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Desenvolvimento Cognitivo – Jean Piaget Desenvolvimento Humano 1 Ana Paula Chaves Desenvolvimento Cognitivo O desenvolvimento cognitivo é um processo amplo que inclui mudanças em diferentes esferas do desenvolvimento. Cognição é o processo que nos permite conhecer mundo e suas propriedades, isso é possível porque utilizamos diversas habilidades cognitivas - a atenção, percepção, aprendizagem, memória, linguagem, pensamento, etc. O desenvolvimento cognitivo é marcado por mudanças nas capacidades mentais da criança, do jovem e do adulto. Jean Piaget (1896-1980) Piaget propôs uma teoria de grande generalidade que procura explicar a gênese e o desenvolvimento dos processos de obtenção de conhecimento (Epistemologia genética). Segundo Piaget, a criança o constrói o conhecimento na sua interação com o objeto (seu corpo e o mundo ao redor). Desde o nascimento, há na criança processos internos que possibilitam a aprendizagem, mas que resultam em desenvolvimento a partir da experiência sobre o meio e das condições que o meio lhe oferece. Isso implica em pensar num sujeito ativo que constrói seu conhecimento a partir da sua ação. Estágios do Desenvolvimento Cognitivo Para Piaget, o desenvolvimento cognitivo ocorre por períodos sucessivos que têm uma sequência invariável e constante. Os períodos de desenvolvimento cognitivo são: sensório-motor (0-2 anos), pré-operatório (2-7 anos), operatório concreto (7-12 anos) e operatório formal (12 anos em diante), cada um deles caracterizado por estruturas cognitivas específicas. Estágio Sensório-Motor (0 a 2) Desenvolvimento da organização de ações sensório-motoras. Esta organização é inteiramente prática, pois abrange ajustamentos perceptivos e motores simples às coisas. Há seis estágios principais neste período. Estágio 1 (0 a 1 mês) O Uso dos Reflexos - O repertório de comportamentos do bebê é limitado basicamente de atividades reflexas. Os reflexos simples do recém-nascido passam por modificações em consequência do contato com o meio ambiente. Os invariantes funcionais - a organização e a adaptação (assimilação e acomodação) - serão o mecanismo central que permitirá a construção das estruturas cognitivas. Estágio 2 (1 a 4 meses) As Primeiras Adaptações Adquiridas: As primeiras estruturas construídas são os esquemas de ação sensório-motoras. A sucção, por exemplo, inicialmente é reflexa e em seguida passa a se dar por um mecanismo de esquema de sugar, um ato de sugar que foi transformado por processos adaptativos de assimilação do objeto, do conhecimento ao sujeito e por acomodação das estruturas do sujeito ao objeto. Reação Circular Primária: se refere a uma série de repetições (ou uma repetição) de uma resposta sensório-motora ainda voltada para a exploração e o conhecimento do próprio corpo. Estágio 3 (4 a 8 meses) A Reação Circular Secundária: a criança se interessa pelas conseqüências ambientais de suas ações (balança objetos, joga, bate, se interessa por sons e imagens que suas ações produzem nos objetos). Consiste em tentativas de manter, através da repetição, uma mudança ambiental interessante que sua própria ação produziu acidentalmente. Estágio 4 (8 a 12 meses) Coordenação de Esquemas Secundários e sua Aplicação a Situações Novas: As reações circulares começam a se coordenar e formar novas totalidades de comportamento. No estágio 4 dois ou mais esquemas intercoordenam-se e formam uma nova totalidade, há um enriquecimento das formas de exploração e conhecimento do mundo. Estágio 5 (12 a 18 meses) A Reação Circular Terciária: A reação circular terciária consiste na descoberta de novos meios através da experimentação ativa. Enquanto na reação circular secundária, a criança percebia uma conexão vaga entre o comportamento e seu resultado e tentava reproduzir o resultado, ativando repetidamente e de forma mecânica o esquema de comportamento, na terciária, por sua vez, ocorre a repetição com variações. A criança explora as potencialidades do objeto, variando a ação para verificar como isto afeta o objeto. A essência da reação circular terciária é a busca do novo. Estágio 6 (18 aos 24 meses) Invenção de Novos Meios Através de Combinações/Representações Mentais – Se a criança neste estágio deseja alcançar um objetivo mas não encontra nenhum esquema habitual que possa lhe servir como meio, ao invés de fazer uma série de explorações sensório-motoras explícitas e visíveis, a criança inventa uma solução através de um processo encoberto, que corresponde a experimentação interna, a uma exploração interior de formas e de meios. Desenvolve a capacidade de representar os acontecimentos ausentes no campo perceptual através de imagens simbólicas que lhe permite algumas manipulações internas da realidade. Neste momento estão construídas estruturas simbólicas que permitem à criança entrar em contato com o mundo de uma forma diferente. A função simbólica está presente e a criança é capaz de brincar de faz-de-conta, de usar a linguagem e desenhar. Transição O estágio 6 marca a transição entre os períodos Sensório-motor e o Pré-operacional. Durante esta fase, a criança deixa de ter apenas ações sensório-motoras e passa a poder fazer manipulações internas e simbólicas da realidade (passado, presente e futuro). A inteligência sensório-motora, sendo uma inteligência da ação, restringe-se à busca de objetivos concretos de ação. Já o pensamento representativo pode refletir sobre a própria organização dos seus atos. Abre a possibilidade de ser auto-contemplativo e não simplesmente ativo. Pré-Operatório (2 a 7 anos) Egocentrismo: dificuldade de assumir o papel de outra pessoa, ou seja, de considerar seu próprio ponto de vista como um entre muitos outros e de tentar coordená-lo com estes outros pontos de vista. O egocentrismo da criança pequena a leva a entender que todos pensam da mesma forma que ela e que o mundo inteiro compartilha de seus sentimentos e desejos. Este tipo de pensamento leva à onipotência mágica. O mundo é criado para a criança, ela pode controlá-lo. Este tipo de pensamento é animista (tendência a atribuir vida a elementos da natureza e objetos), realista (tendência a atribuir existência real a acontecimentos que não são concretos) e artificialista (tendência a atribuir ao Homem a responsabilidade pela criação dos fenômenos da natureza). Operatório-Concreto (7 a 12 anos) Raciocínio lógico: pensamento menos autocentrado e menos fantasioso com propriedades do pensamento matemático. A criança deixa de perceber a realidade a partir de si própria e se relaciona com o mundo físico e social de modo mais consistente. Noções de conservação: a compreensão de que certas propriedades (número, quantidade, etc) não variam, são conservadas em face de certas transformações. É capaz de formar classes com mais propriedade, capaz de ordenar elementos de forma lógica, por tamanho, por exemplo. Operatório Formal (12 anos em diante) O pensamento formal/abstrato se caracteriza pela possibilidade de pensar sobre elementos puramente formais, sobre proposições que não tenham necessariamente nenhum tipo de vinculação com a realidade. Este tipo de pensamento se complexifica e se enriquece ao longo do processo de desenvolvimento na adolescência e vida adulta. O desenvolvimento atinge seu ponto mais alto em termos qualitativos quando o sujeito passa a operar formalmente (críticas, hipóteses, p. e.).