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psicopatologia np1

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PSICOPATOLOGIA GERAL - NP1
3 GRANDES MOMENTOS DA LOUCURA (Foucauld):
(1) Sec. XV e Sec. XVI => ligação loucura com o Sagrado; Período de Liberdade; Loucura faz parte do cotidiano; algo de Divino (embarcações dos loucos); Arte: Bosch; Loucura com o enigma/atração; Loucura maneira de vivenciar o mundo.
(2) Sec. XVII e Sec. XVIII => Ligação Loucura/Desrazão; período da Grande Internação (não como hospital, mas numa estrutura semi-jurídica); Loucura se fixa no Hospital; pensamento moderno aprisiona a locura (poderes da Razão – Descartes 1596-1650); Loucura é privada do direito da verdade e do saber; a Preguiça é o pior vício. 
(3) Fim Sec. XVIII e Sec. XIX => Ligação Loucura-Doença (excluído da sociedade: hospital vira asilo psiquiátrico: manicômio); Asilo – valor terapêutico; loucura torna-se objeto da medicina; tratamento moral; qualquer desvio de conduta normal devia ser corrigido; tarefa: homogeneizar as diferenças; relação médico-paciente; controle e submissão.
Psicólogo => Desafio: aguentar que o outro possa ser ele mesmo (tem o direito a).
Freud => eu não sei; por isso é que eu preciso que você fale (o saber está no indivíduo, não no profissional de saúde).
NISE DA SILVEIRA + Comunidades Terapêuticas (Inglaterra) + Coletivo (França) + Reforma Psiquiátrica: fechamento total dos manicômios; revolução contra a exclusão que existia nas Comunidades Terapêuticas e no Coletivo (Itália – Triestre: Década de 1960 – Franco Basali). 
MOVIMENTOS DE RUPTURA:
(1) Inglaterra => Dec. 40, pós-guerra (necessidade de se ter um pensamento coletivo. Manicômios associados aos Campos de Concentração. Programa de Saúde – Assistência Comunitária. Psiquiatria Social (Maxwell Jones) e Comunidades Terapêuticas (Ambiente Terapêutico). Os antipsiquiatras – não aceitação dos movimentos autoritários. Descentralização da figura do médico. Organização Social, Democrática e Igualitária. 
(2) França => Dec. 40. Nova Psiquiatria. Nova forma de cuidado. No Coletivo. Havia um pensamento de que quem adoecia era a Instituição. Equipe Multiprofissional. Psicoterapia Institucional – Resposta Política. Defesa da Singularidade e democratização institucional.
(3) Itália => 1962. Franco Basaglia fecha o manicômio, tira o uniforme, trabalho em equipe. Olhar para a Singularidade. “É preciso colocar a doença entre parênteses para que o sujeito possa surgir”.
Filme: “Uma janela para a lua” => “Se nada toca você, nada o fará feliz”.
Freud => O delírio é uma tentativa de Cura”, é o ponto de partida.
Obs: A lingagem do Pscótico é diferente da do Neurótico.
Normal X Patológico
OMS => SAÚDE: “É o bem-estar bio-psico-soocial
Luta anti-manicomial => começou depois da Guerra (associação entre Campos de Concentração e Manicômios) e explodiu em TRIESTRE (Itália), com Pasaglia.
Proposta subversiva desta disciplina: FOCO NA PESSOA X Foco no Diagnóstico.
Hospital Psiquiátrico => Causa a doença da CRONICIDADE.
CRONOLOGIA DA SAÚDE MENTAL NO BRASIL:
(1) 1979-1980 => Denúncia (3 médicos residentes no RJ; se estendeu pelo Brasil) + MTSM (Movimento dos Trabalhadores da Saúde Mental).
(2) 1987 => Encontro em Bauru dos MTSM + 18 de maio: Dia Nacional da Luta Antimanicomial (vão do Masp) + virou MNLA (Movimento da Luta Antimanicomial; solgan: “Por uma sociedade sem manicômios”). 
(3) 1989 => Projeto de Lei (Deputado Paulo Delgado) + 1º Serviço: Santos (fechamento do Hospital Psiquiátrico + oferecimento de Serviços nessa área - Pioneiro).
(4) 1990 => Declaração de Caracas + Reforma Sanitária (Lei 880; sair da lógica do Hospital e ir para a “Prevenção e Promoção da Saúde”) + Implantação do SUS (Clínica preventiva e promoção da saúde).
(5) 1992 => Portaria 224/92: Implantação da Saúde Mental (antes da Lei de 2001 havia Portarias).
(6) 2001 => Ponto Culminante: Lei 10.216 + III Conferência Nacional de Saúde Mental (“Cuidar sim; Excluir não”) + Reformulação do modelo de atenção em Saúde Mental.
Obs: A partir da Lei 10.216 diminui a CRIATIVIDADE; ficamos BUROCRÁTICOS, preocupados em obedecer à lei.
(7) 2002 => Lei 336 + CAPS + Inverter a lógica: cai a internação; ênfase ao serviço substitutivo.
(8) 2011 => RAPS – Rede de Atenção Psicossocial: Conjunto de ações e serviços de saúde articulados em níveis de complexidade (Sai a ênfase no CAPS e vai para a Rede: exs.: Residências Terapêuticas)
DECLARAÇÃO DE CARACAS - 14 DE NOVEMBRO DE 1990.
Documento que marca as reformas na atenção à saúde mental nas Américas. 
As organizações, associações, autoridades de saúde, profissionais de saúde mental, legisladores e juristas reunidos na Conferência Regional para a Reestruturação da Assistência Psiquiátrica dentro dos Sistemas Locais de Saúde, 
(...)
DECLARAM 
1. Que a reestruturação da assistência psiquiátrica ligada ao Atendimento Primário da Saúde, no quadro dos Sistemas Locais de Saúde, permite a promoção de modelos alternativos, centrados na comunidade e dentro de suas redes sociais; 2. Que a reestruturação da assistência psiquiátrica na região implica em revisão crítica do papel hegemônico e centralizador do hospital psiquiátrico na prestação de serviços; 3. Que os recursos, cuidados e tratamentos dados devem: a) salvaguardar, invariavelmente, a dignidade pessoal e os direitos humanos e civis; b) estar baseados em critérios racionais e tecnicamente adequados; c) propiciar a permanência do enfermo em seu meio comunitário; 4. Que as legislações dos países devem ajustar-se de modo que: a) assegurem o respeito aos direitos humanos e civis dos doentes mentais; b) promovam a organização de serviços comunitários de saúde mental que garantam seu cumprimento; 5. Que a capacitação dos recursos humanos em Saúde Mental e Psiquiatria deve fazer-se apontando para um modelo, cujo eixo passa pelo serviço de saúde comunitária e propicia a internação psiquiátrica nos hospitais gerais, de acordo com os princípios que regem e fundamentam essa reestruturação; 6. Que as organizações, associações e demais participantes desta Conferência se comprometam solidariamente a advogar e desenvolver, em seus países, programas que promovam a Reestruturação da Assistência Psiquiátrica e a vigilância e defesa dos direitos humanos dos doentes mentais, de acordo com as legislações nacionais e respectivos compromissos internacionais. 
Para o que SOLICITAM 
Aos Ministérios da Saúde e da Justiça, aos Parlamentos, aos Sistemas de Seguridade Social e outros prestadores de serviços, organizações profissionais, associações de usuários, universidades e outros centros de capacitação e aos meios de comunicação que apóiem a Reestruturação da Assistência Psiquiátrica, assegurando, assim, o êxito no seu desenvolvimento para o benefício das populações da região. 
LEI No 10.216, DE 6 DE ABRIL DE 2001.
Dispõe  sobre  a  proteção  e  os  direitos  das  pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental.
(...)
Art.  2º  Nos  atendimentos  em  saúde  mental,  de  qualquer  natureza,  a  pessoa  e  seus  familiares  ou responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único deste artigo.
Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno mental:
I ­ ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades;
II ­ ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade;
III ­ ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração;
IV ­ ter garantia de sigilo nas informações prestadas;
V ­ ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária;
VI ­ ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis;
VII ­ receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento;
VIII ­ ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis;
IX ­ ser tratada,preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental. Art. 3º É responsabilidade do Estado o desenvolvimento da política de saúde mental, a assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de transtornos mentais, com a devida participação da sociedade e da família, a qual será prestada em estabelecimento de saúde mental, assim entendidas as instituições ou unidades que ofereçam assistência em saúde aos portadores de transtornos mentais. Art. 4o A internação, em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os recursos extrahospitalares se mostrarem insuficientes. § 1º O tratamento visará, como finalidade permanente, a reinserção social do paciente em seu meio. § 2º O tratamento em regime de internação será estruturado de forma a oferecer assistência integral à pessoa  portadora  de  transtornos  mentais,  incluindo  serviços  médicos,  de  assistência  social,  psicológicos, ocupacionais, de lazer, e outros. 
§  3º  É  vedada  a  internação  de  pacientes  portadores  de  transtornos  mentais  em  instituições  com características asilares, ou seja, aquelas desprovidas dos recursos mencionados no § 2o e que não assegurem aos pacientes os direitos enumerados no parágrafo único do art. 2o. 
Art.  5o  O  paciente  há  longo  tempo  hospitalizado  ou  para  o  qual  se  caracterize  situação  de  grave dependência institucional, decorrente de seu quadro clínico ou de ausência de suporte social, será objeto de política específica de alta planejada e reabilitação psicossocial assistida, sob responsabilidade da autoridade sanitária competente e supervisão de instância a ser definida pelo Poder Executivo, assegurada a continuidade do tratamento, quando necessário. 
Art. 6o  A  internação  psiquiátrica  somente  será  realizada  mediante  laudo  médico  circunstanciado  que caracterize os seus motivos.
Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica:
I ­ internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário; (internação breve)
II ­ internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro; e
III ­ internação compulsória: aquela determinada pela Justiça. (brecha perigosa)
Art. 7o  A  pessoa  que  solicita  voluntariamente  sua  internação,  ou  que  a  consente,  deve  assinar,  no momento da admissão, uma declaração de que optou por esse regime de tratamento.
Parágrafo único. O término da internação voluntária dar­se­á por solicitação escrita do paciente ou por determinação do médico assistente. Art. 8o A internação voluntária ou involuntária somente será autorizada por médico devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina ­ CRM do Estado onde se localize o estabelecimento. § 1o A internação psiquiátrica involuntária deverá, no prazo de setenta e duas horas, ser comunicada ao Ministério Público Estadual pelo responsável técnico do estabelecimento no qual tenha ocorrido, devendo esse mesmo procedimento ser adotado quando da respectiva alta. 
§ 2o O término da internação involuntária dar­se­á por solicitação escrita do familiar, ou responsável legal, ou quando estabelecido pelo especialista responsável pelo tratamento. Art. 9o A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente, pelo juiz competente, que levará em conta as condições de segurança do estabelecimento, quanto à salvaguarda do paciente, dos demais internados e funcionários.
Art. 10. Evasão, transferência, acidente, intercorrência clínica grave e falecimento serão comunicados pela direção do estabelecimento de saúde mental aos familiares, ou ao representante legal do paciente, bem como à autoridade sanitária responsável, no prazo máximo de vinte e quatro horas da data da ocorrência.
Art. 11. Pesquisas científicas para fins diagnósticos ou terapêuticos não poderão ser realizadas sem o consentimento  expresso  do  paciente,  ou  de  seu  representante  legal,  e  sem  a  devida  comunicação  aos conselhos profissionais competentes e ao Conselho Nacional de Saúde.
Art.  12.  O  Conselho  Nacional  de  Saúde,  no  âmbito  de  sua  atuação,  criará  comissão  nacional  para acompanhar a implementação desta Lei.
TEXTO1: Capítulo 2 - Definição de psicopatologia e ordenação dos seus fenômenos 
Campbell (1986) define a psicopatologia como o ramo da ciência que trata da natureza essencial da doença mental – suas causas, as mudanças estruturais e funcionais associadas a ela e suas formas de manifestação. Entretanto, nem todo estudo psicopatológico segue a rigor os ditames de uma ciência sensu strictu. A psicopatologia, em acepção mais ampla, pode ser definida como o conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser humano. É um conhecimento que se esforça por ser sistemático, elucidativo e desmistificante. Como conhecimento que visa ser científico, não inclui critérios de valor, nem aceita dogmas ou verdades a priori. O psicopatólogo não julga moralmente o seu objeto, busca apenas observar, identificar e compreender os diversos elementos da doença mental. Além disso, rejeita qualquer tipo de dogma, seja ele religioso, filosófico, psicológico ou biológico; o conhecimento que busca está permanentemente sujeito a revisões, críticas e reformulações. 
O campo da psicopatologia inclui um grande número de fenômenos humanos especiais, associados ao que se denominou historicamente de doença mental. São vivências, estados mentais e padrões comportamentais que apresentam, por um lado, uma especificidade psicológica (as vivências dos doentes mentais possuem dimensão própria, genuína, não sendo apenas “exageros” do normal) e, por outro, conexões complexas com a psicologia do normal (o mundo da doença mental não é um mundo totalmente estranho ao mundo das experiências psicológicas “normais”). 
A psicopatologia tem boa parte de suas raízes na tradição médica (na obra dos grandes clínicos e alienistas do passado), que propiciou, nos últimos dois séculos, a observação prolongada e cuidadosa de um considerável contingente de doentes mentais. Em outra vertente, a psicopatologia nutre-se de uma tradição humanística (filosofia, literatura, artes, psicanálise) que sempre viu na “alienação mental”, no pathos do sofrimento mental extremo, uma possibilidade excepcionalmente rica de reconhecimento de dimensões humanas que, sem o fenômeno “doença mental”, permaneceriam desconhecidas. Apesar de se beneficiar das tradições neurológicas, psicológicas e filosóficas, a psicopatologia não se confunde com a neurologia das chamadas funções corticais superiores (não se resume, portanto, a uma ciência natural dos fenômenos relacionados às zonas associativas do cérebro lesado), nem à hipotética psicologia das funções mentais desviadas. A psicopatologia é, pois, uma ciência autônoma, e não um prolongamento da neurologia ou da psicologia. 
Karl Jaspers, um dos principais autores da psicopatologia, afirma que esta é uma ciência básica, que serve de auxílio à psiquiatria, a qual é, por sua vez, um conhecimento aplicado a uma prática profissional e social concreta. 
Jaspers é muito claro em relação aos limites da psicopatologia: embora o objeto de estudo seja o homem na sua totalidade (“Nosso tema é o homem todo em sua enfermidade.”, os limites da ciência psicopatológica consistem precisamente em que nunca se pode reduzir por completo o ser humano a conceitos psicopatológicos. O domínio da psicopatologia, segundo ele, estende-se a “todo fenômeno psíquico que possa apreender-se em conceitos de significação constantes e com possibilidade de comunicação”. Assim, a psicopatologia, como ciência, exige um pensamento rigorosamente conceptual, que seja sistemático e que possa ser comunicado de modo inequívoco. Na prática profissional, entretanto, participam ainda opiniões instintivas, uma intuição pessoal que nunca se pode comunicar. Dessa forma, a ciência psicopatológica é tida como uma das abordagens possíveis do homem mentalmente doente, mas não a única.
Em todo indivíduo, oculta-se algo que não sepode conhecer, pois a ciência requer um pensamento conceitual sistemático, pensamento que cristaliza, torna evidente, mas também aprisiona o conhecimento. Quanto mais conceitualiza, afirma Jaspers, “quanto mais reconhece e caracteriza o típico, o que se acha de acordo com os princípios, tanto mais reconhece que, em todo indivíduo, se oculta algo que não pode conhecer”. Assim a psicopatologia sempre perde, obrigatoriamente, aspectos essenciais do homem, sobretudo nas dimensões existenciais, estéticas, éticas e metafísicas. 
Dito de outra forma, não se pode compreender ou explicar tudo o que existe em um homem por meio de conceitos psicopatológicos. Assim, ao se diagnosticar Van Gogh como esquizofrênico (epiléptico, maníaco-depressivo ou qualquer que seja o diagnóstico formulado), ao se fazer uma análise psicopatológica de sua biografia, isso nunca explicará totalmente sua vida e sua obra. Sempre resta algo que transcende à psicopatologia e mesmo à ciência, permanecendo no domínio do mistério.
FORMA E CONTEÚDO DOS SINTOMAS
Quando se estudam os sintomas psicopatológicos, dois aspectos básicos costumam ser enfocados: a forma dos sintomas, isto é, sua estrutura básica, relativamente semelhante nos diversos pacientes (alucinação, delírio, ideia obsessiva, etc.), e seu conteúdo, ou seja, aquilo que preenche a alteração estrutural (conteúdo de culpa, religioso, de perseguição, etc.). De modo geral, os conteúdos dos sintomas estão relacionados aos temas centrais da existência humana, tais como sobrevivência e segurança, sexualidade, temores básicos (morte, doença, miséria, etc.), religiosidade, entre outros. Esses temas representam uma espécie de substrato, que entra como ingrediente fundamental na constituição da experiência psicopatológica. É apresentado um esquema simplificado de temas e temores básicos do ser humano (Quadros 2.1 e 2.2).
Quadro 2.1 
Temas existenciais que frequentemente se expressam no conteúdo dos sintomas psicopatológicos
	Temas e interesses centrais para o ser humano
	O que busca e deseja
	Sexo Alimentação Conforto físico 
	Sobrevivência e prazer
	Dinheiro Poder Prestígio 
	Segurança e controle sobre o outro 
Quadro 2.2 
Temores que frequentemente se expressam no conteúdo dos sintomas psicopatológicos
	Temores centrais do ser humano
	Formas comuns de lidar com tais temores
	Morte
	Religião/mundo místico 
Continuidade através das novas gerações
	Ter uma doença grave 
Sofrer dor física ou moral
Miséria
	Vias mágicas/medicina/psicologia, etc. 
	Falta de sentido existencial
	Relações pessoais significativas Cultura
A ORDENAÇÃO DOS FENÔMENOS EM PSICOPATOLOGIA
O estudo da doença mental, como o de qualquer outro objeto, inicia pela observação cuidadosa de suas manifestações. A observação articulase dialeticamente com a ordenação dos fenômenos. Isso significa que, para observar, também é preciso produzir, definir, classificar, interpretar e ordenar o observado em determinada perspectiva, seguindo certa lógica.
Assim, desde Aristóteles, o problema da classificação está intimamente ligado ao da definição e do conhecimento de modo geral. Segundo ele, definir é indicar o gênero próximo e a diferença específica. Isso quer dizer que definir é, por um lado, afirmar a que o fenômeno definido se assemelha, do que é aparentado, com o que deve ser agrupado e, por outro, identificar do que ele se diferencia, a que é estranho ou oposto. Portanto, na linha aristotélica, o problema da classificação é a questão da unidade e da variedade dos fatos e dos conhecimentos que sobre eles são produzidos. 
Distinguem-se três tipos de fenômenos humanos para a psicopatologia:
1. Fenômenos semelhantes em todas as pessoas. De modo geral, todo homem sente fome, sede ou sono. Aqui se inclui o medo de um animal perigoso, a ansiedade perante uma prova difícil, o desejo por uma pessoa amada, etc. Embora haja uma qualidade pessoal própria para cada ser humano, essas experiências são basicamente semelhantes para todos. 
2. Fenômenos em parte semelhantes e em parte diferentes. São fenômenos que o homem comum experimenta, mas apenas em parte são semelhantes aos que o doente mental vivencia. Assim, todo homem comum pode sentir tristeza; mas a alteração profunda, avassaladora, que um paciente com depressão psicótica experimenta é apenas parcialmente semelhante à tristeza normal. A depressão grave, por exemplo, com ideias de ruína, lentificação psicomotora, apatia, etc., introduz algo qualitativamente novo na experiência humana. 
3. Fenômenos qualitativamente novos, diferentes. São praticamente próprios apenas a certas doenças e estados mentais. Aqui incluem-se fenômenos psicóticos, como alucinações, delírios, turvação da consciência, alteração da cognição nas demências, entre outros.
=> O psicopatólogo não julga moralmente o seu objeto, busca apenas observar, identificar e compreender os diversos elementos da doença mental
=> O estudo da doença mental, como o de qualquer outro objeto, inicia pela observação cuidadosa de suas manifestações.
ANOTAÇÕES DE AULA
Forma (é uma estrutura básica) e conteúdo (aquilo que preenche) dos sintomas => é pessoal (depende da história de vida daquela pessoa). 
Os sintomas podem ser semelhantes em diversos pacientes. Ex.: delírio, mudança rápida de humor, etc.
ORDENAÇÃO DOS FENÔMENOS => estudo da doença mental; se inicia pela observação das manifestações.
Existem 3 tipos de fenômenos humanos:
1- Semelhantes (ex: todo homem tem sede)
2- Parcialmente semelhantes (ex: todo homem comum pode ter tristeza)
3- Qualitativamente novos
Ex: Todo homem comum pode ter tristeza, mas depressão psicótica só o psicótico tem.
TEXTO2: Capítulo 3 - O conceito de normalidade em psicopatologia
O conceito de normalidade em psicopatologia também implica a própria definição do que é saúde e doença mental. Esses temas apresentam desdobramentos em várias áreas da saúde mental. Por exemplo:
1. Psiquiatria legal ou forense. Pode ter importantes implicações legais, criminais e éticas, podendo definir o destino social, institucional e legal de uma pessoa.
2. Epidemiologia psiquiátrica. A definição de normalidade é tanto um problema como um objeto de trabalho e pesquisa. 
3. Psiquiatria cultural e etnopsiquiatria. Tema importante de pesquisas e debates. Impõe a análise do contexto sociocultural; estudo da relação entre o fenômeno supostamente patológico e o contexto social no qual tal fenômeno emerge.
4. Planejamento em saúde mental e políticas de saúde. Estabelecer critérios de normalidade, no sentido de verificar as demandas assistenciais de determinado grupo populacional, as necessidades de serviços, quais e quantos serviços devem ser colocados à disposição desse grupo, etc.
5. Orientação e capacitação profissional. Importantes na definição de capacidade e adequação de um indivíduo para exercer certa profissão. Ex: pessoas psicóticas que querem portar armas, ou sujeitos com crises epilépticas que manipulam máquinas perigosas, etc.
6. Prática clínica. Capacidade de discriminar, na clínica, se o fenômeno é patológico ou normal, se faz parte de um momento existencial do indivíduo ou é algo patológico.
CRITÉRIOS DE NORMALIDADE
Há vários critérios de normalidade e anormalidade em psicopatologia. A adoção de um ou outro depende, entre outras coisas, de opções filosóficas, ideológicas e pragmáticas do profissional. Os principais critérios de normalidade utilizados em psicopatologia são:
1. Normalidade como ausência de doença. “a saúde é a vida no silêncio dos órgãos”. Normal (psicopatológico): indivíduo que não é portador de um transtorno mental definido. Falha => além de redundante, baseia-se em uma “definição negativa”, ou seja, defini-se a normalidade não por aquilo que ela supostamente é, mas, sim, por aquilo que ela não é.
2. Normalidade ideal. Uma certa “utopia”. Estabelece-se arbitrariamente uma norma ideal, o que é supostamente “sadio”. Tal norma é, de fato, socialmente constituídae referendada. 3. Normalidade estatística. Identifica norma e frequência. Trata-se de um conceito de normalidade que se aplica especialmente a fenômenos quantitativos, com determinada distribuição estatística na população geral (como peso, altura, tensão arterial, horas de sono, etc.). O normal passa a ser aquilo que se observa com mais frequência. 
Falha => nem tudo o que é frequente é necessariamente “saudável”, e nem tudo que é raro ou infrequente é patológico. Ex.: cáries dentárias, uso pesado de álcool.
4. Normalidade como bem-estar. A OMS definiu saúde como o completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente como ausência de doença.
Falha => muito vasto e impreciso (difícil de se definir objetivamente), além de utópico.
5. Normalidade funcional. Baseia-se em aspectos funcionais. É considerado patológico se é disfuncional, produz sofrimento para o próprio indivíduo ou para o seu grupo social.
6. Normalidade como processo. Consideram-se os aspectos dinâmicos do desenvolvimento psicossocial, das desestruturações e das reestruturações ao longo do tempo, de crises, de mudanças próprias a certos períodos etários. Particularmente útil em psiquiatria infantil, de adolescentes e geriátrica.
7. Normalidade subjetiva. Dada maior ênfase à percepção subjetiva do próprio indivíduo em relação a seu estado de saúde, às suas vivências subjetivas. 
Falha => muitas pessoas que se sentem bem, “muito saudáveis e felizes”, como no caso de sujeitos em fase maníaca, apresentam, de fato, um transtorno mental grave.
8. Normalidade como liberdade. Conceituam a doença mental como perda da liberdade existencial (fenomenólogos e existenciais). Saúde mental: possibilidades de transitar com graus distintos de liberdade sobre o mundo e sobre o próprio destino.
9. Normalidade operacional. Assumidamente arbitrário, com finalidades pragmáticas explícitas. Define-se, a priori, o que é normal e o que é patológico e busca-se trabalhar operacionalmente com esses conceitos, aceitando as consequências de tal definição prévia.
Pode-se concluir que os critérios de normalidade e de doença em psicopatologia variam consideravelmente em função dos fenômenos específicos com os quais se trabalha e, também, de acordo com as opções filosóficas do profissional. 
ANOTAÇÕES DE AULA
3 – Psiquiatria cultural e etnopsiquiatria => entender os fenômenos dentro da cultura. 
CRITÉRIOS DE NORMALIDADE
1- Como ausência de doença => OMS (antigamente)
2- Como ideal => ideal arbitrário. Uso abusivo (ex.: presos políticos).
3- Estatística => ex: vista cansada aos 40 anos; muitas pessoas bebendo; etc
6- Como processo => ex: processo da adolescência; infância; envelhecimento
8- Como liberdade => existencialismo
9- Operacional => Ex.; CID10
PSICO => Alma, Mente
PATO => Sofrimento, Doença
LOGIA => Estudo
Semiologia => estudo dos sinais (descritivos), dos sintomas
TEXTO3: Capítulo 4 - Os principais campos e tipos de psicopatologia
Umas das principais características da psicopatologia é a multiplicidade de abordagens e referenciais teóricos. Tal multiplicidade é vista por alguns como “debilidade” científica, como prova de sua imaturidade. Discordo de tal visão; querer uma única “explicação”, uma única concepção teórica, que resolva todos os problemas e dúvidas de uma área tão complexa e multifacetada como a psicopatologia é impor uma solução simplista e artificial, que deformaria o fenômeno psicopatológico. 
A seguir, são apresentadas algumas das principais correntes da psicopatologia, dispostas de forma arbitrária, por motivos estritamente didáticos, em pares antagônicos.
PSICOPATOLOGIA DESCRITIVA X PSICOPATOLOGIA DINÂMICA
Psiquiatria descritiva => interessa fundamentalmente a forma das alterações psíquicas, a estrutura dos sintomas, aquilo que caracteriza a vivência patológica como sintoma mais ou menos típico. 
Psiquiatria dinâmica => interessa o conteúdo da vivência, os movimentos internos de afetos, desejos e temores do indivíduo, sua experiência particular, pessoal, não necessariamente classificável em sintomas previamente descritos. 
A boa prática em saúde mental implica a combinação hábil e equilibrada de uma abordagem descritiva, diagnóstica e objetiva e uma abordagem dinâmica, pessoal e subjetiva do doente e de sua doença. 
PSICOPATOLOGIA MÉDICA X PSICOPATOLOGIA EXISTENCIAL
Perspectiva médico-naturalista => trabalha com uma noção de homem centrada no corpo, no ser biológico como espécie natural e universal. Assim, o adoecimento mental é visto como um mau funcionamento do cérebro, uma desregulação, uma disfunção de alguma parte do “aparelho biológico”. 
Perspectiva existencial => o doente é visto principalmente como “existência singular”, como ser lançado a um mundo que é apenas natural e biológico na sua dimensão elementar, mas que é fundamentalmente histórico e humano. O ser é construído por meio da experiência particular de cada sujeito, na sua relação com outros sujeitos, na abertura para a construção de cada destino pessoal. 
PSICOPATOLOGIA COMPORTAMENTAL-COGNITIVISTA X PSICOPATOLOGIA PSICANALÍTICA
Visão comportamental => Homem é visto como um cj. de comportamentos observáveis, verificáveis, que são regulados por estímulos específicos e gerais, e por certas leis e determinantes do aprendizado. Os sintomas resultam de comportamentos e representações cognitivas disfuncionais, aprendidas e reforçadas pela experiência sociofamiliar.
Visão psicanalítica => Homem é visto como ser “determinado”, dominado, por forças, desejos e conflitos inconscientes. A psicanálise dá grande importância aos afetos, que, segundo ela, dominam o psiquismo; o homem racional, autocontrolado, senhor de si e de seus desejos, é, para ela, uma enorme ilusão. Os sintomas e síndromes mentais são considerados formas de expressão de conflitos, predominantemente inconscientes, de desejos que não podem ser realizados, de temores aos quais o indivíduo não tem acesso.
PSICOPATOLOGIA CATEGORIAL X PSICOPATOLOGIA DIMENSIONAL
Categorial => As entidades nosológicas ou transtornos mentais específicos podem ser compreendidos como entidades completamente individualizadas, com contornos e fronteiras bem-demarcados (fronteira nítida entre as doenças mentais).
Dimensional => Hipoteticamente mais adequada à realidade clínica. Haveria, então, dimensões como, por exemplo, o espectro esquizofrênico, que incluiria desde formas muito
graves, formas menos deteriorantes de esquizofrenia, formas com sintomas afetivos, etc.
PSICOPATOLOGIA BIOLÓGICA X PSICOPATOLOGIA SOCIOCULTURAL
Psicopatologia biológica => enfatiza os aspectos cerebrais, neuroquímicos ou neurofisiológicos das doenças e dos sintomas mentais. A base de todo transtorno mental são alterações de mecanismos neurais e de determinadas áreas e circuitos cerebrais. “doenças mentais são (de fato) doenças cerebrais”.
Perspectiva sociocultural => Estuda os transtornos mentais como comportamentos desviantes que surgem a partir de certos fatores socioculturais, como discriminação, pobreza, migração, estresse ocupacional, desmoralização sociofamiliar, etc. 
PSICOPATOLOGIA OPERACIONAL PRAGMÁTICA X PSICOPATOLOGIA FUNDAMENTAL
Visão operacional-pragmática => as definições básicas de transtornos mentais e sintomas são formuladas e tomadas de modo arbitrário, em função de sua utilidade pragmática, clínica ou orientada à pesquisa. Não são questionados a natureza da doença ou do sintoma. Modelo adotado pelas modernas classificações: DSM-IV; CID-10, da OMS. 
Psicopatologia fundamental => Centra a atenção sobre os fundamentos de cada conceito psicopatológico. Além disso, dá ênfase à noção de doença mental como pathos, que significa sofrimento, paixão e passividade.
ANOTAÇÕES DE AULA
Descritiva X Dinâmica
Descritiva => a que vamos estudar agora (ex: noção de espaço/tempo está alterada) 
Dinâmica => se interessa pelos conteúdos (não pela forma)
Médica X Existencial
Médica => naturalista (focada no corpo,no biológico)
Existencial => doente visto como existência/vivência singular
Cognitiva X Psicanalítica
Cognitiva => crenças
Psicanalítica => homem dominado pelo inconsciente
Categorial X Dimensional
Categorial => ex: CID10
Dimensional => Não existe limite rígido; tem um processo, não é uma coisa clara
Biológica X Sócio-cultural 
Biológica => aspectos cerebrais, biológicos
Sócio-cultural => comportamentos desviantes que surgem do ambiente sócio-cultural 
Operacional pragmática X Fundamental
Operacional pragmática => ligada a estudo das doenças mentais
Fundamental => fundamentos de cada conceito
Obs: O único manicômio que permanece é o manicômio JUDICIÁRIO.
Obs: CID10 => Psiquiatria: Esquizofrenia F20 a F29
TEXTO4: REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL ATRAVÉS DAS OFICINAS TERAPÊUTICAS E/OU COOPERATIVAS SOCIAIS
RESUMO: As oficinas terapêuticas e as cooperativas sociais, enquanto dispositivos da atual Política Nacional de Saúde Mental, objetivam se diferenciar das práticas antecessoras, práticas decorrentes da ideia de estabelecer o trabalho como um recurso terapêutico, conhecido como ‘tratamento moral’. Neste contexto, entende-se que as oficinas, não se apresentam por si só uma forma inaugural de lidar com a loucura. A experiência do trabalho das oficinas e/ou cooperativas torna-se positiva quando uma de suas funções é também o de intervir no campo da cidadania. Assim, atuando no âmbito social, contribui como possibilidade de transformação da realidade atual no que diz respeito ao tratamento psiquiátrico.
REFLEXÕES INICIAIS
Tradicionalmente a reabilitação era compreendida como a restituição a um estado anterior ou à normalidade do convívio social ou de atividades profissionais. Atualmente, PITTA considera reabilitação psicossocial como o processo que facilita ao usuário com limitações, a sua melhor reestruturação de autonomia de suas funções na comunidade. Na proposta atual da Reforma Psiquiátrica no Brasil, têm-se como objetivo a desinstitucionalização e inclusão, integrando as pessoas com sofrimento psíquico nos diferentes espaços da sociedade. Segundo ROTELLI & AMARANTE, a desinstitucionalização não deve ser praticada apenas no interior do hospital psiquiátrico, mas repropõe a necessidade de desinstitucionalizar, isto é, reabilitar o contexto. Cuja principal função reabilitadora seria a restituição da subjetividade do indivíduo na sua relação com as instituições sociais, ou melhor, a possibilidade de recuperação da contratualidade”.
Para SARACENO a reabilitação psicossocial precisa contemplar três vértices da vida de qualquer cidadão: casa, trabalho e lazer. A associação das oficinas terapêuticas, do trabalho e a reabilitação podem apresentar inúmeras variações na prática ou no contexto onde é operacionalizada, mas dificilmente há contradição na ideia de que o trabalho é um instrumento de reabilitação.
Podemos dizer que as oficinas terapêuticas (O Ministério da Saúde define e apresenta os objetivos das oficinas terapêuticas como: (...) atividades grupais de socialização, expressão e inserção social através da Portaria 189 de 19/11/1991) e as cooperativas sociais, enquanto dispositivos da atual Política Nacional de Saúde Mental objetivam se diferenciar em relação às suas práticas antecessoras, práticas decorrentes da ideia de estabelecer o trabalho como um recurso terapêutico, conhecido como ‘tratamento moral’. Neste contexto, entendemos que as oficinas, não se apresentam por si só uma forma inaugural de lidar com a loucura.
Poderíamos neste momento perguntar em que consiste a relação da reabilitação psicossocial com as oficinas e a que se refere a atual reforma psiquiátrica ou em que sentido se referem estas diferenças em relação às práticas antecessoras deste último século?
Propõe: agir, isto é, inserir socialmente indivíduos segregados e ociosos, e de recuperá-los enquanto cidadãos, através de ações que passam fundamentalmente pela inserção do paciente psiquiátrico no trabalho e/ou em atividades artísticas, artesanais, ou em dar-lhes acesso aos meios de comunicação entre outros (RAUTER, 2000).
Mas isto não é totalmente novo como nos lembra RESENDE (2000) ao colocar que não é uma simples coincidência, o trabalho no campo, o artesanato e o trabalho artístico serem até hoje propostas como técnicas de tratamento e ressocialização dos doentes mentais. Estas atividades apresentam em comum a capacidade de acomodar largas variações individuais e de respeitar o tempo e o ritmo psíquico de cada trabalhador.
A partir destas reflexões este estudo tem por objetivo refletir sobre o significado das oficinas terapêuticas, o trabalho e a reabilitação psicossocial. 
ANTIGOS CONCEITOS E NOVAS PRÁTICAS
O termo “oficina” vem sendo muito empregado para designar atividades que estão sendo desenvolvidas nos espaços substitutivos de cuidados em saúde mental.  O que podemos notar é uma diversidade enorme de atividades que utilizam esta nomenclatura para se caracterizarem, mas o que seria exatamente uma “oficina”?  Segundo o MINISTÉRIO DA SAÚDE, Portaria 189 de 19/11/1991, estas se caracterizariam como “atividades grupais de socialização, expressão e inserção social”. 
DELGADO, LEAL & VENÂNCIO (1997) identificam três caminhos possíveis para a realização de uma oficina:
Espaço de Criação: são aquelas oficinas que possuem como principal característica a utilização da criação artística como atividade e como um espaço que propicia a experimentação constante.
 Espaço de Atividades Manuais: seria uma oficina que utiliza o espaço para a realização de atividades manuais, onde seria necessário um determinado grau de habilidade e onde são construídos produtos úteis à sociedade. O produto destas oficinas é utilizado como objeto de troca material.
Espaço de Promoção de Interação: é a oficina que tem como objetivo a promoção de interação de convivência entre os clientes, os técnicos, os familiares e a sociedade como um todo.
Os autores, supra citados, afirmam que os fatores de unificação das experiências intitulados “oficinas” não são os tipos de atividades desenvolvidas nestes espaços, mas a noção deste espaço enquanto facilitador da comunicação e das relações interpessoais, favorecendo deste modo à interação, a integração e a reinserção social.
MINZONI já utilizava o termo terapia psicossocial e o conceituava como atividades terapêuticas que envolvem o atendimento do usuário, tanto a nível individual como em grupo, e atividades de trabalho e recreação. E, conforme sua estrutura, recebem diferentes denominações. A referida autora cita como exemplos às atividades de trabalho e recreação e as subdivide em motoras (ginástica, voleibol, trabalho em couro e madeira, entre outros), sociais (festas e datas civis, cinema, teatro e outras) e auto-expressivas (atividades espontâneas e não orientadas, como por exemplo cerâmica, pintura e dança). Podemos observar que a autora já tentava organizar as atividades, categorizando-as de acordo com os objetivos de cada uma. Inferimos que estas atividades sejam equivalentes às que hoje estamos chamando de oficinas, é claro, se fizermos as devidas relativizações temporais.
Podemos afirmar que o conceito de oficina sofreu várias modificações ao longo do tempo. Para exemplificarmos esta afirmação, podemos citar KYES & HOFLING (1985) no qual encontraremos o termo “terapia” classificado das três seguintes formas:
Terapia Ocupacional: técnica utilizada basicamente com um indivíduo que usa a arte e o artesanato como meios de tratamento. Possuía o objetivo de ocupar, para que o paciente não ficasse sem fazer nada ou seja, desocupado.
Terapia Recreativa: técnica que estimula a expressão através de atividades sociais e em grupo.  Tinha como objetivo estimular a expressão dos impulsos e entreter o paciente.
Terapia Educacional: possuía como objetivo principal educar/reeducar socialmente o paciente, para que este se ajustasse as regras sociais.
Para conseguirmos perceber o significado do termo “oficina” nestes doismomentos históricos faz-se necessário entender os termos entretenimento e empowerment. SARACENO define o primeiro termo como uma ação provida de prazer capaz de fazer o tempo passar. Com base neste autor podemos inferir que o principal paradigma da psiquiatria seria a manutenção do indivíduo dentro do hospital. Inferimos que ainda hoje há o risco de reproduzirmos esta lógica de controle e contenção nos chamados espaços substitutivos de cuidar em saúde mental. Precisamos refletir criticamente sobre os objetivos que levam os profissionais a utilizarem as oficinas como espaços terapêuticos e não apenas reproduzir conceitos.
VASCONCELOS traz à tona o termo empowerment como de grande importância para as discussões sobre saúde mental e a construção de suas práticas do cotidiano. O referido autor define o termo como valorização do poder contratual dos pacientes nas instituições e do seu poder relacional nos contatos interpessoais na sociedade. Seria muito interessante que o significado deste termo permeasse a prática de cuidados nos espaços terapêuticos das oficinas, pois acreditamos que este seja o verdadeiro sentido do fazer oficinas.
	 
	O que era
	O que esperamos que seja
	Objetivos
	* Ocupação;
* Não ficar sem fazer nada;
* Entretenimento.
	* Ampliar habilidades;
* Aumentar autonomia e poder contratual;
* Empowerment.
	Característi-cas
	* Trabalho repetitivo e monótono;
* Sem remuneração (pelo bem do serviço).
	* Valorização da singularidade e desenvolvimento do potencial criativo;
* Com/sem remuneração (desejo / contrato).
	Resultados desejados
	* Canalização da agressividade;
* Penitência;
* Expressão de impulsos sexuais/sociais.
	* Rompimento com isolamento e inserção no mundo social;
* Catalisação da construção de territórios existenciais;
* Efetuação do desejo na vida, no trabalho e na criação;
* Reinvenção da vida em seus aspectos mais cotidianos.
	Modalidades
	* Terapia ocupacional;
* Terapia recreativa;
* Terapia educacional.
	* Espaços de criação;
* Espaços de atividades manuais;
* Espaços de promoção de interação.
	Locais de realização
	* Salas especiais dentro do hospital psiquiátrico.
	* Setting terapêutico isomórfico em relação à realidade externa (vida social e produtiva).
	Quem atua
	* Equipe multidisciplinar, seguindo um modelo essencialmente biológico e organicista.
	* Equipe inter/transdisciplinar, com abordagem holística e integrada.
OFICINAS TERAPÊUTICAS
As oficinas terapêuticas são atividades de encontro de vidas entre pessoas em sofrimento psíquico, promovendo o exercício da cidadania a expressão de liberdade e convivência dos diferentes através preferencialmente da inclusão pela arte.
Essas referidas oficinas já apareceram ao longo do processo histórico da psiquiatria, mas tinham um objetivo diferenciado do referencial da reabilitação psicossocial. Atualmente vem se constituindo através de princípios específicos, ou seja, a partir da reinserção das pessoas em sofrimento psíquico, mas respeitando a singularidade de cada instituição, de acordo com suas peculiaridades e regionalidades.
A utilização das artes dentro das oficinas terapêuticas num processo de antes e depois da perspectiva da reinserção e reabilitação psicossocial sofreu significativas transformações que serão descritas no quadro abaixo
	ANTES
	HOJE
	*Técnica Livre. Acreditava-se que o fazer arte já propicia a “cura por si”, por ser um veículo de acesso ao conhecimento do mundo interior.
	*Técnica com uma finalidade e um propósito definido. Ações inclusoras e proporcionam heterogeneidade e oportunidades de ações com base na desinstitucionalização.
	*Centra as estratégias terapêuticas no indivíduo extraído do contexto familiar e social.
	*Centra as estratégias terapêuticas no indivíduo inserido no seu contexto familiar e social.
	*Ênfase nos trabalhos individuais e grupais com usuários.
	*Ênfase nos trabalhos individuais e coletivos com usuários, familiares e comunidade. Visando a integração e a socialização dos mesmos.
	*Processo de ocupação aleatória do doente mental.
	*Processo que permite a expressão de sentimentos, emoções e vivências singulares aos doentes mentais.
	*Prioriza o poder hegemônico dominante (poder do médico e da verticalidade das relações intra-institucionais). Ênfase na segregação, no estigma, na exclusão, na violência, no preconceito, na alienação, na cronificação, nas desigualdades, na diferença, na discriminação e consequentemente “morte dos indivíduos”.
	*Prioriza a autonomia, o processo criativo e o imaginário do paciente e despsiquiatrização (retirada do médico a exclusividade das decisões e atitudes terapêuticas, passando a ser compartilhada com outros profissionais)
*Dá ênfase na originalidade, na expressividade, nas possibilidades e na desmistificação.
	*Utiliza vários recursos expressivos como a pintura, o desenho, a modelagem e o artesanato.
	*Utiliza-se de múltiplos recursos expressivos, como dramatização, fotografia entre outros, além dos já citados anteriormente.
Ante as características citadas anteriormente pensamos em alguns princípios básicos que deveriam nortear o referido processo. Entre eles podemos enumerar:
Todos os indivíduos podem e devem projetar seus conflitos internos sob forma plástica, corporal, literária, musical, teatral etc;
Valorização do potencial criativo, expressivo e imaginativo do paciente;
 Fortalecimento da auto-estima e da autoconfiança;
Visa a reinserção social os usuários;
Inter e transdisciplinariedade: uma “miscigenação” de saberes e intervenções;
Intersecção entre o mundo do conhecimento psíquico e o mundo da arte, pela expressão da subjetividade;
 Reconhecimento da diversidade.
TRABALHO E LOUCURA
Como nos recorda SARACENO “o trabalho em manicômio é tão antigo como o próprio manicômio”. RESENDE considera que, Franco da Rocha, foi o primeiro a defender o trabalho no hospício, escrevendo em 1889 o artigo intitulado “A questão do trabalho nos hospícios”. Franco da Rocha citado por MÂNGIA coloca que o trabalho “é a chave da abóboda do tratamento moderno da loucura”. Por considerar a ociosidade “o que há de mais subversivo tanto para o espírito do louco como para o normal”. Assim se estabelece o trabalho como um recurso terapêutico, conhecido como “tratamento moral”.
Toda a racionalidade que orienta a terapêutica da época aponta para a eficácia da laborterapia na cura dos doentes, como coloca Franco da Rocha citado por MANGIA:
“Não se deve levar, entretanto, olhar somente o valor da produção, que é grande, mas também o lado moral da questão. O insano que trabalha e vê o resultado de seu suor, sente-se mais digno; sai da condição ínfima de criatura inútil e eleva-se a seus próprios olhos; adapta-se ao modus vivendi que lhe suaviza grandemente a desgraça.”
Apesar das experiências das colônias agrícolas, laborterapia ou ergoterapia delinearem em sua filosofia originária os objetivos, entendidos à época como terapêuticos “nas instituições se transformava em trabalho alienado (não reconhecido e não pago), sobretudo lá onde era indispensável à reprodução da própria instituição”.
Na proposta atual da Reforma da Assistência Psiquiátrica no Brasil, a intenção é a da desinstitucionalização e inclusão. Integrando os portadores de sofrimento psíquico nos diferentes espaços da sociedade inclusive, no trabalho. 
COOPERATIVA E REFORMA PSIQUIÁTRICA
A Psiquiatria Democrática Italiana inovou ao criar cooperativas que admitiam que 30% de seus associados tivessem históricos psiquiátricos. Tais cooperativas foram criadas através da Lei n 180, a partir de 1978, e tiveram boa aceitação, não apenas por estarem inseridas no contexto da reforma psiquiátrica, mas também pelo fato da cultura cooperativista ser difundida na Itália desde o início do século, período de elevada taxa de desemprego (WANDERLEY et al, 1997).
A cooperativa se constitui como um espaço onde as pessoas com dificuldades de inserção no mercado,possam fazê-lo, por uma via que acolhe e aborda os paciente, que se tornam cooperados, de maneira apropriada. Dessa forma um lugar social diferente para os pacientes vai se constituindo; um lugar na divisão social do trabalho, ao invés de exclusão nos manicômios.  Segundo AMARANTE (1997, p. 176):
“as cooperativas sociais são constituídas com o objetivo, não mais ‘terapêutico’, isto é, rompendo com a tradição da terapia ocupacional, mas de construção efetiva de autonomias e possibilidades sociais e subjetivas. Por um lado, o trabalho nas Cooperativas surge como construção real de oferta de trabalho para pessoas em desvantagem social para as quais o mercado não facilita oportunidades. Por outro, surge como espaço de construção de possibilidades subjetivas e objetivas, de validação e reprodução social dos sujeitos envolvidos em seus projetos.”
COOPERATIVA   TRABALHO: O QUE HÁ DE NOVO
Poderíamos neste momento perguntar em que consiste a relação da reabilitação psicossocial com o trabalho a que se refere a atual reforma psiquiátrica ou em que sentido se referem estas diferenças em relação às práticas antecessoras deste último século?
“Se trata, sobretudo de agir, de inserir socialmente indivíduos encarcerados, segregados, ociosos – recuperá-los enquanto cidadãos [...] por meio de ações que passam fundamentalmente pela inserção do paciente psiquiátrico no trabalho e/ou em atividades artísticas, artesanais, ou em dar-lhes aceso aos meios de comunicação, etc.”.
Segundo AMARANTE (1997) as Cooperativas passam a envolver os usuários como sujeitos sociais ativos que, rompendo com as noções de ergoterapia, arteterapia e terapia ocupacional, contam com o sujeito em sua possibilidade de produzir, criar e consumir. Além de serem uma possibilidade estratégica para o campo da saúde mental quando possibilitam a produção de recursos que podem ser, parcialmente, reconvertidos em recursos assistenciais, como a construção de moradias abrigadas, de espaços de lazer, enfim a construção de novas possibilidades sociais e subjetivas. SARACENO afirma que:
“O trabalho para os pacientes psiquiátricos gravemente desabilitados, não deve ser entendido como o simples desenvolver de determinadas tarefas, pode ser na realidade uma forma ulterior de norma e contenção, de restrição do campo existencial. O trabalho, entendido como “inserção laborativa”, pode, ao invés disso, promover um processo de articulação do campo dos interesses, das necessidades, dos desejos [...] Neste momento as cooperativas integradas são ao mesmo tempo serviços (de tratamento) e lugares de produção (no mercado), e esses dois aspectos são mediados pela sua função formativa [...] lugares de promoção da autonomia bem como de proteção: funções que deveriam ser próprias de um bom serviço de saúde mental.” 
 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo Deleuze e Guatarri citado por RAUTER (2000) o trabalho e a arte podem ser grandes “vetores de existencialização”. RAUTER retoma Marx para pensar as condições do trabalho no capitalismo – no trabalho alienado – as condições pelas quais o trabalho pode se constituir como vetor de existencialização estão bastante reduzidas ou inexistentes. Contrapondo coloca que as “oficinas serão terapêuticas ou funcionarão como vetores de existencialização caso consigam estabelecer outras e melhores conexões que as habitualmente existentes entre produção desejante e produção da vida material”.
 	Assim podemos perguntar qual seria o sentido das oficinas terapêuticas na proposta da reforma psiquiátrica. RAUTER nos ajuda a nortear uma resposta quando coloca que:
“as oficinas, o trabalho e a arte possam funcionar como catalisadores da construção de territórios existenciais (inserir ou reinserir socialmente os ”usuários”, torná-los cidadãos...), ou de “mundos” nos quais os usuários possam reconquistar ou conquistar seu cotidiano ...  de  cresse que está se falando não de adaptação à ordem estabelecida, mas de fazer com que trabalho e arte se reconectem com o primado da criação, ou com o desejo ou com o plano de produção da vida.”
A experiência do trabalho das oficinas torna-se positiva quando uma de suas funções é também o de intervir no campo da cidadania. Assim, atuando no âmbito social, contribui como possibilidade de transformação da realidade atual no que diz respeito ao tratamento psiquiátrico.
Os profissionais de saúde mental percebem o significado do espaço da oficina a partir de referenciais humanistas, dentro do contexto da Reforma Psiquiátrica.  Porém, se partirmos para uma análise profunda do contexto social em que estes profissionais atuam, em especial enfermeiros, latino-americanos, brasileiros, trabalhadores assalariados, poderão perceber claramente que o grau de sofrimento destes profissionais é grande, haja visto a realidade que nos cerca.  Na sociedade em que vivemos, afirma RAUTER
“ocorre a prevalência dos aspectos técnico-econômico ou dos aspectos jurídicos sobre aqueles referentes à produção desejante é o que está condenando nosso mundo à desertificação-desertificação das relações amorosas e do sexo, esvaziamento do campo coletivo, produção de um número cada vez maior de excluídos, não apenas do mercado de trabalho, mas de um cotidiano, já que muitos modos de ser não se adequam a um mundo que coloca em primeiro plano aspectos ligados à produtividade técnico-econômico.” 
Podemos ver ao longo do seminário que Franco da Rocha já defendia a utilização de oficinas dentro das chamadas colônias de alienados, logo, não podemos considerá-las uma nova possibilidade de cuidados em saúde mental.  Precisamos considerar sim as novas possibilidades de intervenção nestes espaços terapêuticos, de maneira tal que não as utilizemos a mesma forma que Franco da Rocha, mas como os outros “Franco”, Franco Basaglia e Franco Rotelli.
ANOTAÇÕES DE AULA:
OFICINAS: reabilitação psicossocial através das oficinas terapêuticas
Objetivo => socialização, expressão e inserção social
Papel e função do Oficineiro => facilitador, atitude centrada na relação com o outro e o grupo. O oficineiro é alguém que se oferece de maneira respeitosa à convivência com o outro. Ser facilitador é estar com, estar junto, acompanhar (não querer ser o líder: a liderança deve ser delegada a um deles: aquele que quiser e for aceito pelo grupo).
CECCO => Projeto em parque, aberto ao pessoal de saúde e ao público em geral (Inserção)
Instituição => deve ser criada e negada, criada e negada: para que ela não se cristalize.
“Principal função reabilitadora ... do sujeito”. ... recuperação da contratualidade não resolver a situação pelo paciente: estimular que ele a resolva, assuma responsabilidade pelo que quer (tendem a repassar ao profissional esse papel).
CRONIFICAR = cristalizar, institucionalizar, sedimentar, perpetuar
TEXTO 5: CAPÍTULO 8 – A ENTREVISTA COM O PACIENTE
De modo geral, algumas atitudes são, na maior parte das vezes, inadequadas e improdutivas, devendo o profissional, sempre que possível, EVITAR:
1. Posturas rígidas, estereotipadas, fórmulas que o profissional acha que funcionaram bem com alguns pacientes e, portanto, devem funcionar com todos. 
2. Atitude excessivamente neutra ou fria, que, muito frequentemente em nossa cultura, transmite ao paciente sensação de distância e desprezo.
3. Reações exageradamente emotivas ou artificialmente calorosas, que produzem, na maioria das vezes, uma falsa intimidade. 
4. Comentários valorativos ou emitir julgamentos sobre o que o paciente relata ou apresenta. 
5. Reações emocionais intensas de pena ou compaixão. 
6. Responder com hostilidade ou agressão às investidas hostis ou agressivas de alguns pacientes. O profissional deve se esforçar por demonstrar serenidade e firmeza diante de um doente agressivo ou muito hostil. 
7. Entrevistas excessivamente prolixas, nas quais o paciente fala, fala, fala, mas, no fundo, não diz nada de substancial sobre seu sofrimento. 
8. Fazer muitas anotações durante a entrevista, pois, em alguns casos, isso pode transmitir aopaciente que as anotações são mais importantes que a própria entrevista.
Alguns procedimentos podem facilitar a entrevista no momento em que o entrevitador lida com o SILÊNCIO do paciente:
1. Deve fazer perguntas e colocações breves que assinalem a sua presença efetiva e mostrem ao paciente que ele está atento e tranquilo para ouvi-lo.
2. Deve evitar perguntas muito direcionadas, fechadas, que possam ser respondidas com um sim ou um não categóricos.
3. É sempre melhor intervenções do tipo “Como foi isso?”, “Explique melhor”, “Conte um pouco mais sobre isso”, do que questões como “Por quê?” ou “Qual a causa?”.
4. Deve buscar para cada paciente em particular o tipo de intervenção que facilite a continuidade de sua fala.
Transferência e contratransferência
O conceito de transferência, introduzido por Freud, é um elemento fundamental que o profissional deve conhecer para realizar as entrevistas de forma mais habilidosa, entendendo e tratando seus pacientes de modo menos ingênuo, mais profundo e sensível.
A transferência compreende atitudes e sentimentos cuja origem são basicamente inconscientes para o paciente. Inclui tanto sentimentos positivos (como confiança, amor e carinho) quanto negativos (como raiva, hostilidade, inveja, etc.). Esses sentimentos são uma repetição inconsciente do passado; o analista (ou médico, profissional de saúde, professor, etc.) passa a ocupar, no presente, o lugar que o pai ou a mãe ocupavam no passado.
Segundo Jung (1999), a transferência não é mais que o processo comum de projeção: o paciente tende a projetar inconscientemente no médico os afetos básicos que nutria (e nutre) pelas figuras significativas de sua vida. 
A contratransferência é, em certo sentido, a transferência que o profissional estabelece com seus pacientes. Da mesma forma que o paciente, o profissional de saúde projeta inconscientemente, no paciente, sentimentos que nutria no passado por pessoas significativas de sua vida. Sem saber por que, este ou aquele paciente desperta no profissional sentimentos de raiva, medo, piedade, carinho, repulsa, etc. 
A avaliação psiquiátrica como um todo: anamnese, exame psíquico, exames somáticos e exames complementares
1. Entrevista inicial, na qual se faz a anamnese, ou seja, são colhidos todos os dados necessários para um diagnóstico pluridimensional do paciente.
2. Exame psíquico, que é o exame do estado mental atual, realizado com cuidado e minúcia pelo entrevistador desde o início da entrevista até a fase final.
3. Exame físico geral e neurológico, que deve ser mais ou menos detalhado a partir das hipóteses diagnósticas que se formam com os dados da anamnese e do exame do estado mental do paciente.
4. Exames complementares, sendo exemplos as avaliações por meio de testes da personalidade e da cognição (psicodiagnóstico e testes neuropsicológicos).
5. Exames complementares (semiotécnica armada), como os exames laboratoriais (p. ex., exame bioquímico, citológico e imunológico do líquido cerebrospinal, hemograma, hormônios, etc.), exames de neuroimagem e neurofisiológicos.
=> A habilidade do entrevistador se revela pelas perguntas que formula, por aquelas que evita formular e pela decisão de quando e como falar ou apenas calar.
=> O profissional, ao entrar em contato com cada novo paciente, deve preparar seu espírito para encarar o desafio de conhecer essa pessoa, formular um diagnóstico, entender, quando possível, algo do que realmente se passa em seu interior.
=> A entrevista inicial é considerada um momento crucial no diagnóstico e no tratamento em saúde mental.
=> Os primeiros três minutos da entrevista são extremamente significativos, sendo muitas vezes úteis tanto para a identificação do perfil dominante de sintomas do paciente como para a formulação da hipótese diagnóstica final.
=> Embora a atitude básica do entrevistador na fase inicial da avaliação seja de escuta, isso não significa colocar-se em posição totalmente passiva.
=> O paciente tende a projetar inconscientemente no médico os afetos básicos que nutria (e nutre) pelas figuras significativas de sua vida.
=> Da mesma forma que o paciente, o profissional de saúde projeta inconscientemente, no paciente, sentimentos que nutria no passado por pessoas significativas de sua vida.
=> Dissimulação: ato de esconder ou negar voluntariamente a presença de sinais e sintomas psicopatológicos
=> A simulação é a tentativa do paciente de criar, apresentar, voluntariamente, um sintoma, sinal ou vivência que de fato não tem.
TEXTO 6: CAPÍTULO 9 – AS FUNÇÕES PSÍQUICAS ELEMENTARES E SUAS ALTERAÇÕES
ADVERTÊNCIA: LIMITAÇÕES DE UMA PSICOPATOLOGIA DAS FUNÇÕES PSÍQUICAS
Apesar de ser absolutamente necessário o estudo analítico das funções psíquicas isoladas e de suas alterações, nunca é demais ressaltar que a separação da vida e da atividade mental em distintas áreas ou funções psíquicas é um procedimento essencialmente artificial. Trata-se apenas de uma estratégia de abordagem da vida mental que, por um lado, é bastante útil, mas, por outro, um tanto arriscada, pois pode suscitar enganos e simplificações inadequadas. É útil porque permite o estudo mais detalhado e aprofundado de determinados fatos da vida psíquica normal e patológica; e arriscada, porque facilmente se passa a acreditar na autonomia desses fenômenos, como se fossem objetos naturais. 
Com o passar do tempo, na prática clínica diária, passa-se inadvertidamente a crer que a memória, a sensopercepção, a consciência do Eu, a vontade, a afetividade, etc., são áreas autônomas e naturais, separadas umas das outras e com vida própria. Deixa-se de lembrar o que elas realmente são, isto é, constructos aproximativos da psicologia e da psicopatologia que permitem uma comunicação mais fácil e um melhor entendimento dos fatos. Que fique claro: não existem funções psíquicas isoladas e alterações psicopatológicas
Compartimentalizadas desta ou daquela função. É sempre a pessoa na sua totalidade que adoece.
 	Essa questão é discutida, com muita propriedade, pelo psicopatólogo Eugène Minkowski (1966). Ele questiona se o objeto da psicopatologia seria o estudo de sintomas isolados, atomizados e cindidos ou se, de fato, não seria mais adequado um projeto de estudo holístico, globalizante, da pessoa que adoece. 
Além disso, para Minkowski, a psicopatologia deve sempre e necessariamente estudar o homem na “primitiva solidariedade inter-humana”. A psicopatologia é, impreterivelmente, uma ciência “a duas vozes”, fundamentada em determinado encontro de, pelo menos, dois seres humanos. O que conta não são os sinais e os sintomas, mas, sobretudo, o fundo mental e inter-humano do qual eles procedem e no qual se realizam, e que, afinal, determinam a sua significação, o seu sentido. 
As funções perturbadas fazem pressentir transtornos subjacentes, ligados à personalidade inteira, atingida na sua estrutura e em seu modo de existir. A psicopatologia
geral dos manuais que Minkowski (1966) critica seria apenas a descrição mecânica e irrefletida dos sintomas, um exercício classificatório vazio, sem indicar o essencial, ou seja, a significação dos fenômenos. 
Nos transtornos psiquiátricos, não se trata apenas de agrupamentos de sintomas que coexistem com regularidade e revelam, assim, sua origem comum. Os sintomas que os compõem são ligados estruturalmente entre si. A psicopatologia, na medida em que é centrada na pessoa humana, não se desenvolve a não ser partindo de determinadas síndromes (psicopatologia sindrômica). A psicopatologia sintomática, como estudo dos sintomas isolados, não passa de uma semiologia psiquiátrica rudimentar. As alterações de funções isoladas constituem, em última análise, objeto da neurologia, da neuropsicologia ou da neurofisiologia, e não da psicopatologia.
=> Não existem funções psíquicas isoladas e alterações psicopatológicas compartimentalizadas desta ou daquela função. É sempre a pessoa na sua totalidade que adoece.
TEXTO 7: CAPÍTULO 10 – A CONSCIÊNCIA E SUASALTERAÇÕES
DEFINIÇÕES BÁSICAS
O termo consciência origina-se da junção de dois vocábulos latinos: cum (com) e scio (conhecer), indicando o conhecimento compartilhado com outro e, por extensão, o conhecimento “compartilhado consigo mesmo”, apropriado pelo indivíduo. Na língua portuguesa, a palavra consciência tem, pelo menos, três acepções diferentes:
1. A definição neuropsicológica emprega o termo consciência no sentido de estado vígil (vigilância), o que, de certa forma, iguala a consciência ao grau de clareza do sensório. Consciência aqui é fundamentalmente o estado de estar desperto, acordado, vígil, lúcido. Trata-se especificamente do nível de consciência.
2. A definição psicológica a conceitua como a soma total das experiências conscientes de um indivíduo em determinado momento. Nesse sentido, consciência é o que se designa campo da consciência. É a dimensão subjetiva da atividade psíquica do sujeito que se volta para a realidade. Na relação do Eu com o meio ambiente, a consciência é a capacidade de o
indivíduo entrar em contato com a realidade, perceber e conhecer os seus objetos.
3. A definição ético-filosófica é utilizada mais frequentemente no campo da ética, da filosofia, do direito ou da teologia. O termo consciência refere-se à capacidade de tomar ciência dos deveres éticos e assumir as responsabilidades, os direitos e os deveres concernentes a essa ética. Trata-se da consciência moral ou ética.
CAMPO DA CONSCIÊNCIA
Ao voltar-se para a realidade, a consciência demarca um campo, no qual se pode delimitar um foco, ou parte central mais iluminada da consciência, e uma margem (franja ou umbral), que seria a periferia menos iluminada, mais nebulosa, da consciência. Segundo a psicopatologia clássica, é na margem da consciência que surgem os chamados automatismos mentais e os estados ditos subliminares.
O inconsciente
O conceito de inconsciente eficaz, dinâmico e determinante da vida psíquica é um dos pilares mais importantes da psicanálise e da psiquiatria dita dinâmica.
Características funcionais do inconsciente
Para Freud, o inconsciente é bem mais do que um simples estado mental fora da consciência. Ele é, embora obscuro, a estrutura mental mais importante do psiquismo humano. Segundo ele, o sistema inconsciente funciona regido pelo princípio do prazer por meio do processo primário em forma de condensação e deslocamento. É, também, isento de contradições mútuas e não possui referência ao tempo. Explicando melhor:
1. Atemporalidade. No inconsciente, não existe tempo; ele é atemporal. Os processos inconscientes não são ordenados temporalmente, não se alteram com a passagem do tempo, não têm qualquer referência ao tempo. Não existe, aqui, passado, presente ou futuro.
2. Isenção de contradição. No sistema inconsciente, não há lugar para negação ou dúvida, nem graus diversos de certeza ou incerteza. Tudo é absolutamente certo, afirmativo.
3. Princípio do prazer. O funcionamento do inconsciente não segue as ordens da realidade, submete-se apenas ao princípio do prazer. Toda a atividade inconsciente visa evitar o desprazer e proporcionar o prazer, independentemente de exigências éticas ou realistas. A busca do prazer se dá por meio da descarga das excitações, diminuindo-se ao máximo a carga de excitações no aparelho psíquico.
4. Processo primário. As cargas energéticas (catexias) acopladas às representações psíquicas, às ideias, são totalmente móveis. Uma ideia pode ceder à outra toda a sua cota de energia (processo de deslocamento) ou apropriar-se de toda a energia de várias outras ideias (processo de condensação).
Caráter dinâmico do inconsciente
O sentido dinâmico não designa apenas o inconsciente como sede de ideias latentes em geral, mas especialmente como sede de ideias que possuem certo caráter dinâmico e atuante. O inconsciente é dinâmico, segundo Freud,
na medida em que exerce uma ação permanente, exigindo de forma permanente, para lhe interditar o acesso à consciência. Clinicamente, este caráter dinâmico verifica-se simultaneamente pelo fato de encontrarmos uma resistência para chegarmos ao inconsciente e pela produção renovada de derivados do recalcado.
(Laplanche; Pontalis, 1986)
ALTERAÇÕES NORMAIS DA CONSCIÊNCIA
O sono normal
O sono é um estado especial da consciência, que ocorre de forma recorrente e cíclica nos organismos superiores. É também, ao mesmo tempo, um estado comportamental e uma fase fisiológica normal e necessária do organismo. Dividem-se as fases do sono em duas, o sono sincronizado, sem movimentos oculares rápidos (sono NREM), e o sono dessincronizado, com movimentos oculares rápidos – rapid eye movements (sono REM). 
O sono sincronizado não-REM caracteriza-se por atividade elétrica cerebral síncrona. Há, nesse tipo de sono, diminuição da atividade do sistema nervoso autônomo simpático e aumento relativo do tônus do parassimpático, permanecendo vários parâmetros fisiológicos estáveis em um nível de funcionamento mínimo, tais como as frequências cardíaca e respiratória, o-REM, ocorrem quatro estágios:
1. Estágio 1: mais leve e superficial, com atividade regular do eletrencefalograma (EEG) de baixa voltagem, de 4 a 6 ciclos por segundo (2 a 5% do tempo total de sono).
2. Estágio 2: um pouco menos superficial, com traçado do EEG revelando aspecto fusiforme de 13 a 15 ciclos por segundo (fusos do sono) e algumas espículas de alta voltagem, denominadas complexos K (45 a 55% do tempo total de sono).
3. Estágio 3: sono mais profundo, com traçado do EEG mais lentificado, com ondas delta, atividade de 0,5 a 2,5 ciclos por segundo, ondas de alta voltagem (3 a 8% do tempo total de sono).
4. Estágio 4: estágio de sono mais profundo, com predomínio de ondas delta e traçado bem-lentificado. É mais difícil de despertar alguém nos estágios 3 e 4, podendo o indivíduo apresentar-se confuso ao ser despertado (10 a 15% do tempo total de sono).
O sono REM, por sua vez, não se encaixa em nenhuma dessas quatro fases. Sua duração total em uma noite perfaz de 20 a 25% do tempo total de sono. É um estágio peculiar, cujo padrão do EEG é semelhante ao do Estágio 1 do NREM. O sono REM não é, entretanto, um sono leve, tampouco profundo, mas um tipo de sono qualitativamente diferente. Caracteriza-se por instabilidade no sistema nervoso autônomo simpático, com variações das frequencias cardíaca e respiratória, da pressão arterial, do débito cardíaco e do fluxo sangüíneo cerebral.
No sono REM, há um padrão de movimentos oculares rápidos e conjugados (movimentos oculares sacádicos), bem como um relaxamento muscular profundo e generalizado (atonia muscular), interrompido esporadicamente por contrações de pequenos grupos musculares, como os músculos dos olhos. Além de irregularidade das frequências cardíaca e respiratória e da pressão sanguínea, ocorrem ereções penianas totais e parciais. É durante o sono REM que ocorre a maior parte dos sonhos.
ALTERAÇÕES PATOLÓGICAS DA CONSCIÊNCIA
Síndromes psicopatológicas associadas ao rebaixamento do nível de consciência
Delirium é o termo atual mais adequado para designar a maior parte das síndromes
confusionais agudas (o termo “paciente confuso”, muito usado em serviços de emergência e enfermarias médicas, refere-se a tais síndromes confusionais). Cabe ressaltar que esses termos (síndrome confusional e paciente confuso) dão ênfase ao aspecto confuso do pensamento e do discurso do paciente (fala incongruente, com conteúdos absurdos e sem articulação lógica), um dos traços do delirium, mas não necessariamente o mais importante ou mais frequente. Daí a opção de utilizar o termo delirium em vez de síndrome confusional. O delirium é uma das síndromes mais frequentes na prática clínica diária, principalmente em pacientes com doenças somáticas (emergências e enfermarias médicas) e em idosos.
Estado onírico é o termo da psicopatologia clássica para designar uma alteração da consciência na qual, paralelamente à turvação da consciência, o indivíduo entra em estado semelhantea um sonho muito vívido. Em geral, predomina a atividade alucinatória visual intensa com caráter cênico e fantástico. O indivíduo vê cenas complexas, ricas em detalhes, às vezes terríficas, com lutas, matanças, fogo, assaltos, sangue, etc. Há carga emocional marcante na experiência onírica, com angústia, terror ou pavor. O doente manifesta esse estado onírico angustioso gritando, movimentando-se, debatendo-se na cama e apresentando, às vezes, sudorese profusa. Há geralmente amnésia consecutiva ao período em que o doente permaneceu nesse estado onírico. 
Alterações qualitativas da consciência
Além dos diversos estados de redução global do nível de consciência, a observação
psicopatológica registra uma série de estados alterados da consciência, nos quais se tem mudança parcial ou focal do campo da consciência. Uma parte do campo da consciência está preservada, normal, e outra parte, alterada. De modo geral, há quase sempre, nas alterações qualitativas da consciência, algum grau de rebaixamento (mesmo que mínimo) do nível de consciência.
Têm-se as seguintes alterações qualitativas da consciência:
1. Estados crepusculares. É um estado patológico transitório no qual uma obnubilação da consciência (mais ou menos perceptível) é acompanhada de relativa conservação da atividade motora coordenada. Nos estados crepusculares há estreitamento transitório do campo da consciência, com a conservação de uma atividade psicomotora global mais ou menos coordenada, permitindo a ocorrência dos chamados atos automáticos. Caracteriza-se por surgir e desaparecer de forma abrupta e ter duração variável, de poucos minutos ou horas a algumas semanas. 
2. Estado segundo. Estado patológico transitório semelhante ao estado crepuscular, caracterizado por uma atividade psicomotora coordenada, a qual, entretanto, permanece estranha à personalidade do sujeito acometido e não se integra a ela. 
3. Dissociação da consciência. Designa a fragmentação ou a divisão do campo da consciência, ocorrendo perda da unidade psíquica comum do ser humano. Ocorre com certa frequência nos quadros histéricos (crises histéricas de tipo dissociativo). 
4. Transe. Estado de dissociação da consciência que se assemelha a sonhar acordado, diferindo disso, porém, pela presença de atividade motora automática e estereotipada acompanhada de suspensão parcial dos movimentos voluntários. O estado de transe ocorre em contextos religiosos e culturais (espiritismo kardecista, religiões afro-brasileiras e religiões evangélicas pentecostais e neopentecostais).
5. Estado hipnótico. É um estado de consciência reduzida e estreitada e de atenção concentrada, que pode ser induzido por outra pessoa (hipnotizador). Trata-se de um estado de consciência semelhante ao transe, no qual a sugestionabilidade do indivíduo está aumentada, e a sua atenção, concentrada no hipnotizador.
6. Experiência de quase-morte, EQM. Um estado especial de consciência é verificado em situações críticas de ameaça grave à vida, como parada cardíaca, hipoxia grave, isquemias, acidente automobilístico grave, entre outros, quando alguns sobreviventes afirmam ter vivenciado as chamadas experiências de quase-morte (EQM).
=> O sono é um estado especial da consciência, que ocorre de forma recorrente e cíclica nos organismos superiores.
=> O sonho, fenômeno associado ao sono, pode ser considerado uma alteração normal da consciência. 
=> Os sonhos são vivências predominantemente visuais, sendo rara a ocorrência de percepções auditivas, olfativas ou táteis.
=> O sonho é um fenômeno psicológico extremamente rico e revelador de desejos e temores, ainda que de forma indireta e disfarçada.
=> A consciência pode se alterar tanto por processos fisiológicos, normais, como por processos patológicos.
TEXTO 8: CAPÍTULO 11 – A ATENÇÃO E SUAS ALTERAÇÕES
DEFINIÇÕES BÁSICAS
A atenção pode ser definida como a direção da consciência, o estado de concentração da atividade mental sobre determinado objeto.
PSICOLOGIA DA ATENÇÃO
Conceitos da psicologia e da psicopatologia clássicas da atenção
Tomando-se em consideração a natureza da atenção, pode-se discernir dois tipos básicos de atenção: a atenção voluntária, que exprime a concentração ativa e intencional da consciência sobre um objeto; e a atenção espontânea, que é aquele tipo de atenção suscitado pelo interesse momentâneo, incidental, que desperta este ou aquele objeto. Esta última geralmente está aumentada nos estados mentais em que o indivíduo tem pouco controle voluntário sobre sua atividade mental. 
Em relação à direção da atenção, pode-se discriminar duas forma básicas: a atenção externa, projetada para fora do mundo subjetivo do sujeito, voltada para o mundo exterior ou para o corpo, geralmente de natureza mais sensorial, utilizando os órgãos dos sentidos. Difere-se da atenção interna, que se volta para os processos mentais do próprio indivíduo. É uma atenção mais reflexiva, introspectiva e meditativa. Em relação à amplitude da atenção, há a atenção focal, que se mantém concentrada sobre um campo determinado e relativamente delimitado e restrito da consciência, em contraposição à atenção dispersa, que não se concentra em um campo determinado, espalhando-se de modo menos delimitado.
Tenacidade consiste na capacidade do indivíduo de fixar sua atenção sobre determinada área ou objeto. Na tenacidade, a atenção se prende a certo estímulo, fixando-se sobre ele. A vigilância é definida como a qualidade da atenção que permite ao indivíduo mudar seu foco de um objeto para outro.
Atenção flutuante é um conceito desenvolvido por Freud, relativo ao estado de como deve funcionar a atenção do psicanalista durante uma sessão analítica. Segundo Freud, a atenção do analista não deve privilegiar a priori qualquer elemento do discurso ou comportamento do paciente, o que implica deixar funcionar livremente sua própria atividade mental, consciente e inconsciente, deixando livre a atenção e suspendendo ao máximo as motivações, os desejos e os planos próprios. 
A psicologia contemporânea da atenção
Atualmente, subdivide-se a atenção em quatro aspectos básicos:
1. Capacidade e foco de atenção
2. Atenção seletiva
3. Seleção de resposta e controle executivo
4. Atenção constante ou sustentada
Capacidade e foco de atenção referem-se à focalização da atenção e estão intensamente associados à experiência subjetiva de concentração. A capacidade de atenção não é constante com o passar do tempo, flutuando em função de fatores extrínsecos (valor dos estímulos, demandas de respostas predominantes e de fatores intrínsecos [fatores energéticos, como estado afetivo e grau de motivação, e fatores estruturais, como velocidade de processamento e capacidade de memória]). 
Já a atenção seletiva diz respeito aos processos que permitem ou facilitam a seleção
de informações relevantes para o sujeito e seu processamento cognitivo. Ela resume a qualidade mais importante dos processos atencionais: a seletividade. 
Seleção de resposta e controle seletivo são de extrema relevância, pois o ato de prestar a atenção está, quase sempre, associado a uma ação planejada, voltada a certos objetivos. Assim, a atenção está sempre envolvida na seleção não apenas dos estímulos e das informações, mas também das respostas e do controle destas. 
Atenção constante ou sustentada diz respeito à capacidade de manter a atenção ao longo do tempo. Tal capacidade varia (geralmente diminui) com o passar do tempo. Como função psíquica, a atenção é mais variável ao longo do tempo que a percepção e a memória.
ANORMALIDADES DA ATENÇÃO
A alteração mais comum e menos específica da atenção é a diminuição global desta,
chamada hipoprosexia. Aqui se verifica uma perda básica da capacidade de concentração, com fatigabilidade aumentada, o que dificulta a percepção dos estímulos ambientais e a compreensão; as lembranças tornam-se mais difíceis e imprecisas, há dificuldade crescente em todas as atividades psíquicas complexas, como o pensar, o raciocinar,

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