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1 CONSTRUTIVISMO E SÓCIO-INTERACIONISMO NO ENSINO APRENDIZAGEM. Izaura Cristina Damasceno dos Santos Discente do Curso de Pedagogia da Universidade Paulista – Campus Belém Resumo O presente artigo apresenta o construtivismo e o sócio interacionismo através das ideias de Jean Piaget e Lev Vygotsky, respectivamente. Tendo como principal objetivo descrever de maneira simplificada o que essas teorias representam no processo ativo de construção de conhecimento, ensino-aprendizagem. Este artigo busca primeiramente, mostrar diferentes aspectos das duas teorias. Num segundo momento, associa as concepções teóricas. Finalmente, aborda o contexto educacional à luz dessas teorias, ao mesmo tempo em que analisa criticamente este contexto. Palavras-chave: construtivismo, sócio interacionismo, períodos do desenvolvimento, Zona de Desenvolvimento Proximal, ensino aprendizagem, educação. Abstract This paper shows the constructivism and the social interactionism based on the Jean Piaget, Lev Vygotsky’s thoughts, respectively. The main purpose of this paper was to describe of simply way what that theories represents in the knowledge construction active process or learning teaching. This article aims, first, at showing the different respects of the theories. Second, it joins the theoretical conceptions. Finally, it describes about the education context in the light these theories, at the same time it does a critical analyze about this context. Key-words: constructivism, social interactionism, Zone of Proximal Development, intelligence, learning teaching, education. 1. Introdução Este artigo apresenta, basicamente, uma revisão teórica sobre as principais características de duas posições epistemológicas: teoria construtivista, por Jean Piaget e da teoria sócio interacionista, por Lev Vygotsky. A partir desta revisão pontua-se o papel de mediadores do conhecimento, professores, diante dessas teorias. Nesse contexto, esta análise buscou responder a seguinte problemática: Quais as possibilidades e a relevância de se utilizar destas teorias do desenvolvimento na formação dos alunos? Partindo da hipótese de que posições epistemológicas 2 podem ser consideradas uma forma para explicar como o sujeito, ao longo de seu processo de evolução, vai desenvolvendo seu intelecto e vai adquirindo novos conhecimentos. Os caminhos metodológicos que direcionaram a construção deste artigo foram: a pesquisa bibliográfica e documental (MANN, 1970, BECKER, 1990) como processos canalizadores de construção de conhecimentos. Dessa maneira, a construção da realidade se revelou através de uma mudança de olhar, de comportamento no sentido de esclarecer as teorias e associa-las a prática educacional. Nesta direção, o artigo de conclusão de curso está composto de quatro capítulos teóricos. O primeiro e o segundo definem as teorias de Piaget e Vygotsky no sentido de compor um arcabouço das ideias neste artigo, definindo construtivismo e sócio interacionismo. O terceiro descreve a concepção de desenvolvimento dos teóricos. Por fim, o quarto pontua as principais características, focando as principais diferenças e semelhanças, para descrever as influências destes conceitos no contexto social de educação. O quinto capítulo apresenta as considerações finais acerca de todo o conteúdo teórico abordado. Destaca-se que qualquer teoria pode ser ampla em discussão, por isso não se pretende defender ideias, tão pouco idealizar conceitos para a abordagem educacional. Parte-se do princípio de que o “olhar” de cada profissional da educação deve partir de referenciais que agreguem valor a seu pensamento e suas ações enquanto educadores. Portanto a educação, seja piagetiana ou vygotskyana, é uma área aberta para discussões produtivas que devem ser instigadas a partir dos estudos sobre a aprendizagem. 2. O Construtivismo de Piaget Para Piaget, a inteligência seria a formação de um processo adaptativo de um sujeito a contextos novos, no qual se necessita de uma (re) criação continuada de estruturas. Este processo adaptativo tem haver com o mundo a sua volta, como qualquer adequação ou ajustamento biológico. Assim, é partindo de estímulos ou induções do ambiente a sua volta que cada sujeito se desenvolverá intelectualmente. Ainda, Piaget reforça que o amadurecimento do sujeito passa pelo processo genético e a formação dependerá de certa estrutura deste amadurecimento. Esta concepção descreve que o sujeito só poderá receber certa informação se estiver pronto para isso. Por exemplo, ensinar “Estequiometria” para crianças de dois a cinco anos, seria um trabalho sem uma resposta favorável, pois o processo de aprendizagem demanda um amadurecimento, logo é imprescindível que o sujeito tenha capacidade ou desenvolvimento cognitivo, os quais permitam que ele absorva este conteúdo e alcance o entendimento do mesmo. Na definição de Piaget (1982) “não existe estrutura sem gênese, nem gênese sem estrutura”, e isto leva a duas percepções do processo inteligível do sujeito: a assimilação e a acomodação. A primeira refere-se à incorporação da realidade às ações do sujeito ou a transformação de determinado ambiente pelo sujeito, de maneira que este esteja confortável. A segunda representa a reestruturação das ações da assimilação do sujeito. Portanto, “conhecimento é sempre uma assimilação ou interpretação” (Piaget, 1977) e o aprendizado se dá quando a assimilação sofrer acomodação, ou seja, as duas percepções devem integrar-se, são indissociáveis. Piaget (1982, p. 18) diz que “há adaptação a partir do momento em que o organismo se transforma em função do meio, e que esta variação tenha por consequência um aumento das trocas entre o meio e organismo que sejam favoráveis à sua conservação”. E ainda afirma que “o carácter cada vez mais complementar 3 destas duas funções permitem-nos, assim, concluir que a experiência, longe de se libertar da actividade (sic!) intelectual, só avança à medida que é organizada e animada pela própria inteligência”. (Piaget, 1982, p.381) Neste contexto, Piaget direciona a uma questão do conhecimento á luz de uma interação entre sujeito e os objetos a sua volta; que cada indivíduo desenvolve sua inteligência a partir do nascimento passando por uma série de mudanças ordenadas e previsíveis, as quais dependem umas das outras, numa espécie de progressão e a isto se chama construtivismo. Para Piaget “o conhecimento não está pronto. Cada um de nós, continuamente, cria nosso próprio conhecimento”. (Piaget, 1977) Muitos autores definem o construtivismo de Piaget, porém Becker (1984) apresenta uma ideia simples, mas abrangente, sobre construtivismo, explicando que é: (...) a ideia de que nada, a rigor, está pronto, acabado, e de que, especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado. Ele se constitui pela interação do indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais; e se constitui por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia, na bagagem hereditária ou no meio, de tal modo que podemos afirmar que antes da ação não há psiquismo nem consciência e, muito menos, pensamento. (BECKER, 1992, p. 88, 89) Neste caso, vê-se que o construtivismo não pode ser considerado um método de ensino ou uma fórmula de como se ensina, mas uma forma que se tem de decodificar o próprio método ou fórmula. Portanto, o pensamento piagetiano assinala que os seres vivos possuem um comportamento, ou desempenho, construído pela interação entre estes e os objetos. Desse modo, Piaget consente que a pedagogia delineie formas e processos de ensino-aprendizagem com bases neste pensamento,e ainda viabiliza uma abertura para estudos de psicologia do desenvolvimento, sociologia e antropologia. Ressalta-se que a proposta, nesta ocasião, não é aprofundar em todas as teorias e ideias, mas apenas descrevê-las de maneira simplificada, pois servem como arcabouço teórico desta abordagem. 3. O sócio interacionismo de Vygotsky A definição de sócio interacionismo se insere na ideia de que o desenvolvimento intelectual do sujeito se forma através das interações com o meio social. Para Vygotsky, cada sujeito está inserido em um contexto social específico e neste constitui relações, as quais fazem com que ele ordene suas informações em relação aos objetos, através de um intercambio com outro sujeito. Segundo Rego (2002, p.98): Em síntese, nessa abordagem, o sujeito produtor de conhecimento não é um mero receptáculo que absorve e contempla o real nem o portador de verdades oriundas de um plano ideal; pelo contrário, é um sujeito ativo que em sua relação com o mundo, com seu objeto de estudo, reconstrói (no seu pensamento) este mundo. O conhecimento envolve sempre um fazer, um atuar do homem. 4 Vygotsky acredita que o individuo constrói suas concepções por intermédio da assimilação do conhecimento do ambiente social do qual faz parte. Então a relação entre o sujeito e o mundo seria viabilizada por alguns “elementos de mediação”, os quais são apontados teoricamente como os signos e os instrumentos. Para Vygotsky, os signos são elementos facilitadores no desenvolvimento mental de um individuo, ou seja, fazem com que ele tenha capacidade de realizar tarefas e atividades cada vez mais difíceis sobre os objetos. E os instrumentos seriam tudo o que o sujeito utiliza para ampliar a capacidade de transformar o ambiente e seus objetos. Nota-se que ambos, signos e instrumentos, podem servir de auxilio nas ações reais e psicológicas e de acordo com Vygotsky, na utilização dos signos sucedem dois processos: a internalização e o uso de sistemas simbólicos. O primeiro processo se refere a um momento em que o sujeito geralmente copia ou repete um discurso de outro; o segundo processo se refere ao ordenamento estrutural dos signos. Então, os signos são divididos entre os indivíduos, fazendo com que haja comunicação entre eles e interação social, e a partir desta interação o sujeito desenvolverá seu arcabouço intelectual. Assim, o desenvolvimento sai de uma condição social para a individual. Nas palavras de Castorina (1988) “o pensamento de Vygotsky sobre a formação de conceitos é uma concretização da sua hipótese básica: as formas culturais internalizam-se ao longo do desenvolvimento dos indivíduos e constituem-se no material simbólico que medeia sua relação com os objetos de conhecimento”. Todavia, Vygotsky não descarta a capacidade de um sujeito quando é criança, acreditando que possui uma espécie de inteligência prática e com ela consegue resolver determinadas tarefas com auxilio de alguns instrumentos. No contexto da infância Vygotsky determina dois níveis específicos, sendo que o primeiro é aquele em que a criança, com dois anos aproximadamente, tem uma fala simbólica e um pensamento oral, enquanto que o segundo a criança obtém respostas com a ajuda de outro (adulto), ou seja, intercedidos pelo social, por meio de símbolos indicados pela cultura, a qual já está linguisticamente estruturada pelos indivíduos adultos. Vygotsky (1987) diz que “é no significado da palavra que a fala e o pensamento se unem em pensamento verbal”, portanto, pensamento e linguagem têm ponto de partida na interação social, transcorrendo para um processo individualista ou egocêntrico, transferência de formas dos outros para si, e assim somente assim o sujeito chega a um pensamento reflexivo. Para Vygotsky esse processo egocêntrico reafirma que o pensamento vai do social para o individual, como se o sujeito criasse um “discurso interior”, direcionado ao próprio sujeito, constituindo assim um monólogo sem a necessidade de um ouvinte. Segundo Vygotsky (1989), a aprendizagem é essencial para o desenvolvimento do conhecimento. Logo qualquer metodologia de aprendizagem é ensino-aprendizagem, por abarcar uma relação entre quem aprende e quem ensina: aluno e professor. Essa dependência entre aprendizado e desenvolvimento é explicada através de um conceito chamado Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). Nas palavras de Andy Blunden (2011), esta zona conceituada por Vygotsky “refere-se a gama de funções psicológicas entre, por um lado, quais as funções que a criança é capaz de vencer sem ajuda, e por outro lado, quais as funções que a criança consegue se dado assistência” (minha tradução). Ainda esclarecendo sobre a ZDP, Carrara (2004) explica que: Para ser considerada como possuidora de certa habilidade, a criança tem que demonstrar que pode cumprir a tarefa sem nenhum tipo de ajuda. Vygotsky denomina essa capacidade de realizar tarefas de forma independente de nível de desenvolvimento real (NDR). Refere-se a etapas já alcançadas, como resultado de processos de desenvolvimento já completados. Chama a atenção para o fato de que para compreender adequadamente o desenvolvimento devemos considerar não apenas o nível real da criança, mas também 5 seu nível de desenvolvimento potencial (NDP) – a capacidade de desempenhar tarefas com a ajuda de adultos ou de colegas mais capazes. Portanto a zona de desenvolvimento proximal se refere à capacidade que o sujeito tem de fazer algo sozinho e o que ele pode fazer com o auxilio de um mediador, na interação com outro que possua outras habilidades. Quando se refere ao processo de interação esta zona condiciona a mudanças significativas nas funções psicológicas do sujeito, pois passam a ser superiores a partir da interação, assim a aprendizagem ocorre no espaço entre o desenvolvimento real e o desenvolvimento potencial. Vygotsky destaca em sua teoria que a linguagem tem um papel formador da própria consciência, pois quando o individuo interioriza a cultura, também incorpora significados, e será este último que formará a base da sua consciência. Então, seria como se todo o conhecimento que o sujeito possui tivesse um arcabouço formado por interações sociais que o condicionaram a construção daquele conhecimento. Neste sentido, sócio interacionismo pode ser entendido como o movimento dialético entre os indivíduos, bem como a cultura destes indivíduos, que geram a construção do conhecimento. 4. O desenvolvimento intelectual para Piaget e Vygotsky. Ao conhecer as teorias de Piaget e Vygotsky, nota-se que a concepção de desenvolvimento de cada um converge para lados opostos, porém estes teóricos e suas ideias dialogam de modo que pode ser traçado um paralelo dos dois, apontando diferenças e semelhanças. O construtivismo de Piaget é uma teoria que apresenta estágios, etapas ou períodos específicos, pelos quais os indivíduos passam no processo de construção da inteligência, da maneira que desenvolvem seu conhecimento e sua autonomia. Então, os períodos do desenvolvimento intelectual de um modo geral são: o sensório-motor, o Pré-operatório, o operatório concreto e o operatório Formal. O Sensório-motor é aquele antes da linguagem, que vai de zero a dois anos, é o momento em que se enxerga a inteligência prática da criança. A seguir, se tem outro período chamado de Operatório. Sendo que Piaget divide a construção operatória em dois subperíodos: o Pré-operatório, que vai de dois aos sete anos e o Operatório concreto, que vai dos sete aos doze anos, aproximadamente. O pré-operatório seria o período das primeiras representaçõescom o aparecimento da linguagem, no qual a criança lentamente caminha ao que se denomina de função simbólica ou figurada, começando a fazer imitações, desenhos, a linguagem passa a ser um objeto, e então se constrói um sentido figurado. Posteriormente, o período operatório concreto se diferencia do anterior pela aquisição de um pensamento reversível, que cita à capacidade de raciocinar e despertar para fatos e problemas da realidade. Porém este raciocínio ainda se fundamenta no objeto, no concreto, como o próprio nome já define. Por fim, o período operatório formal, a partir dos doze anos, no qual o indivíduo tem a capacidade de pensar a respeito do próprio “ato de pensar”. Neste período, que é superior aos demais “a criança pode interagir sobre hipóteses ou sobre objetos” (Piaget, 1977) Em outras palavras, consegue trabalhar e raciocinar não apenas com um fato concreto, mas também se apoiar a outro (abstrato) totalmente possível. Em uma série de entrevistas nos anos de 1969, 1975 e 1976, reproduzidas pela Univesp TV, o jornalista francês Bringuier faz algumas indagações a Piaget referente às suas ideias de evolução da inteligência, então ele responde: 6 “Havia em um documento que me deram 25 crianças que eu não conhecia e todas dizendo a mesma coisa, na mesma idade. Embora não pertença ao mesmo ambiente e a mesma cidade. Elas estão no mesmo nível de evolução. Portanto Crianças sejam quais forem as sociedades e as épocas passam na evolução da inteligência, por uma ordem, de fases, que são as mesmas, pois cada fase é necessária à seguinte; é uma ordem sequencial.” Assim, Piaget constatou através de seus estudos que mesmo crianças em contextos culturalmente distintos possuem características constantes, similares ou aproximadas, portanto necessariamente, a criança passará por um período para chegar a um segundo, e deste para outro, seguindo uma ordem sequencial. Para Vygotsky o ser humano não se encontra geneticamente determinado no seu desenvolvimento, tão pouco segue etapas pré-determinadas, pois cada indivíduo terá uma forma de desenvolver-se intelectualmente e isso dependerá do meio social no qual ele está inserido. Desse modo, na concepção de Vygotsky o individuo é um Ser completamente social, pois ele nasce fazendo parte de um contexto específico, porém se o individuo não se relacionar em seu contexto cultural humano, não se relacionar com os outros indivíduos, não se forma como um Ser humano. Assim, Vygotsky aponta para dois processos de desenvolvimento: o biológico e o social, e ambos se agregam para constituir o homem. Enquanto Piaget se volta para as estruturas do conhecimento, Vygotsky direciona para a formação social do indivíduo. Quando os estudos de Piaget começam a descrever o desenvolvimento da criança e suas características, começa-se a pensar na criança quantitativamente e qualitativamente diferente de um adulto, e ainda mostra que as crianças podem apresentar semelhanças entre si, comparadas umas com as outras, em contextos de desenvolvimento distintos. Por outro lado, para Vygotsky o contexto cultural, as experiências sociais que indivíduos têm ao longo da vida são fundamentais no processo de amadurecimento. Então crianças em ambientes diferentes, podem apresentar graus de desenvolvimento diferentes. Na teoria piagetiana o sujeito é formado na ação sobre um universo palpável, descobrindo esse universo. Na teoria vygotskyana ele se formará enquanto sujeito através da extração deste universo. Piaget descreve que o desenvolvimento progride do individual para o social, onde o sujeito passa por etapas de desenvolvimento, operando e modificando o mundo. Mas para Vygotsky o desenvolvimento progride do social para o individual, pois sujeito nasce em uma cultura, se apropria dela através das relações sociais e partir disso se constitui como sujeito. Nota-se que ambas as teorias apresentam possibilidades baseadas em seus próprios estudos e análises, assim não se pode enxerga-las como determinações. Através da teoria de Piaget vê-se a possibilidade de um indivíduo ter capacidade de se desenvolver intelectualmente através de construções, porém não se pode afirmar com toda certeza que agirá exatamente como se descreve. O mesmo ocorre com a teoria de Vygotsky, na qual a interação poderá condicionar o sujeito a um pensamento superior e formador de consciência, porém isso dependerá da condição desta interação e, de maneira mais ampla, da qualidade desta interação. É importante destacar que Piaget e Vygotsky são de correntes epistemológicas distintas por isso é possível apenas traçar paralelos, mas não há como estabelecer comparações. O primeiro parte por essência, de um ponto de vista biológico e o segundo prioriza o social, mas isso não significa que Piaget, por exemplo, não pensou em nenhum momento na questão social, ou que Vygotsky descarta o pensamento biológico. 7 5. As abordagens teóricas no contexto da realidade. Um professor que tem conhecimento das teorias poderá utilizar-se delas para facilitar a relação com os alunos e o ambiente educacional. O pensamento piagetiano, por exemplo, possibilita pensar na ideia de características permanentes em determinada fase, portanto em determinados momento faz-se necessário captar em qual fase ou período de desenvolvimento o individuo se encontra para conseguir fazer a abordagem correta. A psicóloga Nina Oliveira, em seu artigo sobre o brincar da criança, diz que “uma bola para uma criança de dois anos pode ser fonte de interesse com relação a tamanho, cor e para uma criança de seis anos o interesse pode ser mais relacional: jogar e receber a bola do outro, fazer gol”. Com isso, é possível pensar a respeito da interação entre a criança e os objetos, juntamente com a interação social, nos períodos previstos por Piaget, de acordo com a idade, visto que em determinado momento, a criança se encontra em determinado período ou fase com certas características e depois passa para a seguinte, com outras particularidades. Vygotsky foi um dos primeiros teóricos a trabalhar com a ideia da influência das interações sociais no desenvolvimento do sujeito. Para os profissionais da educação a proposta seria ter como metodologia de trabalho o pensamento verbal, que é para ele a base funcional principal do desenvolvimento humano. Seria como se utilizar do cruzamento entre pensamento e linguagem, que se converge na fala, para criar ambientes que favoreçam o processo de interação humana, reforçando a linguagem, escrita e verbal. As palavras passarão informações a uma criança e a partir disso ela poderá construir e iniciar seu processo inteligível. De acordo com Carrara (2004) Ao ensinar/educar as crianças, o adulto deverá, ainda, utilizar sempre um vocabulário vasto, além de usar nomenclaturas corretas e dar explicações coerentes, que satisfaçam o grau de desenvolvimento delas. Tornando mais claro, se um professor que trabalha com crianças de quatro anos fazer uso contínuo de diminutivos, certamente elas assim o farão; falarão como o modelo apresentado. Mas, em outro exemplo, se alguém disser às crianças que a gripe é causada por um vírus e lhes der uma explicação plausível sobre o que é ‘isso’, elas sairão, no final de cada processo, de cada momento de ensino- aprendizagem, mais bem preparadas, com um vocabulário mais rico e, certamente, não falarão à outra pessoa que a gripe é causada por uns ‘bichinhos’.... Visto isso, Vygotsky considera que há um grau de desenvolvimento na criança e ao ensinar o professor deve respeitar este desenvolvimento, entretanto no momento em que se ensina ocorre uma espécie de interferência nesse desenvolvimento, na qual a criança seapropria das palavras do outro, por isso faz-se necessário que as técnicas pedagógicas sempre sejam direcionadas a elucidar o valor da fala no processo de interação com o outro. As ideias piagetianas direcionaram a uma compreensão das características de estruturas cognitivas, partindo de estudos sobre a maneira que as crianças desenvolvem ou constroem conhecimentos básicos para chegarem a um conhecimento lógico, o qual requer um raciocínio superior. Neste sentido, a relação do indivíduo com o espaço físico, bem como a ação sobre os objetos, condicionam profissionais da educação, entre outros, a compreender a formação da estrutura e o desenvolvimento intelectual humano. As ideias vygotskyanas mostram que a partir de um conhecimento inferior, empírico, o professor pode ir além e estimular o sujeito a sair do estágio mental atual para outro superior, através de ideias e pensamentos. Neste raciocínio Carrara (2004) diz que “eis aqui mais um momento privilegiado daquele que ensina: instigar a criança; ‘bombardeá-la’ de perguntas; pedir sua opinião sobre algo, o que favorece o seu desenvolvimento cognitivo e afetivo, respeitando as suas limitações.”. 8 Os profissionais da educação para Piaget e Vygotsky devem ser capazes de perceber e notar em que nível de desenvolvimento o sujeito se encontra e a partir dessa percepção fazer a abordagem que o conduza a se desenvolver. Entretanto o construtivismo sugere que o professor é quem colocará o aluno em condição que o desequilibre, desencadeando a desconfiança e consequentemente o desenvolvimento das estruturas de inteligência, tudo isso sem necessariamente ensiná-lo. E o sócio interacionismo propõe que o professor trabalhe partindo de um conhecimento espontâneo do aluno para um conhecimento científico, portanto há o ensino propriamente dito e mais ainda, uma interação entre professor e aluno. É importante relembrar que não se descartou ideias de outros teóricos, como as de Freinet ou Wallon, apenas as abordagens sobre construtivismo e sócio interacionismo à luz das ideias de Piaget e Vygotsky, respectivamente, foram o arcabouço para este contexto teórico. 6. Considerações finais. Rever as teorias construtivista e sócio interacionista, relembra que as bases da reforma educacional sofreram transformações a partir do construtivismo de Piaget. E também se observa que a ideia de interação, levando em conta um intercâmbio sociocultural, partiu do interacionismo de Vygotsky. Portanto ambos foram pioneiros em suas abordagens. Todavia, essas teorias são vistas por alguns acadêmicos e profissionais da educação como algo muito distante da prática pedagógica e talvez isto seja pertinente, considerando que os tempos são outros. Mas, o fato é que a época é outra, mas a formação dos alunos não pode mudar do foco de indivíduos com conhecimento científico, que tenham habilidades tais, que lhes permitam desenvolver uma autonomia nas ações, bem como uma consciência reflexiva. De modo que o “desequilíbrio” citado por Piaget e o ensino apontado por Vygotsky jamais deixem de estar presentes num contexto de aprendizagem. A relevância de se rever construtivismo e sócio interacionismo esta no fato de que é fundamental que profissionais da educação tentem integrar um encargo teórico a realidade educacional, no sentido de fomentar e agregar valor ao ensino aprendizagem. Piaget nos apresenta uma interação entre sujeito e objeto, onde a linguagem seria uma consequência do desenvolvimento. Em seguida este desenvolvimento deve respeitar o nível e não deve ser acelerado, sendo papel do professor desafiar o aluno criando um ambiente que o conduza ao raciocínio e assim o leve a aprender. Vygotsky nos expõe uma interação entre sujeito e grupo, na qual a linguagem seria uma ferramenta auxiliar para estimular o aluno a se desenvolver, sendo que este desenvolvimento pode ser acelerado pelo mediador, partindo do principio de que o aluno já possui um conhecimento empírico e se apropriará do que lhe está sendo ensinado para formar um pensamento individual. Assim, um profissional que escolhe se inserir na educação deve, incansavelmente, buscar meios que lhes façam mediadores de conhecimento para aqueles ainda em processo de desenvolvimento. A teoria de Piaget conduz a ideia de que determinada didática ou proposta pedagógica poderá ser mais eficaz em um período específico do indivíduo, já que possui tais particularidades, todavia Vygotsky enfatiza que o aluno pode e deve ser condicionado a outros raciocínios através de novos conceitos. Partindo disso e de outras concepções, basta verificar um caminho a seguir e fazer uma abordagem que leve o aluno a desenvolver sua consciência. 9 Ainda que esta abordagem não seja inovadora, vê-se em nosso contexto educacional Estadual e Nacional, uma educação ainda pautada nas aparências, na qual alguns profissionais não procuram agregar teoria e prática. Na verdade, esta característica no ensino se deve pela pouca importância que as próprias faculdades de educação no Pará e no Brasil dão as teorias, embora elas estejam presentes nas grades curriculares. Portanto, a abordagem aqui presente tem por finalidade, além dos objetivos inicialmente descritos, colocar em pauta as teorias de Piaget e Vygotsky de uma forma simples, com uma linguagem acessível, para que os profissionais em formação entrem o Mundo Educacional com as mesmas bases teóricas dos profissionais de outrora, porém tenham em mente que teoria e prática não podem mais se dissociar. Acredito que a epístola de Piaget seria que o sujeito não poderá conceber um aprendizado se não for levado em conta o seu grau de desenvolvimento e a de Vygotsky seria que o papel das pessoas que compõem o ambiente escolar vem a ser importantes para a aprendizagem, pois ela não acontece sem interação social. E uma característica importante dos dois conceitos é que ambos acreditam na identidade do sujeito, cabe a nós profissionais também acreditar. Referências Bibliográficas AMORA, A. S. Minidicionário da língua portuguesa. 1ed. São Paulo: Saraiva, 1997. 10 BECKER, F. O que é construtivismo? 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