesta aula, abordaremos a ética nos negócios e analisaremos a corrida pelo lucro e sua grande influência no mundo empresarial. Refletiremos sobre o conceito de ética empresarial, bem como suas etapas de formação e seus dilemas. CONTEXTUALIZANDO Já vimos que para o convívio em sociedade, a ética é um assunto importante e cada dia mais difundido e necessário. Nas práticas empresariais isso não é diferente, uma vez que toda empresa é parte viva de uma determinada comunidade. Nos dias atuais, em pleno século XXI, fala-se muito em ética empresarial e isso vem se difundindo de maneira mais veemente nos últimos anos. Assim, o tema é relativamente recente. O autor Mario Alencastro (2013) afirma que a ética empresarial começou a ser debatida com mais intensidade no final dos anos 1960, depois de uma série de escândalos acontecidos no mundo empresarial norte-americano. Na década de 1980, ocorreu uma série de seminários sobre ética nos negócios, sempre com cursos dirigidos a executivos, com o intuito de conscientizá-los sobre a importância desse tema. Mais tarde, o mesmo aconteceu na Bélgica, Itália, Espanha, França e Inglaterra. No Brasil, o movimento de valorização da responsabilidade social empresarial ganhou forte impulso na década de 90, através da ação de entidades não governamentais, institutos de pesquisa e empresas sensibilizadas para a 3 questão, tais como o trabalho do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) na promoção do Balanço Social, baseado em princípios éticos elevados (ETHOS, 2008). Nesta aula, buscaremos refletir sobre o conceito e como se desenvolveram os estudos da ética empresarial. Além disso, apresentaremos as etapas da formação ética de uma empresa e os dilemas que envolvem o tema. Para tanto buscaremos responder as seguintes perguntas: O que é ética empresarial? A ética empresarial pode fazer diferença na sociedade? Para responder a estas e outras perguntas, começaremos abordando a ética nos negócios e alguns aspectos históricos sobre a ética empresarial. TEMA 1: A ÉTICA NOS NEGÓCIOS Há uma grande diferença entre grandes empresários e homens de negócios. Segundo Arruda e Vasconcellos (1989), quando se estuda a vida de grandes empresários, com frequência se observa que essas pessoas são dotadas de uma natureza profundamente espiritual. Em contrapartida, os homens de negócios que não primam pela honestidade e moralidade em sua atuação, cedo se tornam conhecidos por suas deficiências, e seu prestígio pode ser mais drasticamente abalado do que aconteceria em outras profissões. Nos dias atuais, fala-se muito em ética nos negócios, responsabilidade social empresarial e sustentabilidade, porém, concretiza-se pouco em relação ao respeito aos valores humanos e da comunidade. Empresários buscam a primazia dos processos atuando de maneira ética, porém, ainda se tem muito o que fazer para que seja efetivo o atendimento aos direitos humanos. Mas o que é ética nos negócios ou ética empresarial? Para Moreira (1999), a ética nos negócios, ou ética empresarial, é “comportamento da empresa entendida como lucrativa quando age de conformidade com os princípios morais e as regras do bem proceder aceitas pela coletividade (regras éticas)”. 4 Em diversos países o tema ética nos negócios evoluiu, e têm se tornado primordial para a garantia do sucesso das empresas, uma vez que, cada vez mais, os consumidores estão empoderados de sua condição de agente de mudança e cobrando atitudes proativas por parte das empresas no que diz respeito à consciência dos direitos sociais. Segundo Alencastro (2013), a pressão exercida pelos consumidores, por exemplo, tem feito com que as empresas ultrapassem o campo das obrigações legais – o que é determinado pela justiça – e passem também a ter preocupações éticas. Como já abordamos, a ética nos negócios ou ética empresarial foi inicialmente inserida nos debates nos Estados Unidos e posteriormente na Europa, ganhando impulso no Brasil na década de 90. Segundo Arruda e Vasconcellos (1989), na década de 60, o Prof. Baumhart, um dos pioneiros da Ética Aplicada aos Negócios, realizou nos Estados Unidos uma pesquisa junto a 2000 empresários de várias filiações religiosas e ideológicas. Concluiu que existia uma necessidade imperiosa de humanização da tecnocracia dominante. Na Europa, havia uma visão humanista do homem e a preocupação social tanto de estudantes quanto de empresários. Para Arruda e Vasconcellos (1989), o europeu normalmente se mostra muito aberto para discutir problemas de ordem ética, tem uma formação filosófica básica que o habilita para isso, tem ideias claras sobre os temas em questão e chega intelectualmente a soluções profundas. Custa-lhe apenas a decisão de mudar sua forma de ser quando necessário. Hoje na Europa, com a globalização e internacionalização dos negócios cada vez mais forte, a concorrência e o rápido desenvolvimento da inovação tecnológica e o persistente nível de desemprego, a ética empresarial tornou-se um dos temas mais debatidos. Porém, essa temática não é simples, pois envolve vários olhares e maneiras de ver o mundo, torna-se evidente a complexidade e reúne empresários e acadêmicos para discussões que visam a unir as responsabilidades éticas e a eficácia empresarial. Pode-se perceber casos reais de empresas públicas e privadas em várias nações, por constituírem testemunhos positivos de que a ética e o sucesso são 5 compatíveis, atribuindo peso ao estudo da ética nos negócios na Europa, pois empresários de renome não hesitam em expor, com clareza e profissionalismo, a trajetória percorrida e o êxito final. O Brasil (considerado em 2015 um dos países mais corruptos do mundo, segundo o site do Estadão, na classificação que abarca 175 países) subiu três posições desde 2014, passando da 72ª posição para a 69ª sem corresponder a mudanças reais. Essa problemática não parece de pouca monta. Já havia problemas apontados pelos autores Arruda e Vasconcellos em fins da década de 80 e início de 90, antes mesmo da atual crise política e econômica que atravessa nosso país. Segundo esses autores, a falta de credibilidade em relação a inúmeras ocupações, posições e profissões cresce com rapidez e o mundo empresarial não se exclui dessa questão. Numa tentativa de reforçar padrões morais de comportamento, latentes em grande número de jovens brasileiros, faz-se necessário e urgente aprofundar-se nos sistemas éticos de análise dos negócios. Porém, toda empresa visa o lucro, até mesmo para sua sobrevivência, e aliar os interesses dos acionistas e da comunidade nem sempre são temas fáceis de serem resolvidos. Para Lipovetsky (2005), o universo da empresa se deixará sempre guiar pelos cálculos da eficácia e da rentabilidade. Agora, porém, sai ao encalço da alma, da “business ethics” (ética nos negócios), a última moda nos meiosempresariais. Então, como compreender a ética empresarial num contexto marcado pela corrida em busca do lucro? Na contemporaneidade, para que as empresas se mantenham competitivas, não basta apenas oferecer produtos com qualidade, garantia, baixo custo e boa logística; é necessário apresentar outras qualidades, afinal, o cliente está cada vez mais exigente. Assim, pode-se perceber um diferencial nos negócios: a aplicação de uma conduta ética nas empresas que possa ser capaz de contribuir com melhores resultados em todos os campos: desde a relação individual com os colaboradores até a dimensão financeira. 6 Leitura obrigatória Para aprofundar seus conhecimentos, faça a leitura do capítulo 2 – A Ética no mundo da empresa – do livro: ALENCASTRO, M. Ética Empresarial na prática: liderança, gestão e responsabilidade corporativa. Curitiba: Intersaberes, 2013. TEMA 2: CONCEITUANDO A ÉTICA EMPRESARIAL O que é um negócio? O que constitui uma empresa? O que torna uma pessoa empresária ou empreendedora? A palavra negócio pode ser compreendida através de sua etimologia, tendo origem do latim “negotium”, que significava trabalho, ocupação, labuta − da conexão entre o advérbio “nec” (não) com o substantivo “otium”, otium é ócio, descanso, lazer, e a partícula nec é um advérbio de negação. Praticar o não-ócio é negociar. Assim, negócio pode ser entendido como uma atividade humana, realizada por indivíduos que se unem em prol de um objetivo e não se trata única e exclusivamente de uma relação financeira. Na Economia, um negócio trata-se de uma relação comercial e ou financeira, que é administrada por indivíduos com fins de captação de recursos para gerar bens e serviços, gerando capital de giro entre os diversos setores. Resumidamente, podemos afirmar que entende-se por negócio toda e qualquer atividade econômica com o objetivo de gerar lucro. Existe possibilidade de ser ético buscando o lucro? A etimologia da palavra empresa vem do Italiano “impresa” (atividade a que uma pessoa se dedica ou, ainda, a ação de imprimir algo), e do latim “emprehendere”, formado por “em” + “prehendere” (pegar, capturar, levar diante de si, segurar), referindo-se àquele que se apodera. Outros derivados são 7 “empreendedor” e “empreendedorismo”. Hoje, podemos entender uma empresa como a célula-base da economia moderna, caracterizada pela formação de pessoas jurídicas, de caráter legal e constitutivo, tendo como objetivo a prática de uma atividade pública e econômica capaz de gerar lucro. Na Economia, temos dois tipos de lucro: o contábil e o econômico. O lucro contábil é basicamente o confronto entre receita realizada e custo consumido, é respaldado pelo conservadorismo, convenção da objetividade e Princípios Contábeis Geralmente Aceitos. Já o lucro econômico, que é o incremento do valor presente do patrimônio líquido, envolve aspectos subjetivos, mas é superior ao lucro contábil (FUGI, 2004). Na sociedade capitalista, caracterizada pela propriedade privada, o lucro é a remuneração pelos fatores de produção, terra, capital e trabalho. O lucro, portanto, é a recompensa e a motivação para a instalação e continuidade de um empreendimento. J. R. Hicks, na obra Value and Capital (1946), definiu lucro como "a quantia que uma pessoa pode consumir durante um período de tempo, estando essa pessoa tão bem no final do período como estava no início". Portanto para o autor, o lucro está relacionado com a manutenção da riqueza ou do capital do indivíduo. Portanto, podemos perceber que para um negócio, o lucro é o fator mais relevante. Assim, vamos procurar compreender um pouco mais a historicidade do lucro através da leitura de um trecho do livro de Octávio Gouveia de Bulhões, Dois conceitos de lucro. Durante a Idade Média, a ética religiosa foi um poderoso impedimento a práticas gananciosas e especulativas nas relações econômicas ocidentais. Com o crescimento do comércio e o advento do Mercantilismo, essa ética foi deixada de lado, mas ainda não se apercebia do lucro a ser causado pela expansão econômica e aumento da capacidade produtiva. O empenho existente era pelo monopólio imposto pelos comerciantes marítimos e pelas proibições de exportação de matérias-primas e importação de produtos manufaturados pelos industriais. Somente com a influência de Adam Smith, que se posicionaria contra essas práticas defendendo a liberdade de comerciar e consumir, com o bem- 8 estar de todos garantido pela expansão do processo produtivo, é que o quadro antigo começaria a se alterar. Otávio Gouveia de Bulhões afirma que no Mercantilismo "o lucro está subordinado à valorização ou desvalorização do produto". O autor assinala também que, durante a Revolução Industrial, Karl Marx defendeu que o lucro seria a parcela não paga ao assalariado, enquanto a "Escola Austríaca", através de Böhm-Bawerk, teorizou que o produto acabado tem maior valor do que o alcançado pelos fatores de produção, pois acreditavam na ideia de que os produtos do presente possuem mais valor do que os produtos futuros. Bulhões chama o primeiro de "lucro-confisco (advindo da transferência de renda)" e o segundo de "deságio". Conclui que o "lucro de investimento, como soma adicional de renda" somente seria compreendido no século XX. Segundo Bulhões, foi Knut Wicksell que, a partir de 1934, "deu ênfase à mudança de escala de produção como característica do investimento e assinalou o acréscimo de produtividade como fonte de lucro (BULHÕES, 1969). O lucro, porém, causa uma disparidade entre o salário pago ao trabalhador e o valor do trabalho produzido por ele, chamado de “mais valia”. A mais valia definida por Karl Marx (1818 – 1883) é a diferença entre o valor do objeto produzido e a soma do valor dos meios de produção e do valor do trabalho (valor da mercadoria + valor dos meios de produção + valor do trabalho) como base do lucro no sistema capitalista. Nesse contexto, as perguntas feitas anteriormente precisam ser elucidadas. Lucro x ética. É no contexto dessa reflexão que a ética empresarial está envolvida: em um jogo com regras nem sempre claras e objetivas e uma competição em que os interesses pessoais muitas vezes se sobrepõem aos interesses comuns. Leitura obrigatória Para mais informações, leia os capítulos 2 do livro: ALENCASTRO, M. Ética Empresarial na prática: liderança, gestão e responsabilidade corporativa. 9 TEMA 3: ETAPAS DA FORMAÇÃO ÉTICA DE UMA EMPRESA Para compreender a ética nos negócios, precisamos entender as etapas da formação de uma empresa em busca de sua autonomia. Assim, é necessário antes compreender o processo da formação pessoal de cada um de nós em busca de amadurecimento, ou seja, autonomia. Nascemos éticos ou antiéticos? De que maneira se dá a formação da nossa consciência ética e moral? Como acontece o processo de amadurecimento do ser humano? O que nos torna pessoas maduras? Antes de iniciarmos esse estudo, é imprescindível compreender a etimologia da palavra autonomia, que significa o poder de dar a si a própria lei, autós (por si mesmo) e nomos (lei). Não se entende esse poder como algo absoluto e ilimitado, também não se entende como sinônimo de autossuficiência. Indica uma esfera particular, cuja existência é garantida dentro dos próprios limites que a distinguem do poder dos outros e do poder em geral, mas apesar de ser distinta, não é incompatível com as outras leis. Para Kant (1724 – 1804), a autonomia “designa a independência da vontade em relação a qualquer desejo ou objeto de desejo e sua capacidade de determinar-se em conformidadecom uma lei própria, que é a da razão” (ABBAGNANO, 2000). Há várias formas de entender a palavra autonomia ao longo do tempo. Porém, tanto pela etimologia quanto pelo pensamento kantiano, a palavra autonomia significa autogoverno, governar a si próprio. Assim, um indivíduo autônomo é aquele que governa a si próprio, tomando a vida nas próprias mãos. O que hoje entra no debate é o processo dialógico contido na filosofia grega, que prioriza a capacidade de o indivíduo buscar respostas para as próprias perguntas, exercitando, portanto, sua formação autônoma. Segundo o psicólogo e filósofo Jean Piaget (1896-1980), existem algumas etapas de formação da nossa consciência ética e moral em busca de autonomia. Araújo (1996), com base nos estudos de Piaget sobre o juízo moral, apresentou as seguintes definições: anomia e heteronomia em direção à autonomia. 10 Podemos perceber que entre as três terminologias citadas anteriormente, o sufixo grego “nomia” (regras) é comum: anomia – “a” (negação) + “nomia” − refere-se a um estado de ausência de regras ou à pessoa que age de acordo com o que considera certo pelos seus interesses pessoais; heteronomia – “hetero” (vários) + “nomia” − refere-se a perceber a existência de muitas regras que são impostas por outros que exercem autoridade; por fim, a autonomia – “auto” (si mesmo, próprio) + “nomia” − refere-se à capacidade de discernir e fazer escolhas por si mesmo, governar a própria vida. A autonomia de um indivíduo não é construída de um dia para o outro; ela passa por um processo que tem diferentes etapas de desenvolvimento, começa desde muito cedo e continua se desenvolvendo no decorrer da existência do ser humano, nas diferentes decisões que tomamos, como um sistema de evolução e tomada de consciência. Na empresa, que é levada a efeito por uma ou mais pessoas, não é diferente: podemos tentar entender o processo de formação autônomo, ético e moral de uma empresa se compreendemos que a ética empresarial também é uma evolução que passa por diversas etapas, as quais vão sendo construídas aos poucos. Analisar o desenvolvimento empresarial, levando em consideração a aproximação e a analogia entre o desenvolvimento humano, foi exposto pela autora norte-americana Linda Starke em 1999, que especificou cinco etapas para a evolução moral de uma empresa: Corporação amoral: nesse estágio, a empresa busca o sucesso a qualquer custo e é capaz de violar normas e valores sociais sem qualquer consideração com seus colaboradores, desconsiderando a individualidade das pessoas e considerando-as apenas como parte econômica de produção da empresa. Podemos citar como exemplo o caso da Film Recovery Systems, que extraia prata de velhas chapas de raios-X, utilizando cianido, até que foi fechada em 1983 depois que um empregado morreu intoxicado por esta substância. Corporação legalista: nesse estágio, o modelo de corporação é completamente adepto da lei, mas não de seu espírito, ou seja, baseia- 11 se sempre na lei, adotando códigos de conduta que se parecem com produtos de departamentos legais. Buscam adotar algumas posturas éticas, apenas para evitar problemas legais. Apegada à lei ao pé da letra, a corporação legalista tem por finalidade definir a sua conduta, adotando códigos e outras regras em um alto legalismo. Corporação receptiva: nesse estágio, a empresa está interessada em mostrar-se responsável porque isso é conveniente, não porque é certo. Começam a entender que as decisões éticas podem ser do interesse da companhia a longo prazo, ainda que envolvam perdas econômicas imediatas. Os códigos de conduta das corporações receptivas começam a tomar forma de “códigos de ética”. Corporação ética que aflora: a corporação ética que aflora (ou ainda chamada de “nascente”) está em um estágio mais desenvolvido e reconhece a condição de um contrato social entre os negócios e a sociedade, além de procurar difundir essa postura em todos os setores da empresa, dando início a uma estabilidade entre os fatores éticos e a lucratividade. É o caso da Jonhson & Jonhson, excelente exemplo, pela forma com que equilibra preocupações éticas e lucratividade. A maneira com que solucionou o caso Tylenol é uma ótima referência. Corporação ética: nesse estágio, a empresa consegue deixar a ética e os lucros em uma mesma dimensão, alcançando um perfeito equilíbrio entre ambos. Essa etapa de formação simboliza um empresário que treina seus colaboradores desde o início, a fim de que eles se afastem de ações que possam comprometer o código de ética da empresa. Leitura obrigatória Você poderá obter mais informações sobre o assunto com a leitura do capítulo 2 do livro: ALENCASTRO, M. Ética Empresarial na prática: liderança, gestão e responsabilidade corporativa. 12 TEMA 4: LIDERANÇA ÉTICA Como vimos anteriormente, para compreender a ética nos negócios, precisamos entender que a construção do processo ético é, principalmente, pessoal. Nesse momento, iremos refletir sobre a conduta pessoal de um profissional ético e que sabe como liderar. Historicamente, na construção das sociedades, a liderança fez parte de grandes eventos, afinal, desde sempre tivemos pessoas que se apresentaram frente ao seu tempo, construindo impérios, nações, provocando revoluções, conduzindo movimentos sociais, arrastando multidões etc. A religião tem uma grande representatividade de líderes como Jesus Cristo, Moisés, Maomé e Buda sendo considerados os maiores líderes da história. Eles viveram e morreram há séculos e, mesmo assim, ainda hoje possuem vários seguidores no mundo inteiro. Quando falamos de liderança, recordamo-nos de vários personagens importantes e famosos, como Gandhi, Papa Francisco, Hitler, Abraham Lincoln, Mandela, Roosevelt, Madre Tereza de Calcutá, entre outros. Pessoas que, ao longo da história, construíram e modificaram a realidade da sociedade. Warren Bennis realizou pesquisas sobre liderança e, depois de pesquisar sobre centenas de líderes de sucesso, chegou à conclusão de que existe mais diversidade do que pontos em comum nesses líderes. Mesmo assim, na divergência de cada líder e na medida em que Bennis foi aprofundando os seus estudos, ele começou a detectar alguns pontos em comum entre eles. Para Bennis (1998), as habilidades pessoais são um dos mais importantes pontos em comum que significam a capacidade que os líderes de sucesso têm de usar muito bem os seus pontos fortes e de trazer à tona o que têm de melhor para as pessoas à sua volta (BENNIS, BBC World Service). Assim, as habilidades pessoais que proporcionam líderes ideais concentram sua energia: Em seus pontos fortes; Nos pontos fortes das pessoas que lideram; 13 E nos pontos fortes da própria empresa. De acordo com Bennis, as habilidades pessoais podem ser compreendidas através de quatro fatores: 1. Expectativas; 2. Equilíbrio; 3. Habilidades pessoais; 4. Sonhos e esperanças. Expectativas O cargo de gestor geralmente está sob um “fogo cruzado”. Afinal, o líder representa a empresa diante da equipe e a equipe diante da empresa. O líder eficaz espera o melhor das pessoas e faz de tudo para ajudá-las a atingir o seu máximo, inclusive testando-as. Faz também com que seus colaboradores se sintam importantes e se sintam bem só de estarem perto do líder. Esse é o efeito direto de se considerar as pessoas de forma absolutamente positiva. Porém, o líder também falha, afinal, é um ser humano. Assim, lidar com suas próprias falhas faz parte do dia a dia de um líder de sucesso. Equilíbrio Um líder emocionalmenteequilibrado não reprime suas emoções. Ele aprende a administrá-las de modo a liberá-las na hora certa, com a pessoa certa e da forma mais adequada possível. Consegue se acalmar quando está nervoso, se automotiva e têm uma razoável percepção de si e dos outros. Pode-se dizer que se trata de um profissional protegido pelo otimismo e pela esperança, com positivas expectativas de que as coisas darão certo, apesar dos reveses e das dificuldades. Habilidades pessoais “Fator Wallenda”: Karl Wallenda (1905 -1978) foi um famoso equilibrista que viveu durante muito tempo apenas para o trabalho. Ele costumava dizer: “Para mim, andar na corda bamba é viver; todo o resto é meramente esperar”. 14 Depois de muitos anos, pela primeira vez, Wallenda pensou na possibilidade de cair e teve uma queda fatal. Ao invés de se concentrar em caminhar na corda, ele havia começado a concentrar sua energia em não cair. Bennis relaciona o caso Wallenda ao fato de que, dentre as centenas de líderes que estudou, nenhum deles jamais mencionou a palavra fracasso. Os líderes eficazes concentram a energia deles na busca do sucesso, ao invés de desperdiçá-la tentando evitar o fracasso. É importante conhecer o que se tem de melhor e lutar para alcançar seus objetivos. Leitura obrigatória Para consolidar seus estudos, leia o capítulo 3 – A ética no mundo da empresa – do livro: ALENCASTRO, M. Ética Empresarial na prática: liderança, gestão e responsabilidade corporativa. TEMA 5: RELAÇÕES HUMANAS E ÉTICA NO TRABALHO As relações humanas decorrem da interação entre indivíduos, ou seja, entre duas ou mais pessoas, sendo que essa relação pressupõe o respeito mútuo. Como visto no tema anterior, as habilidades pessoais para um líder são de extrema importância e nas relações humanas não é diferente. Apesar de decorrerem da interação entre dois ou mais indivíduos, precisamos apresentar o que se trata por competência intrapessoal e interpessoal. Intrapessoal: capacidade de compreender a si mesmo, tanto sentimentos e emoções quanto estilos cognitivos e inteligência. Segundo Silva (2016), competência intrapessoal é o diálogo interno, conhecendo, percebendo e identificando as crenças, atitudes, sentimentos, valores pessoais, entre outros. Interpessoal: relativo a ou que envolve relação entre duas ou mais pessoas. A competência interpessoal é onde se envolve e ocorre a 15 interação entre duas ou mais pessoas; é a habilidade de lidar eficazmente com outras pessoas. Em um ambiente de trabalho não é diferente, faz-se necessário o relacionamento interpessoal e, quando não ocorre sintonia de uma ou mais pessoas, provoca-se o estresse, a desmotivação pelo trabalho, dificultando o bom andamento do trabalho/grupo. Em uma relação humana, a contribuição individual é fator indispensável. Em uma organização não é diferente: respeito entre os colegas e superiores, evitar fofocas, saber ouvir, colaborar e ajudar os colegas/pares mesmo nos momentos difíceis, apresentar soluções aos problemas sem atacar os colegas, respeitar raças, gostos e opiniões, principalmente se colocando no lugar do outro. Silva (2016) entende que o indivíduo deve propiciar clima que favoreça as relações, desta forma, formando equipes com os mesmos objetivos, pessoas motivadas cumprindo suas tarefas em harmonia, propiciando crescimento não só da equipe, mas da área, da Organização como um todo. Nessas relações, a humanização é uma questão de vital importância, pois somos seres de relação (seres sociais) em constante conexão com outras pessoas, seja no campo pessoal ou profissional. Essa humanização/socialização deve estar atrelada à ética, fundada em valores como o respeito, a solidariedade, a empatia e a ajuda mútua, lembrando sempre que o meu direito termina quando começa o do outro. Cabe uma pergunta: como podemos criar essa socialização entre as pessoas que constituem um ambiente organizacional? Criar essa socialização não é nada fácil, pois a convivência humana em si é difícil e desafiante, porque cada um reage de maneira diferente quando está inserido em um grupo de trabalho. Segundo Barbosa (2011), profissionais competentes individualmente podem render muito abaixo de sua capacidade por influência do grupo e das situações de trabalho. Pessoas convivem e trabalham com pessoas e portam-se como pessoas, isto é, reagem às outras pessoas com as quais entram em contato: comunicam-se, simpatizam, e sentem atrações, antipatizam e sentem aversões, aproximam-se, afastam-se, entram em conflito, competem, colaboram, desenvolvem afeto. O processo de interação 16 humana é constituído através dessas reações voluntárias ou involuntárias, intencionais ou não- intencionais (MOSCOVICI, 2008). Segundo Tourinho (1982), as relações humanas dentro de um ambiente organizacional geram uma necessidade de proximidade entre as pessoas que nele trabalham, configurando uma percepção entre e sobre os indivíduos. Tanto as relações humanas pessoais quanto profissionais devem colaborar para que possamos perceber o outro além de suas características físicas, bem como em sua essência. Quando vemos o outro em sua individualidade, conseguimos ter uma ligação positiva com essa pessoa. Boas relações desencadeiam afinidades baseadas em respeito mútuo e cordialidade entre os colaboradores. Na contramão, quando adotamos relações enfraquecidas, podemos enxergar o outro a partir de estereótipos criados em nossa imaginação, gerando um comportamento aético e hostil entre essas pessoas. A maior questão é como saber lidar bem com os outros, nas organizações não é diferente, trabalhar bem com os outros para que seu desempenho seja satisfatório, produtivo e consiga colocar em prática todo conhecimento em prol da empresa, com desempenho e serviços de alta qualidade. Leitura obrigatória Para saber mais, leia o capítulo 3 do livro: ALENCASTRO, M. Ética Empresarial na prática: liderança, gestão e responsabilidade corporativa. NA PRÁTICA Leia a reportagem sobre o caso da Volkswagen e a ética das grandes empresas: Volkswagen foi pega em fraude nos controles antipoluição, num teste de emissões de NOX (óxido de nitrogênio) nos Estados Unidos 17 O fato é grave e chamou a atenção para outros casos de má administração e falhas nos controles corporativos das grandes empresas. Mas também mostrou a incompetência ou a inadequação dos órgãos públicos de controle da poluição na Europa e nos Estados Unidos. Ao manipular os índices de emissões de NOx de 482.000 carros com motores 4 cilindros “clean diesel” (em versões dos VW Passat, Jetta, Golf, Beetle e Audi A3), a montadora alemã deu margem a estimativas de que 11 milhões de automóveis do grupo estejam jogando entre 237.161 e 948.691 toneladas de NOx por ano no planeta. Fonte: UOL Notícias. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/blogs-e-colunas/coluna/luiz- felipe-alencastro/2015/09/30/o-caso-volkswagen-e-a-etica-das-grandes-empresas.htm> Acesso em 05/05/2016. Veja a versão completa da notícia a seguir: O caso Volkswagen e a ética das grandes empresas Os desdobramentos da fraude dos controles antipoluição praticada pela Volkswagen nos Estados Unidos suscitaram uma série de interrogações e de polêmicas. Quem iniciou e deu cobertura à trapaça? Embora o CEO e vários outros altos responsáveis da empresa tenham se demitido ou mandados para a rua, ainda há pontos obscuros. Mais importante proprietário da VW, com 20% de ações que lhe dão um direito de veto na direção da firma, o Estado da Baixa Saxônia (um dos 16 Estados da Alemanha), não sabia de nada, conforme declarouo ministro da Economia do Estado (Lander). O fato é grave e chamou a atenção para outros casos de má administração e falhas nos controles corporativos das grandes empresas. Mas também mostrou a incompetência ou a inadequação dos órgãos públicos de controle da poluição na Europa e nos Estados Unidos. Na realidade, quem levantou a pista sobre as práticas delituosas da VW foi a ICTT, uma pequena ONG americana de parcos recursos. Como explicou um de seus diretores, a descoberta se deu quase por acaso: "nós não esperávamos achar alguma coisa" no teste. Só depois da denúncia da ICTT é que os organismos oficiais de controle americanos fizeram a investigação mais 18 aprofundada que desembocou na denúncia da firma alemã. Agora, na Alemanha, na França, nos Estados Unidos e em vários outros países, as autoridades e as agências governamentais de controle, admitindo implicitamente que falharam, prometem mais meios e mais rigor para os testes antipoluição. No meio tempo, apareceram propostas mais criativas e mais transparentes de vigilância sobre as manipulações dos fabricantes de automóveis. A mais interessante consiste em obrigar as fabricantes de carro a usar um código aberto (open source), permitindo o acesso dos usuários à caixa preta informática (proprietary code) que pauta o funcionamento de cada carro. Foi nessa caixa preta que a VW ocultou o software que lhe permitiu escapar aos controles antipoluição. Naturalmente, a proposta pode parecer utópica, visto que a confidencialidade do proprietary code é a alma do negócio na indústria do automóvel e de muitos outros setores. Porém, os prejuízos da VW e dos outros fabricantes de carros a diesel atingem tais proporções que poderão incitar à adoção do open source por uma parte das indústrias. Como escreveu no seu blog David Bollier, um ativista pela democratização da informática, se os organismos governamentais quiserem impedir estragos no meio ambiente e na segurança antes dos desastres, eles devem impor aos industriais a obrigatoriedade do código aberto em suas máquinas. Fonte: UOL Notícias. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/blogs-e- colunas/coluna/luiz-felipe-alencastro/2015/09/30/o-caso-volkswagen-e-a-etica-das-grandes- empresas.htm> Acesso em: 05/05/2016. Caso Volks vai além da questão ética e escancara a "Sociedade de Risco" O escândalo dos motores a diesel, que abalou a imagem da Volkswagen no mundo inteiro, pode sepultar a hipocrisia dos limites de emissão de gases tóxicos e abrir caminho para os carros elétricos 19 Volkswagen e-Golf: 3.328 vendas na Europa e 357 nos Estados Unidos no ano passado Desde que foi pega traindo a confiança do consumidor num teste de emissões de NOx (óxido de nitrogênio) nos Estados Unidos, a Volkswagen está sendo tratada como uma espécie de Geni da indústria automobilística. Ao manipular os índices de emissões de NOx de 482.000 carros com motores 4 cilindros “clean diesel” (em versões dos VW Passat, Jetta, Golf, Beetle e Audi A3), a montadora alemã deu margem a estimativas de que 11 milhões de automóveis do grupo estejam jogando entre 237.161 e 948.691 toneladas de NOx por ano no planeta. Como o NOx é mais danoso (a curto prazo) ao ser humano do que o CO2 (dióxido de carbono), que é responsável pelo aquecimento global, a derrapada ética da Volkswagen provocou a ira da imprensa alemã. A revista semanal Der Spiegel fez uma capa demolidora. Transformou um Fusca em esquife, carregado por seis homens de luto, e foi lacônica no título: “Der Selbstmord” (O Suicídio). Mas, apesar da indignação alemã pela maneira irresponsável como alguns dirigentes trataram um ícone do país, a Volkswagen vai continuar vendendo carros em todo o planeta. É difícil prever o tamanho do estrago que os testes de emissões podem provocar nas vendas da Volks, embora seu valor de mercado já tenha recuado quase 40% em duas semanas. Suas ações na Bolsa de Frankfurt, que eram vendidas a 167,60 euros no dia 17/09, estavam cotadas 102,00 euros no dia 1º/10. De qualquer forma, a companhia ainda valia 46,672 bilhões de euros no final da semana passada – e muitos ainda apostam que ela não foi a única a mentir para os especialistas. O escândalo do “dieselgate” dá margem para inúmeras interpretações. Por isso, apesar da má conduta ética da montadora, quero lançar um olhar mais 20 abrangente sobre o caso. Na minha opinião, a Volkswagen mergulhou fundo demais no ideal capitalista de produzir e vender cada vez mais. Afinal, em 2014 o Volkswagen Group (9.496.891 veículos vendidos) já era maior que o Toyota Group (8.657.903) e a General Motors Company (7.362.897). Com um crescimento de 5,1% em relação a 2013 (quando também terminou na liderança), o Volkswagen Group detinha 12,98% do mercado global de automóveis no final do ano passado, contra 11,83% do Toyota Group e 10,02% da GM Company. Mas Wolfsburg queria mais. Pelo menos até antes do escândalo dos motores a diesel, o objetivo da empresa era transformar a marca Volkswagen na líder mundial de vendas de automóveis até 2018. Contando só os modelos que trazem os logotipos VW, a marca terminou a temporada de 2014 em segundo lugar, com 6.022.625 emplacamentos, contra 6.384.760 da líder Toyota. A Ford aparecia em terceiro, com 5.413.255, e a Chevrolet em quarto, com 4.108.397. Evidentemente, a Volkswagen não tinha como objetivo intoxicar pessoas, mas sim vender mais carros. E na ânsia de vender mais e mais e mais, sempre e sempre e sempre, inúmeras empresas do mundo inteiro (também de todos os segmentos) estão envenenando o planeta. A emissão de CO2 – principal vilão do aquecimento global – tem subido a um ritmo sem precedentes desde 1984. Mas, segundo um relatório do órgão americano EIA (Energy Information Administration), o uso de motores a gasolina e a diesel para transporte nos Estados Unidos resultou, em 2014, na emissão de 1,075 bilhão de toneladas e 444 milhões de toneladas de CO2, respectivamente, totalizando 1,519 bilhão de toneladas de CO2. Isso equivale a 83% do total de emissões de CO2 por todo o setor de transporte dos EUA. Entretanto, essa poluição absurda representou apenas 28% de todo o dióxido de carbono que o setor industrial de Tio Sam jogou na atmosfera no ano passado. E por que isso acontece? Porque no ritmo industrial dos últimos 40 ou 50 anos, os países se convencionaram a seguir um padrão de aceitação de venenos, pesticidas, gases, acidentes e até assassinatos que levou nosso modo de vida (e morte) a se transformar naquilo que o filósofo alemão Ulrich Beck batizou de Sociedade de Risco. Na visão de Beck, a definição de limites de tolerância ou a estipulação de valores máximos levou à criação de uma indústria do risco: 21 Limites de tolerância para vestígios poluentes e tóxicos “admissíveis” no ar, na água e nos alimentos têm, em relação à distribuição de riscos, um significado comparável ao que tem o princípio de desempenho para a distribuição desigual de riqueza: eles simultaneamente admitem as emissões tóxicas e legitimam-na dentro dos limites que estipula. Quem quer que limite a poluição, estará fatalmente consentindo com ela. Aquilo que ainda é admissível e, por sua definição em termos sociais, “inofensivo” – independente do quão daninho seja. Particularmente, enquanto todo mundo atira contra a Volks, vejo uma oportunidade para que a indústria automobilística seja repensada. Afinal, por mais que a tecnologia se modifique (e agora ficou comprovado isso), os motores a diesel nunca conseguirão ser menos poluentes do que os alimentados por gasolina. O diesel é largamente utilizadonos carros de passeio dos Estados Unidos e da Europa porque é mais barato. E todo mundo quer gastar menos (não necessariamente poluir menos). Mas, com a emissão de 1,075 bilhão de toneladas métricas de CO2 a cada ano só nos Estados Unidos, está claro que os motores a gasolina também não resolvem a questão ambiental. Por isso, a verdadeira guinada nessa questão não será apenas uma exemplar punição à Volkswagen, mas sim a adoção de políticas de incentivo real à produção e comercialização de veículos elétricos. Só assim estaríamos falando de carros que não poluem. Modelos que circulam sem poluir a atmosfera já são comuns em muitas marcas, mas os números são ridiculamente pequenos quando comparados aos poluidores. Tanto nos Estados Unidos (30.200 emplacamentos em 2014) quanto na Europa (15.158), o carro elétrico mais vendido é o Nissan Leaf. Nos EUA, ele é seguido pelo Chevrolet Volt (18.805 emplacamentos) e pelo Tesla Model S (18.480). No mercado europeu, logo atrás do Leaf vêm o Renault Zoe (11.090 vendas) e o Tesla Model S (8.841). Com relação à Volkswagen, o e-Golf vendeu apenas 357 unidades em território americano no ano passado. Na Europa, seu desempenho com carros elétricos é melhor, ocupando o quarto lugar com o e- Up (5.450 vendas) e o sexto com o e-Golf (3.328). Portanto, o risco à saúde humana só desapareceria (teoricamente) se a tolerância à poluição fosse reduzida a zero. Como eu já disse, Beck identificou 22 uma indústria do risco, pois é preciso engenharia e investimentos para que os níveis de NOx ou CO2 que saem dos escapamentos dos carros passem de, digamos, 100 g/km para 80 g/km. Para movimentar a economia, portanto, o risco é ótimo. Em seu livro Futuros Imaginários: das Máquinas Pensantes à Aldeia Global, Richard Barbrook afirma que “o presente é compreendido como o futuro embrionário e o futuro ilumina o potencial do presente”. Partindo dessa premissa, um professor da Universidade Mackenzie, Vinícius Prates, escreveu em 2013 uma tese que talvez exemplifique a forma como olhamos para os automóveis que desejamos (ou como as montadoras querem que a gente os veja): Apesar dos muitos milhões de carros poluentes fabricados por ano, a indústria automobilística se caracteriza do ponto de vista do enunciador por este futuro que ilumina e explica o presente: ou seja, ela é figurada como sustentável pelo que um dia ocorrerá. Assim, não importa quantas unidades movidas a gasolina sejam fabricadas (e as consequentes críticas dos ambientalistas antagonistas), o enunciador consegue tamponar a falta constitutiva da crise ambiental por uma operação de deslizamentos de sentidos – os milhões de carros “sujos” (que vemos com nossos olhos) saindo das fábricas apenas preparariam o glorioso porvir de um capitalismo sem sintomas (que vemos com nossa ideologia), repleto de máquinas ecologicamente limpas. Se liderar uma cruzada mundial de incentivo aos veículos elétricos, a Volkswagen tem uma chance de propor um mundo melhor, renascer depois do “suicídio” e voltar a dizer um dia, em qualquer língua: “Você conhece, você confia”. Fonte: Isto É. Disponível em: <http://www.istoedinheiro.com.br/blogs-e- colunas/post/20151005/caso-volks-vai-alem-questao-etica-escancara-sociedade-risco/7508> Acesso em 05/05/2016. A imprensa alemã, indignada, divulgou reportagens sobre o assunto, porém, apesar da indignação alemã pela maneira irresponsável como alguns dirigentes trataram um ícone do país, a Volkswagen vai continuar vendendo carros em todo o planeta. Fica a pergunta: os dirigentes da Volkswagen foram éticos em sua decisão? 23 SÍNTESE Neste material didático estudamos alguns aspectos da ética nos negócios, as etapas de formação de uma empresa ética, a liderança ética, as relações humanas e a ética no trabalho. Conforme vimos, para o convívio em sociedade, a ética é um assunto importante e cada dia mais difundido e necessário. Nas práticas empresariais isso não é diferente, uma vez que toda empresa é parte viva de uma determinada comunidade. O movimento ético nas organizações teve impulso a partir dos anos 90 com a valorização da responsabilidade social. Mas para que este movimento seja eficaz, antes o desenvolvimento de indivíduos éticos é necessário e, para tanto, é necessário existir regras, leis e normas que regulem o relacionamento humano no trabalho e sirvam de orientação quanto ao que é certo ou errado, justo ou injusto, lícito ou ilícito, permitido ou proibido. Nesta aula, refletimos sobre o conceito e como se desenvolveram os estudos da ética empresarial, além de apresentarmos as etapas da formação ética de uma empresa e os dilemas que envolvem o tema. REFERÊNCIAS ABBAGNANO. N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2000. ALENCASTRO, M. Ética Empresarial na prática: liderança, gestão e responsabilidade corporativa. Curitiba: Intersaberes, 2013. ARAÚJO, U. O ambiente escolar e o desenvolvimento do juízo moral infantil. São Paulo. Casa do Psicólogo. ARRUDA, M. C. C., VASCONCELLOS, H. A ética nos negócios. Revista de Administração de Empresas. vol.29. n.3, São Paulo. 1989. BENNIS, W. Líderes: estratégias para assumir a verdadeira liderança. São Paulo: Harbra, 1998. BULHÕES, O. G. Dois conceitos de lucro. Rio de Janeiro: Apec Editora S.A., 1969. FUJI, A. H. O conceito de lucro econômico no âmbito da contabilidade aplicada. Revista Contabilidade e Finanças. vol.15 n. 36, São Paulo, 2004. 24 HICKS, J. R. Value and capital. Oxford: Clarendon Press. 1946. LIPOVETSKY, G. A sociedade pós-moralista: o crepúsculo do dever e a ética indolor dos novos tempos democráticos. Barueri: Manole, 2005. MOREIRA, J. M. A ética empresarial no Brasil. São Paulo: Pioneira, 1999. MOSCOVICI, F. Desenvolvimento interpessoal. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008. MOSCOVICI, S. Psychoanalysis: Its image and its public. Cambridge: Polity, 2008. TOURINHO, N. Chefia, Liderança e Relações Humanas. 2.ª ed. São Paulo: Ibrasa, 1982.
Compartilhar