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Direito Civil 2 Prof. Luciana Vasco da Silva Luciana.vasco@uni9.pro.br 1 CONTEÚDO • 1. Apresentação da matéria, do programa e da bibliografia. Atos jurídicos, fatos jurídicos e seus reflexos sociais. Fatos naturais (Fatos jurídicos "strictu sensu") e Fatos humanos (Atos jurídicos "lato sensu") • 2. Negócio jurídico. Conceito, classificação e interpretação (Elemento Volitivo) • 3. Teoria da Existência, validade e eficácia do negócio jurídico. • 4. Elementos dos negócios jurídicos. Classificação. Elementos essenciais naturais: Vícios redibitórios e evicção. • 5. Elementos dos negócios jurídicos. Classificação. Elementos acidentais: Condição, termo e encargo. • 6. Aquisição, defesa e extinção. Teorias sobre a autonomia privada. • 7. Defeitos dos negócios jurídicos (vícios do negócio): erro ou ignorância, dolo, coação. • 8. Estado de perigo e lesão de direito. • 9. Fraude contra credores e simulação. • 10. Invalidade e ineficácia dos negócios jurídicos. • 11. Atos ilícitos. Teoria geral. Responsabilidade Civil. Abuso de direito. • 12. Atos lesivos não considerados ilícitos: Legítima defesa, exercício regular de direito e estado de necessidade. • 13. Tempo no direito: Prescrição • 14. Tempo no direito: Decadência • 15. Provas no direito civil: Noções gerais. Espécies. 2 BIBLIOGRAFIA BÁSICA • GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: parte geral. 14a. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. v.1 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: parte geral. 34. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 1. [2006, 2007]. • VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: parte geral. 15a. ed. São Paulo: Atlas, 2015. v. 1 [2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2012, 2013]. 3 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR: • COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil: parte geral. 8ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. v.1. • DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral do direito civil. 32a. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. v. 1 • GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007. • MELO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico: plano da existência. 12ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003. • MONTEIRO, Washington de Barros; PINTO, Monteiro Ana Cristina de Barros Monteiro França. Curso de direito civil, V.1: parte geral. 41. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. • WALD, Arnoldo. Direito civil: introdução e parte geral. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1 [2009] 4 AVALIÇÃO CONTINUADA • 1) Atividade Eletrônica - padrão OAB, no primeiro horário, com feedback e correção obrigatória no segundo horário (2,0 pontos) • 2) Prova Dissertativa Individual, baseada em caso prático no primeiro horário, seguida de aula normal no segundo horário- (6,0 pontos) • 3) Atividade do Professor - (2,0 pontos) 5 Fato Jurídico 6 7 • Somente o acontecimento da vida relevante para o direito pode ser considerado fato jurídico. • Chuva é um fato, mas é um fato jurídico? • Todo fato, para ser considerado jurídico, deve passar por um juízo de valoração. Nasce Desenvolve-seExtingue-se Direito • Nessa ordem, exemplifica Caio Mário: “a chuva que cai é um fato, que ocorre e continua a ocorrer, dentro da normal indiferença da vida jurídica, o que não quer dizer que, algumas vezes, este mesmo fato não repercuta no campo do direito, para estabelecer ou alterar situações jurídicas.” • Outros se passam no domínio das ações humanas, também indiferentes ao direito: o indivíduo veste-se, alimenta-se, sai de casa, e a vida jurídica se mostra alheia a estas ações, a não ser quando a locomoção, a alimentação, o vestuário provoquem a atenção do ordenamento legal. 8 Fato Jurídico “é todo acontecimento da vida que o ordenamento jurídico considera relevante no campo do direito”. GONÇALVES, Carlos Roberto. 9 Fato Jurídico (em sentido amplo) -> 10 Fatos Jurídicos em sentido amplo Fatos Jurídicos em sentido estrito ou Fatos Naturais (decorrem de simples manifestação da natureza) Fatos Naturais Ordinários (nascimento e morte, e a maioridade, o decurso do tempo) Fatos Naturais Extraordinários (em geral, caso fortuito e força maior: terremoto, raio, tempestade, furacão) Atos Jurídicos em sentido amplo ou Fatos Humanos (decorrem da atividade humana) 11 Fatos Jurídicos em sentido amplo Fatos Naturais ou Fatos Jurídicos em sentido estrito Fatos Humanos ou Atos Jurídicos em sentido amplo (decorrem da atividade humana. São ações humanas que criam, modificam, transferem ou extinguem direitos) Atos lícitos (Praticados em conformidade com o ordenamento jurídico) Ato Jurídico em sentido estrito ou meramente lícito Negócio Jurídico Atos ilícitos (praticados em desacordo com o prescrito no ordenamento jurídico) 12 Atos lícitos Ato Jurídico em sentido estrito ou meramente lícito (o efeito da manifestação da vontade está predeterminado na lei). Ex: reconhecimento voluntário de paternidade, fixação de domicílio, notificação, intimação, confissão. Negócio Jurídico (a ação humana visa diretamente a alcançar um fim prático permitido na lei, dentre a multiplicidade de efeitos possíveis. Efeitos podem estar previstos em lei, mas também são escolhidos por ato voluntário, de vontade). Ex: venda e compra de um carro, locação, doação (precisa da aceitação do donatário), testamento (é a vontade do testador, dentro dos 50% se não tiver herdeiros necessários), casamento (pode escolher o regime, pode fazer pacto-nupcial). • São exemplos de fatos jurídicos stricto sensu... • A a declaração, o testamento, a residência. • B o contrato, o testamento, a aluvião. • C a descoberta de tesouro, a dívida de jogo, o nascimento. • D o nascimento, a morte, a aluvião. 13 RESPOSTA CERTA • D 14 • QUESTÃO: Anésio vendeu à Feliciano um imóvel de sua propriedade no interior de São Paulo (um sitio), totalmente regularizado no valor de R$ 128.000,00. Feliciano não possuindo todo dinheiro no ato da compra obteve empréstimo junto ao Banco “Só Alegria” no valor de R$ 38.000,00. Passados mais de 03 anos da aquisição, Feliciano num certo final de semana notou que sua propriedade poderia ser invadida a qualquer momento pelo movimento do MST, pois os integrantes estavam acampados em frente ao seu sítio. • RESPONDA: 1. Que tipo de fato jurídico ocorreu nesta relação entre Anésio e Feliciano? • 2. A compra do imóvel por Feliciano e a venda de Anésio caracterizam algum efeito jurídico dos atos jurídicos? Cite e explique. • 3. Imagine que Feliciano lhe contratou para defender seus direitos que estão na iminência de serem lesados. Como se chama o efeito dos atos jurídicos a serem invocados na tutela dos interesses patrimoniais de seu cliente? 15 • QUESTÃO 2: José era homem idoso e proprietário de algumas glebas de terras e bens materiais. Ao falecer, deixou uma enorme herança para seus filhos: Daniel e Paulo, e, nomeou como legatário um amigo seu chamado Epaminondas, ao qual destinou seu maior tesouro: seu cavalo Banzé. Com base nos conhecimentos adquiridos responda: • 1. A morte de José é um exemplo típico de qual fato jurídico? • 2. Que efeitos jurídicos sofreram Daniel e Paulo com a sucessão hereditária? Justifique. • 3. Classifique o modo como ocorreu o acréscimo patrimonial dos herdeiros e do legatário sob o prisma das modalidades de aquisição de direito. 16 Melquíades e Marcelo, maiores e capazes, desejavam muito ter uma bicicleta. Marcelo trabalhou o ano inteiro e conseguiu economizar o suficiente para comprá-la na loja de Alberto. Melquíades não conseguiu economizar o valor e, à noite, entrou sorrateiramente naquele estabelecimento tendo subtraído uma bicicleta preta. • a) Qual a natureza jurídica dos atos praticadospor Marcelo e Melquíades? • b) À luz do Novo Código Civil brasileiro, o ato ilícito poderia ser considerado ato jurídico? 17 Negócio Jurídico Para Francisco Amaral, é a declaração de vontade privada destinada a produzir efeitos que o agente pretende e o direito reconhece. Tais efeitos são a constituição, modificação ou extinção de relações jurídicas, de modo vinculante, obrigatório para as partes intervenientes. O negócio jurídico é o meio de realização da autonomia privada, e o contrato é o seu símbolo. 18 • Miguel Reale, preleciona que “negócio jurídico é aquela espécie de ato jurídico que, além de se originar de um ato de vontade, implica a declaração expressa da vontade, instauradora de uma relação entre dois ou mais sujeitos tendo em vista um objetivo protegido pelo ordenamento jurídico...” 19 Negócio Jurídico Para se constituir, o negócio jurídico deve ter a livre manifestação de vontade da(s) parte(s) (como expressão de liberdade e autonomia), com finalidade negocial de aquisição, modificação ou extinção de relações jurídicas. 20 • Aquisição de direitos Compra de imóvel, contrato de honorários • Modificação de direitos Testamento, Prorrogação do contrato de trabalho de experiência • Extinção de direitos Venda da casa, doação, renúncia a usufruto • Conservar direitos Fiador, multa por descumprimento do contrato 21 Aquisição de direitos • não há interferência do titular anterior. • ocupação de coisa sem dono (coisas de ninguém ou abandonadas), art. 1.263 C.C., - caça e a pesca; • avulsão (art. 1.251 C.C.) Originária: 22 • quando a transferência é feita por outra pessoa. O direito é adquirido com todas as qualidades ou defeitos do título anterior. O bem é transmitido com todos os vícios e ônus. • contrato de compra e venda Derivada: Aquisição de direitos • quando só o adquirente aufere vantagem • Ex: sucessão hereditária Gratuita: 23 • quando se exige do adquirente uma contraprestação, possibilitando a ambos os contratantes a obtenção de benefícios. • Ex: compra e venda, locação Onerosa: MOMENTO DE AQUISIÇÃO FASE PRELIMINAR Expectativa de Direito Ex.: Filhos que sucedem os pais com a morte DIREITO EVENTUAL Direito concebido mas pendente de concretização Ex.: Aceitação de proposta de compra e venda ou exercício de Direito de Preferência DIREITO CONDICIONAL Precisa de evento futuro e incerto 24 Modificação de direitos Os direitos subjetivos nem sempre conservam as características iniciais e permanecem inalterados durante sua existência. Podem sofrer mutações quanto ao seu objeto, quanto à pessoa do sujeito e, às vezes, quanto a ambos os aspectos. 25 Modificação de direitos Subjetiva: diz respeito à pessoa do titular, permanecendo inalterada a relação jurídica primitiva. Inter vivos: cessão de crédito Causa mortis: transmite- se aos herdeiros 26 Objetiva: diz respeito ao objeto Qualitativa: o conteúdo do direito se converte em outra espécie, sem que aumentem ou diminuam as faculdades do sujeito. Ex: credor de dinheiro recebe objeto Quantitativa: objeto aumenta ou diminui no volume ou extensão, sem alterar a qualidade do direito. Ex: avulsão Extinção de direitos • Perda do direito: quando ele se destaca do titular e passa a subsistir com outro sujeito. Ex: compra e venda de imóvel • Extinção do direito: quando desaparece, não podendo ser exercido pelo sujeito atual, nem por outro qualquer. Ex: pagamento integral de dívida Subjetiva: quando o direito é personalíssimo e morre seu titular. Ex: o reconhecimento da paternidade pelo filho só pode ser exigido enquanto este filho estiver vivo Objetiva: perecimento do objeto sobre o qual recai o direito. Ex: propriedade de um cavalo que estava sendo negociado e morre Vínculo jurídico: perecimento da pretensão ou do próprio direito material. Ex: prescrição e decadência 27 Exemplos de Extinção de direitos • Perecimento do objeto (anel que cai em um rio profundo e é levado pela correnteza) ou perda de suas qualidades essenciais (campo de plantação invadido pelo mar). • Renúncia - quando o titular de um direito, dele se despoja, sem transferi-lo a quem quer que seja; ele abre mão de um direito que teria (ex: renúncia à herança). • abandono – intenção do titular de se desfazer da coisa não querendo ser mais seu dono. https://www.youtube.com/watch?v=zWKtOlm9oGU • Alienação – que é o ato de transferir o objeto de um patrimônio a outro, de forma onerosa ou gratuita. • Falecimento do titular, sendo direito personalíssimo, e por isso, intransferível. 28 PGE-RO - 2011 - Procurador do Estado • O recente terremoto ocorrido no Japão em 11 de março de 2011, sob o ponto de vista da teoria geral do direito, pode ser classificado como a) ato jurídico em sentido estrito b) ato jurídico em sentido amplo. c) negócio jurídico d) fato jurídico em sentido estrito e) fato ilícito em sentido estrito 29 • Carla Fontes, esposa de um rico industrial, adquire uma nova mesa para a sala de jantar de sua fazenda e resolve abandonar a mesa antiga no lixão da pequena cidade. Belmiro Mendes, morador de rua, encontra no lixo a referida mesa e se serve dela como seu abrigo para chuva. • a) Qual a natureza jurídica dos atos praticados por Carla e Belmiro? • b) Faça a distinção entre negócio jurídico e ato jurídico em sentido estrito. • c) O ato praticado por Belmiro possui expressa previsão legal? Em caso positivo identifique-o no ordenamento jurídico vigente. 30 Classificação dos Negócios Jurídicos 31 COMO PODEM SER CLASSIFICADOS ? • Qto ao número de declarantes • Qto as vantagens • Qto ao momento da produção de efeitos • Qto ao modo de existência • Qto as formalidades • Qto ao número de atos necessários 32 33 Quanto ao número de declarantes Unilaterais: aperfeiçoam-se com uma única manifestação de vontade. Receptícios: a declaração de vontade tem que se tornar conhecida do destinatário para produzir efeitos. Ex: resilição de contrato por denúncia Não receptícios: o conhecimento por parte de outras pessoas é irrelevante. Ex: testamento, confissão de dívida Bilaterais: precisam de duas manifestações de vontade, como acordo de vontades. Simples: uma das partes aufere vantagens e a outra fica com os ônus. Ex: doação Sinalagmáticos: há reciprocidade de direitos e obrigações. Ex: compra e venda ... 34 Quanto ao número de declarantes ... Plurilaterais: contratos que envolvem mais de duas partes, onde as deliberações ocorrem por decisões de maioria. Ex: sociedade com mais de 2 sócios e consórcios de bens móveis e imóveis. 35 Quanto às vantagens patrimoniais Gratuitos: só uma das partes aufere vantagens, sem que haja contraprestação. Ex: doação, comodato. Onerosos: ambas as partes auferem vantagens, que correspondem a uma contraprestação. Ex: compra e venda, locação Comutativos: prestações certas e determinadas. Partes anteveem vantagens e sacrifícios. Não há risco. Ex: contrato com a faculdade Aleatórios: caracterizam-se pela incerteza, para as 2 partes, sobre as vantagens e sacrifícios. A perda/lucro depende de um fato futuro e imprevisível. Há risco. Ex: seguradora ... 36 Quanto às vantagens patrimoniais ... Neutros: têm por finalidade a vinculação de um bem. Não são nem gratuitos, nem onerosos. Ex: cláusula de inalienabilidade e incomunicabilidade Bifrontes: contratos que podem ser onerosos ou gratuitos,segundo a vontade das partes. Ex: contrato de depósito, doação (pura ou com encargo). 37 Quanto ao momento da produção dos efeitos Inter vivos: destinam-se a produzir efeitos desde logo, estando as partes vivas. Ex: promessa de compra e venda, locação, casamento Mortis causa: destinam-se a produzir efeitos após a morte do agente. Ex: testamento Quanto ao modo de existência Principais: têm existência própria e não dependem da existência de outro negócio. Ex: compra e venda, locação Acessórios: sua existência é subordinada à do contrato principal. Ex: cláusula penal, fiança Derivados: têm por objeto direitos estabelecidos em outro contrato. Ex: sublocação 38 Quanto às formalidades a observar Solenes: devem obedecer à forma prescrita em lei. Ex: escritura pública, testamento, renúncia da herança Não solenes: negócios de forma livre. Ex: locação, comodato. 39 Quanto ao número de atos necessários Simples: constituem-se por ato único. Ex: doação de coisa móvel Complexos: resultam da fusão de vários atos sem eficácia independente. Ex: alienação de imóvel (compromisso de compra e venda -> outorga da escritura definitiva) Coligados: conexão mediante vínculo que une o conteúdo de 2 ou + contratos para a obtenção de um mesmo objetivo. Ex: exploração de posto de gasolina (locação bombas, comodato da lanchonete, fornecimento de combustível etc). 40 • César Menezes, nas festas de fim de ano, após ter sido salvo por Péricles de um afogamento, toma diversas deliberações importantes na sua vida, com o desejo de mudar o rumo de tudo que vinha vivendo, sendo elas: • • doação de uma casa a Péricles, em contemplação ao fato de ter sido salvo; • elaboração de um testamento, dispondo sobre sua parte disponível, em benefício de um de seus melhores amigos que sofrera um grave acidente, que o deixou inválido; • reconhecer o filho que teve de uma relação extraconjugal com Camila; • celebrar um contrato de locação com Matheus de um imóvel bem confortável para a moradia de Camila e seu filho Breno; • estabelecer um contrato de sociedade com Michel e Edmar para exploração de produtos alimentícios. • a) Como você classificaria cada um dos negócios realizados por César, atentando para os seguintes critérios: • as partes (unilaterais e bilaterais); • integração (simples e complexos); • conteúdo (gratuitos e onerosos); • momento da produção de efeitos (causa mortis e inter vivos); • a forma (solene e não solene); • a causa (causais ou abstratos). 41 Interpretação Interpretar o negócio jurídico é precisar o sentido e alcance do conteúdo da declaração de vontade. Busca-se a vontade objetiva, concreta das partes. Declaração + vontade = interpretação Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem. Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa- fé e os usos do lugar de sua celebração. Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente. (porque representam renúncia de direitos) • Outros artigos do C.C.: art. 423 (contrato de adesão - interpretação mais favorável ao aderente); art. 843 (fiança não admite interpretação extensiva) 42 Regras práticas de interpretação • Verificar o modo que os contratantes vinham executando o contrato, de comum acordo; • Na dúvida, interpretar da maneira menos onerosa para o devedor; • Cláusulas contratuais devem ser interpretadas em conjunto com as demais; • Obscuridade é imputada a quem redigiu a estipulação, pois poderia ter sido claro e não o foi – interpretação a favor de quem se obriga; • Cláusulas ambíguas interpreta-se naquilo que pode ser exequível (princípio do aproveitamento). 43 TRT 9ª 2013 - FCC - Analista Judiciário - Área Judiciária 44 Em relação à interpretação do negócio jurídico, é correto afirmar que: a) quaisquer negócios jurídicos onerosos interpretam-se estritamente. b) na vontade declarada atender-se-á mais à intenção das partes do que à literalidade da linguagem. c) a renúncia interpreta-se ampliativamente. d) o silêncio da parte importa sempre anuência ao que foi requerido pela outra parte. e) como regra geral, não subsiste a manifestação da vontade se o seu autor houver feito a reserva mental de não querer o que manifestou. Resposta Certa B 45 Elementos do Negócio Jurídico 47 • https://www.youtube.com/watch?v=f56OqYi5 r6Y Elementos essenciais • são os elementos estruturais, indispensáveis à existência do ato e que lhe formam a substância. • Ex: a declaração de vontade Elementos naturais • são as consequências ou efeitos que decorrem da própria natureza do negócio, sem necessidade de expressa menção. • Ex: transmissão do domínio do bem; o lugar do pagamento, se não convencionado Elementos acidentais • são estipulações acessórias, que as partes podem facultativamente adicionar ao negócio, para modificar alguma de suas consequências naturais. • Ex: condição, termo e encargo 48 • O casamento celebrado por autoridade incompetente ratione materiae, como um delegado de polícia, por exemplo, é considerado inexistente. Por essa razão, não se indaga se é nulo ou ineficaz, nem se exige a desconstituição judicial, por se tratar de um nada jurídico. • O plano da existência é dos elementos, posto que elemento é tudo o que integra a essência de alguma coisa. • O ato existente deve passar por uma triagem quanto à sua regularidade, para ingressar no plano da validade, quando então se verificará se está perfeito ou se encontra eivado de algum vício ou defeito inviabilizante 49 Existência – Validade – Eficácia Existência - Agente - Objeto - Forma - Declaração de vontade Validade - Agente capaz - Objeto lícito, possível, determinado ou determinável - Forma prescrita ou não defesa em lei - Declaração de vontade livre e sem vícios Eficácia - Efeitos naturais (vícios redibitórios e evicção) - Efeitos acidentais (termo, condição e encargo) 50Elementos essenciais Elementos naturais e acidentais • Pode, o negócio jurídico existir, ser válido, mas não ter eficácia, por não ter ocorrido ainda, por exemplo, o implemento de uma condição imposta. O plano da eficácia é onde os fatos jurídicos produzem os seus efeitos, pressupondo a passagem pelo plano da existência, não, todavia, essencialmente, pelo plano da validade 51 Requisitos da Existência • Declaração de vontade • Finalidade negocial • Idoneidade do objeto Faltando qualquer deles, o negócio inexiste. 52 DECLARAÇÃO DE VONTADE • https://www.youtube.com/watch?v=OaItgwVz 8pc 53 Declaração de vontade • Vontade é pressuposto básico do NJ • Precisa se exteriorizar • Requisito do NJ -> declaração de vontade • A declaração de vontade é o instrumento da manifestação de vontade • Princípio da autonomia da vontade -> liberdade de (em conformidade com a lei) celebrar NJ 54 Manifestação de vontade Expressa •realiza-se por meio da palavra, falada ou escrita, gestos, sinais, mímica, de modo explícito. Possibilita o conhecimento imediato da vontade do agente. •Ex: contrato Tácita •revela-se pelo comportamento do agente. Deduz-se a intenção do agente pela sua conduta. •Ex: aceitação tácita de herança por atos próprios de herdeiro (art. 1805); da aquisição de propriedade móvel pela ocupação (art. 1.263) Presumida •declaração não realizada expressamente mas que a lei deduz de certos comportamentos do agente como indicaçãode vontade. • Ex: art. 324 (entrega do título ao devedor presume-se o pagamento) 55 • Difere a manifestação tácita da vontade da presumida porque esta é estabelecida pela lei, enquanto aquela é deduzida do comportamento do agente pelo destinatário. As presunções legais são juris tantum, ou seja, admitem prova em contrário. 56 Declaração de vontade Declaração receptícia • dirigem-se a uma outra pessoa, que precisa ter ciência do ato para que se produzam os efeitos. Ex: proposta de contrato Declaração não receptícia • efetivam-se com a manifestação de vontade, não se dirigindo a destinatário especial. Ex: promessa de recompensa 57 SILÊNCIO COMO MANIFESTAÇÃO DE VONTADE • Em regra não se aplica ao direito o provérbio “quem cala consente”. Normalmente, o silêncio nada significa, por constituir total ausência de manifestação de vontade e, como tal, não produzir efeitos. Todavia, excepcionalmente, em determinadas circunstâncias, pode ter um significado relevante e produzir efeitos jurídicos. 58 Silêncio como manifestação de vontade O silêncio pode ser interpretado como manifestação de vontade quando a lei conferir a ele tal efeito, ou ser interpretado como consentimento quando ficar convencionado em pré-contrato ou resultar de usos ou costumes. 59 Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa. Ex: O doador pode fixar prazo ao donatário, para declarar se aceita ou não a liberalidade. Desde que o donatário, ciente do prazo, não faça, dentro dele, a declaração, entender-se-á que aceitou, se a doação não for sujeita a encargo. (art. 539). Ex: locação, art. 46 §1º Ex: costume do local é que o pescador que ajude a puxar a rede ganhe alguns peixes pelo serviço; encomenda de bolo na padaria. Ex: partes fizeram contrato por prazo determinado que tem uma cláusula que diz que, findo o contrato, no silêncio das partes, passa a ser contrato por prazo indeterminado. Ex: No contrato, as partes lançam que se a mercadoria for entregue e não for recusada no prazo de 5 dias, considera-se aceita. Reserva mental • Quando um dos declarantes oculta a sua verdadeira intenção (aquilo que passa na mente dele), quando não quer um efeito jurídico que declara querer, com objetivo de enganar o outro. 60 Ex: aquele que manifesta sua vontade para emprestar dinheiro a amigo que diz que vai se suicidar por causa de problemas financeiros. A intenção não era fazer o contrato de mútuo, mas salvar o amigo. Ex: estrangeiro que, em situação ilegal no país, casa-se com uma mulher da terra a fim de não ser expulso pelo serviço de imigração. Efeitos da Reserva Mental • Reserva mental desconhecida da outra parte é irrelevante para o direito. A vontade declarada produzirá normalmente seus efeitos; considera-se o que foi declarado. • Se a reserva mental é conhecida pela outra parte, configura hipótese de ausência de vontade, portanto, inexistência do NJ. 61 Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento. Finalidade negocial • A existência do NJ depende da manifestação de vontade com finalidade negocial, ou seja, com o propósito de adquirir, modificar ou extinguir direitos. 62 Idoneidade do objeto • Idôneo = conveniente, próprio para alguma coisa, adequado. • Se a intenção das parte é celebrar contrato de mútuo, o objeto deve ser coisa fungível (substituível). • Se a intenção é celebrar comodato, o objeto deve ser coisa infungível (insubstituível). 63 Requisitos de validade Requisitos de caráter geral: 64 Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III - forma prescrita ou não defesa em lei. *Requisitos de caráter específico são pertinentes a cada tipo de negócio jurídico. Agente capaz • Capacidade de fato ou de exercício de direitos; aptidão para exercer direitos e contrair obrigações na ordem civil. Adquire-se com a maioridade ou emancipação (arts. 3º e 5º). • Incapacidade -> restrição legal ao exercício da vida civil. • Incapacidade absoluta -> proibição total do exercício de direitos por si só, tem representante/tutor – sob pena de nulidade. • Incapacidade relativa -> deve ser acompanhado e assistido por seu curador, participam do NJ os dois – sob pena de anulabilidade. • Pessoa Jurídica -> participa do NJ por meio de seu representante 65 Art. 105. A incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela outra em benefício próprio, nem aproveita aos co-interessados capazes, salvo se, neste caso, for indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum. 66 Agente capaz Agente capaz Agente relativamente incapaz *O NJ será anulável naquilo que aproveita apenas ao relativamente incapaz, exceto se indivisível o objeto. NJ Objeto lícito • Objeto lícito -> conforme a lei, a moral e os bons costumes 67 Objeto jurídico/imediato -> conduta humana, obrigação de dar, fazer, não fazer Objeto material/mediato -> bens ou prestações em si Objeto imoral: casas de tolerância Objeto possível Impossibilidade física: emana de leis físicas ou naturais 68 • Absoluta: alcança a todos indistintamente. Ex: colocar toda a água do oceano em um copo d´água; venda de terreno na lua, venda de praça. • Relativa: atinge o devedor mas não outras pessoas, não constitui obstáculo ao NJ. • Ex: contratação de um pintor para pintar a casa em um dia, pode ser impossível para ele, mas não é para todos; produção futura de uma empresa; venda de apartamento na planta Art. 106. A impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado. Objeto possível Impossibilidade jurídica: ordenamento jurídico proíbe. Ex: não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva (art. 426); venda de bem gravado com cláusula de inalienabilidade. 69 Objeto determinado ou determinável • Determinado: objeto individualizado no seu gênero, quantidade e qualidade. Gera obrigação de dar coisa certa. • Indeterminado: objeto individualizado no seu gênero e quantidade, mas não em sua qualidade. Gera obrigação de dar coisa incerta. • Objeto pode nascer determinável mas tem que morrer determinado. Regra geral, a escolha da qualidade é feita pelo devedor (aquele que deve a coisa) 70 Forma prescrita ou não defesa em lei • Regra geral, a forma é livre: contrato escrito, público ou particular, verbal • Há casos em que a lei exige forma escrita (pública ou particular) para dar segurança e seriedade ao NJ. 71 Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir. Forma livre • qualquer meio de manifestação da vontade (palavra escrita ou falada, escrito público ou particular, gestos, mímica etc). Ex: venda de bem móvel, recibos. Forma especial/solene • exigida pela lei como requisito de validade. Observância de determinada solenidade para assegurar autenticidade do NJ, livre manifestação da vontade, seriedade do ato e facilitar a prova. Forma contratual: • convencionada pelas partes. 72 Art. 109. No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento público, este é da substância do ato. 73 Art. 109. No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento público, esteé da substância do ato. Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País. Forma especial/solene Forma contratual Existência – Validade – Eficácia Existência - Agente (2 agentes, doação p/ cachorro) - Objeto (idoneidade) - Forma - Manifestação de vontade (noiva que não se manifesta, reserva mental conhecida pela outra parte, contrato não assinado) Validade - Agente capaz - Objeto lícito, possível, determinado ou determinável - Forma prescrita ou não defesa em lei - Manifestação de vontade livre e sem vícios Eficácia - Efeitos naturais (vícios redibitórios e evicção) - Efeitos acidentais (termo, condição e encargo) 74 Elementos essenciais Elementos naturais e acidentais Aplicada em: 2008 Banca: CESPE Órgão: OAB-SP Prova: Exame de Ordem Segundo a doutrina, são pressupostos de validade do negócio jurídico: • a manifestação de vontade; agente emissor de vontade; objeto; forma. • B agente emissor de vontade capaz e legitimado para o negócio; objeto lícito, possível e determinado, ou determinável; forma. • C manifestação de vontade livre; agente emissor de vontade capaz e legitimado para o negócio; objeto lícito, possível e determinado, ou determinável; forma legalmente prescrita ou não defesa em lei. • d manifestação de vontade de boa-fé; agente legitimado para o negócio; objeto lícito, possível e determinado, ou juridicamente determinável. 75 RESPOSTA CERTA • C 76 • https://www.onlinequizcreator.com/pt/negoci o-juridico-i-lu/quiz-304392 Ou • goo.gl/srByQq 77 Plano da Eficácia Eficácia: está gerando efeitos. Elementos acidentais: São os que se acrescentam à figura típica do ato para mudar-lhe os respectivos efeitos. São cláusulas que, feitas por declaração unilateral ou pela vontade das partes, acarretam modificações em sua eficácia ou em sua abrangência. • Condição • Termo • Encargo 78 • https://www.youtube.com/watch?v=S80h0Vs Cgow 79 Condição • É o acontecimento futuro e incerto do que de depende a eficácia do NJ. • Insere-se nas disposições escritas do NJ. • Deriva exclusivamente da vontade das partes -> exclui-se as condições impostas pela lei. • NJs unilaterais (como o testamento) admitem disposições condicionais. 80 Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto. Elementos da Condição Voluntariedade • Cláusula deve ser voluntária. • As partes devem querer e determinar o evento. • Não há condição se a eficácia do NJ for subordinada por determinação de lei e se a eficácia decorre da própria natureza do NJ, como a morte no testamento (é intrínseca). • A condição altera a estrutura do NJ. Futuridade • A condição se relaciona com evento no futuro. • Se for fato passado ou presente, não é condição. Evento Incerto • Evento deve ser incerto, podendo ocorrer ou não. • Incerteza deve ser objetiva – ser incerto para todos e não apenas para o declarante. 81 Condição voluntária e Condição legal Condição voluntária • É estabelecida pelas partes. • Traduz um elemento voluntário do NJ e depende de combinação das partes. Condição legal • É estabelecida por lei. • É pressuposto do NJ, é inerente ao ato. • É elemento componente do ato e que a lei exige. • Ex: Adquiro um prédio se o proprietário se comprometer a lavrar a escritura pública. Só abre testamento se o testador morrer. Necessidade de casamento para eficácia do pacto antenupcial. Só tem CNH se tiver 18 anos. 82 Não se admite condição Atos que não admitem condição denominam-se atos puros: a) NJs que, por sua função, inadmitem incerteza. b) Atos jurídicos em sentido estrito. c) Atos jurídicos de família, onde não há princípio da autonomia privada, pelo fundamento ético social existente. d) Atos referentes ao exercício dos direitos personalíssimos. • Exemplos: aceitação e renúncia de herança, os títulos de crédito, fixação de domicílio, reconhecimento voluntário de paternidade, procuração, exercício de poder familiar, casamento, adoção, direito à vida, integridade física, honra, dignidade pessoal, segurança etc. 83 Condições quanto à licitude Lícitas • condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes. Ilícitas • as que atentarem contra proibição do ordenamento jurídico, a moral ou os bons costumes. Ex: cláusula que obriga alguém a roubar, a matar etc. 84 Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes. • É ilícita, por exemplo, a cláusula que obriga alguém a mudar de religião, por contrariar a liberdade de credo assegurada na Constituição Federal, bem como a de alguém se entregar à prostituição. Em geral, as cláusulas que afetam a liberdade das pessoas só são consideradas ilícitas quando absolutas, como a que proíbe o casamento ou exige a conservação do estado de viuvez. Sendo relativas, como a de se casar ou de não se casar com determinada pessoa, não se reputam proibidas 85 Condição quanto ao modo de atuação Suspensiva: • impede que o ato produza efeitos até a realização do evento futuro e incerto. Não se adquire o direito até se verificar a condição suspensiva. O NJ passa a ter vida. Ex: dar-te-ei tal bem se lograres tal feito. 86 Art. 125. Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa. Comprarei seu quadro se ele for aceito numa exposição internacional ou doarei meu apto se você se casar. • A doa a B um objeto, sob condição suspensiva; mas, enquanto esta pende, vende o objeto a C; nula será a venda. • A doa a B o usufruto de um objeto, sob condição suspensiva; mas, enquanto esta pende, aliena a C a sua nua-propriedade do mesmo objeto; válida será a alienação porque não há incompatibilidade entre a nova disposição e a anterior 87 Art. 126. Se alguém dispuser de uma coisa sob condição suspensiva, e, pendente esta, fizer quanto àquela novas disposições, estas não terão valor, realizada a condição, se com ela for incompatíveis. Resolutiva: • extingue, resolve o direito transferido pelo negócio, ocorrido o evento futuro e incerto. O NJ deixa de ter vida. Ex: Dou-te renda mensal enquanto você estudar. Cedo-lhe esta casa para que nela resida, enquanto for solteiro. Compro-lhe esta fazenda, sob a condição do contrato se resolver se gear nos próximos três anos. 88 Condição quanto ao modo de atuação Art. 127. Se for resolutiva a condição, enquanto esta se não realizar, vigorará o negócio jurídico, podendo exercer-se desde a conclusão deste o direito por ele estabelecido. • Ex.: Se alguem promete um apartamento a outrem, para quando se casar, este poderá reformá-lo, se necessário, e rechaçar atos de esbulho e turbação. Pendente a condição, o devedor da obrigação condicional poderá praticar os atos normais de gestão e até perceber os frutos da coisa, porém todos os riscos correrão por sua conta 89 Art. 130. A Condição suspensiva ou resolutiva não obsta o exercício dos atos praticados a conservar o direito a ela subordinado. Condições quanto à possibilidade Condições fisicamente impossíveis• não podem ser cumpridas pelas leis da física ou da natureza. Se a impossibilidade física é genérica e é resolutiva, a condição é dada por inexistente, como se não estivesse escrita, mas não compromete a eficácia do NJ - não há dúvida quanto ao interesse das partes, a realização ou manifestação de vontade. • Ex: Dar-lhe-ei R$100,00 se tocar o céu com o dedo. Doo a você essa casa, desde já, mas se alguém conseguir dar a volta ao mundo a pé em dois dias, a doação será extinta. Condições juridicamente impossíveis • esbarra em proibição expressa no ordenamento jurídico ou fere a moral ou os bons costumes. • Não podem receber proteção jurídica. • Ex: adotar pessoa da mesma idade, realizar NJ que tenha por objeto herança de pessoa viva; emancipar aos 12 anos, casar em comunhão de bens aos 70 anos etc. Condições de não fazer coisa impossível • nem são consideradas como condição porque não são passíveis de atingir o NJ. • Não prejudicam o NJ. • Ex: Dar-lhe-ei tal objeto, se abstiveres de viajar numa máquina do tempo. 90 91 Art. 123. Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados: I - as condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas; II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita; III - as condições incompreensíveis ou contraditórias. Art. 124. Têm-se por inexistentes as condições impossíveis, quando resolutivas, e as de não fazer coisa impossível. Quando a condição é suspensiva, a eficácia do NJ se subordina a ela. Se o evento é impossível, o NJ jamais atingirá sua eficácia. Consideram não escritas, são inexistentes e o NJ permanece produzindo efeitos. • Potestativas são as que decorrem da vontade ou do poder de uma das partes. • Segundo Silvio Rodrigues, “diz-se potestativa a condição quando a realização do fato, de que depende a relação jurídica, subordina-se à vontade de uma das partes, que pode provocar ou impedir sua ocorrência” 92 Condição quanto à fonte de onde promanam: 93 Casual: dependem do acaso, do fortuito, de fato alheio à vontade das partes ou que subordina a obrigação de um acontecimento que depende da vontade exclusiva de um terceiro. Ex: Dar-te-ei R$100,00 se chover amanhã. Potestativa: decorrem da vontade ou do poder de uma das partes, que pode provocar ou impedir sua ocorrência. Puramente potestativa: sujeitam todo o efeito do ato ao puro arbítrio de uma das partes, sem a influência de qualquer fator externo. Se me aprouver, mero capricho. São consideradas ilícitas pelo art. 122. Ex: pagarei pelo imóvel no dia em que eu puder; pagarei pelos serviços o preço que eu achar conveniente. Simplesmente ou meramente potestativa: dependem não só da manifestação de uma das partes como também de algum acontecimento exterior que escapa ao seu controle. Ex: Dar-te-ei este bem se fores a Roma (depende da vontade, tempo e dinheiro); Pedro será promovido se colar grau. Mista: condições que dependem simultaneamente da vontade de uma das partes e da vontade de um terceiro. Ex: Dar-te-ei tal quantia se casares com tal pessoa ou se fizer sociedade com fulano. Perplexas ou contraditórias: as que privarem de todo efeito o NJ. Condições que não fazem sentido e deixam o intérprete perplexo, confuso, sem compreender o propósito da condição. Resultam na invalidade. Ex: Vou alugar meu imóvel em SP para você morar assim que você for transferido para o Japão; vou lhe vender o veículo sob a condição de você não poder dirigi-lo. 94 Condição quanto à fonte de onde promanam: Retroatividade e Irretroatividade • Se a condição resolutiva ocorre em NJ de execução continuada ou periódica, a sua realização não tem eficácia quanto aos atos já praticados, desde que compatíveis com a natureza da condição pendente e conforme os ditames de boa-fé e salvo disposição contrária – ou seja, há irretroatividade. • Ex: A aluga para B seu apartamento até que ele seja vendido, devendo B pagar aluguéis mensalmente. Com a condição resolutiva, os efeitos ocorrem dali para frente, não se devolvem os valores pagos e B para de pagar o aluguel. 95 Art. 128. Sobrevindo a condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o direito a que ela se opõe; mas, se aposta a um negócio de execução continuada ou periódica, a sua realização, salvo disposição em contrário, não tem eficácia quanto aos atos já praticados, desde que compatíveis com a natureza da condição pendente e conforme aos ditames de boa-fé. Pendente: condição que ainda não se verificou ou não se frustrou. Existe um direito condicional ou expectativa, uma expectativa de direito. O art. 130 permite ao titular do direito eventual o exercício de atos destinados a conservá- lo (interrupção da prescrição, ação de reintegração de posse). Condição suspensiva: não se adquire o direito enquanto pendente a condição. Condição resolutiva: não se cessa o direito enquanto pendente a condição 96 Pendência, Implemento e Frustração • Como se expressa Polacco, citado por Washington de Barros Monteiro, das condições suspensivas depende que o negócio jurídico tenha vida, das resolutivas, que cesse de tê-la 97 Implemento: é a verificação da condição. Ocorrida a condição suspensiva, o direito é adquirido, na condição resolutiva, o direito cessa. Frustração: quando não realizada a condição. Se o evento não se realizou no período previsto ou é certo que não poderá se realizar. Condição suspensiva: ato não produzirá efeitos, não subsistindo mais os até então verificados. Cessa a expectativa de direito. Permanece não surtindo efeitos. Condição resolutiva: efeitos tornam-se definitivos. Ato deixa de ser condicionado e passa a ser simples. 98 Malícia quanto ao implemento da condição • Considera-se implementada a condição que for maliciosamente impedida pela parte a quem desfavorecer. Ex: O funcionário de uma agência de carros que vender 100 carros em um ano, ganhará um carro. Pedro vende os 100 carros mas seu chefe tira a NF do 100º carro só para janeiro, impedindo maliciosamente o implemento da condição. Reputar-se-á verificada a condição. • Considera-se não implementada a condição que ocorrer por interferência maliciosa daquele a quem favorece. Ex: um investidor compactuou com uma startup que se esta conseguisse 2 mil seguidores no youtube, teria um investimento. A startup maliciosamente contrata um robô para fazer inscrições falsas no youtube. Reputar-se-á não verificada a condição. 99 Art. 129. Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo implemento for maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, considerando-se, ao contrário, não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita o seu implemento. • https://www.youtube.com/watch?v=ZQoBfg0 EU40 100 Termo • Termo: é o dia ou momento em que começa ou se extingue a eficácia do NJ • Pode ser hora, dia, mês ou ano. • Termo convencional: cláusula contratual que subordina a eficácia do NJ a evento futuro e certo. 101 • Termo não suspende a aquisição do direito, pois é evento futuro mas certo. Ex: locação a partir de 01/2018. • O titular de direito a termo pode exercer sobre ele direitos para conservá-lo. • NJ que não admitem termo: aceitação ou renúncia de herança, emancipação, casamento, reconhecimento de filho, NJs que são de execução imediata. • NJ pode ter condição e termo. Ex: dou-lhe um consultório se você formar em medicina até os 25 anos. 102 Art. 131. O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito. Espécies de Termo • Termo convencional:deriva da vontade das partes. • Termo de direito: decorre da lei. Ex: a sentença que decreta a falência deve determinar o termo legal da falência. • Termo de graça: dilação de prazo concedida ao devedor para pagamento ou parcelamento. • Termo incerto: o evento é certo mas a data é incerta. Ex: morte não se sabe quando acontecerá. • Termo certo: determina a data no calendário ou o lapso de tempo. 103 Espécies de Termo • Termo inicial ou suspensivo: data em que se inicia o NJ, só pode ser exercido depois do termo. Ex: locação. • Termo final ou resolutivo: data em que se finda o NJ, só pode ser exercido até o termo. Ex: locação. • Termo essencial: efeito pretendido deve ocorrer em momento bem preciso, sob pena de, verificado depois, não ter mais valor. Ex: entrega de um vestido até a cerimônia, depois não tem mais utilidade. • Termo não essencial: não é fundamental para que o NJ surta efeitos, continuará tendo efeitos mesmo depois. Ex: tem que pagar aluguel até dia 05, se pagar dia 10 continua tendo efeito a locação. • Termo impossível: ex: dia 31/02. • Termo inicial impossível: demonstra a inexistência da vontade real de se obrigar e gera a nulidade do NJ. • Termo final impossível: demonstra que as partes não desejam que o NJ se resolva e o termo é considerado inexistente. 104 Prazo • Prazo: intervalo de tempo entre o termo inicial e o termo final ou entre a manifestação de vontade e a chegada do termo. • Prazo pode ser certo ou incerto. • Ex: João comprou um quadro e tem 5 dias para pagar. 105 Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento. § 1o Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até o seguinte dia útil. § 2o Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia. § 3o Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no imediato, se faltar exata correspondência. § 4o Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto. • Quando houver dúvida no prazo, presume-se em favor do herdeiro e do devedor. • Ex: testamento que deixa uma casa para o herdeiro Pedro, mas a casa fica em usufruto de João por um prazo certo. Testamento tem erro e ora diz 15 anos, ora 20 anos. Presume-se 15 anos pois favorece o herdeiro Pedro. • Ex: devedor renuncia ao prazo e antecipa o pagamento da dívida para se livrar de um índice de correção monetária, sem que o credor possa impedi- lo (exceto se for do teor do instrumento ou das circunstâncias, caso em que o prazo presume-se a favor do credor e precisa da anuência dele). 106 Art. 133. Nos testamentos, presume-se o prazo em favor do herdeiro, e, nos contratos, em proveito do devedor, salvo, quanto a esses, se do teor do instrumento, ou das circunstâncias, resultar que se estabeleceu a benefício do credor, ou de ambos os contratantes. • Devem ser cumpridos imediatamente. • Alguns NJs dependem de certo tempo, seja porque precisam ser praticados em lugar diverso, seja pela sua própria natureza. • Ex: contrato de construção de casa, não se pode exigir a entrega imediata da casa; Compra de uma safra; entrega de bens em outro local etc. 107 Art. 134. Os negócios jurídicos entre vivos, sem prazo, são exequíveis desde logo, salvo se a execução tiver de ser feita em lugar diverso ou depender de tempo. Encargo ou modo • É uma determinação que, imposta pelo autor de liberalidade, a esta adere, restringindo-a. • Cláusula acessória às liberalidades (NJ benéficos: doações, testamentos) pela qual se impõe uma obrigação ao beneficiário. • Admissível também em declarações unilaterais de vontade, como promessa de recompensa. • Não pode ser feita em NJ oneroso. • Busca dar relevância ou eficácia jurídica a motivos ou interesses particulares do autor da liberalidade. Constitui-se em obrigação de dar, fazer ou não fazer. • Ex: doação ao município com obrigação de construir hospital, doação com obrigação de dar contribuição anual aos pobres, testamento com obrigação de não demolir uma capela, de cuidar de um animal etc. 108 • Se o encargo for previsto em testamento, aberta a sucessão, o domínio e a posse dos bens transmitem-se aos herdeiros com a obrigação do encargo. Se o encargo não for cumprido, a liberalidade pode ser revogada. • Encargo é coercitivo e não impede a aquisição do direito ≠ condição suspensiva é facultativa e impede a aquisição do direito. • Em caso de dúvida, deve-se interpretar a cláusula como encargo, por ser mais favorável ao beneficiário. 109 Art. 136. O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito, salvo quando expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva. • O encargo difere da condição suspensiva porque esta impede a aquisição do direito, enquanto aquele não suspende a aquisição nem o exercício do direito. • A condição é suspensiva, mas não coercitiva. Ninguém pode ser obrigado a cumprir uma condição. O encargo é coercitivo e não suspensivo. 110 ENCARGO X CONDIÇÃO RESOLUTIVA • Difere, também, da condição resolutiva, porque não conduz, por si, à revogação do ato. • O instituidor do benefício poderá ou não propor a ação revocatória, cuja sentença, de natureza desconstitutiva, não terá efeito retroativo. • A condição resolutiva, no entanto, opera de pleno direito, resolvendo automaticamente o direito a que ela se opõe. O pronunciamento judicial terá caráter meramente declaratório. 111 • Encargo deve ser lícito e possível. • Se for fisicamente impossível ou ilícito, tem- se como inexistente. • Se o seu objeto for a razão determinante da liberalidade, o NJ será nulo. • Ex: doação de um imóvel para que donatário mantenha casa de prostituição é nulo. 112 Art. 137. Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se constituir o motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico. • Beneficiário não é obrigado a aceitar a liberalidade. • Se aceitar, deve cumprir o encargo. • Se não cumprir, o disponente poderá ajuizar ação para resolução da liberalidade ou ação de obrigação de fazer, não fazer ou dar. • Se o encargo for de interesse geral, o MP pode exigir sua execução, depois da morte do doador, se este não tiver feito. • Se o beneficiário morrer antes de cumprir o encargo, a liberalidade prevalece. 113 Exemplo: • se a doação de um imóvel é feita para que o donatário nele mantenha casa de prostituição (atividade ilícita), sendo esse o motivo determinante ou a finalidade específica da liberalidade, será invalidado todo o negócio jurídico. 114 Defeitos do NJ 115 • Declaração de vontade -> é elemento estrutural, requisito de existência do NJ. • Declaração de vontade deve ser livre e espontânea. • Vícios do consentimento: manifestação de vontade não corresponde com o íntimo e verdadeiro querer do agente: erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão. • Vícios sociais: intenção de prejudicar 3ºs, ferir a lei ou a boa-fé: fraude contra credores e simulação. 116 Erro 117 Erro ou Ignorância • Erro = ideia falsa da realidade. • Ignorância = completo desconhecimento da realidade. • Erro e Ignorância são tratados iguais pelo CC • O agente se engana sozinho • É levado a praticar ato ou realizar NJ que não celebraria ou que praticaria em circunstâncias diversas se estivesse devidamente esclarecido. • Quando induzido em erro pelo outro ou 3º, configura dolo. 118 • Não é qualquer espécie de erro que torna anulável o negócio jurídico. • Para tanto, segundo a doutrina tradicional, deve ser substancial, escusável e real. 119 Erro escusável• Erro escusável, justificável, desculpável, que poderia ser cometido por uma pessoa normal em face das circunstâncias do NJ. • O critério é a pessoa mediana. • É inescusável um erro por um técnico da área 120 Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio. Ex: Juiz pode considerar escusável a alegação de erro em um contrato de compra e venda em que a parte julgou ser doação se feita por uma pessoa rústica e analfabeta; e pode julgar inescusável, se feita por um advogado. • Enunciado n.º 12 da Jornada de Direito Civil: “Na sistemática do art. 138, é irrelevante ser ou não escusável o erro, porque o dispositivo adota o princípio da confiança”. Pode-se alegar erro independe do erro ser escusável ou não, pois baseia- se no princípio da confiança e na boa-fé objetiva dos contratos. Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ANULATÓRIA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. HIPOTESE DE ERRO SUBSTANCIAL QUANTO AO OBJETO. CARACTERIZAÇÃO. JULGAMENTO DE PROCEDÊNCIA MANTIDO. I. O erro é uma falsa representação positiva da realidade, ao passo que a ignorância é um estado de espírito negativo, traduzindo desconhecimento. Na prática não é simples traçar, contudo, uma diferenciação, de modo que se costuma tratá-los da mesma forma. O erro pode descaracterizar o negócio jurídico, pois é vício da vontade, causa de anulação. Na doutrina mais clássica costuma-se dizer que o erro, para anular o negócio jurídico (vício da vontade), deve ser substancial e escusável, ou seja, perdoável. Trata-se, contudo, de entendimento demasiadamente subjetivo, razão pela qual a doutrina moderna, com base no princípio da confiança, que protege a boa-fé das pessoas, e, considerando a dificuldade na análise da escusabilidade do erro, tem dispensado esse segundo requisito. Para justificar a anulação do negócio deve haver, ainda, um efetivo prejuízo da parte. (...) TJRS. Apelação Cível AC 70060643806 121 Erro real • Erro para invalidar o NJ deve ser real, efetivo, causador de prejuízo concreto para o interessado. 122 Ex: compra de carro ano 2005 achando ser ano 2009 que não teria sido comprado se soubesse o verdadeiro ano. Com a aquisição, sofreu prejuízo. Erro substancial • Erro substancial ou essencial = recai sobre circunstâncias e aspectos relevantes do NJ. • É a causa determinante, se fosse conhecido, não se celebraria o NJ. 123 Art. 139. O erro é substancial quando: I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais; II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico. Erro sobre a natureza do NJ • Error in negotio -> Erro sobre a categoria jurídica do NJ. • Uma das partes manifesta a sua vontade pretendendo e supondo celebrar determinado NJ quando, na verdade, realiza outro diferente. • Consenso sobre o conteúdo do NJ é somente aparente; Divergência quanto à espécie do NJ, no que cada um manifestou. 124 Ex: quer alugar e outro entende ser venda a prazo; empresta algo e outro entende que houve doação; alienante transfere bem como venda e outro entende como doação, etc. Erro sobre o objeto principal da declaração • Error in corpore -> erro sobre a identidade do objeto • Manifestação de vontade recai sobre objeto diferente daquele que o agente tinha em mente. 125 Ex: comprador que acredita estar comprando um terreno valorizado porque em rua importante quando na verdade está adquirindo terreno de baixo valor localizado em rua de mesmo nome mas em outro local; comprador que adquire um quadro supondo ser de um pintor famoso mas na verdade é de um aprendiz; locatário que acha estar alugando a casa da cidade e outra parte entende ser a casa do campo. Erro sobre alguma das qualidades essenciais do objeto principal • Error in substancia ou Error in qualitate • Motivo determinante do NJ é a suposição de que o objeto possui determinada qualidade que não possui. • O objeto é o mesmo, o erro é sobre a qualidade essencial do objeto, que fizeram com que o agente decidisse pelo NJ. 126 Ex: adquire candelabros achando ser de prata mas são de material inferior; adquire quadro por alto valor achando ser original, mas é cópia; adquire relógio dourado achando ser de ouro mas é apenas folheado. Erro quanto à identidade ou à qualidade da pessoa a quem se refere a declaração de vontade • Error in persona • Concerne aos NJs intuitu personae, i.é, em consideração à pessoa, personalíssimos. • Pode se referir tanto à identidade quanto às qualidades da pessoa, desde que tenha influído na declaração de vontade de modo relevante. • Tem especial importância no casamento, nas liberalidades e nos NJs onerosos personalíssimos e fundados em confiança (mandato, prestação de serviços e contrato de sociedade). 127 Ex: doação ou testamento a pessoa que o doador supõe, equivocadamente, ser seu filho natural ou a pessoa que supõe lhe salvou a vida; casamento com uma pessoa que vem a saber ser um traficante. Trata-se de erro acidental ou sanável: • o doador ou testador beneficia o seu sobrinho Antônio. Na realidade, não tem nenhum sobrinho com esse nome. Apura-se, porém, que tem um afilhado de nome Antônio, a quem sempre chamou de sobrinho. 128 Erro de direito • Error juris • Falso conhecimento, ignorância ou interpretação errônea da norma jurídica aplicável à situação concreta. • A declaração de vontade é feita pressupondo estar de acordo com a lei. • Erro incide sobre o motivo principal do NJ e não há a intenção de descumprir a lei. • A ignorância da lei não pode ser arguida como justificativa para o seu descumprimento, mas admite ser arguida se não houve esse propósito. • Não se levará em conta para suspender a eficácia legal para livrar-se de consequências de sua inobservância, mas se buscar evitar efeito do NJ formado por vontade viciada por erro de direito, poderá ser alegado. 129 Ex: pessoa contrata importação de 2 máquinas de bronzeamento artificial, mas é proibido o uso dessas máquinas, pode-se anular o contrato. Pessoa compra terreno pra fazer loteamento em área que não é permitido, pode-se anular o contrato. Erro substancial x Vício redibitório • O vício redibitório é erro objetivo sobre a coisa, que contém um defeito oculto. • Provado o defeito oculto, não facilmente perceptível, cabem as ações edilícias (redibitória e quanti minoris ou estimatória), respectivamente para rescindir o contrato ou pedir abatimento do preço, sendo decadencial e exíguo o prazo para a sua propositura (trinta dias, se se tratar de bem móvel, e um ano, se for imóvel). • O erro quanto às qualidades essenciais do objeto é subjetivo, pois reside na manifestação da vontade. Dá ensejo ao ajuizamento de ação anulatória, sendo de quatro anos o prazo decadencial. 130 Exemplos: • Se alguém adquire um relógio que funciona perfeitamente, mas não é de ouro, como o adquirente supunha (e somente por essa circunstância o adquiriu), trata-se de erro quanto à qualidade essencial do objeto. Se, no entanto, o relógio é mesmo de ouro mas não funciona em razão do defeito de uma peça interna, a hipótese é de vício redibitório. 131 Falso motivo • Motivo -> ideia, a razão subjetiva, interior - não precisam ser mencionados pelas partes • Falso motivo não vicia o NJ. • O falso motivo só vicia o NJ quando nele figurar expressamente, integrando-o como sua razão essencial ou determinante, quando passaa condição de elemento essencial do NJ. 132 Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão determinante. Ex: A compra uma impressora da marca X e no produto constava que o cartucho custava R$50,00; depois descobriu que o cartucho custava R$100,00. A vendeu seu terreno porque lá seria construída uma igreja e constou isso no NJ, depois A descobriu que seria construído o escritório da Igreja e não a sede. NJs podem ser anulados. Transmissão errônea da vontade • Transmissão errônea da vontade = há divergência entre o querido e o que foi transmitido erroneamente. • Declaração por meios interpostos = vontade é manifestada de forma não presencial por pessoa interposta (mensageiro) ou por meio de comunicação (mensagem, e-mail). • Deve ser procedente de mero acaso ou de algum equívoco. • Não incide no caso de o intermediário intencionalmente comunicar uma declaração diferente do que lhe foi passado, caso em que a parte que o escolheu fica responsável pelos prejuízos que causar à outra por negligência na escolha. Mensageiro também pode responder. 133 Art. 141. A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável nos mesmos casos em que o é a declaração direta. Ex: A estava fazendo empréstimo no caixa eletrônico e na hora de confirmar o sistema falhou e mudou de tela, sem querer, A clicou na contratação de seguro de vida. Erro acidental • Erro acidental = refere-se a circunstâncias de menor importância e que não acarretam efetivo prejuízo • Recai sobre qualidades secundárias do objeto ou pessoa e, mesmo se conhecido, o NJ seria celebrado. • Erro acidental não acarreta anulabilidade. • Ex: testador beneficia seu sobrinho Antônio. Antônio não é sobrinho, é afilhado que sempre chamou sobrinho. 134 Art. 142. O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada. Erro de cálculo • Erro na elaboração aritmética dos dados do objeto do NJ. • Não há vício na manifestação da vontade, mas uma distorção em sua transmissão, que pode ser corrigida. • Ex: soma errada do valor das parcelas de um contrato, valor unitário da mercadoria difere do valor total do contrato. • CC permite a retificação da declaração de vontade, quando as 2 partes têm conhecimento do exato valor do NJ. 135 Art. 143. O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade. Convalescimento do erro • A oferta nos termos da vontade real afasta o prejuízo da parte, deixando o erro de ser real e anulável. • Pelo princípio da conservação dos atos e NJs, sempre que houver um vício sanável, deve ser conservado o NJ. Não há nulidade sem prejuízo. 136 Art. 144. O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante. Dolo 137 Dolo • Dolo -> artifício ou expediente astucioso, por sugestões ou manobras maliciosas, levadas a efeito por uma parte a fim de conseguir da outra uma emissão de vontade que lhe traga proveito ou beneficie terceiro. • É provocado intencionalmente para iludir a vítima. • Dolo civil -> artifício para enganar alguém. • Pode levar o autor do dolo a indenizar os prejuízos que tiver causado à vítima. 138 Para que o dolo constitua vício do consentimento é necessário: • a) que haja intenção de induzir o declarante a realizar o negócio jurídico; • b) que os artifícios fraudulentos sejam graves; • c) sejam a causa determinante da declaração de vontade; • d) procedam do outro contratante, ou sejam deste conhecidos, se procedentes de terceiro 139 Dolo civil x criminal • dolo criminal é a intenção de praticar um ato que se sabe contrário à lei. No direito penal, diz-se doloso o crime quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo (CP, art. 18, I). • Dolo civil é todo artifício empregado para enganar alguém. 140 Erro x Dolo • Diferem, contudo, pelo fato de que, no erro, ela se engana sozinha, enquanto no dolo, o equívoco é provocado por outrem. • A rigor, portanto, o negócio seria anulável por erro e por dolo. • Todavia, como o erro é de natureza subjetiva e se torna difícil penetrar no íntimo do autor para descobrir o que se passou em sua mente no momento da declaração de vontade, as ações anulatórias costumam ser fundadas no dolo. 141 DOLO X SIMULAÇÃO • Na simulação a vítima é lesada sem participar do negócio simulado. As partes fingem ou simulam uma situação, visando fraudar a lei ou prejudicar terceiros. No caso do dolo, a vítima participa diretamente do negócio, mas somente a outra conhece a maquinação e age de má-fé. 142 Dolo principal • Dolo principal -> NJ é realizado somente porque houve induzimento malicioso de uma das partes, sem o qual o NJ não seria realizado. É a causa determinante do NJ. • Para haver dolo principal: deve haver a intenção de induzir o declarante a realizar o NJ; os artifícios fraudulentos sejam graves; sejam a causa determinante da declaração de vontade; procedam do outro contratante, ou sejam dele conhecido se vier de 3º; e haja um prejuízo para a vítima. 143 Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa. A comprou de B uma loja de roupas porque B lhe mostrou diversas planilhas de faturamento, mas A descobre que as planilhas eram falsas e o faturamento era muito abaixo. C comprou a casa de D porque D garantiu que a casa jamais havia sido alvo de roubo e a região era muito segura. A casa foi roubada e C descobre que a casa é alvo de roubos frequentes. Dolo acidental • Dolo acidental -> houve dolo mas o NJ seria realizado de toda forma, embora por outro modo. Diz respeito às condições do NJ. • Não vicia o NJ e só obriga à satisfação das perdas e danos. 144 Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo. A compra um imóvel que vale R$50.000,00 pagando R$100.000,00. Não invalida o contrato mas exige a reparação do prejuízo. Dolo negativo ou omissivo • Também chamado omissão dolosa ou reticência. • Omissão dolosa equipara-se à ação dolosa • Sem a omissão, o NJ não teria se realizado. 145 Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado. A vendeu um imóvel para B, omitindo que este estava embargado pelo IBAMA; Se A soubesse, não teria comprado o imóvel. C vendeu um carro para D, omitindo que este tinha sido comprado em leilão de carros batidos; Se D soubesse, não teria comprado o carro. Dolo de terceiro • Dolo de 3º só enseja a anulação do NJ se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento, pois adere tacitamente ao dolo, tornando-se cúmplice. • Se a parte a quem aproveite não sabia do dolo, não se anula o NJ, podendo reclamar perdas e danos do 3º. 146 Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou. A adquire de B um relógio e é convencido por C, na presença de B, de que o relógio é de ouro. • se a parte a quem aproveite (no exemplo supra, o vendedor) não soube do dolo de terceiro, não se anula o negócio. Maso lesado poderá reclamar perdas e danos do autor do dolo (CC, art. 148, segunda parte), pois este praticou um ato ilícito (art. 186). Se nenhuma das partes no negócio conhecia o dolo de terceiro, não há efeito 147 • nos atos unilaterais, porém, o dolo de terceiro afeta-lhe a validade em qualquer circunstância, como se vê, por exemplo, na aceitação e renúncia de herança, na validade das disposições testamentárias 148 Dolo do representante • Representante não é 3º pois age como se fosse o próprio representado. • Se o representante induz em erro a outra parte, este é anulável. • Quando atua no limite de seus poderes, considera-se o ato praticado pelo próprio representado. • Se o representante induz em erro a outra parte, constituindo-se o dolo por • ele exercido na causa do negócio, este será anulável. 149 Art. 149. O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos. A, representante legal de B, agiu com dolo ao vender um imóvel de B supervalorizando o imóvel em 30%. Se o dolo foi principal e o NJ foi anulado, o representado não tem responsabilidade, mas se o dolo foi acidental, o representado será responsável pelo proveito dos 30%. • O Código de 2002 inova ao estabelecer consequências diversas, conforme a espécie de representação: • o dolo do representante legal só obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; • o do representante convencional acarreta a responsabilidade solidária do representado. Respondendo civilmente, tem o representado, porém, ação regressiva contra o representante 150 Dolo bilateral • Se as duas partes agiram com dolo, ambas buscando obter vantagem em prejuízo da outra, nenhuma delas pode invocar o dolo para anular o NJ. • Pode-se inclusive compensar o dolo principal com o dolo acidental. 151 Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização. A e B resolveram permutar imóveis. A disse à B que seu imóvel tinha 400m² quando tinha 350m². B também disse à A que seu imóvel tinha 380m² quando tinha 340m². Dolo Bonus • Dolus bonus é o dolo tolerável, destituído de gravidade suficiente para viciar a manifestação de vontade. É comum no comércio em geral, onde é considerado normal, e até esperado, o fato de os comerciantes exagerarem as qualidades das mercadorias que estão vendendo. Não torna anulável o negócio jurídico, porque de certa maneira as pessoas já contam com ele. 152 É de se ponderar, todavia, que o Código de Defesa do Consumidor proíbe a propaganda enganosa, suscetível de induzir em erro o consumidor. Desse modo, o aludido diploma não “dá salvo-conduto para o exagero”, que só será tolerado se não for capaz de induzir o consumidor em erro Coação 153 Coação • Coação -> toda ameaça ou pressão injusta exercida sobre um indivíduo para força-lo, contra a sua vontade, a praticar ato ou NJ. • Emprego da violência psicológica para viciar a vontade. • Não há livre manifestação de vontade. 154 Coação absoluta ou física • Não há qualquer consentimento ou manifestação de vontade. • Vantagem é obtida mediante emprego de força física. • Nesse caso, o NJ é inexistente porque não há declaração de vontade. 155 A agarra à força o braço de B, analfabeto, e coloca a sua impressão digital no contrato. Coação relativa ou moral • Dá-se a opção à vítima de praticar o ato exigido pelo coator ou correr o risco de sofrer as consequências da ameaça feita por ele. • Coação é psicológica. • É anulável o NJ. 156 A aponta uma arma para B Coação principal e Coação acidental • Coação principal -. É a causa determinante do NJ. Causa de anulação do NJ. • Coação acidental -> influencia as condições do NJ, que se realizaria de toda forma. Obriga ao ressarcimento do prejuízo. 157 Coação deve: • Ser a causa determinante do ato • Ser grave • Ser injusta • Dizer respeito a dano atual ou iminente • Constituir ameaça de prejuízo à pessoa ou a bens da vítima ou a pessoa de sua família 158 Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens. Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação. Coação deve ser causa determinante do ato • NJ deve ter sido realizado somente porque houve grave ameaça ou violência, que provocou fundado receio na vítima de dano à sua pessoa, à sua família ou aos seus bens. • Sem a coação, o NJ não teria sido celebrado. • A parte que pretende a anulação deve provar o nexo de causa entre a violência e a anuência. 159 Coação deve ser grave • Deve ser de tal gravidade que de fato faça com que a vítima tenha um fundado temor de dano a bem que considera importante. Dano pode ser moral ou patrimonial. • Deve-se avaliar em cada caso as condições particulares ou pessoais da vítima. • É diferente para homem, mulher, jovem, idoso, são, doente etc. 160 Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela. • Não se considera coação o simples temor reverencial, é preciso ter as ameaças ou violência. • Termo reverencial pode ser um agravante da ameaça, mas não por si só. • Ex: simples receio de desgostar os pais ou superior hierárquico. 161 Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial. Coação deve ser injusta • Ato praticado pelo coator deve ser contra o direito ou em exercício anormal ou abusivo de um direito. • Não se considera coação a ameaça feita pelo credor de protestar ou executar título de crédito vencido e não pago, abertura de inquérito policial, intimidação da mulher de propor contra o homem ação de investigação de paternidade etc. • Considera-se coação a ameaça do credor de proceder à hipoteca contra sua devedora caso esta não se case com ele; alguém que surpreende outro a cometer crime e ameace denunciá-lo caso não realize NJ com ele; 162 Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial. Coação deve dizer respeito a dano atual ou iminente • Dano iminente -> dano atual e inevitável • A vítima não tem meios para se furtar ao dano 163 Coação deve constituir ameaça de prejuízo à pessoa ou a bens da vítima ou a pessoas de sua família • Intimidação à vítima pode ocorrer de várias formas: sofrimento físico, tortura, cárcere privado, ameaça de incêndio, depredação etc. • Intimidação deve ser em prejuízo da pessoa, seus bens ou pessoas de sua família • Parágrafo único do art. 151 diz que “se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação”. • Pode caracterizar a coação se a pessoa não está ligada por sangue mas se a coação tiver sido bastante para intimidá-lo. Juiz decidirá caso a caso. 164 Coação exigida por terceiro • Se a coação foi feita por 3º e a parte a quem aproveita tinha ou devia ter conhecimento, o NJ é anulável e respondem ambos por perdas e danos. São cúmplices. • Se a coação feita por 3º e a parte a quem aproveita não tinha conhecimento, o NJ é válido mas o autor responde por perdas e danos. 165 Art.154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos. Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto. Estado de Perigo 166 • Situação de extrema necessidade que conduz uma pessoa a celebrar NJ assumindo obrigação desproporcional e excessiva. • O perigo de grave dano deve ser conhecido pela outra parte. • Aproveita-se da situação de perigo para se fazer um NJ vantajoso e muito oneroso para a outra parte. • Existe má-fé 167 Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias. Exemplos 168 • Náufrago pelo seu salvamento; • Assaltado por bandidos e em lugar ermo para se salvar; • Doente no auge da doença para se tratar; • Mãe que precisa salvar filho; • Pai em caso de sequestro de filho; • Atendimento de urgência em hospital. Elementos do Estado de Perigo Situação de necessidade de se salvar ou a alguém de sua família: • agente deve pensar/ter a certeza de estar em perigo. Iminência de dano atual e grave: • deve ser capaz de transmitir o receio de que, se não for afastado o perigo, haverão as consequências temidas; dano pode ser físico e moral; gravidade e circunstâncias serão avaliadas no caso concreto. Nexo de causalidade entre a declaração e o perigo de grave dano: • o perigo de grave dano é a causa ou motivo determinante da declaração de vontade eivada de vício no NJ. Há uma limitadíssima liberdade de determinação. 169 Ameaça do dano sobre o declarante ou sua família: • importa o grau de afeição existente, capaz de desvirtuar a vontade. Sendo alguém fora da família, juiz decidirá conforme as circunstâncias. Conhecimento do perigo pela outra parte: • há aproveitamento da outra parte para obter vantagem, age de má-fé. Assume obrigação excessivamente onerosa: • condições significativamente onerosas, desproporcionais, há desequilíbrio, enorme sacrifício econômico. 170 Elementos do Estado de Perigo • NJ é anulável • Conhecimento da outra parte do perigo de grave dano denota má-fé, pois aproveita-se das circunstâncias. Outra parte só pode invocar teoria do enriquecimento sem causa, juiz analisará caso concreto. • Se for de boa-fé, deve-se conservar o NJ. Reduz-se o excesso na obrigação assumida e se torna contrapartida ao serviço prestado. • Enunciado 148 da III Jornada de Direito Civil: “Ao ‘estado de perigo’ (art. 156) aplica-se, por analogia, o disposto no §2º do art. 157”. Estando de boa ou má-fé. 171 Art. 157, § 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. Efeitos do Estado de Perigo Estado de perigo x coação: Estado de perigo: • não há o constrangimento do outro a praticar determinado ato ou celebrar NJ. • Condições do NJ devem ser abusivas ou injustas Coação: • há o constrangimento do outro a praticar determinado ato ou celebrar NJ. • Condições do NJ não precisam ser abusivas ou injustas 172 Lesão 173 • É o prejuízo que resulta da enorme desproporção entre as prestações de um contrato, no momento de sua celebração, determinada pela premente necessidade ou inexperiência de um dos contratantes. 174 Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. § 1o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico. § 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. 175 Independe de má-fé Afeta o princípio da igualdade na prestação e contraprestação Busca ajustar o contrato aos seus devidos termos. Acarreta em grande desequilíbrio Desequilíbrio ocorre no momento da celebração contratual Grande desproporção entre as prestações ou obrigações assumidas pelas partes Prejuízo patrimonial excessivo Há estado de inferioridade/desigualdade entre as partes Inexperiência ou necessidade patrimonial Elementos da Lesão • Elemento objetivo: manifesta desproporção entre as prestações das partes, gerando um lucro exagerado para uma delas. Juiz verificará no caso concreto se houve a desproporção, conforme §1º, “segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o NJ”. • Elemento subjetivo: inexperiência ou premente necessidade para aquele contrato. Necessidade é patrimonial, necessidade econômica de realizar o NJ (iminência da decretação de falência, protesto de um título de crédito etc.). Inexperiência é contratual ou técnica, é a falta de conhecimentos técnicos ou habilidades quanto aquele NJ (cláusulas técnicas ou inexperiência de vida). 176 Exemplos 177 • A paga preço exorbitante pelo fornecimento de água em tempos de seca • A vende para B um imóvel que vale 200 mil por 50 mil pois precisa pagar pensão alimentícia sob pena de ser preso. • A vende para B todas as suas joias que valiam 50 mil por 10 mil para pagar o aluguel pois precisa pagar o aluguel sob pena de ser despejado. B pode oferecer para pagar os outros 40 mil e não anular o NJ. • A, aos 70 anos, fica viúva, sendo que seu marido sempre cuidou dos negócios da família. A, por inexperiência, compra de B um imóvel que vale 100 mil por 500 mil reais. B pode oferecer para reduzir o seu proveito e devolver os 400 mil. • A, médico, realiza um negócio desproporcional com banco onde não estava apto a compreender as cláusulas econômicas. Efeitos da Lesão • É anulável o NJ. • Art. 157, § 2o “Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito”. • Pode anular ou rever o NJ. • A parte que obteve vantagem também pode pedir a revisão do NJ. • Deve ser feito o suplemento (complemento) suficiente para acabar com o desequilíbrio ou reduzir o proveito que teve a parte que obteve vantagem. • Lesão ocorre em contrato bilateral e oneroso. 178 Estado de perigo x Lesão Estado de perigo: • Há a necessidade de se salvar • Contratante opta por dois males • Inexperiência não é requisito • Outra parte precisa saber do estado de perigo • Prestação pode ser assumida por uma só parte, pode ser NJ unilateral em promessa de recompensa, obrigação de testar a favor de alguém, etc.. Lesão: • Não há necessidade de se salvar • Contratante participa de negócio desvantajoso por necessidade econômica • Pode ocorrer por inexperiência • Outra parte não precisa saber da inexperiência ou necessidade • Desequilíbrio das prestações, NJs bilaterais e onerosos. 179 Fraude contra credores 180 • É um vício social • A declaração de vontade do agente corresponde ao seu desejo íntimo, mas é exteriorizada com intenção de prejudicar terceiros: os credores. • Credor: aquele que tem um crédito a receber • Devedor: aquele que está devendo • Quem tem interesse em fazer fraude contra credores é o devedor, com objetivo de não pagaro credor. 181 • Princípio da responsabilidade patrimonial: o patrimônio do devedor responde por suas obrigações, é a garantia geral dos credores • Devedor solvente: seu patrimônio basta, com sobra, para o pagamento de suas dívidas. Pode dispor de seus bens. • Devedor insolvente: devedor que não pode mais garantir o pagamento de todas as dívidas, que tem um passivo superior ao ativo, possui mais dívidas do que renda ou patrimônio. • Quando devedor desfalca seu patrimônio, passando o passivo a ser maior que o ativo, ele está dispondo de valores que não mais lhe pertencem, pois esses valores estão vinculados ao resgate de seus débitos. Os credores podem, então, desfazer ao atos fraudulentos do devedor insolvente. 182 Fraude contra credores é: 183 “todo ato suscetível de diminuir ou onerar seu patrimônio, reduzindo ou eliminado da garantia que este representa para pagamento de suas dívidas, praticado por devedor insolvente, ou por ele reduzido à insolvência”. Carlos Roberto Gonçalves “todo ato de disposição e oneração de bens, créditos e direitos, a título gratuito ou oneroso, praticado por devedor insolvente, ou por ele tornado insolvente, que acarrete redução de seu patrimônio, em prejuízo de credor preexistente” Marcos Bernardes de Mello NJ é anulável. • Ao tratar do problema da fraude, o legislador teve de optar entre proteger o interesse dos credores ou o do adquirente de boa-fé. Preferiu proteger o interesse deste. Se ignorava a insolvência do alienante, nem tinha motivos para conhecê-la, conservará o bem, não se anulando o negócio. Desse modo, o credor somente logrará invalidar a alienação se provar a má-fé do terceiro adquirente, isto é, a ciência deste da situação de insolvência do alienante. 184 Elementos constitutivos Elemento objetivo -> eventus damni: •O prejuízo do credor decorrente da insolvência do devedor. •Os atos de alienação dos bens causam a insolvência do devedor e frustram o recebimento do crédito. Elemento subjetivo -> consilium fraudis ou conluio fraudulento •Há má-fé do devedor, com consciência de prejudicar 3ºs, e má-fé do adquirente, quem tem ciência (ou deveria ter) da insolvência do devedor. •Adquirente deveria ter ciência porque é alguém muito próximo, p. ex., mãe, filho, sócio, amigo etc. •Em algumas situações, a má-fé se presume. Ex: doação para filho de 3 anos. •Prova pode ser ministrada por todos os meios, admite-se indícios e conjecturas. 185 • Os casos mais comuns de presunção de má-fé do adquirente, por haver motivo para conhecer a má situação financeira do alienante, são os de aquisição do bem por preço vil ou de parentesco próximo entre as partes. 186 Atos de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida • Transmissão gratuita de bens: doações, renúncia de herança, renúncia de usufruto, promessa de doação etc. • Remissão ou perdão de dívida: crédito que o devedor deixa de receber e que também reduz o seu patrimônio. • Credor quirografário: crédito decorre de título ou documento escrito, não possui um direito real de garantia, sua única garantia é o patrimônio geral do devedor. Ex: cheque, nota promissória, contrato. • Nesse caso, a lei presume a má-fé e a intenção de fraudar e credor não precisa provar conluio fraudulento. • Direito dos credores x direito dos donatários = direito dos credores. 187 Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos. § 1o Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente. § 2o Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles. Exemplos do art. 158 • Pedro prestou um serviço para João, que lhe pagou com um cheque de R$100.000,00 para 30 dias. Passados os 30 dias, o cheque foi depositado e devolvido sem fundos. João (devedor), após emitir o cheque, buscando não ter que pagar o débito com Pedro (credor), doou seu único bem imóvel, um terreno, para seu filho menor, passando a ser devedor insolvente e consumando um ato fraudulento. • João devia R$100.00,00 para Pedro, mas João tinha um crédito de R$130.000,00 de Maria. João perdoa a dívida de Maria para não pagar Pedro. O perdão da dívida constitui ato fraudulento. 188 • Má-fé e intenção de fraudar se presumem se houver notoriedade da insolvência (existência de títulos de crédito protestados, várias execuções, várias demandas judicias etc.) ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante (pai, filho, irmão, sócio, amigo , valor muito abaixo do mercado etc.). • Presume-se a fraudulência pela continuação dos bens alienados na posse do devedor quando deviam passar para o 3º, pelo parentesco ou afinidade entre devedor e 3º, pelo preço vil, pela alienação de todos os bens etc. • Interesse dos credores x interesse do adquirente de boa-fé = adquirente de boa-fé. • Se adquirente de boa-fé ignorava a insolvência do alienante, nem tinha motivos para conhecê-la, o bem se conserva e não se anula o NJ. • Credor precisa provar que o adquirente sabia da insolvência do devedor. 189 Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante. Atos de transmissão onerosa Exemplos art. 159 • João devia R$100.000,00 para Pedro. Para não pagar Pedro, João vendeu seu único imóvel que valia R$100.000,00 para sua irmã Maria, pela metade do valor do mercado. Maria deveria saber da insolvência de João, por ser sua irmã e pelo valor da venda, então, comprovada a má-fé de Maria, o NJ será anulado. • Se João vendeu o imóvel pelos classificados, pelo valor de mercado e para uma pessoa desconhecida, o adquirente estava de boa-fé e não sabia da insolvência de João, e o NJ será conservado. 190 Pagamento antecipado de dívida • Todos os credores quirografários estão em situação de igualdade, devem ter as mesmas oportunidades. • Se devedor salda débitos vincendos (a vencer), presume-se intuito fraudulento, pois está favorecendo um credor. • Credor fica obrigado a devolver o que recebeu, instaurado o concurso de credores. 191 Art. 162. O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o pagamento da dívida ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu. Exemplo art. 162 • João tinha várias dívidas vencidas e uma dívida que vencia em 30 dias com Pedro. João paga a dívida vincenda antecipadamente, sem pagar as demais. Consuma-se o ato fraudulento e Pedro deve devolver o que foi pago. 192 Concessão fraudulenta de garantias • Todos os credores quirografários estão em situação de igualdade, devem ter as mesmas oportunidades. • Garantias reais -> garantia do cumprimento da obrigação por meio de um bem móvel (penhor) ou imóvel (hipoteca) ou anticrese (frutos do bem imóvel compensam a dívida). • Se devedor dá garantia a um credor, os demais ficam prejudicados. • Presume-se a fraude, sem que precise provar o conluio fraudulento, a má-fé do devedor. • Anula-se a garantia e credor volta a ser quirografário. • Art. 165, Parágrafo único. Se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos preferenciais, mediante hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade importará somente na anulação da preferência ajustada. 193 Art. 163. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor. Exemplo do art. 163 • João devia R$100.000,00 paraPedro. João grava o imóvel com uma hipoteca em favor de Maria, sua irmã. Configura o ato fraudulento, pois favoreceu Maria em detrimento de Pedro. A garantia preferencial (hipoteca) será anulada. 194 Ação Pauliana ou revocatória • Ação anulatória do NJ celebrado em fraude contra credores, que impugnam os atos fraudulentos. • Sentença tem natureza desconstitutiva do NJ. • Anula-se o NJ por fraude contra credores e o bem retorna ao patrimônio do devedor. 195 Legitimidade para ajuizar ação pauliana Legitimidade ativa (autor): • credores quirografários: não possuem garantia especial do recebimento de seu crédito. • Credores cuja garantia se tornar insuficiente: quando o preço apurado na execução judicial do imóvel hipotecado se tornar insuficiente, casos de extinção da hipoteca pela destruição da coisa, deterioramento ou desvalorização etc. Ex: A contraiu empréstimo com B e deu máquinas em garantia. A não pagou o débito e as máquinas desvalorizaram, se tornando insuficiente. Art. 158, §1º. • Obs: Só os credores que já o eram ao tempo da alienação fraudulenta: os que se tornam credores depois da alienação já encontraram o patrimônio do devedor estando desfalcado e mesmo assim negociaram. Art. 158, §2º. Legitimidade passiva (réu): • Contra o devedor insolvente • Contra a pessoa que celebrou o NJ fraudulento com o devedor insolvente • Contra os 3ºs adquirentes de má-fé, se o bem alienado já tiver sido transferido a 3º (o 3º de boa- fé também deve ser réu) • Deverá ajuizar ação contra todos eles, pois todos eles sofrerão consequências da anulação do ato fraudulento. 196 Art. 161. A ação, nos casos dos arts. 158 e 159, poderá ser intentada contra o devedor insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé. Fraude não ultimada • Se o adquirente ainda não efetuou o pagamento do preço, pode evitar o ajuizamento da ação pauliana, ou extingui-la, depositando o valor em juízo, se for aproximadamente o valor de mercado, pedindo que sejam citados por edital todos os interessados, o que evita a presunção de má-fé e a consumação da fraude. • Se o valor for inferior ao valor de mercado, os credores podem reclamar a devolução da coisa alienada ou o preço real de mercado ao tempo da alienação. • Há a correção do vício e o valor volta ao patrimônio do devedor. • Depósito pode ser feito antes, durante e até mesmo depois de julgada procedente a ação pauliana. 197 Art. 160. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço e este for, aproximadamente, o corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a citação de todos os interessados. Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o preço que lhes corresponda ao valor real. Validade dos negócios ordinários celebrados de boa-fé pelo devedor • Devedor insolvente pode fazer negócios ordinários, sem que haja má-fé, não caracterizando fraude contra credores: • Os gastos ordinários do devedor insolvente são válidos quando feitos para evitar a paralisação de suas atividades normais, pode continuar a vender as mercadorias expostas em seu estabelecimento., mas não pode alienar o próprio estabelecimento. Ex: empresa vende um terreno para pagar 13º dos funcionários. • Pode também o devedor insolvente fazer gastos ordinários que se destinam à sua subsistência ou de sua família. Ex: A vende um terreno para pagar a cirurgia de seu filho. • Presunção de boa-fé do devedor admite prova em contrário, ato será apreciado pelo juiz conforme as circunstâncias para verificar se há fraude. 198 Art. 164. Presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios ordinários indispensáveis à manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do devedor e de sua família. • Após o juiz anular os atos fraudulentos, os bens voltarão a integrar o patrimônio do devedor para pagamento das dívidas. • Se houver vários credores, o patrimônio do devedor deve ser partilhado proporcionalmente entre os credores, na proporção do crédito de cada um. • Se a fraude contra credores buscava atribuir garantia preferencial em favor de outra pessoa, juiz apenas irá anular essa garantia preferencial. 199 Art. 165. Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores. Parágrafo único. Se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos preferenciais, mediante hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade importará somente na anulação da preferência ajustada. Simulação 200 • É uma declaração falsa e enganosa da vontade • Há conluio entre os contratantes para NJ ter aparência contrária à realidade, para aparentar NJ diverso do efetivamente desejado • Objetivo é enganar 3ºs ou fraudar a lei. • É um vício social • Causa de nulidade do NJ • Ex: ocultação do verdadeiro preço da coisa no contrato de compra e venda, antedata de documento, sonegação etc. 201 Características • Regra geral, ocorre no NJ bilateral: resulta do acordo entre as partes para lesar 3º ou fraudar a lei. Embora raro, pode ocorrer em NJ unilateral que tenha declaração receptícia de vontade (dirige-se a determinadas pessoas e produz efeitos a partir da sua ciência). • Existe acordo com a outra parte, ou com as pessoas a quem ela se destina • Declaração é deliberadamente em desacordo com a intenção: as partes, maliciosamente, declaram algo em desacordo com a realidade. • Intuito de enganar 3ºs ou fraudar a lei 202 Espécies de Simulação Simulação absoluta – NJ simulado • As partes fingem um NJ, para criar uma aparência, sem que, na verdade, desejem o ato e sem que realizem na realidade um NJ. • Divergência entre a vontade real e a vontade declarada, conluio entre os contratantes, e intuito de prejudicar 3º. • NJ não existiu • Ex: João transfere carro para Pedro, seu amigo, porque pretende se separar da esposa; • Ex: João registrou seu amigo Pedro, que estava doente em estado terminal, como empregado de sua empresa, sem que ele nunca tenha ali trabalhado, para que Maria, esposa de Pedro, recebesse seguro de vida. Simulação relativa – NJ dissimulado • As parte pretendem realizar determinado NJ, prejudicial a 3º ou em fraude à lei. Para escondê-lo, ou dar-lhe aparência diversa, realizam outro NJ. • Intenção de ocultar parte ou a totalidade de um outro NJ que existiu, buscando demonstrar que foi realizado de maneira diferente do que foi na realidade. • NJ existiu, mas não como foi exteriorizado. • Existem 2 negócios: o simulado (aparente, destinado a enganar) e o dissimulado (oculto e verdadeiramente desejado). • Ex: homem casado que deseja doar imóvel à concubina e simula venda a 3º, que lhe transferirá o bem; • Ex: escritura por preço inferior ao real para pagar imposto menor. 203 SIMULAÇÃO X DISSUMULAÇÃO • Na simulação, procura-se aparentar o que não existe; na dissimulação, oculta-se o que é verdadeiro. • Na simulação, há o propósito de enganar sobre a existência de situação não verdadeira; na dissimulação, sobre a inexistência de situação real. 204 • Simulação acarreta a nulidade do NJ. • Se houver dissimulação, o NJ dissimulado subsistirá, se for válido na substância e na forma (obedecer art. 104). • Ex: escritura pública lavrada por valor inferior ao real para burlar o fisco, anula o valor aparente e subsiste o real. • Ex: João queria doar um imóvel para Maria, sua irmã, mas descobriu que por contrato de compra e venda pagaria menos impostos. Houve dissimulação. Compra e venda é nula, mas doação subsiste. 205 Art. 167. É nuloo negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. • I - O NJ foi realizado na verdade com uma pessoa, mas no contrato consta outra pessoa favorecida. Ex: João, casado, deseja doar imóvel à sua concubina e simula venda a Pedro, que lhe transferirá o bem; • II – NJ contém informações que não são verdadeiras. Ex: atestado médico para abonar falta no trabalho de pessoa que não está doente; João e Pedro simulam que implementaram uma condição (venda de 100 veículos no ano) para receber comissão extra; • III – data verdadeira não representa a data posta no NJ. Ex: João vive em união estável com Maria desde 2010, quando adquiriu um imóvel de Pedro. João pretende dissolver a união e simula contrato de compra e venda em favor de João com data de 2009. 206 Art. 167, § 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados. • Quando NJ é declarado nulo por simulação, ele contamina os atos posteriores, que também não tem validade. 207 João Pedro Maria Art. 167, § 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado. NJ simulado NJ de boa-fé NJ de Maria é nulo também, mas ela tem direito de cobrar de João e Pedro os prejuízos que sofreu. Invalidade do NJ 208 Invalidade Inexistência Nulidade Anulabilidade • A invalidade do NJ ocorre quando ele se apresenta de forma irregular, defeituosa, quando existe uma imperfeição. • Existe um vício. • Invalidade é a sanção imposta pela lei ao NJ que foi realizado com vício, impedindo que ele produz efeitos. • A irregularidade/defeito pode ser mais ou menos grave e, então, o ordenamento jurídico vai atribuir uma reprimenda maior ou menor. • Vício grave -> vício de interesse social -> nulidade absoluta -> ato nulo • Vício de gravidade relativa -> vício de interesse individual -> nulidade relativa - > ato anulável 209 Inexistência do NJ • Existência – Validade – Eficácia • Afeta a existência do NJ • Falta ao NJ algum elemento estrutural • Constitui-se em um nada jurídico, o NJ não existe. • Propõe-se ação para discutir e declarar a inexistência do NJ. • Ato inexistente não produz efeitos, enquanto o ato nulo pode produzir alguns efeitos. • Ex: não houve declaração de vontade (contrato não assinado, noiva que não se manifesta), NJ entre pessoa e cachorro etc. 210 Nulidade do NJ 211 “Nulidade é a sanção imposta pela lei aos atos e negócios jurídicos realizados sem observância dos requisitos essenciais, impedindo-os de produzir os efeitos que lhe são próprios”. Carlos Roberto Gonçalves “A função da nulidade é tornar sem efeito o ato ou negócio jurídico. A ideia é fazê-lo desaparecer, como se nunca houvesse existido. Os efeitos que lhe seriam próprios não podem ocorrer. Trata-se, portanto, de vício que impede o ato de ter existência legal e produzir efeito, em razão de não ter sido obedecido qualquer requisito essencial”. Silvio de Salvo VenosaNulidade ofende preceitos de ordem pública. Não prescreve Não produção de efeitos - retroage Juiz pode e deve pronunciar de ofício Espécies de nulidade Nulidade absoluta: • Existe um vício que atinge o interesse social, além do individual • Há ofensa a preceito de ordem pública • Priva o ato ou NJ dos seus efeitos específicos • Pode ser alegada por qualquer interessado • Pode e deve ser pronunciada de ofício pelo juiz) Nulidade relativa: • Também chamada de anulabilidade • Existe um vício que invalida o NJ, mas esse vício pode ser afastado ou sanado. 212 Espécies de nulidade Nulidade total: • Atinge todo o NJ. • Ex: contrato de compra e venda assinado por uma criança de 8 anos. Nulidade parcial: • Afeta parte do NJ. Se o NJ for separável, não prejudica a parte válida. • Princípio da conservação do ato ou NJ. • Ex: contrato de locação onde a cláusula de fiança é declarada nula, pode a locação subsistir. Nulidade textual: • Nulidade vem expressa na lei. • “É nulo....” Nulidade virtual: • Nulidade não está expressa na lei. • É deduzida pelas expressões do legislador: “não podem”, “não se admite” etc. 213 • I, II, IV e V -> art. 104 C.C. • V -> casamento deve ser realizado de portas abertas, ter 2 testemunhas etc. • III -> motivo do NJ, expresso como razão determinante, é ilícito. Ex: vende-se um automóvel para que seja utilizado num sequestro; empresta-se uma arma para matar alguém etc. • IV -> NJ celebrado para fraudar a lei, preceito de ordem pública. • VII -> nulidade textual ou virtual. 214 Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; IV - não revestir a forma prescrita em lei; V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa; VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. • Pode ser alegada por qualquer interessado (qualquer pessoa que tenha interesse na nulidade, que tenha sido atingida/prejudicada) ou MP quando lhe couber intervir como fiscal da lei; • Devem ser pronunciadas de ofício pelo juiz. • Juiz não pode suprir o defeito, ainda que as partes requeiram. • Atinge todas as partes envolvidas (efeito erga omnes), até mesmo aqueles que não alegaram a nulidade, pois o NJ nulo não gera nenhum efeito, desaparece da ordem jurídica. • Efeito ex tunc -> retroage à data do ato. 215 Art. 168. As nulidades dos artigos antecedentes podem ser alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir. Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes. • NJ nulo não pode ser confirmado (partes ratificam, manifestam vontade para manter o NJ apesar do defeito) • NJ nulo não convalesce (não se torna válido) pelo decurso do tempo -> não sofre os efeitos da prescrição e decadência -> pode ser alegado a qualquer tempo. 216 Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo. • NJ nulo pode ser convertido em outro NJ válido. Se as partes assinaram um contrato que é nulo (porque não obedeceu os requisitos legais), o contrato pode ser convertido (aproveitado, transformado) em um contrato de natureza diversa se atender os requisitos deste. • Princípio da conservação do NJ e da vontade das partes. • Requisitos para conversão: a) NJ celebrado deve conter os requisitos do NJ para o qual vai ser convertido, b) deve manter o mesmo objeto material os mesmos elementos fáticos do NJ nulo, c) deve estar de acordo com a vontade das partes. • Ex: João queria doar um imóvel seu para Maria e o transferiu para ela por meio de uma escritura de compra e venda. João falece e seus filhos requerem a declaração de nulidade do NJ por simulação, pois Maria não comprou o imóvel. Juiz pode declarar a nulidade da compra e venda por simulação e converter o NJ em doação. • Ex: converter um contrato de compra e venda em promessa de compra e venda. • Obs.: Art. 170 trata apenas do ato nulo, mastambém pode ser aplicado ao ato anulável. 217 Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade. Anulabilidade 218 “Anulabilidade é a sanção imposta pela lei aos atos e negócios jurídicos realizados por pessoa relativamente incapaz ou eivados de algum vício do consentimento ou vício social.” Carlos Roberto Gonçalves A anulabilidade tem em vista a prática do negócio ou do ato em desrespeito a normas que protegem certas pessoas. As causas de anulabilidade residem no interesse privado. (...) Na verdade, o negócio jurídico realiza-se com todos os elementos necessários a sua validade, mas as condições em que foi realizado justificam a anulação, quer por incapacidade relativa do agente, quer pela existência de vícios do consentimento ou vícios sociais”. Silvio Venosa Ofende interesse privados Prescreve e admite confirmação Produz efeitos até ser anulado em ação Juiz não pode pronunciar de ofício, deve ser requerido • Também é causa de anulabilidade a falta de anuência do outro quando a lei estabelece que a concordância é requisito de validade. Ex: regra geral, venda de imóvel sem anuência do cônjuge. 219 Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I - por incapacidade relativa do agente; II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. Confirmação expressa: •pessoa deve manifestar expressamente sua vontade (por escrito ou verbalmente), de forma clara e inequívoca seu desejo de manter o NJ. • Confirmado pelas partes, mas não surte efeitos para 3ºs (mantêm seus direitos assegurados). Ex: João comprou carro de leilão de carros batidos sem saber e ajuizou ação para anular NJ. Se João confirma a compra do carro, mas já o vendeu para 3º, a confirmação não surte efeitos para o 3º. • Confirmado pelo assistente do relativamente incapaz. Ex: João (17 anos) vende seu vídeo game para Pedro, sem a assinatura do seu assistente. Assistente assina o contrato concordando, então, confirmou o NJ. • Confirmado expressamente por 3º (art. 176): se anulabilidade ocorre em virtude da falta de consentimento de 3º, este pode confirmar posteriormente o NJ. EX: João vende uma franquia para Pedro, mas essa venda tinha que ser autorizada pelo franqueador que, posteriormente, autoriza e sana o vício. Confirmação tácita (art. 174): • parte não precisa confirmar expressamente, mas seus atos pressupõem que ela pretende manter o NJ mesmo sabendo do vício. Ex: João comprou sem saber um carro de leilão de carros batidos e descobriu ao fazer o seguro. Mesmo sabendo do vício, João paga todas as 12 parcelas do carro. 220 Art. 172. O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de terceiro. Art. 173. O ato de confirmação deve conter a substância do negócio celebrado e a vontade expressa de mantê-lo. Art. 174. É escusada a confirmação expressa, quando o negócio já foi cumprido em parte pelo devedor, ciente do vício que o inquinava. Art. 176. Quando a anulabilidade do ato resultar da falta de autorização de terceiro, será validado se este a der posteriormente. • Se a parte confirmar, expressa ou tacitamente, o NJ, não pode mais requerer a anulação ou pedir indenização. Se houver ação, é extinta. 221 Art. 175. A confirmação expressa, ou a execução voluntária de negócio anulável, nos termos dos arts. 172 a 174, importa a extinção de todas as ações, ou exceções, de que contra ele dispusesse o devedor. • Não pode ser decretada de ofício pelo juiz, deve ser requerida sua decretação pela parte e só tem efeito após a sentença -> efeito ex nunc. • Só pode ser alegado pela parte interessada (quem foi atingido pelo vício) e só aproveita a quem alega a anulabilidade, não sendo válido para aqueles que não a alegarem, exceto nos casos de solidariedade (obrigação solidária) ou indivisibilidade (objeto indivisível). • Ex: João vende, num mesmo contrato, 500 sacas de arroz para Maria e 500 sacas para Pedro. Pedro ajuíza ação alegando dolo e juiz anula o contrato. Para Maria, o contrato permanece válido. • Ex: João vendeu um carro para Pedro e Maria. Pedro ajuíza ação alegando dolo e juiz anula o contrato. Maria não alegou anulabilidade mas o bem é indivisível, então lhe aproveita também. 222 Art. 177. A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença, nem se pronuncia de ofício; só os interessados a podem alegar, e aproveita exclusivamente aos que a alegarem, salvo o caso de solidariedade ou indivisibilidade. • O art. 178 estipula o prazo e o início de sua contagem para se alegar a anulabilidade do ato. • Demais atos anuláveis que a lei não estipule prazo para requerer a anulação, prazo é de 2 anos contados da conclusão do ato anulável. 223 Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado: I - no caso de coação, do dia em que ela cessar; II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico; III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade. Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato. • Direito não protege a má-fé. • Menor de 18 e maior de 16 não pode se beneficiar do fato de ser relativamente incapaz se dolosamente mentiu ou omitiu a sua idade ao celebrar o NJ. • Ex: João adquiriu um aparelho celular e uma linha telefônica e, ao preencher os dados no contrato, colocou que tinha 18 anos. Depois, para não pagar o que contratou, alegou anulabilidade por ser relativamente incapaz, o que não é possível. NJ é válido e o menor não pode se eximir da obrigação por invalidade do NJ. • Se o juiz anular um NJ realizado por incapaz (absoluta ou relativamente), a outra parte só pode reclamar o valor que pagou ao incapaz se provar que o valor pago reverteu em favor do incapaz. Busca proteger os incapazes. Parte contrária deve provar que o incapaz se enriqueceu com o pagamento que lhe foi feito. 224 Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior. Art. 181. Ninguém pode reclamar o que, por uma obrigação anulada, pagou a um incapaz, se não provar que reverteu em proveito dele a importância paga. • Decretada a anulação do NJ, as partes devem voltar ao estado em que se encontravam antes de realizar o NJ (status quo ante), quando ato objeto do contrato. • Se não for possível voltar ao estado anterior, haverá indenização. Ex: houve permuta de carros com dolo omissivo de que um dos carros era de leilão de carros batidos. Decretada a anulação do NJ, não sendo possível a devolução do carro (porque foi roubado, p. ex.), será paga indenização no valor correspondente. 225 Art. 182. Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que antes dele se achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente. • Se o instrumento (documento) do NJ for inválido, o NJ pode ser mantido se puder provar o NJ por outro meio. Princípio da conservação do NJ. • Ex: Contrato de prestação de serviços feito com uma empresa, onde quem assinou não tinha poderes para tal. Juiz pode declarar a nulidade do contrato, mas pode reconhecer a prestação de serviços do contrato, por meio de outras provas (e-mails, msgs). 226 Art. 183. A invalidade do instrumento não induz a do negócio jurídico sempreque este puder provar-se por outro meio. • Invalidade total prejudica todo o NJ; invalidade parcial prejudica a parte inválida. • Para se manter a parte válida, deve ser mantida a intenção das partes quando celebraram o NJ e a parte válida pode existir de forma autônoma. Ex: João, corretor de imóveis, celebrou contrato com Pedro para realizar os serviços de loteamento de dois terrenos. Um dos terrenos não pode ser loteado porque a área é de preservação permanente. Uma parte do NJ é inválida porque o objeto é legalmente impossível. • Obrigação principal -> existe sobre si mesma. Obrigação acessória -> existe em razão da obrigação principal. Se obrigação principal é invalidada, a acessória também o será; mas se acessória for invalidada, mantém-se a principal. Ex: João celebrou contrato de locação com cláusula de não prorrogação (fere o art. 51 da Lei de Locações). Invalida a cláusula, mas não a locação. 227 Art. 184. Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio jurídico não o prejudicará na parte válida, se esta for separável; a invalidade da obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da obrigação principal. Nulidade x Anulabilidade Nulidade • Decretada no interesse da coletividade, matéria de ordem pública • Não pode ser suprida pelo juiz nem ser sanada pela confirmação • Pode ser decretada de ofício pelo juiz. • Tem efeito imediato, com decisão de natureza declaratória • Nulidade se declara • Não produz nenhum efeito que normalmente lhe pertenceria; • Efeitos ex tunc (retroage à data do NJ). • Pode ser alegada por qualquer interessado ou pelo MP; • Não se torna válido pelo decurso do tempo; Anulabilidade • Decretada no interesse privado da pessoa prejudicada • Pode ser suprida pelo juiz, a requerimento das partes, ou sanada, expressa ou tacitamente, pela confirmação. • Não pode ser decretada de ofício pelo juiz, mas apenas por pedido das partes. • Só tem efeito após a sentença, que tem natureza desconstitutiva • Anulação se decreta • Produz efeitos até a anulação • Efeitos ex nunc (daqui para frente, não retroage). • Só pode ser alegada pelos prejudicados (relativamente incapaz e aquele que manifestou a vontade viciada) e só a eles aproveitam seus efeitos (exceto nos casos de solidariedade ou indivisibilidade); • Pode se tornar válido pelo decurso do tempo; 228 Atos Jurídicos Lícitos e Ilícitos 229 Atos lícitos x Atos ilícitos Atos jurídicos lícitos: • São aqueles praticados de acordo o ordenamento jurídico; • Produzem efeitos jurídicos voluntários; • O agente quer os efeitos e a lei defere os efeitos almejados. Atos jurídicos ilícitos • São aqueles praticados em desacordo com o ordenamento jurídico; • Produzem efeitos jurídicos involuntários; • Os efeitos são impostos pelo ordenamento jurídico. 230 • Aplicam-se aos atos jurídicos lícitos, no que couber, as disposições concernentes aos negócios jurídicos (art. 104 a art. 184) 231 Art. 185. Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no que couber, as disposições do Título anterior. • Ato ilícito é aquele praticado com infração ao dever legal de não lesar ao outro. • Há um dever de conduta: o de não lesar a outros, seja por ação ou omissão. • Conduta voluntária (ação ou omissão) + violação de direito + causar dano + nexo causal + culpa = ato ilícito • Autor do dano deve repará-lo. • Gera uma fonte de obrigação: indenizar ou ressarcir o prejuízo. 232 Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. • Abuso de direito • É o exercício irregular, anormal de um direito • Aquele que, atuando dentro dos limites da lei, deixa de considerar a finalidade social de seu direito e o excede, causando dano a outrem. • Ex: direito de vizinhança x direito de propriedade; credor que demanda devedor antes do vencimento da dívida ou por dívida já paga etc. 233 Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. • Quem comete ato ilícito, deve ser responsabilizado pelos danos que causar. • Obrigação de reparação ou indenização do dano. • Art. 186 e 187 combinam com art. 927 234 Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Pressupostos da responsabilidade • Conduta - ação ou omissão • Culpa ou dolo do agente • Relação de causalidade • Dano 235 Conduta – ação ou omissão • Qualquer pessoa que, por ação ou omissão, venha a causar dano a outrem. • Pode derivar de ato próprio (art. 939, 940, 953 etc), de ato de 3º que esteja sob a guarda do agente (art. 932) ou de danos causados por coisas (art. 937) e animais (art. 936) que lhe pertençam. • Ação -> conduta positiva • Omissão -> conduta negativa • Omissão: existe o dever jurídico de não se omitir, que poderia ter evitado o dano. • Dever de não se omitir pode ser imposto por lei (dever de socorro) ou ser decorrente de convenção (dever de guarda, de vigilância) 236 Culpa ou dolo do agente 237 Culpa lato sensu Dolo: violação deliberada, intencional, do dever jurídico. Vontade de cometer uma violação de direito. Culpa stricto sensu: falta de diligência. Negligência: falta de cuidado ou desatenção, pessoa não age com o cuidado exigido pela situação. Imprudência: ação precipitada e sem cautela, há uma atitude diversa da esperada. Imperícia: inaptidão, ignorância, falta de qualificação técnica, teórica ou prática, ou ausência de conhecimentos elementares e básicos da profissão. Culpa • Culpa in elegendo: má escolha do representante • Culpa in vigilando: ausência de fiscalização • Culpa in comittendo: decorre de uma ação, de um conduta positiva • Culpa in omittendo: decorre de uma omissão, de uma conduta negativa, dever de não se abster • Culpa in custodiendo: falta de cuidados na guarda de animal ou objeto. 238 Relação de causalidade • Nexo causal entre a ação ou omissão do agente e o dano causado. • É a causa, ou seja, causar dano. • Existência do dano deve estar relacionada com a conduta do agente. • Se não há nexo causal entre conduta e dano, não há responsabilidade. • Conduta -> causa -> dano 239 Dano • Para que haja responsabilidade, precisa-se provar o dano. • Dano pode ser patrimonial (material) ou extrapatrimonial (moral). • Não há responsabilidade sem haver dano. • Pode haver violação do dever jurídico, culpa ou dolo, mas só há responsabilidade se houver dano. 240 241 Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos; V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia. Art. 933. As pessoas indicadas nos incisosI a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos. Art. 934. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz. ... Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior. Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta. Responsabilidade dos incapazes • Inimputáveis -> não lhes são imputados pena. • Representante legal é responsável por sua guarda ou vigilância. • Emancipação voluntária pelos pais não os isenta da responsabilidade pelos atos ilícitos de seus filhos. 242 Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos. Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes. Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser eqüitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem. Responsabilidade contratual e extracontratual 243 Responsabilidade contratual • advém de uma obrigação/dever contratual; • Chamado de inadimplemento contratual; • Gera obrigação de indenizar as perdas e danos; • Inadimplemento presume-se culposo: credor deve demonstrar que a prestação contratual não foi cumprida e a culpa do inadimplente se presume. • Art. 389 e 395 ss. Código Civil. Responsabilidade extracontratual ou aquiliana • Advém de infração ao dever legal de conduta; • Aquele que for lesado deve provar a culpa ou dolo daquele que causa o dano. • Art. 186 e 187 c/c 927 e ss. Código Civil. Ambas geram a obrigação de ressarcir o prejuízo causado. Responsabilidade subjetiva e objetiva Responsabilidade subjetiva • É a regra geral • Baseia-se na culpa, que deve ser provada. • Se não há culpa, não há responsabilidade. • Conduta + dano + nexo causal + culpa Responsabilidade objetiva • É a exceção • Independe de culpa • Há responsabilidade mesmo sem culpa. • Conduta + dano + nexo causal • Teoria do risco: toda pessoa que exerce alguma atividade cria um risco de dano para 3ºs. Se exerce atividade e causa dano, deve repará-lo. • Há um risco profissional. • Casos são especificados em lei. 244 Art. 927.... Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. 245 Responsabilidade subjetiva Conduta (ação ou omissão) Conduta (ação ou omissão) Nexo causal Dano Culpa ou dolo Nexo causal Dano Responsabilidade objetiva Responsabilidade civil e penal Responsabilidade civil • Ilicitude civil -> viola norma civil • Interesse lesado é individual, privado • Pode ser transferida (PJ para PN) • Responde com patrimônio (prisão apenas para devedor de pensão alimentícia) • Qualquer ação ou omissão que viole direito e cause dano pode gerar responsabilidade, independe de tipificação • Até a culpa levíssima obriga a indenizar • Menor de 18 anos responde pelos prejuízos que causar Responsabilidade penal • Ilicitude penal -> viola norma penal • Interesse lesado é da sociedade, público • É pessoal, intransferível • Responde com a liberdade • Deve estar tipificada na lei (não há crime sem lei anterior que o defina) • Culpa deve ter certo grau ou intensidade • Só maiores de 18 anos 246 Atos lesivos não ilícitos 247 Art. 188. Não constituem atos ilícitos: I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente. Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo. Legítima defesa e exercício regular de direito • Se o ato é praticado contra o próprio agressor, em legítima defesa, o agente não será responsabilizado civilmente pelos danos causados. • CP. Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. • A extrapolação da legítima defesa, por negligência ou imperícia, configura ato ilícito. • Se, em legítima defesa, por engano ou erro de pontaria, terceira pessoa ou alguma coisa de valor for atingida, o agente deve reparar o dano, podendo ajuizar ação de regresso contra o agressor. • Quem exerce um direito de forma regular, não provoca um dano. Ex: credor que, preenchendo as condições legais, requer a falência do devedor. 248 Estado de necessidade • Aquele que age em estado de necessidade não age de forma ilícita. • CP. Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. • Não comete ato ilícito, mas fica obrigado a reparar os danos que causar se a pessoa lesada não for culpada pelo perigo. • Ex: motorista, para não atropelar criança, atira seu veículo contra um muro; deve pagar reparação do muro, mas tem direito de regresso contra os pais da criança, que se omitiram no dever de vigilância. 249 Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram. Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado. Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de quem se causou o dano (art. 188, inciso I). Prescrição 250 • Prescrição -> elemento tempo • O decurso do tempo tem grande influência na aquisição e extinção de direitos. • Prescrição extintiva -> perde o direito • Prescrição aquisitiva -> adquire o direito (usucapião). 251 Imagine se: • Tivéssemos dívidas eternas? • Tivéssemos que guardar todos os nossos recibos, sob pena de termos que pagar uma dívida novamente? • Tivéssemos que guardar todos os documentos de nossos pais, avós e bisavós? • O devedor ficasse refém do credor eternamente? 252 Prescrição 253 Tranquilidade na ordem jurídica Estabilidade nas relações jurídicas Interesse Público Consolidação de direitos Castigo à negligência Interesse Público -> motivo inspirador Estabilização do direito -> finalidade objetiva Castigo à negligência -> meio repressivo Violação de um direito -> causa um dano ao titular do direito subjetivo (direito a uma prestação, há um dever da outra parte). Nasce uma pretensão -> poder de exigir da outra pessoa uma ação ou omissão que reestabeleça o dano causado. Passados os prazos estipulados no art. 205 e 206 do Código Civil sem ajuizar açãoA pretensão se extingue pela Prescrição 254 Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206. Violação do direito com o nascimento da pretensão Inércia do titular Decurso do tempo fixado em lei Três Requisitos da Pretensão: Autor ajuizou ação Exemplo Pedro não pagou o aluguel para João, portanto, João teve seu direito de receber o aluguel violado. João tem o direito de cobrar de Pedro os aluguéis vencidos e não pagos. Passa o prazo estabelecido pela lei de 3 anos sem João ajuizar a ação para cobrar Pedro A pretensão de João se extingue pela Prescrição 255 Violação do direito Nasce a pretensão Passa o prazo estipulado no Código Civil sem ajuizar ação A pretensão se extingue pela Prescrição • Prescrição é a perda da pretensão, em razão do tempo, remanescendo, porém, intacto o direito material, tanto é que o pagamento de dívida prescrita é válido, não podendo ser objeto de restituição. 256 Prescrição intercorrente Violação do direito com nascimento da pretensão Autor ajuizou ação Autor permanece inerte, de forma continuada e ininterrupta Há o lapso temporal estabelecido pela lei Prescrição 257 • Exceção é a defesa que cabe contra uma pretensão, em um processo judicial. João exerce a sua pretensão em juízo e Pedro alega uma exceção como defesa. • A pretensão e a exceção prescrevem no mesmo prazo. Se a pretensão está prescrita, a exceção também estará. • Não se permite ao réu deduzir defesa quando o direito ou pretensão já tiver sido atingido pela prescrição. Caso o direito ou pretensão já esteja prescrito, vedado ao réu opor exceções (defesas) de direito material. • Exemplo de exceção: compensação de dívidas, exceção do contrato não cumprido etc. • Ex: João exerce sua pretensão de cobrar uma dívida de Pedro em juízo, mas Pedro alega como defesa (exceção) que João também o deve e que as dívidas devem ser compensadas. Se o crédito de Pedro está prescrito para cobrá-lo de João em juízo, também o estará para alegar como defesa de compensação de dívidas. 258 Art. 190. A exceção prescreve no mesmo prazo em que a pretensão. • Renunciar = desistência do direito de arguir o instituto da prescrição. • Não pode haver renúncia prévia da prescrição, ou seja, só pode haver renúncia depois que a prescrição se consumar, pois a prescrição é matéria de ordem pública. • Ex: Pedro deve aluguéis para João e João só ajuíza a ação de cobrança após estar prescrita a dívida. Pedro, após consumada a prescrição, pode renunciar a ela e pagar a dívida mesmo assim, mas não atinge a prescrição que correu contra o fiador. • Requisitos para a validade da renúncia: 1. prescrição consumada; 2. não prejudique 3ºs (credores daquele que renuncia, pois a renúncia diminui o patrimônio do devedor, fiador do contrato). • Renúncia expressa -> manifestada de forma taxativa, inequívoca, escrita ou verbal. • Renúncia tácita -> presume-se de fatos do interessado, que são incompatíveis com a prescrição. Ex: ato de reconhecimento da dívida pelo devedor, como pagamento parcial ou composição buscando a solução futura do débito. 259 Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos do interessado, incompatíveis com a prescrição. • Prescrição em curso não cria direito adquirido. • Prazo da prescrição pode ser ampliado ou reduzido por lei superveniente (que vem depois). • Mas não é possível a ampliação ou redução do prazo prescricional pela vontade das partes. 260 Art. 192. Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das partes. • Prescrição pode ser arguida a qualquer tempo, em qualquer fase ou estado da causa, em primeira ou segunda instância, durante o processo de conhecimento. • Não pode ser arguida em Recurso Especial e Recurso Extraordinário se não tiver sido suscitada na justiça local, pois o STJ e o STF não conhecem de matéria nova. • Após a sentença, só pode ser alegada se a prescrição for superveniente à sentença (ocorrer após a sentença) -> prescrição intercorrente. • A prescrição anterior, não arguida na fase de conhecimento, insere-se no conceito de oportunidade de defesa perdida. • Só podem alegar a prescrição aqueles que dela se aproveitam, sejam interessados diretos ou indiretos (terceiros cuja declaração da prescrição lhes causariam dano ou prejuízo). 261 Art. 193. A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita. • A Lei n.º 11.280, de 2006, revogou o art. 194 do Código Civil. • Hoje a matéria é tratada no art. 332, §1º e art. 487, parágrafo único do CPC, que dizem: • Art. 332, § 1º: “O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar, desde logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição.” • “Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz: (...) II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência ou prescrição;” • Juiz deve se pronunciar, de ofício, sobre a prescrição, ou seja, independente de alegação da parte. 262 Art. 194. O juiz não pode suprir, de ofício, a alegação de prescrição, salvo se favorecer a absolutamente incapaz. (Revogado pela Lei n.º 11.280, de 2006). • Os assistentes, no caso dos relativamente incapazes, e os representantes legais, no caso das pessoas jurídicas, respondem caso, culposamente, derem causa à prescrição ou não a alegarem oportunamente. • Devem indenizar pelo prejuízo causado. • Prescrição não corre contra os absolutamente incapazes. 263 Art. 195. Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra os seus assistentes ou representantes legais, que derem causa à prescrição, ou não a alegarem oportunamente. • Herdeiro do de cujus tem apenas o prazo faltante para exercer a pretensão, quando esse prazo se iniciou com o autor da herança. • Prazo não se inicia novamente com a morte da pessoa, seja prazo contra ou a favor. 264 Art. 196. A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o seu sucessor. Causas que impedem ou suspendem a prescrição • As mesmas causa ora impedem, ora suspendem a prescrição, dependendo do momento em que surgem. • Se o prazo ainda não começou a fluir, a causa ou obstáculo impede que o prazo comece a correr. • Se a causa ou obstáculo surge após o prazo ter se iniciado, suspende-se o prazo. • Suspende-se a prescrição porque certas pessoas, por sua condição ou situação em que estão, estão impedidas de agir. • Suspensão do prazo: prazo volta a fluir só pelo prazo restante. Prazo correndo Suspende o prazo Volta a correr prazo 1 2 ...................................... Prazo = 1 + 2 • Nos 3 casos existe confiança, amizade, laços de afeição. • Não se pode permitir que haja a necessidade de um deles mover ação contra outro para evitar a prescrição. • Se casados, prazo só começa a correr com a extinção do vínculo matrimonial. Se casaram depois do prazo ter iniciado, suspende o prazo prescricional. Mesma coisa com tutelados e curatelados. • Inciso I se estende à união estável. 266 Art. 197. Não corre a prescrição: I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal; II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar; III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela. Prescrição não corre: • Contra os absolutamente incapazes. Só começa a correr quando menor faz 16 anos. • Contra os representantesdiplomáticos, os agentes consulares, os militares brasileiros junto aos países estrangeiros, os delegados brasileiros em missão oficial em países estrangeiros etc. • Contra os que servem as Forças Armadas em tempo de guerra. 267 Art. 198. Também não corre a prescrição: I - contra os incapazes de que trata o art. 3o; II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios; III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra. • Enquanto pender condição suspensiva e enquanto não está vencido o prazo, o direito ainda não se tornou exigível, por isso, não corre prescrição. • Se pende ação de evicção (C perde, total ou parcial, um bem adquirido de B, por decisão judicial, em favor de A, que tem direito anterior, fundado em motivo jurídico anterior à aquisição da coisa), a prescrição fica suspensa até terminar o processo. 268 Art. 199. Não corre igualmente a prescrição: I - pendendo condição suspensiva; II - não estando vencido o prazo; III - pendendo ação de evicção. • Se o fato precisa ser primeiro apurado no juízo criminal, a prescrição fica suspensa até a sentença penal. • A suspensão da prescrição só aproveita aos demais se a obrigação for indivisível. Ex: 3 credores de dinheiro contra devedor comum e 1 deles é absolutamente incapaz, prescrição corre contra os outros 2 e só começa a correr contra o absolutamente incapaz quando ele faz 16 anos. Se a obrigação for indivisível (carro, p.ex.), suspende para todos os credores. 269 Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva. Art. 201. Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, só aproveitam os outros se a obrigação for indivisível. Causas que interrompem a prescrição • Interrupção depende, regra geral, de um comportamento ativo do credor. • É um ato de exercício ou proteção ao seu direito que interrompe a prescrição. • Extingue-se o tempo já decorrido e prazo começa do início novamente. • Interrupção da prescrição: prazo começa de novo 270 Prazo correndo Interrompe o prazo Prazo começa de novo • Interrupção só acontece 1 vez e recomeça a correr o prazo. • I - Interrompe pelo despacho do juiz que ordena a citação. O interessado deve viabilizar a citação no prazo e na forma da lei, providenciando a extração do mandado de citação, recolhimento de custas etc. • II e III - protesto judicial e cambial. • IV - habilitação do credor em inventário e falência. • V - notificações (ciência de uma declaração de vontade) e interpelações (dar ciência para que outro faça ou deixe de fazer algo). • VI – pagamentos parciais, parcelamento, pedido de prorrogação de prazo. 271 Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á: I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual; II - por protesto, nas condições do inciso antecedente; III - por protesto cambial; IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores; V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor. Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper. • O próprio titular do direito • Aquele que legalmente o represente • Ou um 3º que tenha legítimo interesse (herdeiros, credores e fiador do devedor) 272 Art. 203. A prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado. • A interrupção da prescrição tem efeitos pessoais, regra geral, só aproveita àquele que a interrompe. • Aproveita aos demais credores ou devedores se a obrigação for solidária (responde pela dívida inteira) ou se o direito for indivisível. • Se a interrupção da prescrição ocorrer contra o devedor, também ocorre contra o fiador, pois é contrato acessório. 273 Art. 204. A interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros; semelhantemente, a interrupção operada contra o co-devedor, ou seu herdeiro, não prejudica aos demais coobrigados. § 1o A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos outros; assim como a interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros. § 2o A interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor solidário não prejudica os outros herdeiros ou devedores, senão quando se trate de obrigações e direitos indivisíveis. § 3o A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica o fiador. Prazos de prescrição • O artigo 206 do Código Civil diz que ocorre a prescrição em 1, 2, 3, 4 ou 5 anos, conforme estabelecido nos seus dispositivos. • O artigo 205 do Código Civil diz que “a prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor”. 274 Pretensões imprescritíveis A regra é a prescritibilidade, a exceção é a imprescritibilidade. Não prescrevem: • As pretensões que protegem os direitos da personalidade (direito à vida, à honra, à liberdade, à integridade física ou moral, à imagem, ao nome etc). • As pretensões que se prendem ao estado das pessoas (estado de filiação, a qualidade de cidadania, a condição conjugal). • As pretensões de exercício facultativo (ou potestativo), em que não existe direito violado, como a de pedir meação no muro vizinho etc. • As pretensões referentes a bens públicos de qualquer natureza. • As pretensões de reaver bens confiados à guarda de outrem, a título de depósito, penhor ou mandato (não podem alegar usucapião). • As pretensões de ressarcimento do erário por danos decorrentes de improbidade administrativa. • Etc. Institutos afins à Prescrição Preclusão: • Perda de uma faculdade processual, por não ter sido exercida no momento oportuno. • Questões já decididas, dentro de uma mesma ação, não voltam a ser decididas novamente. Perempção: • Também tem natureza processual. • Autor perde o direito de ação se der causa, por 3 vezes, a sentença fundada em abandono de causa. Decadência: • Veremos a seguir. 276 Decadência 277 • Decadência é a perda do direito material, em razão do tempo, eliminando-se, por consequência, o direito de ação e demais pretensões. 278 • Decadência -> elemento tempo • Decadência, ou caducidade, é a perda de um direito potestativo previsto em lei pela inércia de seu titular no período determinado em lei, que ocorre como uma sanção pela inobservância do tempo. • Direito subjetivo (prescrição) -> direito a uma prestação, há um dever da outra parte. • Direito potestativo (decadência) -> não corresponde a um dever jurídico da outra parte, mas mera sujeição. Titular do direito tem o poder de exercício, poder de influir na esfera de outrem por ato unilateral. Ex: anulação de contrato viciado. • Prazo começa a fluir no momento em que o direito nasce. • Com a propositura da ação o titular do direito potestativo o exercita e, com isso, impede que a decadência ocorra. • Decadência pode resultar da lei, do testamento ou de contrato (convencional). • Os prazos prescricionais são apenas os do art. 205 e 206 do Código Civil, enquanto todos os outros prazos serão decadenciais. 279 Nasce um direito potestativo (não corresponde a um dever jurídico da outra parte, mas mera sujeição). Passa o prazo estipulado em lei Decai o direito 280 Decadência Exemplo João comprou de Pedro um relógio, sendo dolosamente enganado, pois achou que era ouro. NJ é anulável cf. art. 171, II C.C. Passam-se4 anos cf. art. 178, II C.C. sem João ajuizar a ação de anulação O direito de João contra Pedro se extingue pela Decadência 281 Nasce um direito potestativo (não corresponde a um dever jurídico da outra parte, mas mera sujeição). Passa o prazo estipulado em lei Decai o direito • Regra geral, a decadência não se impede, suspende ou interrompe. • Exceto se tiver disposição legal prevendo, pois a regra não é absoluta. • Só admite exceções por lei. 282 Art. 207. Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição. • Não se admite a fluência do prazo decadencial contra os absolutamente incapazes, só começa a correr após os 16 anos. • Relativamente incapazes podem responsabilizar os representantes ou assistentes que derem causa à decadência ou que não a alegarem ao tempo devido. 283 Art. 208. Aplica-se à decadência o disposto nos arts. 195 e 198, inciso I. • Decadência é matéria de ordem pública, de interesse geral. • As partes não podem renunciar à decadência prevista em lei. • Podem renunciar a prazo de decadência estabelecido em contrato (ex: direito de arrependimento pactuado entre as partes em um negócio jurídico, “garantia estendida” de eletrodomésticos, automóveis etc.). 284 Art. 209. É nula a renúncia à decadência fixada em lei. • Juiz deve conhecer e declarar a decadência estabelecida em lei de ofício, independentemente da alegação das partes. • Isso é um dever do juiz e não uma faculdade. • Mas, se a decadência for convencional, o juiz não pode se pronunciar de ofício, devendo ser alegada a decadência pela parte a quem aproveita, em qualquer grau de jurisdição. 285 Art. 210. Deve o juiz, de ofício, conhecer da decadência, quando estabelecida por lei. Art. 211. Se a decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la em qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação. Provas no Direito 286 ➢ Prova -> meio empregado para demonstrar a existência do ato ou negócio jurídico. ➢ Não basta alegar algo, é preciso provar! ➢ O que se prova é o fato alegado e não o direito, pois o direito deve ser conhecido e aplicado pelo magistrado. ➢ Ônus de provar o fato constitutivo do direito incumbe a quem alega o fato e não a quem contesta. ➢ O réu deve provar fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito alegado pelo autor ➢ Fatos notórios independem de prova. ➢ Quando a lei exigir uma forma especial para a validade do NJ (ex. instrumento público), nenhuma outra prova poderá suprir-lhe a falta. Se não tiver exigência quanto à forma, qualquer meio de prova pode ser usado. ➢Prova deve ser: • Admissível = não proibida por lei e aplicável ao caso em tela • Pertinente = adequada a demonstrar os fatos alegados • Concludente = esclarecedora dos fatos controvertidos pelas partes 288 CPC. Art. 369. As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na convicção do juiz. 289 Art. 212. Salvo o negócio a que se impõe forma especial, o fato jurídico pode ser provado mediante: I - confissão; II - documento; III - testemunha; IV - presunção; V - perícia. Confissão • Confissão -> CPC, art. 389: Há confissão, judicial ou extrajudicial, quando a parte admite a verdade de fato contrário ao seu interesse e favorável ao do adversário. • A confissão pode ser judicial ou extrajudicial, espontânea ou provocada, expressa ou presumida (ou ficta) pela revelia. • Elementos essências: capacidade da parte, declaração de vontade e objeto possível. • Só quem é parte pode reconhecer situação favorável à outra e, assim, confessar. • Não basta ser capaz de direitos, mas deve ser o titular do direito sobre os quais se litiga. • O representante legal do incapaz não pode, em princípio, confessar, porque a ele é vedado concluir negócio em conflito de interesse com seu representado. O representante convencional que tenha expressos poderes para tal, pode confessar. • Erro de fato -> há falsa percepção dos sentidos, de tal sorte que o juiz supõe a existência de um fato inexistente ou a inexistência de um fato realmente existente. 291 Art. 213. Não tem eficácia a confissão se provém de quem não é capaz de dispor do direito a que se referem os fatos confessados. Parágrafo único. Se feita a confissão por um representante, somente é eficaz nos limites em que este pode vincular o representado. Art. 214. A confissão é irrevogável, mas pode ser anulada se decorreu de erro de fato ou de coação. Documento • Documento -> são escritos que, não tendo surgido como prova pré-constituída, apresentam elementos de prova. • Documento público -> elaborado por autoridade pública. Ex: certidões, página de Diário Oficial. • Documento particular -> elaborado por particulares. Ex: carta, atas de assembleia. • Documento é gênero, instrumento é espécie. • Instrumento é criado com o objetivo de servir de prova. Ex: escritura pública, cheque, contrato, livros contábeis. 292 293 Art. 215. A escritura pública, lavrada em notas de tabelião, é documento dotado de fé pública, fazendo prova plena. § 1o Salvo quando exigidos por lei outros requisitos, a escritura pública deve conter: I - data e local de sua realização; II - reconhecimento da identidade e capacidade das partes e de quantos hajam comparecido ao ato, por si, como representantes, intervenientes ou testemunhas; III - nome, nacionalidade, estado civil, profissão, domicílio e residência das partes e demais comparecentes, com a indicação, quando necessário, do regime de bens do casamento, nome do outro cônjuge e filiação; IV - manifestação clara da vontade das partes e dos intervenientes; V - referência ao cumprimento das exigências legais e fiscais inerentes à legitimidade do ato; VI - declaração de ter sido lida na presença das partes e demais comparecentes, ou de que todos a leram; VII - assinatura das partes e dos demais comparecentes, bem como a do tabelião ou seu substituto legal, encerrando o ato. § 2o Se algum comparecente não puder ou não souber escrever, outra pessoa capaz assinará por ele, a seu rogo. § 3o A escritura será redigida na língua nacional. § 4o Se qualquer dos comparecentes não souber a língua nacional e o tabelião não entender o idioma em que se expressa, deverá comparecer tradutor público para servir de intérprete, ou, não o havendo na localidade, outra pessoa capaz que, a juízo do tabelião, tenha idoneidade e conhecimento bastantes. § 5o Se algum dos comparecentes não for conhecido do tabelião, nem puder identificar-se por documento, deverão participar do ato pelo menos duas testemunhas que o conheçam e atestem sua identidade. • Em princípio, o instrumento deve ser exibido no original. • As certidões e traslados de escrivão judicial ou tabelião de registros tem o mesmo valor probatório dos originais, podendo ser utilizado como meio de prova. • São instrumentos públicos e tem fé pública. • Autenticação é feita por oficial público que declara ser cópia fiel do original. 294 Art. 216. Farão a mesma prova que os originais as certidões textuais de qualquer peça judicial, do protocolo das audiências, ou de outro qualquer livro a cargo do escrivão, sendo extraídas por ele, ou sob a sua vigilância, e por ele subscritas, assim como os traslados de autos, quando por outro escrivão consertados. Art. 217. Terão a mesma força probante os traslados e as certidões, extraídos por tabelião ou oficial de registro, de instrumentos ou documentos lançados em suas notas. Art. 218. Os traslados e as certidões considerar-se-ãoinstrumentos públicos, se os originais se houverem produzido em juízo como prova de algum ato. ... Art. 223. A cópia fotográfica de documento, conferida por tabelião de notas, valerá como prova de declaração da vontade, mas, impugnada sua autenticidade, deverá ser exibido o original. Parágrafo único. A prova não supre a ausência do título de crédito, ou do original, nos casos em que a lei ou as circunstâncias condicionarem o exercício do direito à sua exibição. • Mesmo sem testemunhas, o documento particular vale entre as próprias partes, presumem-se verdadeiras as declarações entre as partes. • Quando a declaração depende de uma circunstância e não se refere ao cerne do direito em questão, deve ser provada pelos interessados. Não há força probatória nas declarações indiretas. Ex: qualificação dos negociantes, descrição do imóvel. • Só por instrumento público pode a mulher casada outorgar procuração ao marido para alienação de bens imóveis, pois o instrumento público é essencial à validade do ato (art. 108). 295 Art. 219. As declarações constantes de documentos assinados presumem-se verdadeiras em relação aos signatários. Parágrafo único. Não tendo relação direta, porém, com as disposições principais ou com a legitimidade das partes, as declarações enunciativas não eximem os interessados em sua veracidade do ônus de prová-las. Art. 220. A anuência ou a autorização de outrem, necessária à validade de um ato, provar-se-á do mesmo modo que este, e constará, sempre que se possa, do próprio instrumento. • Quando o instrumento público não for exigido pela lei para determinado ato ou as partes não convencionarem nesse sentido, vale o instrumento particular para prova dos negócios jurídicos de qualquer valor. Para valer com relação a 3ºs, o instrumento particular deve ser inscrito no Registro Público. • Pode ser provado por outros meios de prova. 296 Art. 221. O instrumento particular, feito e assinado, ou somente assinado por quem esteja na livre disposição e administração de seus bens, prova as obrigações convencionais de qualquer valor; mas os seus efeitos, bem como os da cessão, não se operam, a respeito de terceiros, antes de registrado no registro público. Parágrafo único. A prova do instrumento particular pode suprir-se pelas outras de caráter legal. Art. 222. O telegrama, quando lhe for contestada a autenticidade, faz prova mediante conferência com o original assinado. • Os livros e fichas fazem prova contra os empresários e sociedades a que pertencem, mas poderão também beneficiá-los caso a escrituração não revele vícios extrínsecos ou intrínsecos e se confirmados por outros elementos. • Não fazem prova de fatos jurídicos, quando para estes a lei exigir escritura pública ou escrito particular devidamente formalizado. 297 Art. 224. Os documentos redigidos em língua estrangeira serão traduzidos para o português para ter efeitos legais no País. Art. 225. As reproduções fotográficas, cinematográficas, os registros fonográficos e, em geral, quaisquer outras reproduções mecânicas ou eletrônicas de fatos ou de coisas fazem prova plena destes, se a parte, contra quem forem exibidos, não lhes impugnar a exatidão. Art. 226. Os livros e fichas dos empresários e sociedades provam contra as pessoas a que pertencem, e, em seu favor, quando, escriturados sem vício extrínseco ou intrínseco, forem confirmados por outros subsídios. Parágrafo único. A prova resultante dos livros e fichas não é bastante nos casos em que a lei exige escritura pública, ou escrito particular revestido de requisitos especiais, e pode ser ilidida pela comprovação da falsidade ou inexatidão dos lançamentos. Testemunha • Testemunha instrumentária -> assina o instrumento. • Testemunha judiciária -> presta depoimento em juízo. • Testemunha é a pessoa, estranha ao processo, que afirma em juízo a existência ou inexistência de fatos que estejam em discussão, relevantes para a causa. 298 Testemunha 299 Art. 227. Revogado Parágrafo único. Qualquer que seja o valor do negócio jurídico, a prova testemunhal é admissível como subsidiária ou complementar da prova por escrito. Art. 228. Não podem ser admitidos como testemunhas: I - os menores de dezesseis anos; II – Revogado; III – Revogado; IV - o interessado no litígio, o amigo íntimo ou o inimigo capital das partes; V - os cônjuges, os ascendentes, os descendentes e os colaterais, até o terceiro grau de alguma das partes, por consangüinidade, ou afinidade. § 1o Para a prova de fatos que só elas conheçam, pode o juiz admitir o depoimento das pessoas a que se refere este artigo. § 2o A pessoa com deficiência poderá testemunhar em igualdade de condições com as demais pessoas, sendo-lhe assegurados todos os recursos de tecnologia assistiva. Presunção • Presunção -> é a dedução/conclusão que se extrai de um fato conhecido para se chegar a um fato desconhecido. Ex: morte presumida. • Presunção legal -> decorre da lei. Ex: lei presume que marido seja o pai da criança. • Presunção comum -> baseiam-se no que ordinariamente acontece, na experiência da vida. Ex: presume-se que as dívidas do marido são contraídas em benefício da família, presume-se que os pais amam os filhos. • Indício -> ponto de partida do qual se estabelece uma presunção. 300 Presunção • Presunção absoluta ou juris et de jure -> não admitem prova em contrário. A presunção de verdade atribuída pela lei a certos fatos é indiscutível. Ex: o ordenamento presume que todos conhecem a lei; decretada a interdição do deficiente mental presume-se sua incapacidade. • Presunção relativa ou juris tantum -> admitem prova em contrário. Ex: presunção de paternidade do marido, presunção de comoriência. • Presunção transfere o ônus da prova para o réu. 301 Perícia ➢ Exame -> apreciação de alguma coisa por perito para auxiliar o juiz a formar a sua convicção. Ex: exame grafotécnico, exame hematológico etc. ➢ Vistoria -> perícia restrita à inspeção ocular. Ex: vistoria de imóvel em ação imobiliária. ➢ Avaliação -> atribuição ao bem do seu valor de mercado. Ex: avaliação de imóvel. • Perito deve ter conhecimentos técnicos da área e ser imparcial, pois ele auxilia o juiz. • Juiz não fica vinculado ao resultado da perícia, pode determinar nova perícia ou julgar de acordo com seu convencimento. • Prova também pode ser feita por Inspeção Judicial -> quando o próprio juiz examina pessoalmente local, objeto ou pessoa. 302 Perícia • Súmula 301 do STJ já dizia: “Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris tantum de paternidade”. • Deve-se comprovar que houve relação sexual entre o investigado e a mãe. 303 Art. 231. Aquele que se nega a submeter-se a exame médico necessário não poderá aproveitar-se de sua recusa. Art. 232. A recusa à perícia médica ordenada pelo juiz poderá suprir a prova que se pretendia obter com o exame. Bibliografia de referência: • GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: parte geral. Vol. 1. 15ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017. • VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: parte geral. Vol. 1. 17ª ed. São Paulo: Atlas, 2017. 304