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JOSÉ MARIA ALVES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DEUS, ALMA E MORTE 
NA 
HISTÓRIA DO PENSAMENTO 
OCIDENTAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
JOSÉ MARIA ALVES 
WWW.HOMEOESP .ORG 
 
 1
 
 
 
 
 
 
 
PREFÁCIO 
 
 
 
 Deus, alma e morte, são questões inquietantes, talvez mais do que 
inquietantes, angustiantes. Através dos tempos, múltiplas e contraditórias 
têm sido as respostas dos filósofos e teólogos. Deparamo-nos com um 
emaranhado de soluções, muitas vezes conturbadas, como consequência da 
estrutura da mente que as gerou. 
 Estes textos, não são uma História Temática da Filosofia, mas antes 
um acúmulo de apontamentos, e como tal devem ser lidos. Desfilam neles, 
cerca de 140 filósofos. Nem todos os que deveriam constar da obra nela 
figuram, e mesmo os que dela constam, talvez não tenham o seu 
pensamento devidamente exposto. 
 Estes textos constituem-se como uma provocação ao filosofar e 
instigação à reflexão dos que julgam aquele acto travestido de esoterismo. 
Por outro lado, são dedicados a S. Tomás de Aquino, não do modo que 
esperais que sejam, mas do modo como o devem ser. 
 
 
 
José Maria Alves 
 
OUTUBRO DE 2008 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 2
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
 
 
 
 3
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 – FILOSOFIA 
 
 
 
A filosofia Ocidental teve o seu início na Grécia, no século VI a.C. 
Segundo uma tradição referida por Plutarco e por Cícero, teria sido 
Pitágoras o primeiro a utilizar as palavras filosofia e filósofo, num 
entendimento de que a expressão “sábio”, apenas aos deuses convém, 
devendo os mortais limitar-se por via das suas limitações, a uma aspiração 
à sabedoria. Pitágoras, distinguiu na vida três espécies de homens, 
exactamente como nos jogos olímpicos. A classe inferior é a dos que aí se 
deslocam com o intuito de comprar e vender; a seguinte, a dos 
competidores; e, acima de todos estes, os que simplesmente vêem. Estes 
são os filósofos, que actuam desinteressadamente, única e exclusivamente 
por amor à sabedoria. 
Mas, talvez mais do que com Pitágoras, foi Sócrates e na sequência 
deste, Platão, que definiram com algum rigor a palavra filosofia, entendida 
como amor da sabedoria, o que pressupõe o seu desejo, que é o desejo de 
conhecer, na medida do possível, tudo o que é passível de conhecimento. 
Este conhecimento subsiste na constatação da ignorância, que é uma 
qualidade da imperfeição do ser humano, o que impõe a pesquisa prévia da 
nossa natureza. Daí decorre a afirmação do imperativo délfico “Conhece-te 
a ti mesmo”. 
Os gregos esperavam da filosofia mais do que os filósofos modernos. 
Esperavam a modificação das suas vidas. O homem vive num estado 
intermédio entre a total ignorância e a posse plena da sabedoria. Platão vem 
 4
a determinar no Fédon, que o filósofo por meio da sua especulação, 
promove a purificação da alma e prepara-se convenientemente para a 
libertação final, que mais não é do que a morte. 
 
Não é ciência nem teologia. A ciência é uma circunstância do 
conhecimento que abarca um conjunto de aquisições de índole intelectual, 
que têm por finalidade propor uma explicação racional e objectiva da 
realidade, essencialmente com recurso à verificação experimental. Por seu 
turno, a teologia dogmática, revelada, restringe-se aos dogmas, à tradição e 
à revelação, estribando-se nos textos sagrados. Deparamo-nos ainda, com 
uma teologia natural, racional ou filosófica, que investiga o que a Deus 
respeita, ancorando-se na razão. Esta é a ciência de Deus, que tem por 
fundamento a razão e não a revelação – atente-se que foi durante o longo 
período qualificado na História da Filosofia como da Filosofia Cristã, que 
foi realizada a distinção entre teologia natural e teologia revelada. Ora, 
contrariamente à revelada, a teologia natural, é no nosso entender, a parte 
da metafísica que investiga a existência e a essência de Deus – o Ser 
Absoluto e Infinito –, objecto da filosofia primeira desde Aristóteles. 
Mas, se não é ciência nem teologia, qual o lugar que ocupa no 
mundo do conhecimento? 
As questões filosóficas mais inquietantes, não tiveram, não têm, e 
provavelmente nunca terão uma resposta satisfatória. Não pertencem ao 
domínio da ciência. Algumas são comuns à teologia, quer dogmática quer 
natural. No entanto, a primeira não se identifica minimamente com a 
filosofia, porquanto se atém à revelação, violentando a liberdade de 
pesquisa. A segunda, é em essência metafísica, como já deixámos 
assinalado, cujo estudo incide sobre um dos problemas fundamentais: 
Deus. Assim, consideramos que a filosofia toma assento num campo 
neutro, donde não vislumbramos a ciência com o seu conhecimento 
definido, e nos afastamos com celeridade da teologia com os seus 
dogmatismos obnubiladores. 
Num campo neutral, não há certezas, verdades. As questões 
filosóficas têm respostas múltiplas, condicionadas pelo homem que as 
postula, em função dos seus condicionamentos e da sua mundividência. 
Quando postulamos uma qualquer doutrina ou teoria – v.g. a realidade é 
Deus, todo o resto é ilusão; só a matéria existe nas suas múltiplas 
combinações; o conhecimento advém dos sentidos; ou advém dos sentidos 
e da razão; ou de ambos e da “intuição” – ponderando todos os 
argumentos disponíveis, e com a necessária abertura de espírito a fazemos 
nossa, estamos a filosofar. O mesmo não se poderá dizer dos que admitem 
uma qualquer realidade ou crença, por força da autoridade de outrem, da 
revelação manifestada em livros a que chamamos sagrados ou porque nos 
 5
queremos simplesmente adequar à multidão. As questões mais apetecidas 
são em regra as insolúveis ou praticamente incognoscíveis. 
A filosofia, sendo a ciência das perguntas sem resposta – pelo menos 
nos domínios que mais nos apoquentam –, terá alguma utilidade? 
Valerá então a pena, tanto e tão inglório esforço? 
A inexistência de respostas concludentes e apaziguadoras de uma 
curiosidade que a maior parte das vezes não é pacífica, mas antes ansiedade 
patológica, transportar-nos-á no sinuoso trilho da felicidade? Irá conceder-
nos tal benção, a almejada segurança, a sensação de permanência pela qual 
tanto ansiamos e nos desespera em infundada e infrutífera busca? 
Seja como for, a inutilidade da filosofia, o seu fracasso, só poderá 
relevar ao ser constatado pela análise crítica do próprio filosofar. Quando 
percepcionamos a incerteza a que nos conduz a razão, quando penetramos 
nas profundezas do nosso ser convictos de que qualquer esforço 
indagatório apenas pode causar maior confusão nos nossos limitados 
cérebros, nessa quietude, que já não sabe o que é a impermanência e o 
desejo absurdo de encarar a verdade face a face, talvez algo surja, que não 
é filosofia, teologia, ciência, mas antes harmonia e paz, uma paz que é 
negada aos inquietos e aos arquitectos de ilusões. 
 
A filosofia, à primeira vista, parece ter triunfado sobre os males do 
passado. Também julgamos que triunfará sobre os do futuro. Pena é, que 
nada consiga transformar no presente, e seja sinónimo de inutilidade 
prática. 
 
 
 
2 – A METAFÍSICA E OS SEUS PROBLEMAS 
 
 
 
A palavra metafísica, surge no século I a.C. com Andrónico de 
Rodes, que ao classificar os escritos de Aristóteles, designou com tal 
denominação os textos que se seguiam à Física. Em termos meramente 
literais, metafísica, é o que vem depois da física, o que está para além dela. 
A metafísica faz uso da razão e não da revelação religiosa como 
ocorre com a teologia revelada, para atingir respostas a questões cujo 
objecto são realidades imateriais, tais como Deus, a alma, a morte e seu 
significado. A metafísica começa onde todas as outras ciências terminam. 
 
Na perspectiva de algunspensadores, nomeadamente Kant, a 
incognoscibilidade de tais inquietações conduz fatalmente a uma ilusão 
transcendental – este é um dos seus sentidos críticos. Não obstante, mesmo 
 6
que o seu decesso já tenha sido anunciado um sem número de vezes, 
assistimos ao seu renascimento renovado. Efectivamente, com este filósofo 
da modernidade – tornado famoso entre outros, pela sua Crítica da Razão 
Pura –, a metafísica parece ultrapassada. Mas, se por um lado a parece 
derrotar pela Crítica, tem a convicção de que não se extinguirá, pelo 
menos, como uma disposição profunda da natureza humana. Neste sentido 
são esclarecedoras as palavras quase proféticas, com que termina a dita 
Crítica da Razão Pura: “podemos estar certos de que voltaremos sempre à 
metafísica como a uma amada com a qual por vezes discutimos; e isto, 
porque a razão, uma vez que se trata de fins essenciais, tem de trabalhar 
sem descanso ou na aquisição de um saber sólido ou na destruição dos bons 
conhecimentos já adquiridos.” 
 
Quer queiramos quer não, a busca da permanência é algo que está 
profundamente enraizado no homem, enquanto e desde que o é, sendo uma 
das motivações fundamentais que o conduziram à filosofia. Deus e a 
imortalidade são as duas pedras angulares do instinto de segurança do 
homem. 
No entanto, como refere James Jeans, antes de falarem, os filósofos 
devem pedir à ciência auxílio no que toca à eventual verificação de factos e 
hipóteses provisórias, só então, podendo a sua análise e discussão 
transcorrer legitimamente para o domínio da filosofia. 
É interessante realçar, que quer Descartes quer Leibniz, que podem 
legitimamente considerar-se como dois dos principais alicerces da ciência, 
foram eminentes metafísicos. 
 
Quando crianças e na adolescência nos começamos a questionar 
sobre questões insolúveis ou para as quais apenas recebemos respostas 
insatisfatórias, somos desde logo metafísicos: Onde está o avô que morreu, 
está no céu? Quem é Deus? Quem fez Deus? Porque é que eu nasci? 
Porque tenho de morrer? 
As questões metafísicas são questões sem resposta, mas mesmo 
assim, enquanto existirem homens estou certo de que não deixarão de ser 
formuladas. A sua inoperância é manifestamente suplantada pela angústia 
que decorre de uma inquietude essencial. 
 
O homem, na eminência da sua extinção, sofre – a menos que, 
considerando o absurdo da sua existência tenha optado pelo suicídio. Na 
constatação de que morre sozinho – Pascal –, busca ardentemente um 
alívio, que é antes do mais, uma esperança, caso não se resigne à fatalidade 
do decesso. 
 
 7
Deus é o resultado de um julgamento espontâneo da razão – S. 
Tomás –, uma ideia inata – Descartes –, uma pura intuição intelectual – 
Malebranche –, a ideia resultante do poder unificador da razão humana – 
Kant –, um fantasma da imaginação – Huxley – ou o fracasso de um sem 
número de seres pensantes atormentados por uma angústia existencial? 
O problema de Deus, da alma, do sentido da vida e da morte e suas 
implicações espirituais, não é susceptível de análise científica, não são 
factos empiricamente observáveis. A ciência reduz-se à explicação dos 
fenómenos, não às suas razões existenciais, aos porquês. 
Mesmo que possamos conhecer a sua existência, não o 
compreendemos, nem compreenderemos – desconhecemos a sua essência. 
 
A grande questão metafísica, segundo Leibniz, e na sequência deste, 
de Heidegger, é a de saber porque existe alguma coisa em vez de nada. É a 
grande questão da filosofia. 
Existindo, o homem é um “ser-para-a-sua-morte”. Atormenta-nos a 
ideia que desde o momento do nosso nascimento começamos 
imediatamente a morrer, e morremos sozinhos. Conseguimos imaginar o 
nosso próprio nada? Ou algo de carácter imperativo, nascido nos confins da 
nossa mente, vem assegurar-nos a existência de uma alma imortal que um 
Deus criador receberá no seu seio após o nosso decesso? 
Mas, se não conseguimos definir a vida, encontrar o seu sentido – se 
é que algum sentido tem –, como poderemos compreender a morte? Por 
outro lado, mesmo que ateste a minha existência, a minha essência e 
liberdade, estarei em condições de responder à questão: porque existe o ser 
em vez do não-ser, do nada? 
 
Aristóteles considera que “ou se deve filosofar ou não se deve: mas 
para decidir não filosofar é ainda e sempre necessário filosofar; assim, em 
qualquer caso é necessário filosofar”, mesmo com o risco da metafísica ser 
remetida para o vidrão de reciclagem do conhecimento: “Há metafísica 
bastante em não pensar em nada”. 
 
Onde finda a metafísica, inicia-se a teologia, com as suas revelações, 
mediações e dogmas. 
Se Pascal renunciou à filosofia em detrimento da religião, outros 
abandonaram-na em detrimento daquela, na esperança de que a razão 
solucionasse as suas mais profundas inquietações. 
As religiões respondem na prática a todas as questões metafísicas. 
Mas, se a razão é absolutamente falível pelas suas naturais limitações, que 
dizer da fé que não é uma afeição racionalizada, mas antes um sentimento? 
Não serão os pensamentos dos homens meras brincadeiras de 
crianças, como afirmou Heraclito? 
 8
 
 
 
3 - FILOSOFIA ANTIGA 
 
 
 
Quase todas as hipóteses e questões da filosofia moderna foram 
pensadas pelos gregos. 
 
Os PRÉ-SOCRÁTICOS são audazes e espontâneos. Com eles, o 
pensamento organiza-se e pressagia-se uma nova era na história da 
humanidade. Procuraram explicar o mundo utilizando um método que 
qualificaremos ainda que com alguma imprecisão científico, por oposição à 
explicação mítica da realidade. Daí a sua imensa importância no panorama 
do pensamento. 
Conhecemos os seus pensamentos, quer por fragmentos das suas 
obras – alguns recolhidos e transcritos por autores que lhes aditaram 
indevidamente interpretações meramente pessoais – quer 
fundamentalmente pelos escritos de filósofos posteriores, que vão de Platão 
– século IV a.C. – e Aristóteles, a Simplício – século VI d.C. –, realçando-
se para além dos citados, Teofrasto, Plutarco, Sexto Empírico, Clemente de 
Alexandria, Hipólito e Diógenes Laércio – historiador da filosofia grega, 
viveu no século III d.C., e escreveu “Vida, Doutrinas e Sentenças dos 
Filósofos Ilustres”. Atente-se, que da filosofia grega, apenas Platão, 
Aristóteles e Plotino têm as suas obras preservadas quase que 
integralmente. 
 
No período anterior a Sócrates, a palavra Deus não tem uma 
conotação religiosa idêntica à dos períodos subsequentes – deus como 
objecto de culto. Os filósofos pré-socráticos poderiam ter desenvolvido a 
teologia natural, até aos seus fins últimos, mas como ensina Étienne Gilson, 
não o fizeram porque não queriam perder os seus deuses. 
Nas tradições religiosas em que abundam muitos deuses, cada ente 
divinizado representa uma energia positiva ou negativa, criativa ou 
destrutiva. Os deuses gregos são dinâmicos, verdadeiras entidades viventes, 
tal como o homem. No entanto, não são atingidos pela morte – por isso, 
também eram denominados Imortais – e influenciam o destino dos mortais, 
dependendo estes da sua graça ou da sua desestima. Mas, com o 
nascimento da filosofia, o homem religioso que também é filósofo, haveria 
de considerar que a causa primeira, ou se quisermos “princípio”, é a 
explicação válida para a existência do todo, ou seja, do que existiu, do que 
existe e do que existirá no porvir. Como bem anota Hobbes – Da Natureza 
 9
Humana –, “O Ser que existe com o poder de produzir, se não fosse eterno, 
deveria ter sido produzido por algum Ser anterior a ele e este por um outro 
Ser que o tivesse precedido. É assim, que remontando de causas em causas, 
chegamos a um poder eterno, ou seja, anterior a tudo, que é o poder de 
todos os poderes e a causa de todas as causas. É isso que todos os homens 
concebem pelo nome de Deus, que encerra eternidade,incompreensibilidade, omnipotência”. 
Tales e os que se lhe seguiram eram filósofos e procuraram o 
primeiro princípio, independentemente da existência de múltiplos deuses, 
que também dominavam o panorama religioso ao tempo de Sócrates, Platão 
e Aristóteles. No Timeu, Platão concede à divindade um carácter politeísta, 
dela participando vários deuses, cada um com funções e domínios 
específicos – o demiurgo é apenas o seu superior hierárquico. 
E quer queiramos quer não, também o nosso mundo está repleto de 
deuses... 
Anote-se, apesar de tudo, que enquanto os filósofos gregos se 
debatiam com a questão dos seus deuses e do seu lugar no mundo, o povo 
judeu já havia encontrado a resposta às suas inquietações: o seu Deus e 
Senhor era único e apresentara-se a Moisés como Javé, “Eu sou o que sou”. 
 
Segundo Simplício, alguns filósofos, nomeadamente Anaximandro, 
Demócrito, Leucipo e no período tardio da filosofia grega, Epicuro, 
imaginaram mundos incontáveis que nasciam e morriam ad infinitum, 
alguns nascendo sempre e outros morrendo. 
 
Muito antes das descobertas científicas iniciadas com Galileu e 
Copérnico, já os gregos expunham hipóteses absolutamente verosímeis: 
Enópides, que viveu no tempo de Anaxágoras, descobriu a obliquidade da 
elíptica; Heraclides do Ponto, nascido em 388 a.C., descobriu que os 
planetas Vénus e Mercúrio giram em torno do Sol e que a Terra gira sobre 
o seu próprio eixo, com uma rotação completa a cada 24 horas; Aristarco 
de Samos, nascido em 310 a.C., afirmou que todos os planetas giram à 
volta do Sol, incluindo a Terra, que tem um movimento de rotação de 24 
horas; Arquimedes afirmou, por seu turno, que quer as estrelas fixas quer 
o Sol não se movem e que a Terra gira em volta deste. A hipótese de 
Aristarco apenas foi defendida na Antiguidade, por Seleuco, que floresceu 
por volta do ano 150 a.C, e tida por errónea até Copérnico – custa-nos a 
acreditar que este a desconhecia. 
 
SÓCRATES, foi mestre de Platão e nas palavras de Cícero trouxe a 
filosofia do céu para a terra. Filosofa sobre o homem e o mundo que com 
ele interage, tendo adoptado a divisa délfica “Conhece-te a ti mesmo”. 
Devemos o conhecimento dos seus ensinamentos a Platão. 
 10
 
É justo afirmar, que quer Platão quer o seu discípulo Aristóteles 
foram os filósofos mais influentes de todo o período filosófico até à idade 
moderna. Talvez Platão, tenha exercido uma maior influência do que o seu 
discípulo Aristóteles, já que a filosofia cristã até ao século XIII foi 
essencialmente platónica. 
 
PLATÃO pensa tudo o que é pensável. Segundo Karl Jaspers – 
Iniciação Filosófica –, “atingiu uma culminância tal, que parece, ninguém 
poder subir mais alto nos domínios do pensamento. É dele que dimanam 
até hoje os mais profundos impulsos para a filosofia”. O mesmo filósofo 
afirma “que o futuro pensador assinala-se pela maneira como compreende 
Platão”. 
Pode dizer-se que foi tão longe quanto possível. Não há nada que lhe 
seja indiferente. Quis que a pesquisa filosófica incidisse sobre “as figuras 
rectas ou circulares, as cores, o bem, o belo e o justo, todo o corpo artificial 
ou natural, o fogo, a água e todas as coisas do mesmo género, toda a 
espécie de seres vivos, a conduta da alma, as acções e as paixões de toda a 
espécie”. 
Para Platão, o Universo foi arquitectado por um demiurgo que teve 
como imagem ou padrão o Bem. 
 
ARISTÓTELES, discípulo de Platão, é indubitavelmente um dos 
fundadores da filosofia ocidental. Os seus ensinamentos tiveram uma fama 
imensa, quase “ditatorial” durante a Idade Média. 
Em Aristóteles o Bem é imutável e o Universo tem uma tendência 
irresistível à sua imitação. 
 
A ESCOLA PERIPATÉTICA nada trouxe de inovador aos 
ensinamentos do mestre Aristóteles. Destacam-se Teofrasto, que defendeu 
a teoria aristotélica da eternidade do mundo e Estratão, que não se socorre 
da divindade para explicar a criação do mundo. 
 
As três grandes escolas pós-aristotélicas, que dominaram o panorama 
filosófico da antiguidade, são: o ESTOICISMO, o EPICURISMO e o 
CEPTICISMO. Evidentemente, que as mencionadas escolas não podem 
estar de acordo quanto aos seus pressupostos teóricos, mas nos fins a 
atingir ao nível prático, denotam uma curiosa concordância: prosseguem 
todas elas a felicidade do homem, que se obtém essencialmente pelo fim da 
inquietude e ausência de desejos e paixões. 
 O estoicismo desbravou o caminho para o cristianismo. 
 
 11
A época clássica da filosofia grega, reconheceu na pesquisa o seu 
valor fundamental. A investigação filosófica alicerça-se na razão, e não na 
tradição e na revelação, como ocorre com a teologia. 
 
Com os filósofos tardios – contando-se entre eles os eclécticos – e o 
seu profundo interesse religioso, muito especialmente com os do 
denominado período romano – Séneca, Epicteto, Marco Aurélio –, quer a 
tradição quer a revelação tomam assento nas especulações, quase que 
pressagiando o aparecimento da filosofia cristã. 
 
A filosofia antiga, termina com a figura ímpar de Plotino. 
 
 
 
4 – FILOSOFIA CRISTÃ 
 
 
 
A história do pensamento ocidental, a partir dos finais da 
Antiguidade, é fortemente influenciada pelo cristianismo. A filosofia cristã 
teve a sua existência iniciada pelos Padres da Igreja – v.g. Orígenes –, 
passando por Santo Agostinho, S. Tomás e outros, até ao Renascimento. O 
primeiro período é dominado por Santo Agostinho e o segundo por São 
Tomás de Aquino, que tal como os seus sucessores adoptou a filosofia 
aristotélica. Curiosamente, diga-se, que entre Boécio – nascido em 480 – e 
Santo Anselmo – nascido em 1033 – decorreram mais de cinco séculos, e 
se algum filósofo se destacou, foi Escoto Erígena. 
O período compreendido entre 600 e 1000, ficou conhecido como 
Idade Obscura. No entanto, na China é a época da dinastia Tang, 
florescente e pródiga fundamentalmente no domínio da poesia. Também a 
civilização islâmica floresceu neste período. 
 
Com a filosofia cristã, estabeleceu-se o princípio de que a verdadeira 
vassalagem do homem é para com Deus, e não para com a autoridade do 
Estado. 
Se a filosofia grega é procura e liberdade, a filosofia cristã começa 
por se ater à revelação. Mas, não se cinge única e exclusivamente à 
“verdade” dogmática, antes procura compreender para a poder realizar, a 
mensagem de Jesus. 
Para atingir os seus objectivos, não deixou de recorrer à filosofia 
grega, em especial à do seu último período, profundamente imbuída de 
conceitos religiosos. O aproveitamento destas doutrinas, ocasionou não em 
poucas especulações, resultados contraditórios ou até absolutamente 
 12
incompatíveis com os dogmas e princípios fundamentais do cristianismo. O 
teólogo Dean Inge, afirma que não é possível separar o platonismo do 
cristianismo, sem que este seja dilacerado, e que São Tomás sofreu maior 
influência de Platão do que de Aristóteles – esta opinião no tocante à 
maior influência de Platão do que de Aristóteles em São Tomás não tem a 
anuência da maior parte dos historiadores da filosofia. Não olvidemos, 
que a influência de Plotino – último dos grandes filósofos da antiguidade e 
fundador do neoplatonismo – na teologia cristã, se dá por intermédio de 
Santo Agostinho. 
 
A pesquisa está limitada na maior parte dos filósofos aos 
ensinamentos e determinações da Igreja. E aqui, ou se sabe para crer ou se 
crê para saber. Vive-se na certeza da existência de Deus, da imortalidade da 
alma, da criação do mundo e da providência divina. 
Na filosofia cristã deparamo-nos com um conceito metafísico 
absorvente: o de Deus, o deus do monoteísmo judaico, que se transforma 
no Deus do monoteísmo cristão. 
 Os Evangelhos são os alicerces de toda a estrutura do pensamento 
desta época. Os judeus ainda aguardam o Messias, enquanto que os cristãos 
já o tiveramna pessoa de Jesus Cristo, que é o Logos da filosofia grega – 
veja-se o Evangelho de João, onde Jesus é identificado com o Logos 
platónico e estóico. 
 
Tenha-se em consideração que o Inferno não é uma crença de origem 
cristã, mas baseia-se em crenças ancestrais. 
 
 
 
A PATRÍSTICA é a filosofia dos Padres da Igreja, que termina em 
meados do século VIII – com João Damasceno e Beda o Venerável. 
Dedica-se essencialmente ao estudo das relações entre filosofia e teologia, 
ao conhecimento da existência de Deus e da sua essência, ao mistério da 
Trindade e á criação do mundo. 
 
A gnose resultou num ataque contra o cristianismo. Mais do que a fé, 
é conhecimento, pesquisa filosófica, condição essencial à salvação. 
Recebeu uma influência determinante das doutrinas dos filósofos gregos. 
É evidente que as teorias gnósticas afrontavam e colocavam em risco 
a harmonia doutrinal do cristianismo. Aí, surgem pensadores cristãos que 
polemizam contra a gnose, vendo-se obrigados a uma elaboração doutrinal 
mais refinada, do que a assumida pelos padres apologetas dos primórdios 
da Patrística. 
 
 13
O século VI sofreu a influência de três grandes homens: Justiniano – 
pelas leis –, S. Bento – pela organização das ordens monásticas – e 
Gregório Magno – pelo incremento do poder papal. 
 
O conhecimento da obra de Santo Agostinho dá-nos um acesso 
seguro à filosofia cristã do primeiro período e a toda a pesquisa que tenha a 
alma por objecto. Para o Santo, Deus é a substância única que tem uma 
existência própria, que existe por si só. Por outro lado, o mundo, tudo o que 
por exclusão não é Deus, e cuja existência deste depende. 
 
 
 
A ESCOLÁSTICA define a especulação filosófica e teológica que 
teve abrigo nas múltiplas escolas eclesiásticas e nas universidades da 
Europa a partir do século IX e até ao Renascimento. Durante este período 
procurou conciliar-se a razão com a fé, com o apoio da filosofia grega – em 
especial a de Aristóteles. 
 
Em São Tomás de Aquino, Deus é o “Ele que é” do monoteísmo 
judaico. É o Ser, uma das questões metafísicas mais obscuras e de difícil 
resposta. O Ser é o acto em função do qual a essência é. Retomando o 
conceito de causa última, sendo assim suprema, Deus é o ente em que 
existência e essência coexistem, o que o leva a afirmar que “todos os seres 
pensantes conhecem implicitamente Deus em toda e qualquer coisa que 
conhecem.” Segundo Étienne Gilson, São Tomás foi tão longe quanto 
possível em metafísica, opinião que não é partilhada por Bertrand Russel. 
 
Depois de S. Tomás, realcemos as figuras de Rogério Bacon – 
representante do experimentalismo científico do século XIII –, Duns Escoto 
e Occam – último grande filósofo da Escolástica –, sem que olvidemos o 
misticismo de Mestre Eckhart. 
 
 
 
5 – RENASCIMENTO 
 
 
 
Surgiu na Itália, na primeira metade do século XIV, um movimento 
denominado Renascimento. Este, é um verdadeiro regresso à cultura grega 
e latina, por oposição ao obscurantismo da Idade Média. 
 
 14
A filosofia grega era pesquisa, liberdade indagatória, busca da 
verdade. A filosofia da Idade Média, estribava-se fundamentalmente na 
verdade revelada, criando fortes amarras à liberdade investigatória 
essencial ao conhecimento filosófico, já por si limitado pelas imperfeições 
da razão. 
 
Com o Renascimento há uma nova concepção do mundo, que não a 
aristotélica. Naturalistas – v.g. Bruno –, platónicos – v.g. Nicolau de Cusa – 
e cientistas – v.g. Copérnico –, são disso um exemplo. Pode afirmar-se que 
o pensamento moderno tem os seus fundamentos ou, se se quiser, o seu 
início neste período. 
 
A inclusão neste ensaio, de Copérnico, Galileu e Kepler, justifica-se 
porquanto, com o primeiro foi definitivamente destruída a cosmologia 
aristotélica, com o segundo a ciência moderna atinge o amadurecimento 
necessário conducente às múltiplas investigações posteriores, e todos, 
foram atacados ou perseguidos, quer por católicos quer por luteranos. 
 
 
 
6 – FILOSOFIA MODERNA 
 
O período moderno é caracterizado pela perda da autoridade da 
Igreja e pelo estabelecimento definitivo da autoridade da ciência. Durante a 
Idade Média, praticamente todos os filósofos eram religiosos. No período 
moderno, os filósofos são leigos, excepcionando-se, em especial, 
Malebranche e Berkeley. Pode dizer-se, que a partir do século XIX, a Igreja 
andou apartada da filosofia. 
 
Inexiste coesão sistemática na filosofia moderna, contrariamente ao 
que aconteceu com a filosofia antiga e com a cristã. 
 
O deus dos filósofos é um conceito não religioso do divino. Pascal – 
Memorial – distingue aquele que não é objecto de fé, ao Deus de Abraão, 
de Isaac e de Jacob. O deus dos filósofos é a causa do que o segue, e é 
antes do mais, causa de si mesmo. 
 
Se Deus criou este mundo, podemos ou não assacar-lhe as múltiplas 
imperfeições dos seres, da responsabilidade do mal? 
A religião de Rosseau é natural: “Creio que o mundo é governado 
por uma vontade poderosa e sábia: vejo-o, ou melhor, sinto-o e isso 
importa-me saber. Mas este mundo será eterno ou criado? Haverá um 
 15
princípio único das coisas? Haverá dois ou vários? E qual é a sua natureza? 
Nada sei e que me importa!” 
 
Kant julga que Deus é indemonstrável. Não é pela razão que Deus 
pode ser atingido, sendo a sua existência um mero investimento moral. Ele 
é uma “pura crença da razão”. 
 
Com as conquistas operadas pela ciência no século XX, os filósofos 
começaram a isolar a fé na existência de Deus, da compreensão do mundo 
natural. Acreditar em Deus, é algo que decorre da interioridade de cada ser 
humano, algo de absolutamente prático. 
 
Não concordamos com Malraux quando afirma que “o século XXI 
será espiritual ou não existirá”, nem integralmente com a asserção de 
Freud, que a religião nada mais exige para se curar do que a “educação para 
a realidade”. 
Deus, a alma, a ressurreição, a reencarnação, são pontos de 
referência da inquietude humana que se compreendem em função de uma 
angústia essencial e do seu melhor aliado: o medo. 
 
Na perspectiva de Étienne Gilson, o problema metafísico de Deus é 
dominado pelo pensamento de Kant e Comte. Relevam ainda, 
sobremaneira, todos os que nos dois últimos séculos “mataram” Deus: 
Charles Darwin, Friedrich Nietzshe e Karl Marx. 
 
Procurámos resumir o pensamento de alguns dos mais importantes 
filósofos modernos, escolhendo como representante da pós-modernidade, 
Bertrand Russel. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 16
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA ANTIGA 
 
 
 17
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HESÍODO 
Aristóteles afirmou que foi Hesíodo o primeiro a procurar um 
princípio das coisas. 
 
A Teogonia terá sido na Grécia o mais antigo escrito da cosmologia 
mítica. É uma obra de carácter mitológico, mas que é uma cosmogonia. 
Hesíodo narra a genealogia dos deuses personificadores de forças 
naturais e o modo como o mundo nasceu do caos – mundo que tem em si a 
ordem. 
É Zeus vitorioso, que garante a ordem e exerce o seu poder sobre 
todas as coisas e seres. 
 
Depois de Hesíodo, conhece-se a cosmologia de Ferecides de Siros – 
ver infra. 
 
“Antes de todas as coisas era o Caos, depois veio a Terra, sólido e 
eterno, 
assento de quanto existe. 
E Eros, o mais belo dos deuses mortais (...). 
Do Caos nasceram Érebo e a escura Noite e, da Noite, se geraram o 
Éter e a Luz do Dia.” 
 Teogonia 
 
 
 18
 
FERECIDES DE SIROS 
Séculos VII – VI a.C. 
 
Ferecides, nasceu por volta de 600 a.C., foi contemporâneo de 
Anaximandro e escreveu um livro onde se pode ler no seu início: 
“Zeus, Cronos e Ctónia são imortais. 
 Ctónia tomou o nome de terra 
Quando Zeus lhe enviou uma oferenda.” 
 
Zeus existiudesde sempre e juntamente com Cronos e Ctónia, é um 
dos principais deuses. 
Zeus, transformado em Eros, que representa o Amor, procede à 
construção do mundo. 
 
 
 
SETE SÁBIOS 
A designação de “Sete Sábios” é meramente simbólica. Apenas 
quatro aparecem em todas as enunciações: Tales, Pítaco, Bias e Sólon. 
Platão fez-lhes acrescer: Cleóbulo, Míson e Quílon. 
 
São-lhes atribuídas sentenças morais. 
 
Uma enumeração geralmente aceite: Cleóbulo de Lindos, Sólon de 
Atenas, Pítaco de Mitilene, Tales de Mileto, Bias de Pirene, Quílon de 
Lacedemónia, e Periandro de Corinto. 
 
 
 
BIAS DE PIRENE 
Um dos Sete Sábios. 
 
São-lhe atribuídas, entre outras, as seguintes sentenças: 
“A maior parte dos homens é desonesta; A maioria é perversa; Vê-te num 
espelho (que equivalerá ao “conhece-te a ti mesmo”); Quanto aos deuses, 
limita as tuas afirmações a dizer que são deuses.” 
 
 
 
 19
 
 
TALES DE MILETO 
VII – VI a.C. 
 
Terá sido Tales quem primeiro recebeu o epíteto de Sábio e quem é 
unanimemente tratado em todos os tratados e histórias da filosofia como o 
primeiro dos filósofos, por ter sido provavelmente o primeiro, a negar a 
tradição mítica e a iniciar o trilho do método científico. 
 
É possível que nada tenha escrito. 
 
O fundador da escola jónica deve ter nascido no ano 624 a.C. e 
falecido em 546 ou 545, e para além de filósofo foi astrónomo, físico e 
matemático. 
Ficou famoso por ter predito um eclipse, que terá ocorrido em 585 
a.C. 
Como refere Aristóteles, na Política (1259,a), era bastas vezes 
censurado pela sua pobreza, que parecia mostrar a inutilidade da filosofia. 
Daí, a famosa história dos aluguer dos lagares de azeite, quando previu 
uma boa colheita de azeitona, demonstrando que se o sábio não enriquece é 
por que o não pretende. 
 
Algumas sentenças morais que lhe são atribuídas por Demétrio de 
Falera: 
“ Evita os adornos exteriores e procura os interiores; Evita a compaixão 
alheia; Evita a desonestidade.” Há ainda quem lhe atribua a máxima, 
“Conhece-te a ti mesmo”, adoptada por Sócrates. 
 
Segundo Cícero, afirmou ser a água a origem de todas as coisas, 
sendo Deus a inteligência criadora, tomando a água por matéria prima. 
Assim, a água para Tales é o primeiro princípio de todas as coisas, talvez a 
substância viva e divina do universo. Unida à água estaria uma força 
vivificante, o que o terá levado a afirmar que “tudo está pleno de Deus”. 
“As aparências sensíveis levaram-no a tal conclusão, porque os seres 
vivos carecem de humidade para se manterem vivos, pois o que seca, 
morre, acontecendo por isso, serem húmidos todos os germes, os quais 
possuem uma seiva.” (Simplício) 
Terá também afirmado que a terra repousa sobre a água (Simplício) e 
o Cosmos é Uno, sendo Deus a inteligência universal e o líquido elementar 
penetrado pela energia divina, que assim o coloca em movimento (Aécio). 
 
 20
 
 
ANAXIMANDRO DE MILETO 
Séc. VI a.C. 
 
Anaximandro, da Escola Jónica, da família de Tales, foi seu 
discípulo e sucessor. Teria 64 anos em 546 a.C. Há quem refira que nasceu 
em 610 a.C., e que faleceu em 547. 
 
Na sequência das investigações físicas encetadas por Tales, 
descobriu o equinócio, o solstício e os quadrantes relativos às horas, 
introduzindo os princípios do relógio de sol. 
 
É o primeiro autor conhecido de escritos filosóficos da Grécia antiga. 
A sua obra, denominada Acerca da Natureza, é extraordinariamente 
interessante na audácia das teses cosmológicas. 
 
Para Anaximandro, a terra tem a forma cilíndrica e é um astro que se 
encontra no centro do nosso mundo – porquanto muitos outros nos 
circundam –, não sendo arrastada para qualquer dos seus lados em virtude 
de se encontrar equidistante. 
 
Tudo deriva de uma substância prima, infinita e eterna – apeiron – 
que contém em si todos os mundos. Essa substância prima, não pode ser 
qualquer um dos elementos conhecidos, porquanto se um o fosse, 
conquistaria e destruiria os restantes. Todas as coisas provêm do apeiron – 
o que não tem limites, o infinito – e todas retornam ao apeiron. Neste 
particular, lembra-nos Einstein, que afirmou a impossibilidade da matéria 
ser criada ou destruída. 
 
“A origem dos seres é o infinito, no qual tudo se gera e tudo se 
dissipa, de onde já ter havido um número inestimável de mundos gerados e 
corruptos pelo retorno à origem. Expôs as causas segundo as quais o 
princípio é o infinito, dizendo que a razão da origem não conhece nenhuma 
carência; mas não esclareceu se esse infinito é o ar, a água, a terra ou outro 
elemento.” (Aécio) 
O infinito é o princípio – ao que os seus predecessores denominavam 
substância única, chamou princípio – que tudo abarca. Os seus atributos 
concedem-lhe o estatuto de divindade: indestrutível e por conseguinte, 
imortal. Se infinito, é ilimitado e, este, é eterno. Ilimitado, indestrutível, 
eterno, é matéria, mas matéria em que os mais variados elementos estão 
ainda indiferenciados. Princípio infinito e indefinido. 
 
 21
Pelo processo de separação decorrente do movimento incessante da 
matéria infinita geram-se mundos finitos – não há nada que o infinito não 
comporte – que se sucedem ininterruptamente. Não podemos dizer que 
Anaximandro previu, não a criação dos mundos, mas antes a sua evolução. 
O próprio homem provém de espécies diversas da nossa. 
 
 
 
ANAXÍMENES DE MILETO 
Séc. VII – VI a.C. 
 
Anaxímenes, da Escola Jónica, nasceu por volta do ano 550 a.C. e 
faleceu em 480. Foi discípulo de Anaximandro, e considerou constituir o ar 
o primeiro princípio, sendo manifestamente superior aos corpos simples. 
O ar encontra-se em incessante movimento, sendo um princípio 
infinito – veja-se Anaximandro, que postulou as mesmas características 
para a substância primeira, sem que no entanto a identificasse com 
qualquer elemento específico. É uma força vivificante que produz a 
ordenação do mundo e do que o envolve. É o princípio de que tudo deriva. 
 
Contrariamente ao seu mestre Anaximandro, reconheceu ser o ar a 
única substância infinita. Este elemento, difere nas substâncias em virtude 
da dilatação e da condensação: quando subtil é fogo, quando condensado, 
vento, nuvem, água, terra e rocha (Simplício). 
 
O ar é divino. É do ar que tudo deriva: deuses, seres, coisas. 
Assim como a alma, que é ar, nos suporta, orienta e mantém, assim o 
sopro e o ar envolvem o cosmos (Fragmentos). 
 
O mundo respira – a respiração é a sua própria vida e alma –, e a 
nossa alma é constituída por ar. Há uma antiga tradição que julga que 
sendo a alma ar, poderia ser casualmente expulsa do corpo pelos espirros; 
daí a atitude supersticiosa de protecção, que leva a que as pessoas que estão 
junto daquele que espirra, a pronunciar mecanicamente um “Deus te 
abençoe” ou “santinho”, fazendo assim, com que a alma retorne ao corpo, 
caso tivesse sido efectivamente expelida. 
 
A terra é um disco cercado completamente por ar. 
 
Não deixa de ser interessante anotar, que na Antiguidade foi mais 
célebre que Anaximandro, tendo-se invertido os papéis a partir da Idade 
Moderna. 
 
 22
 
 
ANAXÁGORAS 
Séc. V a.C. 
 
Membro da Escola Jónica, foi discípulo de Anaxímenes. Nasceu em 
Clazomene por volta de 500 a.C. Viveu durante cerca de trinta anos em 
Atenas, onde terá fundado uma escola. Faleceu no ano de 428 a.C. Na 
escola que fundou em Atenas, participaram entre outros, Péricles e 
Eurípides. 
 
De Anaxágoras ficaram-nos umas duas dezenas de fragmentos, que 
incidem sobre questões físicas e metafísicas. 
 
Viveu para “contemplar o Sol, a Lua e o céu”. Não se desassossegou 
com negócios ou com a vida política. Um dia, acusaram-no de ser 
indiferente à sua pátria, ao que apontando para os céus, disse: “A minha 
pátria importa-me muitíssimo”. 
Aceitou o princípiode Parménides, no que toca à imutabilidade do 
Ser. 
 
Para Anaxágoras, Deus é a inteligência criadora do Universo 
(Aécio). Sendo Deus, ou estando o divino separado do mundo, sendo sua 
causa, alterou o pensamento dos filósofos que afirmaram a não criação do 
mundo, v.g., de Anaximandro. A existência de ordem no mundo é 
consequência dessa entidade omnisciente. 
 
A alma distingue o homem da matéria, e é a origem do movimento. 
Segundo ele, em cada coisa há uma porção de todas as outras, 
exceptuando-se a alma, que apenas algumas coisas contêm. A alma tem 
poder sobre tudo o que é vivo, é infinita, autoguiada, e nela não há qualquer 
mistura ou aglomeração de elementos das restantes coisas – as coisas por 
mais pequenas que sejam, contêm porções de todos os contrários, como 
por exemplo, o quente e o frio, o branco e o preto. 
 
Todas as coisas estavam juntas, sendo infinitas em número e em 
grandeza, na ilimitada pequenez, porquanto o infinitamente pequeno 
também existia, e enquanto estiveram juntas, nenhuma podia distinguir-se 
das outras, como consequência dessa pequenez. O Caos era ocupado pelo 
ar e pelo éter, ambos ilimitados, porque são eles que transcendem todas as 
coisas em número e em grandeza. 
 
 23
A terra formou-se de coisas separadas, como a água se separa das 
nuvens, a terra da água e, da terra, em virtude do arrefecimento, as pedras, 
ainda mais do que a água, precipitando-se para o exterior. 
 
Diz que os Helenos falam erroneamente quando dizem “nascer” e 
“morrer”, porque nada nasce, nada morre, apenas se verificando que as 
coisas se combinam ou se separam, ou melhor: todas as coisas tiveram um 
princípio por composição, e todas acabam por decomposição. 
 
 
 
ARQUELAU DE ATENAS 
Séc. V a.C. 
 
Arquelau pertenceu à Escola Jónica, foi discípulo de Anaxágoras e 
mestre de Sócrates – daí que o mencionemos. 
 
Considerou ser o ar infinito o primeiro princípio, condensado e 
rarefeito. 
 
 
 
HERACLITO DE ÉFESO 
Séculos VI – V a.C. 
 
Para Heraclito, cidadão de Éfeso, da Escola Jónica, que viveu cerca 
de 500 a.C. – terá nascido em 576 e falecido em 480 –, contemporâneo de 
Parménides, o fogo é a origem de todas as coisas e todas elas se convertem 
em fogo, a cujo destino não podem fugir. O fogo é um princípio dinâmico, 
criador, que existiu desde sempre e existirá no porvir. Do fogo nasce a 
chama, mas para que esta nasça, algo tem de morrer – verbi gratia, o 
combustível. “Os mortais são imortais e os imortais são mortais, uns 
vivendo a morte dos outros e morrendo a vida dos outros.” 
 
Escreveu a obra Da Natureza, de que nos restam pouco mais de cem 
fragmentos. 
 
A sua fama depende essencialmente da doutrina que afirma o fluxo 
de todas as coisas. A vida é uma sequência de factos dissemelhantes, um 
fluxo contínuo de criação e morte. O fogo é o elemento primitivo da 
matéria, que está submetida a perpétua mudança. 
 
 24
Para além da doutrina do fluxo perpétuo, teorizou ainda a harmonia 
de tensões opostas ou da combinação dos opostos. Assim, bem e mal são o 
mesmo e para Deus todas as coisas são belas, justas e boas, sendo o próprio 
homem que erroneamente julga umas justas e outras injustas. 
 
“Deus é dia e noite, Verão e Inverno, guerra e paz, saciedade e fome; 
mas toma formas várias como o fogo; quando misturado com aromas toma 
o nome de cada um deles.” 
 
Tinha um manifesto desprezo pela humanidade, tendo afirmado entre 
outros, que o burro prefere a palha ao ouro. 
 
Por oposição a “deuses”, Heraclito fala em Deus. O caminho que 
conduz à sabedoria é o de Deus, nunca o dos homens, já que estes são 
como crianças para Deus, tal como a criança é para o homem. 
O Universo é Uno e não foi criado por nenhuma divindade. Todas as 
coisas têm a sua origem no Uno – que é Deus. O Uno vem de todas as 
coisas e todas as coisas do Uno. 
 
 
Segundo Platão, sustenta que todas as coisas se encontram em 
processo, em perpétua mudança, que nenhuma permanece como parece e, 
comparando-as a um rio, ninguém pode descer duas vezes nas mesmas 
águas: “Não é possível descer duas vezes ao mesmo rio nem tocar duas 
vezes numa substância mortal no mesmo estado; pela velocidade do 
movimento, tudo se dissipa e se recompõe de novo, tudo vem e vai”. A 
morte da terra é a sua transformação em água, a da água é a sua mudança 
em ar e o ar transforma-se em fogo e o fogo em ar. 
A doutrina do fluxo perpétuo não aquieta o homem na busca de algo 
que seja permanente. Foi Parménides, que procurou resolver esta 
inquietude essencial, inerente à natureza humana. 
 
A alma é composta por fogo e água, o primeiro, obviamente um 
elemento nobre, enquanto que a água lhe é inferior. Daí que a alma seca, 
seja mais sábia e melhor. Interessante é a imagem do homem bêbado: “Um 
homem bêbado é conduzido por um rapazola imberbe, tropeça, não sabe 
onde põe os pés, por ter a alma húmida.” 
Heraclito defende que o conhecimento da alma nos é interdito: “Tu 
não encontrarás os confins da alma, caminhes o que caminhares, tão 
profunda é a sua razão”. 
 
Antecedendo Sócrates, considera que o ser humano deve examinar-
se a si mesmo e aos outros. 
 25
 
 
FRAGMENTOS 
 
O Sol tem um diâmetro correspondente ao tamanho do pé do homem. 
 
Noctâmbulos, magos, sacerdotes de Baco, sacerdotisas da pipa de vinho, 
negociantes de mistérios. 
 
Os mistérios praticados pelos homens são ímpios. 
 
Juntai o pleno ao nulo, a concórdia à discórdia, a harmonia à desarmonia, 
pois tudo é uno, e o uno é tudo. 
 
O que espera os homens após a morte não é, nem o que esperam, nem o 
que julgam. 
 
Este mundo, o mesmo para todos, não foi criado, nem pelos deuses, nem 
pelos homens; é, como sempre foi, e sempre será, um fogo permanente, 
com moderação se extinguindo e com moderação se iluminando. 
 
E eles dirigem preces a essas imagens, e é como se falassem para as 
paredes, não sabendo o que são os deuses e os heróis. 
 
Descemos e não descemos às águas do mesmo rio, somos e não somos. 
 
Todas as coisas se modificam pelo fogo e o fogo modifica-se por todas as 
coisas, assim como as mercadorias se trocam por oiro e o oiro por 
mercadorias. 
 
 
 
DIÓGENES DE APOLÓNIA 
Séc. V a.C. 
 
Diógenes de Apolónia, da Escola Jónica, foi discípulo de 
Anaxímenes e um fisiólogo de renome. 
 
Considera que o ar infinito é a origem de todos os seres e defende a 
tese da finitude do mundo. 
 
Segundo Diógenes Laércio, são estas as teorias de Diógenes de 
Apolónia: 
 26
- Existe um elemento, o ar, e um caos ignoto e insondável. 
Consoante a densidade, o ar gera os seres; 
- Nada nasce do nada e nada volta ao nada; 
- A terra é esférica e situa-se no centro do Universo. 
 
 
FRAGMENTOS 
 
“Penso que a substância primordial que contém a razão é o elemento 
chamado ar, que governa e ordena todas as coisas, sendo ainda o ar, na 
minha opinião, a própria divindade, por se encontrar em toda a parte.” 
 
 
 
PITÁGORAS DE SAMOS 
Séculos VI – V a.C. 
 
Pitágoras, discípulo de Ferecides de Siros, deverá ser englobado na 
Escola Itálica. Talvez tenha também sido discípulo de Anaximandro e 
viveu por volta de 532 a.C. É uma personagem enigmática, mítica, a quem 
foram atribuídos poderes miraculosos. Como S. Francisco, pregava aos 
animais, já que “todas as coisas vivas devem tratar-se como aparentadas”. 
Era considerado pelos seus discípulos como um semideus. 
 
Não sabemos se escreveu alguma obra. No entanto, há uma doutrina 
que lhe é unanimemente reconhecida: a imortalidade da alma e sua 
transmigração para outros seres. Dicaiarcos afirma que Pitágoras foi o 
primeiro a ensinar que “a alma é imortal e se transforma em outras espécies 
de seres vivos”. 
Os seus ensinamentos estarão reunidos num poema denominado Os 
Versos de Ouro, datado do século IV, ainda que de forma muito 
incompleta.A matemática enquanto demonstração dedutiva, inicia-se com 
Pitágoras. A vida é um jogo de números. 
Bertrand Russel considera-o um dos homens mais importantes de 
sempre. 
Foi fundador de uma religião onde se afirmava a transmigração das 
almas e a proibição de comer favas. Eis alguns preceitos da sua religião: 
- Não comer favas; 
- Não apanhar o que caiu; 
- Não tocar num galo branco; 
- Não partir pão; 
 27
- Não passar sobre uma tranca; 
- Não comer o coração; 
- Não passar em estradas. 
 
Algumas das doutrinas que lhe foram atribuídas tiveram uma 
divulgação quase universal: 
- a alma é imortal; 
- a alma transforma-se em outros seres; 
- os fenómenos naturais são cíclicos; 
- não existe nada de novo na terra; 
- tudo se parece. 
 
Segundo Pitágoras, “somos estrangeiros no mundo; o corpo é o 
túmulo da alma, mas não devemos fugir pelo suicídio; porque nós somos 
bens de Deus, nosso pastor, e sem sua ordem não temos o direito de nos 
evadirmos. Na vida há três espécies de homens, exactamente como nos 
jogos olímpicos. A classe inferior é a dos que vêm comprar e vender; a 
seguinte, a dos competidores; e, acima de todos, os que simplesmente 
vêem. A maior purificação é portanto a ciência desinteressada, e o homem 
que mais se lhe dedica, o verdadeiro filósofo, é quem mais se liberta da 
roda dos nascimentos”. 
 
Para os pitagóricos a matemática exprimia a verdade. O número 10 é 
o número autêntico. A sua energia depende do número 4: se partirmos do 
número 1 e somarmos os números até ao 4, obtemos o 10 – 1+2+3+4. 
Russel, crê ser a matemática a principal fonte da crença na verdade 
eterna e exacta e num mundo inteligível supra-sensível. Matemática e 
teologia, numa combinação profícua, tiveram o seu começo com Pitágoras 
e influenciaram as filosofias religiosas da Grécia, da Idade Média e da 
Moderna, até ao aparecimento de Kant. 
 
Algumas das regras de oiro estabelecidas por Pitágoras: 
- Presta culto aos deuses conforme o grau de divindade que lhes é 
atribuído; 
- Cumpre a tua palavra; 
- Honra pai e mãe e parentes de sangue; 
- Domina o desejo, o sono, as paixões e a ira; 
- Evita as acções pecaminosas, estejas só, estejas acompanhado; 
- Cultiva o respeito por ti próprio; 
- Exercita a prática da justiça; 
- Pensa antes de fazer seja o que for, evitando acções fúteis; 
- Procura ser saudável; 
- Examina a tua consciência diariamente; 
 28
- Cumpre tudo isto (...) e terás fugido à lei da morte! 
 
No que ao mundo respeita, os pitagóricos admitiam no seu centro, a 
mãe dos deuses, um fogo central donde derivaram todos os astros. 
 
 
 
EMPÉDOCLES DE AGRIGENTO 
Séc. V a.C. 
 
Empédocles, da Escola Itálica, foi condiscípulo de Parménides, 
apesar de mais novo, e dos pitagóricos. Nasceu em Agrigento e terá vivido 
por volta de 440 a.C. Há quem estabeleça a data da sua morte no ano de 
490 a.C. 
 
Foi político e intitulou-se “deus”. É um filósofo lendário, do qual se 
diz ter operado inúmeros milagres – v.g. a ressuscitação de uma mulher – e 
ser capaz de dominar os ventos. Morreu tentando demonstrar a sua própria 
divindade, precipitando-se na cratera do vulcão Etna. 
 
De Empédocles dispomos de cerca de 500 versos, das obras Da 
Natureza e As Purificações. 
No poema Da Natureza, conceptualiza como origem de todas as 
coisas, quatro raízes – quatro elementos. 
Nas Purificações, trata da transmigração das almas, o que é sempre 
um mal para o homem. 
 
No domínio cosmológico, afirmou a existência de quatro elementos: 
o fogo, o ar, a água e a terra. Estes são eternos, mas combinam-se uns com 
os outros, em proporções diferentes, formando-se assim, todas as 
substâncias conhecidas. 
Existem duas energias criadoras: o Amor e a Repulsa, uma que une e 
outra que cinde. 
O mundo nasce ou morre consoante o predomínio do Amor ou da 
Repulsa. Quando o Amor domina, há um perfeito equilíbrio. Mas, durante 
este período os elementos estão fundidos num todo, que mais não é do que 
um deus que se compraz na sua própria solidão. 
 
À sublimação chama Zeus, ao ar chama Hera, à terra chama Adónis, 
enquanto Néstia e a fonte viva significam o sémen e a água. 
 
A purificação dos homens, faz-se através da transmigração das 
almas. 
 29
 
Os elementos não existem em lugares determinados, nem constantes, 
uma vez que se encontram em perpétua e recíproca transmutação. 
 
 
FRAGMENTOS 
 
Dos elementos provém tudo o que foi, tudo o que é, e tudo o que será. 
 
Fui rapaz, depois rapariga, árvore e ave, peixe mudo do mar. 
 
Deus é incorpóreo, não tem cabeça humana, nem dorso de onde saiam, 
como dois ramos, os braços; não tem pés, nem joelhos flexíveis, nem 
membro viril, tufado de pelugem; é um espírito augusto, uma inefável 
energia, cujo veloz pensamento trespassa o Universo. 
 
 
 
XENÓFANES DE CÓLOFON 
Séculos VI – V a.C. 
 
Xenófanes foi o iniciador da Escola Eleática. Esta afirma, que as 
denominadas coisas não são mais do que uma coisa. 
 
Das suas Elegias pouco sabemos, apenas que defendeu o panteísmo e 
distinguiu a ciência da mera opinião. 
 
O mundo é incriado, eterno e incorruptível. (Aécio) 
Os homens nascem da terra e da água. Todas as coisas têm a sua 
origem na água. 
 
Acreditava num único Deus, que “sem esforço dirigia todas as coisas 
pela força do espírito”. 
O seu Deus é um deus total e é obviamente eterno e imutável, que 
dirige o mundo pela força incomensurável do seu espírito. Criticou 
veementemente Homero e Hesíodo: 
“Homero e Hesíodo atribuíram aos deuses as causas do opróbrio e da 
desonra dos mortais; o roubo, o adultério e a traição. 
Os mortais julgam que os deuses são gerados como seres mortais, que se 
vestem, falam e possuem um corpo como o nosso. 
Se os bois, os cavalos e os leões tivessem mãos, poderiam com elas 
apanhar os objectos e produzir obras como fazem os homens; os cavalos 
pintariam figuras divinas semelhantes a equídeos, os bois pintá-las-iam 
 30
tauriformes, enfim, cada animal pintaria os deuses à sua própria imagem e 
semelhança. 
Os etíopes afirmam que os deuses são baixos e pretos; os trácios dizem que 
os deuses têm olhos azuis e cabelos ruivos. 
Há um só Deus, senhor soberano dos deuses e dos homens, que não se 
parece com os homens, nem pelo corpo, nem pela alma. Que vê o todo, 
pensa o todo, sabe o todo. Que tudo põe em movimento, por vontade do 
pensamento, sem esforço.” 
 
Contrariou a doutrina da metempsicose, chegando mesmo a 
ridicularizar Pitágoras. Este, passava numa rua enquanto um cão estava a 
ser maltratado. Xenófanes, dirigindo-se a quem maltratava o animal, de 
forma a que Pitágoras o ouvisse, disse: “Pára, não lhe batas, é a alma de um 
amigo! Reconheci-o pela voz.” 
 
Tinha um perfeito conhecimento das suas limitações, quer filosóficas 
quer teológicas: “Nenhum homem sabe nem saberá a verdade exacta acerca 
dos deuses e de todas as coisas de que falo. Mesmo que um homem 
pudesse dizer alguma coisa inteiramente verdadeira, não o saberia; só há 
conjecturas”. 
 
 
 
PARMÉNIDES DE ELEIA 
Séculos VI – V a.C. 
 
Terá nascido em Eleia no ano de 540 a.C. e falecido em 450. 
Parménides foi discípulo de Xenófanes e de Anaximandro. Pode 
considerar-se o fundador do eleatismo. Sócrates, ainda jovem, ter-se-á 
encontrado com Parménides, com quem adquiriu preciosos conhecimentos. 
 
Do poema Da Natureza, apenas temos acesso ao seu início, que é 
profundamente esotérico. 
 
Se Heraclito considerava o fluxo permanente das coisas, ou seja, que 
tudo muda, Parménides em resposta a tal doutrina, afirmava que nada muda 
e que a mudança é uma ilusão. 
A sua doutrina está condensada no poema Da Natureza, do qual 
subsistem 160 versos. 
 
Para Parménides, o Todo é finito, equidistante do centro. O mundo é 
Uno. 
 
 31
Os sentidos iludem-nos, como ilusórias são ascoisas sensíveis. O 
Uno, infinito, é o único ser verdadeiro – o Uno de Parménides não é o que 
podemos entender por Deus, já que é material, infinitamente extenso, 
sendo uma esfera indivisível porquanto em toda a parte presente. 
 
Deus é imutável, limitado, esférico. O Ser é completo e perfeito. 
Completo apenas o pode ser algo finito, já que o infinito é incompletude. E 
é esférico, que é o símbolo da perfeição. 
 
Quer Parménides quer Demócrito afirmaram que tudo se processa 
em função da necessidade, que consiste numa conjuntura de fatalidade, 
justiça e providência, criadora do mundo. 
O mundo é incriado, eterno e incorruptível. A eternidade é a pura 
negação do tempo, contrariamente à tese que defende a infinitude temporal. 
 
As duas vias indagatórias, segundo Parménides: 
- Uma afirma que o Ser é, e que o ser não pode deixar de ser, sendo esta 
a via da verdade; 
- A outra, que o Ser não é, que o Não-Ser é, nada se podendo aprender 
por esta via. 
Em suma, o Ser é! 
 
O Ser não pode em caso algum nascer. Se nascesse derivaria do não-
ser, o que é de todo impensável, porquanto o não-ser não é. Também não 
pode perecer, porque ao perecer teria de se dissolver no não-ser, que como 
já ficou dito não é. 
 
O que de Parménides foi mais marcante na complexa história da 
filosofia, não foi a impossibilidade de existir qualquer mudança, mas 
antes, a permanência da substância, atenta a sua indestrutibilidade. 
 
 
 
MELISSOS DE SAMOS 
Séc. V a.C. 
 
Melissos, da Escola Eleática, foi discípulo de Parménides. Temos a 
informação de que comandava a frota de Samos, que no ano de 422 a.C. 
derrotou os Atenienses. 
 
Postulou um universo ilimitado, um Cosmos infinito, imóvel, 
idêntico a si mesmo, com as qualidades do uno e do pleno. O Ser é infinito 
e eterno. Para além disso é incorpóreo. Se é, necessário é que seja uno; e se 
 32
é uno não pode ter corpo, porque se o tivesse seria constituído por partes, e 
o que é constituído por partes não pode ser considerado uno. 
 
Afirmava que o movimento não existe, sendo antes uma ilusão dos 
sentidos. 
 
No tocante aos deuses, teorizou ser desnecessária de todo uma 
explicação definitiva, atenta a sua incognoscibilidade. 
 
 
FRAGMENTOS 
 
O ser sempre foi e sempre será, porque se antes de ser tivesse sido, deveria 
não ter sido, e se não era, não poderia vir a ser. 
Se não começa, nem acaba, mas sempre foi e será, não tem, nem princípio, 
nem fim, pois uma coisa não é totalmente se assim não for. 
 
O que tem um princípio, ou um fim, não pode ser, nem eterno, nem 
infinito. 
 
O cosmos é eterno, infinito, uno e contínuo; não se pode aumentar nem 
diminuir, nem é internamente mutável, nem sofre, nem se desgosta. 
 
 
 
ZENÃO DE ELEIA 
Séc. V a.C. 
 
Zenão, da Escola Eleática, terá nascido por volta do ano 490 a.C. em 
Eleia. Faleceu cerca de 425. 
Foi influenciado por Parménides, de quem foi discípulo. 
 
São muito poucos os fragmentos de um Tratado escrito por Zenão. 
Assim, para a reconstituição do seu pensamento, teremos de contar com a 
preciosa colaboração de Aristóteles, muito em especial, no que respeita aos 
seus famosos paradoxos. 
 
As suas doutrinas assemelham-se às do seu mestre. Aceitava a 
simplicidade e imutabilidade da Realidade e considerava os sentidos fonte 
de ilusão ou erro. 
 
Ficou famoso pelos seus paradoxos – procurando contrariar a tese 
dos que atribuíam aos sentidos papel fundamental na aquisição do 
 33
conhecimento e que defendiam a pluralidade e a mudança –, sendo 
notáveis, o da seta, de Aquiles e da tartaruga e o do monte. 
Postulou quatro teses sobre o movimento, as quais constituem uma 
fonte de dificuldades para quem as intentar entender – ver Aristóteles, 
Física VI, 239-a. Por outro lado, argumentou contra a multiplicidade e a 
divisibilidade das coisas. Zenão nega a multiplicidade, o espaço e o tempo. 
O móvel não se move, nem no espaço onde se encontra, nem no 
espaço onde não se encontra. 
 
 
 
LEUCIPO DE ABDERA 
Séc. V a.C. 
 
Se considerarmos a existência de uma Escola Abderítica, então 
Leucipo foi o seu primeiro representante, seguido por Demócrito. Deve ter 
vivido por volta de 440 a.C. Há quem aponte o seu nascimento para o ano 
de 460 a.C. e o falecimento em 370. Julga-se que algumas das suas obras 
tenham sido atribuídas a Demócrito. 
Influenciou Epicuro e Lucrécio. 
 
Teofrasto atribuiu a Leucipo a obra Grande Cosmologia, da qual 
muito poucos fragmentos restam. 
 
Leucipo, terá sido discípulo de Zenão e foi o primeiro a sustentar que 
todas as coisas têm a sua origem nos átomos. 
Postulou que o universo é ilimitado, sendo uma parte plena, enquanto 
que a outra é vazia. O Ser é o pleno, enquanto o não-ser, o vazio. 
 
 
FRAGMENTOS 
 
Nada se cria em vão, tudo se cria por determinação de uma causa, ou em 
virtude de uma necessidade. 
 
 
 
DEMÓCRITO DE ABDERA 
Séc. V a.C. 
 
Nasceu em Abdera e foi contemporâneo de Sócrates. Discípulo de 
Leucipo, terá segundo a tradição viajado muito, estudando inclusivamente 
com os geómetras do Egipto. Não obstante tenha sido contemporâneo de 
 34
Sócrates, parece que não travou conhecimento com ele. Conheceu 
Anaxágoras. 
 
Terá escrito várias obras, mas apenas nos restam poucos fragmentos 
incidentes sobre a física e a ética, e alguns relativos à educação. 
 
Tudo é composto por átomos. Entre eles, existe o vazio. Estão na 
origem de todas as coisas. Existem em grandeza e quantidades 
inumeráveis, movimentando-se num turbilhão – não explica o seu primeiro 
movimento. Deles geram-se os compostos, o fogo, o ar, a água e a terra. 
Os átomos são divisíveis e a sua divisibilidade é eterna. No entanto, 
existem átomos que são incorruptíveis – os que constituem o fogo, o ar, a 
água e a terra. 
Contrariamente ao que muitos afirmam, para os atomistas nada 
parece acontecer por acaso. 
 
Os mundos são ilimitados, uns nascendo e outros morrendo. Apesar 
de incriados, são perecíveis. Pode acontecer que os mundos tenham sido 
criados, mas o Criador é incognoscível. 
 
O Ser não deriva do Não-ser, nem a este retorna. Nada pode surgir a 
partir do que não existe, nem extinguir-se no que não existe. 
 
A felicidade é um estado de repouso e de paz da alma, a qual não se 
deixa inquietar, quer por superstições quer por afectos. Onde faltar a justiça 
e a razão, haverá sempre medo da morte. 
 
A alma, composta de átomos, é mortal, extinguindo-se com o corpo. 
Demócrito pode assim ser tido como materialista. 
Pode ser considerado um cidadão do mundo quando diz: “A pátria da 
alma excelente é todo o mundo”. 
 
 
 
PROTÁGORAS DE ABDERA 
Séc. V a.C. 
 
Terá nascido em Abdera no ano de 485 a.C. e falecido em 410. Era 
familiar de Péricles. 
Protágoras, discípulo de Demócrito, viajou muito e foi um dos 
sofistas – os sofistas ensinavam a troco de dinheiro –, tal como Górgias e 
Pródico de Ceos. Os sofistas ensinavam aos jovens coisas úteis para a vida 
prática, mormente a arte de discursar em tribunal. 
 35
 
São muito poucos os fragmentos da obra de Protágoras. No entanto, 
para o conhecimento da sua especulação, poderemos sempre contar com o 
testemunho de Platão. 
 
Conta-se que Protágoras ensinou um jovem com a condição de ser 
pago caso este ganhasse o seu primeiro litígio. Ora, foi o próprio 
Protágoras que lhe moveu uma acção para poder ser ressarcido do montante 
estipulado para ensinar o dito discípulo... 
 
Terá sido o primeiro a sustentar que um orador pode efectuar dois 
discursos perfeitamente contraditórios sobre o mesmo tema, método que 
utilizou. 
 
O homem é a medida de todas as coisas, das que existem e das que 
estão na sua natureza, das que não existem e da explicação da sua 
inexistência. 
 
Escreveu um livro, com o título, Dos Deuses, dizendo nada poder 
afirmarrelativamente a tal questão. Nem afirmar nem negar a sua 
existência ou a sua forma, em virtude de muitos serem os impedimentos, 
entre eles se contando, quer a obscuridade do assunto quer a brevidade da 
vida humana. 
Esta sua indiferença para com os deuses, que deveriam ser olvidados, 
atenta a nossa incapacidade para atingir quer a sua existência quer a sua 
essência, fez com que fosse condenado à morte por impiedade, acabando 
por fugir de Atenas. 
 
 
 
GÓRGIAS 
Séc. V a.C. 
 
Nasceu em Leôncio no ano de 487 a.C. e faleceu em Larissa no ano 
de 380. Deslocando-se a Atenas como embaixador da sua cidade, fascinou 
os atenienses com a sua arte oratória, ao que abriu uma escola. Tornou-se 
assim o primeiro dos professores de eloquência, a quem Platão chamou 
sofistas. 
 
Escreveu uma obra denominada Da Natureza ou do Não-Ser, da qual 
existem duas versões, a do pseudo-Aristóteles e a de Sexto Empírico. 
 
Górgias recusa qualquer problemática ontológica. 
 36
 
Sofista, definiu três princípios célebres: 
- Nada existe; 
- Se algo existe é incognoscível; 
- Se for cognoscível, não poderá ser comunicado ou divulgado. 
 
 
 
PRÓDICO DE CEOS 
 
Viveu no tempo de Sócrates. 
 
Escreveu As Horas, obra que se encontra reproduzida em Os 
Memoráveis, de Xenofonte. Nela, Heracles expõe com concisão as suas 
dúvidas morais. Duas mulheres, personificando respectivamente o vício e a 
virtude, fazem a apologia destas. A virtude vence e convence Heracles. 
 
Foi rotulado de ateu, por julgar que os antigos criavam e veneravam 
os deuses em função da sua utilidade – o Sol, a Lua, os rios (v.g. Nilo) –, “e 
por isso, o pão era considerado Deméter, o vinho Dioniso, a água como 
Posídon, o fogo como Hefesto, e assim cada um dos bens segundo a sua 
utilidade”. 
 
Tal como Protágoras, foi condenado à morte, mas com a acusação de 
corromper os jovens. 
 
 
 
 
SÓCRATES 
 
 
 
Nasceu no ano de 470 a.C. Era filho de um artesão e de uma parteira. 
Poderá ter sido aluno de Pródico. 
 
É um marco decisivo na história da filosofia, não obstante 
desconheçamos se sabemos muito ou pouco acerca da sua vida. Tal como 
nos foi apresentado por Platão, exerceu uma grande influência sobre 
cínicos e estóicos. Se fosse possível resumir o que parece derivar dos seus 
ensinamentos, arriscar-nos-íamos a reduzi-los a dois: 
 37
- uma vida sem indagação ou constante investigação não merece 
ser vivida; e 
- o autoconhecimento é o alimento da sabedoria. 
 
Entende a investigação filosófica como pesquisa. Uma pesquisa que 
não se esgota, quer em nós quer nos outros. Cícero disse que Sócrates fez 
com que a filosofia descesse do céu à terra. 
 
Tinha uma personalidade extraordinariamente forte, o que fez com 
que Platão, seu discípulo, o comparasse à tremelga, que entorpece quem a 
toca. Conhecemos a sua vida, essencialmente pelos escritos de Platão, em 
especial: 
- Pela Apologia de Sócrates – que narra o processo e a sua 
condenação à morte. Sócrates foi acusado por Meleto, Ânito e 
Lícon de ser “culpado de investigar, em excesso, os fenómenos 
subterrâneos e celestes, de fazer prevalecer sobre a melhor causa 
a pior e de ensinar aos outros esta doutrina”. No entanto, o texto 
da acusação, tal como se encontra descrito por Diógenes Laércio, 
é o seguinte: “Esta acusação jurada é de Meleto, filho de Meleto, 
natural do demo piteu, contra Sócrates, filho de Sofronisco, 
natural do demo alopecense. Sócrates é culpado de não acreditar 
nos deuses em que acredita a cidade e de introduzir divindades 
novas; é ainda culpado de corromper a juventude. Pena pedida: a 
morte.” 
A obra apresenta-se dividida em três partes. Na primeira, Sócrates 
expõe a sua defesa, sem os ornatos retóricos utilizados pelos 
oradores da época – prescindiu inclusivamente dos serviços de um 
profissional afamado –, atendo-se antes à pureza das suas 
palavras e à verdade, exprimindo-se do modo como 
habitualmente o fazia. Na segunda, depois de ter sido considerado 
culpado, propõe a pena que julga justa ao seu caso, ou seja, 
alimentado como os benfeitores da cidade até ao fim dos seus 
dias, no Pritaneu. Tal facto deve ter sido apreciado pelos juízes 
como uma provocação, levando-os a proferirem uma sentença de 
condenação à morte. Na terceira e última parte, filosofa sobre a 
sua condenação e sobre a própria morte. 
- Pelo Críton – Sócrates condenado à morte, recusa-se à evasão, 
fundamentando tal atitude nos seus princípios, e no respeito dos 
seus ensinamentos filosóficos. 
- E pelo Fédon – Esta obra narra os últimos momentos da sua vida, 
que depois de se ter negado à evasão, mantendo-se fiel aos seus 
princípios, discursa com serenidade, indiferente ao trágico 
momento que se aproxima, acerca da imortalidade da alma. 
 38
 
Se bem atentarmos, quer o processo quer a morte de Sócrates, 
constituem um acontecimento que só tem possibilidade de ser 
comparado ao de Jesus – não sendo este o lugar próprio para 
valorar as duas personalidades tendo em conta a sua atitude 
perante a morte e aos princípios que enformaram as suas vidas. 
Neste particular, leia-se o pequeno ensaio de Bertrand Russell, 
“Porque Não Sou Cristão”, onde afirma que em termos de 
sabedoria, Cristo não está tão alto como outras figuras 
históricas, nomeadamente Sócrates e Buda. 
 
Para além destas obras, devemos mencionar a Carta VII, onde 
entre outros, Platão, enuncia os motivos que o empenharam na defesa 
de Sócrates, “o velho que amava”, e da sua injusta morte. 
 
Sócrates adoptou a divisa délfica “Conhece-te a ti mesmo”, mas não 
limitou a actividade filosófica a si próprio, antes a estendeu aos outros, e 
aos inevitáveis relacionamentos nas suas múltiplas vertentes, entre ambos. 
 
Considera que a filosofia é antes do mais uma missão divina. Não 
cremos, no entanto, que o Deus socrático seja o deus ou deuses dos gregos. 
Durante toda a sua vida diz ter ouvido uma voz orientadora. Seria a 
voz da sua consciência ou a do seu Deus? 
“Ao longo de toda a minha vida, a voz divina que me é familiar 
nunca deixou de fazer-se ouvir, mesmo a propósito de actos de 
menor importância, para me deter se eu estivesse para cometer 
alguma coisa de mal.” – Platão, Apologia de Sócrates. 
 
O que está para além da morte é uma incógnita, um mistério 
metafísico. Sócrates tinha a esperança da existência de algo para além dela, 
que segundo a tradição e as crenças estabelecidas, seria muito melhor para 
os bons do que para os maus. Se realmente a morte nos libertasse de tudo, 
que boa sorte seria para os maus, ao morrerem, verem-se desembaraçados 
quer do corpo quer do mal e da sua maldade, ao mesmo tempo que da alma 
– veja-se de Platão, o Fédon. 
“(...) recear a morte não é senão cuidar-se sábio quando se não é, 
pois será crer que se sabe o que não se sabe. Ninguém, 
efectivamente, sabe o que é a morte, nem se ela será justamente para 
o homem o maior dos bens, receando-a como se fosse coisa certa ser 
ela o maior dos males.” – Apologia de Sócrates, Platão. 
 
Dirigindo-se aos juizes que o absolveram no processo em que foi 
condenado à morte, Sócrates terá dito: 
 39
“De duas coisas, uma: ou aquele que morre fica reduzido a nada e 
não tem nenhuma consciência seja do que for, ou, de acordo com o 
que se diz, a morte é uma mudança, uma transmigração da alma 
deste lugar em que nos encontramos para um outro lugar. Se a morte 
é a extinção de todo o sentimento e se parece com um daqueles sonos 
em que nada vemos, mesmo em sonho, morrer é então um 
maravilhoso lucro (...) 
Por outro lado, se a morte for como uma passagem de aqui debaixo 
para um outro lugar e se for verdade, como se diz, que todos os 
mortos aí se encontrarão reunidos, poderemos, ó juizes, imaginar um 
maior bem?” – Apologia de Sócrates, Platão. 
 
Despedindo-se do tribunal que o condenou,disse: 
“Mas chegou a hora de nos irmos, eu para morrer, vós para 
viver. Quem de nós tem a melhor parte, ninguém sabe, excepto 
o deus.” 
 
O exame constante de si e dos outros justificou o sentido que sempre 
procurou dar à sua vida. Condenado à morte instou os juizes a aceitarem a 
morte com esperança, já que certo é o facto de que não há mal possível 
para o homem de bem, nem durante a sua curta vida nem depois de sua 
morte. Encarou a sua condenação com uma doçura quase inconcebível pelo 
comum dos mortais, reagindo-lhe como os cisnes lhe reagem, que sentindo 
aproximar-se a sua hora, cantam mais melodiosamente que nunca, pois 
sentem uma felicidade indescritível por irem encontrar-se com o deus que 
servem – Platão, Fédon. 
 
Manteve-se sempre fiel aos seus princípios, não anuindo na fuga que 
os amigos lhe propuseram. A aceitação da condenação, da pena de morte, é 
o testemunho, o exemplo de tudo o que vinha ensinando. 
Na perspectiva de se poder evadir, evitando a morte, disse dando voz 
às Leis: 
“Vamos, Sócrates, escuta-nos, a nós que te sustentámos, e não 
ponhas os teus filhos, a tua vida, nem seja o que for acima da justiça, 
a fim de que, chegado ao Hades, possas declarar tudo isso em tua 
defesa aos que governam nesse lugar. 
(...) 
Se partires hoje para o outro mundo, partirás condenado 
injustamente, não por nós, as leis, mas pelos homens. 
Se ao invés, te evadires depois de haveres tão vilmente respondido à 
justiça com a injustiça, ao mal com o mal, (...) então ficaremos iradas 
contigo o resto da tua vida. 
 40
E, no outro mundo, as nossas irmãs, as leis do Hades, não te irão 
receber favoravelmente (...). – Platão, Críton. 
 
Antes da execução, exortou os amigos a cuidarem de si mesmos. 
Seguidamente, pegou na taça de veneno com perfeita serenidade e, sem 
tremer ou vacilar, levou-a aos lábios esvaziando-a na totalidade, com uma 
facilidade e calma perfeitas. 
Um dos seus amigos, escondeu a cabeça e chorou, não a infelicidade 
de Sócrates, mas a sua, ao pensar no amigo que perdia. Este facto, confirma 
a asserção de que os mortos não choram, mas são os vivos que se choram a 
si mesmos. 
 
As suas últimas palavras foram: 
“Críton, devemos um galo a Asclépio. Não te esqueças de o 
pagar!” – Platão, Fédon. 
Na época pagava-se um galo a Asclépio pela cura de uma 
doença, e Sócrates curara-se da doença da vida. 
 
Após longa argumentação, Sócrates, no diálogo Fédon, conclui pela 
imortalidade da alma e pela sua imperecibilidade. A alma impura tem o 
destino de errar sozinha, na maior solidão, enquanto que a pura tem os 
deuses por guias. A alma que é ornamentada com a temperança, a justiça, a 
coragem, a liberdade e a verdade, parte para o Hades, onde receberá como 
consequência a suprema recompensa. 
 
 
 
AS ESCOLAS SOCRÁTICAS 
 
Para além de Platão, quatro discípulos de Sócrates fundaram outras 
tantas escolas: Euclides, a Escola Megárica; Fédon, a Escola de Élida; 
Antístenes, a Escola Cínica; e Aristipo a Escola Cirenaica. 
Haverá ainda que referir também como discípulos de Sócrates, 
Xenofonte, Ésquines, Símias e Cebes. 
 
 
XENOFONTE 
Deve ter nascido no ano 440. A história da filosofia deve-lhe os 
“Ditos Memoráveis de Sócrates”. 
 
 41
No Banquete, obra em forma de diálogo, inspira-se em Platão. Num 
banquete em casa de Cálias, Sócrates e alguns amigos expõem as suas 
ideias, contrapondo o amor terreno ao celeste. 
 
Nos Memoráveis elabora a biografia de Sócrates. Aqui, Xenofonte, 
para além das suas próprias recordações acerca do velho Mestre, estriba-se 
de novo nas obras de Platão – v.g. Apologia, Fédon e Críton. 
 
Na Apologia de Sócrates, tal como Platão, relata o processo de 
condenação do velho Mestre.. 
 
Refira-se que o estilo e capacidade filosófica de Xenofonte, são uma 
mera sombra das faculdades platónicas. 
 
 
EUCLIDES 
Da Escola Megárica, afirmava que o Bem é apenas um e é a 
Unidade, que é sempre a mesma, seja qual for o nome que lhe quisermos 
atribuir – Deus, Razão, ou qualquer outro. 
 
Os megáricos foram exímios no desenvolvimento de argumentos 
paradoxais: 
- do sorites – tirando um grão de areia de um monte o monte não 
diminui (Eubúlides); 
- antinomia – se afirmas que mentiste ou estás a falar verdade e 
então mentiste ou falas falso e então estás a dizer a verdade. 
 
Interessante é a posição de Estílpon, que cultivava a impassibilidade, 
e declarava que o sábio não tem necessidade de amigos, bastando-se a si 
mesmo. Foi contrariado por Aníceris, da Escola Cirenaica, que julgava 
dever o homem basear a sua vida na amizade e no altruísmo. 
 
 
ANTÍSTENES DE ATENAS 
Discípulo de Górgias e de Sócrates, cerca de vinte anos mais velho 
do que Platão, foi o fundador da Escola Cínica. Cínicos, são os que vivem 
como “cães” e não em função de convenções, preceitos sociais ou 
conveniências, demonstrando-o de uma forma que Sócrates provavelmente 
não aprovaria. 
 
Era senhor de uma personalidade marcadamente forte. Terá sido a 
morte de Sócrates que o levou a desprezar os prazeres e luxos da vida, 
 42
pregando o regresso à natureza. Foi contrário a todas as convenções e 
poderes instituídos, tais como o Estado, a propriedade privada, a religião, o 
casamento. Condenou veementemente a escravatura. 
 
O sentido da vida é a capacidade que o homem tem para atingir a 
felicidade, que consegue por intermédio da virtude, libertando-se dos 
condicionamentos e das amarras da vida social. 
 
Afirmou que perante as leis, muitos são os deuses, mas segundo a 
natureza, só um existe, só há um Deus. 
 
 
DIÓGENES DE SINOPE 
Foi discípulo de Antístenes, mas foi mais famoso do que o seu 
mestre. A palavra cínico, deriva da sua intenção de viver como um cão. 
 
Do filósofo restam-nos fragmentos coligidos por Diógenes Laércio e 
Díon de Pruse. 
 
Levou o ensinamento de Antístenes às últimas consequências, 
rejeitando também todas as convenções. 
Conta-se que quando Alexandre o Grande o visitou, lhe terá 
perguntado se desejava algo, algum favor em especial, ao que respondeu: 
“desejo apenas que não me tires o Sol”. 
 
A vida dos cínicos era de simplicidade e desprezo pelos bens do 
mundo, prezando apenas os que lhes eram estrictamente necessários à 
sobrevivência. 
 
A doutrina cínica influenciou em muito o estoicismo. 
 
 
ARISTIPO 
Fundador da Escola Cirenaica, ensina que o fim a atingir pelo 
homem não é a felicidade, mas antes o prazer, que é vivido no instante 
presente, sendo irrelevantes, quer o passado quer o futuro, porquanto o 
primeiro já não existe e o segundo é uma incógnita, desconhecendo-se se 
existirá ou não. Vivendo o instante, atingiu a liberdade que lhe permitia 
asseverar que possuía sem ser possuído. 
 
 
 
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TEODORO O ATEU 
Também da Escola Cirenaica, julga que o fim a atingir pelo homem é 
a felicidade, que identifica com a sabedoria. Negou a existência de todos e 
quaisquer deuses. 
 
 
EGESIAS 
Da Escola Cirenaica, julga que a felicidade é algo praticamente 
inatingível, atento o padecimento que acompanha a vida. O sage, mais do 
que buscar a felicidade deve evitar os males. Um seu escrito denominado 
“O suicida”, fez com que lhe atribuíssem o cognome de “advogado da 
morte”. 
 
Na sua perspectiva, a vida que é um bem para o néscio, é indiferente 
ao sábio. 
 
 
 
PLATÃO 
 
 
 
Platão, jovem aristocrata de Atenas – foi familiar de Alcibíades e de 
Crítias – tinha como nome verdadeiro Arístocles. O cognome deverá ter-se 
ficado a dever à envergadura dos seus ombros ou então à sua largueza de 
vistas, à sua abertura de espírito – S. Tomás de Aquino, na sua época de 
estudante, também foi alcunhado de “boi mudo”, por via da sua estatura e 
do silêncio com que assistia às aulas. 
Nasceu no ano 428 a.C. e faleceu em 347. Com

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