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1 Marcelo José Nonnenberg Técnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Macroe- conômicas (Dimac) do Ipea marcelo.nonnenberg@ipea.gov.br NÚMERO 35 — 2 ˚ TRIMESTRE DE 2017 SEÇÃO IV Setor Externo Sumário Os dados positivos do setor externo ajudam a manter a estabilidade da economia brasileira diante de um cenário interno de incertezas. O saldo comercial atingiu níveis elevados que ajudaram a reduzir o deficit em transações correntes para pa- tamares bem confortáveis. O comércio exterior brasileiro parece dar sinais de arrefecimento nos meses re- centes, após um período de recuperação tanto das exportações quanto das impor- tações. Pelo critério das médias diárias dessazonalizadas, as exportações voltaram a cair em maio, ao mesmo tempo que as importações demonstram tendência de queda nos três últimos meses. Porém, no acumulado do ano, ainda se nota bastante vigor nas exportações, com aumento de 19,6%, impulsionadas pelos básicos, so- bretudo, e das importações, que cresceram 9,4% principalmente em razão do forte crescimento dos produtos intermediários. Após um período de mais de um ano se recuperando, os preços de exportação parecem ter se estabilizado. Como os preços de commodities nos mercados in- ternacionais estão em queda desde fevereiro, é bastante provável que ao menos os preços de básicos e semimanufaturados também caiam nos próximos meses. As quantidades exportadas também tiveram um comportamento ruim em abril, fortemente influenciadas pelos produtos básicos. Contudo, boa parte dessa que- da é explicada pela redução das exportações de petróleo, ao passo que o volume exportado de produtos agrícolas e pecuários continua em alta. As quantidades im- portadas de bens intermediários voltaram a cair em abril pelo terceiro mês conse- cutivo, constituindo a principal causa da queda do quantum importado total. Mas as demais categorias também vêm apresentando um comportamento oscilante nos últimos meses. O deficit em Transações Correntes reduziu-se consideravelmente nos meses re- centes, caindo de US$ 7,2 bilhões nos primeiros quatro meses de 2016 para US$ 3,5 bilhões em igual período deste ano. Esta queda foi provocada exclusivamente pelo aumento do superavit comercial, que passou de US$ 12,4 bilhões para US$ 20,6 bilhões, enquanto o saldo da Conta de Serviços passou de US$ 8,7 bilhões negativos para - US$ 9,9 bilhões e o resultado da conta de Renda Primária foi de - US$ 11,9 bilhões para - US$ 14,8 bilhões, todos no mesmo período. Por outro lado, a captação líquida de recursos (soma de Conta Capital e Conta Financeira) caiu sensivelmente, passando de US$ 4,9 bilhões nos primeiros quatro meses de SEÇÃO ELABORADA COM DADOS DIVULGA- DOS ATÉ O DIA 05/06/2017 2 C arta d e C o n ju n tu ra | 35 | 2˚ trim estre de 2017 2016 para apenas US$ 1,3 bilhão no mesmo período de 2017. O aumento dos Investimentos Diretos e Em Carteira foi compensado pela redução dos Outros Investimentos e pela variação negativa de Ativos de Reserva (denotando aumento de reservas, da forma como são registrados no balanço de pagamentos). 1 Câmbio e Preços A taxa de câmbio voltou a se desvalo- rizar discretamente a partir de março, antes, portanto, do agravamento da cri- se política. No entanto, com base nos dados mensais, não se constata piora da percepção dos investidores externos, havendo uma pequena redução do grau de risco da economia brasileira em maio, como se observa no Gráfico 1. Apesar de não ser possível observar no Gráfico, é verdade que, entre a primeira e a se- gunda quinzena de maio, elevou-se em 18% o nível dos CDS - título que é dado em troca de um determinado risco de crédito,. É possível que os eventos no campo da política provoquem um aumento da instabilidade cambial nos próximos meses. 2 Balança Comercial O saldo da balança comercial em maio atingiu US$ 7,7 bilhões, o mais alto valor do ano e, no acumulado do ano, US$ 29,0 bilhões. As exportações al- cançaram US$ 19,8 bilhões, ao mesmo tempo que as importações totalizaram US$ 12,1 bilhões. No entanto, quando se observam os fluxos com base no cri- tério de médias diárias dessazonalizadas (ver Gráfico 2), é possível perceber que o saldo caiu com relação ao mês ante- rior, após quatro meses consecutivos de alta, como resultado de uma queda das exportações maior do que a das impor- tações. GRÁFICO 1 Taxa de câmbio nominal, spread do CDS, taxa efeti- va real do dólar e termos de troca (índices Agosto de 2014=100) Fontes: BCB, FMI, Bloomberg e Federal Reserve Bank of Saint Louis 60,0 100,0 140,0 180,0 220,0 260,0 300,0 340,0 50,0 70,0 90,0 110,0 130,0 150,0 170,0 190,0 m ai /1 2 ou t/ 12 m ar /1 3 ag o/ 13 ja n/ 14 ju n/ 14 no v/ 14 ab r/ 15 se t/ 15 fe v/ 16 ju l/1 6 de z/ 16 m ai /1 7 CD S R$/US$ Termos de troca (inverso) Taxa efe�va do dólar CDS (eixo direito) GRÁFICO 2 Exportações, importações e saldo comercial: médias diárias dessazonalizadas (Em US$ milhões) Fonte: Secex/MDIC; Elaboração: Gecon/Dimac/Ipea - 15,0 - 10,0 - 5,0 - 5,0 10,0 ja n/ 14 ab r/ 14 ju l/1 4 ou t/ 14 ja n/ 15 ab r/ 15 ju l/1 5 ou t/ 15 ja n/ 16 ab r/ 16 ju l/1 6 ou t/ 16 ja n/ 17 ab r/ 17 Intervenções líquidas do Banco Central Bancos – 3 C arta d e C o n ju n tu ra | 35 | 2˚ trim estre de 2017 As exportações no acumulado do ano ainda estão muito acima dos valores ob- servados em igual período do ano passado. Como se pode ver na Tabela 1, as exportações totais cresceram quase 20% no período. E todas as categorias de pro- dutos também tiveram aumentos expressivos, com destaque para os básicos, com aumento de 28,3%. Dentre esses, os maiores aumentos foram no minério de ferro (94,7%) e petróleo (133,4%). Nos demais produtos, destacam-se semimanufatura- dos de ferro e aço (79,6%) e automóveis (49,5%). Na comparação de maio deste ano com o mesmo mês de 2016, as taxas de variação são um pouco menores, com aumento de 12,7% no total e 16,9% nos básicos. No entanto, na comparação com o mês anterior, com base no critério de médias diárias dessazonalizadas, verifica-se que houve uma queda de 10,8% nas exporta- ções totais, sendo de 12,6% nos básicos e de 6,6% nos manufaturados. Ainda é cedo para se afirmar que essa queda con- tinuará nos próximos meses mas, como se verá logo adiante, a queda dos preços de exportação deve estar influenciando este resultado. De toda forma, os básicos, após alcançar um pico em fevereiro, re- trocederam nos três meses seguintes, de acordo com o Gráfico 3. As importações cresceram 9,4% no acumulado do ano até maio e 8,9% na compa- ração com o mesmo mês do ano passado, como se verifica na Tabela 2. O cresci- mento no acumulado do ano foi fortemente influenciado pela variação de 25,1% nos combustíveis e lubrificantes e de 14,1% nos intermediários, principalmente alimentos e bebidas destinados à indústria (25%). Mas chama a atenção a queda de 18,6% nos bens de capital, acompanhando a queda dos investimentos. Janeiro-Maio Maio Janeiro-Maio Maio Janeiro-Maio Maio Básicos 42.867,7 9.703,0 33.413,3 8.298,0 28,3 16,9 Semimanufaturados 12.062,3 2.778,0 10.362,5 2.278,0 16,4 21,9 Manufaturados 30.919,2 6.873,0 28.117,7 6.641,6 10,0 3,5 Op.Espec. 2.082,4 438,0 1.619,3 351,1 28,6 24,8 Total 87.931,5 19.792,0 73.512,8 17.568,7 19,6 12,7 2017 2016 Variação % TABELA 1 Exportações por categorias de produtos (2017 e 2016) (Em US$ milhões) Fonte: Secex/MDIC; Elaboração: Gecon/Dimac/Ipea GRÁFICO 3 Exportações por classes de produtos, médias diárias dessazonalizadas (Em US$ milhões) Fonte: Secex/MDIC, Elaboração: Gecon/Dimac/Ipea 854 376 131 319 0 200 400 600 800 1.000 1.200 m ai /1 1 ou t/ 11 m ar /1 2 ag o/ 12 ja n/ 13 ju n/ 13 no v/ 13 ab r/ 14 se t/ 14 fe v/15 ju l/1 5 de z/ 15 m ai /1 6 ou t/ 16 m ar /1 7 Total Geral Básicos Semimanufaturados Manufaturados 4 C arta d e C o n ju n tu ra | 35 | 2˚ trim estre de 2017 Mas, da mesma forma que no caso das exportações, na comparação com os meses anteriores, as importações parecem mostrar um quadro de estagnação, como é possível ver no Gráfico 4. Os bens intermediários, que vinham mostrando algum dinamismo no final de 2016, começam a apresentar alguma tendência de desa- celeração. As demais categorias também se encontram virtualmente estagnadas, demonstrando que ainda não é possível observar impacto de eventual recuperação da economia sobre as importações. Após um período de mais de um ano se recuperando, os preços de exportação parecem ter dado uma parada em março e abril. Essa freada se verifica nas três ca- tegorias de bens, como se verifica no Gráfico 5. Como os preços de commodities nos mercados internacionais estão em queda desde fevereiro, é bastante provável que ao menos os preços de básicos e semimanufaturados também caiam nos pró- ximos meses. Os preços do minério de ferro, por exemplo, que chegaram a US$ 88 por tonelada em fevereiro, após um vale de US$ 40 no final de 2015, despencaram para US$ 70 em abril. Os índices de quantum de exportação, que também começavam a apontar para uma forte recuperação, tiveram um comportamento desanimador em abril, devido à queda de 8,8% dos produtos básicos, ao mesmo tempo que os manufaturados GRÁFICO 4 Importações por grandes categorias econômicas, médias diárias dessazonalizadas (Em US$ milhões) Fonte: Secex/MDIC. Elaboração: Gecon/Dimac/Ipea. GRÁFICO 5 Índices de preços de exportação, por categoria de produtos (Em índices dessazonalizados, 2006 = 100) Fonte: Funcex. Elaboração: Gecon/Dimac/Ipea. 0 200 400 600 800 1.000 1.200 0 100 200 300 400 500 600 m ai /1 1 ou t/ 11 m ar /1 2 ag o/ 12 ja n/ 13 ju n/ 13 no v/ 13 ab r/ 14 se t/ 14 fe v/ 15 ju l/1 5 de z/ 15 m ai /1 6 ou t/ 16 m ar /1 7 Bens de consumo semiduráveis e não duráveis Bens de consumo duráveis Combus�veis e lubrificantes Bens de capital (BK) Bens intermediários (BI) Total Geral 0 50 100 150 200 250 300 ab r/ 11 se t/ 11 fe v/ 12 ju l/1 2 de z/ 12 m ai /1 3 ou t/ 13 m ar /1 4 ag o/ 14 ja n/ 15 ju n/ 15 no v/ 15 ab r/ 16 se t/ 16 fe v/ 17 Total Básicos Semi-manufaturados Manufaturados Janeiro-Maio Maio Janeiro-Maio Maio Janeiro-Maio Maio Bens de consumo semiduráveis e não duráveis 7.340 1.644 6.899 1.283 6,4 28,1 Bens de consumo duráveis 1.801 457 1.738 386 3,6 18,5 Combustíveis e Lubrificantes 6.582 1.342 5.260 984 25,1 36,4 Bens de Capital 6.010 1.180 7.382 1.420 -18,6 -16,9 Bens Intermediários 37.090 7.498 32.517 7.048 14,1 6,4 Total Geral 58.900 12.131 53.830 11.136 9,4 8,9 2017 2016 Variação % TABELA 2 Importações por grandes categorias econômicas (2017 e 2016) (Em US$ milhões) Fonte: Secex/MDIC. Elaboração: Gecon/Dimac/Ipea. 5 C arta d e C o n ju n tu ra | 35 | 2˚ trim estre de 2017 desaceleraram seu crescimento. Mas é preciso destacar que boa parte da queda dos básicos se deveu a uma forte variação negativa das exportações de petróleo, que haviam dado um salto positivo em janeiro _ confirmado em fevereiro _, com relação à média dos meses de 2016 e também de forte queda dos produtos mine- rais metálicos. Por outro lado, as quantidades exportadas de produtos agrícolas e pecuários _ que constituem a maioria dos produtos básicos _ seguem mantendo trajetória de forte elevação. Dessa forma, fica muito difícil prever a tendência dos próximos meses do quantum exportado. As quantidades importadas, que também estavam esboçando um crescimento até o final do ano passado, voltaram a decepcionar nos últimos meses até abril. Os bens intermediários, que constituem a principal categoria econômica, caíram pelo terceiro mês consecutivo, o mesmo acontecendo com os bens de consumo durá- veis. Dessa forma, as quantidades totais também apresentaram variação negativa nesse período. Os bens de capital, por sua vez, apresentam um comportamento os- cilante, mas com um discreto crescimento nos últimos três meses. Esse cenário pa- rece consistente com a fraca recuperação experimentada pela economia nacional. 3 Balanço de Pagamentos O déficit em transações correntes reduziu-se consideravelmente nos meses recen- tes, caindo de US$ 7,2 bilhões nos primeiros 4 meses de 2016 para US$ 3,5 bilhões em igual período deste ano, uma queda de US$ 3,7 bilhões, segundo a Tabela 3. Esta queda foi provocada exclusivamente pelo aumento do superávit comercial, que passou de US$ 12,4 bilhões para US$ 20,6 bilhões, enquanto o saldo da conta de serviços passou de - US$ 8,7 bilhões para - US$ 9,9 bilhões e o resultado da conta de renda primária foi de - US$ 11,9 bilhões para - US$ 14,8 bilhões, todos no mesmo período. Por outro lado, a captação líquida de recursos caiu sensivelmente, passando de GRÁFICO 6 Índices de quantum de exportação, por categoria de produtos (Em índices dessazonalizados, 2006 = 100) Fonte: Funcex. Elaboração: Gecon/Dimac/Ipea GRÁFICO 7 Índices de quantum de importação, por grandes categorias econômicas (Em índices dessazonalizados, 2006 = 100) Fonte: Funcex. Elaboração: Gecon/Dimac/Ipea 0 50 100 150 200 250 ab r/ 11 se t/ 11 fe v/ 12 ju l/1 2 de z/ 12 m ai /1 3 ou t/ 13 m ar /1 4 ag o/ 14 ja n/ 15 ju n/ 15 no v/ 15 ab r/ 16 se t/ 16 fe v/ 17 Total Básicos Semi-manufaturados Manufaturados 100 150 200 250 300 350 400 ab r/ 13 ju l/1 3 ou t/ 13 ja n/ 14 ab r/ 14 ju l/1 4 ou t/ 14 ja n/ 15 ab r/ 15 ju l/1 5 ou t/ 15 ja n/ 16 ab r/ 16 ju l/1 6 ou t/ 16 ja n/ 17 ab r/ 17 Total Capital Intermediários Duráveis Não-duráveis 6 C arta d e C o n ju n tu ra | 35 | 2˚ trim estre de 2017 US$ 4,9 bilhões nos primeiros 4 meses de 2016 para apenas US$ 1,3 bilhão no mesmo período de 2017. Os investimentos diretos chegaram a aumentar no pe- ríodo, passando de US$ 21,1 bilhões para US$ 28,8 bilhões. Da mesma forma, os investimentos em carteira também aumentaram de - US$ 5,4 bilhões para -US$ 2,3 bilhões. Mas os outros investimentos caíram de -US$ 11,8 bilhões para - US$ 17,6 bilhões e a variação de ativos de reserva (que não se confunde com a variação de posição de reservas) sofreu queda de US$ 8,4 bilhões, indicando que houve aumento de reservas. A análise do saldo das contas externas deve ser complementada com o exame da conta denominada Hiato de Recur- sos, onde estão registradas apenas as operações que têm impacto cambial e o saldo corresponde às operações líquidas do setor não-bancário. Como é possível observar no Gráfico 8, nos últimos 3 meses, o hiato é positivo e crescente, o que vem resultando em aumento das re- servas internacionais do Banco Central e aumento dos ativos externos dos bancos comerciais em proporções semelhantes. Isso indica que, apesar dos dados brutos da conta financeira, não tem havido dificuldade de obtenção de financiamento externo. Discriminação 2016 2017 Projeções em US$ bilhões Abr Jan-abr Abr Jan-abr 4,486.30,03-9,994.3-8,251.13,481.7-5,214setnerroc seõçasnarT .1 Balança comercial (bens) 4.627,9 12.394,4 6.742,4 20.554,2 51, 8,951.80 Exportações1/ 7,592.210,0023,279.761,036.716,676.550,203.51 Importações2/ 0,631.40,9412,814.747,788.012,282.341,476.01 9,551.1-7,63-0,888.9-7,415.2-0,237.8-6,915.2-soçivreS 9.2-6,74-5,918.41-9,622.3-1,338.11-1,929.1-airámirp adneR 86,4 1,333-3,34,3560,2515,6893,332airádnuces adneR 6.3-0,034,482.17,437.1-0,629.47,14ariecnaniF e latipaC atnoC .2 41,6 0,344,06,1311,116,881,1latipac atnoC Conta financeira3/ 6,486.3-6,928,251.18,547.1-4,738.46,04 .70,160,657.820,805.53,990.128,446.5soterid sotnemitsevnI 656,7 Investimentos em carteira 1.020,0 -5.405,7 3.722,5 -2.348,8 .. 9,650.3. ,362-...7,772,883,1438,992sovissap e sovita – sovitavireD 6 Outros investimentos-3.546,7 -11.842,0 -6.627,5 -17.564,8 ... -5.722,8 ,114.8-5,013,767.7-9,634.4-4,4464,773.3-avreser ed sovitA 8 5,512.29,1853,852.21,454-seõssimo e sorrE - -42,8 Memo: 54,1-)%( BIP / setnerroc seõçasnarT 46,3)%( BIP / síap on oterid otnemitsevnI Variação jan-abril 2016-jan-abril 2017 TABELA 3 Balanço de pagamentos: principais contas (2016 e 2017) (Em US$ milhões) 1/ Exclui mercadorias deixando o território nacional sem mudança de proprietário. Inclui mercadorias entregues no território nacional (exportação ficta), enco- mendas postais,e outros ajustes 2/ Exclui mercadorias ingressando no território nacional sem mudança de proprietário. Inclui mercadorias entregues fora do território nacional (importação ficta), importação de energia elétrica sem cobertura cambial, encomendas postais e outros ajustes. 3/ Para contas de ativo e de passivo, + = aumento de estoque e - = redução de estoque. Conta financeira = -fluxos de investimentos ativos + fluxos de investimen- tos passivos. Fonte: Banco Central do Brasil GRÁFICO 8 Hiato Financeiro 2014-2017 (Em US$ milhões) Fonte: BCB. Elaboração: Gecon/Dimac/Ipea. 854 557 -200 -100 0 100 200 300 400 0 200 400 600 800 1.000 1.200 m ai /1 1 no v/ 11 m ai /1 2 no v/ 12 m ai /1 3 no v/ 13 m ai /1 4 no v/ 14 m ai /1 5 no v/ 15 m ai /1 6 no v/ 16 m ai /1 7 Sa ld o em U S$ m ilh õe s Va lo r e m U S$ m ilh õe s Saldo Comercial Exportações Importações 7 C arta d e C o n ju n tu ra | 35 | 2˚ trim estre de 2017 4 Conta de Serviços e Renda Primária O déficit da conta de serviços aumentou ligeiramente nos últimos meses, após um longo período de forte redução, de acordo com o Gráfico 9. As contas de Outros Serviços e de Transportes vêm se mantendo relativamente estáveis. Certamente, a valorização cambial recente voltou a impulsionar as viagens de brasileiros ao exterior, aumentando o déficit da conta de Viagens Internacionais e mais do que compensando a redução do déficit de Aluguel de Equipamentos. Os gastos líquidos com juros, no acumulado em 12 meses, estão aumentando des- de setembro do ano passado, quando atingiram -US$ 20,7 bilhões, para -US$ 23,5 bilhões em abril deste ano, como se observa no Gráfico 10. Esse aumento é devido à elevação dos pagamentos líquidos de juros de operações intercompanhia, em ra- zão do aumento expressivo do saldo devedor dessas operações, e dos juros líquidos sobre Outros Investimentos. Nota-se também um pequeno aumento nos paga- mentos líquidos de lucros e dividendos, provavelmente em razão de as empresas estrangeiras estarem aproveitando a valorização do real para aumentar as remessas de lucros para suas matrizes. 5 Conta Financeira Como é possível observar na Tabela 4, o ingresso líquido de Investimentos Diretos aumentou US$ 7,7 bilhões no primeiro quadrimestre de 2017 com relação a idên- tico período do ano passado, alcançando US$ 28,8 bilhões. Este aumento resulta tanto de uma redução dos ativos (saída de recursos) quanto de elevação de passivos (entrada de recursos). Com relação aos Investimentos no Exterior, a principal al- teração foi a redução das operações com participação de capital, que passaram de US$ 3,0 bilhões para US$ 0,9 bilhão no mesmo período. Muito provavelmente, isso está relacionado à redução de recursos disponíveis das empresas nacionais para realizar investimentos, seja no Brasil seja no exterior. De fato, os investimentos GRÁFICO 9 Conta de serviços: valores acumulados em doze meses (2012-2017) (Em US$ milhões) Fonte: BCB. Elaboração: Gecon/Dimac/Ipea GRÁFICO 10 Renda primária: juros, lucros e dividendos – valores acumulados em doze meses (2012-2017) (Em US$ milhões) Fonte: BCB. Elaboração: Gecon/Dimac/Ipea. -60.000,0 -50.000,0 -40.000,0 -30.000,0 -20.000,0 -10.000,0 - 10.000,0 20.000,0 ab r/ 12 se t/ 12 fe v/ 13 ju l/1 3 de z/ 13 m ai /1 4 ou t/ 14 m ar /1 5 ag o/ 15 ja n/ 16 ju n/ 16 no v/ 16 ab r/ 17 Serviços Transportes Viagens Aluguel de equipamentos Outros serviços de negócio, inclusive arquitetura e eng. -60.000,0 -50.000,0 -40.000,0 -30.000,0 -20.000,0 -10.000,0 - ab r/ 12 se t/ 12 fe v/ 13 ju l/1 3 de z/ 13 m ai /1 4 ou t/ 14 m ar /1 5 ag o/ 15 ja n/ 16 ju n/ 16 no v/ 16 ab r/ 17 Lucros e Dividendos Juros 8 C arta d e C o n ju n tu ra | 35 | 2˚ trim estre de 2017 externos no exterior, no acumulado em 12 meses, como se observa no Gráfico 4.11, caíram de um pico de US$ 29,2 bilhões em janeiro de 2015 para apenas US$ 5,9 bilhões em abril de 2017. Por outro lado, os Investimentos Diretos no País passaram de US$ 23,8 bilhões nos quatro primeiros meses de 2016 para US$ 29,5 bilhões em igual período deste ano, devido, basicamente, às operações com participação de capital. Este fluxo foi bastante afetado pela recessão e pela perda de confiança na economia brasileira e caiu fortemente entre o final de 2014 e meados de 2016, quando voltou a se recu- perar sistematicamente (ver Gráfico 11). A saída líquida de investimentos em carteira também se reduziu nos primeiros quatro meses do ano, na comparação com igual período do ano passado, passando de US$ 5,4 bilhões para US$ 2,3 bilhões, de acordo com a Tabela 5. Na conta de ativos, a saída líquida de recursos elevou-se em US$ 2,8 bilhões, devido basicamen- te à maior saída líquida de investimentos em ações e, principalmente, em fundos TABELA 4 Investimentos diretos (Em US$ milhões) 1/ Inclui, entre outras, transações em que o cotista residente no Brasil possui 10% ou mais do patrimônio líquido do fundo de investimento no exterior. Fonte: Banco Central do Brasil 71026102oãçanimircsiD Abr Jan-abr Ano Abr Jan-abr Total 5644,8 21099,3 71115,0 5508,0 28756,0 7656,7 Ativos (no exterior) 1192,0 2670,1 7815,1 69,5 774,4 -1895,7 Participação no capital – total1/ 1155,5 3022,0 8040,4 88,6 867,3 -2154,7 Participação no capital, exceto lucros reinvestidos 1167,5 2883,5 6693,8 -39,3 400,1 -2483,4 Participação no capital – lucros reinvestidos no exterior -12,0 138,5 1346,7 127,9 467,2 328,7 Operações intercompanhia 36,5 -351,9 -225,3 -19,2 -92,9 259,0 -6,8827,523,78216,6837,371roiretxe oa sodidecnoc sotidérC 98,0 1839,446,21515,8372,731roiretxe od sadibecer seõçazitromA ,6 -356,9 Passivos (no país) 6836,8 23769,4 78930,2 5577,4 29530,4 5761,0 Participação no capital – total1/ 4770,6 14634,1 54020,9 6936,5 22126,9 7492,8 Participação no capital, exceto lucros reinvestidos 4161,1 11220,9 44884,0 6554,5 20438,0 9217,1 Participação no capital – lucros reinvestidos no Brasil 609,4 3413,3 9136,9 382,0 1688,9 -1724,4 Operações intercompanhia 2066,3 9135,3 24909,2 -1359,1 7403,5 -1731,8 20,76636,600364,341817,4844roiretxe od sodibecer sotidérC 2218,3 4074,9 410,62054,790832,80094,8142roiretxe oa sagap seõçazitromA 814,9 5806,7 Variação jan-abril 2016-jan-abril 2017 GRÁFICO 11 Investimentos Diretos no Exterior e no País– valores acumulados em doze meses (2012-2017) (Em US$ milhões) Fonte: BCB. Elaboração: Gecon/Dimac/Ipea. - 20.000,0 40.000,0 60.000,0 80.000,0 100.000,0 120.000,0 ab r/ 12 se t/ 12 fe v/ 13 ju l/1 3 de z/ 13 m ai /1 4 ou t/ 14 m ar /1 5 ag o/ 15 ja n/ 16 ju n/ 16 no v/ 16 ab r/ 17 Inves�mentos diretos no exterior Inves�mentos diretos no país GRÁFICO 12 Investimentos em Carteira e Outros Investimentos no Exterior e no País– valores acumulados em doze meses (2012-2017) (Em US$ milhões) Fonte: BCB. Elaboração: Gecon/Dimac/Ipea. -40.000,0 -20.000,0 - 20.000,0 40.000,0 60.000,0 80.000,0 ab r/ 12 se t/ 12 fe v/ 13 ju l/1 3 de z/ 13 m ai /1 4 ou t/ 14 m ar /1 5 ag o/ 15 ja n/ 16 ju n/ 16 no v/ 16 ab r/ 17 Inves�mentos em carteira – – a�vos Inves�mentos em carteira passivos Outros inves�mentos - A�vos Outros inves�mentos- Passivos 9 C arta d e C o n ju n tu ra | 35 | 2˚ trim estre de 2017 de investimento. Na verdade, o aumento de aplicações em fundos de investimentos no exterior nesse período apenas recupera parcialmente uma forte queda ocorrida em 2015 e 2016. Já na conta de passivos, verifica-se uma substancial elevação na captação líquida, que passa de - US$ 5,0 bilhões nos primeiros quatro meses de 2016 para US$ 0,8 bilhão no mesmo período de 2017. Os investimentos em ações caíram fortemente no período, dando continuidade a uma queda que teve início em maio de 2015 e prossegue até hoje. Mas a grande alteração foi observada na captação de títulos de renda fixa negociados no mercado doméstico, que se elevou em US$ 11,4 bilhões no período, em grande parte devido às operações realizadas em abril. A saída líquida de Outros Investimentos, por sua vez, ampliou-se bastante nos primeiros quatro meses deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado. A saída de recursos na conta de ativos ampliou-se em US$ 5,7 bilhões, basicamente em razão do aumento do item Créditos Comerciais e Adiantamentos (que havia caído fortemente no primeiro semestre de 2016). Na conta de passivos, praticamente não houve alteração, apenas uma troca de operações de curto prazo para de longo prazo. Porém, examinando-se os dados numa perspectiva temporal um pouco maior, como é feito no Gráfico 12, verifica-se que, entre maio de 2015 e maio de 2016, houve uma redução extremamente forte nas contas de ativos (ingressos no país) tanto de Investimentos em Carteira quanto de Outros Investimentos e, a partir daí, a tendência de queda permaneceu, ainda que bastante atenuada. TABELA 5 Investimentos em carteira (Em US$ milhões) 1/ Inclui transações em que o cotista residente no exterior possui menos de 10% do patrimônio líquido do fundo de investimento no Brasil. 2/ Inclui juros reinvestidos. Fonte: Banco Central do Brasil 71026102oãçanimircsiD Abr Jan-abr Ano Abr Jan-abr 9432-2273 61291- 6045-0201latoT 3057 0613156 995-283 853-sovitA 2778 01- 23- 807- 4201- 1121-seõça me sotnemitsevnI 1014 Fundos de investimento1/ 118 166 15 683 1983 1817 8811 1-490421537axif adner ed solutíT -53 1183734 51891- 3205-266sovissaP 5835 9341- 505-143661637511seõça me sotnemitsevnI -5055 4081- 698-116610732611ocitsémod odacrem on sadaicogeN -5505 Negociadas no mercado externo (Depositary Receipts ) -5 -85 -270 391 365 450 Fundos de investimentos1/ 424 866 4245 122 399 -467 25817574 10403- 5059- 919-axif adner ed solutíT 11357 Negociados no mercado doméstico2/ -125 -7195 -26664 4351 3235 10430 3831-604 7373- 1132- 497-onretxe odacrem on sodaicogeN 927 Variação jan-abril 2016-jan-abril 2017 10 C arta d e C o n ju n tu ra | 35 | 2˚ trim estre de 2017 71026102 oãçanimircsiD Abr Jan-abr Ano Abr Jan-abr Total 3275-56571-7266-46172-24811-7453- Ativos 4666 14876 33442 7784 20528 5651 Outras participações em capital 23 173 757 0 0 -173 Moeda e depósitos 2970 5503 -2494 5486 6443 940 532-06-52872672-somitsérpmE -862 Créditos comerciais e adiantamentos 1825 8639 34538 2388 14209 5570 Outras contas a receber/1 -126 -65 -184 -31 111 177 Passivos 1119 3034 6278 1157 2963 -71 Outras participações em capital 0 0 0 0 0 0 272001-183-4551699sotisóped e adeoM -1282 3393-4731-93131-7653-1391-somitsérpmE -367 Curto prazo -1551 8569 3839 101 -153 -8722 Longo prazo -380 -12136 -16978 -1475 -3780 8356 56371279408593754515675sossergnI 1908 54112744685565295725416seõçazitromA -6447 Créditos comerciais e adiantamentos 2051 5041 19767 2626 6615 1574 Outras contas a pagar/1 3 6 31 5 9 3 0 Variação jan-abril 2016-jan- abril 2017 TABELA 6 Outros Investimentos (Em US$ milhões) 1/ Inclui seguros, fundos de pensão e garantias. 2/ Inclui depósitos de organismos internacionais. Fonte: Banco Central do Brasil 11 C arta d e C o n ju n tu ra | 35 | 2˚ trim estre de 2017 Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac) José Ronaldo de Castro Souza Júnior – Diretor Marco Antônio Freitas de Hollanda Cavalcanti – Diretor Adjunto Grupo de Conjuntura Equipe Técnica: Christian Vonbun Estêvão Kopschitz Xavier Bastos Francisco Eduardo de Luna e Almeida Santos Leonardo Mello de Carvalho Marco Aurélio Alves de Mendonça Marcelo Nonnenberg Maria Andréia Parente Lameiras Mônica Mora Y Araujo de Couto e Silva Pessoa Paulo Mansur Levy Vinicius dos Santos Cerqueira Sandro Sacchet de Carvalho Equipe de Assistentes: Augusto Lopes dos Santos Borges Beatriz Cordeiro Araújo Felipe dos Santos Martins Luciana Pacheco Trindade Lacerda As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ou do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. É permitida a reprodução deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte. Repro- duções para fins comerciais são proibidas. 1º Trimestre 2017 34 Carta de Conjuntura | 34 | 1o trimestre de 2017 Governo Federal Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão Ministro interino Dyogo Henrique de Oliveira Fundação pública vinculada ao Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, o Ipea fornece suporte técnico e institucional às ações governamentais – possibilitando a formulação de inúmeras políticas públicas e programas de desenvolvimento brasileiro – e disponibiliza, para a sociedade, pesquisas e estudos realizados por seus técnicos. Presidente Ernesto Lozardo Diretor de Desenvolvimento Institucional, Substituto Carlos Roberto Paiva da Silva Diretor de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia Alexandre de Ávila Gomide Diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas José Ronaldo de Castro Souza Júnior Diretor de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais Alexandre Xavier Ywata de Carvalho Diretor de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação e Infraestrutura João Alberto De Negri Diretora de Estudos e Políticas Sociais Lenita Maria Turchi Diretor de Estudos e Relações Econômicas e Políticas Internacionais Sérgio Augusto de Abreu e Lima Florêncio Sobrinho Assessora-chefe de Imprensa e Comunicação Regina Alvarez Ouvidoria: http://www.ipea.gov.br/ouvidoria URL: http://www.ipea.gov.br Carta de Conjuntura | 34 | 1o trimestre de 2017 3 Economia Mundial Paulo Mansur Levy1 A economia mundial encontra-se em um momento paradoxal: por um lado, os sinais de crescimento da atividade econômica e de aceleração da inflação tornaram-se mais fortes; por outro, a chegada de Donald Trump à presidência nos Estados Unidos da América (EUA), associada ao Brexit e à realização de eleições em países-chave da Área do Euro (AE) ao longo de 2017, colocou novos elementos de incerteza no cenário mundial. No caso de Trump, o risco se refere às políticas econômicas e à postura da nova administração em relação ao comércio internacional e à imigração; no caso dos países europeus, o risco relaciona-se à própria sobrevivência do euro como moeda em caso de vitória de partidos que defendem a saída de seus países da AE. Em relação às perspectivas de crescimento da economia mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou em janeiro a atualização de suas projeções, mantendo-as nos mesmos níveis das de outubro do ano passado. Isso não acontecia desde 2014. Nesse período, as atualizações em relação às projeções anteriores sempre foram para baixo. Como se pode ver pelo Gráfico 1, a aceleração do crescimento da economia mundial – de 3,1% em 2016 para 3,4% em 2017 e 3,6% em 2018 – refletiria principalmente a recuperação do crescimento em economias emergentes - de 4,1% em 2016 para 4,5% em 2017 e 4,8% em 2018 -, enquanto o movimento de alta nos países avançados seria mais modesto, de 1,6% em 2016 para 1,9% em 2017 e 2,0% em 2018. Obviamente,há grandes diferenças dentro de cada um desses grupos. Entre os países desenvolvidos, a aceleração do crescimento seria relativamente forte nos EUA e na Área do Euro, enquanto as projeções para Japão e Reino Unido mostram crescimento menor. Entre os emergentes, as projeções são de aceleração do crescimento na Rússia, Índia, ASEAN-52 e Brasil. Em sentido contrário, destacam-se as desacelerações projetadas para China - de 6,7% em 2016 para 6,5% e 6,0% em 2017 e 2018, respectivamente - e para o México, de 2,2% para 1,7% e 2,0%, respectivamente (Tabela 1). 1 Técnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac) do Ipea. E-mail: <paulo.levy@ipea.gov.br>. 2 Indonésia, Malásia, Filipinas, Tailândia e Vietnã. Carta de Conjuntura | 34 | 1o trimestre de 2017 4 GRÁFICO 1 Crescimento do PIB: observado e projeções do FMI (2000 – 2018) (Em %) Obs.: Projeções a partir de 2017. Fonte: World Economic Outlook – FMI. Elaboração: Ipea/Dimac/Gecon. As projeções do FMI contemplam também uma aceleração do crescimento do volume de comércio internacional que passou de estimados 1,9% em 2016 para 3,8% em 2017 e 4,1% em 2018. Como se pode ver no Gráfico 2, ao longo da década de 2000, o comércio internacional chegou a crescer a uma taxa quase duas vezes maior que a taxa de crescimento do PIB mundial. Porém, desde 2011 essas taxas têm sido muito próximas. Os dados do CPB – instituto localizado na Holanda que faz estimativas para a evolução do comércio internacional – mostram que no final de 2016 o volume de comércio crescia a taxa próxima a 2% anuais, superior ao ritmo do final de 2015 (1,3% anuais), mas bem inferior à taxa média de 6,7% ao ano registrada entre 2002 e 2007. -4 -2 0 2 4 6 8 10 Mundo Avançados Emergentes Carta de Conjuntura | 34 | 1o trimestre de 2017 5 TABELA 1 Crescimento do PIB: observado e projeções do FMI (WEO - Janeiro de 2017) (Em %) Crescimento real do PIB (%) Média 2009-2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017(p) 2018(p) Mundo 2,8 3,4 3,4 3,4 3,2 3,1 3,4 3,6 Economias desenvolvidas 0,4 1,2 1,4 1,8 2,1 1,6 1,9 2,0 Área do Euro -0,3 -0,7 -0,4 0,9 2,0 1,7 1,6 1,6 Reino Unido -0,4 0,3 1,7 2,9 2,2 2,0 1,5 1,4 Estados Unidos 0,3 2,3 2,2 2,4 2,6 1,6 2,3 2,5 Japão -0,6 1,5 1,6 0,0 1,2 0,9 0,8 0,5 Países emergentes e em desenvolvimento 5,5 5,1 5,0 4,6 4,1 4,1 4,5 4,8 Ásia 8,2 6,7 7,0 6,8 6,7 6,3 6,4 6,3 China 9,7 7,9 7,8 7,3 6,9 6,7 6,5 6,0 Índia 7,5 4,7 6,9 7,2 7,6 6,6 7,2 7,7 América Latina e Caribe 3,0 2,9 2,9 1,3 0,1 -0,7 1,2 2,1 México 1,5 4,0 1,4 2,2 2,6 2,2 1,7 2,0 Brasil 3,3 1,0 2,7 0,1 -3,8 -3,5 0,2 1,5 Europa Central e Oriental 2,0 1,4 2,9 2,8 3,7 2,9 3,1 3,2 Comunidade de Estados independentes 1,0 3,4 2,2 1,0 -2,8 -0,1 1,5 1,8 Rússia 0,2 3,4 1,3 0,7 -3,7 -0,6 1,1 1,2 Oriente Médio e Norte da África 4,1 4,8 2,4 2,7 2,5 3,8 3,1 3,5 África Subssariana 4,5 4,4 5,2 5,1 3,4 1,6 2,8 3,7 África do Sul 1,7 2,5 2,2 1,6 1,3 0,3 0,8 1,6 Comércio Internacional - volume 2,8 2,9 3,3 3,7 2,7 1,9 3,8 4,1 Fonte: World Economic Outlook – FMI Elaboração: Ipea/Dimac/Gecon. Carta de Conjuntura | 34 | 1o trimestre de 2017 6 GRÁFICO 2 Crescimento do PIB e do comércio mundial: observado e projeções do FMI (2000 – 2018) (Em %) Obs.: Projeções a partir de 2017. Fonte: World Economic Outlook – FMI Elaboração: Ipea/Dimac/Gecon. A perspectiva mais favorável para a atividade econômica mundial aparece também nos resultados mais recentes dos índices de gerentes de compras, os Purchasing Managers' Indexes (PMI, na sigla em inglês),um indicador de sentimento que cobre os setores industrial e de serviços. De acordo com essas sondagens, o indicador tem revelado expansão da atividade econômica (quando assume valores acima de 50 pontos) já por vários meses, inclusive acelerando neste início de 2017 no que se refere à indústria para atingir, em termos globais, o patamar mais elevado desde 2011. Nos EUA, o PMI da indústria desacelerou ligeiramente em fevereiro, mas o ISM – indicador semelhante ao PMI – manteve a trajetória de expansão. Na AE, o PMI da indústria também cresceu em fevereiro para atingir o nível mais elevado em seis anos, enquanto na China, apesar das oscilações, a tendência também é de recuperação desde meados do ano passado. No índice composto, que agrega o sentimento de empresários do setor de serviços aos da indústria de transformação, o quadro é semelhante, ainda que em fevereiro tenha havido leve redução em termos globais. Destaca-se o comportamento na AE, onde o PMI dos serviços alcançou o nível mais elevado em seis anos. -15 -10 -5 0 5 10 15 PIB Comércio de bens e serviços em volume Carta de Conjuntura | 34 | 1o trimestre de 2017 7 GRÁFICO 3 PMIs: Indústria (índice em pontos) Fonte: Bloomberg. Elaboração: Ipea/Dimac/Gecon. GRÁFICO 4 PMIs: Composto (índice em pontos) Fonte: Bloomberg. Elaboração: Ipea/Dimac/Gecon. 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60 ju l-1 2 ou t- 12 ja n- 13 ab r- 13 ju l-1 3 ou t- 13 ja n- 14 ab r- 14 ju l-1 4 ou t- 14 ja n- 15 ab r- 15 ju l-1 5 ou t- 15 ja n- 16 ab r- 16 ju l-1 6 ou t- 16 ja n- 17 EUA China ZE 40 43 46 49 52 55 58 61 64 ju l-1 2 ou t- 12 ja n- 13 ab r- 13 ju l-1 3 ou t- 13 ja n- 14 ab r- 14 ju l-1 4 ou t- 14 ja n- 15 ab r- 15 ju l-1 5 ou t- 15 ja n- 16 ab r- 16 ju l-1 6 ou t- 16 ja n- 17 EUA China ZE Carta de Conjuntura | 34 | 1o trimestre de 2017 8 Commodities Em parte como reflexo desse quadro mais favorável, em parte como consequência de mudanças pelo lado da oferta dos diferentes produtos, os preços de commodities mostraram forte reação ao longo do ano passado. No primeiro trimestre de 2016, na esteira da crise de desconfiança em relação à China e ao crescimento global, os preços de commodities atingiram o fundo do poço. Desde então, contudo, o movimento de recuperação atingiu praticamente todos os grupos, com destaque para as commodities ligadas a energia e as metálicas. Em fevereiro, o preço médio das commodities apresentava crescimento anual de 41,4%, energia, 66%, metais, 38%, e alimentos, 12,4%. Em particular, alguns itens importantes na pauta das exportações brasileiras tiveram alta pronunciada no período: o preço do minério de ferro aumentou 90%, enquanto o da soja aumentou 19,6%. GRÁFICO 5 Preços de Commodities – Combustíveis e demais (jan./2005 – fev./2017) (Índice, 2005=100) Fonte: FMI. Elaboração: Ipea/Dimac/Gecon. 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 2005M1 2007M1 2009M1 2011M1 2013M1 2015M1 2017M1 Total Combustíveis Outras Carta de Conjuntura | 34 | 1o trimestre de 2017 9 GRÁFICO 6 Preços de Commodities – Alimentos e Metais (jan./2005 – nov./2016) (Índice, 2005=100) Fonte: FMI. Elaboração: Ipea/Dimac/Gecon. O petróleo, em particular, apresentou forte reação ao longo do ano passado, tendo oscilado em fevereiro em torno de US$ 55/barril, 70% acima do preço vigente um ano antes. Esse aumento reflete, em parte, a recuperação da demanda, e em parte mudanças no quadro de oferta. Em novembro, os produtores da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) fecharam acordo ao qual aderiram produtores independentes, em especial a Rússia, para redução da produção em aproximadamente 1,2 milhão de barris/dia, para um nível de 32,5 milhões de barris/dia que corresponde a aproximadamente um terço da demanda mundial. No entanto, esse movimento de corte da produção, combinado com o aumento dos preços ao longo do último ano, deu lugar à expansão da produção a partir de fontes não convencionais nos EUA, o que tem contribuído para manter os preços relativamente estáveis. De fato, o número de sondas de perfuração nos EUA aumentouquase 90% ao longo do segundo semestre do ano passado, refletindo as condições mais favoráveis do mercado e introduzindo assim um mecanismo regulador que impede altas muito pronunciadas no preço do petróleo. Diante disso, as projeções são de que não deve haver variações pronunciadas do preço do petróleo em 2017. A projeção do Banco Mundial, conforme o Commodity Markets Outlook, de janeiro de 2017, é de estabilidade no atual patamar. O cenário também é de relativa estabilidade de preços nas demais commodities, para as quais as 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 2005M1 2007M1 2009M1 2011M1 2013M1 2015M1 2017M1 Alimentos Metais Carta de Conjuntura | 34 | 1o trimestre de 2017 10 projeções captam um crescimento médio, no caso dos metais, basicamente pelo efeito carry over herdado de 2016. Estados Unidos A economia norte-americana parece ter consolidado sua trajetória de recuperação, não obstante o resultado inferior ao esperado do PIB no quarto trimestre de 2016. O principal indicador neste sentido vem do mercado de trabalho, onde a taxa de desemprego se aproxima dos níveis pré-crise e se situa abaixo do nível compatível com a estabilidade de preços. Em fevereiro, foram criadas 235 mil novas vagas nos mercados de trabalho não agrícola (210 mil na media dos três últimos meses) e a taxa de desemprego caiu 0,1 ponto percentual (p.p.), para 4,7%. Os salários por hora trabalhada aceleraram os ganhos em relação a igual período do ano anterior, de 2,6% em janeiro para 2,8% em fevereiro. A elevação da taxa de juros pelo Federal Reserve (Fed) em dezembro reflete esse quadro de aquecimento do mercado de trabalho. Porém, aquilo que deveria ser um processo gradual de normalização das condições monetárias nos EUA ganhou uma nova dimensão, envolvendo a perspectiva de altas mais acentuadas, após a eleição de Trump, como comentado mais adiante. O PIB do quarto trimestre de 2016 cresceu 1,9% em termos trimestrais dessazonalizados e anualizados (Tabela 2). Embora a maior contribuição tenha vindo do consumo, destaca-se a forte recuperação dos investimentos fixos, que cresceram 3,2% após quatro trimestres de variação negativa ou nula. Esse comportamento refletiu em parte a retomada dos investimentos na produção de petróleo (5,6%, após seis trimestres em que a queda trimestral anualizada foi, em média, de 15,5%), conforme mencionado anteriormente. Refletiu também a retomada dos investimentos em construção residencial, que registraram variação anualizada de 9,6%, voltando a exibir dinamismo após dois trimestres de queda. A contribuição da variação de estoques para o crescimento foi significativa, adicionando 0,9 ponto percentual (p.p.) no trimestre e explicando quase a metade do crescimento no período (Tabela 3). Por fim, as exportações líquidas contribuíram com -1,7 p.p. para o crescimento, resultado da queda de 4,0% das exportações e do crescimento de 8,5% das importações. Carta de Conjuntura | 34 | 1o trimestre de 2017 11 TABELA 2 Estados Unidos – PIB - Variação Trimestral, com ajuste sazonal e anualizada (Em %) 1º tri. 2015 2º tri. 2015 3º tri. 2015 4º tri. 2015 1º tri. 2016 2º tri. 2016 3º tri. 2016 4º tri. 2016 PIB 2,0 2,6 2,0 0,9 0,8 1,4 3,5 1,9 Consumo Pessoal 2,4 2,9 2,7 2,3 1,6 4,3 3,0 3,0 Investimento Privado Bruto 9,9 1,0 2,0 -2,3 -3,3 -7,9 3,0 9,2 Investimento Fixo 3,7 4,3 5,7 -0,2 -0,9 -1,1 0,1 3,2 Investimento Não- Residencial 1,3 1,6 3,9 -3,3 -3,4 1,0 1,4 1,3 Investimento Residencial 13,3 14,9 12,6 11,5 7,8 -7,7 -4,1 9,6 Variação de Estoques ..... ..... ..... ..... ..... ..... ..... ..... Exportação Líquida de Bens e Serviços ..... ..... ..... ..... ..... ..... ..... ..... Exportações -5,8 2,9 -2,8 -2,7 -0,7 1,8 10,0 -4,0 Importações 5,6 2,9 1,1 0,7 -0,6 0,2 2,2 8,5 Gastos do Governo em Consumo e Investimento 2,6 3,2 1,9 1 1,6 -1,7 0,8 0,4 Fonte: Bureau of Economic Analysis (BEA). Elaboração: Gecon/Dimac/Ipea. Carta de Conjuntura | 34 | 1o trimestre de 2017 12 TABELA 3 Estados Unidos – PIB - Contribuição para a Variação Trimestral, com ajuste sazonal e anualizada (Em %) 1º tri. 2015 2º tri. 2015 3º tri. 2015 4º tri. 2015 1º tri. 2016 2º tri. 2016 3º tri. 2016 4º tri. 2016 PIB 2,0 2,6 2,0 0,9 0,8 1,4 3,5 1,9 Consumo das Famílias 1,6 1,9 1,8 1,5 1,1 2,9 2,0 2,1 Investimento Privado 1,6 0,2 0,4 -0,4 -0,6 -1,3 0,5 1,5 Investimento Fixo 0,6 0,7 0,9 0,0 -0,2 -0,2 0,0 0,5 Não-residencial 0,2 0,2 0,5 -0,4 -0,4 0,1 0,2 0,2 Residencial 0,4 0,5 0,4 0,4 0,3 -0,3 -0,2 0,4 Variação de Estoques 1,0 -0,5 -0,6 -0,4 -0,4 -1,2 0,5 0,9 Exportações Líquidas de Bens e Serviços -1,7 -0,1 -0,5 -0,5 0,0 0,2 0,9 -1,7 Exportações -0,8 0,4 -0,4 -0,3 -0,1 0,2 1,2 -0,5 Importações -0,9 -0,4 -0,2 -0,1 0,1 0,0 -0,3 -1,2 Gastos do Governo - consumo e investimento 0,5 0,6 0,3 0,2 0,3 -0,3 0,1 0,1 Fonte: Bureau of Economic Analysis (BEA). Elaboração: Gecon/Dimac/Ipea. O setor imobiliário tem oscilado em torno de uma trajetória de recuperação. As vendas de imóveis residenciais novos e usados em janeiro cresceram 5,5% e 3,8%, respectivamente, em relação a janeiro de 2016, desacelerando em relação ao desempenho do último trimestre de 2016, (10,5% e 7,0%, respectivamente, na mesma base de comparação). A construção de novas casas aumentou 10,5%, mantendo o ritmo do último trimestre de 2016. Há alguma preocupação no setor com e elevação das taxas de juros e seu impacto sobre financiamentos por hipotecas, mas o ânimo dos consumidores – por exemplo, captado na sondagem da Universidade de Michigan – registrou forte aumento a partir de outubro de 2016, após a eleição de Trump. Como mencionado na discussão sobre o comportamento do preço das commodities, os preços do petróleo subiram fortemente ao longo de 2016. Isso impactou a inflação ao consumidor, via preços de combustíveis: a variação anual do Índice de Preços ao Consumidor (CPI na sigla em inglês) passou de próxima de zero no segundo semestre de 2015 para 2,5% em janeiro último. Se for considerado apenas o núcleo do CPI, a variação é bem mais modesta: de 2% para 2,3% no mesmo período. Movimento menos intenso ocorreu com o deflator das despesas de consumo – medida Carta de Conjuntura | 34 | 1o trimestre de 2017 13 seguida pelo Fed para calibrar a política monetária tendo como meta inflação anual de 2%. Em função dessa aceleração da inflação e de um desempenho favorável no mercado de trabalho, o Fed passou a sinalizar com uma normalização mais rápida da política monetária: os juros subiram em dezembro de 2016, e a perspectiva é de novas elevações a partir da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (FOMC) em março. Adicionalmente, há forte expectativa de que a nova administração deve implementar uma política fiscal mais expansionista envolvendo cortes de impostos e aumentos de gastos militares e em infraestrutura. O mercado financeiro reagiu após a eleição de Trump, puxando fortemente os juros dos títulos de 10 anos do Tesouro norte- americano, que passaram de 1,4% a.a. em julho para 2,6% a.a. em dezembro. Desde então, houve uma ligeira acomodação, com pequeno recuo da taxa para 2,4% a.a. em março (Gráfico 7). GRÁFICO 7 Taxa de Juros dos Títulos do Tesouro Norte-Americano de 10 anos (jan./2013 – mar./2017) (Em %) Fonte: Bureau of Economic Analysis (BEA). Elaboração: Gecon/Dimac/Ipea. A chegada de Trump à presidência dos EUA aumentou as incertezas em relação às perspectivas econômicas norte-americanas, e, por extensão, às da economia mundial. O mercado reagiu favoravelmente num primeiro momento, com a bolsa de valores (S&P 500) valorizando 10% no período após a eleição e meados de dezembro, e continuando pelo menos até o início de março. Por detrás dessa reação está a ja n- 13 m ar -1 3 m ai -1 3 ju l-1 3 se t- 13 no v- 13 ja n- 14 m ar -1 4 m ai -1 4 ju l-1 4 se t- 14 no v- 14 ja n- 15 m ar -1 5 m ai -1 5 ju l-1 5 se t- 15no v- 15 ja n- 16 m ar -1 6 m ai -1 6 ju l-1 6 se t- 16 no v- 16 ja n- 17 m ar -1 7 Carta de Conjuntura | 34 | 1o trimestre de 2017 14 perspectiva de menor regulação em áreas como saúde, sistema financeiro, meio ambiente e energia, além de uma proposta, ainda não especificada, de ampla reforma tributária, com redução das alíquotas mais altas e da taxação sobre os lucros das empresas. Além disso, a introdução de uma cláusula de ajustamento de fronteira (Border Adjustment Tax, BAT na sigla em inglês) no pagamento do imposto de renda pode favorecer alguns setores produtivos ao estimular a utilização de insumos produzidos domesticamente e as atividades exportadoras, embora prejudique outros setores, especialmente os ligados ao varejo. A ênfase no protecionismo comercial e as barreiras à imigração podem ser vistos como choques negativos de oferta num contexto em que já há dúvidas sobre o real potencial de crescimento da economia norte-americana após a crise financeira de 2007/08. Esse viés protecionista certamente terá impactos inflacionários, que se somariam à perspectiva de uma política fiscal mais expansionista, além de produzir forte abalo na economia global na medida em que os Estados Unidos são os maiores importadores do mundo. Área do Euro Na Europa, os indicadores mais recentes de atividade, como destacado anteriormente, apontam para uma ligeira aceleração do crescimento. No caso do PIB da AE, o crescimento de 0,4% no último trimestre de 2016 manteve-se estável em relação ao trimestre anterior. A principal contribuição veio do consumo, cujo crescimento acelerou ligeiramente para 0,4%. No entanto, o destaque foi o investimento fixo, cuja variação passou de -0,7% no terceiro trimestre para +0,6% no quarto. Essa reação do investimento pode estar refletindo condições de financiamento mais favoráveis à medida que a política de expansão quantitativa, que mantém baixas as taxas de juros de longo prazo, e de taxas negativas de remuneração para os depósitos dos bancos no Banco Central Europeu ampliam a oferta de crédito. De fato, o ritmo de crescimento dos empréstimos do sistema financeiro ao setor privado na AE vem acelerando gradualmente. No caso das empresas, no início de 2016 a variação anual do estoque de crédito era de -0,4%, tendo passado no início de 2017 para 0,5%; no caso das famílias, o crescimento já vinha relativamente forte desde a segunda metade de 2015, tendo alcançado 2% em janeiro último. Carta de Conjuntura | 34 | 1o trimestre de 2017 15 TABELA 5 AE – PIB - Variação Trimestral, ante ao período anterior, com ajuste sazonal (Em %) 1º tri. 201 5 2º tri. 201 5 3º tri. 201 5 4º tri. 201 5 1º tri. 201 6 2º tri. 201 6 3º tri. 201 6 4º tri. 201 6 PIB 0,8 0,4 0,3 0,5 0,5 0,3 0,4 0,4 Consumo das Famílias 0,3 0,3 0,2 0,2 0,4 0,2 0,2 0,2 FBKF 0,3 0,0 0,2 0,3 0,1 0,3 -0,1 0,1 Variação de Estoques -0,1 -0,2 0,2 0,2 -0,2 -0,2 0,2 0,1 Gastos do Governo 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,0 0,1 Exportações Líquidas de Bens e Serviços 0,2 0,2 -0,4 -0,3 0,1 0,0 0,2 -0,1 Fonte: Eurostat. Elaboração: Gecon/Dimac/Ipea. TABELA 6 AE – PIB - Contribuição para a Variação Trimestral, ante ao período anterior, com ajuste sazonal (Em %) 1º tri. 2015 2º tri. 2015 3º tri. 2015 4º tri. 2015 1º tri. 2016 2º tri. 2016 3º tri. 2016 4º tri. 2016 PIB 0,8 0,4 0,3 0,5 0,5 0,3 0,4 0,4 Consumo das Famílias 0,5 0,5 0,4 0,4 0,7 0,3 0,3 0,4 FBKF 1,6 0,0 0,8 1,4 0,3 1,2 -0,7 0,6 Gastos do Governo 0,3 0,3 0,5 0,5 0,7 0,3 0,1 0,4 Exportações 2,7 1,2 0,2 0,8 0,2 1,3 0,3 1,5 Importações 2,5 0,8 1,2 1,5 -0,1 1,4 -0,1 2,0 Fonte: Eurostat. Elaboração: Gecon/Dimac/Ipea. O crescimento da demanda doméstica parece ter estimulado as importações, cuja taxa de crescimento passou de -0,1% no terceiro trimestre para 2% no quarto. As exportações também aceleraram, de 0,3% para 1,5%. Assim, a contribuição do setor externo para a variação trimestral do PIB foi negativa no quarto trimestre (-0,1 p.p.), contrastando com contribuições não negativas nos três trimestres anteriores. Talvez esse desempenho reflita o esgotamento do impulso associado à forte desvalorização do Euro (mais de 30%) ocorrida entre maio de 2014 e março de 2015. Por outro lado, seria razoável esperar que esse efeito voltasse a se mostrar relevante no futuro próximo dado que, no último trimestre de 2016, ocorreu nova desvalorização, da ordem de 8,2%, embora tenha havido alguma apreciação (1,5%) neste início de 2017. Carta de Conjuntura | 34 | 1o trimestre de 2017 16 A inflação acelerou de maneira rápida e até certo ponto inesperada na AE nos últimos meses. Em janeiro, os preços ao consumidor apresentaram variação de 1,8%, após um primeiro semestre de 2016 em que essas varrições oscilaram entre valores negativos e apenas levemente positivos. Claramente, a aceleração decorre dos preços de combustíveis, que caíam à taxa anual de 5,4% em julho de 2015 e passaram a crescer à taxa de 2,5% em janeiro último. O núcleo da inflação (excluindo energia, alimentos, álcool e tabaco) continuava crescendo 0,9%, taxa bem inferior à meta de 2% do European Central Bank (ECB) (Gráfico 8). GRÁFICO 8 Área do Euro - Índice de Preços ao Consumidor – cheio e núcleo (jan./2010 – fev./2017) (Variação interanual, em %) Fonte: Eurostat. Elaboração: Gecon/Dimac/Ipea. Assim, apesar de pressões visando reverter a atual política de aquisição de ativos pelo ECB, é provável que o programa se mantenha até o final do ano, como anunciado na reunião de dezembro, embora os quantitativos tenham sido reduzidos. Além disso, as incertezas tendem a turvar o horizonte com a perspectiva de que, nas eleições que vão acontecer na França, Holanda e Alemanha, partidos nacionalistas reforcem a tendência protecionista e isolacionista, afetando a própria existência da Área do Euro, o comércio internacional e a recuperação da economia. -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 ja n- 10 m ai -1 0 se t- 10 ja n- 11 m ai -1 1 se t- 11 ja n- 12 m ai -1 2 se t- 12 ja n- 13 m ai -1 3 se t- 13 ja n- 14 m ai -1 4 se t- 14 ja n- 15 m ai -1 5 se t- 15 ja n- 16 m ai -1 6 se t- 16 ja n- 17 IPC Cheio IPC núcleo Carta de Conjuntura | 34 | 1o trimestre de 2017 17 China Na China, ainda o polo dinâmico da economia mundial, especialmente pela influência sobre o resto da Ásia, o crescimento manteve-se estável em torno de 6,7% ao ano ao longo de 2016, contrariando as expectativas do início do ano passado, que apontavam para uma desaceleração forte. No último trimestre, o crescimento acelerou ligeiramente para 6,8% na comparação anual. Embora as estatísticas de atividade econômica relativas ao primeiro bimestre do ano sejam divulgadas com defasagem devido ao feriado do ano novo lunar, há indicações de que o ritmo de expansão tenha se mantido no início de 2017. Assim, como comentado anteriormente, os PMIs do primeiro bimestre na China mostram um momento positivo para as atividades industrial e de serviços, apoiado tanto na expansão da produção (no caso dos serviços, novos negócios) quanto da demanda, captada pelo volume de novos pedidos no caso da indústria. Por outro lado, a inflação, que vinha acelerando ao longo do ano passado e em janeiro atingiu 2,4% no índice de preços ao consumidor, recuou em fevereiro, na variação anual, para 0,8%. Essa volatilidade reflete o comportamento do preço de alimentos, que em fevereiro caíram 4,3% ante fevereiro de 2016. Porém, também o núcleo da inflação ao consumidor desacelerou, passando de 2,4% em janeiro para 2% em fevereiro. Essas flutuações, contudo, não encobrem o fato de que a inflação acelerou ao longo de 2016, refletindo uma intensificação da atividade econômica no período. Essa trajetória é ainda mais evidente no caso dos preços ao produtor, cuja variação anual passou de -5,9% em dezembro de 2015 para7,9% em fevereiro de 2017. Carta de Conjuntura | 34 | 1o trimestre de 2017 18 GRÁFICO 9 China - Índice de Preços ao Consumidor e Produtor (jan./2010– fev./2017) (Variação Interanual, em %) Fonte: CEIC. Elaboração: Gecon/Dimac/Ipea. Essa percepção de que a atividade econômica teria recuperado um ritmo mais forte ao longo de 2016 é reforçada pelo comportamento do comércio exterior. Em janeiro, a variação anual das exportações foi de 7,9%, ante variação média anual de - 5,5% ao longo de 2016, enquanto as importações cresceram 16,7%, contra variações médias anuais em 2016 de -5,3%. Em fevereiro, o crescimento das exportações voltou a ficar negativo, em -1,3% – possivelmente pelo efeito das antecipações de vendas externas em janeiro devido ao feriado de ano novo de fevereiro –, mas o crescimento das importações acelerou ainda mais, para 38,1% na comparação anual. Mesmo considerando o aumento de preços de commodities importadas pela China, o crescimento do volume importado permanece robusto: 18,8% em janeiro e 16,6% em fevereiro, na comparação anual. -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 ja n- 10 m ai -1 0 se t- 10 ja n- 11 m ai -1 1 se t- 11 ja n- 12 m ai -1 2 se t- 12 ja n- 13 m ai -1 3 se t- 13 ja n- 14 m ai -1 4 se t- 14 ja n- 15 m ai -1 5 se t- 15 ja n- 16 m ai -1 6 se t- 16 ja n- 17 IPC IPC-núcleo IPP Carta de Conjuntura | 34 | 1o trimestre de 2017 19 GRÁFICO 10 China – Exportações e Importações em valor (jan./2010 – fev./2017) (Variação Interanual, em %) Fonte: CEIC. Elaboração: Gecon/Dimac/Ipea. O momento da atividade econômica chinesa tem se mantido pelo impulso fiscal e aumento da oferta de crédito. No caso da política fiscal, essa é uma tendência presente também em outros países tanto avançados quanto emergentes. O gráfico a seguir mostra o comportamento do resultado primário estrutural do governo geral calculado pelo FMI para diversos países. Observa-se que para todos houve um aumente do déficit ou redução de superávit, indicando política fiscal expansionista. Contudo, a tendência é mais evidente para a China, refletindo-se principalmente em aumento dos investimentos em infraestrutura. -40 -20 0 20 40 60 80 fe v, 2 01 0 m ai , 2 01 0 ag o, 2 01 0 no v, 2 01 0 fe v, 2 01 1 m ai , 2 01 1 ag o, 2 01 1 no v, 2 01 1 fe v, 2 01 2 m ai , 2 01 2 ag o, 2 01 2 no v, 2 01 2 fe v, 2 01 3 m ai , 2 01 3 ag o, 2 01 3 no v, 2 01 3 fe v, 2 01 4 m ai , 2 01 4 ag o, 2 01 4 no v, 2 01 4 fe v, 2 01 5 m ai , 2 01 5 ag o, 2 01 5 no v, 2 01 5 fe v, 2 01 6 m ai , 2 01 6 ag o, 2 01 6 no v, 2 01 6 fe v, 2 01 7 Exportações Importações Carta de Conjuntura | 34 | 1o trimestre de 2017 20 GRÁFICO 11 Resultado Fiscal Primário Ajustado para o Ciclo Econômico (2007-2016) (Em % do PIB potencial) Fonte: Fiscal Monitor - FMI. Elaboração: Gecon/Dimac/Ipea. A expansão do crédito tem sido outro elemento importante para sustentar a atividade econômica na China. A concessão de novos empréstimos acelerou a partir do final de 2015 e tem mantido ritmo relativamente forte, ainda que com oscilações, desde então. No primeiro bimestre de 2017 a taxa de crescimento foi de 10% (considerando a média móvel de 3 meses) para o financiamento total e de 6% para os empréstimos bancários – uma desaceleração em relação ao segundo semestre de 2016, mas superior ao ritmo de 2015. O banco central chinês (Banco do Povo) tem procurado manter condições favoráveis no mercado de crédito ao mesmo tempo em que implementa medidas regulatórias que reduzam o grau de alavancagem do sistema financeiro. A despeito da aceleração da inflação, esta permanece aquém da meta informal de 3% a.a. sugerida por declarações de dirigentes do banco central chinês. Isso tem permitido que as taxas de juros permaneçam em patamares relativamente baixos desde o início do ano passado: 1,5% a.a. para depósitos e um teto de 4,35% a.a. para empréstimos. -6,0 -5,0 -4,0 -3,0 -2,0 -1,0 0,0 1,0 2,0 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 Avançados Emergentes China 1 Maria Andréia Parente Lameiras Técnico de Planejamento e Pesquisa da Di- retoria de Estudos e Políticas Macroeconô- micas (Dimac) do Ipea. maria-andreia.lameira@ipea.gov.br. NÚMERO 35 — 2 ˚ TRIMESTRE DE 2017 SEÇÃO VI Mercado de Trabalho Sumário Os dados mais recentes de emprego revelam que o mercado de trabalho brasileiro continua em processo de ajuste, combinando certa estabilidade da taxa de desem- prego com uma recuperação dos rendimentos reais. Não obstante ao fato de que, na comparação interanual, haja uma clara tendência de desaceleração no ritmo de crescimento da desocupação, a taxa de desemprego no país vem se mantendo em patamar elevado, gerando um contingente cada vez maior de desempregados. A análise mais detalhada dos números do mercado de trabalho, baseada nos mi- crodados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), revela que a taxa de permanência no desemprego vem aumentando. Ao longo do primeiro trimestre de 2017, 48% dos trabalhadores que estavam de- socupados não conseguiram nenhuma colocação no mercado de trabalho, resul- tando num incremento de 0,4 p.p. em relação ao observado no mesmo período de 2016 (44%) e numa elevação ainda maior quando comparada ao período pré-crise (35%). Com base na análise dos microdados, é possível identificar que a participação mas- culina na população desocupada cresceu de 44% em 2012 para 50% no primeiro trimestre deste ano. Adicionalmente, verifica-se que a maioria dos desempregados é composta por trabalhadores com idade entre 18 e 39 anos (70%). Por fim, o corte por grau de instrução revela que a maior parte dos desocupados tem ensino médio completo ou incompleto (50%). Este quadro de alta da desocupação entre os mais jovens e com escolaridade mediana é corroborado pelos dados de transi- ção. No primeiro trimestre de 2017, dentre os trabalhadores que deixaram a inati- vidade, passaram a procurar emprego e não obtiveram uma colocação no mercado de trabalho cerca de 50% têm idade entre 14 e 24 anos e, aproximadamente, 35% possuem o ensino médio. Na outra ponta, dentre aqueles que saíram da condição de inativos e conseguiram uma ocupação, 35% possuem entre 25 e 49 anos e 43% têm apenas o fundamental completo. Por conta desta baixa especialização, 73% desse contingente foi absorvido pelo mercado informal. As condições adversas do mercado de trabalho também vêm gerando um aumen- to do desalento. No início da PNADC, em 2012, 23% dos trabalhadores fora da PEA não procuravam emprego por achar que não obteriam êxito. Já no primeiro trimestre de 2017, este percentual saltou para 47%. SEÇÃO FINALIZADA NO DIA 14/06/2017 Sandro Sacchet de Carvalho Técnico de Planejamento e Pesquisa da Dimac do Ipea. sandro.carvalho@ipea.gov.br 2 C arta d e C o n ju n tu ra | 35 | 2˚ trim estre de 2017 Se, por um lado, os dados de ocupação ainda mostram um cenário ruim, por outro, o comportamento dos rendimentos já aponta uma tendência mais clara de recu- peração. No trimestre móvel encerrado em abril, os rendimentos reais registraram alta de 2,7%, proporcionando uma expansão de 1,1% da massa salarial real, nesta mesma base de comparação. Embora os salários dos contratados pelo setor pú- blico tenham influenciado positivamente a média salarial, as estatísticas da PNAD mostram que mesmo na ausência deste segmento, a massa de rendimentos reais apresenta variação positiva primeiro trimestre de 2017, encerrando em 0,5%. A expectativa para o restante do ano é de que o cenário do emprego no país não deve se alterar significativamente, tendo em vista que mesmo diante de alguma recuperação da atividade, o mercado de trabalho deve reagir lentamente. Dentro deste contexto, embora se mantenha uma desaceleração no ritmo de contração da população ocupada, não há margem para uma queda expressiva da taxade de- semprego. Em termos salariais, as perspectivas são de continuidade no avanço dos rendimentos reais, intensificando o movimento de alta da massa salarial e abrindo espaço para uma retomada mais forte do consumo das famílias. 1 Aspectos Gerais do Mercado de Trabalho Os dados mais recentes da PNADC mostram que, após registrar um período de maior aceleração, a taxa de desemprego manteve-se estável no trimestre móvel encerrado em abril, atingindo 13,6%. Se, na comparação com o trimestre imedia- tamente anterior, o recuo observado de apenas 0,1 p.p. não se mostra expressivo o suficiente para indicar alguma melhora no mercado de trabalho brasileiro, a tra- jetória da variação interanual da taxa de desemprego traz uma sinalização mais positiva (Gráfico 1). Ao longo de 2016, a taxa de desocupação brasileira elevou-se, em média, cerca de 3,0 p.p. em relação ao mesmo período do ano anterior. A partir de 2017, entretanto, vem ocorrendo uma redução no ritmo de crescimento da de- socupação, de modo tal que esta alta foi de 2,4 p.p. no trimestre móvel de fevereiro a abril – melhor resultado desde o trimestre móvel encerrado em outubro de 2015. GRÁFICO 1 Taxa de Desemprego (Em %) Fonte: IBGE/PNAD Elaboração: Ipea/Dimac GRÁFICO 2 Decomposição da variação interanual da taxa de desemprego (em pontos percentuais) Fonte: IBGE/PNAD Elaboração: Ipea/Dimac -1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 0 2 4 6 8 10 12 14 16 ja n- fe v- m ar /1 2 ju l-a go -s et /1 2 ja n- fe v- m ar /1 3 ju l-a go -s et /1 3 ja n- fe v- m ar /1 4 ju l-a go -s et /1 4 ja n- fe v- m ar /1 5 ju l-a go -s et /1 5 ja n- fe v- m ar /1 6 ju l-a go -s et /1 6 ja n- fe v- m ar /1 7 Tx. Desemp. Var. Interanual em p.p. -0,03 -0,02 -0,01 0,00 0,01 0,02 0,03 0,04 ja n- m ar /1 3 m ai -ju l/1 3 se t- no v/ 13 ja n- m ar /1 4 m ai -ju l/1 4 se t- no v/ 14 ja n- m ar /1 5 m ai -ju l/1 5 se t- no v/ 15 ja n- m ar /1 6 m ai -ju l/1 6 se t- no v/ 16 ja n- m ar /1 7 var_OCUP var_PEA var_TD 3 C arta d e C o n ju n tu ra | 35 | 2˚ trim estre de 2017 Na prática, o comportamento da taxa de desemprego é fruto da dinâmica de duas variáveis: população ocupada (PO) e população economicamente ativa (PEA), cujos desempenhos mais favoráveis, na margem, explicam este recuo recente do ritmo de crescimento da desocupação. A decomposição da variação interanual da taxa de desemprego (Gráfico 2), revela que, nos últimos trimestres, a retração mais amena da ocupação, associada a uma contribuição constante da PEA, vem agindo favoravelmente para reduzir a velocidade de crescimento da taxa de desocupação. Em que pese a melhora no comporta- mento da ocupação (Gráfico 3), esta ain- da deve apresentar taxas de crescimento negativas por algum tempo, tendo em vista não só o crescimento modesto do nível de atividade econômica, como também os seus efeitos tardios de uma recuperação econômica sobre o merca- do de trabalho. Adicionalmente, mesmo com a expansão mais amena da PEA a níveis próximos aos atuais (1,1%), não há, no curto prazo, espaço para uma queda expressiva da taxa de desempre- go. De acordo com os dados da Tabela 1, nota-se que o aumento do desemprego tem se dado de forma generalizada dentre todos os segmentos. Porém, a taxa de desemprego continua sendo mais alta para as mulheres; os não chefes de família; os mais jovens; os trabalhadores da região nordeste; e os com escolaridade baixa ou mediana. Em termos de taxa de variação percentual, no primeiro trimestre de 2017, a taxa de desemprego brasileira registrou incremento de 27% em relação ao mesmo perí- odo do ano anterior, com destaque negativo para a região norte com alta superior a 35% – influenciada pelo acréscimo de 83% do nível de desocupação do Acre. A tabela A.1, no apêndice, retrata que, de fato, o aumento do desemprego vem ocorrendo com intensidade diferente entre os estados brasileiros. Enquanto o Rio de Janeiro (45%) e Sergipe (43%), além do Acre, apresentam as maiores taxas de variação percentual no desemprego, Rondônia (7%), Rio Grande do Norte (14%) e Mato Grosso (15%) registram os menores incrementos na comparação entre os primeiros trimestres de 2016 e 2017. Desde o início dos efeitos da crise sobre o mercado de trabalho, o contingente de trabalhadores desempregados na economia brasileira saltou de 7,9 milhões no primeiro trimestre de 2015 para 14,2 milhões no primeiro trimestre de 2017, o que significa um aumento de quase 80%. Apenas nos últimos 12 meses, contabilizados até abril de 2017, 2,2 milhões de brasileiros passaram à condição de desocupados. Além disso, a taxa de permanência no desemprego vem aumentando. No primeiro GRÁFICO 3 Taxa de Atividade e taxa de Variação Interanual da PEA e da PO (em %) Fonte: IBGE/PNAD Elaboração: Ipea/Dimac 60,4 60,6 60,8 61,0 61,2 61,4 61,6 61,8 -3 -2 -1 0 1 2 3 ja n- m ar /1 3 m ai -ju l/1 3 se t- no v/ 13 ja n- m ar /1 4 m ai -ju l/1 4 se t- no v/ 14 ja n- m ar /1 5 m ai -ju l/1 5 se t- no v/ 15 ja n- m ar /1 6 m ai -ju l/1 6 se t- no v/ 16 ja n- m ar /1 7 Ta xa d e A� vi da de PE A e PO - Va ria çã o in te ra nu al TX. ATIV PEA PO 4 C arta d e C o n ju n tu ra | 35 | 2˚ trim estre de 2017 trimestre de 2017, 48% dos trabalhadores desocupados não conseguiram nenhu- ma colocação no mercado de trabalho, independentemente do tipo de ocupação, o que significa um incremento de 0,4 p.p. no observado no mesmo período de 2016 (44%). Na comparação com o período pré-crise, esta alta é ainda mais expressiva, tendo em vista que no início de 2012, a proporção dos trabalhadores que se man- tinham na condição de desempregados era de 35%. Em termos desagregados, os microdados revelam que o número de homens no contingente de desempregados vem aumentando (gráficos 4 e 5). No início da pes- quisa, em 2012, a população masculina respondia por 44% de todos os desocupa- dos e, atualmente, corresponde a 50% (gráfico 6). Vale ressaltar que o aumento do desemprego entre os homens vem crescendo mesmo em um cenário de modesto crescimento da PEA masculina, que há pelo menos três trimestres, apresenta taxas abaixo de 1,0% na variação interanual. Isto é, a ocupação entre os homens vem recuando muito mais fortemente do que entre as mulheres. De fato, no último trimestre, a PO masculina retroagiu 2,7%, enquanto a feminina recuou 0,7% em relação ao mesmo período do ano passado. Na comparação com o início da série (primeiro trimestre de 2012), esta diferença de desempenho relativo fica ainda mais clara, pois a PO masculina caiu 0,9% e a feminina aumentou 3,7%. TABELA 1 Taxa de Desemprego (Em %) Fonte: IBGE/PNAD Elaboração: Ipea/Dimac. 2017 1º Trim. 2º Trim. 3º Trim. 4º Trim. 1º Trim. 2º Trim. 3º Trim. 4º Trim. 1º Trim. Brasil 7,9% 8,3% 8,9% 9,0% 10,9% 11,3% 11,8% 12,0% 13,8% Centro_Oeste 7,3% 7,4% 7,5% 7,4% 9,7% 9,7% 10,0% 10,9% 12,1% Nordeste 9,6% 10,3% 10,8% 10,5% 12,8% 13,2% 14,1% 14,4% 16,3% Norte 8,7% 8,5% 8,8% 8,6% 10,5% 11,2% 11,4% 12,7% 14,2% Sudeste 8,0% 8,3% 9,0% 9,6% 11,4% 11,7% 12,3% 12,3% 14,2% Sul 5,1% 5,5% 6,0% 5,7% 7,3% 8,0% 7,9% 7,7% 9,3% Masculino 6,6% 7,1% 7,7% 7,7% 9,5% 9,9% 10,5% 10,7% 12,2% Feminino 9,6% 9,8% 10,4% 10,6% 12,7% 13,2% 13,5% 13,8% 15,8% de14a24anos 19,0% 19,5% 20,8% 20,9% 26,4% 26,7% 27,7% 27,9% 31,2% de25a59anos 5,8% 6,2% 6,6% 6,7% 7,9% 9,2% 9,6% 9,9% 11,3% maisde59anos 2,1% 2,6% 2,7% 2,5% 3,3% 4,8% 5,2% 5,2% 6,2% Não Chefe Familia 11,3% 11,6% 12,4% 12,3% 15,0% 15,3% 15,8% 16,0% 18,1% Chefe Familia 4,0% 4,5% 4,8% 5,1% 6,1% 6,6% 7,0% 7,2% 8,4% fund_incomp 6,5% 7,1% 7,9% 7,9% 9,1% 9,7% 10,5% 11,3% 12,3% fund_comp 8,3% 9,0% 9,7% 9,8% 11,6% 12,9% 13,4% 13,4% 15,2% medio_incomp 14,0% 13,8% 15,3% 16,2% 20,4% 20,6% 21,4% 22,0% 24,2% medio_comp 9,4% 9,9% 10,1% 10,1% 12,7% 12,8% 13,2% 13,2% 15,5% superior 5,8% 5,6% 6,2% 6,2% 7,6% 7,8% 7,8% 7,6% 9,2% RM 8,8% 9,1% 9,7% 9,8% 11,9% 12,6% 13,5% 13,5% 14,9% NRM 7,3% 7,7% 8,3%8,4% 10,1% 10,4% 10,5% 10,9% 12,9% 61025102 5 C arta d e C o n ju n tu ra | 35 | 2˚ trim estre de 2017 Na análise por faixa etária, observa-se que a grande maioria da população desocu- pada - cerca de 70% - tem entre 18 e 39 anos, enquanto os trabalhadores com mais de 60 anos respondem por apenas 2% de todo o contingente de desempregados (gráfico 8). Apesar de apresentarem participação relativa semelhante no total da desocupação, a taxa de desemprego dos jovens de 18 a 24 anos é mais que o dobro da observada entre os trabalhadores com idade entre 25 e 49 anos (28,7% ante 12,8% no primeiro trimestre de 2017, respectivamente). De acordo com o gráfico 9, observa-se que, além de ser a mais alta dentre todos os segmentos etários, a taxa de desemprego da população entre 18 e 24 anos é a que mais cresce na margem. Este movimento de aceleração da desocupação é explicado tanto pelo aumento da PEA (2,8% no primeiro trimestre de 2017 ), quanto pela contração da ocupação (3,5%). Já no caso dos adultos entre 25 a 39 anos, mantendo-se a mesma base de comparação, houve um aumento mais modesto da PEA (1,1%) e uma retração mais amena da ocupação (2,2%). Nos últimos 5 anos (início da PNADC), a PO deste grupo aponta queda de 1,0%. O comportamento mais benigno da ocupação também pode ser apontado como o GRÁFICO 4 Taxa de Desemprego (Em %) GRÁFICO 5 Composição da Desocupação por Gênero (Em %) GRÁFICO 6 PEA - Variação Acum. 4 Trim. (Em %) GRÁFICO 7 PO - Variação Acum. 4 Trim (Em %) 5 7 9 11 13 15 17 20 12 .I 20 12 .II I 20 13 .I 20 13 .II I 20 14 .I 20 14 .II I 20 15 .I 20 15 .II I 20 16 .I 20 16 .II I 20 17 .I Homens Mulheres 44 46 48 50 52 54 56 20 12 .I 20 12 .II I 20 13 .I 20 13 .II I 20 14 .I 20 14 .II I 20 15 .I 20 15 .II I 20 16 .I 20 16 .II I 20 17 .I Homens Mulheres 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 20 13 .IV 20 14 .I 20 14 .II 20 14 .II I 20 14 .IV 20 15 .I 20 15 .II 20 15 .II I 20 15 .IV 20 16 .I 20 16 .II 20 16 .II I 20 16 .IV 20 17 .I Homens Mulheres -3 -2 -1 0 1 2 3 20 13 .I 20 13 .II 20 13 .II I 20 13 .IV 20 14 .I 20 14 .II 20 14 .II I 20 14 .IV 20 15 .I 20 15 .II 20 15 .II I 20 15 .IV 20 16 .I 20 16 .II Homens Mulheres Fonte: IBGE/PNAD Elaboração: Ipea/Dimac 6 C arta d e C o n ju n tu ra | 35 | 2˚ trim estre de 2017 principal motivo para que a taxa de desemprego dos trabalhadores com mais de 60 anos apresente desempenho mais favorável. No último trimestre, este contingente de trabalhadores apontou alta de 0,4%. Na comparação com o início da pesquisa, esta expansão é de aproximadamente 18%. Por fim, o corte por grau de instrução revela que quase 50% dos desocupados possuem de 10 a 12 anos de estudo (ensino médio completo ou incompleto), sendo seguido pela parcela que possui menos de nove anos de escolaridade (fun- damental incompleto), que corresponde a 25% do total da desocupação (gráficos 12 e 13). Na outra ponta, os trabalhadores com maior nível de educação respon- dem por apenas 12% de todo o contingente desempregado. Em termos de taxa de desocupação, os dados mais recentes mostram que houve uma aceleração em todos os segmentos de escolaridade ao longo do último ano, ainda que as causas deste aumento sejam distintas entre os grupos. No caso dos menos instruídos – trabalhadores com no máximo o ensino fundamental –, o aumento da taxa de de- semprego se dá pela forte contração da ocupação, tendo em vista que a PEA deste segmento vem recuando ao longo dos últimos trimestres. Esta queda da força de trabalho neste segmento parece indicar que a recessão vem retirando do mercado GRÁFICO 8 Taxa de Desocupação (Em %) GRÁFICO 9 Composição da Desocupação (Em %) GRÁFICO 10 PEA - Variação Acum. 4 Trim. (Em %) GRÁFICO 11 PO - Variação Acum. 4 Trim. (Em %) Fonte: IBGE/PNAD Elaboração: Ipea/Dimac 0 5 10 15 20 25 30 20 12 .I 20 12 .II I 20 13 .I 20 13 .II I 20 14 .I 20 14 .II I 20 15 .I 20 15 .II I 20 16 .I 20 16 .II I 20 17 .I 18 a 24 anos 25 a 39 anos 40 a 59 anos Mais de 60 anos 0 5 10 15 20 25 30 35 40 20 12 .I 20 12 .II I 20 13 .I 20 13 .II I 20 14 .I 20 14 .II I 20 15 .I 20 15 .II I 20 16 .I 20 16 .II I 20 17 .I 18 a 24 anos 25 a 39 anos 40 a 59 anos Mais de 60 anos -4 -2 0 2 4 6 8 20 13 .IV 20 14 .I 20 14 .II 20 14 .II I 20 14 .IV 20 15 .I 20 15 .II 20 15 .II I 20 15 .IV 20 16 .I 20 16 .II 20 16 .II I 20 16 .IV 20 17 .I 18 a 24 anos 25 a 39 anos 40 a 59 anos Mais de 60 anos -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 20 13 .IV 20 14 .I 20 14 .II 20 14 .II I 20 14 .IV 20 15 .I 20 15 .II 20 15 .II I 20 15 .IV 20 16 .I 20 16 .II 20 16 .II I 20 16 .IV 20 17 .I 18 a 24 anos 25 a 39 anos 40 a 59 anos Mais de 60 anos 7 C arta d e C o n ju n tu ra | 35 | 2˚ trim estre de 2017 de trabalho uma parcela deste contingente de trabalhadores de baixa escolaridade, que acabam indo para a inatividade à medida que fica cada vez mais difícil encon- trar uma ocupação. Em contraposição, o incremento da desocupação entre os mais escolarizados – com ensino médio e superior – vem sendo explicada por uma expansão da ordem de 4,5% da força de trabalho no último trimestre, dado que a ocupação nestes dois segmentos apresenta taxa de crescimento positiva De fato, no primeiro trimestre do ano, a população ocupada com ensino superior cresceu 3,2%, enquanto a dos menos escolarizados recuou 7,4%. Na comparação com o início da pesquisa (pri- meiro trimestre de 2012), este movimento é ainda mais expressivo. Ou seja, a alta da ocupação dos mais instruídos aumentou 26,3% e dos com menos escolaridade retroagiu 17,4%. Este cenário de alta do desemprego entre os mais jovens e com escolaridade me- diana é corroborado pela análise de transição – que é feita por meio de informa- ções de cada indivíduo da amostra que mudou a condição na ocupação. Dentre os trabalhadores que deixaram a inatividade, passaram a procurar uma colocação no GRÁFICO 12 Taxa de Desocupação (Em %) GRÁFICO 13 Composição da Desocupação (Em %) GRÁFICO 14 PEA - Variação Acum. 4 Trim. (Em %) GRÁFICO 15 PO - Variação Acum. 4 Trim. (Em %) Fonte: IBGE/PNAD Elaboração: Ipea/Dimac 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 12 .I 20 12 .II I 20 13 .I 20 13 .II I 20 14 .I 20 14 .II I 20 15 .I 20 15 .II I 20 16 .I 20 16 .II I 20 17 .I Fund. Incompleto Fund. Complet Médio Superior 0 10 20 30 40 50 60 20 12 .I 20 12 .II I 20 13 .I 20 13 .II I 20 14 .I 20 14 .II I 20 15 .I 20 15 .II I 20 16 .I 20 16 .II I 20 17 .I Fund. Incompleto Fund. Complet Médio Superior -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 20 13 .IV 20 14 .I 20 14 .II 20 14 .II I 20 14 .IV 20 15 .I 20 15 .II 20 15 .II I 20 15 .IV 20 16 .I 20 16 .II 20 16 .II I 20 16 .IV 20 17 .I Fund. Incompleto Fund. Complet Médio Superior -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 20 13 .IV 20 14 .I 20 14 .II 20 14 .II I 20 14 .IV 20 15 .I 20 15 .II 20 15 .II I 20 15 .IV 20 16 .I 20 16 .II 20 16 .II I 20 16 .IV 20 17 .I Fund. Incompleto Fund. Complet Médio Superior 8 C arta d e C o n ju n tu ra | 35 | 2˚ trim estre de 2017 mercado de trabalho e não obtiveram êxito, cerca de 50% possuem idade entre 14 e 24 anos e aproximadamente 35% possuem o ensino médio. Na outra ponta, a análise dos trabalhadores que saíram da condição de inativos e conseguiram uma vaga de trabalho revela que 35% possuem entre 25 e 49 anos e 43% têm apenas o fundamental completo. Por conta desta baixa especialização, 73% desse contingen- te foram absorvidos pelo mercado informal. 2 Formalização do Mercado de Trabalho De acordo com os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), o mercado de trabalho formal no país vem dando os primeiros sinais de recuperação ao indicar um recuo no ritmo de destruição de empregos com carteira assinada. Em abril último, segundo a pesquisa
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