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Capítulo 19 Dilatação térmica Prof. José Luiz Fernandes Foureaux Versão para impressão Apresentação As dimensões geométricas de um corpo variam com a temperatura! Seria razoável esperar que isso acontecesse? Porque o tamanho de um corpo dependeria da temperatura? Nunca observamos o tamanho dos objetos que nos cercam variar quando a temperatura varia. Faz mesmo sentido afirmar que o tamanho de um corpo depende da temperatura? Dois experimentos clássicos da Física, Pirômetro de quadrante e Anel de Gravesande demonstram, sem sombra de dúvidas, essa dependência. Você pode assistir vídeos que mostram esses dois experimentos em Pirômetro de quadrante – https://www.youtube.com/watch?v=TDnLbjd429M Anel de Gravesande – https://www.youtube.com/watch?v=hX2Y2IDjuGI Essa variação não está limitada aos sólidos. O volume de líquidos e gases também varia com a temperatura, como mostram os vídeos indicados abaixo: Variação do volume de um líquido https://www.youtube.com/watch?v=ISV2L_LQzYc Variação do volume de um gás: https://www.youtube.com/watch?v=rfmkq4nttKc A explicação dessa variação é dada pela Teoria Atômica. Numa determinada temperatura as partículas que constituem qualquer corpo estão oscilando em torno de uma posição de equilíbrio. Se a temperatura aumenta, a amplitude da oscilação aumenta. Isso acarreta um afastamento das posições de equilíbrio, o que faz com que o tamanho do corpo aumente. Se a temperatura diminui, a amplitude de oscilação diminui, e as posições de equilíbrio ficam mais próximas. Essa variação das dimensões geométricas com a temperatura é chamada Dilatação Térmica, e é dela que vamos tratar neste capítulo. Abordaremos também algumas de suas importantíssimas aplicações e consequências. Objetivos específicos Ao terminar o estudo deste capítulo você deverá ser capaz de: 1. Descrever demonstrações experimentais que comprovam que a. Sólidos b. Líquidos c. Gases se dilatam com a temperatura; 2. Explicar a dilatação térmica pela Teoria Atômica; 3. Definir a. Dilatação linear b. Dilatação superficial c. Dilatação volumétrica 4. Citar exemplos práticos que correspondam aos três tipos de dilatação térmica definidos 5. Descrever como a. O comprimento inicial / a área inicial / o volume inicial b. A variação de temperatura afetam a dilatação linear / superficial / volumétrica 6. Descrever experimentos que demonstrem que materiais diferentes sofrem dilatações diferentes 7. Definir a. Coeficiente de dilatação linear b. Coeficiente de dilatação superficial c. Coeficiente de dilatação volumétrica 8. Citar a unidade SI do a. Coeficiente de dilatação linear b. Coeficiente de dilatação superficial c. Coeficiente de dilatação volumétrica 9. Citar a equação da dilatação linear / dilatação superficial / dilatação volumétrica 10. Citar a relação matemática entre a. Coeficiente de dilatação superficial e coeficiente de dilatação linear b. Coeficiente de dilatação volumétrica e coeficiente de dilatação linear 11. Resolver problemas de a. Dilatação linear b. Dilatação superficial c. Dilatação volumétrica 12. Explicar como um furo numa placa se comporta quando a temperatura da placa varia 13. Diferenciar material isotrópico de anisotrópico 14. Explicar como um material anisotrópico de comporta em relação à dilatação térmica 15. Explicar o que se entende por dilatação aparente de líquidos 16. Descrever demonstrações experimentais que comprovam que líquidos diferentes sofrem dilatações diferentes 17. Definir coeficiente de dilatação a. Real b. Aparente de um líquido 18. Citar a equação de correção do coeficiente de dilatação de um líquido 19. Resolver problemas de dilatação de líquidos; 20. Explicar porque a densidade de um material varia com a temperatura 21. Calcular a nova densidade de um material que sofreu uma variação de temperatura. 22. Explicar o efeito da variação da densidade com a temperatura: a. Na circulação dos ventos b. Nas correntes marítimas c. Na movimentação das placas tectônicas d. No funcionamento do termo sifão e. No funcionamento das chaminés 23. Descrever como a água se comporta em relação à dilatação 24. Explicar a causa do comportamento anômalo da água em relação à dilatação 25. Descrever consequências do comportamento anômalo da água em relação à dilatação 26. Descrever a constituição e o funcionamento de uma lâmina bi metálica 27. Calcular o raio de curvatura de uma lâmina bi metálica que sofre certa variação de temperatura 28. Citar aplicações da lâmina bi metálica 29. Explicar a. O que são tensões térmicas b. Qual a causa das tensões térmicas c. As consequências que as tensões térmicas acarretam. 30. Calcular a tensão térmica a que fica submetido um material que sofre certa variação de temperatura Pré requisitos Antes de iniciar o estudo deste capítulo você deverá ser capaz de lidar com os seguintes assuntos: • Capítulo 2: Medidas e unidades • Capítulo 4: Notação de potências de 10 • Capítulo 18: Termometria • Noções de Teoria atômica da matéria • Densidade Dilatação de sólidos Tipos de dilatação Todos os corpos têm 3 dimensões. Quando a temperatura de um sólido varia, as 3 dimensões variam. Para facilitar o estudo costuma-se adotar uma abordagem gradual, examinando inicialmente a dilatação em uma única dimensão, e depois generalizando para 2 e 3 dimensões. Por isso se fala em: dilatação linear – considera-se apenas1 dimensão dilatação superficial – consideram-se 2 dimensões dilatação volumétrica – as 3 dimensões são levadas em consideração Dilatação linear Dilatação térmica considerada em 1 dimensão. Uma situação que na prática se aproxima disso é um fio fino, cuja espessura é desprezível quando comparada com o comprimento – podemos considerar que o fio só tem uma dimensão: o comprimento. Experimentalmente se observa que a dilatação “ΔL: É proporcional ao comprimento inicial 𝑳𝟎: ∆𝐿 ∝ 𝐿0 É proporcional à variação de temperatura 𝜟𝒕: ∆𝐿 ∝ ∆𝑡 Consequentemente a dilatação térmica é proporcional ao produto das duas grandezas: ∆𝐿 ∝ 𝐿0. ∆𝑡 Numa proporção, se dividimos o primeiro membro pelo segundo obtemos a constante de proporcionalidade: L0 L ΔL t0 t0+Δt tL L tLL 0 0 A constante de proporcionalidade “α” é chamada coeficiente de dilatação linear do material que constitui o fio. Experimentalmente se observa que materiais diferentes, mesmo tendo mesmo comprimento inicial e sofrendo a mesma variação de temperatura, sofrem dilatações diferentes, ou seja, têm coeficientes de dilatação linear diferentes. Material (x10-6 ºC-1) Alumínio 24 Cobre 17 Vidro (comum) 9 Vidro (pirex) 3,2 Concreto 12 Fisicamente, o valor do coeficiente de dilatação linear representa a dilatação que um fio de 1 metro de comprimento feito daquele material irá sofrer quando sua temperatura variar de 1ºC. Equação da dilatação linear Retomando a equação que define o coeficiente de dilatação linear )1(0 00 00 0 0 tLL tLLL tLLL tLL tL L Essa equação relaciona 4 grandezas. Se 3 delas forem conhecidas podemos calcular a quarta. Dilatação superficial Quando a temperatura de uma placa varia, cada uma de suas dimensões sofre dilatação. O efeito resultante é que a área da placa varia. É a dilatação superficial. Cobre Alumínio (Equação 1) (Equação 2) Um pedaço de “papel alumínio” seria uma analogia adequada para um corpo que possui apenas 2 dimensões, ou seja, uma placa deespessura desprezível. Se a placa tiver um furo, este se dilata como se estivesse preenchido pelo material da placa. Isotropia e anisotropia Materiais isotrópicos (iso = igual; tropos = direção), como, por exemplo, o diamante (C) tem mesmo coeficiente de dilatação independentemente da direção. Materiais anisotrópicos (a = não; iso = igual; tropos = direção), por exemplo a calcita (CaCO3), tem coeficientes de dilatação diferentes em direções diferentes. Esse comportamento se deve a diferenças na estrutura atômico/molecular. Quando se estuda dilatação térmica em mais de uma dimensão é importante estar ciente dessa diferença. No nosso estudo consideraremos apenas materiais isotrópicos. Equações da dilatação superficial Definição do coeficiente de dilatação superficial: Equação da dilatação superficial: Relação entre α e β: Experimento A esfera não passa pelo furo da placa quando ambas estão à mesma temperatura. Aquecendo-se a placa a esfera passa, mostrando que o diâmetro do furo aumentou com o aumento de temperatura. Traça-se um círculo sobre o corpo. Ao ser aquecido o corpo se dilata. Se o material for isotrópico (esquerda) o círculo continua sendo um círculo; se o material for anisotrópico (direita) o círculo se transforma numa elipse – o eixo maior correspondendo ao maior coeficiente de dilatação. tA A 0 )1(0 tAA 𝛽 = 2𝛼 (Equação 3) (Equação 4) (Equação 5) Dilatação volumétrica É a dilatação térmica considerada em 3 dimensões. Exercícios 1. Um tubo de alumínio tem 3,000 m de comprimento a 20,0ºC. Qual será seu comprimento: a. A 100,0ºC? b. A 0,0ºC? dado: Al = 24 x 10-6ºC-1 2. Um furo quadrado de 8,00 cm de lado é cortado em uma placa de cobre. a. Calcule a mudança na área desse furo se a temperatura da placa for aumentada de 50,0K. b. Essa mudança representa um aumento ou uma diminuição na área incluída pelo furo? dado: Cu = 17 x 10-6ºC-1 3. A 20,0ºC um anel de alumínio tem um diâmetro interno de 5,000 cm e uma haste de bronze tem diâmetro de 5,050 cm. a. Se somente o anel for aquecido, que temperatura ele deve alcançar de forma que se encaixe sobre a haste? b. Se ambos forem aquecidos juntos, que temperatura eles devem alcançar para que o anel se encaixe na haste? Esse último processo funcionaria? dados: Al = 24 x 10-6ºC-1 bronze = 18 x 10-6ºC-1 4. Lê-se, a 28ºC, a distância de 87,2 cm entre dois pontos, numa régua de latão graduada a 8ºC. Qual é a distância real? dado: latão = 19 x 10-6ºC-1 5. Uma barra de metal mede 1,100 m a 0ºC. Essa barra é colocada num forno e, decorrido certo tempo, seu comprimento passa a 1,107 m. O coeficiente de dilatação do material é 12 x 10-6ºC-1. Determine a temperatura do forno. Dilatação de líquidos a b c a b c V V 3 )1(0 0 tVV tV V Definição do coeficiente de dilatação volumétrica Equação da dilatação volumétrica Relação com o coef. dilatação linear (Equação 6) (Equação 7) (Equação 8) Um líquido não tem forma própria. Para ser manipulado precisa estar contido num recipiente. Quando a temperatura varia, tanto o volume do líquido quanto a capacidade do recipiente variam. A variação da capacidade do recipiente esconde parte da dilatação do líquido, fazendo com que a dilatação observada do líquido seja menor que a dilatação verdadeira que o líquido sofreu. Por isso a dilatação observada é chamada dilatação aparente, indicada por ΔVa. Se pretendermos determinar o coeficiente de dilatação do líquido, e para isso utilizarmos a equação de definição tV V 0 com o ΔV observado, não conseguiremos o verdadeiro coeficiente de dilatação do líquido, mas apenas o coeficiente de dilatação aparente: tV Va a 0 Para obtermos a dilatação verdadeira do líquido (dilatação real) devemos somar a dilatação observada do líquido (dilatação aparente) com a dilatação do recipiente. A dilatação volumétrica de um corpo (ΔV) pode ser obtida da definição do coeficiente de dilatação tVV tV V 0 0 Para somarmos a dilatação aparente com a dilatação do recipiente devemos fazer: VaVV RL Volume inicial do líquido Volume inicial do recipiente Volume final do recipiente Dilatação aparente (observada) Parte da dilatação do líquido oculta pela dilatação do recipiente. (Equação 9) aRL aRL aRL tVtV tVtVtV )(00 000 Assim, o coeficiente de dilatação verdadeiro do liquido (γL) é igual à soma do coeficiente de dilatação do recipiente (γR) com o coeficiente de dilatação aparente (γa). Importante: Se um recipiente estiver completamente cheio de um líquido e for aquecido, líquido irá entornar. O motivo é que o líquido dilata mais que o recipiente. A quantidade de líquido que entorna é igual à dilatação aparente do líquido, pois o aumento de capacidade do recipiente consegue manter uma parte do aumento de volume do líquido sem entornar. Líquidos diferentes têm coeficientes de dilatação diferentes. A tabela abaixo mostra alguns exemplos. Observe que para os líquidos o coeficiente de dilatação é multiplicado por 10-4, e não por 10-6 como nos sólidos. Isso mostra que os líquidos dilatam bem mais que os sólidos. Líquido (x 10-4 ºC-1) Álcool etílico 1,12 Benzeno 1,24 Acetona 1,5 Glicerina 4,85 Mercúrio 1,82 Um vídeo que demonstra a diferença entre a dilatação da água e a do álcool pode ser visto em https://www.youtube.com/watch?v=ZotfjdfmhNg . Exercícios 6. O coeficiente de dilatação volumétrica médio do tetracloreto de carbono é 5,81 x 10-4ºC-1. Se um recipiente de aço ( = 11 x 10-6ºC-1) de 50 litros estiver completamente cheio de tetracloreto de carbono quando a temperatura for 10ºC, quanto de excesso derramará se a temperatura for elevada para 30ºC? 7. Um vendedor de gasolina recebe, em seu tanque, 2000 litros de gasolina à temperatura de 30ºC. O coeficiente de dilatação volumétrica da gasolina é 1,1 x 10-3ºC-1. Qual a perda em litros se toda a gasolina for vendida a 20ºC? (Equação 10)
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