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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE
FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Curso: Licenciatura em Administração Púbica 
Disciplina: Políticas de Emprego e Renda (PER)
Os Acordos Colectivos de Trabalho: Génese, papel e seu impacto a luz do emprego e rendimento em Moçambique
 
 Elaborado por: Alide Força Amade
Maputo, Maio de 2019
INTRODUÇÃO
Acordo coletivo de trabalho exterioriza a autonomia sindical nas negociações coletivas. Pedro Paulo T. Manus (2002, p.221) ensina que “os acordos coletivos de trabalho são as formas de solução direta de um conflito coletivo, pois, traduzem, o ajuste pela negociação direta entre empregados e empregadores.” As normas ali estabelecidas deverão ser observadas na respectiva de categoria profissional. 
De acordo com Camargo (2006, p. 4) acordo coletivo de trabalho podem ser eficientes quando eliminarem a disparidade econômica entre empregadores e empregados, compatibilizando a convivência entre o capital e o trabalho.
O acordo coletivo de trabalho disciplina condições específicas no âmbito da própria empresa que celebrou esse ajuste e, por isso, tem condições de atender mais prontamente à manutenção do pleno emprego, fim último da própria negociação coletiva (Ambrosio, 2015).
Tomando em consideração o acima exposto, o presente trabalho enquadra-se na temática dos acordos colectivos de trabalho, objectivando compreender a sua génese, papel e seu impacto a luz do emprego e rendimento em Moçambique. Em termos estruturais, o trabalho encontra-se organizado em três (3) capítulos: o primeiro capítulo encontra uma introdução, os objectivos do trabalho, e metodologia do trabalho; No segundo discute-se sobre a revisão da literatura, onde aborda-se os principais conceitos dos acordos colectivos de trabalho; No terceiro capítulo, faz-se a apresentação e discussão dos dados recolhidos, discutindo sobretudo a génese, papel e impacto dos acordos colectivos de trabalho a luz do emprego e rendimento em Moçambique. No último capítulo apresenta-se a conclusão e as referências bibliográficas. 
 Objectivos do trabalho
Geral
O presente estudo procura analisar os acordos colectivos de trabalho em Moçambique a luz do emprego e Rendimento.
Específicos
Explicar a génese dos acordos colectivos de trabalho no geral e em Moçambique em particular;
Descrever o papel dos acordos colectivos de trabalho;
. Identificar o impacto dos acordos colectivos de trabalho a luz do emprego e Rendimento.
 METODOLOGIA DO TRABALHO
Para a concretização dos objectivos propostos para a pesquisa, o presente trabalho baseou-se numa metodologia qualitativa. Segundo (Gil, 1999), pesquisa qualitativa, a interpretação dos fenómenos e atribuição de significados são essenciais e não requerer o uso de métodos e técnicas estatísticas.
Técnicas de recolha de dados 
Na realização deste trabalho foram combinadas três técnicas para a recolha de informações necessárias para pesquisa, conforme se descreve a seguir:
Pesquisa bibliográfica
Para MARCONI e LAKATOS (2008), a pesquisa bibliográfica é o estudo sistematizado, desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes electrónicas, isto é, material acessível para o público bem geral.
A pesquisa bibliográfica constituiu fonte de dados usada neste trabalho que culminou com a consulta de literatura relevante para o estudo. Esta forneceu informação importante sobre acordos colectivos de trabalho, compreendendo a sua génese, pepel e impacto a luz do emprego e rendimento em Moçambique. 
Pesquisa documental
Segundo ANDRADE (2006), a pesquisa documental é realizada em documentos conservados no interior de órgãos públicos e privados de qualquer natureza, ou com pessoas: registos, regulamentos, circular, ofícios, memorando, balancetes, fotografias, informações em disquetes e outro.
Neste trabalho, a pesquisa documental constitui na recolha de documentos fornecidos pelo Ministério do Trabalho e Emprego e Segurança Social.
Entrevista
Na visão de Andrade (2006), a entrevista é um procedimento no qual você faz perguntas a alguém, oralmente, lhe responde. Para este trabalho, foram realizadas entrevistas semiestruturadas no Ministério de Trabalho, Emprego e Segurança Social, OTM- Central Sindial visto que são os actores fundamentais que lidam com o tema em análise. 
 
REVISAO DA LITERATURA 
Este capítulo destina-se a apresentação dos principais conceitos a serem aplicados para compreender com maior profundidade o caso de estudo e o quadro teórico, bem como a revisão da literatura. Neste sentido, o conceito chave é acordo colectivo de trabalho e convenção colectiva de trabalho.
 Definição de Conceitos
Acordo Coletivo de Trabalho
O acordo coletivo de trabalho é um acto jurídico celebrado entre uma entidade sindical laboral e uma ou mais empresas correspondentes, no qual se estabelecem regras na relação trabalhista existente entre ambas as partes (NASCIMENTO, 2003, p. 588).
Conforme explica Nascimento (200, p.589) as negociações em nível de empresa resultam acordos coletivos cujo âmbito de aplicação é menor; é a empresa ou as empresas que participaram da negociação, ou seja, são os pactos entre uma ou mais empresas com o sindicato da categoria profissional, em que são estabelecidas condições de trabalho, aplicáveis a essas empresas.
Acordos coletivos de trabalho são ajustes entre o sindicato dos trabalhadores e uma ou mais empresa. Não se aplicam a todas as categorias, mas só à (s) empresa (s) estipulante (s).
Neste diapasão, acordos coletivos envolvem apenas o pessoal da empresa que o fez com o sindicato dos trabalhadores e seus efeitos alcançam somente os empregados que estipularam o acordo, não tendo efeito sobre toda a categoria. Em síntese, Acordo Coletivo de Trabalho  (ACT) é um acordo firmado entre a entidade sindical dos trabalhadores e uma determinada empresa.
CONVENÇÃO COLETIVA
A Convenção Coletiva de Trabalho é um acordo de caráter normativo (gera obrigações entre as partes) assinado entre o Sindicato dos Trabalhadores (empregados) e o Sindicato da Categoria Econômica (empregadores), obrigando todas as pessoas que compõem a base territorial dos respectivos sindicatos (NASCIMENTO, p. 587).
A Recomendação 91 da OIT, de 1951, define a convenção coletiva como “todo acordo escrito relativo às condições de trabalho e de emprego, celebrado entre um empregador, um grupo de empregadores, de um lado, e, de outro, uma ou várias organizações representativas de trabalhadores, ou, na falta dessas organizações, representantes dos trabalhadores interessados por eles devidamente eleitos e credenciados, de acordo com a legislação nacional”.
Outra característica da convenção coletiva é a de produzir efeitos não só para as partes que a subscrevem mas também para terceiros. Entre os diversos aspectos importantes da convenção coletiva, podemos destacar os seguintes:
Permite ao empregado influir nas condições de trabalho, tornando-as bilaterais;
Atenua o choque social e reforça a solidariedade do operariado;
É uma autêntica fonte do direto do trabalho, com vantagem de não estar atrelada aos inconvenientes da lentidão legislativa, o que redunda em possibilidade de edição célere de novas regras entre os atores sociais;
É uma tentativa nobre de reabilitar a dignidade humana, aviltada pelo individualismo jurídico.
Diferenças entre o acordo colectivo de trabalho e convenção colectiva do trabalho
Segundo Gomes (1998, p. 8) acordo Coletivo de Trabalho  (ACT) é um acordo firmado entre a entidade sindical dos trabalhadores e uma determinada empresa. Já a Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) é um acordo celebrado entre dois sindicatos, ou seja, é um acordo feito entre sindicato dos trabalhadores e o sindicato patronal.
Não existe hierarquia entre esses acordos. A ACT regula as relações de trabalho entre os empregados de uma empresa. A CCT regula as relações de trabalho de todos os trabalhadores de uma determinada categoria de umadeterminada região (GOMES, 1998, p.8).
Na Convenção Coletiva, o acordo é celebrado entre sindicatos, enquanto no Acordo coletivo, as obrigações são contraídas entre Sindicato dos Trabalhadores e uma ou mais empresas.
Óbvio que os termos da Convenção Coletiva irá obrigar todos os trabalhadores e empresas que compõem a base territorial do sindicato que os representou. Por outro lado, o Acordo Coletivo somente irá obrigar o Sindicato dos Trabalhadores e as empresas envolvidas (GOMES, 1998, p.9).
 A GÉNESE DO ACORDO COLECTIVO DO TRABALHO
Segundo Martins (2002, p. 30) O acordo colectivo de trabalho nasceu na Europa e Estados Unidos e desde o início trouxe vantagens para os convenientes, tais como:
Para o empregador era uma forma de negociação pacífica, sem perigos de ocorrência de greves;
Para o empregado era o reconhecimento, pelo empregador, da legitimidade e representatividade do sindicato nas negociações, com a consequente conquista de novos direitos para os trabalhadores;
Para o Estado era uma forma de não interferência, em que as próprias partes buscavam a solução de seus conflitos, culminando com um instrumento de paz social.
Evolução histórica no âmbito internacional
No plano social, o liberalismo clássico defendia o que se denomina de equilíbrio do mercado de trabalho, acreditando que, em situação de desemprego, ocorre a concorrência entre trabalhadores para obter colocação junto aos poucos postos de trabalho existentes, razão pela qual os salários tendem a diminuir. E assim ocorrendo, os empregadores podem contratar mais trabalhadores de forma que o mercado se ajusta por si mesmo. “ Mas essa ilusão do equilíbrio do mercado de trabalho foi desfeita pela história. O pleno emprego comprovou-se uma quimera jamais alcançada pelo liberalismo clássico”. Para os adeptos do movimento liberal o lema era “Nada de associação”, defendendo a ideia de que o agrupamento do homem em associações era prejudicial à sua liberdade. Assim, o acordo coletivo de trabalho era proibido através da interdição geral de quaisquer coligações destinadas a regular coletivamente as condições de trabalho, as quais eram criminalmente punidas.[1: SILVA, Reinaldo Pereira. O mercado do Trabalho Humano: a Globalização Económica, as políticas neoliberais e a flexibilidade dos direitos sociais no Brasil. São Paulo: LTR, 1998.]
As condições de trabalho eram precárias e chegaram ao caos, já que nenhuma atenção era dada à questão social. Os serviços eram realizados em péssimas condições, as horas de trabalho arrastavam-se de 12-16 horas diárias, o trabalho dos menores e das mulheres foi extremamente explorado, e os salários eram miseráveis.Isso levou a ocorrência de lutas entre o proletariado e a burguesia, algumas vezes levada ao extremo da violência e das barricadas, visando ao atendimento de reivindicações e sua solução por meio dos acordos coletivos de curta duração que, passaram a ser tolerados ainda que não lhe fosse reconhecida a eficácia jurídica, sendo visto como um mero acordo de cavalheiros celebrado entre os trabalhadores e o empregador com uma mera vinculação moral ou social, dependendo o seu cumprimento, sempre, da correlação entre as forças existentes (negociantes). [2: SUSSEKIND, Arnaldo et. al. Instituições de Direito do trabalho. 19ª. ed. São Paulo: LTR, 2000.][3: Idem.]
Nesse contexto, a partir do fim da 1ª Guerra Mundial, ocorre o fortalecimento das leis de proteção ao trabalho e cria-se a Organização Internacional do Trabalho (OIT), que tinha como objetivos primordiais a fixação da jornada de trabalho e de um salário mínimo, impondo-se, também, a igualdade de salário para trabalho igual, sem distinção de sexo.[4: FERREIRA Cristiane Carvalho Burci. O Papel Do Estado Nas Novas Relações De Trabalho Surgidas A Partir Da Globalização E Do Avanço Tecnológico. Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Direito da Faculdade de Direito – Universidade de Marília, como exigência parcial para obtenção do grau de Mestre em Direito. UNIVERSIDADE DE MARÍLIA – UNIMAR, 2006.]
Os conflitos entre trabalhadores e empregadores eram, até então, regulados localmente. O não cumprimento dos resultados desses acordos conduziu ao desenvolvimento do movimento operário onde o Estado é chamado a intervir nas relações laborais como ator estratégico e passa a ser depositário de uma missão mais importante. 
Com o intervencionismo, o Estado passa a regular as relações de trabalho, reconhecendo direitos aos trabalhadores e inserindo-os no ordenamento jurídico, com o objetivo de dar equilíbrio a esta relação, onde as partes se apresentam, essencialmente, em situação de desigualdade não só económica como pela questão da subordinação, além de outros aspectos. Com a intervenção do Estado nas relações de trabalho através da regulação, viabiliza-se a valorização do trabalho e a não sobreposição do capital em relação ao homem. É apenas a partir desse período, que vem sendo reconhecido a eficácia jurídica do acordo coletivo de trabalho passando, este, a ser visto como um contracto de Direito Privado celebrado entre os trabalhadores e empregadores e, a constituir uma obrigação com ambas partes, (Leitão, 2010).
Tão veloz foi a revolução pela qual o operariado passou de uma posição fraca para uma forte, que nos anos 70 se fez sentir uma reação política pois crescia o receio de que os sindicatos se tivessem tornado poderosos demais com a intervenção estatal, reivindicavam altos salários e exerciam fortes pressões sobre o Estado, obrigando-o a aumentar cada vez mais os gastos sociais, o que levou com que no plano político-económico se visualizasse o advento do neoliberalismo como expressão da redefinição do papel do Estado.[5: ROBERSON, Ross M. História da Economia Americana. Rio de Janeiro: Distribuidora Record, 1967.]
Os defensores das teses neoliberais afirmavam que a essência da crise do pós-guerra localizava-se no nefasto poder dos sindicatos e do movimento operário em geral. Desta feita, a maneira de conter a crise era acabando com o poder dos sindicatos e diminuindo os gastos sociais do Estado. A nova postura sindical passou a ser muito mais moderada.[6: SUSSEKIND, Arnaldo et. al. Instituições de Direito do trabalho. 19ª. ed. São Paulo: LTR, 2000.]
Em suma, segundo Nascimento (2004), os acordos coletivos de trabalho desenvolveram-se em dois períodos, na fase contractual subsequente às primeiras conquistas das classes trabalhadoras por meio de greves, sabotagens e acções coletivas contra os empregadores, surgindo como instrumento de pacificação espontânea, fruto do próprio meio económico – profissional, e em uma fase regulamentar, caracterizado pelas sucessivas leis estatais visando incorporar e consolidar os acordos coletivos de trabalho no ordenamento jurídico. 
Evolução histórica no âmbito Moçambicano 
No contexto Moçambicano, após a independência, o salário mínimo era determinado com base no sistema de taxa única nacional, unilateralmente pelo Governo à luz do Decreto 7/80, devido a vigência de um Estado Marxista-Leninista (consagrado na Constituição de 1975), caraterizado por um alto intervencionismo no âmbito económico, um excessivo protecionismo dos interesses dos trabalhadores e uma visão do empregador como um explorador ou opressor, neste sentido, não havia espaço para uma negociação coletiva de trabalho (OTM-CS, 2019).
Com a queda da economia centralmente planificada, o poder excessivo que a voz dos trabalhadores tinha começa a reduzir e dá-se passos largos para o advento da negociação coletiva que efetivou-se com a aprovação do Decreto 39/90 à luz da Constituição de 1990. O Decreto supracitado introduziu o princípio da negociação coletiva objetivando fazer com que tanto o patronato assim como o trabalhador passem a estar numa situação de igualdade diante do Estado e que os seus conflitos passem a ser regulados na forma de acordos coletivos de trabalho, formando-se assim a Comissão Consultiva de Trabalho e a fixação dos salários passou a ser tripartido (Governo, Empregadores e Representantes dos trabalhadores)mas continuava a predominar o sistema de taxa única.[7: Disponível em: www.speed-program.com/blogs/by-author/domingos-mazivila/o-salario-minimo-produtividade-e-a-criacao-do-emprego-em-mocambique-situacao-e-perspectivas. Acesso em 28 de Abril de 2017.]
Até certo ponto, isso punha em prática o princípio da equidade na medida em que tirava-se um pouco dos sectores mais produtivos para os menos produtivos, mas causava um desincentivo aos sectores mais produtivos, porque não se preocupava com as particularidades de cada sector. Entretanto, com a evolução económica e a complexidade do salário mínimo e suas repercussões no emprego, na inflação, na pobreza e nos demais indicadores, considerou-se pertinente a adopção de um sistema mais aconselhável com vista a reduzir os efeitos negativos para os beneficiários e para a economia no geral. Assim, desde 2008, vigora o sistema sectorial que tem como base a fixação do salário em função da produtividade de cada sector [Fonte oral].[8: Florenço Quietane – Chefe do Gabinete do Secretário-Geral da OTM-Central Sindical e formador de Relações Laborais.]
 O PAPEL DOS ACORDOS COLECTIVOS DE TRABALHO A LUZ DO EMPREGO E RENDIMENTO EM MOÇAMBIQUE
Os instrumentos de regulamentação colectiva de trabalho constituem uma ferramenta importante do exercício da liberdade sindical e da defesa dos interesses e direitos dos trabalhadores no País.
Assim, através do acordo colectivo do trabalho é possível regular os conflitos laborais, pois estarão definidas as normas que regulam as relações entre os trabalhadores e a entidade empregadora, os direitos e deveres recíprocos das partes, bem como as formas e mecanismos de resolução de conflitos laborais.[9: MATANUSCA MOZAMBIQUE Lda - 2016]
Nesta senda, o Comité Sindicai assume um papel importante como representante dos trabalhadores com legitimidade para negociar e assinar os instrumentos de regulamentação colectiva ao nível das empresas.[10: Idem]
De acordo com Uqueio & Langa (2016, p. 17) Os acordos Colectivos visam o estabelecimento de contractos de grupos entre os trabalhadores e as empresas. A Constituição e a Lei do Trabalho garantem a liberdade de associação e permitem que os trabalhadores se juntem e formem sindicatos. Esse direito é regulado pelo Código do Trabalho (Lei do Trabalho de 2007 e artigo 86 da Constituição da República de Moçambique).
No sistema de Direito de Trabalho em Moçambique, a regulamentação coletiva ocupa um lugar proeminente, sendo que os acordos coletivos de trabalho desempenham o seguinte papel [fonte oral]:[11: Florenço Quietane (Chefe do Gabinete do Secretário-Geral da OTM-Central Sindical e formador de Relações Laborais) e Pedro Baltazar (Representante da CTA na Comissão Consultiva do Trabalho).]
Redução a conflitualidade no local de trabalho: permite a resolução dos conflitos laborais de forma pacífica através do diálogo, recorrendo à greve em última instância.
Aproximação entre o patronato e os trabalhadores: torna as partes cooperadoras sociais, na medida em que há uma abertura de espaço para que cada interveniente exponha as suas necessidades.
Vinculação das relações laborais: uma vez recorrida a negociação, os sujeitos da relação (sindicatos e associações empresariais ou empresas) comprometem-se a determinadas obrigações no intuito de assegurarem efetivamente o pactuado, através de condições de estabilidade e fornecimento de meios para a solução de conflitos decorrentes da aplicação ou interpretação do que foi contratado.
Arrola os novos direitos e obrigações das partes: a negociação coletiva não se limita nos aspectos constantes da Lei do Trabalho, ela caracteriza-se pela barganha de novos aspectos que servirão de apêndice à Lei do Trabalho em vigor. Isto significa que é através dos acordos coletivos de trabalho que são determinados as novas condições de trabalho assim como a fixação do salário mínimo a que os trabalhadores e o patronato estarão sujeitos. 
Garante a paz laboral: as partes negociadoras se sentem envolvidas na solução dos seus próprios problemas o que proporciona a motivação de todos e, consequentemente verifica-se uma paz laboral e o aumento da produtividade.
Estabilidade dos empregos em resultado de bons acordos coletivos: quando os acordos são firmados levando em conta as especificidades do contexto económico, político e social assim como as necessidades dos trabalhadores e do patronato contribuem para a geração de mais postos de trabalho e quando isso não se verifica podem levar ao aumento do desemprego. 
No âmbito dos salários mínimos, os acordos coletivos têm o papel de garantir a reposição da parte do salário que foi corroído pela inflação e outros factores no ano transato de modo a recuperar o poder de compra dos trabalhadores; Garantir que haja uma tendência de evolução dos salários mínimos anualmente ou se mantenham e não um decréscimo; e, fundamentalmente, garantir a satisfação das necessidades básicas do trabalhador.
Portanto, a legislação moçambicana apresenta abertura para o estabelecimento de acordos colectivos de trabalho por via de organizações sindicais. Assim, vários acordos colectivos têm sido alcançados por via sindical, não na negociação salarial como também de outras condições de trabalho, tais como compensações extrapecuniárias (alimentação, transporte, bónus diversos, resolução de potenciais conflitos, entre outros). Isto mostra que os acordos colectivos de trabalho têm considerável importância nas relações laborais do país (UQUEIO & LANGA, 2016, p. 18)
Regime da negociação colectiva
Conforme como estabelece a subsecção I, do artigo 164 da lei do trabalho, os instrumentos de regulamentação colectiva têm por objecto o estabelecimento e a estabilização das relações colectivas de trabalho e regulam, nomeadamente: Os direitos e deveres recíprocos dos trabalhadores e dos empregadores vinculados por contratos individuais de trabalho; O modo de resolução dos conflitos emergentes da sua celebração ou revisão, bem como o respectivo processo de extensão. Dentro dos limites estabelecidos por lei, as partes podem fixar, livremente, o conteúdo dos respectivos instrumentos de regulamentação colectiva de trabalho, que não devem instituir regimes menos favoráveis para os trabalhadores ou limitar os poderes de direcção do empregador.
O principio de boa-fé nesse processo estabelecido no artigo 165 da lei do trabalho rege que:
"O empregador ou a sua associação ou o organismo sindical obriga-se a respeitar, no processo de negociação de instrumentos de regulamentação colectiva de trabalho, o princípio da boa-fé, nomeadamente, fornecendo à contraparte a informação necessária, credível e adequada ao bom andamento das negociações, e não pondo em causa as matérias já acordadas. Os empregadores e os organismos sindicais estão sujeitos ao dever de sigilo relativamente às informações recebidas sob reserva de confidencialidade. Sem prejuízo do disposto no número anterior, é reservado aos organismos sindicais o direito de prestar informações sobre o andamento das negociações aos seus associados e aos órgãos sindicais de nível superior".
As normas estabelecidas nos instrumentos de regulamentação colectiva de trabalho não podem ser afastadas pelos contratos individuais de trabalho, salvo quando estes prevejam condições de trabalho mais favoráveis aos trabalhadores.
 IMPACTO DOS ACORDOS COLECTIVOS DE TRABALHO A LUZ DO EMPREGO E RENDIMENTO
Os acordos coletivos de Trabalho têm um impacto positivo a luz do emprego, pois tem o intuito de melhorar as condições de trabalho e emprego e a qualidade de vida dos trabalhadores.
O acordo coletivo de trabalho é um contrato jurídico nascido a partir da negociação entre patrões e sindicatos. Em termos práticos, serve para regular as condições laborais de todo um setor de atividade, estabelecendo as condições de trabalho comuns das empresas que integram uma mesma área ou setor de atividade económica: indústria, comércio, educação, entre outros (DELGADO, 2010, p. 45).
O acordo coletivo de trabalho é uma ferramenta que protegeos direitos dos trabalhadores, levando-os mesmo à conquista de novos direitos para si, uma vez que leva ao reconhecimento, por parte empregador, da legitimidade e representatividade do sindicato nas negociações (Martins, 2011, p. 54).
Mas é no que toca ao despedimento e aos salários que o acordo coletivo de trabalho assume a sua maior importância, ao tornar mais difícil para uma empresa conseguir enfraquecer os direitos dos trabalhadores, se estes estiverem ao abrigo de um contrato coletivo.
Um grupo de trabalhadores tem mais voz e poderá ver as suas reivindicações atendidas mais facilmente se estiver ao abrigo de um acordo coletivo de trabalho
Para os empregadores, os acordos coletivos de trabalho é uma forma de negociação pacífica, que elimina a ocorrência de greves por parte dos funcionários.
Para o Estado, o acordo coletivo de trabalho representa uma forma de evitar a sua intervenção, já que através dele as próprias partes encontram a solução dos seus problemas, culminando num instrumento de paz social.
Segundo Nascimento (2003, p. 589) Os efeitos de um acordo coletivo de trabalho limitam-se apenas às empresas que assinam o acordo e seus empregados respetivos. É através deste tipo de acordo que são negociadas cláusulas de natureza económica e social do contrato. O conteúdo destas poderá incluir, por exemplo:
Reajustes de salário;
Valor do adicional de horas extra;
Duração da jornada de trabalho;
Estabilidades temporárias.
Evidências do impacto do acordo colectivo de trabalho em Moçambique pode ser descrito a partir do quadro a baixo que demostra a Mediação e arbitragem laboral por resultados segundo cada província do país, explicando os acordos e impasses a luz do emprego e Rendimento. 
Quadro 1: Mediação e arbitragem laboral por resultados segundo província, 2015/2016
	Província
	Resultados
	2015
	%
	2016
	País 
	Total
	7 246
	100.0
	1 755
	
	Com acordo
	5 924 
	81.8
	1 455
	
	Impasse 
	1 322
	18.2
	300
	Niassa
	Total
	226 
	3. 1
	52
	
	Com acordo 
	198 
	2.7
	44
	
	Impasse 
	28 
	0.4
	8
	Cabo Delgado
	Total 
	138 
	1.9
	52
	
	Com acordo 
	127 
	1.8
	44
	
	Impasse 
	11 
	0.2
	8
	Nampula
	Total 
	1 268
	17.2
	248
	
	Com acordo 
	956
	13.2
	177
	
	Impasse
	312
	4.3
	71
	Zambézia
	Total 
	308 
	4.3
	84
	
	Com acordo.
	288 
	4.0
	70
	
	Impasse 
	20 
	0.3
	14
	Tete
	Total 
	443 
	6.1
	115
	
	Com acordo 
	382 
	5.3
	87
	
	Impasse 
	61 
	0.8
	28
	Manica
	Total 
	577 
	8.0
	146
	
	Com acordo 
	522 
	7.2
	123
	
	Impasse 
	55 
	0.8
	23
	Sofala
	Total 
	872 
	12.0
	208
	
	Com acordo 
	774 
	10.7
	184
	
	Impasse 
	98
	1.4
	24
	Inhambane
	Total 
	193 
	2.7
	61
	
	Com acordo
	151
	2.1
	50
	
	Impasse
	42
	0.6
	11
	Gaza
	Total 
	355 
	4.9
	81
	
	Com acordo 
	329 
	4.5
	69
	
	Impasse 
	26 
	0.4
	12
	Maputo Província
	Total 
	938 
	12.9
	324
	
	Com acordo 
	742 
	10.2
	274
	
	Impasse 
	196 
	2.7
	50
	Maputo Cidade
	Total 
	1 928 
	26.6
	384
	
	Com acordo 
	1 455 
	20.1
	333
	
	Impasse 
	473 
	6.5
	51
Fonte: COMAL, 2016 apud Ministério do Trabalho, Emprego e Segurança Social (2016, p. 2016).
Uma breve leitura do quadro acima, no que se refere à resolução de conflitos laborais, atraves do acordo colectivo de trabalho, percebe-se que comparativamente ao período homólogo de 2015 registou-se um aumento na ordem de 10,0% de casos mediados e de 13,6% nos acordos, um indicativo de que maior parte dos casos mediados foi resolvida. Com a intervenção da mediação laboral no 1.º Trimestre de 2015 foram reconduzidos para seus postos de emprego 212 trabalhadores contra 152 em igual período de 2016. O sector de prestação de serviços foi o que registou mais casos mediados.
CONCLUSÃO
De forma a estabelecer as considerações finais e tirar as principais ilações do trabalho, é pertinente recordar que o trabalho comprometeu-se a estudar “Acordos Colectivos de Trabalho”, no âmbito de uma análise sobre a sua génese, papel e impacto a luz do emprego rendimento em Moçambique.
Da análise e discussão dos dados e revisão da literatura efectuada sobre o tema, chegou-se as seguintes ilações: (i) Quando se fala de Acordos colectivos de Trabalho, trata-se do acordo firmado entre empregados e empregadores de modo escrito e que será dirigido ao sindicato da categoria. O sindicato por sua vez deverá iniciar as negociações.
Esse Acordo depende da assembléia geral, onde os trabalhadores apresentarão seu voto. Essa votação poderá acontecer em qualquer lugar, inclusive no local de trabalho, com ou sem a participação do sindicato dos empregados.
Desta forma, tem-se que o objetivo do Acordo Coletivo de Trabalho é a concretização de melhores condições para o exercício da atividade laboral, sendo que pode, desde que não afronte as normas trabalhistas, estipular regras que garantam uma prestação de serviços mais harmoniosa, tanto em favor do empregado como dos empregadores. (ii) No que tange a sua génese o acordo colectivo de trabalho surge na Europa e nos Estados Unidos de América atendendo e considerando para a empresa sendo uma maneira de negociar tranquilamente, sem risco ou incidência de greves; Para o funcionário servindo como reconhecimento, pelo empregador, da influência e da presença do sindicato nas negociações. Além de contar com a chegada de novos benefícios para os trabalhadores; e para o governo regional era um jeito de não interferir, quando os próprios envolvidos procuravam pela resolução de suas pendências, sendo considerada uma manifestação de entendimento social. 
(iii) Os acordos colectivos de trabalho têm um papel fundamental a luz do emprego e rendimento na medida em que esses têm por objecto o estabelecimento e a estabilização das relações colectivas de trabalho e regulam, nomeadamente: Os direitos e deveres recíprocos dos trabalhadores e dos empregadores vinculados por contratos individuais de trabalho; O modo de resolução dos conflitos emergentes da sua celebração ou revisão, bem como o respectivo processo de extensão. 
Os acordos colectivos de Trabalho são imprescindíveis visto que, tem o condão de garantir aos interessados na relação de emprego um melhor aproveitamento e uma melhor condição do trabalho prestado. A participação sindical na negociação coletiva, possui papel de extrema importância, como para concertação política, quando a negociação tem por objetivo o alcance de alianças de poderes; tem ainda finalidade pacificadora, na existência de divergências de interpretação de determinada lei ou norma coletiva; tem função social, ao proporcionar o sentimento de pacificação com a obtenção de acordos de grupos organizados dentre outros. 
(iv) Quanto ao seu impacto, o acordo colectivo de Trabalho, quando bem-sucedido, faz com que as partes negociais obtenham harmonia, ela se transforma em um diploma normativo que se torna apto a reger as relações de trabalho no âmbito individual. Mas é no que toca ao despedimento e aos salários que o acordo coletivo de trabalho assume a sua maior importância, ao tornar mais difícil para uma empresa conseguir enfraquecer os direitos dos trabalhadores, se estes estiverem ao abrigo de um contrato coletivo.
Portanto, constatou-se que a resolução extrajudicial de conflitos laborais revelou uma eficácia na resolução de casos entrados, registando um aumento nos acordos, o que tem contribuído para a melhoria da gestão de conflitos no local do trabalho e consequentemente melhoria em torno do emprego e rendimento.
BIBLIOGRAFIA
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UQUEIO, Teodato de Alegria Pinto; LANGA, Domingos Júlio. Estudo sobre salários em moçambique - salary survey. Maputo, 2016 
ANEXOS 
 Lista dos entrevistados
Alimo Andrade: Ministério do Trabalho, Emprego e Segurança Social: Técnico da Direcção dos Recursos Humanos.
Florenço Quietane – Chefe do Gabinete do Secretário-Geral da OTM-Central Sindical e Formador de Relações Laborais.
Pedro Baltazar - Representante da CTA na Comissão Consultiva do Trabalho.
Moisés Zanova Langa: OTM- Central Sindical: Chefe do sector dos assuntos jurídicos e sociais.
ANEXO B: Guião de entrevista 
Universidade Eduardo Mondlane, Faculdade de Letras e Ciências Sociais, Departamento de Ciências Politicas e Administração Publica. O 15° grupo do curso de Administração Pública, do 4° ano, realiza um trabalho do âmbito académico com o Tema: Os Acordos Colectivos de Trabalho: Génese, papel e seu impacto a luz do emprego e rendimento em Moçambique. Querendo recolher informações para esclarecimento do mesmo tema, o grupo realizará entrevistas nas seguintes instituições nomeadamente: Ministério do Trabalho Emprego e Segurança Social; OTM- Central Sindical. Porém, a seguir apresentamos o guião de entrevista que esperamos e agradecemos o esclarecimento do mesmo.
O que é Acordo Colectivo de trabalho?
Qual é a sua gênese em Moçambique?
Qual é o seu papel a luz do emprego e Rendimento em Moçambique?
Quais são os actores envolvidos no acordo colectivo de Trabalho?
Qual é o impacto do acordo colectivo do trabalho a luz do emprego e rendimento?
Quantos casos de conflitos resolvidos com base no acordo Colectivo de trabalho?

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