Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Direito Internacional Público e Privado Prof.ª Paola de Andrade Porto paolaporto.blogspot.com.br paolaporto@id.uff.br 1 1.1 Direito Internacional Público – Noções preliminares ¡ “...o Direito vai deixando de somente regular questões internas para também disciplinar atividades que transcendem os limites físicos dos Estados, criando um conjunto de normas capazes de realizar esse mister. ¡ Esse sistema de normas jurídicas (dinâmica por excelência) que visa disciplinar e regulamentar as atividades exteriores da sociedade e dos Estados (e também, modernamente, das Organizações Internacionais e dos próprios indivíduos) é o que se chama de Direito Internacional Público ou Direito das Gentes”. (Hildebrando Accioly, 1956. p. 1-2) ¡ “... conjunto de princípios e regras jurídicas (costumeiras e convencionais) que disciplinam e regem a atuação e a conduta da sociedade internacional (formada pelos Estados, pelas organizações internacionais intergovernamentais e também pelos indivíduos), visando alcançar as metas comuns da humanidade e, em última análise, a paz, a segurança e a estabilidade das relações internacionais.” (Mazzuoli, 2007. p. 43) 2 Mazzuoli criou essa definição de Direito Internacional a partir da análise de três critérios: a) Critério dos sujeitos intervenientes: O DIP disciplina e rege a atuação e a conduta da sociedade internacional. b) Critério das matérias reguladas: O DIP visa alcançar metas comuns da humanidade (segurança, paz, estabilidade das relações internacionais); c ) C r i t é r i o d a s f o n t e s n o r m a t i v a s : O D I P consubstancia-se num conjunto de princípios e regras jurídicas, costumeiras e convencionadas. 3 Exemplos de Tratados e Convenções que nomeiam Sociedade como Comunidade 1. Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, de 1969 – art. 53; 2. Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, de 1982 – art. 59; 3. Declaração e Programa de Ação de Viena, de 1993 – art. 1º. 4 Sociedade Internacional Comunidade Internacional Estados e Organizações Internacionais intergovernamentais, com reflexos voltados também para atuação dos indivíduos no plano internacional. Conceito em mutação, que poderá ser modificado no futuro com a presença de novos atores das relações internacionais Mazzuoli entende que não existe uma comunidade internacional, pois a mesma pressupõe a existência de um laço espontâneo e subjetivo de identidade (familiar, social, cultural, religioso etc.) entre seus partícipes, que não exista dominação de uns em detrimento de outros sociedade vínculos que unem os indivíduos que participam Comunidade vínculos que unem os indivíduos que pertençam vínculos construídos pela normatização – tratados legislação Vínculos por valores éticos comuns ideia de divergência Ideia de convergência CONVENÇAO DE VIENA ¡ Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, assinada em 23 de Maio de 1969 ¡ Artigo 53 Tratados incompatíveis com uma norma imperativa de direito internacional geral (jus cogens) É nulo todo o tratado que, no momento da sua conclusão, seja incompatível com uma norma imperativa de direito internacional geral. Para os efeitos da presente Convenção, uma norma imperativa de direito internacional geral é uma norma aceite e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados no seu todo como norma cuja derrogação não é permitida e que só� pode ser modificada por uma nova norma de direito internacional geral com a mesma natureza. (grifo nosso) ¡ Artigo 64 Superveniência de uma norma imperativa de direito internacional geral (jus cogens). Se sobrevier uma nova norma imperativa de direito internacional, geral, qualquer tratado existente que seja incompatível com essa norma torna-se nulo e cessa a sua vigência. 5 DIREITO COGENTE ¡ Jus cogens (direito cogente) são as normas peremptórias (peremptórias ou perentórias) imperativas do direito internacional, inderrogáveis pela vontade das partes. ¡ Os art.nº 53º e 64º da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados referem de que forma o jus cogens vigora na sociedade internacional. 6 Sujeitos de Direito Internacional Atores Internacionais - Estados; - Organizações Internacionais Intergovernamentais - Indivíduos (Mazzuoli) - Indivíduo - Santa Sé - Insurretos e beligerantes reconhecidos; - Organização não governamental (ONGs) - Empresas Multi ou Transnacionais (Luiz Carlos Lopes Moreira) 7 Ordem Jurídica da Sociedade Internacional ¡ Descentralizada ¡ Horizontal ¡ Embrionária ¡ Coordenação (ou invés de subordinação) ¡ Vontade e Consentimento ¡ Sem território determinado 8 1.2 Historicidade do Direito Internacional Público Períodos Acontecimentos Primeiros rudimentos de jus inter gentes Tribos e clãs de povos distinos Isolamento, hostilidade e guerras entre os povos - Inviolabilidade de arautos e mensageiros - Obrigatoriedade dos tratados (pacta sunt servanda boa fé - Estatuto jurídico do estrangeiro e respeito as regras do comercio, asilo, relações familiares - Sanções de direito internacional (guerra e conflitos armados) - Ius gentium 9 Períodos Acontecimento Tratado de Westfália (1648) Estado Moderno Muitos autores entendem que esse diploma inaugurou o moderno Sistema do Direito Internacional, acatando consensualmente noções e princípios como o de soberania estatal e o de Estado Nação. Congresso de Viena, 1815 (fim das guerras Napoleônica). Sistema multilateral de cooperação política e econômica Proibição do tráfego negreiro Liberdade irrestrita de navegação nos rios internacionais Primeiras regras de protocolo diplomático Bidimensional (limitado a terra e ao mar) Tratado de Versalhes (1919) Alemanha e os países vencedores da primeira guerra; Tridimensional (terra, mar, aeronáutico e fundo do oceano) e todo direito ambiental Humanização do direito internacional (Cansado Trindade) sistema internacional de proteção dos direitos fundamentais; Pacto Sociedade das Nações 10 Segunda metade do século XIX ¡ 1856 – Congresso de Paris ¡ 1864 – 1ª Convenção da Cruz Vermelha ¡ 1868 – Declaração contra projéteis explosivos ou inflamáveis ¡ 1878 – Congresso de Berlim ¡ 1884-86 – Conferência Africana de Berlim ¡ 1889-90 – Conferência de Bruxelas ¡ 1889-90 – 1ª Conferência Internacional dos Países Americanos ¡ 1899 – Conferência da Paz, de Haia 11 ¡ Direito internacional a técnica de regulação pacífica da convivência entre estados e seus respectivos interesses e áreas de atuação. (Accioly) ¡ Consenso / coexistência ¡ Ordem de natureza hierárquica, limitada às grandes potencias, onde a proteção de pequenos Estados resultava apenas, como registra Stanley HOFFMANN, do equilíbrio do sistema, que impedia a voracidade das grandes potencias. Esta ordem teve natureza mais politica e diplomática do que jurídica, mas deu margem ao aparecimento e à consolidação de um direito internacional público, que hoje chamaríamos, segundo FRIEDMANN, um direito internacional de coexistência. Este passou a regular, dentro desta ordem, as regras de mútuo respeito pelas respectivas soberanias nacionais, a partir da abstração da igualdade jurídica dos Estados, numa sociedade internacional de membros pouco numerosos, de relacionamento pouco diferenciado, que se colocaram uns em relação aos outros de forma mais ou mesmos justaposta 12 As tendências evolutivas DI ¡ Universalização; Autodeterminação dos povos. Decorrência da desagregação dos impérios marítimos europeus, império continental soviético e movimentos de independência. Direito Internacional universal e não euro-americano (eurocentrismo). ¡ Regionalização; Em razão da economia, politica estratégicas ou culturais, criação de espaços regionais de solidariedade, cooperaçãopoliticas. Ex., União Europeia. ¡ Institucionalização; Ultrapassa a natureza das relações bilaterais e multilaterais entres os Estados, estão também fundado nos organismos internacionais (ONU), agências especializadas e criação de órgãos supranacionais com poder decisório (UE). ¡ Funcionalização; Extravasa as relações externas entre Estados e penetra no plano do direito interno de cada país (solução dos problemas como saúde, trabalho, ambiente etc.). 13 ¡ Humanização; A partir da Carta das Nações Unidas (1945) e Declaração Universal dos Direito Humanos (1948), Convenção Europeia dos Direitos do Homem (1950), Convenção Americana sobre Direitos Humanos (1969). Criação da Justiça Penal Internacional – tribunal de Nuremberg e Tóquio e recentemente Tribunal Penal Internacional aos crimes cometidos pela ex-Iugoslávia e Ruanda. ¡ Objetivação; Formação de regras internacionais livres e independentes da vontade dos Estados – superação do dogma voluntarista, isto é, a vontade dos atores era o fundamento único do DI. ¡ Codificação Art. 13, §1º alíena a, da Carta das N a ç ã o U n i d a s d e 1 9 4 5 , “ i n c e n t i v a o desenvo lv imento p rogres s i vo do d i re i to internacional e sua codificação”. 14 Jurisdicionalização ¡ A evolução passou por 3 fases: ¡ criação de tribunais internacionais de vencedores contra vencidos (classificado hoje como arcaico e primitivo – tribunais militares pós-guerras; ¡ criação de tribunais ad hoc pelo Conselho de Segurança da ONU (por Resolução e não tratado), Ex-Iusgulávia e Ruanda; ¡ Institucionalização de tribunais internacionais de caráter permanente e universal por meio de Tratado – Tribunal Penal Internacional. 15 2. Fontes do Direito Internacional Público ¡ “Por fontes do Direito Internacional entendemos os documentos ou pronunciamentos dos quais emanam direitos e deveres das pessoas internacionais, configurando os modos formais de constatações do direito internacional.” (Hildebrando Acciolly) ¡ Direito Internacional positivo: direitos e deveres internacionais como resultado da vontade expressa ou tácita dos Estados à fontes positivas. 16 Fontes Fundamental, racional ou objetivo Fonte real (verdadeira) Princípios gerais do direito Formal e positivo Fonte formal ou positiva (dão forma positiva ao direito objetivo) Regras aceitas e sancionadas pelo poder público Costumes e tratados 17 Toda relação jurídica deve ser concebida sob os seguintes aspectos Âmbito internacional (de acordo com art. 38 do CIJ) Fontes Primárias à Tratados, costumes e princípios gerais de direito Meios auxiliares à decisões judiciarias, doutrina dos publicistas Corte Internacional de Justiça ¡ Artigo 38 ¡ 1. A Corte, cuja função seja decidir conforme o direito internacional as controvérsias que sejam submetidas, deverá aplicar; ¡ 2. As convenções internacionais, sejam gerais ou particulares, que estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes; ¡ 3. o costume internacional como prova de uma prática geralmente aceita como direito; ¡ 4. os princípios gerais do direito reconhecidos pelas nações civilizadas; ¡ 5. as decisões judiciais e as doutrinas dos publicitários de maior competência das diversas nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de direito, sem prejuízo do disposto no Artigo 59. ¡ 6. Apresente disposição não restringe a faculdade da Corte para decidir um litígio ex aequo et bono, se convier às partes. ¡ * ex aequo et bono à equidade ( meio supletivo que visa ao preenchimento de lacunas do direito positivo) – deve ser aceito pelas partes. 18 Classificação das fontes Mazzuoli Fontes Materiais Formais Política do Direito Ciência do Direito Exame do conjunto de fatores sociológicos, econômicos, ecológicos, psicológicos e culturais que condiciona a decisão do poder no ato de edição e formalização das diversas fontes do Direito Leis devidamente elaboradas por processo legislativo, o costume, analogia, equidade, os princípios gerais do direito, jurisprudência Métodos de criação das normas jurídicas, com efeito vinculante aos atores que se destinam Formas- que o direito positivo vai atuar e impor, disciplinando as relações jurídicas. Determinam o conteúdo (matéria) Emanam de autoridade Primárias Secundárias Constituição Lei, costumes, princípios gerais do direito, doutrina 19 20 Quadros do livro de Paulo Henrique Gonçalves Portela – Direito Internacional Público. Ed. Jus Podium. p. 73) 2.1 Tratados ¡ A principal e mais concreta fonte do Direito Internacional Público; ¡ Consubstanciam na vontade livre e conjugada dos Estados e Organizações Internacionais; ¡ Elaborados democraticamente pelos próprios sujeitos participantes; 21 ¡ Os tratados internacionais são superiores às leis internas: eles revogam as normas domésticas anteriores que lhes sejam contrárias e devem ser observados pelas que lhes sobrevenham. Todas as leis posteriores – diz claramente Accioly – não devem estar em contradição com as regras ou princípios estabelecidos pelos tratados; e finalmente, qualquer lei interna que com eles se relacionem deve ser interpretada, tanto quanto possível, de acordo com o direito convencional anterior. (MAZZUOLI, 2007, p. 87) 22 ¡ Conceitos de atos internacionais de acordo com o Ministério das Relações Exteriores ¡ DENOMINAÇÕES DOS ATOS INTERNACIONAIS ¡ É variada a denominação dada aos atos internacionais, tema que sofreu considerável evolução através dos tempos. Embora a denominação escolhida não influencie o caráter do instrumento, ditada pelo arbítrio das partes, pode-se estabelecer certa diferenciação na prática diplomática, decorrente do conteúdo do ato e não de sua forma. As denominações mais comuns são tratado, acordo, convenção, protocolo e memorando de entendimento. Nesse sentido, pode-se dizer que, qualquer que seja a sua denominação, o ato internacional deve ser formal, com teor definido, por escrito, regido pelo Direito Internacional e que as partes contratantes são necessariamente pessoas jurídicas de Direito Internacional Público. 23 ¡ TRATADO ¡ A expressão Tratado foi escolhida pela Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1969, como termo para designar, genericamente, um acordo internacional. Denomina-se tratado o ato bilateral ou multilateral ao qual se deseja atribuir especial relevância política. Nessa categoria se destacam, por exemplo, os tratados de paz e amizade, o Tratado da Bacia do Prata, o Tratado de Cooperação Amazônica, o Tratado de Assunção, que criou o Mercosul, o Tratado de Proibição Completa dos Testes Nucleares. ¡ CONVENÇÃO ¡ Num nível similar de formalidade, costuma ser empregado o termo Convenção para designar atos multilaterais, oriundos de conferências internacionais e que versem assunto de interesse geral, como por exemplo, as convenções de Viena sobre relações diplomáticas, relações consulares e direito dos tratados; as convenções sobre aviação civil, sobre segurança no mar, sobre questões trabalhistas. É um tipo de instrumento internacional destinado em geral a estabelecer normas para o comportamento dos Estados em uma gama cada vez mais ampla de setores. No entanto, existem algumas, poucas é verdade, Convenções bilaterais, como a Convenção destinada a evitar a dupla tributação e prevenir a evasão fiscal celebrada com a Argentina (1980) e a Convenção sobre Assistência Judiciária Gratuita celebrada com a Bélgica (1955). 24 ¡ ACORDO ¡ O Brasil tem feito amplo uso desse termo em suas negociações bilaterais de natureza política, econômica, comercial, cultural, científica e técnica. Acordo é expressão de uso livre e de alta incidência na prática internacional, embora alguns juristas entendam por acordo os atos internacionais com reduzido número de participantese importância relativa. No entanto, um dos mais notórios e importantes tratados multilaterais foi assim denominado: Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT). ¡ O acordo toma o nome de Ajuste ou Acordo Complementar quando o ato dá execução a outro, anterior, devidamente concluído. Em geral, são colocados ao abrigo de um acordo-quadro ou acordo- básico, dedicados a grandes áreas de cooperação (comércio e finanças, cooperação técnica, científica e tecnológica, cooperação cultural e educacional). Esses acordos criam o arcabouço institucional que orientará a execução da cooperação. ¡ Acordos podem ser firmados, ainda, entre um país e uma organização internacional, a exemplo dos acordos operacionais para a execução de programas de cooperação e os acordos de sede. 25 ¡ AJUSTE OU ACORDO COMPLEMENTAR É o ato que dá execução a outro, anterior, devidamente concluído e em vigor, ou que detalha áreas de entendimento específicas, abrangidas por aquele ato. Por este motivo, são usualmente colocados ao abrigo de um acordo-quadro ou acordo-básico. ¡ PROTOCOLO Protocolo é um termo que tem sido usado nas mais diversas acepções, tanto para acordos bilaterais quanto para multilaterais. Aparece designando acordos menos formais que os tratados, ou acordos complementares ou interpretativos de tratados ou convenções anteriores. É utilizado ainda para designar a ata final de uma conferência internacional. Tem sido usado, na prática diplomática brasileira, muitas vezes sob a forma de "protocolo de intenções", para sinalizar um início de compromisso. ¡ MEMORANDO DE ENTENDIMENTO Designação comum para atos redigidos de forma simplificada, destinados a registrar princípios gerais que orientarão as relações entre as Partes, seja nos planos político, econômico, cultural ou em outros. O memorando de entendimento é semelhante ao acordo, com exceção do articulado, que deve ser substituído por parágrafos numerados com algarismos arábicos. Seu fecho é simplificado. Na medida em que não crie compromissos gravosos para a União, pode normalmente entrar em vigor na data da assinatura. 26 ¡ CONVÊNIO O termo convênio, embora de uso freqüente e tradicional, padece do inconveniente do uso que dele faz o direito interno. Seu uso está relacionado a matérias sobre cooperação multilateral de natureza econômica, comercial, cultural, jurídica, científica e técnica, como o Convênio Internacional do Café; o Convênio de Integração Cinematográfica Ibero-Americana; o Convênio Interamericano sobre Permissão Internacional de Radioamador. Também se denominam "convênios" acertos bilaterais, como o Convênio de Cooperação Educativa, celebrado com a Argentina (1997); o Convênio para a Preservação, Conservação e Fiscalização de Recursos Naturais nas Áreas de Fronteira, celebrado com a Bolívia (1980); o Convênio Complementar de Cooperação Econômica no Campo do Carvão, celebrado com a França (1981). ¡ ACORDO POR TROCA DE NOTAS Emprega-se a troca de notas diplomáticas, em princípio, para assuntos de natureza administrativa, bem como para alterar ou interpretar cláusulas de atos já concluídos. Não obstante, o escopo desse acordos vem sendo ampliado. Seu conteúdo estará sujeito à aprovação do Congresso Nacional sempre que incorrer nos casos previstos pelo Artigo 49, inciso I, da Constituição. Quanto à forma, as notas podem ser: a) idênticas (com pequenos ajustes de redação), com o mesmo teor e data; b) uma primeira nota, de proposta, e outra, de resposta e aceitação, que pode ter a mesma data ou data posterior. 27 ¡ Segundo Mazzuoli, o Direito dos Tratados é o estudo que regula: ¡ a forma como negociam as partes; ¡ quais os órgãos encarregados de tal negociação; ¡ qual o gênero dos textos internacionais produzidos; ¡ a forma de assegurar a autenticidade do texto; ¡ como as partes manifestam o seu consentimos em obrigar-se pelo acordo; ¡ quais os efeitos que tal compromisso produz sobre os pactuantes e sobre terceiros; ¡ a forma de duração, alteração e extinção dos atos internacionais; 28 2.2 Costumes ¡ Normas internacionais de origem consuetudinárias. ¡ estabelecer um corpo de regras universalmente aplicáveis em vários domínios do direito das gentes; ¡ permite a criação de regras gerais que são as regras- fundamento de constituição da sociedade internacional; ¡ Consuetudo est servanda – primeira fonte do direito internacional a partir do Tratado de Westfália; ¡ A positivação dos costumes em norma convencional não o extingue; ¡ Prova de uma prática geral ou a própria prática colocada em movimento; 29 Elemento Material ou Objetivo do Costume ¡ Elementos necessários à formação do costume internacional (Mazzuoli, p. 89-90) ¡ Repetição generalizada, reiterada e uniforme de certos atos praticados pelos sujeitos de direito internacional (exceto os particulares) ante a um quadro fático. Prova de uma prática geral. Multiplicação de “precedentes” costumeiros seguidos pelos atores da sociedade internacional. Norma geralmente aceita tácita ou expressamente pelos Estado ou Organizações Internacionais. Repetição de atos que dá origem ao habito que não necessita ser imemorial ou comissivo, pode ser uma simples abstenção ou um não- fazer perante um quadro de fato. Não se exige a repetição de fatos totalmente idênticos, devendo estar apenas relacionados com uma mesma matéria ou a mesma questão de fato. 30 Elemento Psicológico ou subjetivo do Costume ¡ Para que esses atos sejam praticados reiteradamente e tenham o condão jurídico (não mero hábito) com forma obrigacional, tem que ser dotado de opinio juris. ¡ A opinio juris “consiste na crença prematura dos atores da sociedade internacional de que aquilo que se pratica reiteradamente se estima obrigatório pelo fato de ser justo e pertencente ao universo do direito”. ¡ Conota uma convicção positiva comum aos atores do contexto internacional. 31 ¡ Mazzuoli traz a concepção de Clóvis Beviláqua para o processo de formação dos costumes em quatro momentos distintos: ¡ Primeiro, surge uma relação nova ou ainda não disciplinada entre os Estados; ¡ Esta relação passa a ser regulada segundo os princípios gerais de direito ou de acordo com o sentimento de justiça vigente; ¡ Aplicação de princípios gerais do direito àquela nova situação não disciplinada, que após repercutir satisfatoriamente no ordenamento jurídico internacional e na consciência dos indivíduos, adquire a tendência evolutiva à repetição; ¡ Com o passar do tempo, casos semelhantes se apresentam e o mesmo disciplinamento lhes é aplicado, passando tal prática a ser aceita pela sociedade internacional ou na consciência dos indivíduos, adquirindo a tendência evolutiva à repetição. 32 33 Extensão geográfica do costume Costume Internacional Universal Costume Internacional Particular Atinge todos os Estado dentro da sociedade internacional, independente de terem participado de sua formação ou não. Atinge apenas certos números de Estados. 1 Regional Grupo determinado de Estado numa região. 2 Local Apenas a dois únicos Estados. ¡ Não há diferença hierárquica entre os costumes e os tratados internacionais. (Mazzuoli) ¡ Métodos de solução de conflitos: ¡ critério cronológico – lex posterior derogat priori ¡ critério de especialidade – lex specialis derogat legi generali 34 2.3 Princípios Gerais do Direito ¡ “ São princípios consagrados nos sistemas jurídicos dos Estados nos sistemas jurídicos dos Estados, ainda que não sejam aceitos por todos os sistemas jurídicos estatais, bastando que um numero suficiente de Estados os consagrem.” (Mazzuoli, 2007. 99) ¡ “É uma norma, mas norma geral e importante, que comanda outras. (...) ... Os princípios de direito são as normas essenciais sobre as quais se fundam as normas secundárias de aplicação e de técnica.” (Accioly, 2012, p.179)35 ¡ “É de lamentar que o Estatuto do CIJ não se tenha expurgado a referencia aos princípios “reconhecidos pelas nações civilizadas”, por se t ratar de anacronismo, “pol i t icamente incorreto”, que lembra o período anterior à primeira guerra mundial, quando o direito internacional, de inspiração eurocêntrica, ainda padecia da pretensão da projeção civilizadora, em relação ao resto do mundo. Em outras palavras, não se pode admitir que as leis de qualquer Membros das Nações Unidas sejam inaceitáveis; o ideal teria sido a eliminação pura e simples da frase. De outro modo, poder-se-ia compreender o dispositivo como a expressão de conteúdo mínimo compartilhado, por parte de todos os sistema nacionais, que aceite os imperativos básicos da convivência organizada, como norteadores da conduta dos sujeitos in te r nac iona i s . I s so to r na ace i táve l a formulação.” (Accioly, 2012, p.179) 36 BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul ¡ O que faz o BRICS? ¡ Desde a sua criação, o BRICS tem expandido suas atividades em duas principais vertentes: (i) a coordenação em reuniões e organismos internacionais; e (ii) a construção de uma agenda de cooperação multissetorial entre seus membros. 37 Integração Regional ¡ Mercosul ¡ União das Nações Sul-Americanas ¡ Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos 38 2.4 Atos Unilaterais ¡ O artigo 38 do CIJ não faz menção aos atos unilaterais dos Estados como fonte de direito internacional público. Entretanto, ta i s atos são cons iderados como pertencentes as fontes de direito das gentes. 39 ¡ “Se entende por ato unilateral do Estado uma manifestação de vontade inequívoca deste, formulada com a intenção de produzir efeitos jurídicos nas suas relações com outros Estados ou organizações internacionais, com o conhecimento expresso destes ou destas. Portanto, tais atos unilaterais são aqueles emanados de um único sujeito de Direito Internacional, sem a participação (mas com o conhecimento) de outra contraparte, com a finalidade de produção de efeitos jurídicos (às vezes erga omnes, às vezes inter partes), criando direitos e assumindo obrigações no plano internacional. Em outras palavras, são tais atos “uma clara intenção em aceitar obrigações vis-a- vis de outros Estados por meio de uma declaração pública a qual não se traduz numa proposta contratual nem depende, de outro modo, de compromissos recíprocos assumidos pelos Estados em causa”. (Mazzuoli, 2007. 109) 40 Atos unilaterais ¡ Protesto: ¡ Notificação: ¡ Renúncia:; ¡ Denúncia:; ¡ Reconhecimento: ¡ Promessa: ¡ ruptura das relações diplomáticas 41 Meios Auxiliares e Novas Fontes ¡ De acordo com o §1º do artigo 38 da CIJ termina o elenco de suas alíneas dizendo tratar- se de meios auxiliares para a determinação das regras de direito as decisões judiciárias e a doutrina dos juristas de maior competência das distintas nações. (Mazzuoli, 2007, p.102) ¡ Na verdade, será considerado meios auxiliares, todos que não se classificarem como fontes de direito internacional, tal como a Jurisprudência e e a doutrina. 42 Jurisprudência ¡ A jurisprudência internacional é o conjunto de decisões judiciais reiteradas no mesmo sentido, em questões semelhantes, proferidas por órgãos internacionais jurisdicionais de solução de controvérsias relativas a matéria de Direito Internacional. ¡ A jurisprudência internacional origina-se especialmente de cortes internacionais, que começam a se difundir no cenário internacional, como a Corte Internacional de Justiça (CIJ), o Tribunal Penal Internacional (TPI) e a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). 43 Doutrina dos Publicistas ¡ Livros, teses e pareceres emitidos por especialistas em Direito Internacional Público. ¡ Auxiliam na interpretação das normas internacionais. ¡ “Mas apesar de não ser tecnicamente fonte do Direito Internacional, é inegável que a doutrina tem o mérito “de ser o repos i tór io dos costumes em sua for ma contemporânea” (Mazzuoli, 2007, p.105) 44 2.4.1.3 Analogia e Equidade ¡ Analogia ¡ “Analogia consiste na aplicação, a determinada situação de fato, de uma norma jurídica feita para ser servir a um caso parecido ou semelhante. (Mazzuoli, 2007, p.107) 45 Equidade ¡ do latim aequitate, a equidade é um m é t o d o d e r a c i o c í n i o j u r í d i c o , mecanismo de análise amparado pela combinação da noção de igualdade com a ideia de moderação (a equidade não é norma jurídica). ¡ Equidade não é norma, não é fonte! E q u i d a d e = i g u a l d a d e + proporcionalidade (Prof. Mario Drumond) ¡ A equidade, por sua vez, ocorre nos casos em que a norma jurídica não existe ou nos casos em que ela existe, mas é ineficaz para solucionar coerentemente (com justiça e razoabilidade) o caso concreto sub judice. (Mazzuoli, 2007, p. 107) 46 2.4.1.5 A questão da jus cogens e soft law ¡ O jus cogens internacional. Normas imperativas e inderrogáveis. Se sobrepõem à autonomia da vontade dos Estados e não podem ser derrogadas por tratados, costumes ou princípios gerais do direito internacional. ¡ Autodeterminação dos povos ¡ Proibição da agressão ¡ Proibição ao genocídio ¡ Proibição a escravidão ¡ Proibição a discriminação racial – agressão racial (apartheid) 47 ¡ B) O fenômeno da soft law na atualidade. ¡ soft law sãos normas exaradas pelas entidades internacionais, seja no âmbito de organizações multilaterais, enquanto pessoas jurídicas de direito Internacional Público, tal qual a ONU, seja no de organ izações regu latór ias , não necessariamente ligadas às organizações internacionais de direito público, tal qual a Câmara Internacional do Comércio (CCI), e também as declarações de intenção que o conjunto das nações faz, como resultado dos grandes encontros internacionais. 48 Sujeitos do Direito Internacional ¡ Noção de Sujeito ¡ Pessoas de Direito Internacional à seres ou organismos cuja conduta é regulada pelo Direito Internacional Público e em relação aos quais quaisquer concessões de direitos e imposições de obrigações são por ele determinados. (Accioly, 1998. p. 99) 49 Noção de Personalidade Jurídica ¡ Capacidade para agir internacionalmente. ¡ P.S. Não precisa ter participado de elaboração de normas jurídicas internacionais para poder ter capacidade de agir. ¡ Até a II Guerra Mundial –os Estado (especialmente os europeus) eram sujeitos do Direito Internacional ¡ Após a II Guerra Mundial – Estados, mais outros atores da sociedade internacional 50 Classificação dos Sujeitos ¡ I) Estados ¡ Sujeitos clássicos (originários ou tradicionais) do Direito Internacional Público, possuem direitos e obrigações, podendo ser responsabilizados em casos de violação aos comandos do Direito Internacional. ¡ “ O Estado é a organização jurídica-politica da Nação, e que lhe dá validade e legitimação para atuar, no plano externo, como sujeito de Direito Internacional Público.” (Mazzuoli, 2007. p. 333) 51 ¡ II) Coletividades Interestaduais ¡ São formadas pelas chamadas Organizações Internacionais. São produto da associação de dois ou mais Estados estabelecidas num Tratado Internacional para gerir as finalidades para as quais foram criadas. 52 ¡ III) Coletividades não-estatais ¡ Os mais importantes dentre as coletividades não-estatais são: ¡ i) Beligerantes; ¡ Ocorre quando, num Estado, há um grupo/ movimento armado politicamente organizado, para fins de desmembramento ou de mudança de governo ou regime vigente, constituindo- se em guerra civil. ¡ Característica principal: luta armada em violação a ordem jurídica vigente no Estado com a finalidade de mudança do sistema politico. 53 ¡ ii) Insurgentes; ¡ Confl i tos internos com a f inal idade de modificação do sistemapolitico vigente e restruturação da ordem constitucional em vigor. Muito semelhante a situação da beligerância, entretanto, não assume tão grandes proporções, não chegando a constituir uma guerra civil. ¡ A insurgência pode ter motivos sociais – como o racismo. ¡ O reconhecimento de insurgentes não lhe atribui direitos e deveres internacionais, depende da m a n i f e s t a ç ã o f o r m a l d o E s t a d o . N a beligerância, basta o reconhecimento para ser atr ibuído direitos e deveres no âmbito internacional. 54 ¡ iii) Os movimentos de libertação nacional; ¡ Começaram aparecer a partir da metade do século XX com a descolonização de vários países da África, Ásia, Oceania e da região do Caribe. ¡ A diferença dos demais sujeitos internacionais coletivos não-estatais é que a população que o integra não faz parte do governo contra a qual estão lutando. ¡ Exemplo, Organização para a Libertação da Palestina (OLP) que celebra tratados de diversas índoles e diversos países, mantendo escritório e representações perante a ONU, UNESCO/ e a FAO. 55 iv) A Soberana Ordem Militar de Malta ¡ A Ordem de Malta cujo nome completo é Ordem Soberana Militar Hospitalar de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta - foi estabelecida na metade do século XI como uma comunidade monástica dedicada a São João Batista, com a finalidade de administrar um hospital para assistência aos peregrinos na Jerusalém ainda sob o domínio dos califas do Egito. ¡ Controvertido a respeito do reconhecimento ou não des sa en t idade como su je i to de d i re i to internacional, os que não reconhecem alegam que há somente “pseudos-relações diplomáticas fundadas na pura courtoisie, inclusive por funcionar sob dependência da Santa Sé. 56 IV) A Santa Sé e o Estado da Cidade do Vaticano; ¡ A Santa Sé e o Estado do Vaticano é o menor de todos Estados em extensão territorial. Te origem histórica a chamada questão romana, surgida em 1870 com a anexação de Roma ao reino da Itália sob a dinastia da Casa de Savoia. O Papa é a um só tempo, chefe de Estado (do Vaticano) e chefe da Igreja Católica (Santa Sé) foi regulado por dois documentos internacionais: Tratado de Latrão. 57 V) Comitê Internacional da Cruz Vermelha; ¡ O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) com sede em Genebra, é uma organização independente e neutra (dotada de estatuto próprio) que tem por finalidade proporcionar proteção e assistência à vitimas da guerra e da violência armada. Instituição responsável pela implementação da ação internacional humanitaristas. 58 VI) Indivíduos ou particulares ¡ O s i n d i v í d u o s c o m p õ e m o c o n c e i t o contemporâneo de Direito Internacional Público, ao lado dos Estados e das organizações internacionais intergovernamentais. Tal inclusão se deu em razão do desenvolvimento e solidificação do Direito Internacional dos Direitos Humanos. 59 ¡ Indivíduos tem direitos e obrigações internacionais. Podem ser punidos no plano internacional, como é o caso de crimes de guerra e genocídios. Tribunal de Nuremberg foi um exemplo, através do Acordo de Londres, que estabeleceu no art. 6º do E s ta tu to do Tr ibuna l t rê s categorias de crimes, ensejadores de responsabilidade individual: ¡ Crimes contra a paz: ¡ Crimes contra a guerra; ¡ Crimes contra a humanidade; 60 ¡ Estatuto de Roma internalizado no Brasil através do Decreto nº. 4. 388 de 2002 que instituiu o Tribunal Penal Internacional que no seu artigo 7º estabelece os crimes de sua competência para julgamento: ¡ O crime de genocídio; ¡ Crimes contra a humanidade; ¡ Crimes de guerra; ¡ O crime de agressão. ¡ Art. 25 do Decreto define a responsabilidade criminal individual 61 ¡ VII) Sujeitos não formais do Direito Internacional ¡ A maioria dos autores entende que esses sujeitos a i n d a s e e n c o n t r a m e m e s t a g i o d e desenvolvimento quanto ao reconhecimento de ser sujeito de direito internacional ou não, são eles: ¡ Empresas Transnacionais: empresas que tem representações ou filiais em vários países, ainda que seu capital provenha de um único Estado ou de uma única pessoa. ¡ Multinacionais: empresas cujo capital provém de mais de um Estado, podendo ser bilaterais ou multilaterais; ¡ Mídia Global: 62
Compartilhar