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CARO ALUNO, Desde de 2010, o Hexag Medicina é referência em preparação pré-vestibular de candidatos à carreira de Medicina. Você está recebendo o primeiro caderno R.P.A.(Revisão Programada Anual) - ENEM do Hexag Vestibu- lares. Este material tem o objetivo de verificar se você apreendeu os conteúdos estudados, oferecendo-lhe uma seleção de questões ideais para exercitar sua memória, já que é fundamental estar pronto para realizar o Exame Nacional do Ensino Médio. Além disso, este material também traz sínteses do que você observou em sala de aula, ajudando-lhe ainda mais a compreender os itens que, possivelmente, não tenham ficado claros e a relembrar os pontos que foram esquecidos. Aproveite para aprimorar seus conhecimentos. Bons estudos! Herlan Fellini hexag SISTEMA DE ENSINO © Hexag Editora, 2016 Direitos desta edição: Hexag Editora Ltda. São Paulo, 2016 Todos os direitos reservados. Autores Emily Cristina dos Ouros (Literatura) Lucas Limberti (Literatura) Murilo de Almeida Gonçalves (Gramática/Interpretação de Textos) Cora de Andrade Ramos (Entre Frases - Estudo da escrita) Diretor geral Herlan Fellini Coordenador geral Raphael de Souza Motta Responsabilidade editorial Hexag Editora Diretor editorial Pedro Tadeu Batista Revisor Arthur Tahan Miguel Torres Pesquisa iconográfica Camila Dalafina Coelho Programação visual Hexag Editora Editoração eletrônica Camila Dalafina Coelho Eder Carlos Bastos de Lima Raphael Campos Silva Raphael de Souza Motta Capa Hexag Editora Fotos da capa (de cima para baixo) http://www.fcm.unicamp.br Acervo digital da USP (versão beta) http://www.baia-turismo.com Impressão e acabamento Meta Solutions Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o ensino. Caso exista algum texto, a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições. O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra está sendo usado apenas para fins didáticos, não represen- tando qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora. 2016 Todos os direitos reservados por Hexag Editora Ltda. Rua da Consolação, 954 – Higienópolis – São Paulo – SP CEP: 01302-000 Telefone: (11) 3259-5005 www.hexag.com.br contato@hexag.com.br LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias Gramática e Interpretação de texto 5 Literatura 79 Inglês 183 Redação 205 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias GRAMÁTICA INTERPRETAÇÃO DE TEXTO R.P.A. ENEM Revisão Programada Anual Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para sua vida. H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação. H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais. H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas. H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação. Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras culturas e grupos sociais. H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema. H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas. H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social. H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística. Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da identidade. H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social. H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas. H11 Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para diferentes indivíduos. Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e da própria identidade. H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais. H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos. H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos. Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção. H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político. H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário. H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional. Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação. H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos. H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução. H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas. H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos. H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos. H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados. H24 Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção, chantagem, entre outras. Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização do mundo e da própria identidade. H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro. H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social. H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação. Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte, às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemasque se propõem solucionar. H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação. H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação. H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem 7 BREVIÁRIO Funções de linguagem A língua não é um fim em si, mas apenas um meio Roman Jakobson Toda comunicação apresenta uma variedade de funções, sendo uma dominante, de acordo com o enfoque que o destinador/emissor quer dar ou do efeito que quer causar no destinatário/receptor. As funções da linguagem são as seguintes: § Emissor – emite a mensagem, codificando-a em palavras; § Receptor – recebe a mensagem e a decodifica, ou seja, apreende a ideia; § Mensagem – aquilo que é comunicado, o conteúdo da comunicação; § Código – sistema linguístico escolhido para a transmissão e recepção da mensagem; § Referente – contexto em que se encontram o emissor e o receptor; § Canal – meio pelo qual a mensagem é transmitida. § Emotiva ou expressiva – centralizada no emissor, ressalta sua opinião, trata das emoções; prevalece a 1ª pessoa do singular (eu), interjeições e exclamações; é a linguagem das biografias, memórias, poesias líricas e cartas de amor. Desencanto Eu faço versos como quem chora De desalento... de desencanto... Fecha o meu livro, se por agora Não tens motivo nenhum de pranto. Competências 1, 6, 7 e 8 Habilidades 1, 2, 3, 4, 19, 23, 24, 25 e 26 Aula 1 Meu verso é sangue. Volúpia ardente... Tristeza esparsa... remorso vão... Dói-me nas veias. Amargo e quente, Cai, gota a gota, do coração. E nestes versos de angústica rouca, Assim dos lábios a vida corre, Deixando um acre sabor na boca. Eu faço versos como quem morre... (Manuel Bandeira) § Referencial – centralizada no referente, pois o emissor oferece informações da realidade; objetiva, direta, denotativa, prevalecendo a 3ª pessoa do singular (ele/ela); é a linguagem usada nos textos científicos, arte realista, notícias de jornal. “Aumenta a pressão sobre o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, para que ele permita uma investigação independente sobre os aparentes erros dos seus serviços de inteligência no que se refere às armas de des- truição em massa do Iraque. A indicação do governo americano, também questionado sobre a sua avaliação da ameaça iraquiana, de que um inquérito pode ser aberto no país, reforçou o argumento dos críticos de Blair. O Partido Conservador britânico deverá apresentar nesta semana uma moção pedindo a investigação.” Fonte: Folha de São Paulo - 02-02-2004 § Conativa ou apelativa – centralizada no receptor; o emissor procura influenciar o comportamento do receptor; como o emissor se dirige ao receptor, é comum o uso da 2ª pessoa do singular (tu), do pronome de tratamento você ou do nome do próprio receptor, além de vocativos e imperativos; usada nos discursos, sermões e propagandas que se dirigem diretamente ao consumidor. § Fática – utilizada para testar o canal, para manter o contato físico ou psicológico com o interlocutor. 8 9 § Metalinguística – é a linguagem utilizada para falar da própria linguagem; a linguagem como fazer ar- tístico; põe em evidência a forma da mensagem, ou seja, preocupa-se mais em “como dizer” do que com “o que dizer”. Razão de ser Escrevo. E pronto. Escrevo porque preciso preciso porque estou tonto. Ninguém tem nada com isso. Escrevo porque amanhece. E as estrelas lá no céu Lembram letras no papel, Quando o poema me anoitece. A aranha tece teias. O peixe beija e morde o que vê. Eu escrevo apenas. Tem que ter por quê? (Paulo Leminski) § Poética – é a linguagem que põe em evidência a forma como a mensagem é veiculada. Está mais interes- sada nos aspectos estéticos, na beleza e nos enfeites atribuídos à mensagem. Sem Mim Ando Com Igo Sigo Sem Com Ando (Arnaldo Antunes) Variação linguística Variações linguísticas são as peculiaridades que a língua adquire com o tempo em função do seu uso por comuni- dades específicas. Contexto de conversação Conforme a situação em que nos encontramos ao falar ou escrever, mudamos o nosso trato com a linguagem. A cada instante, utilizamos a língua de uma maneira particular, uma vez que nos adaptamos ao contexto em que estamos. Como exemplo, agimos diferentemente quando nos dirigimos aos nossos pais ou quando falamos com nossos amigos; escrevemos na escola de um modo diferente daquele que escrevemos nos aplicativos de comuni- cação. Isso significa que precisamos dominar várias modalidades do português. Pronominais Dê-me um cigarro Diz a gramática Do professor e do aluno E do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco Da Nação Brasileira Dizem todos os dias Deixa disso camarada Me dá um cigarro. (Oswald de Andrade ANDRADE, O. Obras completas, Volumes 6-7. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972.) Origem geográfica do falante Pelo fato de ser falado em várias regiões, a língua portuguesa apresenta grandes variações regionais que modifi- cam o vocabulário utilizado, na forma como as palavras são pronunciadas e até na ordem na qual elas aparecem em uma oração. A leguminosa conhecida por muitos como aipim recebe o nome de mandioca ou macaxeira, em muitas outras regiões do Brasil. Idade do falante A idade do falante é também um aspecto importante nos estudos de variação linguística e está relacionado ao fato de as línguas variarem de acordo com o passar do tempo. O português nem sempre foi como é atualmente, portanto, pessoas de idades diferentes aprenderam a falar em épocas diferentes e apresentam um modo de falar que reflete essa variação. 10 11 Aspectos sociais A classe social à qual pertence o falante é um aspecto que pode estar intimamente interligado com seu grau de escolaridade, ou seja, tal situação social pode influenciar a variação linguística dos falantes. A questão do gênero Não podemos desconsiderar a diferença entre os modos de falar masculino e feminino, pois, se as condições sociais dos falantes determinam o modo como eles utilizam seu próprio idioma, se há diferenças nos papéis sociais histori- camente atribuídos a homens e mulheres, essas condições também poderão produzir uma variação entre os gêneros. Linguagem formal versus linguagem informal a. Norma culta/padrão: é a denominação dada à variedade linguística dos membros da classe social de maior prestígio dentro da classe literária. *Não se trata da única forma correta. b. Linguagem informal/popular: é a denominação dada à variedade linguística utilizada no cotidiano em que não exige a observância total da gramática. Língua falata versus língua escrita a. Língua falada/oral: dispõe de um número incontável de recursos rítmicos e melódicos – entonação, pau- sas, ritmo, fluência, gestos – porque, claro, o emissor (pessoa que fala ou transmite uma mensagem numa dada linguagem) está presente fisicamente. Algumas das características principais são: § frequência da ocorrência de repetições, hesitações e bordões de fala (“Pois, eu aaa... eu acho que... pron- to, não sei...“, Cara, o que é isso, cara?); § frases curtas; § frases inacabadas, porque foram cortadas ou interrompidas; § uso frequente da omissão de palavras. Ex.: Eu vou com minha mãe e com meu pai; Empresta o seu caderno? § formas contraídas. Ex.: prof, med, refri, facul; § afastamento das regras gramaticais. Ex.: Eu vi ele; § possibilidade de adequar o discurso de acordo com as reações dos ouvintes. b. Língua escrita: recorre a sinais de pontuação e de acentuação para exprimir os recursos rítmicos e meló- dicos da oralidade: § uso de ricas descrições; § faz atenção às regras gramaticais comum maior rigor; § sinais de pontuação e acentuação para transmitir a expressividade oral; § frases longas, apesar de também poder usar frases curtas; § uso de vocabulário mais amplo e cuidadoso; § conectivos e estruturas sintáticas para garantir a coesão textual. tipos de linguagem § Linguagem verbal: utiliza a língua falada ou escrita, sendo estas compostas por palavras. § Linguagem não-verbal: emprega todo código que não seja composto por palavras – movimentos faciais e corporais, gestos, olhares, entoação, imagens, símbolos, sons etc. semântica – elementos de análise Já que se fala a todo o momento de semântica no curso de Gramática, nada melhor do que apresentá-la logo no início do material de Interpretação (já que ela é parte essencial dos processos interpretativos). A semântica é o cam- po de estudos linguísticos que cuida dos significados das palavras e dos textos. Ela está presente em praticamente todos os outros campos gramaticais (com exceção dos estudos básicos de fonética e fonologia, ligados à ortografia e à acentuação). Pode ter certeza de que, onde há acepções de sentido, há semântica. Além de sua presença em várias áreas da Gramática, a semântica possui seus próprios elementos de análise, que conheceremos a seguir. Sinonímia Ocorre sinonímia quando temos palavras com significados idênticos ou muito semelhantes a outras. § Cão = cachorro § Jerimum = abóbora A sinonímia tem forte relação com a paráfrase (possibilidades de se reconstruir uma frase ou texto com outras palavras similares) e ajuda nos processos de coesão textual (por meio de sinônimos, evitamos a repetição de termos em um texto). 12 13 Antonímia Ocorre antonímia quando temos palavras com significados contrários a outras. § Bonito ≠ feio § Alto ≠ baixo Homonímia Ocorre homonímia quando temos palavras de grafia igual ou pronúncia igual, mas com significado diferente. Isso nos dá três tipos de homônimos: 1. Homônimo homófono heterógrafo (pronúncia igual – grafia diferente) Exemplo: acento (marca gráfica de tonalidade) e assento (local para se sentar) 2. Homônimo homógrafo heterófono (escrita igual – pronúncia diferente) Exemplo: jogo (substantivo) e jogo (verbo) 3. Homônimo homófono homógrafo (pronúncia igual – escrita igual) Exemplo: rio (substantivo) e (eu) rio (verbo) Paronímia Temos parônimos quando as palavras são muito parecidas, mas o sentido é diferente. Exemplo: comprimento (largura) e cumprimento (saudação) Exemplo: discriminar (separar) e descriminar (absolver) Polissemia Temos polissemia em palavras que preservam sua classe gramatical, mas que possuem significados múltiplos. Exemplo: natureza (meio ambiente) e natureza (essência de algo) Exemplo: banco (local onde se senta) e banco (instituição financeira) Hiperonímia e hiponímia São fenômenos que operam relações de abrangência entre palavras (palavras que englobam outras ou que são englobadas). As palavras que englobam são conhecidas como hiperônimos; as englobadas, como hipônimos. Exemplo: Comprei um bacalhau para preparar na semana santa. Esse peixe é bastante salgado. (peixe é uma palavra mais abrangente, que dá conta de bacalhau e de outros diversos peixes, portanto, podemos afirmar que peixe é hiperônimo de bacalhau, e bacalhau é hipônimo de peixe) Exemplo: Ouve um aumento da gasolina. Esse fato deixou os brasileiros irritados. (fato é uma palavra que dá conta de aumento da gasolina, portanto, podemos afirmar que fato é hiperônimo do trecho sublinhado) aplicação dos conhecimentos - sala 1. (ENEM) Desabafo Desculpem-me, mas não dá pra fazer uma cronicazinha divertida hoje. Simplesmente não dá. Não tem como disfarçar: esta é uma típica manhã de segunda-feira. A começar pela luz acesa da sala que esqueci ontem à noite. Seis recados para serem respondidos na secretária eletrônica. Recados chatos. Contas para pagar que venceram ontem. Estou nervoso. Estou zangado. CARNEIRO, J.E. Veja, 11 set. 2002 (fragmento) Nos textos em geral, é comum a manifestação simultânea de várias funções da linguagem, com predomínio, entretanto, de uma sobre as outras. No fragmento da crônica Desabafo, a função de linguagem predominante é a emotiva ou expressiva, pois: a) o discurso do enunciador tem como foco o próprio código. b) a atitude do enunciador se sobrepõe àquilo que está sendo dito. c) o interlocutor é o foco do enunciador na construção da mensagem. d) o referente é o elemento que se sobressai em detrimento dos demais. e) o enunciador tem como objetivo principal a manutenção da comunicação. 2. (ENEM) eu acho um fato interessante... né... foi como meu pai e minha mãe vieram se conhecer... né... que... minha mãe morava no Piauí com toda família... né... meu... meu avô... materno no caso... era maquinista... ele sofreu um acidente... infelizmente morreu... minha mãe tinha cinco anos... né... e o irmão mais velho dela... meu padrinho... tinha dezessete e ele foi obrigado a tra- balhar... foi trabalhar no banco... e... ele foi... o banco... no caso... estava... com um número de funcionários cheio e ele teve que ir para outro local e pediu transferência prum local mais perto de Parnaíba que era a cidade onde eles moravam e por engano o... o... escrivão entendeu Paraíba... né... e meu... e minha família veio parar em Mossoró que era exatamente o local mais perto onde tinha vaga pra funcionário do Banco do Brasil e ela foi parar na rua do meu pai... né... e começa- ram a se conhecer... namoraram onze anos... né... pararam algum tempo... brigaram... é lógico... porque todo relacionamento tem uma briga... né... e eu achei esse fato muito interessante porque foi uma coincidência incrível... né... como vieram a se conhecer... namoraram e hoje... e até hoje estão juntos... dezessete anos de casados... CUNHA, M. A. F. (Org.). Corpus discurso & gramática: a língua falada e escrita na cidade do Natal. Natal: EdUFRN, 1998. Na transcrição de fala, há um breve relato de experiência pessoal, no qual se observa a frequente repetição de “né”. Essa repetição é um(a): a) índice de baixa escolaridade do falante. b) estratégia típica de manutenção da interação oral. c) marca de conexão lógica entre conteúdos na fala. d) manifestação característica da fala regional nordestina. e) recurso enfatizador da informação mais relevante da narrativa. 3. (ENEM) Em bom português No Brasil, as palavras envelhecem e caem como folhas secas. Não é somente pela gíria que a gente é apanhada (aliás, já não se usa mais a primeira pessoa, tanto do singular como do plural: tudo é “a gente”). A própria linguagem corrente vai-se renovando e a cada dia uma parte do léxico cai em desuso. Minha amiga Lila, que vive descobrindo essas coisas, chamou minha atenção para os que falam assim: — Assisti a uma fita de cinema com um artista que representa muito bem. Os que acharam natural essa frase, cuidado! Não saberão dizer que viram um filme com um ator que trabalha bem. E irão ao banho de mar em vez de ir à praia, vestido de roupa de banho em vez de biquíni, carregando guarda-sol em vez de barraca. Comprarão um automóvel em vez de comprar um carro, pegarão um defluxo em vez de um resfriado, vão andar no passeio em vez de passear na calçada. Viajarão de trem de ferro e apresentarão sua esposa ou sua senhora em vez de apresentar sua mulher. SABINO, F. Folha de S.Paulo, 13 abr. 1984 (adaptado). A língua varia no tempo, no espaço e em diferentes classes socioculturais. O texto exemplifica essa característica da língua, evidenciando que: a) o uso de palavras novas deve ser incentivado em detrimento das antigas. b) a utilização de inovações no léxico é percebida na comparação de gerações. c) o emprego de palavras com sentidos diferentes caracteriza diversidade geográfica. d) a pronúncia e o vocabulário são aspectos identificadores da classe sociala que pertence o falante. e) o modo de falar específico de pessoas de diferentes faixas etárias é frequente em todas as regiões. 14 15 4. Leia o seguinte texto, que faz parte de um anúncio de um produto alimentício: EM RESPEITO A SUA NATUREZA, SÓ TRA- BALHAMOS COM O MELHOR DA NATUREZA Selecionamos só o que a natureza tem de melhor para levar até a sua casa. Porque faz parte da natureza dos nossos consumidores querer produtos saborosos, nutritivos e, aci- ma de tudo, confiáveis. www.destakjornal.com.br, 13/05/2013. Adaptado. Procurando dar maior expressividade ao tex- to, seu autor: a) serve-se do procedimento textual da sinonímia. b) recorre à reiteração de vocábulos homônimos. c) explora o caráter polissêmico das palavras. d) mescla as linguagens científica e jornalística. e) emprega vocábulos iguais na forma, mas de sentidos contrários. 5. (ENEM) E: Diva... tem algumas... alguma ex- periência pessoal que você passou e que você poderia me contar... alguma coisa que mar- cou você? Uma experiência... você poderia contar agora... I. É... tem uma que eu vivi quando eu es- tudava o terceiro ano científico lá no Atheneu... né... é:: eu gostava do labo- ratório de química... eu... eu ia ajudar os professores a limpar aquele material todo... aqueles vidros... eu achava aqui- lo fantástico... aquele monte de coisa... né... então... todos os dias eu ia... quando terminavam as aulas eu ajudava o profes- sor a limpar o laboratório... nesse dia não houve aula e o professor me chamou pra fazer uma limpeza geral no laboratório... chegando lá... ele me fez uma experiên- cia... ele me mostrou uma coisa bem in- teressante que... pegou um béquer com meio d’água e colocou um pouquinho de cloreto de sódio pastoso... então foi aque- le fogaréu desfilando... aquele fogaréu... quando o professor saiu... eu chamei umas duas colegas minhas pra mostrar a experiência que eu tinha achado fantás- tico... só que... eu achei o seguinte... se o professor colocou um pouquinho... foi aquele desfile... imagine se eu colocasse mais... peguei o mesmo béquer... coloquei uma colher... uma colher de cloreto de sódio... foi um fogaréu tão grande... foi uma explosão... quebrou todo o material que estava exposto em cima da mesa... eu branca... eu fiquei... olha... eu pensei que eu fosse morrer sabe... quando... o colé- gio inteiro correu pro laboratório pra ver o que tinha sido... CUNHA, M. A. F. (Org.). Corpus discurso & gramática: a língua falada e escrita na cidade de Natal. Natal: EdUFRN, 1998. Na transcrição de fala, especialmente, no tre- cho “eu branca... eu fiquei... olha... eu pensei que eu fosse morrer sabe...”, há uma estrutu- ra sintática fragmentada, embora facilmente interpretável. Sua presença na fala revela: a) distração e poucos anos de escolaridade. b) falta de coesão e coerência na apresentação das ideias. c) afeto e amizade entre os participantes da conversão. d) desconhecimento das regras de sintaxe da norma padrão. e) característica do planejamento e execução simultânea desse discurso. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Nós adoraríamos dizer que somos perfeitos. Que somos infalíveis. Que não cometemos nem mesmo o menor deslize. E só não fa- lamos isso por um pequeno detalhe: seria uma mentira. Aliás, em vez de usar a palavra “mentira”, como acabamos de fazer, poderí- amos optar por um eufemismo. “Meia-ver- dade”, por exemplo, seria um termo muito menos agressivo. Mas nós não usamos esta palavra simplesmente porque não acredita- mos que exista uma “Meia-verdade”. Para o Conar, Conselho Nacional de Autorregula- mentação Publicitária, existem a verdade e a mentira. Existem a honestidade e a deso- nestidade. Absolutamente nada no meio. O Conar nasceu há 29 anos (viu SÓ? não arre- dondamos para 30) com a missão de zelar pela ética na publicidade. Não fazemos isso porque somos bonzinhos (gostaríamos de di- zer isso, mas, mais uma vez, seria mentira). Fazemos isso porque é a única forma da pro- paganda ter o máximo de credibilidade. E, cá entre nós, para que serviria a propaganda se o consumidor não acreditasse nela? Qualquer pessoa que se sinta enganada por uma peça publicitária pode fazer uma recla- mação ao Conar. Ele analisa cuidadosamente todas as denúncias e, quando é o caso, aplica a punição. Anúncio veiculado na Revista Veja. São Paulo: Abril. Ed.2120, ano 42, nº27, 8 jul. 2009. 6. (ENEM) O recurso gráfico utilizado no anún- cio publicitário – de disfarçar a potencial supressão de trecho do texto – reforça a efi- cácia pretendida, revelada na estratégia de: a) ressaltar a informação no título, em detri- mento do restante do conteúdo associado. b) incluir o leitor por meio do uso da 1ª pessoa do plural no discurso. c) contar a história da criação do órgão como argumento de autoridade. 16 d) subverter o fazer publicitário pelo uso de sua metalinguagem. e) impressionar o leitor pelo jogo de palavras no texto. raio X 1. A função emotiva da linguagem tem como objetivo transmitir sentimentos e emo- ções do emissor, por isso é centrada na primeira pessoa tanto nas formas verbais (“esqueci”, “Estou”), quanto no pronome (“me”), exprimindo forte carga subjeti- va. Ou seja, a atitude do enunciador se sobrepõe àquilo que está sendo dito. 2. A expressão né, contração de não + é, é usada na fala como expressão no Brasil inteiro. É um marcador de interação oral entre o falante e o ouvinte, como se ser- visse para questionar ou mesmo chamar a atenção para dessa forma testar a co- municação com o ouvinte. Ou seja, usa-se esta expressão muito mais vezes do que se imagina ao falar, a fim de testar o en- volvimento do ouvinte com o assunto. 3. Pode-se entender que o cronista faz uma comparação entre um falar que seria atu- al, considerando o texto da década de oi- tenta, a um falar mais antigo ainda, evi- denciando as mudanças que ocorrem na língua em decorrência da ação do tempo e das respectivas gerações de falantes. 4. O autor usa o recurso da polissemia da palavra “natureza”, repetida quatro vezes no anúncio com dois significados distin- tos (na segunda e terceira aparições como “conjunto de elementos do mundo natu- ral” e, na primeira e quarta, como “o que compõe a substância do ser; essência”), conforme sua aplicação no contexto. 5. O texto que reproduz parte de uma entre- vista apresenta marcas de oralidade e in- terrupções do discurso que demonstram hesitação para relatar a sequência de fa- tos da forma verossímil e representativa das emoções do enunciador. Essa estru- tura fragmentada não impede o leitor de entender o ocorrido e perceber as sensa- ções vivenciadas pelo enunciador, já que isso acontece devido à sobreposição do planejamento e execução simultânea do discurso. 6. Ao suprimir o trecho do texto com um traço, permitindo a leitura do que havia sido escrito antes (“E ele é 100% eficien- te nesta missão”), a propaganda subverte o fazer publicitário pelo uso da metalin- guagem. gabarito 1. B 2. B 3. B 4. C 5. E 6. D 17 prática dos conhecimentos - e.o. 1. (ENEM) Mandioca – mais um presente da Amazônia Aipim, castelinha, macaxeira, maniva, ma- niveira. As designações da Manihot utilissi- ma podem variar de região, no Brasil, mas uma delas deve ser levada em conta em todo o território nacional: pão-de-pobre – e por vários motivos óbvios. Rica em fécula, a mandioca – uma planta rústica e nativa da Amazônia disseminada no mundo inteiro, especialmente pelos colonizadores portu- gueses – é a base de sustento de muitos bra- sileiros e o único alimento disponível para mais de 600 milhões de pessoas em vários pontos do planeta, e em particular em algu- mas regiões da África. O melhor do Globo Rural. Fev. 2005 (fragmento). Deacordo com o texto, há no Brasil uma va- riedade de nomes para a Manihot utilissima, nome científico da mandioca. Esse fenôme- no revela que: a) existem variedades regionais para nomear uma mesma espécie de planta. b) mandioca é nome específico para a espécie existente na região amazônica. c) “pão-de-pobre” é designação específica para a planta da região amazônica. d) os nomes designam espécies diferentes da planta, conforme a região. e) a planta é nomeada conforme as particulari- dades que apresenta. 2. (ENEM) Embora particularidades na produ- ção mediada pela tecnologia aproximem a escrita da oralidade, isso não significa que as pessoas estejam escrevendo errado. Mui- tos buscam, tão somente, adaptar o uso da linguagem ao suporte utilizado: “O contexto é que define o registro de língua. Se existe um limite de espaço, naturalmente, o su- jeito irá usar mais abreviaturas, como faria no papel”, afirma um professor do Departa- mento de Linguagem e Tecnologia do Cefet- -MG. Da mesma forma, é preciso considerar a capacidade do destinatário de interpre- tar corretamente a mensagem emitida. No entendimento do pesquisador, a escola, às vezes, insiste em ensinar um registro utili- zado apenas em contextos específicos, o que acaba por desestimular o aluno, que não vê sentido em empregar tal modelo em outras situações. Independentemente dos aparatos tecnológicos da atualidade, o emprego social da língua revela-se muito mais significativo do que seu uso escolar, conforme ressalta a diretora de Divulgação Científica da UFMG: “A dinâmica da língua oral é sempre presente. Não falamos ou escrevemos da mesma forma que nossos avós”. Some-se a isso o fato de os jovens se revelarem os principais usuários das novas tecnologias, por meio das quais conse- guem se comunicar com facilidade. A profes- sora ressalta, porém, que as pessoas precisam ter discernimento quanto às distintas situa- ções, a fim de dominar outros códigos. SILVA JR., M. G.; FONSECA. V. Revista Minas Faz Ciência, n. 51, set.-nov. 2012 (adaptado). Na esteira do desenvolvimento das tecno- logias de informação e de comunicação, usos particulares da escrita foram surgindo. Diante dessa nova realidade, segundo o tex- to, cabe à escola levar o aluno a: a) interagir por meio da linguagem formal no contexto digital. b) buscar alternativas para estabelecer melho- res contatos on-line. c) adotar o uso de uma mesma norma nos dife- rentes suportes tecnológicos. d) desenvolver habilidades para compreender os textos postados na web. e) perceber as especificidades das linguagens em diferentes ambientes digitais. 3. (ENEM) S.O.S Português Por que pronunciamos muitas palavras de um jeito diferente da escrita? Pode-se refle- tir sobre esse aspecto da língua com base em duas perspectivas. Na primeira delas, fala e escrita são dicotômicas, o que restringe o en- sino da língua ao código. Dai vem o entendi- mento de que a escrita e mais complexa que a fala, e seu ensino restringe-se ao conhe- cimento das regras gramaticais, sem a pre- ocupação com situações de uso. Outra abor- dagem permite encarar as diferenças como um produto distinto de duas modalidades da Prescrição: Para resolver os exercícios dessa aula, será necessário instrumentalizar conhecimentos a respeito de linguagem coloquial (usos orais) e de linguagem prescritiva (usos relacionados à gramática normativa). Isso envolve saber diferenciar usos linguísticos espaciais (regionais), temporais (históricos), sociais e também situacionais. 18 língua: a oral e a escrita. A questão e que nem sempre nos damos conta disso. S.O.S Português. Nova Escola. São Paulo: Abril, Ano XXV, n.° 231, abr. 2010 (fragmento adaptado). O assunto tratado no fragmento e relativo à língua portuguesa e foi publicado em uma revista destinada a professores. Entre as ca- racterísticas próprias desse tipo de texto, identificam-se as marcas linguísticas pró- prias do uso: a) regional, pela presença de léxico de determi- nada região do Brasil. b) literário, pela conformidade com as normas da gramática. c) técnico, por meio de expressões próprias de textos científicos. d) coloquial, por meio do registro de informalidade. e) oral, por meio do uso de expressões típicas da oralidade. 4. (ENEM) Futebol: “A rebeldia é que muda o mun- do” Conheça a história de Afonsinho, o primei- ro jogador do futebol brasileiro a derrotar a cartolagem e a conquistar o Passe Livre, há exatos 40 anos Pelé estava se aposentando pra valer pela pri- meira vez, então com a camisa do Santos (por- que depois voltaria a atuar pelo New York Cos- mos, dos Estados Unidos), em 1972, quando foi questionado se, finalmente, sentia-se um homem livre. O Rei respondeu sem titubear: — Homem livre no futebol só conheço um: o Afonsinho. Este sim pode dizer, usando as suas palavras, que deu o grito de indepen- dência ou morte. Ninguém mais. O resto é conversa. Apesar de suas declarações serem motivo de chacota por parte da mídia futebolística e até dos torcedores brasileiros, o Atleta do Século acertou. E provavelmente acertaria novamente hoje. Pela admiração por um de seus colegas de clube daquele ano. Pelo reconhecimento do caráter e personalidade de um dos jogadores mais contestadores do futebol nacional. E principalmente em razão da história de luta – e vitória – de Afonsinho sobre os cartolas. ANDREUCCI, R. Disponível em: http://carosamigos. terra.com.br. Acesso em: 19 ago. 2011. O autor utiliza marcas linguísticas que dão ao texto um caráter informal. Uma dessas marcas é identificada em: a) “[...] o Atleta do Século acertou.” b) “O Rei respondeu sem titubear [...]”. c) “E provavelmente acertaria novamente hoje.” d) “Pelé estava se aposentando pra valer pela primeira vez [...]”. e) “Pela admiração por um de seus colegas de clube daquele ano.” 5. (ENEM) Só há uma saída para a escola se ela quiser ser mais bem-sucedida: aceitar a mudança da língua como um fato. Isso deve significar que a escola deve aceitar qualquer forma da língua em suas atividades escritas? Não deve mais corrigir? Não! Há outra dimensão a ser considerada: de fato, no mundo real da escrita, não existe apenas um português correto, que valeria para todas as ocasiões: o estilo dos contratos não é o mesmo do dos manuais de instrução; o dos juízes do Supremo não é o mesmo do dos cordelistas; o dos editoriais dos jornais não é o mesmo do dos cadernos de cultura dos mesmos jornais. Ou do de seus colunistas. POSSENTI, S. “Gramática na cabeça”. Língua Portuguesa, ano 5, n. 67, maio 2011 (adaptado). Sírio Possenti defende a tese de que não existe um único “português correto”. Assim sendo, o domínio da língua portuguesa im- plica, entre outras coisas, saber: a) descartar as marcas de informalidade do texto. b) reservar o emprego da norma-padrão aos textos de circulação ampla. c) moldar a norma-padrão do português pela linguagem do discurso jornalístico. d) adequar as formas da língua a diferentes ti- pos de texto e contexto. e) desprezar as formas da língua previstas pe- las gramáticas e manuais divulgados pela escola. 6. (ENEM) O exercício da crônica Escrever prosa é uma arte ingrata. Eu digo prosa fiada, como faz um cronista; não a prosa de um ficcionista, na qual este é leva- do meio a tapas pelas personagens e situa- ções que, azar dele, criou porque quis. Com um prosador do cotidiano, a coisa fia mais fino. Senta-se ele diante de sua máquina, olha através da janela e busca fundo em sua imaginação um fato qualquer, de preferência colhido no noticiário matutino, ou da vés- pera, em que, com as suas artimanhas pe- culiares, possa injetar um sangue novo. Se nada houver, resta-lhe o recurso de olhar em torno e esperar que, através de um processo associativo, surja-lhede repente a crônica, provinda dos fatos e feitos de sua vida emo- cionalmente despertados pela concentração. Ou então, em última instância, recorrer ao assunto da falta de assunto, já bastante gas- to, mas do qual, no ato de escrever, pode sur- gir o inesperado. MORAES, V. Para viver um grande amor: crônicas e poemas. São Paulo: Cia. das Letras, 1991. Predomina nesse texto a função da lingua- gem que se constitui: 19 a) nas diferenças entre o cronista e o ficcionista. b) nos elementos que servem de inspiração ao cronista. c) nos assuntos que podem ser tratados em uma crônica. d) no papel da vida do cronista no processo de escrita da crônica. e) nas dificuldades de se escrever uma crônica por meio de uma crônica. 7. (ENEM) Os objetivos que motivam os seres humanos a estabelecer comunicação determinam, em uma situação de interlocução, o predomínio de uma ou de outra função de linguagem. Nesse texto, predomina a função que se ca- racteriza por: a) tentar persuadir o leitor acerca da necessi- dade de se tomarem certas medidas para a elaboração de um livro. b) enfatizar a percepção subjetiva do autor, que projeta para sua obra seus sonhos e his- tórias. c) apontar para o estabelecimento de interlo- cução de modo superficial e automático, en- tre o leitor e o livro. d) fazer um exercício de reflexão a respeito dos princípios que estruturam a forma e o con- teúdo de um livro. e) retratar as etapas do processo de produção de um livro, as quais antecedem o contato entre leitor e obra. 8. (ENEM) É água que não acaba mais Dados preliminares divulgados por pesqui- sadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) apontaram o Aquífero Alter do Chão como o maior depósito de água potável do planeta. Com volume estimado em 86000 quilômetros cúbicos de água doce, a reserva subterrânea está localizada sob os estados do Amazonas, Pará e Amapá. Essa quanti- dade de água será suficiente para abastecer a população mundial durante 500 anos, diz Milton Matta, geólogo da UFPA. Em termos comparativos, Alter do Chão tem quase o do- bro do volume de água do Aquífero Guarani (com 45 000 quilômetros cúbicos). Até en- tão, Guarani era a maior reserva subterrânea do mundo, distribuída por Brasa, Argentina, Paraguai e Uruguai. Época. Nº623. 26 abr. 2010. Essa notícia, publicada em uma revista de grande circulação, apresenta resultados de uma pesquisa cientifica realizada por uma universidade brasileira. Nessa situação espe- cífica de comunicação, a função referencial da linguagem predomina, porque o autor do texto prioriza: a) as suas opiniões, baseadas em fatos. b) os aspectos objetivos e precisos. c) os elementos de persuasão do leitor. d) os elementos estéticos na construção do texto. e) os aspectos subjetivos da mencionada pesquisa. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Canção do vento e da minha vida O vento varria as folhas, O vento varria os frutos, O vento varria as flores... E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De frutos, de flores, de folhas. [...] O vento varria os sonhos E varria as amizades... O vento varria as mulheres... E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De afetos e de mulheres. O vento varria os meses E varria os teus sorrisos... O vento varria tudo! E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De tudo. BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967. 9. (ENEM) Predomina no texto a função da lin- guagem: a) fática, porque o autor procura testar o canal de comunicação. b) metalinguística, porque há explicação do significado das expressões. c) conativa, uma vez que o leitor é provocado a participar de uma ação. 20 d) referencial, já que são apresentadas infor- mações sobre acontecimentos e fatos reais. e) poética, pois chama-se a atenção para a ela- boração especial e artística da estrutura do texto. 10. (ENEM) A forte presença de palavras indí- genas e africanas e de termos trazidos pelos imigrantes a partir do século XIX é um dos traços que distinguem o português do Brasil e o português de Portugal. Mas, olhando para a história dos empréstimos que o português brasileiro recebeu de línguas europeias a partir do século XX, outra diferença também aparece: com a vinda ao Brasil da família real portuguesa (1808) e, particularmente, com a Independência, Portugal deixou de ser o intermediário obrigatório da assimilação desses empréstimos e, assim, Brasil e Portu- gal começaram a divergir, não só por terem sofrido influências diferentes, mas também pela maneira como reagiram a elas. ILARI, R.; BASSO, R. O português da gente: a língua que estudamos, a língua que falamos. São Paulo: Contexto, 2006. Os empréstimos linguísticos, recebidos de diversas línguas, são importantes na consti- tuição do português do Brasil porque: a) deixaram marcas da história vivida pela na- ção, como a colonização e a imigração. b) transformaram em um só idioma línguas di- ferentes, como as africanas, as indígenas e as europeias. c) promoveram uma língua acessível a falantes de origens distintas, como o africano, o in- dígena e o europeu. d) guardaram uma relação de identidade entre os falantes do português do Brasil e os do português de Portugal. e) tornaram a língua do Brasil mais complexa do que as línguas de outros países que tam- bém tiveram colonização portuguesa. 11. (ENEM) Gerente – Boa tarde. Em que eu pos- so ajudá-lo? Cliente – Estou interessado em financiamen- to para compra de veículo. Gerente – Nós dispomos de várias modalida- des de crédito. O senhor é nosso cliente? Cliente – Sou Júlio César Fontoura, também sou funcionário do banco. Gerente – Julinho, é você, cara? Aqui é a He- lena! Cê tá em Brasília? Pensei que você inda tivesse na agência de Uberlândia! Passa aqui pra gente conversar com calma. BORTONI-RICARDO, S. M. Educação em língua materna. São Paulo: Parábola, 2004 (adaptado). Na representação escrita da conversa telefô- nica entre a gerente do banco e o cliente, observa-se que a maneira de falar da gerente foi alterada de repente devido: a) à adequação de sua fala à conversa com um amigo, caracterizada pela informalidade. b) à iniciativa do cliente em se apresentar como funcionário do banco. c) ao fato de ambos terem nascido em Uberlân- dia (Minas Gerais). d) à intimidade forçada pelo cliente ao fornecer seu nome completo. e) ao seu interesse profissional em financiar o veículo de Júlio. 12. (ENEM) TEXTO I Um ato de criatividade pode contudo gerar um modelo produtivo. Foi o que ocorreu com a palavra sambódromo, criativamente forma- da com a terminação -(ó)dromo (= corrida), que figura em hipódromo, autódromo, cartó- dromo, formas que designam itens culturais da alta burguesia. Não demoraram a circular, a partir de então, formas populares como rangódromo, beijódromo, camelódromo. AZEREDO, J. C. Gramática Houaiss da língua portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008. TEXTO II Existe coisa mais descabida do que chamar de sambódromo uma passarela para desfile de escolas de samba? Em grego, -dromo quer dizer “ação de correr, lugar de corrida”, dai as palavras autódromo e hipódromo. É certo que, às vezes, durante o desfile, a escola se atrasa e é obrigada a correr para não perder pontos, mas não se desloca com a velocidade de um cavalo ou de um carro de Fórmula 1. GULLAR, F. Disponível em: www1.folha. uol.com.br. Acesso em: 3 ago, 2012. Há nas línguas mecanismos geradores de palavras. Embora o Texto II apresente um julgamento de valor sobre a formação da pa- lavra sambódromo, o processo de formação dessa palavra reflete: a) o dinamismo da língua na criação de novas palavras. b) uma nova realidade limitando o aparecimen- to de novas palavras. c) a apropriação inadequada de mecanismos decriação de palavras por leigos. d) o reconhecimento da impropriedade semân- tica dos neologismos. e) a restrição na produção de novas palavras com o radical grego. 13. (ENEM) Tarefa Morder o fruto amargo e não cuspir Mas avisar aos outros quanto é amargo Cumprir o trato injusto e não falhar Mas avisar aos outros quanto é injusto Sofrer o esquema falso e não ceder Mas avisar aos outros quanto é falso 21 Dizer também que são coisas mutáveis... E quando em muitos a não pulsar – do amargo e injusto e falso por mudar – então confiar à gente exausta o plano de um mundo novo e muito mais humano. CAMPOS, G. Tarefa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981. Na organização do poema, os empregos da conjunção “mas” articulam, para além de sua função sintática: a) a ligação entre verbos semanticamente se- melhantes. b) a oposição entre ações aparentemente in- conciliáveis. c) a introdução do argumento mais forte de uma sequência. d) o reforço da causa apresentada no enunciado introdutório. e) a intensidade dos problemas sociais presen- tes no mundo. 14. (ENEM) Labaredas nas trevas Fragmentos do diário secreto de Teodor Konrad Nalecz Korzeniowski 20 DE JULHO [1912] Peter Sumerville pede-me que escreva um artigo sobre Crane. Envio-lhe uma carta: “Acredite-me, prezado senhor, nenhum jor- nal ou revista se interessaria por qualquer coisa que eu, ou outra pessoa, escrevesse so- bre Stephen Crane. Ririam da sugestão. [...] Dificilmente encontro alguém, agora, que saiba quem é Stephen Crane ou lembre-se de algo dele. Para os jovens escritores que estão surgindo ele simplesmente não existe”. 20 DE DEZEMBRO [1919] Muito peixe foi embrulhado pelas folhas de jornal. Sou reconhecido como o maior escri- tor vivo da língua inglesa. Já se passaram dezenove anos desde que Crane morreu, mas eu não o esqueço. E parece que outros tam- bém não. The London Mercury resolveu cele- brar os vinte e cinco anos de publicação de um livro que, segundo eles, foi “um fenôme- no hoje esquecido” e me pediram um artigo. FONSECA, R. Romance negro e outras histórias. São Paulo: Companhia das Letras, 1992 (fragmentado). Na construção de textos literários, os autores recorrem com frequência a expressões meta- fóricas. Ao empregar o enunciado metafóri- co “Muito peixe foi embrulhado pelas folhas de jornal”, pretendeu-se estabelecer, entre dois fragmentos do texto em questão, uma relação semântica de: a) causalidade, segundo a qual se relacionam as partes de um texto, em que uma contém a causa e a outra, a consequência. b) temporalidade, segundo a qual se articulam as partes de um texto, situando no tempo o que é relatado nas partes em questão. c) condicionalidade, segundo a qual se combi- nam duas partes de um texto, em que uma resulta ou depende de circunstâncias apre- sentadas à outra. d) adversidade, segundo a qual se articulam duas partes de um texto em que uma apre- senta uma orientação argumentativa distin- ta e oposta à outra. e) finalidade, segundo a qual se articulam duas partes de um texto em que uma apresenta o meio, por exemplo, para uma ação e a outra, o desfecho da mesma. 15. (ENEM) A substituição do haver por ter em construções existenciais, no português do Brasil, corresponde a um dos processos mais característicos da história da língua portu- guesa, paralelo ao que já ocorrera em relação à ampliação do domínio de ter na área se- mântica de “ posse”, no final da fase arcaica. Mattos e Siva (2001:136) analisa as vitórias de ter sobre haver e discute a emergência de ter existencial, tomando por base a obra pe- dagógica de João de Barros. Em textos escri- tos nos anos quarenta e cinquenta do século XVI, encontram-se evidências, embora raras, tanto de ter “existencial”, não mencionado pelos clássicos estudos de sintaxe históri- ca, quanto de haver como verbo existencial com concordância, lembrado por Ivo Castro, e anotado como “novidade” no século XVIII por Said Ali. Como se vê, nada é categórico e um purismo estreito só revela um conhecimento deficien- te da língua. Há maios perguntas que res- postas. Pode-se conceber uma norma única e prescritiva? É válido confundir o bom uso e a norma da própria língua e dessa forma fazer uma avaliação crítica e hierarquizante de outros usos e, através deles, dos usuários? Substitui-se uma norma por outra? CALLOU, D. A propósito de norma, correção e preconceito linguístico: do presente para o passado. In: Cadernos de Letras da UFF, n. 36, 2008. Disponível em: www. uff.br. Acesso em 26 fev 2012 (adaptado). Para a autora, a substituição de “haver” por “ter” em diferentes contextos evidencia que: a) o estabelecimento de uma norma prescinde de uma pesquisa histórica. b) os estudos clássicos de sintaxe histórica en- fatizam a variação e a mudança na língua. c) a avaliação crítica e hierarquizante dos usos da língua fundamenta a definição da norma. d) a adoção de uma única norma revela uma ati- tude adequada para os estudos linguísticos. e) os comportamentos puristas são prejudiciais à compreensão da constituição linguística. 22 16. (ENEM) Diego Souza ironiza torcida do Pal- meiras O Palmeiras venceu o Atlético-GO pelo placar de 1 a 0, com um gol no final da partida. O cenário era para ser de alegria, já que a equi- pe do Verdão venceu e deu um importante passo para conquistar a vaga para as semi- finais, mas não foi bem isso que aconteceu. O meia Diego Souza foi substituído no se- gundo tempo debaixo de vaias dos torce- dores palmeirenses e chegou a fazer gestos obscenos respondendo à torcida. Ao final do jogo, o meia chegou a dizer que estava feliz por jogar no Verdão. — Eu não estou pensando em sair do Palmei- ras. Estou muito feliz aqui – disse. Perguntado sobre as vaias da torcida en- quanto era substituído, Diego Souza ironi- zou a torcida do Palmeiras. — Vaias? Que vaias? – ironiza o camisa 7 do Verdão, antes de descer para os vestiários. Disponível em: http://oglobo.globo. com. Acesso em: 29 abr. 2010. A progressão textual realiza-se por meio de relações semânticas que se estabelecem en- tre as partes do texto. Tais relações podem ser claramente apresentadas pelo emprego de elementos coesivos ou não ser explicita- das, no caso da justaposição. Considerando- -se o texto lido: a) no primeiro parágrafo, o conectivo já que marca uma relação de consequência entre os segmentos do texto. b) no primeiro parágrafo, o conectivo mas ex- plicita uma relação de adição entre os seg- mentos do texto. c) entre o primeiro e o segundo parágrafos, está implícita uma relação de causalidade. d) no quarto parágrafo, o conectivo enquanto estabelece uma relação de explicação entre os segmentos do texto. e) entre o quarto e o quinto parágrafos, está implícita uma relação de oposição. 17. (ENEM) O efeito de sentido da charge é provoca- do pela combinação de informações visu- ais e recursos linguísticos. No contexto da ilustração, a frase proferida recorre à: a) polissemia, ou seja, aos múltiplos sentidos da expressão “rede social” para transmitir a ideia que pretende veicular. b) ironia para conferir um novo significado ao termo “outra coisa”. c) homonímia para opor, a partir do advérbio de lugar, o espaço da população pobre e o espaço da população rica. d) personificação para opor o mundo real pobre ao mundo virtual rico. e) antonímia para comparar a rede mundial de computadores com a rede caseira de descan- so da família. 18. (ENEM) eu gostava muito de passeá... saí com as minhas colegas... brincá na porta di casa di vôlei... andá de patins... bicicleta... quando eu levava um tombo ou outro... eu era a::... a palhaça da turma... ((risos))... eu acho que foi uma das fases mais... assim... gostosas da minha vida... essa fasede quin- ze... dos meus treze aos dezessete anos... A.P.S., sexo feminino, 38 anos , nível de ensino fundamental. Projeto Fala Goiana, UFG, 2010 (inédito). Um aspecto da composição estrutural que caracteriza o relato pessoal de A.P.S. como modalidade falada da língua é: a) predomínio de linguagem informal entrecor- tada por pausas. b) vocabulário regional desconhecido em ou- tras variedades do português. c) realização do plural conforme as regras da tradição gramatical. d) ausência de elementos promotores de coesão entre os eventos narrados. e) presença de frases incompreensíveis a um leitor iniciante. 19. (ENEM) TEXTO I Antigamente Antigamente, os pirralhos dobravam a lín- gua diante dos pais e se um se esquecia de arear os dentes antes de cair nos braços de Morfeu, era capaz de entrar no couro. Não devia também se esquecer de lavar os pés, sem tugir nem mugir. Nada de bater na ca- cunda do padrinho, nem de debicar os mais velhos, pois levava tunda. Ainda cedinho, aguava as plantas, ia ao corte e logo vol- tava aos penates. Não ficava mangando na rua nem escapulia do mestre, mesmo que não entendesse patavina da instrução moral e cívica. O verdadeiro smart calçava botina de botões para comparecer todo liró ao copo d’água, se bem que no convescote apenas lambiscasse, para evitar flatos. Os bilontras é que eram um precipício, jogando com pau de dois bicos, pelo que carecia muita cautela 23 e caldo de galinha. O melhor era pôr as bar- bas de molho diante de um treteiro de tope- te, depois de fintar e engambelar os coiós, e antes que se pudesse tudo em pratos limpos, ele abria o arco. ANDRADE, C. D. Poesia e prosa. Rio de janeiro: nova Aguilar, 1983 (fragmento). TEXTO II Palavras do arco da velha Expressão Significado Cair nos braços de Morfeu Dormir Debicar Zombar, ridicularizar Tunda Surra Mangar Escarnecer, caçoar Tugir Murmurar Liró Bem-vestido Copo d’água Lanche ofereci- do pelos amigos Convescote Piquenique Bilontra Velhaco Treteiro de topete Tratante atrevido Abrir o arco Fugir FLORIN, J. L. As línguas mudam. In: Revista Língua Portuguesa, n. 24, out. 2007 (adaptado). Na leitura do fragmento do texto Antiga- mente constata-se, pelo emprego de palavras obsoletas, que itens lexicais outrora produti- vos não mais o são no português brasileiro atual. Esse fenômeno revela que: a) a língua portuguesa de antigamente carecia de termos para se referir a fatos e coisas do cotidiano. b) o português brasileiro se constitui evitando a ampliação do léxico proveniente do portu- guês europeu. c) a heterogeneidade do português leva a uma estabilidade do seu léxico no eixo temporal. d) o português brasileiro apoia-se no léxico in- glês para ser reconhecido como língua inde- pendente. e) o léxico do português representa uma reali- dade linguística variável e diversificada. 20. (ENEM) Cabeludinho Quando a Vó me recebeu nas férias, ela me apresentou aos amigos: Este é meu neto. Ele foi estudar no Rio e voltou de ateu. Ela disse que eu voltei de ateu. Aquela preposição des- locada me fantasiava de ateu. Como quem dissesse no Carnaval: aquele menino está fantasiado de palhaço. Minha avó entendia de regências verbais. Ela falava de sério. Mas todo-mundo riu. Porque aquela preposição deslocada podia fazer de uma informação um chiste. E fez. E mais: eu acho que bus- car a beleza nas palavras é uma solenidade de amor. E pode ser instrumento de rir. De outra feita, no meio da pelada um menino gritou: Disilimina esse, Cabeludinho. Eu não disilimei ninguém. Mas aquele verbo novo trouxe um perfume de poesia a nossa qua- dra. Aprendi nessas férias a brincar de pala- vras mais do que trabalhar com elas. Comecei a não gostar de palavra engavetada. Aquela que não pode mudar de lugar. Aprendi a gos- tar mais das palavras pelo que elas entoam do que pelo que elas informam. Por depois ouvi um vaqueiro a cantar com saudade: Ai morena, não me escreve / que eu não sei a ler. Aquele a preposto ao verbo ler, ao meu ouvir, ampliava a solidão do vaqueiro. BARROS, M. Memórias inventadas: a infância. São Paulo: Planeta, 2003. No texto, o autor desenvolve uma reflexão sobre diferentes possibilidades de uso da língua e sobre os sentidos que esses usos podem produzir, a exemplo das expressões “voltou de ateu”, “desilimina esse” e “eu não sei a ler”. Com essa reflexão, o autor destaca: a) os desvios linguísticos cometidos pelos per- sonagens do texto. b) a importância de certos fenômenos grama- ticais para o conhecimento da língua portu- guesa. c) a distinção clara entre a norma culta e as outras variedades linguísticas. d) o relato fiel de episódios vividos por Cabelu- dinho durante as suas férias. e) a valorização da dimensão lúdica e poética presente nos usos coloquiais da linguagem. 21. (ENEM) Sou feliz pelos amigos que tenho. Um deles muito sofre pelo meu descuido com o vernáculo. Por alguns anos ele siste- maticamente me enviava missivas eruditas com precisas informações sobre as regras da gramática, que eu não respeitava, e sobre a grafia correta dos vocábulos, que eu ignora- va. Fi-lo sofrer pelo uso errado que fiz de uma palavra num desses meus badulaques. Acontece que eu, acostumado a conversar com a gente das Minas Gerais, falei em “var- reção” – do verbo “varrer”. De fato, trata-se de um equívoco que, num vestibular, poderia me valer uma reprovação. Pois o meu ami- go, paladino da língua portuguesa, se deu ao trabalho de fazer um Xerox da página 827 do dicionário, aquela que tem, no topo, a foto- grafia de uma “varroa” (sic!) (você não sabe o que é uma “varroa”?) para corrigir-me do meu erro. E confesso: ele está certo. O cer- to é “varrição” e não “varreção”. Mas estou com medo de que os mineiros da roça façam troça de mim porque nunca os vi falar de “varrição”. E se eles rirem de mim não vai 24 me adiantar mostrar-lhes o xerox da página do dicionário com a “varroa” no topo. Por- que para eles não é o dicionário que faz a língua. É o povo. E o povo, lá nas montanhas de Minas Gerais, fala “varreção” quando não “barreção”. O que me deixa triste sobre esse amigo oculto é que nunca tenha dito nada sobre o que eu escrevo, se é bonito ou se é feio. Toma a minha sopa, não diz nada sobre ela, mas reclama sempre que o prato está ra- chado. ALVES, R. Mais badulaques. São Paulo: Parábola, 2004 (fragmento) De acordo com o texto, após receber a carta de um amigo “que se deu ao trabalho de fa- zer um Xerox da página 827 do dicionário” sinalizando um erro de grafia, o autor reco- nhece: a) a supremacia das formas da língua em rela- ção ao seu conteúdo. b) a necessidade da norma padrão em situações formais de comunicação escrita. c) a obrigatoriedade da norma culta da língua, para a garantia de uma comunicação efetiva. d) a importância da variedade culta da língua, para a preservação da identidade cultural de um povo. e) a necessidade do dicionário como guia de adequação linguística em contextos infor- mais privados. 22. (ENEM) Entrevista com Marcos Bagno Pode parecer inacreditável, mas muitas das prescrições da pedagogia tradicional da lín- gua até hoje se baseiam nos usos que os es- critores portugueses do século XIX faziam da língua. Se tantas pessoas condenam, por exemplo, o uso do verbo “ter” no lugar do verbo “haver”, como em “hoje tem feijoa- da”, é simplesmente porque os portugueses, em dado momento da história de sua língua, deixaram de fazer esse uso existencial do verbo “ter”. No entanto, temos registros escritos da épo- ca medieval em que aparecem centenas des- ses usos. Se nós, brasileiros, assim como os falantes africanos de português, usamos até hoje o verbo “ter” como existencial é porque recebemos esses usosde nossos ex-coloniza- dores. Não faz sentido imaginar que brasilei- ros, angolanos e moçambicanos decidiram se juntar para “errar” na mesma coisa. E assim acontece com muitas outras coisas: regên- cias verbais, colocação pronominal, concor- dâncias nominais e verbais etc. Temos uma língua própria, mas ainda somos obrigados a seguir uma gramática normativa de outra língua diferente. Às vésperas de comemorar- mos nosso bicentenário de independência, não faz sentido continuar rejeitando o que é nosso para só aceitar o que vem de fora. Não faz sentido rejeitar a língua de 190 mi- lhões de brasileiros para só considerar certo o que é usado por menos de dez milhões de portugueses. Só na cidade de São Paulo te- mos mais falantes de português que em toda a Europa! Informativo Parábola Editorial, s/d. Na entrevista, o autor defende o uso de for- mas linguísticas coloquiais e faz uso da nor- ma de padrão em toda a extensão do texto. Isso pode ser explicado pelo fato de que ele: a) adapta o nível de linguagem à situação co- municativa, uma vez que o gênero entrevis- ta requer o uso da norma padrão. b) apresenta argumentos carentes de compro- vação científica e, por isso, defende um pon- to de vista difícil de ser verificado na mate- rialidade do texto. c) propõe que o padrão normativo deve ser usado por falantes escolarizados como ele, enquanto a norma coloquial deve ser usada por falantes não escolarizados. d) acredita que a língua genuinamente bra- sileira está em construção, o que o obriga a incorporar em seu cotidiano a gramática normativa do português europeu. e) defende que a quantidade de falantes portu- guês brasileiro ainda é insuficiente para aca- bar com a hegemonia do antigo colonizador. 23. (ENEM) O léxico e a cultura Potencialmente, todas as línguas de todos os tempos podem candidatar-se a expressar qualquer conteúdo. A pesquisa linguística do século XX demonstrou que não há diferença qualitativa entre os idiomas do mundo – ou seja, não há idiomas gramaticalmente mais primitivos ou mais desenvolvidos. Entretanto, para que possa ser efetivamente utilizada, essa igualdade potencial precisa realizar-se na prática histórica do idioma, o que nem sempre acontece. Teoricamente uma língua com pouca tradição escrita (como as línguas indígenas brasilei- ras) ou uma língua já extinta (como o latim ou grego clássico) podem ser empregadas para falar sobre qualquer assunto, como, di- gamos, física quântica ou biologia molecular. Na prática, contudo, não é possível, de uma hora para outra, expressar tais conteúdos em camaiurá ou latim, simplesmente porque não haveria vocabulário próprio para esses conteúdos. É perfeitamente possível desen- volver esse vocabulário especifico , seja por meio de empréstimos de outras línguas, seja por meio de criação de novos termos na lín- gua em questão, mas tal tarefa não se rea- lizaria em pouco tempo nem com pouco es- forço. BEARZOTI FILHO, P. Miniaurélio: o dicionário da língua portuguesa. Manual do professor. Curitiba: Positivo, 2004 (fragmento) 25 Estudos contemporâneos mostram que cada língua possui sua própria complexidade e dinâmica de funcionamento. O texto ressalta essa dinâmica, na medida em que enfatiza: a) a inexistência de conteúdo comum a todas as línguas, pois o léxico contempla visão de mundo particular específica de uma cultura. b) a existência de língua limitadas por não per- mitirem ao falante nativo se comunicar per- feitamente a respeito de qualquer conteúdo. c) a tendência a serem mais restritos o voca- bulário e a gramática de línguas indígenas, se comprados com outras línguas de origem europeia. d) a existência de diferenças vocabulares entre os idiomas, especificidades relacionadas à própria cultura dos falantes de uma comu- nidade. e) a atribuição de maior importância sociocul- tural às línguas contemporâneas, pois per- mitem que sejam abordadas quaisquer temá- ticas, sem dificuldades. 24. (ENEM) As diferentes esferas sociais de uso da lín- gua obrigam o falante a adaptá-la as varia- das situações de comunicação. Uma das marcas linguísticas que configuram a linguagem oral informal usada entre avô e neto neste texto é: a) a opção pelo emprego da forma verbal “era” em lugar de “foi”. b) a ausência de artigo antes da palavra “árvore”. c) o emprego da redução “tá” em lugar da for- ma verbal “está”. d) o uso da contração “desse” em lugar da ex- pressão “de esse”. e) a utilização do pronome “que” em início de frase exclamativa. gabarito 1. A 2. E 3. C 4. D 5. D 6. E 7. D 8. B 9. E 10. A 11. A 12. A 13. C 14. B 15. E 16. C 17. A 18. A 19. E 20. E 21. B 22. A 23. D 24. C Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para sua vida. H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação. H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais. H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas. H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação. Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras culturas e grupos sociais. H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema. H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas. H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social. H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística. Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da identidade. H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social. H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas. H11 Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para diferentes indivíduos. Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e da própria identidade. H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais. H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos. H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos. Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção. H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político. H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário. H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional. Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação. H18 Identificaros elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos. H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução. H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas. H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos. H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos. H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados. H24 Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção, chantagem, entre outras. Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização do mundo e da própria identidade. H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro. H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social. H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação. Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte, às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar. H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação. H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação. H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem. 27 BREVIÁRIO Gêneros musicais Samba Samba é um gênero musical conhecido pelas presença de batidas fortes, violão, pandeiros, cuícas e por letras que retomam temáticas amorosas. Sua origem está fortemente ligada à realização dos rituais do candomblé e da um- banda no Rio de Janeiro e na Bahia, no início do século XX. Forró O forró é um gênero musical proveniente do Nordeste brasileiro. Originou-se nas festas juninas e em outros eventos da região do Brasil, sendo reconhecido por canções elaboradas com zabumba, sanfona e triângulo. Rock O rock não é um gênero musical de origem brasileira. Ele surgiu e se firmou no sul dos Estados Unidos, nos anos 1950, e se espalhou para todo o mundo. Atualmente, os instrumentos musicais mais utilizados são a guitarra elé- trica, o baixo, a bateria e o teclado. Sertanejo O sertanejo é um gênero musical conhecido em todo o Brasil. É significativamente parecido com o country norte- -americano, e tem origem no interior de estados de Goiás, Minas Gerais e São Paulo. A execução é feita, sobretudo, por violas e pelo canto em duplas, com arranjos de voz muito particulares ao estilo. Música popular brasileira (MPB) A MPB é um dos gêneros musicais mais famosos fora do Brasil. Os estilos musicais que pertencem à MPB derivam da Bossa Nova, e, algumas vezes, são marcados por canções, cuja letra tenha um teor crítico-social, e por instru- mentos tipicamente brasileiros. Competências 1, 6, 7 e 8 Habilidades 1, 2, 3, 4, 19, 23, 24, 25 e 26 Aula 2 Choro O choro é um gênero musical brasileiro, cuja composição instrumental baseia-se, sobretudo, na trinca flauta, violão e cavaquinho. Surgiu no subúrbio do Rio de Janeiro, entre os séculos XIX e XX. Tornou-se um dos ritmos brasileiros de maior prestígio e requinte. Música clássica A música erudita ou clássica contempla uma forma musical admitida nas academias, cuja concepção está ligada às convenções e aos cânones previamente determinados pelos historiadores da música. Ela, historicamente, admitiu o sentido de música séria, contrapondo-se às canções populares. Outra definição trata a música clássica como uma estrutura estética que se diferencia das outras, pois apresenta rigor e harmonia, sem a presença de informalidades típicas da cultura popular. o Gênero publicitário Entende-se por gênero publicitário aquele que tem como objetivo principal fazer com que o interlocutor/ouvinte tome parte em alguma causa, seja comprar um produto ou aderir a uma ideia. São textos de cunho persuasivo, por isso estão completamente ligados à função apelativa/conativa da linguagem. Os textos publicitários estão forte- mente inseridos na sociedade contemporânea, e, por esse motivo, estão presentes em muitos vestibulares. Ao lado do gênero jornalístico, é dos que apresenta maior número de questões registradas. Estrutura do texto publicitário Como dito anteriormente, os textos publicitários têm uma configuração bastante ampla. Por esse motivo, sua es- trutura apresenta um conjunto significativo de elementos que conheceremos a seguir: O título Habitualmente, os textos publicitários apresentam um título, que consiste num texto mais curto que já evidencia, logo de cara, as intenções do anúncio. Pode ser um pequeno texto assertivo ou interrogativo, e deve atrair a aten- ção do interlocutor de maneira imediata. O texto No texto do anúncio publicitário encontramos as principais estruturas de persuasão. Nele encontramos os argu- mentos que levariam o interlocutor a adquirir um produto ou a adotar um comportamento. Aqui, concentra-se a função apelativa da linguagem. A assinatura A assinatura aparece como uma estratégia de encerramento do texto publicitário. Em anúncios impressos, costuma vir posicionado à direita, no canto inferior do texto. É formado pela marca do produto (por exemplo, Coca-Cola) ou pela evidenciação da campanha (Previna-se contra a dengue!). No caso de marcas famosas, é comum que a assinatura seja composta pelo slogan dessa marca. Entende-se por slogan aquela frase de efeito que evidencia a principal característica do produto. 28 29 A imagem Comentamos acima que as imagens são um recurso que está presente em alguns tipos de espaço publicitário. Quando usadas, têm como objetivo potencializar as marcas textuais de persuasão.,ou seja, as imagens trabalham em conjunto com o texto, com intenções variadas. Habitualmente, a imagem em gêneros publicitários, confirma o texto e também lhe dá suporte. Atenção ao argumento de autoridade: é muito comum encontrarmos em anúncios publicitários algum ele- mento imagético que sirva como argumento de autoridade. Entende-se por argumento de autoridade aquela imagem de um indivíduo que seria um especialista em determinado assunto, e que, justamente por possuir essa posição de autoridade, transmite maior credibilidade ao que está sendo veiculado no anúncio. Por exemplo, a imagem de um famoso atleta ligada a um anúncio de produtos vitamínicos transmite a ideia de que o produto é confiável, pois o atleta o utiliza. Qual é a linguagem do gênero publicitário? A linguagem dos textos publicitários é marcada por uma maior flexibilidade em relação à gramática normativa. Como o objetivo básico desses textos é atingir rapidamente o interlocutor, é necessário que se opte, em alguns momentos, por uma linguagem mais coloquial/informal. Portanto, encontraremos, muito frequentemente, anúncios publicitários, cujos textos apresentam “desvios” em relação à norma padrão. Outra característica muito comum nesses textos é a presença de verbos no imperativo, implicando relações semânticas de ordem,pedido, sugestão ou conselho. São esses verbos que articulam as estratégias de persuasão. Também estão presentes os vocativos, que são elementos sintáticos que invocam/convocam interlocutores. Essa invocação/convocação do interlocutor é também uma estratégia recorrente em textos publicitários. o Gênero jornalístico Dos vários tipos de gêneros existentes, o jornalístico é um dos mais amplos, pois envolve características pertencen- tes a vários tipos de composição textual. Por esse motivo, é também um dos gêneros mais trabalhados em provas de vestibulares e no ENEM. A notícia A notícia é um dos elementos que compõe o gênero jornalístico. Está espalhada pelos mais diversos meios de comunicação (jornais, revistas, rádio, internet). Tecnicamente, podemos dizer que a notícia se caracteriza pelo puro registro de fatos, sem que haja a emissão de opinião da pessoa que a escreve. O objetivo básico de uma notícia é transmitir informações a um leitor de maneira objetiva e precisa. A partir dessa definição, podemos inferir que a notícia trabalha pelos mesmos termos da função referencial da linguagem (buscar informações de um referente no mundo, e transmiti-las objetivamente). “Nenhum país do mundo faz o que o Brasil está fazendo: leiloar aos poucos o acesso da produção de pe- tróleo de campos, cujo total é desconhecido”, adverte Ildo Sauer, em entrevista concedida à IHU. On-line, ao comentar o leilão do Campo de Libra, anunciado para 21 de outubro deste ano. Na avaliação dele, a iniciativa da Presidência da República é equivocada, porque “não faz sentido” colocar em leilão o Campo de Libra, que, “segundo a Agência Nacional do Petróleo – ANP, pode ter entre 8 e 12 bilhões de barris, apesar de haver estimativas de que possa chegar a 15 bilhões de barris. Se os dados forem esses, trata-se da maior descoberta do país”. De acordo com ele, o “Brasil não sabe se tem 50 bilhões, 100 bilhões ou 300 bilhões de barris. Se o país tiver 100 bilhões, estará no grupo de países de grandes reservas; se tiver 300 bilhões, será o dono da maior reserva do mundo, porque 264 bilhões é o volume de barris da Arábia Saudita”. Disponível em: http://www.mabnacional.org.br/noticia/pr-sal-eembate-geopol-tico-estratgico-entrevista-especial-com-ildosauer. Acesso em 15/10/2013. Fragmento adaptado. 30 31 Reportagem A reportagem também é um tipo de gênero jornalístico que costuma apresentar textos mais longos e bastante detalhados. Costuma retratar a observação direta de um repórter sobre acontecimentos e situações específicas. Escassez de água já afeta mais de 40% da população do planeta Terra Estiagem não atinge só o Brasil, mas outros lugares do mundo. Veja as medidas que foram adotadas em países como EUA e Cingapura. Reportagem de Tonico Ferreira em parceria com Globo Natureza. O Jornal da Globo, em parceria com o Globo Natureza, exibe, esta semana, uma série especial sobre a crise hídrica no mundo. A série “Água – Planeta em Crise” vai mostrar de que maneira a seca está afetando populações em todo o planeta. Quando a gente olha para os oceanos, para os rios e lagos, a Terra parece ter muita água. Quase três quartos da superfície são cobertos por oceanos. É o planeta azul visto do espaço. Mas será que é isso tudo? Vejam a realidade: a camada de água dos oceanos é muito fina e, por isso, a quantidade de água é relativamente pequena. Se a Terra fosse do tamanho de uma bola de basquete, toda a água do planeta caberia dentro de uma bolinha de pingue-pongue. E mais: dessa bolinha de pingue-pongue, quase tudo, 97,5% é água salgada. E, desse pouquinho que sobra, 70% é agua congelada nos polos e nas geleiras, 30% está debaixo da superfície da Terra e apenas 0,3% é água potável nos lagos e rios. E essa água está mal distribuída. Sobra em algumas regiões e falta em outras. Some-se a isso o fato de várias regiões do mundo estarem passando por secas mais prolongadas. Seca na califórnia (EUA) É o caso do estado da Califórnia, nos Estados Unidos, que está entrando no quarto ano seguido de seca. 2013 foi o mais seco em 120 anos, diz o climatologista do governo, Michael Anderson. E ele prevê para este ano um novo recorde de pouca chuva e de temperaturas altas. O nível dos reservatórios baixou. O lago Cachuma está com 26% da capacidade e, em outubro, pode deixar de fornecer água para a cidade de Santa Bárbara. O governador do estado, Jerry Brown, acaba de tomar medidas drásticas: a redução obrigatória de 25% no consumo de água nas cidades e corte do fornecimento para fazendas que usam irrigação. Tulare tem a agricultura mais produtiva da Califórnia. É uma região rica. As famílias de trabalhadores que vivem em casas modestas se abastecem de água em poços, mas os poços estão secando. O poço da casa de Lala e Benjamin Luengas, da comunidade mexicana, secou em junho do ano passado. Foi um desespero. “O que vamos fazer, o que vamos fazer?”, Lala pergunta. Eles não tinham US$ 25 mil para perfurar um poço profundo, ficaram seis meses sem uma gota d’água até que receberam um pequeno reservatório da organização não governamental Self-Help Enterprises. A água chega de carro-pipa duas vezes por mês. É pouco. Lala economiza água na cozinha, reusa no banheiro e os banhos são curtos. “No máximo entro, me molho, fecho a água, me ensaboo, abro e já saio”, conta Lala. Paul Boyer, da Self-Help Enterprise, diz que o lençol de água subterrânea que deveria ter subido nos primei- ros meses do ano ficou estático. Para Boyer, a crise ainda vai piorar antes de melhorar. Cadê a água no Nordeste? A situação também pode piorar no Nordeste brasileiro. Em São Miguel (RN), cidade de 23 mil habitantes, nin- guém recebe mais conta de água. É que a água encanada acabou em dezembro passado, quando o açude secou. E não foi sem aviso. “Desde 2013, quando a gente só estava com 10% da capacidade da água, nós demos o grito, nós pedimos socorro”, diz Adalcina Vieira, presidente da Câmara de Vereadores. O socorro não veio. A água só chega em carros-pipa, carroças, motos ou na mão. Desde que a água encanada acabou, a cidade se movimenta basicamente em torno de um objetivo: conse- guir água, vender e comprar água, transportar água, carregar balde d’água. E essa situação deve se manter por um bom tempo porque as autoridades locais não estão vendo uma solução de curto prazo. “A situação de nossa cidade é muito difícil. É uma situação de colapso, uma situação de calamidade”, decla- ra Dario Vieira, prefeito de São Miguel (RN). Contratar um carro-pipa com 8 mil litros custa R$ 150. Quem não tem recursos depende das cacimbas da prefeitura. “Essa caixinha de água aqui não dá nem para começar. Nesses dias, nós vamos morrer de sede aqui, se Deus não tiver misericórdia”, diz a dona Maria Lúcia da Silva. É uma trabalheira. “Eu vou levar na mão”, mostra Sandra Leite Lopes, moradora da cidade. São cinco via- gens da cacimba à casa dela para encher a caixa de mil litros. Esse transtorno seria evitado se São Miguel não dependesse de apenas um açude, construído 60 anos atrás. Crise dos reservatórios A crise também bateu na porta da rica região Sudeste. Os dois maiores reservatórios que atendem a Grande São Paulo, Cantareira e Alto Tietê, estão com níveis críticos. O Cantareira, o mais importante deles, entrou no volume morto em maio do ano passado e nunca mais saiu. O presidente da ANA (Agência Nacional de Água) reconhece que o Brasil tem um nível muito baixo de água reservada e reclama que a legislação ambiental pouco flexível não ajuda. “Porque, como um reservatório tem impacto ambiental, muitas vezes se abandona a discussão dos reser- vatórios por conta desses impactos ambientais e sociais. É verdade, eles existem. Agora a gente tem que, precisa colocar na outra coluna também, é a segurança hídrica que esses reservatórios propiciam”,diz Vicente Andreu Giullo, presidente da ANA (Agência Nacional de Água). Artigo de opinião e editorial Os artigos de opinião e editoriais também são parte do gênero jornalístico e têm como característica serem textos que articulam notícias a partir de elementos argumentativos. Existem algumas pequenas diferenças entre os dois estilos de texto. O artigo expressa um ponto de vista da pessoa que o assina, e geralmente aborda questões sociais, políticas e culturais. Sua condução é feita com elementos argumentativos que tentam persuadir o leitor da opinião que está sendo apresentada. Já o editorial manifesta a opinião não de um indivíduo, mas de um órgão de imprensa como um todo, por esse motivo não é assinado por um particular (não expressa ponto de vista particular). Costumam abordar temas de grande projeção nacional ou internacional, também sobre temas sociais, políticos ou culturais. Embora sua condução também apresente elementos argumentativos de persuasão, o editorial costuma ser mais equilibrado e informativo do que o artigo de opinião. Vontade de punir Deu no Datafolha que a maioria dos brasileiros quer baixar a maioridade penal. Maiorias assim robustas, que já são raras em questões sociais, ficam ainda mais intrigantes quando se considera que, entre especialistas, o assunto é controverso. Como explicar o fenômeno? Estamos aqui diante de um dos mais fascinantes aspectos da natureza. Se você pretende produzir seres sociais, precisa encontrar um modo de fazer com que eles colaborem uns com os outros e, ao mesmo tempo, se protejam dos indivíduos dispostos a explorá-los. A fórmula que a evolução encontrou para equacionar esse e outros dilemas foi embalar regras de conduta em instintos, emoções e sentimentos que 32 33 provocam ações que funcionam em mais instâncias do que não funcionam. Assim, para evitar a superexploração pelos semelhantes, desenvolvemos verdadeiro horror àquilo que per- cebemos como injustiças. Na prática, isso se traduz no impulso que temos de punir quem tenta levar vantagem indevida. Quando não podemos castigá-los diretamente, torcemos para que levem a pior, o que, além de garantir o sucesso de filmes de Hollywood, torna a justiça retributiva algo popular em nossa espécie. Isso, porém, é só parte do problema. Uma sociedade pautada apenas pelo ideal de justiça soçobraria. Se cada mínima ofensa exigisse imediata reparação e todos tivessem de ser tratados de forma rigorosamente idêntica, a vida comunitária seria impossível. A natureza resolve isso com sentimentos como amor e favoritismo, que permitem, entre outras coisas, que mães prefiram seus próprios filhos aos de desconhecidos. Nas sociedades primitivas, em bandos de 200 pessoas, onde todos tinham algum grau de parentesco, o sistema funcionava razoavelmente bem. Os ímpetos da justiça retributiva eram modulados pela empatia familiar. Agora que vivemos em grupos de milhões sem vínculos pessoais, a vontade de punir impera inconteste. SCHWARTSMAN, Hélio. Folhaonline, em 24 jun. 2015 textos científicos Os textos científicos têm como principal objetivo colocar o público não especializado em contato com pesquisas científicas e tecnológicas. São predominantemente informativos, trazendo dados interessantes sobre alguma pes- quisa realizada pela comunidade científica. Em geral, são textos produzidos por especialistas em alguma área (ou com o apoio destes) e devem possuir uma linguagem mais acessível, menos técnica para que estejam ao alcance do leitor. Onde circulam os textos científicos? Os textos de divulgação científica, nos últimos anos, têm aparecido não apenas em revistas especializadas (cien- tíficas), mas também em seções específicas de jornais, revistas de curiosidades e até mesmo em livros estilo best- -seller. Toda essa variedade é uma demanda do público por saber cada vez mais a respeito dos avanços científicos, avanços esses que podem trazer mudanças significativas para a vida das pessoas. A recepção do texto científico Os textos de cunho científico costumam ser procurados por públicos variados, desde pessoas curiosas por assuntos determinados, até pessoas que leem mais assiduamente a respeito de tudo o que se publica. Essa variedade de pú- blico implica certas dificuldades de produção, pois o texto precisa denotar seriedade sem necessariamente possuir uma linguagem complexa (técnica). A estrutura do texto científico Os textos de divulgação científica não possuem estrutura pré-determinada, mas, geralmente, encontramos um título e uma introdução mais geral, que têm como objetivo angariar a atenção do leitor para o tópico científico que será abordado/discutido. O desenvolvimento e a conclusão do texto se dão de acordo com os interesses do especialista. Nesse sentido, temos um texto de estrutura bem variável, que é muito usado em vestibulares. A linguagem dos textos científicos Como dito anteriormente, há nos textos de divulgação científica uma necessidade de se “traduzir” os conceitos altamente complexos da ciência para uma linguagem mais acessível ao leitor. Nesse caso, encontraremos em textos científicos um grau elevado de coloquialidade. Para fazer com que o leitor entenda um texto mais complexo, recorre-se, por exemplo, a muitas figuras de analogia, como a comparação e a metáfora; figuras que permitem ao leitor entender mais facilmente o que está sendo dito. Ou seja, opta-se por uma linguagem conotativa (figurada). Também devem ser evitados os usos de jargões da área científica, sempre optando por uma analogia mais simples. Sendo inevitável o uso de um jargão, este deve ser explicado no próprio texto. texto em verso O poema é um gênero textual de cunho bastante subjetivo, que se constrói não apenas com ideias ou sentimentos, mas que articula combinações de palavras que, na maioria dos casos, constitui sentidos variados. Essas combina- ções de palavras costumam ser distribuídas em um “corpo” bastante complexo, dotado de vários elementos que conheceremos mais adiante, como o verso, a estrofe (elementos estruturais), a rima, o ritmo (elementos sonoros), entre outros. O jogo de palavras realizado nos poemas (de fortes marcas denotativas) muitas vezes imprime difi- culdades de interpretação. Oficina irritada Eu quero compor um soneto duro como poeta algum ousara escrever. Eu quero pintar um soneto escuro, seco, abafado, difícil de ler. Quero que meu soneto, no futuro, não desperte em ninguém nenhum prazer. E que, no seu maligno ar imaturo, ao mesmo tempo saiba ser, não ser. Esse meu verbo antipático e impuro há de pungir, há de fazer sofrer, tendão de Vênus sob o pedicuro. Ninguém o lembrará: tiro no muro, cão mijando no caos, enquanto Arcturo, claro enigma, se deixa surpreender. (Carlos Drummond de Andrade, in “Claro enigma”) textos em prosa Denominamos prosa um texto construído prioritariamente com parágrafos (se escrito em versos, teremos um texto poético), que apresenta maior extensão que um poema, por exemplo. Costumeiramente, possui uma linguagem de cunho mais denotativo (diferente da poesia, bem mais conotativa), mas isso não impede que o autor se valha de artifícios que deem maior variabilidade aos sentidos que estão sendo expressos no texto. 34 35 Os principais tipos de texto em prosa § Romance: entende-se por romance uma composição textual longa que desenvolve algum tipo de enredo, linear ou fragmentado que costuma apresentar volume significativo de informações ao leitor. Não há regras pré-determinadas para a composição das partes de um romance, mas o final, por exemplo, costuma ser uma espécie de enfraquecimento dos vários elementos que foram sendo “amarrados” na história. No romance não costuma haver clímax ao final da narrativa. Na prosa brasileira são conhecidas como romancesobras como Memórias póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Vidas secas, Capitães da areia, Iracema, Til. Ou seja, textos narrativos de maior extensão, com enredo variado, que apresentam algum tipo de “amarração” em sua estrutura. § Novela: entende-se por novela uma composição textual de menor extensão do que o romance, mas cos- tumeiramente maior que um conto. Em relação ao romance, podemos dizer que a novela apresenta maior economia de recursos narrativos. Já em comparação ao conto, pode-se dizer que a novela possui um maior desenvolvimento tanto de enredo, quanto de personagens. Dessa maneira, podemos concluir que a novela seria uma forma intermediária entre o conto e o romance. Em geral, trata-se de uma narrativa em que as ações giram em torno de um único personagem (o romance costuma apresentar maior número de tramas e linhas narrativas). Não é um gênero muito praticado entre os prosadores brasileiros, embora tenhamos, mais contemporane- amente, grandes obras nesse estilo, como A hora da estrela, de Clarice Lispector; Um copo de cólera, de Raduan Nassar; ou O invasor, de Marçal Aquino. Na Europa, esse gênero deu origem a grandes clássicos, como A metamorfose, de Kafka; Morte em Veneza, de Thomas Mann; e A morte de Ivan Ilitch, de Tolstói. § Conto: entende-se por conto uma composição textual mais curta que a novela ou o romance. Por possuir um espaço de desenvolvimento menor, o conto costuma apresentar uma estrutura bastante fechada, em que o enredo se desenvolve com maior velocidade, sem desdobramento de conflitos secundários (como habitualmente acontece com o romance). Caracteriza-se por deixar várias questões a cargo da interpretação do leitor, e também por possuir um clímax mais próximo de seu fim. Trata-se de um gênero muito trabalhado por prosadores brasileiros, pois seus processos de ficcionalidade costumam alcançar tanto elementos mais “materiais”, quanto elementos mais fantasiosos (os contos fantásticos, por exemplo). Há autores que de- senvolveram a totalidade de suas obras em contos, como é o caso do escritor Murilo Rubião. Outros grandes contistas brasileiros são Machado de Assis, Mário de Andrade, Clarice Lispector e Guimarães Rosa. § Drama: entende-se por drama uma composição textual que realiza uma figuração/representação de ações ou histórias. Habitualmente, são textos para serem encenados em peças (no teatro). Sua estrutura pode ser dividida em capítulos denominados “atos” (1º ato, 2º ato etc.), e apresenta dimensões variadas, que levam em conta o tempo de apresentação da obra ao público. Muito se discute a respeito das diferenças que po- dem existir entre o texto dramático escrito e aquilo que é representado em um palco. A ideia geral seria que se seguisse o mais fielmente possível o texto que foi produzido pelo autor, no entan- to, os diretores de peças têm a liberdade de realizar modificações variadas no enredo ou nas composições cenográficas. Não é dos gêneros mais trabalhados pelos prosadores brasileiros, embora existam produções de grande qualidade que se tornaram famosas por virarem filmes. É o caso das peças Lisbela e o prisioneiro, de Osman Lins, O auto da compadecida, de Ariano Suassuna, ou Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri. intertextualidade Intertextualidade é a referência que um texto faz a outro já existente. Essa relação pode se dar por meio da mesma linguagem – como os versos do hino nacional do Brasil “Nossos bosques têm mais vida / Nossa vida em teu seio mais amores”, que retomam o poema “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias; ou ainda por meio de linguagens diferentes, como quando uma obra cinematográfica cria uma relação com um texto literário. A compreensão da intertextualidade pode ser dividida em diferentes níveis: paráfrase, citação, alusão, paródia e epígrafe. Tipos de intertextualidade § Epígrafe: trata-se de uma escrita introdutória a outra. Sagarana (João Guimarães Rosa) Lá em cima daquela serra Passa boi, passa boiada, Passa gente ruim e boa Passa minha namorada (Quadra de desafio.) For a walk and back again”, said the fox. “Will you come with me?” I’ll take you on my back. For a Walk and back again (Grey fox, estória para meninos) § Citação: constitui a transcrição do texto de outrem, marcada por aspas. Canção do exílio – trecho (Gonçalves Dias) Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores Hino Nacional do Brasil – Parte II Deitado eternamente em berço esplêndido, Ao som do mar e à luz do céu profundo, Fulguras, ó Brasil, florão da América, Iluminado ao sol do Novo Mundo! Do que a terra, mais garrida, Teus risonhos, lindos campos têm mais flores; “Nossos bosques têm mais vida”, “Nossa vida” no teu seio “mais amores”. 36 37 Ó Pátria amada, Idolatrada, Salve! Salve! Brasil, de amor eterno seja símbolo O lábaro que ostentas estrelado, E diga o verde-louro dessa flâmula – “Paz no futuro e glória no passado.” Mas, se ergues da justiça a clava forte, Verás que um filho teu não foge à luta, Nem teme, quem te adora, a própria morte. Terra adorada Entre outras mil, És tu, Brasil, Ó Pátria amada! Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, Brasil! § Paráfrase: é uma reprodução do texto alheio com a palavra do autor. Não se trata de plágio, pois na pará- frase é clara a intenção de retomar a fonte original. Oração (Jorge de Lima) “– Ave Maria cheia de graças...” A tarde era tão bela, a vida era tão pura, as mãos de minha mãe eram tão doces, havia, lá no azul, um crepúsculo de ouro... lá longe... “– Cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita!” Bendita! Os outros meninos, minha irmã, meus irmãos menores, meus brinquedos, a casaria branca de minha terra, a burrinha do vigário pastando junto à capela... lá longe... Ave cheia de graça – ...”bendita sois entre as mulheres, bendito é o fruto do vosso ventre...” E as mãos do sono sobre os meus olhos, e as mãos de minha mãe sobre o meu sonho, e as estampas de meu catecismo para o meu sonho de ave! E isto tudo tão longe... tão longe... § Paródia: trata-se de uma releitura do texto original que, em vez de reafirmar os valores do modelo referen- ciado, quebra a ideia principal contida nele, de modo abrupto ou suave. Essa ruptura pode levar o leitor a uma leitura crítica ou irônica do texto original. La Gioconda (Leonardo da Vinci) L.H.O.O Q (Elle a chaud au cul – Ela tem fogo no rabo) Marcel Duchamp (Dadaísmo) § Referência e alusão: trata-se de uma interferência do texto de outro que não contém, necessariamente, suas marcas originais. Machado de Assis, por exemplo, é mestre nessa variação de intertextualidade. O autor retomou uma série de outros autores e histórias para compor as próprias histórias que escrevia. Uma comparação (Dom Casmurro – Machado de Assis) Príamo julga-se o mais infeliz dos homens, por beijar a mão daquele que lhe matou o filho. Homero é que relata isto, e é um bom autor, não obstante contá-lo em verso, mas há narrações exatas em verso, e até mau verso. Compara tu a situação de Príamo com a minha; eu acabava de louvar as virtudes do homem que recebera, defunto, aqueles olhos... É impossível que algum Homero não tirasse da minha situação muito me- lhor efeito, ou quando menos, igual. Nem digas que nos faltam Homeros, pela causa apontada em Camões; não, senhor, faltam-nos, é certo, mas é porque os Príamos procuram a sombra e o silêncio. As lágrimas, se as têm, são enxugadas atrás da porta, para que as caras apareçam limpas e serenas; os discursos são antes de alegria que de melancolia, e tudo passa como se Aquiles não matasse Heitor. 38 39 aplicação dos conhecimentos- sala 1. (ENEM) Quem não passou pela experiência de estar lendo um texto e defrontar-se com passagens já lidas em outros? Os textos con- versam entre si em um diálogo constante. Esse fenômeno tem a denominação de inter- textualidade. Leia os seguintes textos: I. Quando nasci, um anjo torto Desses que vivem na sombra Disse: Vai Carlos! Ser “gauche” na vida (ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma Poesia. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964) II. Quando nasci veio um anjo safado O chato dum querubim E decretou que eu tava predestinado A ser errado assim Já de saída a minha estrada entortou Mas vou até o fim. (BUARQUE, Chico. Letra e música. São Paulo: Cia das Letras, 1989) III. Quando nasci um anjo esbelto Desses que tocam trombeta, anunciou: Vai carregar bandeira. Carga muito pesada pra mulher Esta espécie ainda envergonhada. (PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986) Adélia Prado e Chico Buarque estabelecem intertextualidade, em relação a Carlos Drum- mond de Andrade, por: a) reiteração de imagens. b) oposição de ideias. c) falta de criatividade. d) negação dos versos. e) ausência de recursos. 2. (ENEM) Aquarela O corpo no cavalete é um pássaro que agoniza exausto do próprio grito. As vísceras vasculhadas principiam a contagem regressiva. No assoalho o sangue se decompõe em matizes que a brisa beija e balança: o verde – de nossas matas o amarelo – de nosso ouro o azul – de nosso céu o branco o negro o negro CACASO. In: HOLLANDA, H. B (Org.). 26 poetas hoje. Rio do Janeiro: Aeroplano, 2007. Situado na vigência do Regime Militar que governou o Brasil, na década de 1970, o poe- ma de Cacaso edifica uma forma de resistên- cia e protesto a esse período, metaforizando: a) as artes plásticas, deturpadas pela repressão e censura. b) a natureza brasileira, agonizante como um pássaro enjaulado. c) o nacionalismo romântico, silenciado pela perplexidade com a Ditadura. d) o emblema nacional, transfigurado pelas marcas do medo e da violência. e) as riquezas da terra, espoliadas durante o aparelhamento do poder armado. 3. (ENEM) Casa dos Contos & em cada conto te cont o & em cada enquanto me enca nto & em cada arco te a barco & em cada porta m e perco & em cada lanço t e alcanço & em cada escad a me escapo & em cada pe dra te prendo & em cada g rade me escravo & em ca da sótão te sonho & em cada esconso me affonso & em cada cláudio te canto & e m cada fosso me enforco & ÁVILA, A. Discurso da difamação do poeta. São Paulo: Summus, 1978. O contexto histórico e literário do período barroco-árcade fundamenta o poema Casa dos Contos, de 1975. A restauração de ele- mentos daquele contexto por uma poética contemporânea revela que: a) a disposição visual do poema reflete sua di- mensão plástica, que prevalece sobre a ob- servação da realidade social. b) a reflexão do eu lírico privilegia a memória e resgata, em fragmentos, fatos e personalida- des da Inconfidência Mineira. c) a palavra “esconso” (escondido) demonstra o desencanto do poeta com a utopia e sua opção por uma linguagem erudita. d) o eu lírico pretende revitalizar os contrastes barrocos, gerando uma continuidade de pro- cedimentos estéticos e literários. e) o eu lírico recria, em seu momento histórico, numa linguagem de ruptura, o ambiente de opressão vivido pelos inconfidentes. 40 4. (ENEM) Pode aparecer onde menos se espera em cin- co formas diferentes. É por isso que o Dia Mundial Contra a Hepa- tite está aí para alertar você. As hepatites A, B, C, D e E têm diversas cau- sas e muitas formas de chegar até você. Mas, evitar isso é bem simples. Você, só pre- cisa ficar atento aos cuidados necessários para cuidar do maior bem que você tem: A SUA SAÚDE! Algumas maneiras de se prevenir: § Vacine-se contra as hepatites A e B. § Use água tratada e siga sempre as reco- mendações quanto à restrição de banhos em locais públicos e ao uso de desinfe- tantes em piscinas. § Lave SEMPRE bem os alimentos como fru- tas, verduras e legume. § Lave SEMPRE bem as mãos após usar o toalete e antes de se alimentar. § Ao usar agulhas e seringas, certifique-se da higiene do local e de todos os acessórios. § Certifique-se de que seu médico ou pro- fissional da saúde esteja usando a pro- teção necessária, como luvas e máscaras, quando houver a possibilidade de conta- to de sangue ou secreções contaminadas com o vírus. Disponível em: http://farm5.static.flickr. com. Acesso em: 26 out. 2011 (adaptado). Nas peças publicitárias, vários recursos ver- bais e não verbais são usados com o objetivo de atingir o público-alvo, influenciando seu comportamento. Considerando as informa- ções verbais e não verbais trazidas no texto a respeito da hepatite, verifica-se que: a) o tom lúdico é empregado como recurso de consolidação do pacto de confiança entre o médico e a população. b) a figura do profissional da saúde é legitima- da, evocando-se o discurso autorizado como estratégia argumentativa. c) o uso de construções coloquiais e específicas da oralidade são recursos de argumentação que simulam o discurso do médico. d) a empresa anunciada deixa de se autopromo- ver ao mostrar preocupação social e assumir a responsabilidade pelas informações. e) o discurso evidencia uma cena de ensina- mento didático, projetado com subjetividade no trecho sobre as maneiras de prevenção. 5. (ENEM) A publicidade, de uma forma geral, alia ele- mentos verbais e imagéticos na constituição de seus textos. Nessa peça publicitária, cujo tema é a sustentabilidade, o autor procura convencer o leitor a: a) assumir uma atitude reflexiva diante dos fe- nômenos naturais. b) evitar o consumo excessivo de produtos reu- tilizáveis. c) aderir à onda sustentável, evitando o consu- mo excessivo. d) abraçar a campanha, desenvolvendo proje- tos sustentáveis. e) consumir produtos de modo responsável e ecológico. 6. (ENEM) da sua memória mil e mui tos out 41 ros ros tos sol tos pou coa pou coa pag amo meu ANTUNES, A. 2 ou + corpos no mesmo espaço. São Paulo: Perspectiva, 1998. Trabalhando com recursos formais inspira- dos no Concretismo, o poema atinge uma ex- pressividade que se caracteriza pela a) interrupção da fluência verbal, para testar os limites da lógica racional. b) reestruturação formal da palavra, para pro- vocar o estranhamento no leitor. c) dispersão das unidades verbais, para ques- tionar o sentido das lembranças. d) fragmentação da palavra, para representar o estreitamento das lembranças. e) renovação das formas tradicionais, para pro- por uma nova vanguarda poética. raio x 1. A imagem do “anjo”, caracterizado como “torto” no poema de Carlos Drummond de Andrade, é retomada por Chico Buar- que e por Adélia Prado, como “safado e “esbelto”, respectivamente. 2. O poema “Aquarela” de Cacaso, expres- são de resistência e protesto ao período de ditadura militar da década de 70, faz uma descrição alegórica de uma cena de tortura. O substantivo “cavalete” alude ao instrumento de tortura, ao mesmo tempo em que remete ao tripé utilizado para apoiar a tela. A aquarela é pintada com cores feitas de sangue, em vez do verde, amarelo e azul da bandeira nacio- nal, representativas das belezas e recur- sos naturais do país, até se diluírem no negro com que termina o poema. A alusão ao verso “a brisa do Brasil beija e balan- ça” do poema “Navio Negreiro”, de Castro Alves, remete também a outro momento da História do Brasil em que as causas abolicionistas e o apelo à liberdade fo- ram acompanhados de manifestações de protesto e resistência. Assim, é correta a opção [D]. 3. A poesia de Affonso Ávila, bastante in- fluenciada pelo concretismo, caracteri- za-se pela experimentação linguística, conjugandosimultaneamente elementos verbais, visuais e sonoros. O “&” cria, no poema “Casa dos Contos”, uma diagonal de cima para baixo e da esquerda para a direita, do primeiro ao último verso, su- gerindo a escadaria da casa onde se pas- saram importantes eventos da Inconfi- dência Mineira. Expressões verbais como “perco”, “lanço”, “escapo”, “prendo” e a referência a “Cláudio”, Cláudio Manuel da Costa, sugerem o ambiente de opres- são vivido pelos inconfidentes. Assim, é correta a opção [E]. 4. A opção [A] poderia ser levada em con- sideração se atendêssemos apenas à pri- meira parte da assertiva, pois a imagem da sequência de letras dispostas na lousa alude a um jogo fonético, imprimindo um tom lúdico à peça publicitária. No entan- to, não se pode deduzir que seja usado como recurso de consolidação do pacto de confiança entre o médico e a população. Como a figura do médico confere credibi- lidade aos itens enunciados como neces- sários à prevenção de contágio do vírus da hepatite, é correta a opção [B], já que o recurso de autoridade constitui fator argumentativo com forte poder de persu- asão. 5. O fato da sacola retornável ser gratuita a partir de certo valor da compra sugere que o autor da propaganda procura con- vencer o consumidor a adquirir produtos de modo responsável e ecológico, como se afirma em [E]. 6. A característica principal do Concretismo é a ruptura do conceito tradicional do ver- so para definir o poema como conjunto de elementos que estruturam a mensagem através de signos verbivocovisuais, (valo- rização do conteúdo verbal, sonoro e vi- sual, através do aproveitamento do espa- ço do papel), permitindo a possibilidade de diversas leituras através de diferentes ângulos. No poema “da sua memória”, a fragmentação de palavras dispostas na vertical dá origem a uma coluna estreita em que os termos precisam ser interli- gados para manterem o nexo semântico primitivo. Se aliarmos essa disposição gráfica ao título do poema, podemos infe- rir que o poema se caracteriza pela frag- mentação da palavra, para representar o estreitamento das lembranças, como se afirma em [D]. Gabarito 1. D 2. B 3. B 4. E 5. C 6. E 42 prática dos conhecimentos - e.o. 1. (ENEM) Assum preto Tudo em vorta é só beleza Sol de abril e a mata em frô Mas assum preto, cego dos óio Num vendo a luz, ai, canta de dor Tarvez por ignorança Ou mardade das pió Furaro os óio do assum preto Pra ele assim, ai, cantá mio Assum preto veve sorto Mas num pode avuá Mil veiz a sina de uma gaiola Desde que o céu, ai, pudesse oiá GONZAGA, L.; TEIXEIRA, H. Disponível em: www. luizgonzaga.mus.br. Acesso em: 30 jul. 2012 (fragmento). As marcas da variedade regional registradas pelos compositores de Assum preto resultam da aplicação de um conjunto de princípios ou regras gerais que alteram a pronúncia, a morfologia, a sintaxe ou o léxico. No texto, é resultado de uma mesma regra a: a) pronúncia das palavras “vorta” e “veve”. b) pronúncia das palavras “tarvez” e “sorto”. c) flexão verbal encontrada em “furaro” e “cantá”. d) redundância nas expressões “cego dos óio” e “mata em frô”. e) pronúncia das palavras “ignorança” e “avuá” 2. (ENEM) Quando Deus redimiu da tirania Da mão do Faraó endurecido O Povo Hebreu amado, e esclarecido, Páscoa ficou da redenção o dia. Páscoa de flores, dia de alegria Àquele Povo foi tão afligido O dia, em que por Deus foi redimido; Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia. Pois mandado pela alta Majestade Nos remiu de tão triste cativeiro, Nos livrou de tão vil calamidade. Quem pode ser senão um verdadeiro Deus, que veio estirpar desta cidade O Faraó do povo brasileiro. DAMASCENO, D. (Org.). Melhores poemas: Gregório de Matos. São Paulo: Globo, 2006. Com uma elaboração de linguagem e uma visão de mundo que apresentam princípios barrocos, o soneto de Gregório de Matos apresenta temática expressa por: a) visão cética sobre as relações sociais. b) preocupação com a identidade brasileira. c) crítica velada à forma de governo vigente. d) reflexão sobre os dogmas do cristianismo. e) questionamento das práticas pagãs na Bahia. 3. (ENEM) TEXTO I TEXTO II Só Deus pode me julgar Soldado da guerra a favor da justiça Igualmente por aqui é coisa fictícia Você ri da minha roupa, ri do meu cabelo Mas tenta me imitar se olhando no espelho Preconceito sem conceito que apodrece a nação Filhos do descaso mesmo pós-abolição MV BILL. Declaração de guerra. Manaus: BMG, 2002 (fragmento). O trecho do rap e o grafite evidenciam o pa- pel social das manifestações artísticas e pro- vocam a: Prescrição: Para resolver os exercícios dessa aula, serão necessários conhecimentos a respeito dos principais gêneros discursivos presentes em nosso sistema linguístico. Além disso, conhecer alguns produtos culturais nacionais (música, pintura e literatura) irá contribuir para uma maior efetividade na resolução de exercícios que “cruzam” os gêneros discursivos (intertextualidade). 43 a) consciência do público sobre as razões da desigualdade social. b) rejeição do público-alvo à situação represen- tada nas obras. c) reflexão contra a indiferença nas relações sociais de forma contundente. d) ideia de que a igualdade é atingida por meio da violência. e) mobilização do público contra o preconceito racial em contextos diferentes. 4. (ENEM) Essa pequena Meu tempo é curto, o tempo dela sobra Meu cabelo é cinza, o dela é cor de abóbora Temo que não dure muito a nossa novela, mas Eu sou tão feliz com ela Meu dia voa e ela não acorda Vou até a esquina, ela quer ir para a Flórida Acho que nem sei direito o que é que ela fala, mas Não canso de contemplá-la Feito avarento, conto os meus minutos Cada segundo que se esvai Cuidando dela, que anda noutro mundo Ela que esbanja suas horas ao vento, ai Às vezes ela pinta a boca e sai Fique à vontade, eu digo, take your time Sinto que ainda vou penar com essa peque- na, mas O blues já valeu a pena CHICO BUARQUE. Disponível em: www.chicobuarque. com.br. Acesso em: 31 jun. 2012. O texto Essa pequena registra a expressão subjetiva do enunciador, trabalhada em uma linguagem informal, comum na música po- pular. Observa-se, como marca da variedade coloquial da linguagem presente no texto, o uso de: a) palavras emprestadas de língua estrangeira, de uso inusitado no português. b) expressões populares, que reforçam a proxi- midade entre o autor e o leitor. c) palavras polissêmicas, que geram ambigui- dade. d) formas pronominais em primeira pessoa. e) repetições sonoras no final dos versos. 5. (ENEM) À garrafa Contigo adquiro a astúcia de conter e de conter-me. Teu estreito gargalo é uma lição de angústia. Por translúcida pões o dentro fora e o fora dentro para que a forma se cumpra e o espaço ressoe. Até que, farta da constante prisão da forma, saltes da mão para o chão e te estilhaces, suicida. numa explosão de diamantes. PAES, J. P. Prosas seguidas de odes mínimos. São Pauto: Cia. das Letras, 1992. A reflexão acerca do fazer poético é um dos mais marcantes atributos da produção lite- rária contemporânea, que, no poema de José Paulo Paes, se expressa por um(a): a) reconhecimento, pelo eu lírico, de suas li- mitações no processo criativo, manifesto na expressão “Por translúcida pões”. b) subserviência aos princípios do rigor formal e dos cuidados com a precisão metafórica, como se observa em “prisão da forma”. c) visão progressivamente pessimista, em face da impossibilidade da criação poética, con- forme expressa o verso “e te estilhaces, sui- cida”. d) processo de contenção, amadurecimento e transformação da palavra, representado pe- los versos “numa explosão / de diamantes”. e) necessidade premente de libertação da pri- são representada pela poesia,simbolicamen- te comparada à “garrafa” a ser “estilhaçada”. 6. (ENEM) Yaô Aqui có no terreiro Pelú adié Faz inveja pra gente Que não tem mulher No jacutá de preto velho Há uma festa de yaô Ôi tem nêga de Ogum De Oxalá, de lemanjá Mucama de Oxossi é caçador Ora viva Nanã Nanã Buruku Yô yoo Yô yooo No terreiro de preto velho iaiá Vamos saravá (a quem meu pai?) Xangô! VIANA, G. Agó, Pixinguinha! 100 Anos. Som Livre, 1997. A canção Yaô foi composta na década de 1930 por Pixinguinha, em parceria com Gastão Viana, que escreveu a letra. O texto mistura o português com o iorubá, língua usada por africanos escravizados trazidos para o Brasil. 44 Ao fazer uso do iorubá nessa composição, o autor: a) promove uma crítica bem-humorada às re- ligiões afro-brasileiras, destacando diversos orixás. b) ressalta uma mostra da marca da cultura africana, que se mantém viva na produção musical brasileira. c) evidencia a superioridade da cultura africa- na e seu caráter de resistência à dominação do branco. d) deixa à mostra a separação racial e cultural que caracteriza a constituição do povo brasi- leiro. e) expressa os rituais africanos com maior au- tenticidade, respeitando as referências origi- nais. 7. (ENEM) Carta ao Tom 74 Rua Nascimento Silva, cento e sete Você ensinando pra Elizete As canções de canção do amor demais Lembra que tempo feliz Ah, que saudade, Ipanema era só felicidade Era como se o amor doesse em paz Nossa famosa garota nem sabia A que ponto a cidade turvaria Esse Rio de amor que se perdeu Mesmo a tristeza da gente era mais bela E além disso se via da janela Um cantinho de céu e o Redentor É, meu amigo, só resta uma certeza, É preciso acabar com essa tristeza É preciso inventar de novo o amor MORAES, V.; TOQUINHO. Bossa Nova, sua história, sua gente. São Paulo: Universal: Philips, 1975 (fragmento). O trecho da canção de Toquinho e Vinícius de Moraes apresenta marcas do gênero tex- tual carta, possibilitando que o eu poético e o interlocutor: a) compartilhem uma visão realista sobre o amor em sintonia com o meio urbano. b) troquem notícias em tom nostálgico sobre as mudanças ocorridas na cidade. c) façam confidências, uma vez que não se en- contram mais no Rio de Janeiro. d) tratem pragmaticamente sobre os destinos do amor e da vida citadina. e) aceitem as transformações ocorridas em pontos turísticos específicos. 8. (ENEM) O rap, palavra formada pelas ini- ciais de rhythm and poetry (ritmo e poesia), junto com as linguagens da dança (o break dancing) e das artes plásticas (o grafite), se- ria difundido, para além dos guetos, com o nome de cultura hip hop. O break dancing surge como uma dança de rua. O grafite nas- ce de assinaturas inscritas pelos jovens com sprays nos muros, trens e estações de metrô de Nova York. As linguagens do rap, do break dancing e do grafite se tornaram os pilares da cultura hip hop. DAYRELL, J. A música entra em cena: o rap e o funk na socialização da juventude. Belo Horizonte: UFMG. 2005 (adaptado). Entre as manifestações da cultura hip hop apontadas no texto, o break se caracteriza como um tipo de dança que representa as- pectos contemporâneos por meio de movi- mentos: a) retilíneos, como crítica aos indivíduos alie- nados. b) improvisados, como expressão da dinâmica da vida urbana. c) suaves, como sinônimo da rotina dos espa- ços públicos. d) ritmados pela sola dos sapatos, como símbo- lo de protesto. e) cadenciados, como contestação às rápidas mudanças culturais. 9. (ENEM) Era um dos meus primeiros dias na sala de música. A fim de descobrirmos o que deveríamos estar fazendo ali, propus à classe um problema. Inocentemente perguntei: — O que é música? Passamos dois dias inteiros tateando em busca de uma definição. Descobrimos que tínhamos de rejeitar todas as definições cos- tumeiras porque elas não eram suficiente- mente abrangentes. O simples fato é que, à medida que a crescen- te margem a que chamamos de vanguarda continua suas explorações pelas fronteiras do som, qualquer definição se torna difícil. Quando John Cage abre a porta da sala de concerto e encoraja os ruídos da rua a atra- vessar suas composições, ele ventila a arte da música com conceitos novos e aparente- mente sem forma. SCHAFER, R. M. O ouvido pensante. São Paulo: Unesp, 1991 (adaptado). A frase “Quando John Cage abre a porta da sala de concerto e encoraja os ruídos da rua a atravessar suas composições”, na proposta de Schafer de formular uma nova conceitua- ção de música, representa a: a) acessibilidade à sala de concerto como metá- fora, num momento em que a arte deixou de ser elitizada. b) abertura da sala de concerto, que permitiu que a música fosse ouvida do lado de fora do teatro. c) postura inversa à música moderna, que de- sejava se enquadrar em uma concepção con- formista. d) intenção do compositor de que os sons extra- musicais sejam parte integrante da música. e) necessidade do artista contemporâneo de atrair maior público para o teatro. 45 10. (ENEM) Em 1866, tendo encerrado seus es- tudos na Escola de Belas Artes, em Paris, Pedro Américo ofereceu a tela A Carioca ao imperador Pedro II, em reconhecimento ao seu mecenas. O nu feminino obedecia aos cânones da grande arte e pretendia ser uma alegoria feminina da nacionalidade. A tela, entretanto, foi recusada por imoral e licen- ciosa: mesmo não fugindo à regra oitocen- tista relativa à nudez na obra de arte, A Ca- rioca não pôde, portanto, ser absorvida de imediato. A sensualidade tangível da figura feminina, próxima do orientalismo tão em voga na Europa, confrontou-se não somente com os limites morais, mas também com a orientação estética e cultural do Império. O que chocara mais: a nudez frontal ou um nu tão descolado do que se desejava como nu- dez nacional aceitável, por exemplo, aquela das românticas figuras indígenas? A Carioca oferecia um corpo simultaneamente ideal e obsceno: o alto – uma beleza imaterial – e o baixo – uma carnalidade excessiva. Suge- ria uma mistura de estilos que, sem romper com a regra do decoro artístico, insinuava na tela algo inadequado ao repertório simbólico oficial. A exótica morena, que não é índia – nem mulata ou negra – poderia representar uma visualidade feminina brasileira e des- frutar de um lugar de destaque no imaginá- rio da nossa monarquia tropical”? OLIVEIRA, C. Disponível em: http://anpuh. org.br. Acesso em: 20 maio 2015. O texto revela que a aceitação da represen- tação do belo na obra de arte está condicio- nada à: a) incorporação de grandes correntes teóricas de uma época, conferindo legitimidade ao trabalho do artista. b) atemporalidade do tema abordado pelo ar- tista, garantindo perenidade ao objeto de arte então elaborado. c) inserção da produção artística em um pro- jeto estético e ideológico determinado por fatores externos. d) apropriação que o pintor faz dos grandes te- mas universais já recorrentes em uma ver- tente artística. e) assimilação de técnicas e recursos já utiliza- dos por movimentos anteriores que trataram da temática. 11. (ENEM) Além da Revolução da Informação O impacto da Revolução da Informação está apenas começando. Mas a força motriz desse impacto não é a informática, a inteligência artificial, o efeito dos computadores sobre a tomada de decisões ou a elaboração de políticas ou de estratégias. É algo que pra- ticamente ninguém previu, nem mesmo se falava há 10 ou 15 anos: o comércio eletrô- nico – aparecimento explosivo da internet como um canal importante, talvez principal, de distribuição mundial de produtos, servi- ços e, surpreendentemente, de empregos de nível gerencial. Essa nova realidade está mo- dificando profundamente economias, mer- cados e estruturassetoriais, os produtos e serviços e seu fluxo, a segmentação, os valo- res e o comportamento dos consumidores, o mercado de trabalho. O impacto, porém, pode ser ainda maior nas sociedades e nas políticas empresariais e, acima de tudo, na maneira como encara- mos o mundo e nós mesmos dentro dele. O impacto psicológico da Revolução da Infor- mação, como o da Revolução Industrial, foi enorme. Talvez tenha sido mais forte na ma- neira como as crianças aprendem. Já aos 4 anos (e às vezes até antes), as crianças de- senvolvem habilidades de computação, logo ultrapassando seus pais. Os computadores são seus brinquedos e suas ferramentas de aprendizado. Daqui a 50 anos, talvez conclu- amos que não houve nenhuma crise educa- cional no mundo – apenas ocorreu uma in- congruência crescente entre a maneira como as crianças do século XX aprendiam. DRUCKER, P. O melhor de Peter Drucker: obra completa. São Paulo: Nobel, 2002. O artigo apresenta uma reflexão sobre a Revolução da Informação, que assim como a Revolução Industrial, provocou impactos significativos nas sociedades contemporâne- as. Ao tratar da Revolução da Informação o autor enfatiza que: a) o comércio eletrônico é um dos canais mais importantes dessa revolução. b) o computador desenvolve na criança uma in- teligência maior que a dos pais. c) o aumento no número de empregos via in- ternet é uma realidade atualmente. d) o colapso educacional é fruto de uma incon- gruência no ensino do século XX. e) o advento da Revolução da Informação cau- sará impactos nos próximos 50 anos. 12. (ENEM) Ao se apossarem do novo território, os europeus ignoraram um universo de an- tiga sabedoria, povoado por homens e bens unidos por um sistema integrado. A recusa em se inteirar dos valores culturais dos pri- meiros habitantes levou-os a uma descrição simplista desses grupos e à sua sucessiva destruição. Na verdade, não existe uma distinção entre a nossa arte e aquela produzida por povos tecnicamente menos desenvolvidos. As duas manifestações devem ser encaradas como expressões diferentes dos modos de sentir e 46 pensar das várias sociedades, mas também como equivalentes, por resultarem de impul- sos humanos comuns. SCATAMACHIA, M. C. M. In: AGUILAR, N. (Org.). Mostra do redescobrimento: arqueologia. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo - Associação Brasil 500 anos artes visuais, 2000. De acordo com o texto, inexiste distinção en- tre as artes produzidas pelos colonizadores e pelos colonizados, pois ambas compartilham o(a): a) suporte artístico. b) nível tecnológico. c) base antropológica. d) concepção estética. e) referencial temático. 13. (ENEM) Obesidade causa doença A obesidade tornou-se uma epidemia global, segundo a Organização Mundial da Saúde, ligada à Organização das Nações Unidas. O problema vem atingindo um número cada vez maior de pessoas em todo o mundo, e entre as principais causas desse crescimento estão o modo de vida sedentário e a má ali- mentação. Segundo um médico especialista em cirurgia de redução de estômago, a taxa de mortali- dade entre homens obesos de 25 a 40 anos é 12 vezes maior quando comparada à taxa de mortalidade entre indivíduos de peso nor- mal. O excesso de peso e de gordura no cor- po desencadeia e piora problemas de saúde que poderiam ser evitados. Em alguns casos, a boa notícia é que a perda de peso leva à cura, como no caso da asma, mas em outros, como o infarto, não há solução. FERREIRA, T. Disponível em: http://revistaepoca. globo .com. Acesso em: 2 ago. 2012 (adaptado). O texto apresenta uma reflexão sobre saú- de e aponta o excesso de peso e de gordura corporal dos indivíduos como um problema, relacionando-o ao: a) padrão estético, pois o modelo de beleza do- minante na sociedade requer corpos magros. b) equilíbrio psíquico da população, pois esse quadro interfere na autoestima das pessoas. c) quadro clínico da população, pois a obesida- de é um fator de risco para o surgimento de diversas doenças crônicas. d) preconceito contra a pessoa obesa, pois ela so- fre discriminação em diversos espaços sociais. e) desempenho na realização das atividades co- tidianas, pois a obesidade interfere na per- formance. 14. (ENEM) A rapidez é destacada como uma das qua- lidades do serviço anunciado, funcionando como estratégia de persuasão em relação ao consumidor do mercado gráfico. O recurso da linguagem verbal que contribui para esse destaque é o emprego: a) do termo “fácil” no início do anúncio, com foco no processo. b) de adjetivos que valorizam a nitidez da im- pressão. c) das formas verbais no futuro e no pretérito, em sequência. d) da expressão intensificadora “menos do que” associada à qualidade. e) da locução “do mundo” associada a “me- lhor”, que quantifica a ação. 15. (ENEM) O veneno do bem Imagine que você cortou o rosto e, em vez de dar pontos, o seu médico passa uma super- cola feita de sangue de boi e veneno de cas- cavel. Isso pode mesmo acontecer. Mas não se assuste. A história moderna das serpentes não tem nada a ver com o medo ancestral que inspiram. Para a ciência, elas guardam produtos utilíssimos nas glândulas letais. O mais recente é uma cola de pele genuina- mente brasileira, que, segundo os testes já feitos, dá uma cicatrização perfeita. A descoberta pertence à equipe do professor Benedito Barraviera, da Universidade Esta- dual Paulista, em Botucatu. E não é a pri- meira feita no Brasil. Nos anos 1960, o médico Sérgio Fer- reira, atual presidente da Sociedade Brasi- leira para o Progresso da Ciência, descobriu 47 na jararaca uma molécula que em 1977 virou remédio contra a hipertensão. Disponível em: www.super.abril.com.br. Acesso em: 2 mar. 2012 (fragmento). Nos diferentes textos, pode-se inferir, entre outras informações, quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público-alvo. No trecho, para aproximar-se do interlocu- tor, o autor: a) emprega uma linguagem técnica de domínio do leitor. b) enfatiza informações importantes para a vida do leitor. c) introduz o tema antecipando possíveis rea- ções do leitor. d) explora um tema sobre o qual o leitor tem reconhecido interesse. e) apresenta ao leitor, de forma minuciosa, a descoberta dos médicos. 16. (ENEM) Estamos em plena “Idade Mídia” desde os anos de 1990, plugados durante muitas horas semanais (jovens entre 13 e 24 anos passam 3h30 diárias na Internet, garante pesquisa Studio Ideias para o nú- cleo Jovem da Editora Abril), substituímos as cartas pelos e-mails, os diários íntimos pelos blogs, os telegramas pelo Twitter, a enciclo- pédia pela Wikipédia, o álbum de fotos pelo Flickr. O YouTube é mais atraente do que a TV. PERISSÉ, G. A escrita na Internet. Especial Sala de Aula. São Paulo, 2010 (fragmento). Cada sistema de comunicação tem suas es- pecificidades. No ciberespaço, os textos virtuais são pro- duzidos combinando-se características de gêneros tradicionais. Essa combinação re- presenta: a) na redação do e-mail, o abandono da forma- lidade e do rigor gramatical. b) no uso do Twitter, a presença da concisão, que aproxima os textos às manchetes jorna- lísticas. c) na produção de um blog, há perda da priva- cidade, pois o blog se identifica com o diário íntimo. d) no uso do Twitter, a falta de coerência nas mensagens ali veiculadas, provocada pela economia de palavras. e) na produção de textos em geral, a soberania da autoria colaborativa no ciberespaço. 17. (ENEM) Texto I Chão de esmeralda Me sinto pisando Um chão de esmeraldas Quando levo meu coração À Mangueira Sob uma chuva de rosas Meu sangue jorra das veias E tinge um tapete Pra ela sambar É a realeza dos bambas Que quer se mostrar Soberba, garbosa Minha escola é um cata-vento a girar É verde, é rosaOh, abre alas pra Mangueira passar BUARQUE, C.; CARVALHO, H. B. Chico Buarque de Mangueira. Marola Edições Musicais Ltda. BMG. 1997. Disponível em: www.chicobuarque.com.br. Acesso em: 30 abr. 2010. Texto II Quando a escola de samba entra na Marquês de Sapucaí, a plateia delira, o coração dos componentes bate mais forte e o que vale é a emoção. Mas, para que esse verdadeiro espe- táculo entre em cena, por trás da cortina de fumaça dos fogos de artifício, existe um ver- dadeiro batalhão de alegria: são costureiras, aderecistas, diretores de ala e de harmonia, pesquisador de enredo e uma infinidade de garantem que tudo esteja perfeito na hora do desfile. AMORIM, M.; MACEDO, G. O espetáculo dos bastidores. Revista de Carnaval 2010: Mangueira. Rio de Janeiro: Estação Primeira de Mangueira, 2010. Ambos os textos exaltam o brilho, a beleza, a tradição e o compromisso dos dirigentes e de todos os componentes com a escola de sam- ba Estação Primeira de Mangueira. Uma das diferenças que se estabelece entre os textos é que: a) o artigo jornalístico cumpre a função de transmitir emoções e sensações, mais do que a letra de música. b) a letra de música privilegia a função social de comunicar a seu público a crítica em re- lação ao samba e aos sambistas. c) a linguagem poética, no Texto I, valoriza imagens metafóricas e a própria escola, en- quanto a linguagem, no Texto II, cumpre a função de informar e envolver o leitor. d) ao associar esmeraldas e rosas às cores da escola, o Texto I acende a rivalidade entre escolas de samba, enquanto o Texto II é neutro. e) o Texto I sugere a riqueza material da Man- gueira, enquanto o Texto II destaca o traba- lho na escola de samba. 18. (ENEM) A Lei Federal nº. 9.985/2000, que instituiu o sistema nacional de unidades de conservação define dois tipos de áreas pro- tegidas. O primeiro, as unidades de proteção integral, tem por objetivo preservar a na- tureza, admitindo-se apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, isto é, aquele que não envolve consumo, coleta, dano ou des- truição dos recursos naturais. O segundo, as 48 unidades de uso sustentável, tem por função compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos recursos naturais. Nesse caso, permite-se a exploração do ambiente de maneira a garantir a pere- nidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo-se a bio- diversidade e os demais atributos ecológicos, de forma socialmente justa e economicamen- te viável. Considerando essas informações, analise a seguinte situação hipotética. Ao discutir a aplicação de recursos disponí- veis para o desenvolvimento de determinada região, organizações civis, universidade e governo resolveram investir na utilização de uma unidade de proteção integral, o Parque Nacional do Morro do Pindaré, e de uma uni- dade de uso sustentável, a Floresta Nacional do Sabiá. Depois das discussões, a equipe re- solveu levar adiante três projetos: § o projeto I consiste em pesquisas científi- cas embasadas exclusivamente na obser- vação de animais; § o projeto II inclui a construção de uma escola e de um centro de vivência; § o projeto III promove a organização de uma comunidade extrativista que poderá coletar e explorar comercialmente frutas e sementes nativas. Nessa situação hipotética, atendendo-se à lei mencionada no texto, é possível desen- volver tanto na unidade de proteção integral quanto na de uso sustentável: a) apenas o projeto I. b) apenas o projeto III. c) apenas os projetos I e II. d) apenas os projetos II e III. e) todos os três projetos. 19. (ENEM) Exmº Sr. Governador: Trago a V. Exa. um resumo dos trabalhos re- alizados pela Prefeitura de Palmeira dos Ín- dios em 1928. [...] ADMINISTRAÇÃO Relativamente à quantia orçada, os telegra- mas custaram pouco. De ordinário vai para eles dinheiro considerável. Não há vereda aberta pelos matutos que prefeitura do inte- rior não ponha no arame, proclamando que a coisa foi feita por ela; comunicam-se as datas históricas ao Governo do Estado, que não precisa disso; todos os acontecimentos políticos são badalados. Porque se derrubou a Bastilha – um telegrama; porque se deitou pedra na rua – um telegrama; porque o de- putado F. esticou a canela – um telegrama. Palmeira dos Índios, 10 de janeiro de 1929. GRACILlANO RAMOS RAMOS, G. Viventes das Alagoas. São Paulo: Martins Fontes, 1962. O relatório traz a assinatura de Graciliano Ramos, na época, prefeito de Palmeira dos Índios, e é destinado ao governo do estado de Alagoas. De natureza oficial, o texto cha- ma a atenção por contrariar a norma previs- ta para esse gênero, pois o autor: a) emprega sinais de pontuação em excesso. b) recorre a termos e expressões em desuso no português. c) apresenta-se na primeira pessoa do singular, para conotar intimidade com o destinatário. d) privilegia o uso de termos técnicos, para de- monstrar conhecimento especializado. e) expressa-se em linguagem mais subjetiva, com forte carga emocional. 20. (ENEM) O peru de Natal O nosso primeiro Natal de família, depois da morte de meu pai acontecida cinco meses antes, foi de consequências decisivas para a felicidade familiar. Nós sempre fôramos familiarmente felizes, nesse sentido muito abstrato da felicidade: gente honesta, sem crimes, lar sem brigas internas nem graves dificuldades econômicas. Mas, devido princi- palmente à natureza cinzenta de meu pai, ser desprovido de qualquer lirismo, duma exem- plaridade incapaz, acolchoado no medíocre, sempre nos faltara aquele aproveitamento da vida, aquele gosto pelas felicidades mate- riais, um vinho bom, uma estação de águas, aquisição de geladeira, coisas assim. Meu pai fora de um bom errado, quase dramático, o puro-sangue dos desmancha-prazeres. ANDRADE, M. In: MORICONI, I. Os cem melhores contos brasileiros do século. São Paulo: Objetiva, 2000 (fragmento). No fragmento do conto de Mário de Andrade, o tom confessional do narrador em primei- ra pessoa revela uma concepção das relações humanas marcada por: a) distanciamento de estados de espírito acen- tuado pelo papel das gerações. b) relevância dos festejos religiosos em família na sociedade moderna. c) preocupação econômica em uma sociedade urbana em crise. d) consumo de bens materiais por parte de jo- vens, adultos e idosos. e) pesar e reação de luto diante da morte de um familiar querido. 21. (ENEM) Vei, a Sol Ora o pássaro careceu de fazer necessidade, fez e o herói ficou escorrendo sujeira de uru- bu. Já era de madrugadinha e o tempo es- tava inteiramente frio. Macunaíma acordou tremendo, todo lambuzado. Assim mesmo examinou bem a pedra mirim da ilhota para vê si não havia alguma cova com dinheiro enterrado. Não havia não. Nem a correntinha 49 encantada de prata que indica pro escolhido, tesouro de holandês. Havia só as formigas jaquitaguas ruivinhas. Então passou Caiuanogue, a estrela da ma- nhã. Macunaíma já meio enjoado de tanto viver pediu pra ela que o carregasse pro céu. Caiuanogue foi se chegando porém o herói fedia muito. – Vá tomar banho! – ela fez. E foi-se embora. Assim nasceu a expressão “Vá tomar banho” que os brasileiros empregam se referindo a certos imigrantes europeus. ANDRADE, M. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Rio de Janeiro: Agir, 2008. O fragmento de texto faz parte do capítulo VII, intitulado “Vei, a Sol”, do livro Macu- naíma, de Mário de Andrade, pertencente à primeira fase do Modernismo brasileiro. Considerando a linguagem empregada pelo narrador, é possível identificar: a) resquícios do discurso naturalista usado pe- los escritores do século XIX. b) ausência de linearidade no tratamento do tempo, recurso comum ao texto narrativo da primeirafase modernista. c) referência à fauna como meio de denunciar o primitivismo e o atraso de algumas regiões do país. d) descrição preconceituosa dos tipos popula- res brasileiros, representados por Macunaí- ma e Caiuanogue. e) uso da linguagem coloquial e de temáticas do lendário brasileiro como meio de valori- zação da cultura popular nacional. 22. (ENEM) TEXTO I Quem sabe, devido às atividades culinárias da esposa, nesses idílios Vadinho dizia-lhe “Meu manuê de milho verde, meu acarajé cheiroso, minha franguinha gorda”, e tais comparações gastronômicas davam justa ideia de certo encanto sensual e caseiro de dona Flor a esconder-se sob uma natureza tranquila e dócil. Vadinho conhecia-lhe as fraquezas e as expunha ao sol, aquela ânsia controlada de tímida, aquele recatado desejo fazendo-se violência e mesmo incontinência ao libertar-se na cama. AMADO, J. Dona Flor e seus dois maridos. São Paulo: Martins, 1966. TEXTO II As suas mãos trabalham na braguilha das calças do falecido. Dulcineusa me confessou mais tarde: era assim que o marido gostava de começar as intimidades. Um fazer de con- ta que era outra coisa, a exemplo do gato que distrai o olhar enquanto segura a presa nas patas. Esse o acordo silencioso que tinham: ele chegava em casa e se queixava que tinha um botão a cair. Calada, Dulcineusa se arma- va dos apetrechos da costura e se posiciona- va a jeito dos prazeres e dos afazeres. COUTO, M. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra. São Paulo: Cia. das Letras, 2002. Tema recorrente na obra de Jorge amara, a figura feminina aparece, no fragmento, re- tratada de forma semelhante à que se vê no texto do moçambicano Mia Couto. Nesses dois textos, com relação ao universo femi- nino em seu contexto doméstico, observa-se que: a) desejo sexual é entendido como uma fraque- za moral, incompatível com a mulher casada. b) a mulher tem um comportamento marcado por convenções de papéis sexuais. c) à mulher cabe o poder da sedução, expresso pelos gestos, olhares e silêncios que ensaiam. d) a mulher incorpora o sentimento de culpa e age com apatia, como no mito bíblico da serpente. e) a dissimulação e a malícia fazem parte do repertório feminino nos espaços público e íntimo. 23. (ENEM) Em junho de 1913, embarquei para a Europa a fim de me tratar num sanatório suíço. Escolhi o de Clavadel, perto de Davos- -Platz, porque a respeito dele me falara João Luso, que ali passara um inverno com a se- nhora. Mais tarde vim a saber que antes de existir no lugar um sanatório, lá estivera por algum tempo Antônio Nobre. “Ao cair das fo- lhas”, um de seus mais belos sonetos, talvez o meu predileto, está datado de “Clavadel, outubro, 1895”. Fiquei na Suíça até outubro de 1914. BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985. No relato de memórias do autor, entre os recursos usados para organizar a sequência dos eventos narrados, destaca-se a: a) construção de frases curtas a fim de conferir dinamicidade ao texto. b) presença de advérbios de lugar para indicar a progressão dos fatos. c) alternância de tempos do pretérito para or- denar os acontecimentos. d) inclusão de enunciados com comentários e avaliações pessoais. e) alusão a pessoas marcantes na trajetória de vida do escritor. 50 24. (ENEM) TEXTO I A canção do africano Lá na úmida senzala. Sentado na estreita sala, Junto ao braseiro, no chão, entoa o escravo o seu canto, E ao cantar correm-lhe em pranto Saudades do seu torrão... De um lado, uma negra escrava Os olhos no filho crava, Que tem no colo a embalar... E à meia-voz lá responde Ao canto, e o filhinho esconde, Talvez p’ra não o escutar! “Minha terra é lá bem longe, Das bandas de onde o sol vem; Esta terra é mais bonita. Mas à outra eu quero bem.” ALVES, C. Poesias completas. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995 (fragmento). TEXTO II No caso da Literatura Brasileira, se é verda- de que prevalecem as reformas radicais, elas têm acontecido mais no âmbito de movimen- tos literários do que de gerações literárias. A poesia de Castro Alves em relação à de Gonçalves Dias não é a de negação radical, mas de superação, dentro do mesmo espírito romântico. MELO NETO, J. C. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003 (fragmento) O fragmento do poema de Castro Alves exem- plifica a afirmação de João Cabral de Melo Neto porque: a) exalta o nacionalismo, embora lhe imprima um fundo ideológico retórico. b) canta a paisagem local, no entanto, defende ideais do liberalismo. c) mantém o canto saudosista da terra pátria, mas renova o tema amoroso. d) explora a subjetividade do eu lírico, ainda que tematize a injustiça social. e) inova na abordagem de aspecto social, mas mantém a visão lírica da terra pátria. Gabarito 1. B 2. C 3. C 4. B 5. D 6. B 7. B 8. B 9. D 10. C 11. A 12. C 13. C 14. C 15. C 16. B 17. C 18. A 19. E 20. A 21. E 22. B 23. C 24. E Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para sua vida. H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação. H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais. H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas. H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação. Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras culturas e grupos sociais. H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema. H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas. H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social. H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística. Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da identidade. H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social. H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas. H11 Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para diferentes indivíduos. Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e da própria identidade. H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais. H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos. H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos. Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção. H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político. H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário. H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanosatualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional. Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação. H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos. H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução. H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas. H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos. H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos. H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados. H24 Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção, chantagem, entre outras. Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização do mundo e da própria identidade. H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro. H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social. H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação. Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte, às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar. H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação. H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação. H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem. 53 BREVIÁRIO Posicionamento crítico Textos pertencentes a diferentes sistemas de comunicação podem também ter uma função crítica que não esteja explícita em sua argumentação. Muitos autores se valem da ironia e do humor para despertarem no leitor a reflexão acerca de determinados problemas da sociedade. Esse mecanismo pode aparecer em poemas, charges, textos em prosa, mensagens publicitárias, entre outros. Aula 3 Competências 1, 6, 7 e 8 Habilidades 1, 2, 3, 4, 19, 23, 24, 25 e 26 As aparências revelam Afirma uma Firma que o Brasil confirma: “Vamos substituir o Café pelo Aço”. Vai ser duríssimo descondicionar o paladar Não há na violência que a linguagem imita algo da violência propriamente dita? (CACASO. As aparências revelam. In: WEINTRAUB, Fabio (Org). Poesia marginal. São Paulo: Ática, 2004. p. 61. Para gostar de ler 39.) Função social dos textos É importante lembrar que todo texto comunica algo. Às vezes, essa intenção é mais ou menos importante no processo de comunicação. No entanto, como vivemos em sociedade, devemos lembrar que alguns textos têm uma função primordial em nossa vida, que é a informação. Para podermos compartilhar o mesmo espaço, ter acesso aos nossos direitos e estarmos interligados ao que acontece em nossa sociedade, é fundamental que saibamos reconhecer a aplicação de cada um desses tipos de texto e sua respectiva significação. Calendário do PIS/PASEP 2015-2016 Nascido em: Recebem a partir de: Recebem até: JULHO 14/07/2015 30/06/2016 AGOSTO 20/07/2015 30/06/2016 SETEMBRO 28/07/2015 30/06/2016 OUTUBRO 12/08/2015 30/06/2016 NOVEMBRO 19/08/2015 30/06/2016 DEZEMBRO 21/08/2015 30/06/2016 JANEIRO 15/09/2015 30/06/2016 FEVEREIRO 24/09/2015 30/06/2016 MARÇO 30/09/2015 30/06/2016 ABRIL 12/10/2015 30/06/2016 MAIO 18/10/2015 30/06/2016 JUNHO 29/10/2015 30/06/2016 WWW.CALENDARIOPISPASEPCAIXA.COM A linguagem corporal em uso Os seres humanos se utilizam da linguagem corporal para estabelecerem relações entre si, de acordo com dife- rentes manifestações sociais nas quais estão incluídos. As competições esportivas, por exemplo, utilizam o corpo para concretizar seus objetivos, realizar disputas etc. Já algumas religiões se utilizam do corpo como parte do ritual litúrgico, no qual a movimentação torna-se um elemento extremamente significativo. Há ainda a dança, que pode ser originada de diferentes contextos sociais, como uma valsa num casamento, o break – dança que provém das ruas – ou até mesmo uma apresentação de ballet clássico num teatro convencional. 54 55 Break de rua Candomblé – a dança é uma homenagem aos orixás Rugby – o esporte exige muita força física Processo de transformação dos valores atribuídos ao corpo A representação do corpo ideal, na sociedade contemporânea, foi construída por um processo de mudança de valores socioculturais. Na Grécia antiga, por exemplo, mulheres com curvas acentuadas eram mais valorizadas, esteticamente, que mulheres muito magras. No entanto, a representação do corpo ideal, sobretudo na sociedade contemporânea, é formada por di- retrizes que não contemplam as heterogeneidades de cada fenótipo humano. Isso que dizer que, embora haja um modelo padrão que é reproduzido sistematicamente por grandes meios de comunicação em massa, devemos lembrar que nossos corpos são diferentes entre si, o que contribui significativamente para a construção de nossas singularidades. Quadrinhos O gênero “histórias em quadrinhos”, conhecido também como “HQ”, enuncia a linguagem por meio de quadros, nos quais uma história é contada, isto é, trata-se de uma narrativa em que a sequência de imagens obedece a uma progressão temporal. Vale ressaltar que esse gênero mescla o texto verbal e o não verbal, criando, muitas vezes, uma relação nova de sentido entre eles, que pode ter diferentes funções: a de evocar algum contexto ideológico da sociedade; a de contrapor a imagem e a fala causando um efeito humorístico; ou simplesmente, a de provocar no leitor a reflexão sobre uma situação cotidiana. o homem e sua relação com a tecnologia A sociedade contemporânea, de modo geral, está diretamente inscrita na lógica da tecnologia. Há poucos anos, essa relação se restringia a pouquíssimos círculos sociais, uma vez que o acesso era difícil e o preço por uma conexão na web, por exemplo, era muito alto. Com o passar dos anos, o avanço tecnológico e a expansão da distribuição dos sinais de internet permitiram que grande parte das populações de muitos países estivessem virtualmente conectadas umas às ou- tras, modificando para sempre o modo como nos relacionamos com o mundo. Essa disseminação da internet contribuiu significativamente no processo de globalização, pois foi possível colocar culturas diferentes diante dos mesmos objetos simbólicos. Pessoas separadas por léguas e léguas de dis- tância podem, rapidamente, encontrar-se no chat de uma rede social. Habitantes dos extremos do Planeta têm a possibilidade de acompanhar o mesmo seriado através do uso do streaming. Anônimos tornam-se famosos em poucos dias a partir do compartilhamento acelerado de suas postagens virtuais. Em síntese, a internet permitiu que passássemos a possuir hábitos extremamente semelhantes e a consumir um mesmo tipo de cultura. Não foi apenasessa relação de proximidade que foi modificada com o advento da internet. Nossa relação com os próprios objetos da comunicação também sofreu modificações significativas. Abandonamos envelopes, selos e papéis de carta para darmos lugar ao e-mail. Os diários passaram para o fundo das gavetas, pois o blog e até mesmo as redes sociais passaram a ser o lugar das reflexões (e revelações) que secretamente fazíamos. A leitura e a escrita, que geralmente se realizavam num contexto mais lento e de uma forma elaborada, expandiram-se em contextos extremamente velozes: nunca lemos ou escrevemos tanto como o fazemos hoje dentro do Facebook. É preciso reconhecer que muitas modificações foram positivas com a expansão virtual. Os Estados, de maneira geral, puderam facilitar os serviços prestados à população; o conhecimento, que antes era restrito aos livros, passou a estar disponível a poucos cliques de distância; aprendemos a resolver pequenos problemas da vida, 56 57 que antes competiam apenas a alguns especialistas. No entanto, devemos lembrar que tais transformações não modificaram significativamente as desigualdades sociais e também trouxeram problemas que antes não tínhamos. Pessoas suicidaram-se por conta do cyberbulling; criminosos passaram a agir de modo mais rápido, efetivo e silen- cioso praticando delitos que só se multiplicam; e preconceitos de diferentes naturezas passaram a ser reproduzidos sem que seus autores fossem identificados. A web, em suma, precisa ser usada e analisada com muita cautela. Embora possamos estar sempre conectados, devemos lembrar que ainda somos seres de carne e osso e nossas relações pessoais também devem ser mantidas e valorizadas. As brincadeiras ao ar livre, o almoço em família, a roda de conversa e prática de esporte são elementos que contribuem significativamente para nossas relações interpessoais, sem a necessidade de qualquer conexão com o mundo digital. Somos nós que decidimos utilizar o mundo virtual e ele deve estar ao nosso serviço, não o contrário. E embora a internet tenha modificado sistematicamente nossa forma de conexão com o mundo, ela não modificou nossa espécie, nem nossa capacidade de decidirmos sobre o futuro de nós mesmos. Cérebro eletrônico O cérebro eletrônico faz tudo Faz quase tudo Faz quase tudo Mas ele é mudo O cérebro eletrônico comanda Manda e desmanda Ele é quem manda Mas ele não anda Só eu posso pensar Se Deus existe Só eu Só eu posso chorar Quando estou triste Só eu Eu cá com meus botões De carne e osso Eu falo e ouço. Hum Eu penso e posso Eu posso decidir Se vivo ou morro por que Porque sou vivo Vivo pra cachorro e sei Que cérebro eletrônico nenhum me dá socorro No meu caminho inevitável para a morte Porque sou vivo Sou muito vivo e sei Que a morte é nosso impulso primitivo e sei Que cérebro eletrônico nenhum me dá socorro Com seus botões de ferro e seus Olhos de vidro (Gilberto Gil) as artes Plásticas e seus contextos de Produção Arte medieval A arte medieval retratava temáticas religiosas ou ainda os retratos do trabalho no campo, pois estava diretamente ligada ao período histórico, no qual a fé cristã era considerada o centro da vida do homem, o teocentrismo. Do ponto de vista estético, tais pinturas não apresentavam tamanha preocupação com as dimensões da representação da realidade, que serão objeto da arte renascentista. Madona e Filho, Beringhiero, século XII. (www.literaria.net/RP/L2RPL2.htm) 58 59 Arte renascentista A arte renascentista se ocupa da valorização da cultura greco-romana sem abandonar as temáticas cristãs. Aliada aos ideais de recuperação da cultura antiga, as pinturas retratam entidades mitológicas, deuses, ninfas e grandes personagens da idade antiga, bem como personagens do antigo e do novo testamento. Sua qualidade estética está em manter a simetria das composições, em prezar pela mimese, ou seja, pela mais fiel representação da realidade, por meio do uso da perspectiva e de sombras, e também pelo equilíbrio entre cores e formas. O nascimento de Vênus, de Sandro Botticelli. A última ceia, de Leonardo da Vinci Arte barroca Como fruto do momento histórico ao qual pertencia, repleto de oposições devido à Contrarreforma iniciada no século XVI, a arte barroca também valorizarou os contrastes. Suas imagens não são centralizadas como as renas- centistas e, muitaz vezes, priorizam a ideia de movimento. Suas temáticas também abarcam contrastes: mitologia, fé cristã, nobreza, burguesia. As meninas (Diego Velásquez) A Flagelação de Cristo, Caravaggio, 1607 Arte romântica Aliada aos valores dramáticos e sentimentais próprios da literatura e da história do período, a arte romântica pro- curou evidenciar os efeitos emotivos das pinturas, dando lugar, principalmente, aos temas históricos e religiosos. Delacroix: A Liberdade guiando o povo, 1830. A maja nua, c. 1795-1800, Museu do Prado Arte moderna Como objetivo de romper com os padrões antigos, os artistas modernos buscam novas formas de expressão para comporem suas obras. Desse modo, eles se utilizam de recursos como cores vivas, figuras deformadas, cubos e cenas sem lógica para demonstrar a força da ruptura que desejavam promover. São próprios dessa época os movi- mentos impressionista, expressionista cubista, futurista, dadaísta e surrealista. Antropofagia, de Tarsila do Amaral Edvard Munch - O Grito 60 61 Arte contemporânea A arte contemporânea ou arte pós-moderna é um movimento artístico que teve início na segunda metade do século XX, após a Segunda Guerra Mundial A disseminação da indústria cultural e a modificação da relação do homem com a arte, tornando-a mais popular, proporcionou mudanças significativas no campo cultural. Tais mudanças são responsáveis pela características desse nova tendência artística, que são: abandono dos suportes tradicionais, mistura de estilos artísticos, emprego de diferentes materiais, aproximação com a cultura popular, sobretudo, interação do espectador com a obra. OITICICA, H. Metaesquema I, 1958. Guache s/ cartão 52 cm x 64 cm. Museu de Arte Contemporânea - MAC/USP. Museu de arte contemporânea, Rio de Janeiro. (Oscar Niemeyer) PrinciPais danças do Folclore Maracatu Trata-se de uma dança típica do Nordeste brasileiro, cuja simbologia é a adoração aos orixás. Na dança, todos se fantasiam e devem passar “de mão em mão” a “calunga”, uma espécie de boneca de pano presa em um bastão, a qual representa uma entidade espiritual. A dança é natural do Estado do Pernambuco. Frevo Também é uma dança natural do Pernambuco. Ela se caracteriza pelos movimentos rápidos dos dançarinos que le- vam na mão um guarda-chuva de cor correspondente a da própria roupa. A realização é típica durante o Carnaval. Baião A dança tornou-se popular graças ao músico Luiz Gonzaga, por conta de sua canção “Baião”. A dança é típica do sertão do Nordeste, mas espalhou-se para outros Estados. Geralmente, dança-se em pares e os movimentos são muito semelhantes aos do forró. Samba de roda É uma dança caracterizada pela disposição dos sambistas em círculo. Muito semelhante à capoeira, os dançarinos movem seus corpos para o centro da roda, convidando os demais a entrarem para a dança. 62 63 Fandango O fandango é uma festa típica paranaense promovida por moradores da região litorânea do Estado. Embora seja de origem espanhola, a dança entrou no Brasil com os colonos e passou a caracterizar um conjunto de danças, intituladas (marcas), as quais podem ser dançadas, sapateadas e até mesmo valsadas. Antigamente, como as festas ocorriam sobretudo no Carnaval, os dançarinos e participantes do movimentos festejavam durante quatro dias e se alimentavam do “barreado”, uma comida típica do litoral à base de carne e toucinho e cozidoem panela de barro. Catira Trata-se de uma dança de origem gaúcha, cuja origem foi influenciada por danças espanholas, africanas e inglesas. Caracteriza-se pelo sapateado, pelo uso de palmas e por coreografias bem sincronizadas. A vestimenta de todos os dançarinos é igual, geralmente composta por chapéus, camisas, calças jeans e botas. Quadrilha Trata-se de uma dança popular em diferentes Estados brasileiros típica do período de festas juninas. Realiza-se em pares que devem escutar um “narrador” e seguir suas instruções. A dança é acompanhada por uma canção instrumental. Há variações de acordo com o Estado, no qual ela é realizada. mitos e lendas Os mitos e lendas de uma nação fazem parte de sua tradição oral. Vejamos, a seguir, alguns dos principais mitos e lendas de diversas localidades brasileiras. Boitatá Trata-se de uma grande serpente de fogo que mora nas margens dos rios, mata animais e lhes devora os olhos. Do tupi boi, cobra, e tatá, fogo: cobra de fogo, o fogo em forma de cobra. Há algumas versões, nas quais a figura do boitatá destrói com o fogo dos seus olhos as pessoas que realizam queimadas nas matas. Boto sedutor É uma lenda da fauna amazonense, famosa em todo o País. O boto, ao cair da noite, transforma-se num rapaz, alto, branco e muito bonito que seduz as moças das comunidades ribeirinhas. Muitas mulheres atribuem a paternidade de filhos espúrios e naturais ao boto. Caipora De acordo com Câmara Cascudo, é uma versão do curupira com os pés normais. De caá, mato, e porá, habitante, morador. Trata-se de uma figura coberta de pelos que anda sempre montada num porco-do-mato, protetor dos animais e inimigo dos caçadores. Há inúmeras versões da caipora e do curupira. Ambos aparecem, geralmente, associados como manifestações de uma mesma entidade. 64 65 Cuca É a figura lendária de uma mulher velha e feia, com cabeça de jacaré. É uma espécie de feiticeira, cuja voz é assus- tadora. É citada em muitas cantigas de acalentar do interior do País. Lobisomem É a figura de um indivíduo, meio lobo, meio humano. A história provém de lendas europeias, uma vez que o povo europeu tinha medo de lobos. A versão brasileira do lobisomem pode ser representada pelo sétimo filho homem de um casal; ou aquele que nasceu após sete filhas. Ou, ainda, como aquele que não foi batizado ou que é fruto de uma relação incestuosa. Mani (a lenda da mandioca) Mani é uma menina nascida num aldeamento indígena, cuja pele era muito branca. Desconfiado da esposa, o pai da menina queria matar a mulher e a filha. Entretanto, o feiticeiro da tribo interveio e disse ao índio que a mulher era inocente, e que o homem receberia grande castigo, caso tentasse atingi-las. Mani não viveu por muito tempo, ainda que tenha crescido linda e tenha cativado a todos. Os pais da indiazinha a sepultaram dentro de sua própria maloca e a “regavam” diariamente com as lágrimas que derramavam de saudades dela. Mapinguari Trata-se de um macaco grande e peludo, cuja boca vai do nariz até o estômago. Seus lábios são vermelhos de sangue. Ele se utiliza de gritos semelhantes aos dos humanos para atrair suas vítimas. É muito presente no Acre, no Amazonas e no Pará. Quimbungo É uma espécie de “bicho-papão”, meio homem, meio maçado, com cabeça grande e uma enorme boca nas costas, por onde ele devora as criancinhas. É um mito baiano, mas de origem africana. Saci-pererê A figura do saci-pererê é composta pela imagem de um negrinho de uma perna só, que utiliza uma carapuça vermelha na cabeça e que tem o poder de se tornar invisível. Caso a carapuça seja removida por alguém, seus poderes são perdidos. O aaci adora fumar e dá risadas muito altas. De acordo com Amadeu Amaral, em “Tradições Populares”, “o saci, que é certamente indígena em parte, revelando amálgama de elementos de outros mitos abo- rígines (curupira, caapora etc.), sofreu influência do negro, patente na transformação do personagem num moleque travesso, e, ao mesmo tempo, incorporou pouca coisa de procedência europeia. De modo que o saci marca um momento importante, uma encruzilhada da nossa viagem histórica. O saci é talvez um símbolo...” 66 67 aPlicação dos conhecimentos - sala 1. (ENEM) Em 1866, tendo encerrado seus es- tudos na Escola de Belas Artes, em Paris, Pedro Américo ofereceu a tela A Carioca ao imperador Pedro II, em reconhecimento ao seu mecenas. O nu feminino obedecia aos cânones da grande arte e pretendia ser uma alegoria feminina da nacionalidade. A tela, entretanto, foi recusada por imoral e licen- ciosa: mesmo não fugindo à regra oitocen- tista relativa à nudez na obra de arte, A Ca- rioca não pôde, portanto, ser absorvida de imediato. A sensualidade tangível da figura feminina, próxima do orientalismo tão em voga na Europa, confrontou-se não somente com os limites morais, mas também com a orientação estética e cultural do Império. O que chocara mais: a nudez frontal ou um nu tão descolado do que se desejava como nu- dez nacional aceitável, por exemplo, aquela das românticas figuras indígenas? A Carioca oferecia um corpo simultaneamente ideal e obsceno: o alto – uma beleza imaterial – e o baixo – uma carnalidade excessiva. Suge- ria uma mistura de estilos que, sem romper com a regra do decoro artístico, insinuava na tela algo inadequado ao repertório simbólico oficial. A exótica morena, que não é índia – nem mulata ou negra – poderia representar uma visualidade feminina brasileira e des- frutar de um lugar de destaque no imaginá- rio da nossa monarquia tropical”? OLIVEIRA, C. Disponível em: http://anpuh. org.br. Acesso em: 20 maio 2015. O texto revela que a aceitação da represen- tação do belo na obra de arte está condicio- nada à: a) incorporação de grandes correntes teóricas de uma época, conferindo legitimidade ao trabalho do artista. b) atemporalidade do tema abordado pelo ar- tista, garantindo perenidade ao objeto de arte então elaborado. c) inserção da produção artística em um pro- jeto estético e ideológico determinado por fatores externos. d) apropriação que o pintor faz dos grandes te- mas universais já recorrentes em uma ver- tente artística. e) assimilação de técnicas e recursos já utiliza- dos por movimentos anteriores que trataram da temática. 2. (ENEM) As narrativas indígenas se susten- tam e se perpetuam por uma tradição de transmissão oral (sejam as histórias verda- deiras dos seus antepassados, dos fatos e guerras recentes ou antigos; sejam as his- tórias de ficção, como aquelas da onça e do macaco). De fato, as comunidades indígenas nas chamadas “terras baixas da América do Sul” (o que exclui as montanhas dos Andes, por exemplo) não desenvolveram sistemas de escrita como os que conhecemos, sejam alfabéticos (como a escrita do português), sejam ideogramáticos (como a escrita dos chineses) ou outros. Somente nas socieda- des indígenas com estratificação social (ou seja, já divididas em classes), como foram os astecas e os maias, é que surgiu algum tipo de escrita. A história da escrita pare- ce mesmo mostrar claramente isso: que ela surge e se desenvolve – em qualquer das for- mas – apenas em sociedades estratificadas (sumérios, egípcios, chineses, gregos etc.). O fato é que os povos indígenas no Brasil, por exemplo, não empregavam um sistema de escrita, mas garantiram a conservação e continuidade dos conhecimentos acumula- dos, das histórias passadas e, também, das narrativas que sua tradição criou, através da transmissão oral. Todas as tecnologias indí- genas se transmitiram e se desenvolveram assim. E não foram poucas: por exemplo, fo- ram os índios que domesticaram plantas sil- vestres e, muitas vezes, venenosas, criando o milho, a mandioca (ou macaxeira), o amen- doim, as morangas e muitasoutras mais (e também as desenvolveram muito; por exem- plo, somente do milho criaram cerca de 250 variedades diferentes em toda a América). D’ANGELIS, W. R. Histórias dos índios lá em casa: narrativas indígenas e tradição oral popular no Brasil. Disponível em: www.portalkaingang.org. Acesso em: 5 dez. 2012. A escrita e a oralidade, nas diversas culturas, cumprem diferentes objetivos. O fragmento aponta que, nas sociedades indígenas brasi- leiras, a oralidade possibilitou: a) a conservação e a valorização dos grupos de- tentores de certos saberes. b) a preservação e a transmissão dos saberes e da memória cultural dos povos. c) a manutenção e a reprodução dos modelos estratificados de organização social. d) a restrição e a limitação do conhecimento acumulado a determinadas comunidades. e) o reconhecimento e a legitimação da impor- tância da fala como meio de comunicação. 68 3. (ENEM) O hipertexto refere-se à escritura eletrônica não sequencial e não linear, que se bifurca e permite ao leitor o acesso a um número praticamente ilimitado de outros textos a partir de escolhas locais e sucessi- vas, em tempo real. Assim, o leitor tem con- dições de definir interativamente o fluxo de sua leitura a partir de assuntos tratados no texto sem se prender a uma sequência fixa ou a tópicos estabelecidos por um autor. Tra- ta-se de uma forma de estruturação textual que faz do leitor simultaneamente coautor do texto final. O hipertexto se caracteriza, pois, como um processo de escritura/leitura eletrônica mul- tilinearizado, multissequencial e indeter- minado, realizado em um novo espaço de escrita. Assim, ao permitir vários níveis de tratamento de um tema, o hipertexto ofe- rece a possibilidade de múltiplos graus de profundidade simultaneamente, já que não tem sequência definida, mas liga textos ne- cessariamente correlacionados. MARCUSCHI, L. A. Disponível em: http:// www.pucsp.br. Acesso em: 29 jun.2011. O computador mudou nossa maneira de ler e escrever, e o hipertexto pode ser conside- rado como um novo espaço de escrita e lei- tura. Definido como um conjunto de blocos autônomos de texto, apresentado em meio eletrônico computadorizado e no qual há remissões associando entre si diversos ele- mentos, o hipertexto: a) é uma estratégia que, ao possibilitar cami- nhos totalmente abertos, desfavorece o lei- tor, ao confundir os conceitos cristalizados tradicionalmente. b) é uma forma artificial de produção da escri- ta, que, ao desviar o foco da leitura, pode ter como consequência o menosprezo pela escrita tradicional. c) exige do leitor um maior grau de conheci- mentos prévios, por isso deve ser evitado pe- los estudantes nas suas pesquisas escolares. d) facilita a pesquisa, pois proporciona uma in- formação específica, segura e verdadeira, em qualquer site de busca ou blog oferecidos na internet. e) possibilita ao leitor escolher seu própria per- curso de leitura, sem seguir sequência pre- determinada, constituindo-se em atividade mais coletiva e colaborativa. 4. (ENEM) Na criação do texto, o chargista lotti usa criativamente um intertexto: os traços re- constroem uma cena de Guernica, painel de Pablo Picasso que retrata os horrores e a des- truição provocados pelo bombardeio a uma pequena cidade da Espanha. Na charge, pu- blicada no período de carnaval, recebe desta- que a figura do carro, elemento introduzido por lotti no intertexto. Além dessa figura, a linguagem verbal contribui para estabelecer um diálogo entre a obra de Picasso e a char- ge, ao explorar: a) uma referência ao contexto, “trânsito no feriadão”, esclarecendo-se o referente tanto do texto de Iotti quanto da obra de Picasso. b) uma referência ao tempo presente, com o emprego da forma verbal “é”, evidenciando- -se a atualidade do tema abordado tanto pelo pintor espanhol quanto pelo chargista brasileiro. c) um termo pejorativo, “trânsito”, reforçando- -se a imagem negativa de mundo caótico pre- sente tanto em Guernica quanto na charge. d) uma referência temporal, “sempre”, referin- do-se à permanência de tragédias retratadas tanto em Guernica quanto na charge. e) uma expressão polissêmica, “quadro dramá- tico”, remetendo-se tanto à obra pictórica quanto ao contexto do trânsito brasileiro. 5. (ENEM) 69 O Surrealismo configurou-se como uma das vanguardas artísticas europeias do início do século XX. René Magritte, pintor belga, apre- senta elementos dessa vanguarda em suas produções. Um traço do Surrealismo presen- te nessa pintura é o(a): a) justaposição de elementos díspares, observa- da na imagem do homem no espelho. b) crítica ao passadismo, exposta na dupla ima- gem do homem olhando sempre para frente. c) construção de perspectiva, apresentada na sobreposição de planos visuais. d) processo de automatismo, indicado na repe- tição da imagem do homem. e) procedimento de colagem, identificado no re- flexo do livro no espelho. 6. (ENEM) Na modernidade, o corpo foi desco- berto, despido e modelado pelos exercícios físicos da moda. Novos espaços e práticas esportivas e de ginástica passaram a con- vocar as pessoas a modelarem seus corpos. Multiplicaram-se as academias de ginástica, as salas de musculação e o número de pesso- as correndo pelas ruas. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Caderno do professor: educação física. São Paulo, 2008. Diante do exposto, é possível perceber que houve um aumento da procura por: a) exercícios físicos aquáticos (natação/hidro- ginástica), que são exercícios de baixo im- pacto, evitando o atrito (não prejudicando as articulações), e que previnem o envelhe- cimento precoce e melhoram a qualidade de vida. b) mecanismos que permitem combinar ali- mentação e exercício físico, que permitem a aquisição e manutenção de níveis adequados de saúde, sem a preocupação com padrões de beleza instituídos socialmente. c) programas saudáveis de emagrecimento, que evitam os prejuízos causados na regulação metabólica, função imunológica, integrida- de óssea e manutenção da capacidade fun- cional ao longo do envelhecimento. d) exercícios de relaxamento, reeducação pos- tural e alongamentos, que permitem um melhor funcionamento do organismo como um todo, bem como uma dieta alimentar e hábitos saudáveis com base em produtos na- turais. e) dietas que preconizam a ingestão excessiva ou restrita de um ou mais macronutrientes (carboidratos, gorduras ou proteínas), bem como exercícios que permitem um aumento de massa muscular e/ou modelar o corpo. raio x 1. O autor do excerto tece várias hipóteses que justificariam o fato de a tela “A carioca” ter sido recusada pelo imperador Pedro II: limi- tes morais da sociedade da época, exposição de um tipo de carnalidade que escapava aos padrões estéticos em voga naquele período e o exotismo de uma representação corpórea de uma mulher que não era índia, mulata nem negra. Assim, é correta a opção [C] que afirma que a aceitação da representação do belo na obra de arte está condicionada a fa- tores externos de um determinado contexto cultural e ideológico. 2. Segundo Wilmar da Rocha D’Angelis, as co- munidades indígenas perpetuam a sua cultu- ra por transmissão oral, independentemente de dominarem ou não determinado tipo de escrita. Nesse sentido, foi possível para as sociedades indígenas brasileiras transmiti- rem conhecimentos, saberes e tecnologias acumulados ao longo da sua formação. 3. Hipertexto é o termo que remete a um texto em formato digital, ao qual se agregam ou- tros conjuntos de informação na forma de blocos de textos, gráficos, palavras, imagens ou sons permitindo uma interligação de co- nhecimentos que complementam o original. Assim, o leitor escolhe seu próprio percurso de leitura em atividade mais coletiva e cola- borativa.4. Ao falar quadro dramático, a charge se uti- liza da linguagem metafórica ao se referir ao trânsito no carnaval, tanto com relação às horas de estrada quanto com relação às mor- tes ocasionadas por acidentes. Ao mesmo tempo em que faz uma referência (quadro dramático e Guernica de Picasso) cria uma intertextualidade ao gerar uma metáfora que se combina à ideia de Guernica e a guer- ra que ele retrata. 5. O movimento surrealista apresenta como principais características a ausência da lógi- ca, a fusão consciente da realidade com a fic- ção, a exploração do mundo onírico e a exal- tação da liberdade de criação, entre outros. Magritte é conhecido pelas obras provocado- ras que desafiam as percepções dos observa- dores, como a tela “A reprodução proibida”, em que a imagem do homem refletida no es- pelho contraria a lógica. 6. É aceitável apenas o que se afirma em [E], pois as demais opções apresentam conceitos que extrapolam o texto. Embora não seja ex- plícito, pode depreender-se que houve au- mento de procura por dietas que restringem ou estimulam a ingestão de macronutrien- tes, assim como a prática de exercícios. 70 gabarito 1. C 2. B 3. E 4. E 5. A 6. E 71 Prática dos conhecimentos - e.o. 1. (ENEM) Opportunity é o nome de um veículo explo- rador que aterrissou em Marte com a mis- são de enviar informações à Terra. A charge apresenta uma crítica ao(à): a) gasto exagerado com o envio de robôs a ou- tros planetas. b) exploração indiscriminada de outros planetas. c) circulação digital excessiva de autorretratos. d) vulgarização das descobertas espaciais. e) mecanização das atividades humanas. 2. (ENEM) Nessa charge, o recurso morfossintático que colabora para o efeito de humor está indica- do pelo(a): a) emprego de uma oração adversativa, que orienta a quebra da expectativa ao final. b) uso de conjunção aditiva, que cria uma rela- ção de causa e efeito entre as ações. c) retomada do substantivo “mãe”, que desfaz a ambiguidade dos sentidos a ele atribuídos d) utilização da forma pronominal “la”, que reflete um tratamento formal do filho em relação à “mãe”. e) repetição da forma verbal “é”, que reforça a relação de adição existente entre as orações. 3. (ENEM) Conflitos de interação ajudam a promover o efeito de humor. No cartum, o recurso em- pregado para promover esse efeito é a: a) intertextualidade, sugerida pelos traços identificadores do homem urbano e do ho- mem rural. b) ambiguidade, produzida pela interpretação da fala do locutor a partir da variedade do interlocutor. c) conotação, atribuidora de sentidos figurados a palavras relativas às ações e aos seres. d) negação enfática, elaborada para reforçar o la- mento do interlocutor pela perda da estrada. e) pergunta retórica, usada pelo motorista para estabelecer interação com o homem do campo. Prescrição: Para resolver os exercícios dessa aula, serão necessários conhecimentos básicos de leitura de imagens (envolvendo aí interpretação de pinturas, fotografias, quadrinhos e composições publicitárias). É necessário que se perceba, também, como é possível operacionalizar o corpo humano em várias instâncias, seja a instância física (dança, exercícios físicos), seja a instância intelectual (posicionamentos críticos em relação ao mundo). 72 4. (ENEM) TEXTO I Pessoas e sociedades Pessoa, no seu conceito jurídico, é todo ente capaz de direitos e obrigações. As pessoas podem ser físicas ou jurídicas. Pessoa física – É a pessoa natural; é todo ser hu- mano, é todo indivíduo (sem qualquer exceção). A existência da pessoa física termina com a morte. É o próprio ser humano. Sua persona- lidade começa com o seu nascimento (artigo 40 do Código Civil Brasileiro). No decorrer da sua vida, a pessoa física cons- tituirá um patrimônio, que será afastado, por fim, em caso de morte, para transferên- cia aos herdeiros. Pessoa jurídica – É a existência legal de uma sociedade, associação ou instituição, que aferiu o direito de ter vida própria e isolada das pessoas físicas que a constituíram. É a união de pessoas capazes de possuir e exer- citar direitos e contrair obrigações, indepen- dentemente das pessoas físicas, através das quais agem. É, portanto, uma nova pessoa, com personalidade distinta da de seus mem- bros (da pessoa natural). Sua existência legal dá-se em decorrência de leis e só nascerá após o devido registro nos órgãos públicos compe- tentes (Cartórios ou Juntas Comerciais). POLONI, A. S. Disponível em: http://uj.novaprolink. com.br. Acesso em 30 ago. 2011 (adaptado) TEXTO II Os textos I e II tratam da definição de pessoa física e de pessoa jurídica. Considerando sua função social, o cartum faz uma paródia do artigo científico, pois: a) explica o conceito de pessoa física em lin- guagem coloquial e informal. b) compara pessoa física e jurídica ao explorar dois tipos de profissão. c) subverte o conceito de pessoa física com uma escolha lexical equivocada. d) acrescenta conhecimento jurídico ao definir pessoa física. e) complementa as definições promovidas por Antonio Poloni. 5. (ENEM) O humor da tira decorre da reação de uma das cobras com relação ao uso de pronome pessoal reto, em vez de pronome oblíquo. De acordo com a norma padrão da língua, esse uso é inadequado, pois: a) contraria o uso previsto para o registro oral da língua. b) contraria a marcação das funções sintáticas de sujeito e objeto. c) gera inadequação na concordância com o verbo. d) gera ambiguidade na leitura do texto. e) apresenta dupla marcação de sujeito. 6. (ENEM) Calvin apresenta a Haroldo (seu tigre de es- timação) sua escultura na neve, fazendo uso de uma linguagem especializada. Os quadri- nhos rompem com a expectativa do leitor, porque: a) Calvin, na sua última fala, emprega um re- gistro formal e adequado para a expressão de uma criança. b) Haroldo, no último quadrinho, apropria-se do registro linguístico usado por Calvin na apresentação de sua obra de arte. c) Calvin emprega um registro de linguagem in- compatível com a linguagem de quadrinhos. d) Calvin, no último quadrinho, utiliza um re- gistro linguístico informal. e) Haroldo não compreende o que Calvin lhe explica, em razão do registro formal utiliza- do por este último. 73 7. (ENEM) Considerando a relação entre os usos oral e escrito da língua, tratada no texto, verifica- -se que a escrita: a) modifica suas ideias e intenções daqueles que tiveram seus textos registrados por outros. b) permite, com mais facilidade, a propagação e a permanência de ideias ao longo do tempo. c) figura como um modo comunicativo superior ao da oralidade. d) leva as pessoas a desacreditarem nos fatos narrados por meio da oralidade. e) tem seu surgimento concomitante ao da ora- lidade. 8. (ENEM) A situação abordada na tira torna explícita a CONTRADIÇÃO entre a(s); a) relações pessoais e o avanço tecnológico. b) inteligência empresarial e a ignorância dos cidadãos. c) inclusão digital e a modernização das em- presas. d) economia neoliberal e a reduzida atuação do Estado. e) revolução informática e a exclusão digital. 9. (ENEM) Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo... Por isso minha aldeia é grande como outra qualquer Porque sou do tamanho do que vejo E não do tamanho da minha altura... (Alberto Caeiro) A tira “Hagar” e o poema de Alberto Caeiro (um dos heterônimos de Fernando Pessoa) expressam, com linguagens diferentes, uma mesma ideia: a de que a compreensão que temos do mundo é condicionada, essencial- mente: a) pelo alcance de cada cultura. b) pela capacidade visual do observador. c) pelo senso de humor de cada um. d) pela idade do observador. e) pela altura do pontode observação. 10. (ENEM) Observando as falas das personagens, anali- se o emprego do pronome se e o sentido que adquire no contexto. No contexto da narrati- va, é correto afirmar que o pronome se: a) em I, indica reflexividade e equivale a “a si mesmas”. b) em II, indica reciprocidade e equivale a “a si mesma”. c) em III, indica reciprocidade e equivale a “uma às outras”. d) em I e III, indica reciprocidade e equivale a “uma às outras”. e) em II e III, indica reflexividade e equivale a “a si mesma” e “a si mesmas”, respectiva- mente. 11. (ENEM) As formas plásticas nas produções africanas conduziram artistas modernos do início do século XX, como Pablo Picasso, a algumas 74 proposições artísticas denominadas van- guardas. A máscara remete à: a) preservação da proporção. b) idealização do movimento. c) estruturação assimétrica. d) sintetização das formas. e) valorização estética. 12. (ENEM) Texto I Texto II Lucian Freud é, como ele próprio gosta de relembrar às pessoas, um biólogo. Mais pro- priamente, tem querido registrar verdades muito específicas sobre como é tomar posse deste determinado corpo nesta situação par- ticular, neste específico espaço de tempo. SMEE, S. Freud. Köin: Taschen, 2010. Considerando a intencionalidade do artista, mencionada no Texto II, e a ruptura da arte no século XX com o parâmetro acadêmico, a obra apresentada trata do(a): a) exaltação da figura masculina. b) descrição precisa e idealizada da forma. c) arranjo simétrico e proporcional dos elementos. d) representação do padrão do belo contemporâneo. e) fidelidade à forma realista isenta do ideal de perfeição. 13. (ENEM) O objeto escultórico produzido por Lygia Clark, representante do Neoconcretismo, exemplifica o início de uma vertente impor- tante na arte contemporânea, que amplia as funções da arte. Tendo como referência a obra Bicho de bolso, identifica-se essa ver- tente pelo(a): a) participação efetiva do espectador na obra, o que determina a proximidade entre arte e vida. b) percepção do uso de objetos cotidianos para a confecção da obra de arte, aproximando arte e realidade. c) reconhecimento do uso de técnicas artesa- nais na arte, o que determina a consolidação de valores culturais. d) reflexão sobre a captação artística de ima- gens com meios óticos, revelando o desen- volvimento de uma linguagem própria. e) entendimento sobre o uso de métodos de pro- dução em série para a confecção da obra de arte, o que atualiza as linguagens artísticas. 14. (ENEM) TEXTO I Andaram na praia, quando saímos, oito ou dez deles; e daí a pouco começaram a vir mais. E parece-me que viriam, este dia, à praia, quatrocentos ou quatrocentos e cin- quenta. Alguns deles traziam arcos e fle- chas, que todos trocaram por carapuças ou por qualquer coisa que lhes davam. […] An- davam todos tão bem-dispostos, tão bem fei- tos e galantes com suas tinturas que muito agradavam. CASTRO, S. “A carta de Pero Vaz de Caminha”. Porto Alegre: L&PM, 1996 (fragmento). TEXTO II Pertencentes ao patrimônio cultural brasi- leiro, a carta de Pero Vaz de Caminha e a obra de Portinari retratam a chegada dos portugueses ao Brasil. Da leitura dos textos, constata-se que: 75 a) a carta de Pero Vaz de Caminha representa uma das primeiras manifestações artísticas dos portugueses em terras brasileiras e pre- ocupa-se apenas com a estética literária. b) a tela de Portinari retrata indígenas nus com corpos pintados, cuja grande significação é a afirmação da arte acadêmica brasileira e a contestação de uma linguagem moderna. c) a carta, como testemunho histórico-político, mostra o olhar do colonizador sobre a gente da terra, e a pintura destaca, em primeiro plano, a inquietação dos nativos. d) as duas produções, embora usem linguagens diferentes – verbal e não verbal –, cumprem a mesma função social e artística. e) a pintura e a carta de Caminha são mani- festações de grupos étnicos diferentes, pro- duzidas em um mesmo momentos histórico, retratando a colonização. 15. (ENEM) As propagandas fazem uso de diferentes re- cursos para garantir o efeito apelativo, isto é, o convencimento do público em relação ao que apresentam. O cartaz da campanha promovida pelo Ministério da Saúde utiliza vários recursos, verbais e não verbais, como estratégia persuasiva, dentre os quais se destaca: a) a ligação estabelecida entre as palavras “há- bito” e “hemocentro”, explorando a ideia de frequência. b) a relação entre a palavra “corrente”, a ima- gem das pessoas de mãos dadas e a mão es- tendida ao leitor. c) o emprego da expressão “Um grande ato”, despertando a consciência das pessoas para o sentimento de solidariedade. d) a apresentação da imagem de pessoas saudá- veis, estratégia adequada ao público-alvo da campanha. e) a associação entre o grande número de pes- soas no cartaz e o número de pessoas que precisam receber sangue em nosso país. 16. (ENEM) Os anúncios publicitários, em geral, utilizam as linguagens verbal e não verbal com a in- tenção de influenciar comportamentos. Os recursos linguísticos e imagéticos presentes na propaganda da ABP convergem para: a) reforçar o caráter informativo do anúncio sobre a realização do evento de publicidade. b) mostrar que ideias ruins ou mal elaboradas também podem causar algum tipo de poluição. c) definir os critérios para a participação no Festival Brasileiro de Publicidade de 2011. d) comparar a poluição ocasionada por ideias ruins e a originada pela ação humana. e) estimular os publicitários a se inscreverem no Festival Brasileiro de Publicidade de 2011. 17. (ENEM) O que a internet esconde de você Sites de busca manipulam resultados. Redes sociais decidem quem vai ser seu amigo – e descartam as pessoas sem avisar. E, para cada site que você pode acessar, há 400 ou- tros invisíveis. Prepare-se para conhecer o lado oculto da internet. 76 Analisando-se as informações verbais e a imagem associada a uma cabeça humana, compreende-se que a venda: a) representa a amplitude de informações que compõem a internet, às quais temos acesso em redes sociais e sites de busca. b) faz uma denúncia quanto às informações que são omitidas dos usuários da rede, sendo empregada no sentido conotativo. c) diz respeito a um buraco negro digital, onde estão escondidas as informações buscadas pelo usuário nos sites que acessa. d) está associada a um conjunto de restrições sociais presentes na vida daqueles que estão sempre conectados à internet. e) remete às bases de dados da web, protegidas por senhas ou assinaturas e às quais o nave- gador não tem acesso. 18. (ENEM) A contemporaneidade identificada na per- formance/instalação do artista mineiro Pau- lo Nazareth reside principalmente na forma como ele: a) resgata conhecidas referências do modernis- mo mineiro. b) utiliza técnicas e suportes tradicionais na construção das formas. c) articula questões de identidade, território e códigos de linguagens. d) imita o papel das celebridades no mundo contemporâneo. e) camufla o aspecto plástico e a composição visual de sua montagem. 19. (ENEM) Só é meu O país que trago dentro da alma. Entro nele sem passaporte Como em minha casa. [...] As ruas me pertencem. Mas não há casas nas ruas, As casas foram destruídas desde a minha in- fância. Os seus habitantes vagueiam no espaço À procura de um lar. Só é meu O mundo que trago dentro da alma. BANDEIRA, M. “Um poema de Chagall”. In: Estrela da vida inteira: poemas traduzidos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,1993 (fragmento). A arte, em suas diversas manifestações, des- perta sentimentos que atravessam fronteiras culturais. Relacionando a temática do texto com a imagem, percebe-sea ligação entre a: a) alegria e a satisfação na produção das obras modernistas. b) memória e a lembrança passadas no íntimo do enunciador. c) saudade e o refúgio encontrados pelo ho- mem na natureza. d) lembrança e o rancor relacionados ao seu ofício original. e) exaustão e o medo impostos ao corpo de todo artista. 20. (ENEM) O pintor espanhol Pablo Picasso (1881- 1973), um dos mais valorizados no mundo artístico, tanto em termos financeiros quan- to históricos, criou a obra Guernica em pro- testo ao ataque aéreo à pequena cidade basca de mesmo nome. A obra, feita para integrar o Salão Internacional de Artes Plásticas de Paris, percorreu toda a Europa, chegando aos 77 EUA e instalando-se no MoMA, de onde sai- ria apenas em 1981. Essa obra cubista apre- senta elementos plásticos identificados pelo: a) painel ideográfico, monocromático, que en- foca várias dimensões de um evento, renun- ciando à realidade, colocando-se em plano frontal ao espectador. b) horror da guerra de forma fotográfica, com o uso da perspectiva clássica, envolvendo o espectador nesse exemplo brutal de cruelda- de do ser humano. c) uso das formas geométricas no mesmo pla- no, sem emoção e expressão, despreocupado com o volume, a perspectiva e a sensação escultórica. d) esfacelamento dos objetos abordados na mesma narrativa, minimizando a dor huma- na a serviço da objetividade, observada pelo uso do claro-escuro. e) uso de vários ícones que representam perso- nagens fragmentados bidimensionalmente, de forma fotográfica livre de sentimentalismo. 21. (ENEM) Folclore designa o conjunto de costumes, lendas, provérbios, festas tradi- cionais/populares, manifestações artísticas em geral, preservado, por meio da tradição oral, por um povo ou grupo populacional. Para exemplificar, cita-se o frevo, um ritmo de origem pernambucana surgido no início do século XX. Ele é caracterizado pelo anda- mento acelerado e pela dança peculiar, feita de malabarismos, rodopios e passos curtos, além do uso, como parte da indumentária, de uma sombrinha colorida, que permanece aberta durante a coreografia. As manifestações culturais citadas a seguir que integram a mesma categoria folclórica descrita no texto são: a) bumba-meu-boi e festa junina. b) cantiga de roda e parlenda. c) saci-pererê e boitatá. d) maracatu e cordel. e) catira e samba. 22. (ENEM) Não é raro ouvirmos falar que o Bra- sil é o país das danças ou um país dançan- te. Essa nossa “fama” é bem pertinente, se levarmos em consideração a diversidade de manifestações rítmicas e expressivas exis- tentes de Norte a Sul. Sem contar a imensa repercussão de nível internacional de algu- mas delas. Danças trazidas pelos africanos escraviza- dos, danças relativas aos mais diversos ri- tuais, danças trazidas pelos imigrantes etc. Algumas preservam suas características e pouco se transformaram com o passar do tempo, como o forró, o maxixe, o xote, o frevo. Outras foram criadas e são recriadas a cada instante: inúmeras influências são incorporadas, e as danças transformam-se, multiplicam-se. Nos centros urbanos, exis- tem danças como o funk, o hip hop, as dan- ças de rua e de salão. É preciso deixar claro que não há jeito certo ou errado de dançar. Todos podem dançar, independentemente de biótipo, etnia ou ha- bilidade, respeitando-se as diferenciações de ritmos e estilos individuais. GASPARI, T. C. Dança e educação física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008 (adaptado). Com base no texto, verifica-se que a dança, presente em todas as épocas, espaços geo- gráficos e culturais, é uma: a) prática corporal que conserva inalteradas suas formas, independentemente das influ- ências culturais da sociedade. b) forma de expressão corporal baseada em ges- tos padronizados e realizada por quem tem habilidade para dançar. c) manifestação rítmica e expressiva voltada para as apresentações artísticas, sem que haja preocupação com a linguagem corporal. d) prática que traduz os costumes de determi- nado povo ou região e está restrita a este. e) representação das manifestações, expres- sões, comunicações e características cultu- rais de um povo. 23. (ENEM) A dança é um importante componente cultural da humanidade. O folclore braseiro é rico em danças que representam as tradições e a cultura de várias regiões do país. Estão li- gadas aos aspectos religiosos, festas, lendas, fatos históricos, acontecimentos do cotidiano e brincadeiras e caracterizam-se pelas músicas animadas (com letras simples e populares), fi- gurinos e cenários representativos. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Proposta Curricular do Estado de São Paulo, Educação Física. São Paulo, 2009 (adaptado). A dança, como manifestação e representação da cultura rítmica, envolve a expressão cor- poral própria de um povo. Considerando-a como elemento folclórico, a dança revela: a) manifestações afetivas, históricas, ideológi- cas, intelectuais e espirituais de um povo, refletindo seu modo de expressar-se no mundo. b) aspectos eminentemente afetivos, espiritu- ais e de entretenimento de um povo, des- considerando fatos históricos. c) acontecimentos do cotidiano, sob influência mitológica e religiosa de cada região, sobre- pondo aspectos políticos. d) tradições culturais de cada região, cujas ma- nifestações rítmicas são classificadas em um ranking das mais originais. e) lendas, que se sustentam em inverdades his- tóricas. uma vez que são inventadas, e servem apenas para a vivência lúdica de um povo. 78 24. (ENEM) Em busca de maior naturalismo em suas obras e fundamentando-se em novo concei- to estético, Monet, Degas, Renoir e outros artistas passaram a explorar novas formas de composição artística, que resultaram no estilo denominado Impressionismo. Obser- vadores atentos da natureza, esses artistas passaram a: a) retratar, em suas obras, as cores que ideali- zavam de acordo com o reflexo da luz solar nos objetos. b) usar mais a cor preta, fazendo contornos ní- tidos, que melhor definiam as imagens e as cores do objeto representado. c) retratar paisagens em diferentes horas do dia, recriando, em suas telas, as imagens por eles idealizadas. d) usar pinceladas rápidas de cores puras e dis- sociadas diretamente na tela, sem misturá- -las antes na paleta. e) usar as sombras em tons de cinza e preto e com efeitos esfumaçados, tal como eram realizadas no Renascimento. gabarito 1. C 2. A 3. B 4. C 5. B 6. D 7. B 8. A 9. A 10. E 11. D 12. E 13. A 14. C 15. B 16. E 17. B 18. C 19. B 20. A 21. E 22. E 23. A 24. D LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias LITERATURA R.P.A. ENEM Revisão Programada Anual Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para sua vida. H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação. H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais. H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas. H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação. Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras culturas e grupos sociais. H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema. H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas. H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturaslinguísticas, sua função e seu uso social. H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística. Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da identidade. H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social. H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas. H11 Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para diferentes indivíduos. Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e da própria identidade. H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais. H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos. H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos. Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção. H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político. H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário. H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional. Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação. H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos. H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução. H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas. H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos. H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos. H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados. H24 Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção, chantagem, entre outras. Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização do mundo e da própria identidade. H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro. H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social. H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação. Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte, às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar. H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação. H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação. H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem. 81 BREVIÁRIO ClassiCismo Nos séculos XV e XVI, a visão teocêntrica do mundo, que caracterizou a Idade Média, cedeu lugar ao antropocen- trismo, ou seja, o Homem e a Ciência vão para o centro dos acontecimentos e do universo. O Renascimento marca o apogeu dessa era, que se propõe a iluminar com a razão as trevas da civilização medieval. Características do Classicismo O Classicismo queria recuperar a “classe” dos autores antigos a partir do cultivo dos valores greco-latinos, inclusive da mitologia pagã, própria dos antigos. Isso levou os poetas renascentistas a recorrer às entidades mitológicas para pedir inspiração, simbolizar emoções, exemplificar comportamentos. Pastores, deuses, deusas e ninfas estão presentes nas obras de arte e na literatura renascentista de uma forma natural, convivendo até mesmo com tradi- ções cristãs, herdadas da época medieval. É hora de o ser humano se orgulhar de suas conquistas terrenas. O homem descobre que a Terra é redonda e passa a ter um olhar universalista para a realidade. O marco de seu início se dá em 1527, quando o poeta Sá de Miranda retorna de sua incursão de estudos pela Itália renascentista e introduz em Portugal novas formas de composição. Ele trouxe a postura amorosa, o soneto e, principalmente, a forma fixa do verso decassílabo chamado de medida nova, o dolce stil nuovo (doce estilo novo), criado pelo escritor italiano Francesco Petrarca. Tendências fundamentais § Criação e imitação: retomado do princípio aristotélico da mimese, ou seja, reproduzir os comportamen- tos humanos por intermédio da arte. § Racionalismo: o desenvolvimento de um raciocínio completo sobre os temas abordados, inclusive o amor. Na poesia essa tentativa de conciliar razão e emoção se apresentou por meio de uma figura de linguagem chamada “paradoxo”. § Humanismo e ideal de beleza: recriação da natureza humana por meio de um ideal de beleza, propor- ção, harmonia e simetria. § Universalismo: a busca por novos territórios, expansão marítima. O homem quer se colocar acima da natureza e automaticamente, acima de Deus. O planeta Terra passa a ser um espaço de dominação humana. Aulas 1 e 2 Competência 5 Habilidades 15 e 16 Camões lírico: “Tu, só tu, puro amor” A obra lírica de Camões compreende poemas feitos na medida velha e na medida nova. A medida velha obedece à poesia de tradução popular, na forma e no conteúdo. São exploradas as redondilhas, de cinco ou de sete sílabas (menor ou maior, respectivamente). Quanto à medida nova, os poemas são relacionados à tradição clássica: sonetos, éclogas, elegias, oitavas, sextinas. Quanto ao conteúdo, a poesia lírica clássica se relaciona com o petrarquismo. Francesco Petrarca foi o responsável por fixar a forma do soneto, no século XIV; o conteúdo de sua poesia delineia um lirismo amoroso platônico, relacionado indissoluvelmente a uma mulher inacessível, Laura, a quem dedicou perto de 360 sonetos, no seu cancioneiro. A lírica amorosa O tema amoroso é explorado na lírica camoniana sob dupla perspectiva. Com frequência, aparece o amor sensual, próprio da sensualidade renascentista, inspirada no paganismo da cultura greco-latina. Predomina, porém, o amor neoplatônico, espécie de extensão e aprofundamento da tradição da poesia medieval portuguesa ou da poesia humanista italiana, em que o amor e a mulher se configuram como idealizados e inacessíveis. Na poesia lírica camoniana, tal qual no modelo legado por Petrarca, o amor é um sentimento que eleva o homem, tornando-o capaz de atingir o Bem, a Belezae a Verdade, de acordo com a filosofia platônica. Para Platão, a realidade se divide em “mundo dos sentidos” e “mundo das ideias”. No mundo sensorial, nada é perene; no mundo das ideias, tudo é terno, imutável. O amor ideal, de acordo com Platão, é um sentido essencialmente puro e desprovido de paixões, ao passo que estas são essencialmente cegas, materiais, efêmeras e falsas. Em Camões, percebe-se o conflito entre o sentimento espiritual, idealizado, e o sentimento de manifestação carnal. O amor é, dessa forma, complexo, contraditório. Esse duplo enfoque do amor é bastante acentuado no soneto “Amor é fogo que arde sem se ver”. Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; é um andar solitário entre a gente; é nunca contentar-se de contente; 82 83 é um cuidar que ganha em se perder. É querer estar preso por vontade; é servir a quem vence, o vencedor; é ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade, se tão contrário a si é o mesmo Amor? “Amor é fogo que arde sem se ver”. In: CAMÕES, Luís Vaz de. Lírica. São Paulo: Cultrix, 1976. Romantismo Poesia romântica Contexto histórico No século XIX, o público consumidor da literatura romântica era eminentemente formado pela burguesia. As ori- gens populares dessa classe não condiziam com o refinamento da arte clássica, cuja compreensão exige conheci- mento das culturas grega e latina. A burguesia ansiava por uma literatura que enfocasse seu próprio tempo, seus problemas e sua forma de viver. O romance relatava acontecimentos da vida cotidiana e dava vazão ao gosto burguês pela fantasia e pela aventura. Tornou-se, por isso, o mais importante meio de expressão artística desse segmento social. Em algum aspecto, o romance substituiu a epopeia, um dos gêneros de mais prestígio da tradição clássica. Con- tudo, alterou-lhe o foco de interesse. Enquanto a epopeia narra um fato passado – em geral, um mito da cultura de um povo –, o romance narra o presente, os acontecimentos comuns da vida das pessoas, numa linguagem simples e direta. As gerações do Romantismo Tradicionalmente, são apontadas três gerações de escritores românticos. Essa divisão, contudo, compreende, prin- cipalmente, os autores de poesia. Os romancistas não se enquadram muito bem nessa divisão, uma vez que suas obras apresentam traços característicos de mais de uma geração. § Primeira geração: nacionalista, indianista e religiosa, com destaque para Gonçalves Dias e Gonçalves de Magalhães. § Segunda geração: marcada pelo “mal-do-século”, apresenta egocentrismo exacerbado, pessimismo, sa- tanismo e atração pela morte. Foi bem representada por Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire. § Terceira geração: formada pelo grupo condoreiro, desenvolve uma poesia de cunho político e social. A maior expressão desse grupo é Castro Alves. Durante o Segundo Reinado, os românticos foram firmando o projeto de uma literatura autenticamente nacional, liberta da portuguesa. Houve três momentos no desenvolvimento da poesia romântica brasileira, cujos poetas reúnem distintas gerações com características em comum. indianismo: pRimeiRa geRação poétiCa Compreendida entre os anos de 1836 e 1852, a primeira geração contou com os poetas Gonçalves de Magalhães e Gonçalves Dias. O nacionalismo e o patriotismo predominam em seus poemas, que exaltam aspectos característicos da paisa- gem tropical, realçam o exotismo e a beleza natural e exuberante em oposição à paisagem e à natureza europeias. As obras de ambos encaram o indígena como elemento formador do povo brasileiro, bem como revelam forte religiosidade predominantemente católica, em oposição ao “paganismo” da poesia neoclássica ligada à tradi- ção greco-latina. São de caráter amoroso, fortemente sentimental, fruto de relativa influência da lírica portuguesa, medieval, camoniana e romântica – de Garrett, principalmente. Em 1862, foi à Europa para tratar da saúde. Combalido pela tuberculose e reduzido à miséria, decidiu voltar ao Brasil, onde morreu em decorrência do naufrágio do navio em que viajava, já próximo da costa maranhense. Herdou de Gonçalves de Magalhães certo apego à poesia harmônica do Neoclassicismo e dos primeiros românticos portugueses. No entanto, imprimiu à sua poesia um tom particular – uma inalienável necessidade de aliar o pensamento ao sentimento –, legando ao Romantismo brasileiro uma obra equilibrada, “a mais equilibrada poesia romântica”, segundo Manuel Bandeira. Gonçalves Dias criou o indianismo romântico, impondo-se como uma das maiores figuras da nossa lite- ratura. Seus versos encerraram eloquência e unção, lirismo, grandiosidade e harmonia. Sua obras poéticas são: Primeiros cantos, Segundos cantos, Últimos cantos, Sextilhas de Frei Antão, Dicionário da língua tupi, Os timbiras; as teatrais são: Beatriz Cenei, Leonor de Mendonça, Boabdil e Patkul. Gonçalves Dias Primeiros cantos Em 1846, os Primeiros cantos apareceram em livros, numa edição financiada pelo próprio autor. No prólogo da obra, Gonçalves Dias explica que não obedeceu a nenhuma das regras tradicionais da poesia porque menospreza “regras de mera convenção”. Adotou todos os ritmos da metrificação portuguesa e usou-os conforme melhor lhe pareceram. A obra revela “as marcas do Romantismo” – liberdade formal (a primeiríssima delas) contida naquele “me- nosprezo das regras de mera convenção”, respeito à imaginação e ao indivíduo e valorização das emoções e das circunstâncias, com todas as contradições que acaso proviessem. Tanto no Brasil como em Portugal, a obra recebeu elogios. O escritor português Alexandre Herculano saudou o poeta de Primeiros cantos, colocando-o na categoria de uma nova voz no contexto da literatura brasileira. Herculano ainda observou que “salta à vista a proposta de casar o coração com o entendimento; a ideia com a paixão”. 84 85 Canção do exílio Minha terra tem palmeiras, Onde canta o sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar – sozinho, à noite – Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu’inda aviste as palmeiras, Onde canta o sabiá. UltRaRRomantismo oU geRação byRoniana Algumas décadas depois da introdução do Romantismo no Brasil, a poesia ganhou novos rumos com o apareci- mento dos ultrarromânticos. Desvinculados do compromisso com a nacionalidade da primeira geração, desinteres- savam-se da vida político-social e voltavam-se para si mesmos, numa atitude profundamente pessimista. Como forma de protesto contra o mundo burguês, viviam entediados e à espera da morte. A publicação do livro Os sofrimentos do jovem Werther (1774), de Johann Wolfgang von Goethe, na Ale- manha, influenciou os escritores da segunda geração romântica brasileira. Sua história conta o triste suicídio de Werther, quando vê findada sua chance de ser feliz ao lado de seu amor, a jovem Carlota. O “mal-do-século” Os jovens e estudantes de hoje encontram diferentes maneiras de protestar contra os valores sociais ou o poder ins- tituído. Alguns se organizam em associações ou agremiações estudantis e manifestam-se em jornais, assembleias e passeatas. Outros preferem as chamadastribos urbanas. Para mostrar que pertencem a elas, pintam os cabelos, usam coturnos, roupas rasgadas, pulseiras e colares, roupas escuras com caveiras estampadas, piercings, cabelos longos. Nas décadas de 1850 e 1860, jovens poetas universitários de São Paulo e do Rio de Janeiro se reuniram e deram origem à poesia romântica brasileira, conhecida como Ultrarromantismo. Sem acreditar nas ideias e valores que levaram à Revolução Francesa e sem ter nenhum outro projeto, essa segunda geração romântica se sentia como uma “geração perdida”. A forma encontrada para expressar seu pessimismo e sua inadequação à realidade foi, no plano pessoal, levar uma vida desregrada, dividida entre os estudos acadêmicos, ócio, casos amorosos e leitura de obras literárias de Musset e Byron, escritores cujo estilo de vida imitavam. No plano literário, essa geração se caracterizou por cultivar o mal-do-século, uma onda de pessimismo que se traduzia em atitudes e valores considerados decadentes na época, como atração pela noite, pelo vício e pela morte. No caso de Álvares de Azevedo, o principal representante do grupo, esses traços foram acrescidos ainda de temas macabros e satânicos, o que o aproxima de Horace Walpole, escritor inglês que, alguns anos antes, tinha dado início ao romance gótico com O castelo de Otranto (1765). Os ultrarromânticos desprezam certos temas e posturas da primeira geração, como o nacionalismo e o indianismo; contudo, acentuam traços como o subjetivismo, o egocentrismo e o sentimentalismo, ampliando a ex- periência da sondagem interior e preparando terreno para a investigação psicológica que, três décadas mais tarde, iria caracterizar o Realismo. Lord Byron: ousadia e negação O poeta inglês Lord Byron (1788-1824) foi um dos principais escritores do Romantismo europeu. Dividia a vida luxuosa das cortes entre a literatura e as mulheres, e escandalizou a Inglaterra com seu estilo boêmio de vida e com suas relações amorosas extraconjugais. Foi ainda acusado de pederastia e de manter relações incestuosas com a irmã. Escreveu Don Juan e Jovem Haroldo. O medo de amar O amor foi tratado pelos ultrarromânticos sob uma perspectiva dualista, atração e medo, desejo e culpa. Segundo Mário de Andrade, escritor e crítico modernista, os ultrarromânticos temiam a realização amorosa. O ideal feminino é associado a figuras incorpóreas ou assexuadas: anjo, criança, virgem etc. As referências ao amor físico se dão apenas de modo indireto, sugestivo ou superficial. O poema a seguir, “Amor e medo”, do ultrarromântico Casimiro de Abreu, deixa bastante claro seu medo de amar. No fogo vivo eu me abrasara inteiro! Ébrio e sedento na fugaz vertigem Vil, machucava com meu dedo impuro As pobres flores da grinalda virgem! 86 87 Vampiro infame, eu sorveria em beijos Toda a inocência que teu lábio encerra, E tu serias no lascivo abraço Anjo enlodado nos pauis da terra. Se de ti fujo é que te adoro e muito, És bela – eu moço; tens amor, eu – medo!... CANDIDO, Antônio; CASTELLO, José A. Presença da literatura brasileira. v. 2. São Paulo: Difel, 1968. p. 44. Neste poema, o medo de amar se traduz no receio de macular a virgem, no temor de entregar-se ao apelo dos sentidos e ferir a pureza da mulher amada. A imagem de “anjo enlodado” dá a medida exata do ideal feminino para os românticos: mulher virgem, assexuada e incorpórea. A seguir, os principais escritores do Ultrarromantismo e suas produções: § Álvares de Azevedo (poesia lírica, contos e teatro) – Lira dos vinte anos; Noite na taverna; Macário § Casimiro de Abreu (poesia lírica) – As primaveras § Fagundes Varela (poesia lírica) – Cantos e fantasias § Junqueira Freire (poesia lírica) – Inspirações do claustro Álvares de Azevedo: a antítese personificada Álvares de Azevedo (1831-1852) é a principal expressão da geração ultrarromântica de nossa poesia. Paulista, fez os estudos básicos no Rio de Janeiro e cursava o quinto ano de Direito, em São Paulo, quando sofreu um acidente (queda de cavalo), cujas complicações o levaram à morte, antes de completar 21 anos. O escritor cultivou a poesia, a prosa e o teatro. Os sete livros, discursos e cartas que produziu foram escritos em apenas quatro anos, período em que era estudante universitário. O conjunto de sua obra é de qualidade irre- gular, mas significativa sob o ponto de vista da evolução da poesia nacional. As faces de Ariel e Caliban As características intrigantes da obra de Álvaro de Azevedo residem na articulação consciente de um projeto literário baseado na contradição que, talvez, ele experimentasse na adolescência. Enquadrada no dualismo que ca- racteriza a linguagem romântica, essa contradição é evidente em sua principal obra poética, “Lira dos vinte anos”. A primeira e a terceira partes da obra revelam um eu lírico adolescente, casto, sentimental e ingênuo. A face de Ariel, a face do bem. Pálida, à luz da lâmpada sombria, Sobre o leito de flores reclinada, Como a lua por noite embalsamada, Entre as nuvens do amor ela dormia! Era a virgem do mar! na escuma fria Pela maré das águas embalada! Era um anjo entre nuvens d’alvorada Que em sonhos se banhava e se esquecia! Era mais bela! O seio palpitando... Negros olhos as pálpebras abrindo... Formas nuas no leito resvalando... Não te rias de mim, meu anjo lindo! Por ti – as noites eu velei chorando, Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo! HELLER, Bárbara; BRITO, Luís Percival L.; LAJOLO, Marisa. Álvares de Azevedo. Seleção de textos. São Paulo: Abril Educação, 1982. p. 22. Literatura Comentada. Observe que o soneto “Pálida, à luz da lâmpada sombria” está organizado a partir de relações antitéticas: a escuridão e a claridade; a noite e o amanhecer; o ambiente onírico (de sonho) e o real; a virgem pálida e distante e a mulher corporificada e sensual; o amor e a morte. Note ainda que, da primeira para a última estrofe, há um processo de materialização da mulher amada: no início, ela é uma “virgem do mar” ou um “anjo”; depois, torna-se uma mulher sensual e nua na cama. Essa gradação ocorre paralelamente à gradação da luz, conforme o dia amanhece. Numa atitude tipicamente adolescente, o eu lírico, como um verdadeiro voyeur, observa de longe a mulher amada, sem ter com ela nenhum comprometimento. Trata-se de um comportamento resultante do “medo de amar”, ligado à dúvida e ao prazer reprimido, e cuja saída é a sublimação pela morte. Quando se inicia a segunda parte da Lira dos vinte anos, contudo, o leitor se depara com um segundo pre- fácio da obra, com os seguintes dizeres : Cuidado, leitor, ao voltar esta página! Aqui dissipa-se o mundo visionário e platônico. Vamos entrar num mundo novo, terra fantástica, verdadeira ilha Barataria de D. Quixote, onde Sancho é rei; [...] Quase que depois de Ariel esbarramos em Caliban. A razão é simples. É que a unidade deste livro e capítulo funda-se numa binomia. Duas almas que moram nas cavernas de um cérebro pouco mais ou menos de poeta escreveram este livro, verdadeira medalha de duas faces. Nos meus lábios onde suspirava a monodia amorosa, vem a sátira que morde. CANDIDO, Antônio; CASTELLO, José A. Ob. cit., v. 2. p.14. Com esse comentário, o poeta introduz o leitor no mundo de Caliban, representado principalmente pelo poema “Ideias íntimas” e por uma série intitulada “Spleen e charutos”. Embora não se incluam na Lira dos vinte anos, aproximam-se desse grupo de textos os contos de “Noite na taverna” e a peça teatral “Macário”. Os poemas retratam um mundo decadente, povoado de viciados, bêbados, prostitutas, andarilhos solitários sem vínculos e sem destino. Observe essas atitudes nestes versos: Poema do frade Meu herói é um moço preguiçoso Que viveu e bebia porventura Como vós, meu leitor... se era formoso 88 89 Ao certo não o sei. Emmesa impura Esgotara com lábio fervoroso Como vós e como eu a taça escura. Era pálido sim... mas não d’estudo: No mais... era um devasso e disse tudo! [...] Não quisera mirar a face bela Nesse espelho de lodo ensanguentado! A embriaguez preferida: em meio dela Não viriam cuspir-lhe o seu passado! Como em nevoento mar perdida vela Nos vapores do vinho assombreado Preferia das noites na demência Boiar (como um cadáver!) na existência! [...] Na leitura de alguns trechos do poema “Ideias íntimas”, entra-se na “terra fantástica” do mundo de Cali- ban. O ambiente é um quarto de estudante, no qual o jovem se entrega a uma viagem pelo interior de si mesmo. Reconhece os objetos que formam seu pequeno mundo e a relação entre este e aqueles, de modo que a solidão e o desarranjo do quarto são um prolongamento da condição interior do eu lírico. Casimiro de Abreu: a poesia bem-comportada Casimiro de Abreu (1839-1860) é um dos poetas românticos mais populares. Natural de Barra de São João, no Rio de Janeiro, escreveu a maior parte de sua obra poética, Primaveras, em Portugal. Apesar de ligado à segunda geração da poesia romântica, Casimiro contribuiu para desanuviar o ambiente noturno que Álvares de Azevedo deixara ao morrer, sete anos antes. Diferentemente da obra de Azevedo, em que o amor se confunde com a morte, nos poemas de Casimiro o amor se associa sempre à vida e à sensualidade. Contudo, essa sensualidade – mais natural que em Álvares de Azevedo, porque é mais concreta – ainda não alcança maturidade, conserva-se ligada ao medo de amar, é sempre disfarçada, resultado de insinuações e do jogo de mostrar e esconder. Sua poesia se destaca também pela abordagem graciosa de certos temas: infância, pátria, saudade, solidão, natureza, amor, que agradavam ao público, já acostumado a eles. Aproveitando-se de novidades introduzidas pela primeira geração – variações métricas e rítmicas, forte musicalidade, emprego de uma língua brasileira –, a poesia de Casimiro se serve delas ao esgotamento, numa época em que tais inovações já não eram ruptura, uma vez incorporadas ao gosto do público. Com o tratamento brando dado aos temas, a poesia de Casimiro de Abreu não amplia nem modifica os horizontes do Romantismo brasileiro. A abordagem mais natural da sensualidade é a inovação que ela proporciona, bem como contribui para a consolidação e popularização definitiva do Romantismo entre nós. Meus oito anos Oh! que saudades que eu tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais! Como são belos os dias Do despontar da existência! – Respira a alma inocência Como perfumes a flor; O mar é – lago sereno, O céu – um manto azulado, O mundo – um sonho dourado, A vida – um hino d’amor! Que auroras, que sol, que vida, Que noites de melodia Naquela doce alegria, Naquele ingênuo folgar! O céu bordado d’estrelas, A terra de aromas cheia, As ondas beijando a areia E a lua beijando o mar! Oh! dias de minha infância! Oh! meu céu de primavera! Que doce a vida não era Nessa risonha manhã! Em vez de mágoas de agora, Eu tinha nessas delícias De minha mãe as carícias E beijos de minha irmã! Livre filho das montanhas, Eu ia bem satisfeito, De camisa aberta ao peito, – Pés descalços, braços nus – Correndo pelas campinas À roda das cachoeiras, Atrás das asas ligeiras Das borboletas azuis! [...] Casimiro de Abreu. As primaveras. Publicado em 1859. 90 91 pRosa RomântiCa As origens do Romance Iracema (1881), de José Maria de Medeiros. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro (RJ). A palavra romance tem origem do termo medieval romano, que designava as línguas usadas pelos povos sob do- mínio do Império Romano. Essas línguas eram uma forma popular e evoluída do latim, bem como eram chamadas romance as composições de cunho popular e folclórico, escritas nesse latim vulgar, em prosa ou em verso, que contavam histórias cheias de imaginação, fantasia e aventuras. Como gênero literário, o romance foi se modificando até assumir as formas de romance de cavalaria, ro- mance sentimental e romance pastoral. Foi no século XVIII que a palavra romance tomou o sentido que tem hoje: texto em prosa, regularmente longo, que desenvolve vários núcleos narrativos organizados em torno de um núcleo central e narra fatos relacionados a personagens, numa sequência de tempo relativamente ampla e em determina- do lugar ou lugares. Os primeiros romances, como se compreende atualmente, surgiram na Europa, já identificados com o início da revolução romântica. Entre os primeiros, destacam-se Manon Lescaut, do abade Prévost (1731), e A história de Tom Jones, de Henry Fielding (1749). O romance brasileiro e a busca do nacional Nas décadas que sucederam a Independência do Brasil, os romancistas se empenharam no projeto de construir uma cultura brasileira autônoma, que exigia dos escritores o reconhecimento da identidade de nossa gente, da nossa língua, das nossas tradições e diferenças regionais e culturais. Nessa busca, o romance se voltou para os es- paços nacionais, identificados como a selva, o campo e a cidade, que deram origem, respectivamente, ao romance indianista e histórico (a vida primitiva), ao romance regional (a vida rural) e ao romance urbano (a vida citadina). O mais fértil ficcionista romântico brasileiro foi o cearense José Martiniano de Alencar (1829-1877), cuja meta era formar uma literatura nacional autêntica, que rompesse os vínculos com a lusitana e retratasse a realidade brasileira. Esse objetivo foi alcançado. José de Alencar e o romance indianista José de Alencar (1829-1877) foi o principal romancista brasileiro da fase romântica. Cearense, cursou Direito em São Paulo (1850) e viveu a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro. Dedicou-se à carreira de advogado e atuou também como jornalista. Na política, foi eleito várias vezes deputado e chegou a ocupar o cargo de ministro da Justiça, que exerceu de 1868 a 1870. Candidatou-se a uma cadeira no Senado, mas seu nome foi vetado. Por isso, encerrou sua vida pública e dedicou-se inteiramente à literatura. Sua vasta produção literária compreende vinte romances, oito peças de teatro (como “Mãe” e “O jesuíta”, encenadas à época), crônicas, escritos políticos e crítica literária. Em razão da abrangência de seus romances, eles foram classificados de acordo com o tema. § Romances indianistas: O guarani (1857); Iracema (1865); e Ubirajara (1874). § Romances regionalistas: O gaúcho (1870); O tronco do ipê (1871); Til (1871); e O sertanejo (1875). § Romances históricos: As minas de prata (dois volumes: 1865 e 1866); Guerra dos mascates (dois volu- mes: 1871 e 1873); Alfarrábios (1873, composto de O garatuja, O ermitão da Glória e A alma de Lázaro). § Romances urbanos (ou “perfis de mulheres”): Cinco minutos (1856); A viuvinha (1857); Lucíola (1862); Diva (1864); A pata da gazela (1870); Sonhos d’ouro; Senhora (1872); e Encarnação (1877). A produção diversificada de Alencar estava voltada para o projeto de construção da cultura brasileira, no qual o romance indianista ganhou papel de destaque em busca de um tema nacional e de uma língua mais bra- sileira. As principais realizações indianistas em prosa de nossa literatura são os três romances de José de Alencar. Neles, o ambiente é sempre a selva. Em O guarani, o índio Peri vive próximo dos brancos; em Iracema, o branco é que vive entre os índios; Ubirajara é o único romance que trata apenas da vida entre os índios. 92 93 O guarani: o mito da povoação O guarani, romance histórico-indianista, foi publicado pela primeira vez sob a forma de folhetim no Diáriodo Rio de Janeiro, em 1857. D. Antônio de Mariz, fidalgo português, muda-se para o Brasil com a família: D. Lauriana, sua esposa; Cecília e D. Diogo, seus filhos; e Isabel, oficialmente sobrinha do fidalgo, mas, na verdade, filha dele com uma índia. Acompanha a família o jovem cavaleiro D. Álvaro de Sá, além de muitos outros empregados. A obra se articula a partir de alguns fatos essenciais: a devoção e fidelidade do índio goitacá Peri à Cecília; o amor de Isabel por Álvaro e o amor deste por Cecília. A morte acidental de uma índia aimoré, provocada por D. Diogo, e a consequente revolta e ataque dos aimorés, ocorre simultaneamente a uma rebelião dos homens de D. Antônio, liderados pelo ex-frei Loredano, homem ambicioso e devasso que queria saquear a casa e raptar Cecília. Iracema Em capítulos curtos, superpõem-se imagens e comparações de cunho poético para surgir o nascimento de um mundo, que é o tema desse romance. Desenvolve-se no livro a lenda da fundação do Ceará e a história de amor entre a índia Iracema e o português Martim. Guardadora dos segredos da Jurema, Iracema faz um voto de castidade, que rompe ao tornar-se esposa de Martim. Abandona sua tribo e segue com ele. Dá à luz um filho – Moacir –, símbolo do homem brasileiro miscige- nado. Martim tem de partir para Portugal por um longo tempo. Quando regressa, encontra Iracema à morte. Enterra-a ao pé de uma palmeira e retorna a Portugal, levando consigo o filho. Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfu- mado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo da grande nação tabajara, o pé grácil e nu, mal roçando alisava apenas a verde pelúcia que vestiaa terra com as primeiras águas. A crítica social no romance urbano de Alencar Além de ter se dedicado ao romance indianista e ao romance regional, José de Alencar foi também um de nossos melhores romancistas urbanos. Suas obras, além de conter os ingredientes próprios do romance urbano romântico – intrigas amorosas, chantagens, amores impossíveis peripécias –, conseguem analisar com profundidade certos temas delicados daquele contexto social. Em Senhora, são abordados os temas do casamento por interesse, da independência feminina e da ascensão social a qualquer preço. Em Lucíola, é discutida a prostituição nas altas camadas sociais e, como em Senhora, a oposição entre o amor e o dinheiro. O romance Diva, ao lado de Senhora e Lucíola, constitui a série “Perfis femininos”. Senhora Publicada em 1875, Senhora é uma das últimas obras escritas por Alencar. Ao tematizar o casamento como forma de ascensão social, o autor deu início à discussão sobre certos valores e comportamentos da sociedade carioca da segunda metade do século XIX. Embora Senhora ainda esteja presa ao modelo narrativo romântico, que considera o amor como o único meio de redimir todos os males, a obra apresenta alguns elementos inovadores, que anun- 94 95 ciam a grande renovação realista. Entre tais elementos estão a vigorosa crítica à futilidade dos comportamentos e à fragilidade dos valores burgueses resultantes do então emergente capitalismo brasileiro e, em certo grau, da introspecção psicológica. Aurélia Camargo é uma moça pobre e órfã de pai, noiva de Fernando Seixas, bom rapaz, que ambiciona ascender rapidamente. Em razão disso, troca Aurélia por outra moça de dote mais valioso. Aurélia passa a desprezar todos os homens. Eis que, com a morte de uma avó, torna-se milionária, e, consequentemente, uma das mulheres mais cortejadas do Rio de Janeiro. Como vingança, manda oferecer a Seixas um dote de cem contos de réis, sem revelar seu nome, que seria conhecido só no dia do casamento. Seixas aceita e se casa. Na noite de núpcias, Aurélia revela-lhe seu desprezo. Seixas cai em si e percebe o quanto fora vil em sua ganância. Vivem como estranhos na mesma casa durante onze meses, mas, socialmente, formam o “casal perfeito”. Ao longo desse período, Seixas trabalha arduamente até conseguir obter a quantia que recebera como sinal pelo “acordo”. Devolve os cem contos de réis à esposa e se despede dela. Aurélia lhe revela seu amor. Os dois, igualados no amor e na honra, podem desfrutar o casamento, que ainda não havia se consumado. Os convidados, que antes lhe admiravam a graça peregrina, essa noite a achavam deslumbrante, e compre- endiam que o amor tinha colorido com as tintas de sua palheta inimitável, a já tão feiticeira beleza, envolvendo-a de irresistível fascinação. – Como ela é feliz! – diziam os homens. – E tem razão! – acrescentaram as senhoras volvendo os olhos ao noivo. Também a fisionomia de Seixas se iluminava com o sorriso da felicidade. O orgulho de ser o escolhido da- quela encantadora mulher ainda mais lhe ornava o aspecto já de si nobre e gentil. O romance regionalista e a sociedade rural A narrativa romântica também se debruçou sobre a sociedade de regiões interioranas do Brasil, buscando na geografia delas os aspectos culturais, os costumes, as crenças e a linguagem. Surgido no Romantismo da década de 1870, constituiu um dos aspectos singulares da literatura brasileira, especialmente em oposição ao excesso de imaginação empregada na elaboração dos romances indianistas e históricos do próprio Alencar. O romance regionalista foi criado por Bernardo Guimarães, que escreveu O ermitão de Muquém e A escrava Isaura. Também foi cultivado por José de Alencar, que criou O sertanejo, Til, O gaúcho e o O tronco do ipê. Contudo, seu defensor mais convicto foi Franklin Távora, autor de O cabeleira e Lourenço. O regionalismo faz parte da inten- ção nacionalista dos românticos de reconhecer e identificar literariamente as várias culturas brasileiras. O romance de Bernardo Guimarães e dos primeiros escritores atentos a particularidades da cultura constituiu uma porção para a literatura que o leitor estava habituado a consumir. Sob a perspectiva romântica de imprimir um sentido nacional à nossa literatura, o sertanismo foi uma forma de regionalismo cultivado como registro das variedades culturais do Brasil com dados mais abrangentes e de mais atualidade que o indianismo que o precedera. As situações da vida social e cultural do campo são idealizadas e não faltam na literatura regional os quadros exóticos e a natureza exuberante, plenos de brasilidade. Os escritores românticos desejam mostrar um Brasil despojado, sem influências estrangeiras, o que não o fizeram plenamente. Seus relatos estão repletos da ideologia romântica europeia, ansio- sa pela expressão literária do pitoresco regional. O registro de pequenos quadros de costumes insere, entretanto, muitas dessas produções como precursoras do movimento realista. Visconde de Taunay e o Centro-Oeste Alfredo d´Escragnolle Taunay (1843-1899), o visconde de Taunay, era carioca, fez carreira militar e, com apenas 20 anos, participou da Guerra do Paraguai. Mais do que a guerra, o que o seduzia na carreira de militar era a possibilidade de viajar e conhecer a diver- sidade natural do Brasil. Apaixonado pela natureza, registrava em desenhos espécies da fauna e da flora nacionais e, já no século XIX, protestava contra a destruição das matas na cidade do Rio de Janeiro. Em suas andanças por Mato Grosso, Taunay colheu experiências para compor suas obras. Ressalta-se nelas a capacidade do escritor de reproduzir com precisão aspectos visuais da paisagem sertaneja, especialmente da fauna e da flora da região. Foi autor do romanceInocência (1872), sua obra-prima, e de livros sobre a guerra e o sertão, como Retirada da Laguna (1871). Inocência: a busca do sertão Inocência é considerada a obra-prima de Taunay e do romance regionalista do Romantismo. Sua qualidade resulta do equilíbrio alcançado na contraposição de vários aspectos: ficção e realidade, valores românticos e valores da realidade bruta do sertão, linguagem culta e linguagem regional. Trata-se de uma história de amor impossível, que envolve Cirino, prático de farmácia, que se autopromovera a médico, e Inocência, uma jovem do sertão de Mato Grosso, filha de Pereira, pequeno proprietário, representante típico da mentalidade vigente entre os habitantes daquela região. A realização amorosa entre os jovens é inviável, porque Inocência fora prometida em casamento pelo pai a Manecão Doca, um rústico vaqueiro da região; bem como porque Pereira exerce forte vigilância sobre a filha; de acordo com seus valores, ele tem de garantir a virgindade de Inocência até o dia do casamento. Ao lado dos acon- tecimentos que constituem a trama amorosa, há também o choque de valores entre Pereira e Meyer, um naturalista alemão colecionador de borboletas que se hospedara na casa do pequeno proprietário. Esse choque de valores revela as diferenças entre o meio rural brasileiro e o meio urbano europeu. 96 97 Bernardo Guimarães Bernardo Joaquim da Silva Guimarães (1825-1884) tornou artísticos os “casos” da literatura oral, valendo-se das técnicas narrativas dos folhetins. Suas obras mais lidas são O seminarista (1872) e A escrava Isaura (1875), construídas com temas básicos dos romances de ênfase social de sua época, respectivamente o celibato clerical e a escravidão. A escrava Isaura Em uma fazenda em Campos (RJ), vive a bela e sedutora Isaura, escrava cuja filha a mãe de seu dono, Leôncio, criou, dando-lhe educação aprimorada de moça branca. Após a morte da mãe, a fazenda passa a ser administrada por Leôncio, casado com Malvina. Então, Isaura passa a sofrer o assédio dele. Malvina pretende libertar Isaura, mas quando percebe a paixão do marido, retira-se para a Corte. Isaura fica em situação embaraçosa, até que um dia resolve fugir com seu pai, Miguel, para o Recife. Lá, conhece Álvaro, um rapaz rico, defensor da República e apaixonam-se. Leôncio, no en- tanto, vai à procura de Isaura e a recupera. Depois de dois meses, Álvaro vai para Campos a fim de resgatar Isaura: compra todos os bens de Leôncio, que está falido, incluindo a escrava. Leôncio se suicida. A escrava Isaura revela a ausência de uma visão crítica mais profunda. A escrava tem dotes físicos e psicoló- gicos das cândidas heroínas românticas, padrões de beleza do europeu branco, como revela a seguinte passagem do romance. Fugiu da fazenda do Sr. Leôncio Gomes da Fonseca, no município de Campos, província do Rio de Janeiro, uma escrava por nome Isaura, cujos sinais são os seguintes: cor clara e tez delicada como de qualquer branca; olhos pretos e grandes; cabelos da mesma cor, compridos e ligeiramente ondeados; boca pequena, rosada e bem feita; dentes alvos e bem dispostos; nariz saliente e bem talhado; cintura delgada e estatura regular; tem na face esquerda um pequeno sinal preto [...] Traja-se com gosto e elegância, canta e toca piano com perfeição. A denúncia da escravidão perde seu impacto, que poderia ser demolidor, mas conseguiu comover (e comove ainda hoje). Realismo A lição dos contemporâneos portugueses, notadamente Eça de Queirós, e franceses, Stendhal de preferência, foi decisiva para os autores realistas brasileiros fortemente influenciados por eles. A família burguesa já não era mais o único foco da literatura, como havia acontecido no Romantismo. Os realistas ocupavam-se de outras classes sociais e da alma delas. A crise matrimonial, o papel da mulher nas relações sociais e o operariado passam a ser temas e personagens nessa literatura. Retratar a vida em sociedade, descrever cenas, ambientes e comportamentos passa a fazer parte considerável das obras literárias. Registrar a realidade torna-se uma prioridade. Os oportunismos disfarçados, as falsas devoções e a moral de aparência são temas que passam a integrar o universo do romance. Tal como em Portugal, o Realismo-Naturalismo no Brasil esteve muito ligado às ideias estéticas, científicas e filosóficas europeias – positivismo, darwinismo, naturismo, cientificismo – que provocaram bastante repercussão. As mudanças que o tempo impôs coincidiram, por sua vez, com o rápido declínio do Segundo Império de Pedro II, após a Guerra do Paraguai. Não só o abolicionismo foi contemporâneo ao Realismo-Naturalismo. O movimento republicano, em 1870, também propunha a trocar o trabalho escravo pela mão de obra imigrante. Machado de Assis Machado de Assis (1839-1908) 98 99 Órfão aos dez anos, o menino mestiço do Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, estudou em escolas públicas e tratou de instruir-se por conta própria, interessado que era pela leitura. Inteligente e esforçado, Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) aproximou-se de intelectuais e de jornalistas que lhe deram oportunidades. Aos dezesseis anos, empregou-se na tipografia de Paula Brito. Aos dezenove, já era colaborador assíduo de jornais e revistas cariocas: Correio Mercantil, O Espelho, Diário do Rio de Janeiro, Semana Ilustrada, Jornal das Famílias. Em 1867, foi nomeado oficial da Secretaria de Agricultura, enquanto sua carreira de escritor mostrava-se cada vez mais promissora. Casou-se aos trinta anos com a portugue- sa Carolina Xavier de Novais. Na passagem do Império para a República, Machado de Assis já era um intelectual respeitável. Formado escritor à luz do Romantismo, com o tempo enveredou para o Realismo, o que, a depender da fase, sua obra seja caracterizada ou romântica, até 1880, ou realista, de então em diante. O romance machadiano O estilo Elegância e certa contenção, rápidas pinceladas e muita discrição na composição da personagem, eis o estilo machadiano. Adepto de personagens fortes, as narrativas revelam excepcional capacidade de observação do ser humano e da sociedade, impressa, aliás, desde o início. As lições que aprendeu dos românticos José de Alencar, Almeida Garrett, Victor Hugo e Swift levaram-no a apenas organizar seus personagens de modo diverso ao deles. Entrelinha “No romance machadiano, praticamente não há frase que não tenha segunda intenção ou propósito espirituoso. A prosa é detalhista ao extremo, sempre à cata de efeitos imediatos, o que amarra a leitura ao pormenor e dificulta a imaginação do panorama. Em consequência, e por causa também da campanha do narrador para chamar a atenção sobre si mesmo, a composição do conjunto pouco aparece.” (SCHARZ, Roberto. In: Um mestre na periferia do capitalismo – Machado de Assis. p.18). O olhar detrás das máscaras Nos romances iniciais, Machado é um romântico crítico, um pouco diferente dos demais, característica singular que haveria de constituir. O casamento não é a cura para todos males (como diziam os românticos), mas um tipo de comércio, uma certa troca de favores. Nos romances escritos após de 1881, essa crítica social é acentuada e assume uma fina ironia ao con- templar o casamento, o adultério, a exploração do homem pelo próprio homem. Acostumou-se a olhar detrás das máscaras sociais, a desmascarar o jogo das relações sociais, a compreender a natureza humana mediante persona- gens com penetrante espírito de análise. Nos indivíduos sempre há intenções supostas para objetivos reais. Disso resultam suas atitudes, veículos de satisfação pessoal para quem as pratica. Primeira fase: ciclo romântico Ao analisar os romances e os contos de Machado de Assis considerados românticos, já se revela acaracterística que haveria de marcar sua obra. Os acontecimentos são narrados sem precipitação, entremeados de explicações aos leitores por parte do narrador e cheios de considerações sobre os comportamentos. Seus personagens não são line- ares como os dos demais românticos. Têm comportamentos imprevistos, fazem maquinações, não são transparen- tes, mas interesseiros. A estrutura narrativa, no entanto, ainda é linear: tem começo, meio e fim bem demarcados. Fazem parte do ciclo romântico as obras Ressurreição, A mão e a luva, Helena e Iaiá Garcia e os livros de contos Histórias da meia-noite e Contos fluminenses. Helena No ano de 1859, morre o conselheiro Vale, figura de primeira classe da sociedade do Segundo Reinado, homem bem relacionado e respeitado. Ele deixa um filho, Estácio, de 27 anos, e uma irmã, D. Úrsula, que desde a morte da cunhada cuidara com desvelo da bela chácara em que vivem, no Andaraí. A leitura do testamento revela uma segunda filha do conselheiro Vale, Helena, nascida de uma união até então desconhecida de toda a família. Enquanto Estácio aceita o último pedido do pai – levar Helena para morar na chácara e tratá-la com muito carinho – D. Úrsula vê na jovem uma intrusa e usurpadora. No entanto, o testamento é obedecido. Helena sai do colégio interno para morar na chácara, onde começa a mudar a vida de todos. Segunda fase: ciclo realista Com a publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas, em 1881, Machado de Assis mudou o rumo de sua obra. Amadureceu como escritor e passou a escrever para leitores mais exigentes. Seus personagens tornaram-se mais elaborados, pois eram compostos à luz da Psicologia. Além disso, a técnica de composição do romance foi aperfei- çoada: os capítulos e frases passam a ser mais curtos a fim de estabelecer maior contato com o leitor. Observa-se também uma apurada análise da sociedade brasileira do final do Segundo Império, ambiente no qual o casamento começa a ser um grande alvo da crítica tecida pelo autor. As estruturas narrativas fogem à linearidade, entremeadas de digressões temporais, intromissões do narra- dor e a análise apurada dos acontecimentos. Memórias póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó, Memorial de Aires são romances do ciclo realista. Além dos romances, Machado publica cerca de duzentos contos a partir de 1869, começando com os “Contos fluminenses”, publicados em pleno Romantismo. Suas narrativas curtas estão reunidas em Histórias da meia-noite, Papéis avulsos, Histórias sem data, Várias histórias, Páginas recolhidas, Relíquias da casa velha. Merecem destaque os contos “A cartomante”, “Missa do galo”, “O alienista”, “O espelho”, “Cantiga de esponsais”, “Noite de almirante”, “A igreja do diabo”, entre outros. A produção poética de Machado de Assis está reunida em Falenas, Crisálidas, Ame- ricanas, Ocidentais. Destacam-se as peças de teatro “Queda que as mulheres têm para os tolos”, “Quase ministros” e “Lição de botânica”. 100 101 Memórias póstumas de Brás Cubas A posição de Machado de Assis na literatura brasileira é a de renovador – um abridor de caminhos –, pois revo- lucionou a narrativa, atribuindo-lhe um tom de mais verossimilhança e menos superficialidade, e foi além de seu tempo, imprimindo à literatura um senso psicológico notável. O caráter inovador de Memórias póstumas de Brás Cubas é as reflexões do personagem, com elas se encadeiam e se misturam os eventos que ele vive. Dom Casmurro Publicado em 1900, Dom Casmurro é um romance narrado em primeira pessoa. A partir de um flashback da ve- lhice para a adolescência, Bentinho conta sua própria história. Órfão de pai, cresceu num ambiente familiar muito carinhoso – tia Justina, tio Cosme, José Dias. Recebeu todos os cuidados da mãe, D. Glória, que o destinara à vida sacerdotal. Sem vocação, Bentinho não quis ser padre. Namora a vizinha Capitu e quer se casar com ela. D. Glória, presa a uma promessa que fizera, aceita a idade inteligente de José Dias de enviar um escravo ao seminário para ser ordenado no lugar do Bentinho. Livre do sacerdócio, o moço forma-se em Direito e acaba casando-se mesmo com Capitu. O casal vive muito bem. Betinho vai progredindo, mantém amizade com Escobar, antigo colega de seminá- rio, e Sancha, sua esposa. A vida segue seu curso. Nasce-lhe um filho, Ezequiel. Escobar morre e, durante o enterro, Bentinho começa a achar Capitu estranha. Surpreende-a contemplando o cadáver de uma forma que ele interpreta como apaixonada. A partir do episódio, Bentinho consome-se em ciúme e o casamento entra em crise. Cada vez mais Ezequiel torna-se parecido com Escobar – o que precipita em Bentinho a certeza de que ele não é seu filho. O casal separa- -se, Capitu e Ezequiel vão para a Europa e algum tempo depois ela morre. Já moço, Ezequiel volta ao Brasil para visitar o pai, que comprova a semelhança do filho com Escobar. Eze- quiel morre no estrangeiro. Cada vez mais fechado em sua dúvida, Bentinho ganha o apelido de “Casmurro” e põe-se a escrever a história de sua vida. Quincas Borba Quincas Borba foi publicado entre 1886 e 1891 na revista Estação. Para alguns estudiosos, a obra é a continuação do romance Memórias póstumas de Brás Cubas, já que o personagem Quincas atravessa os dois romances. O per- sonagem torna-se um símbolo do “humanitismo”, teoria desenvolvida por ele segundo a qual serão vitoriosos na vida os que foram mais ricos, mais fortes e mais expertos. Quincas Borba habita uma chácara na cidade de Barba- cena (MG) na companhia do enfermeiro Rubião, que nunca consegue aprender a teoria que o paciente lhe ensina. Quando Quincas morre, sua fortuna é deixada para Rubião. O enfermeiro teria acesso ao dinheiro com a condição de que cuidasse do cachorro de Quincas, que também se chama Quincas Borba. Na companhia do cachor- ro e com as mãos na herança, Rubião se muda para o Rio de Janeiro, onde conhece o casal Sofia e Cristiano Palha. Estes percebem que o enfermeiro é ingênuo e, em pouco tempo, o enfermeiro passa a perder sua fortuna. 102 103 apliCação dos ConheCimentos - sala 1. Quem não se recorda de Aurélia Camargo, que atravessou o firmamento da corte como brilhante meteoro, e apagou-se de repente no meio do deslumbramento que produzira seu fulgor? Tinha ela dezoito anos quando apareceu a primeira vez na sociedade. Não a conheciam; e logo buscaram todos com avi- dez informações acerca da grande novidade do dia. Dizia-se muita coisa que não repe- tirei agora, pois a seu tempo saberemos a verdade, sem os comentos malévolos de que usam vesti-la os noveleiros. Aurélia era órfã; tinha em sua companhia uma velha parenta, viúva, D. Firmina Mascarenhas, que sempre a acompanhava na sociedade. Mas essa paren- ta não passava de mãe de encomenda, para condescender com os escrúpulos da socieda- de brasileira, que naquele tempo não tinha admitido ainda certa emancipação femini- na. Guardando com a viúva as deferências devidas à idade, a moça não declinava um instante do firme propósito de governar sua casa e dirigir suas ações como entendesse. Constava também que Aurélia tinha um tu- tor; mas essa entidade era desconhecida, a julgar pelo caráter da pupila, não devia exer- cer maior influência em sua vontade, do que a velha parenta. ALENCAR, J. Senhora. São Paulo: Ática, 2006. O romance Senhora, de José de Alencar, foi publicado em 1875. No fragmento transcri- to, a presença de D. Firmina Mascarenhas como “parenta” de Aurélia Camargo assimila práticas e convenções sociais inseridas no contexto do Romantismo, pois: a) o trabalho ficcional do narrador desvaloriza a mulher ao retratar a condição feminina na sociedade brasileira da época. b) o trabalho ficcional do narrador mascara os hábitos sociais no enredo de seuromance. c) as características da sociedade em que Auré- lia vivia são remodeladas na imaginação do narrador romântico. d) o narrador evidencia o cerceamento sexista à autoridade da mulher, financeiramente in- dependente. 2. Talvez pareça excessivo o escrúpulo do Co- trim, a quem não souber que ele possuía uma caráter ferozmente honrado. Eu mesmo fui injusto com ele durante os anos que se seguiram ao inventário do meu pai. Reco- nheço que era um modelo. Arguiam-no de avareza, e cuido que tinha razão; mas a ava- reza é apenas a exageração de umavirtude, e as virtudes devem ser como os orçamen- tos: melhor é o saldo que o déficit. Como era muito seco de maneira, tinha inimigos que chegaram a acusá-lo de bárbaro. O único fato alegado neste particular era o de mandar com frequência escravos ao calabouço, donde eles desciam a escorrer sengue; mas, além de que ele só mandava os perversos e os fujões, ocorre que, tendo longamente contrabandea- do em escravos, habituar a-se de certo modo ao trato um pouco mais duro que esse gênero de negócio requeria, e não se pode honesta- mente atribuir à índole original de um ho- mem o que é puro efeito de relações sociais. A prova de que Cotrim tinha sentimentos pios encontrava-se no seu amor aos filhos, e na dor que padeceu quando morreu Sara, dali a alguns meses; prova irrefutável, acho eu, e não única. Era tesoureiro de uma con- fraria, e irmão de várias irmandades, e até irmão remido de uma destas, o que não se coaduna muito com a reputação de avareza; verdade é que o benefício não caíra no chão: a irmandade (de que ele fora juiz) mandara- -lhe tirar o retrato a óleo. ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de janeiro Aguilar, 1992. Obra que inaugura o realismo na literatura brasileira, Memórias póstumas de Brás Cubas condensa uma expressividade que caracte- rizaria o estilo machadiano a ironia. Des- crevendo a moral de seu cunhado, Cotrim, o narrador-personagem Brás Cubas refina a percepção irônica ao: a) acusar o cunhado de ser avarento para con- fessar-se injustiçado na divisão da herança paterna. b) atribuir a “efeito de relações sociais” a natu- ralidade com que Cotrim pretendia e tortu- rava os escravos. c) considerar os “sentimentos pios” demons- trados pelo personagem quando da perda da filha Sara. d) menosprezar Cotrim por ser tesoureiro de uma confraria e membro remido de várias irmandades. e) insinuar que o cunhado era um homem vai- doso e egocêntrico, contemplado com o re- trato a óleo. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Soneto Oh! Páginas da vida que eu amava, Rompei-vos! nunca mais! tão desgraçado!... Ardei, lembranças doces do passado! Quero rir-me de tudo que eu amava! E que doido que eu fui! como eu pensava Em mãe, amor de irmã! em sossegado Adormecer na vida acalentado Pelos lábios que eu tímido beijava! Embora – é meu destino. Em treva densa Dentro do peito a existência finda Pressinto a morte na fatal doença! 104 A mim a solidão da noite infinda! Possa dormir o trovador sem crença. Perdoa minha mãe — eu te amo ainda! AZEVEDO, A. Lira dos vinte anos. São Paulo: Martins Fontes, 1996. 3. A produção de Álvares de Azevedo situa-se na década de 1850, período conhecido na li- teratura brasileira como Ultrarromantismo. Nesse poema, a força expressiva da exacer- bação romântica identifica-se com o(a): a) amor materno, que surge como possibilidade de salvação para o eu lírico. b) saudosismo da infância, indicado pela men- ção às figuras da mãe e da irmã. c) construção de versos irônicos e sarcásticos, apenas com aparência melancólica. d) presença do tédio sentido pelo eu lírico, in- dicado pelo seu desejo de dormir. e) fixação do eu lírico pela ideia da morte, o que o leva a sentir um tormento constante. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO (Camões, 1525?-1580) Leda serenidade deleitosa, Que representa em terra um paraíso; Entre rubis e perlas doce riso; Debaixo de ouro e neve cor-de-rosa; Presença moderada e graciosa, Onde ensinando estão despejo e siso Que se pode por arte e por aviso, Como por natureza, ser fermosa; Fala de quem a morte e a vida pende, Rara, suave; enfim, Senhora, vossa; Repouso nela alegre e comedido: Estas as armas são com que me rende E me cativa Amor; mas não que possa Despojar-me da glória de rendido. CAMÕES, L. Obra completa. Rio de janeiro: Nova Aguilar, 2008. 4. A pintura e o poema, embora sendo produ- tos de duas linguagens artísticas diferentes, participaram do mesmo contexto social e cultural de produção pelo fato de ambos: a) apresentarem um retrato realista, eviden- ciado pelo unicórnio presente na pintura e pelos adjetivos usados no poema. b) valorizarem o excesso de enfeites na apre- sentação pessoa e na variação de atitudes da mulher, evidenciadas pelos adjetivos do poema. c) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela sobriedade e o equilíbrio, evidenciados pela postura, expressão e ves- timenta da moça e os adjetivos usados no poema. d) desprezarem o conceito medieval da idealiza- ção da mulher como base da produção artís- tica, evidenciado pelos adjetivos usados no poema. e) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela emotividade e o conflito inte- rior, evidenciados pela expressão da moça e pelos adjetivos do poema TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Texto I Se eu tenho de morrer na flor dos anos Meu Deus! não seja já; Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, Cantar o sabiá! Meu Deus, eu sinto e bem vês que eu morro Respirando esse ar; Faz que eu viva, Senhor! dá-me de novo Os gozos do meu lar! Dá-me os sítios gentis onde eu brincava Lá na quadra infantil; Dá que eu veja uma vez o céu da pátria, O céu de meu Brasil! Se eu tenho de morrer na flor dos anos Meu Deus! Não seja já! Eu quero ouvir cantar na laranjeira, à tarde, Cantar o sabiá! ABREU, C. Poetas românticos brasileiros. São Paulo: Scipione, 1993. Texto II A ideologia romântica, argamassada ao longo do século XVIII e primeira metade do século XIX, introduziu-se em 1836. Durante quatro decênios, imperaram o “eu”, a anarquia, o liberalismo, o sentimentalismo, o naciona- lismo, através da poesia, do romance, do te- atro e do jornalismo (que fazia sua aparição nessa época). MOISÉS, M. A literatura brasileira através dos textos. São Paulo: Cultrix, 1971 (fragmento). 105 5. De acordo com as considerações de Massaud Moisés no Texto II, o Texto I centra-se: a) no imperativo do “eu”, reforçando a ideia de que estar longe do Brasil é uma forma de estar bem, já que o país sufoca o eu lírico. b) no nacionalismo, reforçado pela distância da pátria e pelo saudosismo em relação à pai- sagem agradável onde o eu lírico vivera a infância. c) na liberdade formal, que se manifesta na op- ção por versos sem métrica rigorosa e temá- tica voltada para o nacionalismo. d) no fazer anárquico, entendida a poesia como negação do passado e da vida, seja pelas op- ções formais, seja pelos temas. e) no sentimentalismo, por meio do qual se re- força a alegria presente em oposição à infân- cia, marcada pela tristeza. 6. Na lírica de Camões: a) o metro usado para a composição dos sonetos é a redondilha maior. b) encontram-se sonetos, odes, sátiras e autos. c) cantar a Pátria é o centro das preocupações. d) encontra-se uma fonte de inspiração de mui- tos poetas brasileiros do século XX. e) a Mulher é vista em seus aspectos físicos, despojada de espiritualidade. Raio X 1. Da leitura do fragmento depreende-se que Aurélia era uma mulher independente e que isso não era comum para a sociedade da época: “essa parenta não passava de mãe de encomenda, para condescender com os escrúpulos da sociedade brasileira, que na- quele tempo não tinha admitido ainda certa emancipação feminina”.2. Das mais nobres e raras marcas da linguagem machadiana é a sutileza, a ironia descrita por sugestões, em geral, atitudes condená- veis moralmente, mas descritas com polidez, ainda que sórdidas, como a de torturar es- cravos, martirizá-los enquanto os contraban- deava em navios, àquela época, prática já proibida. 3. Cabe lembrar, que a fixação do eu lírico com relação à morte não foi motivada apenas por motivos estéticos, mas também pelo fato do poeta ter contraído tuberculose ainda muito jovem, morrendo aos vinte anos, pouco an- tes de completar vinte e um. Por ter adoeci- do precocemente, pouco conheceu da vida e do amor, conhecendo apenas o da mãe e da irmã. Essa fatalidade em sua vida foi regis- trada em versos no único livro de poesia que deixou: A Lira do Vinte Anos. 4. Os adjetivos “leda”, “deleitosa”, “doce”, “graciosa”, “fermosa” e “rara” refletem a vi- são idealizada da mulher, mas sem o exagero de emotividade característico do Romantis- mo. Ao contrário deste, a estética clássica defende a contenção emocional e privilegia o equilíbrio e a sobriedade, características sugeridas nos termos “moderada” e “sua- ve” referindo-se à imagem feminina, e na expressão “alegre e comedido” com que se define o eu lírico. Assim, é correta a opção [C]. 5. O Romantismo, sobretudo a Primeira Gera- ção, foi importante na construção da iden- tidade nacional, porque exaltava os valores da cultura nacional e as belezas naturais do Brasil. O poema de Casimiro de Abreu expressa os anseios do eu lírico em rever a sua pátria distante (“... dá-me de novo/ os gozos do meu lar”, “quero ouvir.../ cantar o sabiá”), num manifesto apelo saudosista de uma infância vivida numa paisagem ide- alizada (“sítios gentis”, “O céu do meu Bra- sil”). gabaRito 1. D 2. B 3. E 4. C 5. B 6. D 106 Prescrição: Para resolver os exercícios dessa aula, será necessário estabelecer relações entre um texto literário e o momento em que foi produzido; analisar os procedimentos de construção do texto literário, associando-os à forma como os artistas de determinadas geração concebem a arte; e refletir sobre como os valores sociais e humanos presentes na cultura do lugar em que vive são integrados ao patrimônio literário nacional. pRátiCa dos ConheCimentos - e.o. TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Texto I Ouvia: Que não podia odiar E nem temer Porque tu eras eu. E como seria Odiar a mim mesma E a mim mesma temer. HILST, H. Cantares. São Paulo: Globo, 2004 (fragmento). Texto II Transforma-se o amador na cousa amada Transforma-se o amador na cousa amada, por virtude do muito imaginar; não tenho, logo, mais que desejar, pois em mim tenho a parte desejada. Camões. Sonetos. Disponível em: http://www. jornaldepoesia.jor.br. Acesso em: 03 set. 2010 (fragmento). 1. Nesses fragmentos de poemas de Hilda Hilst e de Camões, a temática comum é: a) o “outro” transformado no próprio eu lírico, o que se realiza por meio de uma espécie de fusão de dois seres em um só. b) a fusão do “outro” com o eu lírico, havendo, nos versos de Hilda Hilst, a afirmação do eu lírico de que odeia a si mesmo. c) o “outro” que se confunde com o eu lírico, verificando-se, porém, nos versos de Camões, certa resistência do ser amado. d) a dissociação entre o “outro” e o eu lírico, porque o ódio ou o amor se produzem no imaginário, sem a realização concreta. e) o “outro” que se associa ao eu lírico, sendo tratados, nos Textos I e II, respectivamente, o ódio o amor. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO “Ele era o inimigo do rei”, nas palavras de seu biógrafo, Lira Neto. Ou, ainda, “um ro- mancista que colecionava desafetos, azucri- nava D. Pedro II e acabou inventando o Bra- sil”. Assim era José de Alencar (1829-1877), o conhecido autor de O guarani e Iracema, tido como o pai do romance no Brasil. Além de criar clássicos da literatura brasileira com temas nativistas, indianistas e históri- cos, ele foi também folhetinista, diretor de jornal, autor de peças de teatro, advogado, deputado federal e até ministro da Justiça. Para ajudar na descoberta das múltiplas fa- cetas desse personagem do século XIX, parte de seu acervo inédito será digitalizada. História Viva, n. 99, 2011. 2. Com base no texto, que trata do papel do es- critor José de Alencar e da futura digitaliza- ção de sua obra, depreende-se que: a) a digitalização dos textos é importante para que os leitores possam compreender seus ro- mances. b) o conhecido autor de O guarani e Iracema foi importante porque deixou uma vasta obra literária com temática atemporal. c) a divulgação das obras de José de Alencar, por meio da digitalização, demonstra sua im- portância para a história do Brasil Imperial. d) a digitalização dos textos de José de Alencar terá importante papel na preservação da me- mória linguística e da identidade nacional. e) o grande romancista José de Alencar é im- portante porque se destacou por sua temáti- ca indianista. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Soneto Já da morte o palor me cobre o rosto, Nos lábios meus o alento desfalece, Surda agonia o coração fenece, E devora meu ser mortal desgosto! Do leito embalde no macio encosto Tento o sono reter!... já esmorece O corpo exausto que o repouso esquece... Eis o estado em que a mágoa me tem posto! 107 O adeus, o teu adeus, minha saudade, Fazem que insano do viver me prive E tenha os olhos meus na escuridade. Dá-me a esperança com que o ser mantive! Volve ao amante os olhos por piedade, Olhos por quem viveu quem já não vive! AZEVEDO, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. 3. O núcleo temático do soneto citado é típico da segunda geração romântica, porém confi- gura um lirismo que o projeta para além des- se momento específico. O fundamento desse lirismo é: a) a angústia alimentada pela constatação da irreversibilidade da morte. b) a melancolia que frustra a possibilidade de reação diante da perda. c) o descontrole das emoções provocado pela autopiedade. d) o desejo de morrer como alívio para a desilusão amorosa. e) o gosto pela escuridão como solução para o sofrimento. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Quincas Borba mal podia encobrir a satisfa- ção do triunfo. Tinha uma asa de frango no prato, e tricava-a com filosófica serenidade. Eu fiz-lhe ainda algumas subjeções, mas tão frouxas, que ele não gastou muito tempo em destruí-las. – Para entender bem o meu sistema, concluiu ele, importa não esquecer nunca o princípio universal, repartido e resumido em cada ho- mem. Olha: a guerra, que parece uma cala- midade, é uma operação conveniente, como se diséssemos o estalar dos dedos de Huma- nitas; a fome (e ele chupava filosoficamente a asa do frango), a fome é uma prova a que Humanitas submete a própria víscera. Mas eu não quero outro documento da sublimida- de do meu sistema, senão este mesmo fran- go. Nutriu-se de milho, que foi plantado por um africano, suponhamos, importado de An- gola. Nasceu esse africano, cresceu, foi ven- dido; um navio o trouxe, um navio constru- ído de madeira cortada no mato por dez ou doze homens, levado por velas, que oito ou dez homens teceram, sem contar a cordoalha e outras partes do aparelho náutico. Assim, este frango, que eu almocei agora mesmo, é o resultado de uma multidão de esforços e lutas, executadas com o único fim de dar mate ao meu apetite. ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Civilização Brasiliense, 1975. 4. A filosofia de Quincas Borba – a Humanitas – contém princípios que, conforme a expla- nação do personagem, consideram a coope- ração entre as pessoas uma forma de: a) atender a interesses pessoais. b) minimizar as diferenças individuais. c) estabelecer vínculos sociais profundos. d) lutar pelo bem da coletividade. e) erradicara desigualdade social. 5. São características das obras do Classicismo: a) o individualismo, a subjetividade, a idealiza- ção, o sentimento exacerbado. b) o egocentrismo, a interação da natureza com o eu, as formas perfeitas. c) o contraste entre o grotesco e o sublime, a valorização da natureza, o escapismo. d) a observação da realidade, a valorização do eu, a perfeição da natureza. e) a retomada da mitologia pagã, a pureza das formas, a busca da perfeição estética. TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO TEXTO I Canção do exílio Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas tem mais flores, Nossos bosques tem mais vida, Nossa vida mais amores. [...] Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar - sozinho, a noite - Mais prazer eu encontro la; Minha terra tem palmeiras Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu’inda aviste as palmeiras Onde canta o Sabiá. DIAS, G. Poesia e prosa completas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1998. TEXTO II Canto de regresso à Pátria Minha terra tem palmares Onde gorjeia o mar Os passarinhos daqui Não cantam como os de lá 108 Minha terra tem mais rosas E quase tem mais amores Minha terra tem mais ouro Minha terra tem mais terra Ouro terra amor e rosas Eu quero tudo de lá Não permita Deus que eu morra Sem que volte para lá Não permita Deus que eu morra Sem que volte pra São Paulo Sem que eu veja a rua 15 E o progresso de São Paulo ANDRADE, O. Cademos de poesia do aluno Oswald. São Paulo: Cfrculo do Livro. s/d. 6. Os textos I e II, escritos em contextos históri- cos e culturais diversos, enfocam o mesmo mo- tivo poético: a paisagem brasileira entrevista a distância. Analisando-os, conclui-se que: a) o ufanismo, atitude de quem se orgulha ex- cessivamente do país em que nasceu, e o tom de que se revestem osdois textos. b) a exaltação da natureza é a principal carac- terística do texto B, que valoriza a paisagem tropical realçada no texto A. c) o texto B aborda o tema da nação, como o texto A, mas sem perder a visão crítica da realidade brasileira. d) o texto B, em oposição ao texto A, revela distanciamento geográfico do poeta em rela- ção à pátria. e) ambos os textos apresentam ironicamente a paisagem brasileira. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Pobre Isaura! Sempre e em toda parte esta contínua importunaçãode senhores e de es- cravos, que não a deixam sossegar um só mo- mento! Como não devia viver aflito e atribu- lado aquele coração! Dentro de casa contava ela quatro inimigos, cada qualmais porfiado em roubar-lhe a paz da alma, e torturar-lhe o coração: três amantes, Leôncio, Belchior, e André, e uma êmula terrível e desapiedada, Rosa. Fácil lhe fora repelir as importunações e insolências dos escravos e criados; mas que seria dela, quando viesse o senhor?!... GUIMARÃES, B. A escrava Isaura. São Paulo: Ática, 1995 (adaptado). 7. A personagem Isaura, como afirma o títu- lo do romance, era uma escrava. No trecho apresentado, os sofrimentos por que passa a protagonista: a) assemelham-se aos das demais escravas do país, o que indica o estilo realista da abor- dagem do tema da escravidão pelo autor do romance. b) demonstram que, historicamente, os proble- mas vividos pelas escravas brasileiras, como Isaura, eram mais de ordem sentimental do que física. c) diferem dos que atormentavam as demais escravas do Brasil do século XIX, o que reve- la o caráter idealista da abordagem do tema pelo autor do romance. d) indicam que, quando o assunto era o amor, as escravas brasileiras, de acordo com a abordagem lírica do tema pelo autor, eram tratadas como as demais mulheres da socie- dade. e) revelam a condição degradante das mulhe- res escravas no Brasil, que, como Isaura, de acordo com a denúncia feita pelo autor, eram importunadas e torturadas fisicamente pelos seus senhores. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Joaquim Maria Machado de Assis, cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, no- velista, romancista, crítico e ensaísta, nas- ceu na cidade do Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839. Filho de um operário mestiço de negro e português, Francisco José de As- sis, e de D. Maria Leopoldina Machado de As- sis, aquele que viria a tornar-se o maior es- critor do país e um mestre da língua, perde a mãe muito cedo e é criado pela madrasta, Maria Inês, também mulata, que se dedica ao menino e o matricula na escola pública, única que frequentou o autodidata Machado de Assis. Disponível em: http://www.passeiweb. com. Acesso em: 1 maio 2009. 8. Considerando os seus conhecimentos sobre os gêneros textuais, o texto citado constitui-se de: a) fatos ficcionais relacionados a outros de caráter realista, relativos à vida de um renomado escri- tor. b) representações generalizadas acerca da vida de membros da sociedade por seus trabalhos e vida cotidiana. c) explicações da vida de um renomado escri- tor, com estrutura argumentativa, destacan- do como tema seus principais feitos. d) questões controversas e fatos diversos da vida de personalidade histórica, ressaltando sua intimidade familiar em detrimento de seus feitos públicos. e) apresentação da vida de uma personalidade, organizada sobretudo pela ordem tipológica da narração, com um estilo marcado por lin- guagem objetiva. 109 TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Capítulo III Um criado trouxe o café. Rubião pegou na xícara e, enquanto lhe deitava açúcar, ia disfarçadamente mirando a bandeja, que era de prata lavrada. Prata, ouro, eram os metais que amava de coração; não gostava de bronze, mas o amigo Palha disse-lhe que era matéria de preço, e assim se explica este par de figuras que aqui está na sala: um Me- fistófeles e um Fausto. Tivesse, porém, de escolher, escolheria a bandeja, – primor de argentaria, execução fina e acabada. O criado esperava teso e sério. Era espanhol; e não foi sem resistência que Rubião o aceitou das mãos de Cristiano; por mais que lhe dissesse que estava acostumado aos seus crioulos de Minas, e não queria línguas estrangeiras em casa, o amigo Palha insistiu, demonstrando- -lhe a necessidade de ter criados brancos. Rubião cedeu com pena. O seu bom pajem, que ele queria por na sala, como um pedaço da província, nem o pode deixar na cozinha, onde reinava um francês, Jean; foi degrada- do a outros serviços. ASSIS, M. Quincas Borba. In: Obra completa. V.1. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993 (fragmento). 9. Quincas Borba situa-se entre as obras-pri- mas do autor e da literatura brasileira. No fragmento apresentado, a peculiaridade do texto que garante a universalização de sua abordagem reside: a) no conflito entre o passado pobre e o pre- sente rico, que simboliza o triunfo da apa- rência sobre a essência. b) no sentimento de nostalgia do passado de- vido à substituição da mão de obra escrava pela dos imigrantes. c) na referência a Fausto e Mefistófeles, que representam o desejo de eternização de Ru- bião. d) na admiração dos metais por parte de Ru- bião, que metaforicamente representam a durabilidade dos bens produzidos pelo tra- balho. e) na resistência de Rubião aos criados estran- geiros, que reproduz o sentimento de xeno- fobia. TEXTOS PARA AS PRÓXIMAS DUAS QUESTÕES CANTIGA Vi chorar uns claros olhos Quando deles me partia. Oh! que mágoa! Oh! que alegria VOLTAS (...) O bem que Amor me não deu, No tempo que o desejei, Quando dele me apartei, Me confessou que era meu. Agora que farei eu, Se a fortuna me desvia De lograr esta alegria? (Camões – Lírica) Mudando andei costume, terra e estado, Por ver se se mudava a sorte dura;A vida pus nas mãos de um leve lenho. Mas, segundo o que o Céu me tem mostrado, Já sei que deste meu buscar ventura Achado tenho já que não a tenho. (Camões – Lírica) 10. A partir da leitura dos dois fragmentos, assi- nale a afirmativa inaceitável. a) Há diversidade formal e temática na lírica de Camões, devido à sua relação tanto com a tradição popular quanto com a cultura clás- sica. b) Nos dois textos encontramos a ação do des- tino se opondo à felicidade do poeta. c) A expressão “fortuna”, do primeiro fragmen- to, é equivalente, no plano semântico, à ex- pressão “ventura”, do segundo. d) A forma do primeiro fragmento expressa a relação entre a lírica de Camões e a tradição poética medieval peninsular. e) O terceiro verso do segundo fragmento é uma metáfora clara da instabilidade da vida do poeta. 167 11. Em relação aos textos anteriores, SÓ SE PODE AFIRMAR que: a) o amor realizado é o tema do primeiro poe- ma, e a harmonia entre o poeta e o mundo é o tema do segundo. b) as expressões “oh que alegria” e “achado te- nho já” mostram que, finalmente, o poeta encontra a harmonia. c) as expressões “me partia” e “me apartei”, no primeiro fragmento, são equivalentes, no plano semântico. d) a forma do segundo fragmento expressa a relação entre a lírica de Camões e o trovado- rismo medieval. e) o verso “me confessou que era meu” indica que o poeta encontrou a felicidade. 12. Assinale a incorreta sobre Camões. a) Sua obra compreende os gêneros épico, líri- co e dramático. b) A lírica de Camões permaneceu praticamente inédita. Sua primeira compilação é póstuma, datada de 1595, e organizada sob o título de As Rimas de Luis de Camões, por Fernão Rodrigues Lobo Soropita. 110 c) Sua lírica compõe-se exclusivamente de re- dondilhas e sonetos. d) Apesar de localizada no período clássico-re- nascentista, a obra possui citações barrocas. e) Representa o amadurecimento de língua portuguesa, sua estabilização e a maior ma- nifestação de sua excelência literária. 13. Ainda sobre Camões, assinale a incorreta. a) Não há um texto definitivo de lírica camo- niana. Atribuem-se-lhe cerca de 380 compo- sições líricas, destacando-se os cerca de 200 sonetos, alguns de autoria controversa. b) Camões teria reunido sua lírica sob o titulo de O Parnaso Lusitano, que se perdeu, e do qual há algumas referências nas cartas do poetas. c) As redondilhas de Camões seguem os moldes da poesia palaciana do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende e, mesmo na medida ve- lha, o poeta superou seus contemporâneos e antecessores. d) A lírica na medida velha, tradicional, medie- val, vale-se dos motes glosados, das redon- dilhas e são de cunho galante, alegre madri- galesco. e) A principal diferença entre a poesia lírica e a poesia épica é formal e manifesta-se na utilização de versos de diferentes metros. Leia os poemas apresentados a seguir. MALVA-MAÇÃ A P... De teus seios tão mimosos Quem gozasse o talismã! Quem ali deitasse a fronte Cheia de amoroso afã! E quem nele respirasse A tua malva-maçã! Dá-me essa folha cheirosa Que treme no seio teu! Dá-me a folha… hei de beijá-la Sedenta no lábio meu! Não vês que o calor do seio Tua malva emurcheceu... [...] AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. In: Obra completa. Organização de Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. p. 269. Há uma flor que está em redor de mim, uma flor que nasce nos cabelos da aurora e desce sobre as águas e os ombros de todos nós. Não, não quero amar senão a natureza quando ela se abre como uma flor e suas corolas à madrugada; eu não quero amar, senão a mulher que está em redor de mim, a mulher que me acolhe com seus braços e me oferece o que há de mais íntimo, a sua pérola e sonho à madrugada. GARCIA, José Godoy. Poesia. Brasília: Thesaurus, 1999. p. 153. 14. Nos poemas transcritos, a representação da figura feminina se assemelha por apresentar: a) a sensualidade da mulher metaforizada pe- los elementos da natureza. b) a idealização de uma mulher única enfatiza- da pela fidelidade do eu lírico. c) o distanciamento da mulher exemplificado por sua indiferença aos apelos do eu lírico. d) a simplicidade da mulher evidenciada por suas qualidades morais. e) o exotismo da mulher emoldurado pela des- crição de um cenário idílico. A questão a seguir toma por base um frag- mento de Glória moribunda, do poeta ro- mântico brasileiro Álvares de Azevedo (1831-1852). É uma visão medonha uma caveira? Não tremas de pavor, ergue-a do lodo. Foi a cabeça ardente de um poeta, Outrora à sombra dos cabelos loiros. Quando o reflexo do viver fogoso Ali dentro animava o pensamento, Esta fronte era bela. Aqui nas faces Formosa palidez cobria o rosto; Nessas órbitas — ocas, denegridas! — Como era puro seu olhar sombrio! Agora tudo é cinza. Resta apenas A caveira que a alma em si guardava, Como a concha no mar encerra a pérola, Como a caçoula a mirra incandescente. Tu outrora talvez desses-lhe um beijo; Por que repugnas levantá-la agora? Olha-a comigo! Que espaçosa fronte! Quanta vida ali dentro fermentava, Como a seiva nos ramos do arvoredo! E a sede em fogo das ideias vivas Onde está? onde foi? Essa alma errante Que um dia no viver passou cantando, Como canta na treva um vagabundo, Perdeu-se acaso no sombrio vento, Como noturna lâmpada apagou-se? E a centelha da vida, o eletrismo Que as fibras tremulantes agitava Morreu para animar futuras vidas? Sorris? eu sou um louco. As utopias, Os sonhos da ciência nada valem. A vida é um escárnio sem sentido, Comédia infame que ensanguenta o lodo. Há talvez um segredo que ela esconde; Mas esse a morte o sabe e o não revela. Os túmulos são mudos como o vácuo. Desde a primeira dor sobre um cadáver, Quando a primeira mãe entre soluços Do filho morto os membros apertava Ao ofegante seio, o peito humano Caiu tremendo interrogando o túmulo... E a terra sepulcral não respondia. (Poesias completas, 1962.) 111 15. No verso Morreu para animar futuras vidas?, sob forma interrogativa, o eu lírico sugere com o termo animar que: a) a morte de uma pessoa deve ser festejada pelos que ficam. b) o verdadeiro objetivo da morte é demonstrar o desvalor da vida. c) a vida do poeta é mais consistente e anima- da que todas as outras. d) a alma que habitou o corpo talvez possa re- encarnar em novo corpo. e) outras pessoas passam a viver melhor quan- do um homem morre. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO O texto a seguir foi retirado do último capí- tulo do romance Lucíola, de José de Alencar. Nele, o romancista narra os momentos finais vividos pela heroína, ao lado de Paulo, o seu amado. De joelhos à cabeceira eu suplicava-lhe que bebesse o remédio que a devia salvar. (...) O dia se passou na cruel agonia que só com- preendem aqueles que ajoelhados à borda de um leito viram finar-se gradualmente uma vida querida. Quebrado de fadiga e vencido por uma vigília de tantas noites, tinha insensivelmente adormecido, sentado como estava à beira da cama, com os lábios sobre a mão gelada de Lúcia e a testa apoiada no encosto do leito. O sono foi curto, povoado de sonhos horríveis; acordei sobressaltado e achei-me reclinado sobre o peito de Lúcia, que se sentara de en- contro às 251 almofadas para suster minha cabeça ao colo, como faria uma terna mãe com seu filho. Mesmo adormecido ela me sorria, me falava, e cobria-me de beijos: – Se soubesses que gozo supremo é para mim beijar-te neste momento! Agora que o corpo está morto e a carne álgida, não sente nem a dor nem o prazer, é a minha alma só que te beija, que se une à tua e se desprende par- cela por parcela para embeber em teu seio. E seus lábios ávidos devoravam-me o ros- to de carícias, bebendo o pranto que corria abundante de meus olhos: Se alguma coisa me pudessesalvar ainda, se- ria esse bálsamo celeste, meu amigo! Eu soluçava como uma criança. – Beija-me também, Paulo. Beija-me como beijarás um dia tua noiva! Oh! agora posso te confessar sem receio. Nesta hora não se mente. Eu te amei desde o momento em que te vi! Eu te amei por séculos nestes poucos dias que passamos juntos na terra. Agora que a minha vida se conta por instantes, amo- -te em cada momento por uma existência inteira. Amo-te ao mesmo tempo com todas as afeições que se pode ter neste mundo. Vou te amar enfim por toda a eternidade. A voz desfaleceu completamente, de extenu- ada que ela ficara por esse enérgico esforço. Eu chorava de bruços sobre o travesseiro, e as suas palavras suspiravam docemente em minha alma, como as dulias dos anjos devem ressoar aos espíritos celestes. ALENCAR, José de. Lucíola. Rio de Janeiro: Ática, 1992. p. 124-126. 16. Representada por personagens de uma obra do estilo romântico, a cena retratada no tex- to deixa entrever a: a) necessidade do apego à vida para viver ape- nas o momento. b) intensidade de um amor que transcende o plano físico. c) descrição da natureza associada aos perso- nagens. d) necessidade de não fugir à realidade para vi- ver um grande amor. e) visão maniqueísta da vida, declarada pela heroína. 17. “A sociedade, no meio da qual me eduquei, fez de mim um homem à sua feição. Habituei-me a considerar a riqueza como a primeira força viva da existência e os exemplos ensinavam-me que o casamento era meio tão legítimo de adquiri-la, como a herança e qualquer honesta especulação.” No enredo de SENHORA, tal como se depre- ende do trecho transcrito, há uma aproxima- ção entre casamento e: a) recomendações divulgadas pela igreja. b) normas impostas aos escravos. c) costumes copiados dos indígenas. d) leis do tempo da colônia. e) práticas da organização social burguesa. 18. Tanto na prosa de José de Alencar quanto na poesia de Gonçalves Dias, a figura do índio é caracterizada: a) com os atributos da honradez de um cavalei- ro medieval. b) enquanto um herói pagão movido pelas for- ças da natureza. c) como uma mescla de ingenuidade e violência incontrolável. d) por meio de uma fiel descrição de seus valo- res naturais. e) da mesma forma como o representava An- chieta em suas peças. 112 TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Ultimamente ando de novo intrigado com o enigma de Capitu. Teria ela traído mesmo o marido, ou tudo não passou de imaginação dele, como narrador? Reli mais uma vez o ro- mance e não cheguei a nenhuma conclusão. Um mistério que o autor deixou para a pos- teridade. (Fernando Sabino, O bom ladrão.) 19. No texto de Sabino, o narrador questiona a traição de Capitu. Lendo o texto de Machado, pode-se entender que esse questionamento decorre de: a) os fatos serem narrados pela visão de uma personagem, no caso, o narrador em primei- ra pessoa, que fornece ao leitor o perfil psi- cológico de Capitu. b) a personagem ser vista por José Dias como “oblíqua e dissimulada”, o que gerou mal- -estar no apaixonado de Capitu, deixando de vê-la como uma mulher de encantos. c) a apresentação da personagem Capitu ser feita no romance de maneira muito objetiva, sem expressão dos sentimentos que a vincu- lavam ao homem que a amava. d) os aspectos psicológicos de Capitu serem apresentados apenas pelos comentários de José Dias, o que lhe torna a caracterização muito subjetiva. e) o amado de Capitu não conseguir enxergar nela características mais precisas e menos misteriosas, o que o faz descrevê-la de forma bastante idealizada. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO (...) Um poeta dizia que o menino é o pai do homem. Se isto é verdade, vejamos alguns lineamentos do menino. Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de “menino diabo”; e verdadeiramente não era outra coisa; fui dos mais malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso. Por exemplo, um dia quebrei a cabeça de uma escrava, porque me nega- ra uma colher do doce de coco que estava fazendo, e, não contente com o malefício, deitei um punhado de cinza ao tacho, e, não satisfeito da travessura, fui dizer à minha mãe que a escrava é que estragara o doce “por pirraça”; e eu tinha apenas seis anos. Prudêncio, um moleque de casa, era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia, – algumas vezes gemendo – mas obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito, um – “ai, nho- nhô!” – ao que eu retorquia: “Cala a boca, besta!” – Esconder os chapéus das visitas, deitar rabos de papel a pessoas graves, pu- xar pelo rabicho das cabeleiras, dar beliscões nos braços das matronas, e outras muitas fa- çanhas deste jaez, eram mostras de um gê- nio indócil, mas devo crer que eram também expressões de um espírito robusto, porque meu pai tinha-me em grande admiração; e se às vezes me repreendia, à vista de gente, fazia-o por simples formalidade: em particu- lar dava-me beijos. Não se conclua daqui que eu levasse todo o resto da minha vida a quebrar a cabeça dos outros nem a esconder-lhes os chapéus; mas opiniático, egoísta e algo contemptor dos homens, isso fui; se não passei o tempo a esconder-lhes os chapéus, alguma vez lhes puxei pelo rabicho das cabeleiras. (Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas.) 20. É correto afirmar que: a) se trata basicamente de um texto naturalis- ta, fundado no Determinismo. b) o texto revela um juízo crítico do contexto escravista da época. c) o narrador se apresenta bastante sisudo e amargo, bem ao gosto machadiano. d) o texto apresenta papéis sociais ambíguos das personagens em foco. e) os comportamentos desumanos do narrador são sutilmente desnudados. 21. No texto a seguir, Machado de Assis faz uma crítica ao Romantismo: Certo não lhe falta imaginação; mas esta tem suas regras, o as- tro, leis, e se há casos em que eles rompem as leis e as regras é porque as fazem novas, é porque se chama Shakespeare, Dante, Go- ethe, Camões. Com base nesse texto, notamos que o autor: a) preocupa-se com princípios estéticos e acre- dita que a criação literária deve decorrer de uma elaborada produção dos autores. b) refuga o Romantismo, na medida em que os autores desse período reivindicaram uma es- tética oposta à clássica. c) entende a arte como um conjunto de prin- cípios estéticos consagrados, que não pode ser manipulado por movimentos literários específicos. d) defende a ideia de que cada movimento lite- rário deve ter um programa estético rígido e inviolável. e) entende que Naturalismo e o Parnasianismo constituem soluções ideal para pôr termo à falta de invenção dos românticos. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS DUAS QUESTÕES Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimu- lada sabia, e queria ver se se podiam chamar 113 assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira; eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demo- ra da contemplação creio que lhe deu outra ideia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal ex- pressão que... Retórica dos namorados, dá-me uma compa- raçãoexata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode ima- gem capaz de dizer, sem quebra da dignida- de do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei quefluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. (Machado de Assis, Dom Casmurro.) 22. Para o narrador, os olhos de Capitu eram “olhos de ressaca, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca”. Entende-se, então, que ele: a) começava a nutrir sentimento de repulsa em relação a ela, como está sugerido em [seus olhos] “entrassem a ficar crescidos, cresci- dos e sombrios, com tal expressão que...” b) se sentia fortemente atraído por ela, como comprova o trecho: “Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro...” c) passou a desconfiar da sinceridade dela, como está exposto em: “mas dissimulada sabia, e queria ver se se podiam chamar assim.” d) começava a vê-la como uma mulher comum, sem atrativos especiais, como demonstra o trecho: “eu nada achei extraordinário...” e) deixava de vê-la como uma mulher enigmá- tica, como está sugerido em: “Olhos de res- saca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova.” 23. Ao afirmar que Capitu tinha olhos de “cigana oblíqua”, José Dias a vê como uma mulher: a) irresistível. b) inconveniente. c) compreensiva. d) evasiva. e) irônica. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Antes de concluir este capítulo, fui à jane- la indagar da noite por que razão os sonhos hão de ser assim tão tênues que se esgarçam ao menor abrir de olhos ou voltar de corpo, e não continuam mais. A noite não me res- pondeu logo. Estava deliciosamente bela, os morros palejavam de luar e o espaço morria de silêncio. Como eu insistisse, declarou- -me que os sonhos já não pertencem à sua jurisdição. Quando eles moravam na ilha que Luciano lhes deu, onde ela tinha o seu palácio, e donde os fazia sair com as suas caras de vária feição, dar-me-ia explicações possíveis. Mas os tempos mudaram tudo. Os sonhos antigos foram aposentados, e os mo- dernos moram no cérebro da pessoa. Estes, ainda que quisessem imitar os outros, não poderiam fazê-lo; a ilha dos Sonhos, como a dos Amores, como todas as ilhas de todos os mares, são agora objeto da ambição e da rivalidade da Europa e dos Estados Unidos. Machado de Assis - D. Casmurro palejavam: tornavam pálidos 24. Assinale a alternativa correta sobre “D. Cas- murro.” a) A linguagem concisa e objetiva do autor são recursos usados a fim de não prejudicar o desenvolvimento linear da narrativa. b) O aproveitamento da mitologia segue o prin- cípio da mimese (“imitação”) de tradição clássico-renascentista. c) A idealização da natureza é prova da influ- ência que o Romantismo exerceu sobre o es- tilo machadiano. d) A crítica ao determinismo cientificista é ín- dice do estilo naturalista de Machado de Assis. e) A digressão permite ao narrador interromper o fluxo narrativo para tecer gabaRito 1. A 2. D 3. D 4. B 5. E 6. C 7. C 8. E 9. A 10. C 11. C 12. D 13. E 14. A 15. D 16. B 17. E 18. A 19. A 20. B 21. A 22. B 23. D 24. E Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para sua vida. H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação. H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais. H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas. H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação. Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras culturas e grupos sociais. H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema. H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas. H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social. H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística. Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da identidade. H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social. H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas. H11 Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para diferentes indivíduos. Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e da própria identidade. H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais. H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos. H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos. Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção. H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político. H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário. H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional. Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação. H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos. H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução. H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas. H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos. H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos. H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados. H24 Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção, chantagem, entre outras. Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização do mundo e da própria identidade. H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro. H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social. H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação. Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aosconhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte, às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar. H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação. H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação. H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem. 115 BREVIÁRIO Naturalismo Contexto histórico Na tentativa de acabar com os cortiços no Rio de Janeiro, muitos pobres foram literalmente empurrados para longe da cidade e para os morros, onde se formaram as favelas. O fim da escravidão e o início do período republicando no Brasil foram marcados por conflitos e revoltas populares também no Rio de Janeiro. Em 1904, estourou um movimento de caráter popular desencadeado contra a campanha de vacinação obrigatória de combate à varíola, imposta pelo governo federal. A revolta engrossava a cada dia, impulsionada pela crise econômica – desemprego, inflação e custo de vida alto. A reforma urbana retirou a população pobre do centro da cidade, derrubando cortiços e habitações simples. Espalhados pelas ruas, populares destruíam bondes e apedrejavam prédios públicos. Em 16 de novembro de 1904, o presidente Rodrigues Alves revogou a lei da vacinação obrigatória e mandou que o Exército, a Marinha e a polícia acabassem com os tumultos. Aulas 3 e 4 Competência 1 Habilidade 1 Burguesia versus proletariado A segunda metade do século XIX foi caracterizada pela consolidação do poder da burguesia, do materialismo e do crescimento do proletariado. De um lado, o progresso, representado pelo crescimento das cidades; de outro, o crescimento dos bairros pobres, onde residiam os operários. Enquanto a burguesia lutava pelo dinheiro e pelo poder, o operário manifestava sua insatisfação e promovia as primeiras greves. Nessa conjuntura nasceram e desenvolveram-se as ciências sociais, preconizando o desenvolvimento científico, que levaram à substituição o idealismo e o tradicionalismo pelo materialismo e racionalismo. O método científico passou a ser o meio de análise e compreensão da realidade. Teorias desse naipe deram fundamentos ideológicos à literatura realista-naturalista, quais sejam: a teoria determinista, de Hippolyte Taini (1825-1893), que encarava o comportamento humano como determinado pela hereditariedade, pelo meio e pelo momento; e a teoria evolucionista, de Charles Darwin (1809- 1882), que defendia a tese de que o homem descende dos animais. As características do Naturalismo literário são ligadas à realidade da época, cujo tom deixa de ser tão poé- tico e subjetivo como nas escolas precedentes. Os romances naturalistas revelam: § veracidade – as narrativas buscam seus correspondentes na realidade; § contemporaneidade – essa realidade retratava com fidelidade as personagens reais, vivas, não idealizadas; § detalhismo – a caracterização das personagens e ambientes é minuciosa, o amor é materializado, e a mulher passa a ser vista como objeto de prazer masculino; § denúncia das injustiças sociais – levada pela função social da arte, a literatura denuncia o preconceito, e a ambição humanos; § determinismo e causalidade – busca da explicação lógica para o comportamento das personagens; consideração da soma de fatores que justificam suas atitudes; visão de mundo determinista e mecanicista; homem próximo ao animal (zoomorfismo); § linguagem popular e coloquial – emprego de termos e sentidos comuns ao das personagens cotidia- nas; linguagem é simples, natural e clara; § cientificismo – caracterização e análise objetivas das personagens, consideradas casos a serem analisados; § personagens patológicos – mórbidos, adúlteros, assassinos, bêbados, miseráveis, doentes, prostitutas procuram comprovar a tese determinista sobre o ser humano. Aluísio Azevedo Aluísio Azevedo (1857-1913) deixou São Luís, no Maranhão, onde nasceu, aos dezenove anos e foi para o Rio de Janeiro. Lá, morou com o irmão, Artur Azevedo, e dedicou-se persistentemente ao desenho e à pintura na Imperial Academia de Belas-Artes. 116 117 Aos 21 anos, voltou a São Luís, onde passou a colaborar na imprensa local. Em 1879, já havia lançado o ro- mance romântico Uma lágrima de mulher. Mas foi em 1881 que seu nome tornou-se conhecido, com a publicação do romance O mulato, cuja temática, bastante criticada pela sociedade local, atacava o preconceito racial. Por isso, Aluísio foi aconselhado a “pegar na enxada, em vez de ficar escrevendo”. De volta ao Rio de janeiro, produziu folhetins românticos para jornais. “Memórias de um condenado” e “Mistérios da Tijuca” foram alguns deles ditados pelas necessidades de sobrevivência. Escreveu também obras mais bem elaboradas à luz da estética realista-naturalista, como Casa de pensão e O cortiço, que consolidaram seu prestígio. Em 1895, foi nomeado vice-cônsul em Vigo, na Espanha. Foi o início de uma atribulada carreira diplomática, que o levaria a Yokohama, no Japão, a La Plata, na Argentina, a Salto Oriental, no Uruguai, a Cardiff, na Inglaterra, a Nápoles, na Itália e, finalmente, a Buenos Aires, na Argentina. Fase romântica Dentre os seus folhetins românticos destacam-se “Uma lágrima de mulher”; “Memórias de um condenado” ou “A Condessa Vésper”; “Filomena Borges”; “A mortalha de Azira”; “Mistério da Tijuca” ou “Girândola de amores”. Fase naturalista Romances: O mulato; Casa de pensão; O homem; O coruja; O cortiço; O livro de uma sogra e os livros de contos Demônios; Pegadas; O touro negro. Considerado o mais importante dos naturalistas brasileiros, em sua obra não há excesso de exploração da patologia humana, como ocorre, por exemplo, na obra do paradigma francês Émile Zola. Aluísio prefere a obser- vação direta da realidade da qual ressalta, sobretudo, a influência que o meio exerce sobre o homem, segundo a teoria determinista de Hippolyte Taine. O cortiço Nesse seu melhor romance naturalista, focaliza o proletariado urbano do Rio de Janeiro que vive num ambiente coletivo: um cortiço. Os personagens são criados sob uma visão de conjunto, cujo meio influi categoricamente, des- personalizando-os e a tudo dominando. O espaço é o elemento de destaque na obra que está intimamente ligado aos personagens. Como o romance possui muitos deles, a coletividade torna-se um fator preponderante na obra, o que faz com que O cortiço seja considerado um romance da multidão. As personagens espelham o nascimento do proletariado no Rio de Janeiro, em fins do século XIX. O mulato Publicado em 1881, o romance O mulato, de Aluísio Azevedo, causou verdadeiro escândalo na sociedade mara- nhense. Primeiramente, devido à linguagem naturalista, repleta de descrições, por vezes, e também pelo tema de que tratava: o preconceito racial. Ainda com tal recepção, a obra fez muito sucesso na corte carioca, embora não tivesse feito sucesso nenhum no Maranhão, terra natal de Aluísio, cujos leitores dirigiam ao autor a alcunha de “Satanás da cidade”. Na obra estão presentes a ávida crítica social, construída por meio da sátira impiedosa dos tipos que ha- bitavam a capital maranhense, o anti clericalismo, composto na figura de um padre devasso e assassino; além do o aspecto sexual, do triunfo do mal e da oposição ao preconceito racial que é a base para a composição do livro. Pré-moderNismo Contexto histórico Avenida Paulista, 1902. Fotógrafo Guilherme Gaensly Durante os primeiros anos da República Velha, como ficou conhecido o período compreendido entre o final do sé- culo XIX e as duas primeiras décadas do século XX (1885-1920), São Paulo tornou-se uma espécie de sede da bur- guesia cafeeira – fazendeirosenriquecidos que construíram suas mansões na recém-inaugurada Avenida Paulista. Na época, o Brasil era governado pelos políticos da aliança “café com leite”, que se tratava de um reveza- mento de presidentes da República de origem mineira e paulista. O Rio de Janeiro, capital da República, passava por uma modernização estrutural. As ruas da cidade já contavam com trilhos para o novo veículo de massas: o bonde. Mas a sede do Governo Federal também era palco de rebeliões, como a famosa Revolta da Vacina (contra a vacinação obrigatória para conter a varíola). No cenário de um proletariado emergente, a cidade ia assistindo à ocupação das periferias desde a abolição da escravatura, em 1888. Com a imigração proletária intensiva, os socialistas e anarquistas passaram a ter atuação destacada: mo- vimentos populares, greves e revoltas avolumaram-se. Em 1917, uma greve marcou um dos mais importantes movimentos resultantes da politização do proletariado. Em São Paulo, cerca de 100 mil trabalhadores reivindica- ram melhores condições de vida. Nesse período, o maior conglomerado industrial do Brasil, São Paulo, também se firmou como centro político. Em 1922, foi fundado o Partido Comunista. 118 119 Um período de transição O momento histórico das duas primeiras décadas do século XX criou uma literatura social, cuja ênfase recaiu sobre a análise da realidade nacional com preocupações socioculturais. Voltada para os problemas sociais do País, essa nova literatura buscava o nacional autêntico sem a idealiza- ção das fórmulas europeias importadas. O Pré-modernismo abrangeu um período literário de transição compreen- dido entre 1902 e 1922, cujo marco inicial foi a publicação de Canaã, de Graça Aranha, e de Os sertões, de Euclides da Cunha, ambos em 1902. A Semana de Arte Moderna, em São Paulo, em 1922, marcou o fim do Pré-modernismo e a inauguração do movimento modernista no Brasil. Como em qualquer fase de transição, no Pré-modernismo coexistiram tendências opostas. O elemento novo leva tempo para ser implantado. As novidades injetadas na literatura social por Graça Aranha e Monteiro Lobato, por exemplo, foram sendo assimiladas aos poucos. Desse modo, a linguagem ornamental do Parnasianismo persistiu em muitos poetas daquele período, que escreviam ao gosto do público das camadas dominantes sem finalidade de denúncia, de análise ou de crítica. Perspectivas nacionalistas e renovação Típicas dessa fase de transição foram as obras de Graça Aranha, Euclides da Cunha, Lima Barreto e Monteiro Lo- bato. Todos produziram literatura de caráter nacionalista, mas com perspectivas diferentes. Graça Aranha renegou gradativamente o passado para se tornar uma das personalidades da Semana de Arte Moderna. Euclides da Cunha repensou o interior do País, completamente afastado do ufanismo social. Em Os sertões, trouxe uma voz inconformada com o massacre de Canudos e um retrato realista da situação do homem sertanejo. Lima Barreto foi o mais radical dos renovadores. Posicionou-se contra a literatura acadêmica e fez ressaltar a realidade triste dos subúrbios cariocas e as problemáticas atitudes de políticos tiranos e ineficazes. Monteiro Lobato fez uma literatura de advertência, sob a óptica da caricatura, denunciando a miséria cam- pesina e buscando uma sociedade moderna, como revelado neste trecho de Zé Brasil: Zé Brasil era um pobre coitado. Nasceu e sempre viveu em casebres de sapé e barro, desses de chão batido e sem mobília nenhuma – só a mesa encardida, o banco duro, o mocho de três pernas, os caixões, as cuias... Nem cama tinha. Zé Brasil sempre dormiu em esteira de tábua. Que mais na casa? A espingardinha, o pote d’água, o caco de cela, o rabo de tatu, a arca, o facão, um santinho na parede. Livros, só folhinhas – para ver as luas e se vai chover ou não, e aquele livrinho na Fontoura com história de Jeca Tatu. – Coitado desse Jeca! – dizia Zé Brasil olhando para aquelas figuras. Tal qual eu. Tudo que ele tinha eu também tenho. A mesma opilação, a mesma maleita, a mesma miséria e até o mesmo cachorrinho. Pois não é que o meu cachorro também se chama Joli?... (Monteiro Lobato. Zé Brasil. In: LAJOLO, Marisa. Monteiro Lobato. São Paulo: Abril Educação, 1981). Euclides da Cunha Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha (1866-1909) terminou o curso de Engenharia Militar, na Escola Superior de Guerra, em 1892. Trabalhou na construção da Estrada de Ferro Central do Brasil e, mais tarde, atuou na cidade de São Carlos do Pinhal, SP, como engenheiro-assistente, na Superintendência de Obras. Ao mesmo tempo, colaborava com artigos para o jornal O Estado de S. Paulo, que o convidou para ser correspondente em Canudos – cidade do interior da Bahia – durante o conflito entre o líder Antônio Conselheiro e as forças governistas. Permaneceu no sertão baiano, de agosto a outubro de 1897, e testemunhou o massacre de Canudos. Ao regressar, em 1899, foi transferido para o município de São José do Rio Pardo, no interior de São Paulo, onde deveria construir uma ponte sobre o rio Pardo. Lá escreveu Os sertões, obra que publicaria em 1902 e que o consagraria no panorama cultural brasileiro. Os sertões Os sertões situa-se entre a literatura, a sociologia e a ciência. Trata-se de uma análise sociocultural que revelou ao brasileiro um mundo desconhecido, de miséria absoluta. O rigor científico de Euclides da Cunha – de linha cienti- ficista do final do século XIX, que analisa o ser humano em razão de seu ambiente –, aliado à linguagem vibrante e pomposa, faz do livro uma fonte preciosa de informação e de expressão. Serviram de roteiro as reportagens que Euclides da Cunha, como correspondente especial, escrevera no dia a dia da guerra de Canudos. Armado de cultura técnico-científica, o engenheiro trouxe para Os sertões o vocabulário preciso de seu ofício, que foi organizado em três partes – a terra, o homem e a luta – com intuito de trazer ao leitor uma visão completa do que se passava em Canudos. Na primeira parte, o narrador descreve a terra, palco onde foi representada a trágica peleja entre brasileiros- -irmãos que se desconheciam e que o destino colocou no papel de antagonistas. Na segunda parte, retrata o homem brasileiro que se defronta naquele palco: de um lado, o sertanejo resis- tente; de outro, o militar incumbido de domá-lo. Emerge nesta parte a figura do chefe da revolta, Antônio Conse- lheiro, o sertanejo que representava todos os combatentes/lutadores, ponto de agregação para o qual convergiam as características da sociedade sertaneja. Nessa parte, alguns personagens secundários do sertão são trazidos à cena: Volta-Grande, Pajeú, Pedrão, João Abade, Trança-Pés, Boca-Torta, Chico-Ema, bem como os coronéis Moreira César e Tamarindo, o general Machado Bitencourt e muitos militares. Na terceira parte, finalmente, desenrola-se a luta, organizada em seis episódios: Preliminares, Travessia do comboio, Expedição Moreira César, Quarta expedição, Nova fase da luta e Últimos dias. 120 121 Lima Barreto Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922) teve uma infância difícil em um internato, pois perdera a mãe, uma professora, quando tinha apenas sete anos de idade. Aos 14, ingressou no curso superior na Escola Politécnica, no Rio de Janeiro, mas precisou abandoná-lo para cuidar do pai. Iniciou a vida profissional como escrevente, na Secretaria de Guerra, em 1903. Dois anos mais tarde, in- gressou no jornalismo, atuando no jornal Correio da Manhã, e na vida política, militando no Partido Operário Independente. Em 1909, estreou como escritor com a publicação, em Lisboa, do romance Recordações do escrivão Isaías Caminha. Em 1911, passou a publicar no Jornal do Comércio, em forma de folhetins o romance Triste fim de Poli-carpo Quaresma. Foi acolhido como grande jornalista e participou das lutas esquerdistas que culminaram na greve operária de 1917. Dominado pelo álcool, foi internado pela primeira vez em 1914. Em 1919, recolhido novamente ao sana- tório, escreveu Clara dos Anjos e o relato Cemitério dos vivos. Legítimo representante do Pré-modernismo, Lima Barreto nasceu no mesmo ano em que se iniciou o Realis- mo-Naturalismo no Brasil (1881) e morreu no mesmo ano em que se realizou a Semana de Arte Moderna (1922). Triste fim de Policarpo Quaresma Publicado em folhetins, em 1911, e depois em livro, em 1915, esse romance relata a vida do major Quaresma, que trabalha como subsecretário do Arsenal de Guerra. Nacionalista exaltado, julgava-se, pelas meditações patrióticas que fizera, em condições de lutar por reformas radicais no País. Estudioso das tradições folclóricas, defensor do modo de vida dos índios tupinambás e admirador das mo- dinhas populares, Quaresma considera que o povo brasileiro deveria emancipar-se. O major Quaresma é visto como louco e perigoso, depois de mandar um requerimento ao Congresso Na- cional sugerindo a adoção do tupi, língua indígena, como idioma oficial do Brasil. É suspenso temporariamente do trabalho, depois de traduzir um ofício para a língua indígena. Declarado louco, é internado em hospício, onde projeta reformas e mais reformas. Apenas o amigo fiel Ricardo Coração dos Outros, um violeiro, e a afilhada do major, Olga Coleoni, acreditam naquilo que Quaresma prega. Ao sair do hospício, seis meses depois, resolve defender uma reforma na agricultura brasileira. O seu sítio “Sossego” transforma-se em verdadeiro quartel-general da reforma agrária. Admirador do marechal Floriano Pei- xoto, Quaresma atrai para si mais ódio. Quando eclodiu a Revolta Armada, o major apoia Floriano e pretende lutar contra os rebeldes amotinados na baía de Guanabara em defensa da ordem republicana. Enquanto isso, os amigos militares só pensam em tirar proveito da revolta. Posteriormente, o próprio Floriano Peixoto chega a desprezar Quaresma. Já doente, quando do fim da revolta, Quaresma é preso e mandado para a ilha das Cobras, pena imposta por ele ter redigido um protesto em defesa dos presos. Nesse local, o personagem é injustamente fuzilado. Monteiro Lobato Monteiro Lobato nasceu em 18 de abril de 1882, em Taubaté, São Paulo. Foi um dos mais influentes escritores brasileiros. Muito criticado pelo seu conservadorismo, especialmente entre os modernistas, chegando a ser conside- rado por muitos preconceituoso, além de um crítico voraz da Semana de Arte Moderna, pois julgava o movimento fruto de teorias meteóricas e passageiras. De alguma maneira, equivocou-se em relação ao seu vaticínio, pois anta- gonizou aquela que foi a maior e mais importante escola literária e artística dos últimos tempos. Foi um importante editor, criando, em 1918, a “Lobato Editora”, além de ser o criador da Literatura Infantil no Brasil. Formou-se em Direito e atuou como promotor público. Antes de seu falecimento, em 1948, em São Paulo, Lobato também teve uma passagem política. Negrinha O conto “Negrinha” apresenta as ações das personagens centradas na figura da pobre órfã adotada e aquilo que acontece a sua volta. O conto mostra uma realidade em que a palavra negrinha, ao invés de ser um adjetivo, tornou-se um nome próprio. Narrado em terceira pessoa, o narrador apresenta a personagem órfã desde o seu nas- 122 123 cimento até a sua morte. Dona Inácia é patroa de Negrinha, caracterizada pela igreja como “excelente senhora”, uma vez que era uma mulher de muitos dotes, e que contribuía com sua riqueza regularmente com a Igreja. Daí, a ironia na fala do reverendo dizendo que Dona Inácia era uma: “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”. Para Dona Inácia, a Negrinha era como se fosse um animal doméstico, sem direitos, apenas sobrevivendo. Apesar disso, tudo que Dona Inácia fazia na sociedade era para construir a imagem de uma boa senhora, mas tratava de maneira cruel a Negrinha em sua casa. Qualquer coisa era motivo para que Negrinha apanhasse, recebesse xingamentos etc. Um dos exemplos que marca o sadismo e crueldade da patroa é a cena em que ela pede para a Negrinha abrir a boca e engolir um ovo recém-cozido. Da metade para o final do conto surgem as duas sobrinhas de Dona Inácia para passar as férias de dezem- bro. O que a princípio parecia uma coisa boa, pois pela primeira vez Negrinha pode brincar, logo se propõe uma realidade cruel, em que fica claro que ela é adotada e, mais do que isso, sempre colocada numa situação como se fosse um bichinho, um animal de estimação mesmo. Quando as meninas vão embora, dado o final das férias, a vida da pobre Negrinha volta ao normal, com os achaques da “Santa Inácia”, como ironicamente descrevia Lobato. Fato que é preponderante na narrativa, uma vez que diante da retomada de sua solidão existencial e de sua condição zoomórfica frente ao tratamento de sua dona, pouco tempo depois que as meninas brancas vão embora, ela morre. Seu falecimento deixa nítido que o fato de ela adoecer, na verdade, é um grito contra o mundo, um desfile de seu desgosto. Fraca e em estado de delírio, ela fica lembrando das brincadeiras que teve com as garotas brancas, brinquedo e bonecas. Trecho — Traga um ovo. Veio o ovo. Dona Inácia mesmo pô-lo na água a ferver; e de mãos à cinta, gozando-se na prelibação da tortura, ficou de pé uns minutos, à espera. Seus olhos contentes envolviam a mísera criança que, encolhidinha a um canto, aguardava trêmula alguma coisa de nunca visto. Quando o ovo chegou a ponto, a boa senhora chamou: — Venha cá! Negrinha aproximou-se. — Abra a boca! Negrinha abriu a boca, como o cuco, e fechou os olhos. A patroa, então, com uma colher, tirou da água “pulando” o ovo e zás! na boca da pequena. E antes que o urro de dor saísse, suas mãos amordaçaram-na até que o ovo arrefecesse. Negrinha urrou surdamente, pelo nariz. Esperneou. Mas só. Nem os vizinhos chegaram a perceber aquilo. moderNismo – Primeira geração Contexto histórico Na década de 1920, com a imigração e a industrialização, as cidades brasileiras passaram a crescer e antigos há- bitos começaram a se alterar: o consumismo, importado da Europa e dos Estados Unidos, bem como o surgimento de novos produtos culturais (cinema e rádio) canalizavam o gosto da classe média. Nessa época, o Brasil possuía uma população de 37 milhões de habitantes, dos quais 70% viviam na zona rural. As cidades do Rio de Janeiro (capital federal na época) e São Paulo (metrópole do café) passavam por grandes reformas urbanas com abertura de avenidas, cinemas, teatros, confeitarias e grandes edifícios. O ano de 1922, quando se realizou a Semana de Arte Moderna, também foi marcado pelo Centenário da Independência, pela fundação do Partido Comunista do Brasil e pela Revolução dos Tenentes, que explodiu em julho, com a sublevação do Clube Militar e a tomada do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro. O forte foi bombardeado por navios e 18 revoltosos enfrentaram três mil soldados legalistas. A Semana de Arte Moderna Do mesmo modo que as cidades passavam por reformas, a arte brasileira se remodelava, pelo repúdio ao acade- micismo da pintura tradicional. Já em 1913, Lasar Segall (1891-1957) capitaneou uma grande exposição de arte moderna, que provocou a mentalidade conservadora de São Paulo. Aldeia russa. Óleo sobre tela, 62,5 x 80,5 cm. 1912. Lasar Segall. Em 1917, foi a vez de Anita Malfatti (1889-1964), que organizou a exposição de 53 trabalhos, entre pintu- ras, aquarelas, caricaturas e gravuras, provocando violenta repercussão pela imprensa – o escritor Monteiro Lobato (1882-1942) publicou contra elao artigo denominado “Paranoia ou mistificação”, em 1917. A escultura brasileira também se desenvolveu nessa década, com a volta de Victor Brecheret, da Itália, em 1920. Ritmo [torso]. 1915–1916. Anita Malfatti. Di Cavalcanti 124 125 Em 1922, realizou-se a Semana de Arte Moderna, em São Paulo, cujo escândalo causado foi uma situação simétrica à insurreição dos tenentes. Entre os principais participantes do grupo que organizou a Semana estava Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Realizada na cidade de São Paulo, no período de 11 a 17 de fevereiro de 1922, a Semana de Arte Moderna desencadeou o início do Modernismo brasileiro e teve como participantes os es- critores Graça Aranha, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Ronald de Carvalho, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet e outros. Representaram as artes plásticas os artistas Anita Malfati, John Graz, Vicente de Rego Monteiro, Di Cavalcante, Victor Brecheret, Yan de Almeida Prado, entre outros. Os nomes relacionados à música foram Villa-Lobos, Paulina D’Ambrósio, Guiomar Novaes e Maria Emma. Foram três noites de um festival eclético, híbrido, quando diferentes tendências da modernidade artística co- existiram – desde os mais identificados com a vanguarda surrealista até os herdeiros do Decadentismo-Simbolismo europeu: houve defensores do Futurismo e do Cubismo. Mas o que se evidenciou foi o espírito moderno, cujo maior entusiasta foi Graça Aranha, que havia aderido aos jovens artistas de São Paulo. A conferência de abertura da Semana foi de sua autoria: a emoção estética na arte moderna. Nela, criticou duramente a Academia Brasileira de Letras pelo seu passadismo e por seu conservadorismo, causando reações de vaias e protestos. A grande noite da Semana foi a segunda, que ocorreu no dia 15 de fevereiro. Menotti Del Picchia discursou a respeito de arte e estética, ilustrando sua exposição com textos de Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Plínio Salgado. No entanto, foi Ronald de Carvalho quem causou o maior escândalo, ao declamar o poema “Os sapos”, de Manuel Bandeira, que não pôde estar presente. O público respondia ao refrão de seus versos: “Foi! Não foi! Foi! Não foi!”. Esse poema era um ataque aos parnasianos. Na noite do dia 17 de fevereiro, totalmente dedicada à música, o compositor Heitor Villa-Lobos, de casaca e chinelos, também causou incidentes na plateia. Entretanto, essa não era uma atitude futurista, mas sim um pro- blema no pé do músico. lguns jornais chegaram a noticiar que as agitações da Semana de Arte Moderna foram provocadas por seus realizadores. Se não se pode negar totalmente tal assertiva, também não se pode afirmá-la. Nesse sentido, a Semana cumpriu o papel proposto de “sacudir as águas estagnadas da arte brasileira”. Após a Semana O balanço da Semana de Arte Moderna foi positivo. Seus desdobramentos iniciaram-se no próprio ano de 1922. O projeto mais arrojado foi o lançamento do livro de poemas Pauliceia desvairada, de Mário de Andrade, em que expõe todos os seus projetos de vanguarda pela primeira vez: a poesia urbana, sintética, antirromântica, frag- mentária. Com isso, ele quis retratar a São Paulo cosmopolita, egoísta, burguesa. Na abertura do livro, o Prefácio interessantíssimo pode ser classificado como um verdadeiro manifesto irônico sobre a estética modernista. Leia alguns trechos: Leitor: Está fundado o Desvairismo [...] Não sou futurista (de Marinetti). Disse e repito-o. Tenho pontos de contacto com o futurismo. Oswald de Andrade, chamando-me de futurista, errou. A culpa é minha. Sabia da existência do artigo e deixei que saísse. Tal foi o escândalo, que desejei a morte do mundo. Era vaidoso. Quis sair da obscuridade. Hoje tenho orgulho. Não me pesaria entrar na obscuridade. Pensei que se discutiram minhas ideias (que nem são minhas): discutiram minhas intenções. Já agora não me calo. Tanto ridicularizaram meu silêncio como esta grita. Andarei a vida de braços no ar, como o “indiferente” de Watteau. A inspiração é fugaz, violenta. Qualquer empecilho a perturba e mesmo emudece. Arte, que, somada a Li- rismo, dá Poesia, não consiste em prejudicar a doida carreira do estado lírico para avisá-lo das pedras e cercas de arame do caminho. Deixe que tropece, caia e se fira. Arte é mondar mais tarde o poema de repetições fastientas, de sentimentalidades românticas, de pormenores inúteis ou inexpressivos. Belo da arte: arbitrário, convencional, transitório – questão de moda. Belo da natureza: imutável, objetivo, natural – tem a eternidade que a natureza tiver. Arte não consegue reproduzir a natureza, nem este é seu fim. Todos os grandes artistas, ora consciente (Rafael das Madonas, Rodin do Balzac, Beethoven da Pastoral, Machado de Assis de Brás Cubas), ora inconscientemente (a grande maioria), foram deformadores da natureza. Donde infiro que o belo artístico, tanto mais subjetivo quanto mais se afastar do belo natural. Outros infiram o que quiserem. Pouco me importa. E está acabada a escola poética “Desvairismo” Eu não quero discípulos. Em arte: escola = imbecilidade de muitos para a vaidade de um só (Mário de Andrade. Pauliceia desvairada. 1922.) Jovens artistas conseguiram bons espaços ainda em 1922, dando sequência a seus trabalhos. Oswald de Andrade lançou no mesmo ano o romance Os condenados, cuja narrativa fragmentária assimilava-se a um “mos- trar” cinematográfico. Sedimentou-se a carreira do maestro Heitor Villa-Lobos, após sua mostra na Semana. Outros participantes divulgaram-na por todo o País e mesmo fora: Ronald de Carvalho, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet. Características Poemas-piada e irreverência A descontração foi uma grande marca da literatura que se fez no primeiro tempo modernista. Muita ironia, sarcas- mo e irreverência caracterizam os poemas-piada, que satirizavam costumes passadistas e velhas escolas literárias. Ao lado disso, a enumeração caótica de ideais, a simultaneidade de cenas (trechos inteiros sem pontuação, versos descontínuos, elípticos), bem como a subversão das regras gramaticais. Tentava-se, desse modo, buscar a espontaneidade do discurso e levar em conta a linguagem dita inculta, com “erros de português” estrategicamente cometidos. Foi o caso de Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Manuel Bandeira, que pretendiam “arejar” a literatura brasileira de tantas roupagens aristocráticas que ela vestia. Erro de Português Quando o português chegou Debaixo de uma bruta chuva Vestiu o índio Que pena! Fosse uma manhã de sol O índio tinha despido O português Oswald de Andrade Vício na fala Para dizerem milho dizem mio Para melhor dizem mio Para pior pio Para telha dizem teia Para telhado dizem teiado E vão fazendo telhados Oswald de Andrade 126 127 Paródia e literatura popular A paródia serviu de base para a criatividade linguística e foi recurso para os escritores incorporarem criticamente o passado, dando início ao processo artístico modernista. O poema “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias, por exemplo, foi parodiado por Oswald de Andrade, Cassiano Ricardo, Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes. Canto de regresso à pátria Minha terra tem palmares Onde gorjeia o mar Os passarinhos daqui Não cantam como os de lá Minha terra tem mais rosas E quase que mais amores Minha terra tem mais ouro Minha terra tem mais terra [...] Não permita Deus que eu morra Sem que volte pra São Paulo Sem que veja a Rua 15 E o progresso de São Paulo Oswald de Andrade Canção do exílio Minha terra tem macieiras da Califórnia onde cantam gaturamos de Veneza. Os poetas da minha terra são pretos que vivem em torres de ametista, os sargentos do exército são monistas, cubistas, os filósofos são polacosvendendo a prestações. A gente não pode dormir com os oradores e os pernilongos. Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda. [...] Murilo Mendes Verso livre e fala popular Na poesia, a aproximação da fala popular foi possível pela utilização do verso livre. Poetas importantes como Ma- nuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade trouxeram a linguagem comum ou coloquial das cidades. O romance e o conto desenvolvidos no primeiro tempo modernista procuraram, na medida do possível, reproduzir a linguagem do povo – como também trabalhar temas populares. A utilização de formas da oralidade foi a marca dessa literatura: a fala italianada dos personagens de Alcân- tara Machado, os neologismos dos narradores de Oswald de Andrade, a língua brasileira de Mário de Andrade etc. Evocação do Recife [...] Recife sem mais nada Recife da minha infância A rua da união onde eu brincava de chicote-queimado [...] Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras Mexericos namoros risadas A gente brincava no meio da rua Os meninos gritavam: Coelho sai! Não sai! [...] Manuel Bandeira Mário de Andrade Mário, por Tarsila. O paulistano Mário de Andrade (1893-1945) não foi um estudante exemplar. Levava a escola com notas baixas, reprovações e recriminações. Mas a música foi o seu ponto forte, Em 1911, matriculado no Conservatório Dramá- tico e Musical de São Paulo, passava quase nove horas por dia estudando. E, no resto do tempo, lia tudo o que lhe caísse às mãos, logo adquirindo fama de erudito, apesar de os estudos regulares irem mal. Cédula de 500 mil cruzeiros homenageando Mário de Andrade (140 x 65 mm). 128 129 Em 1917, mesmo ano da morte de seu pai, concluiu o curso de piano no Conservatório. Passou a sobreviver das inúmeras aulas particulares de piano que ministrava. E, frequentador assíduo das rodas literárias, no chá das cinco na Confeitaria Vienense, conheceu Oswald de Andrade e Anita Malfatti, de quem se tornaria amigo insepa- rável. Também desse ano é o seu livro de estreia literária: Há uma gota de sangue em cada poema. Mas é com Pauliceia desvairada que vem o sucesso, tornando-se o livro de poemas uma espécie de bandeira do movimento modernista, pelo liberalismo formal da obra rompida com qualquer esquema tradicional: versos livres, métrica informal, subversão total de valores anteriormente apregoados pelos poetas perfeccionistas, como os parnasianos. É de Pauliceia desvairada este poema. Nele, a associação livre de ideias mais os versos aparentemente desconexos contribuem para a imagem do “desvairismo” e da “polifonia” que o poeta quer transmitir: Inspiração São Paulo! comoção de minha vida... Os meus amores são flores feitas de original... Arlequinal!... Trajes de losangos... Cinza e ouro... Luz e bruma... Forno e inverno morno... Elegâncias sutis sem escândalos, sem escândalos, sem ciúmes... Perfumes de Paris... Arys! Bofetadas líricas no Trianon... Algodoal!... São Paulo! comoção de minha vida... Galicismo a berrar nos desertos da América! Mário de Andrade Com O losango cáqui e Lira paulistana, Mário de Andrade obedece ao fluxo do inconsciente, fazendo asso- ciação livre sobre temas do cotidiano. A obra ficcional de Mário de Andrade, por sua vez, revela um escritor preocupado com técnicas narrativas vanguardistas, além da incorporação das expressões autenticamente brasileiras – o que imprime ao conjunto uma originalidade sem precedentes. Em Amar, verbo intransitivo, descreve a vida burguesa de São Paulo, “desmascarando seus ridículos e seus preconceitos”, como ensina João Luiz Lafetá. Mas é com Macunaíma, o herói sem nenhum caráter que Mário de Andrade produz sua obra-prima em ma- téria ficcional. Uma combinatória das lendas indígenas transpostas para a área metropolitana (São Paulo), mais a justaposição de trechos em colagem, anedotas populares, incorporação de mitos, fazem dessa obra uma rapsódia, aludindo a esse processo de composição (justaposição) semelhante à forma musical de mesmo nome. No livro Remate de males, publicado em 1930, Mário de Andrade reúne diversas composições em vários estilos, escritas durante os anos 1920, desde o vanguardismo até a lírica equilibrada e contida, passando pelo nacionalismo. Este poema é extraído dessa obra e alude a essa diversidade de linguagem e modos de ser. Eu sou trezentos... Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta, As sensações renascem de si mesmas sem repouso, Ôh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras! Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro! Abraço no meu leito as milhores palavras, E os suspiros que dou são violinos alheios; Eu piso a terra como quem descobre a furto Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos! Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta, Mas um dia afinal eu toparei comigo... Tenhamos paciência, andorinhas curtas, Só o esquecimento é que condensa, E então minha alma servirá de abrigo. Mário de Andrade Macunaíma Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, romance de 1928, foi batizado por Mário de Andrade como rapsódia, um tipo de composição feita a partir dos cantos tradicionais ou populares. Fruto de longos estudos de Mário acerca da mitologia indígena e do folclore sul-americano, é uma narrativa de estrutura inovadora. Logo de início, são apresentados o herói, Macunaíma, sua mãe e seus irmãos, Maanape e Jiquê, índios tapanhumas, que vivem às margens do rio Uraricoera. Essa situação inicial é rompida com a morte da mãe. Os irmãos partem da terra natal em busca de aventuras. Macunaíma encontra Ci, a Mãe do Mato, rainha das icamiabas, tribo de amazonas. Depois de dominá-la, faz dela sua mulher e torna-se imperador do Mato-Virgem. Ci dá à luz um filho, que morre. Ela também falece, em seguida, transformando-se em estrela. Antes de morrer, ela dá um amuleto a Macunaíma: é a muiraquitã, uma pedra verde em forma de sáurio. Macunaíma perde o amuleto, que vai parar nas mãos de Venceslau Pietro Pietra, um mascate peruano, conhecido como o Gigante Piaimã, comedor de gente. O gigante mora em São Paulo, a cidade macota (a maior) do igarapé Tietê. Macunaíma e seus irmãos descem o rio Araguaia em direção à cidade macota, a fim de recuperar o amuleto. A maior parte da narrativa se passa em São Paulo e consiste nos diversos embates entre Macunaíma e o gigante. Muitos aspectos da vida paulistana são aí satirizados. Inicia-se, então, seu antagonismo com Vei, a deusa- -sol, que oferecerá ao herói uma de suas três filhas em casamento. Entretanto, Macunaíma deixa-se seduzir por uma varina (vendedora ambulante) portuguesa e começa a namorá-la, perdendo a possibilidade de se casar com uma das filhas de Vei. Macunaíma consegue matar Piaimã e recuperar a muiraquitã, partindo de volta ao Uraricoera. Por fim, Vei se vinga. Ela manda um forte calor, que estimula a sensualidade do herói e o lança nos braços de uma uiara (mãe-d’ água) traiçoeira, que o mutila e o faz perder para sempre a muiraquitã. No final, quando o herói já não “acha graça nesta terra”, foi para o Céu, ser a constelação Ursa Maior. O batizado de Macunaíma. Óleo sobre tela, 132,5 x 250 cm. 1956. Tarsila do Amaral. 130 131 Capítulo I No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhu- mas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma. Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam a falar exclamava: – Ai! que preguiça!... [...] Oswald de Andrade José Oswald de Sousa Andrade (1890-1954) viveu em Paris, de 1912 a 1917, onde foi influenciado pelas ideias futuristas.A participação ativa dele na Semana de Arte Moderna de 1922 é seguida de uma segunda viagem à Europa. De personalidade polêmica, Oswald de Andrade foi responsável por vários manifestos, entre eles o “Mani- festo antropófago” e o “Manifesto pau-brasil” (1924). Foi casado com a pintora Tarsila do Amaral e, posteriormen- te, com Patrícia Galvão. Pondo fim aos modelos poéticos importados, cuja qualidade estava na grandiloquência e na seriedade, Oswald de Andrade partiu para a paródia, a linguagem coloquial, o humor – tendo como eixo a temática brasileira. É realmente sem fórmulas que se deve encarar a poesia oswaldiana – já que ele mesmo apontou o caminho: ver as coisas com os olhos livres. No primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade, segundo Haroldo de Campos, “o Poeta senta a poesia no banco da escola primária para restituir-se e restituir-lhe a pureza da descober- ta infantil”, que se percebe, por exemplo, na composição “Infância” transcrita a seguir: O camisolão O jarro O passarinho O oceano A visita na asa que a gente sentava no sofá. Em 1924, Oswald de Andrade, sempre sob a égide de renovação, publicou Memórias sentimentais de João Miramar, romance visto por muitos como a primeira grande realização da prosa modernista. A montagem fragmen- tária, cujo único eixo é o personagem João Miramar, inaugurava o que ficou conhecido como a “estética do frag- mentário”, ou seja, uma técnica de montagem de texto em blocos, sem sequência do discurso, sugerindo, portanto, também uma realidade não linear. Rompia, pois, com os esquemas mais tradicionais da narrativa, impossibilitando uma leitura linear da história. A esse respeito, comenta Jorge Schwartz: “Uma série de incentivos traços de estilo combinada a um agudo senso crítico da sociedade da época fazem desse texto uma grande obra de vanguarda”. No dia 1º de abril de 1930, casou-se com Patricia Galvão (Pagu), numa cerimônia pouco convencional. O acontecimento foi simbólico, realizado no Cemitério da Consolação, em São Paulo. Mais tarde, retrataram-se na igreja. Escreve “A casa e a língua”, em defesa da arquitetura de Warchavchik. Nasce seu filho Rudá Poronominare Galvão de Andrade, com a escritora Patrícia Galvão (Pagu). É preso pela polícia do Rio de Janeiro por ameaçar o antigo amigo, poeta Olegário Mariano. O “Manifesto antropófago” foi publicado no primeiro número da Revista de Antropofagia, em maio de 1928. Trazia o desenho de Tarsila do Amaral conhecido como “Abaporu”, que seria pintado em tela sobre óleo, em 1929. O nome da tela em ‘tupi-guarani’ tem o mesmo significado de “antropófago”, ou seja, “que come carne humana”. A ideia do manifesto era essa: deglutir a cultura vinda de fora e desenvolvê-la com a cor brasileira. Sendo a antropofagia um relevante aspecto da cultura histórica brasileira, no século XVI colonial, esse costume de ca- nibalismo consistia em devorar somente os inimigos mais inteligentes, os melhores guerreiros, com o objetivo de aproveitar suas virtudes. Os modernistas criticam a absorção de uma cultura europeia sem digeri-la, como foi o caso de movimentos culturais do passado. A proposta do manifesto era conseguir essa digestão. Trecho do Manifesto antropófago Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz. Tupi, or not tupi that is the question. Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos. Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago. Estamos fatigados de todos os maridos católicos suspeitosos postos em drama. Freud acabou com o enigma mulher e com outros sustos da psicologia impressa. Manuel Bandeira Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (1886-1968) foi educado para a arquitetura, tanto é que, em 1903, ma- triculou-se na Escola Politécnica de São Paulo. Mas, apanhado pela tuberculose, abandonou os estudos para tentar a cura da doença. Por isso, a participação de Manuel Bandeira na Semana de Arte Moderna foi indireta; como já explicado, ocorreu por meio do poema “Os sapos”, declamado por Ronald de Carvalho em meio a vaias. Em 1940, Manuel Bandeira foi convidado para concorrer à Academia Brasileira de Letras. Eleito, hesitou, 132 133 mas tomou posse. A partir de 1943, lecionou literatura hispano-americana na Faculdade Nacional de Filosofia. Fez várias traduções, escreveu para jornal e rádio. Produziu intensamente. Ao completar 80 anos, em 1966, publicou Estrela da vida inteira. Poeta do coloquial e do prosaico, seu trabalho com a linguagem, no sentido de buscar sempre o estritamen- te necessário para a comunicação, tem como resultado uma poesia que caminha para o despojamento, desde sua estreia em 1917, com Cinza das horas. Em Carnaval, explica Sérgio Buarque de Holanda: “sua voz faz-se satirizante com Os sapos, poema que seria uma espécie de hino nacional dos modernistas”. O prosaísmo de Bandeira começa a emergir com mais frequência em Ritmo dissoluto (1924). Mas é com Libertinagem (1930) que se pode ver a consolidação de sua poesia com a ideia de liberdade estética. Libertinagem é composta de poemas prosaicos, com temática existencial e grande exploração de cenas e imagens brasileiras. Bandeira rompeu tradições poéticas, introduzindo o coloquialismo na poesia, tornando-se arauto do verso livre, alçando o cotidiano ao plano estético, mas não renegou heranças valiosas, como a dos românticos em sua extensa obra poética. Poética, poema publicado em Libertinagem, funciona como um verdadeiro manifesto da estética libertada. Poética Estou farto do lirismo comedido Do lirismo bem comportado Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de [apreço ao Sr. diretor. Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um [vocábulo. Abaixo os puristas Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis Estou farto do lirismo namorador Político Raquítico Sifilítico De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo De resto não é lirismo Será contabilidade tabela de cossenos secretário do amante exemplar com cem [modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres etc. Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbedos O lirismo difícil e pungente dos bêbedos O lirismo dos clowns de Shakespeare – Não quero mais saber do lirismo que não é libertação. (Manuel Bandeira) 134 aPlicação dos coNhecimeNtos - sala TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. Abatidos pelo fadinho harmonioso e nostálgico dos desterrados, iam todos, até mesmo os brasilei- ros, se concentrando e caindo em tristeza; mas, de repente, o cavaquinho de Porfiro, acompanhado pelo violão do Firmo, romperam vibrantemente com um chorado baiano. Nada mais que os primeiros acordes da música crioula para que o sangue de toda aquela gente despertasse logo, como se alguém lhe fustigasse o corpo com urtigas bravas. E seguiram-se outras notas, e outras, cada vez mas ardentes e mais delirantes. Já não eram dois instrumentos que soa- vam, eram lúbricos gemidos e suspiros soltos em torrente, a correrem serpenteando, como cobras numa floresta incendiada; eram ais convulsos, chorados em frenesi de amor música feita de beijos e soluços gostosos; carícia de fera, carícia de doer, fazendo estala de gozo. AZEVEDO, A. O cortiço. São Paulo: Ática, 1983 (fragmento). 1. No romance O cortiço (1890), de Aluizio Azevedo, as personagens são observadas como elementos coletivos caracterizados por condicionantesde origem social, sexo e etnia. Na passagem transcrita, o confronto entre brasileiros e portugueses revela prevalência do elemento brasileiro, pois: a) destaca o nome de personagens brasileiras e omite o de personagens portuguesas. b) exalta a força do cenário natural brasileiro e considera o do português inexpressivo. c) mostra o poder envolvente da música brasileira, que cala o fado português. d) destaca o sentimentalismo brasileiro, contrário à tristeza dos portugueses. e) atribui aos brasileiros uma habilidade maior com instrumentos musicais. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. Negrinha Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados. Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozi- nha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças. Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tem- po. Uma virtuosa senhora em suma – “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o reverendo. Ótima, a dona Inácia. Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva. [...] A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senho- ra de escravos – e daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e estalar o bacalhau. Nunca se afizera ao regime novo – essa indecência de negro igual. LOBATO, M. Negrinha. In: MORICONE, I. Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000 (fragmento). 2. A narrativa focaliza um momento histórico-social de valores contraditórios. Essa contradição infe- re-se, no contexto, pela: a) falta de aproximação entre a menina e a senhora, preocupada com as amigas. b) receptividade da senhora para com os padres, mas deselegante para com as beatas. c) ironia do padre a respeito da senhora, que era perversa com as crianças. d) resistência da senhora em aceitar a liberdade dos negros, evidenciada no final do texto. e) rejeição aos criados por parte da senhora, que preferia tratá-los com castigos. 135 TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. Texto I Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não jul- gasse, e razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado e partilha- do por todos vos. Nós somos irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos povoados, não porque soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. E este mesmo o sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que, como a própria vida, resiste as idades e as épocas. RIO. J. A rua. In: A alma encantadora das ruas. São Paulo: Companhia das Letras, 2008 (fragmento). Texto II A rua dava-lhe uma forca de fisionomia, mais consciência dela. Como se sentia estar no seu reino, na região em que era rainha e imperatriz. O olhar cobiçoso dos homens e o de inveja das mulheres acabavam o sentimento de sua personalidade, exaltavam-no ate. Dirigiuse para a rua do Catete com o seu passo miúdo e solido. [...] No caminho trocou cumprimento com as raparigas pobres de uma casa de cômodos da vizinhança. [...] E debaixo dos olhares maravilhados das pobres raparigas, ela continuou o seu caminho, arre- panhando a saia, satisfeita que nem uma duquesa atravessando os seus domínios. BARRETO, L. Um e outro. in: Clara dos Anjos. Rio de Janeiro: Editora Mérito (fragmento). 3. A experiência urbana e um tema recorrente em crônicas, contos e romances do final do século XIX e início do XX, muitos dos quais elegem a rua para explorar essa experiência. Nos fragmentos I e II, a rua é vista, respectivamente, como lugar que: a) desperta sensações contraditórias e desejo de reconhecimento. b) favorece o cultivo da intimidade e a exposição dos dotes físicos. c) possibilita vínculos pessoais duradouros e encontros casuais. d) propicia o sentido de comunidade e a exibição pessoal. e) promove o anonimato e a segregação social. TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilida- des. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem... Em que lhe contribuía para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das coisas do tupi, do folk-lore, das suas tentativas agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma! O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma de- cepção. E a agricultura? Nada. As terras não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando o seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele a viu combater como feras? Pois não a via matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, um encadeamento de decepções. A pátria que quisera ter era um mito; um fantasma criado por ele no silêncio de seu gabinete. BARRETO, L. Triste fim de Policarpo Quaresma. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 8 nov. 2011. 4. O romance Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, foi publicado em 1911. No fragmen- to destacado, a reação do personagem aos desdobramentos de suas iniciativas patrióticas evidencia que: a) a dedicação de Policarpo Quaresma ao conhecimento da natureza brasileira levou-o a estudar inutili- dades, mas possibilitou-lhe uma visão mais ampla do país. b) a curiosidade em relação aos heróis da pátria levou-o ao ideal de prosperidade e democracia que o personagem encontra no contexto republicano. c) a construção de uma pátria a partir de elementos míticos, como a cordialidade do povo, a riqueza do solo e a pureza linguística, conduz à frustração ideológica. d) a propensão do brasileiro ao riso, ao escárnio, justifica a reação de decepção e desistência de Policarpo Quaresma, que prefere resguardar-se em seu gabinete. e) a certeza da fertilidade da terra e da produção agrícola incondicional faz parte de um projeto ideoló- gico salvacionista, tal como foi difundido na época do autor. 136 5. Estrada Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho, Interessa mais que uma avenida urbana. Nas cidades todas as pessoas se parecem. Todo mundo é igual. Todo mundo é toda a gente. Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma. Cada criatura é única. Até os cães. Estes cães da roça parecem homens de ne- gócios: Andam sempre preocupados. E quanta gente vem e vai! E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar: Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um bodezinho manhoso. Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz dos símbolos, Que a vida passa! que a vida passa! E que a mocidade vai acabar. BANDEIRA, M. O ritmo dissoluto. Rio de Janeiro: Aguilar 1967. A lírica de Manuel Bandeira é pautada na apreensão de significados profundos a partir de elementos do cotidiano. No poema Estrada, o lirismo presente no contraste entre campo e cidade aponta para: a) o desejo do eu lírico de resgatar a movimen- tação dos centros urbanos, o que revela sua nostalgia com relação à cidade. b) a percepção do caráter efêmero da vida, pos- sibilitada pela observação da aparente inér- cia da vida rural. c) opção do eu lírico pelo espaço bucólico como possibilidade de meditação sobre a sua ju- ventude. d) a visão negativa da passagemdo tempo, vis- to que esta gera insegurança. e) a profunda sensação de medo gerada pela reflexão acerca da morte. raio X 1. No excerto de O Cortiço, de Aluísio de Aze- vedo, descreve-se a mudança de postura do grupo que se reunia para ouvir o som me- lancólico do cavaquinho de Porfiro e que, de repente, é surpreendido pelo ritmo vibran- te do violão de Firmo. A nostalgia do fado é substituída pelo som envolvente e pleno de luxúria de um chorado baiano que contagia o grupo. 2. Monteiro Lobato, autor inserido no período pré-modernista, apresenta a personagem “Patroa” como uma mulher “amimada” pelos padres, com “camarote de luxo reservado no céu”, referida pelos padres como uma “dama de grandes e virtudes apostólicas”. Percebe- -se a ironia do narrador (não do padre, como refere a opção d)) quando a apresenta como uma mulher maldosa e racista, pois gostava de “judiar de crianças” e nunca aceitara a liberdade dos negros. 3. O texto I explora a vivência das sensações perceptíveis na “alma encantadora das ruas” e compartilhada com a comunidade, pois o narrador coloca em evidência que esse espa- ço é fator de agregação (“nos une, nivela e agremia”). O texto II apresenta o persona- gem satisfeito com as sensações que desper- ta nos outros (“O olhar cobiçoso dos homens e o de inveja das mulheres”) ao exibir os seus atributos físicos. 4. É correta a opção [C], pois o fragmento des- tacado é revelador de reflexões amargas e da desilusão de Policarpo sobre os três projetos (linguístico, agrícola e político) que havia idealizado para ao Brasil e não tinham dado certo. Ridicularizado por todos e acusado de traição à pátria, tem consciência de que o país que sonhara nada tinha a ver com a rea- lidade que o cercava e todos os seus esforços haviam sido inúteis e ingênuos. 5. Os dois últimos versos do poema (“Que a vida passa! que a vida passa! /E que a moci- dade vai acabar“) enfatizam a efemeridade da vida, o caráter transitório do momento percebido na paisagem bucólica e propícia à meditação em que o eu lírico está imerso (“E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar: /Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um /bodezinho manhoso”) gabarito 1. C 2. D 3. A 4. C 5. B 137 Prescrição: Para resolver os exercícios dessa aula, será necessário estabelecer relações entre um texto literário e o momento em que foi produzido; analisar os procedimentos de construção do texto literário, associando-os à forma como os artistas de determinadas geração concebem a arte; e refletir sobre como os valores sociais e humanos presentes na cultura do lugar em que vive são integrados ao patrimônio literário nacional. Prática dos coNhecimeNtos - e.o. 1. (ENEM) TEXTO I Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até o esgotamento completo. Vencido palmo a palmo, na preci- são integral do termo, caiu no dia 5, ao en- tardecer, quando caíram os seus últimos de- fensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosa- mente cinco mil soldados. CUNHA, E. Os sertões. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1987. TEXTO II Na trincheira, no centro do reduto, perma- neciam quatro fanáticos sobreviventes do extermínio. Era um velho, coxo por ferimen- to e usando uniforme da Guarda Católica, um rapaz de 16 a 18 anos, um preto alto e ma- gro, e um caboclo. Ao serem intimados para deporem as armas, investiram com enorme fúria. Assim estava terminada e de manei- ra tão trágica a sanguinosa guerra, que o banditismo e o fanatismo traziam acesa por longos meses, naquele recanto do território nacional. SOARES, H. M. A Guerra de Canudos. Rio de Janeiro: Altina, 1902. Os relatos do último ato da Guerra de Ca- nudos fazem uso de representações que se perpetuariam na memória construída sobre o conflito. Nesse sentido, cada autor carac- terizou a atitude dos sertanejos, respectiva- mente, como fruto da: a) manipulação e incompetência. b) ignorância e solidariedade. c) hesitação e obstinação. d) esperança e valentia. e) bravura e loucura. 2. (ENEM) Vei, a Sol Ora o pássaro careceu de fazer necessidade, fez e o herói ficou escorrendo sujeira de uru- bu. Já era de madrugadinha e o tempo es- tava inteiramente frio. Macunaíma acordou tremendo, todo lambuzado. Assim mesmo examinou bem a pedra mirim da ilhota para vê si não havia alguma cova com dinheiro enterrado. Não havia não. Nem a correnti- nha encantada de prata que indica pro es- colhido, tesouro de holandês. Havia só as formigas jaquitaguas ruivinhas. Então passou Caiuanogue, a estrela da ma- nhã. Macunaíma já meio enjoado de tanto viver pediu pra ela que o carregasse pro céu. Caiuanogue foi se chegando porém o herói fedia muito. – Vá tomar banho! – ela fez. E foi-se embora. Assim nasceu a expressão “Vá tomar banho” que os brasileiros empregam se referindo a certos imigrantes europeus. ANDRADE, M. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Rio de Janeiro: Agir, 2008. O fragmento de texto faz parte do capítulo VII, intitulado “Vei, a Sol”, do livro Macu- naíma, de Mário de Andrade, pertencente à primeira fase do Modernismo brasileiro. Considerando a linguagem empregada pelo narrador, é possível identificar: a) resquícios do discurso naturalista usado pe- los escritores do século XIX. b) ausência de linearidade no tratamento do tempo, recurso comum ao texto narrativo da primeira fase modernista. c) referência à fauna como meio de denunciar o primitivismo e o atraso de algumas regiões do país. d) descrição preconceituosa dos tipos popula- res brasileiros, representados por Macunaí- ma e Caiuanogue. e) uso da linguagem coloquial e de temáticas do lendário brasileiro como meio de valori- zação da cultura popular nacional. 138 3. (ENEM) O peru de Natal O nosso primeiro Natal de família, depois da morte de meu pai acontecida cinco meses antes, foi de consequências decisivas para a felicidade familiar. Nós sempre fôramos familiarmente felizes, nesse sentido muito abstrato da felicidade: gente honesta, sem crimes, lar sem brigas internas nem graves dificuldades econômicas. Mas, devido princi- palmente à natureza cinzenta de meu pai, ser desprovido de qualquer lirismo, duma exem- plaridade incapaz, acolchoado no medíocre, sempre nos faltara aquele aproveitamento da vida, aquele gosto pelas felicidades mate- riais, um vinho bom, uma estação de águas, aquisição de geladeira, coisas assim. Meu pai fora de um bom errado, quase dramático, o puro-sangue dos desmancha-prazeres. ANDRADE, M. In: MORICONI, I. Os cem melhores contos brasileiros do século.São Paulo: Objetiva, 2000 (fragmento). No fragmento do conto de Mário de Andrade, o tom confessional do narrador em primei- ra pessoa revela uma concepção das relações humanas marcada por: a) distanciamento de estados de espírito acen- tuado pelo papel das gerações. b) relevância dos festejos religiosos em família na sociedade moderna. c) preocupação econômica em uma sociedade urbana em crise. d) consumo de bens materiais por parte de jo- vens, adultos e idosos. e) pesar e reação de luto diante da morte de um familiar querido. 4. (ENEM) Em junho de 1913, embarquei para a Europa a fim de me tratar num sanatório suíço. Escolhi o de Clavadel, perto de Davos- -Platz, porque a respeito dele me falara João Luso, que ali passara um inverno com a senho- ra. Mais tarde vim a saber que antes de existir no lugar um sanatório, lá estivera por algum tempo Antônio Nobre. “Ao cair das folhas”, um de seus mais belos sonetos, talvez o meu predileto, está datado de “Clavadel, outubro, 1895”. Fiquei na Suíça até outubro de 1914. BANDEIRA, M. Poesia completae prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985. No relato de memórias do autor, entre os recursos usados para organizar a sequência dos eventos narrados, destaca-se a: a) construção de frases curtas a fim de conferir dinamicidade ao texto. b) presença de advérbios de lugar para indicar a progressão dos fatos. c) alternância de tempos do pretérito para or- denar os acontecimentos. d) inclusão de enunciados com comentários e avaliações pessoais. e) alusão a pessoas marcantes na trajetória de vida do escritor. 5. (ENEM) Evocação do Recife A vida não me chegava pelos jornais nem pe- los livros Vinha da boca do povo na língua errada do povo Língua certa do povo Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil Ao passo que nós O que fazemos É macaquear A sintaxe lusíada… BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007. Segundo o poema de Manuel Bandeira, as variações linguísticas originárias das classes populares devem ser: a) satirizadas, pois as várias formas de se falar o português no Brasil ferem a língua portu- guesa autêntica. b) questionadas, pois o povo brasileiro esquece a sintaxe da língua portuguesa. c) subestimadas, pois o português “gostoso” de Portugal deve ser a referência de correção linguística. d) reconhecidas, pois a formação cultural brasi- leira é garantida por meio da fala do povo. e) reelaboradas, pois o povo “macaqueia” a lín- gua portuguesa original. 6. (ENEM) Camelôs Abençoado seja o camelô dos brinquedos de tostão: O que vende balõezinhos de cor O macaquinho que trepa no coqueiro O cachorrinho que bate com o rabo Os homenzinhos que jogam boxe A perereca verde que de repente dá um pulo que engraçado E as canetinhas-tinteiro que jamais escreve- rão coisa alguma. Alegria das calçadas Uns falam pelos cotovelos: — “O cavalheiro chega em casa e diz: Meu filho, vai buscar um pedaço de banana para eu [acender o charuto. Naturalmente o menino pensará: Papai está malu...” Outros, coitados, têm a língua atada. Todos porém sabem mexer nos cordéis como o tino ingênuo de demiurgos de inutilida- des. E ensinam no tumulto das ruas os mitos he- roicos da meninice... E dão aos homens que passam preocupados ou tristes uma lição de infância. BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007. 139 Uma das diretrizes do Modernismo foi a percepção de elementos do cotidiano como matéria de inspiração poética. O poema de Manuel Bandeira exemplifica essa tendência e alcança expressividade porque: a) realiza um inventário dos elementos lúdicos tradicionais da criança brasileira. b) promove uma reflexão sobre a realidade de pobreza dos centros urbanos. c) traduz em linguagem lírica o mosaico de ele- mentos de significação corriqueira. d) introduz a interlocução como mecanismo de construção de uma poética nova. e) constata a condição melancólica dos homens distantes da simplicidade infantil. 7. (ENEM) Cena O canivete voou E o negro comprado na cadeia Estatelou de costas E bateu coa cabeça na pedra ANDRADE, O. Pau-brasil. São Paulo: Globo, 2001. O Modernismo representou uma ruptura com os padrões formais e temáticos até então vi- gentes na literatura brasileira. Seguindo es- ses aspectos, o que caracteriza o poema Cena como modernista é o(a): a) construção linguística por meio de neologismo. b) estabelecimento de um campo semântico inusitado. c) configuração de um sentimentalismo conci- so e irônico. d) subversão de lugares-comuns tradicionais. e) uso da técnica de montagem de imagens jus- tapostas. 8. (ENEM) O poema de Oswald de Andrade remonta à ideia de que a brasilidade está relacionada ao futebol. Quanto à questão da identidade nacional, as anotações em torno dos versos constituem: a) direcionamentos possíveis para uma leitura crítica de dados histórico-culturais. b) forma clássica da construção poética brasi- leira. c) rejeição à ideia do Brasil como o país do fu- tebol. d) intervenções de um leitor estrangeiro no exercício de leitura poética. e) lembretes de palavras tipicamente brasilei- ras substitutivas das originais. 9. (Enem) Só é meu O país que trago dentro da alma. Entro nele sem passaporte Como em minha casa. [...] As ruas me pertencem. Mas não há casas nas ruas, As casas foram destruídas desde a minha in- fância. Os seus habitantes vagueiam no espaço À procura de um lar. Só é meu O mundo que trago dentro da alma. BANDEIRA, M. “Um poema de Chagall”. In: Estrela da vida inteira: poemas traduzidos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,1993 (fragmento). A arte, em suas diversas manifestações, des- perta sentimentos que atravessam fronteiras culturais. Relacionando a temática do texto com a imagem, percebe-se a ligação entre a: a) alegria e a satisfação na produção das obras modernistas. b) memória e a lembrança passadas no íntimo do enunciador. c) saudade e o refúgio encontrados pelo homem na natureza. d) lembrança e o rancor relacionados ao seu ofí- cio original. e) exaustão e o medo impostos ao corpo de todo artista. 140 10. (ENEM) Sambinha Vêm duas costureirinhas pela rua das Pal- meiras. Afobadas braços dados depressinha Bonitas, Senhor! que até dão vontade pros homens da rua. As costureirinhas vão explorando perigos... Vestido é de seda. Roupa-branca é de morim. Falando conversas fiadas As duas costureirinhas passam por mim. — Você vai? — Não vou não? Parece que a rua parou pra escutá-las. Nem trilhos sapecas Jogam mais bondes um pro outro. E o Sol da tardinha de abril Espia entre as pálpebras sapiroquentas de duas nuvens. As nuvens são vermelhas. A tardinha cor-de-rosa. Fiquei querendo bem aquelas duas costurei- rinhas... Fizeram-me peito batendo Tão bonitas, tão modernas, tão brasileiras! Isto é... Uma era ítalo-brasileira. Outra era áfrico-brasileira. Uma era banca. Outra era preta. ANDRADE, M. Os melhores poemas. São Paulo: Global, 1988. Os poetas do Modernismo, sobretudo em sua primeira fase, procuraram incorporar a ora- lidade ao fazer poético, como parte de seu projeto de configuração de uma identidade linguística e nacional. No poema de Mário de Andrade, esse projeto revela-se, pois: a) o poema capta uma cena do cotidiano – o caminhar de duas costureirinhas pela rua das Palmeiras – mas o andamento dos versos é truncado, o que faz com que o evento per- ca a naturalidade. b) a sensibilidade do eu poético parece captar o movimento dançante das costureirinhas – depressinha – que, em última instância, representam um Brasil de “todas as cores”. c) o excesso de liberdade usado pelo poeta ao desrespeitar regras gramaticais, como as de pontuação, prejudica a compreensão do poe- ma. d) a sensibilidade do artista não escapa do viés machista que marcava a sociedade do início do século XX, machismo expresso em “que até dão vontade pros homens da rua”. e) o eu poético usa de ironia ao dizer da emo- ção de ver moças “tão modernas, tão brasi- leiras”, pois faz questão de afirmar as ori- gens africana e italiana das mesmas. 11. (ENEM) O trovador Sentimentos em mim do asperamente dos homens das primeiras eras... As primaveras de sarcasmo intermitentemente no meu coração arlequi- nal... Intermitentemente... Outras vezes é um doente, um frio na minha alma doente como um longo som redondo... Cantabona! Cantabona! Dlorom ... Sou um tupi tangendo um alaúde! ANDRADE, M. In: MANFIO, D. Z. (Org.) Poesias completas de Mário de Andrade. Belo Horizonte: Itatiaia, 2005. Cara ao Modernismo, a questão da identida- de nacional é recorrente na prosa e na poe- sia de Máriode Andrade. Em O trovador, esse aspecto é a) abordado subliminarmente, por meio de expressões como “coração arlequinal” que, evocando o carnaval, remete à brasilidade. b) verificado já no título, que remete aos re- pentistas nordestinos, estudados por Mário de Andrade em suas viagens e pesquisas fol- clóricas. c) lamentado pelo eu lírico, tanto no uso de expressões como “Sentimentos em mim do asperamente” (v. 1), “frio” (v. 6), “alma do- ente” (v. 7), como pelo som triste do alaúde “Dlorom” (v. 9). d) problematizado na oposição tupi (selvagem) x alaúde (civilizado), apontando a síntese nacional que seria proposta no Manifesto Antropófago, de Oswaldo de Andrade. e) exaltado pelo eu lírico, que evoca os “senti- mentos dos homens das primeiras eras” para mostrar o orgulho brasileiro por suas raízes indígenas. 12. (ENEM) Estrada Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho, Interessa mais que uma avenida urbana. Nas cidades todas as pessoas se parecem. Todo mundo é igual. Todo mundo é toda a gente. Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma. Cada criatura é única. Até os cães. Estes cães da roça parecem homens de ne- gócios: Andam sempre preocupados. E quanta gente vem e vai! E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar: Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um bodezinho manhoso. 141 Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz dos símbolos, Que a vida passa! que a vida passa! E que a mocidade vai acabar. BANDEIRA, M. O ritmo dissoluto. Rio de Janeiro: Aguilar 1967. A lírica de Manuel Bandeira é pautada na apreensão de significados profundos a par- tir de elementos do cotidiano. No poema Es- trada, o lirismo presente no contraste entre campo e cidade aponta para: a) o desejo do eu lírico de resgatar a movimen- tação dos centros urbanos, o que revela sua nostalgia com relação à cidade. b) a percepção do caráter efêmero da vida, pos- sibilitada pela observação da aparente inér- cia da vida rural. c) opção do eu lírico pelo espaço bucólico como possibilidade de meditação sobre a sua ju- ventude. d) a visão negativa da passagem do tempo, vis- to que esta gera insegurança. e) a profunda sensação de medo gerada pela reflexão acerca da morte. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Canção do vento e da minha vida O vento varria as folhas, O vento varria os frutos, O vento varria as flores... E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De frutos, de flores, de folhas. [...] O vento varria os sonhos E varria as amizades... O vento varria as mulheres... E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De afetos e de mulheres. O vento varria os meses E varria os teus sorrisos... O vento varria tudo! E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De tudo. BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967. 13. (Enem) Na estruturação do texto, destaca-se: a) a construção de oposições semânticas. b) a apresentação de ideias de forma objetiva. c) o emprego recorrente de figuras de lingua- gem, como o eufemismo. d) a repetição de sons e de construções sintáti- cas semelhantes. e) a inversão da ordem sintática das palavras. 14. (ENEM) Um dia, os imigrantes aglomerados na amu- rada da proa chegavam à fedentina quente de um porto, num silêncio de mato e de fe- bre amarela. Santos. – É aqui! Buenos Aires é aqui! – Tinham trocado o rótulo das ba- gagens, desciam em fila. Faziam suas ne- cessidades nos trens dos animais onde iam. Jogavam-nos num pavilhão comum em São Paulo. – Buenos Aires é aqui! – Amontoados com trouxas, sanfonas e baús, num carro de bois, que pretos guiavam através do mato por estradas esburacadas, chegavam uma tarde nas senzalas donde acabava de sair o braço escravo. Formavam militarmente nas madrugadas do terreiro homens e mulheres, ante feitores de espingarda ao ombro. Oswald de Andrade. “Marco Zero II - Chão”. Rio de Janeiro: Globo, 1991. Levando-se em consideração o texto de Oswald de Andrade e a pintura de Antonio Rocco re- produzida acima, relativos à imigração euro- peia para o Brasil, é correto afirmar que: a) a visão da imigração presente na pintura é trágica e, no texto, otimista. b) a pintura confirma a visão do texto quanto à imigração de argentinos para o Brasil. c) os dois autores retratam dificuldades dos imi- grantes na chegada ao Brasil. d) Antonio Rocco retrata de forma otimista a imigração, destacando o pioneirismo do imi- grante. e) Oswald de Andrade mostra que a condição de vida do imigrante era melhor que a dos ex-escravos. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO O CANTO DO GUERREIRO Aqui na floresta Dos ventos batida, Façanhas de bravos Não geram escravos, Que estimem a vida Sem guerra e lidar. — Ouvi-me, Guerreiros, — Ouvi meu cantar. 142 Valente na guerra, Quem há, como eu sou? Quem vibra o tacape Com mais valentia? Quem golpes daria Fatais, como eu dou? — Guerreiros, ouvi-me; — Quem há, como eu sou? Gonçalves Dias. MACUNAÍMA (Epílogo) Acabou-se a história e morreu a vitória. Não havia mais ninguém lá. Dera tangolo- mângolo na tribo Tapanhumas e os filhos dela se acabaram de um em um. Não havia mais ninguém lá. Aqueles lugares, aqueles campos, furos puxadouros arrastadouros meios-barrancos, aqueles matos misteriosos, tudo era solidão do deserto... Um silêncio imenso dormia à beira do rio Uraricoera. Ne- nhum conhecido sobre a terra não sabia nem falar da tribo nem contar aqueles casos tão pançudos. Quem podia saber do Herói? Mário de Andrade. 15. (ENEM) A leitura comparativa dos dois tex- tos indica que: a) ambos têm como tema a figura do indígena brasileiro apresentada de forma realista e heroica, como símbolo máximo do naciona- lismo romântico. b) a abordagem da temática adotada no texto escrito em versos é discriminatória em rela- ção aos povos indígenas do Brasil. c) as perguntas “- Quem há, como eu sou?” (10. texto) e “Quem podia saber do Herói?” (20. texto) expressam diferentes visões da realidade indígena brasileira. d) o texto romântico, assim como o modernis- ta, aborda o extermínio dos povos indígenas como resultado do processo de colonização no Brasil. e) os versos em primeira pessoa revelam que os indígenas podiam expressar-se poeticamen- te, mas foram silenciados pela colonização, como demonstra a presença do narrador, no segundo texto. 16. (ENEM) NAMORADOS O rapaz chegou-se para junto da moça e dis- se: — Antônia, ainda não me acostumei com o seu [corpo, com a sua cara. A moça olhou de lado e esperou. — Você não sabe quando a gente é criança e de [repente vê uma lagarta listrada? A moça se lembrava: — A gente fica olhando... A meninice brincou de novo nos olhos dela. O rapaz prosseguiu com muita doçura: — Antônia, você parece uma lagarta listrada. A moça arregalou os olhos, fez exclamações. O rapaz concluiu: — Antônia, você é engraçada! Você parece louca. Manuel Bandeira. Poesia completa & prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985. No poema de Bandeira, importante repre- sentante da poesia modernista, destaca-se como característica da escola literária dessa época: a) a reiteração de palavras como recurso de construção de rimas ricas. b) a utilização expressiva da linguagem falada em situações do cotidiano. c) a criativa simetria de versos para reproduzir o ritmo do tema abordado. d) a escolha do tema do amor romântico, carac- terizador do estilo literário dessa época. e) o recurso ao diálogo, gênero discursivo típi- co do Realismo. 17. (ENEM) ERRO DE PORTUGUÊS Quando o português chegou Debaixo de uma bruta chuva Vestiu o índio Que pena! Fosse uma manhã de Sol O índio tinha despido Oportuguês. Oswald de Andrade. Poesias reunidas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. O primitivismo observável no poema ante- rior, de Oswald de Andrade, caracteriza de forma marcante a) o regionalismo do Nordeste. b) o concretismo paulista. c) a poesia Pau-Brasil. d) o simbolismo pré-modernista. e) o tropicalismo baiano. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Brasil O Zé Pereira chegou de caravela E preguntou pro guarani da mata virgem — Sois cristão? — Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte Teterê tetê Quizá Quizá Quecê! Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu! O negro zonzo saído da fornalha Tomou a palavra e respondeu — Sim pela graça de Deus — Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum! E fizeram o Carnaval (Oswald de Andrade) 143 18. (ENEM) Este texto apresenta uma versão humorística da formação do Brasil, mostran- do-a como uma junção de elementos diferen- tes. Considerando-se esse aspecto, é correto afirmar que a visão apresentada pelo texto é: a) ambígua, pois tanto aponta o caráter des- conjuntado da formação nacional, quanto parece sugerir que esse processo, apesar de tudo, acaba bem. b) inovadora, pois mostra que as três raças formadoras – portugueses, negros e índios – pouco contribuíram para a formação da identidade brasileira. c) moralizante, na medida em que aponta a precariedade da formação cristã do Brasil como causa da predominância de elementos primitivos e pagãos. d) preconceituosa, pois critica tanto índios quanto negros, representando de modo posi- tivo apenas o elemento europeu, vindo com as caravelas. e) negativa, pois retrata a formação do Brasil como incoerente e defeituosa, resultando em anarquia e falta de seriedade. 19. (ENEM) “Poética”, de Manuel Bandeira, é quase um manifesto do movimento moder- nista brasileiro de 1922. No poema, o autor elabora críticas e propostas que represen- tam o pensamento estético predominante na época. Poética Estou farto do lirismo comedido Do lirismo bem comportado Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e [manifestações de apreço ao Sr. diretor. Estou farto do lirismo que para e vai averi- guar no dicionário [o cunho vernáculo de um vocábulo Abaixo os puristas .................................................................. ........................ Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbedos O lirismo difícil e pungente dos bêbedos O lirismo dos clowns de Shakespeare — Não quero mais saber do lirismo que não é libertação. (BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro. Aguilar, 1974) Com base na leitura do poema, podemos afir- mar corretamente que o poeta: a) critica o lirismo louco do movimento moder- nista. b) critica todo e qualquer lirismo na literatura. c) propõe o retorno ao lirismo do movimento clássico. d) propõe o retomo ao lirismo do movimento romântico. e) Propõe a criação de um novo lirismo. 20. (ENEM) “Precisa-se nacionais sem naciona- lismo, (...) movido pelo presente mas esta- lando naquele cio racial que só as tradições maduram! (...). Precisa-se gentes com bas- tante meiguice no sentimento, bastante for- ça na peitaria, bastante paciência no entu- siasmo e sobretudos, oh! sobretudo bastante vergonha na cara! (...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim está escrito no anúncio vistoso de cores de- sesperadas pintado sobre o corpo do nosso Brasil, camaradas.” (Jornal “A Noite”, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê Porto Ancona. Mário de Andrade: ramais e caminho São Paulo: Duas Cidades, 1972) No trecho acima, Mário de Andrade dá forma a um dos itens do ideário modernista, que é o de firmar a feição de uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao expressar-se numa variante de linguagem popular identificada pela(o): a) escolha de palavras como cio, peitaria, ver- gonha. b) emprego da pontuação. c) repetição do adjetivo bastante. d) concordância empregada em “assim está es- crito.” e) escolha de construção do tipo “precisa-se gentes.” 21. (ENEM) Texto 1 Mulher, Irmã, escuta-me: não ames, Quando a teus pés um homem terno e curvo jurar amor, chorar pranto de sangue, Não creias, não, mulher: ele te engana! As lágrimas são gotas da mentira E o juramento manto da perfídia. (Joaquim Manoel de Macedo) Texto 2 Teresa, se algum sujeito bancar o sentimental em cima de você E te jurar uma paixão do tamanho de um bonde Se ele chorar Se ele ajoelhar Se ele se rasgar todo Não acredite não Teresa É lágrima de cinema É tapeação Mentira CAI FORA (Manuel Bandeira) 144 Os autores, ao fazerem alusão às imagens da lágrima sugerem que: a) há um tratamento idealizado da relação ho- mem/mulher. b) há um tratamento realista da relação ho- mem/mulher. c) a relação familiar é idealizada. d) a mulher é superior ao homem. e) a mulher é igual ao homem. 22. O mulato Ana Rosa cresceu; aprendera de cor a gramá- tica do Sotero dos Reis; lera alguma coisa; sabia rudimentos de francês e tocava modi- nhas sentimentais ao violão e ao piano. Não era estúpida; tinha a intuição perfeita da virtude, um modo bonito, e por vezes lamen- tara não ser mais instruída. Conhecia muitos trabalhos de agulha; bordava como poucas, e dispunha de uma gargantazinha de contralto que fazia gosto de ouvir. Uma só palavra boiava à superfície dos seus pensamentos: “Mulato”. E crescia, crescia, transformando-se em tenebrosa nuvem, que escondia todo o seu passado. Ideia parasita, que estrangulava todas as outras ideias. — Mulato! Esta só palavra explicava-lhe agora todos os mesquinhos escrúpulos, que a sociedade do Maranhão usara para com ele. Explicava tudo: a frieza de certas famílias a quem vi- sitara; as reticências dos que lhe falavam de seus antepassados; a reserva e a cautela dos que, em sua presença, discutiam questões de raça e de sangue. AZEVEDO, A. O Mulato. São Paulo: Ática, 1996 (fragmento). O texto de Aluísio Azevedo é representativo do Naturalismo, vigente no final do século XIX. Nesse fragmento, o narrador expressa fidelidade ao discurso naturalista, pois: a) relaciona a posição social a padrões de com- portamento e à condição de raça. b) apresenta os homens e as mulheres melhores do que eram no século XIX. c) mostra a pouca cultura feminina e a distri- buição de saberes entre homens e mulheres. d) ilustra os diferentes modos que um indiví- duo tinha de ascender socialmente. e) critica a educação oferecida às mulheres e os maus-tratos dispensados aos negros. 23. (...) desde que Jerônimo propendeu para ela, fascinando-a com a sua tranquila seriedade de animal bom e forte, o sangue da mestiça reclamou os seus direitos de apuração, e Rita preferiu no europeu o macho de raça superior. O cavouqueiro, pelo seu lado, cedendo às im- posições mesológicas, enfarava a esposa, sua congênere, e queria a mulata, porque a mulata era o prazer, a volúpia, era o fruto dourado e acre destes sertões americanos, onde a alma de Jerônimo aprendeu lascívias de macaco e onde seu corpo porejou o cheiro sensual dos bodes. (Aluísio Azevedo, O Cortiço) Tendo em vista as características naturalis- tas e cientificistas, sobretudo do Determinis- mo, que predominam no romance O cortiço, o trecho (assinale o item não pertinente): a) explicita a personagem que age de acordo com os impulsos característicos de sua raça. b) põe em evidência o zoomorfismo, em que se destacam os elementos instintivos de prazer, sensualidade e desejo. c) faz alusão à competição entre os mais fortes (europeus) e os mais fracos (brasileiros). d) ressalta o homem sucumbindo aos fatores preponderantes do meio. e) condena veladamente o sexo e defende indi- retamente os princípios