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III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2008 III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação PUCRS Protagonismo judicial: inevitabilidade e perigos Marília Zanella Prates, Eugênio Facchini Neto (orientador) Mestrado em Direito - Linha de Pesquisa:Jurisdição, Efetividade e Instrumentalidade do Processo – PUCRS Resumo É possível afirmar que a ciência processual passou por consideráveis mudanças nas últimas décadas, sendo inegável que a visão a respeito da atuação do juiz no processo sofreu, especialmente, algumas alterações. A idéia de que a jurisdição é inerte, só podendo ser “despertada” pela iniciativa das partes e dentro dos limites que estas impõem, é uma das bases tradicionais do processo civil, isso porque vista como garantidora da imparcialidade da prestação jurisdicional. No entanto, não se pode fechar os olhos para uma das claras conseqüências trazidas pelas abundantes mudanças na legislação processual, qual seja, a de que os poderes do Estado-Juiz só têm aumentado. A busca incessante por uma maior rapidez nos processos judiciais tem como resultado o fato de que, atualmente, são atribuídos aos magistrados maiores poderes de direção do processo. Alguns autores têm alegado que essa mudança de paradigma referente ao papel do juiz está intimamente ligada a mudanças político-sociais, bem como à noção contemporânea de que o processo pertence ao direito público. Em outras palavras, pode-se dizer que o processo civil espelha os valores do Estado. Assim, à época do Estado liberal, o objetivo do direito, tanto material quanto processual, era garantir a liberdade dos cidadãos e, para isso, preservava-se a igualdade formal, não se intervindo nas relações jurídicas privadas. Nessas circunstâncias, segundo a clássica afirmativa de Montesquieu, os juízes eram seres inanimados que não poderiam moderar nem a força e nem o rigor da lei. A situação atual parece ser bem diferente. À medida que se passou a considerar o processo como instituto pertencente ao direito público, a figura do juiz distante e indiferente começou a não mais se coadunar com a atividade jurisdicional pretendida. Passou-se a III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2008 demandar do juiz uma participação mais ativa, mais presente, mais oficiosa. Considerado como um interessado em prestar um serviço de qualidade, o juiz passa a cada vez mais atuar na relação jurídica processual, ainda que não haja o requerimento expresso de qualquer das partes. O distanciamento do juiz começa a sofrer ressalvas, em uma tendência que pode ser considerada mundial. Aliás, a expansão crescente do papel da jurisdição é um fenômeno comum a todas as democracias avançadas. Na França, o Nouveau Code de Procédure Civile passou por várias mudanças desde que entrou em vigor, em 1976, tendo como conseqüência o aumento dos poderes do juiz em matéria de solução de questões processuais e de instrução probatória. Também na Inglaterra podemos verificar o mesmo fenômeno, já que, com o advento das Civil Procedure Rules, em 1998, alterou-se de modo significativo o quadro tradicional do processo, até então dominado pela iniciativa das partes. No Brasil não foi diferente. Tal atuação ocorre, principalmente, no campo probatório, no âmbito concernente à repressão de atos ligados à má-fé e deslealdade processual e, ainda, na busca da efetivação das decisões judiciais. Exemplo óbvio desse aumento dos poderes do juiz está nos artigos 461 e 461-A, do CPC. O objetivo do presente trabalho é analisar essa mudança de paradigma na prestação jurisdicional, diante do clamor social – e doutrinário – pela rapidez do processo e por uma participação mais ativa dos magistrados. A necessidade do aprofundamento do tema está no fato de que a mudança da atuação do juiz no processo é fenômeno apontado por muitos doutrinadores e considerado uma tendência mundial. Porém, faz-se necessário um estudo mais profundo a fim de analisar tais alterações e suas conseqüências, para que não fiquemos na cômoda posição de meros expectadores dos acontecimentos. A imparcialidade e a inércia do órgão jurisdicional são fundamentos do Estado Democrático de Direito. Assim, a mínima perspectiva de mudança sobre o entendimento de tais fundamentos pode significar profundas alterações sociais. Isto é, o protagonismo judicial, no sentido de que a prestação jurisdicional é agora mais ativa, em nível mundial, aí está e traz conseqüências. Logo, o entendimento sobre tal fenômeno deve ser aprofundado, a fim de possibilitar a sua correta avaliação. Do contrário, corremos o risco de apenas aceitar como natural a flexibilização de princípios tão fundamentais ao processo civil (tais como os princípios dispositivo, da imparcialidade do juiz III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2008 e da inércia da jurisdição) e, a fortiori, ao Estado Democrático de Direito, sem antes investigar as causas e os efeitos desse fenômeno. Metodologia Análise doutrinária e jurisprudencial, tanto em âmbito nacional como em perspectiva comparada. Referências ALMEIDA, Diogo Assumpção Rezende de. Jurisdição e Tutela Específica. Revista Dialética de Direito Processual, n°48, Março-2007. p. 18-34. São Paulo: Oliveira Rocha Comércio e Serviços Ltda, 2007. ALMEIDA, Renato Franco de; COELHO, Aline Bayerl. Princípio da Demanda nas Ações Coletivas do Estado Social de Direito. Revista da Ajuris, Ano XXXII, n°98. Porto Alegre, 2005. ARAGÃO, E.D. Moniz. O Processo Civil no Limiar de Um Novo Século. Revista Forense, Volume 353, Ano 97. 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