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Universidade Federal do Pará – Instituto de Ciências Biológicas Monitoria de Anatomia do Sistema Cardiovascular e Urinário Professora: Roseane Borner Monitor: Isabella Soares e Núbia Marques Nota Clínica: Trombose Venosa Profunda – TVP 1. Aspectos Gerais: 1.1 Definição: A trombose venosa profunda é uma patologia de alta incidência e grave problema de saúde, sendo ocasionada pela coagulação sanguínea no interior das veias profundas, com obstrução parcial ou total. O trombo venoso é um depósito intravascular composto de fibrina e glóbulos vermelhos com uma quantidade variável de plaquetas e leucócitos, que se forma, usualmente, em regiões de fluxo baixo ou anômalo dos seios valvares. Sendo válido ressaltar que a ocorrência TVP é mais frequente em membros inferiores (80 a 95%). As principais complicações decorrentes dessa doença são: insuficiência venosa crônica/síndrome pós- trombótica e embolia pulmonar (EP). 1.2 Etiopatogenia: Os principais fatores de risco para TVP são: idade > 40 anos; história pregressa de TVP e/ou TEP; cirurgias > 60 minutos; imobilização > 3 dias; paralisia dos membros inferiores; trauma; queimaduras; malignidade; contraceptivos e reposição estrogênica; insuficiência cardíaca; acidente vascular cerebral; obesidade (IMC > 30); fratura da pélvis, fêmur e tíbia; gravidez e puerpério; doença inflamatória intestinal; trombofilias; deficiência de proteína C e S e de antitrombina III; mutação do gene da protrombina; fator V de Leiden; SAAF; hiperhomocisteinemia e tabagismo. Estados de hipercoagulabilidade hereditários e aqueles fatores de risco adquiridos unem-se para estabelecer o risco intrínseco a cada individuo. Até 50% dos pacientes que apresentam tromboembolismo venoso antes dos 45 anos de idade têm uma desordem de hipercoagulabilidade hereditária, particularmente aqueles cujos eventos ocorreram na ausência de fatores de risco ou provocação mínima, tais como trauma pequeno ou voo de longo curso, ou com o uso de estrógeno. 1.3 Fisiopatologia da TVP: Wirchow, em 1956, analisou e descreveu pela primeira vez os 3 principais fatores primários que aumentam a suscetibilidade dos pacientes para a TVP. Desse modo, tais fatores passaram a ser denominados de tríade de Wirchow, os quais são: (1) coagulabilidade aumentada, (2) lesão endotelial e (3) estase venosa. Além disso, é necessário notar que os trombos podem ser desenvolvidos por pelo menos um desses fatores. Há no sistema fisiológico humano um equilíbrio para a coagulação, em que os fatores anticoagulantes (proteínas C e S e antitrombina III) predominam. E O mecanismo de formação de coágulos pode ser resumido na cascata de coagulação sanguínea por ação intrínseca ou extrínseca, resultando na formação de trombina, que age sobre o fibrinogênio circulante formando a rede de fibrina. Nesse sentido, um desequilíbrio nesse sistema desencadeado por uma estase venosa ou uma lesão endotelial pode estimular uma coagulabilidade acentuada o que predispõe uma possível formação de trombo. Esse trombo formado pode ocluir parcialmente ou totalmente o fluxo sanguíneo nessas veias, causando hipertensão venosa, dilatação e insuficiência valvular venosa. Esse trombo pode liberar fragmentos denominados êmbolos, que podem migrar para outros órgãos, como o coração, podendo chegar ao pulmão e causar o tromboembolismo pulmonar. 2. Considerações Clínicas: 2.1 Manifestações Clínicas: Os sinais e sintomas mais frequentes nos pacientes de TVP são: taquicardia e febre, câimbras na panturrilha, assim como empastamento muscular e dor à palpação. Conforme o problema se agrava, a dor se torna constante, e surgem edemas nos membros todos. No entanto, há indivíduos que apresentam a TVP e são assintomáticos. 2.2 Condutas Diagnósticas: O Diagnóstico deve ser feito em conjunto com a história clínica, exame físico e por fim exames laboratoriais. 2.2.1 Exames laboratoriais: • Teste D-Dímero: apresenta-se em qualquer situação em que envolva a formação e degradação de um trombo, por isso não é um marcador específico de trombose venosa profunda. 2.2.2 Exames de imagem: • Eco Doppler colorido (EDC) O EDC venoso é o método diagnóstico mais frequentemente utilizado para o diagnóstico de TVP em pacientes sintomáticos. Apresenta menor acurácia em veias distais, em veias de membros superiores, e em pacientes assintomáticos. É o exame de escolha para o diagnóstico de TVP, com sensibilidade de 96% e especificidade de 98-100%, em substituição à venografia. Utiliza-se a ultrassonografia em tempo real para avaliar a ausência ou presença de compressibilidade das veias e a ecogenicidade intraluminal. O EDC avalia a anatomia, a fisiologia e as características do fluxo venoso,combinando imagem em tempo real e a análise espectral. A acurácia do EDC para diagnosticar TVP assintomática é menor em relação à TVP sintomática. O paciente que tem alta probabilidade de acordo com o escore de Wells, EDC negativo e DD positivo, o EDC deverá ser repetido em três a sete dias. Nos casos de TVP recorrente ipsilateral, os critérios utilizados para o diagnóstico pelo EDC são: aumento do diâmetro do mesmo segmento acometido ≥ 4 mm, aumento de 9 cm de extensão do trombo ou em segmento venoso distinto do acometido previamente. • Venografia / Flebografia Venografia com contraste é o exame considerado padrão-ouro para o diagnóstico de TVP, reservado, atualmente, apenas quando os outros testes são incapazes de definir o diagnóstico. Porém, devido a várias limitações (custo, reações adversas ao contraste, ser desconfortável para o paciente, contra- indicado a pacientes com insuficiência renal), não é o exame de rotina utilizado na suspeita de TVP.Tem acurácia limitada nos quadros de TVP recorrente. • TC Como a sensibilidade e especificidade da angiotomografia são similares à do EDC, não há evidência suficiente para recomendá-la como modalidade diagnóstica inicial para TVP18(A). Metanálise realizada por Thomas et al. a sensibilidade encontrada para angiotomografia foi de 96% (95% IC, 93-98), e especificidade de 95% (95% IC, 94-97) para diagnóstico de TVP proximal em pacientes com suspeita de EP.Pode ser útil para pacientes com suspeita de TVP, para os quais a EDC não pode ser aplicado devido a limitações técnicas e suspeita de anomalia venosa18(A). • Ressonância magnética (RM) RM pode ser utilizada para o diagnóstico de TVP em casos onde o ECD oferece resultados inconclusivos. Apresenta acurácia similar ao ECD no diagnóstico da TVP do segmento ilíaco-caval. RM com imagem direta do trombo, baseada nas propriedades paramagnéticas da metahemoglobina, pode ser o método de escolha para suspeita de recorrência aguda de TVP, distinguindo um evento novo de um antigo. 2.3 Abordagens Terapêuticas: O tratamento pode ser: 2.3.1 Farmacológico: • Anticoagulantes: Heparina de baixo peso molecular (HBPM); 2.3.2 Não farmacológico: • Meias elásticas medicinais de compressão gradual - melhora o retorno venoso, comprimindo totalmente o tornozelo e reduzindo a medida que chega à coxa; • Filtros de veia cava: não é recomendado ao tratamento de rotina; é recomendado para pacientes que são intolerantes à terapia com anticoagulantes; • Stents venosos: colocado na parte interna do vaso, promovendo uma dilatação quando o fluxo aumenta; • Combater a estase venosa: posição de Trendelenburg, exercícios ativos do pé e perna e deambulação precoce. 2.3.3 Cirúrgico: • Recomendações para remoção do trombo requerem uma avaliação cuidadosa com respeitoa potenciais riscos e benefícios, de acordo a cada paciente. 3. Caso Clínico: • Paciente de 69 anos, sexo masculino, com suspeita de embolia pulmonar. Os antecedentes demonstraram um episódio de TVP no membro inferior esquerdo ocorrido há alguns anos, no qual foi tratado com Varfarina no período de um ano, além de hipertensão arterial e retocolite ulcerativa. • Queixa principal: “Dificuldade de respirar e dor no peito”. • Exame físico: Pulsos periféricos estavam palpáveis, com sinais vitais dentro da normalidade e houve a suspeita clínica de EP. • Exames complementares: A angiotomografia confirmou a EP. O ultrassom dúplex (USD) venoso utilizado na investigação da fonte emboligênica, mostrou trombo flutuante na veia femoral, além de TVP na veia femoral e poplítea esquerda (Figura 1) • Conduta: Realizou-se o tratamento por meio de anticoagulação com Enoxaparina sódica associada a Varfarina e a prescrição do uso de meia elástica e o retorno às atividades habituais. Figura 1. USD com trombo flutuante REFERÊNCIAS BERTANHA, Matheus et al. Trombo flutuante em veia femoral. Jornal Vascular Brasileiro, v. 16, n. 4, p. 314-319, 2017. KUMAR, Vinay et al. Robbins and Cotran Pathologic Basis of Disease, Professional Edition E-Book. Elsevier Health Sciences, 2014. MATTJIE, Rebeca Assunção et al. Relato de caso: Trombo Flutuante em Veia Cava Inferior. Hospital Universitário Onofre Lopes (UFRN), 2013. PICCINATO, C.E. Trombose venosa pós-operatória. Medicina (Ribeirão Preto) 2008; 41 (4): 477-86. PRESTI, C.; MIRANDA JR, F. Trombose venosa profunda – diagnóstico e tratamento. Projeto Diretrizes SBACV; novembro, 2015. RASSAM, E.; PINHEIRO, T.C.; STEFAN, L.F.B.; MÓDENA, S.F. Complicações Tromboembólicas no Paciente Cirúrgico e Sua Profilaxia. ABCD ArqBrasCirDig 2009; 22(1):41-4 VIANA, Vitor Ramos Borges. Trombose venosa profunda e tromboembolismo pulmonar no pós-operatório de cirurgia de revascularização miocárdica: pesquisa diagnóstica independente de suspeita clínica. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.
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