Buscar

Direito Constitucional - Aula 07 - Direitos Fundamentais 1

Prévia do material em texto

CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
 
www.pontodosconcursos.com.br 
 
1
AULA 7: DIREITOS FUNDAMENTAIS – DOS DIREITOS 
E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS (CF, ART. 5˚) 
– Parte I 
 
 
 
1) INTRODUÇÃO 
Nessa unidade iniciamos o estudo dos direitos e garantias fundamentais 
previstos na Constituição Federal. 
Segundo a definição de Peces-Barba, colhida da obra de André Ramos 
Tavares, os direitos fundamentais (nominados pelo autor direitos subjetivos 
fundamentais) são entendidos como: 
Faculdade de proteção que a norma atribui à pessoa no que se refere à 
sua vida, à sua liberdade, à igualdade, à sua participação política ou 
social, ou a qualquer outro aspecto fundamental que afete o seu 
desenvolvimento integral como pessoa, em uma comunidade de homens 
livres, exigindo o respeito dos demais homens, dos grupos sociais e do 
Estado, e com a possibilidade de pôr em marcha o aparato coativo do 
Estado em caso de infração. 
A Constituição Federal tratou da matéria especialmente em seu segundo 
título, nos art. 5o a 17, subdividindo os direitos e garantias fundamentais em 
cinco modalidades: direitos individuais e coletivos (Capítulo I); direitos 
sociais (Capítulo II); direitos de nacionalidade (Capítulo III); direitos políticos 
(Capítulo IV); e direitos vinculados à participação nos partidos políticos e à 
sua formação e estruturação (Capítulo V). 
Esse elenco, todavia, não é taxativo, pois há diversos direitos 
fundamentais contemplados em outros dispositivos do texto constitucional, a 
exemplo do princípio da anterioridade tributária, classificado entre os direitos 
fundamentais de caráter individual, e que encontra prescrito no art. 150, III, 
b, da CF. 
Além disso, o art. 5o, § 2o, da CF, prescreve que “os direitos e garantias 
expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e 
dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a 
República Federativa do Brasil seja parte”. 
Considerando essas três perspectivas, podemos falar em (a) direitos 
fundamentais formalmente constitucionais, subdivididos em direitos 
fundamentais catalogados e direitos fundamentais fora do catálogo; e (b) 
direitos fundamentais materialmente constitucionais. 
Os direitos fundamentais formalmente constitucionais são aqueles 
taxativamente previstos na Constituição, em qualquer de seus 
dispositivos, podendo ser subdivididos em direitos fundamentais catalogados 
e direitos fundamentais fora do catálogo. 
CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
 
www.pontodosconcursos.com.br 
 
2
Os direitos fundamentais catalogados são aqueles previstos na parte 
do documento constitucional especialmente destinada à matéria, a saber, 
nos art. 5o a 17, que compõem o Título II da nossa Constituição. 
Os direitos fundamentais fora do catálogo são aqueles previstos de 
forma esparsa, em outros dispositivos constitucionais, a exemplo dos 
direitos da criança e do adolescente, previstos no art. 227 da Constituição. 
Os direitos fundamentais materialmente constitucionais são aqueles 
que não foram previstos na Constituição, estando prescritos na 
legislação ordinária. É bom que se destaque: tais direitos, porque não 
previstos no texto da Constituição, não gozam de hierarquia constitucional, 
cedendo passo perante qualquer dos dispositivos da CF, seja qual a matéria 
por ele disciplinada. A EC 45/2004, entretanto, veio permitir que esses 
direitos, quando prescritos em tratados e convenções internacionais de 
direitos humanos, passem a gozar de estatura constitucional, desde que 
preenchidos os requisitos do art. 5o, § 3o, que será objeto de análise ao final 
dessa unidade. 
Isto posto, passemos ao exame dos direitos fundamentais tratados no art. 
5o da Constituição. 
Introdutoriamente, deve-se destacar o caput do 5o assevera: 
Art. 5o. todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes 
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à 
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
Ora, é evidente que o constituinte originário, aí, disse menos do que 
queria, ao circunscrever os direitos arrolados no art. 5˚ aos estrangeiros 
residentes no país. É um típico caso de contradição lógica que o intérprete 
constitucional deve solucionar sem que haja contradição jurídica com a 
sistemática geral adotada pela Constituição, daí resultando que o dispositivo 
em questão não protege somente os estrangeiros que residam no país, mas 
todos, brasileiros e estrangeiros, que se encontrem em nosso território, 
mesmo que aqui não residam. 
Alexandre de Moraes, analisando o dispositivo, afirma que “a expressão 
residentes no Brasil deve ser interpretada no sentido de que a Carta Federal 
só pode assegurar a validade e gozo dos direitos fundamentais dentro do 
território brasileiro, não excluindo, pois, o estrangeiro em trânsito pelo 
território nacional, que possui igualmente acesso às ações, como o mandado 
de segurança e demais remédios constitucionais”. 
Feita a observação, vamos adentrar na análise do art. 5˚da Constituição. 
 
2) PRINCÍPIO DA ISONOMIA 
O princípio da igualdade ou da isonomia, numa primeira visão, impõe 
tratamento jurídico idêntico a todos que se encontrem em situação 
idêntica ou similar. A seu respeito, sete pontos merecem ser 
especialmente destacados. 
CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
 
www.pontodosconcursos.com.br 
 
3
O primeiro é que, em certo sentido, ele constitui um aprofundamento do 
princípio da legalidade, adiante analisado. Enquanto o princípio da legalidade 
constitui basicamente uma garantia formal aos indivíduos, que só poderão 
ter seus direitos e obrigações criados por lei, o princípio da igualdade tem 
caráter nitidamente material, pois ele se volta para o conteúdo das normas 
da lei, para o teor de suas disposições. São inúmeras as aplicações 
específicas deste princípio que encontramos ao longo do texto constitucional, 
a exemplo do art. 4˚, VIII, que estabelece a igualdade racial, o art. 5˚, I, 
que estabelece a isonomia entre homens e mulheres, o art. 5˚, VIII, que 
contempla a igualdade de fé religiosa, o art. 150, II, que prevê a igualdade 
tributária, entre outros. 
Ademais, a Constituição contempla este princípio não somente em termos 
normativos, pois diversas de suas disposições estatuem os direitos sociais e 
econômicos, cuja efetivação depende, principalmente, de uma atuação 
positiva e concreta do Estado, com vistas à consecução da igualdade 
material. 
Como segundo ponto, respeitar o princípio da igualdade significa não 
somente tratar igualmente os que se encontrem em situações 
equivalentes, mas também tratar de maneira desigual aqueles que se 
encontrem em situações desiguais, na medida de suas 
desigualdades. 
Assim, tanto satisfaz o princípio conferir tratamento idêntico aos que, 
dentro de certo contexto, possuem características idênticas ou bastante 
próximas, quanto estabelecer um tratamento diferenciado para aqueles que, 
nesse contexto, apresentam características que legitimem tal diferenciação. 
Assim, este é o terceiro ponto a ser enfatizado: admite-se tratamento 
discriminatório entre pessoas, desde que haja razoabilidade para tanto, a 
partir do enfoque finalístico de certo instituto estabelecido em lei. 
Dessa forma, critérios diferenciadores que, num primeiro momento, 
seriam tidos por inconstitucionais frente ao princípio da igualdade, num 
segundo momento são considerados com ele compatíveis, a partir da 
constatação de que foram estabelecidos com base em critérios razoáveis e 
que sua fixação se deu em virtude das finalidades legítimas buscadas pela 
norma. 
Porexemplo, no que tange aos requisitos estabelecidos em lei para a 
investidura em cargos públicos, serão eles compatíveis com o princípio da 
isonomia, quando forem fixados com base em parâmetros objetivos e 
razoáveis e encontrarem justificativa na natureza e nas atribuições do cargo 
a que se referem. Não se vislumbra qualquer razoabilidade num critério 
diferenciador que exclua de um concurso público para o preenchimento do 
cargo de analista de sistemas os candidatos acima de determinada faixa 
etária. Em sentido contrário, há razoabilidade, se tal critério for previsto para 
o concurso de agente da Polícia Federal. 
Na lição de Alexandre de Moraes: 
CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
 
www.pontodosconcursos.com.br 
 
4
A desigualdade na lei se produz quando a norma distingue de modo não 
razoável ou arbitrária um tratamento específico a pessoas diversas. Para 
que as diferenciações normativas possam ser consideradas não 
discriminatórias, torna-se indispensável que exista uma justificativa 
objetiva e razoável, de acordo com os critérios e juízos valorativos 
genericamente aceitos, cuja exigência deve aplicar-se em relação à 
finalidade e efeitos da medida considerada, devendo estar presente por 
isso uma razoável relação de proporcionalidade entre os meios 
empregados e a finalidade perseguida, sempre em conformidade com os 
direitos e garantias constitucionalmente protegidos. 
O quarto ponto de destaque refere-se às duas acepções em que pode ser 
aplicado o princípio: frente ao legislador (igualdade na lei), o qual está 
impedido de instituir tratamento legislativo diferenciado, salvo se houver 
razoabilidade para tanto; e frente ao aplicador da norma (igualdade 
perante a lei), que não pode, ao aplicá-la a um caso concreto, fazê-lo de 
forma diferenciada com relação aos seus destinatários. 
No segundo sentido destina-se o princípio, precipuamente, ao 
administrador e ao magistrado. Com relação ao Poder Judiciário, a própria 
Constituição institui instrumentos para uma interpretação uniforme das 
normas jurídicas: o recurso extraordinário, interposto perante o Supremo 
Tribunal Federal, que visa assegurar a uniformização na interpretação da 
própria Constituição; e o recurso especial, interposto perante o Superior 
Tribunal de Justiça, que busca uniformizar a interpretação da legislação 
federal. 
O quinto ponto digno de nota é que a própria Constituição estabelece 
discriminações em diversos de seus dispositivos, como no art. 7o, XX, o qual 
determina que lei deverá proteger o mercado de trabalho feminino, por meio 
da concessão de incentivos específicos. Nessa hipótese, e em qualquer outra 
fixada pelo texto constitucional, não se pode vislumbrar qualquer ofensa ao 
princípio da isonomia, pois todas as disposições diferenciadoras contidas na 
Carta Magna forem construídas em função de critérios tidos por razoáveis 
pelo legislador constituinte originário. 
Ademais, o princípio da igualdade, como todos os demais princípios 
constitucionais, tem sua intensidade e dimensão traçadas na Constituição, de 
forma que todas as discriminações constantes em seu texto não devem ser 
tidas como exceções a ele, mas como compondo sua configuração 
constitucional. 
O sexto ponto a ser enfatizado é o limite à atuação do Poder Judiciário no 
contexto do princípio da isonomia. Imaginemos que uma lei, ao estabelecer 
determinado benefício, o faz de forma discriminatória, dele excluindo, sem 
qualquer razoabilidade, um elevado número de pessoas. 
Em termos teóricos, poder-se-ia entender que o magistrado, frente a um 
caso desta natureza, poderia, quando julgasse não haver razoabilidade para 
a discriminação, estender o tratamento mais benéfico àqueles por ele 
não normativamente alcançados. 
CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
 
www.pontodosconcursos.com.br 
 
5
Ocorre que nossa jurisprudência, capitaneada pelo STF, não admite tal 
atuação por parte do Poder Judiciário, pois entende que, ao admitir-se este 
poder, estar-se-ia convertendo o magistrado em verdadeiro legislador 
positivo, já que ele estaria, efetivamente, criando direito novo, instituindo 
uma nova regra jurídica, em ilegítima usurpação das atribuições 
constitucionais do Poder Legislativo. 
O Judiciário inegavelmente possui competência para reconhecer a 
inconstitucionalidade da disposição segregadora, por ofensa ao princípio da 
isonomia, mas daí a suprir a lacuna legislativa é um grande passo. A 
Constituição não conferiu ao Poder Judiciário competência para atuar como 
legislador positivo, inovando no ordenamento jurídico, mas exclusivamente 
como legislador negativo, expurgando do ordenamento jurídicos normas 
eivadas de algum vício em seus elementos de validade. 
Portanto, frente a um caso como o acima exposto, ao Judiciário caberia 
tão somente declarar a inconstitucionalidade parcial da norma, no que tange 
à não-extensão do benefício a determinadas pessoas. Ao agir assim, o 
Judiciário reconheceria que a norma apresenta vícios de 
inconstitucionalidade, sem exercer ilegitimamente as funções do Poder 
Legislativo. E, ademais, não prejudicaria o grupo de pessoas a quem foi 
conferido o benefício, pois a norma seria declarada inconstitucional tão 
somente quanto aos indivíduos para os quais não foi reconhecida a mesma 
vantagem. 
Por fim, o último ponto a ser destacado no contexto deste princípio são as 
chamadas ações afirmativas. 
Segundo André Ramos Tavares: 
Ações afirmativas são medidas privadas ou políticas públicas, 
objetivando beneficiar determinados segmentos da sociedade, sob o 
fundamento de lhes falecerem as mesmas condições de competição em 
virtude de terem sofrido discriminações ou injustiças históricas. Só se 
confirmam como ações afirmativas legítimas até alcançarem o objetivo 
almejado e constituírem um patamar de neutralidade relativamente a esse 
grupo. Não se trata de mera ação compensatória (por perdas já 
ocorridas), mas de verdadeira concessão de preferências, de benefícios 
(atuais e com objetivo certo: incremento de oportunidades) (original não-
destacado). 
Exemplo de ação afirmativa foi a apelidada “Lei Garotinho”, que destinou 
50% das vagas das universidades públicas cariocas para os candidatos 
oriundos de escolas públicas, e 40%, para os afrodescendentes. 
É extremamente controversa a constitucionalidade de ações desta 
natureza. Dentre as principais críticas, afirma-se que a pessoa irá auferir 
benefícios só pelo fato de pertencer a determinado grupo, sem se levar em 
consideração, ou considerando-se apenas em termos secundários, as suas 
qualificações pessoais. 
CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
 
www.pontodosconcursos.com.br 
 
6
Para uma tomada de posição na questão, é necessário relembrar o 
art. 3o, IV, da Constituição, que inscreve como um dos objetivos 
fundamentais da República Federativa do Brasil “promover o bem de todos, 
sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer formas de 
discriminação.” 
O dispositivo tem o intuito de impedir que a pessoa seja prejudicada pela 
mera circunstância de ter determinada origem, pertencer a determinada 
raça, ter determinada cor, idade ou ser do sexo masculino ou feminino, 
dentre outras formas de discriminação. Ele visa, precipuamente, portanto, a 
proteger os indivíduos contra as diferenciações, o que nos autorizaria, num 
primeiro momento, a concluir que ele não proíbe que, com base em um ou 
mais critérios nele elencados, fosse estabelecido tratamento mais benéfico 
(embora não se tenha como negar que os não-abrangidos pelo tratamento 
estão sendo prejudicados). 
Pelo exposto, percebe-se que a questão é tormentosa, não se podendo 
adotar ainda quaisquer conclusões definitivas a respeito.Com relação ao caso específico trazido como exemplo, vale destacar que o 
Poder Judiciário tem reconhecido a constitucionalidade de leis que instituem 
privilégios para pessoas de determinada etnia, a exemplo do que ocorreu 
com a “Lei Garotinho”. 
 
3) IGUALDADE ENTRE HOMENS E MULHERES 
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos 
desta Constituição; 
Dentro do estudo do princípio da isonomia, é dado especial destaque à 
análise da aplicação do princípio à relação homens/mulheres, principalmente 
no que concerne às condições para que possa ser conferido tratamento 
diferenciado para um dos sexos. 
A Constituição é expressa ao indicar o caráter relativo desta igualdade, ao 
declarar que ela se verifica “nos termos desta Constituição”. 
E a Constituição, efetivamente, estabelece tratamento diferenciado em 
diversos de seus dispositivos, alguns deles aplicáveis exclusivamente às 
mulheres. É o caso do art. 7o, XVIII, que prevê a licença à gestante, sem 
prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias; ou do 
art. 7o, XX, segundo o qual a lei protegerá o mercado de trabalho da mulher, 
mediante incentivos específicos. 
Em outros de seus dispositivos, a Constituição estabelece regramento 
diferenciado para homens e mulheres, como o art. 40, III, a e b, e o 
art. 201, § 7o, I e II, que, ao estabelecerem requisitos para a aposentadoria, 
trazem limites de idade e de tempo de contribuição distintos para homens e 
mulheres; ou o art. 143, § 2o, que isenta as mulheres do serviço militar 
obrigatório em tempos de paz. 
CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
 
www.pontodosconcursos.com.br 
 
7
Apesar da rigidez constitucional (nos termos desta Constituição), a 
doutrina, a exemplo de Alexandre de Moraes, admite que outras 
diferenciações, além das constantes na Constituição, possam ser acolhidas 
pela aplicação do princípio, e, portanto, possam ser legitimamente 
estabelecidas diretamente na legislação infraconstitucional. Como visto 
acima, a própria essência deste princípio consiste em que, além de dever ser 
conferido tratamento idêntico àqueles que se encontrem em situação idêntica 
ou semelhante, também pode ser estabelecido tratamento diferenciado para 
aqueles que se encontrem em situações díspares, desde que haja motivo 
legítimo para a diferenciação e esta seja estabelecida de forma razoável. 
 Um exemplo é a reserva legal para as mulheres de cargos em 
penitenciárias destinadas exclusivamente ao encarceramento de pessoas do 
mesmo sexo, pois a finalidade da norma é obter um ambiente carcerário 
menos propício à promiscuidade sexual. 
 
4) PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa 
senão em virtude de lei; 
O conteúdo do princípio, como se conclui da redação do dispositivo, é que 
apenas a lei, regularmente elaborada pelo órgão competente para tanto, ou 
instrumento normativo a ela equiparado, é instrumento idôneo para inovar 
na ordem jurídica, criando direitos e obrigações para os indivíduos e, 
assim, afetando sua esfera jurídica. Qualquer fonte normativa de inferior 
hierarquia (decretos, atos normativos administrativos) é inconstitucional para 
essa finalidade. 
Devemos considerar que”lei”, nesse contexto, abrange todos os atos 
normativos primários previstos no art. 59 da Constituição, a saber: emendas 
à Constituição, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas 
provisórias, decretos legislativos e resoluções. 
O princípio da reserva legal tem íntima vinculação com o princípio da 
legalidade, caracterizando-se, todavia, por ser mais preciso que este, pois 
tem lugar nas hipóteses constitucionais em que exige obrigatoriamente que o 
regramento de determinadas matérias se dê por meio de determinado ato 
normativo primário. 
Dessa forma, quando a Constituição estatui que as qualificações 
profissionais para o exercício de determinado trabalho, ofício ou profissão 
serão reguladas por lei (art. 5o, XII); que os direitos decorrentes de 
despedida arbitrária ou sem justa causa serão regulados por lei 
complementar (art. 7o, I); que a remuneração do servidor público só 
poderá ser fixada ou alterada por meio de lei específica (art. 37, X); 
estamos frente a hipóteses de incidência do princípio da reserva legal. 
Concordamos com o Professor José Afonso da Silva, quando afirma que a 
diferença essencial entre o princípio da legalidade e o princípio da reserva 
legal é que o primeiro reporta-se a uma questão de hierarquia de normas 
CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
 
www.pontodosconcursos.com.br 
 
8
jurídicas, enquanto o segundo refere-se a uma questão de competências 
definidas no texto constitucional. 
Efetivamente, o princípio da legalidade significa dizer que as espécies 
normativas hierarquicamente inferiores à lei não possuem idoneidade 
constitucional para inovar na ordem jurídica. Já o princípio da reserva legal 
reporta-se à espécie legislativa exigida pela Constituição para o regramento 
específico de determinada matéria. Este também é o entendimento de 
Gabriel Dezen Junior. 
O Professor Vicente Paulo trata de forma diversa a matéria. É sua a 
seguinte lição: 
O princípio da legalidade determina que ninguém será obrigado a fazer ou 
deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei (art. 5o, II). O 
vocábulo “lei”, no tocante ao princípio da legalidade, deve ser entendido 
no sentido amplo, alcançando não só a lei em sentido estrito (lei formal, 
aprovada pelos Poderes Legislativo e Executivo), mas também outras 
normas jurídicas previstas no nosso ordenamento (leis em geral, decretos 
legislativos, resoluções, decretos do Chefe do Executivo, portarias, 
instruções normativas etc.). Em verdade, a prescrição do princípio da 
legalidade é a seguinte: ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer 
alguma coisa senão em virtude de norma jurídica, legitimamente editada 
no Estado brasileiro. 
O princípio da reserva legal tem sentido estrito, significando afirmar que 
determinada matéria só pode ser disciplinada por lei em sentido formal 
(aprovada pelos Poderes Legislativo e Executivo) ou por ato normativo 
que tenha força de lei (como a medida provisória, por exemplo). Desse 
modo, temos o princípio da reserva legal quando a Constituição Federal 
determina que determinada matéria só possa ser disciplinada por lei em 
lei estrito (lei ordinária, lei complementar, lei delegada ou medida 
provisória). Um bom exemplo para ilustrar o princípio da reserva legal é o 
art. 5o, XII, da Constituição Federal, que estabelece a possibilidade de 
violação das comunicações telefônicas “nas hipóteses e na forma que a lei 
estabelecer”. Note-se que, neste caso, não é qualquer norma jurídica que 
poderá estabelecer as hipóteses e a forma em que a inviolabilidade das 
comunicações telefônicas poderá ser afasta. Atos normativos infralegais – 
decreto, regulamentos etc. – não poderão tratar dessa matéria, por força 
da reserva legal. 
Resumindo: o princípio da legalidade tem alcance mais amplo, porém 
menor densidade (pode ser satisfeito por normas jurídicas em geral); o 
princípio da reserva legal tem alcance restrito, porém maior densidade (só 
pode ser satisfeito por lei formal ou atos normativos com força de lei). 
Dentro da reserva de lei, a doutrina distingue a reserva absoluta da 
relativa. A reserva legal absoluta significa que uma matéria será regrada 
por lei e apenas por lei, não se admitindo delegação de competência para 
que o Poder Executivo trate parcialmente da matéria por meio de atos 
infralegais. Já na reserva relativa admite-se a que a lei trate apenas dos 
CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
 
www.pontodosconcursos.com.br9
pontos principais de certa matéria, delegando expressamente ao Poder 
Executivo a competência para complementá-la, por meio de atos infralegais, 
a partir dos parâmetros nela fixados. 
Esta última hipótese diz respeito aos chamados decretos delegados (ou 
regulamentos autorizados) que vêm sendo paulatinamente admitidos em seio 
doutrinário e jurisprudencial, desde que estejamos frente a matérias que 
envolvam normas técnicas, que a lei traga as balizas dentro das quais a 
complementação normativa será feita e seja expressa quanto à delegação de 
competência. 
Por fim, temos a chamada reserva legal qualificada, que ocorre quando 
a Constituição, além de exigir lei para regular dada matéria, fixa também as 
condições ou as finalidades que devem ser observadas pela norma legal 
reguladora. 
É o que se verifica, por exemplo, no caso do art. 5o, XII, da CF, que 
remete à lei a disciplina para a quebra do sigilo das comunicações 
telefônicas, mas apenas para fins de investigação criminal ou 
instrução processual penal. O Texto Maior está predeterminando as 
finalidades possíveis para a quebra do sigilo das comunicações telefônicas, a 
ser regulada por lei, contemplando o dispositivo uma hipótese de reserva 
legal qualificada. 
Uma palavra sobre o decreto autônomo, considerando-se este como o 
ato normativo editado pelos chefes de Poder Executivo que teria aptidão para 
inovar na ordem jurídica, em matérias ainda não disciplinadas em lei. Pelo 
que acima foi exposto, é fácil de se concluir que este instrumento normativo, 
genericamente falando, afronta o princípio da legalidade, sendo, por 
conseguinte, inconstitucional. 
Ocorre que a Emenda à Constituição 32/2001 alterou o art. 84, VI, da CF, 
autorizando o Presidente da República a dispor diretamente 
(independentemente de lei) sobre (a) organização e funcionamento da 
administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação 
ou extinção de órgãos públicos e (b) extinção de funções ou cargos públicos, 
quando vagos. 
Como a doutrina considera que essa prescrição corresponde a duas 
hipóteses de utilização do decreto autônomo, temos que considerar que esta 
figura é constitucional apenas em tais hipóteses, representando, no mais, 
violação do princípio da legalidade. 
 
5) LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO 
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o 
anonimato; 
Um dos mais amplos direitos fundamentais consagrados na Constituição, 
o direito à liberdade de manifestação do pensamento, respeitados os demais 
direitos fundamentais, não segue qualquer norma de forma ou de fundo. 
Qualquer um pode manifestar seu pensamento sobre qualquer coisa por 
CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
 
www.pontodosconcursos.com.br 
 
10
qualquer meio de expressão, desde que se identifique ao manifestar-se, 
como precaução indispensável contra declarações levianas ou infundadas, as 
quais podem ensejar responsabilização, como reza a seguir o artigo quinto 
da Constituição. 
 
6) DIREITO DE RESPOSTA E INDENIZAÇÃO 
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além 
da indenização por dano material, moral ou à imagem; 
O inciso em questão confere a verdadeira extensão do direito 
anteriormente analisado: qualquer um pode falar sobre o que bem entender 
sobre quem ou que quer que seja. Mas, por outro lado, ao atingido pela 
manifestação do pensamento, corresponda ela ou não a um ilícito penal, são 
ressalvados os direitos à resposta e à indenização por dano material, moral 
ou à imagem, os quais são assegurados pela obrigação do autor da 
manifestação de identificar-se. 
Trata-se, pois, de dois direitos autônomos. O primeiro, o direito de 
resposta ou réplica, deve ser “proporcional ao agravo”, o que deve ser 
compreendido como “proporcional à manifestação”. Assim, se esta foi por 
escrito, escrita deverá ser a resposta, se foi oral, oralmente será respondida, 
se foi veiculada em um jornal, no próprio jornal será rebatida, e assim por 
diante. 
Não está acobertada pelo direito de resposta eventual ofensa ao autor da 
manifestação. O ofendido tem o direito de defender-se contra as declarações 
de que foi alvo, não de tornar-se também um ofensor. Ademais, em caso de 
manifestação na imprensa falada (rádio, televisão) ou escrita (jornais, 
revistas), a responsabilidade pela divulgação da resposta é do órgão de 
comunicação, não do autor da manifestação. 
O segundo direito abarca a indenização por dado material, moral ou à 
imagem. Os danos materiais abrangem os prejuízos suportados pela pessoa 
a título de danos emergentes e de lucros cessantes, ou seja, acoberta os 
prejuízos decorrentes diretamente da manifestação e todos os lucros que em 
função dela o atingido deixou de auferir. Os danos morais referem-se ao 
dano psicológico, ao sofrimento causado ao atingido pela manifestação e 
independem, para seu cabimento, de a declaração ter chegado a 
conhecimento público. Os danos à imagem, por fim, acobertam os danos 
produzidos à pessoa em suas relações sociais, pelo decréscimo do juízo, da 
opinião que sofre a pessoa por parte daqueles com quem ela se relaciona. 
A jurisprudência pátria é pacífica quanto à autonomia entre os danos 
morais e materiais, podendo o ofendido ter reconhecido o direito à 
indenização apenas por um deles ou por ambos, de forma cumulativa. 
 A Súmula no 37 do STJ, em sua simplicidade, é clara sobre a 
possibilidade de cumulação: “Indenização por dano material e moral. São 
cumuláveis.” 
CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
 
www.pontodosconcursos.com.br 
 
11
E o mesmo STJ, sobre a possibilidade de indenização por danos 
exclusivamente morais, afirmou o seguinte (Resp no 8.768-0/SP): 
Dano moral puro. Caracterização. Sobrevindo, em razão de ato ilícito, 
perturbação nas relações psíquicas, na tranqüilidade, nos sentimentos e 
nos afetos de uma pessoa, configura-se o dano moral, passível de 
indenização. 
Mesmo as pessoas jurídicas fazem jus à indenização por danos morais 
(STJ, Súmula 227). 
Por fim, Gabriel Dezen Junior afirma que “é questionável a possibilidade 
de indenização por danos morais difusos ou coletivos, quando o bem lesado 
pertence a uma coletividade, como consumidores, portadores do vírus de 
certa doença, portadores de determinada deficiência física, pessoas de 
mesma etnia”. Alexandre de Moraes, por sua vez, entende cabível 
indenização por danos morais mesmo em se tratando de interesses difusos 
ou coletivos. 
 
7) LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA E DE CRENÇA 
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo 
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma 
da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; 
O dispositivo contempla três direitos: o de ter liberdade de consciência ou 
de crença, o de ter liberdade no exercício dos cultos religiosos, e o de ter os 
locais onde os cultos e suas liturgias são realizados protegidos contra 
quaisquer agressões, na forma da lei. Perceba-se que os dois primeiros 
direitos encontram-se previsto em norma constitucional de eficácia plena, e o 
último em norma constitucional de eficácia limitada. 
O Professor Gabriel Dezen Júnior esclarece que não se confundem crença 
e consciência; porque a segunda é uma orientação filosófica, como o 
pacifismo, além de uma consciência livre poder optar por não ter crença 
nenhuma, como no caso dos ateus e agnósticos; enquanto que crença se 
vincula inelutavelmente à religião, à fé em princípios e dogmas ligados a uma 
visão individual de divindade e de vida terrena e extraterrena. 
Sobre a liberdade de culto, afirma José Afonso da Silva que: 
A religião não é apenas sentimento sagrado puro. Não se realiza na 
simples contemplação do ente sagrado,não é simples adoração a Deus. 
Ao contrário, ao lado de um corpo de doutrina, sua característica básica 
se exterioriza na prática de ritos, no culto, com suas cerimônias, 
manifestações, reuniões, fidelidades aos hábitos, às tradições, na forma 
indicada pela religião escolhida. Na síntese de Pontes de Miranda: 
“compreendem-se na liberdade de culto a de orar e de praticar os atos 
próprios das manifestações exteriores em casa ou em público, bem 
como o recebimento de contribuições para isso” (sem destaques no 
original). 
CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
 
www.pontodosconcursos.com.br 
 
12
Assim, nenhuma dúvida resta quanto à abrangência da proteção, 
alcançando tanto os cultos proferidos em ambientes fechados como em locais 
abertos ao público em geral. 
Deve-se observar que o exercício dos cultos não é absoluto, devendo ser 
compatibilizado com os demais direitos individuais. Assim, pode ser limitado 
por lei, que poderá estabelecer, entre outras restrições, o horário dentro do 
qual podem ser realizados, de forma a não perturbar o repouso noturno, ou 
mesmo impedir sua realização em áreas com restrições a barulho, como as 
próximas a hospitais e asilos. 
 
8) ESCUSA DE CONSCIÊNCIA 
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa 
ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-
se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir 
prestação alternativa, fixada em lei; 
O dispositivo consagra o direito à escusa de consciência por motivo de 
crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, em complemento ao 
direito consagrado no inc. VI do mesmo artigo, que assegura a liberdade de 
consciência ou de crença. 
Não há qualquer restrição à natureza da obrigação (civil ou militar) que 
pode ser dispensada mediante o exercício à escusa de consciência, embora, 
sem dúvida nenhuma, o exemplo mais comum seja a dispensa do serviço 
militar obrigatório. Ao lado do serviço militar, pode-se citar, também, as 
obrigações de alistamento eleitoral, de voto e de participação no tribunal do 
júri. 
Aquele que se valer da escusa não estará sujeito, em linha de princípio, à 
restrição de qualquer direito. Pode ocorrer, entretanto, que haja previsão em 
lei ordinária nacional de prestação alternativa à prestação originariamente 
exigida. Neste caso, se o indivíduo negar-se a satisfazer as duas 
prestações, a originária e a alternativa, poderá sofrer privação em algum de 
seus direitos. Segundo Gabriel Dezen Junior, a privação de direitos deve ter 
caráter temporário, pois uma penalidade de caráter permanente 
caracterizaria afronta ao inc. XLVII, b, do art. 5˚ da CF, que veda as penas 
de caráter perpétuo. 
Deve-se salientar que a penalidade pressupõe que a prestação alternativa 
esteja fixada em lei de caráter nacional, editada pela União, sendo qualquer 
ato normativo hierarquicamente inferior inapto para essa finalidade. 
 
9) DIREITO À LIBERDADE DE EXPRESSÃO 
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e 
de comunicação, independentemente de censura ou licença; 
O dispositivo em apreço estabelece o direito à liberdade de expressão, 
manifestação direta do direito à liberdade, previsto em termos genéricos no 
CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
 
www.pontodosconcursos.com.br 
 
13
caput do art. 5o e assegurado a todos aqueles que se encontrem em 
território brasileiro. 
A liberdade de expressão garantida pelo texto constitucional, quanto aos 
instrumentos pelos quais pode ser veiculada, é a mais ampla possível. Assim, 
todo e qualquer instrumento, seja oral, escrito, mímico, por meio de 
desenhos, pinturas, fotografias está abrangido no dispositivo. Da mesma 
forma, todos os meios de transmissão da atividade estão nele albergados, 
tais como jornais, livros, revistas, rádio, televisão, cinema, internet etc. 
Quaisquer que sejam os meios e os instrumentos de transmissão da 
atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, veda-se de forma 
absoluta a censura e a licença. A licença é um ato prévio à manifestação da 
atividade, e a censura, conforme sua modalidade, pode ser a ela anterior ou 
posterior. A Constituição veda essas duas figuras, admitindo somente a 
classificação para efeitos indicativos (art. 21, XVI), que tem por finalidade 
informar aos responsáveis por menores, em regra seus pais, se determinado 
programa é ou não adequado para determinada faixa etária ou tipo de 
público. Mero aconselhamento, sem qualquer feição proibitiva. 
É de se esclarecer que, estando ou não a internet entre as cogitações do 
legislador constituinte originário, ela atualmente está incluída entre os meios 
aptos à liberdade de expressão e, portanto, também está protegida pelo 
texto constitucional. O legislador constituinte desejou proteger um valor, a 
liberdade de produção e manifestação intelectual, artística, científica e de 
comunicação, estando todos os meios idôneos a tal manifestação 
resguardados pelo inc. IX do art. 5o. 
Assim, a Constituição vedou, de forma taxativa, a possibilidade de as 
criações humanas sofrerem cerceamento por parte do Poder Público, ou 
mesmo de particulares. A censura era instituto, de larga utilização no regime 
ditatorial, pelo qual se impunham severas e ilegítimas restrições às criações 
humanas, impedindo a divulgação de trabalhos que não se enquadrassem na 
ideologia então dominante. 
Atualmente, não há mais que se falar em censura. Seja a prévia, pela 
qual se impede a publicação ou apresentação dos trabalhos que não se 
enquadrem em determinados parâmetros, como quando se nega autorização 
para a publicação de um artigo ou para a realização de um espetáculo 
teatral; seja a posterior, pela qual se impede a continuidade da divulgação 
do trabalho, por meio da apreensão de livros, jornais ou revistas. 
Isto não impede, entretanto, que existam controles, não sobre o trabalho 
em si, seu mérito, seu conteúdo, mas sobre os requisitos formais 
concernentes à criação de pessoas jurídicas em determinadas áreas de 
produção artística, intelectual, científica ou comunicação. 
É isto que ocorre no caso de empresas jornalísticas e de radiofusão sonora 
(rádios) e de sons e imagens (emissoras de televisão), segundo 
disciplinamento da própria Constituição, nos art. 220 e seguintes, no capítulo 
destinado à Comunicação Social. 
CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
 
www.pontodosconcursos.com.br 
 
14
O art. 222, por exemplo, determina que a propriedade de empresa 
jornalística e de radiofusão sonora de sons e imagens é privativa de 
brasileiros natos e naturalizados há mais de dez anos, ou de empresas 
constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede no país, o que 
constitui o primeiro, e mais importante, requisito para a criação dessas 
empresas. 
E o art. 223 da CF, por sua vez, expressamente estabelece que compete 
ao Poder Executivo, com a participação do Poder Legislativo na maioria das 
hipóteses, outorgar e renovar concessão, permissão e autorização para o 
serviço de radiofusão sonora de sons e imagens. 
Do exposto, pode-se concluir que, em se tratando de empresas 
jornalísticas e de radiofusão sonora de sons e imagens, é legítima a exigência 
de “licença” para o funcionamento, já que a mesma consta do texto 
constitucional. Todavia, uma vez concedida a licença, é vedado ao Poder 
Público qualquer ato de ingerência no conteúdo das publicações, salvo, 
evidentemente, em caso de ofensa a outro direito fundamental previsto na 
Constituição, em especial os direitos de que trata o inciso seguinte, que 
passamos a analisar. 
 
10) INVIOLABILIDADE DA VIDA PRIVADA, DA HONRA E DA IMAGEM 
X - são invioláveis a intimidade,a vida privada, a honra e a imagem 
das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou 
moral decorrente de sua violação; 
Como todo e qualquer direito fundamental, o direito à liberdade de 
expressão deve ser interpretado em consonância com os demais direitos 
fundamentais previstos na Constituição. 
O legislador constituinte originário foi claro ao estatuir que, se de um lado 
existe o direito à liberdade de expressão, do outro, este direito fundamental 
não pode violar o direito à intimidade, à honra, à vida privada e à imagem 
das pessoas, sob pena de indenização pelo dano material ou moral 
decorrente da violação. 
Segundo Alexandre de Moraes: 
Os conceitos constitucionais de intimidade e vida privada apresentam 
grande interligação, podendo, porém, ser diferenciados por meio da 
menor amplitude do primeiro, que se encontra no âmbito de incidência do 
segundo. Assim, intimidade relaciona-se às relações subjetivas e de trato 
íntimo da pessoa, suas relações familiares e de amizade, enquanto vida 
privada envolve todos os demais relacionamentos humanos, inclusive os 
objetivos, tais como relações comerciais, de trabalho, de estudo etc. 
Gabriel Dezen Junior, por sua vez, declara que intimidade é: 
A esfera mais íntima, mais subjetiva e mais profunda dos ser humano, 
com suas concepções pessoais, seus gostos, seus problemas, seus 
desvios, suas taras. Vida privada é uma forma de externar essa 
intimidade (...) 
CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
 
www.pontodosconcursos.com.br 
 
15
Podemos considerar que a intimidade refere-se à esfera mais secreta da 
vida de cada um, ao passo que a vida privada nada mais é do que uma 
forma de externalização desta esfera secreta em locais afastados do contato 
com estranhos, a exemplo do domicílio da pessoa. 
O Professor Alexandre de Moraes apresenta uma consideração 
interessante, afirmando que deve ser dada uma interpretação mais restrita 
ao direito de intimidade e de vida privada dos políticos e artistas em geral, 
pois os primeiros estão sujeitos a um especial controle pelo povo e pelos 
meios de comunicação, enquanto que a própria atividade dos segundos 
requer uma exposição constante à mídia. É evidente que o estilo de vida 
destes profissionais, a sua constante exposição à mídia, faz com que seja 
maior a curiosidade do público em geral sobre aspectos de suas vidas 
particulares. 
De qualquer forma, não se lhes nega direito à indenização quando suas 
esferas particulares sofrerem violação por terceiros em grau superior ao que 
sua peculiar situação autoriza, uma vez que a norma em análise não faz 
qualquer ressalva quanto à amplitude do direito à intimidade ou privacidade 
das pessoas que se dedicam à vida pública, como os artistas e os políticos. 
Como antes apontado, a doutrina entende que é maior o espectro de 
publicização que deve ser admitido nestes casos, mas, ainda assim, não pode 
ser negado aos profissionais que têm maior contato com o público o direito 
ao respeito de sua intimidade e vida privada. 
O direito à honra distancia-se levemente dos dois anteriores, podendo 
referir-se ao juízo positivo que a pessoa tem de si (honra subjetiva) e ao 
juízo positivo que dela fazem os outros (honra objetiva), conferindo-lhe 
respeitabilidade no meio social. O direito à imagem também possui duas 
conotações, podendo ser entendido em sentido objetivo, com relação à 
reprodução gráfica da pessoa, por meio de fotografias, filmagens, desenhos, 
ou em sentido subjetivo, significando o conjunto de qualidades cultivadas 
pela pessoa e reconhecidas como suas pelo grupo social. 
Todas essas esferas jurídicas são protegidas contra atos que as violem, 
dando ao prejudicado direito à indenização por danos materiais ou morais 
originados da violação. 
Nas palavras de Gabriel Dezen Junior, segundo a norma: 
Os danos indenizáveis são o material (representado pelos danos causados 
e pelos lucros não obtidos por causada da ofensa), moral (à intimidade da 
pessoa, independente de ter sido a ofensa conhecida por qualquer 
outra pessoa, bastando que se sinta ofendida) e à imagem (dano 
produzido contra a pessoa em suas relações externas, ou seja, à maneira 
como ela aparece e é vista por outras pessoas). As indenizações pedidas 
pelas três linhas são acumuláveis, o que significa que podem ser pedidas 
na mesma ação e somadas para o pagamento final (original não-
destacado). 
Das palavras do autor, infere-se pela desnecessidade de que haja algum 
dano à reputação do ofendido para que surja o direito à indenização por 
CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
 
www.pontodosconcursos.com.br 
 
16
danos morais. Dentre as esferas protegidas pela norma, duas delas, a 
intimidade e a vida privada, concernem aos aspectos mais íntimos e 
particulares da vida de cada um, que admitem violação, independentemente 
de qualquer dano à reputação. A norma protege não apenas a imagem que 
terceiros possam ter da pessoa, a partir de aspectos de sua intimidade e vida 
privada, mas também estas esferas jurídicas em si mesmas, assegurando ao 
indivíduo um domínio particular, indevassável a terceiros, a não ser por sua 
própria vontade. Qualquer violação deste domínio, chegue ou não ao 
conhecimento público, atinja ou não sua reputação, pode ensejar indenização 
por danos morais. 
É importante salientar que o Supremo Tribunal Federal vem pacificamente 
reconhecendo que a indenização por danos morais pode ser cumulada com a 
indenização por danos materiais, ou ser dela independente. Em outros 
termos, é possível haver indenização por danos morais, mesmo quando 
inexistente qualquer dano material na hipótese. Em reverso, pode ser 
reconhecido o direito à indenização por danos materiais, mesmo quando 
inexistentes danos morais. Duas esferas distintas de responsabilização, 
portanto. 
Os Tribunais vêm decidindo que as pessoas jurídicas fazem jus à 
indenização por dano moral extrapatrimonial, quando violados alguns dos 
atributos acima relacionados, como a honra ou a imagem. É o que se 
observa, por exemplo, neste julgado do STJ (Resp no 60.033/MG), no qual o 
Tribunal afirma que “a honra objetiva da pessoa jurídica pode ser ofendida 
pelo protesto indevido de título cambial, cabendo indenização pelo dano 
extrapatrimonial daí decorrente”. 
O STF reconhece direito à indenização por danos morais no caso de 
publicação não autorizada de fotos, mesmo que a reputação da pessoa não 
sofra lesão, já que o mero desconforto ou constrangimento é indenizável. O 
Tribunal, em algumas hipóteses, também reconheceu direito a esta 
indenização para os familiares de pessoas falecidas, em função do sofrimento 
causado pela perda do ente querido. Ademais, o Tribunal entende que o 
direito à intimidade impede que o investigado em ação de paternidade possa 
ser coagido a realizar exame de DNA. 
A seguir, analisaremos os sigilos bancário e fiscal dentro do contexto do 
direito à intimidade e vida privada. 
A questão da possibilidade ou não da quebra de sigilo bancário deve ser 
analisada com base no inc. X do art. 5˚. A partir dele, questiona-se se o 
direito ao sigilo bancário, por estar contemplado dentro do direito à 
intimidade e à vida privada, pode ser excepcionado em alguma hipótese, já 
que o inc. XII do mesmo artigo, adiante analisado, admite, numa leitura 
literal, apenas a quebra do sigilo das comunicações telefônicas. Se 
reconhecida a possibilidade de ser excepcionado o direito ao sigilo dos dados 
bancários, questiona-se se algum outro órgão ou autoridade, além das 
autoridades judiciárias, teria competência para autorizar o rompimento, e em 
quais hipóteses pode ser dada esta autorização. As mesmas indagações são 
pertinentes no que toca ao sigilo fiscal. 
CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL– CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
 
www.pontodosconcursos.com.br 
 
17
Alexandre de Moraes afirma que a inviolabilidade dos dados bancários e 
fiscais não é absoluta, podendo ser afastada quando obedecidos os seguintes 
requisitos: 
1º) em caráter de absoluta excepcionalidade, quando existirem fundados 
indícios do cometimento de prática delituosa por parte daquele que sofre a 
investigação 
2º) autorização judicial ou de Comissão Parlamentar de Inquérito (CF, art. 
58, § 3º); 
3º) indispensabilidade de dados constantes em determinada instituição 
financeira, Receita Federal ou Fazenda Pública; 
4º) individualização do investigado e do objeto da investigação; 
5º) obrigatoriedade de permanência do sigilo com relação a terceiros 
estranhos à investigação ou ao processo; 
6º) utilização dos dados somente para a investigação ou instrução processual 
que lhe deu causa. 
Com relação ao Poder Judiciário não há dúvida na matéria: as autoridades 
judiciárias têm poder para determinar a quebra de ambos os sigilos, no 
transcurso de um processo judicial regularmente instaurado. De se ressaltar, 
apenas, que a determinação da quebra deve observar as regras de 
competência funcional, não podendo, por exemplo, um magistrado de 
primeiro grau determinar a quebra desses dois sigilos num processo de 
competência originária do respectivo Tribunal. 
A seguir, devemos desmembrar a análise da matéria, tratando da 
possibilidade ou não de quebra dos sigilos bancário e fiscal pelas Comissões 
Parlamentares de Inquérito, pelo Ministério Público e pela Administração 
Pública. 
As comissões parlamentares de inquérito, nos termos do art. 58, § 
3º, da CF, “terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais”. 
Embora o STF, ao interpretar a norma, tenha negado aos membros das CPI’s 
alguns dos poderes inerentes à magistratura, admitiu que as comissões têm 
poderes para determinar por ato próprio, sem necessidade de autorização 
judicial, a quebra dos sigilos bancário e fiscal. 
Tal posição pode ser vislumbrada na decisão proferida no MS nº 23.639-
6/DF, quando a Corte entendeu que “a quebra do sigilo fiscal, bancário e 
telefônico de quaisquer pessoas sujeita à investigação legislativa pode ser 
legitimamente decretada pela Comissão Parlamentar de Inquérito, desde que 
este órgão estatal o faça mediante deliberação adequadamente 
fundamentada e na qual indique a necessidade objetiva de adoção dessa 
medida extraordinária”. 
Quanto ao Ministério Público, não lhe é reconhecida a mesma 
prerrogativa, apesar de seus membros, nos termos do art. 129, VI, da CF, 
terem poderes para “expedir notificações nos procedimentos administrativos 
de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, 
na forma da lei complementar respectiva”. Entende nossa jurisprudência que, 
CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
 
www.pontodosconcursos.com.br 
 
18
apesar da disposição constitucional, não tem competência o Ministério 
Público para determinar por ato próprio a quebra dos sigilos bancário e fiscal. 
Entretanto, admite o STF uma hipótese em que é válida a requisição 
direta do Parquet ao órgão ou entidade detentora da informação: quando a 
questão envolve a aplicação de dinheiro ou verbas públicas por instituição 
financeira, caso em que o princípio da publicidade da Administração Pública 
(art. 37, caput) autoriza o uso pelos membros do Ministério Público de seu 
poder de requisição direta, tal como previsto no art. 129, VI, da Constituição. 
Por fim, com relação às autoridades administrativas, não se encontra 
no texto constitucional qualquer norma que lhes permitam, por ato próprio, 
determinar a quebra dos sigilos bancário e fiscal. Em face disso, negava 
nossa jurisprudência a possibilidade de as autoridades administrativas 
excepcionarem o sigilo fiscal ou bancário de pessoas físicas ou jurídicas 
objeto de investigação. 
O Superior Tribunal de Justiça, quanto aos dados bancários, decidiu, no 
Resp nº 37.566-5/RS, que 
o sigilo bancário do contribuinte não pode ser quebrado com base em 
procedimento administrativo-fiscal, por implicar indevida intromissão na 
privacidade do cidadão, garantia esta expressamente amparada pela 
Constituição Federal (art. 5º, inciso X) (...). Apenas o Poder Judiciário, por 
um de seus órgãos, pode eximir as instituições financeiras do dever de 
segredo em relação às matérias arroladas em lei. 
Ocorre que a Lei Complementar nº 105/2001, em seu art. 6º, autoriza a 
Administração fazendária a requisitar diretamente às instituições 
financeiras informações protegidas pelo sigilo bancário de contribuintes que 
se encontrem sobre investigação. Consoante o dispositivo, “as autoridades e 
os agentes fiscais tributários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos 
Municípios somente poderão examinar documentos, livros e registros de 
instituições financeiras, inclusive os referentes a contas de depósitos e 
aplicações financeiras, quando houver processo administrativo instaurado ou 
procedimento fiscal em curso e tais exames sejam considerados 
indispensáveis pela autoridade administrativa competente.” 
Além disso, a Lei Complementar nº 104/2001, que acrescentou o § 1º ao 
art. 198 do Código Tributário Nacional, autorizou a quebra do sigilo fiscal 
pelas Administrações fazendárias, mediante “solicitação de autoridade 
administrativa no interesse da Administração Pública, desde que comprovada 
a instauração regular de processo administrativo no órgão ou entidade 
respectiva, com o objetivo de investigar o sujeito passivo a que se refere a 
informação, por prática de infração administração”. 
A Lei Complementar 105/2001, apesar de impugnada perante o STF, 
permanece em vigor. Deste modo, devemos concluir que, nos termos nela 
dispostos, as autoridades fiscais têm competência para requisitar 
diretamente às instituições financeiras os dados bancários de pessoas físicas 
ou jurídicas sob investigação. 
CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
 
www.pontodosconcursos.com.br 
 
19
Já a Lei Complementar 104/2001 destina-se à Administração Pública em 
geral, permitindo, nos seus termos, que qualquer autoridade administrativa, 
mediante o procedimento apropriado, tenha acesso a informações protegidas 
pelo sigilo fiscal, mediante solicitação à Administração fazendária 
competente. 
 
11) INVIOLABILIDADE DOMICILIAR 
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo 
penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante 
delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por 
determinação judicial; 
Inicialmente, deve-se compreender a extensão do conceito “casa” no 
dispositivo em apreço, o qual abrange não somente a residência familiar da 
pessoa, mas ainda qualquer outro local, com finalidade residencial ou 
profissional, que não tenha entrada franqueada ao público (casas de praia, 
sítios de recreio, escritórios e lojas comerciais, quanto às suas dependências 
privativas). Ainda, o conceito abrange não só os locais utilizados pelo 
indivíduo a título permanente, mas também aqueles em que ele se encontra 
a título transitório, como os quartos de hotéis e de pensões. 
Em segundo, deve-se atentar para o fato de que a proteção domiciliar não 
se destina ao proprietário do bem, mas ao morador do mesmo, que pode ser 
o locatário, àquele a quem o proprietário emprestou o bem, o hóspede de um 
hotel etc. A proteção alcança, indistintamente, brasileiros e estrangeiros, 
estendendo-se também às pessoas jurídicas, como meio de proteção à 
pessoa física. 
Em qualquer desses casos, a lei protege a “casa” das invasões de 
terceiros, sejam particulares ou agentes do Poder Público, ressalvados os 
casos previstos no próprio dispositivo.Assim, em caso de desastre, ou para prestar socorro, autoriza-se a 
entrada na casa, seja de dia ou de noite, tenha-se ou não anuência do 
morador ou autorização judicial. 
O mesmo se aplica no caso de flagrante, delito, que autoriza o ingresso 
de dia ou de noite, independente de consentimento de quem quer que seja. 
Todavia, a permissão não abrange todos os tipos de flagrantes arrolados no 
art. 302 do Código de Processo Penal. 
Segundo o CP, como modalidades de flagrante, podemos elencar o (1) 
flagrante próprio, aquele em que o agente é surpreendido cometendo uma 
infração penal ou imediatamente após cessar seu cometimento (CPP, 
art. 302, I e II); o (2) flagrante impróprio, quando o agente é perseguido 
logo após cometer o ilícito, em situação que faça presumir que ele é 
efetivamente o autor do delito (CPP, art. 302, III); e o (3) flagrante 
presumido, quando o agente é encontrado logo depois com instrumentos, 
objetos, armas ou documentos que levem a presumir que ele é o autor do 
delito (CPP, art. 302, IV). 
CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
 
www.pontodosconcursos.com.br 
 
20
Dentre estas modalidades, a Constituição autoriza o ingresso apenas nas 
hipóteses de flagrante próprio ou impróprio, desautorizando-o para o 
flagrante presumido. Ela exige que o delito ocorra no local rotineiramente 
protegido contra ingresso de terceiros, ou que haja perseguição contínua ao 
delinqüente até este local. No caso do flagrante presumido, a pessoa não é 
vista cometendo o delito ou acabando de cometê-lo, nem é perseguida logo 
após; é apenas encontrada num momento posterior, em posse de objetos 
que façam presumir ter sido ela a autora do ato ilícito. Ora, para “encontrá-
la” na sua casa é necessário antes nela ingressar, fazendo-se, necessário, 
para tanto, autorização do morador ou do Poder Judiciário. Deve-se ressaltar 
que Gabriel Dezen Junior afirma que é lícita a invasão nas quatro espécies de 
flagrante. 
Desse modo, na hipótese de flagrante presumido, e em qualquer outra 
hipótese não mencionada acima, a Carta só autoriza o ingresso, e somente 
de dia, mediante determinação judicial. 
A doutrina não tem um entendimento uniforme sobre o que seria “dia” 
para fins de ingresso em casa alheia. Alguns entendem que se deve adotar a 
regra do Código de Processo Civil, que considera dia o período compreendido 
entre seis e vinte horas, enquanto outros consideram dia como o período em 
que há luz solar. Assim, o que importa para os que advogam este 
entendimento, entre os quais nos incluímos, é que ainda esteja claro quando 
da entrada. Gabriel Dezen Junior salienta que o período diurno é exigido para 
o ingresso na casa, não para a permanência nela, que poderá, então, 
adentrar no período noturno. 
A determinação judicial exigida no final do dispositivo é exemplo típico da 
chamada reserva de jurisdição, ou seja, situações em que se faz 
indispensável a atuação do Poder Judiciário, autorizando determinada 
conduta, sem a qual ela é ilícita. Nem mesmo Comissão Parlamentar de 
Inquérito possui poderes para determinar a invasão do domicílio. 
Como salienta Vicente Paulo, comentando a matéria: 
Esse dispositivo pôs termo à possibilidade de determinações 
administrativas de busca e apreensão de documentos, que são 
atualmente absolutamente inconstitucionais. Sob a vigência do atual texto 
constitucional, buscas e apreensões só são legítimas se determinadas pelo 
Poder Judiciário. Assim, por exemplo, ressalvadas as situações 
excepcionais apontadas no art. 5o, XI, da Constituição, as autoridades 
administrativas (auditores-fiscais da Receita Federal, auditores do 
Ministério do Trabalho e outras autoridades congêneres) somente poderão 
adentrar nas dependências dos administrados se munidos de ordem 
judicial autorizativa (mandado de busca e apreensão judicial). Ainda que 
diante de fortes indícios de que, no interior do estabelecimento, haja 
provas contundentes da prática de fraudes, não poderá a autoridade 
executar a busca e apreensão administrativa, sem autorização do Poder 
Judiciário. 
CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
 
www.pontodosconcursos.com.br 
 
21
Ressalte-se, por fim, que no estado de sítio (não no de defesa) a 
Constituição no art. 139, V, autoriza a busca e apreensão domiciliar por 
ordem de autoridade administrativa. 
 
12) SIGILO DA CORRESPONDÊNCIA, DAS COMUNICAÇÕES TELEGRÁFICAS, 
DE DADOS E DAS COMUNICAÇÕES TELEFÔNICAS 
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações 
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último 
caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei 
estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual 
penal; 
O art. 5o, XII, da CF determina a inviolabilidade de quatro sigilos: de 
correspondência, de comunicações telegráficas, de dados e de comunicações 
telefônicas, alcançando tanto as pessoas físicas como as jurídicas, nacionais 
ou estrangeiras. Quanto ao sigilo das comunicações telefônicas, porém, abre 
uma exceção, e autoriza a interceptação telefônica, no caso de 
investigação penal ou ação penal em curso (só quando se trata de crime ou 
contravenção penal, portanto); mediante ordem judicial (nunca por ordem do 
delegado ou do promotor); e obedecidas outras condições a serem 
estabelecidas em lei. 
Portanto, com relação às comunicações telefônicas, a norma 
contempla um caso de reserva de jurisdição conjugado com uma reserva 
legal qualificada, ou seja, estabelece as situações em que a legislação 
complementar poderá autorizar a quebra do sigilo das comunicações 
telefônicas, e exige uma ordem judicial, caso a caso, para que ele seja 
efetivamente quebrado. 
Desde já devemos diferenciar interceptação telefônica de gravação 
clandestina. 
Interceptação telefônica é a captação e gravação de conversa telefônica 
por terceira pessoa, sem a ciência de qualquer dos interlocutores. Tal 
conduta é a tratada no inc. XII do art. 5o da CF. 
Já as gravações clandestinas são aquelas em que a captação e a gravação 
da conversa pessoal, ambiental ou telefônica é feita por um dos 
interlocutores ou por terceiro com seu consentimento, sem conhecimento 
pelos demais participantes da relação dialógica. Tal conduta caracteriza 
afronta o inc. X do art 5o da CF, que protege a intimidade e a vida privada do 
indivíduo. 
A Constituição estabelece os três requisitos para a interceptação 
telefônica: 
1o) edição de lei, prevendo as hipóteses em que poderá ser autorizada a 
quebra, e dos requisitos para que ela seja efetivada; 
CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
 
www.pontodosconcursos.com.br 
 
22
2o) ordem judicial (reserva de jurisdição), o que significa que nenhuma outra 
autoridade, nem mesmo um membro do Ministério Público, pode determinar 
diretamente a quebra do sigilo das comunicações telefônicas; 
3o) finalidade de investigação criminal ou instrução processual penal 
(reserva legal qualificada). 
A Lei no 9.296/96 regulou o inciso XII do art. 5o. Segundo o STF, todas 
as interceptações telefônicas feitas em data anterior à edição desta lei são 
inconstitucionais e, portanto, absolutamente desprovidas de qualquer efeito 
jurídico. 
Sinteticamente, as principais regras da lei são as seguintes: 
1o) a lei regulou não apenas as interceptações telefônicas, mas também a 
interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de informática e 
telemática (e-mail, faz, telex etc); 
2o) só se autoriza a interceptação (1) se houver indícios razoáveis de autoria 
ou participação no delito, (2) se o delito for punido com pena de reclusão, e 
(3) se não existirem outros meios probatórios por meio dos quais possam ser 
obtidas as mesmas informações. Quantoao segundo requisito, admite a 
doutrina que os elementos probatórios colhidos durante a interceptação 
possam ser utilizados para a persecução penal mesmo contra crimes punidos 
com detenção, desde que tenham conexão com o ilícito penal objeto da 
investigação e que justificou a interceptação, este sim necessariamente 
punível com reclusão. 
3o) a quebra somente pode ser determinada por juiz, o qual pode agir de 
ofício, sem provocação, ou mediante requerimento da autoridade policial, 
durante o inquérito policial, ou do membro do Ministério Público, no curso do 
inquérito ou da investigação processual penal; 
4o) uma vez formulada a solicitação, o magistrado terá o prazo fatal de vinte 
e quatro horas para se manifestar a respeito. Se concordar com o pedido, 
deverá também definir a forma de execução da medida, pelo prazo máximo 
de quinze dias, prorrogável por igual período, se comprovada sua 
indispensabilidade. A interceptação será dirigida pela autoridade policial, 
podendo o membro do Ministério Público acompanhá-la, se entender 
conveniente. Uma vez encerrada a gravação e feita sua transcrição, serão 
tais peças encaminhadas ao juiz competente, bem como um auto 
circunstanciado descrevendo sinteticamente as operações realizadas durante 
a diligência; 
5o) toda a diligência corre em segredo de justiça, bem como as provas por 
seu intermédio colhidas, sigilo que se estende ao processo judicial 
eventualmente existente. Uma vez completada a diligência, se já houver 
processo judicial em curso, o conteúdo da prova deve ser disponibilizado ao 
defensor do acusado. Evidentemente, o defensor ou seu acusado não devem 
ser previamente cientificados da interceptação, sob pena de restar 
imprestável sua execução. 
CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
 
www.pontodosconcursos.com.br 
 
23
Pode-se notar que nosso sistema adota o sistema de verificação prévia 
da legalidade da interceptação telefônica, pois os requisitos para sua válida 
realização são verificados pela autoridade judicial, antes da quebra ser 
autorizada. 
Mais alguns pontos merecem destaque especial: 
1˚) o STF firmou o entendimento de que as comissões parlamentares de 
inquérito, por ato próprio, podem requisitar a quebra do sigilo telefônico, 
garantindo-se seu acesso às informações constantes das contas 
telefônicas, mas não têm poder para requisitar diretamente a 
interceptação telefônica (a quebra do sigilo das comunicações telefônicas, 
a escuta e a gravação das conversas telefônicas no momento em que são 
realizadas), fazendo-se indispensável, nesta última hipótese, autorização 
judicial; 
2˚) no estado de defesa, a Constituição admite que sejam feitas restrições 
aos sigilos da correspondência e das comunicações telegráficas e telefônicas, 
e, no estado de sítio, a todos os sigilos constantes no inc. XII do art 5o (CF, 
art. 136, b e c, e art. 139, III); 
3˚) no presente estado de desenvolvimento da teoria constitucional, não se 
aceita a idéia de direitos absolutos, que não possam ser excepcionados em 
determinadas situações. Esposando este entendimento, o STF admite, dentro 
de certos limites, a interceptação das correspondências, das comunicações 
telegráficas e de dados, sempre que elas estiverem sendo utilizadas como 
manto protetor para práticas ilícitas. 
Apresentado o tema em seus contornos mais amplos, vamos a seguir 
apresentar mais alguns entendimentos do STF a respeito: 
1o) não se admite a interceptação da conversa telefônica entre o indiciado 
(durante o inquérito) ou o acusado (durante o processo) e seu advogado, 
salvo se houver indícios razoáveis de que este também tenha participado da 
infração penal; 
2o) é lícita a prova obtida por meio de uma gravação de conversa telefônica 
que incrimine outra pessoa, e não aquela em função de quem foi autorizada 
a interceptação. É o caso de ser regulamente autorizada uma escuta no 
telefone de A, e disto resultarem provas não contra A, mas contra B, que não 
estava sendo investigado. O STF considera válida a utilização da prova assim 
colhida num processo contra B; 
3o) a gravação clandestina, ou seja, a captação e gravação de conversa 
pessoal, ambiental ou telefônica feita por um dos interlocutores, ou por 
terceiros com seu conhecimento, caracteriza afronta ao inc. X do art. 5o, que 
protege a intimidade e a vida privada, sendo, pois, em regra ilícita. O STF 
repetidamente deixou claro esse entendimento, como se verifica no seguinte 
pronunciamento da Corte (Ação Penal 307-3-DF): 
A gravação de conversação com terceiros, feita através de fita magnética, 
sem o conhecimento de um dos sujeitos da relação dialógica, não pode 
CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
 
www.pontodosconcursos.com.br 
 
24
ser contra este utilizada pelo Estado em juízo, uma vez que este 
procedimento – precisamente por realizar-se de modo sub-reptício – 
envolve quebra evidente de privacidade, sendo, em conseqüência, nula a 
eficácia jurídica da prova coligida por este meio. 
4o) é válida a prova colhida mediante a gravação de um diálogo em local 
aberto ao público, sem conhecimento de um dos interlocutores. Entende-se 
que o indivíduo, ao dialogar num espaço público, abre mão temporariamente 
de seu direito à privacidade, o que afasta a ilicitude da prova colhida a partir 
da conversa; 
5o) é válida a gravação de conversa telefônica feita por terceiro, com a 
ciência de um dos interlocutores e o desconhecimento do outro (gravação 
clandestina), quando a situação caracterizar legítima defesa (uma excludente 
de ilicitude). O Professor Alexandre de Moraes chama esta situação, e outras 
similares, de “defesa das liberdades públicas fundamentais”, e ocorrem 
quando aquele que autorizou a gravação por terceiro teve, primeiramente, 
sua esfera jurídica invadida por aquele que não sabia da gravação. A prova 
assim obtida é admissível em juízo, pois o primeiro está agindo na defesa de 
suas liberdades públicas fundamentais. É o caso de A, vítima de extorsão por 
B, autorizar a gravação de uma conversa telefônica entre eles por C, sem 
que B saiba, pois, naquele diálogo telefônico, está a comprovação do 
cometimento do crime de B contra A. 
 
13) LIBERDADE DE EXERCÍCIO DE TRABALHO, OFÍCIO E PROFISSÃO 
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, 
atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer; 
O direito fundamental ao livre exercício de trabalho, ofício ou profissão é 
contemplado em norma constitucional de eficácia contida. 
Dessa forma, se não houver lei regulando determinado trabalho, ofício ou 
profissão, ele é de livre exercício por qualquer pessoa. Uma vez editada a lei, 
apenas aquele que atender às qualificações nela exigidas poderá 
desempenhá-lo. 
Os ofícios de massagista e artesão, por exemplo, não tem regulação na 
legislação ordinária, o que significa que atualmente é livre o seu exercício por 
todos os interessados. Eventualmente, se no futuro for editada lei 
estabelecendo as condições para o exercício da atividade, apenas aqueles 
que preenchê-las poderão desempenhá-la. 
Gabriel Dezen Junior assevera que, pelo princípio da proporcionalidade 
legislativa, só são passíveis de regulação as profissões, ofícios e atividades 
que tenham relevância pública. Ressalta, ainda, que o STF declarou 
inconstitucional lei que permitia a delegação para particulares dos serviços 
de fiscalização de profissões regulamentadas, por entender que tal atividade 
é típica de Estado, abrangendo também os poderes tributário e punitivo, 
sendo, portanto, insuscetível de delegação a entidades privadas. 
CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
 
www.pontodosconcursos.com.br 
 
25
 
14) LIBERDADE DE LOCOMOÇÃOXV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo 
qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair 
com seus bens 
O direito de locomoção, direito fundamental de primeira geração, 
abrange as liberdades de ir, vir e ficar, nesta compreendida a de fixar 
domicílio, e qualquer ato que o lesione ou o ameace de lesão é passível de 
impugnação mediante habeas corpus. Ademais, não se refere somente á 
própria pessoa, compreendendo também os seus bens. 
Não se trata de um direito absoluto, como a própria norma ressalta, 
sendo passível de exercício em termos amplos somente em tempo de paz, 
assim compreendida a situação de normalidade democrática e institucional. 
Em caso de guerra, declarada ou iminente, ou de estado de sítio (não no de 
defesa), a Constituição autoriza restrições ao direito de locomoção. 
Ademais, seu exercício deve ser compatibilizado com outros direitos 
fundamentais. É induvidoso, por exemplo, que a pessoa sujeita à pena 
restritiva de liberdade, ou aquela portadora de moléstia contagiosa, pode ter 
legitimamente cerceado seu direito de locomoção. 
Direito que se aplica a brasileiros e estrangeiros, é especialmente 
regulado por lei no que toca à entrada e saída do País, a qual pode ser 
legitimamente negada àquele que não preencher os requisitos estabelecidos, 
como a posse de passaporte. 
O direito de locomoção pode ser violado ou ameaçado tanto por 
particulares quanto por agentes públicos. Neste caso, o agente público, 
conforme o caso, pode vir a ser enquadrado em crime de abuso de 
autoridade, consistente em “executar medida privativa de liberdade 
individual sem as formalidades legais ou com abuso de poder” (Lei 
no 4.898/65, art. 4o, a). 
 
15) DIREITO DE REUNIÃO 
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais 
abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não 
frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, 
sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente; 
A Constituição é límpida ao estabelecer os requisitos para o legítimo 
exercício do direito de reunião: 
- requisitos de ordem material: reunião para fins pacíficos, sem armas; 
- requisito de ordem formal: prévio aviso à autoridade competente. 
 Como pondera Gabriel Dezen Junior, “esse prévio aviso não é, 
ressalte-se, um requerimento ou pedido; é uma mera comunicação”. 
Trata-se de um comunicado à autoridade competente, para fins de assegurar 
CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
 
www.pontodosconcursos.com.br 
 
26
o direito de preferência à reunião no local e hora definidos, e permitir que a 
autoridade competente adote, se necessárias, as medidas de segurança 
cabíveis ao caso. 
Desde que pacífica e sem armas (e que não haja afronta a algum outro 
dispositivo constitucional), a reunião é licita e, por conseguintes, há direito 
subjetivo à sua realização, no local e hora determinados, a não ser que haja 
outra reunião anteriormente marcada para o mesmo horário e local, caso em 
que a autoridade competente apenas informará o fato aos interessados, 
cabendo a estes, livremente, determinar quando e onde se dará sua reunião. 
Em caso de conduta arbitrária (e inconstitucional) da autoridade, o 
instrumento adequado para se assegurar o direito à realização da reunião é o 
mandado de segurança, não o habeas-corpus, pois, segundo entendimento 
do STF, a liberdade de locomoção, neste caso, é apenas um direito 
instrumental (a liberdade de dirigir-se ao local da reunião e nele permanecer) 
ao direito de reunião, e não o direito propriamente violado. 
Por fim, deve-se notar que a presença de armas só pode ser impeditiva 
para a reunião se a autoridade competente tiver meios, já quando do 
recebimento do aviso, de comprovar tal circunstância. Caso contrário, se 
forem encontrados participantes portando armas já no momento da reunião, 
esta em regra não poderá ter seu curso impedido, devendo apenas serem 
retiradas tais pessoas do local do encontro, ou retidas suas armas durante o 
evento. 
 
16) LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO 
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de 
caráter paramilitar; 
O dispositivo em questão trata do direito à liberdade de associação, que 
não se confunde com o direito de reunião, anteriormente analisado, pois a 
reunião, por sua natureza, tem caráter episódico, eventual, ao passo que a 
associação tem um caráter de constância, de continuidade. Como ponto em 
comum, ambas tem objetivos definidos, embora os da associação sejam 
caracterizados pelo médio e longo prazo, visando à reunião, em regra, a 
finalidades mais imediatas. 
 Podemos, desse modo, definir associação como a união voluntária de 
pessoas, em regra por prazo indeterminado, com vista à determinada ou a 
determinadas finalidades, todas lícitas, nos termos da Constituição. 
O próprio inc. XVII já contempla uma hipótese de associação ilícita, a de 
caráter paramilitar, o que é evidenciado geralmente pelo uso de armas, de 
uniformes, por sistemas internos de comando e subordinação semelhantes 
aos militares, ou mesmo pelo recurso a treinamento marcial. Entretanto, Não 
só a associação paramilitar deve ser tida por ilícita, mas toda aquela que 
viola regras dos diversos ramos jurídicos integrantes de nosso ordenamento, 
a exemplo do Direito Civil, Trabalhista e Penal. 
CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR 
PROFESSOR GUSTAVO BARCHET 
 
www.pontodosconcursos.com.br 
 
27
Deve-se ressaltar que é desnecessário que os interessados procedam ao 
registro formal da associação, constituindo-a em pessoa jurídica. Trata-se, 
no caso, de mera opção, que pode até mesmo constituir requisito para outros 
direitos, mas não para o próprio direito à associação. 
 
17) CRIAÇÃO DE ASSOCIAÇÕES E COOPERATIVAS 
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas 
independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em 
seu funcionamento; 
O texto constitucional é claro: a criação de associações independe de 
autorização do Poder Público. A regra nada mais é do que uma especificação 
do direito à liberdade de associação, acima analisado. Ora, se é livre a 
associação para fins lícitos, evidentemente que sua criação independe de 
qualquer anuência prévia do Poder Público, e nem pode este intervir nas 
atividades da associação após sua instituição. 
Não se conclua, contudo, que se trata de dispositivo inútil, mera 
especificação do dispositivo anterior. É axioma pacífico na moderna 
hermenêutica constitucional: a Constituição não traz expressões inúteis, 
cabendo ao intérprete apreender seu sentido útil dentro do contexto em que 
estão inseridas. No caso, em questão, tal abordagem nos leva à conclusão 
que o legislador constituinte está, aqui, tratando da constituição formal da 
associação, da aquisição de sua personalidade jurídica, a qual, portanto, não 
está condicionada à autorização do Poder Público. Do mesmo modo, uma vez 
constituída a associação, é vedada qualquer interferência estatal em seu 
funcionamento. 
Já para as cooperativas a disciplina constitucional é diferente. A criação de 
tais entidades independe também de autorização do Poder Público, mas o 
exercício deste direito está condicionado à edição da lei complementar 
requerida no dispositivo. Trata-se, pois, de norma de eficácia limitada, nesta 
parte, ao contrário da norma para as associações, que é de eficácia plena. 
Tal lei estabelecerá os requisitos para a criação de cooperativas, como os 
procedimentos a serem observados na constituição, a obrigatoriedade da 
existência de órgãos fiscalizadores, a exigência de aplicação dos excedentes 
financeiros nos objetivos institucionais da entidade, entre outras condições. A 
lei, todavia, não poderá estabelecer

Continue navegando