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1 Marcela Oliveira Silva – Medicina UNIFG 2021 TROMBOSE VENOSA PROFUNDA A trombose venosa profunda (TVP) consiste na formação dos trombos pelas veias profundas, com possível obstrução parcial ou oclusão total do vaso, sendo mais comum de ocorrer nos membros inferiores, em 80- 95% dos casos. As principais complicações que envolvem a presença desse trombo são: insuficiência venosa crônica/síndrome pós-trombótica (presença de edema e/ou dor em membros inferiores, mudança na pigmentação e ulcerações na pele) e a embolia pulmonar a qual apresentam grande importância clínica, devido ela apresentar uma elevada taxa de mortalidade. Quando falamos de trombose não podemos esquecer da tríade de Virchow (estado de hipercoagulabilidade + lesão endotelial + estase sanguínea). Os principais fatores de risco que apresentam a capacidade de interferir nesse tripé são: idade avançada, presença de distúrbios de hipercoagulabilidade hereditários ou adquiridos. FISIOPATOLOGIA A fisiopatologia envolvida na formação dos trombos da trombose venosa profunda consiste nas alterações em cada um do tripé determinado por Virchow. A lesão endotelial vai ser a responsável por promover a exposição da matriz de colágeno no subendotelial, que irá determinar a aderência de plaquetas sobre este e consequentemente ativação dos mecanismos de coagulação. Vai ocorrer liberação de tromboxano A2 pelas plaquetas, que implica na adesão de mais plaquetas. Também ocorre a liberação de fatores teciduais que levam a formação da fibrina, conferindo consistência ao trombo. Já o estado de hipercoagubilidade é definido como qualquer alteração nas vias de coagulação que predispõe a trombose, podendo ter origem de desordens primarias (genéticas) ou secundárias (adquiridas). As causas primarias são relacionadas com defeitos em diversos fatores envolvidos no processo de coagulação, como a mutação do gene do fator V, deficiência de antitrombina III, de proteína C. Já as causas secundarias, estão relacionadas com repouso no leito e imobilização prolongada, IAM, fibrilação arterial, lesão tecidual (cirurgia, fratura, queimadura), tumores, uso de contraceptivos orais ou gestação (estado hiperestrogenico). A alteração do fluxo sanguíneo leva à formação de trombos devido a lesão endotelial que é provocada. Isso porque, o fluxo sanguíneo normal é laminar, ou seja, as plaquetas fluem na porção central do lúmen, separada do endotélio por uma camada de plasma. Com isso, quando temos uma estase ou turbulência sanguínea, vamos ter a ativação endotelial, com o aumento da atividade pró-coagulante e um rompimento desse fluxo laminar, fazendo com que as plaquetas entrem TROMBOSE VENOSA PROFUNDA 2 Marcela Oliveira Silva – Medicina UNIFG 2021 em contato com o endotélio, estimulando a cascata de coagulação. CLASSIFICAÇÃO A TVP dos membros inferiores pode ser dívida em proximal e distal. A proximal consiste no acometimento da veia ilíaca e/ou femoral e/ou poplítea. A distal consiste no acometimento das veias localizadas abaixo da veia poplítea. Devemos ter noção da localização do trombo, pois isso afeta no segmento o qual irá manifestar os sinais clínicos, altera o tratamento inicial e ainda aumenta a probabilidade de surgimento de algumas complicações. Por exemplo, o desenvolvimento de tromboembolia pulmonar e síndrome pós-trombótica está mais relacionada com o acometimento do seguimento proximal. Entretanto, indivíduos que apresentam o acometimento do segmento distal podem evoluir para o segmento proximal em cerca de 20% dos casos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O quadro clínico do paciente com TVP consiste em dor, eritema, cianose, dilatação do sistema venoso superficial, aumento da temperatura local, empastamento muscular e dor à palpação. Os sintomas clínicos surgem quando a veia é ocluída de forma significativa a promover uma estase do fluxo sanguíneo. À medida que a estase se manifesta cerca de 24-36 horas há a formação do coagulo. Devemos ter em mente que a gravidade dos sintomas está relacionada com a extensão do segmento acometido. Como foi dito na classificação, o quadro clínico mais grave é quando o trombo acomete a região proximal. A estase venosa resulta da indução de um estado inflamatório da veia e dos tecidos ao redor. Ao exame físico o paciente pode apresentar dor ao toque na topografia da veia, edema assimétrico, presença de cacifo, empastamento muscular na panturrilha e dor à palpação muscular. As manobras que podemos realizar ao exame físico: a) Sinal de Homans: dorsiflexão passiva do pé, sendo que o paciente refere dor à panturrilha (sinal positivo). b) Sinal de Moses: dor à compressão da musculatura da panturrilha contra o plano ósseo. c) Sinal de Lowenberg: dor à compressão da panturrilha provocada pelo esfigmonanometro. d) Sinal da bandeira: menor mobilidade da panturrilha comparada à contralateral. As principais complicações relacionadas à trombose são: (1) embolia pulmonar, como dita acima, mais relacionada com acometimento de vaso proximal e comum em pacientes trombóticos mal tratados. (2) a síndrome pós-trombótica consiste em uma complicação tardia da TVP a qual pode ser caracterizada por uma insuficiência venosa crônica e grave. As manifestações clínicas relacionada com esse quadro é uma dor intensa, edema generalizado, hiperpigmentação e aparecimento de úlceras secundárias à hipertensão venosa. Flegmasia é um termo designado para descrever um quadro de edema importante normalmente associado à trombose venosa profunda. Ela pode subdividida de duas formas: Alba dolens trombose do segmento íleofemoral resultando em vasoespasmo e dor; Cerúlea dolens – trombose do segmento ileofemoral acometendo tanto a drenagem venosa superficial, quanto a profunda (dor importante, edema generalizado, baixa temperatura, áreas de epidermólise contendo líquido sero- hemorrágico, podendo resultar em gangrena venosa). 3 Marcela Oliveira Silva – Medicina UNIFG 2021 DIAGNÓSTICO Para alcançar o diagnóstico da TVP é sabido que necessitamos tanto dos dados clínicos, laboratoriais e de imagem para podermos confirmar a presença da doença. Seguindo a ordem, os critérios clínicos são quantificados em um escore chamado de Wells. Tal escore é utilizado com ferramenta para estimar a probabilidade de que o paciente apresente TVP. Devemos sempre ressaltar que nenhuma avaliação clínica isolada é suficiente para diagnosticar ou descartar a TVP. Os critérios laboratoriais que podemos buscar na TVP é a dosagem do D-dímero. Tal marcador faz parte de um conjunto de produtos da degradação da fibrina, logo ele se encontra presente em qualquer situação que esteja havendo a formação de um trombo ou sua degradação. Um resultado negativo desse marcador podemos desconsiderar a presença de TVP e TEP. Dessa forma, tal exame consiste em ser bastante sensível, mas não tanto específico. • Eco doppler colorido: O método diagnóstico mais frequente é o Eco doppler colorido venoso. Apresenta menor acurácia em veias distais, de membros inferiores e em pacientes assintomáticos. É o exame de escolha para o diagnóstico de TVP, com sensibilidade de 96% e especificidade de 98-100%. • Venografia/ Flebografia: É considerado o exame padrão ouro. É realizado com contraste e indicado apenas quando os outros testes são incapazes de definir o diagnóstico, pois possui custo elevado, risco de reações adversas ao contraste, é desconfortável para o paciente e contraindicado para pacientes com insuficiência renal. • Tomografia computadorizada: Útil para pacientes com suspeita de TVP, em que o Eco não pode ser realizado, seja por limitação técnica ou suspeita de anomalia venosa. • Ressonância magnética: Indicado em situações em que o Eco seja inconclusivo. Apresenta acurácia similar ao Eco no diagnóstico de TVP do segmento ilíaco-caval. 4 Marcela Oliveira Silva– Medicina UNIFG 2021 TRATAMENTO O tratamento da TVP tem como medidas gerais a prevenção da progressão do trombo, ocorrência de TEP E síndrome pós-trombótica. Para tanto, podemos utilizar como ferramentas não medicamentosas a manobra de Trendelenburg (elevação dos MMII), uso de analgésicos e AINEs e uso de meias elásticas para promoção do retorno venoso. O tratamento medicamentoso consiste no uso de anticoagulantes OU terapia fibrinolítica. Para pacientes com alta suspeita clínica de TVP, recomenda-se iniciar o tratamento com anticoagulantes enquanto se aguarda a confirmação do diagnóstico, desde que não haja contra-indicação. HBPM subcutânea (SC): Pode ser administrada uma ou duas vezes ao dia, em regime hospitalar ou domiciliar o Tratamento a longo prazo (mais que 35 dias) com HBPM é tão efetivo quanto varfarina o Nos pacientes com câncer, as HBPM são mais efetivas que varfarina na prevenção de TEV recorrente e sangramento HNF endovenosa (EV) ou SC monitorizada o Em pacientes com TVP aguda e insuficiência renal grave, sugere-se o tratamento com HNF ao invés de HBPM Fondaparinux SC Anticoagulantes orais (Drogas antagonistas da Vitamina K – AVK) o Os anticoagulantes orais, representados pelas drogas AVK, devem ser iniciados precocemente, já no primeiro dia de tratamento com heparina (HNF ou HBPM) ou fondaparinux. As drogas AVK disponíveis no Brasil são a warfarina sódica, que é a mais amplamente utilizada, e a femprocumona. o Em pacientes com TVP causada por fator de risco reversível, recomenda-se a anticoagulação oral com AVK (VARFARINA) por, pelo menos, três meses e que, após esse período, seja avaliado o risco-benefício do tratamento estendido o A terapia estendida é recomendada para: pacientes com primeiro episódio de TVP proximal idiopática, sem fatores de risco para hemorragias e que possam ser submetidos a uma boa monitorização da anticoagulação; pacientes com segundo episódio de TVP idiopática
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