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APG 14 – MYRELLA TURBANO FATORES DE RISCO PARA TVP Os principais fatores diretamente ligados à gênese dos trombos são: • Estase sanguínea; • Lesão endotelial e • Estados de hipercoagulabilidade. Portanto, idade avançada, câncer, procedimentos cirúrgicos, imobilização, uso de estrogênio, gravidez, distúrbios de hipercoagulabilidade hereditários ou adquiridos, constituem-se como fatores de risco para TVP3. A sua incidência aumenta proporcionalmente com a idade, sugerindo que esta seja o fator de risco mais determinante para um primeiro evento de trombose. Para efeitos didáticos, os fatores de risco podem ser classificados como: HEREDITÁRIOS/IDIOPÁTICOS Resistência à proteína C ativada (principalmente fator V de Leiden); mutação do gene da protrombina; deficiência de antitrombina; deficiência de proteína C; deficiência de proteína S; hiperhomocisteinemia; aumento do fator VIII; aumento do fibrinogênio. ADQUIRIDOS/PROVOCADOS Síndrome do anticorpo antifosfolipídio; câncer; hemoglobinúria paroxística noturna; idade > 65 anos; obesidade; gravidez e puerpério; doenças mieloproliferativas (policitemia vera; trombocitemia essencial etc.); síndrome nefrótica; hiperviscosidade (macroglobulinemia de Waldenström; mieloma múltiplo); doença de Behçet; trauma; cirurgias; imobilização; terapia estrogênica. INTRODUÇÃO A TVP A trombose venosa profunda (TVP) caracteriza- se pela formação de trombos dentro de veias profundas, com obstrução parcial ou oclusão, sendo mais comum nos membros inferiores – em 80 a 95% dos casos. CLASSIFICAÇÃO D TVP A TVP nos membros inferiores é dividida, simplificadamente, segundo sua localização: • PROXIMAL - quando acomete veia ilíaca e/ou femoral e/ou poplítea. • DISTAL - quando acomete as veias localizadas abaixo da poplítea. O risco de Embolia Pulmonar e a magnitude da síndrome pós-trombótica (SPT) decorrente da TVP proximal são maiores. Entretanto, existe um risco de progressão da trombose distal para segmentos proximais de até 20%, o que faz com que o diagnóstico e o tratamento da TVP distal sejam similares ao da TVP proximal7(A). Portanto, a classificação do tipo de TVP suspeita é importante para guiar as estratégias de tratamento. ETIOLOGIA DA TVP FORMAÇÃO DO TROMBO: A trombose é a formação de um coágulo sanguíneo dentro de um vaso sanguíneo. O coágulo pode bloquear o vaso sanguíneo e impedir ou reduzir o fluxo de sangue, o que pode causar graves consequências para a saúde. Também é possível que o coágulo de sangue se mova através do sistema circulatório para outras áreas do corpo, o que o caracterizaria como um êmbolo. Se o êmbolo atingir órgãos importantes, como o cérebro ou os pulmões, também pode causar sintomas graves de saúde, incluindo ataque cardíaco ou derrame. ACOMETIMENTO DAS VEIAS: O termo trombose venoso, ou tromboflebite, descreve a existência de trombo em uma veia e a resposta inflamatória que se desenvolve na parede do vaso. Os trombos podem se desenvolver em veias superficiais ou profundas. TROMBOSE VENOSA SUPERFICIAL: Tromboflebite ou trombose venosa superficial consiste na formação de um coágulo sanguíneo no interior de uma veia superficial. Esse coágulo sanguíneo provoca um processo inflamatório da parede da veia onde se forma. Uma veia superficial é uma veia que está próxima à superfície do corpo. TVP – MYRELLA TURBANO Normalmente são responsáveis por ajudar a resfriar o corpo. Pode ser possível ver essas veias salientes sob certas condições. Os pacientes podem sentir uma área ligeiramente mais dura ou observar alguma vermelhidão da área. Normalmente, essas tromboses não são tão graves quanto a trombose venosa profunda; no entanto, eles podem se tornar mais graves se forem capazes de entrar nas veias profundas através das veias perfurantes. TROMBOSE VENOSA PROFUNDA: A trombose venosa profunda ocorre dentro das veias profundas, que se distanciam da superfície da pele. Mais sangue é transportado pelas veias profundas do que pelas veias superficiais. A maior parte da trombose venosa profunda ocorre nas pernas, embora possam ocorrer em qualquer parte do sistema venoso profundo. A TVP de membros inferiores geralmente inicia na panturrilha e se propaga no sentido proximal às veias poplítea, femoral e ilíaca. A TVP de membros inferiores é cerca de dez vezes mais comum do que a TVP de membros superiores, que com frequência é desencadeada pela instalação de marca-passo, desfibrilador cardíaco interno ou cateter venoso central. A probabilidade de haver TVP de membros superiores aumenta à medida que aumenta o número de lúmens e o diâmetro dos cateteres. FISIOPATOLOGIA DA TVP A tríade de Virchow de hipercoagulabilidade, estase venosa e lesão da parede vascular provê um modelo útil para se compreender muitos dos fatores de risco que levam à formação de trombose. Por exemplo, em pacientes que receberam cirurgia de colocação de prótese total de quadril ou de joelho, há lesão do endotélio venoso causada pela cirurgia, estase venosa consequente à imobilização perioperatória e hipercoagulabilidade como resultado do fibrinólise do pós-operatório. Em outros pacientes, uma “trombofilia” ou “tendência à coagulação”, como a deficiência congênita de antitrombina (antigamente antitrombina III) ou a presença de fator V de Leiden, combinada com o uso de anticoncepcionais orais resulta em TVP em mulheres em idade reprodutiva. Entretanto, uma proporção relativamente grande de pacientes apresenta TVP inexplicada, sem fatores de risco “clínicos” que causem dano endotelial ou estase venosa ou trombofilias identificáveis que causem hipercoagulabilidade. Sem dúvida, alguns destes pacientes ainda têm trombofilias a serem determinadas, mas a TVP comumente é chamada de idiopática. LESÃO DA PAREDE VASCULAR → ESTASE VENOSA → HIPERCOAGULABILIDADE → FORMAÇÃO DE TROMBOSE MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As características clínicas da TVP de membros inferiores incluem dor, hipersensibilidade, edema, cordão palpável, alteração de coloração, distensão venosa, proeminência das veias superficiais e cianose. Na maioria dos pacientes cuja TVP é clinicamente suspeita, os sinais e sintomas não são específicos e a doença é confirmada em menos de 50% dos casos. Em contraposição, pacientes com poucos sinais e sintomas podem apresentar TVP extensa. Em alguns pacientes, a TVP pode ser assintomática, mas o paciente se apresentará com embolia pulmonar. Em contraposição, embolia pulmonar ocorre em 50% dos pacientes com trombose objetivamente documentada das veias proximais da perna, mas muitos dos êmbolos são assintomáticos. Em geral, só uma parte do trombo se emboliza, de modo que 50% a 70% dos pacientes com êmbolos pulmonares angiograficamente documentados têm TVP detectável nas pernas no momento da avaliação inicial. As manifestações clínicas da trombose venosa profunda (TVP) variam dependendo da localização. A TVP é mais comumente presente nas extremidades inferiores, especialmente nas veias ilíacas, femorais e/ou poplíteas. TVP – MYRELLA TURBANO • TVP DOS MEMBROS INFERIORES – se manifesta com dor unilateral na perna, nádega, inguinal e/ou abdominal associada a inchaço e/ou descoloração avermelhada ou roxa das pernas. O maior diâmetro da panturrilha na perna afetada em comparação com a perna contralateral também pode ser observado. O sinal de Homans (dor na panturrilha na dorsiflexão passiva do pé) não é confiável para sinalizar a presença de TVP em crianças. • TVP DE MEMBRO SUPERIOR - manifesta-se com edema unilateral e descoloração do braço e da mão. O inchaço da face pode ser observado se o trombo se estender para a veia cava superior. Os pacientes podem queixar-se de dor no braço afetado e/ou desconfortono pescoço, ombro ou axila. A TVP da extremidade superior relacionada ao esforço (síndrome de Paget-Schroetter) é uma condição rara que geralmente afeta indivíduos jovens e saudáveis, mais comumente do sexo masculino. COMPLICAÇOES TVP TROMBOEMBOLISMO VENOSO: O tromboembolismo venoso (TEV) engloba a trombose venosa profunda (TVP)e a embolia pulmonar (EP), que podem causar morte cardiovascular e incapacidade. Quando trombos venosos profundos se desprendem do seu local de formação, eles embolizam para a veia cava, o átrio direito e o ventrículo direito (VD) e se alojam na circulação pulmonar, causando, assim, a EP aguda. Paradoxalmente, esses trombos às vezes embolizam para a circulação arterial através de um forame oval patente ou de um defeito do septo atrial. Muitos pacientes com EP não apresentam evidências de TVP porque o trombo já embolizou para os pulmões. EMBOLIA PULMONAR; As anormalidades mais comuns na troca gasosa são hipoxemia arterial e aumento no gradiente alveolar-arterial da tensão de O2, que representa a ineficiência na transferência de O2 nos pulmões. O espaço morto anatômico aumenta porque o gás respirado não entra nas unidades de troca gasosa do pulmão. O espaço morto fisiológico aumenta porque a ventilação para as unidades de troca gasosa excede o fluxo sanguíneo venoso que passa pelos capilares pulmonares. As principais alterações fisiopatológicas da embolia pulmonar são: • Aumento da resistência vascular pulmonar causada por obstrução vascular ou secreção plaquetária de agentes neuro- humorais vasoconstritores, como a serotonina. • Comprometimento da troca gasosa em razão de aumento no espaço morto alveolar causado por obstrução vascular, • Hiperventilação alveolar devido à estimulação reflexa dos receptores alveolares. • Aumento da resistência das vias aéreas em razão da constrição de vias aéreas distais aos brônquios. • Redução da complacência pulmonar em razão de edema pulmonar, hemorragia pulmonar ou perda de surfactante. HIPERTENSÃO PULMONAR: A obstrução da artéria pulmonar e os mediadores neuro- humorais causam aumento na pressão arterial pulmonar e na resistência vascular pulmonar. DISFUNÇÃO DO VD: Quando a tensão na parede do VD aumenta, ocorre dilatação e disfunção do VD, com liberação do biomarcador cardíaco peptídeo natriurético cerebral, devido a estiramento anormal do VD. MICROINFARTO DO VD: O aumento na tensão da parede do VD também comprime a artéria coronária direita, limita o suprimento de oxigênio ao miocárdio e desencadeia isquemia coronária direita e microinfarto de VD, com liberação de biomarcadores como a troponina. A redução do enchimento do VE pode causar uma queda no débito cardíaco do VE e na pressão arterial sistêmica, com consequente colapso circulatório e morte. SÍNDROME PÓS-TROMBÓTICA: Os sobreviventes podem sofrer complicações produzidas pela hipertensão pulmonar tromboembólica crônica ou síndrome pós-trombótica. A síndrome pós-trombótica (também conhecida como insuficiência venosa crônica) causa lesão das válvulas venosas do membro inferior e piora a qualidade de vida por causar edema de tornozelo ou de panturrilha e dolorimento na perna, principalmente após ficar longo tempo de pé. Na sua forma mais grave, a síndrome pós-trombótica causa úlcera varicosa. SINAIS E SINTOMAS DA TVP De modo geral, os principais sinais da TV são a dor e o inchaço. As características clínicas são muito importantes no diagnóstico. Porém, é importante confirmar os achados clínicos TVP – MYRELLA TURBANO usando testes adicionais, como ultrassonografia de compressão. TROMBOSE VENOSA SUPERFICIAL Dor, vermelhidão (eritema) e calor e sensibilidade ao toque. TROMBOSE VENOSA PROFUNDA Os sinais e sintomas da TVP surgem de (i) obstrução venosa e (ii) inflamação das veias. Os pacientes também podem apresentar características de embolia pulmonar. Na TVP, o sintoma mais comum é uma cãibra ou dor muscular repentina na parte inferior da panturrilha, a qual persiste e se intensifica ao longo de vários dias. EDEMA ASSIMÉTRICO DA PERNA: Edema de picada no lado afetivo. O inchaço e o edema depressivo são causados por obstrução venosa. A circunferência da panturrilha é medida 10 cm abaixo da tuberosidade tibial. A diferença normal entre as duas pernas deve ser inferior a 1 cm; diferença superior a 3 cm é considerada significativa. DOR E ERITEMA: Sensibilidade localizada ao longo do sistema venoso profundo. Dor, eritema e sensibilidade são causados por inflamação vascular. O recrutamento de células inflamatórias para trombo e estase venosa causa flebite. SIGNO DE HOMANS: Observado pela primeira vez pelo cirurgião Dr. John Homans, o sinal é provocado pela dorsiflexão passiva do tornozelo. Achados positivos incluem aumento da resistência à dorsiflexão ou flexão do joelho, ambos em resposta à irritação dos músculos posteriores da panturrilha. Este sinal não é sensível nem específico. VEIAS SUPERFICIAIS DILATADAS: (não varicosas) Cordão palpável. As veias superficiais dilatadas são causadas pela obstrução do sistema venoso profundo. O cordão palpável refere-se a veias superficiais palpáveis, o que é um sinal de flebite superficial. EMBOLIA PULMONAR PEs são freqüentemente assintomáticos. Os pacientes sintomáticos apresentam mais comumente dispneia. DISPNEIA: Hiperventilação para compensar o aumento do espaço morto e em resposta aos mediadores químicos das plaquetas. A dispneia é um sintoma de central, que causa consequências hemodinâmicas mais graves devido à oclusão de vasos maiores. PALPITAÇÕES: A taquicardia é uma resposta simpática à diminuição do débito cardíaco. DOR NO PEITO PLEURÍTICA: EP próximo à pleura (EP periférica) causa isquemia na região, resultando em inflamação. Como a pleura é inervada, a inflamação produzirá dor torácica pleurítica localizada. A inflamação também aumenta a permeabilidade da superfície pleural, levando ao acúmulo de líquido pleural exsudativo (derrame pleural). HEMOPTISE E TOSSE; A EP causa danos à vasculatura pulmonar, o que leva ao sangramento nas vias aéreas. A tosse geralmente não é produtiva e pode ser desencadeada por irritação da pleura ou das vias aéreas. SÍNCOPE: Caracterizada por hipotensão e cianose, diante do caso de enchimento ventricular esquerdo diminuído, que resulta em insuficiência cardíaca anterior. DIAGNÓSTICO O diagnóstico deve ser suspeitado em qualquer paciente com dor ou edema em membros inferiores, principalmente se unilateral ou assimétrico. O edema costuma ser depressível. Quando a diferença do diâmetro entre as duas panturrilhas é maior que 3 cm, a probabilidade de TVP aumenta sobremaneira. A presença de fatores precipitantes potenciais deve ser investigada sistematicamente. A dor à palpação de musculatura de panturrilha é sugestiva do diagnóstico. Achados como eritema, calor local e dor à dorsiflexão do pé têm pouco valor. Considerando a pouca especificidade dos achados clínicos para o diagnóstico, o uso de escores diagnósticos, como o de Welles, podem ser úteis. TVP – MYRELLA TURBANO A flegmasia cerúlea é uma complicação que deve ser investigada, pois ocorre em tromboses ileofemurais extensas e apresenta grande morbimortalidade. Sinais e sintomas sugestivos de seu diagnóstico incluem aparecimento de dor intensa em região de membros inferiores, com edema significativo, cianose e gangrena venosa, podendo evoluir com síndrome compartimental e comprometimento arterial. Assim, a avaliação da perfusão do membro é fundamental nestes pacientes. EXAMES COMPLEMENTARES D-DÍMEROS Apresentam alta sensibilidade e baixa especificidade para o diagnóstico de TVP. Portanto, não podem ser usados isoladamente paradiagnóstico de TVP, sendo necessário realizar outros exames para confirmação do diagnóstico. Em pacientes com baixo risco clínico de TVP, entretanto, um exame negativo exclui o seu diagnóstico. USG DOPPLER É o de TVP e deve ser realizado em todos pacientes com alta probabilidade clínica de TEP (tromboembolismo pulmonar). O principal critério ultrassonográfico para diagnóstico de TVP é o teste de compressão, com leve compressão em linha venosa. Caso seja possível compressão completa, exclui-se TVP. ANGIORRESSONÂNCIA VENOSA Acurácia comparável à venografia. VENOGRAFIA Exame considerado padrão-ouro para o diagnóstico de TVP, porém, por ser invasivo, é usado apenas em casos selecionados. INVESTIGAÇÃO DE TROMBOFILIAS É recomendado o rastreamento nas seguintes situações: 1. TVP idiopática em pacientes com menos de 50 anos de idade; 2. História familiar de TVP (parentes de 1º grau); 3. Mulheres gestantes ou que pretendem engravidar, com história familiar de TVP ou que pretendem usar anticoncepcional oral ou realizar terapia de reposição hormonal; 4. TVP recorrente; 5. TVP em locais inusitados, como veias portais, mesentéricas e hepáticas; 6. Complicações com varfarina como necrose cutânea sugestivas de deficiência de proteína C ou S. TRATAMENTO A maioria dos casos pode ser tratada seguramente em ambiente ambulatorial, mas algumas condições são necessárias: 1. paciente estável com sinais vitais normais; 2. ausência de alto risco de sangramento; 3. ausência de insuficiência renal grave; 4. capacidade de administrar medicação e monitoração posterior. O tratamento de escolha é feito com heparina de baixo peso molecular, heparina não fracionada ou fondaparinaux subcutâneo, devido à facilidade de aplicação e monitoração. Concomitantemente, deve ser prescrita ainda anticoagulação por via oral. As opções são: TVP – MYRELLA TURBANO Varfarina sódica (antagonista da vitamina K): dose inicial de 5 mg, via oral, em jejum, 1 vez/dia. A dose deve ser ajustada pra manter o INR entre 2 e 3. A heparina pode ser suspensa apenas quando se conseguir o INR acima de 2 durante dois dias seguidos. Dabigatran (inibidor direto da trombina): dose de 150 mg, via oral, a cada 12 horas. Em estudos, a medicação apresentou perfil de segurança e eficácia similar à varfarina. Apesar da vantagem de prescindir da necessidade de controle de INR, é uma medicação de alto custo e pouco disponível. Rivaroxabam: inibidor do fator Xa; a dose inicial é de 15 mg 2 vezes/dia por 3 semanas e, depois, dose de 20 mg 1 vez/dia. HEPARINA NÃO FRACIONADA Apresenta grandes variações entre diferentes pacientes. Por este motivo, a resposta deve ser monitorada pelo TTPA. As recomendações para tratamento hospitalar das diretrizes brasileiras sugerem o seguinte: 1. dose de ataque de 80 UI/kg endovenosa (alternativa dose única de 5.000 U); 2. infusão contínua com dose inicial de 18 UI/kg/h e ajuste da dose pelo TTPa com objetivo de atingir valores de 1,5 a 2,5. Deve-se verificar o número de plaquetas no 3º e no 5º dia devido ao risco de plaquetopenia autoimune pela heparina. O INR deve ser verificado inicialmente a cada 6 horas e depois diariamente. A heparina é descontinuada apenas quando o INR obtido com a anticoagulação oral estiver em níveis adequados (INR 2 a 3) por 2 dias consecutivos. Uma opção também com validação na literatura é o uso de heparina convencional subcutânea, que pode ser utilizada da seguinte forma 1. dose inicial: 333 U/kg peso, SC; 2. manutenção: 250 U/kg peso, SC, a cada 12 horas; 3. não há necessidade de controle de coagulograma. HEPARINA DE BAIXO PESO MOLECULAR (HBPM) Podem ser utilizadas em dose única diária: • Enoxaparina SC: 1,5 mg/kg de pe-so, 1 vez/dia. A dose a cada 12 horas é de 1 mg/kg; • Dalteparina: 200 unidades/kg de peso, 1 vez/dia; • Nadroparina: 171 unidades/kg de peso, 1 vez/dia; • Tinzaparina: 175 unidades/kg de peso, 1 vez/dia. As heparinas de baixo peso molecular não apresentam grande segurança em pacientes com clearance de creatinina menor que 30 mL/min e devem ser evitados nesta situação. Fondaparinux As doses são: 1. peso menor que 50 kg: 5 mg SC, 1 vez/dia; 2. peso entre 50 e 100 kg: 7,5 mg SC, 1 vez/dia; 3. peso maior que 100 kg: 10 mg SC, 1 vez/dia. INIBIDORES DA TROMBINA Apenas a bivalirudina está sendo produzida comercialmente. Sua dose é de 0,15 mg/kg/hora, mantendo TTPA entre 1,5 e 2,5 vezes o controle. Doses de 0,14 mg/kg/hora são indicadas em disfunção hepática e de 0,03 a 0,05 mg/kg/hora, se disfunção hepática e renal combinadas. TEMPO DE TRATAMENTO Após o evento trombótico, o tratamento consiste no uso parenteral de heparina ou outros anticoagulantes concomitantemente ao uso de antagonistas da vitamina K, que são administrados por um período de 3 a 6 meses, com objetivo de manter INR entre 2 e 3. A Tabela sugere os tempos de tratamento em diferentes situações clínicas. TVP – MYRELLA TURBANO FILTROS DE VEIA CAVA Indicado apenas em situações específicas: -Paciente com episódios recorrentes de tromboembolismo venoso que ocorrem apesar da anticoagulação adequada; -Pacientes com trombose venosa profunda proximal nos quais é contra-indicado o uso de anticoagulantes TROMBOLÍTICOS SISTÊMICOS O uso de trombolíticos sistêmicos não é recomendado para o tratamento da trombose venosa profunda, mas pode ser uma opção para pacientes com flegmasia cerúlea dolens. Alguns estudos sugerem que seu uso diminui a incidência de síndrome pós- trombótica, mas não é recomendado de rotina. O diagnóstico clínico é auxiliado por escores de probabilidade diagnóstica, como o escore de Wells. PROFILAXIA Todo paciente de risco para TVP e TEP deve receber alguma forma de profilaxia, que pode ser feita através de medidas farmacológicas, não farmacológicas ou associação de ambas. PROFILAXIA NÃO FARMACOLÓGICA MEIAS ELÁSTICAS: As meias de compressão gradual, 18mmHg nos tornozelos, 14mmHg nas panturrilhas, 8mmHg no joelho e 10mmHg na porção distal da coxa e 8mmHg na proximal produz aumento de 36% na velocidade de fluxo da veia femoral. Quando a compressão é uniforme de 11mmHg, este aumento é de apenas 10%. Entre os pacientes de baixo risco, reduz a freqüência de TVP em mais de 50% se comparado com aqueles sem profilaxia. Seu uso precoce associado a deambulação e a movimentação dos membros inferiores é a primeira medida profilática a ser adotada entre os pacientes hospitalizados. COMPRESSÃO PNEUMÁTICA INTERMITENTE: A compressão do membro inferior pela insuflação sequencial de cuffs: 35, 30 e 20mmHg, respectivamente, no tornozelo, joelho e coxa aumentam em 240% a velocidade de fluxo na veia femoral. Quando somente uma câmara é utilizada, no tornozelo, com pressão de 35mmHg por 12s, este aumento é de 180%. O tempo de clareamento do contraste da venografia é oito vezes menor quando comparado ao de compressão sequencial. Há evidências que esta modalidade de profilaxia aumente a atividade fibrinolítica endógena. FILTRO DE VEIA CAVA INFERIOR: Indicado em situações especiais, por exemplo, naqueles com contra-indicação para profilaxia farmacológica e com alto risco de TEP. O portador de fratura ortopédica com fenômeno tromboembólico recente e necessidade de tratamento cirúrgico, pode se beneficiar do mesmo. É medida eficaz na prevenção do TEP e não atua sobre a cascata da coagulação. Migração do filtro, estase venosa crônica e TEP através de vasos colaterais, são algumas das complicações. Filtro temporário (duração de até 14 dias) com sua retirada após comprovação de ausênciade trombo é outra opção profilática. TVP – MYRELLA TURBANO PROFILAXIA FARMACOLÓGICA HEPARINA NÃO FRACIONADA (HNF) (LIQUEMINE, HEPARINA) Seu efeito anticoagulante baseia-se no fato de interagir com a antitrombina III, promovendo alteração na sua conformação estrutural, o qual acelera sua capacidade em inativar várias enzimas da cascata da coagulação: fator XIIa, fator XIa, fator IXa, fator Xa e fator IIa (trombina). Destes a trombina e o fator Xa são os mais sensíveis à inibição. Somente um terço da heparina infundida por via endovenosa liga-se à antitrombina III (ATIII), promovendo seu efeito anticoagulante. O restante liga-se a ao fator von Willebrand, células endoteliais, macrófagos. É clareada através de receptores situados no endotélio e macrófagos, onde é internalizada e despolimerizada e, também, pelos rins. Na profilaxia utilizam-se doses de 5.000 a 7.500UI de heparinato de cálcio ou de Sódio cada 8 a 12h, via SC. HEPARINA DE BAIXO PESO MOLECULAR (HBPM) (NADROPARINA - FRAXIPARINER; ENOXAPARINA - CLEXANER) Tem maior capacidade em inibir o fator Xa e menor afinidade por proteínas plasmáticas, vasculares, células endoteliais, macrófagos e plaquetas, conferindo maior biodisponibilidade e meia-vida plasmática e redução dos efeitos colaterais relacionados a plaquetopenia e risco de sangramento. Para os pacientes de risco moderado recomenda-se: 1) enoxaparina SC 20mg (2.000UI anti-Xa) 2h antes da cirurgia e mantido por sete a 10 dias (ou enquanto persistir o risco) ou 2) nadroparina 0,3ml SC (7.500UI antiXa), nos mesmos intervalos de tempo. Para os de alto risco: enoxaparina 40mg SC 12h antes da cirurgia e mantido por sete a 10 dias ou nadroparina 0,6mL SC, nos mesmos intervalos. Dextran 40 - reduz a adesividade e a agregação plaquetária. -Utilizar doses de 500mL EV durante seis a 24h e mantido por alguns dias. -Pode causar insuficiência cardíaca pelo efeito da expansão plasmática, anafilaxia e insuficiência renal). Útil naqueles com riscode sangramento pela heparina. Nas obstruções de cateteres venosos, pode ser utilizado a fibrinolítica uroquinase na dose de 5.000UI, injetados dentro do cateter. Aspirar após 30min e repetir a dose caso não tenha ocorrido sucesso. Na gravidez a profilaxia deve ser feita com HNF ou com a HBPM, pois não atravessam a placenta e não são teratogênicos. No trauma medular, a incidência de TVP é maior nas duas primeiras semanas seguintes ao mesmo e mais raro após o 3º mês. Recomenda-se o uso profilático da HBPM por pelo menos três meses ou HNF associada a medidas não farmacológicas. Naqueles submetidos a neurocirurgia intracraniana, a profilaxia não farmacológica tem sido recomendada, embora a sua associação com a HNF tem sido sugerida. Nos portadores de cateteres venosos centrais, a prevenção da trombose da veia subclávia e axilar deve ser feita com warfarin na dose de 1mg/dia. TVP – MYRELLA TURBANO Nos pacientes submetidos a cirurgia de revascularização miocárdica e que não recebem profilaxia para TVP, cerca de 4% apresentam TEP 20. Em um estudo utilizando a ultra-sonografia dos membros inferiores para a detecção de TVP em pacientes submetidos a revascularização miocárdica e que não eram portadores de doença vascular periférica, constataram que 20% dos casos apresentaram TVP apesar da profilaxia com medidas não farmacológicas (meias elásticas e/ou compressão pneumática). O TEP ocorreu em 0,6% dos casos, sendo um fatal. O uso da HBPM nesses casos tem sido motivo de controvérsia devido ao risco de sangramento, principalmente no período mais imediato do pós-operatório REFERENCIAS Labropoulos N, Bekelis K, Leon LR Jr. Thrombosis in unusual sites of the lower extremity veins. J Vasc Surg. 2008. WONG, Eric; CHAUDHRY, Sultan. Venous thromboembolism (VTE). McMaster Pathophysiology Review. Recuperado de: pathophys. org, 2011. BAUER, Kenneth A.; LIP, Gregory YH. Overview of the causes of venous thrombosis. UpToDate. Waltham, 2017. KASPER, Dennis L.. Medicina interna de Harrison. 19 ed. Porto Alegre: AMGH Editora, 2017.
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