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A Caatinga: Uma Região Fitogeográfica Brasileira

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CAATINGA 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
A Caatinga é uma das maiores e mais distintas regiões fitogeográficas brasileiras, 
compreendendo uma área aproximada de 734.478 Km2, o que representa cerca de 70% da 
região Nordeste e 11% do território nacional. 
O nome “caatinga” é de origem Tupi-Guarani e significa floresta branca, que 
certamente caracteriza bem o aspecto da vegetação na estação seca, quando as folhas caem 
(Prado, 2003). A flora deste bioma faz parte da flora brasileira e abrange no aspecto 
fitogeográfico seis estados (Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte 
e Ceará), oeste e sudoeste do Piauí e Nordeste da Bahia (Andrade-Lima, 1954). 
A Caatinga é um tipo de formação vegetal com características bem definidas: 
árvores baixas e arbustos que, em geral, perdem as folhas na estação das secas, além de 
muitas cactáceas, que têm estruturas adaptadas para de armazenamento de água. Sua 
paisagem é formada por árvores de troncos tortuosos, recobertos por cortiça e espinhos. As 
raízes cobrem a superfície do solo, para capturar o máximo de água durante as chuvas 
leves. Algumas das espécies mais comuns são: a umburana, a aroeira, o umbu, a baraúna 
(braúna), a maniçoba, a macambira, o mandacaru, o xiquexique, o faceiro e juazeiro. 
Dentre os biomas brasileiros, a Caatinga é o menos conhecido botanicamente. As 
famílias com maior número de espécies endêmicas são Leguminosae (80) e Cactaceae 
(41). Dessas, várias estão em perigo de extinção (MMA, 2003). 
Muito se tem feito para tentar classificar a vegetação do mundo de acordo com a 
sua fisionomia, porém muitas controvérsias têm sido observadas. Este trabalho 
(Contribuição ao Conhecimento e Aproveitamento das Caatingas) não busca encontrar 
uma resposta para essa classificação, mais sim, procura ‘apresentar’ de forma direta as 
muitas características desta fitofisionomia que tanto impressionam por afigura-se como 
uma área de grande riqueza, porém, ainda pouco conhecida e estudada, além de tentar 
conscientizar e incorporar a responsabilidade pela preservação deste frágil ecossistema, 
Na América do Sul aparecem três núcleos de regiões semi-áridas bastante 
separadas entre si, inseridos no contexto de uma área continental predominantemente 
úmida. De sul para norte, sucedem-se os seguintes setores secos, regionalmente 
significativos, porém percentualmente minoritários em relação aos espaços úmidos: 1. 
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diagonal arreica do Cone Sul do continente, altamente heterogênea; 2. o domínio das 
caatingas semi-áridas, no Nordeste brasileiro; 3. o domínio semi-árido guajira, na fachada 
caribiana da Venezuela, no extremo nor-noroeste (sic) do bloco continental sulamericano, 
deve-se, entretanto, considerar que essas áreas ocupam províncias geológicas diferentes, 
tanto do ponto de vista das condições térmicas, hidroclimáticas e fisiográficas (Ab’ Saber, 
1974). 
A região das caatingas, a “Hamadryades, -flora nordestina-” de Martius, ou como 
chamada na língua indígena -Mata Branca-, por apresentar-se sem folhas e com aspecto 
seco a maior parte do ano, ocupa cerca de 10% do território nacional, estendendo-se por 
áreas desde o Piauí até o norte de Minas Gerais, caracterizando-se por formações vegetais 
complexas, com predomínio de árvores e arbustos decíduos, diversas suculentas (entre as 
quais podemos citar as cactáceas), as bromeliáceas, as euforbiáceas e as leguminosas. A 
área ocupada pelas Caatingas é apresentada na Figura 1. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1: Área de ocorrência das Caatingas no Nordeste do Brasil (em destaque). 
A caatinga ocorre em sua maior parte na área do semi-árido nordestino, cujos solos 
variam de uma maneira geral, de extremamente rasos a moderadamente profundos. 
Comumente, nos cumes e nas encostas das colinas não resta mais solo e a rocha 
indecomposta está completamente descoberta. No conjunto, os solos do semi-árido são de 
pouca fertilidade, se considerados os atributos geológicos de intemperismo. (Lima, 1982). 
A composição florística das caatingas não é uniforme e varia de acordo com o 
volume das precipitações, da qualidade dos solos, da rede hidrológica e da atividade de 
seus habitantes. O xerofitiísmo, característica dessa vegetação, é básico para a morfologia 
das espécies componentes. As folhas, em sua maioria pequenas, desaparecem durante as 
estiagens. Essa característica constitui em um dos meios mais eficazes de auto-proteção 
das plantas na falta de umidade do solo. 
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Os solos da província ecológica das caatingas constituem-se em um suporte 
extensivo de uma conjuntura biogeográfica que escapa do campo da aridez sensu stricto, 
ao mesmo tempo em que permanece distante do campo das paisagens tropicais úmidas, 
propriamente ditas (Ab’ Saber, 1974). 
Os acontecimentos paleoclimáticos, os aspectos geomorfológicas, os padrões 
vegetacionais e os registros florísticos servem como valiosas fontes de conhecimento da 
área onde predominam as caatingas. Possíveis incursões da floresta Atlântica durante o 
Quaternário, poderiam ser explicadas como uma contigüidade das áreas florestais. 
 Em certos locais deste Bioma, onde o adensamento econômico possibilita a 
sustentação de uma população maior, o resultado é um aumento da pressão antrópica sobre 
os recursos naturais, cujos resultados incidem diretamente numa insustentabilidade 
econômica, social e ambiental. 
O conhecimento do meio natural é uma prévia decisiva para explicar as causas 
primeiras de uma questão que se insere no cruzamento dos fatos físicos, ecológicos e 
sociais: a devastação desse ecossistema único e diversificado. 
 
2. VEGETAÇÃO (IBGE, 1991). 
 
A vegetação do Brasil, compreendida na Zona Neotropical, pode ser dividida, 
segundo o aspecto geográfico, em dois territórios: o amazônico e o extra-amazônico. 
No território Amazônico (área ombrófila), o sistema ecológico vegetal responde a 
um clima de temperatura média em torno de 25ºC e de chuvas torrenciais bem distribuídas 
durante o ano, sem déficit hídrico mensal no balanço ombrotérmico anual. No território 
extra-amazônico (área ombrófila e estacional), o sistema ecológico responde a dois climas 
- um tropical com temperaturas médias em torno de 22ºC e precipitações atmosféricas 
marcadas por um déficit hídrico, superior a 60 dias no balanço ombrotérmico anual, e um 
subtropical, com temperaturas suaves no inverno, que amenizam a média anual situada em 
torno de 18ºC. As chuvas são moderadas e bem distribuídas durante o ano, não ocorrendo, 
por isso, déficit hídrico mensal no balanço ombrotérmico durante o ano. Contudo, há uma 
fase de dormência vegetativa, provocada pelas baixas temperaturas dos meses mais frios 
do ano. 
Em cada uma dessas áreas climáticas, deu-se, através do tempo, uma adaptação da 
forma e do comportamento das plantas às características da estação desfavorável, seja seca 
ou fria ou ambas simultaneamente. 
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As plantas brasileiras apresentam-se em todas as formas de vida, conforme a 
posição e proteção dos órgãos de crescimento em relação aos períodos climáticos, pois o 
País localiza-se entre 5º de latitude N e 32º de latitude S, com altitudes que vão do nível do 
mar a mais de 3000 m. Em conseqüência, apresenta condições ecológicas variadíssimas, 
desde o ambiente equatorial ao temperado do Planalto Meridional, onde chegam a ocorrer 
nevascas nos pontos mais altos da sua porção sul. 
 A distribuição da flora brasileira pode ser alicerçada em dois princípios da lógica, 
que são: a deriva das placas continentais e a evolução monofilética dos seres vivos. A 
hipótese da deriva das placas continentais foi inicialmente atribuída a Weneger, na década 
de 20, para o período Permocarbonífero e somente foi novamenteaceita, sem restrições, 
após os trabalhos publicados na revista American Geographic, nas décadas de 60 e 70. 
Esta reunião de estudos geofísicos e paleontológicos comprovou a existência de 
dois eventos tectônicos de movimentos de placas. O primeiro corresponde à separação do 
grande continente da Pangéia, circundado pelo mar de Tetys, em dois continentes menores 
- o Gondwânia, no hemisfério Sul e o Laurásia no hemisfério Norte. O segundo 
corresponde ao movimento das atuais plataformas continentais que se vem realizando 
desde o fim do Período Cretáceo até os nossos dias. 
Embora tais eventos paleogeográficos continuem ainda sendo debatidos, o que não 
mais se discute é a origem monofilética dos seres vivos, pois a evolução das plantas teve 
como a dos animais, um tronco biológico único que se dividiu através do tempo. 
A vegetação brasileira recebeu, antes da deriva das placas continentais, o concurso 
de plantas pantropicais que, após este evento, formaram endemismos em famílias, gêneros 
e espécies, constituindo assim, os Domínios Florísticos e as Regiões da Zona Neotropical. 
Com oito milhões e meio de quilômetros quadrados, o território brasileiro se 
estende desde latitudes ao norte do equador, que passa pelos estados do Amazonas e Pará, 
pelo estado do Amapá e próximo ao norte da ilha de Marajó, até latitudes ao sul do trópico 
de capricórnio, que atravessa a cidade de São Paulo. Isso é suficiente para explicar a 
grande diversificação de solo e clima, com notável influência na distribuição das 
associações vegetais. 
A descrição de uma vegetação é uma aproximação sobre a densidade, a caducidade 
foliar, as formas e hábitos de crescimento, se emergentes e estratificadas. Os conceitos de 
forma de vida e os aspectos externos das plantas foram os primeiros atributos utilizados 
pelos naturalistas para descrever e definir um sistema de classificação da vegetação. 
Muitas vezes, por falta de definições precisas ou definições mais consistentes, os sistemas 
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de classificação de Martius e Sampaio para a vegetação brasileira foram confundidos com 
o sistema fitogeográfico proposto por Veloso et al. (1991). Os sistemas de classificação 
das vegetações mais utilizados ainda baseiam-se em atributos tais como, formas de vida de 
Raunkiaer e em aspectos ecológicos, que ficam cada vez mais complexos devido ao 
aumento do número de atributos e dependentes dos objetivos de estudo. 
O próximo passo consiste em classificar a vegetação ou agrupar por similaridade as 
espécies segundo suas características, propriedades que descrevem todos os indivíduos, 
conjuntos, populações, classes e estágios, até que se estabeleça uma ordem hierárquica 
englobando as distribuições num gradiente ambiental. 
No tratado de fitogeografia brasileira, Rizzini (1979), com devidas restrições às 
inclusões que subdividem o sistema de classificação universal para a vegetação brasileira, 
sugeriu um outro sistema de classificação, denominado bioecológico de Yangambi, que 
engloba noções ecológicas, levando em conta aspectos do clima, solo e altitude. 
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresenta uma classificação 
para a vegetação brasileira, onde lista uma série de conceituações apresentadas por 
diferentes estudiosos. Aqui, apresentaremos uma síntese dessa classificação e 
adicionaremos ‘novos’ pesquisadores a lista de conceituações. 
Fernandes (1998) analisou os vários sistemas de classificação para a vegetação do 
Brasil e destacou o sistema de Gonzaga Campos, que dava uma estruturação prática e 
definia as formações florestais, campos; caatingas, e o sistema de Linvaldo Santos, que 
fundamentou as fisionomias e dividiu a vegetação em três unidades: formações florestais 
ou arbóreas, formações arbustivas ou herbáceas e formações complexas. No sistema 
proposto por Andrade-Lima (1966), foram apresentados os critérios morfofisionômicos 
com ênfase no porte e fenologia foliar, e assim, dividiu-se a vegetação em formações 
complexas. No sistema de Rizzini (1979), adotaram-se os pontos de vista de Beard e 
desenvolveram-se critérios mais ecléticos para a classificação baseando-se na fisionomia e 
no habitat. 
O sistema de classificação da vegetação brasileira proposta por Veloso et al. (1991) 
levou em conta aspectos fisionômicos, topográficos, ecológicos e edáficos. Do ponto de 
vista fisionômico-ecológico o sistema apresentou oito tipos de formações. Assim temos as 
florestas ombrófilas densas; florestas ombrófilas abertas; florestas ombrófilas mistas; 
florestas estacionais semideciduais; campinaranas; savanas; savanas estépicas e estepes. 
Um ponto que deve ser ressaltado; é que ao adotar o binômio savana estépica para designar 
as Caatingas do Nordeste, Chaco, Campos de Roraima e Parque do Espinilho de Quaraí, a 
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classificação foi considerada uma impropriedade, uma vez que a caatinga não se configura 
como savana e muito menos como estepe (Andrade-Lima, 1981; Fernandes, 1998). 
(Eiten,1983; citado por Ribeiro, 2002) apresentou a classificação da vegetação do 
Brasil com uma visão que distingue os tipos de fisionomias que ocupam áreas grandes 
(floresta tropical, cerrado, caatinga) ou áreas menores (pradaria, subtropical, restinga, 
manguezal, floresta subtropical, praia, campo rupestre, campo montano entre outros) e as 
subdivisões de cada tipo de vegetação, que dependem da fisionomia, da flora e do 
ambiente e até da espécie vegetal, do substrato e da característica especial do clima. Desse 
modo, Eiten propôs vinte e quatro tipos de vegetação com suas respectivas subdivisões. 
Na década de 70, o grupo do projeto RADAMBRASIL (1983), criou uma escola 
fitogeográfica baseada em Ellenberg e Mueller-Dombois, resultando em uma das mais 
importantes classificações fisionômicas, além da divisão estrutural pura e simples da 
vegetação em florestal e campestre, com as subdivisões de acordo com uma hierarquia dos 
tipos de formações, que separa a vegetação Neotropical em regiões fitoecológicas. Estas, 
além de apresentarem o caráter botânico, também têm o caráter paleoclimático da 
adaptação ao ambiente ecológico pelas formas de vida das plantas (baseado em Raukiaer). 
 
3. PRESERVAÇÃO DA VEGETAÇÃO 
 
Especialistas apontaram 53 áreas prioritárias para conservação da flora da Caatinga. 
Destas, 17 são de extrema importância, sendo recomendada proteção integral. Oito áreas, 
ou 47%, se encontram relacionadas à bacia do São Francisco: na Bahia - Serra do Curral 
Feio, Dunas do São Francisco em Barra e Pilão Arcado, e Serra do Açuruá; em 
Pernambuco- Petrolina, Buíque e Reserva Biológica de Serra Negra; e duas envolvendo 
mais de um estado- Chapada do Araripe (PE, CE e PI) e Xingó (BA, PE, AL e SE), de 
acordo com o MMA, 2003. 
No tocante a economia, a produção de mel tem aumentado nos últimos anos, mas 
ainda é uma ocupação com baixa contribuição na economia regional. Parte dela baseia-se 
na vegetação nativa, mas áreas de agricultura, como plantios de cajueiro, por exemplo, 
também são usadas (Alcoforado Filho 1996, Alcoforado Filho & Vilela 1998). Como o 
extrativismo, tem pouco impacto na vegetação nativa e pode ser compatível com as outras 
utilidades. 
A exploração como pasto nativo resulta numa renda baixa por área, mas ainda é à 
base da pecuária extensiva que é a principal atividade econômica rural, no semi-árido. A 
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produção de bovinos por hectare, pastando na caatinga, está em torno de 5-10 kg de carne 
por ano e a de leite ou de ovinos e caprinos fornece renda bruta mais ou menos equivalente 
(Sampaio et al. 1987). O pastoreio dos animais modifica a flora herbácea, pode afetar a 
regeneração das arbustivas e arbóreas, e deve influir na composição da fauna, mas há 
pouca informaçãosobre o assunto. A substituição por pastagens plantadas aumenta muito a 
produção (até cerca de 100 kg ha-1 ano-1 de carne), embora nem sempre seja 
economicamente viável, e, naturalmente, elimina a vegetação nativa. A proporção de área 
de pastos plantados no semi-árido ainda é relativamente baixa. Manejos menos impactantes 
que a substituição total da vegetação, como o raleamento e o rebaixamento da vegetação 
nativa, têm sido recomendados (Araújo Filho & Carvalho 1996), mas ocupam ainda uma 
pequena proporção das áreas de pasto. Os efeitos destes manejos nas outras utilidades não 
foram ainda avaliados. 
A produção de lenha por unidade de área é em torno de 40 stereo. ha-1 (m3 de lenha 
empilhada) a cada 10-15 anos (PNUD/ FAO/ IBAMA 1992, PNUD/ FAO/ IBAMA/ 
SUDENE 1993) e fornece renda média anual baixa. Entretanto, envolve uma área grande e 
se constitui no principal produto do extrativismo no semi-árido. A vegetação nativa é 
totalmente cortada, mas regenera-se, permitindo o manejo num ciclo de cortes de 10-15 
anos, calculado em função da recuperação da biomassa de lenha. Até a poucos anos, quase 
toda a produção de lenha vinha da abertura de áreas para a agricultura itinerante, mas 
começa a se constituir em uma exploração independente (MMARHAL 1997). Ela produz 
uma renda bruta menor que a agricultura, mas é uma alternativa de renda eventual nas 
áreas sem outros usos. Pouco tem sido estudado sobre o efeito destes ciclos na composição 
da flora e da fauna (Sampaio et al. 1998). O corte elimina provisoriamente o efeito da 
vegetação na prevenção de erosão e na regularização do fluxo de água. A queima da lenha 
e dos restos de vegetação sobre o solo e a maior mineralização da matéria orgânica do solo 
contribui para o aumento do CO2 atmosférico. 
A agricultura itinerante baseia-se no corte e queima da vegetação nativa, plantio 
por alguns anos (geralmente 3-5), aproveitando o aumento da fertilidade do solo com as 
cinzas e a pouca presença de ervas daninhas, seguido do abandono da área para pousio ou 
regeneração da vegetação nativa, quando a fertilidade decresce e a infestação aumenta. O 
pousio, em geral, deveria durar 10-15 anos, mas freqüentemente é encurtado, por 
necessidade do produtor, ainda que resulte em decréscimo da produção. A agricultura 
itinerante é mais usual nas encostas e topos, sendo os vales ou baixios mais usados com 
agricultura intensiva ou semi-intensiva. Os efeitos deste sistema são do mesmo tipo que os 
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da retirada para lenha, porém mais drásticos já que o período sem vegetação nativa é 
maior. 
Erosão e descontrole no fluxo de água são agravados quando o sistema é praticado 
nas encostas e com plantio morro abaixo. As produtividades, em geral, são baixas. Milho e 
feijão, as culturas mais comuns, produzem menos que a média regional de 700 e 300 kg ha-
1 ano-1, com rendas brutas de menos de R$ 200 ha. ano-1 (Sampaio et al. 1995). O sistema 
tem sido gradualmente abandonado, mas ainda é uma das grandes fontes de renda dos 
agricultores do semi-árido. 
As áreas cobertas com vegetação nativa têm uma erosão pequena, menor que 1-10 
kg ha-1. ano-1 de solo (Sampaio & Salcedo 1997). Áreas com cultivos agrícolas e desnudas 
têm erosão de 10 a 100 vezes maiores. Os efeitos dos desmatamentos no assoreamento dos 
reservatórios e na regularização dos fluxos de água, apesar de amplamente reconhecidos 
(Reis 1996), têm sido pouco estudados no semi-árido nordestino. 
Apesar de estudada há muito tempo em aspectos isolados, só recentemente a 
biodiversidade do semi-árido começou a ser avaliada em seu conjunto (Sampaio et al. 
1994). A flora é melhor conhecida que a fauna e mais rica do que havia sido considerada, 
com alta proporção de endemismos. A fauna conhecida tem poucos endemismos e muita 
sobreposição com a do cerrado. Os locais de estudo têm na sua maioria, sido áreas com 
razoável nível de preservação, portanto, mais representativos do que seria a condição 
original da vegetação na condição atual, onde a maior parte da área que tem cobertura 
vegetal está em algum estádio de regeneração após corte e/ou queima. Os efeitos de usos e 
manejos diversos na biodiversidade são praticamente desconhecidos (Sampaio et al. 1998). 
A contribuição da vegetação do semi-árido para o balanço global de carbono só 
recentemente tem despertado alguma atenção (Tiessen et al. 1998), por conta da 
preocupação com o efeito estufa e o aquecimento global. A vegetação já com crescimento 
estabilizado mantém estoques de C nas plantas e no solo com médias regionais estimadas 
em 20-40 mg ha-1 e com fluxo variando de 2 a 15 mg ha-1 ano-1, com entradas 
compensando as saídas. Corte e/ou queima liberam CO2 para a atmosfera, efeito 
indesejado, mas se as áreas são cultivadas ou abandonadas para regeneração da vegetação 
nativa têm acumulação líquida de C no sistema solo-planta. Efeitos de usos e manejos, 
como para quase todas as utilidades, são praticamente desconhecidos. 
Outra das formas tradicionais da sociedade garantir a preservação das áreas é a 
criação de regulamentação ao uso. Neste caso, a propriedade privada é respeitada mas seu 
uso é condicionado aos interesses mais abrangentes da comunidade. É um princípio 
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socialmente justo, mas cuja aplicação tem problemas. Geralmente, as restrições ao uso não 
são acompanhas de compensações. É comum que as pessoas se furtem a cumprir as leis, 
quando elas não são geradas das necessidades das comunidades mais imediatas e não 
consigam convencer de sua vantagem, se for distante dos interesses mais diretos. Se a 
comunidade mais próxima não fiscaliza, é necessário todo um aparato permanente de 
fiscalização, pago pela sociedade. Parte da legislação ambiental brasileira enquadra-se 
nesta condição de teoricamente correta, mas usualmente descumprida. Os exemplos mais 
flagrantes são as exigências da cobertura vegetal de 20% da área das propriedades, a 
necessidade de aprovação governamental para corte e queima de vegetação nativa e a 
proibição de caça de animais silvestres. A rede de fiscalização não pode cobrir com 
eficiência toda a área do semi-árido e o custo para um trabalho adequado é proibitivo. 
A utilização de áreas de vegetação nativa para recreação pública é pouca pelo baixo 
número de parques e reservas. 
 
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