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trabalho colegialidade duplo grau (2)

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COMPLEXO DE ENSINO SUPERIOR DE SANTA CATARINA - CESUSC
Bruno Damm Blass
João Vitor Dutra
João Vitor Fonseca
Pedro Henrique Carvalho Meireles
DOS PRINCÍPIOS DO COLEGIADO E DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO
Uma análise e reflexão sobre seus usos no sistema judiciário 
Florianópolis – Santa Catarina
2019
1. INTRODUÇÃO
 O presente trabalho irá se dedicar ao estudo dos princípios da colegialidade e duplo grau de jurisdição, apresentando tanto conceitos, quanto jurisprudências e notícias atualmente relevantes para o universo jurídico. O primeiro ponto sobre o qual abordaremos será a definição de colegialidade, suas mudanças perante o novo Código de Processo Civil de 2015, o papel dos relatores e suas decisões baseadas na mudança dos princípios. Além de integrar o duplo grau de análise processual, sua interpretação contestada no meio da doutrina brasileira e seus preceitos mais aprofundados. A ligação entre os dois princípios também é de suma importância para o entendimento amplo dos mesmos. Sustentamos a existência do princípio da colegialidade, como um direito processual implícito, decorrente do duplo grau de jurisdição, mas sem perder de vista a ampla defesa, de modo a consolidar o debate salutar nas cortes brasileiras, proporcionando as partes uma decisão justa.
2. O PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE
 
 O presente princípio do que, em tese e na prática, o direito da parte de ter seu recurso a um tribunal julgado por um grupo colegiado. Este grupo conseguiria julgar de melhor maneira inúmeros recursos, buscando o judiciário um equilíbrio entre valores e conflitos. Em um comparativo com o revogado Código de Processo Civil de 1973 e o atual Código de Processo Civil de 2015, o reforço à Colegialidade no exame dos recursos pelos Tribunais prevalece. 
 
 Durante o fim do CPC/73, houve uma tendência de incrementar poderes além da gestão processual, avivando os julgamentos monocráticos dos Tribunais, como pode-se perceber pelo antigo Artigo 557 do CPC in verbis “Art. 557. O relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior. (Redação dada pela Lei nº 9.756, de 1998)”.
 
 Em tese, o Novo CPC representa um viés contrário ao seu antecessor, ao catalisar a colegialidade nos tribunais, reduzindo o poder monocrático de apenas um relator e acima de tudo, reforçando sentimento de justiça do julgamento. No Brasil, adotamos os debates públicos e damos espaços às divergências minoritárias.
Entretanto, muitos juristas acreditam que a colegialidade como meio de julgamento implica em sufocamento de ideias e, principalmente, retira a independência do juiz. Muitos magistrados de tribunais inferiores não se sentem confiantes o suficiente ao proferirem uma decisão monocrática, devido à enorme chance de sua sentença ser revisada e, consequentemente revertida. 
2.1 A COLEGIALIDADE NA CONTEMPORANEIDADE 
 Um dos casos mais conhecidos e polêmicos hoje em dia, principalmente no âmbito jurídico, é o caso do ex-presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva. No dia 05/04/2018, foi julgado, pelo Pleno do STF, o Habeas Corpus 152.752. Desde então, o princípio da colegialidade veio à tona novamente, graças ao voto crucial da então Ministra Rosa Weber, como podemos ver aqui: 
“(iii) como terceiro ponto, ABORDO o significado do princípio da
colegialidade, na engenharia decisória da atividade jurisdicional,
notadamente a desempenhada pelas Cortes Supremas, princípio este
QUE há de ser bem compreendido. A colegialidade, como método
decisório dos julgamentos em órgãos coletivos pelo qual o decidir se dá
em conjunto, impõe, aos integrantes do grupo, da assembleia ou do
tribunal, procedimento decisório distinto daquele a que submetido o
juiz singular.
Por funcionar como um colegiado, em um tribunal, a justificação da
decisão judicial não se detém no raciocínio jurídico de um único juiz,
avançando à fase da deliberação, na qual as manifestações individuais são
postas em confronto e têm sua consistência e validade testadas, para, na
etapa seguinte, proclamar-se resultado que expresse a opinião unânime
ou majoritária do tribunal, enquanto voz e voto de um ente coletivo”.
(STF, 2018)
 O então voto da ministra ocasionou uma repercussão e debate sobre o tema. Muitos advogados, promotores, juízes de primeira intância em geral não atribuem credibilidade a este princípio, pelo simples motivo do mesmo não compor o Direito Processual Penal, sendo impossível transpor devido a seus fundamentos diferirem do Direito Processual Civil. Outros ainda afirmam que a colegialidade concorre implicitamente com o duplo grau de jurisdição, não perdendo-se de vista o direito a ampla defesa.
2.2 A JURISPRUDÊNCIA
A seguir, veremos um caso onde um Agravo de Instrumento foi distribuido, por prevenção, a outro desembargador da 4º Câmara Cível. O mesmo determinou a redistribuição do processo, alegando prevenção do suscitante por afinidade.
EMENTA: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA - AGRAVO DE INSTRUMENTO - MUNICÍPIO DE IPATINGA - SERVIDORES MUNICIPAIS - VERBAS PREVIDENCIÁRIAS - PREVENÇÃO - INEXISTÊNCIA - OFENSA AO PRINCIPIO DA COLEGIALIDADE - INCIDENTE ACOLHIDO PARA DECLARAR A COMPETÊNCIA DO SUSCITADO. 1. A prevenção em segundo grau de jurisdição por afinidade ofende o princípio da colegialidade, princípio básico da existência dos tribunais, na medida em que a matéria posta no recurso e a tese jurídica de direito ficariam adstritas exclusivamente a relatoria de um único Desembargador e ao entendimento de turma julgadora sem observar o posicionamento dos demais órgãos fracionários de direito público que compõe este Tribunal, engessando a interpretação da matéria, o que, de certo, não traz segurança jurídica alguma para as partes. 2. Acolher o conflito para reconhecer a competência do Desembargador suscitado.
(TJ-MG - CC: 10000160291480006 MG, Relator: Teresa Cristina da Cunha Peixoto, Data de Julgamento: 19/10/2018, Data de Publicação: 22/11/2018). 
3. O PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO
 O principio do duplo grau de jurisdição caracteriza-se no direito do processo ter uma segunda análise. Costuma-se postular que o chamado órgão revisor seja de grau superior ao primeiro, isso porém é dispensável, a exigência para a concretização do princípio se dá apenas por um órgão distinto.
 O Brasil, internacionalmente, se comprometeu a cumprir esse princípio tanto no Pacto de San José da Costa Rica quanto no Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos. Por ser signatário desses pactos parte da doutrina argui que esse seria um princípio constitucional, teoria essa que não se sustenta por tratados internacionais terem, no país, um status inferior à Constituição. 
 É notório que o duplo grau de jurisdição não é um princípio constitucional quando ela prevê julgamentos em instância única (ex. Art 105, II, a e b). Além do que é visto na ementa da decisão do Min. Sepúlveda Pertence.
 O doutrinador Ingo Sarlet elenca que, apesar da não previsão na Carta Magna brasileira, tal princípio poderia facilmente ser enquadrado no Art. 5°, Inciso LV da CFBR/88, in verbis
 “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;”
3.1 O DUPLO GRAUDE JURISDIÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE
 
 
 O caso em epígrafe trata-se de um esquema de corrupção denunciado há mais de 12 anos, porém ainda pode-se ver reflexos de suas decisões no mundo de hoje à luz do Princípio do duplo grau de jurisdição. Estamos falando do mensalão, caso solucionado apenas há poucos anos atrás. 
 
 No que diz respeito ao ligamento entre o princípio em estudo e o julgamento, os advogados dos Réus queriam recorrer acima da instância máxima da jurisdição brasileira, devido ao Brasil ser signatário do Pacto de São José da Costa Rica, um Tratado Internacional que versa sobre Direitos Humanos. 
 A dúvida em questão era: Deve haver duplo grau para os que são julgados com prerrogativa de função?. Em tese, sim. Entretanto, não foi o que aconteceu. A justificativa seria de que, como o processo deu-se início no Supremo Tribunal Federal, não há o que se falar em fase recursal no que diz respeito ao mérito, restando apenas os Embargos de Declaração aos réus. 
3.1.1 A JURISPRUDÊNCIA EM QUESTÃO
 
 São vários os casos onde as partes requeridas invocam o Pacto de São José da Costa Rica, na tentativa de levar seus processos a uma instância superior. Entretanto, a jurisprudência já entende os casos em que seriam possíveis invoca-los e a função supralegal dos tratados internacionais em casos concretos. Uma das jurisprudências mais utilizadas até hoje por inúmeros autores é um Recurso em Habeas Corpus do ministro relator Sepúlvuda Pertence, como podemos observar a seguir
“I. Duplo grau de jurisdição no Direito brasileiro, à luz da Constituição e da Convenção Americana de Direitos Humanos. 1. Para corresponder à eficácia instrumental que lhe costuma ser atribuída, o duplo grau de jurisdição há de ser concebido, à moda clássica, com seus dois caracteres específicos: a possibilidade de um reexame integral da sentença de primeiro grau e que esse reexame seja confiado à órgão diverso do que a proferiu e de hierarquia superior na ordem judiciária. 2. Com esse sentido próprio - sem concessões que o desnaturem - não é possível, sob as sucessivas Constituições da República, erigir o duplo grau em princípio e garantia constitucional, tantas são as previsões, na própria Lei Fundamental, do julgamento de única instância ordinária, já na área cível, já, particularmente, na área penal. 3. A situação não se alterou, com a incorporação ao Direito brasileiro da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José), na qual, efetivamente, o art. 8º, 2, h, consagrou, como garantia, ao menos na esfera processual penal, o duplo grau de jurisdição, em sua acepção mais própria: o direito de "toda pessoa acusada de delito", durante o processo, "de recorrer da sentença para juiz ou tribunal superior". 4. Prevalência da Constituição, no Direito brasileiro, sobre quaisquer convenções internacionais, incluídas as de proteção aos direitos humanos, que impede, no caso, a pretendida aplicação da norma do Pacto de São José: motivação. II. A Constituição do Brasil e as convenções internacionais de proteção aos direitos humanos: prevalência da Constituição que afasta a aplicabilidade das cláusulas convencionais antinômicas. 1. Quando a questão - no estágio ainda primitivo de centralização e efetividade da ordem jurídica internacional - é de ser resolvida sob a perspectiva do juiz nacional - que, órgão do Estado, deriva da Constituição sua própria autoridade jurisdicional - não pode ele buscar, senão nessa Constituição mesma, o critério da solução de eventuais antinomias entre normas internas e normas internacionais; o que é bastante a firmar a supremacia sobre as últimas da Constituição, ainda quando esta eventualmente atribua aos tratados a prevalência no conflito: mesmo nessa hipótese, a primazia derivará da Constituição e não de uma apriorística força intrínseca da convenção internacional. 2. Assim como não o afirma em relação às leis, a Constituição não precisou dizer-se sobreposta aos tratados: a hierarquia está ínsita em preceitos inequívocos seus, como os que submetem a aprovação e a promulgação das convenções ao processo legislativo ditado pela Constituição e menos exigente que o das emendas a ela e aquele que, em conseqüência, explicitamente admite o controle da constitucionalidade dos tratados (CF, art. 102, III, b). 3. Alinhar-se ao consenso em torno da estatura infraconstitucional, na ordem positiva brasileira, dos tratados a ela incorporados, não implica assumir compromisso de logo com o entendimento - majoritário em recente decisão do STF (ADInMC 1.480) - que, mesmo em relação às convenções internacionais de proteção de direitos fundamentais, preserva a jurisprudência que a todos equipara hierarquicamente às leis ordinárias. 4. Em relação ao ordenamento pátrio, de qualquer sorte, para dar a eficácia pretendida à cláusula do Pacto de São José, de garantia do duplo grau de jurisdição, não bastaria sequer lhe conceder o poder de aditar a Constituição, acrescentando-lhe limitação oponível à lei como é a tendência do relator: mais que isso, seria necessário emprestar à norma convencional força ab-rogante da Constituição mesma, quando não dinamitadoras do seu sistema, o que não é de admitir. III. Competência originária dos Tribunais e duplo grau de jurisdição. 1. Toda vez que a Constituição prescreveu para determinada causa a competência originária de um Tribunal, de duas uma: ou também previu recurso ordinário de sua decisão (CF, arts. 102, II, a; 105, II, a e b; 121, § 4º, III, IV e V) ou, não o tendo estabelecido, é que o proibiu. 2. Em tais hipóteses, o recurso ordinário contra decisões de Tribunal, que ela mesma não criou, a Constituição não admite que o institua o direito infraconstitucional, seja lei ordinária seja convenção internacional: é que, afora os casos da Justiça do Trabalho - que não estão em causa - e da Justiça Militar - na qual o STM não se superpõe a outros Tribunais -, assim como as do Supremo Tribunal, com relação a todos os demais Tribunais e Juízos do País, também as competências recursais dos outros Tribunais Superiores - o STJ e o TSE - estão enumeradas taxativamente na Constituição, e só a emenda constitucional poderia ampliar. 3 .À falta de órgãos jurisdicionais ad qua, no sistema constitucional, indispensáveis a viabilizar a aplicação do princípio do duplo grau de jurisdição aos processos de competência originária dos Tribunais, segue-se a incompatibilidade com a Constituição da aplicação no caso da norma internacional de outorga da garantia invocada.”
(STF - RHC: 79785 RJ, Relator: SEPÚLVEDA PERTENCE, Data de Julgamento: 29/03/2000, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 22-11-2002 PP-00057 EMENT VOL-02092-02 PP-00280 RTJ VOL-00183-03 PP-01010) 
 Além disso, também podemos citar o caso veiculado pelo jornal Folha de São Paulo, quando o então ex-presidente da Corte Intramericana de Direitos Humanos, Diego Gargia-Sayan, afirma que não são tribunal penal de revisão. A frase foi dita devido a uma tentativa de reverter a situação dos condenados pelo mensalão. 
 (Folha de SP, 2013. https://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/11/1369456-corte-interamericana-de-direitos-humanos-nao-e-tribunal-penal-de-revisao-diz-presidente.shtml)

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