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Unidade Unidade 1 Introdução O estudo do Direito Empresarial nos ensina como é acolhido este setor essencial pelo ordenamento jurídico do Brasil. Podemos entender que há de se prever algum tipo de proteção, haja vista que empreender no país é tarefa árdua, e há de se preverem responsabilidades, uma vez que as empresas detêm todo o poder econômico e possuem a autonomia, importância e relevância para sustentar o arcabouço econômico a que estamos atrelados e dependentes. Vamos ingressar juntos nesse conhecimento? Conceito de Empresa e Empresário “Onde há coletividade há escassez. O Direito Empresarial surge para combater a escassez” (Dr. Edilson Enedino das Chagas) Classificação O Direito Empresarial é um ramo do Direito Privado, pois o interesse é privado, diferentemente de ramos do Direito Público tais como Direito Constitucional e Direito Administrativo. Como sei? Respondendo à seguinte pergunta: a quem interessa o êxito? Interessa à sociedade de forma geral ou a uma pessoa ou pequeno grupo de pessoas especificamente? Sendo assim, o Direito Empresarial trata relações e interesses no âmbito privado. Fase Histórica Pense na seguinte situação: na Antiguidade, já existia o comércio. Dependia-se disso para sobreviver. A princípio, é claro, eram realizadas trocas ou escambo. Se um produtor detinha gado, por exemplo, uma fonte de alimentos ou leite, ele trocava esse gado por um cavalo, para que pudesse se locomover. Podemos entender essa relação como um TROCA de interesses particulares. Eu tenho o que você precisa e vice-versa. SAIBA MAIS A palavra “salário” deriva dessa fase, quando os trabalhadores eram remunerados com sal. Trocava- se a mão de obra pelo produto, muito valorizado à época. Sendo assim, as relações comerciais existem desde os tempos mais remotos, e a sociedade depende delas desde o início. Por certo que, no início, não havia todo o conhecimento e tecnologia aplicados nos dias de hoje. As necessidades que surgiam eram solucionadas de acordo com a evolução da sociedade. Com o passar do tempo, a troca foi substituída pela moeda, no sentido literal da palavra. Mais adiante, surgem os ‘bancos’, criados com o objetivo de proteger as moedas. A fim de comprovar a quantia depositada em confiança aos bancos, era emitido um recibo, em papel, e, por fim, este recibo em papel tornou-se a cédula que conhecemos hoje. Temos ainda a criação dos títulos de crédito, até hoje muito utilizados. Podemos citar os mais conhecidos: a nota promissória, a duplicata, a letra de câmbio, entre outros vários adotados no país. Os títulos de crédito são documentos que expressam a existência de uma dívida a ser paga e um valor a ser recebido. Dessa maneira, ao mesmo tempo, o título de crédito representa um direito para seu portador e, por outro lado, uma obrigação para seu emissor. Por essa razão o crédito sempre foi fundamental para desenvolver a atividade comercial e estimular as trocas financeiras entre pessoas. (REIS, 2018, on-line) Os títulos de crédito surgem no período das grandes navegações, muito em razão de prevenir contra roubos, pois a mercadoria atravessava os mares rumo ao seu destino e retornava apenas com os valores percebidos nesta transação. Advém daí a necessidade de formalizar essa relação comercial com documentos que seriam pago quando da chegada do comerciante em retorno ao seu local de origem. Atualmente, tais títulos têm o objetivo não somente de se formalizarem compromissos no cenário financeiro, mas também o de fornecer celeridade, conforme nos ensina Marlon Tomazette: Na economia moderna, há a realização de negócios em massa, mobilizando grandes quantidades de recursos e de bens a todo momento. Para que isso ocorra na velocidade atualmente exigida, o crédito exerceu papel determinante. Pelo fato de o crédito permitir a imediata mobilização da riqueza, houve o aumento do número de negócios efetuados, do número de bens produzidos e do número de bens consumidos. (TOMAZETTE, 2017, p. 27). Assim, de forma bem breve, podemos concluir que, desde o escambo, até a criação das moedas, dos bancos e dos títulos de crédito, as relações comerciais demandaram, naquela época, soluções de que fazemos uso até os dias de hoje. Já imaginou o mundo sem empresas? Onde iríamos trabalhar, como teríamos a estrutura da vida moderna, como a saúde, a educação, a segurança, entre outros itens básicos, existiriam sem as empresas? Daí sua extrema importância e relevância. Para nosso estudo, podemos entender que as empresas pertencem ao 2º setor, o setor econômico, de onde vêm toda a riqueza do país. Esta riqueza fomenta desde o governo com o custeio dos tributos a ele devidos, até a geração de mão de obra/ emprego, atuando como um sustentáculo da sociedade. Diante desse cenário, com o tempo, surgiu a necessidade de atualizarmos nossas relações mercantis. Assim, o Direito Comercial no Brasil, influenciado pelos códigos francês, espanhol e português, inicia em 1850 com a criação do Código Comercial do Império do Brasil, a Lei n. 556 de 25.06.1850. Antigo, não é? Naquela época, era considerado comerciante apenas quem, profissionalmente, intermediava a produção e o consumo, exercendo esta atividade com fins lucrativos. Já a Constituição de 1988, nossa lei maior, trouxe-nos, em definitivo, como podemos entender esta relação de mercancia na realidade: Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. Entende por que falamos que o Direito Empresarial é um ramo do Direito Privado? O Estado não produz nada, dependendo das empresas para que possa fornecer toda a arquitetura social que temos hoje. Teoria da Empresa Mas o que vem a ser atividade empresária? O nosso Código Civil de 2002 não lecionou o conceito. Entretanto, conceitua o significado de “empresário”: CC Art. 966. Considera- se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. Note que, no caput do artigo, estão definidos tanto o conceito de “empresário” (quem exerce profissionalmente” quanto de “empresa” (atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens e de serviços). Destacam-se dessa definição, as noções de: a. Profissionalismo – entendemos a noção de que o empresário exerce pessoalmente as atividades, enquanto os empregados o fazem em nome dele. Podemos entender também por essa definição, que o empresário detém todo o conhecimento do negócio, podendo ser as fórmulas para a produção de um produto, os desenhos técnicos, a descrição etc. b. Atividade econômica – a atividade busca o lucro e a vantagem financeira que ele traz. c. Atividade organizada – elencados pelo empresário, os quatro fatores de produção: capital, mão de obra, insumos e tecnologia. d. Produção de bens ou serviços - fabricação de produtos ou mercadorias é, por definição, empresarial. Já a produção de serviços é a prestação de serviços por si só. e. circulação de bens ou serviços - a atividade de circular bens é a do comércio, como a compra e venda de mercadorias. Circular serviços, por sua vez, é intermediar a prestação de serviços. Autonomia do Direito Empresarial O Brasil demorou (pasmem!) 73 anos para entender que a empresa deve prosperar, independentemente de quem a esteja liderando. Para ter uma ideia, em 1942 o jurista italiano Alberto Asquini, enfatizou em sua teoria que haveria a necessidade de perpetuidade da atividade econômica. O mundo, então, rendeu-se a essa teoria. Paraele, não importava quem esteja no comando ou quantas vezes se troquem os sócios, sendo o mais importante que a atividade continue como a forma mais lógica de progresso. No Brasil, o Código de Processo Civil de 1939 só previa a dissolução total da empresa. Sendo assim, se um sócio morresse ou decidisse sair da sociedade, a empresa obrigatoriamente tinha que ser encerrada, pois não havia previsão legal para que a atividade continuasse. Com a reforma do Código de Processo Civil, em 1973, muitas regras mudaram, mas o legislador não alterou essa questão. Perdemos mais uma oportunidade de manter vivas as empresas. Seguimos com a obrigatoriedade de encerramento delas, caso alguém falecesse ou deixasse a sociedade. Assim ficamos por mais 42 anos, quando, enfim, em 2015, a legislação foi atualizada. Imaginou o tamanho do prejuízo, quando centenas ou milhares de empresas ao longo de todo esse período foram forçadas a encerrar suas atividades, simplesmente porque a legislação não permitia a continuidade da atividade se a formação que lhe deu origem mudasse? Atualmente, entendemos o que Asquini teorizou em 1942 e, independentemente do que acontecer com os sócios, não será esse o motivo do encerramento de uma empresa. Essa é a autonomia do Direito Empresarial. Princípios do Direito Empresarial Podemos compreender por princípios o que serve de base a alguma coisa, a razão de existência. Para o Direito Empresarial, há de entender os princípios da empresa como sendo: Princípio da função social da empresa: o poder público tem o dever de limitar os interesses privados, com o objetivo de evitar o abuso de poder. No entanto, o poder público deve assegurar a preservação da atividade empresária. Como exemplo dessa relação, podemos dizer que, por um lado, as empresas têm o dever de pagar tributos ao Estado, contribuir com o desenvolvimento econômico do país, entre outros; Princípio da preservação da empresa: esse princípio significa que é prioridade a continuidade da atividade empresarial e desfavor de sua extinção; Livre Iniciativa: é considerado direito fundamental, de acordo com o artigo 170, parágrafo único de nossa Constituição, que assegura “a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei”; Livre concorrência: ainda com base no mesmo artigo 170 da Constituição, é previsto que as empresas possam concorrer livremente umas com as outras, sem a intervenção do Estado, salvo em casos de comprovada má-fé nesta concorrência, ao que chamamos concorrência desleal, que fere a Constituição. Princípio da defesa do consumidor: O consumidor é visto como a parte hipossuficiente da relação. Nesse sentido, o Estado deve se dedicar a ele e fomentar órgãos que protejam o consumidor contra abusos ou desigualdades; Defesa do meio ambiente: as empresas têm o dever de proteger o meio ambiente e receber incentivos do Estado quando cumprem com suas responsabilidades. Entretanto, se a empresa descumprir este princípio, deve ser penalizada. Perfis da Empresa É possível separar quatro perfis: subjetivo, objetivo, corporativo e funcional. Perfil Subjetivo São as pessoas que exercem a atividade. O empresário, os sócios, o sócio administrador, empregados, etc. Para que a empresa exista, há a necessidade de, ao menos, um trabalhador contratado. A empresa, para tanto, deve ser organizada, ao ponto em que permita a continuidade de suas atividades, independente do que aconteça com o indivíduo. Perfil Objetivo É a estrutura necessária para que a atividade aconteça. Podemos incluir nesse cenário até mesmo a residência do empresário. O local não importa, mas, sim, a atividade. O artigo 1142 do Código Civil, destaca que compreendem o perfil objetivo: Art. 1.142. Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária. § 1º O estabelecimento não se confunde com o local onde se exerce a atividade empresarial, que poderá ser físico ou virtual. Perfil Corporativo Esclarece que há a ideia de sinergia entre os agentes. No entanto, no Brasil, não podemos falar em sinergia, uma vez que os trabalhadores são assistidos pela legislação trabalhista. Sendo assim, não há o que se falar em cooperação entre empresa e trabalhador, como estudaremos mais adiante. SAIBA MAIS Sinergia significa ação ou esforço simultâneos; cooperação, coesão; trabalho ou operação associados. Perfil Funcional É a rotina da empresa, o dia a dia. Esse perfil cria um padrão de funcionamento, mesmo que o dono não esteja presencialmente, possibilitando, inclusive, a existência de filial e franquias. Atividades não Empresárias O artigo 966 do Código Civil nos orienta: Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. Essas atividades descritas no artigo 966, então, não serão tratadas pelo Direito Empresarial. São atividades que só funcionam com o dono. Como posso saber isso? Simples: tire a pessoa da empresa. Com essa saída, a empresa continua circulando bens ou serviços? Se a resposta for “não”, não podemos considerar a atividade, como sendo empresária. Mas, e o Cirque du Soleil, por exemplo? Não é uma empresa artística? Sim, mas ainda que o dono não esteja na empresa, os espetáculos vão acontecer, compreende? Um artista, único e individual, se não atuar, não há circulação de bens ou serviços. Sendo assim, algumas atividades jamais poderão compor uma empresa, tais como: profissionais autônomos, a sociedade simples (composta por um único indivíduo), as sociedades cooperativas e os advogados. Incompatibilidades para o Exercício Empresarial: Funcionários Públicos, Falidos, Corretores De Mercadorias, Leiloeiros Em nosso país, a lei proíbe alguns indivíduos de se tornarem empresários e por motivos bem razoáveis. Vamos conhecê-los e refletir sobre a referida proibição. São eles: • Servidores públicos civis (federais, estaduais e municipais): a Lei n. 8.112/90, de 11 de dezembro de 1990, apresenta o Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da União, no artigo 117: Ao servidor é proibido: X - participar de gerência ou administração de sociedade privada, personificada ou não personificada, exercer o comércio, exceto na qualidade de acionista, cotista ou comanditário. (Redação dada pela Lei nº 11.784, de 2008). • Magistrados: de acordo com a Lei Complementar n. 35, de 14 de março de 1979, que dispõe sobre a Lei Orgânica da Magistratura Nacional, em seu artigo 36, é vedado ao magistrado: I - exercer o comércio ou participar de sociedade comercial, inclusive de economia mista, exceto como acionista ou quotista; II - exercer cargo de direção ou técnico de sociedade civil, associação ou fundação, de qualquer natureza ou finalidade, salvo de associação de classe, e sem remuneração. • Membros do Ministério Público; • Policiais militares da ativa; • Militares da ativa das Forças Armadas; • Empresários falidos (enquanto não houver reabilitação): a Lei n. 11.101/2005, de 9 de fevereiro de 2005, estabelece em seu artigo 102: O falido fica inabilitado para exercer qualquer atividade empresarial a partir da decretação da falência e até a sentença que extingue suas obrigações, respeitado o disposto no § 1º do art. 181 desta Lei. Parágrafo único. Findo o período de inabilitação, o falido poderá requerer ao juiz da falência que proceda à respectiva anotação em seu registro. • Presidente da República, Ministros, Governadores e Prefeitos; • Condenado a pena que vede o acesso a cargos públicos; • Condenado por crime falimentar, entre outros. Cabe ressaltar que a legislação trabalhista, em seu artigo 482, estabelece que:Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo empregador: c) negociação habitual por conta própria ou alheia sem permissão do empregador, e quando constituir ato de concorrência à empresa para a qual trabalha o empregado, ou for prejudicial ao serviço. Essa última proibição nos traz a ideia de concorrência. Seria muito fácil a um empregado conhecer os detalhes de um produto, por exemplo, ou o modelo de gestão de negócios e replicá-lo em sua própria empresa, lesando de forma desleal o empresário que apresentou a este os detalhes originais. Por outro giro, a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 170, Parágrafo único, reforça a relevância, importância e o direito assegurado aos indivíduos, de exploração e liberdade de atividade econômica, sendo aptos ao exercício de sua capacidade, que veremos na próxima unidade. Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei. (grifo nosso) SAIBA MAIS Para saber mais sobre a importância do Direito Empresarial para os negócios, vale a pena ler o artigo “Novo Código Comercial será importante para o desenvolvimento econômico”, de Arnoldo Wald. Arnoldo Wald é professor advogado, especialista e parecerista na área de Arbitragem, do escritório Wald Advogados Associados. Presidente honorário da Comissão de Arbitragem da OAB e um dos organizadores, com os professores Luiz Gastão Paes de Barros Leães e Modesto Carvalhosa, da obra “A Responsabilidade Civil da Empresa Perante os Investidores. Contribuição à modernização e moralização do Mercado de Capitais” (Ed. Quartier Latin). Para ler o artigo, acesse: https://www.conjur.com.br/2018-dez-14/wald-codigo-comercial-importante-desenvolvimento Considerações Finais Com a evolução do entendimento da proteção e de tratativas no setor econômico, vê-se que, na atualidade, o Brasil detém regras rígidas e ao mesmo tempo oportuniza o empreendimento. A liberdade econômica, a simplificação dos tributos em algumas modalidades empresárias e o reconhecimento da perpetuidade da empresa são algumas das notórias evoluções a que temos a compreensão. Há muito a se entender e reformular, mas podemos concordar que estávamos diante de um cenário bem menos promissor do que o que se apresenta agora. A autonomia do Direito Empresarial conclui a compreensão de que precisamos preservar as empresas não somente para fortalecer nossa economia, mas também por uma questão de subsistência. Conceito de Empresa e Empresário Classificação Fase Histórica Teoria da Empresa Perfil Funcional Atividades não Empresárias Incompatibilidades para o Exercício Empresarial: Funcionários Públicos, Falidos, Corretores De Mercadorias, Leiloeiros Considerações Finais