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A Participacao dos Empregados nos Lucros, nos Resultados e na Gestao da Empresa_ Trabalho_ Participacao nos lucros - Participacao nos resultados - Participacao na Gestao da Empresa - Americo Luis Mart

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Paulo Lopes

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DADOS	DE	COPYRIGHT
Sobre	a	obra:
A	presente	obra	é	disponibilizada	pela	equipe	Le	Livros	e	seus	diversos	parceiros,	com	o	objetivo	de
oferecer	conteúdo	para	uso	parcial	em	pesquisas	e	estudos	acadêmicos,	bem	como	o	simples	teste	da
qualidade	da	obra,	com	o	fim	exclusivo	de	compra	futura.
É	expressamente	proibida	e	totalmente	repudíavel	a	venda,	aluguel,	ou	quaisquer	uso	comercial	do
presente	conteúdo
Sobre	nós:
O	Le	Livros	e	seus	parceiros	disponibilizam	conteúdo	de	dominio	publico	e	propriedade	intelectual	de
forma	totalmente	gratuita,	por	acreditar	que	o	conhecimento	e	a	educação	devem	ser	acessíveis	e	livres	a
toda	e	qualquer	pessoa.	Você	pode	encontrar	mais	obras	em	nosso	site:	lelivros.love	ou	em	qualquer	um
dos	sites	parceiros	apresentados	neste	link.
"Quando	o	mundo	estiver	unido	na	busca	do	conhecimento,	e	não	mais	lutando	por	dinheiro	e
poder,	então	nossa	sociedade	poderá	enfim	evoluir	a	um	novo	nível."
A	PARTICIPAÇÃO	DOS	EMPREGADOS	NOS	LUCROS,	NOS
RESULTADOS	E	NA	GESTÃO	DA	EMPRESA
	
Trabalho:	Participação	nos	lucros	-	Participação	nos	resultados	-
Participação	na	Gestão	da	Empresa
	
AMÉRICO	LUÍS	MARTINS	DA	SILVA
	
2ª	Edição	Revista	e	Atualizada
	
A	PARTICIPAÇÃO	DOS	EMPREGADOS	NOS	LUCROS,	NOS	RESULTADOS	E	NA	GESTÃO	DA	EMPRESA:
	
Trabalho:	Participação	nos	lucros	-	Participação	nos	resultados	-	Participação	na	Gestão	da	Empresa.
	
	
2ª	Edição	Revista	e	Atualizada
	
	
AMÉRICO	LUÍS	MARTINS	DA	SILVA
	
	
1ª	Edição	(livro	impresso):	05.07.1996	[Editora	Lúmen	Juris].
	
	
Copyright	©	2016	Américo	Luís	Martins	da	Silva
	
	
A	obra	foi	registrada,	em	28.03.96,	no	Escritório	de	Direitos	Autorais	da	Biblioteca	Nacional,	junto	ao	registro	n°	110.039,	do	Livro	163,	à	fl.
264	(protocolo	1996/RJ-2509).
	
A	 publicação	 da	 primeira	 edição	 da	 obra	 foi	 averbada,	 em	 10.07.1996,	 no	Escritório	 de	Direitos	Autorais	 da	Biblioteca	Nacional,	 junto	 ao
registro	nº	n°	110.039,	Livro	172,	fl.	119	(protocolo	1996RJ/6166).
	
Todos	 os	 direitos	 reservados.	 Proibida	 a	 reprodução	 total	 ou	 parcial,	 por	 qualquer	meio	 ou	 processo,	 especialmente	 por	 sistemas	 gráficos,
microfílmicos,	fotográficos,	reprográficos,	fonográficos,	videográficos.	Vedada	a	memorização	e/ou	a	recuperação	total	ou	parcial,	bem	como	a
inclusão	 de	 qualquer	 parte	 desta	 obra	 em	 qualquer	 sistema	 de	 processamento	 de	 dados.	 Essas	 proibições	 aplicam-se	 também	 às
características	gráficas	da	obra	e	à	sua	editoração.	A	violação	dos	direitos	autorais	é	punível	como	crime	(art.	184	e	parágrafos,	do	Código
Penal),	com	pena	de	prisão	e	multa,	conjuntamente	com	busca	e	apreensão	e	indenizações	diversas	(arts.	101	a	110	da	Lei	federal	brasileira	n°
9.610,	de	19.02.1998,	Lei	dos	Direitos	Autorais).
	
	
E-mail	do	Autor	de	atendimento	ao	público	leitor	913724rb.rj@uol.com.br
	
	
ISBN:	9781977029256
	
SOBRE	O	AUTOR
	
Américo	Luis	Martins	da	Silva	 (1955-)	 nasceu	no	Rio	de	 Janeiro,	Brasil.	É	Procurador	Federal;
Professor	 de	 Direito	 Econômico,	 de	 Direito	 Empresarial,	 Direito	 Imobiliário,	 Direito	 Civil	 e
Planejamento	 Tributário	 da	 Escola	 de	 Pós-Graduação	 em	 Economia	 -	 EPGE	 da	 Fundação	 Getúlio
Vargas	-	FGV;	Professor	de	Direito	Societário	da	Escola	Brasileira	de	Administração	Pública	-	EBAP
da	Fundação	Getúlio	Vargas	-	FGV;	Professor	de	Direito	Societário	da	Escola	da	Magistratura	do	Rio
de	Janeiro	-	EMERJ;	Professor	de	Direito	Tributário	do	Curso	de	Pós-Graduação	em	Direito	Tributário
da	Universidade	Cândido	Mendes	-	UCAM;	Professor	de	Direito	Comercial	do	Curso	de	Graduação	em
Direito	da	Universidade	Estácio	de	Sá.	É	Especialista	em	Direito	Empresarial,	pelo	Centro	de	Ensino
Unificado	de	Brasília	-	CEUB.	É	pós-graduado	em	Direito	Civil	pela	Escola	Superior	da	Magistratura
do	Distrito	Federal.	É	Mestre	em	Direito	Empresarial,	pela	Universidade	Gama	Filho	-	UGF	do	Rio	de
Janeiro.	É	autor	das	seguintes	obras	jurídicas:	1)	AS	AÇÕES	DAS	SOCIEDADES	E	OS	TÍTULOS	DE
CRÉDITO	 [2ª	 edição];	 2)	 A	 ORDEM	 CONSTITUCIONAL	 ECONÔMICA	 [3ª	 edição];	 3)	 A
PARTICIPAÇÃO	 DOS	 EMPREGADOS	 NOS	 LUCROS,	 NOS	 RESULTADOS	 E	 NA	 GESTÃO	 DA
EMPRESA	 [2ª	 edição];	 4)	 DIREITO	 DE	 FAMÍLIA	 E	 COSTUMES	 ALTERNATIVOS:	 ESTUDO
JURÍDICO,	 ANTROPOLÓGICO	 E	 SOCIAL	 DA	 FAMÍLIA	 (2	 VOLUMES)	 [3ª	 edição];	 5)
CUMPRIMENTO	 DE	 SENTENÇA	 E	 EXECUÇÃO	 DA	 OBRIGAÇÃO	 DE	 PAGAR	 CONTRA	 A
FAZENDA	 PÚBLICA:	 	 PRECATÓRIO-REQUISITÓRIO	 E	 REQUISIÇÃO	 DE	 PEQUENO	 VALOR
(RPV)	[5ª	edição];	6)	DIREITO	DAS	LOCAÇÕES	IMOBILIÁRIAS	[4ª	edição];	7)	O	DANO	MORAL
E	 SUA	 REPARAÇÃO	 CIVIL	 [5ª	 edição];	 8)	 INTRODUÇÃO	 AO	 DIREITO	 EMPRESARIAL	 [3ª
edição];	 9)	 A	 EXECUÇÃO	 DA	 DÍVIDA	 ATIVA	 DA	 FAZENDA	 PÚBLICA	 [4ª	 edição];	 10)
INTRODUÇÃO	AO	DIREITO	ECONÔMICO	[2ª	edição];	11)	REGISTRO	PÚBLICO	DA	ATIVIDADE
EMPRESARIAL	 (2	 volumes)	 [2ª	 edição];	 12)	 CONTRATOS	 EMPRESARIAIS	 (2	 volumes)	 [3ª
edição];	 13)	 DIREITO	 DO	 MEIO	 AMBIENTE	 E	 DOS	 RECURSOS	 NATURAIS	 (3	 volumes)	 [2ª
edição];	14)	SOCIEDADES	EMPRESARIAIS	(2	volumes)	[2ª	edição];	15)	DIREITO	AERONÁUTICO
E	 DO	 ESPAÇO	 EXTERIOR	 (4	 volumes)	 [2ª	 edição];	 16)	 DIREITO	 DOS	 MERCADOS
FINANCEIROS	 (3	VOLUMES)	 [2ª	 edição];	 17)	DIREITO	DA	CONCORRÊNCIA	EMPRESARIAL;
18)	CONDOMÍNIO:	DOUTRINA	E	JURISPRUDÊNCIA;	e	19)	DIREITO	DA	PROTEÇÃO	E	DEFESA
DO	CONSUMIDOR.	É	também	autor	das	seguintes	obras	não	jurídicas:	1)	O	VOO-SOLO	E	OUTROS
CONTOS	[categoria:	contos];	2)	UMA	ODISSÉIA	PELOS	MARES	ORIENTAIS	[categoria:	romance];
3)	 O	 RESGATE	DE	ALLAJI	 [categoria:	 romance];	 4)	 A	 SAGA	DE	BARTOLOMEU	BRASILEIRO
[categoria:	 romance];	 5)	 BARTOLOMEU	 BRASILEIRO,	 O	 BUCANEIRO	 [categoria:	 romance];	 6)
O	IMIGRANTE	PORTUGUÊS	[categoria:	romance];	7)	DESCONHECIDO	CAVALEIRO	DA	ORDEM
DE	CRISTO	[categoria:	romance];	8)	UM	CONTINENTE	LONGE	DEMAIS	[categoria:	romance];	9)
A	 ÉPOCA	 DE	 BUENO	 MACHADO,	 DANÇARINO	 E	 CABARETIER	 [categoria:	 crônica];	 	 10)
POESIAS	REUNIDAS	DE	UM	POETA	EVENTUAL	 [categoria:	 poesias];	 11)	OS	MAIS	FAMOSOS
ATORES	DE	HOLLYWOOD	-	DE	1940	A	1960	-	VOLUME	1	[categoria:	biografia].
Visite	os	sites:
http://www.americoluismartinsdasilva.com.br	(site	pessoal)
http://www.amazon.com/author/americo.silva	(pagina	de	autor	de	livros	na	amazon.com)
	
DEDICATÓRIA
	
	
Dedico	este	livro	à	Eulália	de	Souza	Nascimento	e	à	memória	de	Francisco	José	do	Nascimento.
ÍNDICE
	
	
SOBRE	O	AUTOR
DEDICATÓRIA
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS
PREFÁCIO
CAPÍTULO	1	–	INTRODUÇÃO
CAPÍTULO	2	–	A	EMPRESA,	O	EMPREGADOR,	O	TRABALHADOR	E	O	EMPREGADO
2.1	DEFINIÇÃO	DE	EMPRESA
2.2	DEFINIÇÃO	DE	EMPREGADOR
2.3	DEFINIÇÃO		DE		EMPREGADO		E		DE		TRABALHADOR
CAPÍTULO	3	–	OS	LUCROS	E	OS	RESULTADOS	DA	EMPRESA
3.1	DEFINIÇÃO		E		NATUREZA		JURÍDICA		DO		LUCRO
3.2	LUCRO	BRUTO,	LUCRO	LÍQUIDO,	LUCRO	LÍQUIDO	DO	EXERCÍCIO	E	LUCRO	FINAL
3.3	LUCRO	OPERACIONAL	E	LUCRO	NÃO	OPERACIONAL
3.4	LUCRO	REAL,	LUCRO	TRIBUTÁVEL,	LUCRO		PRESUMIDO,	LUCRO	ARBITRADO,
LUCRO		INFLACIONÁRIO	E	LUCRO	DA	EXPLORAÇÃO
3.5	RESULTADO	DA	GESTÃO	ADMINISTRATIVA	DA	EMPRESA
CAPÍTULO	4	–	TEORIA	GERAL	DA	PARTICIPAÇÃO	DOS	EMPREGADOS	NOS	LUCROS	E	NOS
RESULTADOS	DA	EMPRESA
4.1	DEFINIÇÃO	DE	PARTICIPAÇÃO	DOS	EMPREGADOS	NOS	LUCROS
4.2	DEFINIÇÃO	DE	PARTICIPAÇÃO	DOS	EMPREGADOS	NOS	RESULTADOS
4.3	EVOLUÇÃO		HISTÓRICA		E		FUNDAMENTOS		DA		PARTICIPAÇÃO		DOS	EMPREGADOS	
NOS		LUCROS		E		NOS		RESULTADOS		DA		EMPRESA
4.4	DISTRIBUIÇÃO	FACULTATIVA	E	DISTRIBUIÇÃO	OBRIGATÓRIA	DOS	LUCROS	AOS
EMPREGADOS
4.5	COMPATIBILIDADE	DA	PARTICIPAÇÃO	NOS	LUCROS	COM	O	CONTRATO	DE
TRABALHO
4.6	NATUREZA	JURÍDICA	DA	PARTICIPAÇÃO	NOS	LUCROS	E	DA	PARTICIPAÇÃO	NOS
RESULTADOS	DA	EMPRESA
4.7	AS	FORMAS	DE	PARTICIPAR	NOS	LUCROS	OU	NOS	RESULTADOS	DA	EMPRESA
CAPÍTULO	5	–	A	PARTICIPAÇÃO	DOS	EMPREGADOS	NOS	LUCROS	OU	NOS	RESULTADOS	DAS
EMPRESAS	NO	BRASIL	E	NO	DIREITO	COMPARADO
5.1	A	PARTICIPAÇÃO	NOS	LUCROS	NA	CONSTITUIÇÃO	FEDERAL	DE	1946
5.2	A	PARTICIPAÇÃO	NOS	LUCROS	NA	CONSTITUIÇÃOFEDERAL	DE	1967	E	NA	EMENDA
CONSTITUCIONAL	N°	1,	DE	1969
5.3	A	PARTICIPAÇÃO	NOS	LUCROS	E	NOS	RESULTADOS	NA	CONSTITUIÇÃO	DE	1988
5.4	A	PARTICIPAÇÃO	NOS	LUCROS	NA	LEGISLAÇÃO	ORDINÁRIA	BRASILEIRA
5.4.1.	A	Consolidação	das	Leis	do	Trabalho	-	CLT
5.4.2.	Constituição	Federal
5.4.3.	Lei	n°	2.004,	de	03.10.1953
5.4.4.	Lei	n°	3.115,	de	16.03.1957
5.4.5.	Decreto	n°	59.832,	de	21.12.1966
5.4.6.	Decreto-Lei	n°	1.971,	de	30.11.1982
5.4.7.	Medida	Provisória	n°	794,	de	29.12.1994
5.4.8.	Lei	n°	10.101,	de	19.12..2000
5.4.8.1	Alcance	da	Lei	n°	10.101,	de	19.12..2000
5.4.8.2	Não	cumulação	de	benefícios
5.4.8.3	Procedimentos	de	negociação	para	participação	nos	lucros	ou	resultados
5.4.8.4	Instrumentos	de	negociação
5.4.8.5	Vedação	de	encargos	trabalhistas	e	tributação	pelo	imposto	de	renda
5.4.8.6	Impasse	na	negociação
5.4.8.7	Participação	nos	lucros	e	resultados	por	trabalhadores	em	empresas	estatais
5.5	O	PROGRAMA	DE	INTEGRAÇÃO	SOCIAL	-	PIS	E	O	PROGRAMA	DE	FORMAÇÃO	DO
PATRIMÔNIO	DO	SERVIDOR	PÚBLICO	-	PASEP
5.6	A	PARTICIPAÇÃO	DOS	TRABALHADORES	NOS	LUCROS	À	LUZ	DA	LEGISLAÇÃO
ESTRANGEIRA
CAPÍTULO	6	–	A	PARTICIPAÇÃO	DOS	EMPREGADOS	NA	GESTÃO	DA	EMPRESA
6.1	DEFINIÇÃO	DE	GESTÃO
6.2	COGESTÃO,	PARTICIPAÇÃO	NA	ADMINISTRAÇÃO	E	PARTICIPAÇÃO	EXCEPCIONAL	NA
GESTÃO
6.3	A	EVOLUÇÃO	HISTÓRICA	DA	COGESTÃO	E	O	DIREITO	COMPARADO
6.4	FINALIDADES	DA	PARTICIPAÇÃO	DOS	EMPREGADOS	NA	GESTÃO	DA	EMPRESA
BIBLIOGRAFIA
AGRADECIMENTOS
	
À	Eudélia	Fialho	De	Lima	Guerra,	não	apenas	pela	trabalhosa	e	paciente	revisão	do	texto,	mas,	também,
pelo	incentivo	e	apoio	que	sempre	me	ofereceu	durante	longos	anos	e	à	Cristina	Maria	Cesar	Martins
da	Silva	pelas	sugestões	apresentadas	na	elaboração	final	da	obra.
PREFÁCIO
	
O	tema	–	A	Participação	dos	Empregados	nos	Lucros,	nos	Resultados	e	na	Gestão	da	Empresa
–	tão	bem	cuidado	nesta	obra	pelo	Professor	Américo	Luís	Martins	da	Silva,	foi	 tratado	pela	primeira
vez	 em	 sede	 constitucional	 na	 Carta	 Magna	 de	 1946,	 passando	 pelo	 texto	 de	 1967,	 pela	 Emenda
Constitucional	n°1,	de	1969,	até	chegar	ao	inciso	XI,	do	artigo	7°	da	Constituição	Federal	de	1988.
Matéria	das	mais	complexas	em	sede	trabalhista,	já	que	envolve	interesses	do	mais	alto	nível	da
empresa	como	lucro,	resultado	ou	até	mesmo	a	co-gestão	pelos	empregados	tem	sido	fruto	desde	1988	da
edição	 de	 inúmeras	Medidas	 Provisórias	 por	 parte	 do	 Governo	 Federal,	 no	 afã	 de	 regulamentar	 sua
aplicação,	porém,	sem	nenhum	êxito,	até	o	presente	momento,	como	nos	dá	notícias	o	Autor	da	obra.
A	dificuldade	do	legislador	em	equacionar	o	assunto,	por	si	só	demonstra	a	importância	da	obra
de	Américo	Luís	Martins	da	Silva,	que	não	é	a	primeira,	mas	que	com	certeza	muito	contribuirá	para
elucidar	 não	 apenas	 o	 legislador,	mas	 todos	 aqueles	 que	 se	 preocupam	 com	 as	 relações	 denominadas
trabalhistas.
Analisando	a	evolução	histórica	do	instituto,	a	sua	compatibilização	com	o	contrato	do	trabalho,
as	formas	pelas	quais	o	empregado	pode	participar	nos	 lucros	ou	nos	resultados,	até	a	participação	na
administração	da	empresa,	Américo	Luís	Martins	da	Silva,	 faz	um	passeio	no	Direito	Comparado	e	no
Direito	Pátrio,	desde	os	 textos	constitucionais	até	a	 legislação	ordinária,	e	 tenho	certeza	que	o	esforço
desenvolvido	será	de	grande	valia	para	o	esclarecimento	do	tema	e	de	sua	regulamentação.
A	este	trabalho	do	Autor,	de	quem	me	orgulho	ter	sido	professora	e	colega	de	estudos	nos	Cursos
de	Mestrado	e	de	Doutorado	da	Universidade	Gama	Filho	do	Rio	de	Janeiro,	outros	se	seguirão,	com	o
mesmo	sucesso	do	primeiro	intitulado	“As	Ações	das	Sociedades	e	os	Títulos	de	Crédito”,	editado,	pela
primeira	vez,	em	1995.
Américo	 Luis	 Martins	 da	 Silva	 é	 um	 batalhador,	 tem	 procurado	 vencer	 e	 vencerá,	 pois
desenvolve	um	trabalho	sério	e	profícuo,	como	é	o	que	está	nesta	obra,	onde	enfrenta	uma	temática	que
constitui	um	verdadeiro	desafio.
Por	tudo	isso,	posso	afirmar	que	tenho	o	prazer	e	a	honra	de	prefaciar	tão	importante	trabalho.
	
Zoraide	Amaral	de	Souza
CAPÍTULO	1	–	INTRODUÇÃO
	
	
Através	dos	 séculos	a	questão	social	 tem	 sido	 tema	 inesgotável	 dos	 pensadores,	 economistas,
juristas,	 políticos	 etc.	Ou	 como	menciona	o	 jurista	 e	 professor	 universitário	 de	Direito	 do	Trabalho	 e
Seguridade	 Social	 das	 faculdades	 de	 direito	 da	 Universidade	 Federal	 de	 Pelotas	 e	 da	 Universidade
Federal	do	Rio	Grande	do	Sul,	MOZART	VICTOR	RUSSOMANO	(Pelotas,	05.07.1922	–	17.10.2010),
os	filósofos,	desde	Platão	(Atenas,	428/427	–	Atenas,	348/347	a.C.)	e	Aristóteles	(Estágira,	Grecia,	384
a.C.	 –	 Calcis,	Grécia,	 322	 a.C.)	 até	Karl	Marx	 (Tréveris,	 05.05.1818	 -	 Londres,	 14.03.1883),	Lenin
(Ulianovsk,	 Russia,	 22.04.1870	 –	 Gorki,	 21.01.1924),	 Leão	 XIII	 (Carpineto	 Romano,	 02.03.1810	 –
Roma,	 20.07.1903)	 e	 Jacques	Maritain	 (Paris,	 18.11.1882	 –	 Toulouse,	 28.04.1973)	 “se	 têm	 atirado,
pelos	 mares	 desconhecidos	 do	 pensamento	 e	 dos	 séculos,	 no	 devaneio	 dos	 argonautas,	 à	 procura	 do
velocino	de	ouro	de	uma	solução	definitiva	e	humana	para	o	problema	social”.	Segundo	ele,	“cada	gênio
queima,	 na	 pira	 da	 sociedade,	 alguns	 grânulos	 do	 incenso	 de	 suas	 teorias”.	 Todavia	 os	 homens,	 as
instituições,	as	ideias,	as	doutrinas	e	os	sonhos	passam	e	desaparecem	no	passado.	Sempre	resta	apenas	a
questão	social.	A	má	distribuição	das	riquezas,	a	miséria	da	classe	operária	e	a	injustiça	da	vertiginosa
concentração	do	dinheiro	circulante	na	mão	de	muito	poucos	tem	sido	o	germe	de	revoltas,	revoluções,
guerras	e	de	reformas	no	mundo	capitalista.	Enfim,	a	questão	social,	sob	o	aspecto	dinâmico,	 tem	sido
uma	luta	intensa,	que,	na	opinião	de	MOZART	VICTOR	RUSSOMANO,	vez	por	outra,	abala	os	alicerces
da	sociedade	humana,	colocando	em	risco	a	paz	política	do	Estado	e	a	paz	de	consciência	dos	cidadãos.
[1]
Lembra	 ainda	 MOZART	 VICTOR	 RUSSOMANO	 que	 a	 questão	 social	 decorre	 de	 um	 fato
incontestável:	o	capital	todo	poderoso	oprime	o	trabalho	desprotegido.	Diz	ele	que,	daí,	extraímos,	pelo
raciocínio	 e	 pelo	 sentimento,	 um	 roteiro	 de	 ação:	 é	 necessário	 fazermos	 a	 defesa	 eficiente,	 serena	 e
vigorosa	 do	 trabalho	 contra	 o	 capital,	 pois	 o	 trabalho	 é	 o	 único	 elemento	 humano	 da	 produção
econômica	e,	portanto,	o	mais	digno.	Menciona	ainda	ele	que,	em	regra,	o	trabalhador	vive	do	fruto	do
seu	 esforço	 pessoal,	 isto	 é,	 vive	 do	 seu	 salário.	 	 A	 humanidade,	 por	 outro	 lado,	 é	 constituída,	 na
proporção	de	90%,	de	assalariados.	Por	 isso	os	 legisladores	protegem	a	 remuneração	do	proletariado
contra	os	desmandos	possíveis	ou	verificados	do	empregador	menos	honesto.	Como	sabemos,	é	velha	a
luta	 pela	 conquista	 de	 um	 salário	 justo,	 que	 não	 há	 de	 ser	 o	 salário	 que	 corresponde,	 tão
matematicamente	quanto	possível,	à	quantidade	de	 trabalho	desenvolvido	pelo	empregado,	mas,	 sim,	o
salário	humano,	o	salário	vital	defendido	pela	doutrina	social	da	Igreja,	que,	como	dizia	o	Papa	Pio	XI
(Desio,	31.05.1857	 -	Vaticano,	10.02.1939),	em	sua	encíclica	“Quadragesimo	Anno”	 se	deve	 revestir,
quando	possível,	do	caráter	de	salário	vital	familiar.[2]
Todavia,	se	o	operário	é	um	complemento	digno	e	indispensável	na	vida	social,	por	outro	lado,
cairiam	no	mesmo	erro	em	que	caíram	os	donos	do	capital	no	século	passado	ao	formar	um	grupo	unido	e
compacto,	com	características	de	força	poderosa	e	temível,	para	abusar	do	seu	poder.
Devemos	lembrar	que	até	mesmo	os	revolucionários,	quando	se	tiranizam,	são	engolidos	pela
própria	 revolução	 que	 eles	 mesmos	 desatam.	 Os	 Impérios	 romano	 e	 árabe	 caíram	 pelo	 abuso	 que
cometeram	com	seu	poderio	e	pela	debilidade	em	que	os	deixou	o	vício	que	sustentavam.	O	feudalismo
foi	 enterrado	 pelo	 mesmo	 abuso	 de	 poder;	 era	 impossível	 continuar	 tolerando	 que	 aqueles	 grandes
senhores	 fossem	 donos	 de	 vidas	 e	 bens	 de	 seus	 vassalos.	 Luís	 XVI	 (Versalhes,	 23.08.1754–	 Paris,
21.01.1793)	 e	 Maria	 Antônia	 Josefa	 Joana	 de	 Habsburgo-Lorena	 (Viena,	 02.11.1755	 -	 Paris,
16.10.1793),	 deixando	 de	 ouvir	 os	 gritos	 da	 multidão	 faminta	 e	 abusando	 de	 seu	 poder	 político,
organizavam	 suntuosas	 festas	 nas	 quais	 fortunas	 eram	 dispendidas,	 no	mesmo	 instante	 em	 que	 o	 povo
carecia	 dos	 alimentos	mais	 indispensáveis	 para	 seu	 sustento.	O	 resultado	 foi	 que	 o	 povo	oprimido	 se
sublevou	 (Revolução	Francesa)	e	enviou	os	Reis	à	guilhotina.	Maximilien	François	Marie	 Isidore	de
Robespierre	(Arras,	06.05.1758	-	Paris,	28.07.1794),	principal	indutor	desta	Revolução,	tanto	abusou	de
seu	poder	político,	que	a	Revolução,	que	ele	mesmo	organizou,	acabou	com	ele,	guilhotinando-o.	Surgiu
o	 líder	 político	 e	 militar	 durante	 os	 últimos	 estágios	 da	 Revolução	 Francesa,	 Napoleão	 Bonaparte
(Ajaccio,	 15.08.1769	 -	 Santa	Helena,	 05.05.1821),	 jovem	militar	 de	 trinta	 anos,	 culto	 e	 extremamente
ambicioso,	 que	 não	 se	 conformando	 com	 ser	 soberano	 apenas	 da	 França,	 empreendeu	 a	 conquista	 da
Europa	e	 tanto	abusou	de	 seu	poder	militar	 que	 a	 final	 foi	 vencido,	 feito	prisioneiro	 e	 abandonado	à
morte	 como	 um	 vulgar	malfeitor	 em	 Santa	Helena.	Na	 época	 da	 industrialização,	abusou-se	 tanto	 do
poder	econômico	que	provocou-se	a	formação	do	marxismo,	organizando-se	as	massas	para	sua	defesa,
ao	que	não	teríamos	nada	que	opor,	se	não	acabássemos	por	presenciar	como	o	abuso	passou	depois	às
mãos	 das	 organizações	 operárias	 de	 tipo	 comunista	 e	 afins,	 tão	 somente	 pelo	 fato	 de	 que	 estas	 se
consideravam	 força	 envolvente	 à	 qual	 a	 sociedade,	 criam	 eles,	 devia	 render-se,	 pelo	 poderio	 que	 a
massa	 operária	 representava.	 Os	 abusos	 de	 poder	 político	 do	 Czar	 levantaram	 o	 povo	 em	massa	 na
ocasião	 da	 derrota	 militar	 causada	 à	 Rússia	 pelo	 marechal	 alemão	 Paul	 Ludwig	 Hans	 Anton	 von
Beneckendorff	und	von	Hindenburg,	mais	conhecido	como	Paul	von	Hindenburg	(Posen,	02.10.1847	-
Neudeck,	02.08.1934),	quando	da	1ª	Guerra	Mundial,	dando	origem	à	Revolução	Comunista	e	por	ordem
do	 intelectual	marxista,	 revolucionário	bolchevique	e	organizador	do	Exército	Vermelho,	Leon	 Trotsky
(Ianovka,	07.11.1879	-	Coyoacán,	21.08.1940),	 importante	dirigente	 revolucionário	 russo,	 foi	o	Czar	e
toda	 a	 sua	 família	 mortos	 a	 tiros	 no	 porão	 de	 uma	 casa	 vulgar	 para	 onde	 haviam	 sido	 levados	 por
revolucionários.	Leon	Trotsky,	por	sua	vez,	foi	morto	violentamente	em	sua	própria	casa	no	México	por
um	sicário	de	Josef	Vissarionovitch	Stalin	(Gori,	18.12.1878	-	Moscou,	05.03.1953),	seu	companheiro
de	Diretório	Revolucionário.	Os	milhões	de	 judeus	exterminados	pelo	político	da	Alemanha	Nazista	e
tenente-coronel	da	SS,	Otto	Adolf	Eichmann	 (Solingen,	19.03.1906	–	Ramla,	31.05.1962),	puseram-se
um	dia	de	pé	para	enforcá-lo.	E	se	as	atuais	organizações	operárias	insistirem	em	ultrapassar	o	ponto	de
tolerância	 social	 resistível,	 serão	 um	 dia	 privadas	 do	 nível	 alcançado	 e	 anatematizadas	 pela	 opinião
pública	por	causa	justamente	do	abuso	de	poder	exercido	por	suas	massas.[3]
Daí	 conclui	 ALFONSO	 MARTIN	 ESCUDERO	 que	 o	 abuso	 de	 poder	 tem	 vida	 curta	 e
intranquila	e	que	sua	natureza	íntima	encerra	o	germe	de	sua	própria	destruição.[4]
Todavia	 devemos	 ressaltar	 que	 a	 ganância	 indiscriminada	 pelos	 donos	 do	 capital	 a	 custa	 da
miséria	absoluta,	 tão	bem	retratada	na	obra	“O	germinal”	do	consagrado	escritor	 francês,	 considerado
criador	 e	 representante	mais	 expressivo	 da	 escola	 literária	 naturalista	 além	 de	 uma	 importante	 figura
libertária	 da	 França,	 Emílè	 Zolá	 (Paris,	 02.04.1840	 -	 Paris,	 29.09.1902),	 parece	 ter	 sido	 de	 maior
tendência	no	século	passado,	pois,	no	atual,	várias	reformas	vem	ocorrendo	para	acrescentar	uma	maior
socialização	do	mundo	capitalista,	a	 fim	de	amenizar	as	dificuldades	das	classes	 trabalhadoras,	 no
sentido	de	 ser	proporcionada	à	 força	do	 trabalho	condições	condignas	de	 sobrevivência	e	 interesse
suficiente	para	a	busca	da	 formação	 individual	de	patrimônio	nas	camadas	menos	privilegiadas	da
sociedade.
Na	verdade,	o	incipiente	capital	reunido	em	mãos	de	pessoa	que,	além	do	espírito	de	economia
demonstrado,	possui	senso	comercial,	aumenta	estas	economias,	aproveitando	o	tempo	que	seu	emprego
lhe	deixa	livre	para	inverter	seu	dinheiro	naquilo	em	que	sua	observação	o	aconselhasse	como	negócio
rendoso,	e	assim,	girando	com	ele,	chega	a	possuir	um	capital	e	uma	perspectiva	para	estabelecer	uma
empresa,	que	a	princípio	pode	atender	sozinho,	porém	que	mais	adiante	exige	a	tomada	de	empregados
para	 que	 mediante	 o	 salário	 em	 vigor,	 com	 horário	 e	 normas	 de	 trabalho	 que	 as	 condições	 sociais
impõem	e	as	autoridades	públicas	sancionam,	o	ajudem	em	trabalhos	auxiliares,	para	atender-se	àquilo
que	o	desenvolvimento	do	negócio	é	reclamado.	Assim,	tem	por	formada	uma	empresa	com	capitalista	e
empregados,	ou	seja,	capital	e	trabalho	unidos	dentro	de	uma	mesma	empresa.[5]
Vamos	 supor	 que,	 transcorrido	 um	 ano,	 a	 empresa	 realiza	 o	 balanço	 para	 verificar	 se	 houve
perdas	 ou	 lucros:	 no	 primeiro	 caso,	 o	 capitalista	 perderia	 sozinho,	 vendo	 diminuir	 seu	 capital,	 se	 as
perdas	 fossem	 parciais,	 ou	 retirando-se	 arruinado,	 à	 procura	 de	 um	 emprego,	 se	 fossem	 totais.	 Se	 ao
contrário,	tivesse	havido	lucros	líquidos,	parece	que	surgiria	a	dúvida	quanto	a	quem	moralmente	devem
pertencer	esses	lucros.
Na	atualidade,	encontramos	3	(três)	posições	distintas	a	 respeito	da	distribuição	dos	 lucros	de
uma	empresa.	A	primeira	sustenta	que	os	 lucros	devem	ser	 inteiramente	atribuídos	ao	capitalista,	 no
máximo	com	participação	da	diretoria.
Esta	posição	é	defendida	sob	o	argumento	de	que	o	lucro	é	o	prêmio	sagrado	de	quem	conseguiu
reunir	com	seu	próprio	sacrifício	o	capital	necessário	para	o	sucesso	do	empreendimento,	de	quem	soube
manejá-lo	 e	 de	 quem	 se	 submeteu	 a	 jornadas	 exaustivas	 em	busca	não	de	 salário	mas	de	 retorno	 com
acréscimos	 de	 seu	 capital	 aplicado	 no	 empreendimento.	 Segundo	 esta	 posição,	 de	 qualquer	 forma,	 o
dinheiro	 acaba	 vindo	 em	 benefício	 de	 operários.	 A	 primeira	 intenção	 do	 empresário	 é	 certamente
estabelecer-se	para	melhorar	seus	meios	de	vida,	de	forma	que	possa	permitir-se	suficiência	e	conforto.
É	verdade	que	o	dinheiro	 serve	para	pagar	 serviços,	 com	 lucro	para	quem	os	 realiza,	mas	a	partir	do
momento	em	que	a	empresa	obtém	os	grandes	 lucros,	os	operários,	 sem	o	saber,	começam	a	desfrutar,
gratuitamente	e	em	medida	excepcional,	do	empresário,	já	que	todos	os	lucros	que	produz,	todo	o	novo
capital	 que	 cria,	 não	 pode	 empregar	 senão	 em	 benefício	 dos	 empregados	 e	 operários:	 montando
indústrias,	 comércio,	 navegação,	 bancos,	 exploração	 agrícola,	 exploração	 minerativas,	 academias,
institutos,	 universidades	 etc.,	 a	 serem	 projetados	 e	 realizados	 por	 engenheiros,	 gerentes,	 funcionários,
operários	etc.,	que	são	os	que	realmente	absorverão,	em	cadeia	sem	fim,	tudo	quanto	idealizar	a	mente	do
empresário.	 Daí	 o	 advogado,	 escritor	 e	 jurista	 brasileiro	 FÁBIO	 KONDER	 COMPARATO
(Santos,08.10.1936	 -)	 dizer	 que	 “se	 se	 quiser	 indicar	 uma	 instituição	social	 que,	 pela	 sua	 influência,
dinamismo	 e	 poder	 de	 transformação,	 sirva	 de	 elemento	 explicativo	 e	 definidor	 da	 civilização
contemporânea,	a	escolha	é	indubitável:	essa	instituição	é	a	empresa”.[6]
A	 segunda	 posição	 sustenta	 que	 os	 lucros	 devem	 ser	 inteiramente	 absorvidos	 pelo	 Estado.
Todavia,	neste	caso,	o	Estado,	que	está	representado	por	políticos	de	permanência	arbitrária	nos	cargos
ou,	em	 todo	caso,	de	maior	 limitação	cronológica	do	que	o	período	necessitado	pela	empresa	privada
para	 sua	 formação	 e	 desenvolvimento,	 não	 tem	 o	 interesse	 que	 dão	 ao	 empresário	 a	 paternidade	 do
negócio	 e	 o	 conceitode	 propriedade,	 fatores	 de	 capital	 importância	 para	 o	 êxito,	 porque	 provocam
constantemente,	ânsia	de	superação	para	sua	obra,	o	que	não	há	razão	para	suceder,	nem	se	pode	esperar
dos	provisionais	funcionários	do	Estado.	Assim,	nenhum	homem	de	empresa	renderia	tanto,	trabalhando
sob	os	ditames	de	um	funcionário	do	Estado	como	o	faria	por	sua	própria	iniciativa,	segundo	foi	possível
comprovar	nos	países	comunistas	com	o	 fracasso	de	sua	agricultura	que,	apesar	de	desenvolver-se	em
terras	fertilíssimas,	de	produção	comum	superior	ao	consumo	em	tempos	antigos,	obrigou	a	ir	buscar	as
quantidades	 volumosas	 que	 faltavam	 nos	 países	 capitalistas,	 nos	 quais,	 por	 imperar	 o	 regime	 de
iniciativa	privada,	a	produção	superou,	amplamente,	o	consumo	em	suas	 respectivas	nações.	Ademais,
restou	 provado	 que	 não	 há	 conveniência	 para	 os	 habitantes	 	 de	 uma	 nação	 em	 suprimir	 todos	 os
empresários	capitalistas	para	criar	um	só,	o	Estado,	sempre	propenso	aos	abusos.[7]
A	terceira	e	última	posição	sustenta	que	os	lucros	devem	ser	repartidos	entre	todas	as	pessoas
que	compõem	a	empresa,	inclusive	os	empregados.	Os	que	defendem	esta	posição	dizem	que	a	principal
justificativa	para	que	os	benefícios	das	empresas	devam	ser	distribuídos	entre	funcionários	e	operários
reside	no	fato	de	que	estes	trabalham	e,	portanto,	colaboram	e	ajudam	para	que	a	empresa	os	obtenha,	ou
seja,	os	lucros	devem	ser	também	distribuídos	entre	os	empregados	em	virtude	do	fato	de	que	trabalham
na	 empresa	 que	 os	 produzem,	 e	 sem	 a	 sua	 colaboração	 eles	 não	 se	 produziriam.	Esta	 participação	 na
distribuição	 dos	 lucros	 seria	 um	 prêmio	 pelo	 esforço	 produtivo	 para	 o	 sucesso	 do	 empreendimento.	
Outros	acreditam	que	seja	uma	das	formas	encontradas	na	sociedade	capitalista	para	diminuir	a	diferença
gritante	entre	o	dono	do	capital	e	o	operariado.
Para	muitos	autores,	esta	participação,	por	outro	 lado,	consiste	 também	na	mais	 justa	forma	de
melhor	 remunerar	 a	 classe	 trabalhadora	 sem	 transferir	 ao	 empregado	 o	 que	 o	 empregador
administrativamente	 não	 pode	 proporcionar.	 Entre	 eles,	 o	 economista	 e	 professor	 da	 Faculdade	 de
Economia	Administração	e	Contabilidade	da	Universidade	de	São	Paulo,	HÉLIO	ZYLBERSTAJN,	em
defesa	 do	 sistema	 de	 participação	 dos	 empregados	 nos	 lucros	 da	 empresa,	 diz	 que	 a	 experiência	 de
outros	países	 tem	mostrado	que,	 se	 houver	na	 remuneração	dos	 empregados	um	ponto	que	possa	 estar
atrelado	 ao	 melhor	 ou	 pior	 desempenho	 da	 empresa,	 há	 mais	 garantia	 de	 emprego	 nos	 momentos	 de
recessão,	 ou	 seja,	 o	 empregador	 tem	 estímulos	 para	manter	 o	mesmo	 quadro	 de	 pessoal,	 já	 que	 seus
gastos	 podem	 ser	 diminuídos.	 Os	 empregados,	 por	 sua	 vez,	 como	 é	 óbvio,	 manterão	 seus	 empregos,
embora	com	uma	remuneração	menor.[8]
Na	realidade,	embora	o	Brasil	esteja	no	meio	do	caminho,	em	sua	busca	de	um	salário	justo	para
nosso	trabalhador,	tendo	fixado	os	índices	salariais	mínimos	de	retribuição	e	lançado	normas	ordinárias
em	torno	do	princípio	do	salário	familiar,	essa	preocupação	subsiste	e	é	uma	constante	no	pensamento
dos	legisladores	nacionais.	Acentua,	porém,	MOZART	VICTOR	RUSSOMANO	que	todas	as	medidas	de
melhoria	e	salvaguarda	do	salário	não	envolvem	uma	defesa	exclusiva	dos	interesses	do	trabalhador.	Não
se	tem	em	mira		favorecer	determinada	classe,	à	custa	do	empregador.	O	Estado	interfere	nos	contratos
individuais	em	nome	do	interesse	coletivo.[9]	De	modo	que,	antes	de	constituírem	uma	defesa	despótica
do	 empregado,	 aquelas	 medidas	 constituem,	 como	 disse	 o	 notável	 jurista	 alemão	 radicado	 no	 Brasil
EGON	FELIX	GOTTSCHALK,	a	defesa	do	nível	de	vida	da	própria	comunidade,	 de	 que	depende	o
grau	 de	 bem-estar,	 saúde	 físico-moral,	 poder	 econômico,	 civilização	 e	 cultura	 de	 uma	 nação.	 O
mínimo,	 geralmente	 garantido	 ao	 indivíduo,	 é,	 na	 realidade,	 expressão	 de	 um	 fator	 econômico-social,
interessando,	por	isso,	antes	de	tudo,	à	coletividade.[10]
Segundo	 MOZART	 VICTOR	 RUSSOMANO,	 foi,	 certamente,	 dentro	 da	 moldura	 dessas
ponderações	que	o	legislador	constituinte	brasileiro	de	1946,	ao	repor	o	país	nos	trilhos	da	democracia,
que	 é	 a	 sua	 tradição,	 e	 ao	 sintetizar	 os	 preceitos	 fundamentais	 inspiradores	 do	 Direito	 do	 Trabalho,
estabeleceu,	 entre	 eles,	 pela	 primeira	 vez	 em	 uma	 Constituição	 brasileira,	 o	 de	 participação	 dos
empregados	 nos	 lucros	 das	 empresas,	 que,	 para	 MOZART	 VICTOR	 RUSSOMANO,	 é	 um	 instituto
jurídico	de	duas	faces:	a)	importa,	de	um	lado,	na	majoração	salarial	do	obreiro;	e	b)	de	outro	 lado,
interessa	o	trabalhador	na	maior	produtividade	da	empresa,	facilitando	os	negócios	e	a	prosperidade
do	 empregador.[11]	 Mas,	 como	 disse	 HÉLIO	 ZYLBERSTAJN,	 por	 outro	 lado,	 não	 se	 deve	 obrigar	 o
empregador	 a	pagar	 salários	que,	 em	alguns	momentos	da	vida	 econômica	nacional,	 não	poderiam	ser
suportados	pelas	condições	financeiras	da	empresa,	por	isso	a	participação	nos	lucros	apresenta-se	como
melhor	forma	de	remuneração	dos	empregados,	tanto	nos	momentos	de	prosperidade	como	nos	momentos
de	dificuldades	da	empresa.
Ademais,	a	participação	nos	lucros	ou	resultados	constitui,	segundo	o	professor	da	Faculdade	de
Direito	 da	 Universidade	 de	 São	 Paulo	 OCTÁVIO	 BUENO	 MAGANO	 (1928-2005),	 poderosíssimo
instrumento	de	incentivo	ao	aprimoramento	das	organizações	econômicas,	no	sentido	de	melhor	habilitá-
las	a	enfrentar	a	concorrência,	que,	no	mundo	atual,	tendente	a	se	converter	numa	global	village	 (aldeia
global	-	globalização	da	economia),	torna-se	cada	vez	mais	aguçada.	No	seu	entender,	foi,	sem	dúvida,
para	 habilitar	 as	 empresas	 a	 buscarem	 o	 aumento	 da	 respectiva	 produtividade,	 sem	 gravames,	 que	 o
constituinte	de	1988	houve	por	bem	considerar	as	participações	em	lucros	ou	resultados	como	benefícios
desprovidos	 de	 natureza	 salarial	 (sem	 os	 encargos	 sociais	 que	 normalmente	 pesam	 sobre	 o	 salário),
sujeitando,	porém,	a	matéria	à	lei	regulamentadora.[12]	Destacamos	que	o	acirramento	da	concorrência	em
virtude	 da	 globalização	 da	 economia	 é	 muito	 mais	 real	 do	 que	 se	 possa	 imaginar.	 O	 processo	 de
reestruturação	 da	 economia	 brasileira,	 imposto	 pela	 necessidade	 de	 competir	 para	 sobreviver	 no
mercado	globalizado,	faz	diariamente,	e	continuará	fazendo,	muitas	vítimas,	aumentando	substancialmente
o	 número	 de	 falências	 e	 do	 desemprego	 no	 país.	 Na	 opinião	 de	 JOSÉ	ROBERTO	MENDONÇA	DE
BARROS,	os	custos	dessa	reestruturação,	a	curto	prazo,	são	elevadíssimos,	uma	vez	que	muitas	empresas
não	conseguirão	sobreviver	ao	ajuste	à	eficiência	e	produtividade.	A	maior	prova	de	que	a	globalização
da	 economia	 impõe	muitos	 sacrifícios	 ao	 setor	 produtivo	 está	 em	números	 estatísticos	 confiáveis.	Até
abril	de	1995,	o	número	de	 falências	manteve-se	estável.	 	A	partir	de	então,	os	pedidos	começaram	a
disparar,	 batendo	 o	 primeiro	 recorde	 em	 agosto	 (o	 número	mais	 alto	 registrado	 desde	 a	 recessão	 de
1992),	superado	agora	em	fevereiro	de	1996,	com	1.358	processos.[13]	É	certo	que	boa	parte	do	número
de	falências	se	deve,	 também,	as	medidas	de	restrição	ao	crédito,	 impostas	pelo	governo,	desde	1995,
para	combater	a	 inflação,	mas,	ainda	assim,	transparece	o	esforço	de	reestruturação	no	setor	produtivo
para	fazer	frente	à	competição	no	mercado	globalizado.
Outrossim,	ainda	analisando	esta	terceira	hipótese	de	distribuição	dos	lucros,	no	sentido	de	que
devem	 ser	 repartidos	 entre	 todas	 as	 pessoas	 que	 compõem	 a	 empresa,	muitas	 vezes	 os	 empregados
conservam	em	ações	da	empresa	os	lucros	que	lhes	correspondem,	com	o	que	o	capital	continua	íntegro,
ou	 seja,	 neste	 caso	 os	 lucros	 distribuídos	 mantêm-se	 agregados	 ao	 capital	 para	 que	 este	 se	 encontre
fortalecido	 e	 em	 melhores	 condições	 para	 atendimento	 das	 reposições	 de	 maquinário,	 deficitárioou
obsoleto,	 assim	 como	 instalações	 de	 novas	 empresas	 a	 fim	 de	 baratear	 os	 preços	 e	 oferecer	 novos
empregos	a	tantos	trabalhadores	quanto	são	os	que,	constantemente,	buscam	colocação,	sem	que	sempre
tenham	a	oportunidade	de	encontrá-la.
A	participação	 nos	 lucros	 faz	 parte,	 pois,	 de	 um	 conjunto	 de	 medidas	 renovadoras	 que	 aos
poucos	vão	sendo	adotadas	visando,	evidentemente,	a	sobrevivência	não	apenas	da	classe	trabalhadora
mas	 do	 próprio	 capitalismo.	 Procurando	 deixar	 para	 o	 passado	 os	 focos	 de	 trabalho	 onde	 o	 operário
recebe	 por	 longas	 jornadas	 de	 trabalho,	 incluindo	 horas	 extraordinárias,	 salários	 miseráveis,
insuficientes	 para	 manter	 a	 vida,	 quer	 mesmo	 em	 sua	 forma	 mais	 primária.	 Por	 outro	 lado,	 esta
participação	persegue	também	a	contenção	ideal	aos	desmandos	petitórios	exagerados	que	possam	fazer
os	operários,	 que,	 como	 simples	homens	mortais	 que	 são,	 podem,	quando	 se	 consideram	 fortes	 ou	 em
situação	vantajosa,	cometer	o	erro	de	ter	excessivas	ou	caprichosas	pretensões	sem	imaginar	que,	se	as
obtivessem,	 poderiam	 colocar	 em	 perigo	 o	 equilíbrio	 necessário	 que	 o	 desenvolvimento	 do
empreendimento	 precisa	 manter,	 inclusive	 para	 sua	 própria	 sobrevivência.	 Lembramos	 que,
concretamente,	não	raras	vezes,	ocorrem	coações	exercidas	por	meio	de	greves,	muitas	vezes	violentas,
para	 tratar	 de	 conseguir	 aparentes	 melhorias,	 tais	 como:	 a)	 aumento	 exorbitante	 de	 salários;	 b)
diminuição	 de	 horas	 de	 trabalho;	 c)	 pouca	 idade	 para	 a	 aposentadoria;	 etc.	 Querendo	 ou	 não,	 estas
algumas	melhorias	sociais	encaminham-se	para	a	mesma	finalidade:	encarecer	a	produção,	ou	seja,	situar
os	preços	adiante	das	sucessivas	elevações	concedidas,	fato	que	desorganiza	a	economia.	Se	os	salários
são	elevados,	na	mesma	porcentagem	aumentado,	eleva-se	a	coisa	produzida.	Se	menos	horas	se	trabalha,
com	 o	 mesmo	 salário	 que	 quando	 se	 trabalhava	 mais,	 a	 remuneração	 que	 se	 recebe,	 sem	 trabalhar,
repercute	 sobre	 a	 menor	 produção,	 encarecendo-a;	 dar-se	 aposentadoria	 aos	 trabalhadores	 em	 idade
baixa,	por	exemplo,	55	(cinquenta	e	cinco)	anos,	tem	que	ser	aumentados	os	impostos,	para	pagar	aos	que
antecipadamente	não	produzem	e	o	aumento	de	impostos	ao	gravitar	como	maior	gasto	sobre	a	produção,
também	a	encarece.
Esclarece	 ainda	 ALFONSO	 MARTIN	 ESCUDERO	 que	 a	 orientação	 geralmente	 é,	 pois,
encarecer	 a	 vida,	 torná-la	 insuportável,	 fazê-la	 de	 tal	 maneira,	 que	 a	 massa	 de	 operários	 e	 de
funcionários	 comprem	cada	 dia	menos	 com	 salários	 que	 sempre	 ficam	para	 trás	 pela	 alta	 imediata	 de
preços	que	os	dirigentes	operários	tratam,	como	quer	que	seja,	de	impor.	Diminuindo	o	poder	aquisitivo,
são	 despedidos	 operários	 e	 fábricas	 chegam	 a	 ser	 fechadas,	 aumentando	 o	 número	 de	 desempregados
que,	 por	 sua	 vez,	 são	 geradores	 de	 novas	 despedidas	 e	 de	 novos	 desempregos.	 Como	 o	 que	 ainda
produzimos,	 o	 produzimos	 caro,	 não	 encontramos	 comprador	 no	 estrangeiro;	 não	 podemos	 exportar	 e,
portanto,	não	temos	para	pagar	o	que	de	fora	necessitamos.	E	assim,	por	estes	processos,	desemboca-se
no	caos.[14]
Outrossim,	também	não	se	deve	permitir	que	a	participação	nos	lucros	acabe	minando	a	vontade
pessoal	de	progressão.	O	operário	ou	empregado	que	dentro	de	seus	salários	e	gratificações	não	logra
economizar	 uma	 pequena	 parcela	 para	 comercializá-la,	 mostra	 sinal	 evidente	 de	 que	 carece	 das
condições	mínimas	exigíveis	para	 tornar-se	 independente:	neste	caso,	deve	continuar	como	empregado
sujeito	às	ordens	de	quem	nasceu	com	as	aptidões	necessários	para	esses	destinos,	 entendendo-se	que
qualquer	inversão	que	aqueles	fizessem	estaria	fadada	a	terminar	em	inevitável	fracasso.	Deve,	pois,	esta
espécie	 de	 pessoas,	 preparar-se	 para	 ingressar	 em	 uma	 organização	 e	 aspirar	 a	merecer	 as	 possíveis
promoções.	Assim,	a	participação	nos	lucros	não	deve	eliminar	a	possibilidade	de	melhoria	pessoal	ao
longo	da	vida	laboral	do	empregado.
É	 lógico	 que	 a	 necessidade	 de	 haver	 uma	 perfeita	 regulamentação	 legal	 sobre	 a	matéria,	 não
basta	 apenas	 a	 garantia	 constitucional	 para	 a	participação	nos	 lucros,	 como	 é	 sabido,	 principalmente
entre	nós.	Regulamentação	esta	que	venha	determinar	a	distribuição	justa	do	lucro	e,	ao	mesmo	tempo,
evite	 afugentar	 o	 capital	 dos	meios	 de	 produção.	 Todavia,	 desde	 1946,	 quando	 pela	 primeira	 vez	 se
promoveu	 a	 constitucionalização	 da	 participação	 nos	 lucros	 em	 nosso	 país,	 até	muito	 recentemente,	 o
tema	 nunca	 foi	 efetivamente	 regulamentado	 e	 manteve-se	 adormecido	 e	 abandonado,	 enquanto	 que	 a
participação	dos	trabalhadores	nos	lucros	apurados	e,	por	vezes,	no	capital	da	sociedade	constitui	objeto
de	 regulamentação	 por	 lei	 ordinária	 em	 vários	 outros	 países.	 Em	 algumas	 ocasiões	 tínhamos	 notícias
isoladas	de	que	um	empresário	ou	outro	haviam	tido	a	iniciativa	de	distribuir	uma	parcela	dos	lucros	aos
empregados	 da	 sociedade,	 porém	 apenas	 como	mera	 liberalidade	 do	 empregador.	 No	 entanto,	 após	 a
edição	da	Medida	Provisória	n°	794,	de	29.12.94	 (dispõe	 sobre	 a	participação	dos	 trabalhadores	nos
lucros	ou	resultados	das	empresas	e	dá	outras	providências),	publicada	no	DOU	de	30.12.1994,	o	tema
veio	 novamente	 à	 tona.	 E	 medidas	 provisórias	 editadas	 a	 partir	 de	 então,	 que	 dispõem	 sobre	 a
participação	 dos	 trabalhadores	 nos	 lucros	 ou	 nos	 resultados	 das	 empresas,	 têm	 provocado	 inúmeros
debates	e	mantido	em	foco	o	interesse	de	se	regulamentar	definitivamente	a	matéria,	desde	que,	é	claro,	o
Congresso	Nacional	 algum	dia	 resolva	votar	 a	 lei	ordinária	que	colocará	efetivamente	em	vigência	as
normas	mantidas	a	custa	de	edições	mensais	e	sucessivas	dessas	medidas	provisórias.
Como	alerta	o	político	brasileiro	JOSÉ	SEGADAS	VIANNA	(Rio	de	Janeiro,	01.07.1906	-	Rio
de	Janeiro,	17.10.1991),	 trata-se	certamente	de	um	dos	 temas	mais	polêmicos	no	campo	do	Direito	do
Trabalho.	 Tempos	 houve	 em	 que	 aqueles	 que	 procuravam	 estudar	 a	 matéria,	 ou	 até	 mesmo	 a	 ela	 se
referiam,	eram	olhados	com	visos	de	socialistas	e,	em	razão	disso,	poderiam	sofrer	graves	conseqüências
face	ao	regime	de	exceção	instalado	no	país.	Segundo	ele,	até	a	bem	pouco	tempo,	para	muitos,	a	questão
da	participação	causava	arrepios	e	chegava	a	 trazer	o	sabor	de	mentalidade	subversiva.	Explica	JOSÉ
SEGADAS	 VIANNA	 que	 é	 porque	 ainda	 não	 foi	 possível	 arraigar	 os	 conceitos	 de	 que	 a	 empresa
representa	apenas	“capital”	e	que	frente	a	ela,	como	antagonista,	se	encontra	o	“trabalho”.[15]
Diz	 ele	 que,	 de	 um	 lado	 o	 empreendedor,	 o	 capitalista,	 aplicando	 o	 próprio	 capital	 ou	 de
terceiros	 associados,	 como	no	 caso	 das	 sociedades	 anônimas,	 visando	mas	 o	 lucro,	 e,	mesmo	quando
olhada	 a	 finalidade	 social	 da	 empresa,	 os	 que	 parecem	 um	 pouco	mais	 evoluídos	 entendem	 que	 essa
finalidade	social	se	restringe	aos	interesses	do	desenvolvimento	econômico,	à	criação	de	mais	empregos,
à	 expansão	 dos	 meios	 de	 produção,	 mas	 sempre	 olhando	 o	 trabalhador	 como	 um	 dos	 fatores	 dessa
produção	 e	 que	 deve	 ser	 mantido	 dentro	 dos	 limites	 que	 separam	 capital	 e	 trabalho.	 Segundo	 JOSÉ
SEGADAS	VIANNA,	o	sentido	social	da	empresa	não	deve,	para	eles,	ir	além	de	pagar	ao	trabalhador
um	 salário	 justo	 com	 sentido	 retributivo,	 de	 assegurar	 determinadas	 garantias	 ao	 exercício	 de	 seu
trabalho	 contra	 os	 acidentes	 e	 as	 enfermidades	 ocupacionais,	 de	 lhe	 dar	 tranqüilidade	 extensiva	 à	 sua
família	 e	 para	 ele	 próprio,	 na	 velhice,	 através	 dos	 diversos	 planos	 de	 seguridade	 social.	Concedidos
esses	direitos,	os	que	estão	ainda	aferrados	aos	conceitos	de	empresa,	“capital	e	trabalho”,	entendem	que
o	dever	está	cumprido	e	que	a	dívida	decorrente	da	contraprestação	do	trabalho	está	saldada.Para	esses,
o	sentido	do	“salário	retido”,	que	está	além	da	contraprestação	salarial,	representa	uma	parte	do	capital
que	 se	 deve	 acumular	 para	 crescimento	 constante	 da	 empresa	 e	 isso	 virá	 a	 beneficiar	 o	 próprio
trabalhador.[16]
E	este	pensamento	deve	 representar	 a	grande	maioria	dos	 empresários	 e	das	 autoridades,	 haja
vista	a	notória	má	vontade	de	tratar	a	respeito	do	tema.	Mesmo	agora,	quando	o	Poder	Executivo	mostra-
se	disposto	a	por	em	vigência	normas	que	regulamentam	o	texto	constitucional	no	tocante	a	participação
dos	empregados	nos	lucros	das	empresas,	o	Congresso	Nacional	coloca-se	desinteressadamente	distante
da	 questão,	 obrigando	 a	 buscar-se	 a	 vigência	 da	 norma	 através	 do	 mecanismo	 absurdo	 de	 edições
mensais,	por	tempo	indefinido,	de	medidas	provisórias	contendo	textos	idênticos.
De	 qualquer	 forma,	 vale	 destacar	 que,	 como	 enumerou	 o	 advogado,	 jornalista	 e	 deputado
brasileiro	o	Paulo	Sarasate	Ferreira	Lopes	 (Fortaleza,	03.11.1908	 -	Rio	de	 Janeiro,	23.06.1968),	 em
1947,	como	relator	na	Comissão	de	Legislação	Social,	a	regulamentação	da	participação	nos	resultados
do	 empreendimento	 implica	 a	 necessidade	 de	 definir	 alguns	 conceitos,	 como	 por	 exemplo,	 o	 que	 é
empresa;	o	que	se	deve	admitir	como	capital;	a	taxa	de	remuneração	do	capital;	a	percentagem	dos	lucros
atribuída	aos	empregados;	o	prazo	para	aquisição	do	direito	de	participação;	os	elementos	a	considerar
na	distribuição	pelos	empregados	da	sua	parte	nos	lucros;	o	mecanismo	da	distribuição;	a	limitação	das
quantias	a	receber	e	a	destinação	dos	excedentes;	e	a	forma	de	efetuar	o	pagamento.
Por	isso,	um	estudo	da	participação	nos	lucros	deve	abordar	cada	um	desses	conceitos	e	requer
inicialmente	 a	 abordagem	 dos	 termos	 individualmente	 considerados:	 a	 empresa,	 o	 estabelecimento,	 o
empregador,	o	empregado,	o	lucro	e	o	resultado.
CAPÍTULO	2	–	A	EMPRESA,	O
EMPREGADOR,	O	TRABALHADOR	E	O
EMPREGADO
	
	
2.1	DEFINIÇÃO	DE	EMPRESA
	
	
Antes	de	entrarmos	no	estudo	sobre	a	participação	dos	trabalhadores	nos	lucros	e	nos	resultados
da	empresa,	necessário	é	que	preliminarmente	abordemos	algumas	questões	relacionadas	aos	conceitos
de	 empresa,	 de	 empregador,	 de	 trabalhador	 e	 de	 empregado.	 Como	 se	 sabe,	 é	muito	 antigo	 o	 debate
levado	 a	 efeito	 pelos	mais	 notáveis	 juristas	 em	 torno	 de	 tais	 conceitos.	 Evidentemente,	 o	 esforço	 da
doutrina	 para	 estabelecer	 esses	 conceitos	 ainda	 não	 foi	 concluído;	 o	 debate	 ainda	 encontra-se	 em
andamento.	Todavia,	 para	 se	 poder	 saber	 ao	 certo	 que	 circunstância	 é	 atingida	pelos	mandamentos	da
norma	constitucional	e	das	normas	legais	é	imprescindível	se	estabelecer	previamente	esses	conceitos.
A	respeito	desse	problema,	o	procurador-geral	de	 justiça	e	professor	de	Direito	Comercial	da
Faculdade	 de	 Direito	 da	 Universidade	 de	 São	 Paulo,	 PAULO	 SALVADOR	 FRONTINI,	 por	 exemplo,
menciona	que,	 em	 face	da	 legislação,	 a	 figura	da	empresa	 é	uma	 realidade.	Por	que	a	empresa	é	 uma
realidade	perante	a	lei?	Responde	ele	que,	simplesmente	os	textos	legais,	nos	mais	variados	níveis,	usam,
a	 todo	momento,	 o	 substantivo	 “empresa”.	 Se	 essa	 entidade,	 a	 quem	 a	 lei	 se	 refere	 como	 empresa,	 é
alcançada	pelas	normas	 jurídicas,	ela	necessariamente	existe	para	o	Direito.	E,	se	existe,	há	de	 ter	um
certo	contorno,	suficientemente	nítido	para	proporcionar	segurança	 jurídica	a	 respeito	de	quem	sofre	a
ação	de	uma	norma,	por	ser	empresa,	e	de	quem	não	sofre,	por	não	se	enquadrar	nesse	conceito.[17]
Assim,	pois,	iniciaremos	nossos	estudos	pelo	conceito	de	empresa,	que	tem	se	mostrado	um	dos
mais	 complexos	 assuntos	 a	 desafiar	 a	 doutrina	 e	 a	 jurisprudência,	 na	 incessante	 busca	 desses	 seus
precisos	 contornos.	 Inclusive,	 esta	 complexidade	 deve-se	 ao	 fato	 de,	 além	 de	 quase	 toda	 a	 vida
econômica	de	um	país	girar	em	 torno	da	empresa,	ela	é	o	meio	natural	onde	se	desenvolve	o	 trabalho
humano	subordinado.
Os	 economistas	 clássicos,	 no	 século	 passado,	 observaram	 razoavelmente	 bem	as	 organizações
econômicas	destinadas	à	produção.	Entre	eles,	o	economista	francês	e	formulador	da	chamada	a	Lei	de
Say,	 JEAN-BAPTISTE	 SAY	 (Lyon,	 05.01.1767	 -	 Paris,	 15.11.1832),	 por	 exemplo,	 demonstrou	 que	 a
figura	do	empresário	é	o	eixo	a	um	tempo	da	produção	e	da	repartição,	aquele	que	adapta	os	recursos
sociais	às	necessidades	sociais,	e	que	remunera	os	colaboradores	da	obra	cujo	chefe	é.[18]	Na	reação
socialista	dos	reformadores,	o	filósofo	e	economista	francês,	um	dos	fundadores	do	socialismo	moderno
e	 teórico	 do	 socialismo	 utópico,	 CLAUDE	 HENRI	 DE	 ROUVROY,	 conde	 de	 Saint-Simon	 (Paris,
17.10.1760	 -	Paris,	19.05.1825),	 colocou	no	centro	da	 sociedade	a	 figura	dos	grandes	empresários.[19]
Desde	 então,	 a	 Economia	 Política	 passou	 a	 considerar,	 o	 papel	 da	 empresa,	 como	 organização	 dos
fatores	da	produção.
No	entanto,	em	Economia	Política,	o	termo	“empresa”	é,	na	realidade,	aplicado	em	dois	sentidos
bem	distintos	um	do	outro:	a)	no	sentido	restritivo;	e	b)	no	sentido	extensivo.
No	 sentido	 restritivo,	 esclarece	 economista	 francês	 e	 professor	 da	Universidade	de	Lyon	 e	 da
Universidade	de	Paris,	FRANÇOIS	PERROUX	(Saint-Romain-en-Gal,	19.12.1903	–	Stains,	02.06.1987)
que	 o	 termo	 é	 utilizado	 para	 designar	 a	 empresa	 capitalista,	 que	 essencialmente	 se	 caracteriza	 pelo
recurso	ao	trabalho	alheio	e	pelo	móvel	lucrativo	que	determina	sua	atividade.		Segundo	esta	acepção,
a	empresa	 é	 uma	 forma	 de	 produção	 pela	 qual,	 no	 seio	 de	 um	mesmo	 patrimônio,	 combinam-se	 os
preços	dos	diversos	 fatores	da	produção	 trazidos	por	agentes	distintos	do	proprietário,	 em	 vista	 de
vender	no	mercado	um	bem	ou	um	serviço	para	obter	um	 lucro	monetário,	que	 resulta	da	diferença
entre	duas	séries	de	preços.[20]
Inclusive,	 FRANÇOIS	 PERROUX	 esclarece	 que	 a	 empresa,	 encarada	 como	 organização
capitalista,	apresenta	as	seguintes	características:	a)	combina	os	fatores	da	produção;	b)	obtém	produto
destinado	 ao	 mercado,	 isto	 é,	 à	 satisfação	 de	 estranhos,	 o	 que	 distingue	 a	 empresa	 da	 economia
particular;	 e	 c)	 visa	 ao	 lucro	 e	 não,	 à	 satisfação	 moral,	 o	 que	 a	 distingue	 das	 organizações	 de
assistência	social.[21]
Já	 no	 sentido	 extensivo,	 mencionam	 ORLANDO	 GOMES	 DOS	 SANTOS	 e	 ELSON
GOTTSCHALK	 que	 o	 termo	 é	 utilizado	 para	 designar	 toda	 organização	 cujo	 objeto	 é	 prover	 à
produção,	 à	 troca	 ou	 à	 circulação	 dos	 bens	 e	 dos	 serviços.	 A	 empresa	 é,	 sem	 sombra	 de	 dúvida,	a
unidade	econômica	e	jurídica	na	qual	são	grupados	e	coordenados	os	fatores	humanos	e	materiais	da
atividade	econômica.[22]	Inclusive,	alguns	autores,	entre	eles	o	jurista	francês	e	professor	da	Faculté	de
Droit	 de	 Paris	HENRY	TRUCHY	 (1864-1950)	 [23]	 e	 EMILE	 JAMES,	 acrescentam	 ainda	 o	 caráter	 da
independência	 financeira	 em	 relação	 a	 qualquer	 outra	 organização.	 EMILE	 JAMES,	 ao	 construir	 seu
conceito	 econômico	 de	 empresa,	 diz,	 ainda,	 que	 ela	 é	 todo	 organismo	 que	 se	 propõe	 essencialmente
produzir	para	o	mercado	certos	bens	ou	serviços,	e	que	independe	financeiramente	de	qualquer	outro
organismo”.[24]
Assim,	como	se	pode	observar,	 a	 acepção	 restritiva	 se	opõe	à	acepção	extensiva.	A	diferença
entre	 uma	 acepção	 e	 outra	 é	 que	 na	 extensiva	 não	 se	 faz	 qualquer	 referência	 ao	 móvel	 lucrativo	 da
atividade	e	muito	menos	à	eventual	separação	entre	o	capital	e	o	trabalho.
No	campo	econômico,	podemos	ainda	citar	o	conceito	de	JOSÉ	PINTO	ANTUNES	e	de	ANA
MARIA	FERRAZ	AUGUSTO.	O	primeiro	menciona	que	empresa	é	um	regime	específico	de	produção,
característico	 do	 sistema	 liberal	 na	 fase	 de	 expansão	 e	 universalização,	 típico	 do	 século	 XIX,	que
sucedeu	aos	regimes	de	economia	familiar	assalariada	e	manufaturas	reais.[25]	E	a	segunda,	partindotambém	 dessa	 visão	 liberalista,	 diz	 que	 empresa	 é	 um	 dos	 regimes	 de	 produzir	 onde	 alguém
(empresário),	por	via	contratual,	utiliza	os	fatores	da	produção	sob	sua	responsabilidade	(riscos),	a
fim	de	obter	uma	utilidade,	vendê-la	no	mercado	e	tirar	da	diferença,	entre	o	custo	da	produção	e	o
preço	de	venda,	o	maior	proveito	monetário	possível.[26]
Apesar	dos	esforços	da	Economia	Política,	devemos	ressaltar	que,	a	bem	da	verdade,	a	ideia	de
empresa	 parece	 ter	 surgido	 no	 âmbito	 do	Direito	Comercial.	 Tanto	 é	 que	 vamos	 encontrar	 no	Código
francês	de	1807	 essa	 ideia	de	maneira	bem	distinta.	O	art.	 632	desse	Código	 incluiu	 entre	os	 atos	de
comércio	“todas	as	empresas	de	manufaturas,	de	comissão,	de	 transporte	por	 terra	e	água”	e	“todas	as
empresas	de	fornecimento,	de	agência,	escritórios	de	negócios,	estabelecimentos	de	vendas	em	leilão,	de
espetáculos	públicos”.
De	qualquer	forma,	é	indiscutível	que	a	palavra	“empresa”	tem,	pelo	menos,	dois	sentidos:	um,
econômico	e	o	outro,	jurídico.	Após	analisar	os	conceitos	de	economistas	e	de	juristas,	JOSÉ	TAVARES
fixou-se	 em	 ambos.	 Segundo	 este	 jurista	 português,	 no	 sentido	 econômico,	 empresa	 é	 o	 organismo
produtor	coletivo	que	reúne	em	si	todas	as	forças	econômicas	necessárias	para	o	exercício	lucrativo
de	 determinada	 indústria	 e,	 no	 ponto	 de	 vista	 do	 Direito	 Empresarial,	 empresa	 é	 o	 organismo
industrial,	singular	ou	coletivo,	que	se	propõe	a	realizar	uma	série	de	atos	destinados	à	especulação
mercantil.[27]
Para	o	Direito	Empresarial	 nem	 todo	 os	 aspectos	 econômicos	 da	 empresa	 interessam	 para	 se
construir	a	noção	jurídica	de	empresa.		Assim	é	que	o	fenômeno	produtivo	em	si,	a	transformação	técnica
da	matéria-prima	em	produto	manufaturado,	pronto	para	o	consumo,	escapa	evidentemente	ao	interesse	e
à	 regulamentação	 jurídica,	 sendo	 próprio	 da	 cogitação	 do	 economista.	 Por	 isso	 o	 jurista	 italiano	 e
professor	 da	 Università	 di	 Urbino,	 Padova,	 Pavia	 e	 Macerata,	 autor	 do	 famoso	Manuale	 di	 Diritto
Commerciale,	 GIUSEPPE	 FERRI	 (Norcia,	 27.09.1908	 –	 Roma,	 1988)	 enumera	 os	 aspectos	 mais
expressivos	da	empresa,	os	quais	são	de	interesse	do	Direito	Comercial:	a)	a	empresa	como	expressão
da	 atividade	 do	 empresário,	 ou	 seja,	 a	 atividade	 do	 empresário	 está	 sujeita	 a	 normas	 precisas,	 que
subordinam	 o	 exercício	 da	 empresa	 a	 determinadas	 condições	 ou	 pressupostos	 ou	 o	 titulam	 com
particulares	garantias;	são	as	disposições	legais	que	se	referem	à	empresa	comercial,	como	o	seu	registro
e	 condições	de	 funcionamento;	b)	a	 empresa	 como	 ideia	 criadora,	 a	 que	 a	 lei	 concede	 tutela;	 são	 as
normas	 legais	de	repressão	à	concorrência	desleal,	proteção	à	propriedade	 imaterial	 (nome	comercial,
marcas,	patentes	etc.);	c)	a	empresa	como	um	complexo	de	bens,	que	forma	o	estabelecimento	comercial,
regulando	a	sua	proteção	(ponto	comercial),	e	a	transferência	de	sua	propriedade;	d)	as	relações	com	os
dependentes,	 segundo	princípios	 hierárquicos	 e	 disciplinadores	 nas	 relações	 de	 emprego,	matéria	 que
hoje	se	desvinculou	do	Direito	Comercial	para	se	integrar	no	Direito	do	Trabalho.[28]
Assim,	para	o	Direito	Comercial,	a		empresa,	na	sua	acepção	jurídica,	não	é	nada	mais	que	uma
atividade	 exercida	 pelo	 empresário.	 E	 quando	 se	 fala	 de	 empresário	pretende-se	 referir	 àquele	 que,
segundo	 o	 professor	 da	 Universidade	 de	 São	 Paulo	 WALDÍRIO	 BUGARELLI	 (04.03.1930	 –
05.10.2006),	 exerce	 profissionalmente	 uma	 atividade	 econômica	 organizada	 de	 produção	 ou
circulação	 de	 bens	 ou	 serviços	 para	 o	mercado.	O	 empresário	 engloba	 em	 si	 o	 agente	 e	 o	 agir,	 e
certamente	 é	 assim	 considerado	 quem	 assim	 age	 e,	 portanto,	 a	 atividade	 surge	 como	 elemento
qualificador	básico,	inclusive	como	critério	objetivo.[29]
Já	o	nosso	Código	Comercial	considera	empresa	o	ato	de	comércio,	ou	seja,	aqueles	que	servem
para	 que	 circulem	 as	mercadorias	 ou	 aqueles	 que	 tem	 por	 característica	 o	 intuito	 de	 lucro	 ou	 intento
especulativo	(atos	de	comércio	subjetivos	ou	por	natureza),	bem	como	aqueles	assim	considerados	por
imposição	legal	(atos	de	comércio	objetivos	ou	por	força	da	lei).	Como	se	vê,	o	nosso	Código	Comercial
deixou	assinalado	que	era	a	noção	de	ato	a	mais	 importante	em	matéria	de	comercialidade,	 relegando,
desta	maneira,	a	plano	secundário	a	noção	de	empresa	como	organização	integrada	de	vários	fatores.	O
legislador	de	1850,	ao	promover	a	inclusão	da	empresa	entre	os	atos,	como	figurativas	ou	componentes
da	mercancia,	 utilizou	 o	 termo	 empresa	 tal	 como	 o	 fez	 o	 jurista	 francês	 e	 professor	 da	 Faculdade	 de
Direito	de	Paris	JEAN	ESCARRA	(Paris,	10.04.1885	-	Paris,	14.08.1955),	na	doutrina	francesa,	ou	seja,
utilizou-a	como	repetição	de	atos	praticados	a	título	profissional.[30]
Por	 sinal,	 no	 mesmo	 sentido,	 o	 professor,	 advogado,	 político,	 jornalista	 e	 escritor	 brasileiro
HERCULANO	MARCOS	INGLEZ	DE	SOUZA	(Óbidos,	28.12.1853	-	Rio	de	Janeiro,	06.09.1918)	opina
que	 por	 empresa	 devemos	 entender	uma	 repetição	 de	 atos,	uma	 organização	 de	 serviços,	 em	 que	 se
explore	 o	 trabalho	 alheio,	material	 ou	 intelectual.	 	 Segundo	 ele,	a	 intromissão	 se	 dá,	aqui,	 entre	 o
produtor	do	 trabalho	 e	o	 consumidor	do	 resultado	desse	 trabalho,	com	o	 intuito	 de	 lucro.[31]	 Porém
ressalta	que	o	que	constitui	a	empresa	não	é	tanto	a	ideia	de	associação	a	que	o	vocábulo	“empresa”,	a
primeira	vista	parece	estar	ligado,	mas	a	importância	do	serviço	ou	indústria	que	faz	o	seu	objeto,	a
repetição	dos	atos	e	a	organização	de	serviços	em	que	se	explora	a	atividade	de	outrem.	Ela	constitui,
sim,	a	reunião	de	esforços,	sem	que	seja	necessária	a	forma	de	sociedade,	porque	o	empresário	pode	ser
um	 indivíduo,	 contanto	 que	 empregue,	 utilize	 e	 explore	 o	 trabalho	 de	 várias	 pessoas	 na	 execução	 de
serviço	comercial,	industrial	ou	público.[32]
Para	o	jurista	italiano	FRANCESCO	MESSINEO	(Reggio	di	Calabria,	1886	-	Appiano	Gentile,
1974),	 empresa	 é,	 verdadeiramente,	 o	 desenvolvimento	 profissional	 de	 uma	 atividade	 econômica
organizada	para	um	determinado	fim,	ou	seja,	uma	forma	particular	ou	desenvolvimento	de	atividade
por	 parte	 de	 um	 sujeito;	 é	 uma	 força	 que	 opera	 (conceito	 dinâmico)	 servindo-se	 de	 determinados
meios.	Portanto,	não	pode	ser	definida	optando	entre	a	categoria	dos	sujeitos	e	dos	objetos,	para	colocá-
la	em	uma	ou	outra.		Empresa	nada	mais	é	do	que	atividade.[33]
Todavia	a	tendência	dos	autores	mais	modernos	é	de	dissociar	a	noção	de	empresário	da	noção
de	 empresa,	 ou	 seja,	 tende	 a	 despersonificação	 da	 empresa,	 tal	 como	 se	 vêm	 fazendo	 na	 doutrina
francesa,	a	partir	das	observações	do	 jurista	 francês	e	professor	da	Faculdade	de	Direito	de	Toulouse
MICHEL	DESPAX.	Diz	 este	 laureado	 autor	 que,	 de	 mais	 a	 mais,	 com	 efeito,	o	 Direito	 considera	 a
empresa	 como	 uma	 entidade	 autônoma	 distinta	 da	 pessoa	 do	 empresário,	 e,	 em	 certos	 casos,	 até
mesmo	opõe	o	interesse	desta	ao	interesse	daquele.[34]
Na	 Itália,	 o	 jurista	 italiano,	 considerado	 o	 maior	 doutrinador	 de	 direito	 privado	 de	 todos	 os
tempos,	 tanto	no	 âmbito	do	direito	 civil	 como	do	direito	 comercial,	CESARE	VIVANTE	 (1855-1944)
opina	no	sentido	de	que	a	empresa	é	um	organismo	econômico	que	sob	o	seu	próprio	risco	recolhe	e
põe	em	atuação	sistematicamente	os	elementos	necessários	para	obter	um	produto	destinado	à	troca;	a
combinação	 dos	 fatores	 “natureza”,	 “capital”	 e	 “trabalho”,	 que,	 uma	 vez	 associados,	 produzem
resultados	 impossíveis	 de	 conseguir	 se	 fossem	 divididos,	 e	 o	 risco,	 que	 o	 empresário	 assume	 ao
produzir	uma	nova	riqueza,	são	os	requisitos	indispensáveis	a	toda	empresa.[35]
O	político	e	jurista	italiano	ALFREDO	ROCCO	(Nápoles,	1875-1935)	apresentou	o	instituto	ora
em	foco	sob	outro	aspecto.	Ele	encontrouem	todos	os	atos,	pelo	Código	Italiano	do	Comércio	havidos
como	 de	 empresas,	 um	 elemento	 específico:	 o	 da	 organização	 do	 trabalho	 alheio.	 Acrescenta
ALFREDO	ROCCO	que,	sendo	a	empresa,	no	sentido	econômico,	o	ordenamento	da	produção,	nela	se
acham	implícitos	todos	os	fatores	dela,	o	trabalho	inclusive.	Indiferente	é	o	modo	de	angariamento	dos
outros	 fatores.	 Pouco	 importa	 se	 adote	 o	 trabalho	 próprio	 ou	 o	 de	 outrem.	 Economicamente,	 tanto	 é
empresa	 a	 do	 operário	 ou	 artejano,	 que	 produza,	 com	 seu	 próprio	 trabalho,	 assumindo	 os	 riscos	 dele
decorrentes,	 quanto	 a	 do	 industrial	 ou	 empreiteiro,	 que	 empregue	 centenas	 de	 operários.	 Diante	 do
Código	 Italiano	 do	 Comércio,	 outro	 é	 o	 sentido	 do	 vocábulo.	 Também	 é	 para	 ele	 indiferente	 a
proveniência	do	capital	empregado	pelo	empresário.	Pode	existir	empresa	que	pertença	ao	empresário
o	 capital	 nela	 invertido,	 como	 o	 do	 fabricante	 que	 se	 serve	 da	 matéria-prima	 colhida	 em	 sua
propriedade,	e	pode	existir	empresa	sem	que	pertença	ao	empresário	o	capital	nela	invertido,	quando	o
capital	 é	 tomado	 por	 empréstimo,	 como	 no	 caso	 do	 artejano	 que	 compra	 a	matéria-prima	 ou	 obtém	 a
crédito	 o	 dinheiro	 necessário	 para	 comprá-la.	 	 Bem	 ao	 contrário,	 em	 face	 da	 lei,	 é	 de	 importância
decisiva	a	proveniência	do	trabalho	empregado.	Existem,	nos	termos	do	Código	Italiano	do	Comércio,
empresas,	cujos	atos	são	de	comércio	somente	quando	a	produção	resulta	do	emprego	do	trabalho	alheio
pelo	empresário	e	ele	o	angaria,	organiza-o,	 fiscaliza	e	remunera,	dirigindo-o	para	o	fim	da	produção.
Se,	 ademais,	 as	 empresas	 do	 Código	 também	 são	 econômicas,	 em	 face	 do	 seu	 texto	 nem	 todas	 as
empresas	econômicas	como	 tais	 se	entendem,	mas	apenas	as	 em	que	o	 trabalho	é	dado,	não	por	quem
cuida	 da	 produção,	 ou,	 ao	 menos,	 não	 exclusivamente	 por	 ele,	 senão	 também	 por	 colaboradores
organizados	e	pagos.[36]
E	por	falar	em	Código	Italiano	do	Comércio,	 lembra	o	jurista	e	historiador	do	direito,	famoso
estudioso	do	Direito	Comercial,	WALDEMAR	MARTINS	FERREIRA	(Bragança	Paulista,	02.12.1885	-
1964),	que	o	Código	Civil	que	o	substituiu,	dedicou	o	título	segundo	do	seu	livro	quinto	(“Del	Lavoro”)
ao	 trabalho	 na	 empresa.	 Estabeleceu	 a	 disciplina	 desta	 e	 das	 relações	 dela	 decorrentes.	 Se	 não	 lhe
exprimiu	 o	 conceito,	 disse,	 pelo	 menos,	 quem	 é	 o	 empresário:	 “o	 que	 exercita	 atividade	 econômica
organizada	para	o	fim	da	produção	ou	das	 trocas	de	bens	e	de	serviços”.	O	Código	Civil	houve	como
pequenos	empresários	os	cultivadores	diretos	da	terra,	os	artejanos,	os	pequenos	comerciantes	e	os	que
exercem	atividade	profissional	organizada	principalmente	com	o	trabalho	próprio	e	dos	componentes	da
família	 (empresa	 domiciliária	 ou	 familiar).	 O	 empresário,	 portanto,	 é	 o	 chefe	 da	 empresa	 e	 dele
dependem	 hierarquicamente	 os	 seus	 colaboradores.	 Ademais	 aquele	 Código	 subordinou-a	 a	 regime
rígido,	posto	sob	a	tutela	ou	o	controle	do	Estado.[37]
Por	 outro	 lado,	 o	 renomado	 jurista	português	 LUIZ	 DA	 CUNHA	 GONÇALVES	 (1875-1956),
após	 analisar	 as	 disposições	 do	 Código	 Comercial	 português,	 foi	 levado	 a	 ver	 a	 empresa	 como	 a
organização	capitalista	de	diversos	fatores	econômicos	tendo	por	fim	exercitar	um	determinado	ramo
de	negócio	de	modo	estável	e	sistemático,	regular	e	permanente,	bem	como	dizendo-se	empresário	a
própria	entidade	singular	ou	coletiva	que	tem	por	 fim	exercitar	as	operações	relativas	ao	objeto	da
empresa,	de	modo	contínuo	e,	portanto,	profissional.	 	Segundo	LUIZ	DA	CUNHA	GONÇALVES,	para
que	 a	 empresa	 tenha	 caráter	 mercantil,	 é	 essencial	 que	 estejam	 conjugados	 dois	 elementos:	 a)	 a
organização	capitalista;	e	b)	o	intuito	profissional	do	empresário.		O	fato	de	ser	a	empresa	complexo	de
negócios	não	impede	que	ela,	em	si,	como	ato	de	comércio,	seja	considerada	como	ato	único	e	isolado,
insuficiente	para	constituir	o	fundamento	da	qualidade	de	comerciante,	se	o	seu	exercício	não	tiver	certa
duração,	fixa	ou	indefinida,	e	caráter	de	especulação	habitual.[38]
O	 jurista	 italiano	 e	 professor	 da	Universidade	 de	 Florença	GIUSEPPE	VALERI,	 por	 sua	 vez,
esclarece,	oportunamente,	que,	para	se	formar	o	conceito	de	empresa	não	se	pode	deixar	de	considerar
quatro	 elementos	 fundamentais,	 uns	 em	 relação	 aos	 outros,	 isto	 é:	 a)	a	 organização;	 b)	 a	 atividade
econômica;	c)	o	fim	lucrativo;	d)	a	profissionalidade.		Após	isso,	escreve	ele	que	somos	direcionados	a
considerar	empresa	como	a	organização	da	atividade	econômica	destinada	à	produção	de	bens	ou	de
serviços,	realizada	profissionalmente.[39]
Já	 o	 jurista	 e	 político	 italiano	 ALBERTO	 ASQUINI	 (Tricesimo,	 12.08.1889	 –	 Roma,
25.10.1972)	 opina	no	 sentido	de	que	a	 empresa	 econômica	 é	 um	 fenômeno	 poliédrico.	 Por	 isso	 esse
fenômeno	 apresenta,	 perante	 o	 Direito,	 aspectos	 jurídicos	 diversos,	 não	 devendo,	 pois,	 o	 intérprete
operar	 com	 o	 preconceito	 de	 que	 o	 mesmo	 caiba,	 forçosamente,	 num	 esquema	 jurídico	 único.	 Daí
ALBERTO	 ASQUINI	 distingue	 quatro	 diferentes	 perfis	 da	 empresa:	 a)	 o	 perfil	 subjetivo,	 que	 vê	 a
empresa	 como	 empresário;	 b)	 o	 perfil	 funcional	 ou	 dinâmico,	 que	 vê	 a	 empresa	 como	 atividade
empreendedora;	c)	o	perfil	 patrimonial	ou	objetivo,	 que	vê	 a	empresa	 como	estabelecimento;	 e	d)	 o
perfil	corporativo,	que	vê	a	empresa	como	instituição.[40]
Esclarece	ainda	ALBERTO	ASQUINI	que	o	conceito	de	empresa,	segundo	o	seu	perfil	subjetivo,
emerge	da	definição	de	empresário,	prevista	no	Código	Italiano,	pelo	qual	empresário	é	quem	exercita
profissionalmente	uma	atividade	econômica	organizada	com	o	fim	de	produção	ou	de	troca	de	bens	ou
de	serviços	 (art.	2.082).	Nessa	definição	encontram-se	claramente	os	quatro	elementos:	a)	o	sujeito	de
direito	(quem	exercita);	b)	a	atividade	peculiar;	c)	a	finalidade	produtiva;	e	d)	a	profissionalidade.[41]
Quanto	ao	perfil	 funcional	ou	dinâmico	da	empresa	econômica,	 explica	ALBERTO	ASQUINI
que	a	empresa	aparece	como	aquela	particular	força	em	movimento	que	é	a	sua	atividade	dirigida	a	um
determinado	 fim	 produtivo.	Quanto	 ao	perfil	 patrimonial	ou	objetivo,	 isto	 é,	 a	 empresa	 vista	 apenas
como	estabelecimento,	ela	resulta	da	projeção	do	fenômeno	econômico	sobre	o	terreno	patrimonial,	que
dá	lugar	a	um	patrimônio	especial	distinto	para	o	seu	fim,	do	remanescente	patrimônio	do	empresário.[42]
Todavia	 o	 próprio	 ALBERTO	 ASQUINI	 apressa-se	 em	 advertir	 que	 não	 se	 deve	 confundir
empresa	com	estabelecimento	ou	azienda,	ou	seja,	como	alerta	o	professor	da	Universidade	de	Pádua	e
da	 Universidade	 Católica	 de	Milão	MARIO	 ROTONDI,	 a	 empresa,	 conceitualmente,	 se	 distingue	 do
estabelecimento,	 embora,	 na	 prática,	 costuma-se,	 vez	 por	 outra,	 utilizar	 ambos	 os	 termos	 no	 mesmo
sentido.[43]	Esta	confusão	se	deu	porque	os	autores	não	conseguiram	chegar	a	um	entendimento	quanto	ao
critério	distintivo	das	duas	noções.	Até	mesmo	o	jurista	italiano	e	professor	da	Università	Luigi	Bocconi
di	Milano	LEONE	BOLAFFIO	(Padova,	1848	–	Bologna,	1940),[44]	menciona	que,	em	seu	tempo,	a	lei,	a
jurisprudência,	a	prática	e	a	doutrina	utilizavam	a	expressão	estabelecimento	como	sinônimo	de	empresa.
Tanto	 é	 que	 o	 também	 jurista	 italiano	 LORENZO	MOSSA	 (Sassari,	 29.08.1886	 –	 Pisa,	 19.04.1957)
opinava	que	a	empresa	seria,	apenas,	a	denominação	moderna	e	dominante	do	estabelecimento.[45]
Existem,	 sem	dúvida,	muitos	pontos	de	contato	entre	 a	 empresa	e	o	estabelecimento	comercial
(azienda).	 O	 traço	 que	 fundamentalmente	 distingue	 um	 do	 outro	 está	 em	 prevalecer	 na	 empresa	 o
elemento	dinâmico	e	predominar	no	estabelecimento	o	elemento	estático,	como	conjunto	de	forças	e	de
elementos	patrimoniais,	reduzidos	a	unidade,	universitas,	e	que	podem	ser	objeto	de	relações	jurídicas.
[46]
Todavia,lembram	os	jurista	francês	ANDRÉ	ROUAST	(Lyon,	09.02.1885-Paris,	06.05.1979)	e	o
professor	 da	 Faculdade	 de	 Direito	 de	 Nancy	 PAUL	 DURAND	 (Alger,	 1908	 –	 Agadir,	 1960)	 que	 a
empresa	é	a	unidade	econômica	e	o	estabelecimento	é	a	unidade	técnica	de	produção.	Estabelecimento
é	o	complexo	de	bens	corpóreos	e	incorpóreos,	por	isso	se	diz	que	é	a	unidade	técnica	de	produção.[47]
O	estabelecimento,	que	já	se	contém	na	ideia	de	organicidade	(ligada	estreitamente	ao	da	atividade)	teve
o	seu	conceito	 também	expresso	por	WALDÍRIO	BUGARELLI,	como	o	complexo	de	bens	organizado
pelo	empresário	para	o	exercício	da	atividade,	valorado	o	seu	aspecto	instrumental	e	também	o	da	sua
unidade	de	bens	pela	destinação.[48]
O	estabelecimento	 encontra-se	 situado	 na	 categoria	 dos	 objetos,	 apesar	 de	 não	 ser	 palpável,
pois	 é	 considerado	 pelo	 conjunto	 de	 bens,	 pela	 universalidade	 do	 patrimônio	 e	 não	 por	 cada	 um
individualmente	 considerado,	 enquanto	 que,	 como	 esclarece	 o	 ilustre	 jurista	 italiano	 ROBERTO	 DE
RUGGIERO,	a	empresa	traduz,	antes	de	mais	nada,	a	atividade	profissional	do	empresário,	considerada
no	seu	aspecto	funcional	mais	do	que	no	instrumental,	por	isso,	a	rigor,	não	cabe	nem	na	categoria	de
sujeito	nem	na	categoria	de	objeto	do	direito[49].	Enquanto	o	estabelecimento	se	refere	a	universalidade
dos	bens,	a	empresa	é	a	organização	do	trabalho	e	disciplina	da	atividade	econômica.	Tudo	isso,	porém,
subordinado	à	vontade	e	às	diretrizes	traçadas	pela	pessoa	natural	ou	jurídica,	sujeito	ativo	ou	passivo
das	 relações	 jurídicas,	 tecidas	pela	empresa	no	 funcionamento	do	estabelecimento	produtor	dos	 lucros
pelo	comerciante,	como	empresário,	procurados	e	obtidos.
WALDEMAR	MARTINS	FERREIRA,	 eliminando	 as	 dúvidas	 e	 resolvendo	 a	 questão,	 ressalta
que	 tem-se,	partindo	do	centro	para	sua	periferia,	o	estabelecimento,	circunscrito	pela	empresa,	e	esta
pela	 pessoa	 natural	 e	 jurídica,	 mercê	 de	 cuja	 vontade	 aqueles	 se	 constituem	 e	 movimentam-se.	 O
complexo	 de	 bens,	 corpóreos	 e	 incorpóreos,	 constitui	 o	 estabelecimento	 como	 universalidade.	 A
empresa,	 propriamente	 dita,	 como	organização	 do	 trabalho	 e	 disciplina	 da	 atividade	 no	 objetivo	 de
produzir	 riqueza,	 a	 fim	 de	 pô-la	 na	 circulação	 econômica.	 Concorda	 WALDEMAR	 MARTINS
FERREIRA	que,	não	pouco	o	estabelecimento	se	confunde	com	a	empresa,	notadamente	quando	mais	que
um	inexiste.	Porém,	acrescenta	que	basta	se	desdobre	ele	em	sucursais,	filiais,	agências,	para	que	a	noção
de	empresa	se	desprenda	do	estabelecimento	e	o	envolva,	emprestando-lhe	halo	ou	coifa,	superposta	e
bem	visível,	a	despeito	de	profundamente	abstrata	e	 imaginária,	por	não	ser	mais	que	criação	jurídica,
social	e,	nos	dias	atuais,	política.[50]
Da	mesma	forma,	FRANCESCO	FERRARA	JUNIOR	opina	que,	fora	dos	casos	em	que	a	palavra
“empresa”	 é	 usada	 no	 sentido	 figurado	 e	 impróprio	 de	 empresário	 ou	 estabelecimento,	 e	 que	 o
intérprete	 deve	 retificar,	 a	 única	 significação	 certa	 é	 a	 de	 atividade	 econômica	 organizada,	 com
pessoal	 e	 bens,	ou	 só	 pessoal	 ou	 só	 bens.	 Acrescenta	 ele	 que	 fica,	 assim,	 firmada	 a	 relação	 entre	 o
estabelecimento	 e	 a	 empresa.	 Aquele	 é	 a	 organização	 produtora	 que	 constitui	 um	 capital;	 esta,	 a
atividade	 profissional	 do	 empresário.	 Diz	 FRANCESCO	 FERRARA	 JUNIOR	 que	 os	 dois	 conceitos
estão	intimamente	ligados,	porque	a	organização	produtora	é	posta	em	marcha	pela	atividade	profissional
do	 empresário,	 isto	 é,	 pelo	 exercício	 da	 empresa.	 Mas,	 segundo	 ele,	 esta	 supõe,	 por	 sua	 vez,	 uma
organização	por	meio	da	qual	se	exercita	a	atividade.	Para	ele,	o	importante	na	distinção	é	que	o	conceito
de	empresa	não	tem,	realmente,	relevância	jurídica.	A	atividade	profissional	se	resolve,	com	efeito,	em
um	momento	ou	situação	pessoal	do	sujeito,	de	sorte	que	os	efeitos	da	empresa	não	são	senão	efeitos	a
cargo	 do	 sujeito	 que	 a	 exercita.	 De	modo	 que	 as	 figuras	 em	 torno	 das	 quais	 se	 polarizam	 os	 efeitos
jurídicos	são,	respectivamente,	o	empresário	e	o	estabelecimento.[51]
E	quanto	ao	perfil	corporativo,	no	qual	a	empresa	econômica	é	considerada	uma	organização	de
pessoal,	formada	pelo	empresário	e	seus	colaboradores,	esclarece	ainda	ALBERTO	ASQUINI	que	estes
não	 constituem	 simplesmente	 uma	 pluralidade	 de	 pessoas,	 ligadas	 entre	 si	 por	 uma	 soma	 de	 relações
individuais	de	trabalho	com	fins	individuais;	antes,	formam	um	núcleo	social	organizado,	em	função	de
um	objetivo	comum,	no	qual	se	fundem	os	fins	individuais	do	empresário	e	dos	colaboradores	singulares
do	 melhor	 resultado	 econômico	 da	 produção.[52]	 Por	 este	 perfil	 se	 considera	 a	 empresa	 como	 uma
verdadeira	instituição,	isto	é,	como	um	grupamento	de	pessoas,	reunidas	em	torno	de	uma	ideia,	com	o
fim	de	realizá-lo	por	meio	de	uma	organização	permanente.[53]
No	Brasil,	o	advogado	de	grande	saber	jurídico	JOSÉ	XAVIER	CARVALHO	DE	MENDONÇA
(Recife,	1861	–	Santos,	1930),	adotando	a	postura	de	Cesare	Vivante	e	englobando	o	conceito	econômico
ao	 jurídico,	chegou	a	conclusão	de	que	empresa	é	a	organização	 técnico-econômica	que	 se	propõe	a
produzir	 a	 combinação	 dos	 diversos	 elementos,	 natureza,	 trabalho	 e	 capital,	 bens	 ou	 serviços
destinados	à	troca	(venda),	com	esperança	de	realização	de	lucros	e	riscos	por	conta	do	empresário,
isto	é,	daquele	que	reúne,	coordena	e	dirige	esses	elementos	sob	sua	responsabilidade.	Tendo	em	vista
que	esse	conceito	foi	construído	sobre	o	conceito	econômico	de	empresa,	JOSÉ	XAVIER	CARVALHO
DE	MENDONÇA	esclareceu	que	“este	conceito	econômico	é	o	mesmo	 jurídico,	em	que	pese	a	alguns
escritores,	 que	 os	 distinguem	 sem	 fundamento”.	 E	 acrescenta	 que	 o	 Direito	 Comercial	 considera	 a
empresa	que	se	apresenta	com	caráter	mercantil.	Desse	modo,	o	empresário,	organizado	e	dirigindo	a
empresa,	realiza,	como	todo	comerciante,	uma	função	de	mediação,	intrometendo-se	entre	a	massa	de
energia	 produtora	 (máquina,	operários,	 capitais)	 e	 os	 que	 consomem,	 concorrendo	 destarte	 para	 a
circulação	de	riqueza.	Para	ele,	são,	pois,	pressupostos	da	empresa	os	seguintes	elementos:	a)	uma	série
de	negócios	do	mesmo	gênero	de	caráter	mercantil,	continuados	e	produtivos	de	bens	ou	de	serviços
destinados	 à	 troca,	 servindo	 às	 necessidades	 dos	 consumidores	 e,	 portanto,	 o	 exercício	 de	 uma
atividade	 profissional	 desses	 atos,	 nunca	 um	 só	 isolado;	 este	 exercício	 é	 indispensável	 para
caracterizar	 a	 comercialidade	 da	 empresa;	 b)	 o	 emprego	 de	 trabalho	 ou	 capital,	 ou	 de	 ambos
combinados;	o	empresário	organiza,	assim,	os	fatores	necessários	para	obter	resultado	econômico;	e
c)	a	 assunção	 do	 risco	 próprio	 da	 organização,	 isto	 é,	 no	 risco	 técnico	 e	 econômico.	 Para	 JOSÉ
XAVIER	CARVALHO	DE	MENDONÇA,	não	vem	ao	caso	 indagar	o	destino	que	o	empresário	dê	aos
lucros,	podendo	até	em	certos	casos	destes	se	desinteressar.[54]
Enquanto	o	Direito	Comercial	procura	colocar	em	primeiro	plano	a	figura	do	comerciante	ou	os
atos	de	comércio	que	ele	realiza,	o	Direito	do	Trabalho	evidencia	as	relações	 individuais	e	coletivas
que	se	formam	entre	os	empregados	e	o	empregador.
Menciona	 o	 jurista	 brasileiro	 ORLANDO	 GOMES	 DOS	 SANTOS	 (Salvador,	 07.12.1909	 –
Salvador,	 29.07.1988)	 e	 ELSON	 GOTTSCHALK	 que	 a	 atividade	 de	 uma	 empresa	 industrial	 ou
comercial	propicia	a	formação	de	relações	individuais	do	trabalho,	que	unem	o	empregador	a	cada	um
dos	 membros	 de	 seu	 pessoal.	 Mas,	 segundo	 eles,	 ao	 lado	 dessas	 relações	 individuais,	 o	 direito
contemporâneo	conhece	outra	realidade	sócio-jurídica	mais	alta,	na	qual	os	liames	individuais	vêm	a	se
fundir:	as	 relações	 coletivas	 no	 seio	da	 empresa.	 Porém,	 é	de	 se	 registrar	 que	nem	 toda	 empresa	 no
sentido	 econômico	 o	 é,	 também,	 no	 sentido	 trabalhista.	 Por	 exemplo,	 a	 empresa	 unipessoal	 ou	 do
produtorautônomo,	 que	 trabalha	 sem	 a	 ajuda	 de	 empregados,	 interessando	 à	 economia	 política	 e	 ao
Direito	Comercial,	é,	ao	contrário,	estranha	ao	Direito	do	Trabalho,	porquanto	não	recorre	ao	trabalho
subordinado.	Assim,	 o	Direito	 do	 Trabalho	 não	 se	 exaure	 na	 disciplina	 das	 relações	 humanas	 que	 se
travam	 numa	 empresa.	O	 conceito	 de	 empresa	 não	 abrange	 todas	 as	 situações	 em	 que,	 no	mundo	 das
atividades	civis,	uma	 instituição	de	cunho	não	comercial	ou	 industrial	 representa	 fonte	 permanente	de
trabalho	subordinado.	De	fato,	ilustram	ORLANDO	GOMES	DOS	SANTOS	e	ELSON	GOTTSCHALK
que	uma	associação	civil	de	proprietários	urbanos	ou	rurais;	um	sindicato,	uma	associação	profissional;
um	 clube	 recreativo;	 uma	 associação	 educativa	 ou	 científica;	 uma	 instituição	 beneficente	 de	 qualquer
natureza;	uma	cooperativa	de	qualquer	gênero;	um	escritório	de	profissional	liberal,	apresentam	formas
de	organização	interna	do	trabalho	humano	subordinado,	que	são	tutelados	pelo	Direito	do	Trabalho.
Entretanto,	 essas	 formas	 de	 trabalho	 organizado	 extralimitam	 as	 fronteiras	 do	 conceito	 técnico	 de
empresa.[55]
Esclarecem	ORLANDO	GOMES	DOS	SANTOS	 e	 ELSON	GOTTSCHALK	que,	 do	 ponto	 de
vista	do	Direito	do	Trabalho,	3	(três)	elementos	são	suficientes	para	caracterizar	o	quadro	das	relações
que	ele	regula:	a)	uma	tarefa	a	executar;	b)	uma	autoridade	que	dirige	esta	execução;	e	c)	um	pessoal
que	assegura	a	realização.	Acrescentam	eles	que,	do	ponto	de	vista	trabalhista,	interessa,	em	primeiro
lugar,	 que	 a	 instituição,	 econômica	 ou	 não,	 desenvolva	 certa	 atividade.	 Em	 seguida	 que	 haja	 e	 seja
exercido	 um	 poder	 de	 direção,	 que	 é	 autoridade	 organizativa,	 encarnada	 no	 seu	 chefe.	 	 Por	 fim,	 a
formação	 de	 um	pessoal.	 Portanto,	 a	 empresa	 unipessoal,	 a	 artesanal	 ou	 a	 familiar,	 que	 não	 possuem
empregados,	não	interessam	ao	Direito	do	Trabalho,	embora	sejam	relevantes	para	a	ciência	econômica	e
para	o	Direito	Comercial.[56]
No	mesmo	sentido,	o	jurista	francês,	membro	do	Instituto	da	França	e	professor	da	Faculdade	de
Direito	 de	 Paris	 GEORGES	 RIPERT	 (La	 Ciotat,	 1880	—	 Paris,	 1958),	 escreveu	 que	 ao	 Direito	 do
Trabalho	interessa	mais	a	noção	de	estabelecimento	do	que	a	de	empresa,	ou	seja,	o	conceito	de	empresa
é	 irrelevante,	 uma	 vez	 que	 os	 efeitos	 jurídicos	 se	 polarizam	 em	 torno	 do	 empresário	 e	 do
estabelecimento.	Daí	GEORGES	RIPERT	dizer	que	a	definição	de	empresa,	juridicamente	falando,	nada
significa	para	o	Direito	do	Trabalho,	a	não	ser	se	entendida	no	sentido	impróprio	de	“empresário”.[57]
Face	 a	 tudo	 isso,	 segundo	 o	 conceito	 elaborado	 por	 ORLANDO	 GOMES	 DOS	 SANTOS	 e
ELSON	GOTTSCHALK,	empresa,	que	está	sujeita	ao	Direito	do	Trabalho,	é	a	organização	na	qual	há
um	certo	número	de	empregados,	desenvolvendo	uma	atividade	comum,	sob	a	autoridade	de	um	chefe
investido	do	poder	de	direção.[58]
Já	para	PAUL	DURAND,	a	empresa	é	a	unidade	econômica	da	produção	explorada	com	o	risco
do	empresário.	A	empresa,	no	seu	ponto	de	vista,	apresenta	também,	como	parte	no	contrato	de	trabalho,
algumas	peculiaridades,	tais	como:	a)	é	uma	sociedade	hierárquica,	tendo	um	chefe	com	prerrogativas
extensas;	b)	tem	empregados	que	não	exercem	papel	meramente	passivo;	c)	a	empresa	deve	assegurar
o	bem	comum	de	todos	os	seus	membros,	isto	é,	empregados	e	empregadores;	e	d)	a	empresa,	como	o
estabelecimento,	não	tem	personalidade	jurídica.[59]
O	advogado	e	Juiz	aposentado	do	Tribunal	Regional	do	Trabalho	da	1ª	Região	CHRISTOVÃO
PIRAGIBE	 TOSTES	MALTA,	 discorrendo	 sobre	 a	 evolução	 do	 conceito	 de	 empresa,	 lembra	 que,	 a
princípio,	prevaleceu	a	ideia	de	empresa	como	plena	propriedade	de	um	dono,	que	orientava	a	produção,
admitia	e	dispensava	empregados	a	seu	inteiro	critério.	Hoje,	mesmo	nos	regimes	capitalistas,	prevalece
a	ideia	da	propriedade	como	função	social.		Assim,	se,	por	um	lado,	nos	regimes	capitalistas,	o	Estado
respeita	 a	 propriedade	 privada,	 a	 livre	 iniciativa	 individual	 e	 a	 livre	 concorrência,	 por	 outro,	 impõe
normas	 imperativas	 de	 caráter	 social	 onde	 sente	 ao	 desamparo	 o	 interesse	 coletivo.	 O	 Direito	 do
Trabalho,	a	seu	turno,	transformou	a	própria	natureza	da	empresa.		Menciona	CHRISTOVÃO	PIRAGIBE
TOSTES	MALTA	 que	 o	 simples	 laço	 que	 ligava	 o	 patrão	 ao	 empregado	 e	 que	 consistia	 apenas	 nas
obrigações	 de	 pagar	 salários	 e	 prestar	 serviços,	modificou-se	 em	 uma	 série	 de	 direitos	 e	 obrigações
dirigidos	contra	a	empresa.	A	estabilidade,	o	Fundo	de	Garantia	do	Tempo	de	Serviço	–	FGTS,	o	seguro
social,	 a	determinação	 legal	das	 condições	de	 trabalho	protegem	o	 trabalhador,	por	 exemplo,	 contra	 a
vontade	do	empregador.	O	trabalhador	não	é	mais	apenas	aquele	instrumento	de	que	se	valia	a	empresa
para	obter	a	produção	desejada.[60]	Daí	o	sentido	de	empresa	como	instituição,	tal	como	mencionado	por
ALBERTO	ASQUINI.
A	teoria	da	instituição,	também	conhecida	como	anticontratualista,	atualmente,	é,	sem	dúvida,	a
mais	conhecida	das	teorias	que	procuram	explicar	a	natureza	jurídica	da	empresa.	Na	realidade,	não	se
deve	 confundir	 o	anticontratualismo	 radical	da	 teoria,	 de	 origem	 alemã,	 da	 relação	 de	 emprego	 ou
relação	de	ocupação,	 com	o	anticontratualismo	atenuado,	 consistente	 na	 teoria	 institucionalista,	 de
origem	francesa,	que	na	opinião	de	muitos	defensores	se	exprime	pela	adesão	à	instituição,	mediante	um
ato	 não	 propriamente	 contratual.	 A	 teoria	 da	 instituição	 foi	 criada,	 em	 1910,	 pelo	 político,	 jurista,
sociólogo	e	professor	francês	MAURICE	HAURIOU	(Ladiville,	Charente,	17.08.1856	-	Toulouse,	Alto
Garona,	12.03.1929),	e	desenvolvida	depois	pelo	jurista	e	autor	do	institucionalismo	francês	GEORGES
RENARD	(1867-1943),[61]	o	jurista	francês	e	professor	do	Curso	de	Legislação	Industrial	da	Faculté	de
Droit	de	Grenoble	PAUL	CUCHE	(1868-1943),[62]	o	 jurista	e	professor	da	Universidade	de	Bourgogne
EMMANUEL	GOUNOT	 (1885-1960),[63]	 o	 jurista	 francês	 e	 professor	 de	 direito	 GEORGE	 SCELLE
(Avranches,	 19.03.1878	 –	 Avranches,	 08.01.1961),[64]	 ALFREDO	 LEGAL	 e	 o	 jurista	 e	 professor	 da
Faculté	de	Droit	et	des	Sciences	Économiques	de	Bordeaux	JEAN	BRÉTHE	DE	LA	GRESSAYE	(1895-
1990),[65]	 seus	 discípulos,	 dentre	 outros.	 Na	 Itália,	 a	 teoria	 da	 instituição	 foi	 defendida	 pelo	 jurista
italiano	SANTI	ROMANO	(Palermo,	31.01.1875	-	Palermo,	11.03.1947)[66]	 e,	 atualmente,	 é	 sustentada
por	 MARIANO	 PIERRO[67]	 e	 ANTONIO	 PALERMO,[68]	 que	 vêem	 na	 empresa	 uma	 verdadeira
instituição.
Para	 MAURICE	 HAURIOU	 a	 instituição	 é	 todo	 elemento	 da	 sociedade	 cuja	 duração	 não
depende	 da	 vontade	 subjetiva	 de	 indivíduos	 determinados.	 São,	 segundo	 ele,	 de	 três	 ordens	 os	 fins
primordiais	de	toda	a	instituição	organizada:	a)	a	ideia	de	obra	a	realizar	num	grupo	social;	b)	o	poder
organizado	 posto	 a	 serviço	 dessa	 ideia;	 e	 c)	as	 manifestações	 que	 se	 produzem	 no	 grupo	 social	 a
respeito	 da	 ideia	 de	 sua	 realização.[69]	 Por	 isso,	 GEORGES	 RENARD	 concluiu	 que	 a	 teoria
institucionalista	 da	 empresa	 originou-se	 da	 doutrina	 otimista	 do	 bem	 comum.[70]	 Além	 disso,	 PAUL
CUCHE,	partindo	dos	princípios	estabelecidos	por	Maurice	Hauriou,	 classifica	as	 instituições	em:	a)
instituições-regras	(convenções	coletivas,	regulamentos	de	fábrica	etc.);	b)	instituições-mecanismos;	c)
instituições-organismos	(sindicatos,	empresas	etc.).[71]
Segundo	o	centenário	acadêmico	da	Academia	Brasileira	de	Letras,	advogado,	escritor	membro
do	 Ministério	 Público	 e	 professor	 brasileiro	 EVARISTO	 DE	 MORAES	 FILHO	 (Rio	 de	 Janeiro,
05.07.1914	 -),	 as	 linhas	gerais	 dessa	 teoria	da	 instituição	 são	 as	 seguintes:	a)	 uma	 instituição	 é	 uma
ideia	de	obra	ou	de	empreendimento	que	se	realiza	e	dura	juridicamente	em	um	meio	social;	b)	para	a
realização	dessa	 ideia,	 um	poder	 seorganiza,	 proporcionando-lhe	os	órgãos	necessários;	c)	 por	 outro
lado,	entre	os	membros	do	grupo	social	 interessado	na	realização	da	ideia,	produzem-se	manifestações
de	comunhão	dirigidas	pelos	órgãos	do	poder.[72]
No	mesmo	sentido,	o	jurista	alemão	ERWIN	JACOBI	(Zitau,	05.01.1884	–	Leipzig,	05.04.1965),
também	 favorável	 à	 compreensão	 da	 empresa	 como	 uma	 instituição,	 sustenta	 que	 a	 empresa	 é	 um
conjunto	 de	 bens	 materiais,	 morais	 e	 pessoais,	 visando	 a	 um	 determinado	 fim	 e	 realizando	 a
coletividade	orgânica	que	é	a	instituição.[73]	Inclusive,	somos	forçados	a	concordar	que	a	participação
dos	 empregados	 no	 lucro,	 coloca	 a	 empresa	 próxima	 a	 qualidade	 de	 instituição,	 caracterizando-a	 um
pouco	mais	 como	bem	comum.	Todavia,	procurando	não	nos	deixar	 iludir,	CHRISTOVÃO	PIRAGIBE
TOSTES	MALTA,	ressalta	que,	atualmente,	encara-se	a	empresa,	ainda,	na	prática,	como	instrumento	de
que	 se	 vale	 o	 empregador	 para	 atingir	 seus	 fins,	 onerados,	 é	 bem	 verdade,	 com	 inúmeras	 obrigações
legais	 para	 com	 o	 Estado	 e	 os	 empregados.[74]	 Portanto,	 se	 a	 participação	 dos	 empregados	 no	 lucro
aproxima	a	empresa	da	situação	de	“comunhão	dos	membros	do	grupo”,	ela,	por	outro	lado,	não	deixa	de
ser	propriedade	do	dono	do	capital.	Evidentemente,	uma	propriedade	com	função	social.
Ademais,	 a	 teoria	 da	 instituição	 não	 tem	 sido	 recebida	 tão	 pacificamente	 assim.	 Muitos	 a
condenam	enfaticamente,	entre	eles	LODOVICO	BARASSI	(Milano,	03.10.1873	–	Milano,	06.02.1961),
jurista	italiano,	que	afetou	de	maneira	fundamental	“na	formação	e	consolidação	das	estruturas	do	Direito
do	Trabalho”.	Lembra	ele	que	os	que	tentam	definir	empresa	como	uma	instituição	dão-lhe	como	um	dos
elementos	 caracterizadores	 “a	 comunhão	 dos	 membros	 do	 grupo”.	 Porém	 pergunta	 LODOVICO
BARASSI	se	haverá,	no	estabelecimento,	efetivamente	esta	comunhão?	Ressalta	ele	que	as	greves	 são
freqüentes	e	aí	estão	para	contrariar	esta	colocação,	ou	seja,	no	campo	das	relações	do	trabalho,	o	direito
de	 greve	 dificilmente	 poderia	 ser	 admitido	 como	 “manifestação	 de	 comunhão”.	 Sustenta	 ainda
LODOVICO	 BARASSI	 que,	 não	 obstante	 o	 dever	 jurídico	 de	 colaboração,	 que	 é,	 aliás,	 próprio	 de
qualquer	 contrato,	 existe	 no	 estabelecimento	 uma	 antítese	 entre	 trabalhadores,	 de	 um	 lado,	 e
empregador,	de	outro.	Negá-lo	seria	fechar	os	olhos	à	realidade	das	coisas.	Ainda	hoje,	os	antagonismos,
revelando	 uma	 verdadeira	 luta	 de	 classes,	 constituem	 uma	 realidade	 que	 não	 pode	 ser	 desconhecida.
Nenhum	 ordenamento	 jurídico	 tem	 a	 “virtude	 taumatúrgica”	 de	 suprimir	 esta	 “realidade	 invencível”;
pode,	apenas,	discipliná-la.[75]
Por	isso	muitos	sustentam	que	não	há	lei,	nem	doutrina,	nem	doutrinadores	e	nem	jurisprudência
que	possa,	como	por	um	passe	de	mágica,	fazer	desaparecer	esta	realidade.	Tal	realidade,	segundo	esta
concepção,	se	opõe,	frontalmente,	à	ideia	de	descobrir,	no	estabelecimento	atual,	uma	instituição	“como
manifestação	de	comunhão	dos	membros	do	grupo”.	Tal	sinonímia	incide	na	mesma	crítica	a	que	se	não
pode	furtar	a	teoria	da	“subjetivação”	do	estabelecimento:	contrasta	com	os	fatos.	É	preciso,	pois,	nunca
perder	de	vista	que	vivemos	num	regime	capitalista,	sob	pena	de	não	guardarem	as	categorias	jurídicas
aquela	necessária	correspondência	com	a	vida	econômica,	 tal	 como	nos	 falam	André	Rouast	 e	Paul
Durand.	 Dizem	 eles	 que	 “as	 categorias	 jurídicas	 devem	 corresponder	 às	 realidades	 da	 vida
econômica”.	 Assim,	 sem	 essa	 necessária	 correspondência,	 qualquer	 trabalho	 de	 construção	 jurídica
consistirá	em	mera	obra	de	ficção.[76]
Menciona	o	ilustre	jurista	DÉLIO	BARRETO	DE	ALBUQUERQUE	MARANHÃO	(26.04.1915	-
)	 que,	 de	 acordo	 com	 o	 nosso	 direito	 positivo,	 ajustado	 à	 realidade	 econômica,	o	 estabelecimento	 é
propriedade	 de	 alguém	 e	 esse	 alguém	 é	 o	 empregador.	 A	 “institucionalização	 nominal	 do
estabelecimento”,	sem	a	modificação	real	da	estrutura	econômico-social,	é	mero	expediente	político,
próprio	 dos	 regimes	 fascistas,	 visando	 à	 abolição,	no	 papel,	daquele	 antagonismo,	 a	 que	 se	 refere
Lodovico	Barassi.	A	participação	dos	empregados	nos	lucros,	como	havíamos	dito,	no	fundo,	não	altera
absolutamente	 nada	 os	 termos	 da	 equação,	 porque	 essa	 participação,	 sem	 a	 co-propriedade	 e	 a	 co-
gestão,	segundo	DÉLIO	MARANHÃO,	como	é	mais	conhecido,	é	simples	acréscimo	salarial,	ou	seja,
sem	isto	a	participação	nos	lucros	não	perde	a	sua	essência	de	natureza	salarial	e	não	deixa	de	constituir
uma	 das	 formas	 de	 remunerar	 a	 prestação	 do	 serviço	 subordinado.	 A	 natureza	 das	 relações	 entre
empregado	e	empregador	subsiste	inalterada,	configurando	este	como	o	proprietário	do	estabelecimento.
[77]
Daí	 GEORGES	 RIPERT	 menciona	 que	 os	 juristas,	 sem	 grande	 êxito,	 tentam	 estabelecer	 o
estatuto	 da	 “empresa”,	 porém	 o	 legislador	 fica	 de	 mãos	 completamente	 atadas	 pelas	 forças
capitalistas	“que	temem	ver	os	dirigentes	privados	de	sua	autoridade	e	de	seus	lucros”.[78]	E	conclui
MICHEL	DESPAX	que	somos	forçados	a	reconhecer	que	o	princípio	da	unidade	do	patrimônio	constitui,
ainda,	um	 sério	 freio	 à	 dissociação	 entre	 empregador	 e	 empresa.	 Diz	 ele	 que	 estamos	 “somente	 na
presença	 de	 um	 sujeito	 de	 direito	 nascente,	 cujo	 corolário	 será	 uma	 integração	 muito	 acentuada	 dos
trabalhadores	na	empresa	dentro	do	quadro	de	uma	economia	dirigida	de	funções	análogas	àquelas	dos
clássicos	serviços	públicos,	de	implicação	política	evidente”.[79]
Vimos,	assim,	três	ciências	sociais	distintas	(Economia	Política,	Direito	Comercial	e	Direito	do
Trabalho)	que	consideram	a	empresa	sob	prismas	ou	perspectivas	diferentes.	A	Economia	Política	nela
estuda	o	organismo	de	produção,	estabelecendo	as	leis	que	a	regem,	tais	como	a	lei	da	especialização	e	a
lei	 da	 concentração.	 O	 Direito	 Comercial,	 como	 foi	 dito,	 considera	 a	 empresa	 mais	 pelo	 prisma	 do
comerciante	e	dos	atos	do	comércio.	E	o	Direito	do	Trabalho,	por	sua	vez,	a	considera	pelo	prisma	das
relações	 individuais	 e	 coletivas	 entre	 empregados	 e	 empregador.	 Daí	 ORLANDO	 GOMES	 DOS
SANTOS	e	ELSON	GOTTSCHALK	destacarem	que	essa	diversidade	de	perspectivas	e	a	freqüência	dos
estudos	 modernos	 sobre	 a	 empresa	 revelam	 as	 dificuldades	 de	 sua	 conceituação	 e	 o	 interesse	 que
desperta	seu	conhecimento	na	ciência	jurídica	contemporânea.[80]
Não	devemos	esquecer	que,	no	campo	da	 legislação	ordinária,	 são	várias	as	 leis	que	 tratam	a
respeito	de	empresa.	 	 Inclusive	elas	definem	o	 termo	“empresa”	para	cada	 fim	específico.	Entre	essas
leis,	podemos	citar	o	art.	6°	da	antiga	Lei	n°	4.137,	de	10.09.1962,[81]	que	tratava	da	repressão	ao	abuso
do	poder	econômico,	o	qual	dispunha	literalmente	que	empresa	é	toda	organização	de	natureza	civil	ou
mercantil	 destinada	 à	 exploração	 por	 pessoa	 física	 ou	 jurídica	 de	 qualquer	 atividade	 com	 fins
lucrativos.	 Assim,	 como	 podemos	 observar,	 apesar	 da	 grande	 variedade	 de	 significados	 do	 termo
“empresa”,	em	quase	todos	eles	parece	estar	presente	o	elemento	comum	referente	à	finalidade	de	lucro.
Daí	 geralmente	 se	 falar	 em	 “entidades	 sem	 fins	 lucrativos”	 e	 não,	 “empresas	 sem	 fins	 lucrativos”,	 da
mesma	forma	que	“entidade	beneficente”	e	não,	“empresa	beneficente”	etc.	Segundo	o	advogado	FUGIMI
YAMASHITA,	 a	 característica	 dessas	 instituições,	 embora	 não	 deixe	 de	 ser	 empreendimento,	 é	 a
ausência	 da	 finalidade	 de	 lucro	 e,	 geralmente,	 elas	 não	 têm	 um	 capital,	 mas	 sim	 um	 patrimônio,
propondo-se	a	 reinvestir	eventuais	 sobras	de	caixa	na	própria	organização.[82]	Em	razão	disso,	 conclui
ANTÔNIO	LOPES	DE	SÁ	que	“o	lucro	é	finalidade	nas	empresas	e	meio	nas	entidades”.[83]
Lembra	FUGIMI	YAMASHITA	que	certos	 tipos	de	organização,	 embora	em	seus	estatutos	não
conste	o	objetivo	de	lucro	no	sentidocomercial,	na	realidade,	elas	operam	como	verdadeiras	empresas.
Melhores	exemplos	desse	tipo	de	organização	são	as	fundações	que,	em	geral,	atuam	na	área	de	serviços,
notadamente	no	campo	da	educação,	saúde	etc.	Esclarece	ele	que	estas	entidades,	em	princípio,	operam
com	uma	margem	sobre	seus	custos,	o	que	não	deixa	de	ser	um	lucro,	com	o	objetivo	de	desenvolver	e
expandir	 as	 atividades	 com	o	 reinvestimento	desse	 superávit	 (lucro),	mesmo	porque,	 em	não	 havendo
proprietário,	 como	 regra,	 é	 proibida	 a	 distribuição	 de	 lucro.	 Estas	 instituições,	 todavia,	 contratam
empregados,	como	outra	empresa	qualquer,	para	desenvolvimento	das	suas	atividades	previstas	nos	seus
estatutos.[84]	Assim,	apesar	de	não	visarem	o	lucro	destinados	a	proprietários,	elas	geram	sobras	que,	a
princípio,	sobre	as	quais	se	poderia	reservar	uma	parcela	para	ser	distribuída	aos	empregados,	a	título,
por	exemplo,	de	premiação	pela	eficiência	e	produtividade	que	permitiram	a	ocorrência	de	sobras.
Um	outro	exemplo	desse	tipo	de	organização	refere-se	às	sociedades	cooperativas.	Dispõe	o	art.
4°	 da	 Lei	 n°	 5.764,	 de	 16.12.1971	 (define	 a	 Política	 Nacional	 de	 Cooperativismo,	 institui	 o	 regime
jurídico	das	sociedades	cooperativas,	e	dá	outras	providências)[85]	que	as	cooperativas	 são	sociedades
de	 pessoas,	 com	 forma	 e	 natureza	 jurídica	 própria,	 de	 natureza	 civil,	 não	 sujeitas	 à	 falência,
constituídas	 para	 prestar	 serviços	 aos	 associados,	 distinguindo-se	 das	 demais	 sociedades	 pelas
diversas	 características	 relacionadas	 na	 própria	 lei,	dentre	 as	 quais	 se	 citam:	 adesão	 voluntária,
variabilidade	do	capital	social	representado	por	quotas-partes,	 incessibilidade	das	quotas-partes	do
capital	 a	 terceiros,	 estranhos	 à	 sociedade,	 retorno	 das	 sobras	 líquidas	 do	 exercício,
proporcionalmente	às	operações	realizadas	pelo	associado	etc.	Estabelece	o	art.	3°	da	mesma	da	Lei	n°
5.764,	 de	 16.12.1971,[86]	 que	 “celebram	 contrato	 de	 sociedade	 cooperativa	 as	 pessoas	 que
reciprocamente	 se	 obrigam	 a	 contribuir	 com	 bens	 ou	 serviços	 para	 o	 exercício	 de	 uma	 atividade
econômica,	de	proveito	comum,	sem	objetivo	de	lucro”.	Como	se	vê,	a	sociedade	cooperativa	não	visa	o
lucro.
Assim,	a	 rigor,	 as	 fundações	e	as	 sociedades	cooperativas	não	 são	verdadeiramente	empresas,
uma	vez	que	não	visam	lucro	propriamente	dito.	No	entanto,	a	legislação	estabelece	que	elas	se	igualam
às	demais	empresas	em	relação	a	seus	empregados,	para	fins	de	legislação	trabalhista	e	previdenciária
(art.	90	e	91	da	Lei	n°	5.764,	de	16.12.1971).[87]
Após	 tudo	 isto,	 devemos	 apenas	 acrescentar	 que	 certo	 é,	 pelo	 consenso	 geral	 dos	 tratadistas,
serem	elementos	constitutivos	da	empresa:	a)	a	organização	dos	fatores	produtivos	(natureza,	capital	e
trabalho)	para	o	exercício	profissional	de	indústria	ou	do	comércio;	como	observa	o	economista	francês
PIERRE	 PAUL	 LEROY-BEAULIEU	 (Saumur,	 09.12.1843	 –	 Paris,	 09.12.1916),	 não	 operam
espontaneamente,	 separados	uns	dos	outros,	 necessitam	coordenar-se,	 combinar-se,	 obrar	 em	conjunto,
isto	é,	organizar-se,	obedientes	a	um	pensamento	e	na	consecução	de	um	programa;[88]	b)	a	realização	de
negócios	mercantis,	de	molde	a	 satisfazer	às	necessidades	dos	consumidores,	exercitando	a	empresa	o
seu	papel	 de	 intermediária	 entre	os	 fatores	da	produção	 e	os	 consumidores;	 e	c)	 a	 aceitação	do	 risco
técnico	e	econômico,	próprio	da	empresa,	inerente	ao	ajuste	dos	elementos	necessários	para	a	produção.
[89]
Por	 isso,	 o	 conceito	 que	 mais	 se	 aproxima	 daquele	 que	 devemos	 utilizar	 para	 o	 deslinde	 do
instituto,	que	é	o	tema	central	deste	trabalho,	é	aquele	esboçado	por	CHRISTOVÃO	PIRAGIBE	TOSTES
MALTA,	no	 sentido	de	que	empresa	 significa	o	 conjunto	de	atividades	organizadas	pelo	 seu	 titular,
pessoa	 física	 ou	 jurídica,[90]	 ou	 o	 conceito	 de	 José	 Martins	 Catharino,	 jurista,	 professor	 da
Universidade	 Federal	 da	 Bahia	 e	 autor	 de	 várias	 obras	 de	 Direito	 do	 Trabalho,	 no	 sentido	 de	 que,
empresa	é	o	conjunto	de	bens	materiais,	imateriais	e	pessoais	para	a	obtenção	de	um	fim,	ou	seja,	é
uma	 universalidade,	 compreendendo	 duas	 univeralidades	 parciais,	a	 de	 pessoas	 (personarum)	 e	 de
bens	(bonorum),	funcionando	em	direção	a	um	fim.[91]
Daí,	apesar	das	dificuldades	e	mesmo	não	sendo	o	conceito	mais	perfeito,	adotaremos,	para	fins
de	 nossos	 estudos	 e	 por	 melhor	 se	 coadunar	 com	 as	 disposições	 da	 Medida	 Provisória	 n°	 794,	 de
29.12.94	(dispunha	sobre	a	participação	dos	 trabalhadores	nos	 lucros	ou	resultados	das	empresas	e	dá
outras	providências),	e	suas	sucessoras,	o	entendimento	de	que	empresa	é	toda	organização	de	natureza
civil	ou	mercantil	destinada	à	exploração	por	pessoa	física	ou	jurídica	de	qualquer	atividade	com	fins
lucrativos	ou,	ainda,	aquelas	organizações	destinadas	ao	exercício	de	atividades	sem	fins	 lucrativos
por	pessoa	exclusivamente	 jurídica,[92]	 com	exceção	daquela	que,	cumulativamente:	a)	não	 distribui
resultados,	a	qualquer	 título,	ainda	que	 indiretamente,	a	dirigentes,	a	 administradores	 ou	 empresas
vinculadas;	 b)	 aplica	 integralmente	 os	 seus	 recursos	 em	 sua	 atividade	 institucional	 e	 no	 país;	 c)
destina	o	seu	patrimônio	a	entidade	congênere	ou	ao	poder	público,	em	caso	de	encerramento	de	suas
atividades;	 e	 d)	 mantem	 escrituração	 contábil	 capaz	 de	 comprovar	 a	 observância	 dos	 demais
requisitos	desta	alínea	e	das	normas	fiscais,	comerciais	e	de	direito	econômico	que	lhe	são	aplicáveis.
	
	
2.2	DEFINIÇÃO	DE	EMPREGADOR
	
	
A	Consolidação	 das	 Leis	 do	 Trabalho	 –	 CLT	 define	 empregador	 como	 sendo	 “a	 empresa,
individual	 ou	 coletiva,	 que,	 assumindo	 os	 riscos	 da	 atividade	 econômica,	 assalaria	 e	 dirige	 a
prestação	 pessoal	 de	 serviços”.	 A	 CLT	 confunde	 equivocadamente	 empresa	 com	 empregador.	 Aqui
também	 a	 categoria	 jurídica	 não	 corresponde	 à	 realidade	 da	 vida	 econômica.	 A	 lei	 conceitua
empregador	 como	 empresa.	 Mas	 os	 fatos	 são	 o	 que	 são	 e	 não	 podem	 ser	 pura	 e	 simplesmente
modificados.	 Não	 basta,	 portanto,	 que	 assim	 a	 lei	 o	 considere	 para	 que	 o	 empregador	 passe	 a	 ser
realmente	 uma	 empresa.	 A	 definição	 legal,	 pois,	 se	 encontra,	 sem	 dúvida	 alguma,	 eivada	 pelo	 erro
técnico.
No	mesmo	sentido,	WALDEMAR	MARTINS	FERREIRA	diz	que	a	Consolidação	das	Leis	do
Trabalho	 –	 CLT	 ao	 definir	 os	 sujeitos	 do	 contrato	 de	 trabalho	 ou	 melhor,	 de	 emprego,	 houve	 como
empregador	 à	 empresa.	 Os	 qualificativos,	 segundo	 ele,	 denunciam	 ausência	 de	 conceito	 científico.	 E
conclui	que	o	empregador	somente	pode	ser,	no	sistema	do	Direito	positivo	brasileiro,	a	pessoa,	natural
ou	jurídica,	que	explora	a	atividade	econômica	numa	ou	mais	empresas	ou	estabelecimentos.[93]
À	 primeira	 vista,	 parece	 desnecessário	 demonstrar	 o	 equívoco	 do	 legislador	 trabalhista	 ao
conceituar	 empregador,	 todavia	 a	 Constituição	 Federal	 de	 1988,	 tanto	 quanto	 as	 suas	 antecessoras,	 e
agora	 também	 outras	 normas	 emitidas	 pelo	 Poder	 Executivo,	 estabelecem	 que	 os	 trabalhadores	 têm
direito	de	participar	nos	lucros	e	resultados	da	empresa	em	que	trabalham.	Assim	sendo,	daí	emerge	a
necessidade	de	se	saber	sobre	qual	sujeito	de	direito	recairá	a	obrigação	de	distribuir	parte	dos	lucros	a
esses	trabalhadores.	Para	se	ter,	com	precisão,	uma	boa	noção	de	quem	terá	sobre	si	a	responsabilidade
jurídica	 de	 distribuir	 os	 lucros	 ou	 resultados	 apurados	 em	 período	 financeiro,	 não	 há	 como	 fugir	 ao
problema	de	identificar	o	sujeito	do	contrato	de	trabalho,	que	em	razão	disso	tem	o	dever	de	atender	ao
comando	 legal.	 Por	 isso,	 passaremos	 a	 buscar	 uma	 conceituação	 de	 empregador	 mais	 próxima	 da
realidade.
O	 empregador	 encontra-se	 situado	 na	 categoria	 dos	 sujeitos,	 porque	 é	 um	 dos	 sujeitos	 do
contrato	de	 trabalho.	Empresanão	é	a	mesma	coisa	que	empregador,	pois	 somente	a	pessoa	 física	 (o
dono	do	capital)	ou	jurídica	(a	sociedade)	podem	contratar	e	empresa	não	é	pessoa	física	nem	jurídica.	O
empregador	só	pode	ser	o	dono	do	capital	(empresário)	ou	a	sociedade.	Eles	constituem	o	sujeito	de
direito,	 enquanto	 a	 empresa,	mesmo	 como	 exercício	 de	 atividade,	 constitui	 o	objeto	 de	 direito.	 	 Sem
sombra	de	dúvida,	o	dono	do	capital	ou	empresário,	quando	formado	apenas	pelos	cabedais	de	uma	única
pessoa,	e	a	sociedade	constituem,	respectivamente,	pessoa	física	e	pessoa	jurídica,	capazes	de	direitos	e
obrigações.	O	 executivo	ou	 dirigente	 somente	 coincide	 com	 a	 figura	 do	 empresário	 ou	 empregador,
quando	participa	da	direção	do	empreendimento	e,	ao	mesmo	tempo,	é	dono	do	capital	ou	de	parte	do
capital	investido	naquele.
O	empresário	 tem	 poderes	 jurídicos	 para	 comandar	 a	 empresa,	mas	 pode	 ou	 não	 fazê-lo.	 Ele
pode	entregar	a	direção	do	empreendimento	a	um	executivo	(administrador	profissional).	Não	é	possível
encontrar	em	pleno	funcionamento	empresas	em	cujo	ativo	há	bens	que,	embora	a	serviço	da	atividade
empreendida,	não	são	de	propriedade	da	pessoa	física	ou	jurídica	titular	da	empresa.	Todavia	é	possível
encontrar	empresas	sendo	dirigidas	por	executivos	que	não	tenham	participação	em	seu	capital.	Assim,	a
figura	do	empresário	não	se	confunde	com	a	figura	do	dirigente	ou	executivo.
Vimos	que	são	componentes	da	organização-empresa:	a)	a	ideia	do	empreendimento,	a	iniciativa
em	 pô-lo	 em	marcha,	 a	 liderança,	 o	 tino	 empresarial	 (fatores	 subjetivos	 inerentes	 ao	 empresário);	b)
recursos	financeiros	e	o	crédito	(o	capital);	c)	a	arregimentação	de	colaboradores	 (recursos	humanos,
outro	fator	da	produção);	d)	instrumentos	materiais	e	imateriais	(instalações,	equipamentos	e	congêneres;
direitos,	como	patentes,	grifes	etc.,	cujo	todo	forma	uma	universalidade	-	o	chamado	fundo	de	comércio).
[94]	 Esse	 complexo,	 formado	 por	 partes	 tão	 díspares,	 somente	 se	 mantém	 aglutinado,	 em	 constante
evolução	 e	 desenvolvimento	 porque,	 à	 frente	 dele,	 dirigindo-o	 e	 coordenando-o,	 dando-lhe	 unidade	 e
vocação	 para	 um	 fim,	 como	 verdadeiro	 elemento	 catalizador,	 encontra-se	 o	 administrador	 ou	 o
executivo,	que	pode	ser	proprietário	do	capital	ou	não.	O	executivo,	a	nosso	ver,	só	assume	riscos	se	for,
também,	 empresário	 ou	 proprietário	 do	 capital,	 uma	 vez	 que	 somente	 este	 absorve	 prejuízos,	 que
basicamente	são	descontados	do	montante	de	capital	existente,	que	se	encontra	investido	na	empresa.
Como	melhor	exemplo	para	se	distinguir	bem	a	figura	do	empresário	ou	proprietário	da	empresa
e	 a	 figura	 do	 administrador	 ou	 executivo	 citamos	 o	 que	 vem	 ocorrendo	 com	 a	 fábrica	 de	 trens	Santa
Matilde.	Esta	fábrica,	cujo	capital	é	exclusivamente	de	propriedade	do	empresário	Humberto	Fonseca
(dono	do	capital),	 começou	a	enfrentar	dificuldade	em	1986	e	 já	em	1987	paralisou	as	atividades	por
dois	 anos.	 Em	 1992,	 os	 empregados	 obtiveram	 na	 Justiça	 do	 Trabalho	 o	 usufruto	 da	 fábrica	 como
pagamento	 de	 dívidas	 trabalhistas.	 Naquela	 ocasião,	 os	 salários	 estavam	 atrasados	 há	 dez	meses	 e	 a
empresa	 não	 tinha	 credibilidade.	 Por	 isso,	 contrataram	 um	 executivo,	 com	 credibilidade	 no	mercado,
para	dirigir	a	empresa.	Espera-se	que,	até	1998,	as	dívidas	trabalhistas	estejam	totalmente	pagas.	A	partir
daí,	a	empresa	estará	disponível	para	voltar	às	mãos	de	seu	proprietário.[95]
Por	outro	lado,	já	vimos	que	o	art.	2.082	do	Código	Civil	italiano	dispõe	que	empresário	é	quem
exercita	profissionalmente	uma	atividade	econômica	organizada	para	o	fim	de	produção	ou	troca	de
bens	ou	de	 serviços.	Assim,	 a	 sociedade	é	 também	 empresário,	 jamais	 empresa.	E	 como	 tal	 exerce	 a
atividade	produtiva.	 	Empresa	e	empregador	 somente	poderiam	confundir-se	no	caso	de	a	empresa	 ter
personalidade	jurídica.	Todavia	isso	não	ocorre.	A	lei	em	momento	algum	confere	personalidade	jurídica
a	empresa,	fato	que	por	si	só	impede	de	ser	ela	empregador.	A	empresa,	de	um	modo	geral,	não	possui
personalidade	jurídica.	Quem	possui	personalidade	jurídica	é	o	empresário	ou	a	sociedade.	Inclusive,
doutrina	e	jurisprudência	não	admitem	a	empresa	como	sujeito	de	direito,	isto	é,	consideram	a	empresa
pessoa	jurídica.	A	empresa	é	meramente	o	exercício	da	atividade	profissional,	nada	mais	além	disso.	Ela
pode	ser	o	exercício	da	atividade	individual	de	pessoa	natural	(empresário	 individual),	o	exercício	da
atividade	 coletiva	 (empresa	 coletiva)	 ou	 o	 exercício	 da	 atividade	 de	 pessoa	 jurídica	 (da	 sociedade).
Portanto,	 o	 verdadeiro	 e	 legítimo	 empregador	 é	 a	 pessoa	 física	 (o	 empresário)	 ou	 pessoa	 jurídica	 (a
sociedade)	proprietária	do	patrimônio	empresarial.
Esclarece	CHRISTOVÃO	PIRAGIBE	TOSTES	MALTA	que,	com	efeito,	os	contratos,	inclusive
o	 de	 trabalho,	 processam-se	 entre	 pessoas.	 Assim,	 se	 a	 empresa	 não	 tem	 personalidade	 jurídica,	 é
preciso	 procurar-se	 a	 pessoa	 com	quem	o	 trabalhador	 contrata	 para	 prestar	 serviços	 à	 empresa.	 Essa
pessoa	 com	 quem	 se	 processa	 o	 contrato	 é	 que	 será	 efetivamente	 o	 empregador.	 A	 empresa	 é	 mero
instrumento	de	atividade	comercial	ou	industrial.[96]
RUBENS	 REQUIÃO	 nos	 dá	 o	 melhor	 exemplo	 de	 que	 apenas	 o	 empresário	 individual	 ou	 a
sociedade	possuem	personalidade	jurídica	e	a	empresa	é	mera	atividade	profissional	destes.	Lembra	ele
que	 pode	 haver	 sociedade	 comercial	 sem	 empresa.	 Duas	 pessoas	 juntam	 seus	 cabedais,	 formam	 o
contrato	social	e	o	registram	na	Junta	Comercial.	Eis	aí	a	sociedade,	porém,	enquanto	estiver	inativa,	a
empresa	não	surge.[97]
Em	apenas	um	caso	a	empresa	se	confunde	com	a	pessoa	jurídica,	tornando-se	sujeito	de	direito,
e,	 desta	 forma,	 corresponde	à	definição	 legal	de	 empregador;	 falamos	das	empresas	públicas,	 regidas
pelo	 Decreto-Lei	 n°	 200,	 de	 25.02.1967	 (dispõe	 sobre	 a	 organização	 da	 Administração	 Federal,
estabelece	 diretrizes	 para	 a	 Reforma	Administrativa	 e	 dá	 outras	 providências),	 com	 as	 alterações	 do
Decreto-Lei	n°	900,	de	29.09.1969,	pois,	trata-se	de	um	patrimônio	de	afetação	personalizado,	ou	seja,
este	patrimônio	afetado	ou	destinado	a	determinado	fim,	assim	considerado,	tem	autonomia	como	sujeito
dos	 direitos	 dele	 decorrentes.	 Somente	 neste	 caso	 a	 empresa	 corresponde	 à	 definição	 legal	 de
empregador.
Devemos	 acrescentar	 que	 o	 §1°	 do	 art.	 2°	 da	 Consolidação	 das	 Leis	 do	 Trabalho	 –	 CLT
(Decreto-Lei	 n°	 5.452,	 de	01.05.1943)[98]	 dispõe	 que	 se	 equiparam	 ao	 empregador,	 para	 os	 efeitos	 da
“relação	 de	 trabalho”,	 os	 profissionais	 liberais,	 as	 instituições	 de	 beneficência,	 as	 associações
recreativas	 ou	 outras	 instituições	 sem	 fins	 lucrativos,	 que	 admitirem	 empregados.	 Ressalta	 DÉLIO
MARANHÃO	que	o	 legislador,	partindo	da	 falsa	premissa	que	o	empregador	é	a	“empresa”,	 resolveu
“equiparar”	tais	entes	jurídicos	ao	empregador.	Diz	ele	que	não	se	trata	disso.	Se	um	profissional	liberal
ou	 uma	 associação	 recreativa	 admitem	 empregados,	 não	 se	 equiparam	 ao	 empregador;	 eles	 são
empregadores.	Para	ele,	o	 legislador	pensou	que	a	atividade	econômica	supusesse,	necessariamente,	a
ideia	de	lucro.	Mas	não	é	assim.	Esclarece	DÉLIO	MARANHÃO	que	a	atividade	econômica	traduz-se	na
produção	de	bens	ou	de	serviços	para	satisfazer	às	necessidades	humanas.	Em	um	regime	capitalista,	as
noções	de	atividade	econômica	e	de	lucro	vêm,	geralmente,	associadas,	porque	este	é	o	incentivo	para	o
exercício	daquela.	No	entanto,	segundo	ele,	isto	não	importa	que	se	confunda	uma	coisa	com	outra.	Desde
que	haja	uma	atividade	econômica	(produção	de	bens	ou	serviços),	na	qual	se	utiliza	a	força	do	trabalho
alheia	como	fator	de	produção,	existe	a	figura	do	empregador.[99]
	
“CONTRATO	 DE	 TRABALHO	 -	 EMPREGADOR	 -	 CONTRATO
REALIDADE.		Sendo	o	contrato	de	trabalhoum	contrato	realidade,	empregador
há	 de	 ser,	 assim	 considerado,	 aquele	 que	 pretensamente	 usa	 o	 trabalho	 do
empregado”.[100]
	
Por	 isso	 OCTÁVIO	 BUENO	 MAGANO	 (1928-2005),	 professor	 de	 Direito	 do	 Trabalho	 na
Faculdade	 de	Direito	 da	Universidade	 de	 São	 Paulo,	 definiu	 empregador	 como	 toda	 entidade	 que	 se
utiliza	de	trabalhadores	subordinados.[101]	E	DÉLIO	MARANHÃO	diz	que	empregador,	juridicamente,
como	um	dos	sujeitos	do	contrato	de	trabalho,	é	a	pessoa,	física	ou	jurídica,	que,	assumindo	os	riscos
da	atividade	econômica,	assalaria	e	dirige	a	prestação	pessoal	de	serviços.[102]	Daí	pode-se	dizer	que
são	requisitos	para	a	qualificação	de	empregador:	a)	assumir	os	riscos	da	atividade;	b)	não	trabalhar	por
conta	alheia;	c)	arcar	com	os	lucros	e	perdas	do	empreendimento;	d)	ser	quem	admite	o	trabalhador,	isto
é,	quem	decide	sobre	as	condições	e	a	contratação	deste;	e)	possuir	o	poder	de	dirigir,	ou	seja,	de	utilizar
a	força	de	trabalho	que	o	empregado	põe	à	sua	disposição,	respeitados	os	direitos	deste;	e	f)	possuir	o
poder	 de	 disciplina,	 ou	 seja,	 de	 aplicar	 penalidades.[103]	 É	 de	 se	 notar	 que	 os	 poderes	 de	 admitir,	 de
decidir	sobre	as	condições	e	a	contratação,	de	dirigir	e	de	disciplina	podem	ser	exercidos	pelo	próprio
empregador	ou	por	outra	pessoa	com	delegação	desses	poderes.
Em	 suma,	empregador	 é	 a	 pessoa	 física	 ou	 jurídica	que	 contrata	 o	 trabalho	 subordinado,	 o
dirige	e	paga	salários	em	contraprestação	aos	serviços	prestados.
Achamos	 por	 bem	 lembrar	 que	 além	 dos	 profissionais	 liberais,	 entidades	 de	 beneficência,	 as
fundações	e	associações	civis	(pessoas	jurídicas	de	direito	privado	destinadas	a	fins	religiosos,	morais,
científicos	 ou	 culturais,	 assistenciais	 ou	 de	 beneficência,	 recreativos	 ou	 desportivos	 ou,	 ainda,	 de
representação	 profissional	 ou	 sindical)	 e	 condomínios	 residenciais,	 a	 União	 Federal,	 os	 Estados,	 o
Distrito	 Federal,	 os	Municípios	 e	 suas	 autarquias	 são	 empregadores	 sempre	 que	 seus	 servidores	 não
estejam	 amparados	 por	 um	 sistema	 de	 proteção	 próprio,	 ou	 seja,	 sempre	 que	 não	 tenham	 adotado	 o
regime	único	estatutário,	previsto	no	art.	39	da	Constituição	Federal	de	1988,	e	no	caso	de	contratação
por	tempo	determinado	para	atender	a	necessidade	temporária	de	excepcional	interesse	público	(inciso
IX	do	art.	37	da	Constituição	Federal).
“O	 Estado,	 quando	 se	 transmuda	 em	 empregador,	 nos	 moldes	 da	 lei,	 não	 escapa	 às
responsabilidades	atinentes	àquela	condição,	aplicando-se-lhes	os	princípios	que	norteiam	o	Direito”.[104]
As	locadoras	de	mão-de-obra	são	empregadoras	dos	trabalhadores	que	colocam,	trabalhando	ou
à	 disposição,	 em	 outras	 empresas.	 	 Todavia	 o	 dono	 do	 imóvel,	 construído	 para	 seu	 próprio	 uso,	 sem
objetivo	 de	 lucro,	 desde	 que	 não	 explore	 qualquer	 negócio,	 não	 pode	 ser	 considerado	 empregador.
Também	não	pode	ser	considerado	empregador	os	Estados	estrangeiros,	representados	pelas	embaixadas,
missões	ou	representações.
Outra	questão	 importante	para	 a	qualificação	de	 empregador	 é	o	 instituto	da	 solidariedade	 de
empresas.	Estatui	o	§2°	do	art.	2°	da	Consolidação	das	Leis	do	Trabalho	–	CLT	(Decreto-Lei	n°	5.452,
de	01.05.1943)	que	“sempre	que	uma	ou	mais	empresas,	tendo,	embora,	cada	uma	delas,	personalidade
jurídica	 própria,	 estiverem	 sob	 a	 direção,	 controle	 ou	 administração	 de	 outra,	 constituindo	 grupo
industrial,	 comercial	 ou	 de	 qualquer	 outra	 atividade	 econômica,	 serão,	 para	 os	 efeitos	 da	 relação	 de
emprego,	 solidariamente	 responsáveis	 a	 empresa	 principal	 e	 cada	 uma	 das	 subordinadas”.	 É	 de	 se
assinalar	 que	 “grupo	 empresarial”	 é	 todo	 conjunto	 mais	 ou	 menos	 estável	 de	 empresas	 em	 que	 a
tomada	 das	mais	 importantes	 decisões	 técnicas,	 comerciais,	administrativas	 e	 financeiras	 é	 ditada
pelos	interesses	de	lucro	do	conjunto	e	não,	necessariamente	de	cada	empresa	em	particular.[105]	Aliás
é	de	se	esclarecer	que	“trust”	é	a	reunião	de	várias	empresas	sob	uma	direção	comum,	constituindo	um
monopólio,	visando	a	dominação	do	mercado.	“Cartéis”	são	agrupamentos	que	se	propõem	à	limitação
da	concorrência,	ou	seja,	é	um	tratado	de	aliança	entre	produtores,	colocados	em	pé	de	igualdade,	com
independência	conservada	em	tudo,	menos	nos	pontos	que	formam	objeto	de	pacto.“Holding	company”	é
uma	sociedade	financeira	que	efetivamente	adquire	a	maioria	das	ações	das	sociedades	a	unir;	reúne
a	 direção	 de	 várias	 empresas,	procurando	 o	 controle,	mas	 não	 a	 propriedade.	 E	 “concern”	 ocorre
quando	várias	sociedades	combinam	a	criação	de	uma	nova,	com	poderes	de	decisão	e	de	gestão	sobre
os	integrantes	do	grupo,	que	não	perdem,	entretanto,	sua	personalidade	jurídica.[106]	Como	se	verifica,
no	caso	do	cartel	não	há	que	se	falar	em	grupo	empresarial	e	no	caso	do	trust,	pode	ou	não	se	configurar
um	grupo.	 	Já	no	caso	da	Holding	e	da	concern	configura-se	 indiscutivelmente	um	grupo	empresarial,
uma	vez	que	as	empresas	estão	reunidas	em	grupo,	sob	a	direção	e	controle	de	uma	só	empresa,	com	o
objetivo	do	aumento	das	utilidades	e	lucros	e	a	eliminação	de	perdas,	portanto	tornam-se	solidárias	nas
obrigações	assumidas	por	qualquer	das	integrantes	do	grupo	para	com	seus	empregados.
	
“Relação	 de	 emprego	 -	 Provada	 a	 interligação	 dos	 setores	 da	 administração
pública,	 empregador	 é	 aquele	 que	 se	 beneficia	 diretamente	 da	 prestação	 de
serviços,	pouco	importando	que	a	admissão	tenha	sido	efetivada	por	outro”.[107]
	
Vimos	 a	 definição	 de	 empresa,	 de	 empresário	 e,	 depois,	 a	 definição	 de	 empregador.	 Contudo
entendemos	de	 bom	alvitre	 abordarmos	 rapidamente	 a	 definição	 de	 estabelecimento	 ou	 de	azienda.	 O
estabelecimento	é	o	instrumento	da	atividade	do	empresário,	ou	seja,	é	com	ele	que	o	profissional	se
aparelha	para	exercer	a	 sua	atividade.	Menciona	RUBENS	REQUIÃO	que	o	estabelecimento	é	a	base
física	da	empresa.	Por	 sinal,	o	Código	 italiano	o	define	como	o	complexo	dos	bens	organizados	pelo
empresário,	 para	 o	 exercício	 da	 empresa.	 Acrescenta	 RUBENS	 REQUIÃO	 que	 o	 estabelecimento
compõe-se	de	elementos	corpóreos	e	incorpóreos,	que	o	empresário	comercial	une	para	o	exercício	de
sua	atividade.	Na	categoria	dos	bens,	por	outro	lado,	é	classificado	como	bem	móvel.	Não	é	consumível
nem	 fungível,	malgrado	 a	 fungibilidade	 de	muitos	 elementos	 que	 o	 integram.	 Sendo	objeto	 de	 direito
constitui	propriedade	do	empresário	ou	da	sociedade,	que	é	o	seu	dono,	sujeito	de	direito.[108]
Em	suma,	o	estabelecimento	é	o	conjunto	de	bens	materiais,	imateriais	e	pessoais,	organizados
para	fins	técnicos	de	produção	em	torno	de	certo	lugar	por	uma	pessoa	física	ou	jurídica.[109]
Se	 a	 empresa	 é	 o	 conjunto	 de	 atividades	 organizadas	 pelo	 empresário,	 logicamente	 o
estabelecimento	 é	 um	 dos	 seus	 elementos.	 Exemplifica	 CHRISTOVÃO	 PIRAGIBE	 TOSTES	MALTA
que,	se	uma	organização	tem	várias	lojas,	cada	uma	delas	é	um	estabelecimento	e	o	conjunto	é	a	empresa.
[110]	 Isto	é,	 a	 empresa	é	uma	atividade	que	pode	contar	 com	a	estrutura	de	vários	estabelecimentos	em
diversos	bairros	e	cidades	ou	com	a	estrutura	de	apenas	um	estabelecimento.
Entendem	alguns	autores	que	a	importância	de	distinguir	empresa	e	estabelecimento	para	fins	de
participação	nos	 lucros	 reside	no	 fato	de	que	o	 empregado	poderá	participar	no	 lucro	da	 empresa	 em
geral	ou	poderá	ele	participar	nos	lucros	do	estabelecimento	em	que	trabalha,	conforme	fique	acertado
em	acordo.	No	primeiro	caso,	temos	a	denominada	“participação	geral”e,	no	segundo,	a	“participação
parcial”.	 Este	 assunto	 será	 efetivamente	 abordado	 quando	 tratarmos	 das	 formas	 de	 distribuição	 dos
lucros	da	empresa	aos	empregados.
Assim,	 resumindo	 tudo	que	 foi	 analisado,	 com	efeito,	 temos	que	o	 empregador	 é	 o	 sujeito	 de
direito	 (pessoa	 jurídica	 ou	 física),	 aempresa	 é	 atividade	 e	 o	 estabelecimento	 é	 o	 objeto	 de	 direito.
Quanto	à	participação	nos	lucros	e	resultados,	veremos	que	empresas	e	que	empregadores	são	atingidos
pelos	efeitos	desse	instituto	quando	examinarmos	o	lucro	e	o	resultado.
	
	
2.3	DEFINIÇÃO		DE		EMPREGADO		E		DE	
TRABALHADOR
	
	
Há	 também	 que	 se	 distinguir	 empregado	 de	 empregador	 para	 que	 melhor	 se	 compreenda	 o
instituto	trabalhista	da	participação	nos	lucros.	Como	já	vimos,	existe	imperfeições	na	definição	legal	de
empregador.	Empregador,	 na	 realidade,	 é	 a	 pessoa	 física	 ou	 jurídica,	 que	 assumindo	 os	 riscos	 da
atividade	econômica,	assalaria	e	dirige	a	prestação	pessoal	de	serviços.	Enquanto	que	empregado	 é
toda	 pessoa	 física	 que	 presta	 serviços	 de	 natureza	 não	 eventual	 a	 empregador,	 sob	 a	 dependência
deste	mediante	salário	(art.	3°,	CLT).
Para	 CHRISTOVÃO	 PIRAGIBE	 TOSTES	MALTA,	 empregado	 é	 a	 pessoa	 física	 que	 presta
pessoalmente	e	de	forma	subordinada	serviços	a	outra	pessoa,	física	ou	jurídica,	o	empregador,	não
eventualmente	e	recebendo	remuneração	ou	salário.[111]
O	 empregador	 pode	 ser	 pessoa	 física	 ou	 jurídica	 no	 exercício	 empresarial,	 enquanto	 que	 o
empregado	só	pode	ser	pessoa	física	em	decorrência	da	natureza	do	contrato	de	trabalho,	pelo	qual	se
contrata	 a	 prestação	 pessoal	 de	 serviços,	 fato	 que,	por	 si	 só,	 afasta	 a	 possibilidade	 de	 empregado
pessoa	jurídica.	Daí	se	dizer	que	uma	das	características	do	contrato	de	trabalho	é	ser	intuitu	personae
em	 relação	 ao	 empregado,	 não,	 porém,	 em	 relação	 ao	 empregador.	 Inclusive,	 não	 se	 pode,	 portanto,
substituir	os	serviços	prestados	pelo	empregado	titular	da	relação	de	trabalho	pelos	serviços	prestados
por	terceiros.	No	caso	de	o	empregador	concordar	com	esse	estado	de	coisas,	ou	seja,	concordar	com	a
suposta	substituição,	legalmente	a	conseqüência	será	o	surgimento	de	um	novo	contrato	de	trabalho	com	o
terceiro	 substituto,	 sem	qualquer	 prejuízo	da	 continuidade	do	 contrato	 com	o	 substituído,	 a	 não	 ser	 os
descontos	normais	pelos	dias	em	que	ocorreram	a	ausência	deste.
	
“CONTRATO	 DE	 TRABALHO	 -	 RELAÇÃO	 DE	 EMPREGO	 -
PESSOALIDADE	NA	PRESTAÇÃO	DE	SERVIÇOS.	 	A	prestação	de	 serviços
há	 de	 ser	 pessoal,	 vinculando	 o	 contratado	 à	 empresa	 e	 subordinando-o
juridicamente	a	esta	última.		Contrato	que	encerre	a	possibilidade	de	o	prestador
de	serviços	se	fazer	substituir	por	outrem,	estranho	ao	contratante,	não	atende	aos
requisitos	indispensáveis	ao	reconhecimento	do	vínculo	empregatício”;[112]	e
	
“RELAÇÃO	 DE	 EMPREGO	 -	 SUBSTITUIÇÃO	 -	 TEMPO	 LIMITADO	 -
PRESTAÇÃO	 PESSOAL	 -	 SALÁRIO	 -	 SERVIÇO	 NÃO	 EVENTUAL	 -
SUBORDINAÇÃO	 -	 VÍNCULO	 EMPREGATÍCIO	 -	 CARACTERIZAÇÃO.	 O
substituto,	 ainda	 que	 prestando	 trabalho	 por	 tempo	 limitado,	 é	 empregado,
caracterizando-se	 o	 vínculo	 pela	 pessoalidade	 da	 prestação,	 pelo	 salário,	 pela
não	eventualidade	e	pela	subordinação”.[113]
	
Por	 outro	 lado,	 o	 Direito	 do	 Trabalho	 protege	 somente	 os	 prestadores	 de	 trabalho	 humano
individual,	isto	é,	somente	a	pessoa	natural	pode	ser	o	destinatário	da	proteção	assegurada	pelas	normas
sociais	que	constituem	o	Direito	do	Trabalho.	Portanto,	em	hipótese	alguma,	os	serviços	prestados	por
pessoa	 jurídica	 são	 amparados	 pela	 legislação	 trabalhista,	 isto	 é,	os	 serviços	 de	 pessoa	 jurídica	 não
podem	 ser	 considerados	 como	 prestados	 por	 um	 empregado.	 Nota	 o	 jurista	 italiano	 e	 professor	 da
Accademia	 Nazionale	 dei	 Lincei	 FRANCESCO	 SANTORO	 PASSARELLI	 (Altamura,	 19.07.1902	 –
Roma,	 04.11.1995)	 que	 as	 pessoas	 jurídicas	 são	 inábeis	 para	 produzir	 um	 trabalho	 próprio	 sob
dependência	de	outra	pessoa.	Elas	são	absolutamente	privadas	da	capacidade	jurídica	de	trabalho	e,	por
isso,	não	podem	assumir	a	posição	de	devedoras	de	trabalho	subordinado.[114]
O	 empregador	 assume	 os	 riscos	 da	 atividade	 empreendida,	 enquanto	 que	 o	 empregado,	 em
circunstância	alguma,	assume	os	riscos	da	atividade	econômica	na	qual	participa	apenas	como	mero
prestador	 de	 serviços.	 Enquanto	 o	 empregador	 é	 o	 sujeito	 contratante	 e	 dirigente	 de	 uma	 relação	 de
trabalho,	 o	empregado	 é	 o	 sujeito	 contratado	 e	 subordinado	 de	 uma	 relação	 de	 trabalho,	 protegido
pelo	Direito	do	Trabalho.
Em	 face	 da	 definição	 legal	 de	 empregado	 podemos	 dizer	 que	 para	 que	 a	 prestação	 de	 um
determinado	serviço	possa	ser	considerada	prestação	de	trabalho,	 isto	é,	possa	ser	caracterizada	como
trabalho	 oriundo	 do	 estado	 de	 empregado,	 é	 necessário	 atender	 aos	 seguintes	 requisitos:	 a)	 a
pessoalidade,	 através	da	qual	a	obrigação	de	 fazer	do	empregado	não	é	 fungível,	 isto	é,	não	pode	ser
satisfeita	por	 terceiros,	mas	 tão-somente	por	quem	é	 titular	do	contrato	de	 trabalho;	b)	 a	onerosidade,
através	da	qual	a	prestação	do	empregado	contratado	não	pode	ser	gratuita,	ou	seja,	para	que	a	prestação
seja	objeto	de	 contrato	de	 trabalho	 tem	que	 ser	 remunerada;	c)	a	continuidade	 ou	não	 eventualidade,
através	 da	 qual	 a	 prestação	 de	 serviço	 do	 empregado	 não	 pode	 ter	 caráter	 eventual,	 ocasional	 ou
esporádico;	a	prestação	de	serviço	tem	que	ser	permanente	ou	por	tempo	previamente	determinado;[115]	d)
a	exclusividade	ou	 impedimento	da	pluralidade	de	empregos,	 através	 da	 qual	 o	 empregado	não	pode
prestar	serviços	a	mais	de	um	empregador,	durante	o	mesmo	espaço	de	tempo,	com	incompatibilidade	nas
prestações,	isto	é,	não	é	possível	se	considerar	empregado	uma	pessoa	que	apenas	presta,	por	exemplo,
metade,	um	terço	ou	um	décimo	da	atividade	profissional	a	um	empregador;	e	e)	a	subordinação,	que	é	a
condição	sine	qua	non	para	o	efetivo	reconhecimento	da	relação	de	emprego,	protegida	pelo	Direito	do
Trabalho,	que	 regula	apenas	a	prestação	de	 trabalho	subordinado;	a	subordinação	é	caracterizada	pelo
fato	de	o	empregador	poder	dirigir	e	controlar	o	cumprimento	da	prestação	de	serviços	do	empregado	e
penalizá-lo,	 quando	 em	 desacordo	 com	 as	 obrigações	 assumidas	 no	 contrato	 de	 trabalho	 e	 as	 normas
internas	da	organização.
	
“CONTRATO	DE	TRABALHO	-	RELAÇÃO	DE	EMPREGO	-	INEXISTÊNCIA
DE	DEPENDÊNCIA	FINANCEIRA	E	DE	SUBORDINAÇÃO.	 	Não	 há	 que	 se
falar	 em	 vínculo	 empregatício,	 quando	 inexistem	 dependência	 financeira	 e
subordinação	hierárquica”;[116]
	
“Aquele	 que,	mediante	 retribuição	pecuniária	 por	 períodos	 sucessivos,	 embora
descontínuos,	 trabalha	 na	 venda	 (ou	 revenda)	 a	 terceiros	 dos	 produtos	 de	 uma
granja,	ainda	que	de	pequeno	porte,	pertencente	a	pessoa	que	assumiu	os	riscos
da	atividade	econômica	(art.	2°,	caput,	CLT),	é	empregado	deste	para	 todos	os
efeitos	da	legislação	trabalhista”;[117]
	
“Quando	 o	 empregado	 exerce	 atividade	 indispensável	 aos	 fins	 da	 atividade
econômica	 desenvolvida	 pela	 empresa,	 mediante	 pagamento	 mensal,	 que	 não
importa	 seja	 decorrente	 de	 produção,	 com	 subordinação	 e	 cumprimento	 de
horário	 determinado,	 não	 resta	 dúvida	 tratar-se	 de	 empregado,	 nos	 termos	 da
legislação	consolidada	e	não	de	trabalhadora	autônomo”;[118]	e
	
“Não	é	empregado	aquele	que	integra	uma	equipe,	equivalente	a	uma	sociedade
de	 fato,	 que	 dirige	 e	 fiscaliza	 sua	 atividade,	 presta	 serviço	 a	 terceiro,	 sem
qualquer	traço	de	subordinação”.[119]
	
Uma	situação	não	muito	comum	e	que	tem,	às	vezes,	deixado	a	doutrina	em	dúvida	a	respeito	de
sua	qualificação	refere-se	a	pessoa	que	é	sócio	e	empregado	ao	mesmo	tempo	na	mesma	empresa	(sócio-
empregado).	 As	 sociedades,	 de	 um	 modo	 geral,	 tem	 personalidade	 própria,	 a	 não	 ser	 no	 caso	 das
sociedades	pessoais,	que	caminha	para	a	completa	extinção.	Ela	não	se	confunde	com	a	personalidade
dos	 sócios.	 	Os	 sócios,	por	 sua	vez,	 a	nosso	ver,	podem,	em	princípio,	 ser	empregados	da	 sociedade,
apesar	da	relutância	de	alguns	autores	em	aceitar	tal	fato,	entre	elesORLANDO	GOMES	DOS	SANTOS
e	ELSON	GOTTSCHALK,	ao	dizerem	que	o	empregado-sócio	seria	empregado	de	si	mesmo.[120]
CHRISTOVÃO	 PIRAGIBE	 TOSTES	MALTA,	 a	 seu	 turno,	 menciona	 que	 a	 personalidade	 da
sociedade	não	se	confunde	com	as	das	pessoas	que	a	compõem.		Assim,	nada	impede	a	coexistência	das
situações	de	sócio	e	de	empregado,	tudo	dependendo	da	natureza	da	sociedade	e	da	participação	que	nela
tem	o	sócio.	Há	casos	em	que	o	indivíduo	é	nominalmente	sócio,	mas,	realmente,	trata-se	de	empregado.
Participa	do	contrato	social,	mas	trabalha	como	os	outros	empregados,	com	direito	a	uma	retirada	mensal
equivalente	ao	salário	de	um	empregado	categorizado,	e	com	as	mesmas	obrigações.	Esta	situação	é	mais
fácil	 de	 ser	 encontrada	 nas	 sociedades	 de	 capital	 e	 indústria.	O	 sócio	 de	 indústria	 é,	 freqüentemente,
autêntico	 empregado,	 principalmente	 quando	 não	 participa	 das	 perdas.	 Portanto,	 nas	 sociedades	 de
capital	 é	 perfeitamente	 compatível	 uma	coisa	 com	a	outra,	 o	 que,	 segundo	CHRISTOVÃO	PIRAGIBE
TOSTES	MALTA,	já	não	ocorre	em	relação	às	sociedades	em	nome	coletivo,	cujos	sócios	são	solidária
e	ilimitadamente	responsáveis	pelas	dívidas	sociais.[121]
Outra	 situação	 que	 muitos	 autores	 julgam	 aparentemente	 confusa	 face	 as	 duas	 condições	 de
empregado	 e	 sócio	 se	 verifica	 nas	 empresas,	 sob	 a	 forma	 de	 sociedade	 anônima,	 nas	 quais	 os
empregados	 possuem	 ações,	 mas	 trabalham	 sujeitos	 a	 horário	 e	 fiscalização.	 Ao	 contrário,	 desses
autores,	não	vislumbramos	qualquer	propósito	de	fraudar	à	lei	ou	simulação	do	contrato	de	trabalho	em
tal	situação,	desde	que	o	empregado	não	 tenha	o	controle	da	sociedade	e	não	participe	diretamente	da
administração	da	empresa.	Isto	é,	a	nosso	ver,	nada	impede	que	o	empregado	seja	acionista	minoritário.
Ademais,	 na	 atualidade,	 com	 o	 processo	 de	 desestatização	 em	 andamento,	 o	 que	 mais	 vemos	 é	 os
governos	motivando	os	empregados	das	empresas	estatais	a	participarem	da	compra	de	lotes	oferecidos
para	a	sua	privatização.	Uma	vez	consumada	a	compra,	nada	mais	restará	além	de	um	verdadeiro	sócio-
empregado	ou	empregado	e	acionista	minoritário	ao	mesmo	tempo.
No	entanto,	quando	o	sócio-empregado	 assume	o	controle	da	 sociedade	anônima,	 a	nosso	ver,
este	deixa	de	ser	qualificado	como	empregado.	Da	mesma	forma,	enquanto	o	empregado	torna-se	apenas
um	sócio	quotista	da	sociedade	limitada,	não	participando	da	gerência	do	empreendimento,	acreditamos
ser	 aceitável	 tal	 situação	 sem	 descaracterizar	 a	 condição	 de	 empregado.	 Mas	 quando	 o	 empregado
assume	 o	 controle	 da	 sociedade	 anônima	 ou	 participa	 da	 gerência	 da	 sociedade	 por	 quotas	 de
responsabilidade	 limitada	 desaparece	 inapelavelmente	 a	 condição	 de	 empregado	 e	 configura-se	 a
simulação	do	contrato	de	trabalho	ou	fraude	à	lei.
	
“Empregado	 que	 assume	 comprovadamente	 a	 sociedade	 de	 fato	 com	 seu	 ex-
empregador	a	tal	ponto,	que	logo	depois	o	exclui,	ficando	sozinho	no	comando	do
empreendimento	não	é	mais	empregado”;[122]	e
	
“RELAÇÃO	 DE	 EMPREGO	 -	 VÍNCULO	 EMPREGATÍCIO	 -	 PEQUENO
COTISTA	 -	 DIRETOR	 -	 VENDA	 DAS	 COTAS	 -	 MANDATO	 PRÉVIO	 -
EMPREGADO	 -	 PROVA	 -	 QUALIDADE	 DEMONSTRADA.	 Empregado,
pequeno	 cotista	 da	 empresa,	 assumindo	 o	 cargo	 de	 diretor,	 não	 teve
descaracterizada	 sua	 condição,	 porque	 houve	 exigência	 prévia,	 pelos	 demais
sócios,	 de	 procuração	 para	 venda	 das	 cotas	 que	 possuía.	 Matéria	 fática
comprovando	que	jamais	deixou	de	ser	empregado.	Revista	desprovida”.[123]
	
De	 tudo	 que	 já	 vimos	 podemos	 dizer	 que	 qualquer	 um	 pode	 ser	 empregado,	 desde	 que
preenchidos	os	 requisitos	necessários	à	configuração	da	 relação	de	emprego.	No	entanto,	de	ante	mão
alertamos	para	o	fato	de	que	o	trabalhador	autônomo	não	é	empregado,	uma	vez	que	não	está	sujeito	a
contrato	 de	 trabalho.	 Da	 mesma	 forma,	 também	 não	 são	 empregados	 o	 trabalhador	 eventual,	 o
trabalhado	 avulso	 (que	 presta	 serviço	 a	 inúmeras	 empresas,	 agrupado	 em	 entidade	 de	 classe,	 por
intermédio	desta	e	sem	vínculo	empregatício,	bem	como	tem	direitos	regulados	em	legislação	especial),
o	 funcionário	 público	 estatutário,	 o	 diretor	 de	 sociedade	 anônima	 e	 o	 empregado	 brasileiro	 em
embaixada	estrangeira.
	
“Engenheiro	 que	 trabalha	 para	 a	 Petrobrás	 em	 regime	 de	 trabalho	 por	 ela
determinado	 e	 presta	 serviços	 a	 terceiro,	 como	 autônomo,	 firmando	 recibos
próprios	 de	 quem	 se	 acha	 habilitado	 para	 tanto,	 é	 evidente	 que	 não	 pode	 ser
havido	 como	 empregado	 daqueles	 aos	 quais	 presta	 serviços,	 ainda	 que
constantes.	O	 paternalismo	 do	Direito	 do	 Trabalho	 deve	 ser	 levado	 na	 devida
conta”;[124]
	
“Vendedora	 que	 compra	 os	 produtos,	 suportando	 prejuízos	 decorrentes	 do	 não
pagamento,	 ou	 recusa	 das	 mercadorias	 pelos	 clientes,	 exerce	 atividade
autônoma,	não	sendo	considerada	empregada”;[125]
	
“A	 pessoa	 que	 presta	 serviço	 à	 empresa	 reclamada,	 através	 de	 representação
tipicamente	 comercial	 e,	 como	 tal,	 transmite	 ao	 representado	 o	 resultado	 das
tarefas	 de	 que	 fora	 incumbido,	 inclusive	 executando	 negócios	 de	 natureza
mercantil,	não	reúne	os	requisitos	configuradores	da	relação	empregatícia.	Trata-
se,	na	realidade,	de	trabalhador	autônomo,	detentor	de	representação	comercial.
Recurso	improvido”;[126]
	
“O	transportador	de	leite	que	trabalha	em	veículo	próprio,	cuja	manutenção	é	de
sua	responsabilidade,	podendo	ser	substituído	por	terceiro,	na	execução	de	seus
serviços,	não	é	empregado	e	sim,	trabalhador	autônomo”;[127]
	
“Aquela	 que	 exerce	 a	 profissão	 de	 lavadeira,	 para	 diversas	 pessoas,	 estando
inscrita	 na	 Previdência	 Social	 como	 autônoma,	 não	 tem	 direito	 a	 Carteira	 de
Trabalho	anotada	como	doméstica.	Recurso	ordinário	conhecido	e	provido,	para
julgar-se	improcedente	a	reclamação”;[128]
	
“Corretor	 de	 imóveis	 que	 administra	 o	 trabalho	 de	 outros	 corretores,
promovendo	reuniões,	dando-lhes	instruções	e	tomando	contas,	não	é	autônomo,
mas	empregado”;[129]
	
“CONTRATO	 DE	 TRABALHO	 -	 RELAÇÃO	 DE	 EMPREGO	 -	 VENDEDOR
AUTÔNOMO	 -	 NÃO	 CONFIGURAÇÃO.	 Se	 a	 prova	 demonstra	 que	 os
reclamantes,	 no	 período	 anterior	 ao	 registro	 e	 diferentemente	 da	 situação
posterior,	 não	 eram	 obrigados	 a	 relatórios,	 não	 recebiam	 ajuda	 de	 custo	 e
sujeitos	estavam	apenas	a	 itinerários	e	prestação	de	contas,	configurada	ficou	a
condição	 de	 vendedor	 autônomo,	 o	 que,	 conseqüentemente,	 descaracteriza	 a
relação	 de	 emprego.	O	 simples	 cumprimento	 de	 diretivas	 do	 representado	 não
induz	 subordinação	 já	 que	 orientações	 são	 inerentes	 a	 todo	 contrato	 de
representação”;[130]
	
“É	 empregado	 e	 não	 trabalhador	 eventual	 quem	 emprega	 suas	 atividades	 em
serviço	essencial	da	empresa”;[131]
	
“RELAÇÃO	 DE	 EMPREGO	 -	 EXTRAS	 -	 TRABALHO	 EVENTUAL	 -	 NÃO
CONFIGURAÇÃO.	 Trabalho	 eventual	 prestado	 por	 figurante	 para	 participar
como	complementação	de	certas	cenas	de	um	filme	não	pode	configurar	relação
de	emprego”;[132]
	
“Inexiste	vínculo	 empregatício	 entre	os	 trabalhadores	avulsos	 e	 os	 armadores,
pois	 seus	 serviços	 a	 estes	 não	 tem	 continuidade,	 eis	 que	 duram,	 somente,
enquanto	seus	navios	estão	atracados	no	porto,	carregando	ou	descarregando”;[133]
	
“Em	se	tratando	de	trabalhadores	portuários,	a	relação	de	trabalho	é	regida	por
lei	 especial,	 não	 tendo	 aplicabilidade	 à	 espécie	 o	 art.	 468,	 da	 CLT,	 sob
invocação	 de	 alteração	 das	 condições	 de	 trabalho,	 por	 aplicar-se	 referido
dispositivo	 aos	 contratos	 individuais	 de	 trabalho	 onde	 haja	 vínculo
empregatício”;[134]	e
	
“A	aferição	da	natureza	eventual	dos	serviços	prestados	há	de	ser	feita	tendo	em
vista	os	fins	normais	da	empresa	(Délio	Maranhão).	O	plantonista,	que	trabalha
na	 venda	 de	 imóveis	 não	 pode	 ser	 validamenterotulado	 de	 eventual	 ou	 de
autônomo,	 pois	 presta	 serviços	 que	 decorrem	 precipuamente	 da	 existência	 da
empresa	vendedora	de	imóveis.	Inteligência	e	aplicação	do	art.	3°	da	CLT”.[135]
	
Outra	 questão	 que	 merece	 ser	 objeto	 de	 nossa	 investigação	 refere-se	 a	 distinção	 entre
trabalhador	e	empregado.	Trabalhador	é	a	mesma	coisa	que	empregado	ou	são	 termos	utilizados	para
designar	sujeitos	circunscritos	a	situações	diferentes?
Trabalhador,	 em	sentido	amplíssimo,	é	aquele	que	 trabalha,	que	exerce	uma	atividade	humana
qualquer,	profissional	ou	não,	remunerada	ou	não,	por	conta	própria	ou	não.	Nesse	sentido,	trabalhador
pode	significar	desde	o	indivíduo	que	esforça-se	para	fazer	ou	alcançar	alguma	coisa	até	o	empregado,	o
operário	 etc.	Como	podemos	observar,	 o	 empregado	nada	mais	 é	 do	que	uma	das	 espécies	 do	gênero
“trabalhador”.	 A	 distinção	 entre	 a	 espécie	 “empregado”	 e	 as	 demais	 espécies	 de	 trabalhador	 reside,
como	 vimos,	 exatamente	 no	 fato	 de	 que	 o	 empregado	 caracteriza-se	 pelo	 trabalho	 não	 eventual,
subordinado	e	remunerado.	Portanto,	são	esses	três	elementos,	que	combinados,	fixam	a	diferença	entre
as	muitas	espécies	de	trabalhador.	Quando	o	trabalho	não	é	remunerado,	o	indivíduo	que	o	executa	não
deixa	de	ser	trabalhador,	porém	jamais	será	empregado.	Quando	o	trabalho	é	remunerado,	subordinado	e
eventual,	estamos	diante	do	trabalhador	avulso	ou	do	trabalhador	eventual,	mas	nunca	de	um	empregado.
Quando	 o	 trabalho	 é	 remunerado,	 eventual	 ou	 não	 eventual	 e	 não	 subordinado,	 estamos	 diante	 de	 um
trabalhador	autônomo,	porém	não	diante	de	um	empregado.
Assim,	para	 efeito	 de	 participação	 nos	 lucros	 da	 empresa	 apenas	 o	 trabalhador	 empregado
fará	jus	a	tal	direito	estabelecido	na	Constituição.	Ademais,	como	bem	observa	FUGIMI	YAMASHITA,
quanto	à	participação	nos	lucros	da	empresa,	existem	dois	polos:	de	um	lado,	a	empresa,	e,	do	outro,	o
empregado.	Portanto,	se	o	outro	polo	é	“empresa”,	não	teria	sentido	falar-se	em	trabalhador	no	sentido
genérico,	 sem	 vínculo	 de	 emprego,	 visto	 que	 o	 objetivo	 da	 lei	 é	 integrar	 o	 empregado	 na	 empresa	 e
incentivar	a	produtividade,	dando-lhe,	em	contrapartida,	participação	nos	lucros	ou	resultados.[136]
CAPÍTULO	3	–	OS	LUCROS	E	OS
RESULTADOS	DA	EMPRESA
	
	
3.1	DEFINIÇÃO		E		NATUREZA		JURÍDICA		DO		LUCRO
	
	
O	Lucro,	na	linguagem	popular,	é,	simplesmente,	um	ganho,	uma	vantagem	ou	um	benefício	que	se
obtém	de	alguma	coisa	ou	com	uma	atividade	qualquer,	ou	seja,	como	diz	IÊDO	BATISTA	NEVES,	é	o
ganho	 resultante	 de	 toda	 a	 atividade	 especulativa[137]ou,	 ainda,	 o	 proveito	 econômico	 auferido	 em
virtude	de	uma	operação	especulativa.[138]	Porém,	para	a	Economia	Política,	lucro	é	o	benefício	 livre
de	 despesas	 que	 se	 obtém	 na	 exploração	 de	 uma	 atividade	 econômica[139]ou	 o	 fruto	 apreciável	 do
trabalho	 economicamente	 organizado.	 	 Diz-se,	 também,	 que	 lucro	 é	 o	 crédito	 verificado	 numa
operação	 mercantil	 isolada,	 ou	 num	 total	 de	 operações,	 dentro	 de	 certo	 exercício	 financeiro,	 por
ocasião	do	balanço	geral.[140]	No	entanto,	nem	sempre	lucro	foi	assim	considerado.
A	própria	Economia	Política	nos	noticia	que,	na	economia	primitiva,	ou	seja,	na	fase	rudimentar
da	produção,	o	lucro	era	a	relação	entre	o	custo	da	produção	e	a	utilidade	do	bem	produzido.	Toma-se,
no	caso,	o	exemplo	do	homem	que	derruba	uma	árvore	e	constrói	uma	canoa	com	a	madeira	obtida,	para
transportar	mercadorias	através	de	vias	aquáticas.	Existe	o	lucro	apenas	quando	a	utilidade	da	causa	for
maior	que	os	esforços	aplicados	pelo	homem	na	sua	construção.[141]
Na	fase	monetária	da	economia	(economia	monetária),	 sob	a	 influência	da	compra-e-venda,	o
lucro	continua	sendo	uma	relação,	porém	levando-se	em	conta	novos	aspectos.	Há	lucro	sempre	que	se
obtém	na	venda	valores	maiores	que	o	preço	de	custo	da	produção.	O	lucro,	portanto,	é	a	parte	da	venda
que	ultrapassa	o	preço	de	custo.	No	entanto,	 partindo-se	do	valor	 final	 do	produto,	 o	 lucro	 pode	 ser
também	considerado	 como	um	dos	 elementos	do	 custo	de	produção,	 ou	 seja,	 além	da	mão-de-obra	ou
salários	e	outros,	o	lucro	é	um	dos	elementos	que	determinam	o	custo	da	produção.
Há	 de	 se	 ressaltar	 que	 os	 economistas	 sempre	 trataram	 de	 conceituar	 “lucro”	 sob	 os	 mais
variados	aspectos,	defendendo	ou	combatendo	a	legitimidade	de	sua	persecução	quando	para	benefício
do	 dono	 do	 capital.	 Entre	 eles,	 citamos	 o	 filósofo	 e	 economista	 britânico	 JOHN	 STUART	 MILL
(Londres,	20.05.1806	-	Avinhão,	08.05.1873)	que	menciona	ser	o	capital	o	resultado	da	abstenção	de
pessoas	(capitalistas),	cujo	valor	deve	ser	suficiente	para	adiantar	a	remuneração	de	toda	mão-de-obra
requerida	 e	 a	 remuneração	 das	 diversas	 categorias	 de	 trabalhadores	 necessárias	 ao	 empreendimento,
além	 da	 aquisição	 de	 ferramentas,	 matérias-primas,	 construções	 etc.	 O	 retorno	 da	 abstenção	 do
capitalista	 é	o	 lucro.	E	o	 lucro	 não	 é	 exclusivamente	 o	 que	 sobra	 ao	 capitalista	 depois	 de	 lhe	 serem
compensados	 os	 gastos	 que	 teve,	 senão	 que	 constitui,	 na	 maioria	 dos	 casos,	 uma	 parte	 não	 pouco
importante	do	próprio	gasto.	JOHN	STUART	MILL	ilustra	suas	argumentações	dizendo	que	o	fiandeiro
de	linho,	cujas	despesas	consistem	em	parte	na	compra	do	linho	e	das	máquinas,	teve,	por	exemplo,	que
pagar,	no	preço	do	linho	e	das	máquinas,	não	somente	os	salários	da	mão-de-obra	que	cultivou	o	linho	e
fez	as	máquinas,	mas	também	os	lucros	do	cultivador,	do	preparador,	do	mineiro,	do	fundidor	de	ferro	e
do	 fabricante	 de	máquinas.	 Por	 sua	 vez,	 todos	 esses	 lucros,	 juntamente	 com	 os	 do	 próprio	 fiandeiro,
foram	adiantados	pelo	tecelão,	no	preço	do	material	que	processa,	o	fio	de	linho,	e	juntamente	com	isso
também	os	lucros	de	uma	nova	série	de	fabricantes	de	máquinas,	e	dos	mineiros	e	operários	metalúrgicos
que	lhes	forneceram	sua	matéria-prima	metálica.	Todos	esses	adiantamentos	constituem	parte	do	custo	de
produção	do	 tecido	de	 linho.	Por	 isso,	diz	 JOHN	STUART	MILL,	os	 lucros,	 tanto	quanto	os	 salários,
fazem	parte	do	custo	de	produção	que	determina	o	valor	do	produto.[142]
Sobre	 as	 afirmações	 de	 JOHN	 STUART	 MILL,	 devemos	 chamar	 a	 atenção	 para	 o	 real
significado	deste	processo,	uma	vez	que,	encarado	sob	o	ângulo	da	sociedade	global,	o	lucro	é	um	dos
mais	 importantes	 fatores	 responsáveis	 pela	 repartição	 da	 renda.	O	 valor	 gerado	 pela	 produção	 social
divide-se	entre	as	classes	de	acordo	com	a	forma	na	qual	participam	desse	processo.	Os	trabalhadores
participam	da	 renda	 recebendo	 salários;	 aos	 donos	 dos	 recursos	 naturais	 ou	 imóveis	 cabe	 a	 renda	 da
terra	ou	os	aluguéis;	os	proprietários	do	capital	financeiro	recebem	juros;	e	os	proprietários	do	capital
produtivo	(isto	é,	das	empresas),	os	lucros.[143]	Assim,	sob	este	ponto	de	vista,	a	empresa	é	o	sustentáculo
não	apenas	do	proprietário	do	capital	produtivo,	mas	de	uma	gama	de	indivíduos	envolvidos	direta	ou
indiretamente	 com	 o	 empreendimento.	 Daí	 o	 interesse	 social	 que	 pesa	 sobre	 o	 funcionamento	 e
desenvolvimento	da	empresa.	Com	a	fase	monetária	da	economia,	os	valores	de	uso	e	o	lucro	de	qualquer
transação	simples,	portanto,	não	podem	ser	considerados	apenas	como	o	fim	real	do	capitalista.
Ressalta	 o	 filósofo,	 economista,	 sociólogo,	 jornalista	 e	 revolucionário	 socialista	 KARL
HEINRICH	 MARX	 (Tréveris,	 05.05.1818	 -	 Londres,	 14.03.1883)	 que	 o	 incessante	 e	 interminável
processo	 de	 obter	 lucro	 é	 o	 seu	 objetivo.[144]	 Assim,	 pois,	 a	 aquisição	 de	 lucro	 como	 incentivo	 da
produção	é	motivada	por	uma	característica	inata	da	natureza	humana:	o	chamado	“desejo	de	lucro”.
[145]	Todavia,	muitos	autores,	entre	eles	RUBENS	REQUIÃO,	assinalam	que	Karl	Heinrich	Marx	e	outros
confundem	fim	com	objetivo.	Para	RUBENS	REQUIÃO	o	fim	da	sociedade	comercial	é	a	obtenção	do
lucro.Como	se	vê,	é	comum	a	confusão	entre	 fim	social	e	objetivo	social,	porém,	segundo	ele,	não	há
razão	 para	 tanto.	O	 objetivo	 social,	 definido	 de	 forma	 precisa	 e	 completa	 no	 estatuto	 ou	 no	 contrato
social,	indica	a	espécie	de	atividade	produtiva	da	sociedade,	ao	passo	que	o	fim	social	é	justamente	a
persecução	de	 lucro.	 Daí	 RUBENS	REQUIÃO	 conceituar	 lucro	 como	 o	 sobrevalor	 que	 a	 sociedade
pode	produzir,	como	resultado	da	aplicação	do	capital	e	outros	recursos	na	atividade	produtiva.[146]
É	 importante	esclarecer	 também	que,	até	o	 século	passado,	não	havia	qualquer	diferença	entre
juro	e	lucro,	formas	de	ganho	relativas,	respectivamente,	ao	capital	e	à	atividade	empresarial.		Somente	a
partir	 de	 então	 é	 que	 a	 ideia	 de	 lucro	 passou	 a	 estar	 ligada	 à	 diferença	 positiva	 de	 valor	medido	 em
moeda,	 na	 compra	 e	 venda	 de	 bens	 ou	 serviços.	 Modernamente,	 pois,	 como	 escreve	 ANA	 MARIA
FERRAZ	 AUGUSTO,	 resultou	 o	 reconhecimento	 de	 que	 a	 distribuição	 da	 riqueza	 opera-se	 por
instrumento	diferentes	para	cada	um	dos	fatores	de	produção	ou	prestação	de	serviços.[147]	Daí	todos	os
elementos	empregados	na	produção	auferirem	indubitavelmente	compensações.	De	forma	que	o	salário	é
obtido	através	do	trabalho;	da	aplicação	do	capital	se	obtém	o	juro	e	a	renda;	e	o	 lucro	é	conseguido
através	da	atividade	ou	organização	empresarial.	O	 juro,	portanto,	não	é	 lucro,	ele	é,	nada	mais	nada
menos,	que	o	preço	da	locação	do	dinheiro	ou	a	remuneração	fixa	concedida	ao	capital.	Também	não
se	pode	confundir	lucro	com	renda.	A	renda	é	gênero	e	lucro	uma	das	espécies	de	renda.	A	renda,	em
sentido	geral,	é	o	produto	periódico	de	propriedades	urbanas	ou	rurais	dadas	de	aluguel;	de	exploração
comercial	 ou	 industrial;	 da	 aplicação	 de	 capitais	 em	 títulos	 ou	 empréstimos;	 de	 salários,	 subsídios,
emolumentos,	gratificações,	pensões	e	remuneração	de	serviços	sob	qualquer	título.	Enquanto,	sob	esse
prisma,	podemos	dizer	que	lucro	seja	a	renda	gerada	pela	atividade	empresarial,	quer	comercial	quer
industrial.	 Todavia,	 no	 campo	 econômico	 dá-se	 geralmente	 à	 renda,	 sentido	 mais	 restrito,	 ligado	 à
propriedade	 do	 solo.	 Tanto	 é	 que	 o	 economista	 e	 político	 britânico	 DAVID	 RICARDO	 (Londres,
18.04.1772	-	Gatcombe	Park,	11.09.1823)	define	renda	como	“a	porção	do	produto	da	terra	que	se	paga
ao	seu	proprietário	pelo	uso	e	exploração	das	faculdades	produtoras,	originárias	e	perpétuas	do	solo”.
Inclusive,	na	ocasião,	reclamava	ele	que	a	renda	era	confundida	freqüentemente,	com	juros	e	com	o	lucro
do	capital,	e,	na	 linguagem	popular,	o	 termo	era	aplicado	ao	que	quer	que	seja	que	o	agricultor	pague
anualmente	ao	dono	da	terra	em	que	trabalha.[148]	De	qualquer	forma,	considerando	a	definição	econômica
de	 renda,	 conclui-se	 que	 o	 lucro	 não	 pode,	 sob	 esse	 ponto	 de	 vista,	 ser	 considerado	 uma	 de	 suas
espécies.
Assim,	na	organização	atual	da	vida	econômica,	a	compra	e	venda	das	utilidades	é	realizada	em
primeira	mão	 pelas	 empresas	 comerciais	 e	 industriais.	 O	 empresário	 ou	 dono	 da	 empresa	 fabrica	 ou
compra	 as	 mercadorias	 para	 revender,	 calculando	 um	 excedente	 sobre	 o	 preço	 de	 custo.	 	 A	 este
excedente	se	dá	o	nome	de	 lucro.	Consequentemente,	 como	menciona	LUIZ	SOUZA	GOMES,	uma	vez
verificado	o	lucro	num	dado	período	de	negócios,	vem	ele	aumentar,	pelo	menos	teoricamente,	o	capital
da	empresa.	Diz-se	“teoricamente”,	porque	nem	sempre	o	lucro	é	incorporado	ao	capital	da	empresa,	de
maneira	a	tornar	visível	na	contabilidade	o	acréscimo	feito.	Muitas	vezes	o	lucro	incorpora-se	aos	bens
particulares	 do	 proprietário	 ou	 capitalista,	 em	 forma	 de	 dinheiro,	 bens	 imóveis	 ou	 mobiliários.[149]
Todavia,	quando	o	 lucro	 é	 incorporado	diretamente	 à	 empresa,	 permite	 a	 esta	 abranger	maior	 raio	 de
ação,	aumentar	e	melhorar	a	produção.
Podemos	 dizer	 ainda	 que	 lucro	 é	 o	 resultado	 econômico	 das	 operações	 de	 uma	 empresa
capitalista.	Em	geral,	ele	constitui	a	diferença	entre	a	receita	e	a	despesa	da	firma	em	certo	período:	um
ano,	um	semestre	etc.[150]	Há	de	se	ressaltar	que,	como	se	vê,	o	lucro	está	ligado	irremediavelmente	ao
conceito	de	empresa	e	empresa	ao	conceito	de	lucro.
Para	ANA	MARIA	FERRAZ	AUGUSTO,	lucro	é,	sinteticamente,	a	remuneração	do	empresário
pelos	 resultados	 positivos	 de	 sua	 atividade	 econômica.	 O	 lucro,	 segundo	 ainda	 ela,	 corresponde	 à
diferença	entre	o	montante	das	despesas	de	produção	e	a	 receita	obtida	pela	empresa	com	a	venda	do
produto	no	mercado	ou	a	prestação	de	serviço.	É,	pois,	a	diferença	entre	o	preço	de	venda	e	o	custo	de
produção	ou	operacional.[151]
Na	verdade,	 existem	muitas	 teorias	 econômicas	 do	 fato	 econômico	 “lucro”.	A	 tal	 ponto	 que	 o
economista	 e	 político	 francês	 RAYMOND	 BARRE	 (Saint-Denis,	 12.04.1924,	 -	 Paris,	 25.08.2007)
chegou	a	agrupar	 tais	 teorias	econômicas	sobre	os	 lucros	em	duas	grandes	categorias.	Segundo	ele,	na
primeira	 categoria,	 encontram-se	 reunidas	 várias	 teorias	 sob	 a	 denominação	 geral	 de	 “teorias
subjetivas”,	que	consideram	os	aspectos	relacionados	com	a	pessoa	do	empresário.	Entre	elas,	podemos
citar	 a	 	 “teoria	 do	 salário	 da	 fadiga	 do	 empresário”,	 a	 “teoria	 da	 remuneração	 das	 aptidões	 do
empresário”,	a	“teoria	da	recompensa	pela	inovação	do	empresário”	(execução	de	combinações	novas)	e
a	“teoria	da	recompensa	pelos	riscos”.	Na	segunda	categoria,	encontram-se	reunidas	várias	teorias	sob	a
denominação	 geral	 de	 “teorias	 objetivas”,	 nas	 quais	 o	 lucro	 é	 explicado	 a	 partir	 da	 consideração	 de
“fatores	institucionais”	(“teoria	da	exploração”),	“fatores	estruturais”	(“teoria	das	formas	do	mercado”)
e	“fatores	conjunturais”	(“teoria	dos	excessos”).[152]
Como	é	sabido,	o	lucro	é	o	melhor	mecanismo	para	a	efetiva	concentração	de	riqueza.	Por	isso
mesmo,	 não	 raras	 vezes,	 é	 objeto	 de	 acentuadas	 considerações	 filosóficas,	 que	 procuram	 dar	 um
significado	 à	 atividade	 empresarial	 mais	 subordinado	 ao	 bem	 comum	 e	 a	 justiça	 social	 que	 aos
interesses	diretos	dos	empresários	e	objetivam	a	atenuação	da	concentração	da	riqueza	em	favor	da
indigência,	 até	 agora	 sempre	 multiplicada.	 A	 encíclica	 Rerum	 novarum,	 de	 15.05.1891,	 do	 PAPA
LEÃO	XIII,	por	exemplo,	ao	definir	a	posição	da	Igreja	Católica	frente	as	relações	entre	empregados	e
empregadores,		conclamou	à	união	das	classes	e	fixou	o	início	de	uma	nova	era	na	qual	a	distribuição	da
riqueza	 deve	 inspirar-se	 na	 interdependência	 do	 capital	 e	 do	 trabalho.[153]	 	 Adotando	 os	 mesmo
princípios,	a	encíclica	Quadragesimo	anno,	do	PAPA	PIO	XI,	por	sua	vez,	reconheceu	que	“é	necessário
que	as	riquezas,	em	contínuo	incremento	com	o	progresso	da	economia	social,	sejam	repartidas	pelos
indivíduos	ou	pelas	classes	particulares	de	tal	maneira	que	se	salve	sempre	a	utilidade	comum,	de	que
falava	LEÃO	XIII,	ou,	por	outras	palavras,	que	em	nada	se	prejudique	o	bem	geral	de	toda	a	sociedade.
Esta	lei	de	justiça	social	proíbe	que	uma	classe	seja	pela	outra	excluída	da	participação	dos	lucros”.
[154]
Dito	 isto,	 devemos	 ainda	 lembrar	 que	 as	 situações	 de	 equilíbrio	 na	 economia	 não	 permitem
flutuações	de	grande	amplitude	nos	lucros.	Esclarece	LUIZ	SOUZA	GOMES	que	é	mesmo	compreensível
que,	 se	o	perfeito	 equilíbrio	das	 forças	 econômicas	 se	verificasse,	desapareceria	o	 lucro.	Nas	 épocas
anormais,	 ao	 contrário,	 o	 lucro	 sofre	 alterações	 profundas;	 ou	 se	 apresenta	 negativo,	 levando	 à	 ruína
inúmeras	empresas,	ou	se	eleva	vertiginosamente,	dando	a	impressão	de	prosperidade	geral	muitas	vezes
ilusória.	Segundo	ele,	o	lucro,	como	o	salário	e	o	juro,	sofre	a	influência	numa	Economia	livre,	da	lei	da
oferta	e	da	procura.	As	empresas	que	dão	grandes	lucros	encontram	logo	imitadores	dos	seus	artigos,	que
desejam	 participar	 dos	 benefícios	 que	 o	 gênero	 de	 negócio	 proporciona.	 Aparecem,pois,	 os
concorrentes,	os	preços	caem	e	os	lucros	começam	a	diminuir.[155]
Apenas	 à	 título	 de	 curiosidade,	 lembramos	 ainda	que	os	 socialistas	 não	 admitem	o	 lucro,	 que
atribuem	a	uma	vergonhosa	exploração	do	operário	pelo	capitalista.	KARL	HEINRICH	MARX	criou	a
teoria	da	mais-valia,	pela	qual	quis	provar	que	o	 lucro	pertence	ao	operário,	 tendo	sido	 ilicitamente
apropriado	 pelo	 capitalista	 em	 seu	 benefício.	Menciona	 ele	 que	 o	 capitalista	 entra	 no	mercado	 com
dinheiro	e	compra	maquinaria,	material	e	força	de	trabalho.		Combina-os	num	processo	de	produção	que
resulta	 em	 certa	 massa	 de	 mercadorias	 que	 são	 novamente	 lançadas	 no	 mercado.	 KARL	 HEINRICH
MARX	supõe	que	o	capitalista	faz	suas	aquisições	pelos	valores	de	equilíbrio	e	realiza	suas	vendas	pelo
valor	de	equilíbrio	do	produto	que	vende.		E	não	obstante,	no	final	das	contas,	tem	mais	dinheiro	do	que
no	início.	Em	algum	ponto	do	processo,	maior	valor	(ou	mais-valia)	se	criou.[156]
Esclarece	 PAUL	 MARLOR	 SWEEZY	 que	 a	 mais-valia,	 evidentemente,	 não	 pode	 nascer	 do
simples	processo	de	 circulação	de	mercadorias.	Se	 todos	 tentassem	colher	 lucro	 aumentando	o	preço,
digamos	em	10%,	o	que	ganhassem	como	vendedores	perderiam	como	compradores,	e	o	único	resultado
seriam	preços	mais	altos	generalizadamente,	sem	que	ninguém	se	beneficiasse	com	isso.	Parece	também
evidente	que	o	material	que	participa	do	processo	produtivo	não	pode	ser	a	fonte	da	mais-valia.	O	valor
que	o	material	tem	no	início	do	processo	se	transfere	para	o	produto	na	conclusão,	mas	não	há	razão	para
supor	 que	 o	material	 possua	 o	 poder	 oculto	 de	 aumentar	 seu	 próprio	 valor.	O	mesmo	ocorre,	 embora
talvez	menos	 evidentemente,	 com	 os	 edifícios	 e	máquinas	 utilizados	 no	 processo	 de	 produção.	O	 que
diferencia	 edifícios	 e	máquinas	 do	material	 é	 o	 fato	 de	 que	 os	 primeiros	 transferem	 seu	 valor	 para	 o
produto	final	mais	lentamente,	ou	seja,	numa	sucessão	de	períodos	de	produção,	ao	invés	de	todo	o	seu
valor,	imediatamente,	como	no	caso	do	material.	É	sem	dúvida	certo	que	o	material	e	as	máquinas	podem
ser	considerados	fisicamente	produtivos	no	sentido	de	que	o	trabalho,	operando	com	eles,	pode	produzir
um	resultado	maior	do	que	produziria	sem	eles,	mas	a	produtividade	física	nesse	sentido	não	deve,	em
nenhuma	circunstância,	ser	confundida	com	a	produtividade	do	valor.	Do	ponto	de	vista	do	valor,	não	há
razão	para	supor	que	o	material	ou	as	máquinas	possam	transferir	finalmente	para	a	mercadoria	mais	do
que	aquilo	que	encerram.	Assim,	resta	apenas	uma	possibilidade,	isto	é,	que	a	força	do	trabalho	seja	a
fonte	da	mais-valia.[157]
O	 capitalista	 compra	 a	 força	 de	 trabalho	 pelo	 seu	 valor,	 ou	 seja,	 paga	 ao	 trabalhador	 como
salário	uma	soma	correspondente	ao	valor	dos	seus	meios	de	subsistência.	Suponhamos	que	esse	valor
seja	o	produto	de	seis	horas	de	trabalho.	Isso	significa	que	depois	de	seis	horas	de	produção,	o	operário
acrescentou	ao	valor	do	material	e	maquinaria	consumidos	(valor	este	que	aparece	no	produto)	um	valor
adicional	suficiente	para	cobrir	seus	meios	de	subsistência.	Se	o	processo	se	interrompesse	nesse	ponto,
o	 capitalista	 só	 poderia	 vender	 o	 produto	 pela	 soma	 capaz	 de	 reembolsá-lo	 das	 despesas.	 Mas	 o
trabalhador	vendeu-se	ao	capitalista	por	um	dia,	e	não	há	nada	na	natureza	das	coisas	que	determine	seja
o	dia	de	trabalho	limitado	a	seis	horas.	Suponhamos	que	seja	de	doze	horas.	Então,	nas	últimas	seis	horas
o	trabalhador	continua	a	acrescentar	valor,	mas	já	será	então	um	valor	excedente	e	superior	ao	necessário
para	cobrir	seus	meios	de	subsistência;	é,	em	suma,	a	mais-valia	que	o	capitalista	pode	embolsar.[158]
Acrescenta	PAUL	MARLOR	SWEEZY	que	a	lógica	desse	raciocínio	pode	ser	expressa	de	uma
maneira	 simples.	Num	 dia	 de	 trabalho	o	 operário	 produz	mais	 do	 que	 o	 necessário	 para	 um	 dia	 de
subsistência.	 	 Conseqüentemente,	 a	 jornada	 de	 trabalho	 pode	 ser	 dividida	 em	 duas	 partes,	 trabalho
necessário	 e	 trabalho	 excedente.	 Nas	 condições	 da	 produção	 capitalista,	 o	 produto	 do	 trabalho
necessário	retorna	ao	trabalhador	na	forma	de	salários,	ao	passo	que	o	produto	do	trabalho	excedente
fica	em	poder	do	capitalista,	na	forma	de	mais-valia.	O	trabalho	necessário	e	o	trabalho	excedente	como
tais	são	fenômenos	presentes	em	todas	as	sociedades	onde	a	produtividade	do	trabalho	humano	se	elevou
acima	de	certo	mínimo	muito	baixo,	ou	seja,	em	todas	as	sociedades,	com	exceção	das	mais	primitivas.
Além	disso,	em	muitas	sociedades	não-capitalistas	(por	exemplo,	na	escravista	e	feudalista)	o	produto	do
trabalho	 excedente	 fica	 em	poder	 de	 uma	 classe	 especial	 que,	 de	 uma	 forma	ou	 de	 outra,	mantém	 seu
controle	 sobre	 os	 meios	 de	 produção.	 O	 que	 é	 específico	 ao	 capitalismo	 é,	 portanto,	 não	 o	 fato	 da
exploração	de	uma	parte	da	população	pela	outra,	mas	a	forma	que	essa	exploração	assume,	ou	seja,	a
produção	da	mais-valia.[159]
Por	essa	análise,	PAUL	MARLOR	SWEEZY	conclui	que	torna-se	claro	que	o	valor	de	qualquer
mercadoria	produzida	em	condições	capitalistas	pode	ser	decomposto	em	três	partes	constituintes.[160]	A
primeira,	 que	 representa	 apenas	o	valor	do	material	 e	maquinaria	usados,	 sendo	denominada,	 segundo
KARL	HEINRICH	MARX,	 “capital	 constante”,	 porque	 não	 sofre,	 no	 processo	 de	 produção,	 qualquer
alteração	quantitativa	de	valor.	A	segunda	parte,	que	substitui	o	valor	da	força	de	trabalho,	sofre	de	certa
forma	uma	alteração	no	valor	pelo	fato	de	que	tanto	reproduz	o	equivalente	de	seu	próprio	valor	como
também	produz	excesso,	uma	mais-valia,	 que	pode	variar,	 pode	 ser	mais	 ou	menos	de	 acordo	 com	as
circunstâncias.	Essa	segunda	parte	é	denominada	“capital	variável”.	E	a	terceira	parte	é	a	mais-valia	em
si.[161]
Essa	teoria,	como	outras	do	célebre	criador	do	marxismo,	está	hoje	abandonada	e	merece	citação
apenas	como	uma	curiosidade	da	história	econômica	do	lucro.	De	resto,	as	condições	do	século	passado,
com	referência	ao	trabalho,	eram	tão	diferentes	das	de	hoje,	que	certas	doutrinas	se	tornaram	obsoletas	e
não	 podem	mais	 ocupar	 o	 pensamento	 dos	 economistas	 e	 sociólogos.	 De	 qualquer	 forma,	 mesmo	 no
mundo	 atual,	 a	 produção	 de	 excedente	 caracteriza	 vários	 sistemas	 econômicos,	 mas	 somente	 no
capitalismo	 ela	 assume	 a	 forma	 de	 lucro.	 Lucro	 e	 capitalismo	 coexistem	 interligados.	 Não	 se	 pode
imaginar	capitalismo,	ou	qualquer	outro	subsistema	econômico	dele	derivado,	sem	a	existência	do	lucro	e
vice-versa.
Quanto	 à	 natureza	 jurídica	 dos	 lucros,	 podemos	 dizer	 que	 ele	 comporta-se	 semelhante	 ao
salário.	 Ambos	 são	 uns	 dos	 diferentes	 instrumentos	 da	 repartição	 ou	 distribuição	 da	 riqueza.	 O
pagamento	 de	 salário,	 como	 remuneração	 do	 empregado,	 pode	 ter	 a	 natureza	 de	 obrigação	 legal	 ou
contratual,	 correspondente,	 no	 primeiro	 caso,	 à	 obrigação	 de	 pagar	 o	 mínimo	 ou	 de	 respeitar	 o	 teto
máximo,	 ambos	 estipulados	 por	 lei,	 e,	 no	 segundo	 caso,	 à	 de	 pagar	 o	 valor	 combinado	 pelas	 partes,
respeitado	 aquele	 limite	mínimo.	O	 juro	 também	 é	 outro	 instrumento	 da	 repartição	 ou	 distribuição	 da
riqueza	e	apresenta	a	mesma	natureza	jurídica,	que	transparece	como	resultado	da	constatação	na	ordem
jurídico-econômica	de	limites	à	sua	cobrança	ou	sua	liberalização.	Assim	é	que	se	fala	em	juro	legal	e
juro	contratual.
Para	 ANA	MARIA	 FERRAZ	 AUGUSTO,	 esta	 duplicidade	 de	 natureza	 dos	 ganhos	 pode	 ser
reconhecida	 também	 quanto	 aos	 lucros,	 em	 razão	 de	 sua	 proveniência.	 Sob	 este	 prisma,	 temos	 os
negócios	em	que	o	rendimento	da	atividade	empresarial	é	definido	contratualmente	ou	pelo	livre	jogo	do
mercado,	 quando	 a	 aferição	 de	 lucro	 decorre	 do	 próprio	 sistema	 competitivo.	 Consequentemente,
originando-se	de	um	contrato,	não	eivado	de	nulidade	pela	inclusão	de	cláusula	leonina,	ou	do	jogo	de
mercadoconsentido	legalmente,	o	lucro	pode	ser	considerado,	de	igual	maneira,	como	lucro	contratual	ou
como	 lucro	 legal.	 Assim,	 menciona	 ainda	 ANA	MARIA	 FERRAZ	 AUGUSTO	 que	 tomando	 o	 nosso
sistema	 jurídico-econômico	 como	 base,	 podemos	 reconhecer	 que	 os	 limites	 legais	 de	 lucros	 estão
definidos	 exclusivamente	 por	 um	 critério	 de	 legalidade	 dúbio	 ou	 vago,	 qual	 seja,	 o	 do	 “aumento
arbitrário”.[162]	Tal	limite	inclusive	está	expresso	na	Lei	que	estrutura	o	Sistema	Brasileiro	de	Defesa	da
Concorrência	 e	dispõe	 sobre	a	prevenção	e	 repressão	às	 infrações	contra	 a	ordem	econômica,	Lei	n°
12.529,	 de	 30.11.2011,	 que,	 através	 de	 seu	 art.	 36,	 dispõe	 constituir	 “infração	 da	 ordem	 econômica,
independentemente	de	culpa,	os	atos	sob	qualquer	forma	manifestados,	que	tenham	por	objeto	ou	possam
produzir	 os	 seguintes	 efeitos,	 ainda	que	não	 sejam	alcançados:	 I	 limitar,	 falsear	 ou	de	qualquer	 forma
prejudicar	a	livre	concorrência	ou	a	livre	iniciativa;	II-	dominar	mercado	relevante	de	bens	ou	serviços;
III-	aumentar	 arbitrariamente	 os	 lucros;	 IV-	 exercer	 de	 forma	 abusiva	 posição	 dominante”.	 Dada	 a
dubiedade	do	 texto	 legal,	 somente	através	da	apuração	de	órgãos	governamentais	de	 regulamentação	e
fiscalização	é	que	se	poderá	delimitar	certa	margem	de	 lucro	para	determinadas	situações	específicas.
Todavia,	ressalta	ANA	MARIA	FERRAZ	AUGUSTO	que,	fora	dessas	limitações,	os	lucros	são	lícitos
sempre	que	adequados	à	margem	de	rentabilidade	inerente	ao	próprio	sistema	capitalista,	desde	que	da
manipulação	do	mercado	de	competição	não	resulte	o	“aumento	arbitrário”.[163]	De	certa	forma,	se	ocorre
a	atuação	de	órgãos	governamentais	no	sentido	de	regulamentar	o	texto	legal	e	efetivamente	fiscalizar	as
margens	de	lucro	praticadas	nos	diversos	setores	da	economia,	isto	configura,	sem	sombra	de	dúvida,	a
execução	de	uma	política	de	controle	de	lucros.
Daí	 conclui	 ANA	MARIA	 FERRAZ	 AUGUSTO	 que,	 nos	 sistemas	 neocapitalistas,	 os	 lucros
legais	correspondem	à	margem	de	rentabilidade	inerente	ao	próprio	sistema	de	mercado	competitivo.	Por
outro	lado,	os	lucros	contratuais	são	os	provenientes	de	ato	de	produção	ou	de	prestação	de	serviços,	em
que	no	preço	combinado	se	inclui	livremente	a	parcela	de	remuneração	do	empresário,	situação	que	fica
restrita	às	hipóteses	não	alcançadas	pelo	tabelamento	de	preços	dos	sistemas	de	acentuada	intervenção
estatal.[164]	Por	isso	é	que	John	Stuart	Mill	ressaltou	que	os	lucros,	tanto	quanto	os	salários,	fazem	parte
do	custo	de	produção	que	determina	o	valor	do	produto.
Até	há	algum	tempo	atrás	a	matéria	relacionada	a	atribuição	e	a	eventual	restrição	de	lucros	era
estipulada	apenas	pelo	Direito	Civil	e	pelo	Direito	Empresarial,	que	dispõem,	de	um	modo	geral,	sobre
às	 formas	 e	 a	 estrutura	 da	 organização	 da	 empresa.	Modernamente,	 porém,	 o	 Direito	 Econômico	 e	 o
Direito	Tributário	também	passaram	a	sujeitar	os	lucros	das	empresas	à	regulamentação,	antes	relegada
apenas	 ao	 âmbito	 da	 vontade	 contratual.	 Mas,	 com	 a	 inclusão	 dos	 trabalhadores	 no	 processo	 de
distribuição	de	lucros,	esta	matéria	também	acabou	sendo	abrangida	pelo	Direito	do	Trabalho,	fato	que
pode	 representar	 um	 efetivo	 ou	 ilusório	 instrumento	 de	 realização	 da	 justiça	 social,	 dependendo	 da
maneira	que	serão	aplicados,	através	da	legislação	ordinária,	os	condicionamentos	à	atribuição	de	lucros
definidos	constitucionalmente.
E	 por	 falar	 em	 Direito	 Tributário,	 merece	 menção	 o	 fato	 de	 vários	 autores	 tributaristas
procurarem	 também	conceituar	 lucro	 e	 as	 suas	várias	 espécies.	FÁBIO	FANUCCHI,	por	 exemplo,	diz
que	lucros	são	os	resultados	positivos	auferidos	em	empresa	individual	ou	coletiva.	Esses	resultados
positivos	aparecem	quando	a	receita	do	empreendimento	supera	os	seus	dispêndios	(custos	e	despesas
operacionais)	não	efetuados	para	aquisição	de	patrimônio	estável	(bens	de	ativo	imobilizado	ou	fixo).
[165]
Como	se	vê,	a	diversidade	dos	conceitos	é	grande,	variando	sempre	em	função	do	enfoque	dado
por	 cada	 campo	 do	 conhecimento	 científico.	 Além	 dessa	 diversidade,	 ANA	 MARIA	 FERRAZ
AUGUSTO	anota	 que	 a	 ordem	 jurídico-econômica	 de	 cada	 país	 consubstancia	 preceitos	 relativos	 aos
lucros,	 regulamentando-os	 de	 acordo	 com	 os	 princípios	 básicos	 da	 ideologia	 adotada
constitucionalmente.	Ao	indicar	estes	princípios,	a	Constituição	brasileira	vigente	conservou	a	ideologia,
adotada	desde	a	Constituição	de	1946,	em	que	se	situa	o	aumento	arbitrário	de	 lucros	como	ato	 ilícito
econômico	e	se	assegura	aos	trabalhadores	a	participação	nos	lucros	da	empresa,	quando	regulamentada
juridicamente.[166]	Este	posicionamento	ideológico,	ora	repressivo,	ora	atributivo,	proporciona	ao	Direito
Econômico,	ao	Direito	Tributário	e,	agora,	ao	Direito	do	Trabalho	um	campo	próprio	de	incidência,	em
que	a	regulamentação	dos	lucros	aparece	como	objeto	de	repressão	(aumento	arbitrário	dos	lucros),	de
estímulos	 (incentivos	 fiscais	 e	 deduções	 aumentando	 a	 margem	 de	 lucro)	 ou	 de	 instrumento	 de
concretização	da	justiça	social	(participação	do	empregado	nos	lucros	da	empresa).
	
	
3.2	LUCRO	BRUTO,	LUCRO	LÍQUIDO,	LUCRO
LÍQUIDO	DO	EXERCÍCIO	E	LUCRO	FINAL
	
	
O	lucro	em	sua	noção	primitiva	(diferença	entre	as	despesas	realizadas	e	a	receita	disponível)
evoluiu	 para	 formas	 mais	 complexas	 de	 avaliação,	 tais	 como:	 lucro	 bruto,	 lucro	 líquido,	 lucro	 de
exercício	ou	 lucro	 líquido	do	 exercício,	 lucro	 final,	 lucro	operacional,	 lucro	não	operacional,	 lucro
presumido,	lucro	puro,	lucro	real,	lucro	arbitrado,	lucro	inflacionário,	lucro	da	exploração	etc.
No	 âmbito	 da	 empresa,	 ou	 seja,	 pelo	 ângulo	 comercial	 e	 industrial,	 o	 lucro	 geralmente	 é
desdobrado	em	lucro	bruto	e	lucro	líquido.
O	lucro	bruto	é	a	diferença	entre	a	receita	obtida	pela	venda	de	mercadorias	(preço	de	venda)
e	 o	 custo	 de	 sua	 produção	 ou	 aquisição,	 ou	 seja,	 como	 diz	 IÊDO	BATISTA	NEVES,	 lucro	 bruto	 é
aquele	representado	pela	diferença	atual	favorável,	demonstrada	pela	conta	de	mercadorias,	entre	o
preço	da	aquisição	e	o	da	venda,[167]	ou,	ainda,	diferença	entre	o	preço	da	aquisição	e	o	da	venda,	sem
levar	 em	 consideração	 as	 despesas	 havidas	 com	 a	 transação.[168]	 Esses	 gastos	 compreendem:	 a)	 o
pagamento	de	insumos	de	terceiros	(matérias-primas,	energia	elétrica,	material	de	embalagem	etc.);	b)	o
desgaste	do	capital	fixo;	e	c)	a	remuneração	da	força	de	trabalho.
O	 valor	 da	 produção,	 deduzidos	 os	 insumos	 de	 terceiros,	 constitui	 o	 valor	 adicionado	 pela
empresa,	isto	é,	a	parcela	do	produto	social	que	foi	gerado	por	ela.	Este	valor	adicionado	é	dividido	em
duas	partes:	a)	de	um	lado,	os	salários,	que	pagam	a	força	de	trabalho	utilizada	e	a	soma	necessária	para
compensar	a	depreciação;	e	b)	de	outro,	o	lucro	bruto.	O	pagamento	da	força	de	trabalho	e	o	desgaste	do
capital	fixo	são	considerados	custos	necessários	à	produção	do	novo	valor	produzido	pela	empresa.	O
lucro	bruto	constitui	o	excedente	econômico,	isto	é,	o	valor	gerado	além	dos	custos	necessários.[169]	Daí
se	dizer,	também,	que	lucro	bruto	é	a	diferença	entre	preço	de	venda	e	o	preço	de	compra,	sem	dedução
de	despesas	operacionais.[170]
O	lucro	líquido	é	o	próprio	lucro	bruto	deduzido	das	despesas	e	encargos	não	embutidos	nos
custos.	 Segundo	 IÊDO	 BATISTA	 NEVES,	 diz-se,	 também,	 que	 lucro	 líquido	 é	 a	 diferença	 a	 mais,
apurada	entre	o	preço	da	aquisição,	acrescido	das	despesas	necessárias	realizadas	até	o	momento	da
venda,	 e	 o	 preço	 alcançado	 nesta	 ou,	 ainda,	 o	 excesso	 favorável	 do	 lucro	 bruto	 sobre	 a	 soma	 das
despesas	 feitas	 durante	 o	 exercício	 financeiro	 que	 findou.[171]	 Para	 HUMBERTO	 PIRAGIBE
MAGALHÃES	 e	 CHRISTOVÃO	 PIRAGIBE	 TOSTES	MALTA,	 lucro	 líquido	 é	 o	 proveito	 real	 cujo
montante	se	obtém	adicionando	ao	valor	da	compra	o	de	todas	as	despesas	havidas	para	aobtenção
da	 diferença.[172]	 Em	 outras	 palavras,	 no	 sistema	 capitalista,	 a	 produção	 do	 excedente	 efetiva-se	 no
interior	da	empresa	e	 é	 apropriado	em	primeiro	 lugar	por	 seu	proprietário,	que	depois	 transfere	parte
dele:	a)	paga	impostos	ao	governo;	b)	paga	juros	aos	credores;	e	c)	paga	aluguéis	aos	proprietários	dos
imóveis	que	a	empresa	utiliza.	Após	todas	essas	deduções	sobre	o	lucro	bruto,	a	parcela	que	fica	com	o
dono	 da	 empresa	 é	 o	 lucro	 líquido,	 ou	 seja,	 é	 a	 parte	 residual	 do	 produto	 derivado	 da	 atividade
empresarial	destinada	a	remunerar	o	capital	investido	na	empresa.
Vale	 lembrar	que	parte	do	 lucro	 líquido	 é	pago	em	dinheiro,	 como,	por	 exemplo,	 retiradas	do
empresário	individual	(firma	individual	ou	pessoa	física)	ou	de	sócios	(em	sociedades	de	um	modo	geral
ou	pessoa	jurídica)	ou,	ainda,	dividendos	(em	sociedades	anônimas).	Outra	parcela	(os	 lucros	retidos)
destina-se	 a	 ampliar	 o	 capital	 da	 empresa.[173]	 São	 colocados	 em	 fundo	 de	 reserva	 e,	 num	 momento
oportuno,	 incorporados	ao	capital.	Quando	isso	ocorre,	os	sócios	das	sociedades	recebem	um	aumento
correspondente	 na	 cota	 de	 capital.	 Os	 acionistas	 das	 sociedades	 anônimas,	 por	 sua	 vez,	 ganham	 uma
bonificação,	isto	é,	um	número	adicional	de	ações.	Em	dinheiro	ou	capital,	o	lucro	líquido	é	apropriado
pelos	donos	das	empresas.[174]
Assim,	se	o	 lucro	é	considerado	aquela	mencionada	diferença	entre	as	despesas	realizadas	e	a
receita	 disponível,	 o	 lucro	 líquido	 constitui,	 pois,	 como	 a	 própria	 expressão	 diz,	 o	 resultado	 líquido
obtido,	após	as	deduções	autorizadas,	para	a	remuneração	da	atividade	empresarial	e	para	a	remuneração
do	capital.
Evidentemente,	a	finalidade	básica	de	uma	empresa	capitalista	é	produzir	 lucro	 líquido	para
seus	 proprietários.	 Todas	 as	 decisões	 importantes	 (o	 quê,	 quando	 e	 como	 produzir)	 têm	 por	 critério
supremo	maximizar	o	 lucro	por	unidade	de	 capital	 investido.	A	 taxa	de	 lucro,	 isto	 é,	 a	 relação	 entre
lucro	 líquido	 e	 o	 capital	 da	 empresa,	 revela	 em	 que	 medida	 ela	 alcançou	 esse	 objetivo.	 Essa	 taxa
também	 determina	 a	 eficiência	 apresentada	 pela	 unidade	 econômica.	 Quando	 a	 empresa	 atua	 num
mercado	 competitivo,	 não	 estabelece	 o	 preço	 dos	 produtos.	 Como	 o	 lucro	 resulta	 da	 diferença	 entre
receita	de	vendas	e	despesas	de	produção,	a	única	forma	de	elevá-lo	é	incrementar	o	volume	de	vendas	e,
concomitantemente,	 reduzir	 ao	 mínimo	 os	 custos.	 Nessas	 circunstâncias,	 a	 taxa	 de	 lucro	 mede	 o
desempenho	da	 empresa.	Todavia,	 quando	 a	 empresa	 dispõe	 de	monopólio	 do	 produto	 que	 vende,	 ou
integra	 um	 oligopólio	 (um	 número	muito	 reduzido	 de	 empresas	 que	 oferecem	 certo	 produto),	 ela	 tem
relativa	liberdade	de	fixar	o	preço	de	venda.	Isso	lhe	permite	assegurar	uma	adequada	margem	de	lucro,
a	chamada	“renda	de	monopólio”.	Por	isso,	as	empresas	monopolistas	costumam	apresentar	 taxas	de
lucro	mais	elevadas	do	que	as	que	trabalham	em	mercados	concorrenciais.	Diga-se	de	passagem	que
empresas	desse	 tipo	 têm	menos	necessidade	de	baixar	 seus	 custos.	Assim,	 sua	 eficiência	deixa	de	 ser
expressa	 pela	 taxa	 de	 lucro.	 Esse	 fenômeno	 leva	 alguns	 especialistas	 a	 afirmar	 que	 o	monopólio	 e	 o
oligopólio	 tendem	 a	 desfavorecer	 a	 procura	 da	 eficiência	máxima.	Conseqüentemente,	 na	maioria	 dos
países	capitalistas,	a	legislação	proíbe	essas	situações.	Tem	sido	demonstrado,	contudo,	que	as	empresas
industriais	 modernas	 (apesar	 de	 quase	 sempre	 usufruírem	 de	 situações	 de	 oligopólio)	 conseguem
alcançar	 custos	muito	 baixos,	 devido	 a	 seu	 grande	 tamanho.	 Para	 restaurar	 o	 caráter	 competitivo	 dos
mercados,	seria	necessário	grande	número	de	empresas	de	tamanho	menor,	o	que	levaria	a	custos	mais
elevados	e,	portanto,	ocasionaria	menor	eficiência.[175]
O	objetivo	de	definirmos	lucro	bruto	e	lucro	líquido,	apresentando	as	suas	diferenças	é,	a	nosso
ver,	 fundamental	para	o	 estudo	da	participação	dos	empregados	nos	 lucros	da	empresa,	 em	virtude	da
necessidade	 de	 se	 saber	 ao	 certo	 sobre	 qual	 espécie	 de	 lucro	 incidirá	 o	 direito	 de	 participação.	 O
empregado	deve	participar	do	lucro	bruto	ou	do	lucro	líquido?
A	espécie	de	lucro	que	deve	incidir	a	participação	dos	empregados	é	uma	questão	importante,	a
qual	merece	que	façamos	alguns	comentários.	A	opção	que	se	faz	em	relação	a	uma	das	espécie	de	lucro,
para	 fins	 de	 participação	 dos	 empregados,	 determina	 o	 lucro	 dedutível.	 	 Ou	 seja,	 lucro	 dedutível	 é,
segundo	 o	 jurista,	 filósofo,	 matemático,	 advogado,	 sociólogo,	 professor	 universitário,	 magistrado	 e
diplomata	brasileiro	FRANCISCO	CAVALCANTI	PONTES	DE	MIRANDA	(Maceió,	23.04.1892	-	Rio
de	Janeiro,	22.12.1979),	o	lucro	de	que	se	vai	deduzir	o	quanto	participável	 (“portion	 to	be	shared”),
isto	 é,	 de	 que	 se	 subtrai	 o	 quanto	 destinado	 a	 solver	 a	 quota	 de	 participação	 de	 cada	 empregado
legitimado.[176]	 Assim,	 lucro	 dedutível	 é	 o	 lucro	 sobre	 o	 qual	 vai	 incidir	 o	 percentual	 ajustado	 para
compor	o	montante	a	ser	distribuído	aos	empregados	e	quanto	participável	é	 justamente	este	montante
que	se	separa	do	lucro	dedutível	e	vai	ser	dividido	em	quotas	destinadas	a	cada	um	dos	empregados	que
tem	direito	ao	benefício	da	participação.
Esclarece,	 ainda,	 FRANCISCO	 CAVALCANTI	 PONTES	 DE	 MIRANDA	 que	 o	 problema	 da
determinação	do	quanto	participável	tem	de	vir	após	a	determinação	do	que	são	lucros	dedutíveis,	como
o	da	determinação	da	quota	de	participação	há	de	vir	após	a	solução	daquele.	Segundo	ele,	a	ordem	é,
portanto,	a	seguinte:	1°)	determinação	do	lucro	dedutível;	2°)	determinação	do	quanto	participável;	3°)
determinação	de	quem	participa;	e	4°)	determinação	da	quota	de	participação.[177]
Já	a	determinação	do	lucro	dedutível	pode	ser:	a)	antes	do	pagamento	dos	tributos;	b)	antes	do
pagamento	dos	tributos	e	de	certa	percentagem,	mínima,	aos	que	têm	ações;	c)	antes	do	pagamento	dos
tributos,	 da	 percentagem	mínima	 dos	 acionistas	 e	 das	 verbas	 de	 previdência	 social	 não-contributórias
(isto	 é,	 só	 do	 empregador)	 ou	 das	 verbas	 de	 beneficência;	 d)	 antes	 do	 pagamento	 dos	 tributos,	 da
percentagem	mínima	dos	acionistas,	das	verbas	de	previdência	social	não-contributórias,	ou	das	verbas
de	 beneficência	 e	 da	 discriminação	 dos	 dividendos	 destinados	 a	 fins	 de	 economia	 individual	 ou
permanentemente	a	fins	de	assistência	social	e	valorização	do	próprio	trabalho;	e)	depois	do	pagamento
dos	 tributos	e	de	certas	percentagem	mínima	aos	acionistas;	 e	 f)	 depois	do	pagamento	dos	dividendos
destinados	a	fins	permanentes	de	assistência	social	e	valorização	do	próprio	trabalho.[178]	Todavia	o	mais
recomendado	é	a	determinação	do	lucro	dedutível,	pelo	menos,	depois	de	se	pagarem	os	tributos.
Outrossim,	 FRANCISCO	CAVALCANTI	 PONTES	DE	MIRANDA	menciona,	 ainda,	 que,	 para
apuração	 do	 lucro	 dedutível,	 é	 aconselhável	 a	 dedução	 do	 que	 é	 percentagem	mínima	 dos	 acionistas
como	emprego	de	capital,	a	fim	de	que	não	se	diminua	o	lucro,	a	ponto	de	emigrar	das	indústrias	para
outros	ramos	improdutivos	o	capital	empregado,	ou	de	afastar	das	indústrias	a	iniciativa	privada.	Lembra
ele	que	não	se	investe,	sem	esperança		de	maior	lucro	do	que	o	juro	dos	depósitos	bancários,	o	capital
disponível.	Destaca,	 também,	 que	 esse	 inconveniente	 não	 é	 só	 de	 ordem	 econômica;	 ele	 é	 também	de
ordem	 jurídica,	 uma	 vez	 que	 a	 redução	 do	 lucro	 apto	 ao	 pagamento	 dos	 dividendos	 pode	 ser	 tal	 que
importe	 desapropriação	 sem	 indenização.[179]	 No	 entanto,	 tudo	 isto	 que	 foi	 dito	 não	 passa	 de	 meros
comentários	 e	 sugestões,	 em	virtude	de	a	norma	 regulamentadora,	hoje	 em	vigor	no	Brasil,	 deixar	 aos
empregados	 e	 ao	 empregador	 decidirem,	 via	 acordo,	 sobre	 que	 espécie	 de	 lucro	 incidirá	 o	 quanto
participável,	a	 fim	de	que	sejaapurado	o	valor	da	cota	de	cada	empregado.	Assim,	cumpre-nos,	aqui,
neste	 trabalho,	 apenas	 trazer	 alguns	 esclarecimentos	 a	 respeito	 das	 espécies	 de	 lucros	 sobre	 as	 quais
poderá	incidir	o	quanto	participável.
Visto	isto,	acrescentamos	que,	sob	o	ponto	de	vista	legal,	o	lucro	pode	ser:	lucro	final	e	lucro	de
exercício	ou	lucro	líquido	do	exercício.
Diz	RUBENS	REQUIÃO	que	 o	 lucro	 final	 é	 o	 que	 se	 verifica	 no	momento	 da	 liquidação	 da
sociedade,	 depois	 de	 pago	 todo	 o	 passivo	 e	 restituídos	 o	 capital	 e	 os	 resultados	 remanescentes	 aos
sócios.	 E	 conclui	 que	 o	produto	 líquido,	 expressão	 tão	 do	 agrado	 dos	 antigos	 fisiocratas,	 constitui	 o
lucro	final	que	a	sociedade	gerou	no	curso	de	sua	existência.[180]
Por	 outro	 lado,	 vimos	 o	 que	 é	 lucro	 líquido.	 Porém	 antes	 de	 se	 apurar	 o	 lucro	 líquido	 é
necessário	se	apurar	o	lucro	de	exercício	ou	lucro	líquido	do	exercício.	O	lucro	de	exercício,	 segundo
RUBENS	REQUIÃO,	é	o	que	resulta	do	balanço	contábil	das	contas	no	fim	do	exercício	social.[181]	O
legislador	 ordinário	 preferiu	 se	 referir	 a	 essa	 espécie	 de	 lucro	 utilizando	 o	 termo	 “lucro	 líquido	 do
exercício”.	 Inclusive,	 o	 art.	 191,	 combinado	 com	 os	 arts.	 189	 e	 190,[182]	 ambos	 da	 Lei	 n°	 6.404,	 de
15.12.1976	 (dispõe	 sobre	 as	 Sociedades	 por	 Ações),	 conceitua	 lucro	 líquido	 do	 exercício	 como	 o
resultado	 do	 exercício	 que	 remanescer	 depois	 de	 deduzidos,	 em	 primeiro	 lugar,	 os	 prejuízos
acumulados	 e	 a	 provisão	 para	 o	 imposto	 sobre	 a	 renda	 e	 também	 deduzidas,	 em	 segundo	 lugar,	 as
participações	 estatutárias	 de	 empregados,	 administradores	 e	 partes	 beneficiárias.	 Inclusive,	 a
companhia	somente	pode	pagar	as	participações	dos	administradores	e	das	partes	beneficiárias	à	conta
de	 lucro	 líquido	 do	 exercício,	 de	 lucros	 acumulados	 e	 de	 reserva	 de	 lucros	 e	 à	 conta	 de	 reserva	 de
capital,	no	caso	das	ações	preferenciais,	sob	pena	de	responsabilidade	solidária	dos	administradores	e
fiscais,	que	deverão	 repor	à	 caixa	 social	 a	 importância	distribuída	 indevidamente	 (parágrafo	único	do
art.	190	combinado	com	o	caput	e	o	§1°	do	art.	201).[183]	De	qualquer	forma,	após	tais	deduções	chega-
se,	portanto,	ao	lucro	líquido	do	exercício.
Todavia,	 para	 se	 chegar	 ao	 lucro	 líquido	 é	 necessário	 proceder	 outras	 deduções	 do	 “lucro
líquido	do	exercício”	apurado.	Assim	é	que	o	art.	193	da	Lei	n°	6.404,	de	15.12.1976,[184]	determina	que
“do	lucro	líquido	do	exercício,	5%	(cinco	por	cento)	serão	aplicados	antes	de	qualquer	outra	destinação,
na	constituição	da	reserva	legal,	que	não	excederá	de	20%	(vinte	por	cento)	do	capital	social”.	Do	lucro
líquido	do	exercício	 também	serão	deduzidas	as	 reservas	de	capital,[185]	as	 reservas	estatutárias,[186]	 as
reservas	para	contingências,[187]e	a	reserva	de	lucros	a	realizar.[188]	No	entanto,	devemos	destacar	que	o
art.	198	da	Lei	n°	6.404,	de	15.12.1976,[189]	determina	que	a	destinação	dos	lucros	para	constituição	das
reservas	 estatutárias	 não	 poderão	 ser	 aprovadas,	 em	 cada	 exercício,	 em	 prejuízo	 da	 distribuição	 do
dividendo	obrigatório.[190]	O	 saldo	 das	 reservas	 de	 lucros,	 exceto	 as	 para	 contingências	 e	 de	 lucros	 a
realizar,	 não	poderá	ultrapassar	o	 capital	 social;	 atingido	esse	 limite,	 a	 assembléia	deliberará	 sobre	 a
aplicação	do	excesso	na	integralização	ou	no	aumento	do	capital	social,	ou	na	distribuição	de	dividendos
(art.	 199	 da	 Lei	 n°	 6.404,	 de	 15.12.1976).[191]	 Outrossim,	 a	 constituição	 de	 reservas	 estatutárias,	 de
reservas	 para	 contingências,	 de	 reserva	 de	 lucros	 a	 realizar	 e	 de	 reserva	 de	 capital,	 	 bem	 como	 a
retenção	de	lucro	não	podem	prejudicar	o	direito	dos	acionistas	preferenciais	de	receber	os	dividendos
fixos	 ou	mínimos	 a	 que	 tenham	prioridade,	 inclusive	 os	 atrasados,	 se	 cumulativos	 (art.	 203	 da	Lei	 n°
6.404,	de	15.12.1976).[192]
Em	resumo,	a	nosso	ver,	o	lucro	líquido	do	exercício	deve	ser	aquele	tal	como	definido	no	art.
191	da	Lei	n°	6.404,	de	15.12.1976,	e	o	lucro	líquido,	por	eliminação,	deve	ser	aquele	equivalente	ao
que	 for	 distribuído	 aos	 acionistas	 (dividendo)	 ou	 equivalente	 ao	 dividendo	 obrigatório,	 isto	 é,
equivalente	 à	 parcela	 de	 lucro	 que	 corresponde	 a	 cada	 uma	 das	 ações	 que	 representam	 o	 capital	 da
sociedade	 e	 que	 deverá	 ser	 integrado,	 pelo	 pagamento	 do	 dividendo,	 ao	 patrimônio	 individual	 do
acionista.	Inclusive	a	definição	de	lucro	líquido	encontra-se	prevista	no	§2°	do	art.	202	da	Lei	n°	6.404,
de	15.12.1976.[193]
Dentro	do	universo	do	lucro	bruto	e	do	lucro	líquido,	outras	distinções	podem	ser	feitas,	como,
por	exemplo,	a	relativa	a	business	profit	e	a	pure	profit.	O	primeiro	caso	é	 representado	pela	simples
diferença	entre	a	receita	e	os	custos	explícitos	da	empresa.	O	segundo	caso,	por	sua	vez,	é	representado
pela	diferença	entre	a	receita	e	os	custos	explícitos	ou	implícitos,	compreendendo-se	aí	o	juro	do	capital
aplicado	e	a	remuneração	pelo	trabalho	do	chefe	da	empresa.[194]
	
	
3.3	LUCRO	OPERACIONAL	E	LUCRO	NÃO
OPERACIONAL
	
	
Sob	 o	 ponto	 de	 vista	 comercial	 e	 industrial,	 podemos	 dizer	 que	 o	 lucro	 sofre,	 também,	 outro
desdobramento,	ou	seja,	ele	pode	ainda	se	dividir	em	lucro	operacional	e	lucro	não	operacional.
Para	FUGIMI	YAMASHITA,	 lucro	operacional	é	o	 lucro	gerado	ou	proveniente	da	atividade
fim	para	a	qual	foi	constituída	a	empresa.	Por	exemplo,	se	uma	empresa	tem	por	finalidade	fabricar	e
vender	geladeiras,	o	ganho	proveniente	dessa	atividade	seria	o	lucro	operacional.	Todavia,	esclarece	ele
que,	se	esta	mesma	empresa	obtivesse	um	ganho	na	venda	de	parte	do	terreno	ocioso	da	sua	fábrica,	que
está	 escriturado	 no	 ativo	 permanente	 (imobilizado),	 este	 já	 não	 seria	 operacional,	mas	 sim	 lucro	 não
operacional.	Desta	forma,	como	há	o	lucro	operacional,	poderá	haver	o	prejuízo	operacional,	quando	o
resultado	for	negativo.[195]
Daí	podemos	dizer	que	 lucro	não	operacional	é	o	 lucro	gerado	ou	proveniente	de	atividades
estranhas	aos	objetivos	sociais	previstos	em	estatuto	ou	em	contrato	social,	ou	seja,	é	o	lucro	oriundo
de	negócios	paralelos	bem-sucedidos.	Nunca	é	demais	lembrar	que	o	objetivo	social,	definido	de	forma
precisa	 e	 completa	 no	 estatuto	 ou	 no	 contrato	 social,	 indica	 a	 espécie	 de	 atividade	 produtiva	 da
sociedade,	ao	passo	que	o	fim	social	é	justamente	a	persecução	de	lucro.	 	Assim,	não	é	absurdo	dizer,
também,	que	o	lucro	operacional	identifica-se	exclusivamente	com	o	objetivo	social	previsto	em	estatuto
ou	 contrato	 social	 e	 o	 lucro	 não	 operacional	 não	 tem	 qualquer	 identidade	 com	 o	 objetivo	 real	 da
sociedade,	porém	identifica-se	com	o	fim	social,	que	é	a	persecução	de	lucro.
Para	 JOSÉ	 EDWALDO	 TAVARES	 BORBA,	 professor	 do	 Curso	 de	 Direito	 Empresarial	 da
Fundação	Getúlio	Vargas,	 o	 lucro	ou	prejuízo	 operacional	 exprime	 o	 efeito	 da	 atividade	 própria	 da
sociedade.	 	 Segundo	 ele,	 a	 receita	 bruta	 representa	 o	 faturamento	 da	 sociedade.	 Do	 seu	 montante
deduzem-se	 abatimentos	 e	 impostos,	 chegando-se	 à	 receita	 líquida.	 Desta,	 retiram-se	 os	 custos	 das
mercadorias	e	serviços	vendidos,	de	modo	a	alcançar-se	o	lucro	bruto.	Vêm	então	as	despesas	com	as
vendas,	os	encargos	financeiros	e	as	despesas	gerais	e	administrativas,	chegando-se	ao	lucro	ou	prejuízo
operacional.[196]
Entretanto	acrescenta	JOSÉ	EDWALDO	TAVARES	BORBA	que,	para	se	chegar	ao	resultado	do
exercício	a	fim	de	ser	calculado	o	imposto	de	renda,	ao	 lucro	ou	prejuízo	operacional	se	somam	e	se
deduzem,	 respectivamente,	 as	 receitas	 e	 despesas	 não	 operacionais,	 vale	 dizer,	 aquelas	 que	 não
provierem	da	atividade	normal	da	empresa,	mas	sim	de	negócios	paralelos,	como	acontece,	por	exemplo,
com	os	rendimentos	que	foram	obtidos	no	antigo	open-market.	O	saldo	da	conta	de	correção	monetáriaé
igualmente	 acrescentado	 ou	 diminuído	 ao	 lucro	 operacional,	 a	 fim	 de	 chegar-se	 ao	 resultado	 do
exercício	antes	do	 imposto	de	renda.	Prossegue	ele	esclarecendo	que	calculado	o	 imposto	de	 renda	e
feita	a	respectiva	provisão,	 tem-se	o	resultado	depois	do	imposto	de	renda.	Cumpre	agora	subtrair	do
resultado	 os	 prejuízos	 acumulados,	 caso	 existam.	 Passa-se,	 subseqüentemente,	 ao	 cálculo	 das
participações	 estatutárias	 de	 empregados,	 as	 quais	 deverão	 ser	 subtraídas	 do	 resultado,	 apurando-se,
sobre	o	que	restar,	as	participações	dos	administradores,	a	serem	também	diminuídas	do	resultado,	para
afinal	aplicar-se,	ao	que	sobrar,	o	percentual	conferido	às	partes	beneficiárias.	Contribuições	devidas	a
fundos	de	assistência	e	previdência	de	empregados	serão	ainda	descontadas.	Declarar-se-á,	finalmente,
em	função	do	que	remanescer,	qual	foi	o	lucro	ou	prejuízo	líquido	do	exercício.[197]
Devemos	 esclarecer,	 ainda,	 que	 na	 terminologia	 do	Direito	 Tributário,	 lucro	 operacional	 é	 o
formado	pela	diferença	a	maior	que	apresentam	as	receitas	em	relação	aos	custos,	despesas,	encargos,
provisões	e	perdas	autorizadas	pela	legislação	e	por	prejuízo	operacional	entende-se	aquele	formado
pela	 diferença	a	menor	 que	 apresentam	as	 receitas	 em	 relação	aos	 dispêndios	 relativos	 aos	 custos,
despesas,	 encargos,	 provisões	 e	 perdas	 autorizadas	 pela	 legislação.[198]	 Como	 se	 vê,	 há	 bastante
divergência	 entre	 os	 conceitos	 a	 respeito	 de	 lucro	 operacional	 e	 prejuízo	 operacional.	 Há	 que	 se
esclarecer,	ainda,	para	melhor	entendimento	dos	conceitos	de	lucro	operacional	e	prejuízo	operacional,
que,	 como	 menciona	 FÁBIO	 FANUCCHI,	 custos	 operacionais	 são	 os	 dispêndios	 relacionados
diretamente	 com	 o	 objeto	 do	 empreendimento	 da	 pessoa	 jurídica	 (matéria-prima,	 mercadoria,	 etc.);
despesas	 operacionais	 são	 os	 dispêndios	 não	 relacionados	 diretamente	 com	 o	 objeto	 do
empreendimento	 da	 pessoa	 jurídica,	porém	 necessários	 à	 manutenção	 de	 suas	 fontes	 de	 produção
(propaganda,	 juros,	 aluguéis	 etc.);	 encargos	 e	 provisões,	 por	 sua	 vez,	 são	 dedutibilidades	 admitidas
pela	legislação	com	base	em	acontecimentos	presumidos,	ou	futuros	e	incertos,	porém	prováveis,	todos
capazes	 de	 ocasionar	 perdas	 para	 a	 pessoa	 jurídica	 (fundo	 para	 devedores	 duvidosos,	 Fundo	 de
Garantia	do	Tempo	de	Serviço	–	FGTS	de	não	optantes	etc.);	e	perdas	são	os	prejuízos	ocasionados	em
bens	 da	 pessoa	 jurídica	 por	 acontecimentos	 fortuitos,	 por	 força	 maior	 ou	 por	 ato	 criminoso	 de
terceiros	(roubo,	enchente,	fogo,	destruição	para	preservação	de	patrimônio	alheio	etc.).[199]	De	qualquer
forma	 tudo	 leva	a	crer	que,	ainda	que	no	âmbito	da	doutrina	 tributária	não	seja	 integralmente	aplicado
neste	 sentido,	 o	 termo	 “operacional”	 diz	 respeito	 a	 atividades	 ou	 ocorrências	 exclusiva	 e	 diretamente
relacionadas	com	o	objeto	da	empresa	e	o	termo	“não	operacional”	ligados	a	atividades	ou	ocorrências
estranhas	ao	objeto	da	empresa.
	
	
3.4	LUCRO	REAL,	LUCRO	TRIBUTÁVEL,	LUCRO	
PRESUMIDO,	LUCRO	ARBITRADO,	LUCRO	
INFLACIONÁRIO	E	LUCRO	DA	EXPLORAÇÃO
	
	
O	 lucro	 real	 é	 um	 termo	 que	 surgiu	 recentemente	 na	 legislação	 ordinária	 tributária.	 Com	 o
advento	do	art.	6°	do	Decreto-Lei	n°	1.598,	de	26.12.1977,[200]	que	alterou	a	legislação	do	imposto	sobre
a	renda,	conceituou-se	lucro	real,	em	contraste	com	o	lucro	presumido	e	o	lucro	arbitrado,	ou	seja,	lucro
real	é	aquele	que	efetivamente	a	empresa	alcançou,	constatados	através	de	todas	as	operações	contábeis
que	 indicam	 as	 verdadeiras	 atividades	 desenvolvidas	 pela	 empresa.	 Inicialmente,	 o	 lucro	 real	 era
conhecido	como	o	lucro	tributável.
	
“IMPOSTO	DE	RENDA	 -	 PESSOA	 JURÍDICA	 -	 LUCRO	REAL	 -	 FALTA	DE
ENTREGA	DA	DECLARAÇÃO	-	LANÇAMENTO	EX-OFFICIO.		O	lucro	real,
apurado	 na	 escrituração	 mantida	 de	 acordo	 com	 as	 leis	 comerciais	 e	 fiscais,
independentemente	da	realização	em	moeda	das	receitas	contabilizadas,	sujeita-
se	à	tributação	mediante	lançamento	ex-officio,	se	a	pessoa	jurídica	não	entregou
a	declaração	de	rendimentos	correspondente”.[201]
	
Inclusive,	 devemos	 assinalar	 que	 existiam	 vários	 projetos	 de	 lei	 arquivados	 no	 Congresso
Nacional,	 outros	 em	 lenta	 tramitação,	 versando	 sobre	 a	 participação	 nos	 resultados	 da	 empresa.	 	 Um
deles	definia	lucro,	para	esses	efeitos,	como	sendo	os	tributáveis	pela	legislação	do	imposto	de	renda,
deduzidos	o	montante	do	imposto	de	renda	(excluídas	as	multas);	os	juros	de	8	(oito)	por	cento	sobre	o
capital	 da	 empresa,	 para	 sua	 remuneração;	 as	 quantias	 correspondentes	 ao	 aumento	 do	 valor	 do	 ativo
resultante	 de	 vendas	 ou	 reavaliações	 efetuadas	 no	 respectivo	 exercício;	 e	 a	 importância	 necessária	 à
amortização	de	prejuízos	verificados	nos	 três	últimos	exercícios	 até	o	máximo	de	 trinta	por	 cento	dos
lucros.
Outro	projeto,	que	também	tramitava	pelo	Congresso	Nacional,	apontava	o	lucro	como	sendo	os
que	fossem	tributáveis	pelo	 imposto	sobre	a	 renda,	deduzidos	de	seu	montante,	além	do	 imposto,	12%
(doze	por	cento)	do	capital	 realmente	aplicado,	 inclusive	reservas,	a	 título	de	remuneração	do	capital;
não	sendo	dedutíveis	dos	lucros	as	reservas	feitas	no	exercício.
Como	a	 tendência	da	doutrina	 e	dos	projetos	de	 lei	 em	análise	no	Congresso	Nacional	 era	de
utilizar	 a	 definição	 de	 lucro	 elaborada	 pelo	 Direito	 Tributário,	 consideramos,	 portanto,	 importante
apresentarmos	 em	 nossos	 estudos	 alguns	 esclarecimentos	 sobre	 lucro	 real,	 lucro	 tributável,	 lucro
presumido	e	lucro	arbitrado,	que	são	figuras	já	bastantes	consagradas	no	âmbito	fiscal.
Como	 vimos,	 se	 antes	 o	 lucro	 real	 era	 chamado	 de	 lucro	 tributável,	 hoje,	 apesar	 de	 muitos
autores	 preferirem	 o	 termo	 “lucro	 tributável”,	 predomina	 em	 nossa	 legislação	 o	 termo	 “lucro	 real”.	
Citamos,	 inclusive,	 como	 exemplo,	 a	 Lei	 n°	 9.249,	 de	 26.12.1995,	 cujo	 o	 §1°	 do	 seu	 art.	 3°,	 com	 a
redação	dada	pela	Lei	 n°	 9.430,	 de	 27.12.1996,[202]	 prescreve	que	“a	 parcela	 do	 lucro	 real,	 presumido	 ou	 arbitrado,	 que
exceder	o	valor	resultante	da	multiplicação	de	R$	20.000,00	(vinte	mil	reais)	pelo	número	de	meses	do	respectivo	período	de	apuração,	sujeita-
se	à	incidência	de	adicional	de	imposto	de	renda	à	alíquota	de	10	(dez)	por	cento”.	Todavia,	a	nosso	ver	acertadamente,	nem
todos	os	autores	empregam	a	palavra	lucro	real	para	designar	o	lucro	sobre	o	qual	incidirá	tributo	(lucro
tributável).	 Entre	 esses	 autores,	 encontra-se	 FÁBIO	 FANUCCHI,	 que	 entende	 por	 lucro	 tributável	 o
lucro	 real	 acrescido	 ou	 diminuído	 de	 parcelas	 que	 a	 legislação	 não	 considere,	 respectivamente,
dedutíveis	ou	tributáveis	e	por	lucro	real	o	resultado	positivo	verificado	na	contabilidade	da	empresa,
em	 face	 de	 operações	 habituais	 por	 ela	 realizadas,	acrescido	 ou	 diminuído	 dos	 resultados	 líquidos
(positivos,	no	primeiro	caso,	ou	negativos,	no	segundo)	de	transações	eventuais	que	ela	realize.[203]
Por	 exemplo,	 a	 lei	 não	 considera	 como	 lucro	 tributável	 o	 que	 for	 apurado	 em	 função	 de:	 a)
lucros	e	dividendos	sujeitos	à	tributação	em	poder	de	firmas	e	sociedades	que	os	distribuírem	(diante	do
princípio	de	não	incidência	dobrada	do	mesmo	imposto	sobre	idêntica	base	de	cálculo);	b)	rendimentos	e
prêmios	de	títulos	ao	portador	(subentendendo-se	a	incidência	do	imposto,	se	houver,	somente	na	fonte);
c)	 capital	 das	 apólices	 de	 seguro	 ou	 pecúlio	 em	 favor	 da	 pessoa	 jurídica,	 pago	 por	 morte	 de	 sócio
segurado;	d)	reajustamento	de	valor	de	títulos	para	os	quais	a	lei	estipule	correção	monetária,	desde	que
não	distribuídos	aos	sócios	ou	acionistas	da	pessoa	 jurídica;	e)	 exportação	de	produtos	manufaturados
(caso	de	isenção);	e	f)	outras	receitas.	Em	contrapartida,	a	lei	também	não	considera	dedutíveis	do	lucro,
embora	 otenham	 diminuído	 na	 contabilidade	 empresarial,	 as	 parcelas	 de	 custos	 ou	 despesas
operacionais	 que:	 a)	 tendo	 beneficiado	 partícipes	 de	 sociedades	 ou	 titular	 de	 firma	 individual,	 não
correspondam	a	serviços	por	eles	prestados	(considerando	que	eles	só	devem	ser	pagos	pela	empresa	se
prestarem	serviços);	b)	 excedam	a	 certos	 limites	 fixados	 em	 lei	 como	de	 remuneração	de	dirigentes	 e
conselheiros	 empresariais	 e	 como	 de	 gratificação	 a	 empregados	 (considerando	 o	 excesso	 como	 lucro
real);	c)	 beneficiarem	a	dirigente	 empresarial	 residente	no	 exterior	 (considerando	não	 ser	 lícito	que	 a
empresa	 nacional	 remunere	 atividade	 desenvolvida	 por	 esta	 pessoa,	 fora	 de	 nosso	 território);	 d)
representem	juros	pagos	ao	aplicador	de	capital;	e)	formem	fundos	de	reserva,	previsões	ou	provisões
não	admitidas	na	lei	como	dedutíveis,	expressamente;	f)	se	destinem	a	gratificar	ou	quitar	participações
de	dirigentes	nos	lucros;	g)	 inobservem	as	exigências	legais	sobre	dedutibilidade	do	lucro;	e	h)	outros
dispêndios	 que	 a	 lei	 enumere.	 Daí,	 conclui	 FÁBIO	 FANUCCHI	 que,	 como	 ponto	 de	 partida	 para
estabelecimento	 do	montante	 que	 sofrerá	 a	 incidência	 do	 imposto	 de	 renda	 sobre	 lucros,	 vale	 o	 lucro
apurado	em	balanço	de	receita	e	despesas	ou	custos	operacionais	(lucro	real).	Verificado	este	lucro,	ele
será	 diminuído	 de	 parcelas	 tais	 como	 as	 enunciadas	 acima	 e	 acrescido	 de	 parcelas	 como	 as	 também
enumeradas	 acima,	 tendo-se	 formado,	 assim,	 o	 lucro	 tributável	 ou	 a	 base	 de	 cálculo	 do	 imposto	 de
renda.[204]
Em	outra	oportunidade,	no	mesmo	sentido,	FÁBIO	FANUCCHI	acrescenta	que	os	 rendimentos
das	 pessoas	 jurídicas	 são	 apurados,	 de	 início,	 pelos	 lucros,	 verificados	 em	 sua	 contabilidade	 (lucro
real),	 quer	 ele	 tenha	 se	 formado	 apenas	por	 operações	normais	 da	 empresa	 (lucro	operacional),	 quer
tenha	se	 formado,	 inclusive,	por	operações	eventuais	por	ela	 realizadas	(lucro	não	operacional,	como
por	exemplo,	venda	de	um	bem	do	ativo	fixo).		Todavia,	como	a	legislação	não	admite	a	diminuição	do
lucro	 por	 efeito	 de	 certas	 despesas	 ou	 custos	 que,	 embora	 realizados,	 não	 são	 reconhecidos	 como
dedutíveis	e,	de	outro	lado,	como	ela	também	não	computa	certas	receitas	como	tributáveis,	o	lucro	real
será	acrescido	ou	diminuído	dessas	verbas,	formando	o	que	chama	de	“lucro	 tributável”.[205]	De	forma
que,	face	ao	que	a	própria	lei	impõe,	lucro	real	não	se	confunde	com	lucro	tributável,	uma	vez	que,	como
vimos,	são	espécies	bem	distintas.
Ainda	 a	 respeito	 de	 lucro	 real,	 da	 mesma	 forma	 que	 Fábio	 Fanucchi	 o	 fizera,	 FUGIMI
YAMASHITA	menciona	que	ele	tem	seu	ponto	de	partida	no	lucro	líquido	apurado	com	observância	da
legislação	 comercial,	 porém,	 a	 lei	 fiscal	 impõe	 uma	 série	 de	 ajustes,	 determinando	 uma	 série	 de
acréscimos	 de	 valores	 que	 o	 fisco	 não	 admite	 como	 despesas	 ou	 custos	 dedutíveis	 ou	 a	 diferença
excedente	dos	limites	estabelecidos	em	lei,	e	deduções	das	receitas	e	proventos	considerados	isentos	de
tributação,	processando	toda	essa	mecânica	por	meio	de	um	livro	próprio	chamado	Livro	de	Apuração
do	Lucro	Real	-	LALUR,	criado	pela	Instrução	Normativa	SRF	n°	28/78.[206]
De	forma	que,	atualmente,	o	máximo	que	podemos	dizer	a	respeito	do	lucro	tributável	resume-se
a	que	trata-se	do	lucro	efetivamente	alcançado	durante	o	exercício	financeiro,	calculado	conforme	os
métodos	e	determinações	 impostos	pela	 legislação	 fiscal,	com	o	objetivo	de	 se	apurar	o	 imposto	de
renda	devido	pela	sociedade	ou	pelo	empresário	individual	(firma	individual).
Como	vimos,	 a	 tributação	 não	 é	 só	 calcada	 em	 lucros	reais	 do	 contribuinte	mas,	 também,	 em
lucros	arbitrados	pelo	fisco	ou	presumidos	por	sinais	indicativos	de	sua	existência	e	montante.	O	lucro
presumido	e	o	lucro	arbitrado	são	termos	que	surgiram	na	terminologia	do	Direito	Tributário	e,	hoje,	já
estão	consagrados.	Diz	o	art.	44	do	Código	Tributário	Nacional	que	“a	base	de	cálculo	do	imposto	é	o
montante,	 real,	arbitrado	ou	presumido,	 da	 renda	ou	dos	proventos	 tributáveis”.	Esclarece	ALIOMAR
BALEEIRO,	professor	emérito	da	Universidade	do	Estado	do	Rio	de	Janeiro	e	da	Universidade	Federal
de	Brasília,	que,	para	permitir	ao	legislador	ordinário	meios	de	enfrentar	a	complexidade	das	situações,
o	art.	44	diz	que	a	base	de	cálculo	será	não	apenas	o	montante	 real	ou	efetivo	e	apurado	da	 renda	ou
proventos,	 mas	 também	 aquele	 que	 for	 arbitrado	 ou	 presumido,	 segundo	 standards	 legais	 e
regulamentares.	Um	desses	parâmetros	é	o	coeficiente	sobre	o	valor	global	das	operações	da	firma	para
determinar	o	lucro,	se	ela	não	tem	contabilidade	ou	esta	não	merece	fé.[207]
Daí	 FUGIMI	 YAMASHITA	 dizer	 que,	 na	 realidade,	 o	 chamado	 lucro	 presumido	 é	 uma
instituição	exclusivamente	fiscal	e	se	constitui	numa	opção	alternativa,	 facultada	pela	legislação	do
imposto	de	renda,	para	que	as	empresas	de	menor	porte	que	não	queiram	apurar	o	lucro	com	base	na
escrituração	contábil	normal	 (lucro	real)	paguem	o	 imposto	de	 renda	baseado	 somente	no	 valor	da
receita	 bruta,	 mediante	 aplicação	 de	 percentuais	 próprios	 previstos	 em	 lei,	 conforme	 o	 tipo	 de
atividade	(o	limite	para	essa	opção,	a	partir	de	1995,	era	de	12.000.000	UFIR	[208]	de	receita	bruta	no
calendário	anterior).[209]
Com	o	fim	da	Unidade	Fiscal	de	Referência	–	UFIR	o	 limite	para	a	opção	de	 tributação	pelo
lucro	presumido	passou	a	ser	medido	em	reais.	De	maneira	que,	atualmente,	o	lucro	presumido	ainda	é	a
forma	de	 tributação	simplificada	do	 Imposto	de	Renda	das	Pessoas	Jurídicas	–	 IRPJ	 e	Contribuição
Social	sobre	o	Lucro	–	CSLL.	A	sistemática	de	tributação	pelo	lucro	presumido	é	 regulamentada	pelos
arts.	 516	 a	 528	 do	Regulamento	 do	 Imposto	 de	Renda	 –	RIR	 (Decreto	 n°	 3.000,	 de	 26.03.1999).	De
maneira	 que	 a	 pessoa	 jurídica	 cuja	 receita	 bruta	 total,	 no	 ano-calendário	 anterior,	 tenha	 sido	 igual	 ou
inferior	a	R$	48.000.000,00	(quarenta	e	oito	milhões	de	reais),	ou	a	R$	4.000.000,00	(quatro	milhões	de
reais)	multiplicado	pelo	número	de	meses	de	atividade	do	ano-calendário	anterior,	quando	inferior	a	12
(doze)	meses,	poderá	optar	pelo	regime	de	 tributação	com	base	no	lucro	presumido.	Observe-se	que	o
primeiro	requisito	é	não	estar	obrigada	ao	regime	de	tributação	pelo	lucro	real.	Assim,	por	exemplo	as
empresas	de	factoring	e	as	que	usufruam	de	benefícios	fiscais,	não	poderão	optar	pelo	lucro	presumido.
No	 entanto,	 a	 partir	 de	 01.01.2014,	 o	 limite	 de	 receita	 bruta	 total	 passou	 a	 ser	 de	R$	 78.000.000,00
(setenta	e	oito	milhões	de	reais),	ou	a	R$	6.500.000,00	(seis	milhões	e	quinhentos	mil	reais)	multiplicado
pelo	 número	 de	 meses	 de	 atividade	 do	 ano-calendário	 anterior,	 quando	 inferior	 a	 12	 (doze)	 meses,
poderá	optar	pelo	regime	de	tributação	com	base	no	lucro	presumido	(Lei	n°	12.814,	de	16.05.2013).
Como	se	vê,	pelo	lucro	presumido,	as	empresas	de	pequeno	e	médio	porte	ficam	dispensadas	de
contabilidade	completa	com	vistas	à	legislação	do	imposto	de	renda.	Inclusive,	o	critério	de	tributação
dessas	 empresas	 sobre	 base	 presumida	 é	 o	 de	mais	 fácil	 aferição	 e	 fiscalização.[210]	 Todavia	 o	 lucro
presumido	não	 constitui	 apenas	 um	benefício	 para	 as	 pequenas	 e	médias	 empresas,	 algumas	vezes	 ele
constitui	também	alternativa	de	penalização.	Por	isso	FÁBIO	FANUCCHI	opina	que	lucro	presumido	é	o
calculado	por	um	coeficiente	legal	aplicado	sobre	a	receita	bruta	da	pessoa	jurídica,	constituindo	um
montante	que	se	admite	como	sendo	o	lucro	que	poderia	ser	o	auferido	efetivamente	pela	empresa.[211]
Assim,	as	pequenas	e	médias	empresas	podem	optar	pelo	 lucro	presumido,	 que	é	determinado
mediante	 aplicação	 de	 percentuais	 previstos	 em	 lei	 sobre	 a	 parcela	 da	 receita	 bruta	 oriunda	 das	 suas
atividades	 previstas	 em	 seu	 objetivo	 social	 (receita	 operacional)e	 aplicação	 de	 percentuais
diferenciados	 sobre	 a	 parcela	 da	 receita	 bruta	 proveniente	 das	 demais	 atividades	 (receita	 não
operacional).	É	de	se	ressaltar	que,	nesse	caso,	apenas	o	lucro	é	presumido,	porém	a	receita	bruta	não	é
presumida.
Lembramos	 que	 a	 tributação	 por	 rendimentos	 ou	 lucros	 presumidos	 está	 sempre	 calcada	 em
elementos	materiais	de	convicção	da	existência	dos	rendimentos	e	de	seu	possível	montante.	Por	isso	o
lucro	 das	 pessoas	 jurídicas	 de	 pequeno	 capital	 e	 baixa	 receita	 bruta	 anual	 é	 presumido	 por	 uma
porcentagem	 fixa,	 considerada	 habitual	 no	 exercício	 de	 comércio,	 aplicável	 sobre	 a	 receita	 bruta	 do
período	que	fornece	elementos	para	a	incidência;	os	rendimentos	das	pessoas	físicas	se	presumem	pelo
movimento	 de	 entradas	 em	 suas	 contas	 bancárias,	 pelos	 gastos	 individuais	 que	 o	 contribuinte	 tenha
realizado	no	período	objeto	da	tributação;	por	suas	aquisições	patrimoniais	no	mesmo	período	etc.[212]
A	regra	geral	na	legislação	fiscal	é	no	sentido	de	que	o	imposto	de	renda	deve	incidir	sobre	o
lucro	tributável,	verificado	a	partir	do	lucro	real.	Todavia,	vimos	que	o	imposto	de	renda	pode	incidir,
também,	sobre	o	lucro	presumido,	ao	invés	de	incidir	a	partir	do	lucro	real.	Além	disso,	o	imposto	de
renda	pode	incidir,	ainda,	sobre	o	chamado	“lucro	arbitrado”,	em	substituição	ao	lucro	real	e	ao	lucro
presumido.
O	 lucro	 arbitrado,	 segundo	 FUGIMI	 YAMASHITA,[213]	 é,	 na	 realidade,	 uma	 alternativa
penalizante	 de	 tributação	 e	 ocorre,	 como	 regra,	 via	 lançamento	 de	 ofício,	 havendo	 exceção	 para	 o
contribuinte	poder	optar	por	essa	modalidade,	quando	conhecida	a	receita	bruta	(§1°	do	art.	47	da	Lei	n°
8.981,	 de	 20.01.1995).[214]	 FÁBIO	 FANUCCHI,	 por	 sua	 vez,	 conceitua	 lucro	 arbitrado	 como	 aquele
obtido	pelo	fisco	através	de	aplicação	de	coeficientes	legais	sobre	a	receita	bruta,	o	ativo	disponível,
realizável	e	imobilizado	ou	o	capital	da	pessoa	jurídica.	Também	para	ele,	o	lucro	arbitrado	deve	se
constituir,	sempre,	em	medida	de	penalização	para	o	contribuinte	inadimplente.[215]
A	esse	respeito	destacamos,	inclusive,	que	não	é	em	todos	os	casos	que	a	presunção	se	manifesta
como	 forma	 de	 penalização.	 Com	 referência	 à	 pessoa	 jurídica	 ela	 está	 autorizada	 pela	 lei,	 como
faculdade	de	que	o	contribuinte	pode	se	utilizar.	Todavia,	em	todos	os	casos,	o	arbitramento	se	manifesta
como	forma	de	penalização	de	inadimplentes	de	obrigações	de	imposto	de	renda.	Por	esta	razão,	lembra
FÁBIO	 FANUCCHI,	 que	 se	 manifestaram	 verdadeiramente	 absurdas	 certas	 práticas	 antigas	 de
contribuintes	do	imposto	de	renda	como	pessoa	jurídica,	face	a	 tolerância	das	autoridades	fazendárias.
Por	 exemplo,	 as	 repartições	 da	 Receita	 Federal	 admitiam	 a	 possibilidade	 de	 “auto-arbitramento”,
baixando	tabelas	dentro	das	quais,	conforme	o	montante	de	suas	receitas	brutas	anuais,	os	contribuintes
inadimplentes	 da	 obrigação	 de	manter	 escrituração	 contábil	 poderiam	 “arbitrar”	 o	 seu	 lucro	 sujeito	 à
tributação,	foi	comum	verificar-se	que	certas	pessoas	jurídicas,	embora	mantendo	escrituração	mercantil,
a	inutilizavam	ou	escondiam	se	“auto-arbitrando”	dentro	da	tal	tabela.	E	o	faziam	por	uma	simples	razão:
o	 lucro	 real	 era	maior	 do	 que	 o	 extraído	 do	 “auto-arbitramento”.	 Economizando	 imposto	 substancial,
prêmio	reservado	por	seu	descumprimento	de	obrigação	tributária	acessória,	o	contribuinte	se	colocava
conforme	a	legislação.[216]
Acrescenta,	 ainda,	 FUGIMI	 YAMASHITA	 que	 a	 taxação	 sobre	 o	 lucro	 arbitrado	 é	 muito
“pesada”,	conforme	seja	ou	não	conhecida	a	receita	bruta	e	de	acordo	com	o	tipo	de	atividade	exercida
pelo	contribuinte	 (arts.	49	a	51	da	Lei	n°	8.981,	de	20.01.1995).[217]	Devemos	esclarecer,	 ainda,	que	a
tributação	pelo	lucro	arbitrado	ocorre	quando:	a)	o	contribuinte	obrigado	à	tributação	com	base	no	lucro
real	 não	mantiver	 escrituração	 na	 forma	 regular;	 b)	 a	 escrituração	mantida	 pelo	 contribuinte	 contiver
vícios,	erros	ou	deficiências	que	a	 tornem	 imprestável	para	determinar	o	 lucro	real	 ou,	 ainda,	 revelar
evidentes	 indícios	 de	 fraude;	 c)	 o	 contribuinte	 se	 recursar	 a	 apresentar	 os	 livros	 e	 documentos	 à
autoridade	fiscal;	d)	o	contribuinte	optar	indevidamente	pela	tributação	com	base	no	lucro	presumido;	e
e)	outros	motivos	relacionados	em	lei.[218]
	
“IMPOSTO	 DE	 RENDA	 -	 ESCRITA	 COM	 FALHAS	 MATERIAIS	 -
ARBITRAMENTO	DO	LUCRO.	As	 falhas	materiais	 encontradas	 na	 escrita	 do
contribuinte,	 de	modo	 a	 tornar	 inconfiável	 a	 apuração	 do	 lucro	 real,	 autorizam
seu	abandono	e	o	conseqüente	arbitramento	dos	lucros”;[219]
	
“IMPOSTO	DE	RENDA	 -	ARBITRAMENTO	DO	LUCRO	 -	 FUNDAMENTO
LEGAL.	O	 arbitramento	 do	 lucro	 é	 uma	 conseqüência	 da	 falta	 de	 escrituração
que	prova	o	lucro	real.	O	fundamento	legal	do	arbitramento	é	a	Portaria	22/79,
do	 Ministério	 da	 Fazenda.	 	 É	 ela	 legítima,	 porquanto	 foi	 expedida	 para
regulamentar	os	arts.	7°	e	8°	do	Decreto-Lei	n°	1.648/78”;[220]
	
IMPOSTO	DE	RENDA	-	PESSOA	JURÍDICA	-	ARBITRAMENTO	DE	LUCRO
-	IRREGULARIDADES	SANÁVEIS.		Escrituração	contábil	com	irregularidades
sanáveis	 ou	 não-escrituração	 do	 Livro	 Registro	 de	 Inventário,	 se	 a	 pessoa
jurídica	pela	sua	atividade	industrial	não	forma	estoque	de	matérias-primas,	são
fatos	que	não	têm	o	condão	de	justificar	o	arbitramento	de	lucros”;[221]
	
“IMPOSTO	DE	RENDA	-	PESSOA	JURÍDICA	-	FALTA	DE	ESCRITURAÇÃO	-
ARBITRAMENTO	DOS	LUCROS.	Cabe	o	arbitramento	de	lucros	se	a	empresa
não	mantém	escrituração,	na	forma	da	legislação	fiscal	e	comercial,	que	permita
a	apuração	com	base	no	lucro	real”;[222]
	
“IMPOSTO	DE	RENDA	-	PESSOA	JURÍDICA	-	FALTA	DE	ESCRITURAÇÃO
DO	LIVRO	DIÁRIO	-	ARBITRAMENTO	DE	LUCROS.		A	falta	de	escrituração
do	diário,	livro	obrigatório	de	escrituração	formalmente	exigida,	sem	atualização
no	prazo	assinado	pela	autoridade,	justifica	o	arbitramento	dos	lucros”;[223]	e
	
“IMPOSTO	 DE	 RENDA	 -	 PESSOA	 JURÍDICA	 -	 LUCRO	 ARBITRADO	 -
TRIBUTAÇÃO	 NA	 CÉDULA	 “F”.	 	 O	 lucro	 arbitrado	 na	 pessoa	 jurídica	 é
considerado	 distribuído	 aos	 sócios	 e	 tributado	 na	 Cédula	 F	 da	 declaração	 de
rendimentos	 de	 cada	 um,	 na	 proporção	 de	 sua	 participação	 no	 capital	 social,
excluída,	 porém,	 a	 quantia	 correspondente	 ao	 valor	 do	 imposto	 exigido	 no
processo-matriz”.[224]
	
Lembramos,	 também,	 que,	 no	 arbitramento,	 dentro	 de	 limites	 que	 a	 legislação	 estabelece,	 a
Fazenda	Nacional	escolhe,	ao	seu	talante,	aquele	que	julgue	ser	o	montante	dos	rendimentos	ou	lucros	do
contribuinte,	valendo-se,	ou	não,	de	evidências	relacionadas	com	as	efetivas	fontes	de	produção	com	que
o	 sujeito	 passivo	 conte.	 O	 arbitramento	 do	 lucro	 das	 pessoas	 jurídicas,	 dentro	 de	 percentuais	 bem
maiores	 do	que	os	 normais	 em	comércio,	 pode	 se	 fixar:	a)	 na	 receita	 bruta	 do	 sujeito	 passivo	 (que	 é
indicativo	de	renda	produzida);	b)	no	capital	 empresarial;	 e	c)	 no	valor	do	ativo	da	 empresa	 (os	dois
últimos,	 nem	 sempre	 relacionados	 com	 a	 produção	 de	 rendas).	 O	 arbitramento	 dos	 rendimentos	 das
pessoas	 físicas	poderá	se	 fixar,	por	exemplo,	no	valor	do	patrimônio,	mesmo	sabendo-se,	de	antemão,
que	nem	todos	os	seus	itens	são	capazes	de	produzir	renda.[225]
Em	resumo,	a	tributação	pelos	rendimentos	ou	lucros	arbitrados	pelo	fisco	ou	dos	que	decorram
de	simples	presunção	de	sua	existência	e	montante,	verifica-se:	a)	junto	às	pessoas	jurídicas,	quando	elas
não	 estejam	 obrigadas	 à	 escrituração	 mercantil	 (as	 de	 pequeno	 capital	 e	 receita	 bruta	 anual,	 estão
dispensadas	 de	 apurar	 a	 base	 de	 cálculo	 do	 imposto	 por	 contabilidade),	 ou,	 quando	 obrigadas	 à
escrituração,	não	a	 realizem;	e	b)	 junto	às	pessoas	 físicas,	quando	não	apresentem	declaração	de	 seus
rendimentos	 ou	 o	 façam	 incompletamente,	 e	 o	 fisco	 supra	 a	 falta	 do	 contribuintearbitrando	 ou
presumindo	rendimentos	por	indícios	que	evidenciem	a	existência	deles	(chamada	“tributação	por	sinais
exteriores	de	riqueza”	ou	“tributação	indiciária”).
Outra	espécie	de	lucro	criada	pela	legislação	tributária	é	o	chamado	“lucro	da	exploração”.	Pela
definição	legal,	o	 lucro	da	exploração	é	aquele	do	período-base,	antes	de	deduzida	a	provisão	para	o
imposto	de	renda,	ajustado	pela	exclusão	dos	seguintes	valores:	a)	a	parte	das	receitas	financeiras	que
exceder	 as	 despesas	 financeiras;	b)	 os	 rendimentos	 e	 prejuízos	 das	 participações	 societárias;	 e	 c)	 os
resultados	não	operacionais.	 	Assim,	pois,	o	 lucro	da	exploração	é	o	 resultado	 líquido	verificado	no
exercício	financeiro,	após	a	exclusão	das	despesas	e	das	receitas	financeiras,	do	resultado	financeiro
de	participações	em	outras	sociedades	e	dos	resultados	não	operacionais.	É	de	se	ressaltar,	 também,
que,	no	cálculo	do	lucro	da	exploração,	é	tomado	por	base	o	lucro	líquido	apurado,	depois	de	deduzida
a	 contribuição	 social	 instituída	 pela	Lei	 n°	 7.689,	 de	 15.12.1988	 (institui	 contribuição	 social	 sobre	 o
lucro	das	pessoas	jurídicas).
O	lucro	da	exploração	é	definido	pelo	art.	19	do	Decreto-Lei	n°	1.598,	de	26.12.1977	(altera	a
legislação	 do	 imposto	 sobre	 a	 renda)[226]	 e	 demais	 alterações	 posteriores.	O	 texto	 legal	 visa,	 segundo
RICARDO	MARIZ	DE	OLIVEIRA,	segregar,	dentro	do	lucro	líquido	total	da	pessoa	jurídica,	o	lucro	da
exploração	de	determinada	atividade	que	seja	submetida	a	algum	regime	especial	de	tributação	ou	seja
beneficiado	 por	 isenção.	 Acrescenta	 ele	 que	 a	 definição	 legal	 de	 lucro	 da	 exploração	 pode	 não	 ser
completa	e	ideal,	mas	seguramente	se	aproxima	do	objetivo	de	identificar	e	separar	o	resultado	líquido
total	 da	 pessoa	 jurídica	 num	 determinado	 período.	 Esclarece	RICARDO	MARIZ	DE	OLIVEIRA	 que,
nesse	sentido,	pode	ocorrer,	 inclusive,	de	haver	 lucro	 líquido	no	período,	mas	ser	negativo	o	 lucro	da
exploração	 da	 atividade	 que	 se	 quer	 destacar.	 Ou,	 ao	 contrário,	 pode	 haver	 prejuízo	 no	 período,
considerada	a	movimentação	total	da	pessoa	jurídica,	mas	haver	lucro	da	exploração	daquela	atividade
em	destaque.	Estas	alterações	decorrem	exatamente	do	fato	de	que	a	pessoa	jurídica	pode	ter,	além	dos
resultados	da	atividade	econômica	que	ela	efetivamente	explora,	ganhos	ou	perdas	de	natureza	financeira,
ou	em	participações	em	outras	pessoas	jurídicas,	ou	nas	vendas	ou	baixas	de	ativos	permanentes,	ou	em
outras	mutações	patrimoniais	não	operacionais.	Inclusive,	anota	RICARDO	MARIZ	DE	OLIVEIRA	que
nas	 hipóteses	 em	 que	 a	 pessoa	 jurídica	 tenha	 mais	 de	 uma	 atividade	 sujeita	 a	 regimes	 fiscais
diferenciados	e	a	contabilidade	não	tenha	condições	para	apurar	segregadamente	o	lucro	da	exploração
de	 cada	 uma	 delas,	 é	 reconhecido	 pelo	 fisco	 federal	 (Parecer	 Normativo/CST	 n°	 49/79),	 e	 tem	 sido
aceito	pela	jurisprudência	do	Conselho	de	Contribuintes,	que	a	determinação	do	lucro	da	exploração	de
cada	uma	dessas	atividades	seja	feita	pela	aplicação,	sobre	o	lucro	da	exploração	total,	da	porcentagem
que	 a	 receita	 dessa	 atividade	 representar	 sobre	 o	 total	 das	 receitas	 das	 atividades	 sujeitas	 a	 regimes
fiscais	especiais.[227]
	
	
3.5	RESULTADO	DA	GESTÃO	ADMINISTRATIVA	DA
EMPRESA
	
	
Rétido	 na	 empresa	 comercial,	 segundo	 HILÁRIO	 FRANCO,	 professor	 da	 Escola	 de	 Comércio
Alvares	 Penteado,	 da	 Faculdade	 de	 Ciências	 Econômicas	 de	 São	 Paulo	 e	 do	 Instituto	 Pedagógico	 do
Ensino	Industrial,	é	o	resultado	da	gestão	administrativa,	concorrendo	para	a	variação	do	patrimônio.
A	gestão	produz	a	movimentação	de	todos	os	componentes	do	patrimônio,	permutando-os,	aumentando-os
ou	diminuindo-os,	de	forma	a	modificar	a	composição	e	o	volume	patrimonial	em	determinado	período.
Assim,	pois,	prossegue	aquele	contabilista,	o	rétido	é	o	produto,	o	resultado	da	atividade	administrativa,
que	 tem	como	objetivo	o	aumento	da	 riqueza	patrimonial.	Não	obstante,	o	 rétido	 poderá	 ser	 negativo,
produzindo	diminuição	do	patrimônio.	Embora	o	rétido	seja	o	resultado	da	movimentação	e	da	variação
de	 todos	 os	 componentes	 patrimoniais,	 a	 modificação	 da	 riqueza	 patrimonial,	 como	 conseqüência	 do
rétido,	 manifesta-se	 no	 patrimônio	 líquido,	 aumentando-o	 ou	 diminuindo-o.	 É	 o	 capital	 próprio	 da
empresa,	portanto,	que	sofre	variação	aumentativa	ou	diminutiva	como	conseqüência	do	rétido,	embora
nem	toda	variação	do	capital	seja	conseqüência	do	resultado	da	gestão	administrativa.[228]
Após	estas	considerações,	sabemos	que	o	rétido	positivo	é	o	lucro	e	o	rétido	negativo	é	a	perda
ou	prejuízo.	Apurado	o	resultado	contábil	da	diferença	entre	o	preço	de	custo	e	o	preço	de	venda,	por
exemplo,	das	mercadorias	vendidas,	encontramos	o	que	se	denomina	lucro	bruto	do	exercício.	Esclarece
HILÁRIO	 FRANCO	 que,	 para	 que	 se	 obtenha	 o	 rétido	do	 exercício	 financeiro	 da	 empresa	 (lucro	 ou
perda),	adiciona-se	ao	lucro	bruto	outras	receitas,	não	decorrentes	da	atividade	principal	da	empresa,	e
se	deduz	as	despesas	operacionais.[229]
Assim,	resultado,	 no	 âmbito	 da	Contabilidade,	 é	 empregado	 como	 sinônimo	de	 rétido,	 ou	 seja,
significa	variação	patrimonial,	 positiva	 ou	negativa.	 	 Pelo	 que	dispõe	o	 art.	 187	da	Lei	 n°	 6.404,	 de
15.12.1976	(dispõe	sobre	as	Sociedades	por	Ações),[230]	demonstração	do	resultado	do	exercício,	nada
mais	é	do	que	apuração	do	lucro	ou	prejuízo	do	exercício	financeiro.	Diz	este	dispositivo	legal	que	“a
demonstração	 do	 resultado	 do	 exercício	 discriminará:	 I-	 a	 receita	 bruta	 das	 vendas	 e	 serviços,	 as
deduções	das	vendas,	os	abatimentos	e	os	impostos;	II-	a	receita	líquida	das	vendas	e	serviços,	o	custo
das	 mercadorias	 e	 serviços	 vendidos	 e	 o	 lucro	 bruto;	 III-	 as	 despesas	 com	 as	 vendas,	 as	 despesas
financeiras,	deduzidas	das	receitas,	as	despesas	gerais	e	administrativas,	e	outras	despesas	operacionais;
IV-	o	lucro	ou	prejuízo	operacional,	as	outras	receitas	e	as	outras	despesas;	V-	o	resultado	do	exercício
antes	do	imposto	de	renda	e	a	provisão	para	o	imposto;	VI-	as	participações	de	debêntures,	empregados,
administradores	e	partes	beneficiárias,	mesmo	na	forma	de	instrumentos	financeiros,	e	de	instituições	ou
fundos	de	 assistência	ou	previdência	de	 empregados,	 que	não	 se	 caracterizem	como	despesa;	 e	VII-	o
lucro	ou	prejuízo	líquido	do	exercício	e	o	seu	montante	por	ação	do	capital	social.	Portanto,	também	para
o	Direito	Empresarial,	 o	 resultado,	 na	 qualidade	 de	 gênero,	 é	 a	 variação	 patrimonial,	 enquanto	 que	 o
lucro	(resultado	positivo)	e	o	prejuízo	(resultado	negativo)	são	as	suas	espécies.
Diz	 o	 caput	 e	 o	 inciso	 XI	 do	 art.	 7°	 da	 Constituição	 Federal	 de	 1988	 que	 “são	 direitos	 dos
trabalhadores	 urbanos	 e	 rurais,	 além	 de	 outros	 que	 visem	 à	 melhoria	 de	 sua	 condição	 social	 ...
participação	nos	lucros,	ou	resultados,	desvinculada	da	remuneração,	e,	excepcionalmente,	participação
na	gestão	da	empresa,	conforme	definido	em	lei”.	É	evidente	que	o	conceito	de	resultado	adotado	pela
Lei	n°	6.404,	de	15.12.1976,	não	se	aplica	ao	termo	“resultado”	utilizado	pelo	legislador	constituinte	ao
elaborar	os	direitos	sociais	dos	trabalhadores	urbanos	e	rurais.	Caso	contrário,	os	trabalhadores	urbanos
e	 rurais	 acabariam	 participando	 tanto	 dos	 lucros	 como	 dos	 prejuízos,	 já	 que,	 como	 vimos,	 resultado,
segundo	 a	 legislação	 comercial	 significa	 qualquer	 variação	 patrimonial	 (lucro	 ou	 prejuízo).	 A
participação	do	empregado	somente	se	dará	quando	os	resultados	da	empresa	forem	positivos.	Ademais,
vale	destacar	que	somente	em	caso	de	sociedade	do	empregado	com	o	empregador	é	que	aquele	pode
participar	 nas	 perdas.	 Além	 disso	 o	 art.	 2°	 da	 Consolidação	 das	 Leis	 do	 Trabalho	 é	 claríssimo:
“considera-se	 empregador	 a	 empresa,	 individual	 ou	 coletiva,	 que	 assumindo	 os	 riscos	 da	 atividadeeconômica,	 admite,	 assalaria	 e	 dirige	 a	 prestação	 pessoal	 de	 serviços”.	 Como	 se	 vê,	 somente	 o
empregador	 assume	 os	 riscos	 da	 atividade	 econômica.	 Em	 hipótese	 alguma	 o	 empregado	 assume	 os
riscos	da	atividade	econômica,	a	não	ser	que	torne-se,	também,	proprietário	de	uma	parte	do	capital	da
sociedade.	Portanto,	para	efeito	de	direitos	sociais	dos	trabalhadores	urbanos	e	rurais,	especialmente	de
participação	nos	lucros	ou	resultados	da	empresa,	o	termo	“resultado”	não	é	sinônimo	do	termo	“rétido”
e	também	não	se	identifica	com	os	resultados	do	exercício,	previstos	na	Lei	n°	6.404,	de	15.12.1976.	Da
mesma	forma,	os	termos	“trabalhadores	urbanos	e	rurais”,	como	vimos,	só	se	referem	aos	trabalhadores
com	vínculo	empregatício,	ou	seja,	aos	trabalhadores-empregados.
Tanto	 a	Medida	 Provisória	 n°	 794,	 de	 29.12.1994,	 como	 suas	 sucessoras,	 inclusive	 a	Medida
Provisória	n°	1.982-77,	de	2000,	que	foi	finalmente	convertida	na	Lei	n°	10.101,	de	19.12.2000	(dispõe
sobre	a	participação	dos	trabalhadores	nos	lucros	ou	resultados	da	empresa)	logo	em	seu	art.	1°,	dispõe
que	 [esta	Media	Provisória/Lei]	 “regula	a	participação	dos	 trabalhadores	nos	 lucros	ou	resultados	da
empresa	como	instrumento	de	integração	entre	o	capital	e	o	trabalho	e	como	incentivo	à	produtividade,
nos	 termos	 do	 art.	 7°,	 inciso	 XI,	 da	 Constituição	 Federal”.	 Portanto,	 nela	 também	 se	 adota	 a	 mesma
terminologia	utilizada	pelo	legislador	constituinte.	Assim,	dúvida	não	resta	que	resultado,	para	efeito	de
participação	do	empregado,	não	significa	participação	no	 rétido	ou	nos	 lucros	e	nas	perdas,	mas,	 sim,
como	 ressaltam	 OCTÁVIO	 BUENO	MAGANO	 e	 ESTÊVÃO	MALLET,	 a	 conseqüência,	 o	 efeito,	 o
produto	de	uma	operação,	o	aumento	de	riqueza	decorrente	da	atividade	exercida.[231]
Procuramos	 no	 capítulo	 anterior	 e	 neste	 capítulo	 examinar	 os	 conceitos	 sobre	 a	 empresa,	 o
empregador,	 o	 trabalhador,	 o	 empregado,	 o	 lucro	 e	 o	 resultado.	 Com	 isso,	 parece-nos	 encerrada	 a
primeira	 fase	 de	 nossos	 estudos,	 na	 qual	 procuramos	 proporcionar	 esclarecimentos	 preliminares	 a
respeito	 de	 institutos	 sobre	 os	 quais	 sustentam-se	 a	 participação	 dos	 empregados	 no	 lucro	 e	 a
participação	dos	empregados	no	resultado	da	empresa.	Nesse	momento	de	nossos	estudos,	acreditamos
que	o	caminho	para	um	exame	mais	aprofundado	a	respeito	da	participação	dos	empregados	no	lucro	e	no
resultado	 da	 empresa	 já	 encontra-se	 aberto	 o	 suficiente	 para	 podermos	 prosseguir	 na	 abordagem	 dos
pontos	 mais	 importantes	 abrangidos	 pelo	 tema	 central	 da	 obra.	 De	 forma	 que,	 no	 capítulo	 seguinte
procuraremos	 reunir	 dados	 suficientes	 para	 a	 construção	 de	 uma	 teoria	 geral	 da	 participação	 dos
empregados	nos	lucros	e	nos	resultados	da	empresa,	abordando	a	definição	de	ambas	as	participações,
previstas	 no	 texto	 constitucional,	 a	 evolução	 histórica	 desses	 institutos,	 o	 seu	 fundamento,	 natureza
jurídica,	formas	e	demais	generalidades.
CAPÍTULO	4	–	TEORIA	GERAL	DA
PARTICIPAÇÃO	DOS	EMPREGADOS	NOS
LUCROS	E	NOS	RESULTADOS	DA
EMPRESA
	
	
4.1	DEFINIÇÃO	DE	PARTICIPAÇÃO	DOS
EMPREGADOS	NOS	LUCROS
	
	
No	 capítulo	 anterior	 vimos	 as	 definições	 de	 lucro	 e	 suas	 várias	 modalidades.	 Assim,	 dando
seqüência	 aos	 nossos	 estudos,	 agora	 trataremos	 a	 respeito	 da	 participação	 nos	 lucros,	 que	 é	 o	 tema
central	de	nosso	trabalho.	Iniciaremos	o	estudo	da	participação	nos	lucros	pela	sua	definição,	a	fim	de
que,	conforme	for	evoluindo	nossas	citações	e	comentários,	não	surjam	muitas	dúvidas	a	respeito	desse
instituto.
Antes	de	tudo,	devemos	recordar	as	palavras	do	professor	catedrático	de	Direito	do	Trabalho	da
Universidade	Federal	da	Bahia	e	ex-Ministro	do	Trabalho	JOSÉ	MARTINS	CATHARINO.	Para	ele	a
participação	nos	lucros	corresponde	a	espécie	do	gênero	salário	associativo.		Seja	qual	for	a	origem	da
participação,	 em	 todos	 os	 casos	 exerce	 função	 associativa.	 Inclusive,	 ele	 estabelece	 uma	 escala,	 com
quatro	 etapas,	 ou	 seja,	 uma	 escala	 contendo	 quatro	 espécies	 distintas	 de	 salário	 associativo:	 a)
participação	do	trabalhador	nos	resultados	brutos	por	si	obtidos,	ou	a	participação	nos	produtos	da
empresa;	 b)	 participação	 nos	 lucros;	 c)	 participação	 no	 capital	 empresário;	 e	 d)	 participação	 do
trabalhador	na	direção	da	empresa.[232]
Já	no	Congresso	Internacional	de	Participação	nos	Lucros,	realizado	em	Paris,	no	ano	de	1889,
procurou-se	definir	participação	nos	lucros.	Naquela	ocasião	cogitou-se	que	a	participação	nos	lucros
nada	mais	era	do	que	convenção,	livremente	feita,	pela	qual	os	empregados	recebem	parte,	prefixada,
dos	lucros	(agreement	freely	entered	into,	by	which	the	employees	receive	a	share,	fixed	in	advance,	of
the	profits).	O	Congresso	Internacional	de	Participação	nos	Lucros	já	concebia	o	direito	e	o	dever,	a
pretensão	e	a	obrigação,	resultantes	do	acordo;	porém	não	excluía	o	acordo	no	plano	somente	moral.	Daí
a	 sua	 política	 de	 juridicizar	 esses	 acordos	 fora	 do	 mundo	 jurídico.	 Posteriormente,	 a	Comissão	 do
Senado	 dos	 Estados	 Unidos	 da	 América,	 em	 1939,	 procurou	 ver	 mais	 de	 perto	 os	 fatos	 da	 vida
industrial,	a	que	chamou	de	“participação	nos	lucros”,	para	definir	profit-sharing	 (divisão	do	lucro	ou
participação	 nos	 lucros)	 como	 todos	 os	 planos	 de	 benefício	 ao	 empregado	 para	 o	 qual	 o	 empregador
contribui	com	alguma	soma,	ou	devido	ao	qual	o	empregador	acarreta	com	alguma	despesa.	Se,	por	um
lado,	essa	definição	apanha	fatos	que	a	definição	do	Congresso	Internacional	de	Participação	nos	Lucros
de	1889	não	atingia,	por	outro	lado,	abrange	outros	fatos,	que	não	cabem	no	conceito	de	participação	nos
lucros.	 Por	 exemplo,	 essa	 definição	 alcança	 também	 as	 verbas	 distribuídas	 discricionariamente	 pelos
diretores	e	gerentes,	sem	fixação	prévia	de	quota	para	os	beneficiados.[233]
OCTÁVIO	BUENO	MAGANO	e	ESTEVÃO	MALLET,	ao	comentar	a	 respeito	desse	 instituto,
destacam	que	participar	significa	ter	parte	em	alguma	coisa.	Participar	em	lucros	quer	dizer,	então,	 ter
parte	na	atividade	econômica	do	empresário.	Acrescentam	eles	que,	uma	vez	pagos	por	este	os	fatores
da	produção	(capital,	natureza	e	trabalho),	o	remanescente	constitui	o	lucro	a	ser	objeto	de	partilha.	Esta
geralmente	é	feita	entre	os	sócios	de	um	empreendimento.	Trata-se,	portanto,	de	remuneração	própria	do
contrato	 de	 sociedade.	Não	 obstante	 a	 sua	 compatibilidade	 com	o	 contrato	 de	 trabalho,	 segundo	 eles,
deve	 ser	 reconhecida,	 desde	 que	 se	 apresente	 com	 caráter	 supletivo.	 A	 ressalva	 explica-se	 pela
impossibilidade	de	ser	a	remuneração	totalmente	aleatória.[234]
O	jurista	e	político	brasileiro	ARNALDO	LOPES	SÜSSEKIND	(Rio	de	Janeiro,	09.07.1917	–
Rio	 de	 Janeiro,	 09.07.2012)	 entende	 que	 participação	 nos	 lucros	 da	 empresa	 constitui	 método	 de
remuneração	com	o	qual	se	assegura	ao	beneficiário	uma	parcela,	percentualmente	fixada,	dos	lucros
obtidos	 pelo	 empreendimento	 econômico.	 Para	 ele,	 tal	 como	 na	 remuneração	 à	 base	 da	 comissão,	 os
mencionados	proventos	corresponderão	a	salário	variável	se	o	beneficiário	for	empregado	da	empresa;
se,	ao	contrário,	resultarem	da	existência	de	um	contrato	caracteristicamente	de	sociedade,	não	poderão
ser	conceituados	como	salário.[235]
O	 jurista	 afro-brasileiro	 e	 professor	 da	 Universidade	 de	 São	 Paulo	 –	 USP	 ANTÔNIO
FERREIRA	 CESARINO	 JÚNIOR	 (16.03.1906	 –	 10.03.1992),	 por	 sua	 vez,	 prefere	 a	 participação
acionária	do	empregado	ao	invés	de	participação	nos	lucros.	Todavia,	ainda	assim,	por	participação	nos
lucros	entende	que	é	a	atribuição	facultativa	ou	obrigatória	pelo	empregador	ao	empregado,	além	do
justo	salário	 legal	ou	contratual	a	ele	devido,	de	uma	parte	dos	 resultados	 líquidos	exclusivamente
positivos	da	atividade	econômica	da	empresa.[236]
Muitas	vezes	a	definiçãode	participação	nos	lucros	varia	conforme	é	constituída	a	expectativa
ou	 o	 direito	 de	 participar.	 	 Sabemos	 que	 a	 participação	 nos	 lucros	 pode	 ser:	 a)	 a	 líbito	 dos
empregadores,	ou	seja,	por	faculdade	dos	empregadores	 (distribuída	como	bonificação	de	fim	de	ano,
nas	indústrias);	b)	por	dever	moral;	c)	por	ato	unilateral	ou	convenção,	 isto	é,	em	virtude	de	negócio
jurídico;	ou	d)	como	eficácia	de	fato	jurídico,	em	virtude	de	incidência	de	regra	jurídica	sobre	suporte
fático	em	que	há	os	elementos	“empresa”,	“empregadores”,	“empregados”	e	“lucros”.[237]	Todavia,	nem
todos	 concordam	 integralmente	 com	 isto.	 Por	 exemplo,	ARNALDO	LOPES	SÜSSEKIND	opina	 que	 a
participação	nos	lucros	não	se	confunde	com	os	prêmios	ou	bonificações	arbitrariamente	outorgados	pelo
empregador,	 já	que	decorre	de	ajuste	contratual,	convenção	coletiva	ou	 imposição	 legal,	não	podendo,
assim,	ser	suprimida	ou	reduzida.[238]
Considerando	 participação	 nos	 lucros	 apenas	 como	 convenção,	 no	 II	 Congresso	 de	 Direito
Social,	reunido	em	São	Paulo,	no	mês	de	maio	de	1956,	concluiu-se	que	por	participação	nos	lucros	da
empresa	é	de	entender-se	a	convenção	tácita	ou	expressa,	no	contrato	de	trabalho,	segundo	a	qual	o
trabalhador,	além	 do	 salário	 pessoal	 convencionado,	 fixo	 ou	 não,	 costumeiro	 ou	 profissional,	 tem
direito	a	receber	uma	parte	variável,	conforme	os	resultados	da	empresa.
O	 advogado	 e	 jurista	 clássico	 NÉLIO	 REIS,	 em	 uma	 ocasião,	 opinou	 no	 sentido	 de	 que
participação	 nos	 lucros	 é	 a	 convenção,	no	contrato,	 pela	 qual	 o	 trabalhador	 tem	 direito	 a	 receber
salário	consistente	em	uma	parte	fixa	e	outra	variável,	previamente	determinada	e	calculada	sobre	o
lucro	da	empresa.	Em	outra	ocasião,	NÉLIO	REIS	emitiu	definição	válida	apenas	para	os	países	em	que
existam	 legislação	 específica	 em	 vigor.	 	 Por	 esta	 definição,	 participação	 nos	 lucros	 seria	 “a
determinação	 em	 lei	 segundo	 a	 qual	 todo	 assalariado	 terá	 direito	 a	 uma	 quota	 em	 dinheiro,
correspondente	a	percentagem	determinada	por	lei	e	aplicada	ao	resultado	líquido	da	empregadora	de
cada	exercício,	e	obrigatoriamente	paga	dentro	do	prazo	estabelecido”.[239]	Todavia,	JOSÉ	MARTINS
CATHARINO,	 rejeita	 a	 primeira	 definição	 de	NÉLIO	REIS	 em	virtude	 de	 não	 ser	 sempre	 necessário
haver	salário	fixo,	para	que	a	participação	seja	parcela	retributiva	e,	 também,	que	o	salário	invariável
pode	 ser	 garantido	 por	 lei	 e	 não	 por	 convenção	 contratual	 propriamente	 dita.	 Por	 isso,	 ele	 define
participação	nos	 lucros	como	o	salário	condicionado,	suplementar	 e	 incerto,	determinado,	 expressa
ou	tacitamente,	seja	no	momento	da	celebração	do	contrato	de	trabalho,	seja	durante	sua	vigência,	e
cujo	valor	depende	de	lucro	empresário.[240]	De	qualquer	forma	é	de	se	destacar	que	tanto	NÉLIO	REIS
como	 JOSÉ	MARTINS	 CATHARINO	 definiram	 participação	 nos	 lucros	 como	 convenção	 ou	 negócio
jurídico	e	o	mesmo	NÉLIO	REIS	emitiu	uma	segunda	definição	considerando	a	participação	compulsória,
como	imposição	legal.
Definindo	 participação	 nos	 lucros	 como	 obrigação	 legal,	 o	 advogado	 e	 professor	 paranaense
JOÃO	RÉGIS	 FASSBENDER	TEIXEIRA	 (1936-1998)	 diz	 que	 é	 “a	 determinação	 em	 lei	 segundo	 a
qual	 todo	 assalariado	 terá	 direito	 a	 uma	 quota	 em	 dinheiro,	 correspondente	 a	 percentagem
determinada	 por	 lei	 e	 aplicada	 ao	 resultado	 lucro	 da	 empregadora	 de	 cada	 exercício,	 e
obrigatoriamente	paga	dentro	do	prazo	estabelecido”.[241]
Sobre	o	direito	“a	uma	quota	em	dinheiro”,	esclarecemos	que	por	quota	de	participação	deve
ser	 entendido	 o	 que	 cada	 participante	 percebe	 do	 quanto	 participável	 (montante	 equivalente	 a	 um
percentual	do	lucro	líquido	destinado	à	distribuição	entre	os	empregados).	Há	uma	grande	variedade	de
métodos	 para	 se	 determinar	 a	quota	de	participação	 dos	 empregados	 no	quanto	 participável,	 que	 se
separou	do	lucro	líquido	apurado	no	exercício	financeiro.	Esses	métodos	vão	desde	o	critério	afetivo	ou
discricionário,	em	que	o	empregador,	a	comissão	ou	o	agente	dele	distribui	o	quanto	participável,	até	o
critério	da	verificação	da	parcela	com	que	o	empregado,	por	sua	eficiência	e	produtividade,	concorreu
para	o	lucro.	Aí	também	se	inclui	o	critério	da	participação	igualitária,	através	do	qual	se	distribui	quota
exatamente	igual	para	todos	os	empregados	participantes.
Ao	 abordar	 o	 conceito	 de	 participação	 nos	 lucros	 o	 advogado,	 jornalista	 e	 político	 brasileiro
PAULO	SARASATE	 FERREIRA	LOPES	 (Fortaleza,	 03.11.1908	 -	 Rio	 de	 Janeiro,	 23.06.1968)	 cita	 a
opinião	 de	 vários	 autores.	 Entre	 eles,	 a	 de	 GEORGES	 BRY	 no	 sentido	 de	 que	 “é	 a	 modalidade	 do
contrato	de	trabalho	segundo	o	qual	o	trabalhador	recebe	do	patrão,	além	do	seu	salário,	uma	parte
nos	 benefícios	 da	 empresa,	 não	 como	 associado	 desta,	 senão	 como	 trabalhador	 que	 coopera	 na
produção.	Cita,	 também,	 o	 conceito	 de	CHARLES	ROBERT,	 no	 sentido	 de	 que	 “a	 participação	 nos
lucros	 é	 uma	convenção	 livre,	 expressa	ou	 tácita,	 conforme	 o	 caso,	 pela	 qual	 um	patrão	 dá	 ao	 seu
empregado,	além	do	salário	normal,	uma	parte	dos	seus	benefícios,	sem	participação	nas	perdas”;	o
conceito	 do	 advogado	 alemão	 HANS	 FRANK	 (Karlsruhe,	 23.05.1900	 -	 Nuremberg,	 16.10.1946)	 no
sentido	 de	 que	 “é	 o	 direito	 concedido	 a	 numerosas	 categorias	 ou	 ao	 total	 dos	 assalariados,	 a	 uma
quota	 do	 lucro	 líquido	 da	 empresa,	 distribuída	 segundo	 princípios	 estabelecidos	 por	 compromisso
livre	 ou	 por	 lei”;	 e	 o	 conceito	 formulado	 pelos	 juristas	 espanhóis	 GASPAR	 BAYON	 CHACÓN	 e
EUGENIO	PEREZ	BOTIJA	no	sentido	de	que	participação	nos	lucros	“é	o	direito	de	os	trabalhadores
receberem	uma	compensação	proporcional	aos	 lucros	obtidos	pela	empresa,	 sem	contribuir,	 se	 for	o
caso,	para	compensar	as	perdas”.[242]
No	momento,	 há	 também	 que	 se	 distinguir	 o	 “direito	 ao	 lucro”	 e	 o	 “direito	 a	 participar	 do
lucro”.		Esses	dois	institutos	são	inteiramente	distintos	e	não	se	confundem	em	momento	algum.	Esclarece
VALDIR	DE	OLIVEIRA	ROCHA	que	o	direito	ao	lucro	é	um	direito	primário,	que	resulta	diretamente
do	status	de	sócio,	acionista	ou	 titular	da	empresa	 (aquele	que	exercita	a	 livre	 iniciativa	econômica),
enquanto	 que	 o	 direito	 a	 participar	 do	 lucro	 é	 um	 direito	 secundário,	que	 resulta	 indiretamente	 de
lucros	 terem	 sido	 apurados,	 verificados	 apenas	 por	 quem	 possa	 fazê-lo,	 e	 ter	 sido	 convencionada
participação	neles.[243]
A	nosso	ver,	a	participação	dos	empregados	nos	lucros	da	empresa	pode	ser	definida	como	o
benefício	 de	 natureza	 pecuniária	 recebido	 pelo	 empregado,	 desvinculado	 e	 sem	 prejuízo	 da	 sua
remuneração	 pessoal	 convencionada,	 correspondente	 a	 distribuição	 de	 parte	 prefixada	 do	 lucro
líquido	 da	 empresa	 apurado	 ao	 final	 do	 exercício	 financeiro,	 em	 virtude	 de	 liberalidade	 do
empregador,	de	contrato,	de	convenção	coletiva	ou	de	determinação	legal.
	
	
4.2	DEFINIÇÃO	DE	PARTICIPAÇÃO	DOS
EMPREGADOS	NOS	RESULTADOS
	
	
No	 capítulo	 anterior,	 vimos	 a	 definição	 de	 resultado.	 	 Vimos,	 também,	 que	 o	 conceito	 de
resultado	previsto	na	Lei	n°	6.404/1976	Lei	n°	6.404,	de	15.12.1976,	não	se	aplica	ao	termo	“resultado”
utilizado	pelo	 legislador	constituinte	ao	 fixar	os	direitos	sociais	do	 trabalhador	urbano	e	 rural.	Assim,
como	dito	anteriormente,	resultado,	para	efeito	de	participação	do	empregado,	não	significa	participação
no	 rétido	 ou	 nos	 lucros	 e	 nas	 perdas,	 mas,	 sim,	 como	 ressaltam	 OCTÁVIO	 BUENO	 MAGANO	 e
ESTÊVÃO	MALLET,	 a	 conseqüência,	 o	 efeito,	o	 produto	de	 uma	 operação,	o	 aumento	 de	 riqueza
decorrente	da	atividade	exercida.[244]	Por	isso,	uma	coisa	é	certa,	logo	se	percebe	que	participação	no
lucro	não	é	a	mesma	coisa	que	participação	no	resultado.	Para	a	legislação	francesa,	em	especial	oart.
2°	 da	Ordenação	 86-1134,	 de	 21.10.86,	 a	participação	 no	 resultado	 está	mais	 ligada	 ao	 aumento	 de
produtividade.[245]	 Isto	 é,	 a	 participação	 no	 resultado	 tem	 a	 natureza	 de	 incentivo	 direto	 por	 maior
produção	ou	maior	rendimento	do	trabalho.
Diga-se	 de	 passagem	 que	 o	 inciso	 XI	 do	 art.	 7°	 da	 Constituição	 Federal	 foi	 o	 primeiro
dispositivo	constitucional	que	incluiu	a	participação	dos	empregados	nos	resultados	da	empresa.	Antes,
só	havia	previsão	da	participação	dos	empregados	nos	lucros	da	empresa.	Como	não	poderia	deixar	de
ser	muita	confusão	tem	surgido	do	termo	“resultado”,	ao	ponto	de	se	confundir	lucros	com	resultados.	Por
sinal,	 eminente	 jurista	 ARION	 SAYÃO	 ROMITA	 concorda	 que	 uma	 leitura	 apressada	 ou	 desavisada
poderia	sugerir	a	 ideia	de	sinonímia,	mas	esta	seria	uma	 interpretação	errada.	Esclarece	ele	que	a	 lei,
qualquer	 lei,	 inclusive	 a	 Constituição,	 não	 contém	 palavras	 inúteis,	 de	 sorte	 que	 cabe	 ao	 intérprete
detectar	o	significado	do	vocábulo	“resultados”,	necessariamente	distinto	do	significado	de	“lucros”.[246]
ORLANDO	GOMES	DOS	SANTOS	e	ELSON	GOTTSCHALK,	a	respeito	do	mencionado	texto
constitucional,	entendem	que	a	Constituição	de	1988	ao	falar	em	participação	nos	lucros	ou	resultados
desvinculada	da	remuneração,	parece	expressar	que	o	constituinte	pretendeu	separar	a	participação	em
dinheiro	 ou	 espécie	 da	 participação	 nos	 frutos	 ou	 in	 natura.	 O	 quinhão	 no	 frete,	 que	 é	 forma	 de
participação	 usual	 no	 setor	 marítimo,	 é,	 também,	 modalidade	 de	 participação	 nos	 resultados	 da
atividade	econômica.	A	comissão	 sobre	os	negócios	 levados	a	bom	termo	pelo	empregado	é	 forma	de
participação	 nos	 resultados,	 mas	 não	 é	 participação	 nos	 lucros,	 por	 isso	 não	 se	 desvincula	 da
remuneração.	 Para	 eles,	 o	 texto	 constitucional	 cria	 embaraçosa	 interpretação	 pela	 sua	 dúbia	 redação.
Participação	 nos	 resultados	 pode	 ser,	 segundo	 eles,	 até,	 o	 salário	 utilidade,	 quando	 esta	 resulta	 da
produção	da	empresa,	por	exemplo:	o	pão	da	padaria	em	que	trabalha	o	empregado.[247]
O	art.	2°	da	Lei	n°	10.101,	de	19.12.2000	(dispõe	sobre	a	participação	dos	trabalhadores	nos	lucros	ou
resultados	da	 empresa	 e	 dá	outras	 providências),	 dispõe	que	 “a	participação	nos	 lucros	 ou	 resultados
será	objeto	de	negociação	entre	a	empresa	e	seus	empregados,	mediante	um	dos	procedimentos	a	seguir
descritos,	 escolhidos	 pelas	 partes	 de	 comum	 acordo:	 I-	 comissão	 paritária	 escolhida	 pelas	 partes,
integrada,	também,	por	um	representante	indicado	pelo	sindicato	da	respectiva	categoria;	II-	convenção
ou	acordo	coletivo”;	e	o	seu	§1°	estabelece	que	“dos	 instrumentos	decorrentes	da	negociação	deverão
constar	regras	claras	e	objetivas	quanto	à	fixação	dos	direitos	substantivos	da	participação	e	das	regras
adjetivas,	 inclusive	mecanismos	de	aferição	das	 informações	pertinentes	ao	cumprimento	do	acordado,
periodicidade	 da	 distribuição,	 período	 de	 vigência	 e	 prazos	 para	 revisão	 do	 acordo,	 podendo	 ser
considerados,	entre	outros,	os	seguintes	critérios	e	condições:	I-	índices	de	produtividade,	qualidade	ou
lucratividade	da	empresa;	II-	programas	de	metas,	resultados	e	prazos,	pactuados	previamente”.
Como	 se	 vê,	 este	 texto	 legal	 permite	 a	 interpretação	 no	 sentido	 de	 que	 a	 participação	 dos
empregados	nos	resultados	da	empresa	depende	de	pactuação	de	metas	previamente	ajustadas,	que	ao
serem	atingidas	os	 empregados	 fazem	 jus	 a	 benefícios	 de	natureza	pecuniária,	 também	 previamente
ajustados.
Daí,	 OCTÁVIO	 BUENO	MAGANO	 dizer	 que	 participar	 nos	 lucros	 é	 ter	 parte	 na	 atividade
produtiva	 depois	 de	 pagos,	 pelo	 empresário,	 os	 fatores	 da	 produção	 (natureza,	 capital	 e	 trabalho),
enquanto	 que	 a	 participação	 nos	 resultados,	 segundo	 a	 Lei	 n°	 10.101,	 de	 19.12.2000,	 constitui	 o
recebimento	de	benefício	decorrente	de	operação	relacionada	com	índices	de	produtividade,	qualidade
de	produto	ou	realização	de	metas	previamente	programadas.[248]
Assim,	 nesta	 hipótese,	 a	 participação	 nos	 resultados	 diz	 respeito	 pura	 e	 simplesmente	 a
produtividade,	ao	contrário	da	participação	nos	lucros,	que	diz	respeito	exclusivamente	a	rentabilidade
da	empresa.	Lembramos	que	o	empreendimento	pode	ser	extremamente	rentável	com	baixa	produtividade
ou	pode	ser	pouco	rentável	com	alta	produtividade,	tudo	depende	muito,	entre	outros	fatores,	da	situação
econômica	do	país	e	até	mesmo	do	volume	de	receitas	não	operacionais	da	empresa.
No	 mesmo	 sentido,	 diz	 ARION	 SAYÃO	 ROMITA,	 professor	 de	 Direito	 do	 Trabalho	 na
Faculdade	de	Direito	da	Universidade	do	Estado	do	Rio	de	Janeiro,	que	o	teor	do	inciso	II	do	§1°	do	art.
2°	da	Medida	Provisória	n°	955,	de	24	de	março	de	199	Lei	n°	10.101,	de	19.12.2000	Lei	n°	10.101,	de
19.12.2000,	 relaciona	 claramente	 a	 expressão	 “participação	 nos	 resultados”	 a	 programas	 de	 metas,
resultados	e	prazos,	pactuados	previamente.	No	desenvolvimento	da	atividade	econômica	da	empresa,
determinado	 objetivo	 pode	 ser	 fixado,	 previamente,	 para	 certo	 setor.	 Estabelecida	 a	 meta	 para	 a
produção,	 ela	 poderá	 ser,	 ou	 não,	 atingida.	 Uma	 vez	 que	 seja	 alcançado	 o	 alvo	 predeterminado,	 o
empregado	 participará	 do	 resultado,	 consoante	 o	 ajuste	 previamente	 celebrado.	 Segundo	 ele,	 esta
participação	independe	do	lucro	que	a	empresa	obterá,	ou	não,	no	exercício	e	poderá	ocorrer	mesmo	na
hipótese	de	o	balanço	anual	registrar	prejuízos.	Conclui	ARION	SAYÃO	ROMITA	que,	se	a	meta	setorial
foi	 alcançada,	 pouco	 importa	 que	 o	 balanço	 da	 sociedade	 não	 registre	 lucros,	 pois,	 neste	 caso,	 a
participação	dos	trabalhadores	se	dará	não	nos	lucros,	mas	sim	nos	resultados.[249]
Além	dele,	FUGIMI	YAMASHITA	também	diz	que	nada	impede	que	o	empregado	participe	de
uma	 campanha	 de	 produtividade	 em	 determinadas	 circunstâncias,	 ganhando	 um	 plus	 (participação	 no
resultado	de	um	determinado	programa),	independentemente	de	ter	ou	não	dado	lucro	naquele	exercício.
Segundo	ele,	tem-se	notícia	que	algumas	empresas	que	operam	no	ramo	de	“fast	food”	adotam	um	método
de	incentivo	à	produtividade	tipo:	atendimento	de	“x”	clientes	por	minuto.	As	modalidades	de	incentivo	à
produtividade	utilizadas	pelas	empresas	são	múltiplas.[250]
Acrescenta	 ARION	 SAYÃO	 ROMITA	 que	 outra	 possível	 interpretação	 da	 participação	 no
resultado	prevista	no	texto	constitucional	é	a	que	resulta	de	planos	de	participação	adotados	em	diversos
países.	Nos	Estados	Unidos,	por	exemplo,	muitas	empresas	se	recusam	a	aceitar	a	participação	e	muitas
delas	abandonaram	planos	anteriormente	adotados	por	entenderem	que	a	participação	nos	lucros	é	muito
menos	 eficaz	 como	 incentivo	do	que	os	 sistemas	de	pagamento	 sobre	os	 resultados,	 com	 remuneração
diretamente	 relacionada	 com	 a	 produção	 do	 trabalhador,	 mesmo	 porque	 este	 recebe	 imediatamente	 a
recompensa	por	seu	esforço,	enquanto	a	participação	nos	lucros	é	remota,	exigindo	a	apuração	geral	do
exercício	anual.	Segundo	ele,	na	Alemanha,	a	terceira	lei	sobre	incentivo	à	formação	do	patrimônio	do
trabalhador,	de	1975,	com	as	alterações	de	16	de	agosto	de	1977,	prevê,	nos	arts.	7°	a	11,	uma	forma	de
participação	 nos	 resultados	 que	 pressupõe	 economia	 de	 material,	 redução	 do	 desperdício	 e	 melhor
aproveitamento	 do	 tempo,	 além	 da	 melhoria	 dos	 métodos	 de	 trabalho	 etc.	 Esta	 participação	 nos
resultados	pode	ser	estipulada	mediante	contrato	 individual,	acordo	de	empresa	ou	convenção	coletiva
de	trabalho.[251]
Destacamos	 que,	 dentre	 os	 critérios	 de	 participação	 nos	 resultados	 (eficiência,	 produtividade
individual	 ou	 coletiva,	 tempo	 de	 serviço,	 freqüência,	 encargos	 de	 família	 etc.),	 o	 que	 mais	 atende	 à
finalidade	 da	 instituição	 da	 participação	 dos	 empregados	 nos	 resultados	 é	 a	 eficiência	 ou	 a
produtividade,depois,	a	freqüência.	Tanto	é	que,	aqui	mesmo	no	Brasil,	nos	recentes	acordos	acertados
entre	os	metalúrgicos	e	as	cinco	grandes	montadoras	de	São	Paulo,	o	pagamento	do	valor	da	participação
nos	 resultados	 está	 condicionado	 ao	 cumprimento	 de	 metas,	 principalmente	 do	 aumento	 da	 produção
(critério	 da	 produtividade),	 da	 qualidade	 (critério	 da	 eficiência)	 e	 do	 fato	 de	 as	 faltas	 e	 atrasos	 não
poder	ultrapassar	a	4,7%	das	horas	trabalhadas	(critério	da	frequência).
Por	 outro	 lado,	 na	maioria	 dos	 países,	 a	 realidade	mostra	 que	 a	 participação	 nos	 lucros	 está
longe	 de	 se	 integrar	 definitivamente	 aos	 costumes	 inerentes	 à	 relação	 de	 trabalho.	A	 participação	 nos
lucros,	na	maior	parte	das	vezes,	sob	a	forma	de	gratificação	de	balanço,	serve	apenas	para	beneficiar
altos	 empregados	 ou	 aos	 prepostos	 que	 atuam	 na	 orientação	 geral	 dos	 negócios.	 Para	 os	 empregados
comuns,	de	um	modo	geral,	prefere-se	incentivá-los	através	da	participação	nos	resultados,	expressa	em
valor	fixo,	não	dependente	do	total	dos	lucros	auferidos	pela	empresa.
Considerando	 a	 participação	 nos	 resultados	 como	 incentivo	 à	 produtividade,	 muitas	 vezes	 é
difícil	distinguir	entre	esta	espécie	de	retribuição	não	vinculada	a	remuneração	e	o	prêmio	e	bonificações
que	integram	o	salário.
	
“SALÁRIO	-	PRÊMIO	ASSIDUIDADE	-	INTEGRAÇÃO.	O	prêmio	assiduidade
instituído	sem	o	implemento	de	qualquer	condição	integra	o	salário	do	obreiro”;
[252]	e
	
“PRÊMIO-PRODUÇÃO	-	NÃO	INTEGRAÇÃO	AO	SALÁRIO.	Só	se	justifica	a
integração	do	prêmio-produção	nas	parcelas	ligadas	à	rescisão	contratual	e	nos
repousos	remunerados	quando	tenha	caráter	de	habitualidade”.[253]
	
Daí	 acreditarmos	 que	 é	 possível	 haver	 diferença	 entre	 uma	 e	 outra	 espécie	 de	 retribuição	 à
produtividade,	 residindo	esta	diferença	no	 implemento	de	condição	e	na	eventualidade	ou	no	que	a	 lei
prescrever.
Menciona,	 ainda,	 ARION	 SAYÃO	 ROMITA	 que	 esta	 não	 é	 a	 única	 interpretação	 possível,
compatível	com	o	texto	constitucional.	Segundo	ele,	outras	formas	de	resultado	podem	ser	identificadas
no	 contexto.	 O	 texto	 citado	 alude	 a	 lucros,	 ou	 resultados.	 Não	 se	 trata	 de	 termos	 sinônimos.	 Há
empregados	cuja	atividade	não	visa	lucros.		Os	chamados	“empregados	equiparados”	a	que	se	refere	o
§1°	do	art.	2°	da	Consolidação	das	Leis	do	Trabalho	-	CLT,	por	exemplo,	não	auferem	lucros.		Mas	sua
atividade	apresenta	resultados	financeiros,	dos	quais	os	empregados	podem	participar.[254]
No	 mesmo	 sentido,	 PAULO	 SALVADOR	 FRONTINI,	 professor	 da	 Faculdade	 de	 Direito	 da
Universidade	 de	 São	 Paulo,	 destaca,	 a	 seu	 turno,	 que	 existem	 entidades	 que,	 apesar	 de	 exercerem
atividade	econômica	organizada,	perseguem	resultado,	que	não	se	enquadra	no	conceito	de	lucro.	Na	sua
opinião,	 eis	 aí	 o	 objetivo	 da	 referência	 do	 texto	 constitucional	 não	 apenas	 a	 lucros,	 mas	 também	 a
resultados.	 Ele	 também	 crê	 que	 a	 expressão	 “resultados”	 se	 justifica,	 por	 si	 só,	 pelo	 fato	 do	 regime
jurídico	 próprio	 das	 entidades	 cooperativas.	 As	 cooperativas	 são	 entidades	 que	 exercem	 atividade
econômica	organizada	mas	não	perseguem	o	 lucro,	mas	sim,	o	resultado.	Segundo	ele,	outras	situações
equivalentes	poderão	ser	vislumbradas,	como	ocorre	com	a	massa	falida,	na	hipótese	de	continuação	do
negócio	do	falido,	cujo	resultado,	quando	positivo	não	deixa	de	ser	um	proveito	econômico	equiparável
ao	 lucro.	 Para	 ele,	 peculiar	 atenção	 merecem	 as	 empresas	 estatais	 que,	 por	 desenvolverem	 função
altamente	social,	operam	subsidiadas	pelo	Tesouro,	o	que	não	é	raro	encontrar,	por	exemplo,	no	setor	de
transportes	coletivos.	Segundo	PAULO	SALVADOR	FRONTINI,	neste	caso,	a	referência	constitucional	a
resultados	ganha	especial	relevo,	a	ser	considerado	quando	da	elaboração	de	normas	próprias	para	as
empresas	que	operam	sob	controle	do	Estado.[255]
Também	OCTÁVIO	BUENO	MAGANO	e	ESTEVÃO	MALLET	seguem	o	mesmo	entendimento.
Segundo	ele,	ao	se	ler	o	texto	constitucional,	descarta-se	logo	a	ideia	de	que	o	termo	“resultados”	tivesse
apenas	 valor	 enfático,	 porque,	 em	 princípio,	 cada	 elemento	 componente	 da	 regra	 jurídica	 possui
significado	próprio	(ubi	lex	voluit	dixit,	ubi	noluit	tacuit).	Balda-se	a	possibilidade	de	que	o	vocábulo
em	tela	devesse	significar	produtividade,	porque	não	é	certamente	esse	o	seu	sentido	no	vernáculo	e	sim,
o	de	produto,	efeito,	conseqüência.	Daí	concluem	eles	que	se	 trata,	então,	de	superavit	 ou	aumento	de
riqueza	 resultante	 de	 atividade	 não	 lucrativa.	 As	 entidades	 respectivas	 (instituições	 de	 beneficencia,
associações	recreativas	e	outras	do	mesmo	gênero),	conquanto	não	almejem	lucros,	podem	se	beneficiar
da	atividade	exercida.	Segundo	eles,	pelo	fato	de	não	serem	os	benefícios	distribuídos,	não	quer	dizer
que	não	sejam	benefícios.	É	esse	aumento	de	riqueza	que	constitui	o	resultado	a	ser	distribuído	entre	os
trabalhadores.	 Justificam	 eles	 esse	 entendimento	 argumentando	 que,	 se	 isso	 não	 ocorresse,	 os
trabalhadores	 vinculados	 a	 tais	 entidades	 ficariam	 desfavorecidos,	 em	 comparação	 com	 outros
subordinados	a	empresas	lucrativas.[256]
É	de	se	 ressaltar	que,	para	OCTÁVIO	BUENO	MAGANO	e	ESTÊVÃO	MALLET	chegarem	a
essa	conclusão,	valeram-se	do	argumento	de	que	às	vezes	a	atividade	desenvolvida	pela	entidade	não	é
lucrativa,	porém	trata-se	de	atividade	que	traz	indiscutivelmente	benefícios	econômicos	para	ela	e	esses
benefícios	econômicos	constituem	resultados	nos	quais	devem	os	empregados	participar.	Tal	ponto	de
vista	 foi	 levantado	 anteriormente	 por	 JOSÉ	 SERRANO	 CARVAJAL,	 ao	 opinar	 no	 sentido	 de	 que	 a
especialidade	da	instituição	da	participação	em	benefícios	repousa	em	que,	como	sistema	retributivo,
constitui	 uma	 das	 formas	 mais	 interessantes	 que	 tem,	 por	 meio	 da	 retribuição,	 fazer	 com	 que	 o
trabalhador	genericamente	se	interesse	mais	pelo	resultado	de	seu	próprio	trabalho,	diferenciando-se
de	outras	formas	retributivas	em	que	toma	como	módulo	de	cálculo	os	benefícios	econômicos	obtidos
pela	empresa.[257]
Como	se	vê,	vários	juristas	parecem	adotar	o	entendimento	no	sentido	de	que	a	participação	dos
empregados	 no	 resultado	 constitui	 uma	 alternativa	 aplicada	 aos	 casos	 de	 organização	 sem	 fins
lucrativos.	Todavia,	a	nosso	ver,	este	entendimento	não	se	harmoniza	com	o	teor	do	inciso	II	do	§1°	do
art.	 2°	 da	 Lei	 n°	 10.101,	 de	 19.12.2000,	 que	 literalmente	 dispõe	 “programas	 de	 metas,	 resultados	 e
prazos,	pactuados	previamente”	e	não,	em	participação	nos	 resultados	da	entidade	sem	fins	 lucrativos.
No	 entanto	 achamos	 válidas	 as	 ponderações	 a	 favor	 desse	 entendimento.	 Assim,	 entendemos	 que	 a
participação	 dos	 empregados	 nos	 resultados	 pode	 ser	 compreendida	 como	 o	 benefício	 de	 natureza
pecuniária	 recebido	 pelo	 empregado,	 desvinculado	 e	 sem	 prejuízo	 da	 sua	 	 remuneração	 pessoal
convencionada,	correspondente	a	 retribuição	pelo	aumento	da	produtividade	 individual	 ou	 coletiva,
pela	economia	de	material,	pela	redução	de	desperdício,	pelo	melhor	aproveitamento	do	tempo,	pela
melhoria	 dos	 métodos	 de	 trabalho	 etc.,	 ou	 seja,	 por	 ter	 atingido	 as	 metas,	 resultados	 ou	 prazos,
pactuados	 previamente.	 Participação	 nos	 resultados	 pode	 ser	 ainda	 o	 benefício	 de	 natureza
pecuniária	 recebido	 pelo	 empregado,	 desvinculado	 e	 sem	 prejuízo	 da	 sua	 remuneração	 pessoal
convencionada,	 correspondente	 a	 distribuição	 de	 parte	 prefixada	 dos	 benefícios	 econômicos,
superavit	ou	aumento	de	 riqueza	 resultante	da	atividade	não	 lucrativa	da	entidade	ou	organização,
apurada	ao	final	do	exercício	financeiro,	em	virtude	de	liberalidade	do	empregador,	de	contrato,	de
convenção	coletiva	ou	de	determinação	legal.
Devemos	aqui	consignar	que,	após	a	edição	da	Medida	Provisória	n°	794,	de	29.12.1994,	que
regulamentou	a	participaçãodos	trabalhadores	nos	lucros	ou	nos	resultados,	várias	empresas	concluíram
acordos	 visando	 a	 implantação	 desse	 sistema,	 principalmente	 beneficiando	 as	 categorias	 organizadas,
tais	como	os	metalúrgicos	das	montadoras	de	veículos	automotores.	Todavia	como	se	verá,	mais	adiante,
a	modalidade	adotada	predominantemente	é	a	da	participação	nos	resultados	independentemente	do	lucro
que	for	apurado,	como	por	exemplo,	o	pagamento	de	um	prêmio	se	forem	cumpridas	metas	de	qualidade	e
produtividade.	A	participação	nos	resultados	parece	ser	a	modalidade	preferida	pelas	empresas	para
incentivar	seus	empregados.	Por	sinal,	FRANCISCO	CAVALCANTI	PONTES	DE	MIRANDA	já	dizia
que	 a	 participação	 dos	 empregados	 nos	 lucros,	 sem	 seleção	 e	 sem	 encorajamento	 do	 aperfeiçoamento
técnico	dos	empregados,	é	expediente	de	bis	in	idem	dos	salários,	sem	qualquer	significação	econômica,
social,	psicológica,	política	ou	técnica	e	de	prováveis	conseqüências	prejudiciais.[258]
Acrescenta	 ele	 que,	 no	 tocante	 à	 participação	 dos	 trabalhadores	 nos	 lucros,	 não	 se	 poderia
atribuir	 ao	 texto	 constitucional	o	propósito	de	bis	 in	 idem,	 em	matéria	 de	 salário:	 seria	 de	mau	gosto
dedicar-se	regra	jurídica	constitucional,	em	sistema	que	acolhe	o	negócio	jurídico	coletivo	de	trabalho	e
certas	medidas	protetivas	em	assunto	de	salário,	à	compulsoriedade	de	salário	adicional.	O	que	o	texto
constitucional	estatui	é	a	participação	dos	trabalhadores	nos	lucros	como	incentivo	da	produção,	aliado	à
repercussão	 psicológica,	 que	 dela	 se	 espera,	 concernente	 à	 maior	 solidariedade	 e	 confiança	 entre	 os
empregadores	e	empregados.	Para	ele,	essa	repercussão	não	deve	ser	difusa	ou	indireta:	daí,	a	psicologia
individualista,	 em	 que	 se	 baseou	 o	 legislador	 constituinte,	 tê-la	 concebido	 como	 direito;	 há	 de	 ser
repercussão	em	cada	trabalhador,	no	que	se	promete,	e	nos	participantes,	no	que	participam	e	mostram,
como	exemplo,	aos	outros.	O	que	acima	se	disse	exclui,	fundamentalmente,	que	seja	adequada	ao	sistema
jurídico	 brasileiro,	 a	 lei	 de	 participação	 dos	 trabalhadores	 nos	 lucros,	 que,	 em	 vez	 de	 servir	 de
incentivo,	não	tenha	efeitos	nos	empregados,	pela	distribuição	por	todos	eles,	sem	seleção	e	sem	valor
sugestivo	por	parte	do	pouco	que	cada	um	receba,	e	tenha	a	eficácia	negativa	de	diminuir	a	atração
dos	capitais	ou	de	lhes	determinar	a	evasão.[259]
As	palavras	de	FRANCISCO	CAVALCANTI	PONTES	DE	MIRANDA	não	foram	ditas	sem	base
fática,	muito	pelo	contrário,	elas	mostram-se	como	produto	da	observação	da	 realidade.	Menciona	ele
que	 a	 técnica	 ordinária	 de	 remuneração	 é	 a	 do	 salário	 contraprestação	 correspondente	 ao	 trabalho,
“juros”	(interesse)	correspondentes	ao	capital	e	excedente,	que	se	atribui	ao	que	é	do	empresário	ou	ele
distribui	a	si	mesmo	e	aos	capitalistas.	Donde	terem	de	ser	tirados	aos	lucros	a	remuneração	do	capital
como	 tal,	 e	 as	 comissões	 dos	 que	 são	 empresários	 (ditos,	 nas	 sociedades,	 diretores,	 administradores,
sócios-gerentes),	 se	 não	 foram	 computadas	 nas	 despesas;	 o	 que	 se	 entrega	 aos	 acionistas,	 acima	 do
interesse	do	capital,	é	pela	iniciativa	e	risco	das	indústrias	e	do	comércio.	Segundo	ele,	a	rigor,	o	salário
estando	pago,	nenhum	direito	tem	o	empregado	sobre	o	resto:	a	sua	atitude,	nas	uniões	e	sindicatos,	em
prol	da	elevação	dos	salários	e	contra	a	participação,	mostra	que	é	esse	o	seu	modo	de	ver;	 reputa
injusto	ou	justo	o	salário	e	não,	indevida	ou	devida	a	participação,	que	era	presente	de	Natal	ou	de
Ano-Bom	 e	 do	 liberalismo	 econômico	 do	 século	 XIX,	 com	 as	 suas	 nítidas	 distinções	 políticas	 entre
empregadores	 e	 empregados,	 onde	 insuficiente	 a	 igualdade	perante	 a	 lei.	Na	opinião	de	FRANCISCO
CAVALCANTI	PONTES	DE	MIRANDA,	é	preciso,	portanto,	para	que	a	participação	nos	 lucros	surta
bons	efeitos,	que	se	combata,	nos	trabalhadores,	esse	resto	de	mentalidades	superadas,	que	se	acentue	a
política,	a	que	ela	visa,	de	oferta	de	iguais	oportunidades	a	todos	e	se	lhes	mostre	como	pode	crescer	a
porção	de	lucro	participável	e	qual	o	papel	de	cada	um	para	o	atingir	e	lograr,	em	consequência,	o
aumento	do	que	percebe	ou	pode	perceber	como	participante.[260]
Após	 estas	 considerações	 de	 FRANCISCO	 CAVALCANTI	 PONTES	 DE	 MIRANDA,	 não	 é
difícil	se	perceber	a	razão	pela	qual	as	empresas,	de	um	modo	geral,	atualmente	preferem	incentivar	a
produtividade	e	a	eficiência	de	seus	empregados	através	da	distribuição	de	participação	nos	resultados
condicionada	ao	cumprimento	de	metas	previamente	estabelecidas	através	de	acordo.
	
	
4.3	EVOLUÇÃO		HISTÓRICA		E		FUNDAMENTOS		DA	
PARTICIPAÇÃO		DOS	EMPREGADOS		NOS		LUCROS		E	
NOS		RESULTADOS		DA		EMPRESA
	
	
A	mais	antiga	tentativa	de	se	promover	a	participação	dos	empregados	nos	lucros	da	empresa
que	se	tem	notícia,	segundo	PAULO	SARASATE	FERREIRA	LOPES,[261]	refere-se	ao	caso	do	político,
diplomata,	 etnólogo	 e	 linguista	 suíço,	 naturalizado	 norte-americano,	Abraham	Alfonse	 Albert	Gallatin
[Genebra,	República	de	Geneva	(atual	Suíça),	29.01.1761	–	Astoria,	New	York,	12.08.1849],	servindo
ainda	como	congressista,	senador,	embaixador	e	antigo	Secretaria	do	Tesouro	dos	Estados	Unidos,	sob	a
presidência	de	Jefferson	Madison	(no	período	de	14.05.1801	–	08.02.1814),	que,	em	1794,	instituiu	um
plano	próprio	de	 participação	 dos	 empregados	 nos	 lucros,	 aplicado	nas	 suas	 indústrias	 de	 vidro	 em
New	Geneve,	na	Pensilvânia.[262]
Há	notícias	 também	de	uma	determinação	legal	nesse	sentido,	que	vigorou	na	França	em	1812.
Trata-se	de	um	decreto	procedente	do	Quartel	General	de	Moscou,	datado	de	15.10.1812,	firmado	pelo
líder	 político	 e	 militar	 durante	 os	 últimos	 estágios	 da	 Revolução	 Francesa	 Napoleão	 Bonaparte
(Ajaccio,	 15.08.1769	 -	 Santa	 Helena,	 05.05.1821),	 regulando	 a	 participação	 dos	 atores	 da	Comédie
Française	 [263]	 nos	 lucros	 das	 atividades	 teatrais.	 Na	 realidade,	 visando	 reerguer	 o	 interesse	 dos
membros	 da	 Comédie	 Française,	 que	 encontrava-se	 bastante	 abalado	 naquela	 ocasião,	 Napoleão
Bonaparte	concedeu	a	estes	a	participação	efetiva	nos	resultados	da	organização,	que	seriam	divididos
em	24	 (vinte	e	quatro)	quotas,	 sendo	uma	destinada	a	um	fundo	de	 reserva	para	despesas	 imprevistas,
meia	quota	para	um	fundo	de	embelezamento	e	restauração,	outra	meia	quota	para	um	fundo	de	pensão	e
as	 outras	 vinte	 e	 duas	 para	 serem	 divididas	 entre	 os	 atores.	 Este	 fato,	 na	 época,	 provocou	 imensa
surpresa,	 uma	 vez	 que,	 como	 diz	 o	 Procurador-Geral	 de	 Justiça	 professor	 catedrático	 de	 Direito	 do
Trabalho	 na	 Faculdade	 de	 Direito	 da	 Universidade	 do	 Paraná	 OMAR	 GONÇALVES	 DA	 MOTTA
(Curitiba,	 06.12.1910	 –	 Rio	 de	 Janeiro,	 11.12.1972),	 o	 “governo	 do	 grande	 Imperador	 que	 entre	 o
Consulado	e	o	Império	encheu	dois	lustros,	não	muito	favorável	aos	trabalhadores”.[264]
Menciona,	 ainda,	 PAULO	SARASATE	FERREIRA	LOPES	 que	3°	 Barão	Wallscourt,[265]	 teria
realizado,	 na	 Irlanda,	 uma	 experiência	 de	 participação	 dos	 empregados	 nos	 lucros	 de	 seu
empreendimento,	 por	 volta	 de	 1820	 ou	 1832.[266]	 Além	 desses	 indícios	 históricos,	 FRANCISCO
CAVALCANTI	PONTES	DE	MIRANDA,	por	sua	vez,	escreve	que	o	primeiro	plano	de	distribuição	de
parte	dos	lucros	surgiu	na	França,	em	1820,	porém,	havia,	na	ocasião,	o	princípio	da	seleção,	ou	seja,	a
distribuição	dos	lucros	era	seletiva,	somente	alguns	empregados	tinham	direito	a	participação.	PONTES
DE	MIRANDA	informa,	também,	que	a	este	primeiro	plano	seguiu-se	a	inversão	de	lucros	distribuídos
em	 fundo	 de	 pensão.[267]	 Todavia,	 a	 participação	 de	 empregados	 nos	 lucros	 foi	 concedida,	 como
experiência	 pioneira	 e	 efetivamente	 concreta,	 	 apenas	 no	 ano	 de	 1843,	 por	 exclusiva	 iniciativa	 do
economista	e	empresário	francês	Monsieur	Edmé-Jean	Leclaire	(14.05.1801	–	13.07.1872),	em	Paris.
Monsieur	 Edmé-Jean	 Leclaireera	 proprietário	 de	 um	 pequeno	 atélier	 de	 pinturas	 e	 de	 uma
vidraçaria,	 empregando	 de	 60	 (sessenta)	 a	 80	 (oitenta)	 trabalhadores	 Em	 28.09.1838,	 ele	 fundou	 a
Société	de	la	Providence	et	de	L'Aide	Mutuelle	des	Travailleurs	et	Employés	de	la	Entreprise	Leclaire,
sendo	esta	autorizada	pelo	Ministério	do	Interior	francês.[268]	Após	encerrar	o	balanço	do	ano	de	1842,
ele	desenvolveu	um	sistema	precoce	de	participação	dos	 seus	empregados	nos	 lucros.	Com	efeito,	 ele
apurou	 os	 seus	 lucros,	 reuniu	 seus	 empregados	 e,	 sem	 maiores	 explicações,	 entregou-lhes	 uma
significativa	parcela	dos	lucros	obtidos,	que	atingiu,	naquele	ano,	o	total	de	doze	mil	francos-ouro,	em
moeda	corrente.	A	iniciativa	de	assegurar	aos	empregados	a	participação	nos	lucros	da	empresa	foi	um
gesto	do	espírito	de	colaboração	de	Monsieur	Edmé-Jean	Leclaire,	ou	seja,	na	ocasião,	foi	justificado
como	uma	atitude	de	solidariedade	para	com	seus	empregados	e	visava	estreitar	os	laços	entre	estes	e	o
destino	da	empresa.
Monsieur	Edmé-Jean	Leclaire,	dessa	forma,	criou	uma	nova	maneira	de	remunerar	o	 trabalho.
Há	notícias,	entretanto,	de	que,	por	obra	dos	adversários	do	sistema,	Leclaire	foi	intimado	a	comparecer
perante	 as	 autoridades	 policiais	 e	 posteriormente	 preso,	 por	 ser	 considerado	 elemento	 nocivo	 à
coletividade,	perigoso	à	ordem	social,	um	revolucionário	disposto	a	ultrapassar	os	 limites	 tradicionais
da	sociedade	de	então,	conforme	escreve	PAUL	BUREAU.[269]	A	intervenção	da	polícia	no	caso	Edmé-
Jean	Leclaire,	 segundo	GEORGES	ERNEST	BRY,	 foi	 justificada	porque	a	questão	do	 regulamento	do
salário	 “não	 deve	 ser	 estimulada	 e	 que	 é,	 mesmo,	 vedada	 pelas	 leis	 -	 o	 operário	 deve	 permanecer
inteiramente	livre	para	fixar	e	acertar	seu	salário,	não	deve	pactuar	com	o	patrão”.	Assim,	lembra	ainda
GEORGES	 ERNEST	 BRY	 que	 “Edmé-Jean	 Leclaire	 foi	 percursor	 no	 duplo	 sentido:	 tanto	 quanto	 à
participação	dos	empregados	no	lucro	da	empresa	como	quanto	à	subversão	à	ordem	vigente”.[270]
Para	sermos	mais	exatos,	3	(três)	industriais	franceses,	na	realidade,	foram	pioneiros,	em	torno
da	 revolucionária	 participação	 nos	 lucros:	 a)	Monsieur	 Edmé-Jean	 Leclaire,	 1842;	 b)	 Jean	 Godin,
adepto	de	François	M.	C.	Fourrier;	e	c)	Charles	Robert,	em	1878.	No	entanto,	CHARLES	ROBERT	foi
quem	efetivamente	preparou	o	movimento	a	favor	dos	planos	de	participação	dos	empregados	nos	lucros.
[271]
Apesar	 da	 adversidade	 encontrada	 pelo	 sistema	 de	 participação	 nos	 lucros,	 vários	 autores
defenderam	esta	forma	de	remuneração	dos	empregados.		Entre	eles,	Miguel	Chevalier,	cinco	anos	após
Monsieur	Edmé-Jean	Leclaire	ter	pela	primeira	vez	distribuído	efetivamente	os	lucros	da	empresa	aos
seus	empregados,	escreveu	um	opúsculo	de	defesa	do	“sistema	de	participação	salarial	nos	lucros	da
empresa”.	O	 ideia	 introduzida	 por	Edmé-Jean	 Leclaire	 foi	 advogada	 calorosamente	 de	 tal	 forma	 que
acabou	por	ganhar,	com	o	tempo,	boa	aceitação	em	vários	países	e,	daí,	se	universalizou.	O	político	e
industrial	 francês	 EDMOND-JEAN	 LAROCHE-JOUBERT	 (Beauvais,	 La	 Couronne,	 12.01.1820	 –
Escalier,	La	Couronne,	23.07.1884),	dono	de	uma	papelaria	em	Angoulême,	na	França,	que	aplicou	em
sua	empresa	o	sistema	de	participação	nos	lucros	a	partir	de	1944,	nos	diz	que,	na	Prússia,	este	sistema
foi	 adotado	 na	 prática,	 já	 em	 1847.	 Na	 Inglaterra,	 outros	 planos	 de	 distribuição	 dos	 lucros	 aos
empregados	surgiram	em	1850.[272]	Por	sinal,	um	dos	primeiros	planos	ingleses,	iniciado	em	1860,	durou
10	 (dez)	 anos	 e	 terminou	 por	 uma	 greve	 dos	 empregados	 e,	 em	 1884,	 conforme	 informa	 LUDWIG
HEINRICH	ADOLPH	GECK,	a	Industrial	Corpartnership	Association	não	apenas	 tomava	posição	em
favor	 de	 uma	 participação	 dos	 trabalhadores	 nos	 lucros	 apurados	 mas,	 também,	 em	 favor	 de	 uma
participação	 destes	 no	 capital	 das	 sociedades.[273]	 Em	 1932,	 haviam,	 na	Grã-Bretanha,	 469	 planos	 de
diferentes	tipos	de	participação	nos	lucros,	porém	mais	de	350	haviam	sido	abandonados.	Nos	Estados
Unidos,	em	1869,	surgiram	os	primeiros	planos	de	participação	nos	lucros,	que	chegaram	a	somar	oito
dezenas	logo	após	alguns	anos,	mas,	em	1896,	baixaram	para	12	e	voltaram	a	ascender	a	23	planos,	em
1899.	Há	de	se	destacar,	também,	que,	em	1889,	haviam	120	planos	de	participação	nos	lucros	na	França
e,	em	1899,	esse	montante	subiu	para	322	planos,	porém,	em	1924,	este	número	não	passava	de	75.	Em
1899,	na	Grã-Bretanha,	existiam	94	planos;	na	Alemanha,	43	planos;	e,	na	Suíça,	14	planos.	De	forma
que,	 no	 fim	 do	 século	 passado,	 estes	 eram	 os	 países	mais	 afeiçoados	 ao	 sistema	 de	 distribuição	 dos
lucros	aos	empregados.
Lembramos,	ainda,	que,	no	início,	principalmente	na	Alemanha,	via-se	na	participação	nos	lucros
a	 “simetrização	 do	 empregado	 com	 o	 empregador”,[274]	 ao	 tempo	 em	 que	 tentava-se	 combinar	 o
cooperativismo	com	a	participação	nos	lucros.		Acreditava-se	que	a	participação	seria	preventivo	contra
as	greves,	sem	que	a	experiência	o	comprovasse.	Por	outro	lado,	aliava-se	a	técnica	da	participação	nos
lucros	à	de	acesso	à	propriedade	das	ações,	apesar	de	alguns	entenderem	que	o	acesso	à	direção,	e	não	à
propriedade	das	ações,	é	que	poderia	estabelecer	o	interesse	comum	entre	empregados	e	empregadores.
Como	 exemplo	 disso,	 é	 de	 se	 destacar	 que,	 em	 1894,	 apareceu	 o	 primeiro	 plano	 de	 participação	 nos
lucros	 com	 pagamento	 metade	 em	 dinheiro	 e	 metade	 em	 ações	 (concedido	 em	 1889):	 o	 plano	 de
participação	 nos	 lucros	 da	 South	Metropolitan	 Gas	 Company.	 Os	 empregados	 dessa	 companhia,	 em
1932,	possuíam	meio	milhão	de	libras	em	ações.[275]
A	bem	da	verdade,	alerta	FRANCISCO	CAVALCANTI	PONTES	DE	MIRANDA	que	a	 reação
psicológica	dos	empregados	não	foi	a	que	se	esperava.	Os	trabalhadores	organizados	e	os	seus	líderes
viam	 na	 técnica	 da	 participação	 nos	 lucros	 expediente	 político	 para	 evitar	 a	 solidarização	 dos
empregados	 em	 suas	 uniões	 e	 sindicatos,	 disfarce	 para	 manter	 os	 salários	 baixos	 e	 propósitos	 de
igualização	 dos	 empregados	 para	 atenuar	 as	 diferenças	 entre	 eles,	 no	 tocante	 a	 qualidades	 pessoais.
Acrescenta	PONTES	DE	MIRANDA	que	observou-se	mesmo,	em	algumas	empresas,	que	a	participação
nos	 lucros,	em	vez	de	aproximar	os	empregados	e	de	apagar	suspeitas	de	classe	a	classe,	afastou-os	e
tornou-os	mais	desconfiados.[276]	Por	 isso,	constata-se	uma	significativa	queda	no	número	de	planos	de
participação	nos	 lucros	das	empresas	no	final	do	século	passado	e	no	 início	deste	século.	 Inclusive,	o
engenheiro	 norte-americano	 que	 introduziu	 o	 conceito	 da	 chamada	 Administração	 Científica,
revolucionando	 todo	 o	 sistema	 produtivo	 no	 começo	 do	 século	XX	 e	 criando	 a	 base	 sobre	 a	 qual	 se
desenvolveu	a	atual	Teoria	Geral	da	Administração,	FREDERIC	WINSLOW	TAYLOR	(Germantowon,
Filadélfia,	 Pensilvânia,	 20.03.1856	 –	 Filadélfia,	 Pensilvânia,	 21.03.1915),	 criador	 do	 taylorismo,	 em
carta	publicada	após	a	sua	morte,	apontou	como	causas	do	 fracasso	da	participação	dos	empregados
nos	 lucros:	a)	os	maus	 trabalhadores	 que	 sabotavam	 o	 trabalho	 e,	 não	 obstante,	 participavam	 dos
lucros,	acabavam	por	contaminar	os	bons;	b)	a	recompensa	do	esforço	vinha	depois	de	muito	 tempo
(de	ordinário,	no	fim	do	ano);	c)	era	muito	difícil	repartir	equitativamente	o	quanto	participável;	e	d)
os	 trabalhadores	estavam	prontos	a	partilhar	nos	 lucros,	não	nas	perdas,	e	nem	 tinham	com	que	as
partilhassem.[277]
Devemos	 ressaltar,	 como	 o	 fez	 FRANCISCO	CAVALCANTI	 PONTES	DE	MIRANDA,	 que	 a
crítica	 de	 FREDERIC	WINSLOW	TAYLOR	 somente	 alcança	 a	 participação	pura	 nos	 lucros,	 ela	 não
atende	 às	 possíveis	 combinações.	 Por	 outro	 lado,	 ele	 postulava	 que	 todos	 fossem	 legitimados	 a
participar.	FREDERIC	TAYLOR	somente	acreditava	na	remuneração	imediata,	 inclusive	adicional.Diz
ele,	 literalmente,	 que	 “o	 único	meio	 de	 aumentar	 o	 bem-estar	material	 do	mundo	 é	 o	 crescimento	 das
riquezas,	ou	seja,	a	soma	das	coisas	materiais	úteis	ao	homem.	Não	olvidemos	que	dezenove	vigésimas
partes	da	riqueza	produzida	no	mundo	pertencem	aos	pobres	e	não,	aos	que	chamamos	ricos.	Assim,	todo
aumento	no	rendimento	de	cada	 indivíduo	acrescenta	proporcionalmente	a	 riqueza	do	mundo	e	a	quase
totalidade	 desse	 acréscimo	 volve	 diretamente	 aos	 pobres”.	 Por	 sinal,	 na	 opinião	 de	 FRANCISCO
CAVALCANTI	 PONTES	 DE	 MIRANDA,	 a	 visão	 de	 FREDERIC	 WINSLOW	 TAYLOR	 é	 unilateral,
porém	contém	algumas	verdades	tautológicas.	Estas	verdades	são:	a)	é	preciso	produzir	para	se	elevar	o
nível	de	todos;	e	b)	toda	medida	que	diminui,	artificialmente,	a	produção	é	errada,	se	essa	produção	era
necessária.	Porém	sua	visão	teria	de	ser	corrigida	por	depoimento	mais	concreto,	como	o	da	Ford	Motor
Company,	sobre	o	seu	plano	de	participação	nos	lucros,	 iniciado	em	1914,	com	cerca	de	15%	(quinze
por	 cento)	 a	 20%	 (vinte	 por	 cento)	 de	 aumento	 voluntário	 da	 produção	 e	 a	 conseqüência	 de	 fazer	 “o
empregado	querer	ser	proprietário	do	seu	lar”.[278]
Da	mesma	forma	que	FREDERIC	WINSLOW	TAYLOR,	um	substancial	número	de	economistas,
entre	eles	sociólogo	e	economista	político	judeu	alemão	FRANZ	OPPENHEIMER	(Berlim,	20.03.1864	–
Los	Angeles,	 30.09.1943),	 também	veem	a	 participação	nos	 lucros	 como	um	expediente	 politicamente
errado	ou	ilusório,	uma	vez	que	tem	como	consequência	o	seguinte:	a)	ainda	que	se	distribuam	lucros	a
empregados,	 o	 resultado	 psicológico	 e	 econômico,	 que	 se	 espera,	 nunca	 é	 atingido;	 b)	 o	 empregado
recebe	a	sua	quota	como	parte	(em	separado)	dos	seus	salários;	c)	a	 relação	empregador-empregado	é
irredutível;	d)	a	empresa	não	é	pessoa	coletiva	de	empregadores	e	empregados,	e	nunca	o	será;	e	e)	a
participação	 nos	 lucros	 (labour-copartnership,	 profit	 sharing,	 participation	 aux	 bénéfices	 ou
gewinnbeteiligung)	apenas	seria	esperança,	augúrio	de	empregadores.[279]
Como	se	vê,	não	raras	vezes,	dizia-se	que	a	participação	nos	lucros	era	impraticável.	Aludia-se
ao	 abandono	 dela,	 a	 cada	momento,	 em	 todos	 os	 países.	Maior	 responsabilidade	 do	 que	 considerá-la
necessária	 é	 estabelecê-la	 em	 termos	 que	 levem	 à	 demonstração	 do	 seu	 fracasso.	 Menciona
FRANCISCO	CAVALCANTI	 PONTES	DE	MIRANDA	que	 têm	 razão	 os	 que	 o	 atribuem	 a	 não	 se	 ter
planejado	 com	 os	 princípios	 certos	 (correct	 principles),	 inclusive	 o	 não	 se	 ter	 resguardado	 o	 lucro
daquele	que	“arriscou”	o	capital	e	o	não	se	atender	a	que	a	participação	dos	empregados	nos	lucros	não
importa	participação	deles	nas	perdas	e	 era	preciso	assegurar-se	a	 cobertura	dessas	perdas	eventuais,
antes	dos	dividendos	e	das	quotas	de	participação.[280]
Por	outro	lado,	apesar	de,	a	partir	da	metade	do	século	XIX,	a	participação	nos	lucros	vir	sendo
praticada	em	diversos	países,	somente	em	1917	foi	este	sistema	de	remuneração	elevado	a	categoria	de
norma	constitucional,	com	a	vigência	da	Constituição	mexicana	de	1917.	Na	realidade,	nas	vésperas	e
após	 as	 revoluções,	 ordinariamente	 pensa-se	 sempre	 em	 participação	 nos	 lucros.	 	 Por	 exemplo,	 na
França,	pensou-se	em	participação	nos	lucros,	em	1820,	posterior	a	uma	revolução	e,	em	1842,	anterior	a
outra	revolução.	De	qualquer	forma,	os	reformistas	do	século	XIX	vinham	procurando	tornar	obrigatória
(compulsória,	 congente)	 a	 participação	 dos	 empregados	 nos	 lucros	 da	 empresa	 até	 que,	 no	 início	 do
século	 XX,	 foi	 encontrado	 terreno	 fértil	 para	 isto	 no	 ambiente	 revolucionário	 do	México,	 cujo	 povo
estava,	na	ocasião,	mergulhado	em	grave	estado	de	miserabilidade.	Assim	é	que,	no	Título	VI,	que	trata
“Do	Trabalho	 e	 da	 Previdência”,	 da	Constituição	 daquele	 país,	 o	 legislador	 constituinte	mexicano	 de
1917,	incluiu	o	inciso	VI	no	art.	123,	o	qual	estabelece	que	“o	salário	mínimo,	do	qual	deverá	desfrutar	o
trabalhador,	 será	 aquele	 que	 se	 considerar	 suficiente,	 conforme	 as	 condições	 de	 cada	 região,	 para	 a
satisfação	 das	 necessidades	 normais	 da	 vida	 do	 operário,	 à	 sua	 educação	 e	 ao	 descanso	 e	 lazer
convenientes,	 considerando-o	 como	 pai	 de	 família.	 Em	 toda	 empresa	 agrícola,	 comercial,
manufatureira	ou	mineira,	os	 trabalhadores	 terão	direito	a	uma	participação	nos	 lucros,	a	qual	será
regulada	como	é	indicado	no	§	IX”.	Dispõe,	por	sua	vez,	o	§	IX,	do	art.	123,	que	“a	fixação	do	tipo	de
salário	 mínimo	 e	 da	 participação	 nos	 lucros,	 visando	 o	 contido	 no	 §	 VI,	 será	 feita	 por	 comissões
especiais	 que	 se	 formarão	 em	 cada	 município	 e	 que	 serão	 subordinadas	 à	 Assembléia	 Central	 de
Conciliação,	que	será	instalada	em	cada	Estado”.
Apesar	 do	 pioneirismo	 da	 Constituição	 mexicana	 de	 1917,	 quanto	 à	 previsão	 do	 direito	 de
participação	 dos	 empregados	 nos	 lucros	 da	 empresa,	 é	 de	 se	 ressaltar	 que	 esse	 instituto,	 elevado	 a
preceito	 constitucional,	 não	 conquistou,	 todavia,	 o	 caráter	 obrigatório.	 O	 texto	 constitucional	 não	 foi
devidamente	 regulamentado,	muito	 embora	 vários	 projetos	 terem	 sido	 apresentados	 sem	 que	 tivessem
logrado	 se	 transformar	 em	 lei	 ordinária.	 Informa	WILSON	DE	SOUZA	CAMPOS	BATALHA	que,	 no
México,	 apenas	 se	permite,	 	por	 força	da	 lei	geral	das	 sociedades	mercantis,	de	 julho	de	1934,	que	a
sociedade	emita,	a	favor	dos	que	trabalham,	ações	especiais.[281]
De	qualquer	forma,	a	partir	do	advento	da	Constituição	mexicana	de	1917,	a	tendência	de,	pelo
menos,	se	tentar	incluir	a	participação	dos	lucros	em	regra	jurídica	ordinária,	acentuou-se,	então,	até	o
ano	de	1924,	 tanto	na	França	(1919)	como	na	Tcheco-Eslováquia	(1920),	na	Itália	 (1921),	na	Noruega
(1922),	em	Portugal	(1923),	na	Colômbia	(1923),	na	Nova	Zelândia	(1924)	e	em	outros	países,	tais	como
Bélgica	e	Inglaterra.	Em	alguns	desses	países	a	pretensão	de	estabelecer	a	participação	obrigatória	nos
lucros	não	passou	de	projeto	de	lei,	mas	em	outros	países	chegou-se	a	legislar	nesse	sentido.	No	entanto,
o	certo	foi	que	este	sistema,	apesar	de	no	início	deste	século	ter	ensejado	esperanças	no	sentido	de	que
poderia	 solucionar,	 de	 fato,	 a	 questão	 social,	 segundo	 ARNALDO	 SÜSSEKIND,	 não	 logrou	 a
consecução	de	suas	finalidades.		Imposto	por	lei	em	poucos	países	e	aplicado,	por	força	de	convenções
coletivas	e	contratos	individuais,	em	outras	nações	(principalmente	na	França	e	na	Itália),	o	fato	é	que	os
patrões,	de	um	modo	geral,	não	o	desejavam,	e,	 salvo	engano,	continuam	não	desejando,	pois,	 explica
ARNALDO	 SÜSSEKIND,	 não	 querem	 discutir	 os	 seus	 lucros	 com	 os	 respectivos	 empregados.	 	 Os
empregados,	 por	 sua	 vez,	 em	 grande	 parte,	 não	 se	 interessam,	 também,	 pela	 participação,	 já	 que
preferem	extrair	dos	seus	salários	qualquer	condição	aleatória.[282]
CARLOS	GARCIA	OVIEDO	observa	que	o	aparecimento	do	regime	de	participação	nos	lucros
se	 deu,	 precisamente,	 no	momento	 de	 transição	 entre	 o	 salariato,	 de	 índole	 capitalista,	 e	 o	 regime	 de
cooperação	de	natureza	socialista.[283]	A	participação	nos	lucros	sempre	foi	combatida	pelo	capitalismo
conservador,	 que	 vê	 nela	 uma	 substancial	 diminuição	 nos	 rendimentos	 do	 capital.	 Como	 dito,	 os
seguidores	do	capitalismo	conservador	defendem	o	salariato	e	olham,	com	desespero,	o	advento	da	nova
era,	 onde	 não	 há	 lugar	 para	 os	 lucros	 fabulosos,	 que	 se	 tornam	 ilícitos	 e	 afrontosos	 pelo	 seu	 volume.
Todavia,	simultaneamente,	a	participação	nos	lucros	também	é	combatida	pelos	defensores	do	socialismo
marxista	e	sindicalismo	revolucionário,	que	entendem	não	contribuir	ela	em	nada	para	a	eliminação	do
conflito	permanente	das	classes.		Por	sinal,	os	primeiros	adiantam	ser	injusto	que	o	obreiro	participe	das
vantagens	do	capital,	sem	suportar	seus	riscos	e	sem	oferecer	garantias	recíprocas,	enquanto	os	segundostemem	que	a	parte	destinada	ao	 trabalhador	seja	descontada,	pelo	empresário,	do	consumo,	através	do
encarecimento	 progressivo	 do	 preço	 das	 mercadorias.[284]	 No	 entanto,	 este	 sistema	 é	 defendido	 pelos
seguidores	do	socialismo	científico,	pelos	reformistas	sociais	e	pelos	neo-liberais,	que	vêem	nele	uma
solução	intermediária	e	pacífica	para	a	questão	social	e	a	redução	das	diferenças	entre	as	classes	sociais.
Não	constitui	qualquer	novidade	o	fato	de	o	instituto	da	participação	nos	lucros	ter	sido,	ao	longo
da	 história	 dos	 séculos	 XIX	 e	 XX,	 um	 dos	 principais	 assuntos	 de	 reformistas	 sociais,	 filantropos	 e
políticos.		Inclusive	diversos	reformistas	sociais	viam	na	participação	dos	lucros	uma	forma	de	manter	a
empresa,	 embora	 reformada,	 como	 célula	 fundamental	 de	 um	 sistema	 econômico	 de	 decisões
descentralizadas	 e,	 ao	mesmo	 tempo,	 atender	 aos	 reclamos	 de	 promoção	 e	 de	 emancipação	 da	 classe
assalariada,	 que	 outros	 entendiam	 serem	 somente	 viáveis	 mediante	 uma	 radical	 alteração	 de	 todo	 o
sistema	econômico.	Por	outro	 lado,	 segundo	FRANCISCO	CAVALCANTI	PONTES	DE	MIRANDA,	a
participação	 nos	 lucros	 apresenta-se	 aos	 empregadores	 de	 boa	 formação	 moral	 e	 aos	 reformadores
sociais	como	um	dos	mais	sedutores	ideais	de	auto-organização	humana.	Por	ela	seria	possível,	a	priori,
mais	do	que	conciliar	capital	e	trabalho,	isto	é,	seria	possível,	ao	longo	do	tempo,	apagar-lhes	os	limites,
fundi-los.	Para	ele,	a	participação	do	empregado	nos	lucros	atuaria	para	o	acesso	ao	capital	ou	aos	seus
proveitos,	como,	por	exemplo,	a	escola	para	o	acesso	às	camadas	 técnicas	e	às	profissões	 técnicas	da
participação	 nos	 lucros.	 Com	 a	 participação	 nos	 lucros,	 diz	 PONTES	 DE	 MIRANDA,	 busca-se
reinteressar	o	empregado	na	produtividade;	inseri-lo	na	empresa	industrial,	para	que	o	lucro,	que	conduz
aos	dirigentes	e	aos	que	invertem	capitais,	também	os	conduza.		Em	verdade,	porém,	segundo	ele,	não	se
trata	de	recuperar	esse	impulso;	trata-se	de	criá-lo.	Em	vez	do	impulso-orgulho	ou	do	impulso-temor	de
perder	 o	 emprego,	 o	 impulso-lucro,	 na	 ordem	 capitalística	 e	 à	 semelhança	 dos	 capitalistas.	 Todavia,
esclarece	PONTES	DE	MIRANDA	que	cumpre	advertir-se	em	que	a	participação	nos	lucros	pode	não
ser	participação	futura	no	capital.	Então,	“se	o	propósito	político	foi	apagar	as	linhas	discriminativas
das	classes,	conciliar	ou,	ao	 longo	do	 tempo,	 fundir	capital	e	 trabalho,	o	plano	de	participação	nos
lucros	 falha”.	 Os	 empregados	 continuam	 só	 empregados,	 talvez	 mais	 hostis	 ao	 sistema	 da	 empresa
privada	e	organizam-se	à	parte,	sem	a	reaparição	da	colaboração,	que	se	fundara,	em	séculos	passados,
no	 impulso-orgulho	 e,	 nos	 decênios	 de	 abundância	 da	 mão-de-obra,	 no	 impulso-temor.	 Daí,	 conclui
PONTES	 DE	 MIRANDA	 que	 a	 participação	 nos	 lucros	 não	 é	 impraticável	 quando	 apenas	 visar	 o
incentivo	ao	aumento	da	produtividade	e	não	fazendo	com	que	os	empregados	deixem	de	ser	empregados.
[285]
Escreve	 FÁBIO	 NUSDEO,	 professor	 livre	 docente	 de	 Direito	 Econômico	 da	 Faculdade	 de
Direito	da	Universidade	de	São	Paulo,	que,	de	fato,	a	participação	nos	lucros	é	a	solução	preconizada
por	 correntes	 ideológicas	 e	 doutrinárias	 de	 matiz	 diverso,	 como	 a	 dos	 socialistas	 democráticos,	 da
democracia	cristã	e	até	de	alguns	neoliberais,[286]	apesar	de	cada	corrente	visar	a	solução	de	problemas
diferentes.	 Por	 sinal,	 os	 adeptos	 da	 doutrina	 social	 católica	 (cristianismo	 social)	 encaram	 também	 a
participação	 nos	 lucros	 como	 solução	 de	 problemas	 sociais,	 porém	 no	 sentido	 de	 se	 utilizar	 a
participação	nos	lucros	como	meio	de	apagar	as	linhas	discriminativas	das	classes	e	fundir,	ao	longo	do
tempo,	capital	e	trabalho,	ou	seja,	a	participação	nos	lucros,	para	a	doutrina	social	católica,	seria	válida
como	uma	transição	entre	o	regime	capitalista	do	assalariado	e	o	regime	socialista	da	cooperação.
No	entanto,	o	entendimento	acima	não	foi	sempre	o	ponto	de	vista	da	Igreja.	JOSÉ	SEGADAS
VIANNA,	por	 exemplo,	 informa	que	costumava-se	 fazer	ouvidos	 surdos	 à	pregação	dos	 estudiosos	da
chamada	“questão	social”	e	a	própria	voz	da	Igreja	dava	pouca	ressonância	aos	novos	conceitos.		Esta,
ainda	 aferrada	 a	 princípios	 tradicionais	 de	 sua	 origem,	 ia,	 entretanto,	 procurando	 compreender	 que	 o
chamado	 “salário	 justo”	 não	 importava	 só	 na	 devolução	 aos	 trabalhadores	 dos	 resultados	 de	 sua
atividade,	pois	apenas	recebera	uma	parcela.	Lembra	JOSÉ	SEGADAS	VIANNA	que	existindo,	embora,
os	 que	 viam	 o	 problema	 social	 com	 mais	 esclarecimento	 e	 apontavam	 falhas	 no	 sistema	 de
relacionamento	entre	as	forças	do	capital	e	do	trabalho,	a	Igreja,	ainda	que	combatendo	a	luta	de	classes,
mantinha-se	dentro	do	princípio	de	que	deveriam	elas	se	conjugar	harmonicamente.[287]	É,	inclusive,	o	que
se	vê	na	encíclica	Rerum	Novarum,	de	1891,	escrita	pelo	PAPA	LEÃO	XIII,	quando	afirma	que	“entre	os
deveres	principais	do	patrão,	é	necessário	colocar	em	primeiro	lugar	o	de	dar	a	cada	um	o	salário	que
lhe	 convém”.	 É	 evidente	 que,	 para	 se	 fixar	 a	 justa	medida	 do	 salário	 há	 inúmeros	 pontos	 de	 vista	 a
considerar,	mas	a	referida	encíclica	não	vai	muito	além,	quando	prescreve	que	“a	eqüidade	manda,	pois,
que	 de	 todos	 os	 bens	 que	 eles	 proporcionarem	à	 sociedade,	 lhes	 seja	 dada	 uma	parte	 razoável,	 como
habitação	e	vestuário,	e	que	possam	viver	à	custa	de	menos	trabalho	e	privações”.[288]	Menciona,	ainda,
JOSÉ	 SEGADAS	 VIANNA	 que,	 não	 obstante	 a	 simpatia	 com	 que	 alguns	 autores	 examinam	 os
pronunciamentos	 da	 Igreja,	 cumpre	 notar	 que	 o	 próprio	Código	 Social	 de	Malines,	 de	 1920,	 não	 se
referiu	 à	 participação	 dos	 trabalhadores	 nos	 lucros	 das	 empresas	 e	 apenas	 acentuou,	 no	 §	 127,	 que
cumpria	“incentivar	todas	as	tentativas	que,	completando	o	regime	do	salariado,	com	elementos	tirados
do	contrato	de	sociedade,	realizam	uma	melhor	justiça	social”.[289]
A	doutrina	social	da	Igreja,	portanto,	passou	a	defender	a	ideia	da	participação	dos	empregados
nos	lucros	da	empresa,	como	instrumento	de	atenuação	das	lutas	sociais,	a	nosso	ver,	somente	a	partir	da
encíclica	Quadragesimo	 Anno,	 do	 insigne	 PAPA	 PIO	 XI,	 eleito	 em	 1922,	 através	 da	 qual	 opinou	 no
sentido	 de	 que	 “nas	 hodiernas	 condições	 sociais,	 julgamos	 seja	 mais	 prudente	 que,	 na	 medida	 do
possível,	o	ajuste	do	trabalho	venha	a	ser	temperado	um	pouco	com	o	contrato	de	sociedade,	conforme
já	se	principiou	a	 fazer,	de	diversas	maneiras,	com	não	poucas	vantagens	para	os	mesmos	operários	e
patrões.	Destarte,	os	operários	 se	 tornam	co-interessados	 ou	na	propriedade	ou	na	administração	 e
compartes	em	certa	medida	nos	lucros	auferidos”.	Todavia	não	podemos	perder	de	vista	que	o	PAPA
PIO	 XI,	 na	 encíclica	 Quadragesimo	 Anno,	 ressaltou	 a	 legitimidade	 do	 salário,	 tal	 como	 o	 fizera	 a
encíclica	 Rerum	 Novarum,	 do	 PAPA	 LEÃO	 XIII,	 por	 isso	 defendeu	 a	 conveniência	 de	 “mitigar	 os
contratos	de	trabalho	combinando-os	com	os	de	sociedade”.[290]
Em	nosso	país,	a	primeira	tentativa	de	tornar	obrigatória	a	participação	nos	lucros,	ou	seja,	de
incluir	na	legislação	ordinária	dispositivo	regulando	a	participação	nos	lucros,	foi	através	de	projeto	de
lei	 apresentado	 à	 Câmara	 dos	 Deputados,	 em	 1919.	 Este	 projeto	 era	 de	 autoria	 do	 então	 deputado
Deodato	Maia.[291]	Evidentemente,	 tal	projeto	de	 lei	 foi	 inteiramente	 rejeitado	como	vários	outros	que
foram	apresentados	até	hoje.
Apenas	a	título	de	curiosidade,	no	estudo	sobre	a	evolução	histórica	da	participação	nos	lucros
no	Brasil,	ORLANDO	GOMES	DOS	SANTOS	e	ELSON	GOTTSCHALK	incluem,	também,	o	projeto	de
lei	encaminhado	pelo	Governo	Provisório	à	Assembléia	Nacional	Constituinte,	em	16	de	fevereiro	de
1933,	que	dispunha	para	toda	empresa	comercial	e	industrial,	paralelamente	com	o	fundo	de	reserva	docapital,	e	desde	que	este	 lograsse	uma	remuneração	 justa,	um	fundo	de	reserva	do	 trabalho,	 capaz	de
assegurar,	 aos	 operários	 e	 empregados,	 o	 ordenado	 ou	 salário	 de	 um	 ano,	 se	 por	 qualquer	 motivo	 a
empresa	desaparecesse.[292]
JOSÉ	 SEGADAS	VIANNA	 lembra	 que,	 quando	 se	 elaborou	 a	 Constituição	 Federal	 de	 1946,
após	 se	 travar	 debates	 com	 o	 máximo	 interesse,	 foi	 aprovada	 a	 emenda	 estabelecendo	 que	 a
“participação	obrigatória	e	direta	do	trabalhador	nos	lucros	da	empresa,	nos	termos	e	pela	forma	que	a
lei	 determinar”,	 com	 a	 redação	 dada	 pelo	 deputado	 Hermes	 Lima.	 Na	 ocasião,	 os	 anseios	 de
reivindicação	social	que	brotaram	em	todos	os	espíritos	em	virtude	de	o	país	 ter	 saído	de	uma	guerra
contra	potências	 totalitárias	derrotadas,	 se	manifestaram	mais	 intensamente	no	desejo	de	 apresentar	 as
demais	 nações	 uma	 nova	 Constituição	 brasileira	 muito	 mais	 socialmente	 avançada	 do	 que	 as	 suas
antecessoras.	Por	isso	quase	todas	as	correntes	políticas	representadas	na	Constituinte	deram	seu	apoio	à
ideia	 da	 participação	 obrigatória	 dos	 empregados	 nos	 lucros	 da	 empresa.	 Houve,	 segundo	 JOSÉ
SEGADAS	VIANNA,	manifestações	favoráveis	não	só	dos	deputados	do	Partido	Trabalhista	Brasileiro
como	 dos	 representantes	 de	 todas	 as	 correntes,	 inclusive	 os	 de	 tendências	 mais	 conservadoras.
Pronunciaram-se	 a	 favor	da	participação	dos	 trabalhadores	nos	 lucros	das	 empresas,	Arruda	Câmara,
Eduardo	Duvivier,	Prado	Kelly,	Caires	 de	 Brito,	 Adroaldo	 Mesquita,	 Flores	 da	 Cunha,	Gurgel	 do
Amaral	 e	Munhoz	 da	 Rocha,	 além	 de	 outros,	 sendo	 de	 destacar	 a	 atuação	 de	 PAULO	 SARASATE
FERREIRA	 LOPES.	 Mas,	 para	 cumprir	 o	 que	 a	 Constituição	 estabelecera,	 não	 se	 chegou	 a	 um
denominador	comum.[293]
Informa,	 ainda,	 JOSÉ	 SEGADAS	VIANNA	 que,	 logo	 após	 a	 promulgação	 da	Constituição	 de
1946,	o	deputado	petebista	de	São	Paulo,	Berto	Condé,	apresentou	em	07.11.1946,	o	Projeto	n°	96,	que
na	verdade	ladeava	a	questão,	estabelecendo	a	participação	societária	e	não,	a	participação	direta.	No
mesmo	dia,	 JOSÉ	SEGADAS	VIANNA	apresentou	o	Projeto	n°	104,	que	 foi	a	primeira	 tentativa	para
assegurar	 a	 participação	 nos	 termos	 previstos	 na	 Constituição,	 mas	 até	 mesmo	 ele,	 posteriormente,	
reconheceu	que	seria	difícil	sua	aplicação.	Em	22.03.1947,	foi	apresentado	o	Projeto	n°	5,	do	deputado
Daniel	Faraco	 e,	 em	01.08.1947,	o	projeto	do	deputado	 comunista	 João	Amazonas.	 	Como	 relator	na
Comissão	de	Legislação	Social	na	ocasião,	o	deputado	PAULO	SARASATE	FERREIRA	LOPES,	com
base	nos	projetos	existentes,	apresentou,	em	1948,	um	substitutivo,	que	recebeu	o	n°	1.038.[294]
Como	linhas	mestras	do	Projeto	n°	1038,	do	deputado	PAULO	SARASATE	FERREIRA	LOPES,
estavam	expressos	em	seus	principais	dispositivos	os	seguintes	conceitos	essenciais:	a)	o	que	é	empresa;
b)	o	que	é	 trabalhador;	c)	o	que	se	deve	entender	por	“lucros	da	empresa”;	d)	o	que	se	deve	admitir
como	 capital;	 e)	 a	 taxa	 de	 remuneração	 do	 capital;	 f)	 a	 percentagem	 dos	 lucros	 atribuída	 aos
empregados;	g)	 o	prazo	 para	aquisição	 do	 direito	 de	 participação;	h)	 os	 elementos	 a	 considerar	 na
distribuição	pelos	empregos	da	sua	parte	nos	lucros;	i)	o	mecanismo	da	distribuição;	j)	a	limitação	das
quantias	 a	 receber	 e	 a	 destinação	 dos	 excedentes;	 e	 l)	 a	 forma	 de	 efetuar	 o	 pagamento.	 	 Outros
preceitos	fixavam	a	competência	da	Justiça	do	Trabalho	para	julgar	os	dissídios	resultantes	da	aplicação
do	sistema,	o	prazo	de	prescrição	etc.[295]
JOSÉ	SEGADAS	VIANNA	relata	que	os	opositores	à	 ideia,	sem	que	declarassem	abertamente
seu	 ponto	 de	 vista,	 passaram	 a	 usar	 de	 todos	 os	 recursos	 legislativos	 para	 bloquear	 a	 tramitação	 do
projeto.	Em	01.06.1948,	ele	era	aprovado	pela	Comissão	de	Legislação	Social	e	remetido	à	Comissão
de	Indústria	e	Comércio,	que	só	o	aprovou	em	5	de	outubro	de	1948.	Indo	a	plenário,	recebeu	emendas,
voltando	à	Comissão	de	Legislação	Social,	tornando	a	plenário	em	15.11.1949,	sendo	arquivado	em	face
do	término	da	sessão	legislativa.	Mas,	segundo	ele,	a	via	crucis	não	terminara.	Desarquivado	o	projeto
na	 sessão	 seguinte,	 foi	 mandado	 a	 imprimir	 em	 5	 de	 novembro	 de	 1951	 e	 remetido	 à	Comissão	 de
Legislação	Social	que,	em	parecer	do	deputado	Celso	Peçanha,	aprovou	um	substitutivo	e,	no	dia	15,	a
requerimento	 do	 líder	 do	 Partido	 Social	 Democrata,	 deputado	 Gustavo	 Capanema	 era	 novamente
aprovado	em	primeira	discussão.	 	Colocado	na	Ordem	do	Dia	para	votação,	em	segunda	discussão,	no
dia	 20.02.1952,	 foi	 ela	 adiada	 e,	 tendo	 sido	 apresentadas	 emendas,	 foi	 devolvido	 às	Comissões	 de
Legislação	Social	e	de	Indústria	e	Comércio.	Criada	uma	Comissão	Especial	para	opinar,	apresentou
esta	24	subemendas,	substitutivas	das	emendas	do	plenário.	Aprovado	o	substitutivo	dessa	Comissão,	em
03.11.1952,	o	projeto	 foi	 remetido	ao	Senado,	onde	 ficou	até	a	promulgação	da	Constituição	de	1967,
sem	lograr	aprovação	ou	rejeição.[296]	Ainda	assim,	como	destaca	FLORIANO	CORREA	VAZ	DA	SILVA,
juiz	 do	 trabalho	 do	Tribunal	Regional	 do	Trabalho	 da	 2ª	Região,	 o	mais	 famoso	de	 todos	 os	 projetos
versando	 sobre	 participação	 nos	 lucros	 foi	 justamente	 o	 Projeto	 n°	 1.038/1948,	 apresentado	 pelo
deputado	PAULO	SARASATE	FERREIRA	LOPES.[297]
Acrescenta	 JOSÉ	SEGADAS	VIANNA	que,	 nesse	 entretempo,	 o	 problema	da	 participação	 do
trabalhador	 no	 lucro	 das	 empresas	 foi	 objeto	 de	 vários	 projetos	 ou	 incluído	 em	 projetos	 de	 maior
envergadura,	como	o	do	Código	do	Trabalho	de	Carlos	Lacerda.	Com	o	advento	da	Revolução	de	1964,
Castelo	 Branco,	 como	 um	 dos	 últimos	 atos	 de	 seu	 governo,	 encaminhou	 mensagem	 que	 tomou	 o	 n°
34/1967,	regulando	a	integração	do	trabalhador	na	vida	das	empresas,	através	da	partilha	de	lucros	e	da
constituição	de	“ações	de	trabalho”.[298]	Todavia,	quarenta	e	oito	anos	se	passaram	e	não	houve	uma	lei
regulando	a	participação	do	trabalhador	nos	lucros	da	empresa.		Somente	em	29.12.1994,	foi	emitida	a
Medida	Provisória	n°	794,	 regulando	a	matéria,	porém	o	seu	 texto	foi	 reproduzido	sucessivamente	por
várias	 Medidas	 Provisória,	 até	 a	 última	 Medida	 Provisória	 n°	 1.982-77,	 de	 23.11.2000,	 a	 qual	 foi,
finalmente,	 convertida	 na	 Lei	 n°	 10.101,	 de	 19.12.2000,	 que	 dispõe	 sobre	 a	 participação	 dos
trabalhadores	nos	lucros	ou	resultados	da	empresa	e	dá	outras	providências.
Na	 realidade,	 o	 princípio	 básico	 subjacente	 à	 ideia	 da	 participação,	 que	 originariamente
correspondia	 a	 uma	 preocupação	 de	 corrigir	 desigualdades	 mais	 gritantes	 na	 distribuição	 dos
rendimentos,	 conferindo	 ao	 trabalhador	 um	 provento	 adicional	 a	 se	 sobrepor	 ao	 seu	 salário,	 evoluiu
depois	no	sentido	de	fazer	dele	um	partícipe	não	apenas	dos	resultados,	como	também	da	vida	da	própria
empresa,	nela	integrando-se	com	vistas	à	sua	realização	profissional	e	pessoal.	No	entanto,	tão	generosos
objetivos	 aceitos	 em	 princípio	 por	 parcelas	 significativas	 da	 intelectualidade	 e	 da	 opinião	 pública
passaram,	 segundo	 FÁBIO	 NUSDEO,	 a	 encontrar,	 na	 prática,	 dificuldades	 não	 desprezíveis.	 Se	 a
integração	 na	 empresa	 podia	 se	 fazer	 de	 forma	 gradual	 e	 dentro	 de	 limites	 que	 lhe	 não	 trouxessem
maiores	abalos,	tanto	em	sua	estrutura,	quanto	em	sua	administração,	o	mesmo	já	não	se	poderia	dizer	da
participação	nos	lucros.	Na	sua	opinião	esta	implica	sempre	uma	transferência	de	recursos,	ainda	quando
eles	 não	 saiam	 da	 própria	 empresa.	 Tal	 transferência	 pode	 trazer	 conseqüências	 inesperadas	 e
indesejadas,	seja	para	ela,	empresa,	seja	para	os	seus	próprios	colaboradores,	destinatários	da	medida.
Para	FÁBIO	NUSDEO,	o	problema	reveste	delicadeza	ainda	maior	no	caso	dos	países	subdesenvolvidos
ou	 em	 desenvolvimento,	 dada	 a	 sua	 notória	 penúria	 de	 capitais	 e	 baixo	 nível	 cultural,	 entreoutras
características.[299]	Quiçá,	 por	 isso	 os	 legisladores	 sempre	 relutaram	 em	 aprovar	medida	 obrigatória	 e
definitiva	dessa	envergadura.
Outrossim,	também	no	Brasil,	verificou-se	manifestações	do	clero	em	favor	da	participação	nos
lucros.	Por	exemplo,	em	1945,	na	Pastoral	Coletiva	do	Episcopado	Brasileiro	pronunciou-se	no	sentido
de	que	“as	empresas	industriais	não	deveriam	esquecer	que	não	é	apenas	o	capital	empregado	que	lhes
permite	 prosperar,	 mas	 também	 o	 trabalho	 dos	 seus	 operários.	 	 Não	 seria,	 pois,	 razoável	 que	 estes
tivessem,	 além	 dos	 justos	 salários,	 qualquer	 distribuição	 eqüitativa	 na	 participação	 nos	 lucros	 da
mesma?”.[300]	JOSÉ	SEGADAS	VIANNA	lembra	que,	em	1967,	a	Conferência	Nacional	dos	Bispos	do
Brasil	divulgou	uma	mensagem,	que	era	subscrita	por	sacerdotes	considerados	conservadores,	como	os
cardeais	D.	Jaime	de	Barros	Câmara	e	Mota,	de	São	Paulo;	arcebispo	D.	José,	de	Mariana;	D.	Vicente
Scherer,	de	Porto	Alegre;	e	vários	outros,		preconizando	uma	reformulação	no	conceito	de	empresa,	que
deveria	ser	estruturada	em	forma	societária	e,	no	seu	pronunciamento,	as	mais	altas	autoridades	do	clero
indicavam	a	necessidade	da	“integração	de	todos	os	que	participavam	de	empresas	na	sua	vida,	na	sua
propriedade,	nos	seus	lucros,	nas	suas	decisões”.	Era,	segundo	JOSÉ	SEGADAS	VIANNA,	o	que	muito
antes	D.	Hélder	Câmara	vinha	apontando	como	uma	necessidade	para	a	paz	social	e,	àquele	 tempo,	o
acusavam	de	socialista	por	suas	ideias	avançadas.[301]
Em	 1980,	 o	 PAPA	 JOÃO	 PAULO	 II,	 em	 visita	 pelo	 Brasil,	 também	 fez	 veementes
pronunciamentos	sobre	o	problema	social	e,	ao	discursar	para	120.000	pessoas	no	Estádio	do	Morumbi,
em	 São	 Paulo,	 referiu-se	 especificamente	 ao	 problema	 salarial	 ao	 afirmar	 que	 deve-se	 “reajustar	 o
salário	até	o	ponto	em	que	se	possa	dizer	que	o	trabalhador,	participa	real	e	eqüitativamente	na	riqueza
é	uma	exigência	legítima”.	Posteriormente,	na	sua	Encíclica	Laborem	exercens	(“Através	do	Trabalho”),
de	 15.09.81,	 reafirmou	 o	 ponto-de-vista	 exposto	 por	 vários	 de	 seus	 antecessores	 que	 pregaram	 a	 co-
propriedade	nas	empresas	e,	quanto	à	participação	nos	lucros,	porém,	colocou-se	em	discreta	posição,
declarando	que,	independentemente	da	viabilidade	imediata	da	participação	dos	trabalhadores	na	gestão
e	nos	lucros	da	empresa,	a	posição	do	homem	dentro	do	processo	da	produção	precisa	ser	modificada,	ou
seja,	 JOÃO	 PAULO	 II	 deixou	 bem	 claro	 que	 o	 problema	 da	 viabilidade	 da	 participação	 dos
trabalhadores	nos	lucros	da	empresa	teria	que	ser	examinado.[302]
	
	
4.4	DISTRIBUIÇÃO	FACULTATIVA	E	DISTRIBUIÇÃO
OBRIGATÓRIA	DOS	LUCROS	AOS	EMPREGADOS
	
	
Buscamos	 no	 Direito	 comparado	 a	 grande	 lição	 no	 sentido	 de	 que	 a	 participação	 dos
empregados	nos	lucros	pode	ser	efetivamente	obrigatória	ou	facultativa,	conforme	seja	ela	regulada	e
imposta	pela	soberania	do	Estado	ou	fique	confiada	ao	critério	dos	empresários	e	aos	seus	entendimentos
com	 os	 trabalhadores,	 através	 de	 contratos	 individuais	 ou	 de	 convenções	 coletivas,[303]	 isto	 é,	 a
participação	facultativa	ou	convencional	é	a	em	que	o	direito	do	empregado	de	participar	nos	lucros	da
empresa	nasce	do	contrato	de	trabalho	(autonomia	individual)	ou	da	convenção	coletiva	(autonomia
coletiva).[304]	 Em	 suma,	 ao	 examinarmos	 diferentes	 ordenamentos	 jurídicos	 estrangeiros	 chegamos	 a
conclusão	de	que	a	participação	nos	lucros	pode	ter	origem	legal	(participação	obrigatória),	contratual
ou	derivar	de	mera	liberalidade	do	empregador	(participação	facultativa),	o	que	confirma	as	colocações
a	respeito	dessa	questão	que	expomos	no	capítulo	anterior.
Utilizando	outras	palavras,	pode-se	dizer	que	a	participação	obrigatória	 dos	 empregados	 nos
lucros	 da	 empresa	 é	 o	 compulsory	 profit	 sharing,	 isto	 é,	 participação	 nos	 lucros	 compulsória	 ou
estabelecida	por	imposição	legal.		Como	vimos,	FRANCISCO	CAVALCANTI	PONTES	DE	MIRANDA
esclarece	que	a	participação	nos	 lucros	é	obrigatória	quando	ocorre	como	eficácia	de	 fato	 jurídico,
em	virtude	de	 incidência	de	 regra	 jurídica	 sobre	 suporte	 fático	em	que	há	os	elementos	 “empresa”,
“empregadores”,	 “empregados”	 e	 “lucros”,	 sendo	 que	 a	 eficácia	 de	 tal	 fato	 jurídico	 compõe-se	 do
direito	de	participar,	do	dever	de	dar	participação,	da	pretensão	a	participar	e	da	obrigação	de	prestar	o
quanto	da	participação	ao	empregado.	Portanto,	a	participação	obrigatória	nos	 lucros	não	pode	 ser	a
participação	decorrente:	a)	da	líbito	dos	empregadores,	ou	seja,	da	liberalidade	da	empresa;	b)	de	dever
moral;	ou	c)	de	ato	unilateral	ou	de	convenção,	isto	é,	em	virtude	de	negócio	jurídico.	Inclusive,	deve-se
frisar	que	a	participação	em	virtude	de	negócio	jurídico	gera	direito	e	dever,	pretensão	e	obrigação	de
prestar,	 enquanto	 que	 a	 participação	 em	 virtude	 de	 lei	 cria	 direito	 e	 dever,	 pretensão	 e	 obrigação,
independente	 de	 qualquer	 convenção	 ou	 ato	 unilateral.	 A	participação	 obrigatória	 constituí	direito
cogente	(racionalmente	necessário),	não	fica	a	líbito	das	empresas	admiti-la	ou	não,	isto	é,	há	de	haver
em	 qualquer	 empresa,	 que	 apure	 lucros.[305]	 Todavia,	 quando	 a	 regra	 jurídica	 apenas	 obriga	 a
participação	dos	empregados	nos	lucros,	ficando	à	autonomia	apenas	das	empresas	ou	à	autonomia	das
empresas	e	dos	empregados	edificar	o	seu	plano,	ainda	assim	a	participação	nos	 lucros	é	considerada
obrigatória.
Em	 virtude	 disso,	 segundo	 FRANCISCO	 CAVALCANTI	 PONTES	 DE	 MIRANDA,	 constituí,
pois,	 participação	 facultativa	 nos	 lucros	 quando	 o	 ato	 de	 concessão	 é	 conteúdo	 de	 autonomia	 da
vontade,	 isto	é,	quando,	como	visto,	decorre:	a)	da	líbito	dos	empregadores	(por	exemplo,	quando	e	o
empregador	 fixar	 ou	 pré-fixar	 o	 que	 se	 distribuirá	 de	 bonificação	 de	 fim	 de	 ano	 ou	 gratificação	 de
balanço,	nas	indústrias);	b)	de	dever	moral;	ou	c)	de	ato	unilateral	ou	de	convenção,	isto	é,	em	virtude	de
negócio	 jurídico.[306]	 	 No	 entanto,	 se	 a	 lei	 estabelece	 que	 será	 obrigatória	 a	 participação	 nos	 lucros
quando	 a	 empresa	 incluir	 este	 direito	 dos	 empregados	 em	 seus	 estatutos	 ou	 deliberarem	 conceder
participação,	 ainda	 assim	 a	 participação	 nos	 lucros	 é	 considerada	 facultativa.	 	 Inclusive	ARNALDO
SÜSSEKIND	 lembra	 que,	 no	 Brasil,	 sobretudo	 no	 comércio,	 não	 é	 raro	 o	 empregado	 participar	 dos
lucros	da	empresa	em	virtude	de	ato	de	iniciativa	patronal	que	passa	a	constituir	cláusula	do	respectivo
contrato	de	trabalho.[307]
	
“GRATIFICAÇÃO	 DE	 BALANÇO	 -	 EXPECTATIVA	 DE	 DIREITO	 -
FRACIONAMENTO.	 	 Na	 gratificação	 que	 tem	 como	 fonte	 a	 apuração	 dos
resultados	 da	 empresa	 no	 ano	 anterior,	 seja	 participação	 nos	 lucros	 ou
gratificação	 de	 balanço,	 o	 que	 prevalece	 é	 a	 intenção	 da	 empresa	 em	 premiar
aqueles	 que	 contribuíram	 com	 seu	 trabalho	 para	melhores	 resultados	 finais.	 A
liberalidade	passa	a	ser	a	expectativa	e	direito	indiscutível	quando	efetivamente
concedida.	 Ao	 empregado	 que	 fez	 jus	 à	 vantagem,	 porque	 colaborou	 com	 os
resultados	 da	 empresa	 no	 ano	 em	 referência,	 são	 devidos	 os	 valores
correspondentes	 ao	 período	 dedicado	 ao	 sucesso	 da	 empresa;	 portanto,	 em	 12
avos”.[308]
	
Há	autores	que	condenam	com	veemência	a	participação	obrigatória	nos	lucros	da	empresa,	por
considerá-la	 absurda	 e	 impraticável,[309]	 porém,	 como	 menciona	 MOZART	 VICTOR	 RUSSOMANO,
outros	 autores	 aconselham,	 pelo	menos	 de	 início,	 que	 se	 adote	 a	participação	 facultativa;	 só	 depois,
quando	 o	 costume	 houver	 cristalizado	 o	 regime	 de	 participação	 nos	 lucros,	 a	 lei	 deve	 nascer,	 para
consagrar	a	realidade.	Segundo	ele,	este	entendimento	constituí	também	um	erro	grave	e	profundo.[310]	O
escritor,	advogado	e	patrono	belga	EDMOND	PICCARD	(Bruselas,	15.12.1836	-	Namur,	19.02.1924),
destaca,	por	sua	vez,	que,se	é	certo	que	o	costume,	direito	em	estado	cartilaginoso,	antecedeu	a	lei,	que
é	direito	ossificado,	na	formação	jurídica	das	sociedades	humanas;	se	é	verdade	que	esse	fenômeno	de
consubstanciação	ainda	se	repete,	nos	agrupamentos	modernos	-	não	é	menos	exato	que	a	lei,	como	fonte
formal	 imediata	do	direito	objetivo,	pode	criar	o	 costume.[311]	Daí	MOZART	VICTOR	RUSSOMANO
acreditar	que	isso	se	torna	mais	possível,	sobretudo	no	Direito	do	Trabalho,	uma	vez	que	nesse	ramo	do
Direito	 não	 se	 pode	 esperar	 pelo	 consentimento	 tácito	 das	 sociedades	 para	 se	 seguir	 adiante,	 na
renovação	dos	cânones	econômicos	que	 regem	a	vida	das	classes,	 especialmente	 se	 se	considerar	que
esta	disciplina	conclui	com	base	em	interesses	econômicos	(visceralmente	egoístas)	e	que	as	categorias
humanas	 economicamente	 predominantes	 podem	 embargar,	 nas	 nações	 capitalistas,	 o	 desenvolvimento
natural	 dos	 ideais	 populares.	 Para	 MOZART	 VICTOR	 RUSSOMANO,	 a	 participação	 facultativa
corresponde,	 pois,	 praticamente,	 à	 participação	 inexistente.	 Apesar	 de	 haver	 uma	 pequena	 minoria
patronal	sempre	pronta	a	ouvir	os	reclamos	do	operariado,	a	verdade	ainda	é	aquela	velha,	contundente,
dolorosa	verdade	 apontada	pelo	 revolucionário	 e	 chefe	de	Estado	 russo,	 responsável	 em	grande	parte
pela	 execução	 da	 Revolução	 Russa	 de	 1917,	 líder	 do	 Partido	 Comunista,	 e	 primeiro	 presidente	 do
Conselho	 dos	 Comissários	 do	 Povo	 da	 União	 Soviética	 VLADIMIR	 ILITCH	 LENIN	 ou	 LENINE:	 “a
história	nos	demonstra	que	nenhuma	classe	dominante,	até	hoje,	abriu	mão	de	seus	privilégios	e	de
suas	prerrogativas,	apenas,	por	amor	ao	próximo,	por	amor	à	justiça	e	por	amor	à	paz	humana”.[312]
Portanto,	 na	 opinião	 de	 MOZART	 VICTOR	 RUSSOMANO,	 a	 participação	 deve	 ser
obrigatória.	 Todavia,	 se	 ela	 deve	 ser	 obrigatória,	 deve	 haver	 uma	 fiscalização	 efetiva	 sobre	 a
contabilidade	das	empresas,	a	 fim	de	que	não	se	processe	a	burla	ao	Direito.	 Inclusive,	para	ele,	este
constitui	o	ponto	nevrálgico	da	questão,	uma	vez	que	na	elasticidade	das	escriturações	comerciais	reside,
precisamente,	os	argumentos	principais	contra	a	adoção	do	sistema.[313]	Sobre	 isto	esclarece	TOLSTOI
CLADERCIANO	KLEIN	que	a	elasticidade	das	escriturações	comerciais	deve	evitar	que	se	processem
mutações	 ou	 variações	 patrimoniais,	 pois,	 estas,	 contabilmente	 consideradas,	 são	 as	maiores	 válvulas
para	 disfarces	 de	 despesas	 -	 diminuição	 de	 lucros.	 Por	 isso	 TOLSTOI	 CLADERCIANO	 KLEIN,
sopesando	as	dificuldades	da	fiscalização,	prefere	o	regime	de	fundos	de	participação.[314]
Como	foi	dito	antes,	muitos	não	pensam	assim,	o	Juiz	Togado	do	Tribunal	Regional	do	Trabalho
da	2ª	Região	ROBERTO	BARRETTO	PRADO,	por	exemplo,	entende	que	as	empresas	se	diversificam
de	modo	extremo,	no	que	 toca	 às	 suas	 condições	de	 existência	 e	 funcionamento,	 sobretudo	no	que	diz
respeito	à	capacidade	econômica	e	financeira.	Para	ele,	é	inútil,	pois,	diante	da	diversidade	da	realidade
que	se	nos	apresenta,	querer	 impor	sistemas	rígidos	de	conduta,	no	que	 toca	à	organização	 interna	dos
empreendimentos,	que	só	serviriam	para	opor	barreiras	intransponíveis	ao	desenvolvimento	e	progresso
do	 país.	 	 Acrescenta	 que	 a	 participação	 dos	 empregados	 nos	 lucros	 da	 empresa,	 em	 benefícios	 de
interesse	geral	ou	em	dinheiro	distribuído	a	cada	um	deles,	constitui	problema	de	conveniência,	variável
segundo	 as	 diversas	 situações	 concretas,	 e	 que	 pelos	 interessados	 diretos	 pode	 e	 deve	 ser	 resolvido.
Portanto,	na	opinião	de	ROBERTO	BARRETTO	PRADO,	a	participação	dos	empregados	nos	lucros	da
empresa	deve	ser	facultativa.[315]
No	 Brasil,	 a	 Constituição	 de	 1946	 e	 a	 seguinte	 determinavam	 a	 participação	 obrigatória	 do
trabalhador	 nos	 lucros	 da	 empresa,	 nos	 termos	 e	 pela	 forma	 que	 a	 lei	 regulasse,	 todavia	 estes	 textos
constitucionais	jamais	tiveram	a	necessária	regulamentação,	de	modo	que	os	empregadores	só	concediam
participação	 nos	 lucros	 aos	 empregados	 se	 assim	 entendessem	 conveniente,	 ou	 seja,	 por	 falta	 de
regulamentação,	a	participação	obrigatória	transformou-se,	na	prática,	em	mera	participação	facultativa,
com	exceção	de	alguns	casos	particulares.	Algumas	leis	especiais	e	estatutos	sociais	de	companhias	têm
tornado	 obrigatória	 a	 participação	 dos	 empregados	 nos	 lucros	 de	 algumas	 empresas,	 isto	 é,	 têm
sancionado	 expressamente	 a	 concessão	 de	 participação	 nos	 lucros	 aos	 seus	 empregados.	 Geralmente
referem-se	a	participação	nos	lucros	de	sociedades	de	economia	mista,	como	por	exemplo,	o	art.	51	do
Estatuto	Social	da	PETROBRÁS,.[316]	etc.
Todavia,	no	geral,	a	participação	dos	empregados	nos	lucros	das	empresas	ocorre	por	meio	de
Convenção	Coletiva	de	Trabalho.	Por	exemplo,	pelo	quinto	ano	consecutivo	os	empregados	da	Caixa
Econômica	Federal	–CEF	recebem	a	Participação	nos	Lucros	e	Resultados	Social	–	PLR/Social,	a	qual
determina	 a	 distribuição	 de	 4%	 (quatro	 por	 cento)	 do	 lucro	 líquido	 de	 forma	 linear	 entre	 todos	 os
trabalhadores.	Esse	pagamento	da	Participação	nos	Lucros	e	Resultados	–	PLR	e	do	valor	adicional,
foram	conquistados	pela	categoria	na	campanha	de	2013.	Ademais,	a	Caixa	Econômica	Federal	–CEF
também	 tem	 de	 pagar	 a	 regra	 básica	 da	 Participação	 nos	 Lucros	 e	 Resultados	 –	 PLR,	 prevista	 na
Convenção	Coletiva	de	Trabalho,	 que	 correspondente	 a	 90%	 (noventa	 por	 cento)	 do	 salário	mais	R$
1.694,00.	Se	 o	 total	 apurado	na	distribuição	dessa	 regra	 for	 inferior	 a	 5%	 (cinco	por	 cento)	 do	 lucro
apurado,	o	valor	a	ser	pago	deve	ser	aumentado	até	atingir	esse	percentual	ou	2,2	salários	do	empregado,
limitado	 a	 R$	 19.992,46,	 o	 que	 ocorrer	 primeiro.	 Desse	 total	 é	 descontada	 as	 parcelas	 pagas
antecipadamente.	Os	 empregados	 também	 recebem	 a	 parcela	 adicional	 da	Participação	 nos	 Lucros	 e
Resultados	–	PLR	que	equivale	à	distribuição	linear	de	2,2%	do	lucro	líquido	com	teto	de	R$	3.388,00.
Desse	montante	é	descontada	a	antecipação	que	 tiver	 sido	 feita.	Além	disso,	os	empregados	da	Caixa
Econômica	Federal	–CEF	 ainda	pagam	menos	 imposto	de	 renda	 retido	na	 fonte	 sobre	a	Participação
nos	Lucros	e	Resultados	–	PLR,	 sendo	a	 isenção	é	 total	para	valores	até	R$	6.270,00,	com	descontos
menores	acima	desse	montante.
Outrossim,	WILSON	DE	 SOUZA	CAMPOS	BATALHA	 lembra	 que	 a	 distribuição	 facultativa
dos	 lucros	pelo	empregador	aos	empregados	vem	sendo	adotada,	por	 força	de	convenções	coletivas	e
contratos	individuais,	nos	países	mais	civilizados,	tais	como	a	França,	a	Itália,	a	Espanha,	a	Alemanha,	a
Inglaterra,	os	Estados	Unidos,	a	Áustria,	a	Holanda,	a	Noruega,	Portugal	etc.[317]	Nesses	países,	portanto,
na	atualidade,	a	participação	nos	lucros	é	sempre	de	origem	convencional,	apesar	de	no	passado,	como
vimos,	 se	 ter	 pensado	 em	 participação	 obrigatória	 nos	 lucros,	 principalmente	 na	 França	 (1919),	 na
Tcheco-Eslováquia	(1920),	na	Itália	(1921),	na	Noruega	(1922),	em	Portugal	(1923),	na	Nova	Zelândia
(1924),	na	Bélgica,	na	Inglaterra	e	outros	países,	dos	quais	alguns	chegaram	mesmo	a	legislar.	Todavia
alerta	ERNESTO	R.	KATZ	que,	com	exceção	da	Alemanha,	Inglaterra,	Holanda	e	Estados	Unidos,	onde
se	 verificou	 relativo	 sucesso,	 essa	 experiência	 não	 vem	 apresentando,	 de	 um	 modo	 geral,	 o
desenvolvimento	que	seria	de	se	esperar.	Uma	ou	outra	empresa	 individual	prospera,	mas	a	verdade	é
que	 esse	 sistema	 não	 adquiriu	maior	 importância	 e	 relevo	 na	 paisagem	 econômica	 contemporânea.[318]
Para	o	economista	FRANÇOIS	PERROUX,	tal	ocorre	porque	ainda	perdura	a	hostilidade	do	empregado
para	 com	 a	 empresa,	 decorrente	 da	 dificuldade	 de	 controle	 dos	 lucros	 e	 da	 impossibilidade	 dos
empregados	participarem	das	perdas	sociais,	da	modicidade	dos	lucros	e	conseqüente	dificuldades	de	um
justo	critério	de	sua	distribuição	e,	finalmente,	da	longa	duraçãodo	exercício,	em	geral,	anual,	que	não
permite	aos	empregados	acompanharem	os	resultados	obtidos	pelo	empreendimento.[319]
Portanto,	 entre	 os	 que	 se	 opõem	 à	 ideia	 de	 participação	 obrigatória	 nos	 lucros	 é	 corrente	 o
argumento	 de	 que	 ela	 faria	 baixar	 os	 níveis	 de	 produção	 e,	 ainda,	 seria	 um	 contra-estímulo	 aos
investimentos	 e	 ao	 espírito	 de	 iniciativa	 dos	 empresários.	No	 entanto,	 em	 outras	 nações	 o	 sistema	 de
participação	 facultativa	é	 largamente	aplicado	por	 iniciativa	das	próprias	empresas,	 já	que	as	 leis	do
país	não	as	obrigam	a	isso.
O	advogado	e	professor	chileno	CARLOS	AUGUSTO	VIAL	ESPANTOSO	(Lima,	22.02.1900	-
Santiago,	 03.05.1995),	 antigo	 ministro	 da	 Fazenda	 na	 República	 do	 Chile	 (27.02.1950-15.10.1950),
abordando	 o	 tema	 da	 participação	 nos	 lucros,	 depois	 de	 examinar	 em	 profundidade	 a	 doutrina	 que	 a
fundamenta	 e	 a	 justifica,	 realizou	 um	 balanço	 das	 experiências	 já	 realizadas	 e	 apontou	 resultados
surpreendentes	 dos	 sistemas	de	 participação	nos	 lucros,	 que	vão	 configurando	 a	moderna	 empresa	 em
formas	eqüidistantes	dos	velhos	modelos	do	capitalismo	liberal	e	dos	novos	do	dirigismo	estatal	ou	da
socialização	das	empresas	de	produção.[320]
Na	Inglaterra,	mais	de	quatrocentas	empresas	trabalham	em	regime	de	participação.	E	o	resultado
foi	positivo.		É	suficiente	citar	um	exemplo:	a	fábrica	Hoover,	em	1947,	entregou	aos	seus	operários,	a
título	de	participação	nos	lucros,	ações	no	valor	de	40	mil	libras.	E,	cinco	anos	depois,	as	mesmas	ações
eram	 cotadas	 no	 mercado	 em	 mais	 de	 dois	 milhões	 de	 libras,	 o	 que	 atestava,	 com	 eloqüência,	 a
prosperidade	 da	 empresa.	 Na	 Holanda,	 em	 1951,	 mais	 de	 250.000	 operários	 já	 trabalhavam	 com
participação	nos	lucros.	E	entre	os	estabelecimentos	que	distribuíam	parcelas	dos	seus	lucros,	a	fábrica
Philips	 de	 material	 elétrico	 não	 sofreram	 qualquer	 retrocesso	 ou	 parada	 no	 desenvolvimento	 da	 sua
prosperidade.	 	Nos	Estados	Unidos	da	América	do	Norte,	em	1948,	criou-se	o	Conselho	de	 Indústria
com	Participação.	Eram,	de	início,	51	(cinquenta	e	uma)	empresas	com	35.000	operários.		Em	1952,	o
número	de	operários,	que	trabalhavam	em	regime	de	participação,	elevou-se	para	780.000	e	para	quase
800	(oitocentos)	o	número	das	empresas.	E	entre	estas,	as	mais	prósperas.	Outrossim,	o	Senado	norte-
americano	procedeu	a	um	 inquérito,	 a	 fim	de	 investigar	os	 resultados	da	participação	dos	empregados
nos	 lucros	da	empresa.	 	E	o	 respectivo	 relatório	mostrou	as	vantagens	e	 as	 conveniências	do	 sistema,
notadamente,	no	tocante	à	estabilidade	do	empregado	e	aos	reduzidos	índices	de	greve.	Daí	a	observação
do	 professor	 de	 historia	 do	College	 of	William	 and	Mary,	Williamsburg	 (Virginia)	 JUDITH	EWELL:
“quando	 numa	 área	 onde	 se	 aplica	 a	 participação,	 área	 já	 imensa,	 nenhuma	 greve	 se	 registra,	 fica
demonstrado	que	esse	sistema	é	o	antídoto	da	 luta	de	classe	e	da	 instabilidade	social”.[321]	Segundo	os
dados	concretos	anunciados	pelo	Conselho	norte-americano	das	indústrias	que	trabalhavam	em	regime	de
participação	nos	 lucros	os	frutos	do	sistema	eram	os	seguintes:	a)	60%	(sessenta	por	cento)	a	mais	na
remuneração	global	dos	trabalhadores	em	confronto	com	os	melhores	salários	pagos	em	outras	indústrias
do	mesmo	ramo;	b)	40%	de	aumento	da	eficiência	na	produção	por	empregado;	c)	entre	30%	(trinta	por
cento)	a	40%	(quarenta	por	cento)	de	redução	nos	preços	para	o	consumidor	de	artigos	manufaturados;	d)
renovação	do	quadro	de	empregados	muito	reduzida	e,	em	certos	casos,	totalmente	eliminada;	e)	grande
número	nas	sugestões	dos	trabalhadores	quanto	às	inovações	consideradas	favoráveis	à	vida	da	empresa;
f)	redução	das	queixas	e	das	greves,	que	se	tornaram	cada	vez	mais	escassas;	g)	virtual	desaparecimento
da	 vigilância	 que	 se	 tornou	 desnecessária;	 h)	 número	 crescente	 de	 trabalhadores	 qualificados	 que
desejavam	 ingressar	 nas	 empresas	 sob	 regime	 de	 participação	 nos	 lucros;	 e,	 finalmente,	 i)	 como
resultado	do	 sistema,	 apontava-se	o	 clima	de	 compreensão	de	 cooperação	e	de	ordem,	que	presidia	 a
vida	 da	 empresa,	 onde,	 a	 final,	 os	 agitadores	 não	 tinham	 função	 a	 exercer.	 Esses	 são	 exemplos	 de
resultados	das	experiências	conhecidas	com	o	 regime	da	participação	 facultativa	dos	 empregados	nos
lucros	das	empresas.[322]
Esclarece,	 ainda,	 ROBERTO	 BARRETTO	 PRADO	 que,	 enquanto	 persistir	 a	 desconfiança	 e
mesmo	 hostilidade	 entre	 o	 empregado	 e	 o	 empregador,	 qualquer	 reforma	 social	 torna-se	 inoperante,
precária	ou	de	valor	muito	limitado.	E	como	quebrar	essa	hostilidade?	Segundo	ele,	a	única	solução	que
se	 encontra,	 no	 plano	 jurídico,	 vem	 a	 ser,	 justamente,	 a	 maior	 integração	 do	 empregado	 na	 empresa.
Deve-se	 obter	 isto,	 segundo	 ele,	 tentando-se,	 aos	 poucos,	 despertar	 a	 consciência	 da	 comunidade	 de
interesse	entre	 todos	aqueles	que	 juntos	 trabalham	para	 idênticos	objetivos.[323]	Por	 isso	a	participação
facultativa	é	a	mais	recomendada.		Ademais,	a	distribuição	obrigatória	dos	lucros	entre	os	empregados
existia	ou	existe	apenas	na	legislação	de	alguns	países	latino-americanos.	Ao	que	consta,	adotaram	esse
sistema	o	México,	o	Chile,	a	Argentina,	a	Venezuela,	o	Peru,	a	Colômbia	(neste	país,	desde	1923	que	se
procurava	 prevalecer	 a	 participação	 obrigatória),	 a	 Bolívia	 e	 o	 Equador.	 Todavia	 salienta
CRISTOFORO	 ARCISZEWSKI	 DE	 ESTANISLAU	 FISCHLOWITZ	 que	 essas	 medidas	 foram
certamente	 o	 resultado	 das	 situações	 inflacionárias	 existentes	 nos	 países	 subdesenvolvidos,	 que
impelem	 os	 legisladores	 a	 descobrir	 formas	 de	 aumentar	 salários	 dos	 empregados,	 de	 maneira	 a
contrabalançar	 os	 lucros	 fáceis	 e	 excessivos	 que	 freqüentemente	 se	 constatam.[324]	 Já	 ORLANDO
GOMES	 DOS	 SANTOS	 e	 ELSON	 GOTTSCHALK	 argumentam	 que	 os	 países	 em	 fase	 de
desenvolvimento,	que	não	contam	com	extensa	rede	de	convenções	coletivas,	apelam	para	a	participação
obrigatória	ou	legal,	regulando-a	em	caráter	geral	ou	especialmente	para	determinadas	empresas.[325]
Por	 outro	 lado,	 CRISTOFORO	ARCISZEWSKI	 DE	 ESTANISLAU	FISCHLOWITZ	 coloca-se
entre	os	autores	que	combatem	a	participação	obrigatória,	alegando	que:	a)	esta	espécie	de	participação
não	é	instrumento	de	paz	social,	mas	meio	de	se	criar	uma	fonte	permanente	de	conflitos	e	atritos	entre	as
duas	 classes	 produtoras;	 b)	 ela	 provocaria	 a	 descapitalização;	 c)	 provocaria,	 também,	 a	 constante
migração	artificial	dos	trabalhadores	das	empresas	com	menores	coeficientes	de	rentabilidade	para	as	de
lucros	 mais	 elevados;	 d)	 a	 participação	 obrigatória	 criaria,	 ainda,	 insustentáveis	 contrastes	 entre	 os
rendimentos	dos	trabalhadores	que,	exercendo	o	mesmo	emprego,	se	encontrassem	a	serviço	de	empresas
mais	ou	menos	lucrativas;	e	e)	constituiria	entraves	ao	influxo	de	investimentos	estrangeiros.[326]
ARNALDO	 SÜSSEKIND	 também	 afirma	 que	 o	 sistema	 da	 participação	 obrigatória,	 ou
participação	 imposta	 por	 lei,	 em	 poucos	 países	 é	 aplicado.	 Esclarece	 ele	 que	 não	 se	 verificou	 a
generalização	 desse	 sistema	 porque	 os	 patrões,	 de	 um	 modo	 geral,	 não	 o	 desejam,	 pois	 não	 querem
discutir	 os	 seus	 lucros	 com	 os	 respectivos	 empregados,	 e	 estes,	 em	 grande	 parte,	 também	 não	 se
interessam	pela	participação,	 já	que	preferem	extrair	dos	seus	salários	qualquer	condição	aleatória.[327]
Além	disso,	 lembra	 JOÃO	RÉGIS	FASSBENDER	TEIXEIRA	que	o	maior	de	 todos	os	argumentos	da
classe	 empresarial	 contra	 esse	 instituto	 e	 que	 quase	 sempre	 fica	 oculto	 é	 o	 temor	 à	 fiscalização	 nas
escritas	 a	 que	 a	 participação	 nos	 lucros	 leva,	 por	 parte	 dos	 empregados	 e	 de	 seus	 sindicatos.[328]	 No
mesmo	sentido,	o	advogado,	escritor	membro	do	Ministério	Público	e	professor	brasileiro	EVARISTO
DE	MORAES	FILHO	(Rio	de	Janeiro,	05.07.1914-)	diz	que,	na	verdade,	não	se	verifica	o	regime	de
participação	obrigatória	nos	lucros	na	pauta	de	reivindicação	mais	forte	dos	trabalhadores	em	qualquer
parte	 do	 mundo.	 Não	 se	 tem	 notícia	 de	 greves	 reivindicatórias	 deste	 favor	 ou	 regalia.	 	 Preferem	 os
trabalhadores	um	regime	de	salários	mais	altos	e	garantidos,	deixando	para	o	empresário	os	riscos	e	as
preocupações	a	 respeito	da	possibilidade	de	 lucros	compensadores	da	empresa	e	 seu	destino.	Por	 sua
vez,	em	sua	imensa	maioria,	os	empregadores	não	vêem	com	bons	olhos	tal	regime,	receosos	do	passo
adiante	 dado	 pelos	 empregados,	 na	 cogestão	 e	 na	 fiscalização	 da	 vida	 financeira	 da	 empresa,	 com	 a
disposição	e	o	esvaziamento	dos	lucros	que	deviam	ou	podiam	ser	reinvestidos.[329]
Enfim,	PAULO	SARASATE	FERREIRA	LOPES	também	é	contrário	a	participação	obrigatória
nos	lucros.	Diz	ele	que	instituindo	a	participação	com	tão	elevados	intuitos,	correremos,	sem	o	desejar,	o
risco	de	influir	negativamente	na	economia	nacional,	com	os	desequilíbrios	que	poderão	resultar	na	vida
de	 muitas	 empresas.	 E	 um	 dos	 principais	 desequilíbrios	 que	 a	 participação	 obrigatória	 traz	 é,	 sem
sombra	de	dúvida,	o	sério	risco	de	exclusão	total	ou	parcial	do	lucro	do	sócio,	ao	ponto	de	não	haver
qualquer	 razão	 para	 investir	 seus	 cabedais	 na	 empresa.[330]	 Ademais,	 lembra	 FRANCISCO
CAVALCANTI	PONTES	DE	MIRANDA	que	a	redução	dos	lucros	aptos	ao	pagamento	dos	dividendos,
provocada	 pela	 participação	 obrigatória,	 a	 ponto	 de	 se	 excluir,	 no	 todo	 ou	 em	 parte,	 a	 justa
remuneração	do	capital,	 tanto	quanto	os	 impostos	“confiscatórios”,	 é	desapropriação	 total	ou	parcial,
sem	indenização.[331]
Lembramos	que	a	determinação	da	 justa	remuneração	do	trabalho	é	 tentada,	 incessantemente,
por	empregados,	por	empregadores	e	pela	intervenção	do	Estado.	A	determinação	da	 justa	retribuição
da	iniciativa	ou	é	prevista	em	lei	para	os	empreendedores,	ou	tentada	pelos	donos	das	empresas	e	pelos
que	 têm	a	 iniciativa.	A	determinação	da	 justa	 remuneração	do	capital	 ou	 se	 faz	 partindo-se	 do	 lucro
próximo	da	taxa	de	juros,	que	é	aquele	que	permite	continuar-se	nas	operações	da	empresa,	ou	de	lucro
que	justifique	a	inversão	na	indústria	ou	no	comércio,	em	vez	do	empréstimo	a	juros,	ou	de	outros	meios
de	 inversão.	 A	 justa	 remuneração	 do	 capital	 nada	 tem,	 por	 exemplo,	 com	 a	 justa	 remuneração	 da
iniciativa	 (por	 exemplo,	 da	 direção,	 que	 é	 o	 preço	 do	 esforço	 dos	 dirigentes	 da	 empresa	 ou	 serviço,
ainda	que	percebam	outros	proventos	como	trabalhadores	ou	como	capitalistas),	com	o	que	se	paga	em
matéria-prima	 e	 com	os	 salários.	A	baixa	 remuneração	do	capital,	 aquém	da	 taxa	 que	 se	 obteria	 por
empréstimo	 é	 injusta:	 o	 capital	 evade-se	 de	 onde	 não	 lhe	 pagam	 aquilo	 que	 os	 próprios	 mutuários
pagariam.[332]
	
	
4.5	COMPATIBILIDADE	DA	PARTICIPAÇÃO	NOS
LUCROS	COM	O	CONTRATO	DE	TRABALHO
	
	
Parece	 haver	 unanimidade	 dos	 autores,	 entre	 os	 quais	 o	 jurista	 francês	 GEORGES	 ERNEST
BRY,[333]	o	jurista	francês	MARCEL	FERDINAND	PLANIOL	(Nantes,	23.09.1853	-	Paris,	31.08.1931),
[334]	 o	 jurista	 francês	 e	 professor	 da	 Faculdade	 de	Direito	 de	Nancy	 PAUL	DURAND	 (Alger,	 1908	 –
Agadir,	1960),[335]	o	destacado	jurista	e	professor	da	Universidad	Nacional	Autónoma	de	México	MARIO
DE	LA	CUEVA	Y	DE	LA	ROSA	 (Ciudad	 de	Mexico,	 1901	 –	Ciudad	 de	Mexico,	 1981),[336]	 o	 jurista
italiano	 e	 professor	 da	 Accademia	 Nazionale	 dei	 Lincei	 FRANCESCO	 SANTORO-PASSARELI
(Altamura,	 19.07.1902	 –	 Roma,	 04.11.1995),[337]	 o	 advogado	 e	 jurista	 clássico	 NÉLIO	 REIS,[338]
professor	de	Direito	do	Trabalho	da	Universidade	Federal	da	Bahia	JOSÉ	MARTINS	CATHARINO,[339]
ARNALDO	 SÜSSEKIND[340]	 e	 JOSÉ	 SEGADAS	 VIANNA,[341]	 sobre	 o	 entendimento	 de	 que	 a
participação	nos	lucros	da	empresa	é	perfeitamente	compatível	com	o	contrato	de	trabalho,	ou	seja,
esta	espécie	de	retribuição	para	o	empregado	não	transforma	o	seu	contrato	de	trabalho	em	contrato	de
sociedade.	A	primeira	vista,	 talvez	se	veja	como	 irrelevante	o	debate	a	 respeito	dessa	questão,	porém
não	 é.	 Realmente,	 havia	 o	 temor	 de	 que	 a	 participação	 do	 trabalhador	 nos	 resultados	 auferidos	 pela
empresa	transformasse	o	contrato	de	trabalho	em	contrato	de	sociedade.	Todavia,	como	dito,	a	grande
maioria	dos	juristas	afasta	esta	possibilidade,	inclusive	a	de	que	o	contrato	de	trabalho	converter-se-ia
em	um	contrato	misto,	isto	é,	um	contrato	ao	mesmo	tempo	de	trabalho	e	de	sociedade.
A	opinião	predominante	é	no	sentido	de	que	a	participação	nos	 lucros	não	é	mais	do	que	uma
condição,	que	pode	ser	 imposta	por	 lei	 (nos	países	onde	vigora	 legislação	própria)	ou	por	convenção
coletiva	 ou	 acordo	 entre	 as	 partes	 do	 contrato	 de	 trabalho	 (principalmente	 nos	 países	 onde	 não	 se
regulamentou	 a	 matéria	 em	 lei).	 Daí	 porque	 os	 proventos	 advindos	 dessa	 participação	 devem	 ser
considerados	como	salário.	ARNALDO	SÜSSEKIND,	a	 seu	 turno,	 esclarece	que	 o	 trabalhador	pode
ser,	ao	mesmo	tempo,	sócio	e	empregado	da	empresa,	entretanto	essa	dupla	qualidade	decorrerá	de	duas
relações	jurídicas	distintas:	o	contrato	de	sociedade	e	o	contrato	de	trabalho.[342]
	
“O	empregado	estável	que	entra	como	sócio	da	firma	não	perde	aquela	condição
anterior,	 máxime	 se	 continua	 a	 exercer	 as	 mesmas	 funções,	 o	 que	 faz	 supor	 a
existência	paralela	das	duas	situações”;[343]
	
“O	sócio-acionista	que	apenas	possui	uma	parcela	mínima	do	acordo	social	de
uma	 sociedade	 em	 comandita	 por	 ações,	 dedicando	 sua	 atividade	 a	 ela	 de
maneira	 absorvente,	 continuada,	 mediante	 uma	 remuneração	 ajustada	 nos
próprios	estatutos,	e	sujeito	ao	arbítrio	da	direção	suprema,	não	pode	ter	definido
o	seu	status	pelo	de	sócio,	mas,	sim,	pelo	de	empregado”.[344]
	
Acrescenta	ARNALDO	SÜSSEKIND	que,	quando	existir	apenas	uma	relação,	haverá	empregado
se	este	 trabalhar	 juridicamente	subordinado	à	administração	da	empresa,	bem	como	haverá	contrato	de
sociedade	 se	 o	 trabalho	 dos	 seus	 participantes	 configurar	 a	affectio	societatis,	 isto	 é,	 se	 configurar	 a
comunhão	de	direitos	e	obrigações	para	atender	às	finalidades	da	empresa.[345]	No	contrato	de	trabalho,	a
participação	nos	lucros	decorre	de	uma	norma,	legal	ou	contratual,	constitui	uma	forma	de	remuneração
do	empregado	e	não	implica	na	absorção	dos	prejuízos	sofridos	pelo	empreendimento.	Já	no	contrato	de
sociedade,	a	participação	nos	 lucros	decorre	da	 fusão	 (ou	da	centralização,	na	 terminologia	de	KARL
HEINRICH	MARX)	de	capitais,	isto	é,	constitui	a	remuneração	do	capital;	esta	participação	societária,
como	salienta	ORLANDO	GOMES	DOS	SANTOS,	obriga	a	participação	nas	perdas,	assumindo	todos
os	contratantes	as	responsabilidades	e	os	riscos	do	empreendimento.	Mais	do	que	simples	cooperação,	a
associação	das	pessoas,	para	lograr	um	fim	comum,	identifica	seus	interesses	e	conjuga	seus	esforços,	no
mesmo	plano	hierárquico.[346]
Da	mesma	maneira,	ORLANDO	GOMES	DOS	SANTOS	e	ELSON	GOTTSCHALK	esclarecem
que,	com	efeito,	nada	obsta	a	que	esta	forma	de	retribuição	do	capital	ou	da	atividade	de	uma	pessoa,
adequada	ao	contrato	de	sociedade,	seja	aplicada	ao	contrato	de	trabalho,	desde	que	se	não	acompanhe
a	correspectiva	partilha	nas	perdas.	Segundo	eles,	a	relação	de	emprego	não	se	desvirtua,	quando	um
dos	 elementos	 -	 precisamente	 a	 remuneração	 -	 assume	 forma	 assimilável	 ao	 modo	 de	 percepção	 de
vantagens	atribuído	pelo	contrato	de	sociedade.	Portanto,	o	empregado	assim	remunerado	não	se	converte
em	sócio.[347]
O	trabalhador	que	participa	nos	lucros	da	empresa,	em	virtude	de	ajuste	contratual,	é	chamado,
no	 Brasil,	 de	 “interessado”.	 Esta	 denominação	 é	 utilizada	 pela	 própria	 Consolidação	 das	 Leis	 do
Trabalho	–	CLT	ao	prescrever	no	art.	63	que	“não	haverá	distinções	entre	o	empregado	e	o	interessado,	e
a	participação	noslucros	ou	comissões,	salvo	as	de	caráter	social,	não	exclui	o	participante	do	regime
deste	capítulo”	(Duração	do	Trabalho).[348]	E	se	assim	o	 legislador	 trabalhista	prescreveu	foi	porque	o
interesse	do	trabalhador	que	participa	nos	lucros	da	empresa	não	desnatura	o	contrato	de	trabalho,
muito	pelo	contrário,	constitui	simples	suplemento	salarial,	variável	e	aleatório.
	
“Suscitando-se	 dúvidas	 na	 execução	 do	 contrato,	 o	Ministério	 do	Trabalho,	 de
acordo	 com	 parecer	 do	 Sr.	 Consultor	 Jurídico,	 resolveu	 que	 se	 excluíssem	 da
aplicação	 da	 Legislação	 do	 Trabalho	 os	 quotistas	 e	 se	 declarasse	 que	 são
alcançados	 pelo	 Capítulo	 II	 da	 Consolidação	 das	 Leis	 do	 Trabalho	 os
interessados.	 	 Não	 há	 nesse	 entendimento	 vulneração	 dos	 princípios	 legais.	O
caso,	em	suas	linhas	principais,	foi	objeto	de	decisão	desta	Turma,	no	julgamento
do	 recurso	 extraordinário	 n°	 6.250.	 A	 ementa	 dessa	 decisão	 é	 expressa:	 ‘A
qualidade	de	 interessado	atribuída	 ao	 empregado,	 para	 efeitos	 de	 participação
nos	lucros	da	empresa,	não	lhe	tira	a	condição	de	salariado,	competindo	assim	à
Justiça	do	Trabalho	a	solução	das	suas	relações	contratuais	com	o	empregador’.
Já	era	essa,	aliás,	a	lição	de	Carvalho	de	Mendonça,	que,	estudando	o	contrato	de
preposição	 comercial,	 dizia:	 ‘o	 salário	 do	 preposto	 pode	 também	 consistir	 em
uma	comissão	 sobre	os	negócios	que	promover	para	o	patrão’.	Estão	 aí,	 nessa
passagem,	 duas	 dentre	 as	 diversas	 modalidades	 que	 pode	 apresentar	 a
participação:	 a	 comissão	 sobre	 vendas,	 de	 prática	mais	 corrente,	 e	 o	 interesse
dos	 lucros	 verificados	 anualmente.	 	 Isso,	 acrescenta	 o	 mestre,	 ‘não	 torna	 o
preposto	sócio	do	patrão.	Semelhante	ajuste	é	condição	aleatória	do	contrato	de
preposição.	Aceitando	a	promessa,	o	preposto	corre	o	risco	de	ter	o	seu	trabalho
mal	 retribuído	 ou	 de	 não	 ter	 retribuição’	 (Tratado	 de	 Direito	 Comercial
Brasileiro,	vol.	II,	n°	464).	Dito	está,	pois,	muito	claramente,	que	o	empregado
não	 passa	 a	 sócio	 só	 porque	 seja	 interessado,	 mesmo	 nos	 lucros	 sociais
apurados,	anualmente”.[349]
	
Portanto,	 ressalta	ARNALDO	SÜSSEKIND	que	somente	deixará	de	haver	contrato	de	 trabalho
quando	se	caracterizar	o	contrato	de	sociedade;	aí,	então,	não	haverá	empregado,	porém,	sócio.	E,	ainda
assim,	cumpre	que	cada	caso	seja	examinado	com	o	devido	cuidado,	a	fim	de	inferir-se	se	o	contrato	de
sociedade	 representa	 mero	 instrumento	 de	 fraude	 à	 lei,	 fantasiando	 relação	 de	 emprego	 realmente
existente.[350]
	
“O	que	 importa	 considerar	 é	 que	 a	 só	 participação	nos	 lucros	 da	 empresa	 não
transforma	o	empregado	em	sócio,	já	que	o	principal	característico	da	sociedade
não	 reside	 nessa	 participação,	 mas	 na	 existência	 da	 affectio	 societatis.
Verificando-se,	pois,	que	apesar	de	sua	participação	nos	lucros,	o	pseudo-sócio
de	 indústria	 não	 é	 senão	 um	 trabalhador	 subordinado,	 sendo	 tal	 subordinação
incompatível	com	a	existência	da	affectio	societatis,	 a	 conclusão	 é	 que	não	 se
configura,	na	verdade,	um	contrato	de	sociedade”.[351]
	
Como	nos	chama	a	atenção	ORLANDO	GOMES	DOS	SANTOS	e	ELSON	GOTTSCHALK,	vale
ressaltar,	 também,	 que	a	 participação	 nos	 lucros	 não	 confere	 ao	 empregado,	 sob	 este	 fundamento,	o
exercício	de	um	poder	de	controle	sobre	a	gestão	econômica	da	empresa.	A	participação	nos	 lucros,
como	 foi	 sobejamente	 demonstrado,	 não	 apaga	 no	 interessado	o	 status	 de	 empregado	 e	o	 controle	 da
gestão	da	empresa,	ao	menos	no	mundo	capitalista	em	que	vivemos,	é	apanágio	exclusivo	do	acionista
que	 detém	 a	maioria	 das	 ações	 ou	 do	 proprietário	 individual	 ou	 coletivo	 da	 empresa.	 Mencionam,
ainda,	eles	que	o	controle	operário,	mesmo	em	alguns	países	que	adotaram	a	participação	nos	lucros	sob
formas	mais	avançadas	(por	exemplo,	Alemanha,	França	e	Itália),	não	atribui	ao	pessoal	da	empresa	que
o	 exercita	 pelos	 órgãos	delegados	um	poder	 de	gestão	no	 setor	 econômico,	mas	 apenas	um	direito	 de
consulta,	 de	 ser	 ouvido	 (droit	 de	 regard),	 reservando-se	 ao	 chefe	 de	 empresa	 a	 unidade	 da	 direção
econômica	e	administrativa.[352]
Como	podemos	ver,	a	participação	nos	lucros	não	descaracteriza	o	contrato	laboral,	pois	trata-se
de	 uma	 mera	 parte	 variável	 que	 amplia	 o	 salário	 do	 empregado;	 parte	 esta	 incerta,	 que	 depende	 de
acontecimentos	futuros.	Somente	deixará	de	haver	contrato	de	trabalho	quando	se	caracterizar	o	contrato
de	sociedade;	aí,	então,	não	haverá	empregado,	porém	sócio.	Do	mesmo	modo,	conforme	se	pode	extrair
do	contido	no	art.	63	da	Consolidação	das	Leis	do	Trabalho	–	CLT,	somente	quem	 recebe	 lucros	de
caráter	social	é	sócio.	O	interessado	ou	empregado	que	participa	dos	lucros	nessa	qualidade	não	é	sócio
e	 nem	 recebe	 lucros	 de	 caráter	 social.	 Outrossim,	 o	 disposto	 no	 art.	 63	 da	 CLT	 é	 suficiente	 para
estabelecer	que	o	empregado	que,	nesta	qualidade,	participa	dos	lucros	da	empresa	não	se	transforma	em
sócio,	ou	seja,	continua	sendo	empregado	regido	pelo	regime	trabalhista,	previsto	na	CLT.
	
	
4.6	NATUREZA	JURÍDICA	DA	PARTICIPAÇÃO	NOS
LUCROS	E	DA	PARTICIPAÇÃO	NOS	RESULTADOS	DA
EMPRESA
	
	
Como	já	vimos,	antes	da	vigência	da	Constituição	Federal	de	1988	predominava	o	entendimento
no	 sentido	 de	 que	 a	 participação	 nos	 lucros	 da	 empresa	 constituía	 mera	 cláusula,	 de	 índole	 salarial,
integrante	 do	 próprio	 contrato	 de	 trabalho.	 E,	 por	 conseqüência,	 o	 fruto	 dessa	 participação	 devia	 ser
conceituado	como	salário.	Mencionava	ARNALDO	SÜSSEKIND	que,	expressa	ou	tacitamente	ajustada,
em	 instrumento	 individual	 ou	 coletivo,	 os	 proventos	 decorrentes	 da	 participação	 direta	 nos	 lucros	 da
empresa	representavam	salário,	inclusive	por	força	do	art.	63;	do	§1°do	art.	457,[353]	do	§2°	do	art.	466,
[354]	 e	 do	 §4°	 do	 art.	 478,[355]	 todos	 da	Consolidação	 das	 Leis	 do	 Trabalho	 –	 CLT.[356]	 Entretanto,	 as
importâncias	 levantadas	 pelos	 trabalhadores,	 oriundas	 do	 “Fundo	 de	 Participação”,	 criado	 pela	 Lei
Complementar	 n°	 7,	 de	 07.09.1970,	 instituidora	 do	 “Programa	 de	 Integração	 Social”,	 não	 constituía	 e
nem	 constitui	 salário,	 apesar	 de	 corresponderem	 a	 participação	 dos	 lucros,	 porque	 há	 disposição
explícita	 negando-lhes	 a	 natureza	 salarial	 (parágrafo	 único,	 art.	 10	 da	 Lei	 Complementar	 n°	 7,	 de
07.09.1970).[357]
A	natureza	 da	 participação	 nos	 lucros	 era,	 portanto,	 considerada	 como	 salarial.	 	 Entretanto,
mesmo	assim,	existiam	alguns	autores	que	entendiam,	ainda	que	frente	ao	conteúdo	da	Consolidação	das
Leis	do	Trabalho	–	CLT	e	da	jurisprudência	formada	sobre	esse	assunto,	ser	societária	e	não	salarial	a
natureza	 da	 participação	 dos	 empregados	 nos	 lucros	 da	 empresa.	 Entre	 eles,	 o	 deputado	CAIRES	DE
BRITO	alegava	que	“ninguém	pode	auferir	lucros	sem	ser	sócio”.[358]
Menciona	MOZART	VICTOR	RUSSOMANO	 que	 o	 sistema	 legal,	 consoante	 estes	 escritores,
implanta,	 ao	 lado	 do	 contrato	 individual	 de	 trabalho,	 um	 novo	 contrato,	 dependente,	 em	 parte,	 do
primeiro,	 acessório	 e	 secundário,	 mas,	 que	 é	 um	 inegável	 contrato	 de	 sociedade.	 Pelo	 primeiro,	 o
trabalhador	é	empregado	da	empresa,	ganha	salário,	fica	sujeito	a	todas	as	condições	regulamentares	e
disciplinares.	 Pelo	 segundo,	 transforma-se	 em	 sócio,	 fiscalizando,	 propondo	 medidas,	 administrando,
enfim,	a	empresa.	Outros,	além	disso,	descem	aos	detalhes,	garantindo	que	o	trabalhador,	no	regime	de
participação	nos	lucros,	por	 tudo	e	em	tudo,	se	equipara	ao	sócio	industrial,	na	sociedade	de	capital	e
indústria,	pois	não	sofre	as	conseqüências	de	um	eventual	déficit,	nem	entra	com	nenhum	elemento,	a	não
ser	seu	próprio	trabalho,	para	a	formação	da	sociedade.[359]
Apesar	da	postura	desses	autores	e	de,	realmente,	existir	algumas	semelhanças	entre	o	empregado
que	 participa	 nos	 lucrose	 o	 sócio	 de	 indústria,	 um	 não	 se	 confunde	 com	 o	 outro	 e	 o	 entendimento
predominante,	antes	da	Constituição	de	1988,	com	o	endosso	de	vários	 julgados	do	Supremo	 Tribunal
Federal	e	do	Tribunal	Superior	do	Trabalho,	era	o	de	que	a	participação	nos	lucros	constituía	apenas
uma	 cláusula	 integrante	 do	 contrato	 de	 trabalho,	 de	 natureza	 estritamente	 salarial,	 constituindo,	 pois,
salário	os	frutos	dessa	participação.
	
“A	parcela	participação	nos	lucros	da	empresa,	habitualmente	paga,	tem	natureza
salarial,	para	todos	os	efeitos	legais”;[360]
	
“SALÁRIO	 -	 GRATIFICAÇÃO	 -	 PARTICIPAÇÃO	 NOS	 LUCROS	 DA
EMPRESA	 -	 INTEGRAÇÃO.	 A	 gratificação	 pela	 participação	 nos	 lucros,
instituída	nos	estatutos	da	empresa,	é	evidentemente	de	natureza	salarial,	devendo
integrar	o	salário	para	cálculo	das	férias,	13°	salário	e	as	verbas	rescisória”;[361]
	
“A	participação	nos	 lucros	habitualmente	paga	 tem	natureza	 salarial	para	 todos
os	efeitos	 legais,	conforme	preceitua	a	Súmula	251/TST,	mas	 também	é	correto
que	 não	 alcança	 situações	 futuras,	 para	 as	 quais	 o	 pagamento	 está	 sempre
condicionado	à	existência	de	lucros”;[362]
	
“A	 gratificação	 por	 lucros	 integra	 o	 salário-base	 indenizatório	 pelo	 seu
duodécimo,	considerada	a	permanência	de	 sua	paga	na	vigência	do	contrato	de
trabalho	então	rescindido”;[363]
	
“Participação	 nos	 lucros	 e	 gratificações	 por	 tempo	 de	 serviço	 têm	 natureza
remuneratória	 e	 integram	 o	 salário	 do	 trabalhador	 para	 todos	 os	 fins	 legais.
Recurso	 de	 revista	 parcialmente	 conhecido	 e	 provido	 na	 parte	 em	 que	 se
conheceu”;[364]
“Paga	 habitualmente,	 a	 gratificação	 de	 participação	 nos	 lucros	 é	 salarial.	
Adquirido	o	direito	pelo	 trabalho	no	curso	do	exercício	correspondente,	pouco
importa	que	haja	sido	realizada	a	reunião	que	autorizou	seu	pagamento	antes	ou
após	o	rompimento	do	contrato.	Revista	não	conhecida”;[365]
	
“Participação	 nos	 lucros:	 mesmo	 sendo	 mera	 liberalidade	 da	 empresa,	 tem
caráter	salarial,	se	paga	permanentemente”;[366]	e
	
“O	 sistema	de	 pagamento	 de	 participação	 nos	 lucros	 da	 empresa	 não	 pode	 ser
suprimido	se	concedido	por	anos	a	 fio,	 integrando	as	condições	do	contrato	de
trabalho	dos	empregados”.[367]
	
Para	 que	 a	 participação	 nos	 lucros	 não	 tivesse	 natureza	 salarial,	 lembra	 MOZART	 VICTOR
RUSSOMANO,	 era	 necessário	 o	 ânimo,	 a	 intenção	 de	 se	 celebrar	 um	 pacto	 de	 natureza	 societária
(affectio	societatis).		Sem	este	requisito	a	participação	nos	lucros	restringia-se	a	uma	mera	cláusula	do
contrato	 de	 trabalho.[368]	 E	 uma	 vez	 que	 era	 considerada	 eminentemente	 de	 natureza	 salarial,	 a
participação	nos	lucros,	funcionava	como	todas	as	demais	gratificações	e	incorporava-se	ao	salário	para
efeitos	gerais	e	 sobre	esta	 incidia	descontos	 relativos	ao	Fundo	de	Garantia	por	Tempo	de	Serviço	–
FGTS,	à	contribuição	para	a	Previdência	Social	e	ao	Imposto	de	Renda,	sem	exceção.[369]
Lembra,	ainda,	MOZART	VICTOR	RUSSOMANO	que,	além	da	affectio	societatis,	para	existir
o	 contrato	 de	 sociedade,	 é	 preciso,	 portanto,	 que	 o	 sócio	 participe,	 indistintamente,	 dos	 lucros,	 das
perdas	e	da	administração	da	empresa.[370]
ARNALDO	SÜSSEKIND	reforçava	esse	entendimento	acrescentando	que	sendo	a	participação
nos	 lucros	 de	 caráter	 aleatório,	 ou	 seja,	 dependia	 de	 acontecimentos	 futuros	 (incerto),	 constituiria
presunção	contrária	à	existência	da	relação	de	emprego	o	fato	de	não	constituir	ela	suplemento	do	salário
garantindo	 ao	 trabalhador.	 Assim,	 uma	 vez	 caracterizados	 os	 elementos	 integrantes	 do	 contrato	 de
trabalho,	obrigatoriamente,	 ter-se-ia	que	concluir	pela	natureza	 salarial	 da	 remuneração	do	empregado
estipulada	exclusivamente	à	base	de	participação	nos	lucros	auferidos	anualmente.[371]
Todavia,	todos	esses	entendimentos	que	sustentam	a	natureza	salarial	da	participação	nos	lucros
entram,	atualmente,	em	frontal	conflito	com	o	inciso	XI	do	art.	7°	da	Constituição	de	1988.[372]	Prescreve
este	dispositivo	constitucional	que	é	direito	dos	trabalhadores	urbanos	e	rurais	“participação	nos	lucros,
ou	resultados,	desvinculada	da	remuneração,	e,	excepcionalmente,	participação	na	gestão	da	empresa,
conforme	definido	em	lei”.
Quando	 o	 legislador	 constituinte	 literalmente	 fez	 inserir	 a	 ressalva	 “desvinculada	 da
remuneração”,	é	evidente	que	objetivou	combater	o	excesso	de	encargos	sociais,	atualmente	situados	em
patamar	superior	a	cem	por	cento	do	total	da	remuneração	recebida	pelo	empregado.	Porém,	para	tanto,
teve	 que	 retirar,	 pelo	 menos	 aparentemente,	 a	 natureza	 salarial	 da	 participação	 dos	 empregados	 nos
lucros.	Assim,	pois,	a	incidência	de	ônus	indiretos	sobre	a	remuneração,	como	por	exemplo	contribuição
previdenciária,	 contribuição	 para	 o	 Fundo	 de	 Garantia	 por	 Tempo	 de	 Serviço	 –	 FGTS	 etc.,	 não
alcançam	a	verbas	distribuídas	aos	empregados	à	título	de	participação	nos	lucros.	Da	mesma	forma,	em
conseqüência	dessa	 ressalva,	os	valores	 relativos	à	participação	nos	 lucros	não	se	 incluem	no	cálculo
dos	 direitos	 trabalhistas	 do	 empregado,	 tais	 como	 férias	 integrais,	 férias	 proporcionais,	 13°	 salário,
comissões	etc.
Como	vimos,	a	Constituição	Federal	de	1988,	 segundo	ARION	SAYÃO	ROMITA,	“corrige”	a
orientação	 jurisprudencial	 de	 atribuir	 natureza	 salarial	 aos	 valores	 pagos	 pelo	 empregador	 a	 título	 de
participação	 nos	 lucros.	 Para	 ele,	 é	 louvável	 a	 iniciativa	 do	 constituinte,	 porque	 a	 incorporação
compulsória	desses	pagamentos	ao	salário	desestimula	o	empregador	a	conceder	o	benefício.[373]
Na	opinião	de	um	dos	mais	prestigiados	professores	de	direito	francês,	titular	da	Faculdade	de
Direito	 e	 Ciências	 Econômicas	 de	 Paris,	 GÉRARD	 LYON-CAEN	 (1919	 –	 13.04.2004),	 a	 princípio,
todos	os	benefícios	atribuídos	ao	empregado,	em	virtude	da	existência	do	vínculo	empregatício,	possuem
natureza	 salarial,	 inclusive	 a	 participação	 em	 lucros.[374]	 Todavia,	 acrescentam	 OCTÁVIO	 BUENO
MAGANO	e	ESTÊVÃO	MALLET	que	nada	obsta	a	que	o	legislador,	por	razões	de	política	econômica-
social,	disponha	de	outro	modo.		Inclusive,	citam,	como	exemplo,	que,	no	nosso	ordenamento	jurídico	já
havia	 o	 precedente	 do	 abono	 de	 férias	 que,	 nos	 termos	 do	 art.	 144	 da	 Consolidação	 das	 Leis	 do
Trabalho	–	CLT,[375]	não	integra	a	remuneração	do	empregado	para	os	efeitos	da	legislação	do	trabalho	e
da	 Previdência	 Social.[376]	 Citam,	 também,	 a	Ordenação	 francesa	 n°	 86-1134,	 de	 21.10.1986,	 onde	 se
estabelece	que	“as	somas	atribuídas	aos	salários	na	aplicação	de	acordo	de	interesses	não	têm	o	caráter
de	elemento	do	salário	para	aplicação	da	legislação	do	trabalho	e	da	seguridade	social	e	não	entram	no
cômputo	para	a	aplicação	da	legislação	relativa	ao	salário	mínimo	crescente”.[377]
Há	de	se	destacar	que,	conforme	menciona	ABÍLIO	NETO,	na	legislação	portuguesa	encontra-se
previsto	 que	 a	 participação	 nos	 lucros	 é	 considerada	 de	 natureza	 salarial	 quando	 o	 empregado	 não
percebe	outro	 tipo	de	 remuneração,	 todavia	deixa	de	 ter	 esta	natureza	quando	se	assegura	outro	ganho
certo	de	caráter	 remuneratório.[378]	 	 Inclusive,	 talvez	 inspirado	 nessa	 disposição	 normativa	 portuguesa,
OCTAVIO	 BUENO	MAGANO,	 professor	 titular	 de	 Direito	 do	 Trabalho	 da	 Faculdade	 de	 Direito	 da
Universidade	 de	 São	 Paulo,	 concluiu	 que,	 a	 rigor,	 é	 possível	 a	 generalização	 de	 modelo	 em	 que	 o
trabalhador,	 como	 verba	 de	 natureza	 salarial,	 receba	 apenas	 o	 salário	 mínimo,	 auferindo,	 porém,	 em
troca,	participações	asseguradoras	de	ganhos	finais	superiores	aos	atuais.	Este	modelo,	segundo	ele,	na
prática,	 traria,	 por	 conseqüência,	 enorme	 incentivo	à	produtividade,	 aumentar-se-ia	 substancialmente	 a
renda	 do	 trabalhador	 e	 reduzir-se-iam	 drasticamente	 os	 elevadíssimos	 encargos	 sociais,para	 ele,
principal	fator	de	disseminação,	cada	vez	mais	abrangente,	do	mercado	clandestino	de	trabalho.[379]
MARLY	 ANTONIETA	 CARDONE,	 a	 seu	 turno,	 opina	 no	 sentido	 de	 que	 a	 participação	 nos
lucros	ou	nos	resultados	da	empresa	não	constitui	uma	condição	de	 trabalho,	 tal	qual	conceituada	pelo
art.	 611	 e	 seu	 §1°	 da	CLT.[380]	 Para	 ela,	 a	 participação	 nos	 lucros	 ou	 nos	 resultados	 remunera,	 não	 o
trabalho	contratado,	mais	sim	a	colaboração	do	empregado	e	o	instrumento	que	materializa	o	acordo	de
participação	 configura-se	 como	 um	 contrato	 acessório	 ao	 contrato	 de	 trabalho.[381]	 Com	 isto,	 ela
colocou-se	 em	 posição	 de	 apoio	 a	 posição	 originariamente	 adotada	 por	 FRANCISCO	CAVALCANTI
PONTES	DE	MIRANDA,	o	qual	frisou	que	a	participação	nos	lucros	segundo	o	texto	constitucional,	é
direito	 criado	por	 lei,	direito	 acessório	 do	 contrato	 de	 trabalho,	 como	 a	 participação	 nos	 lucros,	 na
chamada	associação	em	participação,	o	é,	posto	que	fundada	em	negócio	jurídico.[382]
De	qualquer	forma,	mesmo	o	legislador	constituinte	tendo	considerado	a	participação	nos	lucros
não	vinculada	a	remuneração,	principalmente	para	efeito	de	incidência	de	encargos	sociais,	a	nosso	ver,
não	há	como	fugir	ao	fato	de	ter	natureza	remuneratória	supletiva	condicional,	decorrente	da	prestação
de	 serviços	 ao	 empregador,	 à	 título	 de	 colaboração	 com	 a	 empresa.	 No	 caso,	 entendemos	 que	 a
participação	nos	lucros	ou	nos	resultados	não	deixa	de	ter	caráter	remuneratório	e	supletivo,	uma	vez	que
pressupõe	 uma	 relação	 de	 trabalho	 anterior	 do	 interessado	 com	 a	 empresa	 e	 recebimento	 de	 salário
contratado	(não	se	admite	que	o	empregado	seja	remunerado	apenas	pela	participação	nos	lucros),	bem
como,	 de	 uma	 forma	 ou	 de	 outra,	 visa	 aumentar	 condicionalmente	 a	 sua	 remuneração	 e	 aumentar	 a
produção	 global	 da	 empresa.	A	 participação	 nos	 lucros	 ou	 nos	 resultados	 refere-se	 a	 contraprestação
pela	diferença	de	serviços	prestados	entre	aqueles	normalmente	executados	e	aquele	realmente	prestados
ao	 empregador,	 sem	 os	 quais	 não	 existiria	 o	 aumento	 da	 produção.	 Assim,	 a	 participação	 nos	 lucros
indiscutivelmente	 refere-se	 a	 remuneração	 de	 serviços	 extraordinários	 que	 permitiram	 o	 aumento	 na
produção,	 portanto	 trata-se	 de	 remuneração	 supletiva,	 pois	 decorre	 de	 serviços	 extraordinários	 e	 da
mesma	relação	de	trabalho.
	
“RECURSO	DE	 REVISTA	DA	 RECLAMADA.	 NEGATIVA	DE	 PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL.	 o	 Eg.	 Tribunal	 Regional	 se	 manifestou	 acerca	 de	 todos	 os
aspectos	 essenciais	 ao	 deslinde	 da	 controvérsia,	 de	 forma	 a	 possibilitar	 o
julgamento	das	questões	trazidas	pela	reclamada	no	recurso	de	revista.	Portanto,
a	 decisão,	 apesar	 de	 contrária	 ao	 interesse	 da	 parte	 recorrente,	 apresentou
solução	judicial	para	o	conflito,	configurando-se	efetiva	prestação	jurisdicional.
Recurso	de	revista	não	conhecido.	PRESCRIÇÃO.	DIFERENÇAS	SALARIAIS
DECORRENTES	DA	NÃO-APLICAÇÃO	DE	NORMA	COLETIVA.	Não	há	que
se	 falar	 em	 aplicação	 da	 Súmula	 nº	 294/TST	 quando,	 ainda	 que	 se	 trate	 de
pedido	 de	 prestações	 sucessivas	 e	 decorrentes	 de	 norma	 coletiva,	 não	 há
alteração	 do	 pactuado,	mas	 descumprimento	 de	 obrigação	 prevista	 nas	 normas
coletivas.	Recurso	 de	 revista	 não	 conhecido.	 PARTICIPAÇÃO	NOS	LUCROS.
NATUREZA	 JURÍDICA.	 ACORDO	 COLETIVO.	 POSSIBILIDADE.	 A
jurisprudência	da	C.	SDI	é	no	sentido	de	não	deter	natureza	salarial	o	pagamento
da	participação	nos	lucros	ou	resultados	na	empresa,	reconhecendo	como	válida
a	 norma	 coletiva	 que,	 expressamente,	 retratando	 a	 vontade	 de	 sindicato
profissional	 e	 empresa,	 dispôs	 que	 o	 pagamento	 da	 participação	 nos	 lucros,
relativa	 ao	 ano	de	1999,	 seria	 feito	de	 forma	parcelada	 e	mensal.	Ressalva	de
entendimento	deste	Relator.	Precedente	da	c.	SDI.	Recurso	de	revista	conhecido
e	provido.	RECURSO	DE	REVISTA	DO	RECLAMANTE.	HORAS	IN	ITINERE.
TEMPO	 GASTO	 ENTRE	 A	 PORTARIA	 DA	 EMPRESA	 E	 O	 LOCAL	 DO
SERVIÇO.	 TRAJETO	 INTERNO.	 DEVIDAS.	 O	 tempo	 despendido	 pelo
empregado	no	 trajeto	 interno	do	estabelecimento	empresarial,	da	portaria	 até	o
seu	posto	de	serviço,	configura-se	como	hora	"in	itinere"	e	deve	ser	pago	como
sendo	 horas	 extraordinárias,	 já	 que	 é	 considerado	 tempo	 à	 disposição	 do
empregador.	 Inteligência	 da	 Orientação	 Jurisprudencial	 nº	 36	 da	 SBDI-1-
Transitória	 do	 TST.	 Recurso	 de	 revista	 conhecido	 e	 provido.	 HORAS
EXTRAORDINÁRIAS.	 MINUTOS	 QUE	 ANTECEDEM	 E	 SUCEDEM	 A
JORNADA.	 "Não	 serão	 descontadas	 nem	 computadas	 como	 jornada
extraordinária	 as	 variações	 de	 horário	 do	 registro	 de	 ponto	 não	 excedentes	 de
cinco	 minutos,	 observado	 o	 limite	 máximo	 de	 dez	 minutos	 diários.	 Se
ultrapassado	esse	limite,	será	considerada	como	extra	a	totalidade	do	tempo	que
exceder	 a	 jornada	 normal."	 Inteligência	 da	 Súmula	 nº	 366/TST.	 Recurso	 de
revista	 conhecido	 e	 provido.	 DIFERENÇAS	 SALARIAIS.	 PARTICIPAÇÃO
NOS	 LUCROS.	 INTEGRAÇÃO.	 Prejudicado	 o	 exame	 da	 pretensão,	 ante	 o
julgamento	do	recurso	da	reclamada,	em	que	excluída	a	parcela	da	condenação”.
[383]
	
A	 participação	 nos	 resultados,	 a	 nosso	 ver,	 pode	 ter	mais	 de	 uma	 natureza,	 isto	 é,	 puramente
salarial,	quando	paga	como	prêmio	ou	retribuição	pela	produção	pessoal	do	empregado	e	remuneratória
supletiva	condicional,	 decorrente	 também	da	prestação	de	 trabalho	 em	virtude	de	 relação	de	 trabalho
anterior,	quando	paga	por	empregador	ou	organização	sem	fins	lucrativos.
Portanto,	a	natureza	da	participação	nos	 lucros	e	a	natureza	da	participação	nos	resultados	são
definidas	no	plano	político,	apesar	de	a	realidade	demonstrar	uma	inapelável	natureza	remuneratória,	ou
seja,	 ligada	a	contraprestação	do	 trabalho	assalariado.	Por	 isso	o	professor	de	Direito	do	Trabalho	da
Universidade	 Federal	 de	 Pernambuco	 EVERALDO	 GASPAR	 LOPES	 DE	 ANDRADE,	 ao	 abordar	 a
participação	dos	trabalhadores	nos	lucros,	admitia	que,	no	plano	normativo,	pode	ocorrer	três	hipóteses:
a)	a	participação	nos	lucros	ser	considerada	salário	e	integrativa	da	remuneração	para	todos	os	efeitos
legais;	b)	a	participação	nos	lucros	não	ser	parte	integrante	da	remuneração	(é	o	caso	do	inciso	XI	do	art.
7°	 da	 nossa	 Constituição	 de	 1988);	 e	 c)	 a	 natureza	 da	 participação	 nos	 lucros	 ser	 parcial	 ou,	 em
determinadas	circunstâncias,	previamente	ajustada,	isto	é,	convencionar-se	em	contrato	ou	convenção	se
uma	parcela	da	participação	nos	lucros	será	parte	integrante	ou	não	da	remuneração	do	empregado.[384]
	
	
4.7	AS	FORMAS	DE	PARTICIPAR	NOS	LUCROS	OU	NOS
RESULTADOS	DA	EMPRESA
	
	
Conforme	a	classificação	citada	pelo	professor	NÉLIO	REIS,	a	participação	nos	lucros	pode	se
apresentar	 sob	 diversas	 modalidades,	 classificadas	 segundo	 vários	 aspectos:	 a)	 quanto	 à	 origem;	 b)
quanto	ao	lucro;	c)	quanto	à	forma	de	distribuição;	d)	quanto	aos	empregados	beneficiados;	e	e)	quanto	à
modalidade	 do	 pagamento.[385]	 A	 classificação	 quanto	 à	 origem,	 vimos	 que	 pode	 ser	 contratual,
convencional	(tácita	ou	expressa)	e	legal,	sendo	as	duas	primeiras,	facultativas,	e	a	terceira,	obrigatória.
Portanto,	 os	 comentários	 que	 passaremos	 a	 expor	 se	 restringirão	 aos	 demais	 mais	 critérios	 de
classificação.
Não	há	menor	dúvida	de	que	os	juristas	franceses	sempre	promoveram	esforços	para	estabelecer
as	modalidades,	quanto	ao	pagamento,	pelas	quais	os	empregados	podem	participar	na	distribuição	do
lucro	das	empresas.	Por	sinal,	o	jurista	espanhol	e	professor	da	Facultad	de	Derecho	de	la	Universidad
de	 Sevilla	 CARLOS	 GARCIA	 OVIEDO	 (Sevilla,	 1884	 –	 Sevilla,	 1955)	 extraiu	 dos	 estudos	 desses
tratadistas	franceses	uma	interessante	classificação	deste	instituto,	levando-se	em	consideração	as	formas
do	pagamento.	A	classificação	 apresentada	por	CARLOS	GARCIA	OVIEDO	pareceser	 a	mais	 aceita
pelos	 juristas	 brasileiros.	 Diz	 ele	 que,	 quanto	 ao	 pagamento,	 são	 quatro	 as	 formas	 pelas	 quais	 pode
revestir	 a	 participação:	 a)	 participação	 com	 percepção	 imediata	 ou	 direta;	 b)	 participação	 com
percepção	 eventual,	 mediata,	 diferida	 ou	 indireta;	 c)	 participação	 com	 percepção	 mista;	 e	 d)
participação	em	ações.[386]
A	participação	 imediata	 ou	 direta	 é	 assim	 chamada	 porque	 ela	 traduz	 benefício	 de	 proveito
direto	dos	empregados.	A	participação	com	percepção	imediata	ou	direta,	na	opinião	de	FRANCISCO
CAVALCANTI	PONTES	DE	MIRANDA,	é	a	participação	nos	lucros	que	vai	da	empresa	ao	empregado,
ainda	que	a	quota	seja	inalienável,	temporária	ou	vitaliciamente.	Diz	ele	que	verifica-se	esta	modalidade
de	participação	quando	a	solução	da	dívida	de	participação	nos	lucros	é	efetivada	em	dinheiro,	tal	como
ocorre	com	os	portadores	de	ações,	ou	sócios,	ou	dono	da	empresa.	E	assim	opinou	com	base	em	seu
entendimento	no	sentido	de	que	“o	modo	de	solução	diferente	do	pagamento	em	dinheiro	e	a	conversão
nem	sempre	importam	tornar-se	indireta	a	participação	nos	lucros”.[387]
Já	 FÁBIO	 NUSDEO	 menciona	 que	 participação	 direta	 verifica-se	 quando	 se	 atribui	 aos
assalariados	 uma	 parcela	 dos	 resultados	 da	 empresa,	 parcela	 essa	 suscetível	 de	 ser	 levantada	 em
espécie,	 a	 qualquer	 momento,	 pelos	 seus	 titulares.[388]	 E	 ARNALDO	 SÜSSEKIND	 entende	 que	 a
participação	 direta	 é	 a	 mais	 usada	 no	 momento	 e	 consiste	 no	 pagamento	 anual	 ao	 empregado	 da
percentagem	 que	 lhe	 corresponde	 nos	 lucros	 da	 empresa.[389]	 Por	 exemplo,	 na	 empresa	 com	 200
(duzentos)	empregados	que	distribui	10%	(dez	por	cento)	de	seus	lucros	para	estes,	cada	um	perceberá	o
equivalente	a	0,05%	do	lucro	líquido	apurado	no	exercício.
MOZART	VICTOR	RUSSOMANO	 entende	 por	 participação	 direta	 aquela	 a	 que	 se	 paga	 ao
empregado,	 imediatamente,	 a	 parte	 que	 lhe	 cabe	 nos	 lucros	 obtidos	 durante	 o	 exercício	 comercial.
Também	na	sua	opinião,	prefere-se,	de	modo	geral,	a	participação	direta,	 porque	dá	 ao	obreiro	 ideia
nítida	de	que	seus	esforços	estão	sendo	recompensados	e	não	traz	ao	empregador	maiores	preocupações
quanto	 à	 aplicação	 eficiente	 dos	 lucros	 que	 pertencem	 aos	 seus	 subordinados	 hierárquicos.	 Para	 ele,
evita-se,	ainda,	que	a	empresa,	sob	o	pretexto	de	fazer	aquela	aplicação,	aumente	seu	patrimônio,	com
ampliação	de	suas	propriedades	imobiliárias	e	com	aperfeiçoamento	de	suas	instalações.	A	participação
direta,	entretanto,	permite	que	o	trabalhador	pouco	ponderado	e	pouco	instruído,	vendo	crescer	a	fonte	de
seu	rendimento,	esqueça	as	coisas	indispensáveis	a	si	e	à	sua	família,	caindo	em	gastos	supérfluos.[390]
Dentro	da	participação	direta,	MOZART	VICTOR	RUSSOMANO	 também	cita	 duas	 soluções
diferentes:	a)	se	entrega	ao	empregado,	globalmente,	aquilo	a	que	o	mesmo	fez	jus	durante	o	ano;	ou	b)	se
divide	essa	quantia	em	doze	partes	iguais,	que	lhe	vão	sendo	entregues	todos	os	meses,	no	decurso	do	ano
subseqüente.	 Este	 segundo	 caminho	 é	 apontado	 por	 aqueles	 que,	 reconhecendo	 a	 desvantagem	 da
participação	direta	 (gastos	excessivos),	pretendem	superá-la,	 forçando	o	 trabalhador	a	dispor,	pouco	a
pouco,	dos	lucros	que	lhe	pertencem.[391]
FÁBIO	NUSDEO	opina	que	a	participação	direta,	importa,	com	efeito,	antes	de	mais	nada,	numa
sangria	de	recursos	para	a	empresa	que,	assim,	pode	vir	a	se	descapitalizar	e	a	ter	o	seu	desenvolvimento
comprometido,	quando	não	coarctado.		Por	outro	lado,	constata-se	estatisticamente	que,	quanto	menor	o
nível	de	renda	de	qualquer	grupo,	maior	a	sua	propensão	marginal	a	consumir.	Esta	poderá	mesmo	chegar
a	se	tornar	igual	à	unidade,	ou	seja,	cada	acréscimo	de	rendimento	destinar-se-á,	em	sua	totalidade	ou	em
sua	maior	parte,	ao	consumo,	sendo	nula	ou	reduzidíssima	a	parcela	voltada	para	a	poupança	e	posterior
investimento.	Segundo	ele,	fácil	seria	perceber	o	quanto	é	inconveniente	tal	estado	de	coisas	em	termos
de	 um	 processo	 de	 desenvolvimento	 da	 economia,	 pois,	 malgrado	 as	 divergências	 entre	 as	 diversas
teorias	ou	escolas	que	porfiam	por	lhe	dar	uma	explicação	cabal,	o	certo	é	que	nenhuma	delas	lhe	nega,
como	uma	de	suas	bases,	um	fluxo	crescente	de	investimentos	adequadamente	direcionado.	Assim,	para
ele,	ainda	quando	se	pudesse	imaginar	alguns	dos	assalariados	poupando	e	investindo	boa	parte	do	que
viessem	a	receber,	subsistiria	sempre	o	problema	crucial	de	uma	correta	aplicação.	Esta,	pulverizada	ou
mal	direcionada,	perderia	qualquer	sentido,	tanto	em	termos	de	progresso	e	segurança	individual	de	cada
trabalhador,	 quanto	 no	 que	 tange	 ao	 âmbito	mais	 largo	 do	 crescimento	 global	 do	 sistema	 econômico.
Ademais,	a	alta	propensão	ao	consumo	traz	consigo	uma	forte	pressão	de	caráter	inflacionário,	capaz	de
anular	pela	alta	dos	preços,	quando	materializada,	o	benefício	antes	conseguido.[392]
Todavia,	 em	 muitos	 países	 está	 consagrada	 a	 participação	 direta.	 	 Melhor	 exemplo	 disso
podemos	 encontrar	 entre	 os	 “tigres	 asiáticos”.	Na	Coréia	 do	 Sul	 e	 em	Taiwan	 (Formosa),	 países	 que
empregam,	 sozinhos,	 90%	 (noventa	por	 cento)	de	 toda	 a	população	 ativa	dos	 “tigres	 asiáticos”	 (Hong
Kong,	Cingapura,	Coréia	do	Sul	e	Taiwan),	funciona,	por	exemplo,	o	regime	de	estabilidade	no	emprego,
aquele	que	só	permite	a	uma	pessoa	ser	mandada	embora	do	serviço	em	caso	de	falta	grave.	Ali	também
está	em	vigor	uma	legislação	que	garante	a	participação	dos	trabalhadores	nos	lucros	das	empresas.		Esta
legislação	estabelece	que,	no	fim	do	ano,	10%	(dez	por	cento)	de	todos	os	lucros	amealhados	devem	ser
repartidos	entre	os	empregados.	No	início,	afirma	CHIN	CHING	HWEI,	secretário-geral	da	Federação
Chinesa	do	Trabalho,	muitos	empresários	achavam	que	essa	legislação	iria	prejudicá-los.	Segundo	ele,
hoje	 todos	 compreendem	 que	 essa	 medida	 transforma	 cada	 empregado	 numa	 pessoa	 diretamente
interessada	no	desempenho	da	empresa.	O	dinheiro	assegurado	por	essa	legislação	está	longe	de	ser	uma
soma	simbólica.	Graças	a	esse	mecanismo,	no	final	de	1987,	os	operários	da	indústria	automobilística	da
Coréia	 do	 Sul	 voltaram	 para	 casa	 com	 três	 salários	 extras	 no	 bolso;	 em	 alguns	 casos,	 esse	 valor
equivalia	a	quase	3.000	dólares.	Em	Taiwan,	as	empresas	da	área	eletrônica	chegaram	a	distribuir	quatro
salários	a	mais	para	seus	funcionários	por	conta	de	sua	participação	nos	lucros.[393]
A	 participação	 direta,	 como	 vimos,	 refere-se	 ao	 recebimento	 do	 quantum	 relativo	 a
participação	nos	lucros	em	espécie,	isto	é,	em	dinheiro.	Todavia	muitas	vezes	a	participação	não	ocorre
em	 espécie	 ou	 exclusivamente	 em	 espécie.	 Muitas	 vezes	 ocorrem	 combinações	 da	 participação	 nos
lucros	 com	 algum	 modo	 de	 solução,	 ou	 de	 conversão,	 que,	 em	 alguns	 casos,	 ainda	 assim	 não
descaracteriza	a	participação	direta,	porém,	em	outros	casos,	essas	combinações	levam	a	participação	a
tornar-se	 indireta.	Por	 exemplo,	 já	mencionamos	antes	que,	na	França,	onde	a	participação	nos	 lucros
mais	cedo	se	desenvolveu	no	século	XIX,	de	ordinário	se	combinou	com	a	aquisição	de	patrimônio,	ou
com	o	fundo	de	pensões.
A	 participação	 com	 percepção	 eventual	 ou	 indireta	 pode	 consistir	 na	 capitalização	 da
percentagem	 devida,	 em	 estabelecimentos	 bancários	 ou	 de	 seguro,	 para	 ser	 abonada	 ao	 empregado,
quando	 alcançar	 determinada	 idade,	 ou	 aos	 seus	 herdeiros,	 em	 caso	 de	 falecimento.[394]	 Ou	 seja,	 ao
contrário	 da	 participação	 direta,	 a	 participação	 indireta	 caracteriza-se	 pela	 transformação	 daquela
parcela	 em	 quotas	 ou	 certificados	 de	 investimento	 a	 serem	 aplicados	 na	 própria	 unidade	 ou	 então	 a
constituírem	um	fundo	para	inversão	em	outras	empresas	através	do	mercado	de	capitais.[395]
Menciona	 FRANCISCO	 CAVALCANTI	 PONTES	 DE	 MIRANDA	 que	 ocorre	 a	 participação
indireta	 quando	 a	 soluçãoda	 dívida	 de	 participação	 é	 efetivada	 em	dinheiro	 que	 fique,	 durante	 certo
tempo,	a	 juros	na	empresa	ou	é	efetivada	em	ações	ou	em	dinheiro	a	 ser	convertido	em	empresas	que
sejam	complementares	da	que	distribui	lucros	(por	exemplo,	a	empresa	gráfica	para	servir	à	fábrica	que
necessita	de	trabalhos	gráficos	em	suas	atividades).[396]	Isto	é,	trata-se	de	participação	indireta	quando	o
trabalhador	 preferir	 que	 a	 participação	 nos	 lucros	 seja	 capitalizada	 pela	 empresa,	 ao	 invés	 de	 ser
distribuída.	 Inclusive	 este	 critério	 foi	 aquele	 estabelecido	 pelo	 legislador	 francês.	 Informa	 SÉRGIO
PINTO	MARTINS	que,	 na	França,	 o	 trabalhador	 pode	deixar	 o	 produto	da	 participação	que	 teria	 nos
lucros	da	empresa	com	o	próprio	empregador,	durante	um	certo	período	de	tempo,	de	cinco	ou	seis	anos.	
Teria	o	trabalhador	um	incentivo	compensatório	ou	a	isenção	do	imposto	de	renda	por	ele	devido.		Seria,
em	sua	opinião,	uma	medida	apropriada,	visando	evitar	que	as	empresas	viessem	a	ficar	descapitalizadas
e	com	isso	viessem	a	desestimular	os	investimentos,	pois	os	lucros	distribuídos	são	recursos	que	deixam
de	ser	investidos	na	empresa.[397]
Devemos	esclarecer	que	conversão	é	o	ato	ou	efeito	de	mudar	uma	coisa	em	outra	de	forma	e/ou
propriedade	diferente	ou,	ainda,	trocar	uma	coisa	por	outra	de	valor	equivalente	(converter	papel-moeda
em	ouro,	converter	marcos	em	dólares	etc.)	e	inversão	é	ato	ou	efeito	de	aplicar	ou	investir	capitais	em
alguma	 coisa.	 Daí	 podemos	 dizer	 que	 a	 inversão	 em	 bens	 ou	 a	 conversão	 em	 bens,	 inclusive
propriedades	em	comum	pro	diviso,	é	sempre	admissível,	se	não	quebra	a	exigência	de	ser	a	participação
nos	 lucros	 objeto	 de	 relação	 jurídica	 entre	 trabalhador	 e	 o	 empregador.	 Um	 dos	 mais	 aconselháveis
métodos,	segundo	FRANCISCO	CAVALCANTI	PONTES	DE	MIRANDA,	é	o	de	paga	em	ações,	ou	em
terrenos,	ou	casas,	mediante	prévia	aprovação	do	plano.[398]
Dentro	da	modalidade	de	participação	indireta,	há,	ainda,	o	sistema	pelo	qual	os	lucros	a	serem
distribuídos	 para	 os	 empregados	 ficam	 depositados	 em	 um	 fundo	 especial,	 de	 ordinário	 fiduciário
irrevogável	 (por	 exemplo,	 a	 fundação),	 para	 distribuição	 após	 se	 cumprir	 certos	 requisitos.	Menciona
FRANCISCO	 CAVALCANTI	 PONTES	 DE	 MIRANDA	 que	 esse	 sistema	 refere-se	 ao	 defered-
distribution	or	trusteed	type,	onde	se	acham	quase	todas	as	espécies	de	participação	indireta.[399]
Para	MOZART	VICTOR	RUSSOMANO,	a	participação	indireta	ocorre	quando	a	percentagem
devida	 aos	 trabalhadores	 é	 aplicada	 em	 incentivos	 que	 beneficiam,	 indiretamente,	 o	 empregado,	 tais
como:	ambulatórios,	assistência	hospitalar,	gabinetes	dentários,	restaurantes,	distribuição	de	gêneros	de
primeira	 necessidade,	 escolas,	 creches	 etc.[400]	 A	 participação	 indireta	 assim	 considerada,	 para
ORLANDO	 GOMES	 DOS	 SANTOS	 e	 ELSON	 GOTTSCHALK,	 é	 também	 chamada	 de	 sistema	 de
participação	diferida,	ou	seja,	na	participação	diferida	o	 lucro	a	ser	distribuído	entre	os	empregados
não	lhes	é	entregue,	mas	aplicado	em	obras	e	serviços	sociais	de	utilidade	para	os	mesmos.[401]
No	entanto,	MOZART	VICTOR	RUSSOMANO	alerta	que	a	participação	indireta	é	inaceitável,
sobretudo,	 em	 países	 como	 o	 nosso,	 onde	 os	 operários	 possuem	 baixo	 nível	 intelectual.	 Segundo	 ele,
nunca	 teriam	eles	 a	 exata	 noção	das	 vantagens	 que	 lhes	 estariam	 sendo	propiciadas;	 não	 se	 sentiriam,
pois,	estimulados	no	desempenho	de	seus	deveres	funcionais.[402]
Menciona,	ainda,	FÁBIO	NUSDEO	que	o	caso	de	algumas	modalidades	de	participação	indireta
são	 o	 mais	 recomendado	 para	 evitar	 a	 sangria	 dos	 recursos	 das	 empresas.	 Acrescenta	 ele	 que	 na
hipótese,	por	exemplo,	de	os	recursos	formarem	um	fundo	para	investimentos	em	outras	empresas	ou,	de
maneira	genérica,	para	aplicação	no	mercado	de	capitais	sana-se	o	problema	macroêconomico	do	desvio
de	numerário	para	o	consumo,	porém,	permanece	para	a	empresa	o	da	sangria	de	recursos.	Todavia	uma
segunda	modalidade	de	participação	 indireta	 corresponderia	à	 reinversão	dos	 recursos	atribuídos	aos
assalariados	na	própria	empresa	de	onde	se	originaram.		Inquestionavelmente,	esta	é,	segundo	ele,	a	que
mais	se	aproxima	do	ideal	de	transformar	a	unidade	produtora	do	sistema	de	mercado	numa	comunidade
de	 trabalho	 e	 de	 interesses.	No	 entanto,	 alguns	 óbices	 de	 natureza	 econômica	 se	 antepõem,	 sobretudo
quanto	 à	 segurança	 e	 à	 rentabilidade	 dessas	 aplicações,	 cujos	 resultados	 poderão,	 em	 certos	 casos,
frustrar	 as	 expectativas	 neles	 depositadas.	 É	 sabido	 que,	 sobretudo	 em	 fases	 de	 expansão,	 mormente
quando	 esta	 é	 financiada	 por	 instituições	 financeiras	 especializadas,	 tais	 como,	 investimento	 ou	 de
desenvolvimento,	exige-se	uma	política	extremamente	conservadora	de	distribuição	de	dividendos,	o	que
leva,	na	prática,	a	esterilizar	por	alguns	anos	as	aplicações	feitas	na	própria	empresa.	Com	isto,	outras
empresas,	 cuja	 situação	 econômica	 já	 esteja	 consolidada	 ou	 que,	 pura	 e	 simplesmente,	 sejam	 mais
rentáveis,	passam	a	se	afigurar	como	melhores	empregadoras,	gerando	um	deslocamento	de	mão-de-obra,
o	qual	longe	de	servir	ao	desiderato	de	integração	irá	dificultar	o	seu	atendimento.[403]
Sobre	o	 lucro	 invertido,	 FRANCISCO	CAVALCANTI	PONTES	DE	MIRANDA	 lembra	 que	 a
economia	distingue	quanto:	a)	às	 inversões	objetivamente	necessárias	a	melhoramentos	e	expansão	dos
serviços	 ao	 público,	 com	 ou	 sem	 probabilidade	 de	 incremento	 de	 lucros	 futuros;	 b)	 às	 inversões
objetivamente	 necessárias	 para	 melhoramentos	 e	 expansão	 da	 empresa,	 sem	 probabilidade	 de	 lucro
futuro;	e	c)	às	inversões	subjetivamente	necessárias	para	melhoramentos	e	expansão	das	empresas.		Onde
não	há	incremento	de	lucro	futuro	não	há	inversão	que	se	deva	tratar	como	lucro	invertido,	aumentativo
do	capital	ou	do	valor	da	empresa.	Os	lucros	podem,	por	destinação,	deixar	de	ser	lucros.	A	destinação	a
melhoramentos	e	expansão	dos	serviços	que	não	incrementou	lucro	futuro	é	exemplo	disso.[404]	Por	 isso
acreditamos	ser	discutível	a	qualidade	de	participação	dos	empregados	nos	lucros	quando	a	inversão
realizada	visa	melhoramentos	e	expansão	de	serviços	sem	probabilidade	de	lucro	futuro,	uma	vez	que
nesta	hipótese	não	há	que	se	falar	em	lucro	invertido.
Contudo,	para	MOZART	VICTOR	RUSSOMANO,	não	está	na	participação	direta,	o	meio	mais
eficaz	 de	 se	 defender	 o	 empregado	 da	 sua	 própria	 ignorância,	 porque,	 de	 qualquer	 forma,	 ele	 poderá
continuar	aplicando	o	rendimento	excedente,	embora	ganho	em	parcelas	menores.	Segundo	ele	a	solução
ideal	do	problema	estaria	em	uma	iniciativa	intermediária,	em	uma	fórmula	mista	de	participação.[405]
Na	participação	mista,	 parte	da	percentagem	destinada	ao	obreiro	 lhe	 é	paga	diretamente,	 em
pequenas	parcelas	mensais,	no	decurso	do	ano	subseqüente,	ou	integralmente	em	uma	única	parcela,	a	fim
de	que	ele	aplique	seus	rendimentos	como	melhor	lhe	pareça.	Terá	ele,	dessa	forma,	uma	ideia	nítida	e
firme	de	que	seus	esforços	foram	bem	remunerados	e	vantajosos	para	si	mesmo.	A	outra	parte,	porém,
seria,	por	exemplo,	obrigatoriamente	endereçada	ao	financiamento	de	serviços	assistenciais,	realizados
pelo	 empregador.	Como	 este	 poderia	 aproveitar-se	 da	 oportunidade,	 ampliando	 seus	 estabelecimentos
com	restaurantes,	ambulatórios	etc.,	sem,	na	realidade,	fornecer	aos	trabalhadores	aqueles	serviços,	há	a
interessante	proposta	de	serem	constituídas	caixas	organizadas	e	dirigidas	pelos	próprios	empregados,
com	âmbito	de	ação	dentro	de	cada	estabelecimento,	no	máximo	dentro	de	cada	empresa,	caixas	essas
que	 chamariam	 a	 si	 o	 encargo	 de	 aplicação	 dos	 fundos	 derivados	 da	 participação	 do	 trabalhador	 nos
lucros	patronais.	Na	opinião	de	MOZART	VICTOR	RUSSOMANO	esta	seria,	sem	dúvida,	uma	solução
razoável	e	inteligente.	Além	disso,	segundo	ele,	os	próprios	sindicatos	poderiamrealizar	essa	tarefa	de
distribuição	indireta	dos	lucros	auferidos	pelo	trabalhador,	o	que	poderia,	inclusive,	fortalecer	o	frágil	e
incipiente	sindicalismo	nacional.[406]
A	 participação	 com	 percepção	 mista	 constitui,	 pois,	 uma	 combinação	 dos	 sistemas	 de
participação	com	percepção	imediata	ou	direta	e	participação	com	percepção	eventual	ou	indireta,	isto	é,
parte	da	percentagem	a	que	o	empregado	tem	direito	lhe	é	entregue	anualmente	e	outra	parte	é	reservada
para	quando	ocorrer	a	realização	de	certos	eventos.[407]	A	participação	mista	pode,	ainda,	se	apresentar
como	 uma	 combinação	 dos	 sistemas	 de	 participação	 direta	 e	 participação	 em	 ações,	 ou	 seja,	 a
distribuição	 se	 efetiva	 pagando-se	 aos	 empregados	 uma	 parte	 em	 dinheiro	 e	 outra	 parte	 em	 ações.	 A
nosso	 ver,	 também	 constitui	participação	mista	 a	 distribuição	 dos	 lucros	 através	 da	 combinação	 dos
sistemas	de	participação	indireta	e	participação	em	ações,	ou	seja,	a	distribuição	se	efetiva	pagando-se
aos	empregados	uma	parte	em	ações	da	companhia	e	outra	parte	da	dívida	de	participação	é	efetivada	em
dinheiro	que	fica,	durante	certo	tempo,	a	juros	na	empresa.
Portanto,	como	vimos,	podemos	encontrar	três	modalidades	distintas	de	participação	mista:	a)
participação	 mista	 constituída	 pela	 combinação	 de	 participação	 direta	 e	 participação	 indireta;	 b)
participação	 mista	 constituída	 pela	 combinação	 de	 participação	 direta	 e	 participação	 em	 ações;	 e	 c)
participação	mista	constituída	pela	combinação	de	participação	indireta	e	participação	em	ações.
A	 fim	 de	 ilustrar	 esta	modalidade,	 lembramos	 que,	 na	Venezuela,	 é	 usado,	 ou	 pelo	menos	 era
usado,	o	sistema	de	participação	com	percepção	mista,	pois	uma	parte	é	entregue	ao	empregado	e	a	outra
é	convertida	em	depósito	bancário,	que	só	pode	ser	 levantado	depois	de	decorridos	5	(cinco)	anos.	O
Equador	também	utilizou	este	sistema	quando	estabeleceu	que	uma	parte	deve	ser	entregue	ao	empregado
e	outra	depositada	em	Fundo	reservado	às	obras	de	assistência	social.	O	mesmo	aconteceu	no	Peru,	uma
parte	também	é	entregue	ao	empregado	e	outra	aplicada	em	ações	da	“Caixa	do	Trabalho”,	cujos	fundos
são	destinados	às	obras	de	assistência	e	distribuição	de	dividendos	aos	empregados.[408]
A	 participação	 em	 ações,	 segundo	 ARNALDO	 SÜSSEKIND,	 consiste	 no	 pagamento	 da
percentagem	em	ações	da	 sociedade.	 	Ações	estas	que	constituem	 títulos	 representativos	do	capital	da
companhia,	mas	que	 facultam	ao	empregado	 interferir	na	gestão	dos	negócios,	 através	do	exercício	do
direito	 de	 integrarem	 a	 Assembleia	 de	 acionistas	 (ações	 ordinárias).[409]	 Para	 FRANCISCO
CAVALCANTI	PONTES	DE	MIRANDA	esta	modalidade	 de	 participação	nos	 lucros	 ocorre	 quando	 a
solução	 da	 dívida	 de	 participação	 é	 efetivada	 em	 ações	 ou	 quotas	 na	 empresa,	 desde	 que	 a	 lei	 ou	 os
estatutos	 prevejam	 a	 automaticidade	 e	 em	 dinheiro	 a	 ser	 convertido	 em	 ações	 ou	 quotas,	 quando	 se
aumente	o	capital,	ou	se	possam	adquirir.[410]
A	 pesquisa	 histórica	 revela	 que,	 até	 o	 início	 deste	 século,	 preferia-se,	 não	 raras	 vezes,	 a
participação	 em	 ações,	 elevando	 o	 empregado	 à	 categoria	 de	 sócio.	 Todavia	 a	 experiência,	 de	modo
geral,	acabou	sendo	abandonada.	Vimos	que,	em	1894,	apareceu	o	primeiro	plano	de	participação	nos
lucros	com	pagamento	metade	em	dinheiro	e	metade	em	ações	(concedido	em	1889).	Tratava-se	do	plano
da	 South	 Metropolitan	 Gas	 Company,	 que	 era,	 na	 realidade,	 uma	 participação	 mista.	 Em	 1926,	 os
empregados	dessa	companhia	possuíam	meio	milhão	de	libras	esterlinas	em	ações.	Esse	tipo	de	plano	foi
utilizado	 por	muitas	 companhias.	No	 entanto,	 em	 1923	 e	 em	 1925,	 o	British	 Trade	Unions	Congress
condenou	a	inversão	e	a	conversão	em	ações	como	“destinada	a	desencaminhar	trabalhadores	e	evitar	a
solidariedade	dos	sindicatos”	(designed	to	mislead	workers	and	prevent	trade	union	solidarity).[411]	O
que	acabou	desestimulando	a	adoção	de	tal	regime.
A	 realidade	 nos	mostra	 que,	mesmo	 a	Constituição	 de	 1988	 desvinculando	 a	 participação	 nos
lucros	da	remuneração	do	empregado,	ela	terá	quase	sempre	natureza	salarial,	ou	seja,	contraprestação
do	 trabalho	 assalariado.	 Todavia	 FRANCISCO	 CAVALCANTI	 PONTES	 DE	 MIRANDA	 opina	 no
sentido	 de	 que,	 para	 a	 participação	 nos	 lucros	 não	 operar	 como	 simples	 elevação	 legal	 dos	 salários,
seria	 preciso	 que	 os	 lucros	 distribuídos	 se	 invertessem	 ou	 convertessem	 em	 ações	 da	 empresa,	 ou	 se
invertessem	ou	convertessem	em	alguma	obra	ou	serviço.	A	percepção	em	ações	(inversão),	ou	em	quota
que	 se	 destine	 a	 ações,	 por	 aquisição	 na	 bolsa,	 ou	 em	 subscrição	 automática	 em	 aumento	 de	 capital
(conversão),	 é,	 na	 opinião	 de	 FRANCISCO	 CAVALCANTI	 PONTES	 DE	 MIRANDA,	 participação
direta.	Todavia,	no	entender	de	vários	outros	autores,	constitui	modalidade	distinta	de	participação	nos
lucros,	não	se	confundindo	absolutamente	com	a	participação	direta.[412]
Nem	 sempre	 a	 distribuição	 de	 ações	 aos	 empregados	 se	 dá	 em	 virtude	 da	 participação	 nos
lucros.	Muitas	vezes,	 somos	 levados	a	pensar	que	esta	distribuição	é	 fruto	de	participação	nos	 lucros,
entretanto	é,	na	realidade,	estratégia	traçada	pelos	dirigentes	empresariais	em	virtude	de	dificuldades
financeiras	 ou	 necessidade	 de	 ampliar	 o	 nível	 de	 investimento,	 ou	 seja,	 a	 empresa	 deixa	 de	 pagar
salário	 para	 entregar	 aos	 empregados	 ações.	 Por	 exemplo,	 o	 comandante	ROLIM	ADOLFO	AMARO,
líder	empresarial	das	empresas	de	aviação	 regional	“TAM”	(Transportes	Aéreos	Marília)	 e	 a	 “Brasil
Central”	(Transportes	Aéreos	Brasil	Central),	declarou,	há	algum	tempo	atrás,	que:	-	“na	TAM	o	pessoal
só	 pesa	 20%	 (vinte	 por	 cento)	 do	 custo.	 Aqui	 na	 Transportes	 Aéreos	 Marília	 –	 TAM	 trabalha	 uma
secretária	 para	 10	 (dez)	 pessoas.	 Eu	 não	 tenho	 condições	 de	 pagar	 aos	 meus	 funcionários	 o	 que	 o
governo	manda.	 	Então	eu	dou	ações	para	eles.	Os	funcionários	já	têm	uns	18%	(dezoito	por	cento)	do
Capital	 da	 companhia”.[413]	 	 Outro	 exemplo,	 refere-se	 a	 empresa	 “ACER”,	 do	 empresário	 STANLEY
SHIH,	de	Taiwan,	 a	número	um	da	área	 eletrônica	daquele	país.	 	 Informa	STANLEY	SHIH	que	“para
reforçar	 seu	 patrimônio	 inicial,	 fez	 um	 acordo	 com	 os	 empregados,	 pagando	 uma	 parte	 de	 seus
vencimentos	em	ações	da	empresa.	Hoje,	os	funcionários	controlam	um	bom	negócio:	a	valorização,	em
dez	anos,	supera	1.000%	(um	mil	por	cento),	em	valores	reais”.[414]
A	distribuição	de	ações	aos	empregados	é	estratégia	que	freqüentemente	tem	o	fim,	como	já	dito,
de	 capitalização	 da	 empresa,	 para	 reforçar	 seu	 patrimônio	 ou	 para	 contornar	 situações	 de	 graves
dificuldades,	 transformando	 uma	 parte	 da	 remuneração	 do	 empregado	 em	 título	 de	 propriedade	 da
empresa.	 Esta	 finalidade	 não	 difere	 muito	 da	 distribuição	 de	 ações	 como	 pagamento	 relativo	 a
participação	 nos	 lucros,	 uma	 vez	 que	 também	 neste	 caso	 a	 distribuição	 de	 ações	 se	 destina	 a
capitalização	da	empresa,	forçando	o	empregado	a	 investir	no	meio	em	que	trabalha,	 isto	é,	entrega-se
papéis	negociáveis	aos	empregados	em	substituição	ao	dinheiro	que	é	revertido	à	empresa	como	capital
permanente.	A	diferença	entre	uma	situação	e	outra	reside	no	fato	de	que,	no	primeiro	caso,	deixa-se	de
pagar	 parcela	 de	 salário	 e,	 no	 segundo	 caso,	 deixa-se	 de	 distribuir,	 parcial	 ou	 integralmente,	 a
participação	dos	empregados	nos	lucros	da	empresa	devidos	em	virtude	de	ajuste	contratual,	convenção
ou	lei.
Além	das	formas	de	participação	no	lucro	vimos	que	o	professor	Nélio	Reis,	em	seu	magnífico
trabalho	sobre	a	participação	dos	empregados	nos	lucros	da	empresa,	menciona	que	a	participação	pode
ser	classificada	também	quanto	à	maneira	de	distribuir	os	lucros.	MOZART	VICTOR	RUSSOMANO
diz	 que	 estas	 formas	 visam	promovera	 distribuição	 da	 participação,	 após	 ser	 reservado	 e	 definido	 o
quantum	do	lucro	destinado	aos	empregados.	Há	que	se	esclarecer	que	a	forma	de	distribuir	refere-se	a
maneira	 pela	 qual	 se	 deve	 estabelecer	 a	 percentagem	 que	 cabe	 a	 cada	 um	 dos	 empregados.[415]	 A
participação,	 quanto	 à	 forma	 de	 distribuição,	 pode	 ser:	 participação	 coletiva	 ou	 igualitária,
participação	individualizada	ou	proporcional	a	própria	capacidade	e	participação	por	necessidade	ou
proporcional	as	necessidades	individuais.
Segundo	 MOZART	 VICTOR	 RUSSOMANO,	 a	 participação	 coletiva	 ou	 igualitária	 ocorre
quando	a	distribuição	é	 feita	 indistintamente,	 a	 todos	os	 empregados	da	empresa,	no	caso	de	consistir
apenas	em	aumentar	os	salários	do	trabalhador,	considerados	insuficientes	para	sua	manutenção.[416]	Na
participação	coletiva,	o	lucro	a	ser	distribuído,	em	vez	de	ser	partilhado,	beneficia	aos	empregados	da
empresa	 em	 conjunto,	 tomados	 como	uma	 coletividade.[417]	Ou	 seja,	 nesta	modalidade	 de	 participação
nenhum	empregado	receberá	mais	do	que	outro	e	nem	deixará	de	receber	uma	parcela	padrão,	uma	vez
que	o	lucro	reservado	à	distribuição	é	dividido	em	partes	iguais	pelo	número	de	empregados	da	empresa.
Portanto,	a	participação	coletiva	funciona	mais	como	complemento	salarial	do	que	como	premiação	pela
produtividade	 e,	 mesmo	 que	 a	 distribuição	 ocorresse	 visando	 a	 premiação,	 o	 seria	 considerando	 a
produtividade	global	da	empresa	e	não,	o	desempenho	 individual.	Aliás,	o	desempenho	 individual,	no
caso	de	participação	coletiva,	é	irrelevante,	se	o	desempenho	da	empresa	como	um	todo	não	consegue
produzir	lucro	no	balanço	final	do	exercício	financeiro.
Assim,	pois,	a	participação	coletiva	 é	 sempre	elaborada	a	partir	do	critério	da	 igualdade.	 O
critério	da	 igualdade,	como	vimos,	determina	que	todos	recebam	exatamente	a	mesma	coisa	a	 título	de
participação	nos	lucros,	sem	distinções.
Já	 a	 participação	 individual	 ou	 proporcional	 a	 própria	 capacidade	 ocorre	 quando	 a
distribuição	é	feita	em	função	da	assiduidade,	da	capacidade	técnica,	da	compenetração	funcional	ou	das
necessidades	familiares	de	cada	empregado.		A	participação	individualizada	não	esboça	apenas	um	mero
aumento	 no	 salário,	 mas	 também	 a	 premiação	 aos	melhores	 empregados.[418]	 Portanto,	 a	 participação
individual	é	constituída	a	partir	do	critério	da	proporcionalidade,	ou	seja,	na	participação	nos	 lucros
deve	 haver	 uma	 proporcionalidade,	 sendo	 que	 cada	 um	 deveria	 recebê-la	 de	 acordo	 com	 a	 sua
capacidade	 ou	 a	 sua	 produtividade.	 Inclusive,	 à	 título	 de	 curiosidade,	 lembra	 SÉRGIO	 PINTO
MARTINS	 que	 pelo	 Projeto	 n°	 1.039,	 chamado	 Projeto	 Paulo	 Sarasate	 Ferreira	 Lopes,	 que	 foi
aprovado	em	1952	na	Câmara	dos	Deputados,	mas	não	foi	votado	no	Senado,	seria	lícito	estabelecer	uma
forma	 de	 atribuição	 por	 pontos,	mediante	 avaliação	 da	 chefia,	 de	 acordo	 com	 a	 conduta	 disciplinar	 e
técnica	do	empregado,	como	também	poderia	haver	um	critério	de	se	distribuir	o	 lucro	de	acordo	com
metas	 de	 qualidade,	 tais	 como	 o	 número	 de	 peças	 rejeitadas	 entre	 as	 que	 foram	 produzidas	 pelo
empregado.	 O	 que	 não	 se	 poderia	 fazer	 seria	 alterar	 unilateralmente	 esses	 critérios	 em	 prejuízo	 dos
empregados:	valor	do	salário,	antigüidade,	encargos	de	família,	assiduidade	e	eficiência	(art.	9°).[419]
Evidentemente,	 adotando-se	 a	 modalidade	 de	 participação	 individual	 há	 que	 se	 considerar
injusto	o	empregado	que	estivesse	afastado	da	empresa	ter	direito	à	participação	nos	lucros,	quando	na
maior	parte	do	ano	não	ajudou	a	empresa	a	conseguir	esses	lucros,	como	nos	casos	em	que	o	obreiro	está
em	gozo	 de	 auxílio-doença	 ou	 de	 licença-gestante.	 Esta	modalidade	 de	 participação	 exige	 um	 critério
para	 verificar	 qual	 seria	 o	 empregado	 que	 mais	 se	 dedicou	 a	 obter	 os	 lucros	 para	 a	 empresa,	 em
detrimento	daquele	que	simplesmente	não	se	esforçou	e	também	vai	obter	igualmente	o	mesmo	direito	à
participação	nos	lucros.[420]
A	respeito	da	participação	individual,	devemos	lembrar	que,	quando	a	participação	nos	lucros	é
concedida	por	lei,	constitui	um	direito	subjetivo	indistintamente	dos	empregados,	que	é	reconhecido	pela
ordem	jurídica.	Como	direito	subjetivo,	reconhece-se	que	o	trabalho	é	um	elemento	digno	da	produção	e
colabora,	através	de	sua	atividade,	para	os	lucros	que	estão	sendo	açambarcados	pelos	empresários,	bem
como	demonstra	uma	inclinação	ao	reconhecimento	de	que	o	salário	tem	caráter	alimentar	e	que	a	adoção
do	 sistema	 de	 participação	 visa,	 ao	 mesmo	 tempo,	 a	 melhorar	 a	 situação	 aflitiva	 do	 proletário	 e	 a
estreitar	os	laços	de	solidariedade	entre	operários	e	empregadores.	Todavia	as	preferências	se	inclinam
pela	adoção	do	regime	de	participação	nos	lucros	da	empresa	como	uma	recompensa	ao	trabalhador.	E
objetivando	 conceder-se	 uma	 recompensa	 ao	 empregado,	 inapelavelmente	 inclinar-se-á	 a	 adotar	 o
regime	do	prêmio,	 ou	 seja,	 o	 regime	da	participação	 individual	 nos	 lucros	 da	 empresa.	 Tanto	 é	 que
MOZART	 VICTOR	 RUSSOMANO	 menciona	 o	 fato	 de	 que,	 pelo	 regime	 da	 participação
individualizada,	assegura-se,	certamente,	duas	vantagens:	a)	dar	o	prêmio	a	quem	merece;	e	b)	estimular
o	 trabalhador	a	produzir	muito,	aumentando,	por	conseguinte,	os	 recursos	econômicos	nacionais,	único
caminho	para	fugirmos	a	esse	drama	econômico-financeiro	que	envolve	o	Brasil.[421]
No	entanto,	 segundo	MOZART	VICTOR	RUSSOMANO,	o	regime	 da	 participação	 individual
tem	um	grave	 defeito,	 qual	 seja	 o	 de	 desnaturar	 o	 regime,	 transformando-o	 em	 sistema	 de	 prêmios	 e,
possivelmente,	em	válvula	de	ressentimentos	entre	os	próprios	empregados.	Nem	mesmo	se	pode	afastar
a	 hipótese	 de	 preferência	 do	 empregador	 por	 certos	 trabalhadores,	mais	 vinculados	 à	 administração	 e
favorecidos	 pelas	 liberalidades	 da	 empresa,	 o	 que	 cria,	 por	 certo,	 ódio	 do	 operário	 contra	 os
empregados	e	seus	colegas	de	trabalho.[422]
Ainda	 quanto	 à	 maneira	 de	 distribuir	 os	 lucros	 aos	 empregados,	 temos	 a	 participação	 por
necessidade	 ou	 proporcional	 a	 necessidade	 individual	 do	 empregado,	 que	 adota	 o	 critério	 sócio-
humanitário,	ou	 seja,	 segundo	este	critério	a	partilha	deve	 levar	em	conta	a	necessidade	 individual	de
cada	trabalhador.	Como	exemplo,	podemos	citar	a	hipótese	em	que	os	lucros	são	distribuídos	de	maneira
que	 os	 empregados	 com	 maior	 número	 de	 dependentes	 econômicos	 (filhos,	 enteados,	 parentes	 etc.)
devem	 receber	 um	 quinhão	 maior	 que	 os	 empregados	 com	 menor	 número	 de	 dependentes	 ou	 que
trabalham	apenas	para	seu	próprio	sustento.	Como	se	vê,	nesta	hipótese,	o	valor	do	quinhão	que	compete
a	cada	empregado	vai	variar	de	acordo	com	o	número	de	familiares	que	vivem	à	suas	expensas.
Segundo,	ainda,	NÉLIO	REIS,	a	participação	nos	lucros	pode	ser	classificada,	também,	quanto	à
fonte	de	 sua	apuração,	 isto	 é,	quanto	ao	 lucro,	 em	geral	 e	 restrita.[423]	 A	participação	 geral	 ocorre
quando	recai	sobre	os	lucros	de	toda	a	empresa,	enquanto	que	a	participação	restrita	recai	apenas	sobre
os	 lucros	 de	 uma	 parte	 da	 empresa	 em	 que	 trabalhe	 o	 participante.	 Por	 exemplo,	 se	 um	 empregado
trabalha	na	loja	comercial	de	uma	empresa,	que	além	desse	estabelecimento	comercial,	possui	um	parque
industrial	para	a	manufatura	dos	produtos	comercializados	nas	suas	lojas,	ele	pode	participar	dos	lucros
obtidos	 por	 todos	 os	 departamentos	 da	 empresa	 ou	 dos	 lucros	 obtidos	 apenas	 pelo	 estabelecimento
comercial	onde	desempenha	as	suas	atividades.	Na	primeira	hipótese,	temos	a	participação	geral	e,	na
segunda	hipótese,	a	participação	restrita.
Para	MOZART	VICTOR	RUSSOMANO,	encontram-se,	facilmente,	argumentos	favoráveis	tanto
para	 a	 participação	 geral	 como	 para	 a	 participação	 restrita.	 A	 participação	 restrita	 (que	 foi	 aorientação	da	lei	chilena)	tem,	segundo	ele,	a	grande	vantagem	de	colocar	a	distribuição	dos	lucros	em
relação	direta	com	o	poder	produtivo	de	cada	operário.	Mas,	para	que	esse	alvo	fosse	atingido	em	cheio,
seria,	então,	necessário	que	a	distribuição	fosse	feita	de	conformidade	com	a	produção	obtida	em	cada
departamento	ou	seção	da	empresa.	Pela	complexidade	da	produção	industrial,	pela	fabricação	em	série,
por	outros	diferentes	motivos	de	organização	moderna	da	empresa,	para	ele,	nunca	poderemos	aferir,	com
precisão	suficiente,	o	lucro	de	cada	seção.	Esclarece	MOZART	VICTOR	RUSSOMANO	que	a	divisão
técnica	do	trabalho	faz	com	que	o	bem	produzido	circule	pelas	diferentes	seções	do	estabelecimento,	em
etapas	 sucessivas,	 que	 vinculam	 de	 tal	 maneira	 a	 atuação	 dos	 trabalhadores	 dos	 diversos	 setores	 da
fábrica	 que	 se	 torna	 impossível	 medir	 os	 lucros	 obtidos	 pelos	 departamentos,	 isoladamente,	 mesmo
porque	a	contabilidade	está,	sempre,	centralizada	no	balanço	da	empresa.[424]	Por	isso,	a	preferência	tem
recaído	sobre	a	participação	geral.
Na	classificação	de	NÉLIO	REIS	temos,	por	último,	as	formas	de	participação	do	empregado	nos
lucros	da	empresa,	quanto	aos	empregados	beneficiados.	 Sob	 este	 aspecto,	 a	 participação	nos	 lucros
pode	ser:	total	ou	parcial.[425]	A	participação	total	ocorre	quando	todos	os	empregados	da	empresa	são
beneficiados	pela	distribuição	dos	lucros	apurados,	enquanto	que	a	participação	parcial	ocorre	quando
apenas	 alguns	 empregados	 da	 empresa	 são	 beneficiados.	 Lembramos	 que	 os	 primeiros	 planos	 de
participação	 dos	 empregados	 nos	 lucros	 da	 empresa	 surgiram	muito	 antes	 de	Monsieur	 Leclaire,	 em
1842,	ter	distribuídos	os	lucros	de	sua	empresa	aos	seus	empregados.	Todavia	esses	planos	baseavam-se
no	princípio	da	seleção,	ou	seja,	somente	alguns	empregados	participavam	da	distribuição.	Esta	seleção
poderia	adotar	inúmeros	critérios,	desde	a	produtividade	do	empregado	até	apenas	a	reputação	deste	na
praça	de	atuação	da	empresa.	Portanto,	em	suas	origens	a	participação	era	exclusivamente	parcial,	pois
apenas	alguns	empregados	eram	beneficiados.	Somente	mais	tarde	é	que	se	adotou	a	participação	 total,
levando	 a	 distribuição	 dos	 lucros	 a	 todos	 os	 empregados	 da	 empresa,	 indistintamente,	 ou	 seja,
abandonou-se	 o	 critério	 da	 premiação	 (distribuição	 parcial)	 e	 procurou-se	 consagrar	 o	 critério	 da
complementação	salarial	(distribuição	total).
SÉRGIO	PINTO	MARTINS	menciona,	ainda,	mais	uma	modalidade	de	participação	nos	lucros,
que	 poderá	 perfeitamente	 ser	 adotada.	 Trata-se	 da	 participação	 proporcional.[426]	 Geralmente,	 a
participação	nos	lucros	não	se	vai	desenvolvendo	à	medida	que	idealmente	se	vão	formando	os	ganhos	e
as	perdas,	 nem	 se	pode	dizer	 que	o	 empregado	 é	 participante	nos	 lucros	 e	 perdas.	Tanto	 é	 que,	 se	 se
retira	no	começo	do	período	de	apuração	dos	lucros	e	das	perdas,	ou	morre,	ou	cai	em	incapacidade	ou
inaptidão	ao	trabalho,	o	empregado	não	recebe	o	que,	ao	tempo	da	desligação,	era	lucro	líquido.	Ele	tem
de	 receber	 o	 que	 corresponde	 ao	 tempo	 em	 que	 serviu,	 sobre	 os	 lucros	 dedutíveis,	 portanto	 sobre	 o
quanto	 participável	 pro	 rata.[427]	 Daí	 se	 falar	 em	 participação	 proporcional	 ao	 tempo	 em	 que	 o
empregado	efetivamente	trabalhou.
Por	 essa	 modalidade,	 a	 participação	 nos	 lucros	 pode	 ser	 paga	 proporcionalmente	 aos	 meses
trabalhados,	 conforme	 as	 circunstâncias	 em	 que	 se	 der	 a	 extinção,	 a	 suspensão	 ou	 a	 interrupção	 do
vínculo	empregatício	do	empregado.	Por	exemplo,	se	o	empregado	pedir	dispensa	da	empresa,	antes	de
dezembro	ou	antes	de	findo	o	semestre,	conforme	for	o	período	de	apuração	dos	lucros,	ou	demitido	por
justa	 causa,	 a	 distribuição	 deve	 ser	 proporcional,	 pois	 não	 se	 verificou	 a	 condição	 para	 percepção
integral	da	 sua	parcela	nos	 lucros,	 em	virtude	de	ato	daquele,	 a	quem	aproveita	o	 seu	 implemento,	na
forma	da	segunda	parte	do	art.	129	do	Código	Civil.de	2002.[428]	Entretanto,	no	caso	de	o	empregado	ser
demitido	 sem	 justa	 causa,	 mesmo	 não	 tendo	 trabalhado	 durante	 todo	 o	 período	 de	 apuração,	 a
distribuição	 deve	 ser	 integral,	 pois	 foi	 obstado	 o	 seu	 implemento	 pela	 parte,	 a	 quem	 desfavorecer	 a
participação	no	lucro,	na	forma	da	primeira	parte	do	art.	129	do	Código	Civil	de	2002.
Vale	 ressaltar,	 ainda,	 que	 a	 participação	 proporcional	 não	 seria	 aplicada	 apenas	 quando	 o
empregado	se	desliga-se	da	empresa	(extinção	do	contrato	de	trabalho),	seria	aplicada,	também,	no	caso
em	que	o	empregado	estivesse	afastado	desta,	 tais	como	quando	o	obreiro	estiver	em	gozo	de	auxílio-
doença	(suspensão	do	contrato	de	trabalho)	ou	de	licença-gestante	(interrupção	do	contrato	de	trabalho).
Nesses	 casos,	 tanto	 como	 no	 caso	 de	 desligamento	 da	 empresa,	 há	 que	 se	 considerar	 ser	 injusto	 o
empregado	ter	direito	à	participação	nos	lucros,	quando	na	maior	parte	do	ano	ou	do	período	de	apuração
dos	lucros,	não	ajudou	a	empresa	a	conseguir	esses	lucros.
Assim,	mais	 duas	modalidades	 devem	 ser	 acrescentadas	 na	 classificação	 de	 participação	 nos
lucros.	A	primeira	modalidade	 seria	a	mencionada	participação	proporcional	 que	ocorreria	 quando	o
empregado	 recebesse	 apenas	 parte	 do	 quantum	 que	 lhe	 caberia	 na	 distribuição	 dos	 lucros,
proporcionalmente	ao	tempo	em	que	trabalhou	durante	o	período	de	apuração	desses	lucros.	A	segunda
modalidade	seria	a	participação	integral.	Esta	modalidade	se	verificaria	quando	o	empregado	recebesse
integralmente	 o	 quantum	 que	 lhe	 caberia	 na	 distribuição	 do	 lucro,	 equivalente	 a	 todo	 o	 período	 de
apuração.
Para	melhor	compreensão	de	todas	as	modalidades	de	participação	dos	empregados	nos	lucros
da	empresa	que	mencionamos	neste	capítulo,	abaixo	apresentamos	um	quadro	ilustrativo	da	classificação
que	adotamos	em	nossos	estudos.
	
CAPÍTULO	5	–	A	PARTICIPAÇÃO	DOS
EMPREGADOS	NOS	LUCROS	OU	NOS
RESULTADOS	DAS	EMPRESAS	NO	BRASIL
E	NO	DIREITO	COMPARADO
	
	
5.1	A	PARTICIPAÇÃO	NOS	LUCROS	NA	CONSTITUIÇÃO
FEDERAL	DE	1946
	
	
Dissemos	no	capítulo	anterior	que	a	participação	dos	empregados	nos	lucros	foi	combatida	por
todos	os	socialismos	subversivos,	inclusive	pelo	comunismo.		Isto	também	ocorreu	no	Brasil.	Há	mais	ou
menos	cinqüenta	anos	atrás	e	após	ter	se	passado	vinte	e	sete	anos	desde	a	primeira	tentativa	de	incluir	na
legislação	 brasileira	 dispositivo	 regulando	 a	 participação	 nos	 lucros	 (projeto	 de	 1919	 do	 deputado
Deodato	 Maia),	 Artur	 Bernardes,	 como	 Presidente	 da	 República,	 versou	 a	 questão	 em	 mensagem
dirigida	ao	Congresso	Nacional.	No	seio	da	III	Constituinte	Republicana,	que	encerrou	seus	trabalhos	a
18.09.1946,	o	fenômeno	se	repetiu:	os	representantes	comunistas	se	opuseram,	terminantemente,	mas	sem
resultados,	à	adoção	da	medida	por	via	legal.	E,	assim,	pela	primeira	vez	no	Brasil,	a	participação	nos
lucros	veio	se	elevar	a	princípio	constitucional,	tal	como	o	legislador	constituinte	mexicano	havia	feito
em	1917.	Na	verdade,	lembramos	novamente	que	a	situação	político	e	social	do	país,	que	saíra	da	guerra
contra	 as	 potências	 totalitárias	 derrotadas,	 os	 anseios	 de	 reivindicação	 social	 que	 animavam	 todos	 os
espíritos,	o	desejo	de	dar	ao	mundo	o	exemplo	de	uma	Constituição	socialmente	avançada	 resultou	na
inclusão,	 naquela	 Carta	 Magna,	 de	 norma	 que	 determinava	 a	 participação	 obrigatória	 e	 direta,
indistintamente	 dos	 trabalhadores	 nos	 lucros	 da	 empresa.[429]	 Sem	 sombra	 de	 dúvida,	 a	 previsão	 de
participação	obrigatória	e	direta	nos	 lucros	colocava,	naquela	época,	o	 texto	constitucional,	no	que	se
refere	 a	 ordem	 econômica	 e	 social,	 entre	 um	dos	mais	 avançados	 do	mundo.	Avanço	 este	 que	 não	 se
repetiu	com	a	mesma	intensidade	nas	Constituições	posteriores.
A	Constituição	Política	do	Império	do	Brasil,	de	1922,	e	a	Constituiçãode	1891	foram	omissas
em	relação	a	este	assunto.	A	Constituição	de	1934,	apesar	de	não	ter	previsto	a	participação	nos	lucros,
assegurou,	pela	primeira	vez,	vários	direitos	para	o	trabalhador	que	visavam	melhorar	as	suas	condições.
Estabelecia	 o	 art.	 121	 da	 Constituição	 de	 1934	 que	 “a	 lei	 promoverá	 o	 amparo	 da	 produção	 e
estabelecerá	 as	 condições	 do	 trabalho,	 na	 cidade	 e	 nos	 campos,	 tendo	 em	 vista	 a	 proteção	 social	 do
trabalhador	e	os	 interesses	 econômicos	do	país”.	 Já	o	 seu	§1°	dispunha	que	“a	 legislação	do	 trabalho
observará	os	seguintes	preceitos,	além	de	outros	que	colimem	melhorar	as	condições	do	trabalhador:	a)
proibição	de	diferença	de	salário	para	um	mesmo	trabalho,	por	motivo	de	idade,	sexo,	nacionalidade	ou
estado	 civil;	 b)	 salário	 mínimo,	 capaz	 de	 satisfazer,	 conforme	 as	 condições	 de	 cada	 região,	 às
necessidades	normais	do	trabalhador;	c)	trabalho	diário	não	excedente	de	oito	horas,	reduzíveis,	mas	só
prorrogáveis	 nos	 casos	 previstos	 em	 lei;	d)	 proibição	 de	 trabalho	 a	menores	 de	 14	 anos;	 de	 trabalho
noturno	 a	menores	 de	 16;	 e	 em	 indústrias	 insalubres,	 a	menores	 de	 18	 anos	 e	 a	mulheres;	 e)	 repouso
hebdomadário,	de	preferência	aos	domingos;	f)	férias	anuais	remuneradas;	g)	indenização	ao	trabalhador
dispensado	sem	justa	causa;	h)	assistência	médica	e	sanitária	ao	trabalhador	e	à	gestante,	assegurado	a
esta	 descanso,	 antes	 e	 depois	 do	 parto,	 sem	 prejuízo	 do	 salário	 e	 do	 emprego,	 e	 instituição	 de
previdência,	mediante	contribuição	igual	da	União,	do	empregador	e	do	empregado,	a	favor	da	velhice,
da	 invalidez,	 da	maternidade	 e	 nos	 casos	de	 acidentes	 do	 trabalho	ou	de	morte;	 i)	 regulamentação	 do
exercício	de	todas	as	profissões;	e	j)	reconhecimento	das	convenções	coletivas	de	trabalho.
Com	a	redação	dada	pelo	deputado	Hermes	Lima,	a	Constituição	Federal	de	1946,	no	inciso	IV
do	 seu	 art.	 157	 estabeleceu	 que	 “a	 legislação	 do	 trabalho	 e	 da	 previdência	 social	 obedecerão	 aos
seguintes	 preceitos,	 além	 de	 outros	 que	 visem	 à	 melhoria	 da	 condição	 dos	 trabalhadores:	 IV-
participação	obrigatória	e	direta	do	trabalhador	nos	lucros	da	empresa,	nos	termos	e	pela	forma	que	a
lei	determinar”.	Não	resta	dúvida	de	que	a	participação	nos	lucros	da	empresa,	por	parte	do	trabalhador,
obrigatória	 e	 direta,	 foi	 o	 ponto	 mais	 novo	 e	 audaz	 da	 Constituição	 de	 1946,	 no	 tocante	 à	 parte
econômica.	Por	sinal,	ROBERTO	BARRETTO	PRADO	menciona	que,	ao	se	interpretar	esse	dispositivo
constitucional,	não	se	deveria	considerá-lo	como	simples	norma	de	garantia	de	direito	 individual,	mas
sim	como	uma	instituição	jurídica,	que	o	legislador	constituinte	previu	e	que	a	lei	ordinária	deveria	ter
regulado	o	seu	exercício.[430]
Lembra	FRANCISCO	CAVALCANTI	PONTES	DE	MIRANDA	que	o	legislador	constituinte	de
1946,	em	vez	de	conceber	o	princípio	como	bastante	em	si,	apenas	deixou-o	com	o	caráter	de	princípio
dependente	de	lei.	Diz	ele	que,	naturalmente,	essa	participação	tinha	de	obedecer:	a)	à	exigência	de	ser
obrigatória	e	não,	facultativa	(a	líbito	do	trabalhador	ou	do	empregador),	uma	vez	que	a	Constituição	de
1946	a	previa	como	direito	cogente	 (racionalmente	necessário);	b)	 à	 exigência	de	 ser	direta,	 com	 isto
ficava	 afastada	 a	 possibilidade	 de	 serem	 adotados	 outros	 sistemas,	 nos	 quais	 ela	 se	 apresenta	 sob	 a
forma	indireta,	mista	ou	em	ações;	c)	ao	princípio	de	igualdade	perante	a	lei	ou	de	isonomia,	inclusive	na
sua	aplicação	especial;	d)	ao	princípio	de	substantividade	da	participação,	 isto	é,	não	ser	dependente
de	votos	dos	empregadores	ou	acionistas.[431]
Todavia,	muitos	criticaram,	na	época,	o	texto	constitucional	de	1946.	Lembra	MOZART	VICTOR
RUSSOMANO	 que	 uma	 Constituição	 deve	 limitar-se	 a	 dar	 a	 linha	 geral,	 a	 grande	 orientação,	 o
pensamento	fundamental.	O	detalhe	deve	competir	ao	legislador	ordinário.	Dessa	forma,	segundo	ele,	a
Constituição	de	1946	teria	sido	mais	jurídica	se	houvesse	prevalecido	o	ponto	de	vista	da	Comissão	de
Constituição,	defendido,	aliás,	pelo	deputado	Hermes	Lima.	Para	MOZART	VICTOR	RUSSOMANO,	o
texto	básico	teria	sido	suficiente	e	oportuno	se	estabelecesse,	apenas,	a	obrigatoriedade	da	participação,
ficando	 para	 ser	 deliberada	 a	 posteriori	 a	 sua	 forma,	 o	 seu	 modo	 de	 efetivação,	 que	 flutuaria	 de
conformidade	com	as	condições	específicas	do	momento	social	vivido.	Na	sua	opinião,	a	 inclusão,	no
texto	fundamental	de	1946,	da	palavra	direta	rejeitou,	inevitavelmente,	a	adoção	de	uma	fórmula	mista,
que	é	considerada	útil	e	conveniente.[432]
MOZART	 VICTOR	 RUSSOMANO	 defendia	 a	 participação	 obrigatória,	 tal	 como	 prevista	 na
Constituição	de	1946,	uma	vez	que,	segundo	ele,	a	participação	facultativa	correspondia,	praticamente,	à
participação	 inexistente.	 Porém,	 reconhecia	 ele	 que,	 se	 a	 participação	 devia	 ser	 obrigatória,
conseqüentemente,	devia	haver	uma	fiscalização	efetiva	sobre	a	contabilidade	das	empresas,	a	fim	de	que
não	 se	 processasse	 a	 burla	 ao	 Direito.	 Esclarece	 MOZART	 VICTOR	 RUSSOMANO	 que	 havia	 a
fiscalização	feita	pelas	autoridades	do	imposto	de	renda,	que	permitiria	sabermos,	com	precisão,	qual	foi
o	resultado	do	balanço	de	cada	firma.	Desde	que	o	fisco	estivesse	satisfatoriamente	organizado,	seria	ele
o	 elemento	 mais	 importante	 de	 colaboração,	 para	 se	 examinar	 o	 balanço,	 pois	 aquilo	 que	 seus
funcionários	não	encontrassem	de	ilegal	na	escrita	do	empregador	só	dificilmente	seria	encontrado	pelos
próprios	trabalhadores	ou	por	seus	sindicatos.	Acrescenta	ele	que	não	bastava	apurar,	apenas,	o	resultado
final	do	balanço.	Importava,	da	mesma	forma,	entrar	na	química	das	despesas	feitas,	verificando	se	não
houve	algum	 investimento	malicioso	que	 tivesse	absorvido	os	 lucros	da	empresa.	Menciona	MOZART
VICTOR	RUSSOMANO	que	 esbarrar-se-ia,	 talvez,	 no	 princípio	 de	Direito	Mercantil	 que	 consagra	 o
sigilo	dos	livros	comerciais.	Esse	preceito,	no	entanto,	vinha	sendo	corroído,	como	não	poderia	deixar
de	ser,	pela	legislação	que	superou	a	fase	individualista.	E,	desde	que	a	escrituração	do	empregador	não
podia	ser	furtada	aos	olhos	do	fisco	e	da	justiça,	não	poderia,	também,	ser	escondida	dos	empregados,
uma	 vez	 que	 estes,	 pelo	 regime	 da	 participação	 tinham	 interesse	 moral,	 material	 e	 jurídico	 nos	 seus
lançamentos.	Todavia,	em	uma	das	sessões	da	Comissão	de	Constituição,	em	1946,	os	deputados	Milton
Campos	e	Prado	Kelly	apresentaram	emenda	no	sentido	de	que	se	acrescentassem	ao	dispositivo	da	lei
básica	as	 seguintes	palavras:	 “com	as	conseqüências	 impostas	pela	necessidade	de	 fiscalização”.	Esta
emenda	 não	 pôde	 ser	 aceita,	 por	 haver	 prevalecido	 a	 opinião	 do	 professor	Hermes	 Lima,	 embora	 a
redação	 final	 do	 preceito	 tomasse	 outra	 orientação.	 O	 fato,	 contudo,	 serve	 para	 demonstrar	 a
preocupação	que	animou	os	constituintes	de	1946,	que	nunca	hesitaram	em	aceitar	a	ideia	de	fiscalização,
pelos	 trabalhadores,	 do	 movimento	 contábil	 da	 empresa,	 evitando-se,	 por	 essa	 vigilância,	 escritas
falsificadas,	“descargas”	de	balanço	etc.[433]
Na	 ocasião	 defendia-se	 muito	 a	 participação	 obrigatória	 nos	 lucros.	 	 Todavia	 os	 argumentos
contra	 este	 instituto	 surgiram	 em	 avalanche,	 não	 só	 em	 nosso	 país,	 mas	 principalmente	 na	 doutrina
estrangeira.	O	 jurista	 espanhol	 S.	 J.	MARTIN	BUGAROLA	 (1908-1988),	 por	 exemplo,	 enumerava	 os
seguintes	 argumentos	 contra	 a	participação	dos	 empregados	nos	 lucros:	a)	 a	 decepção	do	 trabalhador,
diante	 de	 uma	 pequena	 importância	 que	 lhe	 caberia	 nos	 lucros;	 b)	 aplicado	 o	 princípio	 a	 todos	 os
integrantes	de	uma	empresa,	a	participação	constituiria	um	prêmio	aos	bons	e	aos	maus	 trabalhadores,
nivelando-os	injustamente;	e,	por	fim,	c)	que	seria	uma	arma	contra	o	próprio	trabalhador,	retirando-lhe	a
consciência	de	suas	reivindicações	e	distanciando-odas	entidades	sindicais	organizadas	para	defender
seus	 interesses.[434]	 O	 advogado,	 professor,	 sociólogo	 e	 político	 brasileiro;	 ALBERTO	 PASQUALINI
(Ivorá,	 23.09.1901	 –	 Rio	 de	 Janeiro,	 03.06.1960),	 tendo	 sido	 ideólogo	 e	 doutrinador	 trabalista,	 bem
como	senador	da	república,	contestou	a	participação	obrigatória	dizendo	que	“de	tudo	isto	se	conclui	que
ao	trabalhador	não	deve	interessar	a	participação	direta	nos	lucros;	ela	não	constitui,	aliás,	reivindicação
do	 trabalhador”.	 Na	 sua	 opinião,	 quantitativamente	 de	 pouco	 lhe	 servirá;	 qualitativamente	 não	 terá	 a
virtude	de	 transformá-lo	em	capitalista.	Por	que,	pois,	enganar	e	 iludir	os	 trabalhadores	com	miragens
demagógicas?	 E	 conclui	 que	 a	 participação	 indireta,	 ou	 melhor,	 a	 reversão	 de	 parte	 dos	 lucros	 à
coletividade,	 sob	 a	 forma	 de	 benefícios	 de	 ordem	 geral,	 melhor	 corresponderia	 aos	 postulados	 e	 às
soluções	da	justiça	social.[435]
Na	opinião	de	FÁBIO	NUSDEO,	a	ideia	de	participação	dos	empregados	nos	lucros,	no	Brasil,
adquiriu,	 prematuramente,	 foros	 de	 princípio	 constitucional,	 sem	 que	 se	 tivesse	 notícia	 de	 sequer	 um
esquema	 mais	 amplo	 ou	 geral	 efetivamente	 aplicado.	 Prova	 disso	 reside	 no	 fato	 de	 nada	 menos	 de
quarenta	 projetos	 terem	 sido	 apresentados	 a	 fim	 de	 regulamentar	 o	 citado	 inciso	 IV	 do	 art.	 157	 [“A
legislação	do	trabalho	e	a	da	previdência	social	obedecerão	aos	seguintes	preceitos,	além	de	outros	que
visem	à	melhoria	da	condição	dos	trabalhadores:	(...)	IV-	participação	obrigatória	e	direta	do	trabalhador
nos	 lucros	 da	 empresa,	 nos	 termos	 e	 pela	 forma	 que	 a	 lei	 determinar;	 (...)]	 da	Constituição	 de	 1946.
Segundo	 ele,	 tal	 multiplicidade	 de	 projetos,	 se	 por	 um	 lado	 constitui	 uma	 mostra	 das	 dificuldades
inerentes	à	matéria,	por	outro	revela	 também	a	evolução	do	enfoque	micro	para	o	macroeconômico	do
tema.[436]	No	 entanto,	 constitucionalmente	 criada	 em	 1946,	 na	 forma	 direta	 e	 obrigatória,	 pendendo	 de
regulamentação,	 atravessou	 a	 participação	nos	 lucros	 vários	 governos	 sempre	 em	branco.	Tanto	 é	 que
JOÃO	RÉGIS	 FASSBENDER	TEIXEIRA	 informa	 sobre	 a	 existência,	 até	 1967,	 de	 uma	 infinidade	 de
projetos	que	havia	 sido	 apresentada	 em	vã	 tentativa	de	 regulamentar	o	 sistema.	Por	 sinal,	 em	1968,	 o
Serviço	de	Documentação	da	Câmara	Federal	publicou	todo	um	volume	contendo	“mais	de	quinhentas
páginas	com	projetos	que	por	lá	terminaram	e	que	continuavam	desgraçadamente	nas	gavetas”.[437]	Isso,	a
nosso	ver,	comprova	que	a	matéria,	tal	como	encontrava-se	orientada	na	Constituição	de	1946,	feria	os
interesses	econômicos	das	classes	dominantes,	não	teria	como	ser	absorvida,	na	prática,	pela	maioria	das
empresas	e	tratava-se	de	uma	questão	de	difícil	regulamentação.
Devemos	 ressaltar	 que	 a	 norma	 constitucional	 de	 1946,	 que	 previa	 a	 participação	 nos	 lucros,
caiu	na	inutilidade	absoluta,	justamente	em	razão	de	o	texto	não	ser	auto-aplicável,	ou	seja,	dependia	da
votação	de	lei	ordinária	para	ser	posta	em	foi	promulgada,	apesar	de	inúmeros	projetos	de	lei	terem	sido
apresentados	prática.	Esse	preceito	constitucional	enveredou-se	pelos	caminhos	da	ilusão	em	virtude	de
constituir,	 segundo	 o	 jurista	 brasileiro,	 especialista	 em	 Direito	 Constitucional,	 e	 professor	 da
Universidade	 de	 São	 Paulo	 JOSÉ	AFONSO	DA	SILVA	 (Silva	Campos,	Minas	Gerais,	 30.04.1925	 -),
“mera	promessa	constitucional”,	portanto	norma	de	caráter	programático,	que,	como	dito,	depende	de	lei
para	efetivar-se.	Porém,	como	era	de	se	esperar,	o	 legislador	ordinário	“não	cumpriu	a	promessa”,	ou
seja,	 a	 necessária	 regulamentação	 legal	 jamais	 ao	 Congresso	 Nacional.[438]	 Lembra,	 ainda,	 ARION
SAYÃO	 ROMITA,	 que	 também	 não	 se	 registraram	 manifestações	 de	 entidades	 representativas	 dos
trabalhadores	com	reivindicação	dirigida	à	regulação,	por	 lei	ordinária,	do	mandamento	da	Lei	Maior.
[439]	Com	isto,	o	preceito	inserido	na	Constituição	de	1946	acabou	por	ser	esquecido	e	não	efetivamente
aplicado,	o	máximo	que	se	conseguiu,	face	a	programaticidade	constitucional	foi	a	conscientização	de	um
número	muito	reduzido	de	empresários,	que	adotaram	o	regime	de	participação	nos	lucros,	porém	como
mera	liberalidade	do	empregador	em	favor	de	seus	empregados.
	
	
5.2	A	PARTICIPAÇÃO	NOS	LUCROS	NA	CONSTITUIÇÃO
FEDERAL	DE	1967	E	NA	EMENDA	CONSTITUCIONAL
N°	1,	DE	1969
	
	
Lembra	PAULO	SARASATE	FERREIRA	LOPES	que	 a	 limitação	 no	 sentido	 de	 condicionar	 a
efetivação	da	participação	obrigatória	e	direta	dos	empregados	nos	lucros	da	empresa	a	promulgação	de
lei	ordinária,	prevista	na	Constituição	de	1946,	redundou	em	que	“ficasse	a	sua	regulamentação	dormindo
um	 sono	 de	 vinte	 anos,	 nos	 arquivos	 parlamentares”,[440]	 até	 que	 se	 acabou	 podando	 este	 texto
constitucional,	 deixando	 que	 se	 imperasse	 a	 ineficácia	 total	 durante	 toda	 a	 sua	 vigência.	 	 Todavia,	 a
ilusão	 ressurgiu	 na	 Constituição	 Federal	 de	 1967,	 mas	 com	 roupagens	 bem	 distintas	 das	 que	 foram
utilizadas	pelo	legislador	constituinte	de	1946.
A	Constituição	de	1967,	alterando	o	texto	da	Constituição	de	1946,	assegurou	aos	trabalhadores,
além	de	outros	direitos,	que,	nos	termos	da	lei,	visassem	à	melhoria	de	sua	condição	social,	“a	integração
do	 trabalhador	 na	 vida	 e	 no	 desenvolvimento	 da	 empresa,	 com	 participação	 nos	 lucros	 e,
excepcionalmente,	na	gestão,	nos	casos	e	condições	que	forem	estabelecidos”	[inciso	V	do	art.	158	(“A
Constituição	 assegura	 aos	 trabalhadores	 os	 seguintes	 direitos,	 além	 de	 outros	 que,	 nos	 termos	 da	 lei,
visem	à	melhoria	de	sua	condição	social:	...	V-	integração	do	trabalhador	na	vida	e	no	desenvolvimento
da	empresa,	com	participação	nos	lucros	e,	excepcionalmente,	na	gestão,	no	casos	e	condições	que	forem
estabelecidos;	...”)].
Comentando	esse	dispositivo	constitucional	de	1967,	FRANCISCO	CAVALCANTI	PONTES	DE
MIRANDA	 fez	 longo	 esclarecimento	 dizendo	 que	 o	 movimento	 de	 igualização	 econômica	 no	 mundo,
posterior	 e	 em	 continuação	 aos	 movimentos	 de	 igualdade	 perante	 a	 lei	 e	 aos	 de	 liberdade	 (em
contradição	com	a	concepção	materialística	de	desigualdade	crescente)	determinou	as	reclamações	 de
maior	 salário,	 a	 criação	 de	 intensas	 e	 enérgicas	 organizações	 do	 trabalho	 e	 a	 conseqüente
intervenção	 do	 Estado	 na	 política	 do	 trabalho.	 Ao	 mesmo	 tempo,	 essas	 medidas,	 legislativas,
judiciárias	 ou	 de	 execução,	 através	 de	 comissões,	 conselhos	 e	 decisões	 ministeriais,	 atuaram	 na
mentalidade	dos	empregados,	causando	a	diminuição	de	produtividade	individual	deles.[441]
Na	opinião	de	FRANCISCO	CAVALCANTI	PONTES	DE	MIRANDA,	o	Estado	pôs-se,	então,
em	 situação	 incômoda:	 de	 um	 lado,	 o	 seu	 papel,	 e	 não	 só	 o	 seu	 interesse,	 em	 obra	 de	 paz	 e	 de
coordenação,	que	os	fatos	lhe	impunham,	para	que	a	produção,	o	bem-estar	geral,	e	o	próprio	Estado
não	fossem	sacrificados;	de	outro	lado,	o	fato	psicológico-econômico	do	decréscimo	de	produção	por
indivíduo.	As	medidas	 sugeridas,	 para	 se	 atenuar,	 se	 não	 corrigir,	 essa	 suspensão	do	 impulso	 a	 subir,
entre	 os	 empregados,	 às	 camadas	 dirigentes	 das	 indústrias,	 que	 o	 liberalismo	 econômico	desenvolvia,
foram	muitas;	 e	 uma	 delas,	 iniciada	 por	 alguns	 reformistas	 e	 industriais	 do	 começo	 do	 século	XIX	 e
retomada	 por	 alguns	 industriais	 de	 decênios	 passados,	 que	 previam	ou	 viam	o	 estímulo	 do	 lucro	 nos
empregados,	foi	a	da	participação	dos	empregados	nos	lucros.	Toda	experiência,	que	se	tem	a	respeito,
provém,	 portanto,	 de	 século	 de	 puro	 liberalismo	 econômico,	 sem	 que	 se	 possa	 generalizar	 qualquer
ensinamento:	a	adoção	fora	esporádica,	transitória;	e	quase	sempre	dependeu	da	indústria,	do	bom	êxito
dos	primeiros	 passos	 e	 de	 critérios	 de	participação,	 que,	 conforme	vimos,	 longe	 estavam	de	qualquercoeficiente	percentual	igual	para	todos	os	empregados,	ou,	sequer,	para	todos	os	que	pertenciam	à	mesma
categoria.	A	escolha	dos	futuros	“interessados”,	segundo	a	tradição	venerável	do	comércio	português	da
Europa	e	do	além-mar,	era	feita	pelos	donos	da	casa	de	comércio	ou	de	indústria,	pelas	qualidades	de
caráter,	 espírito	de	continuidade	e	de	produtividade	 individual.	Os	 seus	 resultados	 foram	memoráveis.
Porém	o	que	se	poderia	colher	de	informes	para	a	elaboração	de	regras	 jurídicas	de	participação	nos
lucros,	 seria	 quase	 nada.	 Não	 fora	 mais	 do	 que	 a	 técnica	 de	 seleção	 de	 empregados,	 vigente	 sob	 o
liberalismo	econômico,	transplantada	à	seleção	de	continuadores	das	firmas	comerciais	e	industriais.[442]
Todavia	o	crescimento	das	empresas,	com	milhares	de	empregados,	em	vez	de	alguns	poucos,
dilui	 a	 oportunidade	 de	 ascensão	 de	 empregados	 a	 empregadores.	Em	 virtude	 disso,	 a	 partir	 dessa
época,	excitara	a	ânsia	de	aumento	sur	place	de	salários,	isto	é,	sem	ascensão	dos	empregados.	Além
disso,	houve	a	eliminação	de	toda	a	conduta	para	proveito	futuro	e	por	deslocamento	para	cima,	sendo
substituída	 pela	 política	 do	 aumento	 constante	 de	 salário.	 Lembra	 FRANCISCO	 CAVALCANTI
PONTES	DE	MIRANDA	que,	desde	então,	já	havia	desaparecido	a	produtividade	por	orgulho	de	mão-
de-obra	e	 já	se	fora	a	produtividade	pelo	receio	de	perda	de	emprego,	ou,	pelo	menos,	de	demora	em
reemprego	 (as	 garantias	 da	 legislação	 trabalhista	 foram	o	maior	 fator	 eliminativo	dessa	produtividade
pelo	 temor	 de	 despedida).	 Era	 natural,	 portanto,	 que	 se	 voltasse	 a	 pensar	 ou,	 pelo	 menos,	 o	 Estado
voltasse	a	pensar	em	regras	jurídicas	que	fizessem	aumentar	a	produtividade,	com	o	esperado	aguilhão
da	 participação	 nos	 lucros.	Daí	 novas	 tentativas	 de	 se	 legislar	 a	 respeito,	 inclusive	 o	 surgimento	 da
regra	jurídica	constitucional	do	inciso	V	do	art.	158	da	Constituição	de	1967.[443]
No	 art.	 158	 da	 Constituição	 Federal	 de	 1967	 elevou-se	 a	 participação	 nos	 lucros	 a	 um	 dos
direitos	dos	trabalhadores,	colocando-a	como	um	dos	elementos	da	integração	do	trabalhador	na	vida	e
no	desenvolvimento	da	empresa.	Certamente,	o	legislador	constituinte	pretendia	com	isto	tentar	atenuar	a
luta	de	classes,	admitindo,	com	alguns	reformadores	sociais,	que	se	pode	interessar	o	empregado	na	sorte
da	empresa	e	na	sua	escala	de	lucros.	Mas	entre	o	sonho	e	a	realidade	vai	uma	distância	muito	grande	e
dificilmente	 a	 integração	 social	 pretendida	 pelo	 legislador	 constituinte,	 na	 prática,	 deixará	 em	 plano
secundário	o	conflito,	ou	seja,	a	pressão	pela	obtenção	de	maiores	salários.
Por	outro	lado,	a	Constituição	de	1967	abandonou	a	obrigatoriedade	da	participação	nos	lucros
inserida	na	Constituição	de	1946,	isto	é,	a	partir	da	Constituição	de	1967,	a	legislação	ordinária	poderia
estabelecer	 a	 participação	 obrigatória	 ou	 facultativa,	 e	 abandonou,	 também,	 a	 obrigação	 de	 a
participação	nos	lucros	ser	paga	ao	empregado	apenas	pela	modalidade	da	participação	direta,	abrindo,
com	isto,	caminho	para	a	possibilidade	de	a	lei	estabelecer	outras	formas	de	pagamento	da	participação
nos	lucros	(participação	indireta,	participação	mista	ou	participação	em	ações).	Por	outro	lado,	defendia-
se	 o	 entendimento	 de	 que,	 pelo	 texto	 de	 1967,	 assegurava-se	 apenas	 o	 direito	 dos	 trabalhadores	 à
participação	 nos	 lucros,	 portanto	 não	 deveria	 ficar	 esta	 dependendo	 da	 liberalidade	 do	 empregador.
Porém,	 fora	 isto,	 o	 resto	 a	Constituição	 de	 1967	 entregou	 ao	 legislador	 ordinário,	 ou	 seja,	 tudo	mais
poderia	 ser	 regulado	 em	 regras	 jurídicas	 dispositivas	 ou	 interpretativas,	 inclusive	 a	 autonomia	 das
empresas	ou	das	empresas	e	dos	empregados	para	elaborar	seu	próprio	plano	de	participação.	 	Assim,
esta	autonomia	poderia	ser	maior	ou	menor,	isto	dependeria	apenas	do	que	resolvesse	a	lei	ordinária,	por
influência	das	correntes	políticas	predominantes	no	Poder	Legislativo.
Comenta	 ARION	 SAYÃO	 ROMITA	 que,	 ao	 não	 se	 aludir	 expressamente	 a	 participação
obrigatória	e	direta	nos	lucros,	adotou-se	na	Constituição	de	1967	a	concepção	economista-produtivista
típica	do	 regime	capitalista,	 o	que	 talvez	explique	o	desinteresse	que	as	 classes	 trabalhadoras	 sempre
manifestaram	pelo	instituto,	já	que	jamais	reivindicaram,	através	da	atividade	sindical,	a	promulgação	de
lei	ordinária	que	viesse	dar	atuação	à	regra	constitucional,	além	de	não	se	empenharem	pela	inclusão	de
cláusula	específica	nas	convenções	coletivas	de	trabalho.[444]
Em	 outras	 palavras,	 o	 inciso	 V,	 do	 art.	 158	 da	 Constituição	 de	 1967,	 segundo	 FRANCISCO
CAVALCANTI	PONTES	DE	MIRANDA	tratava-se	de	texto	constitucional	bastante	em	si	e	de	regra	que
apenas	adotava	três	conceitos	(o	de	participação	nos	lucros,	o	de	trabalhador	e	o	de	direito	contra	o
empregador)	 deixando	 à	 legislação	 ordinária	 as	 regras	 jurídicas	 sobre	 limites	 objetivos	 e	 subjetivos,
quer	do	direito,	da	pretensão	e	das	ações,	quer	do	exercício	deles.[445]
Na	 realidade,	 a	 experiência	 indicava	 que	 a	 dificuldade	 para	 se	 promulgar	 uma	 lei	 ordinária
regulando	 o	 preceito	 inserido	 na	 Constituição	 de	 1946	 decorria	 possivelmente	 do	 fato	 de	 tornar
obrigatória	e	direta	a	participação	dos	trabalhadores	nos	lucros	da	empresa.		Para	muitos,	esta	imposição
resultou	 tornar	 totalmente	 inoperante	 a	 norma	 programática	 de	 participação	 nos	 lucros.	 Por	 isso,	 o
legislador	constituinte	de	1967	entendeu	por	bem	afastar	esta	imposição.	De	forma	que	a	Constituição	de
1967	adotou	redação	um	pouco	mais	feliz,	aumentando	a	possibilidade	de,	afastando	as	dificuldades,	se
promulgar	uma	regulamentação	do	texto	constitucional.	Para	ROBERTO	BARRETTO	PRADO,	admitia-
se	 que	 os	 empregados	 participassem	 obrigatoriamente	 dos	 lucros	 da	 empresa,	mas	 no	 sentido	 de	 que
deviam	ser	partes	na	resolução	sobre	o	destino	a	ser	dado	aos	lucros.	Para	ele,	situação	dos	empregados,
nesse	 particular,	 seria	 análoga	 à	 dos	 sócios.	 Estes	 também	 participavam	 obrigatoriamente	 dos	 lucros
sociais	 e	 nem	 por	 isso	 sempre	 recebiam	 dividendos,	 pois	 que	 pode	 haver	 conveniência	 em	 não	 se
distribuir	os	lucros.[446]
Menciona,	 ainda,	ROBERTO	BARRETTO	PRADO	que,	 o	 advogado,	 professor,	 embaixador	 e
secretário	de	Estado	de	São	Paulo	Antonio	Queirós	Filho	(1910-1963),	quando	deputado	federal	por	São
Paulo	em	1954,	procurou	contornar	as	dificuldades,	em	interessante	e	criterioso	projeto	que	apresentou.
A	distribuição	de	lucros	seria	obrigatoriamente	devida,	na	base	mínima	de	30%	(trinta	por	cento)	sobre
os	 lucros	 tributáveis	 pelo	 imposto	 de	 renda,	 deduzidos	 12%	 (doze	 por	 cento)	 do	 capital	 aplicado,
inclusive	 reservas.	 Caberia	 ao	 empregador,	 conjuntamente	 com	 o	 Conselho	 de	 Representantes	 dos
Empregados,	 resolver	 sobre	 o	 critério	 de	 distribuição	 dos	 lucros,	 atendendo	 ao	 salário,	 tempo	 de
serviço,	 assiduidade	 e	 merecimento	 do	 trabalhador.	 Em	 não	 havendo	 acordo	 entre	 os	 interessados,	 à
Justiça	do	Trabalho	cumpriria	dirimir	 a	 controvérsia.	Todavia	 a	 falha	do	projeto,	 segundo	ROBERTO
BARRETTO	PRADO	consiste	na	obrigatoriedade	de	distribuição	dos	lucros.	 	Esta,	segundo	ele,	há	de
ser	facultativa,	atendendo-se	às	possibilidades	extremamente	variáveis	das	empresas.	Igual	falha,	talvez
compelidos	pelos	termos	expressos	constantes	da	Constituição	de	1946,	nota-se	nos	projetos	de	Daniel
Faraco	(n°	5,	de	1947),	de	Paulo	Sarasate	Ferreira	Lopes	(n°	1.039,	de	1948),	de	Juarez	Távora	 (n°
531,	de	1963)	e	também	no	anteprojeto	do	professor	Cesarino	Júnior,	de	1967.[447]
Tal	como	o	inciso	IV	do	art.	157	da	Constituição	de	1946,	o	inciso	V	do	art.	158	da	Constituição
de	 1967,	 também	 obrigava	 a	 se	 promulgar	 lei	 ordinária	 sobre	 participação	 no	 lucros,	 para	 que,	 na
prática,	 pudesse	 ser	 aplicado	 eficazmente	 o	 dispositivo

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