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Gordon_The rise and fall of american growth 18

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1 
 
The rise and fall of american growth 
Robert J. Gordon 
Princeton, NJ: Princeton University Press, 2017 
 
 
Desigualdade e Outros Ventos Contrários: o 
Crescimento Econômico de Longo Prazo dos Estados 
Unidos Desacelera para um Passo de Tartaruga 
Capítulo 18 
 
 
"A família americana está mudando – e as mudanças garantem que a 
desigualdade será maior na próxima geração. Pela primeira vez, os 
filhos de uma geração certamente não serão tão bem educados, 
saudáveis, ou ricos como os seus pais" (June Carbone e Naomi Cahn, 
2014) 
 
Introdução 
 
O impacto das inovações e da mudança tecnológica no capítulo 17 
foi mensurado pelo seu efeito na produtividade total dos fatores (PTF). 
Não existe qualquer garantia de que cada membro da sociedade irá 
participar igualmente dos frutos do progresso econômico. Esse capítulo 
olha mais detalhadamente para os resultados muito diferentes que 
ocorreram no topo da distribuição de renda em comparação com o meio 
e com a base da distribuição. Quando os ganhos de renda no topo são 
desconsiderados, o crescimento na renda total disponível para ser 
dividida entre os 99% de baixo cresce mais lentamente do que a renda 
nacional como um todo. 
Assim como 1970 foi um divisor de águas no capítulo 17, o ponto 
de divisão entre o crescimento rápido e o lento da PTF, assim também 
houve uma transição paralela e independente entre crescimento 
igualitário para todos antes de 1970 e crescimento desigual após 1970. 
Por várias medidas, incluindo o salário real mediano e a renda real 
tributável dos 90% na base da distribuição de renda, não houve qualquer 
progresso. Outras medidas do crescimento da renda abaixo do 1% no 
2 
 
topo geram crescimento positivo, ao invés de zero –, mas a uma taxa 
substancialmente mais lenta do que as médias que incluem o 1% no topo. 
Uma desigualdade crescendo continuamente ao longo das últimas 
quatro décadas é apenas um dos ventos contrários soprando com força 
de tempestade para diminuir a taxa de crescimento do padrão de vida 
nos Estados Unidos. Outros que recebem atenção nesse capítulo são a 
educação, a demografia, e a dívida governamental. Ventos contrários 
adicionais como a globalização, o aquecimento global, e a poluição 
ambiental são tocados mais brevemente. A conclusão geral desse capitulo 
é que a influência combinada desses ventos contrários constitui um peso 
adicional que arrasta o crescimento futuro bem abaixo da desaceleração 
pós-1970. 
O capítulo começa com um tratamento multifacetado da história 
da distribuição de renda nos Estados Unidos desde que os primeiros 
registros de tributação de renda se tornaram disponíveis há cem anos 
atrás. O ritmo rápido do avanço nas rendas do topo, particularmente 
dentro do 1% no topo, pode ser explicado por um conjunto de fatores que 
estimularam as rendas mais altas, incluindo a economia dos superastros, 
incentivos alterados para o pagamento dos executivos, e ganhos de 
capital em imóveis ou na bolsa de valores. A estagnação de renda para os 
90% na base da distribuição tem um conjunto diferente de causas, 
incluindo o efeito da automação na destruição dos empregos de classe 
média, uma erosão na força dos sindicatos, o declínio no poder de compra 
do salário mínimo, os efeitos das importações na diminuição do setor 
manufatureiro, e o papel da imigração, tanto de trabalhadores bem 
qualificados quanto de baixa qualificação. 
O vento contrário da educação é importante tanto em si mesmo 
quanto pelo seu efeito como uma fonte da crescente desigualdade. 
Através dos anos do pós-guerra, começando com a Lei dos Veteranos, os 
Estados Unidos foi o líder entre as nações na taxa de formação 
universitária da sua juventude. Mas nas últimas duas décadas, os 
Estados Unidos tropeçaram, com a taxa de formação universitária abaixo 
da décima posição. E os jovens norte-americanos que entram na 
universidade, independente de completarem os estudos, agora enfrentam 
o ônus combinado de uma dívida total de mais de US $ 1 trilhão. 
Problemas educacionais são ainda mais graves nas escolas secundárias 
dos Estados Unidos, que se posicionam na metade inferior dos testes 
internacionais de leitura, matemática, e ciências administrados a 
adolescentes de 15 anos. Mais sério é o alto grau de desigualdade na 
leitura e nas habilidades de vocabulário das crianças na idade de 5 anos, 
a idade normal de entrada no jardim de infância; as crianças de classe 
média possuem um vocabulário falado de mais do triplo das crianças 
criadas em condições de pobreza por um único pai ou mãe. 
O terceiro vento contrário "demográfico" se refere à população, vista 
não como uma entidade singular, mas como grupos e subgrupos dentro 
do total. O aspecto mais importante da demografia dos Estados Unidos é 
3 
 
o aumento na taxa de fertilidade entre 1946 e 1964, o chamado "baby 
boom." Uma vez que o sistema de Seguridade Social permite a 
aposentadoria em três idades alternativas – atualmente 62, 66 ou 70 – os 
efeitos da aposentadoria dos nascidos no baby-boom estão espalhados, 
começando em 2008 e se estendendo até 2034. Outros problemas 
demográficos incluem a mudança nos padrões de trabalho, à medida em 
que aumenta a proporção daqueles com 55 anos de idade ou mais que 
escolhem permanecer trabalhando, ao mesmo tempo em que as taxas de 
participação na força de trabalho declinaram para todos gêneros nos 
grupos de idade mais jovens que 55 anos. Considerados conjuntamente, 
o efeito da aposentadoria dos nascidos no baby-boom e a participação 
declinante dos mais jovens na força de trabalho reduzem o número médio 
de horas trabalhadas por pessoa e implicam que o padrão de vida definido 
como produto per capita deva crescer mais lentamente do que a 
produtividade do trabalho, que é definida como produto por hora 
trabalhada. 
A dívida pública é o quarto vento contrário, por que se prevê que a 
razão da dívida governamental para o PIB cresça continuamente no 
futuro. A razão crescente entre o número de aposentados para 
trabalhadores contribuintes irá requerer em breve mudanças no atual 
conjunto de alíquotas para as contribuições à Seguridade Social e/ou no 
valor dos benefícios; atualmente se projeta que o fundo atuarial da 
Seguridade Social deva declinar até 2034 para um nível abaixo do qual 
não se poderia pagar as obrigações atualmente contratadas, enquanto se 
espera que o fundo atuarial do Medicare irá alcançar o nível de exaustão 
em 2030. Em algum ponto, medidas precisarão ser tomadas para 
controlar os déficits fiscais persistentes com reformas estruturais que 
combinem o aumento da receita de impostos e redução dos gastos. Por 
definição, qualquer aumento nas alíquotas dos impostos e/ou 
diminuições nas transferências de pagamentos às famílias deve reduzir o 
crescimento da renda pessoal disponível abaixo da renda antes do 
pagamento dos impostos. 
Os efeitos combinados da crescente desigualdade, um sistema 
educacional vacilante, ventos demográficos adversos, e a forte 
probabilidade de uma correção fiscal implicam que a renda real 
disponível mediana irá crescer muito mais lentamente no futuro do que 
no passado. Quando combinados com as implicações do menor impacto 
das inovações na produtividade desde 1970, existe pouco espaço mesmo 
para o fraco crescimento. Quando todos os ventos contrários são levados 
em consideração, o crescimento futuro da renda real disponível mediana 
mal será positivo e muito abaixo da taxa aproveitada por gerações de 
norte-americanos desde o final do século XIX. 
O efeito combinado dos quatro ventos contrários – desigualdade, 
educação, demografia, e dívida governamental – pode ser 
aproximadamente quantificado. Muito mais difíceis de avaliar são os 
numerosos sinais de ruptura social nos EstadosUnidos. Seja mensurado 
como a porcentagem de crianças crescendo em lares uniparentais, ou 
4 
 
pela desvantagem de vocabulário dos crianças em idade pré-escolar 
oriundas de famílias com baixa renda, ou pela porcentagem de jovens 
negros ou brancos aprisionados, sinais de decadência social estão em 
todos os lugares nos Estados Unidos do início do século XXI. Esses 
problemas serão examinados neste capítulo, e um conjunto de diretrizes 
para mudanças de política é apresentado no pós-escrito subsequente. 
 
 
O Primeiro Vento Contrário: Dimensões da Crescente 
Desigualdade 
 
Ao longo desse livro, o progresso foi mensurado pela taxa de avanço 
da média representada pelo PIB real per capita ou por hora trabalhada. 
Tais médias, ou valores médios, podem ser equivocados se o ritmo das 
melhorias beneficia aqueles que possuem altas rendas mais do que 
aqueles que possuem rendas médias ou baixas. Quando a distribuição 
de renda, ou de riqueza, ou de qualquer outra quantidade se torna 
viesada a favor daqueles que estão no topo, então os valores medianos 
das séries crescem mais lentamente do que o valor médio. E isso é 
exatamente o que ocorreu nos Estados Unidos ao longo das últimas 
quatro décadas. Nesta seção, nós examinaremos separadamente três 
bases de dados separadas, a primeira baseada em registros dos impostos, 
a segunda sobre dados do U.S. Census Bureau, e a terceira sobre uma 
combinação de dados censitários e tributários que leva em conta o efeito 
dos impostos e das transferências de renda do governo para o setor 
privado na redistribuição da renda após o pagamento dos impostos para 
as famílias de baixa renda. 
Thomas Piketty e Emmanuel Saez foram pioneiros no uso dos 
dados tributários para estudar a evolução das rendas no topo da 
distribuição comparadas com as rendas daqueles que estão abaixo do 
topo. Os seus dados para os Estados Unidos voltam até 1917, apenas 
alguns anos depois da introdução do imposto de renda nos Estados 
Unidos em 1914. Eles investigaram o problema de que a proporção 
daqueles que rendas baixas ou médias que pagam impostos varia de ano 
para ano e de era para era. A sua agora largamente aceita solução é de 
usar dados macroeconômicos padronizados derivados das contas 
nacionais para estimar a renda total e então subtrair as rendas do topo, 
baseadas em registros tributários, para obter o valor das rendas daqueles 
que estão abaixo do topo. 
O gráfico 18-1 sumariza os resultados centrais de Pikety-Saez para 
a maior parte do último século, de 1917 a 2013. As taxas de crescimento 
são apresentadas em três intervalos divididos em 1948 e 1972 e para três 
grupos, os 90 por cento de baixo, os 10 por cento no topo, e a média 
cobrindo todos os grupos de renda. As colunas em branco mostram a 
5 
 
taxa de crescimento da renda antes dos impostos (incluídos os ganhos de 
capital) para os 90 por cento de baixo, as colunas negras para os 10 por 
cento no topo, e as colunas cinzas para o crescimento da renda média. 
Cada uma das três eras apresenta resultados distintamente diferentes. 
 
Gráfico 18-1. Taxas de Crescimento da Renda Real, 10 Por Cento no 
Topo, 90 Por Cento Abaixo, e Média, Intervalos Selecionados, 1917-2013 
Fonte: Calculado a partir de Alvaredo, Facundo; Anthony B. Atkinson; 
Thomas Piketty; e Emmanuel Saez, The World Top Incomes Database, 
http://topincomes.g-monde.parisschoolofeconomics.eu/. Acesso em 
25/06/2015. Renda média para cada percentil, incluindo os ganhos de 
capital. 
Durante 1917-48, as rendas se tornaram substancialmente mais 
iguais. Os rendimentos reais daqueles 90 porcento de baixo cresceram a 
1,43% ao ano, mais do que o dobro da taxa de crescimento de 0,58% dos 
10 porcento no topo, com a média a 1,11%. Esse foi o resultado da 
influência equalizadora da Grande Depressão, da Segunda Guerra 
Mundial, e dos vários programas de nivelamento de renda instituídos nos 
1930s e 1940s, incluindo o salário mínimo, a legislação encorajando a 
formação de sindicatos, e a Lei dos Veteranos, que enviou milhões de 
pessoas pobres às universidades e lhes possibilitou subir das suas 
origens na classe trabalhadora para o status de classe média. 
O fato mais notável do período 1948-72 não foi que todas as rendas 
tenham crescido aproximadamente à mesma taxa dos 90 porcento de 
baixo, mas que o rendimento real de cada grupo tenha crescido tão 
rapidamente. A taxa média de crescimento das rendas reais de 2,58% ao 
ano durante 1948-72 foi mais do que o dobro da taxa de crescimento de 
1,11% ao ano do período 1917-48, e mais de cinco vezes a taxa de 
crescimento de 0,48% do período 1972-2013. As duas décadas e meia 
após 1948 foram a era dourada para milhões de formados no ensino 
médio, que sem educação universitária puderam trabalhar 
continuamente em empregos sindicalizados e fazer uma renda alta o 
6 
 
suficiente para comprar uma casa suburbana com quintal, um ou dois 
carros, e um estilo de vida com que os trabalhadores de renda mediana 
na maioria dos outros países apenas podiam sonhar. 
Mas tudo mudou após o início dos 1970s. Uma diferença 
gigantesca emergiu entre a taxa de crescimento da renda real para os 90 
porcento de baixo e os 10 porcento no topo da distribuição de renda. A 
renda real média para os 90 porcento de baixo foi, na verdade, menor em 
2013 do que em 1972. De fato, o pico de renda real para os 90 porcento 
de baixo foi de US$ 37.053 em 2000, apenas um pouco acima do que os 
US$ 35.411 alcançados em 1972, e em 2013, a média havia declinado 
15% em relação a 2000, para US$ 31.652. Enquanto isso, a renda real 
média para os 10 porcento no topo dobrou de US$ 161.000 em 1972 para 
US$ 324.000 em 2007, seguida de uma modesta retração para US$ 
273.000 em 2013. 
Uma segunda base de dados relacionada com a distribuição de 
renda bem do Census Bureau, que provê dados sobre a renda domiciliar 
real média e mediana a partir de 1975. A Tabela 18-1 compara as taxas 
de crescimento do Census Bureau para 1975-2013 e dois subperíodos 
divididos em 1995, e essas são comparadas na mesma tabela com os 
dados de Piketty-Saez para o período a partir de 1975. Como 
demonstrado no quadro superior da Tabela 18-1, o crescimento da renda 
real média do Census Bureau excedeu o crescimento da renda mediana 
por um montante substancial – por 0,61 pontos porcentuais durante 
1975-95, por 0,33 pontos durante 1995-2012, e por 0,47 pontos para os 
dois períodos considerados conjuntamente, de 1975 a 2012. 
Tabela 18-1. Taxas de Crescimento da Renda Real, Medidas Alternativas, 
1975-2013 
 
Fonte: Renda Domiciliar Média e Mediana do US Census Bureau, Income 
and Poverty in the United States: 2013, Table A-1. Percentis da renda dos 
dados utilizados no Gráfico 18-1. 
7 
 
Taxas de crescimento dos dados Piketty-Saez são registrados para 
o período pós-1975 no quadro inferior da Tabela 18-1. As linhas 
apresentam, respectivamente, a taxa de crescimento da renda real por 
unidade tributada para os 10 porcento no topo, os 90 porcento abaixo, a 
média de toda a distribuição, e a diferença entre o crescimento da média 
e dos 90 porcento abaixo. A diferença é de 0,70 pontos porcentuais para 
todos os três períodos considerados. É interessante comparar o 
crescimento da média da renda nos dados do Census Bureau com o 
crescimento da renda média da base de dados Piketty-Saez; nós 
deveríamos esperar que a última fosse um pouco mais rápida, pois o seu 
conceito inclui os ganhos de capital, que são excluídos nos dados sobre 
a renda do Census Bureau. A despeito dessa diferença conceitual, para 
o intervalo completo de 1975 a 2013, o crescimento da renda média do 
Census Bureau, de 0,77% ao ano, é ligeiramente maior do que o 
crescimento médio de 0,60% ao ano da base de dados Piketty-Saez.Recentemente, críticos das bases de dados do Census Bureau e do 
estudo de Piketty-Saez se queixaram de estas refletem apenas a renda de 
mercado, e ignora o efeito dos impostos e das transferências. De forma 
não surpreendente, um ajuste para os impostos e as transferências reduz 
a diferença do crescimento da renda entre a média incluindo a renda do 
grupo no topo e a média excluindo esse grupo. As taxas de impostos 
pagas pelos indivíduos com alta renda são substancialmente maiores do 
que aquelas pagas pela maioria dos contribuintes, e na verdade a maioria 
das famílias na metade de baixo da distribuição de renda paga pouco ou 
nenhum imposto federal sobre a renda. As transferências sociais, o 
Medicare, e os prêmios de seguro-saúde pagos pelos empregadores são 
pagamentos de transferências que beneficiam aqueles no meio da 
distribuição de renda, enquanto os vales-alimentação, o crédito de 
imposto sobre a renda auferida, e os pagamentos de transferências do 
Medicaid são dirigidos primariamente às famílias na parte de baixo da 
distribuição de renda. 
A análise mais completa que ajusta para impostos e transferências 
é publicada regularmente pelo Congressional Budget Office (CBO). O 
conceito de renda de mercado antes da tributação é mais completo do 
que nas bases de dados de Piketty-Saez e do Census Bureau, e cresce 
mais rapidamente do que os conceitos alternativos. Como demonstrado 
na coluna (1) da Tabela 18-2, a média da renda de mercado antes da 
tributação do CBO cresceu durante o período 1979-2011 a 1,16% ao ano, 
substancialmente mais rapidamente do que as taxas de crescimento 
médio de 0,70% e o 0,77% ao ano de Piketty-Saez e do Census Bureau 
ao longo de um período de tempo ligeiramente maior. Após se levar em 
consideração os impostos e as transferências, a renda média cresce a 
1,48% ao ano. Como seria de esperar, a declaração de crescimento da 
renda após a cobrança dos impostos e o recebimento de transferência 
tem o maior efeito sobre o menor grupo de renda do percentil 1-20, 
elevando o crescimento da renda para esse grupo de 0,46% ao ano antes 
dos impostos e das transferências para 1,23% ao ano após os impostos e 
as transferências. O 1 por cento no topo da distribuição também ganha 
8 
 
com o ajuste para impostos e transferências, embora nem de perto na 
mesma medida, e tem uma taxa de crescimento anual de 4,05% após os 
impostos e transferências, comparada a 3,82% sem esses ajustes. 
Tabela 18-2. Taxa de Crescimento Anual para Dois Conceitos de Renda, 
por Grupos da Distribuição de Renda, 1979 a 2011 
 
Fonte: CBO, The Distribution of Household Income and Federal Taxes, 
2011. 
Quando consideramos o futuro do crescimento nos Estados 
Unidos, nós nos preocupamos não somente com o crescimento da renda 
per capita média, mas também com o crescimento da renda per capita 
para a família mediana. O Gráfico 18-2 exibe as diferenças entre a taxa 
de crescimento anual da média e para o grupo dos 90 porcento de baixo 
da distribuição de Piketty-Saez, assim como diferenças entre o 
crescimento médio e mediano para os dados do Census Bureau e do CBO 
com e sem os ajustes para os impostos e transferências. Como os dados 
do CBO são mais altos do que os das outras fontes de dados, e uma vez 
que o bem-estar depende da renda disponível após o ajuste para impostos 
e transferências, consideramos a última coluna do lado direito do gráfico 
18-2 como a mais relevante. Ela mostra que a diferença entre o 
crescimento médio e o mediano nos dados ajustados do CBO foi de 0,43% 
ao ano entre 1979 e 2011. 
Se a desigualdade de renda continuar a crescer ao longo das 
próximas décadas no mesmo ritmo das últimas três décadas, quanto 
9 
 
mais lento será o crescimento da renda mediana em relação à renda 
média? O melhor indicador do que aconteceu no passado vem dos dados 
ajustados para impostos e transferências do CBO. Se no futuro a 
diferença entre o crescimento da renda mediana e da renda média 
continuar à taxa de 0,4% ao ano, isto implica que uma projeção de 
crescimento futuro na renda per capita de, digamos, 1,0% ao ano, se 
traduziria numa projeção para o crescimento mediano de 0,6% ao ano. 
 
 
Gráfico 18-2. Diferença entre o Crescimento da Renda Médio e para os 
90 Porcento de Baixo (Piketty-Saez) e para o Mediano (Census Bureau e 
CBO) 
Fonte: Tabelas 18-1 e 18-2. CBO de 1979 a 2011, demais de 1975 a 2013. 
 
Pressões Para Baixo nos Salários dos 90 Porcento de Baixo da 
Distribuição de Renda 
 
Quais fatores têm influenciado a evolução da distribuição de renda 
abaixo do nonagésimo percentil? Os meados dos 1970s marcam um 
ponto de inflexão entre uma era de salários continuamente crescentes no 
meio e na parte inferior da distribuição de renda para uma nova era que 
durou as últimas quatro décadas, quando os salários cresceram muito 
pouco na parte de baixo e cresceram muito mais rapidamente no topo da 
distribuição. A grande estagnação dos salários nos Estados Unidos ao 
longo das últimas três décadas levou muitos observadores a acreditar que 
a economia estava danificada de maneira fundamental. O que causou 
essa virada quarenta anos atrás? 
10 
 
Entre 1929 e 1945 as rendas no topo cresceram mais lentamente 
que as no meio e na base da distribuição, criando uma mudança na 
direção de maior igualdade que Claudia Goldin e Robert Margo 
chamaram "a Grande Compressão." Entre a II Guerra Mundial e 1975, 
as rendas no topo e na base cresceram aproximadamente à mesma taxa, 
e como resultado, a compressão durou por cerca de três décadas. Três 
fatores enfatizados Goldin e Margo como suportes da compressão foram 
o aumento da sindicalização e o declínio tanto do comércio quanto da 
imigração. Esses três fatores, que datam dos 1930s, explicam 
convincentemente o baixo nível de desigualdade no período 1945-75, e 
suas reversões provêm uma parte importante da explicação para a 
crescente desigualdade após 1975. Nesta seção, examinaremos essa 
reversão, consistindo do declínio da sindicalização, e o aumento das 
importações e da imigração, junto com dois outros fatores geralmente 
aceitos como fontes da crescente desigualdade – quais sejam, a 
automação e o declínio no valor real do salário mínimo. 
Subsequentemente, nós nos voltamos para o papel da educação como 
uma fonte de maior desigualdade na medida em que os ganhos salariais 
para os trabalhadores com formação universitária contrastaram com a 
estagnação dos salários para os formados no ensino médio e para os 
desistentes do ensino médio. 
A porcentagem de empregados sindicalizados nos Estados Unidos 
declinou rapidamente de 27% em 1973 para 19% em 1986, e depois mais 
lentamente para 13% em 2011. A taxa decrescente de sindicalização 
reduziu os salários, e particularmente o salário mediano. O declínio na 
taxa de sindicalização se combina com forças de mercado, 
particularmente o encolhimento dos empregos no setor manufatureiro e 
a mudança da demanda dos consumidores dos bens para os serviços, 
junto com uma atitude agressivamente antissindicalista adotada por 
muitos empregadores. A estagnação ou mesmo declínio nos salários foi 
exacerbado pela tendência crescente das firmas, particularmente na 
manufatura e na construção, a contratar trabalhadores de agências de 
emprego temporário que pagam salários relativamente baixos e oferecem 
poucos, se algum, benefícios indiretos. As firmas se beneficiam não 
apenas do menor custo do trabalho, mas da flexibilidade aumentada no 
ajuste da oferta de horas-trabalho para atender a demanda. 
A participação das importações no PIB dos Estados Unidos 
aumentou de 5,4% em 1970 para 16,5% em 2014. O trabalho 
incorporado nas importações é um substituto para o trabalho local. Por 
essa ração, o aumento na fração de importaçõesno PIB contribuiu para 
o declínio nos salários relativos dos trabalhadores não qualificados e 
semiqualificados. Numa análise particularmente aguda, David Autor e 
coautores calcularam que as importações da China entre 1990 e 2007 
responderam por um quarto do declínio no nível de emprego do setor 
manufatureiro durante aquele período, e que também baixaram os 
salários, reduziram a taxa de participação na força de trabalho, e 
aumentaram os pagamentos de transferências financiadas publicamente. 
11 
 
Os caminhos das importações vão além dos bens finais, porque 
tantos as firmas quanto os países se especializam crescentemente em 
diferentes estágios da produção. Por exemplo, aumentos da importação 
de peças de automóveis mais do que dobraram entre 2001 e 2014, de $63 
bilhões para $138 bilhões, e provocaram o fechamento de fábricas locais 
de muitos produtores de autopeças, e em casos a levar a produção de 
peças para o exterior, particularmente para o México. Tomados 
conjuntamente, a crescente penetração das importações e o outsourcing 
representam os efeitos combinados da globalização nos níveis tanto do 
emprego quanto dos salários na economia local. No caso da indústria de 
autopeças, os efeitos da globalização incluíram um declínio nos salários 
medianos de $18,35 por hora em 2003 para $15,83 em 2013. 
A imigração responde por mais da metade do crescimento total da 
força de trabalho nos Estados Unidos ao longo da década entre 1995 e 
2005. Uma informação complementar é que a fração dos trabalhadores 
nascidos no exterior na força de trabalho cresceu continuamente de 5,3% 
em 1970 para 14,7% em 2005. A pesquisa econômica apoia a visão de 
que os imigrantes reduzem os salários dos trabalhadores locais por um 
pequeno montante, e que o efeito é maior sobre os trabalhadores locais 
que não concluíram o ensino médio. Muitos imigrantes com poucas 
qualificações assumem desproporcionalmente empregos e entram em 
ocupações já preenchidas por outros trabalhadores nascidos no 
estrangeiro – por exemplo, trabalhadores em restaurantes e em serviços 
de pintura – e, portanto, o seu efeito principal é de reduzir os salários dos 
trabalhadores nascidos no estrangeiro, e não dos trabalhadores nativos. 
A literatura prévia notou o fato de que entre desistentes do ensino médio, 
os salários dos trabalhadores nativos e dos nascidos no estrangeiro era 
quase idêntico até 1980, mas que já em 2004 os trabalhadores nascidos 
no estrangeiro recebiam 15-20% menos. 
As pressões baixistas sobre os salários na base dos 90 porcento da 
distribuição de renda ocorreriam mesmo se não tivesse havido a erosão 
da sindicalização ou o crescimento das importações e da imigração. O 
ritmo contínuo da automação - a substituição de empregos por máquinas 
- teria contribuído para o declínio das rendas relativas daqueles na base 
dos 90 porcento. Os empregos relativamente bem-pagos na manufatura 
diminuíram, e a parcela do emprego na manufatura nos Estados Unidos 
declinou de 30% em 1953 para menos de 10% atualmente. O efeito da 
automação coincide com a "mudança técnica aviesada para 
qualificações" que resulta na destruição dos empregos rotineiros que são 
substitutos próximos dos computadores, e essas perdas de emprego 
ocorreram não somente na linha de montagem das fábricas 
manufatureiras, mas também nas ocupações rotineiras de escritório, 
como datilógrafos, contadores, escreventes, escriturários, balconistas, 
recepcionistas e outros. A automação não cria um estado permanente de 
desemprego em massa, como temido pelos pessimistas, e a economia foi 
capaz de atingir uma taxa de desemprego abaixo de 5% na expansão 
cíclica que se encerrou em 2007, e a taxa de desemprego em 2015 
novamente declinou para próximo de 5%. 
12 
 
Ao invés de desemprego em massa, a composição dos empregos 
mudou, com mais empregos criados no topo e na base da distribuição de 
ocupações, e uma diminuição no meio. Essa transformação tem sido 
chamada de "hipótese da polarização" e tem sido extensamente 
documentada nos anos recentes pelos economistas do trabalho. Os 
empregos de alto nível, tais como aqueles ocupados por gerentes e 
profissionais com curso superior, são frequentemente chamados de 
ocupações "não rotineiras que exigem abstração". Os empregos de nível 
médio como aqueles ocupados por trabalhadores em linhas de montagem 
da manufatura, contadores, recepcionistas e funcionários 
administrativos foram chamados de ocupações “rotineiras”, enquanto 
aqueles na base foram chamados de empregos “manuais”. Um resultado 
da perda de empregos rotineiros semiqualificados é que os trabalhadores 
semiqualificados são forçados a competir pelos empregos manuais de 
baixa qualificação, portanto elevando a oferta relativa à demanda por 
trabalhadores manuais. O resultado tem sido um declínio nos salários 
para aqueles com relativamente poucas qualificações, para os graduados 
e para os desistentes do ensino médio, como mostrado no gráfico 18-3. O 
nível geral dos salários é reduzido à medida que a composição do emprego 
muda dos empregos relativamente bem-pagos da manufatura para o 
largo intervalo de empregos tipicamente mal pagos no comércio, nos 
serviços de alimentação, de limpeza e conservação. 
 
 
Gráfico 18-3. Rendimentos Semanais Reais por Nível Educacional, 1963 
= 100, 1963-2012 
Fonte: Autor (2014b), gráfico 6. 
Para além dos efeitos do enfraquecimento dos sindicados, das 
importações crescente, e automação, um quinto fato que produziu a 
tendência a aumentar a desigualdade na base dos 90 porcento da 
distribuição de renda foi a erosão do salário mínimo. Calculado em 
13 
 
dólares constantes de 2011, o salário mínimo diminuiu de 1979 para 
1989 de $ 8,38 para $5,87. Ele alcançou o menor nível de $4,68 em 2006 
antes de ser elevado para $7,25 em 2009. Vários autores afirmam que a 
erosão do salário mínimo real responde por muito do aumento da 
desigualdade medida como a razão de rendimentos do décimo percentil 
para o nonagésimo percentil. 
Parece plausível que o declínio das rendas relativas abaixo do 
nonagésimo percentil desde o final dos 1970s tenha sido causado, ao 
menos em parte, pelo poder de barganha e densidade declinantes dos 
sindicatos, pelo aumento da importância das importações e da imigração, 
pelos progressos da automação, e pela diminuição no salário mínimo real. 
Frank Levy e Peter Temin proveram uma interpretação complementar que 
coloca mais ênfase na mudança da filosofia política do que eles 
chamaram o “Consenso de Detroit” do final dos 1940s para o “Consenso 
de Washington” iniciado por Reagan no início dos 1980s. O ponto 
principal que Levy e Temin adicionam ao nosso sumário anterior é que 
aqueles impostos altamente progressivos, com taxas de tributação 
marginal de 90% para os ganhadores de renda no nível máximo nos 
1940s e 1950s, enviavam um sinal de que rendas muito elevadas eram 
inaceitáveis. Começando com os cortes de impostos de Reagan, aquele 
elemento de apoio político da grande compressão começou a erodir, e os 
salários dos CEOs aumentaram de vinte vezes o pagamento médio dos 
trabalhadores em 1973 para 257 vezes em 2013, quando o pagamento 
médio de um CEO numa empresa de capital aberto alcançou $ 10,5 
milhões por ano. A diferença de renda é ainda maior para as 
aposentadorias, em que é comum para os CEOs que se afastam receber 
planos de aposentadoria multimilionários. Um exemplo particularmente 
gritante foi o CEO da Target, que foi substituído em maio de 2014 após 
uma massiva quebra de dados por hacking de cartões de crédito, e 
recebeu um pacote de aposentadoria de $ 47 milhões, cerca de mil vezes 
o saldo médio das poupanças que a Target tinha realizado para os seus 
trabalhadores no plano complementar 401(k) da empresa. 
Recentemente,houve substancial publicidade para o requerimento 
dos trabalhadores nos serviços fast food, a maioria dos quais é pago 
pouco mais do que o salário mínimo. A base dos 20 porcento dos 
trabalhadores americanos na distribuição de renda ganha menos do que 
$ 9,89 por hora, e o seu salário ajustado pela inflação caiu 5% entre 2006 
e 2012, enquanto o pagamento para o trabalhador mediano caiu 3,4%. 
Manter os salários reduzidos é uma estratégia corporativa explícita de 
muitas firmas do varejo. O Wall Street Journal escreveu: 
“Mudanças econômicas ao longo da última década levaram a um 
declínio dos empregos bem-pagos em todo o país, como aqueles na 
manufatura, e um aumento nos empregos que pagam menos, tais 
como nos serviços de alojamento e alimentação... Posições são 
crescentemente preenchidas não por jovens e inexperientes, mas 
por trabalhadores mais velhos e mais qualificados que não 
conseguem encontrar outros empregos.” 
14 
 
A Caterpillar se tornou a empresa-símbolo para a crescente 
desigualdade. Ela venceu as greves dos seus trabalhadores e estabeleceu 
um sistema de salários segmentados, no qual recém-contratados são 
pagos pela metade dos salários de veteranos, embora ambos os grupos 
sejam membros do mesmo sindicato. Em contraste, houve um aumento 
de 80% durante 2011-13 na remuneração do CEO, cujo mantra é "nós 
nunca fazemos dinheiro o suficiente... nós nunca estaremos satisfeitos 
com o nosso lucro." Companhias estrangeiras como a Volkswagen 
continuam a abrir fábricas em estados que não reconhecem o direito à 
sindicalização. Ao diminuir os salários em comparação aos salários nos 
estados nortistas com sindicatos fortes, essa realocação de fábricas 
estrangeiras pode impedir que o nível geral do emprego na manufatura 
dos Estados Unidos diminua ainda mais. Porém, qualquer progresso em 
segurar o declínio de décadas no emprego manufatureiro parece estar 
condicionado em manter os salários dos trabalhadores em cerca da 
metade do nível que o sindicato do setor automobilístico alcançou para 
os seus representados antes da falência da General Motors e da Chrysler. 
Na recuperação de 2009-2013, a manufatura reconquistou apenas 600 
mil dos 6 milhões de empregos que foram perdidos desde 2001, e a 
maioria destes foi condicional à contratação de trabalhadores a taxas 
salariais que foram substancialmente menores do que se praticava 
normalmente na manufatura em 2001. 
 
Desigualdade Crescente no Topo da Distribuição de Renda 
 
A tabela 18-2 enfatizou o hiato entre a taxa de crescimento da 
renda real média desde 1975 com o crescimento da renda mediana (isto 
é, do quinquagésimo percentil). Muito do aumento da desigualdade 
resultou do crescente viés no decil do topo da distribuição de renda. 
Mesmo dentro do último percentil no topo, os ganhos de renda foram 
muito mais rápidos no topo do 0,1 percentil ou do 0,01 percentil. É útil 
identificar as fontes das rendas crescentes no topo usando uma distinção 
tripla entre superestrelas nos esportes e no entretenimento, outros 
trabalhadores altamente especializados e remunerados, e a categoria 
controversa adicional dos CEOs e outros diretores no topo das 
corporações. 
A economia das superestrelas é um conceito originalmente 
inventado por Sherwin Rosen, que explicou a extrema assimetria da 
distribuição de renda nas categorias ocupacionais dominadas por 
superestrelas como resultado das características particulares da 
demanda e da oferta nesse mercado de trabalho. Pelo lado da demanda, 
as audiências querem ver o melhor talento, não o segundo melhor, e por 
isso a renda é altamente viesada dada a habilidade das superestrelas no 
topo em obter uma grande multidão nos locais dos eventos, e vendas 
recordes numa ordem de magnitude acima do segundo melhor. Pelo lado 
15 
 
da oferta, os trabalhadores realizam o mesmo esforço, sejam dez ou dez 
mil as testemunhas da performance. Os prêmios das superestrelas 
refletem um tipo particular de mudança tecnológica viesada em 
qualificações. Rosen sugere que uma sucessão de inovações desde o 
fonógrafo aumentou o tamanho das audiências que podem ouvir uma 
dada performance musical e, portanto, aumentou as rendas das 
superestrelas por muitos múltiplos. O agudo aumento das rendas das 
superestrelas desde o artigo de Rosen em 1981 reflete o desenvolvimento 
posterior da tecnologia, incluindo a TV a cabo, videoteipes e DVDs 
rentáveis, streaming de filmes com base na Internet, vídeos do YouTube, 
e música downloadable. 
Um segundo grupo de indivíduos com alta renda também reflete a 
operação do mercado – isto é, da oferta e da demanda. Profissões 
importantes, especialmente advogados e banqueiros de investimento 
ranqueados no topo, recebem rendas que são determinadas pela 
demanda de mercado pelos serviços prestados por suas firmas, seja uma 
enorme firma de advogados como a Sidley Austin de Chicado ou um 
banco de investimentos como o Goldman Sachs. Esses profissionais 
orientados para o mercado diferem das superestrelas no fato de que os 
seus produtos não são amplificados pela mídia eletrônica. Eles ainda são 
restritos pela necessidade de encontrar pessoalmente com os seus 
clientes, e de atender pessoalmente aos procedimentos legais com os seus 
adversários. Esse segundo grupo vai além de advogados e banqueiros de 
investimento, e inclui aqueles nas editoras de livros, no desenho e na 
moda, na medicina, e mesmo no topo dos rankings da academia. 
CEOs e outros executivos no topo das corporações formam um 
terceiro grupo distinto. Uma ampla literatura sugere que o pagamento 
dos CEOs não é definido puramente no mercado, mas antes é definido 
por pares (CEOs com assento nos conselhos diretores). Lucian Bebchuk 
e Yaniv Grinstein apresentam a hipótese do poder gerencial, que 
direciona o pagamento dos executivos no topo muito acima da solução de 
mercado. O pagamento dos cinco executivos no topo em 1.500 empresas 
aumentou por quase o dobro entre 1993 e 2003 do que o seu modelo de 
regressão poderia explicar. Esses autores reportam o surpreendente fato 
de que a razão entre os pagamentos aos cinco executivos no topo para o 
total dos lucros corporativos para essas 1.500 firmas aumentou de 5,0% 
em 1993-95 para 12,8% em 2001-2002. 
Está claro na literatura que o aumento do pagamento de executivos 
é dominado pelo crescimento do papel das opções de ações. Brian Hall e 
Jeffrey Liebman propuseram duas explicações alternativas; eles 
justapuseram a explicação baseada no mercado contra a explicação do 
poder gerencial. Sua primeira explicação proposta é que o uso das opções 
de ações aumentou tão dramaticamente por que os conselhos diretores 
querem fortalecer a relação entre pagamento e performance. Sua segunda 
explicação proposta, complementar à primeira, é que os conselhos 
querem aumento o pagamento dos CEOs e escolheram a opções pelos 
16 
 
prêmios como um método “menos visível” com menor probabilidade de 
incitar a raiva dos proprietários das ações. 
Existem, sem dúvidas, sobreposições e interações entre as 
explicações das superestrelas, dos talentos no topo, e do poder gerencial 
dos CEOs para a crescente desigualdade. Após se tornar rico por 
qualquer razão, aqueles no alto da distribuição de renda multiplicam as 
suas rendas investindo na bolsa de valores e em investimentos mais 
esotéricos como private equity e fundos hedge. Ganhos de riqueza foram 
particularmente extremos entre 1983, quando a média da bolsa de 
valores na S&P 500 foi de 120, e 2000, quando essa média alcançou 
1.477 pontos. Isto representa uma taxa de retorno real incluindo 
dividendos de 14,3% ao ano. Não apenas as famílias abaixo do 
nonagésimo percentil da distribuição de renda possuem poucas ações 
(exceto indiretamente através dos seus planos de aposentadoria),mas 
também estiveram dispostas a um timing de mercado perverso. Um 
estudo do Federal Reserve mostrou que mais de 5 milhões de famílias 
venderam suas ações quando a bolsa de valores estava em baixa em 
2009-10, e que apenas aqueles no 10 porcento ao topo da distribuição de 
renda tinham aumentado a posse de ações desde então. Parte dessa 
tendência das famílias de menor renda compensar o mercado quando 
este está em baixa pode vir da necessidade de liquidar ativos em face do 
desemprego causado pela recessão no ciclo de negócios. 
Um estudo recente do Pew Research Center quantificou a trajetória 
dos aumentos de riqueza real ao dividir as famílias nos Estados Unidos 
num grupo superior compreendendo 21% das famílias, num grupo médio 
compreendendo 46%, e num grupo inferior respondendo pelos 33% 
remanescentes. Para o grande grupo do meio, o valor da riqueza ajustado 
pela inflação estagnou ao longo de três décadas, crescendo apenas de 
$94.300 em 1983 para $96.500 em 2013. Ao longo desse período de 
trinta anos, a riqueza real no grupo de base na verdade caiu, de $11.400 
para $9.300. Em contraste, o grupo no topo gozou de uma exata 
duplicação da riqueza real, de $318.100 em 1983 para $639.400 em 
2013. Embora a ênfase desse livro sobre o padrão de vida se refira 
primariamente à renda real per capita, a evolução da riqueza real não 
pode ser ignorada, pois o aspecto de “rede de proteção” da acumulação 
de riqueza tem um profundo efeito no bem-estar ao prover segurança 
contra a perda de um emprego, ou um acidente, ou uma doença que 
reduza a possibilidade de obter renda. A estagnação na riqueza real para 
os 80 porcento na base da distribuição de renda dos Estados Unidos é 
um poderoso indicador que apoia a visão de que o crescimento no bem-
estar desacelerou nas últimas três décadas. 
 
Educação como uma Fonte de Crescente Desigualdade 
 
17 
 
As duas seções precedentes examinaram fontes da pressão para 
baixo nos salários e nas rendas dos 90 porcento na base e as fontes do 
aumento das rendas relativos no 1 porcento ao topo da distribuição de 
renda. Em adição, uma bifurcação ocorreu dentro dos 90 porcento na 
base, com estagnação salarial e declínio nos percentis de baixo 
combinados com crescimento mais rápida da renda no octogésimo e 
nonagésimo percentis, embora nem de perto tão rápida quanto no 1 
porcento no topo. Educação é a causa principal desse espalhamento da 
distribuição de renda, pois o crescimento nos pagamentos àqueles que 
completam uma graduação de quatro anos superou em muito os 
daqueles que abandonaram o ensino médio. Os resultados de renda 
daqueles que possuem graus superiores de dois anos, daqueles que 
completaram parcialmente a graduação de quatro anos, e daqueles que 
possuem diplomas de ensino médio apresentam situações intermediárias 
entre os extremos representados pelos quatro anos completos de 
graduação no topo e os desistentes do ensino médio na base. 
A análise das recompensas recebidas pelos trabalhadores que 
possuem diferentes montantes de frequência educacional começa com a 
proposição básica de que as rendas dos trabalhadores são determinadas 
pela sua produtividade – ou seja, quanto eles produzem por hora 
trabalhada. O valor dessa hora depende da demanda e da oferta – ou seja, 
o valor para o empregador daquilo que o empregado consegue produzir e 
o número de trabalhadores que são capazes de completar as tarefas 
requeridas. Como a proporção de norte-americanos que completam 
cursos superiores tem aumentado, a oferta de formados nas 
universidades tem aumentado em relação àqueles com menor resultado 
educacional. Esse aumento na oferta relativa foi particularmente rápido 
entre 1964 e 1982 e foi suficientemente rápido em relação ao aumento 
da demanda relativa por formados em universidades, de forma que o 
prêmio por completar um curso superior diminuiu ligeiramente nos 
1970s. Após 1982, o crescimento na oferta relativa desacelerou e na 
demanda relativa acelerou, de forma que o prêmio por completar um 
curso superior aumentou entre 1982 e 2000. O aumento no prêmio 
salarial universitário foi suficiente para explicar todo o aumento nos 
rendimentos daqueles no nonagésimo percentil em relação àqueles no 
décimo percentil entre 1984 e 2004. 
O gráfico 18-3 mostra a evolução do salário real de trabalhadores 
masculinos em tempo integral em cinco grupos educacionais expressos 
como uma razão para o salário real de cada grupo em 1963. As linhas 
estão dispostas do alto para baixo conforme o montante de educação, 
com a linha no topo apresentando o salário real daqueles com educação 
além dos quatros anos do grau de bacharel e a linha de baixo 
apresentando as mudanças salariais dos desistentes do ensino médio. 
Cada ponto apresentado representa o salário em relação a 1963, de que 
forma que o ponto final de 97 porcento indicado em 2012 para os 
desistentes do ensino médio representa um declínio salarial de 3% entre 
1963 e 2012, enquanto o ponto final de 188 porcento para aqueles que 
estudaram além do grau de bacharel indica um aumento de 88% no 
18 
 
salário real desde 1963. O espalhamento das cinco linhas, mostrando 
maiores ganhos salariais com os maiores resultados educacionais, indica 
que a demanda relativa por graduados altamente educados cresceu mais 
rapidamente do que a sua oferta relativa. É importante notar que o 
aumento dos rendimentos daqueles com grau universitário ou o maior 
aumento relativo em relação aos formados e aos desistentes do ensino 
médio não resulta somente do fato de que os graduados universitários 
estão se dando bem, mas também porque os grupos na base estão com 
péssimos resultados. 
O crescimento dos rendimentos nos cinco grupos não procedeu 
num ritmo uniforme. A elevação dos salários reais dos graduados com 
curso superior ocorreu em dois períodos de tempo relativamente curtos, 
primeiro entre 1964 e 1972, e depois entre 1996 e 2000. Entre 1972 e 
1996, e depois novamente após 2000, o salário real dos graduados com 
curso superior estagnou. Para os formados no ensino médio, foram várias 
fases de evolução do salário real: um aumento durante 1964-72, depois 
um longo e lento declínio de 1972 a 1990, estagnação até 1996, uma 
recuperação parcial durante 1996-2000, e depois estagnação novamente 
entre 2000 e 2012. Os resultados para aqueles com curso superior 
incompleto ficam numa posição intermediária entre os dos graduados 
com curso superior e os formados no ensino médio, porém mais próximos 
dos últimos, enquanto que os desistentes do ensino médio tiveram uma 
trajetória de salário real que caiu gradualmente, entre 1974 e 2000, para 
cerca de 10% abaixo do nível dos formados no ensino médio. A erosão 
dos salários para os formados e para os desistentes do ensino médio é 
um resultado de todos os fatores já citados – o declínio da sindicalização 
e do salário mínimo, combinado com o aumento das importações e da 
imigração, além do papel do progresso da automação. 
Podemos dividir o salário real dos bacharéis com curso superior 
pelo dos formados no ensino médio, para descrever a evolução do prêmio 
salarial do curso superior em relação ao seu valor em 1963, como no 
gráfico 18-4. O prêmio salarial do curso superior aumentou ao longo do 
último meio século, mas não a um ritmo uniforme. Depois de uma 
elevação inicial entre 1964 e 1967, o prêmio estagnou até 1973, e em 
1983 havia declinado de volta ao nível de 1963. Então cresceu 
continuamente de 100% para 128% do nível de 1963 entre 1982 e 2001, 
seguido de pouco crescimento posterior. O declínio do prêmio nos 1970s 
pode ser atribuído ao aumento da oferta relativa de formados com curso 
superior, que ocorreu nos 1960s e 1970s. O aumento do prêmio de 1982 
a 2001 coincide com um período de crescimento relativamentelento na 
oferta relativa de formados com curso superior, e o intenso aumento entre 
1996 e 2001 também pode refletir o rápido incremento na demanda por 
qualificações durante o boom dot-com do final dos 1990s. A acomodação 
do prêmio após 2005 parece ser o resultado de um renovado aumento na 
oferta relativa de formados com curso superior, mas também pode refletir 
um declínio na demanda por trabalhos abstratos não rotineiros que se 
iniciou após 2000. 
19 
 
 
 
Gráfico 18-4. Rendimentos Semanais Reais, Razão Percentual dos 
Formados com Curso Superior em relação aos Formados com Ensino 
Médio. 
Fonte: Calculado a partir dos dados utilizados por Autor (2014b), gráfico 
6. 
Como a oferta de trabalhadores com educação superior aumentou, 
uma fração crescente dos formados com curso superior foi forçada a 
aceitar empregos que não requerem esse nível educacional. Como 
demonstrado por Paul Beaudry e coautores, depois de 2000, houve um 
declínio na proporção de formados com curso superior trabalhando em 
ocupações abstratas não rotineiras, e um aumento daqueles trabalhando 
em empregos manuais. Isto representa uma intensa virada em relação 
aos 1990s, e coloca pressão adicional baixista nos salários pagos pelo 
trabalho manual rotineiro. Beaudry explica o declínio na demanda por 
trabalho abstrato não rotineiro como um complemento do declínio do 
investimento em informação de alta tecnologia e nos equipamentos da 
tecnologia de comunicação, o que ocorreu na recessão de investimentos 
que se seguiu ao boom dot-com do final dos 1990s. 
Até aqui expressamos os salários reais e o prêmio salarial do curso 
superior em relação aos seus valores de 1963. Qual é o equivalente em 
dólares atuais para esses valores? O valor monetário do prêmio do curso 
superior é substancial. A diferença anual dos rendimentos de formados 
com curso superior em relação aos formados com ensino médio, em 2012, 
foi de $35.000 para os homens e de $23.000 para as mulheres. Um 
domicílio com duas fontes de renda, em que ambos os cônjuges tenham 
curso superior recebe uma renda anual $58.000 dólares maior do que 
um domicílio com duas fontes de renda em que os cônjuges tenham 
concluído apenas o ensino médio. O valor presente descontado de obter 
um grau universitário em relação ao ensino médio, em 2008, tinha 
alcançado $590.000 para os homens e $370.000 para as mulheres. Essas 
20 
 
recompensas substanciais para a conclusão de um curso superior 
incluem a renda adicional obtida por aqueles com cursos de pós-
graduação, para os quais a conclusão de um curso universitário é um 
pré-requisito. 
O efeito da educação na desigualdade se entende além do efeito 
direto da escolarização sobre os rendimentos da geração atual, por que 
os pais com maior escolarização tendem a prover numerosas vantagens 
para a próxima geração. Tipicamente, homens e mulheres com curso 
superior tendem a se casar entre si, ter os filhos após o casamento, leem 
com mais frequência e habilitam uma vantagem de vocabulário sobre as 
crianças de pais com menor nível educacional. Pais com maior nível 
educacional também possuem condições financeiras para enriquecer a 
vida dos filhos através da exposição a museus, esportes, lições musicais, 
e uma maior variedade de livros. Tendem a morar em subúrbios onde as 
escolas locais proveem uma dieta mais rica de escolhas educacionais, 
incluindo maior treinamento para aprovação em testes de alocação 
avançada, usados para admissão às universidades ranqueadas no topo. 
As notas nos testes de admissão universitária SAT tendem a ser 
altamente correlacionadas com a renda dos pais. Todas essas vantagens 
reduzem a mobilidade social e estabelecem uma elite educacional que se 
autoperpetua, pois quase todas as famílias de alta renda enviam os seus 
filhos para a uma educação universitária de quatro anos, enquanto 
virtualmente nenhum dos americanos mais pobres o faz. A conclusão de 
um curso universitário pelos domicílios no quartil superior da 
distribuição de renda aumentou entre 1970 e 2013 de 40% para 77%, 
enquanto que para aqueles no primeiro quartil, aumentou apenas de 6% 
para 9%. 
 
Educação como Segundo Vento Contrário 
 
Os rendimentos mais elevados daqueles com curso superior ou 
pós-graduação refletem sua maior produtividade nos empregos. Para a 
economia como um todo, isto implica que o crescimento da produtividade 
agregada depende positivamente do crescimento da frequência escolar. 
Cada desistente do ensino médio se torna um trabalhador que 
provavelmente não irá ganhar muito mais do que um salário mínimo pelo 
resto da sua vida. 
O súbito aumento nas taxas de graduação escolar foi um vetor 
central do crescimento econômico no século XX. Mas ganhos na 
frequência escolar em geral se tornaram menores desde 1980, implicando 
que a educação se tornou um vento contrário no sentido de que sua 
menor contribuição para o crescimento econômico reduziu a taxa de 
crescimento da produtividade e da renda per capita. Esta seção examina 
a desaceleração do avanço da frequência escolar, a evidência de que o 
sistema educacional dos Estados Unidos está fracassando com os alunos 
21 
 
que apresentam níveis de desempenho insatisfatório comparados com os 
seus pares de outros países, e o papel da inflação de preços da educação 
superior e da dívida estudantil como um impedimento à conclusão dos 
cursos superiores, particularmente para aqueles com background 
familiar de baixa ou média renda. 
Desde que Edward Denison tentou em 1962 mensurá-la pela 
primeira vez, a contabilidade do crescimento reconheceu o papel de uma 
frequência escolar crescente como uma fonte do crescimento econômico. 
Claudia Goldin e Lawrence Katz estimaram que a frequência escolar 
aumentou 0,8 anos por década ao longo das oito décadas entre 1890 e 
1970. Ao longo desse período, eles também estimaram que a melhoria da 
frequência escolar contribuiu com 0,35 pontos percentuais ao ano para 
o crescimento da produtividade e do PIB per capita. Numa pesquisa 
separada, eu ajustei as estimativas de Denison para 1913-79 à atual 
metodologia do BLS e encontrei uma contribuição média da educação de 
0,38% ao ano, quase idêntica à de Goldin e Katz. 
O aumento da frequência escolar tem duas partes, uma que se 
refere à educação secundária, e outra que se refere à educação superior. 
As taxas de conclusão do ensino médio aumentaram de menos de 10% 
dos jovens em 1990 para 80% em 1970, e a porcentagem de jovens com 
dezoito anos recebendo os seus diplomas de ensino médio declinou desde 
então, para 74% em 2000, de acordo com James Heckman. Ele descobriu 
que os resultados econômicos daqueles que não obtiveram o diploma de 
ensino médio, mas o certificado de Desenvolvimento da Educação Geral 
– General Education Development (GED) –, não tinham um desempenho 
econômico melhor do que os desistentes do ensino médio, e que a queda 
nas taxas de conclusão podia ser explicada, em parte, pela elevação da 
proporção de jovens aprisionados. Os Estados Unidos atualmente se 
posicionam em décimo-primeiro lugar entre as nações desenvolvidas nas 
taxas de graduação no ensino médio, e é o único país no qual as taxas de 
graduação daqueles com idade entre 25-34 anos não é maior do que 
daqueles com idade entre 55-64 anos. 
O papel da educação em restringir o crescimento econômico futuro 
é evidente, dada a baixa qualidade dos resultados educacionais do ensino 
médio. Os relatórios da UNICEF listam os Estados Unidos na décima-
oitava posição em vinte e quatro países na porcentagem de alunos do 
ensino médio que ficaram abaixo do padrão internacional em leitura e em 
matemática. Os testes internacionais PISA em 2013, também se referindo 
ao ensino médio, posicionam os Estados Unidos em décimo-sétimo emleitura, vigésimo em ciência, e vigésimo-sétimo em matemática. A recente 
avaliação da organização de testes de seleção para a entrada nas 
universidades revelou que apenas 25% dos alunos do ensino médio estão 
preparados para frequentar a universidade, como evidenciado pelas 
notas em leitura, matemática e ciência. 
No nível da universidade, os problemas combinam uma interação 
entre o declínio nas tabelas das ligas internacionais de notas na 
22 
 
graduação com temas de acessibilidade financeira e dívida estudantil. 
Durante a maior parte do período do pós-guerra, uma educação de baixo 
custo estava ao alcance de uma maior fração da população do que em 
qualquer outro país, graças à educação gratuita possibilitada pela Lei dos 
Veteranos e às mensalidades mínimas para os alunos locais nas 
universidades estaduais públicas e nas faculdades locais. Os Estados 
Unidos lideraram o mundo durante a maior parte do século passado na 
porcentagem de jovens concluindo um curso superior. A porcentagem do 
grupo com idade entre 25-34 anos, que obtiveram um grau de bacharel 
em um curso de quatro anos, aumentou de 25% para 32% nos últimos 
quinze anos, mas os Estados Unidos agora estão posicionados em 
vigésimo entre os países desenvolvidos, após ter sido posicionado em 
segundo em 2000. 
E o futuro não parece promissor. O custo de uma educação 
universitária aumentou desde 1972 a mais do que o triplo da taxa geral 
de inflação. Entre 2001 e 2012, o financiamento pelos estados e 
prefeituras para a educação superior declinou exatamente um terço 
quando ajustado pela inflação. Em 1985, o Estado do Colorado proveu 
37% do orçamento da Universidade do Colorado, mas em 2013, proveu 
apenas 9%. Mesmo quando se leva em conta os descontos das 
mensalidades possibilitados pelas bolsas de estudo, o nível atual de 
conclusão dos cursos superiores nos Estados Unidos somente é possível 
com um aumento dramático dos empréstimos estudantis. Os norte-
americanos agora devem $1,2 trilhão em dívida estudantil. Embora um 
curso superior de quatro anos ainda compense, em maior nível de renda 
e menor risco de desemprego na comparação com formados no ensino 
médio, ainda mais do que metade dos formados nos cursos superiores 
não é capaz de encontrar um emprego que requeira a formação 
universitária. Esta “taxa de subemprego” foi de 56% para os jovens com 
22 anos, declinando para cerca de 40% para os de 27 anos, e a 
dificuldade de tantos formados com graduação universitária para 
encontrar empregos apropriados é consistente com a evidência, já citada, 
de Beaudry, Green, e Sand, argumentando que houve uma reversão na 
demanda por habilidades cognitivas abstratas e não rotineiras, desde 
2000. 
Estudantes que tomam grandes montantes de dívida estudantil 
enfrentam dois tipos de riscos. Um é que de eles fiquem com renda abaixo 
da média alcançada pelo típico graduado, devido a uma combinação de 
desemprego após a formatura e uma dificuldade de encontrar trabalho 
no seu campo escolhido de estudo. A pesquisa mostra que em média, um 
estudante universitário tomando $100.000 em dívida estudantil irá 
liquidar a dívida à idade de 34 anos, com a renda mais elevada 
possibilitada pela conclusão do curso superior suficiente para compensar 
o pagamento da dívida. Mas essa idade de break-even se torna maior 
quando a renda futura fica abaixo da média dos graduados. Existe 
também o risco de não conclusão. Um estudante que desiste após dois 
anos nunca consegue renda adicional para compensar a dívida, por que 
os salários dos desistentes do curso superior são pouco melhores do que 
23 
 
os dos concluintes do ensino médio. Esses riscos são particularmente 
relevantes para estudantes de alto desempenho oriundos de famílias de 
baixa renda – Caroline Hoxby demonstrou que eles raramente se 
candidatam para as universidades de elite, que estão preparadas para 
financiá-los completamente sem dívida, de forma que eles terminam em 
universidades do segundo escalão, abarrotados com dívida. 
O baixo desempenho dos formados no ensino médio dos Estados 
Unidos transborda para o seu desempenho na universidade. Muitos dos 
menos preparados entram em faculdades comunitárias de dois anos, que 
atualmente matriculam 39% dos alunos norte-americanos, enquanto os 
61% remanescentes se matriculam em cursos de quatro anos. O Center 
on International Education Benchmarking relata que apenas 13% dos 
alunos de cursos de dois anos completam os estudos em dois anos, 
embora essa porcentagem suba para 28% após quatro anos. As baixas 
taxas de conclusão dos cursos refletem a necessidade da maioria dos 
alunos de trabalhar em tempo parcial ou integral, além de frequentar as 
aulas da universidade, assim como a fraca preparação dos formados no 
ensino médio para ingressar nas faculdades comunitárias. A maioria dos 
alunos das faculdades comunitárias enfrentam essas duas dificuldades. 
Assim como os defeitos do ensino médio nos Estados Unidos 
tornam as carreiras universitárias bem-sucedidas menos prováveis, 
assim também a grande desigualdade no financiamento do ensino 
fundamental alimenta o baixo desempenho no ensino médio e uma taxa 
de desistência excessivamente elevada no ensino médio. O sistema de 
escolas fundamentais dos Estados Unidos é financiado com a renda dos 
impostos sobre a propriedade, que permite que os subúrbios ricos 
provejam instalações suntuosas para alunos que já se posicionam 
vantajosamente graças à renda dos sua família e ao reforço de 
conhecimento em casa, enquanto os alunos de famílias pobres 
frequentemente enfrentam cortes orçamentários agudos e fechamento de 
escolas como resultado do encolhimento das matrículas nos bairros 
centrais e provisão inadequada de receita dos impostos sobre 
propriedade. Os Estados Unidos também estão falhando em acompanhar 
a liderança dos outros países em ofertar educação pré-escolar gratuita. 
Entre as nações ricas, uma média de 70% das crianças de 3 anos estão 
matriculadas em algum tipo de programa educacional, enquanto que nos 
Estados Unidos essa porcentagem é de 38%. 
 
O Terceiro Vento Contrário: Demografia 
 
O vento contrário da demografia se refere a um conjunto de forças 
que mudou o número de horas trabalhadas por pessoa (H/N) e, portanto, 
cria uma cunha entre o crescimento da produtividade e o crescimento do 
produto per capita. O princípio organizador para compreender a sua 
significância é a identidade contábil que relaciona o produto total 
24 
 
(Produto Interno Bruto real, ou Y) ao número agregado de horas 
trabalhadas na economia (H) e o total da população (N): 
𝑌
𝑁
=
𝑌
𝐻
∙
𝐻
𝑁
 (1) 
A equação (1) afirma o truísmo de que o padrão de vida mensurado 
pelo produto per capita (Y/N) iguala por definição a produtividade do 
trabalho ou produto por hora trabalhada (Y/H) vezes o número de horas 
trabalhadas por pessoa (H/N). Ao decompor o produto per capita em 
produtividade e horas trabalhadas por pessoa, a equação (1) ajuda a 
clarear a relação entre os capítulos 17 e 18 desse livro. No capítulo 17, o 
passado, o presente, e o futuro do crescimento da produtividade (Y/H) 
são relacionados com a inovação, o motor fundamental do maior produto 
por trabalhador-hora. O capítulo 18 identifica os ventos contrários 
econômicos que mudam a produtividade, aqueles que mudam as horas 
trabalhadas por pessoa, e aqueles que não influenciam diretamente 
nenhuma dessas duas variáveis, no caso da desigualdade, mas antes 
reduzem o crescimento da renda real mediana em relação à média da 
economia como um todo. 
O termo crucial H/N pode também ser decomposto em horas por 
empregado (H/E), a taxa de ocupação como uma porcentagem da força 
de trabalho (E/L), e a taxa de participação na força de trabalho (L/N):𝐻
𝑁
=
𝐻
𝐸
∙
𝐸
𝐿
∙
𝐿
𝑁
 (2) 
Os eventos demográficos mais importantes nos Estados Unidos no 
pós-guerra foram o baby boom de 1946 a 1964, o influxo de mulheres na 
força de trabalho entre 1965 e 1995, e a aposentadoria da geração baby 
boom iniciando por volta de 2008. A entrada da geração baby boom na 
força de trabalho nos 1970s impulsionou o número de horas trabalhadas 
por pessoa, enquanto o influxo de mulheres aumentou permanentemente 
o nível de horas trabalhadas por pessoa enquanto elevava a sua taxa de 
crescimento durante o período de transição, aproximadamente 1965-95. 
O crescimento positivo do número de horas trabalhadas por pessoa 
permitiu que o produto per capita crescesse mais rápido do que a 
produtividade, como na equação (1). 
A aposentadoria dos babyboomers irá reduzir o número de horas 
trabalhadas por pessoa independentemente de qualquer outro fator ao 
longo de um período de transição se estendendo da 2008 a 2034. Existe 
mais para o vento contrário demográfico, contudo, do que a 
aposentadoria dos babyboomers. A taxa de participação (L/N) caiu de 
66,0% em 2007 para 62,6% em junho de 2015. Como a população em 
idade de trabalhar é de 250 milhões, o declínio em L/N em 3,4 pontos 
percentuais implica uma perda de 8,5 milhões de empregos, a maioria 
dos quais permanentemente. 
25 
 
A pesquisa econômica concluiu que cerca da metade do declínio na 
taxa de participação foi causada pela aposentadoria dos babyboomers, e 
o restante pelo declínio na participação dos mais jovens que 55. Aqueles 
que pararam de procurar trabalho e, portanto, saíram da força de 
trabalho, consistem de trabalhadores que perderam os seus empregos 
num ambiente econômico em que não têm expectativa de serem 
empregados novamente, e um grande fração destes conseguiu obter os 
benefícios por incapacidade da seguridade social. Para chamar atenção à 
luta dessas vítimas da desindustrialização, em julho de 2013 o Presidente 
Obama visitou várias cidades do Cinturão de Ferro que perderam a sua 
base de empregos manufatureiros. Cidades como Galesburg, Illinois; 
Scranton, Pennsylvania; e Syracuse, New York agora dependem 
principalmente do governo, dos serviços de saúde, e dos empregos no 
comércio varejista. Em Scranton, 41,3% daqueles com mais de dezoito 
anos saíram da força de trabalho, e em Syracuse, essa porcentagem é 
ainda maior, 42,4%. O efeito devastador do fechamento de fábricas 
manufatureiras através do Meio-Oeste é capturado pelos comentários do 
recém-indicado cônsul geral britânico em Chicago, que visitou o Meio-
Oeste durante o outono de 2013, nos primeiros três meses do seu 
mandato de quatro anos. Perguntado sobre as impressões de suas 
viagens, ele disse, “O que mais me surpreendeu foi a deterioração e 
decadência das pequenas e médias cidades manufatureiras de uma 
fábrica.” 
O que a experiência de 2007-2014 implica para o futuro? Nós 
podemos otimistamente assumir que a saída dos mais jovens que 55 anos 
já se completou, e que a única fonte de declínio posterior na taxa de 
participação será a aposentadoria dos babyboomers. Vários estudiosos 
têm estimado que a aposentadoria da geração baby-boom irá causa um 
declínio de 0,4% ao ano no número de horas trabalhadas por pessoa, e 
isso implica que o crescimento futuro do produto médio per capita (Y/N) 
será 0,4 pontos mais lento do que a produtividade do trabalho (Y/H). Ao 
final desse capítulo, os efeitos de uma participação declinante na força 
de trabalho serão combinados com aqueles dos outros ventos contrários 
para prover uma projeção do crescimento futuro na renda disponível real 
per capita mediana. 
 
O Quarto Vento Contrário: Pagamento da Dívida 
 
O futuro ajuste das finanças governamentais irá ocorrer ao longo 
das próximas décadas. As projeções oficiais do Congressional Budget 
Office (CBO) atualmente estimam que a razão dívida pública para o PIB 
irá se estabilizar entre 2014 e 2020 e então crescer continuamente até 
100% em 2038. Mas as estimativas do CBO pintam um cenário muito 
róseo, pois as suas previsões de crescimento futuro no produto e, 
portanto, na receita de impostos, é muito otimista. O CBO, como 
26 
 
resultado, tem subestimado o aumento futuro da razão dívida/PIB. Em 
2024, a previsão oficial do CBO é de uma razão de 78%; a minha é de 
87%. Para 2038, a do CBO é de 100%, a minha é de aproximadamente 
125%. 
Porém, mesmo o CBO projeta que problemas nos esperam adiante 
além de 2020. Se prevê que o fundo do Medicar eTrust irá alcançar um 
saldo zero em 2030, e se projeta que a data para zeragem do saldo da 
Seguridade Social ocorrerá em 2034. Por definição, qualquer 
estabilização da razão dívida/PIB, comparada com o seu provável 
aumento contínuo com as políticas atuais, irá requerer o crescimento 
mais rápido dos impostos no futuro e/ou um crescimento mais lento dos 
gastos de transferência no futuro. Esse é o quarto vento contrário, a 
quase inevitabilidade de que ao longo das próximas décadas, a renda 
disponível irá declinar em relação à renda real antes dos impostos e das 
transferências, gerando uma reversão das tendências do último quarto 
de século. Esta é a consequência inevitável de uma população 
envelhecendo e da diminuição do crescimento populacional. 
Um único foco sobre a dívida pública ignora os compromissos não 
financiados de aposentadoria de muitos governos estaduais e municipais. 
A falência de Detroit levou os especialistas em títulos de dívida 
municipais a perguntar se Illinois ou Chicago estariam muito além, para 
não mencionar outros grandes estados com massivas obrigações não 
financiadas de aposentadoria. Uma previsão razoável, embora arbitrária, 
é que o crescimento futuro dos impostos e o menor crescimento das 
transferências governamentais irá reduzir a taxa de crescimento da renda 
disponível no futuro em 0,1 ponto percentual por ano, em relação à renda 
antes dos impostos e das transferências. 
 
Mudança Social na Base da Distribuição de Renda 
 
A primeira parte desse capítulo discutiu o tema da desigualdade 
continuamente crescente nos Estados Unidos ao apresentar um conjunto 
de medidas alternativas para renda média versus mediana. Contudo, o 
status daqueles no meio e na base da distribuição de renda vai além da 
falta de crescimento da renda monetária. Há decadência das condições 
sociais, e claramente existe uma causalidade de duas direções do tipo 
ovo ou galinha entre rendas estagnadas e disfunção social. Uma falta de 
oportunidades de emprego pode ser responsável por taxas decrescentes 
de nupcialidade, e pelo intenso incremento na porcentagem de crianças 
vivendo com apenas um dos pais. Mas também problemas sociais podem 
dificultar alguns tipos de emprego, especialmente se um tempo 
aprisionado estiver envolvido. 
O declínio do casamento como uma instituição entre os norte-
americanos que não obtiveram uma educação universitária é relevante 
27 
 
para a taxa de crescimento da produtividade no futuro, porque as 
crianças – particularmente os meninos – que crescem em domicílios com 
a ausência do pai têm maior probabilidade de desistir do ensino médio e 
se engajarem em atividades criminosas. Uma fonte importante dessa 
mudança sociológica é a evaporação dos empregos de colarinho azul 
permanentes, com altos pagamentos. Parcialmente porque os homens 
sem educação universitária perdem os rendimentos e o emprego contínuo 
são menos atraentes como parceiros conjugais, e parcialmente porque as 
mulheres se tornaram mais independentes à medida que as 
oportunidades no mercado de trabalho se abriram para elas, cada vez 
menos casais são formados. Muito disso reflete a importância que as 
mulheres dão a ter um esposo empregado, assim como existem apenas 
sessentae cinco homens empregados para cada 100 mulheres numa 
dada idade. Entre jovens afro-americanos, existem apenas cinquenta e 
um homens empregados para cada 100 mulheres, refletindo em grande 
parte as elevadas taxas de encarceramento de jovens negros. Muitos 
jovens enxergam a estabilidade financeira como um pré-requisito para o 
casamento, de modo que a relutância a casar interage com a estagnação 
salarial das últimas três décadas. 
Para os brancos com ensino médio completo, a porcentagem de 
crianças nascidas fora do casamento aumentou de 4% em 1982 para 34% 
em 2008 e, para os desistentes do ensino médio, de 21% para 42%. Entre 
os negros, as porcentagens equivalentes aumentam de 48% para 74% 
para os formados, e de 76% para 96% entre os desistentes. Não apenas 
a taxa de casamento declina, mas quase metade de todos os casamentos 
falham. O número de crianças nascidas fora do casamento está igualando 
o número de crianças nascidas em casamentos. June Carbone e Naomi 
Cahn sumarizam as implicações para o futuro: 
“A família norte-americana está mudando – e as mudanças 
garantem que a desigualdade será maior na próxima geração. Pela 
primeira vez, os filhos da América quase certamente não serão tão 
bem educados, saudáveis, ou ricos como os seus pais, e o resultado 
deriva da crescente desconexão entre os recursos disponíveis para 
os adultos e aqueles investidos nas crianças.” 
Charles Murray documentou o declínio de todo indicador social 
relevante para o terço na base da população branca, que ele chama de 
“Fishtown” em referência a uma área pobre de Filadélfia. Ele apresenta 
os seus dados de forma admirável, numa série de gráficos que 
uniformemente se estendem de 1960 a 2010. Para a população branca 
de Fishtown, a porcentagem de casais em que ao menos um esposo 
trabalhou quarenta horas ou mais na semana anterior declinou de 84% 
em 1960 para 58% em 2010. A dissolução da família é documentada com 
três indicadores complementares, todos referidos ao grupo etário de 30-
49 anos: a proporção de casados cai de 85% para 48%, a porcentagem 
que nunca casou de 8% para 25%, e a porcentagem de divorciados de 5% 
para 33%. 
28 
 
A estatística mais devastadora de Murray é a de mães na idade de 
40 anos, a proporção de crianças vivendo com ambos os pais biológicos 
declinou de 95% em 1960 para 34% em 2010. Os ventos contrários 
educacionais e demográficos interagem, levando à previsão de contínuo 
resvalamento dos Estados Unidos nas tabelas das ligas internacionais de 
conclusão do ensino médio e superior. Separadamente, o crescimento da 
dívida estudantil conduz à predição de defasagens no casamento e no 
nascimento de crianças e um declínio da taxa de crescimento 
populacional, o que agrava outras fontes de futura desaceleração do 
crescimento, particularmente o vento contrário fiscal. 
Outras fontes apoiam a ênfase de Murray no declínio social do terço 
inferior da população branca. Um estudo recente mostrou que entre 1979 
e 2009, a porcentagem acumulada de desistentes brancos do ensino 
médio que estiveram na prisão aumentou de 3,8% para 28,0%. Para os 
negros ao longo do mesmo intervalo de tempo, a porcentagem que esteve 
na prisão aumentou de 14,7% para 68,0%. Isto é, mais de dois terços dos 
desistentes negros do ensino médio experimentaram ao menos um 
período na prisão ao tempo em que completavam quarenta anos de idade. 
Para os graduados negros do ensino médio (incluindo aqueles com 
certificados GED), a porcentagem aumentou de 11,0% para 21,4%. 
Qualquer forma de registro criminal, e especialmente um período 
na prisão, limita severamente as oportunidades de emprego disponíveis 
para aqueles que estão completando as suas sentenças de prisão. De 
acordo com o FBI, não menos de um terço dos norte-americanos adultos 
tem um registro criminal de algum tipo, incluindo prisões que não 
levaram a condenações; isso representa uma importante barreira ao 
emprego. A crescente sofisticação dos registros eletrônicos torna mais 
fácil para empregadores prospectivos descobrir sobre o passado de 
candidatos ao emprego. A probabilidade diminuída de emprego, por sua 
vez, retroalimenta a probabilidade de casamento, pois as mulheres não 
são atraídas pelos homens sem capacidade de obter renda de uma 
atividade legal. 
“Leis estaduais proíbem o emprego de pessoas condenadas em 
ocupações que vão de cuidadores de crianças ou dependentes a 
barbeiros e cabelereiros. Alguns estados também cortam o acesso 
a empregos públicos, que tem sido uma fonte importante de 
trabalho para minorias dos bairros pobres... Muitos empregadores 
são temerosos de empregar pessoas condenadas porque existem 
casos legais crescentes delineando riscos de condenação por 
‘contratação negligente’.” 
 
Outros Ventos Contrários 
 
29 
 
As discussões sobre ventos contrários frequentemente se voltam 
para duas barreiras adicionais ao crescimento que são difíceis de 
quantificar, “globalização” e “energia/meio ambiente.” Essa seção coloca 
esses ventos contrários em perspectiva sem pretender quantificar a sua 
importância. 
A globalização é difícil de separar de outras fontes da crescente 
desigualdade. O fechamento de fábricas devido à transferência para 
outros países é responsável por parte dos ventos contrários demográficos 
que estão levando trabalhadores no auge da idade a deixar a força de 
trabalho quando suas pequenas cidades de uma fábrica experimentam o 
fechamento de uma fábrica. Existem grandes perdas de empregos bem-
remunerados na manufatura que antecipam de longe a crise financeira 
de 2008 e a recessão de 2007-2009. Aproximadamente metade das 
perdas de 7 milhões de empregos manufatureiros entre 2000 e 2011 
ocorreram antes de 2008. O período 2000-2007 testemunhou o impacto 
máximo do crescimento da capacidade manufatureira chinesa que 
inundou os Estados Unidos com importações, intensificou o déficit 
comercial, e causou fechamentos de fábricas encerrando a chance de 
milhões de trabalhadores poderem usufruir dos salários de classe média 
com não mais do que um diploma de ensino médio. A principal razão pela 
qual a economia experimentou uma expansão e não uma contração do 
nível de atividade nos anos que levaram a 2007 foi a bolha imobiliária, 
que permitiu a muitos dos trabalhadores deslocados da manufatura 
obter empregos temporários na indústria da construção. 
A globalização é também responsável pela crescente desigualdade 
através de outro canal. Os Estados Unidos se beneficiaram do 
investimento estrangeiro, particularmente na indústria automotiva, mas 
isto foi direcionado quase exclusivamente aos estados “certos para 
trabalhar”, a maioria no Sul, onde as firmas estrangeiras são livres para 
pagar o que quiserem aos trabalhadores. Salários de $15 ou $20 por 
hora, comparados ao velho padrão de $30 a $40 alcançado em estados 
sindicalizados como Michigan e Ohio, são recebidos pelos residentes dos 
estados sulistas como um maná do céu, e as aberturas de novas fábricas 
são recebidas por longas filas de trabalhadores esperançosos nos portões 
de contratação. A globalização está operando como na teoria clássica da 
equalização dos preços dos fatores, elevando os salários nos países em 
desenvolvimento e reduzindo o seu crescimento nos países avançados. 
Outro vento contrário potencial diz respeito aos possíveis efeitos do 
aquecimento global e outros temas ambientais, e um possível vento de 
popa emergiu na forma de uma produção doméstica de petróleo e gás 
natural grandemente aumentada nos Estados Unidos como resultado do 
fracking horizontal. Embora a extensão e os efeitos prováveis do 
aquecimento global estejam sujeitos a debate, existe pouca dúvida de que 
eles estão ocorrendo e criarão eventos climáticos – sejam inundações 
costeiras ou tornados

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