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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE GESTÃO DO CLIMA ORGANIZACIONAL Por: Wanderleia Abril Ramos Ricardo Orientadora Professora Ana Cristina Guimarães Rio de Janeiro 2004 1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE GESTÃO DO CLIMA ORGANIZACIONAL Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Pedagogia Empresarial. Por: Wanderleia Abril Ramos Ricardo 2 Agradecimentos Aos meus pais, pelos maiores ensinamentos. Aos sonhos, que permanecem vivos. Aos obstáculos, pelo amadurecimento. A fé, que me faz caminhar. Aos amigos, que me dão asas. A família, pelas raízes. Ao amor, energia renovável. Ao conhecimento, diferencial humano. A vida, pelas oportunidades e desafios. A Deus, por estar aqui. Especial agradecimento ao Gilson, Daiana e Amanda, pela parceria e incentivo. 3 Dedicatória Esse trabalho é dedicado aqueles que ajudaram a construir a base filosófica que norteia meus ideais, estimulando a reflexão e a caminhada. À Maria Leia, Josevand, Daniela, Alan, Gilson, Daiana, Amanda, por representarem alegria e carinho. Aqueles que não estão aqui, mas certamente vibram com minhas conquistas. Às amigas Glória e Graça, pelos laços. Aos professores, especialmente à Malu e Paulo José, pela valorização e respeito ao Homem. Enfim, à perseverança daqueles que não desanimam e renovam sua fé a cada dia. 4 “... Unidade estranha é a tua, em mundo assim pulverizado. E nós, que a cada passo nos cobrimos e nos despimos e nos mascaramos, mal retemos em ti o mesmo homem ...” (DRUMMOND, 1976, p. 151-152) 5 Resumo Como pedagogo empresarial, proponho discutir o contexto do mercado das organizações, notadamente o brasileiro, na busca de respostas a indagações pertinentes ao clima organizacional. É inquestionável o papel do homem enquanto agente da mudança. Mas como esse mesmo ser cidadão, político, emocional, profissional, aprendiz e social, encara este turbilhão de transformações em cascata que lhe chega? Como, dentro das quatro linhas físicas da empresa, o homem mantém a motivação? Na moderna estrutura administrativa horizontal, que põe fim à ultrapassada visão gerencial verticalizada, existe valorização, satisfação e reconhecimento reais, ou situacionais? Existe práxis? Ou a teoria é balela, distante da prática? Clima organizacional! Este mesmo ser agente influencia e é influenciado pelo ambiente da empresa onde atua. Como se dá esta relação? Diagnóstico e remédio andam juntos: analisar o ambiente interno, mapeando e retratando aspectos críticos que configuram o momento motivacional dos funcionários é o primeiro passo. O segundo é mantê-lo desafiador; porém integrado, participativo e propiciador de oportunidades. Vamos trilhar este caminho passo a passo! 6 Metodologia O trabalho desenvolvido é de natureza exploratória, baseado em pesquisa bibliográfica. O material é resultante da busca de informações em livros de referência, artigos acadêmicos e informativos, e em impressos diversos. As fontes foram pesquisadas e analisadas originando o desenvolvimento do tema proposto. 7 SUMÁRIO Introdução 08 Capítulo I 13 Aspectos conceituais do clima organizacional Capítulo II 22 Novo perfil organizacional Capítulo III 27 Mudança X clima organizacional Capítulo IV 31 Processo de gestão do clima organizacional Capítulo V 38 As recentes pesquisas de clima organizacional no mercado brasileiro Conclusão 41 Referências bibliográficas 43 Índice 46 Folha de avaliação 47 8 INTRODUÇÃO “O que é, exatamente por ser tal como é, não vai ficar como está”. (BERTOLD BRECHT) Os processos de modernização tecnológica aceleram as mudanças e contribuem para tornar mais complexas as relações educação-homem-trabalho. Informações viajam a velocidades estonteantes. O mundo globalizado gira rapidamente, gerando mudanças. Em meio a esse contexto, na escala das empresas, é correto afirmar que vivenciamos uma revolução gerencial. Paradigmas tradicionais estão suplantados. Visão holística, capital humano, inteligência emocional, empresas que aprendem, crescimento sustentável, gestão de pessoas, responsabilidade social, qualidade de vida e educação corporativa, são expressões comuns que se impõem no panorama atual e transformam estruturas organizacionais. O jogo é o mesmo; as regras mudaram e continuam em mutação. O novo desafio da modernidade administrativa envolve o conhecimento como recurso estratégico e a gestão do homem baseada na concepção holística. A questão é: como manter o clima organizacional saudável e equilibrado, respirando motivação, em meio às mudanças inerentes ao necessário processo de transformação? O cotidiano das organizações - o “chão de fábrica” - sofre os impactos da velocidade das mudanças, da globalização, das inovações tecnológicas, da complexidade 9 das relações e da multiplicidade de informações. Como se não bastasse, o mercado competitivo mostra suas garras. A mudança é fato e inevitável. Impossível lutar contra ela. Daí resulta a ameaça do novo, o medo, a insegurança, a angústia, o desconhecido, o falível. Do outro lado, como uma faca de dois gumes, a oportunidade de experimentar, inovar, buscar o sucesso, ser original e criativo. Como encarar o conflito entre ameaça X oportunidades? Citando Lewis Platt (2004), “a boa notícia é que a mudança sempre traz oportunidades. Sempre há muitas oportunidades para compensar as ameaças“. Não há como retroceder! A resposta simples reside em atuar como agente de transformação diante das mudanças. Teoria fácil como dois e dois, mas cercada de conexões inúmeras - umas facilmente previsíveis, outras nem tanto - que a torna um caminho escuro e misterioso. Como? Por quê? Quando? Pretende-se, passo a passo, demonstrar e reconhecer a importância de gerir o ambiente organizacional. O fato é que ao longo do século XX, as inovações tecnológicas cresceram muito rapidamente, de forma exponencial. A busca e a conquista de novos mercados levou à criação e adaptação de muitas tecnologias organizacionais que foram sendo implantadas (e experimentadas) nas empresas, tais como: administração por objetivos; círculos de controle de qualidade; Kaisen; Just in Time;controle estatístico de processo; sistema de inteligência empresarial; reengenharia; organizações de aprendizagem; administração por aprendizagem etc. 10 Se os desafios externos de toda e qualquer empresa envolvem lucratividade, sustentabilidade, conquista de mercado consumidor, quais são os internos? Cada sistemaadministrativo – como exemplo dos citados – tenta eliminar as dificuldades que se interpõem entre a engrenagem da empresa e ao que a faz girar – os mercados externo e interno. “O que faz a diferença nas empresas hoje é a estratégia”, afirma Santos (2003). E enfatiza: “a sobrevivência das empresas está em trabalhar operacionalmente com visão estratégica”. Nos primeiros anos do Século XXI, os funcionários não esperam apenas um salário ao fim do mês. Não lhes basta uma mera recompensa financeira, fruto da troca entre empregado- empregador ou força de trabalho-oferta, mas importam também as oportunidades de desenvolvimento e o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Ledo engano pensar que a única coisa que funciona como agente motivador para os colaboradores é dinheiro. Em pesquisa recente veiculada na edição especial da Revista Exame, com as “150 melhores empresas para você trabalhar” (Guia 2004, p. 18-19), o fator remuneração e pacote de benefícios oferecidos ficaram em 3º lugar, com 19%, na enquete que verificava as razões para permanecerem nas empresas. Em 1º e 2º lugares, respectivamente com 48 e 28%, aparecem desenvolvimento profissional e equilíbrio pessoal e profissional, como citado. Sabe-se que não há empresa perfeita, mas os detalhes fazem a diferença! De certo, se conduzíssemos a mesma pesquisa nas empresas que não foram eleitas dentre as “150 melhores”, a resposta dos funcionários seria diferente. 11 Enquanto alguns já ultrapassaram as cansativas negociações salariais e as reivindicações por benefícios, buscando agregar valores como conhecimento e qualidade de vida, a grande maioria ainda luta por regulamentação do contrato de trabalho, condições mínimas para exercerem suas atividades laborais e por salários dignos. A insatisfação varia de grau na escala funcional, de acordo com a empresa em questão. O ambiente organizacional e as condições do meio laboral estão, de fato, sujeitos à variação. Vale a pena ressaltar que da mesma forma que verifica- se as mudanças do mercado de trabalho no que tange às expectativas e demandas das empresas e dos empregados, simultaneamente observa-se a evolução no tratamento dispensado ao homem desde os primórdios do trabalho a esta primeira década do Século XXI. Passando pela atividade artesanal, “coisificação”, concepção homem=máquina, massificação, castração da criatividade, departamentalização, chega-se ao tempo da empresa parceira do homem e da natureza. A sociedade comprometida com o futuro cobra responsabilidade social e exige qualidade nos serviços, nos produtos, no atendimento – reflexos claros de sua política interna e de seus valores. Falar sobre ambiente organizacional vislumbrando este contexto atual onde diversos fatores interagem e se influenciam mutuamente é a proposta. Porque mesmo que se trate de produtividade; metas; resultados; sinergia; equipe; gestão; conhecimento; educação; tecnologia; informação; processos; ciência; globalização; 12 corporativismo; aprendizado; competência etc; o foco é o homem – início e fim - sempre. Com a intenção de decodificar o termo “clima organizacional” e demonstrar o valor da compreensão de sua influência nos processos produtivos das empresas, no primeiro capítulo dessa monografia descreve-se clima organizacional. Seu significado e importância são colocados, enfatizando a relação entre ambiente, cultura e expectativas empresariais. Tratar do novo perfil organizacional, enfatizando a sociedade, o mercado globalizado e complexo, a interatividade, as mudanças constantes e as quebras de paradigmas são assuntos do capítulo dois. O capítulo três enfoca a inter-relação entre as mudanças exigidas ou provocadas pelo mercado e, precisamente, sobre as alterações sofridas no clima organizacional. Vale ressaltar que o homem é mola-mestra de todo e qualquer processo de mudança, que é gerado e sofrido pelo próprio. Definir as etapas do processo de gestão do ambiente organizacional, desde o planejamento até à análise dos resultados e conseqüente definição dos planos de ação é tema do quarto capítulo. Finalizando a abordagem e ilustrando os conceitos desenvolvidos, no quinto e último capítulo, divulga-se recentes pesquisas realizadas no mercado brasileiro, que ratificam a importância de gerir o clima das organizações. 13 CAPÍTULO I Aspectos conceituais do clima organizacional “O analfabeto do século XXI não será aquele que não sabe ler ou escrever, mas aquele que não conseguir aprender, desaprender e aprender novamente”. (ALVIN TOFFLER) 1.1 – Descrição Segundo Luz (2004), clima organizacional pode ser entendido como o reflexo da relação entre a empresa e seus funcionários, no que tange à satisfação ou ao estado de ânimo, num momento determinado. O clima é resultante da cultura organizacional, mas existe uma relação de causa- efeito, já que influencia e é influenciado pela última. Souza (1978) afirma que cultura e clima têm efeito sobre o resultado das empresas, podendo ser facilitadores ou restritivos. Há, portanto, de acordo com a autora “uma causalidade circular entre ambas” (1978, p. 47). Vale ressaltar que embora a cultura da organização seja determinante na qualidade do clima, há outros fatores concorrendo para esse resultado, como os fatores externos – mas não alheios – à organização, que atuam como influenciadores no grau de satisfação dos trabalhadores, alterando sua atitude e seu comportamento no trabalho. Não há um dia sequer em que um fato relevante no contexto 14 social, político, econômico ou cultural não impacte os valores e, consequentemente, a motivação das pessoas. Além disso, ainda contribuem os problemas pessoais e familiares, gama extensa de conflitos e dissabores, angústias, aflições e preocupações que alteram nosso comportamento diariamente. 1.2 - Identificação A única forma de mensurar o clima organizacional é a pesquisa qualitativa. O resultado pode, evidentemente, ser transformado em gráficos e escalas com a finalidade de facilitar a visualização e interpretação, mas é ineficaz o uso de técnicas quantitativas. O diagnóstico mais preciso se dá através de questionários para fins de coleta de dados. A sondagem, ou “check-up organizacional”, como denomina Rosso (2003, p. 39), retrata o grau de satisfação material e emocional das pessoas no seu dia-a-dia de trabalho, portanto seu maior objetivo é oferecer um mapeamento de fatores críticos dentro da empresa. “Se em cultura corporativa falávamos de valores, quando abordamos clima organizacional estamos focando diretamente as sensações e os sentimentos internos que aumentam ou diminuem o grau de SATISFAÇÃO dos profissionais dentro da organização”. (Rosso – 2003, p. 79) O clima pode ser enfocado como o estado de espírito das empresas. É, de forma sucinta, o reflexo da sensação isolada ou compartilhada, em dado momento. 15 Parafraseando Karl Albretch (apud Rosso, 2003, p. 80), “o clima das empresas pode ser representado como a Lei da Gravidade - sabemos que existe e não devemos ignorá-la”. 1.3 - Importância Uma prova incontestável da importância de gerir o ambiente organizacional é a inclusão do tema como um dos componentes dos “critérios de excelência” do Prêmio Nacional da Qualidade, que é concedido anualmente pela Fundação Nacional para o Prêmio da Qualidade, às empresas que se destacam em função da qualidade de seus produtose serviços e da satisfação dos clientes internos e externos. Funcionários sobrecarregados de tarefas, prazos a cumprir, pressão, metas a alcançar, competitividade, exigüidade de tempo, baixo índice de qualidade de vida, assédio moral são fatores presentes e vivenciados pelos trabalhadores, acarretando insegurança, medo, stress, elevada taxa de desperdício, alta rotatividade, grande absenteísmo, greves e paralisações, queixas trabalhistas, rumores e conflitos, doenças, stress e síndromes sem fim. Evidências de que o clima vai de mal a pior nessas organizações. Em oposição à capacidade de gerar pontos negativos na vida dos colaboradores, as empresas podem (e devem!) gerar satisfação, felicidade e prazer para os que nela trabalham. Como diz o Professor Paulo José Gonçalves (UCAM - 2004), de Análise Comportamental, citando Paulo Freire, “sem tesão não há solução!”. Dentre vários significados, 16 segundo o Minidicionário Aurélio, a palavra tesão pode ser definida como “prazer intelectual, mental, que dá euforia semelhante ao prazer físico”, além de representar “força, intensidade”. Imagine lidar com todos os fatores que nos influenciam, agindo sem tesão ou intensidade. Meia batalha perdida antecipadamente, já que somos nós a mola mestra de toda e qualquer transformação. Uma coisa é começar uma empreitada com vigor e determinação, outra inversamente oposta, é iniciá-la sem energia - pólos de nossa iniciativa. O esboço do quadro de turbulência serve para corroborar que o gerenciamento do clima organizacional passou a ser uma ação estratégica para as empresas, principalmente aquelas comprometidas com a qualidade, não simplesmente dos produtos produzidos ou dos serviços oferecidos, mas qualidade de vida, voltada para o desenvolvimento e a satisfação pessoal e profissional de quem os faz. Tardiamente, mas enfim, chega-se à sabedoria de admitir a importância do Homem para o sucesso das organizações. O termo “recursos humanos” ou “departamento de pessoal” vem, pouco a pouco, se extinguindo nas discussões e colocações administrativas e gerenciais, e já não se ouve mais nos centros acadêmicos. “As pessoas não são recursos”, afirma Senge (2004, www.janelaweb.com/reinv/senge_rh.html). O Homem é o agente da transformação, aquele que influencia e é influenciado por ela, num efeito bumerangue. Pela nova visão, ele é encarado como capital intelectual da empresa. Mais 17 paradigmas quebrados: não se fala mais em despesas com pessoal; e sim, em investimento em pessoal. O próprio termo gestão de pessoas tem seus opositores. Não se administra ou gerencia pessoas, os gestores acreditam e defendem a gestão com pessoas. Uma pequena palavra e o contexto é completamente redesenhado, focando a transparência, o respeito e a transformação do trabalho de simples fonte de financiamento de sobrevivência em oportunidades de desenvolvimento humano, onde a busca não se limita às condições econômicas para suprir as necessidades básicas, como também e, felizmente, num ambiente onde possam encontrar afeto, satisfação e realização profissional. O grande desafio dos gestores, dos líderes e das organizações, portanto, não é apenas estimular o desenvolvimento de profissionais competentes, mas de criar e manter um ambiente organizacional capaz de aliar fatores motivacionais inerentes à personalidade das pessoas que formam sua equipe. Nas palavras do consultor Kelber (2003, www.carreiras.empregos.com.br), em seu artigo intitulado Competência: condição necessária, mas não suficiente, “cria-se, assim, uma química de relacionamento”, propícia às mudanças e ao progresso organizacional”. Por sua vez, enfatizando a linha de raciocínio traçada, a autora Moscovici afirma: “A maior riqueza de uma organização são as pessoas que nela trabalham. O investimento de peso não deve ser exclusivamente em tecnologia e sim, paralelamente e na mesma proporção, no sistema humano, em saúde e educação. Saúde na organização significa prover condições de trabalho adequadas ao biorritmo, às necessidades das pessoas e que 18 assegurem bem-estar físico e psíquico. Educação na organização significa prover condições de aperfeiçoamento no trabalho, de permitir a atualização de potencialidades não exploradas pelas tarefas rotineiras, levando ao desenvolvimento do indivíduo como pessoa integral”. (2003 – p. 14) A passos lentos, mas retos, empreende-se a humanização do trabalhador, “coisificado” ao longo da história do trabalho. O Homem é o único capaz de aprender, desaprender e reaprender, incorporando mudanças e inovações. É o único ser com potencial para fazer uso do conhecimento e da criatividade em prol do sucesso sustentável, tão almejado pelas organizações. Portanto, é imperativa e urgente a questão do clima organizacional, para propiciar o alcance dos objetivos da organização e de seus colaboradores. Identificar as causas que possam vir a interferir negativamente no comportamento dos funcionários, em relação ao seu trabalho ou à organização, permite agir de forma proativa ou com ações corretivas precisas, atuando nas devidas causas, com base em dados concretos e não apenas em suposições ou “achismos”, coletados através das pesquisas de clima organizacional, que passam a ser ferramenta gerencial primordial para gerir com pessoas. 1.4 – Estratégia Citando Albrecht (apud Rosso, 2003, p. 80), “funcionários insatisfeitos podem tornar-se os terroristas da organização”. 19 Uma organização competitiva e sustentável é o sonho e o motivo de empenho de qualquer líder ou executivo. O gap entre o sonho e a realidade reside, justamente, em como lidar o este Homem integral proposto, aliando conhecimento corporativo, valorização de capital intelectual e manutenção de ambiente que oportunize qualidade pessoal e organizacional constantes. Para sobreviver neste contexto globalizado e incerto, as empresas investem em trabalhar operacionalmente com visão estratégica. No artigo Regras de sobrevivência da empresa do futuro, o consultor e coordenador dos cursos de MBA da FAAP – Fundação Arnaldo Álvares Penteado, Tharcisio Bierrenbach de Souza Santos, diz que “a motivação é uma conquista”. Dentre as mudanças previstas na estrutura organizacional necessárias para encarar esse novo cenário, o autor afirma que cada profissional deve saber “claramente qual é o seu papel, quais são os valores e a visão da empresa e quais os objetivos daquele momento”. Resumindo: transparência - que minimiza fatores maléficos ao clima da empresa, favorecendo os positivos. O segredo para motivar uma equipe “é o contato pessoal, arregaçar as mangas, rir, chorar, tirar satisfação, fazer tudo isso junto”. (...) “Eu não posso ensinar nada a ninguém. A vontade de transformar uma empresa em um bom lugar para trabalhar tem de vir de dentro para fora”. (2004, José Eugênio Farina, diretor da Todeschini) Prova de que até os executivos, homens como aqueles que labutam no chão das fábricas, precisam de estimulação para tomar iniciativas. Percebe a questão do “tesão” por fazer e empreender intrínseca às atitudes transformadoras? 20 Frisa-se que o grande desafio dos gestores, líderes e das empresas, portanto, não é apenas estimular o desenvolvimento de profissionais competentes, mas de criar um ambiente organizacional capaz de aliar fatores motivacionais inerentes a sua equipe e aos indivíduos que a compõem. Baseada em pesquisas, Kahale (2002,www.institutomvc.com.br) apresenta o que descreve como “dimensões-chave” impactantes sobre a motivação dos funcionários, a saber: 1. “desafios” 2. “realização/satisfação” 3. “valorização/reconhecimento” 4. “crescimento profissional” 5. “participação/utilidade” 6. “liderança” 7. “integração” 8. “reconhecimento financeiro” Somando às conclusões de Kahale, Fernandes (1996) também contribui para a pesquisa de clima, registrando um leque de indicadores de qualidade de vida que devem ser aferidos, para avaliação também nas pesquisas de clima. São eles: a) remuneração; b) condições de trabalho; c) oportunidades de crescimento profissional; d) benefícios, e) relacionamento com a chefia; 21 f) participação nas decisões; g) relacionamento interpessoal; h) desenvolvimento pessoal e profissional, e i) o trabalho em si. Os resultados servem de alerta para as empresas, pois conclui-se que motivação e qualidade de vida são aliadas. Portanto, a estratégia a ser adotada deve vislumbrar este fato. 22 CAPÍTULO II Novo perfil organizacional “É preciso educar para a “complexidade” e para a descontinuidade”, duas categorias que não devem nos meter medo, porque estão em plena consonância co a nossa natureza humana. Quanto mais e melhor uma pessoa é capaz de administrar a complexidade e a descontinuidade, mais madura ela é”. (DOMÊNICO DE MASI) Seja tratando de responsabilidade social ou ambiental, mundo globalizado e avanços tecnológicos velozes, não há como ignorar as transformações sofridas pelas organizações, notadamente, a partir da Sociedade Industrial. Para entender as transformações da sociedade e como resultado, as organizações que lhe atende, traça-se um breve histórico das mudanças no tempo. O marco laboral foi a Sociedade Agrícola, voltada à terra, ao trabalho escravo e ao capital, tendo a Igreja como agente de mudança ou de construção da sociedade. Nela, o homem era diferenciado pela força física com que era capaz de exercer suas atividades. 23 A Sociedade Industrial, iniciada na década de 70, com a invenção da máquina a vapor por James Watt, em 1776, revolucionou a produção. Nesta época, o Estado funcionava como agende de mudança. Nesta Sociedade, a habilidade de desenvolver produtos de forma artesanal e o conhecimento requerido para a operação de máquinas e equipamentos tornam-se o diferencial. Gerenciar e controlar são as habilidades requeridas para os chefes e gerentes. Presencia-se, com a chegada do Séc. XXI, a Sociedade da Informação e do Conhecimento e, segundo Hazel Henderseon (Rodriguez, 2002), seguimos para a Era da Luz. A Sociedade da Informação e do Conhecimento inicia-se na década de 40, com o surgimento do primeiro computador, em 1944. Tecnologia da informação, conectividade, energia e, em especial, o conhecimento, são seus pilares de sustentação. Empresas e redes de pessoas são agentes de mudança e de construção da sociedade. Educar e gerenciar mudanças e o processo de inovação são habilidades requeridas pelos gerentes e líderes. A Era da Luz foi iniciada em 1990 e está, ainda, em construção. Segundo Rodriguez (2002, p. 17), “é considerada Era pelo fato de tender a contemplar várias outras sociedades que ainda estão por vir”. Seus pilares de sustentação são os recursos renováveis e a natureza, tendo como agente de mudança as organizações não-governamentais e a própria sociedade organizada. Ainda citando Rodriguez: “nesta Era, a visão sistêmica voltada para o mercado e para o meio ambiente é fundamental, além da habilidade de lidar com a criação e a inovação dentro de um ambiente sistêmico e sustentável”. 24 Observando e analisando a expressão do autor – “um ambiente sistêmico e sustentável”, podemos contextualizá-la no clima organizacional, tido como gerador de oportunidades e motivador. Aquele que não massifica, controla ou castiga o colaborador, mas aquele ambiente que revela uma cultura calcada em valores como respeito ao próximo, ética nas ações, transparência da missão e da visão, tomada compartilhada de decisões, administração horizontal e enfim, valorização do colaborador enquanto capital intelectual. Quadro 1 – Evolução das sociedades ERA DA LUZ – Energia - Recursos renováveis, natureza, ONG. SOCIEDADE DO CONHECIMENTO – Informação Conhecimento, redes de pessoas. SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO – Bits Visão sistêmica, mercado global, fronteira digital, antiburocracia, empresas. SOCIEDADE INDUSTRIAL – Máquina Mercado local e cativo, fronteira física, padronização, burocracia, rotina, Governo. SOCIEDADE AGRÍCOLA – Terra Suportado pela terra, escravos e capital. Produzir com a ajuda da natureza, Igreja. SOCIEDADE EXTRATIVISTA – Natureza - Suportado pela caça e pesca, produção artesanal a partir de pequenos grupos. Fonte: Rodriguez (Gestão empresarial – organizações que aprendem. 2002, p. 16) 25 O salto dado foi enorme! Da Sociedade Extrativista à Era da Luz, observa-se diversas alterações quanto ao enfoque dado à relação homem-labor e ao processo produtivo. Complexidade e descontinuidade: palavras que soam pulverizadas. Ambas trazem consigo o reflexo do momento vivido pelas empresas, nacionais ou internacionais. Flexibilização, desafios constantes, competitividade e interatividade são alvos perseguidos, com a intenção clara de que resultem em sobrevivência corporativa. É com base neste mercado que devemos nos aperfeiçoar e, por causa dele, a aprendizagem e o conhecimento são tidos como recursos estratégicos. Os processos de mudança funcionam com a mesma estrutura da espiral do conhecimento, semelhante ao da mudança: Quadro 2: ciclo do conhecimento mudança/conhecimento p auto-organização p aprendizagem p complexificação p ação p validação Fonte: aula expositiva de Análise Comportamental, do Professor Paulo José Gonçalves (UCAM, 2003), adaptado por Wanderleia Abril R. Ricardo. 26 Funciona assim com o Homem e com as empresas - oscilações causam estranhamento e são amortecidas, corrigidas, atenuadas ou neutralizadas, como num instrumento de auto-regulagem, por meio de mudanças incrementais. Com base neste novo contexto empresarial, o perfil do trabalhador também é redefinido. O mercado requisita capacidades e habilidades pessoais que abrangem aprender de forma não-convencional; trabalhar cooperativamente; gerar soluções inovadoras; ser capaz de acompanhar as mudanças; saber otimizar seu tempo; pensar e, dentre outras, aceitar a incerteza como aliada. Como ratifica Cozenza e Dias (2004, p. 17): “As novas exigências se constituem no emprego de trabalhadores multiqualificados, preparados para o trabalho em grupo, com um melhor conhecimento da atividade produtiva em seu conjunto e também do ambiente em que este se realiza, além de motivado para que os objetivos da empresa sejam atingidos com o seu empenho.” 27 CAPÍTULO III Mudança X clima organizacional “Não é o ambiente dos negócios que está mudando. A mudança é o ambiente dos negócios. E não se trata de que todas as empresas estejam mudando. A mudança se apossou de todas as empresas.Criar mudança, gerenciá-la, dominá-la e sobreviver a ela é a pauta de todos os que, no mundo empresarial, desejam fazer diferença”. (CHARLES FISHMAN, 1997) De um lado, os consumidores pressionam as organizações na busca por qualidade nos produtos e nos serviços. De outro lado, os trabalhadores buscam qualidade de vida no trabalho, colocando às organizações frente ao dilema de dedicar-se mais no diagnóstico de sua dimensão ou responsabilidade social. Mudanças à vista! O diagnóstico mais evidente da necessidade de mudança consiste em problemas no sistema, relativos a produtividade, satisfação e/ou desenvolvimento. Pode ser uma queda nos níveis de produção, o surgimento de um clima de desestímulo, reclamações dos clientes, não desenvolvimento de habilidades e capacidades necessárias ao desempenho das funções, ou em última instância, uma combinação desses fatores. 28 O fato é que é muito mais fácil levar a mudança para pessoas que estão vivenciando um desconforto. Aqueles satisfeitos com a situação vigente resistirão a mudanças podendo aumentar a tensão, desequilibrando ainda mais o clima organizacional. Por que? Mera falta de disposição. Segundo Cohen e Fink (2003, p. 350): “Para dar início à mudança tente primeiramente determinar se já há inclinação para um movimento na direção desejada e então comece pelo aspecto do problema que tenha menos probabilidade de provocar resistência direta”. Em grande parte dos casos, a resistência às mudanças é conseqüência da percepção de ameaças, pois representa a passagem do conhecido para o desconhecido, do relativamente certo ao relativamente incerto, do familiar para o diferente. Clareza, identificação das razões e planejamento de ação de modo a reduzir ou eliminar os efeitos negativos e corrigir as percepções confusas ou errôneas, garantem a funcionalidade do processo. “Finalmente, muitas vezes há resistência à mudança apenas porque as idéias são novas e as pessoas não tiveram tempo de acostumarem-se a elas ou de entender completamente suas implicações”. (Cohen e Fink, 2003, p. 352) A forma menos traumática de gerir o processo de mudança é envolver aqueles que serão afetados por elas, na determinação de como se dará essa mudança. O diagnóstico deve preceder a ação. Inevitavelmente, é necessário encontrar alguma forma de coletar dados sobre as dimensões do problema que exige mudanças, como veremos a seguir, na elaboração das etapas do processo de gestão do clima organizacional. 29 Alguns dos conceitos descritos como fundamentais no processo de gerir a mudança, em Cohen e Fink (2003, p. 386- 387): 1) “A necessidade de mudança se verifica quando ocorrem problemas relativos a produção, satisfação e/ou desenvolvimento”. 2) “Um gerente pode ser vítima passiva da mudança ou seu iniciador e planejador”. 3) “Os alvos de mudança dependem dos seguintes fatores: a. Tensão no sistema. b. Interconexão da pessoa ou grupo problemático com outras unidades. c. A hierarquia organizacional. d. Lugar ou ponto com mais prontidão para a mudança”. 4) “Resistência à mudança por interessados relevantes: a. As pessoas não resistem automaticamente à mudança. Elas o fazem por razões (por mais pouco claras ou “ilógicas” que pareçam). b. As pessoas resistem à mudança quando percebe as conseqüências como sendo negativas, tais como: i.Ameaça generalizada do desconhecido e do incerto. ii.Dor de abandonar um passado com que se identificam. iii.Falta de controle sobre o que está acontecendo (agravada por não ter tempo para acostumar-se a novas idéias ou planos)”. c. “Perda direta de: x� “Aparência”. x� Competência (habilidades relevantes). x� Poder e influência. x� Renda, status, privilégios, conveniências, amigos, etc”. d. “A mudança precisa ser gerenciada”. ... Aliar mudança e clima organizacional saudável é o dever de casa dos gestores. Não há manual de instruções ou receitas prontas, mas a experiência pode ser compartilhada e possibilitar amadurecimento. A bula é flexível e adaptável, de acordo com as necessidades e as expectativas 30 da empresa, mas é a sensibilidade dos gestores que irá sinalizar possíveis desequilíbrios e descontentamentos, permitindo nortear as atitudes a serem tomadas, com o propósito de minimizar ou erradicar as causas geradoras dos conflitos. Já é rotina encontrar pessoas que estão fazendo mudanças nas organizações. Sejam elas visando os clientes internos ou os externos, os agentes de mudança não trabalham isoladamente. Eles têm tarefas reais, trabalho real - e impulsionar mudanças é algo que faz parte de suas funções. Criar mudanças é uma habilidade, porém fazer com que as coisas aconteçam e levar a empresa para a frente é paixão. 31 CAPÍTULO IV Processo de gestão de clima organizacional “Para uma criança com martelo na mão, tudo é prego”. (Autor desconhecido) Com base no estudo do Professor Luz (2004, p. 95), Mestre em Sistemas de Gestão, “o processo de gestão do clima organizacional” é composto por “diagnóstico, mensuração e melhoria”. Veja o quadro com a definição das etapas: Quadro 3: etapas do processo de gestão do clima organizacional 1a. etapa aprovação e apoio da direção 2a. etapa planejamento da pesquisa 3a. etapa definição de variáveis organizacionais 4a. etapa montagem e validação do instrumento 5a. etapa Parametrização 6a. etapa Divulgação 7a. etapa aplicação e coleta da pesquisa 8a. etapa tabulação 9a. etapa emissão dos relatórios 10a. etapa divulgação dos resultados 11a. etapa definição dos planos de ação Fonte: Pedagogia Institucional – fatores humanos nas organizações (NASSARALLA & SOBRINHO – Orgs., 2004). 32 Para facilitar o entendimento da proposta do autor, expõe-se breve comentário sobre as etapas mencionadas, características do processo de gestão do clima organizacional. 4.1 – APROVAÇÃO E APOIO DA DIREÇÃO Sem o comprometimento e a aprovação da direção da empresa, nenhum projeto é viabilizado. O comprometimento caracteriza-se pelo compromisso assumido com as possíveis mudanças a serem implementadas. O aval da direção é o ponto de partida para todas as etapas subseqüentes ao processo de pesquisa e gestão do ambiente organizacional. 4.2 - PLANEJAMENTO DA PESQUISA É nessa etapa que se definem alguns critérios e que devem ser tomadas algumas providências para garantir, como: - objeto da pesquisa; - público-alvo; - condutor da pesquisa; - responsável pela coleta das pesquisas; - forma dae coleta; - técnica a ser utilizada; - periodicidade ou momento de aplicação; - preparação das chefias; - abrangência; - identificação dos setores pesquisados; 33 - formação das equipes para análise e/ou solução dos fatores críticos. 4.3 - DEFINIÇÃO DE VARIÁVEIS ORGANIZACIONAIS As variáveis nada mais são senão os assuntos pesquisados. É a gama de fatores empresariais que podem causar satisfação ou insatisfação, contribuindo para as variações do clima organizacional. Neste momento do processo, é importante identificar o impacto das variáveis sobre os funcionários e como eles reagem a elas. Cabe à empresa e aos organizadores da pesquisa, definir estas variáveis, adaptando-a as suas necessidades. O sucesso ou o insucesso da pesquisa de clima residem na escolha das variáveis organizacionais. Quanto mais afinada estiver coma cultura e o momento vivenciado, sua abrangência permitirá uma maior cobertura dos aspectos a serem pesquisados. Dentre as variáveis tradicionalmente pesquisadas, as mais importantes devido ao impacto que causam na satisfação ou insatisfação das pessoas no trabalho, são Gestão e Salário. 4.4 - MONTAGEM E VALIDAÇÃO DO INSTRUMENTO Hora de avaliar o instrumento de pesquisa. Das muitas técnicas usadas em pesquisas de clima, como dito anteriormente, o questionário impresso apresenta vantagens, como melhor aceitação pelos pesquisados. 34 Importante frisar a necessidade de validar a técnica escolhida, mediante aplicação a um grupo piloto de funcionários, objetivando a compreensão do enunciado das questões. 4.5 – PARAMETRIZAÇÃO Nessa fase são tabulados os parâmetros que permitirão a identificação dos dados coletados, manual ou eletronicamente. Parametrizar é sinônimo de definir critérios para facilitar os cálculos, possibilitando clareza dos resultados e de sua mensuração. 4.6 – DIVULGAÇÃO DA PESQUISA A decisão em aderir ou não à pesquisa, por parte dos funcionários, acontece nessa etapa. Quanto maior a participação, mais preciso será seu resultado. Indispensável empreender todo esforço, via comunicação clara e objetivos transparentes, com a divulgação de data, local, hora e forma de aplicação e coleta dos questionários preenchidos. A sensibilização dos funcionários deve ocorrer antes da divulgação da pesquisa. Consiste em ações de endomarketing, com a finalidade de explicitar detalhes sobre a pesquisa em si. Todos os meios de comunicação da empresa devem ser utilizados como veículo de divulgação, na tentativa de comprometer e sensibilizar os funcionários. 35 4.7 – APLICAÇÃO E COLETA DA PESQUISA Definição de quem aplicará a pesquisa, a equipe interna da organização ou uma consultoria externa, ou ambas. Recomenda-se que a pesquisa seja aplicada no próprio local de trabalho, para evitar a influência de terceiros. A presença dos gestores, gerentes e diretores neste momento não é bem-vinda. De certa forma, ela intimida os funcionários. Deve-se deixar claro também a manutenção do sigilo. A intenção não é identificar quem respondeu o quê, mas o foco está direcionado às respostas em si. A coleta dos questionários pode ser feita através de urna ou por envio eletrônico, para endereço previamente estabelecido, de acordo com a estrutura da empresa. 4.8 - TABULAÇÃO Consiste no processamento manual ou eletrônico dos dados coletados na pesquisa, com o propósito de calcular o percentual de funcionários participantes e o seu grau de satisfação/insatisfação em relação aos assuntos abordados. A tabulação pode ser feita por pergunta; por variável; por conjunto de variáveis; por série histórica de variáveis; por região; por diretoria; por departamento; por unidade; por nível hierárquico; por regime de trabalho; por tempo de serviço; por turno de trabalho; por sexo; por 36 faixa etária; por resultado global (Índice de Satisfação Geral – ISB). 4.9 – EMISSÃO DOS RELATÓRIOS Compreende a emissão de diversos relatórios, com a apresentação detalhada de cada variável, por tipo. Devem apresentar gráficos, como forma de facilitar a visualização dos dados tabulados na pesquisa, assim como deve conter comentários analíticos das informações colhidas. A análise das informações é fundamental para a fidelidade da pesquisa e para atingir os objetivos pré-estabelecidos. Os comentários devem registrar os pontos positivos que devem ser mantidos e estimulados; como os críticos, que vão nortear os programas de mudança de clima organizacional. Nos comentários são ressaltados os pontos fortes do ambiente de trabalho e são sugeridas medidas que possam incrementar o grau de satisfação dos funcionários. Quanto mais detalhado for o relatório, mais fácil será evidenciar seus pontos críticos. 4.10 – DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS Quem participa de uma pesquisa, espera o retorno dos resultados. Por isso, é primordial a divulgação dos mesmos. Cada diretor/gerente receberá um relatório detalhado, comentado e ilustrado, contendo os resultados de suas áreas de atuação e responsabilidade. 37 A direção da empresa é responsável pela liberação total ou parcial do resultado da pesquisa aos funcionários. Em alguns casos, devido a gravidade, sua divulgação pode ser censurada e sofrer veto da diretoria. O anúncio dos resultados deve ser informado, em primeira mão, aos diretores da empresa. Em seguida, aos gerentes. Na terceira fase, os demais funcionários tomam conhecimento da mensuração do clima organizacional, preferencialmente, já com a definição das medidas que serão tomadas pela empresa para reverter o quadro crítico, quando houver. Essa medida fortalece a credibilidade da pesquisa. Novamente os meios de comunicação da organização são utilizados como propagadores do resultado, informando-o através de seus canais. 4.11 – DEFINIÇÃO DOS PLANOS DE AÇÃO Etapa crucial de todo processo. A pesquisa de clima organizacional em si não é um fim, mas um meio para a empresa identificar oportunidades de melhorias contínuas no seu ambiente e nas condições de trabalho, voltadas para a qualidade de vida. Após identificação, o passo a seguir é intervenção. Para tal, registra-se procedimentos, a saber: - coordenação de uma comissão de trabalho, com representantes de todas as áreas da empresa; - prioridade às causas a serem enfrentadas; - discussão sobre os possíveis planos de ação; - apresentação à empresa do plano de ação definido, com as devidas medidas corretivas. 38 CAPÍTULO V As recentes pesquisas de clima organizacional no mercado brasileiro “Oito entre dez profissionais das melhores empresas para se trabalhar deste ano se dizem felizes com o lugar onde gastam seu tempo e seu talento”. (Exame/Você S/A. 2004 – p. 6) O Guia Exame-Você S/A. realiza a maior pesquisa de clima organizacional do Brasil, compreendendo 460 empresas. Na Edição Especial 2004, a Todeschini foi a campeã. Na avaliação do resultado, a empresa gaúcha recebeu 5 (cinco) estrelas – pontuação máxima – nos quesitos referentes ao ambiente de trabalho, a saber: credibilidade, respeito, orgulho, imparcialidade e camaradagem. No item “equilíbrio entre trabalho e vida pessoal”, novamente 5 estrelas. Respondendo à questão “por que as pessoas ficam nesta empresa?”, 49% dos 436 funcionários responderam ser pela possibilidade de desenvolvimento profissional. Dentre as opiniões colhidas durante o processo de coleta de dados, foi comum os pesquisadores ouvirem expressões como: “somos referência”; “tenho orgulho de trabalhar aqui”; “sinto-me um pouco dono da empresa”; “o produto Todeschini leva um pouco de nós”; “esse lugar é a extensão da minha casa”. Em 39 suma, a empresa é exemplo de que investir nos funcionários dá resultado. A 2a. colocada na pesquisa foi a Tigre. Seu diferencial consiste numa administração aberta, onde nem o presidente tem sala. Diretores e gerentes “trabalham lado a lado, frente a frente, num mesmo ambiente, sem paredes nem portas. Sem segredos”. Segundo a matéria, “a conquista (...) comprova a consistência de sua política de gestão de pessoas. Respeito é a palavra-chave”. Dentre os 2.526 funcionários, 44% responderam que o desenvolvimento profissional é o fator que os mantêm na empresa. A Siemens Metering,rebatizada de Landis+Gyr é a 3a. colocada na pesquisa. Almoxarifado “self-service”, com prateleiras abertas, badaladas de um sino que anunciam a entrada de um pedido significativo. Nesta hora, os funcionários param para comemorar, com aplausos e gritos, já que os “novos pedidos são interpretados como indícios da manutenção da saúde financeira da companhia, e por conseqüência, das condições privilegiadas desfrutadas pelos funcionários”. Existe o programa de rádio diário Irradiação, que transmite as últimas novidades sobre a empresa. Os locutores são funcionários. Na Landis+Gyr, 50% dos 257 funcionários alegam o fator “equilíbrio entre vida pessoal e profissional” como o motivo para ficarem na empresa. 32% elegeram “desenvolvimento profissional”. O que essas organizações têm em comum, para chegarem ao topo e serem escolhidas como as melhores empresas para se trabalhar? Respeito pelo ser humano, transparência, 40 prazer associado ao labor, ambiente saudável, ética, sinergia, mais que um bom salário, relação direta com o funcionário. Nessas empresas se respira motivação, sem utopia. São empresas que abraçaram a causa da responsabilidade social e da premissa da educação corporativa. Empresas que não negligenciam seu capital intangível, pelo contrário, ela incentiva seu crescimento pessoal e profissional. Representam minoria no universo das organizações nacionais, mas são exemplos a serem seguidos! Ainda ilustrando a importância do estudo do ambiente das empresas, em pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral (Instituição voltada para estudos sobre gestão de negócios), 66% dos executivos brasileiros estão insatisfeitos com o próprio trabalho. Outros 17% se dizem indiferentes, o que significa que, 83% dos profissionais não têm satisfação em suas rotinas diárias de trabalho. (Madureira, 2001) De acordo com o resultado de outra pesquisa, realizada pela Associação Brasileira de Recursos Humanos, com 269 empresas, localizadas em 16 estados brasileiros, somente 29,5% delas realizam, regularmente, pesquisas de clima organizacional. (ABRH, 1999) São informações para refletir, afinal ainda não é tempo de trocarmos a velha máxima que afirma que “funcionários felizes fazem empresas de alto desempenho”. (Thomaz Wood Jr., 2004) 41 CONCLUSÃO Gerenciar o clima organizacional é ação estratégica, já que o grau de satisfação/motivação dos funcionários representa um dos imperativos para o sucesso e para a sustentabilidade dos negócios, além de representar um equilíbrio entre competitividade e qualidade de vida no trabalho. Avaliar o clima permite às organizações identificar os sentimentos e percepções de seus empregados sobre diferentes fatores que possam vir a influenciar o seu bem- estar. Por outro lado, permite também diagnosticar se é necessário desenvolver programas com a finalidade de oportunizar melhorias, tanto da qualidade do ambiente como do trabalho em si, da qualidade dos produtos e dos serviços, da produtividade, do comprometimento, permitindo o aumento da rentabilidade da própria empresa. Fica claro que a gerência do clima organizacional é um processo e, como tal, é dinâmico, sujeito à variáveis, e não representa um fim em si mesmo. Gerir o clima das organizações é uma função gerencial, que deve constituir um compromisso corporativo, focado no homem, enquanto idealizador e realizador de todas as mudanças. Embora não existam regras pré-estabelecidas ou receituários prontos, cada organização pode partir do check-up de suas necessidades, de sua realidade; tentando conhecê-las e transformá-las, se forem consideradas fatores 42 críticos. Informações específicas que resultam em análise e gerenciamento do ambiente da empresa. O tempo é sempre portador de transições. Nada é perene! O presente tem nos apresentado incógnitas e questionamentos como nunca vimos. Somos testemunhas e cúmplices das mudanças que transformam o mundo. Nosso desafio é entendê-las para efetivamente, sermos sujeitos conscientes. O que o futuro nos reserva? A busca agora é pelo homem enquanto ser integral, nos escritórios, fábricas ou em qualquer lugar onde exerça suas atividades de trabalho. A busca é pela qualidade de vida, seja nas organizações, escolas ou ruas - em qualquer lugar onde haja atividade humana. O tempo é zás! Aguardemos seus próximos passos e as novidades que trará e, que acima de tudo, tenhamos sabedoria para andarmos com ele e não contra ele. Façamos dele nosso aliado e nunca um opositor, pois lutar contra ele é a maior forma de perdê-lo e, perdendo-o, não mais nos encontrar. 43 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Associação Brasileira de Recursos Humanos. Pesquisa “ Evolução, práticas e retrato atual de recursos humanos no Brasil”. São Paulo: ABRH, 1999. JR., Thomaz Wood. A carroça e os cavalos. CARTA CAPITAL. São Paulo: Editora Confiança, 2004. Ano X, Nº 290. CARTA CAPITAL. São Paulo: Editora Confiança, 2004. Ano XI, Nº 305. COZENZA, Orlando Nunes e DIAS, Augusto César. Contemporâena – Revista de Estudos e Debates – Perspectivas da Administração e Outros Estudos. Volume VII – Nº 1. Rio de Janeiro: Dinigraf, 2004. CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas. 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Renascença Organizacional. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 2003. NASSARALLA, Iara e SOBRINHO, Francisco de P. Nunes (Orgs.). Pedagogia Institucional – fatores humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Zit Editora, 2004 PLATT, Lewis (apud MARTINS, Rogério). O Mundo em Transformação – o Paradigma da Ameaça X Oportunidade. www.psicologia.com.pt, 2004. ROSSO, Fabrízio. Gestão ou Indigestão de Pessoas. São Paulo: Edições Loyola, 2003. RODRIGUEZ, Martius V. R. Gestão Empresaria – Organizações que Aprendem. Rio de Janeiro: Qualitymark Editora, 2002. 45 SANTOS, Tharcisio Bierrenbach de Souza. Regras de sobrevivência da empresa do futuro. www.bb.com.br/hppbb/portalunv/ent/ntrevistasdet.isp?codigo= 277, 2003. SENGE, Peter. As pessoas não são recursos. www.janelaweb.com/reinv/senge_rh.html, 2004. SOUZA, Edela Lanzer Pereira de. Clima e Cultura Organizacionais: Como se Manifestam e Como se Manejam. São Paulo: Editora Blucher, 1978. 46 ÍNDICE INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I 13 1.1- Clima organizacional – descrição 13 1.2 - Clima organizacional – identificação 14 1.3 - Clima organizacional – importância 15 1.4 - Clima organizacional - estratégia 18 CAPÍTULO II 22 Novo perfil organizacional 22 CAPÍTULO III 27 Mudança X clima organizacional 27 CAPÍTULO IV 31 4 - Processo de gestão de clima organizacional 31 4.1 – Aprovação e apoio da direção 32 4.2 – Planejamento da pesquisa 32 4.3 – Definição de variáveis organizacionais 33 4.4 – Montagem e validação do instrumento 33 4.5 – Parametrização 34 4.6 – Divulgação da pesquisa 34 4.7 – Aplicação e coleta da pesquisa 35 4.8 – Tabulação 35 4.9 – Emissão dos relatórios 36 4.10 – Divulgação dos resultados 36 4.11 – Definição dos planos de ação 37 CAPÍTULO V 38 As recentes pesquisas de clima organizacional no mercado brasileiro 38 CONCLUSÃO 41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 43 47 FOLHA DE AVALIAÇÃO UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE Pós-Graduação “Lato Sensu” Aluna: Wanderleia Abril Ramos Ricardo Orientadora: Ana Cristina Guimarães Título da monografia: Gestão do Clima Organizacional Avaliado por: _______________________________ Grau: _______ Avaliação: Rio de Janeiro, ______ de __________________ de 2004. 48 CITAÇÕES “A motivação do adulto se liga às expectativas de melhoria na carreira profissional, no reconhecimento social e na busca do crescimento pessoal”. (Albigenor e Rose Militão, 2003, p. 32) “Orgulho-me de pertencer a uma empresa reconhecida pelo seu trabalho. Sinto-me motivado a crescer como pessoa e como profissional”. (Funcionário da Todeschini, 2001) “A liberdade é excepcional. Se você tiver iniciativa e criatividade, pode fazer e acontecer”. (Funcionário da ABB, 2001) “Mudar é desaprender”. (Albigenor e Rose Militão, 2003, p. 20) “Gosto do horário de almoço, quando chefes, funcionários e donos sentam juntos à mesma mesa. Somos uma grande família”. (Funcionário da Casa Verde Móveis, 2001) “Queremos apenas ter certeza de que trabalhamos dentro dos nossos valores, das nossas crenças, alinhados com os valores da parte mais dinâmica da sociedade e que isso vai nos levar a consolidar nossa imagem junto à sociedade como 49 uma empresa sustentável”.(Fábio Barbosa, Presidente do ABN Amro, 2004) “Ninguém quer trabalhar o mês inteiro apenas para ganhar dinheiro. É preciso gostar do que faz. É preciso uma boa dose de realização pessoal naquilo que está fazendo.” (Flávia Kahale, Diretora de Pesquisa do Insituto MVC) Invariavelmente, serão observadas, em qualquer grupo, “condições variadas de calor humano, tensão, movimentos, equilíbrio, restrições, alegria, insegurança, crises, etc. O clima do grupo pode variar, desde sentimentos de bem- estar e satisfação, a gradações de tensão, estresse, entusiasmo, prazer, frustração e depressão”. (Albigenor e Rose Militão, 2003, p. 16) RJ, 2004.
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