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Responsabilidade Civil por Ato Ilícito

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DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO DO TJDFT 
PROFESSOR LAURO ESCOBAR 
 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 11 
 
AULA 07 
 
 
ATO ILÍCITO 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
 
 
 
���Itens específicos do edital que serão abordados nesta aula →→→ Atos 
Ilícitos. Responsabilidade Civil. 
Subitens →→→ Atos Ilícitos. Abuso de Direito. Responsabilidade Civil. Conceito, 
pressupostos, espécies e efeitos. Responsabilidade Contratual e Extracontratual. 
Responsabilidade Objetiva e Subjetiva. Teoria da Culpa e do Risco. Indenização. 
Exclusão da Ilicitude. Responsabilidade por ato de terceiros. 
���Legislação a ser consultada →→→ Código Civil: arts. 186 a 188 (Atos 
Ilícitos); arts. 927 a 943 (Responsabilidade Civil); arts. 944 a 954 (Indenização). 
 
 
ÍNDICE 
 
Ato Ilícito ....................................................................................... 02 
Responsabilidade Civil .................................................................... 05 
 Contratual ................................................................................. 06 
 Extracontratual (aquiliana) ....................................................... 07 
Responsabilidade subjetiva ........................................................... 08 
Responsabilidade objetiva ............................................................. 10 
Regras adotadas pelo Código Civil ................................................. 12 
Elementos indispensáveis .............................................................. 12 
 Conduta ..................................................................................... 12 
 Dano .......................................................................................... 13 
 Patrimonial (material) .......................................................... 14 
 Extrapatrimonial (moral) ...................................................... 15 
 Estético ................................................................................. 17 
 Nexo causal ............................................................................... 19 
Abuso de Direito ............................................................................. 21 
Responsabilidade solidária e subsidiária ........................................ 23 
Responsabilidade por ato de terceiro ............................................. 23 
DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO DO TJDFT 
PROFESSOR LAURO ESCOBAR 
 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 22 
Exclusão da ilicitude ....................................................................... 26 
Efeitos civis da decisão criminal ..................................................... 29 
Transmissibilidade ......................................................................... 33 
Responsabilidade por fato do animal .............................................. 33 
Responsabilidade por fato da coisa ................................................ 34 
Profissionais liberais ...................................................................... 35 
Indenização ................................................................................... 37 
RESUMO DA AULA ........................................................................... 40 
Bibliografia básica .......................................................................... 42 
EXERCÍCIOS COMENTADOS ............................................................ 43 
 
Meus Amigos e Alunos 
Como vimos na aula anterior, nosso ordenamento jurídico visa proteger 
os atos realizados em harmonia com a lei. No entanto, por outro lado, reprime 
os atos praticados em sua violação. Assim, ao mesmo tempo em que tutela a 
atividade da pessoa que se comporta de acordo com o Direito, reprime a 
conduta daquele que o contraria. Daí a importância do estudo do ato ilícito e 
sua consequência, a responsabilidade civil. 
O ato ilícito está previsto nos artigos que vão do 186 até o 188, CC 
(eles são poucos, mas importantíssimos). Ocorre que não há lógica estudar 
apenas esses poucos artigos. Eles devem ser relacionados com a 
responsabilidade civil, prevista nos artigos que vão do 927 ao 943, CC (e se 
incluirmos ainda o tema “indenização” a previsão se estende até o art. 954, 
CC). Ou seja, para que nosso estudo seja completo devemos identificar o 
conceito e a importância do Ato Ilícito (que ainda pertence à parte geral do 
Código Civil) e, de imediato, a sua relação com a Responsabilidade Civil (que 
integra a parte especial). Além disso, a Constituição Federal, em seu art. 5°, 
incisos V e X prevê o direito à indenização por dano moral, material e à 
imagem. Portanto, durante esta aula, responderemos a seguinte questão: 
praticado um ato ilícito (civil ou penal), quais as repercussões na esfera da 
responsabilidade civil? Lembrando que este tema pode cair em provas tanto de 
Direito Civil, como Direito Constitucional e Administrativo. 
 
 
ATO ILÍCITO 
 
 
O ato ilícito está previsto no art. 186, CC. Podemos conceituá-lo 
como sendo o ato praticado em desacordo com a ordem jurídica, violando, 
consequentemente, direito subjetivo individual. No dizer de Francisco Amaral: 
“A ilicitude significa contrariedade a um dever jurídico, consistindo na ofensa a 
direito subjetivo ou na infração de preceito legal, que protege interesses 
alheios, ou ainda no abuso de direito”. Como se vê, o ato ilícito também pode 
se dar com o abuso de direito previsto no art. 187, CC. Em qualquer 
hipótese é necessário que a conduta provoque um dano a outrem, seja 
DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO DO TJDFT 
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 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 33 
patrimonial ou moral (extrapatrimonial). E a consequência da prática de 
um ato ilícito é a responsabilidade civil (além das outras modalidades, se for o 
caso), criando a obrigação de reparação do dano, indenizando-se pelas perdas 
e danos. Desta forma, devolve-se à vítima, em tese, as mesmas condições em 
que se encontrava antes de sofrer o dano 
 Resumindo: praticar um ato ilícito é incidir na infração ao dever de não 
lesar outrem (em latim dizemos neminen laedere: a ninguém se deve lesar). E 
se este ato ilícito causar danos a outrem (patrimoniais ou morais) cria-se o 
dever de reparar os prejuízos decorrentes. Por isso o ato ilícito é considerado 
também como uma “Fonte de Obrigação”, pois praticado um ato ilícito a lei 
obriga a reparação dos danos. Vejam que logo no início da aula já estamos 
relacionando dois artigos dispostos em lugares bem diferentes do Código Civil: 
quem pratica um ato ilícito (art. 186, CC) tem a obrigação de reparar o dano 
(art. 927, CC). 
O ato ilícito é considerado como um fato jurídico (em sentido amplo). 
Lembrem-se do gráfico que forneci na aula sobre os fatos jurídicos. Ele produz 
efeitos jurídicos, sendo que esses efeitos geralmente não são desejados pelo 
agente (ninguém gosta de indenizar outrem), mas impostos pela lei (por isso 
eles também são chamados de atos involuntários, pois os efeitos são 
involuntários, ou seja, não desejados pelo agente). Há infração de um dever 
e, consequentemente, a imputação de um resultado. 
Podemos classificar o ato ilícito em: civil, penal ou administrativo. 
Lógico que nesta aula o que nos interessa é o ato ilícito civil, porém sempre 
que falamos sobre este tema, acabamos por “invadir” um pouco a área das 
demais matérias, pois elas são conexas. Vejamos. 
a) Penal: violação de um dever tipificado como crime, pressupondo um 
prejuízo causado à sociedade; desrespeitado, compromete-se a ordem 
social (norma de ordem pública); a sanção é pessoal, ou seja, é a pessoa 
do infrator imputável que irá responder pela conduta (não se transmite a 
responsabilidade penal a terceiros).b) Administrativo: violação de um dever que se tem para com a 
Administração; a sanção também é pessoal. 
c) Civil: violação de um dever obrigação contratual ou legal, 
pressupondo um dano a terceiro; a sanção é patrimonial, ou seja, atinge 
o patrimônio do lesante (como regra). Acrescente-se que como neste caso 
o interesse lesado é do particular, ele poderá ou não requerer a reparação. 
Há casos em que o sujeito pratica uma conduta e esta ofende apenas à 
sociedade como um todo: trata-se de um ilícito penal. Em outros casos a 
conduta ofende apenas ao particular: trata-se do ilícito civil. Mas em alguns 
casos uma só conduta pode ofender a sociedade e o particular ao mesmo 
tempo. Pergunto: se um sujeito com apenas uma conduta causar danos à 
sociedade (ilícito criminal) e ao particular (ilícito civil), pode responder a dois 
processos? O sujeito pode ser duplamente responsabilizado? Existe um 
brocardo jurídico que diz: ne bis in idem (ou seja, ninguém pode ser 
responsabilizado duas vezes pelo mesmo fato). Será que isto se aplica aqui 
DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO DO TJDFT 
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também? Resposta: o princípio do ne bis in idem existe, mas somente é 
aplicado na mesma esfera. Ou seja, um sujeito foi processado e absolvido por 
um ilícito penal. Ocorrendo o trânsito em julgado, não se pode instaurar um 
novo processo penal para apurar o mesmo fato. Mas isto não impede de se 
instaurar um processo civil visando à reparação do dano. Muito embora o fato 
seja o mesmo, as esferas de competência são diferentes, visando objetivos 
diferentes. Portanto uma mesma conduta pode acarretar uma dupla 
responsabilidade e, portanto, dois processos diferentes. 
Exemplo: por uma questão de somenos importância “A” agride “B”, nele 
produzindo lesões corporais. O fato é típico, está descrito no Código Penal (art. 
129), logo é um ilícito penal (crime). Por outro lado, causando danos 
(patrimoniais ou morais) à vítima o agente também é obrigado a reparar esses 
danos na ordem civil. Trata-se, portanto, de um ilícito civil também. Uma 
mesma conduta teve como consequência dois efeitos: um na ordem penal e 
outro na esfera civil. E para apurar estas responsabilidades são instaurados 
dois processos, com objetivos diferenciados. 
 Às vezes a conduta pode atingir também o Direito Administrativo, 
havendo uma tripla responsabilidade. Exemplo: o peculato! O que é o 
peculato? Trata-se de um crime, pois está tipificado no Código Penal (art. 312, 
CP). O que ele diz? O Código Penal o descreve como sendo um crime próprio 
do funcionário público. Uma das diversas hipóteses previstas é o caso de um 
funcionário que tendo a posse de um bem público, dele se apropria. O 
funcionário público se apropria de um bem pertencente à Administração, mas 
que estava sob sua guarda. Com sua conduta o funcionário ofendeu, 
simultaneamente, três bens jurídicos: atinge o Direito Penal, pois a conduta é 
crime (é típica; descrita no Código Penal). Além disso, o agente “quebrou a 
confiança” nele depositada pela Administração Pública. Por tal motivo este 
funcionário irá responder a um processo administrativo, podendo até mesmo 
perder o cargo (ser demitido). Por último, apropriando-se de um bem público, 
causou um dano à Administração, portanto cometeu também um ilícito civil, e, 
sendo assim, o agente pode ser responsabilizado pelo Estado e compelido a 
ressarcir o dano que causou. Deste modo, o autor da conduta, com apenas 
uma ação, ofendeu três bens jurídicos distintos (penal, administrativo e 
civil), podendo (ao menos em tese) responder a três processos distintos, cada 
um com objetivos diferenciados. 
���IMPORTANTE ��� A responsabilidade penal é pessoal e intransferível. Ou 
seja, somente a pessoa que pratica o crime, desde que seja imputável 
(penalmente responsável), é que irá responder por ele. Já a responsabilidade 
civil é patrimonial, ou seja, o que será atingido é o patrimônio do lesante, 
sendo que em diversas circunstâncias a responsabilidade pode ser transferida 
aos sucessores e também aos responsáveis legais do agente. Veremos isso 
com maior profundidade mais adiante. 
 Vamos fazer um resumo do que vimos até agora sobre o ato ilícito 
civil: 
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 É a conduta humana que fere direitos subjetivos privados; está em 
desacordo com a ordem jurídica, violando um direito subjetivo individual 
(art. 186, CC). 
 A consequência principal de sua prática é a obrigação de reparar o 
dano (patrimonial ou moral), de indenizar (art. 927, CC), restabelecendo 
à vítima seu estado anterior (status quo ante). 
 A mesma conduta ilícita pode causar repercussão no Direito Civil, Penal e 
Administrativo; pode haver uma tripla responsabilidade. 
HISTÓRIA 
Durante os cursos que ministro visando concursos públicos evito falar 
sobre a história de cada instituto. Isso é muito interessante para cultura geral, 
é uma boa introdução para uma tese de mestrado, mas geralmente não cai 
nos concursos. Nestes cursos temos que ser objetivos! Mas... neste caso em 
particular, é interessante falar um pouco sobre a história do ato ilícito e a 
reparação do dano, pois com isso sentimos a evolução do Direito. Não só do 
Direito Civil, mas de todos os ramos do Direito. 
Primitivamente vigorava a pena de talião (“olho por olho, dente por 
dente” ou também “quem com ferro fere, com ferro será ferido”), segundo a 
qual os danos a terceiros eram retribuídos na mesma qualidade e quantidade 
pela própria pessoa ofendida. Era a tese do “mal pelo mal”. É claro que, ao 
invés de se compensar um dano, causava-se outro. O devedor respondia por 
suas dívidas com seu próprio corpo (podia ser escravizado) e até mesmo com 
sua vida (era executado). O direito evoluiu. Foi então editada a famosa lei 
romana conhecida como Lex Poetelia Papiria (326 a.C.). A partir daí o devedor 
passou a ser responsabilizado por suas obrigações exclusivamente com seu 
patrimônio. A execução deixou de ser pessoal para ser patrimonial. 
Posteriormente, a Lex Aquilia de Danno consagrou, de forma mais elaborada, o 
conceito de responsabilidade civil, punindo pecuniariamente o agente por 
danos injustamente provocados. Do nome desta lei (Aquilia), conforme 
veremos mais adiante, derivou a expressão responsabilidade aquiliana. 
Trata-se de uma expressão muito comum em concursos públicos. Mas, apesar 
de toda a evolução do direito, ainda permanece viva a ideia de culpa nos atos 
ilícitos, de modo que como regra, haverá indenização se houver “culpa” do 
agente. Veremos melhor esta expressão e a sua abrangência mais adiante. 
 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
 
 
A responsabilidade civil deriva da transgressão de uma norma pré-
existente, contratual ou legal, impondo ao infrator a obrigação de indenizar. 
Pressupõe uma relação jurídica entre a pessoa que sofreu um prejuízo e a que 
deve repará-lo. Segundo a doutrina, a responsabilidade civil tem como função 
principal restaurar o equilíbrio jurídico-econômico anteriormente existente 
entre o agente e a vítima. Pelo princípio da restitutio in integrum, tenta-se 
restabelecer o status quo ante, buscando a reparação (do dano material) 
ou a compensação (da lesão). Há quem sustente também a função punitiva 
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do ofensor e, consequentemente a desmotivacional ou reeducativa da conduta 
lesiva. A função compensatória visa reequilibrar o que o prejuízo 
desequilibrou. Nem sempre é possível ressarcir os danos sofridos pela vítima, 
por isso o ordenamento reconhece o direito do lesado de receber uma 
compensação, cuja contrapartidaé a redução do patrimônio do causador do 
dano ou responsável por ele. Já a função punitiva tem uma dupla finalidade: 
garante uma modificação e conscientização do comportamento danoso do 
ofensor por meio da atribuição de uma sanção, consistindo esta na diminuição 
de seu patrimônio material e gera uma projeção social da indenização, ou seja, 
que a conduta do ofensor sirva de exemplo para outros. 
Para a professora Maria Helena Diniz a responsabilidade civil possui dupla 
função: a) sanção civil, de natureza compensatória, mediante a reparação 
do dano causado; b) garantia do lesado à segurança. 
A responsabilidade surge em face do descumprimento obrigacional 
(desobediência de uma regra estabelecida em contrato) ou por uma pessoa 
deixar de observar um preceito normativo que regula a vida. Portanto, de 
acordo com o fato gerador temos duas espécies de responsabilidade civil: 
contratual e extracontratual. 
1. RESPONSALIBIDADE CIVIL CONTRATUAL  Está situada no 
âmbito violação de norma pré-existente contratual ou negocial; da inexecução 
de uma obrigação decorrente de um contrato. Como se sabe, as cláusulas 
contratuais devem ser respeitadas (pacta sunt servanda: o contrato faz lei 
entre as partes), sob pena de responsabilidade daquele que as descumprir. O 
contrato traz em seu conteúdo uma obrigação assumida, podendo o seu 
descumprimento gerar perdas e danos. Os principais fundamentos jurídicos 
dessa modalidade de responsabilidade civil estão dispostos no art. 389, CC, 
quando a obrigação assumida for positiva. E no art. 390, CC, quando se tem 
uma obrigação negativa. Obrigação Positiva é a de dar alguma coisa (ex.: 
pagar o aluguel; entregar um quadro que foi comprado, etc.) ou a de fazer 
algo (pintar um muro ou um quadro; dar uma palestra; realizar uma cirurgia, 
etc.). Obrigação Negativa é a de não fazer algo, como por exemplo, de não 
construir um muro divisório acima de três metros. Exemplo de 
responsabilidade contratual: celebro um contrato de locação. Uma das 
cláusulas pactuadas determina que o pagamento do aluguel deve ser feito todo 
dia 15 de cada mês. Estamos no dia 20 e o aluguel não foi pago. Houve, 
portanto, uma inexecução contratual ocorrendo, como consequência, um ato 
ilícito civil decorrente do contrato. Surgem então as chamadas obrigações 
contratuais. São os efeitos do inadimplemento (não cumprimento) do 
contrato, como por exemplo, a multa pelo atraso no pagamento. Geralmente 
essa multa é pactuada no próprio contrato de locação. Se o inquilino continuar 
não pagando o aluguel, poderá ser despejado por falta de pagamento, etc. A 
culpa contratual não precisa ser provada, bastando que o devedor esteja em 
mora e que este não decorra de nenhuma das causas excludentes de 
responsabilidade. 
 A doutrina chama de “violação positiva do contrato” (cumprimento 
defeituoso ou imperfeito) uma espécie de inadimplemento contratual a 
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imputar responsabilidade contratual objetiva àquele que violar os deveres 
anexos (ou laterais) do contrato (como os de proteção, informação, 
cooperação, etc.). Portanto, a violação positiva do contrato não decorre do 
descumprimento da prestação principal, mas sim da inobservância dos deveres 
anexos do contrato, decorrentes do princípio da boa-fé objetiva (princípio da 
confiança), que devem ser obedecidos ainda que não haja previsão expressa 
no contrato. 
2. RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL (ou aquiliana) 
 relaciona-se com a violação de norma legal preexistente. Ou seja, a norma 
violada não é um contrato, mas sim o direito alheio e as normas que regram a 
conduta (dever de conduta), representando qualquer inobservância de um 
preceito legal. Há a infração de um dever geral imposto pela lei, como na 
hipótese de um “acidente de veículos”. 
Assim, enquanto na responsabilidade contratual, os critérios para a 
composição do prejuízo, como regra, já estão estabelecidos no contrato, na 
responsabilidade extracontratual a composição é feita por arbitramento, 
cabendo ao Juiz esta tarefa. Seu fundamento jurídico-legal encontra-se nos 
arts. 186, 187 e 927, CC. Nesta hipótese não é necessário constituir o devedor 
em mora. Ele já está em mora desde o momento da prática do ato ilícito 
(ver art. 398, CC). 
 Resumindo 
 Responsabilidade contratual →→→ surge pelo descumprimento de 
norma contratual preexistente (inadimplemento contratual). 
 Responsabilidade extracontratual (aquiliana) →→→ deriva de 
inobservância de qualquer outro preceito legal preexistente; de 
normas gerais de conduta (e não de acordo entre as partes). 
Consequências 
A consequência da infração ao dever contratual e/ou ao dever legal 
(extracontratual) é a mesma → obrigação de ressarcir o prejuízo causado. 
A diferença entre elas está no ônus da prova. Na responsabilidade 
contratual há uma presunção (relativa) de que a culpa é de quem não 
cumpriu a obrigação. Em tese o lesado só precisa provar que o contrato não foi 
cumprido. É a outra parte quem deve provar sua inocência (caso fortuito, força 
maior). Se não houver esta prova, ele deverá indenizar. No entanto se a 
responsabilidade é extracontratual, como regra, não existe a presunção de 
culpa; o lesado (vítima) é quem deve provar a culpa do transgressor. 
TEORIAS 
Existem duas teorias sobre responsabilidade civil, que veremos com 
detalhes. Primeiro falaremos sobre os aspectos gerais de cada uma delas. 
Depois vamos nos ater às regras adotadas pelo nosso Código: 
 Teoria da Responsabilidade Subjetiva. 
 Teoria da Responsabilidade Objetiva. 
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A) TEORIA DA RESPONSABILIDADE SUBJETIVA 
Segundo esta teoria, haverá responsabilidade por indenização somente 
se houver “culpa” do agente. Esta deverá ser provada para que haja a 
obrigação de indenizar. A teoria da responsabilidade subjetiva também é 
conhecida como teoria clássica ou teoria da culpa. 
���Cuidado!!! Sempre que eu falo em “culpa”, as pessoas se lembram do 
Direito Penal. Ou seja, imprudência ou negligência do agente. Mas não é bem 
assim. Na verdade, culpa não é só isso; é mais do que isso. É um conceito 
bem mais amplo. Explico. A Teoria da Culpa está se referindo a culpa em 
sentido amplo, que abrange o dolo e a culpa em sentido estrito. Assim culpa 
(em sentido amplo) é o gênero. Sua prova constitui o pressuposto para 
indenização do dano. E as espécies são dolo e culpa (em sentido estrito). 
Assim, quando alguém fala em culpa em sentido amplo, está se referindo ao 
elemento subjetivo: ao dolo e à culpa propriamente dita. Já vi em provas a 
expressão “elemento anímico” (vem de animus – intenção, que por sua vez 
deriva de alma, de sopro de vida). Assim, o elemento subjetivo ou anímico tem 
como espécies: 
 Dolo: pleno conhecimento do mal; o agente pratica uma conduta, tem 
consciência dos efeitos desta conduta e, mesmo assim, deseja as 
consequências maléficas (dolo direto) ou assume o risco de produzi-
las (dolo eventual). Trata-se da ação ou omissão intencional ou 
voluntária. 
 Culpa (em sentido estrito): violação de um dever que o agente 
poderia conhecer e acatar; o agente pratica uma conduta e não quer o 
resultado, mas este acaba ocorrendo por alguma circunstância 
(imprudência, negligência e imperícia). 
Portanto, pela Teoria da Responsabilidade Subjetiva, haverá 
indenização toda vez que o agente tenha praticado o ato danoso porque o 
conhecia e o quis (dolo direto) ou assumiu o risco do resultado (dolo eventual). 
Mas também quando o agente, embora não o conhecesse e não o quisesse, 
tenha agido por negligência ou imprudência ou violado norma que podia ou 
devia conhecer e acatar (culpaem sentido estrito). 
Prevalece a teoria da previsibilidade. Se o ato era previsível (para a 
pessoa diligente, prudente e conhecedora da norma), então haverá culpa para 
o agente. Exemplo: se eu bato na traseira do carro de outra pessoa, 
presume-se a minha culpa, porque há uma regra geral pela qual se deve 
guardar distância do veículo da frente e dirigir com atenção. Lógico que se 
trata de uma presunção relativa ou juris tantum, ou seja, que admite prova em 
contrário (diz a jurisprudência: “A presunção de culpa do condutor que abalroa 
o outro na traseira é relativa, podendo ser elidida se nos autos houver prova 
robusta em contrário – o veículo da frente é que estava trafegando em 
marcha-ré”). Outros exemplos: um dentista trata mal um dente, causando a 
perda do mesmo por falta de conhecimento técnico que deveria ter, age com 
culpa; o mesmo se diga de um advogado que perde uma causa por total falta 
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de conhecimento, preparo profissional e cuidado ou um médico que realiza 
uma operação sem necessidade e sem ter o domínio da técnica cirúrgica. 
Classificação da Culpabilidade (em sentido amplo – ou lato sensu). Já 
analisamos a principal classificação acerca da culpabilidade que é a culpa 
contratual e a culpa extracontratual ou aquiliana. No entanto, 
doutrinariamente há outras espécies, inclusive com a utilização de expressões 
latinas. E não é raro o examinador usar algumas destas expressões. Vejamos: 
• culpa in eligendo: é a resultante de má escolha de um representante ou 
do preposto para a prática de um ato ou o cumprimento da obrigação. Ex.: 
patrão contrata empregado sem as aptidões técnicas que o trabalho exige. 
• culpa in vigilando: é a que resulta da falta de atenção com o procedimento 
de outra pessoa. Ex.: filho menor que pratica um ato ilícito pela falta de 
vigilância dos pais. Também pode recair sobre coisa. Ex.: empresa de taxi 
que permite que os veículos saiam com falha nos freios ou pneus “carecas”. 
• culpa in custodiendo: decorre da falta de cuidado em se guardar, 
custodiar determinada coisa ou animal, sob seus cuidados. Ex.: dono de 
animais que estragaram a plantação do vizinho, pois ele deixou a porteira 
aberta. 
• culpa in committendo (ou in faciendo): é a que resulta da prática de uma 
conduta positiva pelo agente (ação ou comissão); é a imprudência de uma 
forma geral. Ex.: dirigir em excesso de velocidade, causando um 
atropelamento, passar em um sinal vermelho, etc. 
• culpa in omittendo: decorre de uma conduta negativa pelo agente 
(abstenção de um ato, omissão). Ex.: empregado que não tranca a porta do 
estabelecimento ao final do expediente; médico que não faz a operação 
completa, etc. 
• A doutrina ainda fala em culpa in abstracto, quando se faz uma análise 
comparativa da conduta do agente com a do “homem médio” ou da pessoa 
normal, sendo esta a regra em nosso Direito, devendo-se aferir o 
comportamento do agente pelo padrão admitido e a culpa in concreto 
quando se limita ao exame da imprudência ou negligência do agente. 
A culpa ainda pode ser classificada em grave (quando resulta de dolo ou 
negligência crassa; há uma falha grosseira ao dever de cuidado), leve (quando 
a conduta se desenvolve sem a atenção normalmente devida; a lesão seria 
evitável com atenção ordinária, comum a qualquer pessoa) e levíssima 
(quando o fato só teria sido evitado mediante cautelas extraordinárias ou 
especial habilidade). 
No Direito Civil, como regra, responde-se por qualquer espécie de culpa 
porque se tem em vista a extensão do dano (art. 944, CC) e não o grau da 
culpa. Todo prejuízo que a vítima conseguir provar deve ser indenizado. No 
entanto, apesar disso, nosso Código estabeleceu que se houver excessiva 
desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o Juiz reduzir 
equitativamente a indenização (art. 944, parágrafo único, CC). Nos danos 
morais o grau da culpa também pode influir no quantum indenizatório 
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arbitrado (ou seja, no valor da indenização), por não se tratar propriamente de 
um ressarcimento, mas de uma compensação satisfativa. 
Consequências 
Como vimos, havendo dano decorrente do ato ocorrido com culpa (em 
sentido amplo) do agente, haverá obrigação de indenizar a pessoa que foi 
lesada. No entanto, em algumas hipóteses esta teoria passou a ser 
considerada injusta para a vítima, pois nem sempre é fácil provar a culpa do 
causador do dano. Por isso, em algumas situações especiais adotou-se a 
“presunção de culpa”. Surge então a teoria da responsabilidade objetiva. 
B) TEORIA DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA 
Por esta teoria não é necessário verificar a existência de culpa do agente. 
Ela é imposta por lei, fundada na Teoria do Risco, a responsabilidade objetiva 
independe da culpa; esta não é discutida. Verifica-se somente a existência de 
uma conduta, do dano e a relação de causalidade entre eles, decorrendo daí a 
obrigação de indenizar. Exemplo: a responsabilidade do hoteleiro pelo furto 
de valores praticados por empregados do hotel contra os hóspedes →→→ digamos 
que já esteja provada a conduta do funcionário, o dano suportado pelo 
hóspede e o nexo causal entre a conduta do funcionário e o dano →→→ logo, o 
dono do hotel responde por este dano suportado pelo hóspede, 
independentemente de eventual culpa sua no evento. 
Outra hipótese: pelo simples fato de um empregado se ferir no serviço 
há a responsabilidade e, via de consequência, indenização a ser paga pelo 
seguro, que não examina se houve ou não culpa do dono do serviço. 
Passou-se a considerar que aquele que obtém vantagens no exercício de 
uma atividade deve também responder pelos eventuais prejuízos desta 
atividade. Trata-se da aplicação do brocardo: “quem aufere cômodos, arca 
também com os incômodos”. 
As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras 
de serviços públicos (concessionárias e permissionárias) também têm 
responsabilidade civil, ou seja, respondem pelos danos causados pela 
atividade administrativa, independentemente de culpa de seus funcionários, 
inclusive no que se refere à culpa anônima ou do serviço (prevista no art. 37, 
§6°, CF/88). Trata-se de responsabilidade de ressarcimento de danos, do tipo 
objetiva, isto é, não é necessário provar se houve culpa do funcionário. Basta 
provar que houve a conduta da administração e a lesão ao direito de um 
particular (sem que tenha havido culpa exclusiva deste particular). Deve-se 
provar a conduta positiva (ação) ou negativa (omissão), a lesão e o nexo 
causal. Só!! Provadas estas situações, indeniza-se. 
 A doutrina menciona as seguintes espécies de modalidades de 
risco: 
 Risco proveito: relacionado ao brocardo “quem colhe os bônus deve 
suportar os ônus”, ou seja, aquela pessoa que tira proveito da atividade 
perigosa também deve suportar os danos dela decorrentes. 
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 Risco profissional: relacionado às relações de trabalho, viabilizando a 
responsabilidade (objetiva) do empregador pelos danos causados pelo 
empregado, em decorrência da atividade por este desenvolvida. 
 Risco excepcional: refere-se às atividades que, por sua natureza, 
representam um elevado grau de perigo, tanto para as pessoas que as 
desempenham diretamente, como para os demais membros da 
coletividade. 
 Risco integral: é o grau mais elevado de responsabilidade objetiva, não 
atingindo nenhum tipo de exclusão, mesmo na ocorrência de caso 
fortuito ou força maior. Tal modalidade é reservadaaos danos 
decorrentes de atividades nucleares. 
Atualmente, no Direito Administrativo, vigora sobre o assunto a teoria do 
risco administrativo, que equivale a uma responsabilidade objetiva mitigada 
(ou seja, diminuída em seus efeitos, abrandada), uma vez que pode ser 
afastada (pela culpa exclusiva da vítima) ou diminuída (se houver culpa 
concorrente da vítima), o que não ocorre no risco integral. 
Elementos da Teoria Objetiva 
• existência de uma conduta positiva (ação) ou negativa (omissão). 
• dano patrimonial ou moral (extrapatrimonial). 
• nexo causal (relação de causalidade) entre a conduta e o dano. 
 Observação. Vimos acima que a responsabilidade do Estado é objetiva. 
Porém, segundo a doutrina e a jurisprudência, em algumas hipóteses, 
especialmente quando houver omissão do Estado, a sua responsabilidade será 
na modalidade subjetiva. Vejam como foi interessante e completa a 
seguinte decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul: 
“Omissão negligente do Poder Público. Obrigação de conservação de ruas, 
calçadas e logradouros públicos em condições de segurança e incolumidade às 
pessoas. Responsabilidade Subjetiva do Estado caracterizada. Conduta, Dano e 
Nexo de causalidade demonstrados. Dever de indenizar também pelos danos 
morais. Culpa concorrente. 1) O sistema jurídico brasileiro adota a 
responsabilidade patrimonial objetiva do Estado, sob a forma ‘risco 
administrativo’. Tal assertiva encontra respaldo legal no art. 37, §6° da 
Constituição Federal de 1988. Todavia, quando o dano acontece em decorrência 
de uma omissão do Estado, é de se aplicar a teoria da responsabilidade 
subjetiva. 2) Compete ao Município manter e fiscalizar a execução de obra, a fim 
de manter a incolumidade dos munícipes. Neste passo, a omissão do Poder 
público em conservar o acesso à residência da autora restou caracterizada, assim 
como os danos advindos da queda da requerente em valo. 3) Neste caso houve 
culpa concorrente da autora, porquanto a requerente poderia ter atravessado o 
valo através da utilização da ponte existente em frente à residência de vizinho, de 
forma a transpor o obstáculo. 4) A indenização por dano moral deve representar 
para a vítima uma satisfação capaz de amenizar de alguma forma o sofrimento 
impingido. A eficácia da contrapartida pecuniária está na aptidão para 
proporcionar tal satisfação em justa medida, de modo que não signifique um 
enriquecimento sem causa para a vítima e produza impacto bastante no causador 
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do mal a fim de dissuadi-lo de novo atentado” (9a Câmara Cível – TJRS – Viamão - 
Rel. Des. Odone Sanguiné). 
 
REGRAS ADOTADAS PELO CÓDIGO CIVIL 
 
Nosso Código adotou, como regra, a Teoria da Responsabilidade 
Subjetiva, prevendo em seu art. 186, CC: 
“Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou 
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que 
exclusivamente moral, comete ato ilícito”. 
E arremata no art. 927, caput, CC: 
“Aquele que, por ato ilícito (art. 186 e 187), causar dano a 
outrem, fica obrigado a repará-lo”. 
No entanto, apesar desta regra, devemos tomar muito cuidado porque 
há diversas exceções. Isto é, há casos em que o próprio Código Civil admite 
a aplicação da responsabilidade objetiva, impondo a obrigação de reparar o 
dano independentemente de culpa. Vejamos o art. 927, parágrafo único, 
CC: 
 Quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano 
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. 
Substitui-se, assim, a culpa pela ideia do risco. Ora, se o empresário se 
propõe a estabelecer uma empresa que pode oferecer riscos na execução 
das atividades, se contrata pessoas para executar estas atividades e se os 
benefícios (lucros) gerados ao empresário devem ser atribuídos, logo, o 
risco do negócio, assim como os resultantes dos acidentes, também 
deverão ser por ele suportados. 
 Demais casos especificados em lei. Neste caso, temos como exemplos: 
arts. 932 e 933, CC, danos ao meio ambiente, relações de consumo, etc. 
 
ELEMENTOS INDISPENSÁVEIS 
 
Já vimos os elementos caracterizadores da responsabilidade em geral 
(objetiva e subjetiva). Vamos agora aprofundar o tema, com base nos 
elementos específicos de nossa legislação. 
 
I. CONDUTA HUMANA 
 
É o comportamento positivo (ação, comissão) ou negativo (omissão) 
do agente que recai em um dano ou prejuízo. Pressupõe a consciência do 
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agente. No entanto a ilicitude da conduta não é requisito indispensável, uma 
vez que em casos excepcionais, ainda que a conduta seja lícita, haverá 
responsabilidade civil e o dever de indenização (ex.: desapropriação). A 
conduta pode ser voluntária (dolo) ou causada por uma negligência ou 
imprudência (que são modalidades da culpa). 
Na prática o mais comum é a conduta posição (ação). Para a 
configuração da omissão é necessário que exista o dever jurídico de praticar 
determinado fato para impedir o resultado (a pessoa não podia se omitir), a 
prova de que a conduta não foi praticada (omissão) e a demonstração de que, 
caso a conduta fosse praticada, o dano poderia ter sido evitado. Portanto, para 
configurar a omissão, na prática, é um pouco mais difícil. A conduta é 
composta de uma parte objetiva (ação ou omissão) e outra subjetiva (dolo ou 
culpa). No entanto a parte subjetiva só estará presente na responsabilidade 
subjetiva. 
Na responsabilidade subjetiva, a conduta compreende: 
 Dolo: violação intencional (ação ou omissão), voluntária (observem que 
o Código Civil utiliza essa última palavra) do dever jurídico; o agente quer 
o resultado (dolo direto) ou assume o risco de produzi-lo (dolo eventual). 
 Culpa: não há deliberação, intenção de violar o dever jurídico, mas este 
acaba sendo violado por ter ocorrido uma: 
• Imprudência: é a prática de um ato considerado perigoso; há uma 
conduta comissiva (ex.: dirigir veículo em rua movimentada em 
excesso de velocidade, passar em um sinal vermelho, etc.). 
• Negligência: é a transgressão ao preceito que exige atenção; é a 
ausência de precaução ou indiferença em relação ao ato realizado; é a 
falta de uma cautela ordinária que se exige em face de uma situação 
(ex.: deixar arma de fogo ao fácil alcance de uma criança). 
• Imperícia: é a ignorância, falta de experiência ou inabilidade com 
relação às regras para a prática de determinado ato; é a falta de 
aptidão para o exercício de arte ou profissão. Embora a expressão 
“imperícia” não esteja prevista expressamente no art. 186, CC, ela 
também é uma modalidade da culpa (espécie de negligência). O 
exemplo clássico é o do médico, do dentista, do engenheiro, etc. que, 
em face de um desconhecimento ou falta de prática, no desempenho 
de suas funções, venha causar dano a interesses de terceiros. 
 Observação. Para o Direito Penal é muito importante saber se o sujeito 
agiu com dolo ou culpa. Principalmente no tocante à imposição da pena. No 
entanto, para o Direito Civil pouco importa se ele agiu com dolo ou 
culpa. Tanto faz! Em qualquer das modalidades as consequências serão as 
mesmas: reparação do dano. 
 
II. OCORRÊNCIA DE DANO 
 
O dano (eventus damni) é a lesão a um interesse juridicamente tutelado, 
seja ele patrimonial ou extrapatrimonial (moral). Assim, para que haja o 
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pagamento da indenização, além da prova da conduta (positiva ou negativa), 
é necessária a comprovação do dano. Se não houver dano não haverá 
responsabilidade.Por outro lado, nem todo dano gera responsabilidade. 
Um dos requisitos essenciais é a certeza do dano. Ou seja, não se 
indeniza um dano hipotético ou abstrato. No entanto uma teoria que vem 
ganhando terreno é a da “perda de uma chance”. Isso ocorre quando a 
conduta retira da vítima a possibilidade futura de experimentar uma situação 
mais favorável. Quem não se lembra do episódio em que o corredor brasileiro, 
Vanderlei Cordeiro de Lima, quando liderava com folga a Maratona (Olimpíada 
de Atenas, em 2004), no 36° km foi agarrado por uma pessoa; com isso 
houve uma “quebra em seu ritmo” e ele foi ultrapassado por outros dois 
corredores, ficando em 3° lugar, com a medalha de bronze. Será que ele 
ganharia a prova?? Seja como for, o Comitê Olímpico Internacional reconheceu 
o fato e lhe concedeu a medalha Pierre de Coubertin, destinada aos atletas 
que demonstram espírito olímpico e elevado grau de esportividade (em toda a 
história dos jogos apenas outras quatro pessoas receberam tal honraria). Um 
outro exemplo prático seria a do candidato que perdeu a prova do concurso 
porque o táxi que o conduzia errou o caminho do local do exame. A doutrina 
entende que em determinados caos a perda de uma chance pode ser 
indenizável por afastar uma expectativa ou probabilidade favorável ao lesado. 
No entanto, a indenização quando ocorre, é sempre mitigada em face da 
incerteza do evento. 
São espécies de dano: 
A) DANO PATRIMONIAL (material)  É o que atinge os bens da pessoa. 
Compreende (art. 402, CC): 
1) Danos Emergentes (também chamados de danos positivos): 
efetiva diminuição do patrimônio da vítima; são os prejuízos efetivamente 
suportados; o que a vítima realmente perdeu com a conduta do agente. 
2) Lucros Cessantes (também chamados de lucros frustrados ou 
danos negativos): aquilo que a vítima razoavelmente deixou de ganhar em 
razão da conduta do agente (ausência de acréscimo patrimonial). Trata-se de 
uma prova mais difícil na prática, pois é baseado no pretérito, ou seja, no 
quanto vinha rendendo em determinado período. O dispositivo deve ser 
entendido com parcimônia, pois o dano deve ser atual e concreto. Ou seja, não 
se pode indenizar um dano futuro e hipotético (que poderia ou não ocorrer). 
Exemplo: digamos que uma pessoa bata o carro (culposamente) em um 
motorista de praça (táxi). O veículo do taxista ficou muito avariado e ficou na 
oficina durante dez dias para reparos. O causador do dano deve indenizar os 
prejuízos que efetivamente ocorreram no táxi (danos emergentes) e também 
deve indenizar os dias em que o motorista ficou parado por causa do acidente 
(lucros cessantes); o que ele deixou de ganhar estando parado. 
Dano bumerangue: é uma expressão da doutrina referindo-se a uma 
inversão de posição na relação jurídica desencadeada pelo ato ilícito. Ex.: “A”, 
guiando seu veículo abalroa o veículo de “B”, causando-lhe dano. “B”, ato 
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contínuo, em reação, dispara sua arma de fogo contra o veículo de “A” 
também produzindo danos. 
B) DANO MORAL (ou extrapatrimonial)  É a lesão aos direitos de 
personalidade; ofende, não o patrimônio da pessoa, mas sim seus direitos de 
personalidade. Não implica em alteração de patrimônio, resumindo-se em uma 
perturbação injustamente feita às condições de ânimo do lesado. Em sentido 
próprio refere-se ao abalo dos sentimentos de uma pessoa, provocando-lhe 
dor, aborrecimento, tristeza, desgosto, depressão, humilhação, etc., que foge 
à normalidade, interferindo no comportamento psicológico do indivíduo, 
causando-lhe desequilíbrio em seu bem-estar físico. Em sentido impróprio ou 
amplo, abrange a lesão de todos e quaisquer bens ou interesses pessoais 
(exceto econômicos), como a liberdade, o nome, a família, a honra, a 
integridade física, etc. 
História do dano moral no Brasil 
1ª fase: o dano moral não era indenizável. Argumentos: a) não há preço 
da dor; b) o dano moral não é mensurável; c) admitir o dano moral seria dar 
poder excessivo ao magistrado. 
2ª fase: o dano moral passou a ser reparável, desde que condicionado à 
um dano material sofrido. Não havia, portanto, autonomia jurídica na 
reparação do dano moral. 
3ª fase: o dano moral passou a ser reconhecido de forma autônoma 
após a CF/88 (art. 5°, incisos V e X). O Código Civil (art. 186) reforçou tal 
entendimento, não pairando mais qualquer dúvida a respeito. 
Na reparação do dano moral não se pede um preço para a sua dor (o 
dinheiro não age como um fator de equivalência), mas um meio para atenuar, 
ao menos em parte, as consequências do dano emocional causados a uma 
pessoa e de infligir ao causador uma sanção e alerta para que não volte a 
repetir o ato. Tem, portanto, finalidade punitiva (compensatória) e preventiva 
para caso de não se reincidir. O Juiz considera o poder econômico das partes e 
o caráter educativo da sanção. O prof. João Oreste Dalazen (Aspecto do Dano 
Moral Trabalhista) sintetiza as seguintes regras para dimensionar o dano 
pessoal: 
• compreender que o dano moral em si é incomensurável; 
• considerar a gravidade objetiva do dano; 
• levar em conta a intensidade do sofrimento da vítima; 
• considerar a personalidade (antecedente, grau de culpa, índole, etc.) e o 
maior ou menor poder econômico do ofensor; 
• não desprezar a conjuntura econômica do País; 
• pautar-se pela razoabilidade e equitatividade na estipulação (evitando-se 
de um lado um valor exagerado a ponto de levar a um enriquecimento 
sem causa e de outro lado evitando-se um valor tão baixo que seja 
irrisório e desprezível a ponto de não cumprir a função inibitória). 
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Costumamos nos indignar, quando ouvimos nos noticiários, os casos de 
homicídios, roubos, estupros, etc. Não é de nosso costume nos sensibilizar 
com os crimes contra a honra... os que afetam a moral de uma pessoa. Mas 
isso ocorre somente quando o episódio não se deu conosco... só uma pessoa 
que já foi ofendida em sua honra sabe o quanto a dor moral é profunda... E 
nada cura essa dor... a condenação do ofensor apenas serve como satisfação 
aos outros, ao meio social em que se vive... mas não cura... no ofendido fica 
sempre uma “cicatriz invisível”. A propósito, vejam o que diz o art. 5°, inciso 
X, CF/88: “São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem 
das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral 
decorrente da sua violação” (vide também o inciso V). 
Segundo a doutrina e a jurisprudência, as pessoas jurídicas possuem 
honra objetiva (aquilo que as outras pessoas pensam sobre ela: bom nome, 
tradição, solidez, conceito na sociedade, etc.), por isso também podem pleitear 
ressarcimento pelo dano moral. 
 Sistemas de quantificação do dano moral. O Brasil não elaborou 
normas específicas para o seu cálculo. Há dois sistemas: 
a) Sistema tarifado: utiliza o critério do tarifamento legal. Pretende 
estabelecer em lei critérios prévios de quantificação por dano moral. Isto é, se 
pretende fazer um tabelamento do valor devido. 
b) Sistema aberto ou livre: utiliza o critério de arbitramento, não 
tabelando ou limitando o valor. É o nosso sistema. Percebam que o Código 
Civil não traz critérios para a quantificação da indenização por dano moral. 
No Brasil não há uma “tabela” para apuração decorrente do dano moral. Deve 
o Magistrado fixá-la analisando a extensão do dano, as condições dos 
envolvidos e o grau de culpa do agente em cada caso. Isso não se avalia 
mediante simples cálculo, mas visando compensar a sensação de dor da 
vítima. Portando, isto varia de caso para caso. A compensação em dinheiro 
deve representaruma satisfação capaz de anestesiar o sofrimento impingido e 
produzir um impacto no causador do mal a fim de dissuadi-lo de novo 
atentado. A jurisprudência entende que se deve levar em conta a situação 
financeira do ofensor e do ofendido. Mas isso pode acarretar distorções. 
Pergunto: “a dor do pobre vale menos que a dor do rico”? Embora a maioria da 
doutrina e jurisprudência afirme que a natureza jurídica da reparação por dano 
moral é compensatória, começa a ganhar força no Brasil a Teoria do 
Desestímulo (punitive damage), que sustenta que ao se fixar a indenização por 
dano moral, o Juiz não pode, apenas, compensar a vítima, mas deve também, 
pedagogicamente, desestimular o ofensor. Súmula 281 do STJ: “A 
indenização por dano moral não está sujeita à tarifação prevista na lei de 
imprensa”. Enunciado 379, da IV Jornada de Direito Civil: “O art. 944, 
caput, do CC, não afasta a possibilidade de se reconhecer a função pedagógica 
da responsabilidade da reparação por dano civil”. 
Prazo prescricional da pretensão de indenização por dano moral: 03 anos 
(art. 206, §3°, V, CC) ou 05 anos (art. 27, CDC). 
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C) DANO ESTÉTICO. Além do dano patrimonial (material) e 
extrapatrimonial (moral) a doutrina ainda se refere ao dano estético, que 
compromete a aparência (imagem física) da pessoa lesada. Para alguns 
autores, o dano estético é somente uma espécie de dano moral. Para outros 
(corrente majoritária) a CF/88, em seu art. 5°, V, deixou clara a existência de 
três espécies de dano: o patrimonial, o moral e também o dano à imagem. 
Enquanto o dano moral se caracterizaria pela ofensa injusta causada à pessoa 
(ex.: dor e sofrimento, mas também visto como desrespeito à dignidade da 
pessoa), o dano estético se caracteriza pela ofensa direta à integridade 
física da pessoa humana. Portanto, o legislador não incluiu o dano à imagem 
como espécie de dano moral; o dano à imagem é uma espécie autônoma 
de dano extrapatrimonial. 
De fato, o dano estético lesa um dos direitos da personalidade: a 
aparência física. Ele é conceituado como aquilo que agride a pessoa nos seus 
sentimentos de autoestima, prejudicando a sua avaliação como indivíduo; ele 
denigre a imagem que a pessoa tem de si mesma. E quando compromete a 
aparência, também fica comprometida a imagem social da pessoa lesada ou o 
modo pelo qual os outros a veem, fazendo-a se sentir mal, trazendo-lhe um 
enorme sofrimento psicológico. 
Geralmente o dano é verificado na aparência da pessoa; qualquer 
alteração que diminua a beleza que esta possuía, em virtude de alguma 
deformidade, cicatriz, perda de membros ou outra causa qualquer. No entanto 
o dano não precisa estar exposto, nem ser de grande monta para que se 
caracterize. Qualquer atentado à integridade corporal ainda que em áreas 
íntimas da pessoa que, dificilmente, nas situações sociais estejam expostas à 
vista de terceiros, podem caracterizar o dano estético. A possibilidade de 
cumulação encontra suporte a partir da ideia que o dano estético estaria 
representado pela deformidade física propriamente dita, e o dano moral pelo 
sofrimento, pela vergonha, pela angústia ou sensação de inferioridade da 
vítima, comprometendo sua imagem social. 
Estabelece a Súmula 387 do STJ: “É possível a cumulação das 
indenizações de dano estético e moral”. Um dos casos que serviu de base 
para a edição da súmula, tratava de um acidente de carro em transporte 
coletivo. Um passageiro perdeu uma das orelhas na colisão e, em 
conseqüência das lesões sofridas, ficou afastado das atividades profissionais. O 
STJ entendeu presentes o dano material, moral e estético, sendo o passageiro 
indenizado de forma ampla. Outro caso recente foi o do ataque de um cachorro 
da raça rottweiler a uma criança de cinco anos. O incidente foi trágico, 
deixando danos estéticos graves na criança. O réu foi condenado expressante 
pelos danos materiais (internação hospitalar, remédios, tratamentos 
psicológicos e operações posteriores, etc.), morais e também estéticos 
causados à criança. 
���Observações Importantes para Concurso��� 
01. Se houver dano patrimonial e moral decorrentes do mesmo fato, há a 
possibilidade de cumulação das duas modalidades de dano, pleiteando-se 
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indenizações em uma mesma ação. Súmula 37 do Superior Tribunal de 
Justiça: “São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral 
oriundos do mesmo fato”. 
02. O dano moral pode ser causado à pessoa natural e à jurídica; o dano 
estético só pode ser causado à pessoa natural, única que possui integridade 
física, corpo. 
03. Dano reflexo ou em ricochete. Trata-se do dano que inicialmente 
atinge diretamente uma pessoa. No entanto, por via obliqua, a mesma conduta 
acaba por afetar terceiros. Exemplo: A matou B. Este foi a vítima direta da 
conduta ilícita. Ocorre que B era divorciado e possuía um filho menor (C), 
sendo que pagava pensão mensal a ele. Com a morte de B, seu filho, 
evidentemente, irá sofrer com a conduta de A. Observem que aqui temos duas 
vítimas: o pai e o filho. Segundo parte da doutrina isso se diferencia um pouco 
do dano indireto, em que a mesma vítima sobre uma cadeia de prejuízos 
ligados por um vínculo causal O exemplo clássico é o seguinte: uma pessoa 
compra um boi; posteriormente verifica-se que este boi possuía uma doença 
letal e morre (dano direto), porém este boi transmitiu a doença para todo o 
rebanho que o comprador já possuía (dano indireto). 
04. É admissível em nosso Direito o chamado dano presumido ou 
objetivo (dano in re ipsa: pela força do próprio ato ofensivo). Neste caso, 
provada a ofensa, demonstrado estará o dano e a obrigação de indenizar; ele 
decorre da gravidade do ato ilícito em si, sendo desnecessária a sua efetiva 
demonstração em juízo. Súmula 403 do STJ: “Independe de prova do prejuízo 
a indenização pela publicação não autorizada da imagem da pessoa com fins 
econômicos ou comerciais". Outros exemplos: ausência de notificação para 
efeito de inscrição no sistema de proteção ao crédito (o órgão não comunicou 
previamente a inscrição, ainda que devida); inscrição indevida do nome da 
pessoa nos órgãos de proteção ao crédito (lista de inadimplentes do Serasa, 
SPC), etc. Questão polêmica é a seguinte: a pessoa já tem diversos títulos 
protestados e sofreu mais um, só que este último foi indevido. Ela tem direito 
à indenização por danos morais? O STJ firmou jurisprudência no sentido de 
que se o devedor já tinha outros registros desabonatórios não terá direito a 
dano moral, pois seria impossível entender que uma nova notificação lhe cause 
dano moral. No entnato, parte da doutrina entende que “qualquer inscrição 
indevida enseja responsabilidade indenizável”. 
05. Teoria do Corpo Neutro. Trata-se de uma situação que se aplica em 
especial em acidente de veículos. Digamos que o carro “A” atinge o carro “B” 
que estava parado e este atinge o carro “C”. Há duas teorias. A primeira 
afirma que o dono do carro “C” aciona o dono do carro “B” e este aciona o 
carro “C”. A outra sustenta que o dono carro “C”, por ser o verdadeiro culpado 
pelo acidente, é o único legitimado a responder em sede de responsabilidade 
civil (esta é a posição do STJ). 
06. Cláusula de não indenizar. É uma cláusula contratual em que as 
partes excluem previamente a obrigação de indeniza em caso de 
inadimplemento contratual. Há quem sustente que esta cláusula é legítima nos 
contratos em geral, desde que seja lícito seu objeto, uma vez que está inserida 
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no campo da autonomia da vontade. Para o Código de Defesa do Consumidor 
essa cláusula é nula, devido à situação de hipossuficiência e vulnerabilidade do 
consumidor (art. 25, CDC), não se admitindo qualquer cláusula que mitigue ou 
afaste o dever de indenizar (o exemplo clássico é dos estacionamentos que 
colocam o aviso de que “não nos responsabilizamos por objetos deixados nos 
veículos”). Outro exemplo em que esta cláusula não pode ser aplicada é o da 
Súmula 161 do STF: “Em contrato de transporte, é inoperante a cláusula de 
não indenizar”. 
 
III. NEXO DE CAUSALIDADE 
 
Trata-se da relação ou vinculação de causa-efeito entre a conduta do 
agente (ação ou omissão) e os danos sofridos. Não há responsabilidade civil 
sem que haja uma relação de causalidade entre o dano e a conduta 
ilícita do agente. Observem o verbo “causar” empregado no art. 186, CC. Se 
houver dano, mas sua causa não está relacionada com o comportamento do 
agente, inexiste a relação de causalidade, não havendo a obrigação de 
indenizar. E também não haverá esse nexo se o evento se deu por culpa 
exclusiva da vítima. Exemplo: um passageiro de um ônibus força a porta e 
desce do veículo que ainda estava em movimento; com isso acaba caindo e se 
machucando; não pode pleitear indenização, pois o próprio passageiro agiu 
com culpa; e a culpa foi exclusivamente sua. Se a culpa for concorrente a 
indenização será reduzida proporcionalmente. O Superior Tribunal de Justiça 
recentemente julgou um caso em que um pedestre de forma imprudente 
atravessou uma linha férrea e foi atropelado por um trem. A empresa foi 
considerada negligente pela má conservação do muro que cerca a linha, 
possibilitando o acesso ao pedestre. Foi condenada, porém de forma parcial. 
Também é motivo para exclusão do nexo causal se o fato ocorreu por caso 
fortuito ou força maior (art. 393, CC). 
Doutrinariamente, há várias teorias que tratam da causalidade. A 
majoritária é a chamada Teoria da causalidade direta e imediata (também 
chamada de teoria da necessariedade do dano ou teoria da interrupção do 
nexo causal). Para esta teoria, causa é o antecedente (conduta) que determina 
o resultado como consequência sua direta e imediata (art. 403, CC). O STJ 
acolheu tal teoria ao decidir que “a suspensão de um medicamento 
determinou, direta e imediatamente, a perda de um rim do paciente”. 
 Resumindo Para que alguém seja responsabilizado civilmente é 
necessário se provar a conduta, o dano e o nexo de causalidade. 
RESPONSABILIDADE OBJETIVA NO CÓDIGO CIVIL 
Conforme dissemos acima, embora o Código Civil tenha adotado, como 
regra, a teoria subjetiva para a responsabilização, possui diversos dispositivos 
em que a responsabilidade é do tipo objetiva. 
Assim, haverá obrigação de reparar o dano (independentemente de 
culpa) nos casos especificados em lei ou quando a atividade normalmente 
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os 
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direitos de outrem (art. 927, parágrafo único, CC). Exemplo: os empresários 
individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos 
causados pelos produtos postos em circulação (art. 931, CC). Do mesmo 
modo, há responsabilidade do dono de animais (art. 936, CC), do dono de 
prédios em ruína (art. 937, CC), do habitante da casa da qual caírem coisas 
(art. 938, CC), dos acidentes do trabalho, etc. Analisaremos todos esses itens 
logo mais adiante. 
BANCO. A jurisprudência é pacífica no sentido de que a responsabilidade 
pelo pagamento dos danos morais e patrimoniais causados a cliente de um 
banco por assalto (roubo) que se desenrolou no interior do próprio banco é da 
instituição financeira, ainda que fora do expediente e independentemente de 
existir empresa contratada para fazer a segurança do local. Em caso de roubo 
a banco, não pode ser alegado motivo de força maior, pois é considerado fato 
previsível na atividade bancária. Além do mais a Lei n° 7.102/83 criou para as 
instituições financeiras um dever de segurança em relação ao público em 
geral. Neste caso a responsabilidade do banco em relação a eventuais 
ferimentos de clientes no assalto funda-se na teoria objetiva do risco 
integral. 
O STJ apreciou um caso muito interessante a respeito: Um carro-forte foi 
atacado por atiradores com armas especiais, que estavam em um viaduto. O 
motorista do carro foi ferido, “perdeu a direção” e atingiu um pedestre que 
estava na calçada, matando-o. Familiares do pedestre ingressaram com ação 
contra a empresa de segurança. Foi indenizada ou não? A decisão foi por 
maioria de votos. Parte dos julgadores entendeu que o roubo é hipótese de 
força maior, que não obriga indenização. A outra parte (vencedora) entendeu 
que o transporte de valores é atividade sabidamente perigosa, feita com intuito 
de lucro e não parecia razoável mandar a família do pedestre morto reclamar 
indenização dos autores do crime de roubo (que sequer foram identificados). 
� Questão Polêmica � Um ponto delicado é o referente à 
responsabilidade em caso de assaltos (roubos) em terminais ou caixas 
eletrônicos situados fora da agência (autoatendimento 24 horas). Parte da 
doutrina entende que como a instituição financeira se beneficia com a 
instalação dos caixas eletrônicos, (facilitando seus negócios, angariando 
clientes, diminuindo seus gastos e inclusive cobrando por este serviço), deve 
responder pelo risco que decorre da instalação desses postos, alvo constante 
da ação dos ladrões. Trata-se de uma estratégia comercial que cria um risco 
pela instalação do caixa e que por este risco a empresa deve responder. O 
fundamento seria o art. 927, parágrafo único, CC (responsabilidade objetiva). 
É a minha posição. Por outro lado, há quem sustente que os assaltos ocorridos 
em terminais localizados, não na própria agência, mas em via pública, 
resultariam na responsabilidade do Estado, e não do banco. Isto porque tais 
caixas estão situadas no interior de bens públicos de uso comum e, portanto, 
sua fiscalização ficaria a cargo dos agentes da segurança pública (cabe ao 
Estado e não ao particular a segurança destas áreas). 
Além disso, há também responsabilidade dos fabricantes, fornecedores 
de produtos e serviços nas relações de consumo (arts. 12 e 14 da Lei n° 
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8.078/90 – Código de Defesa do Consumidor - CDC). A legislação de Direito 
Ambiental (Lei n° 6.938/81, entre outras) também fornece exemplos de 
responsabilidade objetiva como um meio de se coibir danos ao meio 
ambiente. A Lei n° 9.605/98, baseada no art. 225, §3°, CF/88, prevê até 
mesmo situações em que a Pessoa Jurídica pode cometer crime ao meio 
ambiente e responder por esta conduta na esfera penal. 
Por outro lado o próprio STJ tem jurisprudência pacífica no sentido de 
exclusão da responsabilidade civil de empresa de transporte coletivo 
em caso de assalto à mão armada ocorrido no interior de ônibus, uma vez que 
se trata de fato inteiramente estranho à atividade de transporte (fortuito 
externo), sendo que ela também não deixa de ser vítima da falta de segurança 
pública. 
OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR 
 Já sabemos o que é um ato ilícito na esfera do Direito Civil. Vamos ver 
agora o que obriga uma pessoa a reparar os prejuízos que sua conduta 
causou. O autor de um ato ilícito terá a responsabilidade pelo prejuízo que 
causou, devendo indenizá-lo. Como já vimos, assim determina o art. 927, 
caput, CC: 
“Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a 
outrem, fica obrigado a repará-lo”. 
A obrigação de indenizar decorre da inobservância do dever geral de 
não causar danosa outrem. 
Os bens dos responsáveis pela ofensa ou violação do direito de outrem, 
ficarão sujeitos à reparação do dano patrimonial ou moral causado. Trata-se 
de uma norma de ordem pública. Se a ofensa tiver mais de um autor todos 
responderão solidariamente pela reparação (art. 942, CC). Ou seja, o titular 
de uma ação pode propô-la contra um ou contra todos os responsáveis 
pelo ato ao mesmo tempo. Além disso, no caso de solidariedade, aquele que 
pagar a indenização terá direito de regresso contra os demais codevedores, 
para reaver o que desembolsou. Acrescente-se que o dever de reparar o dano 
é transmissível aos herdeiros, conforme veremos. 
ABUSO DE DIREITO 
O Código Civil atual adotou, em seu art. 187, a Teoria do Abuso de 
Direito como ato ilícito. Trata-se do exercício irregular de um direito. O 
Abuso de Direito é uma grande inovação e uma boa “dica” para se pedir em 
um concurso, dada a sua novidade. Ampliou-se a noção de ato ilícito, para se 
considerar como objeto da responsabilidade civil também aquele ato praticado 
com abuso de direito, em que a pessoa, ao exercer um direito, excede 
determinadas limitações legais, lesando outrem. Por isso, traz como 
consequência, o dever de indenizar. Ou seja, o ato era originariamente lícito, 
mas foi exercido fora dos limites impostos pelo seu fim econômico ou social, 
pela boa-fé objetiva ou pelos bons costumes. Alguns autores usam o termo 
“ato emulativo” para se referir ao abuso de direito (já vi este termo cair em 
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alguns concursos com este sentido). No entanto tal expressão não é técnica e 
também não é muito usada no meio jurídico. Seria aquele ato que a pessoa 
pratica, não para a sua utilidade, mas com a intenção de prejudicar terceiros. 
Segundo a doutrina majoritária a responsabilidade decorrente do abuso de 
direito independe de culpa. Portanto tem natureza objetiva. A doutrina 
costuma usar a seguinte frase: “o abuso de direito é lícito pelo conteúdo, mas 
ilícito pelas suas consequências". Segundo o Enunciado 37 da I Jornada de 
Direito Civil do STJ: “A Responsabilidade Civil decorrente do abuso do direito 
independente de culpa e fundamenta-se somente no critério objetivo-
finalistico”. 
Requisitos: a) pessoa possui um direito; b) ao exercê-lo excede 
demasiadamente; c) causa danos a terceiros. 
Exemplos da doutrina: a) matar gado alheio que pasta em sua propriedade; 
c) requerer busca e apreensão sem necessidade; d) requerer falência de 
alguém quando as circunstâncias não autorizam; e) provocar prejuízos que 
excedam os incômodos ordinários de vizinhança, etc. Na área trabalhista há 
um exemplo clássico quando o empregador dispensa por justa causa sob a 
alegação de que o empregado furtou alguma coisa do empregador, quando na 
verdade isso não ficou provado ou não foi o empregado que praticou o ato. 
O Código de Defesa ao Consumidor (Lei n° 8.078/90) proíbe toda 
publicidade enganosa ou abusiva. É enganosa quando induz a erro o 
consumidor a respeito da natureza, características, qualidade e quantidade, 
origem, preço e quaisquer outros dados sobre o produto ou serviço, até 
mesmo a omissão sobre dados essenciais. Já a publicidade abusiva é a 
discriminatória, a que incita a violência, explora o medo e a superstição, 
desrespeita valores ambientais, etc. 
� Um problema de ordem prática e que atinge tanto o Direito Civil como o 
Penal é: se uma pessoa colocar uma cerca eletrificada e esta causa a morte de 
uma criança que brincava com uma bola, tal fato é considerado abuso de 
direito? Resposta: é permitido em nosso Direito criar obstáculos para evitar 
furtos e roubos (ex.: cercas com “lanças” de metal; caco de vidro nos muros 
divisórios, etc.). O Direito Penal aceita isso normalmente, chamando essa 
conduta de “legítima defesa antecipada” ou de “ofendículos”. O Direito Civil 
também permite isso e chama esta conduta de “exercício regular de um 
direito”. Mas e uma cerca eletrificada? Também é legítima defesa antecipada? 
Tem se entendido, inclusive para concursos, que se a “voltagem” da cerca é 
pequena, o direito é legítimo; se há um aviso dizendo que a cerca é 
eletrificada, o direito também é legítimo. Mas se a cerca é disfarçada, sem 
avisos e com voltagem alta, capaz de matar alguém, a conduta é considerada 
como abuso de direito; é um exercício irregular do direito. Portanto é ato ilícito 
e cabe indenização. Portanto, cuidado com a forma de redação na elaboração 
da questão. Já caiu em prova da ESAF com a seguinte redação: que usa cerce 
eletrificada que possa causar a morte do invasor (...) age ilicitamente, por 
haver abuso de direito ou exercício regular de um direito. 
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Outra questão muito atual diz respeito ao SPAM. O que é um SPAM? 
Trata-se do envio de e-mails ou mensagens eletrônicas sem que haja 
solicitação para tanto. A doutrina vem se posicionando no sentido de que esta 
conduta se configura em Abuso de Direito. E isto por dois motivos: primeiro 
porque há uma quebra da boa-fé objetiva; segundo porque há um desvio de 
finalidade socioeconômica da Internet. 
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA E SUBSIDIÁRIA 
Na responsabilidade solidária passiva temos um credor de um lado e 
por outro lado uma pluralidade de devedores. E o credor pode exigir a 
obrigação por inteiro de qualquer um dos coobrigados. É como se todos os 
devedores fossem apenas um. Segundo o Código Civil (art. 235) a 
solidariedade não se presume. Ela decorre da lei ou da vontade das partes 
(contrato). Assim pode o credor, à sua escolha, acionar todos ou apenas o 
devedor que possui melhores condições para honrar o compromisso. 
Já na responsabilidade subsidiária existe uma relação principal entre 
credor e devedor. Há uma preferência. O credor deve inicialmente acionar o 
devedor para o cumprimento da obrigação. Caso este assim não proceda, 
acionará o terceiro, que é o responsável subsidiário, o mero garantidor a 
obrigação. A fiança é o exemplo clássico. 
RESPONSABILIDADE POR ATO DE TERCEIROS 
A regra em nosso Direito é a de que somos responsáveis somente 
pelas nossas condutas e atitudes. Todos os atos praticados de forma livre e 
consciente por uma pessoa capaz (ou seja, que tenha discernimento e 
autodeterminação) a ela serão imputados. No entanto, há casos em que o 
legislador determinou que pessoa diversa daquele que praticou a conduta 
causadora do evento danoso responda perante o lesado. Assim, em relação à 
responsabilidade civil do agente, temos a seguinte classificação: 
 Responsabilidade direta (ou por ato próprio): ocorre quando o autor 
do ato que causou o dano é a mesma pessoa que irá efetuar o pagamento 
de sua reparação. 
 Responsabilidade indireta (também chamada de responsabilidade por 
fato de outrem, ou por fato de terceiro, ou complexa): o ato lesivo é 
praticado por uma pessoa, mas será outra quem irá indenizar; uma pessoa 
é civilmente responsável perante terceiros por condutas praticadas por 
outra (arts. 932 a 934, CC). Ex.: uma pessoa menor de 18 anos não é 
plenamente responsável; no campo do direito penal é considerada 
inimputável. Mas mesmo assim, se ela praticar um ato ilícito, haverá 
obrigação de indenização por seus pais (ou tutores). Lembrando que o 
menor entre 16 e 18 anos não pode invocar a sua idade para eximir-se de 
uma obrigação, se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte 
ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior (art. 180, CC). 
O art. 932, CC arrola diversas hipóteses de responsabilidade civil por 
atos praticados por terceiros (responsabilidade indireta ou complexa). 
Vejamos: 
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 Os pais são responsáveis pelos atos praticados pelos filhos menores que 
estiverem sob sua autoridade e em sua companhia. Exemplo: pai permite 
que filho dirija sem habilitação; havendo um acidente, o pai deve 
responder pela conduta do filho. Da mesma forma o pai responde pela 
conduta de um filho que cometeu delitos como a lesão corporal, o furto, 
etc. 
A lei deixa claro que o filho menor (de 18 anos) deve estar sob a 
autoridade e companhia dos pais. Assim, em caso de separação judicial o 
responsável é aquele que ficou com a guarda do menor. É essa a posição 
do STJ. Porém há quem entenda que a responsabilidade continua sendo de 
ambos, pois a obrigação de educar é do pai e da mãe. 
No entanto, pelo art. 928, CC o incapaz responde pelos prejuízos que 
causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-
lo ou não dispuserem de meios suficientes. Exemplo da primeira situação: 
os pais são separados e o pai não é o que se chama de “genitor-guardião”; 
ou seja, o filho está sob a custódia da mãe; nesta situação o filho pratica 
um ato ilícito; obviamente que quem irá responder por este fato é a mãe e 
não o pai, pois este não tinha a obrigação legal de fazê-lo. Exemplo da 
segunda situação: o filho menor recebeu uma grande herança de um tio 
muito rico, no entanto o pai não dispõe de posse alguma. O filho pratica 
um ato ilícito. Em tese o pai responderia. Mas como o mesmo não tem bens 
para tanto, a responsabilidade será do próprio menor. Notem que a 
redação do artigo “é meio inversa”. Na verdade o legislador quis dizer que 
é o responsável pelo incapaz quem responde por seus atos (civis), mas se 
este responsável não dispuser de meios suficientes (ou seja, não tem 
dinheiro) aí quem irá responder é o próprio incapaz. Resumindo →→→ o 
responsável responde de forma objetiva (art. 932, I, c.c. 933, CC); se ele 
não puder ou não tiver essa obrigação, o próprio incapaz responderá, pois 
possui responsabilidade subsidiária (art. 928, CC). 
Interessante acrescentar que a jurisprudência entende que o menor 
emancipado (art. 5°, parágrafo único, CC) torna-se civilmente capaz, 
respondendo por seus atos; contudo, se a decisão de emancipação partiu 
dos próprios pais (emancipação voluntária), estes não se isentam da 
responsabilidade; eles continuam responsáveis pelo menor emancipado. No 
entanto a responsabilidade neste caso será solidária (ou seja, a vítima 
pode ingressar com a ação somente contra um, somente contra o outro, ou 
contra ambos, à sua escolha). 
���IMPORTANTE ��� O parágrafo único do art. 928, CC determina que esta 
indenização deve ser equitativa e não será devida se privar do necessário o 
incapaz ou as pessoas que dele dependam. Exemplo: o menor tem uma renda 
mensal de R$ 1.000,00 e foi condenado a pagar R$ 900,00 por mês. Neste 
caso o Juiz deve abrandar, equitativamente este valor (baixando, por exemplo, 
para R$ 300,00 ao mês), pois a condenação integral irá privar o incapaz dos 
meios necessários à sua subsistência. Portanto dizemos que a responsabilidade 
do menor é subsidiária e mitigada (abrandada, diminuída) equitativamente em 
relação às suas disponibilidades. Justifica-se isto baseado no princípio 
constitucional da proteção à dignidade da pessoa humana. 
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 O tutor e o curador são responsáveis pelos tutelados e curatelados que 
estiverem nas condições anteriores (ou seja, depende da relação de guarda 
e companhia). 
 O empregador ou comitente são responsáveis pelos atos de seus 
empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho ou em razão 
dele. Mesmo no período de descanso, no trajeto à sua casa no horário de 
almoço, nos casos em que a empresa cede ao empregado o carro nos fins 
de semana, o empregador também responde. Atenção quanto à 
expressão comitente. Os examinadores gostam dela, pois não é usada 
em nosso dia-a-dia. Comitente é a denominação que se dá a uma pessoa 
que encarrega outra de praticar algum ato sob suas ordens e por sua conta 
(geralmente há uma remuneração para isso, que se chama de comissão). 
Deve-se provar: a) relação de subordinação (desnecessária a prova de 
remuneração ou habitualidade de prestação de serviços por parte do 
preposto); b) culpa do empregado; c) ato lesivo foi praticado no exercício 
do emprego ou por ocasião dele. Como a responsabilidade nestes casos é 
objetiva, não é necessária a prova da culpa in eligendo ou in vigilando do 
empregador. 
 Os donos de hotéis, hospedaria, casas ou estabelecimentos onde se 
albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, são responsáveis 
pelos atos danosos praticados pelos seus hóspedes, moradores e 
educandos. Justifica-se essa responsabilidade pois o dever de segurança 
está implícito no contrato de hospedagem, o mesmo ocorrendo em uma 
escola. Se o educando menor causar dano à um colega ou à terceiro, 
responderá o dono da escola pelo educando menor. Caso o educando seja 
maior, este responderá por seus atos. Nos casos de escola pública, a 
responsabilidade é do Estado. Deve-se provar: que o dano foi causado 
enquanto o aluno estava sob sua vigilância e autoridade (fora daí a escola 
somente responde se houver prova de culpa); que o aluno seja menor (o 
maior não se submete mais à vigilância); que o ensino seja remunerado 
(finalidade lucrativa). 
 A última hipótese do art. 932, CC trata da responsabilidade civil dos 
beneficiários em produtos de crime, até a quantia correspondente. Trata-se 
de responsabilidade objetiva, exigindo-se a obrigação de devolver a coisa à 
vítima com base no enriquecimento injusto, mesmo que tenha recebido o 
produto do crime de forma gratuita e inocente. 
A pessoa jurídica que exercer exploração industrial terá responsabilidade 
presumida pelos atos lesivos de seus empregados. Com isso terá de selecioná-
los, instruí-los e vigiá-los, tendo a responsabilidade de reparar os eventuais 
prejuízos que causarem no exercício de suas funções (responsabilidade 
objetiva). 
��� Atenção ��� As pessoas acima apontadas (art. 932, CC), ainda que não 
haja culpa de sua parte (portanto, responsabilidade objetiva) 
responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos (art. 933, CC). O 
lesado inicialmente deve provar a culpa do incapaz, do empregado, etc. 
Configurada a culpa há uma presunção absoluta (não admite prova em 
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contrário: juris et de jure) de que aquelas pessoas serão as responsáveis pela 
indenização. E aquela pessoa que ressarciu o dano causado por outrem pode 
reaver o que pagou, por meio de uma ação regressiva contra quem 
realmente praticou o ilícito, salvo se o causador do dano for seu descendente, 
absolutamente ou relativamente incapaz (art. 934, CC). Exemplo: um hóspede 
alega (e prova) que foi furtado por um funcionário do hotel. O dono do hotel, 
embora não tenha praticado o ato (no caso a sua responsabilidade é indireta) e 
não tenha culpa no evento (sua responsabilidade é objetiva) irá responder pela 
conduta de seu funcionário, indenizando o hóspede. No entanto, identificando 
o funcionário que agiu de forma ilícita, pode o dono do hotel propor uma ação 
regressiva contra este funcionário (que foi o real causador do dano), para se 
ressarcir do prejuízo sofrido. Outro exemplo: se uma empresa de transporte de 
pessoas deixa de levar o passageiro a seu destino são e salvo por causa de um 
acidente, quem responde é esta empresa. No entanto se ficar comprovado que 
o motorista da empresa é que foi o causador do acidente porque estava 
embriagado, a empresa continua responsável

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